A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

43
 Universidade de Lisboa Faculdade de Letras A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré- História às pirâmides Eugénio José Castro Giesta Trabalho de Projecto Seminário de Egiptologia Mestrado em História Antiga 2015

description

Este texto procura mostrar de que forma os túmulos pré-históricos evoluíram até se chegar às pirâmides do Império Antigo, tendo em conta não só as evoluções arquitectónicas mas também as mudanças nas ideologias religiosas, políticas e sociais que estão por detrás de construções que aumentam gradualmente de complexidade, em tamanho e em altura.

Transcript of A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

Page 1: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 1/43

 

Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

Eugénio José Castro Giesta

Trabalho de Projecto

Seminário de Egiptologia

Mestrado em História Antiga

2015

Page 2: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 2/43

 

ÍndiceIntrodução................................................................................................................................... 1

1) Da pré-história às primeiras dinastias ................................................................................. 3

1.1) Da pré-história às culturas de Nagada ......................................................................... 3

1.2) As culturas de Nagada I, Nagada II e Nagada III ........................................................ 6

1.3) Hieracômpolis –  O início da arquitectura tumular .................................................... 11

1.4) As sepulturas reais de Abido ..................................................................................... 13

1.5) As mastabas –  realidade de Sakara ............................................................................ 16

2) As pirâmides do Império Antigo ....................................................................................... 18

2.1) Djoser –  A pirâmide de degraus .................................................................................... 19

2.2) A curta vida das pirâmides de degraus .......................................................................... 20

2.3) A dinastia das grandes pirâmides: Dos primeiros protótipos... ..................................... 22

2.3.1) Meidum ................................................................................................................... 22

2.3.2) Dahchur .................................................................................................................. 25

2.4) ...À pirâmide perfeita ..................................................................................................... 27

Conclusão ................................................................................................................................. 29

Banco de Imagens .................................................................................................................... 31

Bibliografia ............................................................................................................................... 39 

Page 3: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 3/43

1

Introdução

O Egipto faraónico continua a deslumbrar pelo misticismo e pela capacidade detrabalho da sua população, em especial no trabalho da pedra. As grandes pirâmides do

 planalto de Guiza são um dos símbolos mais emblemáticos do país e, entre outras coisas,

representa o magnífico trabalho da pedra, os esforços de uma população que ali trabalhou, a

 burocracia real que permitiu colocar todas as rodas na engrenagem da forma mais correcta, a

autoridade forte de um monarca que impunha a sua vontade e, sem esquecer, a crença na vida

após a morte, a eterna viagem no Além, representado também nas pirâmides, cuja função

 prática era, precisamente, servir de última morada ao rei egípcio. Porém, mesmo que as pirâmides exerçam fascínio, levantam, às mentes mais críticas e curiosas, algumas dúvidas. É

demasiado ambicioso, até para os egípcios do Império Antigo, pensar num monumento

megalítico deste porte e construi-lo por si só. Que motivações? Que técnicas, que processos?

Que antecedentes? São as perguntas mais evidentes e aquelas às quais se tentará aqui

responder.

Pretende-se, portanto, começar nos recuados tempos da pré-história egípcia,

analisando as sepulturas, inicialmente valas escavadas no deserto, passando pelacomplexificação da arquitectura tumular em Abido, seguindo para o Império Antigo, a época

das pirâmides por excelência. Daí, a grande divisão deste trabalho processa-se em dois

 blocos: um que percorre a pré-história egípcia até ao Império Antigo e outro bloco que

 percorre as evoluções tumulares até às pirâmides.

Sobre a questão das pirâmides de Guiza por si não faltam artigos, monografias

completas e trabalhos académicos sobre o assunto. Porém, o objectivo não é apresentar as

referidas pirâmides qual guia turístico. É perceber como se chegou ali, ou seja, como se chega

a um monumento com formato piramidal. É certo que são um marco a nível arquitectónico,

cultural e até histórico. Mas convirá aqui alertar para o facto de que, por opção, elas ficarão

fora do presente estudo, sendo apenas referidas quando a conveniência assim o ditar, já que a

forma piramidal “perfeita” por assim dizer, atinge-se ainda antes da existência das

construções no planalto de Guiza.

É importante também referir o tipo de leitura seleccionada. É necessário estudar-se

vários factores em simultâneo para perceber o fenómeno de criação de túmulos piramidais,

Page 4: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 4/43

2

nomeadamente factores de ordem política, de ordem social, de ordem religiosa e de ordem

arquitectónica. Para isso será importante reunir bibliografia que suporte no mínimo um destes

factores. Há que haver também a consciência de que falar-se de uma história a nível cultural e

ideológico pressupõe um certo cuidado já que por muito que se escreva sobre o assunto com

 base nos vestígios arqueológicos e históricos existentes, só alguém que viva numa

determinada época a sabe retratar e por muitos que sejam os vestígios, será difícil dissertar

sobre o pensamento de um egípcio do Império Antigo. Assim, questões ligadas a estas

temáticas serão sempre baseadas em hipóteses verossímeis.

Mais evidente para o caso do Antigo Egipto é o facto de as temáticas se misturarem,

de tal forma que se tornam dissociáveis e acabam por conviver num clima quase simbiótico.

A título de exemplo aponta-se a política e a religião, que para um indivíduo do século XXI éevidente que são coisas diferentes, separadas, isoladas entre si mas para um antigo egípcio

não o era. O rei era um deus. A partir dessa premissa é fácil deduzir o restante. Se o dirigente

 político das Duas Terras era um deus, então a política será sempre influenciada pela religião.

E vice-versa. É certo que, como dito acima, a função prática das pirâmides era ser o local de

enterro do monarca. Porém, pergunte-se, há mais por detrás disto? Que papel tinha a religião

aqui? São mais questões para juntar às já colocadas.

Posto isto, e antes de avançar para o corpo textual, será importante referir, ainda, que

não serão cobertos todos os túmulos reais, nomeadamente algumas estruturas da III dinastia.

Tal como referido para as pirâmides de Guiza, só serão mencionados certos monumentos se

se revestirem de importância para o objecto de estudo em questão, uma vez que, passar-se-ia a

ter um catálogo de túmulos reais em vez de estudar as mudanças arquitectónicas que os

mesmos sofreram. 

Page 5: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 5/43

3

1)  Da pré-história às primeiras dinastias

1.1)  Da pré-história às culturas de Nagada

«The prehistory of Egypt (...) witnessed the emergence of early humans in the NileValley, the first villages and towns, the introduction of agriculture and animal husbandry,

craft-specialization, social complexity, early religion and funerary beliefs as well as a wide

spectrum of aspects of a material culture that together laid the foundations for Pharaonic

civilization»1. De acordo com o autor, é apenas no Neolítico, c.5100  –  4500 a. C., onde se

 podem observar sítios completamente desenvolvidos, destacando, para o Baixo Egipto as

culturas de Faium A, Merimde Benisalame e el-Omari, sendo o último mais tardio que os dois

 primeiros. Têm em comum o facto de os seus habitantes dependerem de uma economia de

subsistência que combinava o cultivo de cereais (principalmente trigo e cevada), animais

domesticados (gado vacum, ovino e suíno), plantas e frutos, peixes e animais selvagens como

a gazela, resultando num bom sistema económico sazonal2. Foram identificados, em locais

 previamente abandonados, algumas sepulturas, porém não existem provas que sugiram que, à

época, se enterravam os mortos dentro dos limites da zona habitacional. Eram sepulturas,

simples: poços redondos ou ovais, contendo, normalmente, um corpo, bem como um pequeno

número de objectos, principalmente em cerâmica3. A área A, em el-Omari, contém duas

sepulturas que exibem uma característica invulgar: fileiras de postes colocados à superfície e

em volta do túmulo, possivelmente formando uma vedação ou uma tenda. Um deles, o túmulo

de um homem adulto, contém ainda um bastão de madeira colocado perto das suas mãos, o

que poderá ser interpretado como um símbolo de distinção social4.

De acordo com a cronologia proposta por Lloyd, é na passagem do V para o IV

milénio a. C. que se passa do Neolítico ao Calcolítico, passagem que é marcada por uma

mudança significativa a nível da economia e da subsistência. É no Calcolítico que começa aflorescer a já referida cultura de el-Omari, no Norte, e a cultura de Nagada I, no Sul. É a altura

em que certas actividades passam a adquirir um estatuto de subsistência económica,

especialmente a cerâmica, produção têxtil e metalurgia. Também aqui se começa a trabalhar a

 pedra, aparecendo recipientes líticos, iniciando-se assim uma ligação quase que umbilical

entre a civilização egípcia e o trabalho da pedra. O conceito de uma cultura calcolítica, de

1 Vide Alan B. Lloyd, A companion to Ancient Egypt , p. 25.2

 Vide Alan B. Lloyd, op. cit., p. 27.3 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 28.4  Idem. 

Page 6: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 6/43

4

acordo com Lloyd, assinala, ainda, mudanças importantes ao nível da estrutura social das

sociedades que praticam estas actividades, já que «the presence of full-time craft workers,

who operate their industry as a subsistence activity, usually indicates significant social

differentiation that is no longer decided by age or sex grade associations but by ability and

 professional skill as well as differential access to resources».5 

À medida que o comércio Levantino em torno do Nilo cresce com bastante sucesso, a

sociedade começa a complexificar-se e a estratificar-se, originando a emergência de líderes,

«who engaged in control over resources and peer competition with neighbouring politics to

enhance their strategic access to resources, and economic or political leverage».6 A sociedade

calcolítica pode caracterizar-se como uma sociedade com um sistema político de chefias e as

elites emergentes permitem estudar e compreender melhor as origens da ideologia da realeza eda política económica faraónica, assim o escreve Lloyd. Explica ainda que esta sociedade

demonstra conceitos cognitivos e ideológicos complexos, tais como crenças funerárias

elaboradas e rituais religiosos, expressos através de uma rica cultura material, arte e uma

variedade de vestígios arqueológicos. Seguindo a ordem racional e lógica de Lloyd, será

necessário explorar os túmulos da elite e os túmulos das classes mais baixas em separado.

