A evolução da Norma ISO 14001 e o fortalecimento da sustentabilidade empresarial

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A evolução da Norma ISO 14001 e o fortalecimento da sustentabilidade empresarial sexta-feira, 15 de outubro de 2010 Por Sofia Jucon O advento da certificação em conformidade com a Norma ISO 14001 no Brasil foi a mola propulsora para o desenvolvimento sustentável empresarial. Desde a instalação do ISO TC 207 – Comitê Técnico de Meio Ambiente da ISO, em 1994, o Brasil marcou presença em todas as regiões deste Comitê através do Gana - Grupo de Apoio à Normalização Ambiental, criado por meio da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Em setembro de 1996 foi emitido o primeiro certificado em conformidade com a Norma ISO 14001 no Brasil, entregue à empresa Bahia Sul Papel e Celulose, que se tornou, assim, a única empresa do setor de celulose no Brasil, e uma das poucas no mundo, a possuir um SGA – Sistema de Gestão Ambiental certificado com a norma internacional. Em 1999, o Brasil teve o mérito de ser o primeiro país da América Latina a alcançar a marca das 100 certificações em conformidade com a Norma ISO 14001 e, desde esta marca, vem vivenciando um histórico de sucesso crescente nesse cenário: em 2000 atingiu o volume de 200 certificações; em 2001 foram 350; em 2002 o Brasil já contava com 600 empresas certificadas; em 2003 o país atingiu a marca histórica de 1.000 certificações; em 2004 houve a revisão da norma e o país já contava com 1.500 certificações; em 2005 foi alcançada a marca das 2.000 certificações; em 2006 foi comemorada a conquista das 2.300 certificações ISO 14001; em 2007, atingimos a marca de 2.800 empresas certificadas; em 2008 o volume era de 3.200 certificações; em 2009 foi comemorado o índice de 3.800 certificações; e, em 2010, o país consagrou-se com o mérito de possuir 4.000 certificados emitidos e consolidar-se como o país com o maior número de certificados emitidos na América Latina. Atualmente o trabalho em prol das certificações ambientais é acompanhado por meio do Comitê Brasileiro de Normalização em Gestão Ambiental – CB-38 da ABNT e a vice-presidência do ISO TC 207 é ocupada por um brasileiro, Haroldo Mattos de Lemos, o que demonstra a relevância do Brasil para o cenário ambiental mundial. Para Lemos, o desempenho do Brasil em relação à certificação ISO 14001 é exemplar, pois se trata de uma norma voluntária. “Muitas grandes e médias empresas adotaram o SGA em conformidade com a Norma ISO 14001 voluntariamente, o que significa que se empenharam em atuar com um olhar a longo prazo e quebrando o paradigma de que meio ambiente é um

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A evolução da Norma ISO 14001 e o fortalecimento da sustentabilidade empresarialsexta-feira, 15 de outubro de 2010

Por Sofia Jucon

O advento da certificação em conformidade com a Norma ISO 14001 no Brasil foi a mola propulsora para o desenvolvimento sustentável empresarial. Desde a instalação do ISO TC 207 – Comitê Técnico de Meio Ambiente da ISO, em 1994, o Brasil marcou presença em todas as regiões deste Comitê através do Gana - Grupo de Apoio à Normalização Ambiental, criado por meio da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Em setembro de 1996 foi emitido o primeiro certificado em conformidade com a Norma ISO 14001 no Brasil, entregue à empresa Bahia Sul Papel e Celulose, que se tornou, assim, a única empresa do setor de celulose no Brasil, e uma das poucas no mundo, a possuir um SGA – Sistema de Gestão Ambiental certificado com a norma internacional.

Em 1999, o Brasil teve o mérito de ser o primeiro país da América Latina a alcançar a marca das 100 certificações em conformidade com a Norma ISO 14001 e, desde esta marca, vem vivenciando um histórico de sucesso crescente nesse cenário: em 2000 atingiu o volume de 200 certificações; em 2001 foram 350; em 2002 o Brasil já contava com 600 empresas certificadas; em 2003 o país atingiu a marca histórica de 1.000 certificações; em 2004 houve a revisão da norma e o país já contava com 1.500 certificações; em 2005 foi alcançada a marca das 2.000 certificações; em 2006 foi comemorada a conquista das 2.300 certificações ISO 14001; em 2007, atingimos a marca de 2.800 empresas certificadas; em 2008 o volume era de 3.200 certificações; em 2009 foi comemorado o índice de 3.800 certificações; e, em 2010, o país consagrou-se com o mérito de possuir 4.000 certificados emitidos e consolidar-se como o país com o maior número de certificados emitidos na América Latina.