Grande parte das sepulturas do Calcolítico inicial são ainda relativamente pequenas e

simples, contendo um esqueleto contraído (em posição fetal de acordo com Luís de Araújo)

envolto em esteiras de junco ou peles de animais. Há, em média, uma pequena quantidade de

objectos funerários, tais como recipientes de cerâmica para comida e bebida, adornos pessoais

e, ocasionalmente, ferramentas e armas. Um número de locais fornece cada vez mais provas

da variabilidade funerária relevantes para a distinção social e acesso diferenciado aos

recursos. Os túmulos das elites do Calcolítico final podem ser muito grandes em tamanho,

entre 3 a 4 metros de comprimento e 1 a 2 metros de largura e profundidade, e são geralmente

rectangulares, envoltos em paredes de adobe cobertas de gesso e, às vezes, divididos em 2 ou3 câmaras. Aparentemente são colocados em cemitérios separados, distanciados dos comuns,

notório em locais como Hieracômpolis, Abido e Nagada, evidenciando uma distinção social

deliberada. Apresentam um espólio bastante rico, passando por grandes quantidades de

cerâmica (local e importada), peças requintas de joalharia em ouro, prata e cobre, contas e

 pendentes de pedras semi-preciosas como a ametista, lapis lazuli e turquesa, recipientes de

 pedra de diferentes durezas e ferramentas líticas. «The elite graves of Upper Egypt document

5 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 31.6 Vide Alan B. Lloyd, op. cit., p. 32.

Page 7: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 7/43

5

well the level of control and patronage that the local leaders exerted over their industries and

the interregional trade».7  A exibição quase imodesta e conspícua da riqueza evidente nas

sepulturas de elite do Alto Egipto é um fenómeno que só é igualado pelos túmulos

monumentais de elite do Período Dinástico inicial em Sakara ou pelos túmulos dos altos

funcionários nos cemitérios residenciais Mênfitas no Império Antigo.8  Lloyd salienta um

factor importante: o facto destas mostras de riqueza nos túmulos do Alto Egipto, contrastantes

com os do Baixo Egipto onde tal não acontece, não deve ser factor de diferenciação social

entre o Norte e o Sul do Egipto, nem deve servir de base a conclusões sobre o Baixo Egipto

ser menos complexo e mais «neolitizado» do que o Egipto do Sul, enfatizando a grande

diferença de números de túmulos num lado e no outro. No entanto, refere a possibilidade do

Alto Egipto dar mais preponderância material aos costumes funerários, referindo que tal se

 poderá dever ao facto de haver melhor acesso a recursos do que as populações do Norte.

Paralelamente às culturas supra mencionadas (Faium A, Merimde Benisalame e el-

Omari), desenvolvem-se, no Alto Egipto, as culturas de Badari (mais antiga) e as culturas de

 Nagada (I, II e III). Em termos de centros urbanos de dimensões consideráveis, há três a

destacar para o Alto Egipto: Nagada, Hieracômpolis e Abido. A cultura Badariense surge, de

acordo com a cronologia apontada por Anita McHugh, c. 5000 a. C., paralela às culturas de

Faium A e Merimden. Já numa fase tão recuada da história egípcia parecem estar vincadas asdiferenças entre o Alto e o Baixo Egipto, quer a nível de enterramento dos mortos, quer a

nível económico e de organização socio-política, já que, como McHugh refere: «during this

 predynastic time, there appears to have been separate, distinct cultures in Upper and Lower

Egypt, although burials of the type associated with the later phase are found as far north as

Gerza (...). The peoples of Upper Egypt generally lived in the flood plain and buried their

dead in the desert just beyond the edge of cultivation».9  Lloyd completa, dizendo que, para o

caso de Badari, a cultura material do complexo Badariense sugere um processo gradual de

segmentação social e de avanço técnico geral. Os túmulos contém, geralmente, peças de

 joalharia, utensílios de cosmética e objectos de metal como contas e alfinetes de cobre. Com

 base nas sepulturas, alguns especialistas sugerem que há provas de uma distribuição desigual

de riqueza como indicador de desigualdade social. Isto é notório no pequeno número de

túmulos que exibem maior riqueza material que a vasta maioria.10 Ainda sobre as sepulturas

7 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 33.8

  Idem. 9 Vide Anita McHugh, Predynastic Burials in Upper Egypt , p. 1.10 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 29.

Page 8: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 8/43

6

Badarienses, Anita McHugh escreve que o típico túmulo de Badari era um poço de formato

oval ou rectangular coberto com uma esteira e contendo um ou mais corpos, deitados sobre o

lado esquerdo com a cabeça voltada para Sul e olhando para Oeste. No entanto, a autora tem

uma opinião diametralmente oposta à de Lloyd quanto à segmentação e estratificação social,

escrevendo que, apesar das sepulturas diferirem em tamanho, não há diferença suficiente na

qualidade e na quantidade dos objectos funerários para se poder concluir algum tipo de

sociedade estratificada11. Acrescenta ainda que «a number of animals were also wrapped in

mats or cloth and buried in separate graves like humans. Some of these animals may have

 been domesticated».12  Não esclarece se os animais eram sacrificados ou se apenas eram

enterrados aquando da sua morte. Quanto ao número de sepulturas, Lloyd esclarece,

escrevendo que no Sul foram encontradas mais de 15 000 sepulturas, enquanto o Norte

conhece ainda entre 600 e 700.

1.2)  As culturas de Nagada I, Nagada II e Nagada III

Ian Shaw apresenta as culturas de Nagada como a segunda parte integrante do Egipto

Pré-dinástico, devendo-se a nomenclatura destas culturas a uma cidade com o mesmo nome,

onde Flinders Petrie descobriu, em 1812, um vasto cemitério contendo mais de 3000

sepulturas. Shaw escreve que «the humble Naqada burials consisted of little more than the

 body of the deceased in foetal position, wrapped in an animal skin, sometimes covered by amat, and most often deposited in a simple pit hollowed out of the sand».13  Ao proceder à

análise dos túmulos, Petrie conseguiu estabelecer uma cronologia em três grandes períodos

que são, ainda hoje, a referência em questões de organização temporal do Egipto pré-

histórico: Nagada I, ou cultura Amratiense devido ao sítio de el-Amra (entre c. 4000 e 3500 a.

C., de acordo com as cronologias propostas quer por Shaw quer por McHugh); Nagada II, ou

cultura Gerzeana devido a el-Gerza (entre c. 3500 e 3200 ou 3300 a.C, de acordo com as

cronologias propostas por Shaw e McHugh, respectivamente); Nagada III, período também

incorporado na cultura Gerzeana, embora com diferenças significativas (entre c. 3200 e 3000

a. C, segundo Shaw e entre c. 3300 e 3100 a. C, de acordo com McHugh).

Para Shaw, Nagada I corresponde ao desenvolvimento pleno das cerâmicas com

rebordo negro e dos recipientes com fundo vermelho com motivos pintados a branco. Anita

11 Note-se, no entanto, que o artigo de Anita McHugh precede a obra de Allan Lloyd em quase vinte anos, sendonecessário ter em conta a investigação ocorrida entre os dois momentos, o que poderá justificar opiniões tão

divergentes.12 Vide Anita McHugh, op. cit ., p. 1.13 Vide Ian Shaw, The Oxford History of Ancient Egypt , p. 41.

Page 9: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 9/43

7

McHugh escreve que os centros habitacionais da cultura Amratiana, entre Deir Tasa e a

fronteira Núbia, segundo a autora, eram maiores e mais prósperos do que os da cultura

Badariense mas os cemitérios continham poucas alterações. Shaw acrescenta, ainda, que as

semelhanças entre os costumes funerários das culturas de Nagada I e Badari são de tal ordem

que «one wonders if the latter does not constitute an older, regional version of the former».14 

Os mortos eram enterrados em buracos de forma rectangular (de forma oval, de acordo com

Shaw), com uma profundidade variável entre cerca de 90 cm e 1,20 m, cobertos com um tecto

rudimentar feito de ramos entrelaçados e plantas, e tapados com pequenos montes de terra.

Em Nagada, as sepulturas eram colocadas lado a lado nos esporões do deserto, «overlooking

the cultivated land of the Nile Valley».15  De forma semelhante à cultura Badariense, os

defuntos eram colocados numa posição contraída, deitados sobre o lado esquerdo do corpo, as

 pernas flectidas num ângulo de 45º em relação ao tronco e as mãos em frente à face, a maioria

com a cabeça orientada para Sul, olhando em direcção a Oeste. Shaw acrescenta que uma

esteira era colocada no chão, sob o defunto e que, por vezes, a cabeça repousava numa

almofada de palha ou de couro. Outra esteira de animal, geralmente cabra ou gazela, cobria ou

envolvia o corpo e, muitas das vezes, cobria até os objectos funerários.16  Como salienta

McHugh, apesar de não haver uma mumificação química, a areia do deserto preservou os

corpos de uma forma natural, o que serviu para concluir que ambos os sexos usavam cabelo

comprido, normalmente entrançado e que eram de uma estatura mais baixa do que a actual. 17 

Os túmulos, descreve a autora, eram miniaturas de casas, contendo objectos como facas em

sílex, raspadores, pontas de setas, paletas com pigmentos de hematite e malaquite, furadores e

enxós, recipientes de pedra e cerâmicas. Shaw vai mais longe na descrição tumular de Nagada

I: os vestígios que restam das roupas sugerem que o vestuário usual dos mortos era uma

espécie de tanga feita em tecido ou em pele. Fala também das estatuetas funerárias, estando

ambos os sexos representados em pé e raramente sentados, dando especial destaque aos

caracteres sexuais primários. São poucas as sepulturas que contém este tipo de estatuetas, e,regra geral, encontram-se uma por túmulo, sendo rara a presença de grupos de 2 ou três

estatuetas. Porém, ressalta Shaw, o máximo de estatuetas encontrado num único túmulo foi de

dezasseis e o seu significado é dúbio, colocando a hipótese de neste caso (e noutros onde se

encontram grupos de estatuetas) se estar perante o túmulo do próprio escultor já que «the

tombs that contained multiple statuettes were not particularly rich in other respects, and such

14 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 45.15

 Vide Anita McHugh, op. cit ., p. 2.16 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 45.17 Vide Anita McHugh, op. cit ., p. 2.