Atualmente o trabalho em prol das certificações ambientais é acompanhado por meio do Comitê Brasileiro de Normalização em Gestão Ambiental – CB-38 da ABNT e a vice-presidência do ISO TC 207 é ocupada por um brasileiro, Haroldo Mattos de Lemos, o que demonstra a relevância do Brasil para o cenário ambiental mundial. Para Lemos, o desempenho do Brasil em relação à certificação ISO 14001 é exemplar, pois se trata de uma norma voluntária. “Muitas grandes e médias empresas adotaram o SGA em conformidade com a Norma ISO 14001 voluntariamente, o que significa que se empenharam em atuar com um olhar a longo prazo e quebrando o paradigma de que meio ambiente é um custo financeiro”, observa. Segundo ele, ao longo do tempo a norma ambiental possibilitou, na prática, que metodologias, como a produção mais limpa, fossem aplicadas com ganhos significativos nos processos produtivos. “Isso mostrou que quando a empresa implanta um bom SGA ela ganha dinheiro, pois fica mais competitiva porque consegue produzir a mesma coisa gastando menos energia e água, reduz desperdícios e, com isso, economiza matéria-prima e gera menos resíduos para serem tratados, ou seja, os benefícios são em diversos níveis”, salienta Lemos. 

Para exemplificar esses ganhos, Lemos mostrou que há cerca de 15 anos algumas empresas do setor de celulose e papel gastavam, aproximadamente, 80 metros cúbicos de água para fazer uma tonelada de celulose, e hoje já estão chegando a 25 metros cúbicos, muito menos da metade, o que demonstra que é perfeitamente possível continuar produzindo a mesma coisa gastando menos recursos naturais. “Quando o processo ambiental é bem feito, rapidamente a empresa paga todos os custos de adaptação e de certificação e consegue recuperar o investimento como consequência das boas práticas ambientais implementadas. Para se ter uma ideia, tenho conhecimento de uma empresa no sul do país que teve um gasto de R$ 33 mil para implantar seu SGA e, em menos de um ano, conseguiu uma economia de R$ 1 milhão por conta de pequenas medidas ambientais que adotaram dentro do processo de produção”,

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disse.

Falando em benefícios, Lemos destaca que o maior de todos é a empresa ficar mais competitiva. “O primeiro passo para atingir esse patamar é definir a política ambiental da empresa e atuar para que todos os colaboradores a conheçam e assimilem seus princípios, o que faz com que a questão ambiental seja adotada por todos da empresa”, menciona Lemos. Na esteira desse novo formato de gestão, conforme ele, veio a criação de cargos de gerência de meio ambiente, diretoria, etc. que, no início, atuavam de forma isolada, mas hoje, por conta das demandas socioambientais cada vez maiores, proporcionou a integração dos setores e facilitou bastante o trabalho dos profissionais que buscam a harmonização das ações em prol do desenvolvimento sustentável na empresa como um todo.

A evolução da certificação ISO 14001 é notória para todos os envolvidos com o tema no Brasil. Fazendo uma comparação com o passado e com a realidade atual, muitos especialistas concordam que a norma foi um balizador importante para o empresário brasileiro adquirir mais experiência e internalizar a questão ambiental com vistas a alcançar resultados mais positivos no seu negócio e, na prática, adotar a sustentabilidade como questão chave para sua perenidade no mercado. 

Sérgio Amaral, consultor técnico em Assuntos Ambientais e de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) na Área Internacional na Petrobras, foi o primeiro coordenador do SC-1 – Subcomitê de Gestão Ambiental do Gana/ABNT. Segundo ele, este grupo foi criado em 1994 para acompanhar e influenciar o desenvolvimento das normas da Série ISO 14000, e teve participação de empresas como Petrobras e Vale, associações e entidades representativas de importantes segmentos econômicos e técnicos do país. Em 1999, a ABNT criou o Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental – ABNT/CB-38, que substituiu o Gana na discussão e no desenvolvimento das normas ISO 14000 em nível internacional e na tradução e publicação das normas brasileiras correspondentes. O ABNT/CB-38 foi criado com estrutura semelhante ao ISO/TC 207 e seus Subcomitês.