Page 10: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 10/43

8

small sculpted figures were sometimes the sole funerary offering».18 Mas, «whatever their

significance, the presence of these objects indicates greater exclusivity than wealth as

determined by sheer quantity of grave goods».19 

Apesar dos túmulos conterem, normalmente, apenas um corpo, há sepulturas comenterramentos múltiplos, destacando, o autor, o caso de mães com um recém-nascido.

Comparativamente a períodos anteriores, aparecem túmulos maiores, com um caixão em

madeira ou terra e ricamente decorados. Os túmulos Amratianos de Hieracômpolis são

notáveis pela sua forma rectangular e pelo seu tamanho anormal (2,50 m por 1,80 m). Em

dois casos foram incluídas nas sepulturas duas cabeças de maça de pórfiro, sugerindo, para

Shaw, túmulos de pessoas poderosas. «The Amratian culture particularly differs from the

Badarian in terms of the diversity of grave goods and consequent signs of hierarchy, andHierakonpolis was clearly already an important site from the point of view of such

diversification».20 Completa afirmando que as diferenças entre as culturas de Badari e Nagada

I podem ser observadas sobretudo na cultura material.

Paralelamente a Nagada I, desenvolvem-se no norte outras culturas. Uma delas,

herdeira de el-Omari e Merimde Benisalame é a cultura de Maadi, com cerca de uma dúzia de

locais explorados, incluindo um cemitério. Para Shaw, os vestígios funerários desta cultura

são indicativos de uma sociedade que passou por poucas mudanças a nível sociológico desde

o Neolítico. Foram encontrados 600 túmulos ligados a Maadi e quer Shaw quer Lloyd

explicam que isto se poderá dever à geologia e geografia do Alto e do Baixo Egipto, já que se

o sul é mais seco, o norte é uma zona mais pantanosa e húmida, e ambos os autores são da

opinião que muitos túmulos do Delta se encontrem, na verdade, enterrados sob grossas

camadas de silte do Nilo. «This, however, does not explain everything, because there is also a

contrast in the quality and quantity of funerary equipment in the north, compared with the

Upper Egyptian situation».21 Estes túmulos são caracterizados por uma extrema simplicidade,compreendendo uma cova oval, o defunto colocado em posição fetal, envolvido numa esteira

ou tecido e acompanhado por um ou dois recipientes cerâmicos, às vezes nem isso. No

entanto, escreve Shaw, de acordo com a análise de outros cemitérios do Baixo Egipto, alguns

túmulos aparentam estar melhor equipados do que outros, sem nunca atingir a riqueza e o

luxo das túmulos do sul. «Nevertheless, a gradual tendency towards social stratification can

18 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 47.19

  Idem. 20 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 45.21 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 55.

Page 11: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 11/43

9

 be discerned, and it is possible that the mixing of the graves of dogs and gazelles with those

of humans is part of this process of social change».22 Esta cultura de Maadi terá a sua fase

final durante Nagada II, sendo a primeira absorvida pela segunda num processo de

assimilação cultural e surge uma nova cultura nortenha, independente de Nagada, a cultura de

Buto, cujos vestígios arqueológicos apontam para uma maior complexidade social,

«eventually producing a society characterized by its own beliefs, rites, myths and

ideologies».23 

«The Gerzean, or Naqada II, period shows increasing social stratification»24  e as

«cidades» representativas deste período são encontradas desde o Delta do Nilo até à fronteira

com a Núbia. Shaw caracteriza Nagada II como a fase em que aparece a cerâmica com cabos

ondulados, louças grosseiras e decorações que compreendiam o uso de tinta castanha sob umfundo de tom creme.25 Descreve ainda que «during the second phase of the Naqada culture,

fundamental changes took place. These developments, however, took place not at the margins

of the culture but in its Amratian heartland; in essence, they can be regarded as an evolution

rather than a sudden break».26 É uma fase de expansão, extendendo-se para norte até ao Delta

e para sul até à Núbia. Aqui, de acordo com Ian Shaw, é notável uma aceleração distinta

relativamente aos costumes funerários Amratianos, havendo alguns indivíduos sepultados em

túmulos maiores, mais elaborados e com oferendas funerárias mais ricas e abundantes. Oautor apresenta o cemitério T em Nagada e o túmulo 100 em Nekhen (Hieracômpolis) como

«good examples of this overall trend»27, referindo ainda que começa a ser comum

sepultamentos comuns, aparecendo túmulos que contém até cinco corpos. Presente nas

 paredes deste túmulo encontra-se outra influência mesopotâmica, o héros dompteur , uma

figura humana, vitoriosa, entre dois leões/bestas. Há uma crescente variedade no tamanho e

no tipo de construção dos túmulos, alguns revestidos com madeira e alguns com reentrâncias

especiais para conterem objectos funerários, escreve McHugh. Shaw reforça esta ideia de

variedade, fazendo notar que os túmulos Gerzeanos desta fase podem variar entre túmulos

 pequenos, ovais ou redondos, com pobres oferendas funerárias e túmulos grandes,

rectangulares, com subdivisões em adobe, apresentando compartimentos específicos para

22 Vide Ian Shaw, op. cit., p. 56.23  Idem. 24 Vide Anita McHugh, op. cit ., p. 2.25

 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 43.26 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 49.27 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 50.

Page 12: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 12/43

10

oferendas funerárias28. O rebordo negro dos potes de cerâmica são mais estreitos nesta fase e

estes contém, geralmente, cinzas de madeira e matéria vegetal, encontrando-se a norte do

túmulo. Os recipientes cerâmicos com os cabos ondulados são maiores, contendo gordura

aromatizada e posicionados em torno da cabeça do defunto. No fim desta segunda fase de

 Nagada a quantidade de gordura vai reduzindo, sendo gradualmente substituída por lama.

Aparecem ainda facas de formato ondulado, paletas com efígies animais e um mais alargado

uso de cobre, prata e ouro. Shaw escreve sobre a existência de caixões de madeira e sobre os

 primeiros vestígios de envolvimento do corpo em faixas de linho, o que parece preceder as

técnicas de mumificação utilizadas mais tarde. Outra mudança ocorre em relação à ritualística

funerária, já que parecem «to have become more complex, sometimes involving

dismemberment of the body, a practice that was not attested in the preceding period».29 

Acrescenta ainda que num dos túmulos em Nagada uma série de ossos e de crânios foram

colocados nas paredes do mesmo e em Adaïma, um local perto de Hieracômpolis, há

exemplos de crânios separados do torso. Também neste local parece haver provas de

sacrifícios humanos, com dois corpos que mostram ter a garganta cortada e posterior

decapitação. Shaw aventa que isto poderá ser um prelúdio aos sacrifícios humanos que irão

ocorrer num período posterior em Abido. É ainda nesta fase de Nagada II que há um

desenvolvimento notável do trabalho da pedra, abrindo já o caminho às grandes construções

faraónicas vindouras. Desenvolve-se também o trabalho metalúrgico como o cobre, não se

limitando este metal a objectos reduzidos como o era até então, começando, gradualmente, a

 produzir-se artefactos em cobre, substitutos dos seus congéneres de pedra. O uso e o trabalho

de metais preciosos como o ouro e a prata é também notável, levando a uma prática que se

tornará comum na história do Egipto: o saque dos túmulos.30 

 Nagada III é a última fase do Egipto Pré-dinástico e foi durante este período que o

Egipto se unificou. A partir do final de Nagada II é notória a existência de túmulos bastante

diferenciados no Alto Egipto, estando os túmulos das elites recheados com objectos

funerários em grandes quantidades, alguns feitos de materiais exóticos como lápis-lazuli e

ouro. Isto parece demonstrar uma sociedade hierarquizada, «probably representing the earliest

 processes of competition and the aggrandizement of local polities in Upper Egypt».31  O

controlo do comércio de materiais exóticos e da produção artesanal de bens terá enfatizado o

28  Idem. 29

  Idem. 30 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 51.31 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 57.

Page 13: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 13/43

11

 poder dos chefes nos centros urbanos Pré-dinásticos e tais bens seriam associados a símbolos

de alta posição social. Como foi supra-mencionado, Nagada II foi um período expansivo e

com Nagada III a tendência continua cada vez mais para norte, com túmulos encontrados na

região do Delta. Apesar da não poder corroborar a sua teoria com dados arqueológicos, Shaw

acredita que tais migrações constituíram uma expansão pacífica, com fins comerciais e não

uma invasão militar, pelo menos na sua fase inicial. Para Nagada III, Shaw utiliza como

característica distinta o facto de surgir um novo estilo no trabalho em cerâmica, algo que

 parece evocar a cerâmica do período dinástico. Os túmulos desta fase do maior cemitério em

 Nagada e do cemitério T, das elites, são mais pobres comparativamente aos da fase anterior.

A sul deste cemitério, foram encontrados, em finais do século XIX por Jacques de Morgan,

dois túmulos em adobe e outro cemitério com túmulos do período proto-dinástico. Shaw

acredita que «the location of this cemetery and the sudden appearance of a new style of

‘royal’ burial at the end of Naqada III, together with the more impoveri shed (earlier) burials

in the cemeteries far to the north, all suggest a break with the polity centred at South Town

(…) probably coinciding with the absorption of the Naqada polity into a larger one».32 

Certos artefactos funerários parecem indicar contactos, ou influências, no mínimo,

com o exterior do Egipto. Selos cilíndricos encontrados em túmulos de elite das culturas de

 Nagada II e III indicam algum tipo de relação com a Mesopotâmia, já que foi nesta religiãoque este tipo de objecto foi inventado. Os artefactos em lápis-lazuli, mostram contacto com a

região do actual Afeganistão, já que é o único local de onde este material poderia ter vindo.

Outras influências mesopotâmicas estão presentes na fachada palatina e no barco de proa alta,

influências encontradas em artefactos de Nagada II e III, bem como na arte lítica.