Para Amaral, no passado, a busca pela certificação ISO 14001 era mais tímida e visava basicamente ao compromisso da organização com o atendimento da legislação aplicável. Hoje em dia, as empresas já são mais proativas, e levam em consideração, além dos aspectos legais, os fatores de prevenção de poluição e de melhoria continua do desempenho ambiental. Ele ressalta também que mais recentemente as empresas vêm integrando seus sistemas de gestão de meio ambiente, qualidade, segurança e saúde e responsabilidade social. “Acredito que um dos objetivos de criação da norma ISO 14001 pela ISO tenha sido padronizar as diversas iniciativas dos países existentes naquela época para a normalização de Sistemas de Gestão Ambiental. Com o avanço da certificação ambiental, os empresários se tornaram mais conscientes quanto às questões ambientais e de sustentabilidade. Como exemplo, podemos citar o uso eficiente da energia, o reuso de água e o uso racional e a reciclagem de matérias-primas”, salienta o especialista.

Outro fator importante é que a norma ISO 14001 contribuiu para a mudança do posicionamento dos empresários e do próprio governo em relação à questão ambiental. Richard Chan, diretor da PM Analysis Assessoria e Treinamento, cita que o principal fator para essa evolução foi o estabelecimento de um padrão para a adequação das empresas nesse cenário, em especial para atender à legislação ambiental. Conforme ele, de um lado o governo passou a verificar as fragilidades que existiam nas regulamentações e os empresários, por sua vez, passaram a entender que a adequação ambiental também começou a ser uma questão mercadológica e,

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assim, as boas práticas ambientais passaram a fazer parte da gestão do negócio. “Sem dúvida, a ISO 14001 foi o ponto de partida para esse novo posicionamento dos empresários e do governo”, destaca.

Virlene Márcia Coturi, da Divisão de Certificação do Tecpar – Instituto de Tecnologia do Paraná, relara que a NBR ISO 14001 foi um grande passo para a conscientização dos empresários, mostrando novas oportunidades com a mudança da postura quanto às questões ambientais representadas, principalmente, pela otimização de processo, substituições de materiais com menores impactos e geração de subprodutos onde antes somente existia resíduos. A norma passou a ser uma ferramenta de conhecimento, monitoramento e gestão dos processos ambientais, resultando em benefícios com redução de impactos ambientais e vulnerabilidade a multas e sanções.

Para ela, no final da década de 90 os sistemas de gestão ambiental eram jovens com pouca maturidade e seus gestores estavam iniciando o aprendizado quanto aos seus requisitos. Além disso, os mecanismos de prevenção da poluição não existiam ou estavam em desenvolvimento. A visão da alta direção consistia basicamente na obtenção da certificação, em função de requisitos de clientes e de mercado, consequentemente, o foco das auditorias estava voltado para questões pontuais, e não sistêmicas. “A nova versão da norma, em 2004, trouxe uma visão holística, contemplando a harmonização com outros sistemas de gestão, permitindo a implementação de sistemas integrados de gestão”, comenta. Além disso, Virlene observa que o desenvolvimento de novas normas de gestão e normas complementares contendo procedimentos para medir e monitorar emissões (ISO 14064), análise de ciclo de vida e inovações tecnológicas como fontes renováveis de energias e outras fizeram com que o processo de auditoria acompanhasse essa evolução, requerendo das equipes auditoras constante atualização e diferentes perfis profissionais, de modo a agregar valor aos processos de auditoria.

Fernando Pimenta, gerente técnico do ABS Quality Evaluations, lembra que há cerca de dez anos somente as grandes empresas procuravam a certificação ambiental, principalmente as multinacionais, mas por conta de exigências de corporações ligadas aos setores automotivo e petroquímico houve uma demanda maior e uma gama mais variada de empresas que buscaram a certificação. “Atualmente, temos constatado, inclusive, que alguns clientes de médio porte que já possuem a certificação da Qualidade também estão buscando a certificação ISO 14001, mas por iniciativa própria, visando à melhoria contínua do seu sistema de gestão”, comenta Pimenta, explicando que esses clientes, certamente, vão obter benefícios financeiros, de imagem, e podem indiretamente conquistar novos clientes. Porém, outro ponto importante é que, em paralelo, eles também vão conseguir reduzir seus custos com consumo de energia e de água, entre outros recursos. “Geralmente essas questões estão inseridas nos objetivos e metas da empresa, e nos relatórios de auditoria temos verificado que realmente elas estão conseguindo alcançar benefícios internos e externos a partir da implantação do SGA”, complementa.

Na visão do professor Manuel Carlos Reis Martins, da Fundação Vanzolini, o processo avança, no Brasil, gradual e lentamente, em parte porque a consciência da importância, eficiência e eficácia da gestão ambiental ainda precisa atingir uma massa crítica entre os empreendedores. Por outro lado, Martins destaca que as organizações que adotam a certificação ambiental são grandes promotoras desse processo, ao desenvolver a educação ambiental dos seus colaboradores e divulgar para a sociedade seus resultados.

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Para Guy Ladvocat, gerente de Certificação de Sistemas da ABNT, a evolução da ISO 14001 seguiu um percurso difícil, a exemplo do que a norma ISO 9001 também enfrentou quando surgiu no país. A questão ambiental era um assunto novo e exigiu um empenho de todos os envolvidos para a aplicação da norma. “Hoje, vemos que tanto os organismos certificadores, quanto os consultores e as empresas têm muito mais condições de fazer um trabalho mais efetivo do que era feito no início e, ao longo desses anos, já houve diversas reuniões de interpretações e muitas discussões de como aplicar a norma de forma a obter melhores resultados na gestão da empresa”, comenta.De acordo com Marcelo Monteiro, auditor de Sistema de Gestão Integrado do BSI Brasil, ao longo do tempo houve um amadurecimento de todas as partes envolvidas com o processo, incluindo os organismos de credenciamento, organismos certificadores, empresas avaliadas e auditores. Ele informa ainda que as auditorias, além de garantir a adequação e conformidade do SGA com relação ao padrão normativo ISO 14001 na edição em vigor, passaram a agregar mais valor à gestão do negócio das empresas. “Isso se deve a uma maior transparência na relação dessas partes envolvidas, maior qualificação e conhecimento sobre os temas de gerenciamento e tecnologia ambiental e, principalmente, pelo aumento da percepção do empresário de que a ferramenta proporcionada pela norma é boa e fornece uma base consistente para administração das demandas ambientais associadas a suas operações”, ressalta.

Depois que a ISO 14001 surgiu no mercado, Sérgio Custódio, gerente geral do ABS Quality Evaluations, também afirma que as empresas passaram, principalmente, a ter um referencial, ou seja, um modelo internacionalmente aceito e bem estruturado para ser seguido. “Essa concepção despertou o interesse das indústrias para buscarem a certificação, pois tiveram um direcionamento técnico para as suas ações, o que facilitou a disseminação da norma no Brasil e o alcance do patamar que temos hoje em nível internacional”, observa Custódio.

Monteiro, do BSI, também afirma que os temas ambientais atualmente debatidos, incluindo o aquecimento global e as mudanças climáticas, ganharam importância na gestão ambiental, principalmente entre as organizações que apresentam aspectos e impactos ambientais de suas operações associados a estas questões, como uso de substâncias que contribuem para o efeito estufa controladas pelo Protocolo de Montreal e emissões atmosféricas, entre outros. “É cada vez mais comum que o SGA seja adequado e melhorado nestas organizações, de forma a considerar e incorporar investimentos, objetivos e metas, tecnologias e controles operacionais para melhorar seu desempenho associado a estes aspectos ambientais, mesmo porque a legislação ambiental que deve ser atendida vem crescendo nesse sentido”, avalia.

Para Walter Laudísio, gerente comercial do BVC – Bureau Veritas Certification (antigo BVQI), sem dúvida a norma foi o grande impulso para a conscientização ambiental das empresas, mas, atualmente, a opinião pública e os requisitos dos consumidores para compra de produtos sustentáveis são os grandes motivadores. “Ao longo desses anos, a legislação ambiental

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atualizou-se e barreiras técnicas referenciadas em aspectos ambientais surgiram, tanto que hoje em dia a auditoria ISO 14001 é muito mais complexa do que há 15 anos”, pondera.Dificuldades e o esforço para eliminar as não-conformidadesO atendimento à legislação ambiental em níveis municipal, estadual e federal e a disponibilização de recursos financeiros têm sido os principais desafios para as empresas conquistarem e, sobretudo, manterem sua certificação ambientalA complexidade da legislação ambiental foi apontada por Suzete Suzuki, executiva sênior da TÜV Rheiland, como sendo um dos pontos de maior dificuldade para as empresas desde o início da certificação ISO 14001 no Brasil. “Para atender aos requisitos da norma sempre foi exigido um trabalho de muita pesquisa em termos de legislação e, atualmente, notamos que evoluiu bastante essa questão no contexto empresarial, trazendo à consciência dos empresários que eles têm que atender às legislações em níveis municipal, estadual e federal, mesmo que ainda existam muitos conflitos entre elas, mas a empresa tem que administrar esses fatores e buscar o consenso dentro da sua atividade”, explica. 