1.3)  Hieracômpolis –  O início da arquitectura tumular

Mark Lehner coloca ênfase na cidade de Hieracômpolis como um ponto de viragem e

de partida na arquitectura funerária. Viragem por se começar a diferenciar bastante do que atéentão se fazia; partida por, de acordo com o autor, a partir daqui as concepções

arquitectónicas fundem-se com ideais religiosos e ideais de realeza, evoluindo ao longo das

 primeiras dinastias, culminando na construção das pirâmides do Império Antigo. Barbara

Adams partilha da mesma visão, afirmando que «the hoary antiquity of Hierakonpolis and its

links with the first pharaohs were recognized by the ancient Egyptians themselves, and almost

100 years of archaeological research has confirmed the site’s central role in the transition

32 Vide Ian Shaw, op. cit ., pp. 59-60.

Page 14: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 14/43

12

from prehistory to history in the Nile Valley».33  Para os antigos egípcios os montes que

cobriam os túmulos pré-dinásticos podem ter sido uma imagem da colina primordial, origem

de toda a vida.34  Os sacerdotes como que plantavam o corpo do rei no monte da sua sepultura

 para que mais tarde se pudesse reerguer. Em Hieracômpolis encontra-se a primeira associação

entre rei, colina e Hórus, deus da realeza. O próprio nome grego da cidade significa “cidade

do falcão” e em egípcio chamar -se-ia Nekhen.35  Como coloca Shaw «whereas Naqada was

 politically insignificant in the Early Dynastic Period, Abydos was the most important centre

for the cult of the dead king, and Hierakonpolis remained an important cult centre associated

with the god Horus, symbolic of the living king».36 Num dos cantos da cidade está um recinto

rodeado de paredes de adobe37 dentro das quais se situa o mais antigo templo Egípcio em

cima de uma mamoa. Terá sido aqui que surgiram os conceitos da divinização da realeza. As

escavações permitiram distinguir as várias camadas: a camada 1 contém material depositado

antes da construção do templo e a camada 2 contém sílex e cerâmica; ambas as camadas

reportam-se ao período pré-dinástico.38 

A colina circular, que continha, ou por revestimento, ou por uma parede de contenção,

 blocos de arenito grosso dispostos horizontalmente, foi construída em cima da camada 2 e

media 49,26 m de diâmetro. A altura é desconhecida já que o topo da mamoa foi

 provavelmente cortado quando se erigiram construções tardias. Foi construído um templodedicado ao deus Hórus, provavelmente nos inícios da primeira dinastia, sobre a camada 3,

que cercava o monte e continha vestígios do proto dinástico ou da Dinastia 1.

A colina deve ter sido um lugar alto para uma capela na forma de Per Wer , o nome do

santuário nacional do sul do Egipto, em Nekhen. Já que este era o sítio mais alto, pode ter

sido construído um santuário temporário para o rei. A nordeste da colina foi encontrada uma

colecção de objectos, entre eles a famosa paleta de Narmer e a cabeça de maça de Narmer,

 bem como a cabeça de maça do rei Escorpião. «They were possibly royal donations to thetemple and suggest that Hierakonpolis was still an important centre at the end of the Naqada

III phase».39 

33 Vide Barbara Adams, Discovery of a Predynastic Elephant Burial , p. 46.34 É provável que esta colina seja bastante parecida em conceito e em construção com as mamoas pré-históricas.35 Vide Mark Lehner, The Complete Pyramids, p. 72.36 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 60.37

 Que poderão ter substituído uma parede de madeira e junco.38 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 72.39 Vide Ian Shaw , op. cit ., p. 61.

Page 15: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 15/43

13

Excavações na Localidade 6, cemitério onde pessoas de elite foram sepultadas,

revelaram vários túmulos de grandes proporções, tendo cada um deles até cerca de 23 m² de

área. Dos onze túmulos aí excavados por Michael Hoffman, três «were dated to the

 predynastic early Naqada II period, three (…) to the protodynastic, or Naqada III period (…),

one was a possible reburial, and three were animal graves».40 Num dos túmulos, (túmulo II),

foram encontradas contas em materiais como ouro, prata, turquesa e granada, fragmentos de

artefactos de lápis-lazuli e marfim, lâminas de obsidiana e cristal e uma cama de madeira com

os pés esculpidos em forma de cascos de boi. «Such a rich burial suggests that élite

individuals of considerable means were being buried at Hierakonpolis, but that they were still

not of the same class as the rulers at Abydos».41 

1.4)  As sepulturas reais de Abido

Lehner escreve que os egípcios acreditavam que os primeiros reis surgiram em Tinis,

onde Abido era o centro religioso. Na região de Umm el-Qa’ab, em Abido, contrastando com

 Nagada III, os túmulos de uma das zonas (cemitério U, cemitério B e aquilo a que Shaw

chama de «’royal cemetery’» evoluíram de sepulturas indiferenciadas, no início de Nagada I,

 para cemitérios de elite nos finais de Nagada II e, finalmente, para o local onde foram

sepultados os reis da chamada «dinastia 0» e da Primeira Dinastia. O cemitério U, localizadonuma planície baixa do deserto, contém mais de 600 sepulturas identificadas que cobrem um

espaço temporal de várias centenas de anos entre o Neolítico final e o início do período

histórico. Este cemitério continua na época dinástica e vai desenvolver-se espacialmente na

 primeira necrópole real do Egipto. As sepulturas dos finais do Neolítico são pequenas,

modestas contendo um número baixo de objectos. O corpo contraído é normalmente orientado

com a cabeça para Sul voltada para Oeste e muitas vezes envolvido numa esteira de junco.

Com o passar do tempo, algumas sepulturas tornaram-se maiores e tendencialmentemobilados com mais objectos. As elites continuaram a enterrar os seus mortos no cemitério U

que parece evoluir gradualmente para um espaço reservado para enterros de elite no fim do

Calcolítico. Muitas das sepulturas desta época são, não só, grandes em tamanho e reforçadas

com paredes de adobe, mas também acompanhadas por um elevado número de objectos

requintados. Como escreve Luís Araújo no Dicionário do Antigo Egipto: “essas construções

de tijolo apresentam paredes com reentrâncias, num estilo designado por fachada palatina.

40 Vide Barbara Adams, op. cit ., p. 46.41 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 60.

Page 16: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 16/43

14

(...) No seu interior existe uma cripta coberta de forma a imitar a colina primordial ”.  A

 prosperidade da qual as classes dominantes disfrutavam é reflectida na opulência e

sofisticação dos objectos funerários. Estas elites em Abido demonstram o desenvolvimento

local da sociedade complexa e de um estado regional inicial que compunham uma hierarquia

socialmente mais complexa que a sua chefia anterior.42 O maior túmulo do cemitério U é o

túmulo conhecido como U-j, que é um modelo de uma casa, com 12 câmaras que cobriam

uma área de cerca de 64 m². Apesar de saqueado, continha muitos utensílios em osso e

marfim, uma grande quantidade de cerâmicas e cerca de 400 vasos importados da Palestina

que conteriam vinho.43 De acordo com Günter Dreyer (citado por Shaw), o excavador deste

túmulo, foram encontrados vestígios de um santuário em madeira na câmara funerária e um

ceptro figurativo em marfim, demonstrando que este túmulo teria uma ligação com a realeza

(possivelmente o rei Escorpião). Tinha um pátio central e portas simbólicas para depósitos

que continham os vasos mencionados. Aqui encontram-se alguns dos mais antigos

hieróglifos, que mostram que grandes rendas já fluíam para o monarca aqui sepultado, rendas

essas provenientes de estados provinciais. O túmulo como réplica da “grande casa” continuará

e culminará nas pirâmides do Império Antigo.44 

Por volta do ano 3000 o Egipto unifica-se, provavelmente através de campanhas

militares levadas a cabo pelo Alto Egipto, conquistando o norte e originando a primeiradinastia. Sete reis e uma rainha da Primeira dinastia construíram túmulos em Abido,

expandindo-se para sudoeste. A parede por cima do túmulo de Djet tem uma sobreposição no

canto sudoeste, fazendo uma espécie de porta basculante correspondente a um nicho no

túmulo abaixo  –   precursor da clássica porta falsa. Dreyer descobriu que uma segunda

escadaria e câmara a sudoeste do túmulo de Den seria para uma estátua do rei, uma espécie de

 protótipo das câmaras  serdab  dos túmulos do Império Antigo. À medida que os reis iam

construindo os seus túmulos o poço principal tornou-se cada vez mais fundo e o templo em

volta da câmara funerária foi construído mais perto das suas paredes, não deixando espaço

 para depósitos. Nas palavras de Petrie, citado na obra de Lehner: «At this stage we are within

reach of the early passage-mastabas and pyramids».45 Com a construção do túmulo de Kaa,

revela-se aí uma nova complexidade interna: uma capela para o culto funerário construída em

tijolo. Walter Emery considera isto como um protótipo do complexo piramidal de períodos

42 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., pp. 37-38.43

 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 60.44 Vide Luís Manuel de Araújo, op. cit ., p. 331; vide Mark Lehner, op. cit ., p. 75.45 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 77.

Page 17: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 17/43

15

subsequentes. Na dinastia II desenvolve-se o trabalho e a técnica de aproveitamento dos

metais e a estatuária, complexificando os túmulos reais.46 No entanto, a quebra da sequência

em Abido da segunda dinastia complica o trabalho de localizar a evolução dos túmulos reais

 para pirâmides. O túmulo do último rei desta dinastia, Khasekhemui, representa um nítido

afastamento dos túmulos escavados quadrangulares, e consiste num longo e irregular poço,

dividido em 40 depósitos.47 Apesar da pedra aparecer pela primeira vez num chão de granito

do túmulo de Den, é com este rei  –   Khasekhemui  –   que se nos depara um túmulo

inteiramente revestido de calcário.48  David O’Conner encontrou, no centro do recinto uma

linha de tijolos dispostos num ângulo que sugere uma abóbada, levando O’Connor a suspeitar

que se tratava de uma mamoa de adobe, uma proto-pirâmide, comparando isto com a mamoa

de Nekhen e o recinto de Djoser.49 «Note-se que Walter Emery (...) não esconde o seu vivo

espanto por verificar que entre este monumento funerário de Khasekhemui (...) e o grandioso

e magnífico complexo de Netjerirkhet Djoser, em Sakara, distam somente alguns escassos

anos».50 

Entre a primeira e segunda dinastias foi construído o segundo elemento dos complexos

tumulares: um grande pátio rectângular. Inicialmente era definido por túmulos secundários

mas mais tarde começaram a ser fechados com paredes de adobe. Isto permite interpretações

várias: o recinto como réplicas dos pátios palacianos ou o recinto como tendo um papelsemelhante aos templos do vale das pirâmides. Quer na forma quer na localização da entrada,

estes recintos podem ser também precursores da parede com nichos do complexo de Djoser.51 

Os túmulos dos primeiro reis da dinastia I eram acompanhados por sepulturas de

servos que teriam sido sacrificados, como mostram as análises ao seu esqueleto. Para os finais

da primeira dinastia, o número de sepulturas secundárias decresceu acentuadamente e o poder

cósmico do rei, ao invés do temporal, e destino final foram enfatizados. Enquanto os túmulos

reais do início da história sugerem um padrão essencialmente terreno da vida após a morte osenterros reais da dinastia I sugerem uma vida após a morte mais transcendente. A partir do

reinado de Den uma parte do túmulo real era orientado para uma fenda nas escarpas do

46 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides do Império Antigo, p. 67.47 Vide Mark Lehner  , op. cit ., p. 77.48 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 840.49

 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 77.50 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 67.51 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 77.