Atrelado a isso, Suzete destaca, ainda, as dificuldades em encontrar soluções para algumas questões ambientais, como é o caso da destinação de alguns tipos de resíduos. “Conheço uma empresa em Minas Gerais que faz um trabalho ambiental exemplar, mas está guardando lâmpadas e baterias usadas porque não tem onde destinar na sua região. Ele poderia enviar esses resíduos para São Paulo, mas o custo do serviço é tão alto que não tem condições de arcar. Isso mostra que, fora dos grandes núcleos, como São Paulo e Rio de Janeiro, as dificuldades para atender aos requisitos ambientais são maiores. O empresário muitas vezes tem consciência ambiental, sabe que as boas práticas ambientais são o melhor para o seu negócio, mas não tem muita opção para atendê-las na íntegra”, esclarece ela.

Para Rosemary Vianna, diretora da SGS ICS Certificadora, certamente as maiores dificuldades relacionam-se à adequação aos requisitos regulamentares e legais aplicáveis às atividades, produtos e serviços da organização. A dificuldade se faz presente desde a identificação de todos os requisitos regulamentares e legais aplicáveis, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como a avaliação de nível de atendimento e disponibilização de recursos adequados. Além disto, quando o atendimento legal requer a atuação de um órgão ambiental regulador, os problemas podem ser mais abrangentes, uma vez que os prazos envolvidos muitas vezes são impactados por processos burocráticos, como nos casos de obtenção de licenças, outorgas e auto de vistoria, entre outros.

Martins, da Vanzolini, ressalta que as maiores dificuldades ocorrem quando são necessárias adequações para atendimento legal ou para controle de aspecto ambiental significativo, podendo demandar tempo e investimentos com retorno em médio prazo. “A compreensão do potencial poluente e do consumo de recursos das atividades seria uma dificuldade que, com o desenvolvimento técnico das equipes de gestão ambiental das organizações, vem sendo resolvida”, avalia.

Inevitavelmente a ISO 14001 proporcionou transformações irreversíveis nos processos produtivos com vistas a atender às novas demandas ambientais e de mercado. Apesar de considerar que não seja um obstáculo, Chan, da PM Analysis, cita a questão financeira como uma das principais dificuldades para as empresas acompanharem essas transformações. “O investimento financeiro é, certamente, um ponto de retenção para que a empresa consiga suportar as adequações necessárias de infraestrutura que a implantação do SGA exige. Desde o surgimento da ISO 14001 presenciamos diversos exemplos de setores que precisaram se adequar às exigências em função de legislação ou mercado, como é o caso do setor automobilístico, que precisou adotar mudanças tecnológicas para atender à diminuição gradual dos níveis de poluentes. Com isso, verifica-se que muitas vezes a empresa precisa atender a diversos mecanismos, tanto em nível de custo financeiro quanto de tecnologia para responder

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às exigências ambientais”, exemplifica. 

Para ele, por conta dessa realidade, a demanda ambiental é uma questão de gestão de risco, mais cedo ou mais tarde a empresa vai ter de atender. “Temos um exemplo clássico de que isso aconteceu em São Paulo quando a Cetesb adotou as licenças de funcionamento com data de vencimento. Com a exigência da renovação das licenças, as empresas tiveram que acompanhar a mudança e, consequentemente, promover melhorias em seu processo produtivo para continuar atuando”, comenta.

Virlene, do Tecpar, também aponta que as organizações com instalações mais antigas, sem a visão de prevenção, têm mais dificuldades quanto ao investimento necessário para as adequações de infraestrutura destinadas a controle e redução da poluição. Conforme ela, as pequenas organizações, por sua vez, têm pouco acesso às melhores tecnologias de prevenção de poluição e sistemas informatizados para o controle e gestão dos aspectos e impactos ambientais e requisitos legais, principalmente pelo custo de implementação desses itens.

As dificuldades podem chegar a tal ponto que a empresa corre o risco de perder o certificado. Para Laudísio, do BVC, a implementação de todos os requisitos legais, que variam de estado para estado e, muitas vezes, possuem atualizações muito rápidas, também é uma grande dificuldade enfrentada pelas empresas. “Sempre falo em encontros e palestras que pior do que não ter um certificado é perdê-lo. A certificação ISO 14001 representa que a empresa tem capacidade de controlar e monitorar consistentemente seus impactos significativos sobre o meio ambiente, e o certificado demonstra à sociedade isso. Quando a empresa perde o certificado, além de perder essa prerrogativa, demonstra à sociedade uma mudança de foco que, muitas vezes, é prejudicial a sua imagem”, comenta.

Além do não atendimento à legislação ambiental, Fábio Sérgio Alves, coordenador técnico do DNV – Det Norske Veritas, relata que um dos motivos que leva a empresa a perder a certificação é não atender aos objetivos de melhoria do desempenho ambiental. “Para isso, existem as auditorias periódicas e até mesmo as auditorias não-programadas, que podem acontecer, por exemplo, em situações em que recebermos denúncias sobre alguma empresa que tenhamos certificado. A auditoria não programada serve para constatar o fato e tomar as medidas cabíveis”, informa. Diferente da ISO 9001, onde o cliente é quem tem o direito de reclamar, caso não seja atendido, na ISO 14001 ele conta que o cliente é a sociedade em geral, e ela pode fazer valer os seus direitos, caso se sinta ameaçada de alguma forma, acionando o governo por meio da legislação. “Por isso, como organismo certificador, nosso papel, por meio das auditorias, é garantir que nosso cliente está adequado e levando adiante a melhoria do seu desempenho ambiental.” 

Infraestrutura e a burocracia no país também são apontadas como as maiores dificuldades enfrentadas pelo setor empresarial para Dezée Mineiro, CEO da DQS do Brasil e América do Sul, primeiro porque há cidades no Brasil que nem tratamento de esgoto possuem, o que dificulta para as empresas destes locais um atendimento adequado de alguns requisitos ambientais. E, segundo, pelos exageros nas exigências governamentais. Dessa forma, hoje, segundo Dezée, os maiores problemas são esses. 

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“Antigamente, as dificuldades internas eram mais citadas, como a resistência a mudanças e o comprometimento das pessoas. Isso mudou muito, pois os profissionais querem e se esforçam para que as empresas tenham um bom sistema de gestão ambiental”, aborda.

Deste modo, na visão de Ladvocat, da ABNT, é importante que a empresa se empenhe para manter seu certificado ambiental. “Para tanto, anualmente, são realizadas auditorias de manutenção, através das quais o foco principal é avaliar se o SGA está sendo mantido, se está evoluindo e se o desempenho ambiental da empresa está melhorando, uma vez que a norma não define um critério específico de desempenho ambiental que a empresa deve atender, já que cada empresa tem uma atividade específica e um modo particular de trabalhar”, explica Ladvocat.

Na opinião de Monteiro, do BSI, a maioria das empresas que se propõem a implementar um SGA consegue, ao longo do tempo, se ajustar aos requisitos do padrão normativo ISO 14001 com a realização de um planejamento de implantação efetivo e factível e que considere a necessidade de atender à legislação, estabelecer a estrutura documental requerida (políticas, diretrizes, objetivos, procedimentos e registros, entre outros), definir controles necessários, conscientizar e treinar as pessoas envolvidas e definir estrutura de monitoramento. Além da análise e medição alinhada com a necessidade de demonstrar melhoria contínua no seu desempenho ambiental. “O trabalho do organismo certificador nesse sentido é o de avaliar e atestar a contínua adequação, conformidade e melhoria do SGA da organização, e, por meio das constatações de auditoria (não-conformidades e oportunidades de melhoria), sinalizar os pontos a serem corrigidos ou melhorados, realizando a cada etapa o acompanhamento, a verificação e o encerramento das pendências”, enumera Monteiro.

Segundo afirma Rosemary, da SGS, a norma IS0 14001 ajudou a estruturar e materializar a consciência ambiental dos empresários que a adotaram. Contudo, há muito por se avançar nesses indicadores, considerando que o Brasil tem um patrimônio ambiental a proteger, sem par, comparado com outras regiões do mundo.