Page 18: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 18/43

16

deserto, acreditando-se ser uma entrada para o submundo, enquanto a escadaria principal, que

dava acesso à câmara funerária, apontava para Norte, em direcção às estrelas circumpolares.52 

Os primeiros reis egípcios reconhecerem a tensão inerente no coração da monarquia

entre privacidade e publicidade, entre segurança e ostentação. Resolveram o problemadividindo o complexo funerário real em dois elementos: um túmulo na antiga necrópole real,

longe do mundo dos vivos; e um grande recinto de culto, modelado no palácio real, situado à

vista da cidade. O primeiro protegia o corpo do rei, o segundo fornecia uma arena pública

 para celebrar o culto póstumo do rei e um monumento visível para a instituição da realeza. Tal

como a arte, a arquitectura funcionava como um poderoso meio de propaganda real.53  De

facto, as mudanças arquitectónicas nos túmulos reais são um dos meios para perceber a

evolução das percepções antigas da monarquia.54

 

O sistema de governo autocrático desenvolvido no início do período dinástico

estabeleceu o padrão para as dinastias sucessivas. Institucionalizou uma concentração de

 poder central que se projectou subsequentemente na construção de pirâmides da terceira

dinastia e do Império Antigo. Mas os projectos de construção real a grande escala exigiam

mais do que uma justificação ideológica e domínio político: exigiam também controlo da

economia e a mobilização colossal de recursos. Estes foram feitos igualmente importantes do

início do período dinástico.55 

1.5)  As mastabas  –  realidade de Sakara

Mastaba –  «Palavra árabe que significa “  banco” , usada para referir um tipo de túmulo

do Antigo Egipto cuja superstrutura, com paredes exteriores ligeiramente inclinadas, se

assemelha aos bancos das actuais casas egípcias construídos na parte de fora da habitação».56 

São estruturas maciças comparáveis às muralhas de uma cidade fortificada57

 Em Sakara estetipo de construção foi realizado a partir dos reis da dinastia I e a sofisticação e o tamanho

52 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 52.53 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 53.54 Vide Barry J. Kemp , Ancient Egypt: Anatomy of a civilization, p. 99.55

 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 54.56 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 544.57 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 79.

Page 19: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 19/43

17

deste tipo de construção apresenta um contraste com os túmulos reais de Abido, que eram

variantes de túmulos escavados e contemporâneos aos de Sakara.58 

 Na verdade, o facto de haver túmulos contemporâneos em pontos distintos do país

(Sakara a Norte e Abido mais a Sul) que contêm estelas com nomes de faraós originou umadiscussão entre egiptólogos: Qual dos túmulos continha o corpo do rei? Shaw e Lehner são da

opinião de que os túmulos reais se situam em Abido, enquanto que em Sakara se encontram

cenotáfios ou túmulos de altos funcionários. Emery que escavou muitas das mastabas de

Sakara é da opinião contrária. Os defensores de Sakara como o verdadeiro local de enterro

real afirmam que o tamanho das mastabas e inscrições com o nome de faraós indica que

foram construídas para a realeza. No entanto, os defensores do cemitério de Abido como local

de enterro afirmam que se juntarmos a sepultura com o recinto murado obtem-se umaestrutura maior que a mastaba.59 

As mastabas contém uma câmara funerária subterrânea, por vezes com outros

compartimentos, sobrepostos por uma construção rectangular em pedra ou tijolo cuja

diferença dos túmulos em Abido são as paredes de adobe com reentrâncias e os padrões aí

 pintados, simulando as esteiras e as estruturas de madeira formadas nos Per Wer  e Per Nu, os

santuários pré-dinásticos do Alto e Baixo Egipto, respectivamente.60 

É possível que as mastabas combinassem numa só estrutura os dois símbolos de poder

de Abido: Um túmulo subterrâneo e um recinto acima do solo com nichos. Com o passar do

tempo o modelo deste tipo de túmulos tornou-se mais elaborado, com uma disposição mais

complexa das câmaras (subterrâneas e acima do solo). Tal como em Abido, foram

introduzidas escadas até à câmara funerária.61 As mais antigas apresentam-se com uma estela

voltada para o nascente e em frente, uma mesa de oferendas, permitindo o culto funerário em

honra do defunto, que mais tarde se vai deslocar para dentro da própria mastaba. A sala de

culto foi gradualmente ampliada, onde se começa a colocar a estela e à sua frente a estela.

Tinham também um serdab62, o que permite evidenciar o culto da vida após a morte.63 

58 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 78.59 Para melhor percepção deste debate confrontar Mark Lehner, op. cit ., pp. 78-9; Luís Manuel de Araújo,  As

 pirâmides..., p. 66; Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 545; Ian Shaw, op. cit ., pp. 70-3.60 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 544; Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 79.6161 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 71.62

 Câmara fechada que continha uma estátua do falecido. A parede continha um pequeno buraco por onde aestátua “olhava” para o mundo exterior. 63 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 545.

Page 20: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 20/43

18

 No final do Império Antigo a mastaba sofre um processo de retrocesso, sendo

construídas de forma grosseira e reduzindo o número de salas. Há uma renovação no Império

médio acabando por desaparecer no Império Novo, quando surgem os hipogeus. 64 É devido

ao processo de complexificação da mastaba e sua evolução que Emery acha que surge a

 pirâmide de Djoser, no entanto, Shaw acha mais provável que esta tenha derivado dos recintos

funerários e túmulos reais de Abido65 

2)  As pirâmides do Império Antigo

O Império Antigo é um período de cerca de 5 séculos que compreende desde a dinastia

III até à VI, inclusive. Apesar de não haver consenso, é geralmente aceite que Djoser é o

 primeiro rei da dinastia III, filho de Khasekhemui, um já grande construtor de complexos em

Abido e Hieracômpolis. O último rei da VI dinastia é Pepi II e entre estes 2 monarcas

salientam-se Seneferu, fundador da dinastia IV, e o seu filho, Khufu. É um período em que

um forte poder monárquico, paternalista e divino na sua essência, reinou sobre um território

cujos recursos foram utilizados para a manutenção do palácio, para o desenvolvimento de

uma administração que foi infinitamente ampliada e reorganizada, e para a execução de projectos arquitectónicos.66 

O termo “Império Antigo” foi inventado no século XIX, e para os antigos egípcios

seria difícil encontrar diferenças entre a época Arcaica e o Império Antigo 67. No entanto,

tinham noção do contributo do rei Djoser para a arquitectura funerária, e foi precisamente o

desenvolvimento deste tipo de arquitectura a grande escala que originou a divisão

cronológica. Durante esta época o Egipto viveu um longo e ininterrupto período de

 prosperidade económica e estabilidade política, em continuação da Época Arcaica, crescendo

rapidamente num estado organizado e centralizado, governado por um rei que acreditava ser

dotado de poderes sobrenaturais. Era administrado por uma selecta elite alfabetizada. O

Egipto desfrutou de uma quase completa auto-suficiência e segurança dentro dos seus limites

64 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 546.65 Note-se que Shaw acredita que Abido é o local onde os reis foram sepultados enquanto Emery acredita ter sidoem Sakara. Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 71.66

 Vide Alan B. Lloyd, op. cit., p. 63.67 O último rei da Época Arcaica e os dois primeiros reis do Império Antigo estavam relacionados e a residênciareal permaneceu em Mênfis.

Page 21: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 21/43

19

naturais e os avanços nas ideias religiosas reflectiram-se nos feitos artísticos e

arquitectónicos.68 

As pirâmides monumentais, símbolo da monarquia do Império Antigo, foram

construídas para esses governantes, absorvendo recursos humanos, materiais e dinheiro, numaempresa nacional que culminou nos gigantes de Giza.69 A época das pirâmides inicia-se na III

dinastia com o túmulo de Netjerirkhet Djoser e no sentido geométrico não é propriamente

uma pirâmide.70 Com este monarca chega ao fim a necrópole de Abido.71 

A primeira metade da dinastia IV mostra um gosto sistemático para a migração, cada

monarca escolhendo um local diferente para construir a sua pirâmide, movendo-se no sentido

 Norte. Esta política contrasta com a prática Tinita de oscilar entre Sakara e Abido.72 

2.1) Djoser –  A pirâmide de degraus

«Até princípios da III dinastia menfita as diferenças entre os túmulos dos altos

funcionários e os dos soberanos não eram marcantes em termos de concepção

arquitectónica».73  Seria difícil exagerar o salto dramático em tamanho e sofisticação

arquitectónico representada pelo primeiro complexo real do Egipto em pedra, a pirâmide de

degraus de Djoser em Sakara.74  Esta pirâmide, que, como dito acima, não era no sentido

geométrico uma verdadeira pirâmide, desenvolveu-se a partir das mastabas iniciais, sendo

feita por Imhotep, vizir e arquitecto real. Imhotep, como sumo sacerdote de Ré em Heliopólis,

 procura «a petrificação das concepções heliopolitanas de ascensão do rei até ao Sol».75. Ainda

segundo Luís Araújo, «a configuração de escada que ressalta da construção reforçaria

claramente esta ideia».76 

A pirâmide de Djoser consistia em seis mastabas sobrepostas: a primeira (maior que as

demais) seria quadrada inicialmente e depois tornou-se rectangular, assim como as restantes,

atingindo uma altura de cerca de 60 metros de altura77

, tendo a base cerca de 140 x 118

68 Vide Ian Shaw, op. cit ., pp. 83-5.69 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 65.70 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 73.71 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 67.72  Idem.73 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 73-4.74 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 84.75  Não deixa de ser curioso que apesar do deus por excelência de Mênfis ser Ptah, foi seguida a ideologia

religiosa de Heliopólis. Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 74.76  Idem.77 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 688.

Page 22: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 22/43

20

metros.78 O complexo era cercado por uma parede de calcário de 10,5 metros de altura e 1645

metros de comprimento (545 por 277 metros)79, contendo uma área de 15 hectares, o tamanho

de uma grande cidade no III milénio a. C. Dentro das muralhas, para além da pirâmide,

existiam uma série de estruturas como santuários, templos e um grande pátio aberto. Na zona

Sul foi encontrado uma construção que se pensava ser um túmulo, descobrindo-se depois que

era um cenotáfio, o que evocava as práticas em Abido80. Podem dividir-se as estruturas deste

complexo em duas partes: funcionais e ficcionais, sendo estas últimas utilizadas para servirem

o ka  do rei na vida após a morte e as primeiras teriam sido necessárias para realizar

cerimónias fúnebres.81 

A pirâmide (que continha cerca de 330 400 metros cúbicos de pedra) foi construída

 por fases (M1 –  M2 –  M3 –  P1 –  P1’ –  P2), progredindo desde a mastaba inicial até à sexta eúltima. Quando os trabalhadores começaram a transformar a mastaba na primeira pirâmide

construíram um núcleo bruto de pedras desbastadas, com um revestimento de calcário e uma

camada de material de acondicionamento. Também as estruturas vizinhas e o recinto foram

construídos por fases. Originalmente, a mastaba de Djoser estaria fora do centro do recinto,

tal como a mamoa no túmulo de Khasekhmui e a de Hieracômpolis.82 

«Para o Hórus Netjerirkhet Djoser foi portanto construído um imenso palácio da

eternidade ( per djet ) onde o monarca continuaria a reinar sobre os seus súbditos  –   como

Osíris, enquanto rei do outro mundo, com o seu ka  –  mantido perene e magicamente vivo

 pelas cerimónias rejuvenescedoras do heb-sed e pelo culto funerário».83 

2.2) A curta vida das pirâmides de degraus

Seria de esperar que uma série de pirâmides de degraus surgissem após Djoser. No

entanto, apesar de vários elementos específicos terem passado para gerações posteriores, as pirâmides de degraus rectangulares não durariam muito tempo.84 

«Os soberanos da III dinastia prosseguem o robustecimento da instituição faraónica,

apoiada por uma eficaz burocracia apta a dirigir o trabalho de milhares de homens, num

78 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 85.79  Idem. 80 Ou em Sakara, dependendo da posição tomada relativamente ao debate.81 Vide Mark Lehner, op. cit ., pp. 84-5.82

 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 84.83 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 75.84 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 94.

Page 23: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 23/43

21

regime e num ritmo que as dinastias seguintes desenvolverão».85  Apesar da ordem de

sucessão não estar completamente esclarecida, para além de Djoser pode-se reconhecer

Sekhemkhet, Nebka e Khaba. Neste caso são especialmente o primeiro e o último que

interessam, já que ambos erigiram (ou pelo menos tentaram, visto que as construções não

foram acabadas) pirâmides escalonadas, o primeiro em Sakara, o segundo em Zauiet el-

Arian.86 

A pirâmide de Sekhemkhet, a sul da de Djoser, foi uma tentativa de construir um novo

complexo, mas foi abandonada pouco depois de iniciada a sua construção e a sua “pirâmide”

nunca subiu acima da superfície. É chamada simplesmente de “buried pyramid” mas as

dimensões da sua base (120 metros) e o ângulo de inclinação sugerem que a intenção seria

erguê-la a 70 metros, em sete degraus –  mais alta que a de Djoser.

Apesar de nunca ter sido acabada, progressos consideráveis foram feitos na sua sub-

estrutura e as mesmas técnicas de construção foram utilizadas do que na pirâmide de Djoser 87.

A câmara funerária não foi também acabada. No entanto no seu interior encontrou-se um

sarcófago de alabastro selado. Quando foi aberto estava vazio. Para tornar as coisas mais

sinistras, os restos mortais de uma criança de dois anos foi encontrado no túmulo Sul. Como

afirma Lehner: «something happened at court that ended work on the most important

monument in the land. But the child is not Sekhemkhet. He reigned six years and is shown in

adulthood in a relief at Wadi Maghara in Sinai. The mystery remains unsolved».88 

«Em Zauiet el-Arian, a uns 7 km a norte de Sakara, foi iniciada a construção de mais

um monumento que ficou incompleto».89 Sabe-se menos sobre esta contrução do que se sabe

da de Sekhemkhet. Se completada teria entre 42 a 45 metros de altura e 84 m de base. Não foi

encontrada qualquer tipo de sepultura e uma passagem lateral leva a galerias vazias e limpas.

Talvez os trabalhadores tenham abandonado a obra devido à morte prematura do rei que se

deduz ser Khaba devido a inscrições em vasos de pedra numa mastaba a norte da pirâmide90 

Segundo Luís Araújo, a pirâmide concluída teria 5 andares.91 

85 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 76.86 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 77.87 Shaw refere que o nome de Imhotep foi encontrado numa inscrição o que poderá significar que ainda estariaactivo.88 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 94.89

 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 689.90 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 95.91 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 689.

Page 24: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 24/43

22

Merecem referência as chamadas pirâmides de degraus de província, uma série de 7

 pirâmides que até hoje não se sabe que propósito serviriam. Segue em anexo, no banco de

imagens, a página de Lehner dedicada ao assunto (figura 7).

2.3) A dinastia das grandes pirâmides: Dos primeiros protótipos...

2.3.1) Meidum

«A III dinastia fora um tempo característico das pirâmides escalonadas (...), chegava

agora o tempo das pirâmides de linhas perfeitas».92 É de facto na IV dinastia que as pirâmides

atingem a forma perfeita, passando a ser, de facto, uma pirâmide no sentido geométrico. «A

IV dinastia marca de facto um notório avanço, não apenas em termos de espectacularidade

arquitectónica mas também no campo das inovações técnicas, que estão patentes, sobretudo,

na organização do espaço interno dos túmulos reais e nos complexos envolventes».93 Foi no

reinado de Seneferu que a forma de túmulo real mudou para o de uma verdadeira pirâmide.

Estas mudanças nao são puramente do âmbito arquitectónico mas também das mudanças das

doutrinas relativas à vida após a morte do rei. Aparentemente, os conceitos astronomicamente

orientados pelas estrelas foram gradualmente sofrendo modificações incorporando ideias

centradas no deus-sol Ré.94 

Quando Seneferu subiu ao trono, a única pirâmide real que subsistia era a de Djoser.

Este monarca (Seneferu) tornar-se ia no maior construtor de pirâmides da história do Egipto,

construindo com toda a certeza 2 pirâmides colossais, com alguma dúvida uma terceira (que

na verdade terá sido a primeira) e ainda uma quarta mais pequena (uma das sete provinciais

mencionadas anteriormente). A figura 8 no banco de imagens mostra claramente como o

total de massa de pedra utilizado por este rei ultrapassa até a de Khufu, o construtor da

grande pirâmide de Giza.

Quando escreve sobre a pirâmide de Meidum, Mark Lehner afirma que «in many ways

Meidum is the most mysterious of all the great pyramids. Embedded within the puzzles of

this pyramid and its surrounding necropolis are distant events that transformed Archaic

92

 Vide Luís Manuel de Araújo, As piramides..., p. 79.93  Idem.94 Vide Ian Shaw , op. cit ., p. 87.

Page 25: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 25/43

23

Egypt into the classic Old Kingdom pyramid age».95 De facto, pode considerar-se que esta

construção faz a transição entre a pirâmide escalonada e a de linhas perfeitas. Não se sabe ao

certo se foi Seneferu quem a construiu, ou se na verdade foi o seu antecessor (Huni) quem a

iniciou e depois foi acabada por ele.96 É certo que houve uma interrupção na construção

deste monument e James Lowdermilk escreve que «The most common reason for stopping

 pyramid construction was the death of the Pharaoh. Construction may also cease because of

a loss in workforce or a massive design failure».97 No entanto, para a pirâmide de Meidum,

acrescenta que se foi de facto Seneferu quem iniciou a sua construção, então o abandono

 precoce da obra não se deveu à sua morte. Para além disso, as obras levadas a cabo por este

monarca não sugerem uma baixa na força de trabalho e se o primeiro abandono da obra se

deveu a uma falha na planificação e na construção, o seu retorno significaria que Seneferu

tinha uma solução. No entanto, «since work on this pyramid was again abandoned and it

subsequently collapsed, his solution was either incorrect or nonexistent, and no design flaw

was perceived».98 

Foi também construída por fases (E1  –  E2 –  E3): inicialmente teria 7 andares e antes

que os construtores acabassem o quarto ou o quinto, o monarca aumentou o projecto de

forma a que um oitavo fosse acrescentado. As mudanças referidas acima prendem-se com a

orientação dos edifícios e tal como já referido também, poderá ter a ver com a evolução dosconceitos da vida após a morte. A título de exemplo, a orientação passa a ser Leste-Oeste

(em vez de Norte-Sul), a entrada passa a estar do lado Leste (em vez de a Sul) e o túmulo

funerário passa a estar virado para Leste (em vez de estar virado para Norte).99 Teria cerca

de 144 m de base e 92 de altura.

Hoje em dia, esta pirâmide consiste numa torre de três andares, erguendo-se sobre um

monte de detritos. Também aqui surge um debate académico quanto a esta configuração. De

um lado defende-se que esta torre foi deixada depois de o revestimento e os detritos nointerior terem sido levados para serem aproveitados para outras construções. Outra

 perspectiva é a de que a torre é o resultado de um colapso súbito durante a construção.