De acordo com ela, nos procedimentos corporativos do organismo, a suspensão do certificado é determinada quando não-conformidades classificadas como de maior impacto não apresentam ações estabelecidas pela organização que possam eliminar e evitar a reincidência dos problemas detectados. “Sendo assim, em não havendo a comprovação da eficácia das ações, o certificado suspenso será retirado da organização”, revela Rosemary.Benefícios e a promoção da sustentabilidadeGanhos financeiros e aumento da competitividade são apontados como os maiores benefícios conquistados pelas organizações que implantaram a certificação ISO 14001 e alimentam sua melhoria contínua a cada dia

A implementação da certificação ambiental infere em diversos benefícios para as empresas. Dezée, da DQS, conta que uma gestão baseada numa sistemática para cuidar do meio ambiente tem muito mais chances de monitoramento e rastreabilidade e de lucratividade. Os desperdícios financeiros com multas, por exemplo, já são bem avaliados e ações para que isso não ocorra são tomadas. Além, é claro, da imagem da empresa. 

Entre os benefícios conquistados ao longo desses anos, Chan, da PM Analysis, exemplifica o ganho financeiro de algumas empresas com a adoção de tecnologias e metodologias para o uso responsável de recursos naturais, como é o caso do uso da água nos processos produtivos. “O setor de mineração é um exemplo claro de quem conseguiu se adaptar a essa realidade, com ganhos tangíveis ao trabalhar com circuito fechado em seu processo produtivo, com recuperação muitas vezes de até 85% da água utilizada, ou seja, se ela capta menos

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água, que hoje é um produto taxado para a indústria, ela descarta menos também, o que significa economia e diluição do investimento a médio e longo prazo. Unida a essas medidas está a visão da gestão do negócio, que interfere, paralelamente, na exposição da imagem, relacionamento com a comunidade, com a mídia local, regional e até mesmo internacional, dependendo do ramo de atividade da empresa”, comenta.

Com a adoção das boas práticas ambientais, o setor empresarial está convivendo com o surgimento de novas diretrizes para ajudá-lo a promover soluções com visão a longo prazo no mercado. Suzete, da TÜV, menciona a certificação de eficiência energética industrial como exemplo. “Hoje estamos trabalhando muito para ajudar a empresa a melhorar sua eficiência energética e obter melhores resultados no setor, inclusive em nível de financiamento. Setores como usinas hidrelétricas e de cana de açúcar, se não comprovarem sua eficiência energética, estão sujeitas a não conseguirem financiamentos, o que mostra que o atendimento à questão ambiental está, cada vez mais, vinculada à conquista de alguns benefícios no mercado”, diz.

Sustentabilidade é um conceito relativamente novo, mas todos os entrevistados concordam que a norma ISO 14001 contribuiu bastante para que sua aplicação efetiva avançasse na gestão das empresas. Desta forma, Ladvocat, da ABNT, comenta que a questão da sustentabilidade, na verdade, transcende a 14001, porém, a norma é uma ferramenta extremamente importante para a empresa que quer consolidar a sua sustentabilidade, porque é basicamente uma de suas dimensões. “Se uma empresa está buscando um processo de desenvolvimento sustentável, sem dúvida, está imbuída da consciência de que a implantação da norma 14001 é uma ferramenta essencial, não só para demonstrar externamente esse processo, como também se apresenta como uma ferramenta de gestão externa para que ela consiga ter, na prática, o atendimento a essa necessidade ambiental que o mercado exige”, explica.

Virlene, da Tecpar, por sua vez, informa que a certificação ambiental contribui para que a organização conheça suas forças e, principalmente, as suas vulnerabilidades quanto à sustentabilidade ambiental e econômica, podendo, através disso, alterar suas práticas buscando o uso racional dos recursos e prevenção da poluição. “Produzir melhor, com menores custos e sem poluir significa um grande diferencial para a sustentabilidade empresarial”, atesta.

Para Laudísio, do BVC, atualmente a busca pela sustentabilidade é um objetivo de todas as empresas. Ele explica que sustentabilidade é um conceito baseado em quatro pilares (econômico, social, cultural e ambiental), por isso, em sua opinião, a melhor forma de controlar esses quatro pilares e demonstrar à sociedade a sua preocupação com esses aspectos é implementando um SGA e certificando-o. “Dessa maneira, acredito que teremos um grande aumento do número de certificações ISO 14001 no Brasil”, informa. 