«Excavations, however, have now cleared away a large part of the debris and recovered

95 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 97.96 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 80.97

 Vide James R. Lowdermilk, The bend in the Bent pyramid and the collapse of the Meydum pyramid , p. 2.98  Idem. 99 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 689.

Page 26: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 26/43

24

various later remains but no 4 th-dynasty ropes, timbers or workers’ bodies –  discounting the

theory of a sudden collapse».100 

«The interior arrangement of the Meidum pyramid was an innovation and one that

would become standard».101 Uma passagem situada quase no centro da face norte conduzia àcâmara funerária e a parte mais baixa foi construída sobre uma vala no chão que depois foi

 preenchida. A câmara foi construída ao nível do deserto (na época) e aumentaram a

 passagem para o interior da pirâmide. Os construtores experimentaram formas de criar uma

sala central. Ao invés de grossas traves de granito usaram uma técnica denominada de

“corbelling”, onde cada fiada de blocos a partir de uma dada altura se projectam para o

interior até as duas paredes quase se tocarem.

O complexo piramidal envolvia vários elementos e era cercado com um muro

rectangular. Aqui, duas experiências acabariam por se tornar “standard”: a existência de uma

 pirâmide satélite no lado sul da pirâmide principal e o passadiço, que ia desde sudeste do

complexo até ao centro da pirâmide, numa linha recta. Associada à pirâmide estava também

uma necrópole, a primeira de elite desde que o Hórus Aha inaugurou o comeitério dos seus

oficiais em Sakara. «Just as the pyramid of Meidum is transitional from the step pyramid to

the true pyramid, so the necropolis for which it is the centerpiece represents an unfinished

transition from the old to the new».102 Numa primeira fase, os construtores tentaram recriar

o padrão de Sakara: o monumento funerário do rei a sul e uma série de grandes mastabas

 para altos oficiais a norte. A mastaba 17 situa-se perto da pirâmide e o seu proprietário é

anónimo. Surgiu a ideia para um cemitério melhor organizado e situado a oeste da pirâmide.

Aqui nasceu o conceito que seria consumado à sua maior expressão em Guiza.103 

Sabe-se que Seneferu, nos seus últimos quinze anos de reinado, enviou os seus

trabalhadores de novo a Meidum para preencher a pirâmide original e torná-la numa

 pirâmide perfeita mas tal não aconteceu, desconhecendo-se o motivo. «The pyramid at

Meidum thus represents the very  beginning and the end of Sneferu’s pyramid-building

 programme».104 

100 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 97.101 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 98.102

 Vide Mark Lehner  , op. cit ., p. 99.103  Idem.104 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 97.

Page 27: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 27/43

25

2.3.2) Dahchur

Uma outra tentativa foi levada a cabo por Seneferu em Dahchur, a sul de Sakara, com

a sua pirâmide romboidal quando abandonou a pirâmide em Meidum. Nesta altura, nas

 palavras de Lehner, «there was as yet no blueprint for a true pyramid».105  Inicialmente, o

corte transversal da pirâmide seria a de um triângulo equilátero já que «the design they

chose would mimic that of Sneferu’s successful predecessors».106  Os blocos seriam

colocados perpendicularmente à face da pirâmide com 60º, inclinando-se em direcção ao

centro com um ângulo de 30º. Um diagrama de forças apresentado por Lowdermilk mostra

uma falha: A existência de forças não equilibradas que foram aumentando à medida que a

 pirâmide crescia em altura, até cada face da pirâmide ser deslocada para fora. O autor faz um

 paralelismo simples de entender: se se empilharem livros num local com inclinação, o peso

será directamente proporcional ao número de livros e eventualmente as forças acabarão por

empurrar os livros no topo para fora acabando a pilha por ruir. Com esta pirâmide sucedeu o

mesmo: «As the pyramid grew taller and the weight above the lower blocks grew heavier,

these blocks had a greater tendency to move».107 Lowdermilk fala-nos de como deverá ter

 parecido insólito aos construtores e ao arquitecto da pirâmide quando repararam que os

 blocos começavam a mover-se à medida que mais eram empilhados. Não será difícil

imaginar o próprio monarca preocupado com a sua obra ou até mesmo os próprios

trabalhadores, receosos que a estrutura ruísse. Fala-nos, também, do processo para tentar

esconder a câmara funerária, incluindo a construção de corredores e poços para manter os

trabalhadores na ignorância. Esta câmara massiva tinha cerca de 16,5 metros de altura. Aqui,

o monarca mandou erigir traves de madeira de cedro na vertical e na horizontal, de forma a

impedir que as forças movessem mais blocos, de nada adiantando.

«Eventually Sneferu had to succumb and admit that his radical new design was a

failure».108 Ordenou que os trabalhos cessassem e selou a entrada a Oeste, abandonando o

 projecto durante algum tempo para começar nova pirâmide, voltando aqui (tal como fez para

Meidum) para, e aqui sim, concluir o que havia começado. Quando a pirâmide vermelha

estava quase completa, Seneferu decidiu reiniciar os trabalhos, não se sabendo, ainda,

 porque motivo os blocos se moviam. Depois de analisar a estrutura interna bem como a

câmara funerária, para a qual um novo túnel teve de ser escavado, já que os acessos tinham

105 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 102.106

 Vide James R. Lowdermilk, op. cit ., p. 3.107  Idem. 108  Idem. 

Page 28: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 28/43

26

sido selados, repararam que não tinha havido mais danos nem movimentos e o monarca

decidou concluir o projecto. Uma vez que a sua outra pirâmide estava quase completa, foi

 possível perceber que o problema da pirâmide romboidal estava relacionado com os ângulos

internos e foi então que se alterou o ângulo original de 60º para pouco menos de 55º. Porém,

à medida que os trabalhos continuavam os problemas voltavam, mesmo com a mudança no

ângulo. Os blocos empilhados fizeram aumentar a magnitude das forças exercidas o que

faria com que os blocos que anteriormente se moviam, fossem mover-se de novo. No

entanto, uma vez que estavam envolvidos por novos blocos, resultados da expansão do

 projecto inicial, estes foram esmagados. Os blocos mais interiores começaram a rachar e os

construtores preencheram essas falhas com estuque. Lehner aponta uma combinação do uso

de argamassa deficiente, mau ajustamento dos blocos e a instabilidade do solo desértico para

os problemas estruturais. O autor, bem como Lowdermilk, fala-nos também de outra

mudança no ângulo da pirâmide: do ângulo inicial de 60º, houve uma mudança para um

ângulo pouco inferior a 55º e, após o sucesso da pirâmide vermelha, procedeu-se a nova

mudança, desta vez para um ângulo entre 43º e 44º.

Com uma base de 188 metros e uma altura de 105, a pirâmide romboidal tem a

 particularidade de possuir 2 entradas e por isso 2 estruturas internas, nos lados Norte e

Oeste.

109

 A entrada que foi feita quando se retomaram os trabalhos tem um túnel que acabaem outra câmara funerária, num nível mais acima da primeira. Também esta câmara

demonstra problemas estruturais. Depois das duas câmaras estarem concluídas, foi feito um

túnel a ligar as duas. «It was definitely built later as it was hacked through the masonry by

someone who knew exactly where the two chambers were».110 O complexo associado a esta

 pirâmide tem um pequeno templo no lado este, cujo tamanho contrasta impressionantemente

com o tamanho do edifício central. Um passadiço liga, ainda, a pirâmide ao que Lehner

chama de «first valley temple  –  a beautiful small, rectangular structure».111 Há ainda uma

 pirâmide satélite, considerada importante a nível arquitectónico, já que a sua estrutura

interna e o trabalho de alvenaria «is an important link in the transition to the Great Pyramid

of Khufu».112 Foi construída através de um novo método: colocando camadas horizontais de

 blocos de pedra. Lehner afirma que a nível interno, a pirâmide satélite é uma forma

109 Vide Luís Manuel de Araújo, Dicionário..., p. 689.110

 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 103.111  Idem. 112 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 104.

Page 29: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 29/43

27

abreviada da grande pirâmide de Khufu, com uma passagem ascendente e outra

descendente.

2.4) ...À pirâmide perfeita

Por volta do seu 30º ano de reinado Seneferu abandonou a pirâmide romboidal como

última morada e iniciou o trabalho na primeira pirâmide perfeita: a pirâmide vermelha, em

Dahchur, assim chamada devido à cor da pedra calcária utilizada no seu interior

(inicialmente era revestida por calcário branco). No início da sua construção e após os

 problemas estruturais da pirâmide romboidal, «Sneferu’s dream stood incomplete and

 blunted just as his predecessor’s pyramid before him. Pyramid B1113 reached almost half its

intended height. At this time four large-scale pyramids stood incomplete within Egypt and

only one stood complete. Sneferu, powerful and determined, mustered his workforce and

had his architects redesign a new pyramid».114 

Contrastando com a pirâmide romboidal, a pirâmide vermelha não mostra problemas

de construção nem qualquer tipo de deficiência a nível estrutural.115  Como coloca

Lowdermilk «design of this pyramid (...) would have to solve the structural problems

encountered in the previous failed attempt. These problems had never been encountered in

 prior construction, and the architects could only guess at their cause and solutions».116 Os

arquitectos perceberam que o problema de utilizar 60º era a construção em altura, já que o

objectivo da pirâmide é elevar-se até que as suas faces se encontrem. Entenderam também

que para uma construção deste tipo, em altura, seria necessário um ângulo mais reduzido e

desta feita, o ângulo escolhido foi de 43º (segundo Lehner) e em muitas formas tornou-se

mais elegante do que a pirâmide romboidal, «where the builders obviously struggled and

experimented with various solutions to the structural problems they were faced with».117 

Esta pirâmide «representa o culminar dos longos anos de experiências pontuadas de êxitos e

fracassos que já vinham desde os tempos de Imhotep».118  Tal como aconteceu com a

 pirâmide satélite ligada à pirâmide romboidal e como acontecerá com a pirâmide de Khafré,

113 Nome dado à primeira fase de construção da pirâmide romboidal.114 Vide James R. Lowdermilk, op. cit ., p. 3-4.115 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 104.116

 Vide James R. Lowdermilk, op. cit ., p. 4.117 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 104.118 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., pp. 80-1.

Page 30: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 30/43

28

em Guiza, a pirâmide vermelha foi construída sobre uma plataforma plana em calcário,

resolvendo, desta forma, os problemas da instabilidade do solo. Erguendo-se a uns 105

metros, esta pirâmide é a terceira maior do Egipto, sendo ultrapassada apenas pelas

 pirâmides de Khufu e de Khafré. A sua base é um quadrado de 220 metros de lado, feita

 para ser larga o suficiente de forma a suportar o peso massivo.

Porém, Seneferu morreria sem ver o seu sonho concretizado, o de construir uma

verdadeira pirâmide. Isto porque apesar da estrutura estar bem planificada, o  pyramidion 

tem um ângulo diferente do resto da estrutura, o que faz com que esta não seja uma pirâmide

no verdadeiro sentido geométrico, já que Seneferu decidiu alterar o ângulo da peça final.

Lowdermilk avança com a teoria de que devido ao seu desejo, Seneferu conseguiu que

Khufu fosse o seu sucessor, já que seria capaz de impôr a sua vontade à população egípcia,chamando este monarca de «his most ruthless son».119 Verdade ou não, é certo que Khufu

conseguiu cumprir com este objectivo.

O templo funerário associado ao edifício é maior do que os anteriores, apesar de não

ter o esplendor do templo funerário de Khufu. «Indeed, it seems to have been finished

hurriedly, perhaps by Khufu at the time of his father’s death».120  Apesar de existirem

vestígios a este do templo funerário, não parece ter sido construído o passadiço que liga o

edifício central ao “valley temple”, o que para Lehner é, talvez, a prova de que o complexo

foi terminado apressadamente devido à morte de Seneferu.

Foi aqui que Seneferu ficou sepultado e desde este rei até Khufu observa-se uma luta

 para elevar a câmara funerária do nível do chão para o corpo da pirâmide, talvez uma

reflexão da crescente identificação do rei não só com Hórus mas com o Sol e os seus raios,

do qual a pirâmide é um símbolo. Seneferu foi adorado como deus e o seu culto permaneceu

até ao Império Novo, constrastando com os restantes monarcas construtores de pirâmides. O

seu culto era centrado no “valley temple” da pirâmide romboidal, talvez, escreve Lehner,

 porque este complexo era completo, apesar de não estar ali sepultado o corpo do rei.121 

119

 Vide James R. Lowdermilk, op. cit ., p. 6.120 Vide Mark Lehner, op. cit ., p. 105.121 Vide Mark Lehner, op. cit ., pp. 104-5; Vide James R. Lowdermilk, op. cit ., p. 6.

Page 31: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 31/43

29

Conclusão

Depois de uma viagem longa, cronologicamente, foi possível tirar algumas ilações

relativamente à evolução da arquitectura funerária. Acima de tudo é talvez importantesalientar a preponderância que os conceitos religiosos e ideológicos tiveram neste contexto.

Observou-se, para o período pré-histórico que os costumes funerários são muito variados e

complexos e sugerem um crescente ênfase na religião funerária bem como a diferenciação

da sociedade. Os vestígios são escassos mas podem indicar que rituais faraónicos mais

tardios, incluindo desmembramento e mumificação artificial, poderão ter sido explorados

durante o período pré-histórico e talvez até mesmo durante os fins do Neolítico. O

tratamento do corpo pode ser associado com o conceito de liminaridade e poderá ter sido

 praticado de forma a preparar fisicamente o morto para uma transição ou viagem corporal e

espiritual para outra forma de existência ou vida após a morte. Esta noção pode ser reflectida

na posição fetal dos enterros pré-históricos que podem simbolizar o renascimento noutro

mundo.122 

Através das sepulturas do final da pré-história e das primeiras dinastias, e sua

crescente complexificação, foi possível entender a estruturação da sociedade egípcia bem

como as diferenças entre o norte e o sul do Egipto, uma idiossincrasia que acompanhará ahistória das Duas Terras até ao fim do período faraónico. No entanto, e devido ao facto de os

vestígios funerários serem mais ricos no sul do que no norte, Ian Shaw alerta que «since the

major Upper Egyptian sites were located near the Eastern Desert, from which gold and

various kinds of stone (…) were obtained, they were much richer in natural resources than

Lower Egyptian sites».123 

Com o início do Império Novo e a entrada na época das construções megalíticas, os

conceitos religiosos relacionados com o deus Ré começam a ganhar importância e uma das

melhores provas para se observar a ligação da realeza com o divino (para além do facto de o

faraó ser, ele próprio, um deus) é observar a titulatura real, especialmente a partir da dinastia

V, onde os nomes de Hórus passam quase todos a terminar em  – re. É certo que o presente

estudo não cobre esta dinastia, mas este tipo de concepções vêm de trás e a construção das

 pirâmides mostra o desejo de aproximação ao sol, construir em altura para chegar o mais

 próximo possível de Ré. Como deixou assente Luís Araújo «a forma piramidal sintetizaria

122 Vide Alan B. Lloyd, op. cit ., p. 33-4.123 Vide Ian Shaw, op. cit ., p. 58.

Page 32: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 32/43

30

assim três concepções que não se repelem, antes se harmonizam e completam: a concepção

solar (o faraó como filho de Ré ascendendo aos céus), a concepção osírica (o faraó defunto

tornado Osíris sepultado no âmago telúrico, a reinar no Além, na duat, para dar lugar ao

novo Hórus sobre a terra) e a concepção estelar (o faraó como uma das muitas estrelas

circumpolares (...) com a entrada da pirâmide virada para a estrela mais brilhante do

norte».124 Aqui está presente a importância da religiosidade de Heliópolis, “a cidade do Sol”,

e Mark Lehner é o próprio a dar-lhe a devida importância como local chave para o início da

arquitectura tumular em altura. Como afirma Luís Araújo «a partir de Imhotep ganham

notória preponderância os ritos solares, ficando algo secundarizados os ritos estelares».125 

Com a construção megalítica observa-se, ainda, a petrificação da natureza, uma forma

de preservar eternamente o ambiente vivido por cada monarca. A passagem da construçãoem adobe para a construção em pedra reforça este desejo de eternidade. O faraó estará

eternamente vivo entre os vivos. É, talvez, seguro afirmar que a construção megalítica se

deveu mais a ideologias religiosas do que propriamente à afirmação de poder. Para isso

funcionava toda uma máquina administrativa que contabilizava e geria os recursos naturais e

humanos à sua disposição, sempre com ordem e método, a maet  levada à prática.

Por último, percebeu-se que os egípcios tiveram dificuldades em conseguir erigir a

 pirâmide dita “perfeita” e deve-se a Seneferu o grande contributo que deu em questões de

erros e soluções para os mesmos. Como afirma Lowdermilk: «had Sneferu not been such a

great man, able to deal with adversity and the unknown, pyramid construction might have

ended with his failures. The Egyptians were practical people, and they were able to learn

from his mistakes. Their illustrious civilization continued to flourish, beginning with

construction of the greatest pyramid of them all. The Great Pyramid was built with the

understanding gained from Sneferu’s mistakes».126 

124

 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 136-7.125 Vide Luís Manuel de Araújo, As pirâmides..., p. 135. 

126 Vide James R. Lowdermilk, op. cit ., p. 6.

Page 33: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 33/43

31

Banco de Imagens

Page 34: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 34/43

32

1 - Sepulturas pré-históricas

Page 35: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 35/43

33

2 - Vestígios da cidade de Hieracômpolis

3 - Túmulo real em Abido

Page 36: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 36/43

34

4 - Complexos tumulares reais em Abido

5 - Pirâmide de degraus de Djoser em Sakara

Page 37: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 37/43

35

6 - Corte lateral da pirâmide escalonada

Page 38: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 38/43

36

7 - As pirâmides escalonadas provinciais

Page 39: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 39/43

37

8 - Volume de pedra utilizada pelos monarcas (em milhões de metros cúbicos)

9 - Pirâmide de Meidum

Page 40: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 40/43

38

10 - Pirâmide romboidal, Dahchur

11 - Pirâmide vermelha, Dahchur

Page 41: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 41/43

39

Bibliografia

Obras

ADAMS, Barbara, «Discovery of a Predynastic Elephant Burial».  Archaeology

 International 2 (1998/1999), pp. 46-50.

ARAÚJO, Luís Manuel de,  As pirâmides do Império Antigo. 2ª ed. Lisboa: Edições

Colibri, 2003.

ARAÚJO, Luís Manuel de (ed.),  Dicionário do Antigo Egipto. Lisboa: Editorial

Caminho, 2001.

KEMP, Barry,  Ancient Egypt: Anatomy of a civilisation. 2ª ed. Oxon: Routledge,

2006.

LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson, 2008.

LLOYD, Alan B. (ed.),  A companion to ancient Egypt . Reino Unido: Blackwell

Publishing, 2010.

LOWDERMILK, James R., «The bend in the Bent pyramid and the collapse of the

Meydum pyramid». The ostracon, volume 9, nº 4, 1999, pp. 2-6.

McHUGH, Anita, «Predynastic Burials in Upper Egypt». The Ostracon, volume 3, nº

3, 1992, pp. 1-2.

SHAW, Ian (dir.), The Oxford history of ancient Egypt . Oxford: Oxford University

Press, 2003.

Page 42: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 42/43

40

Bibliografia de Imagens:

Figura 1 - LLOYD, Alan B. (ed.),  A companion to ancient Egypt . Reino Unido:

Blackwell Publishing, 2010.

Figura 2 - LLOYD, Alan B. (ed.),  A companion to ancient Egypt . Reino Unido:

Blackwell Publishing, 2010. p. 47

Figura 3 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson, 2008. p. 75

Figura 4 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson, 2008.

 p. 77

Figura 5 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson, 2008.

 p. 91/86

Figura 6 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson, 2008.

 p. 87

Figura 7 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson, 2008.

 p. 96

Figura 8 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson, 2008.

 p. 15

Page 43: A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

7/17/2019 A evolução da arquitectura tumular egípcia: da pré-História às pirâmides

http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-da-arquitectura-tumular-egipcia-da-pre-historia-as-piramides 43/43

Figura 9 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson, 2008.

 p. 99

Figura 10 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson,

2008. p. 103

Figura 11 - LEHNER, Mark, The complete pyramids. Londres: Thames & Hudson,

2008. p. 14