Mineiro, da DQS, observa que hoje, até mesmo em razão das mudanças climáticas no mundo, a sustentabilidade já não é mais vista como modismo. Ela é realmente necessária e as empresas estão investindo. Até porque, sob a ótica financeira, as corporações perceberam que os resultados são altamente positivos quando se adéquam os fatores econômicos, sociais e ambientais. “A palavra sustentabilidade, em si, já diz muito. Uma empresa que não se preocupa com isso já está comprometida. É fundamental que as corporações façam a sua parte no ciclo da qualidade dirigida ao meio ambiente e, com isso, gerem benefícios para o planeta”, apregoa.

Pimenta, do ABS, comenta que se percebe mesmo que a sustentabilidade é um conceito novo, que nem todo mundo entende, além de que há muita confusão no nome e várias vertentes que muitas vezes levam a uma inter-relação entre eles, mas são diferentes. “Vemos no mercado,

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hoje, que as empresas que são certificadas em conformidade com a norma ISO 14001 têm mais facilidade em entender o assunto, interpretar e fazer disso uma realidade produtiva. Uma prova é que essas empresas desenvolvem seus Relatórios de Sustentabilidade com mais facilidade e demonstram seu desempenho com indicadores efetivos”, observa.Perspectivas futurasNovas tendências de certificações estão aparecendo com rapidez no mercado e levando as empresas a considerarem com mais relevância o Sistema de Gestão Integrado e a economia de baixo carbonoA integração dos sistemas de gestão é uma forte tendência no mercado e o principal caminho para as empresas que buscam consolidar sua sustentabilidade. Martins, da Vanzolini, informa que conceito da sustentabilidade se afirma cada vez mais no mundo e, como não poderia deixar de ser, no Brasil. Desse modo, a inserção na gestão da organização de critérios da qualidade, meio ambiente, segurança e saúde ocupacional e responsabilidade social levam a uma gestão mais integrada, com sinergia na obtenção dos resultados, permitindo a realização de auditorias combinadas para avaliação de conformidade de sistemas de gestão integrados, o que vem sendo praticado já há bastante tempo pela entidade, em benefício dos seus clientes.

Para Rosemary, da SGS, o mercado ainda tem buscado a certificação ISO 14001 por reação a demandas dos clientes ou demandas corporativas, o que não significa que não tenham práticas de gestão ambiental, porém não certificadas por terceira parte independente. Poucas são as que adotaram a certificação como resultado de uma estratégia de negócio. Muitas das empresas que buscam a certificação ISO 14001 e que já possuem a certificação ISO 9001 decidem pela gestão integrada, reduzindo esforços e maximizando seus resultados de gestão. 

Virlene, do Tecpar, diz que as próximas revisões da NBR ISO 14001 devem buscar uma maior integração com as demais normas de gestão e consolidar as boas práticas de gestão ambiental. Já é realidade a existência de organizações com sistemas integrados de gestão implementados e que solicitam realizar auditorias combinadas, abrangendo mais de um sistema e conduzidas simultaneamente. 

Em meio às diversas forma de conduzir a gestão dos negócios nas empresas, Custódio, do ABS, destaca que o empresário proativo é aquele que se interessa verdadeiramente, querendo, às vezes, até ser o primeiro da sua região ou setor a implementar o SGA, pois ele enxerga um benefício para o seu negócio e, por outro lado, tem aquele que só leva em conta a exigência do seu cliente. “Entretanto, seja por vontade própria ou por exigência do mercado, o importante é fazer alguma coisa e, desta forma, cabe a nós, como organismos certificadores, através das auditorias, verificar se o sistema está implementado, mantido e, sobretudo, apresentando melhoria, pois não adianta implantar por exigência e parar um tempo depois, uma vez que o foco principal do SGA é mostrar que está havendo evolução no negócio. Portanto, para algumas empresas, a adesão ao SGI é, sem dúvida, uma forma de reforçar esse compromisso”, reitera.

O comprometimento da alta direção com a área ambiental é um dos principais requisitos para que a sustentabilidade seja efetivamente praticada nas empresas. “É fundamental que a direção da empresa esteja liderando o processo, demonstrando, tanto internamente quanto externamente, que está consciente da necessidade e da importância do desenvolvimento sustentável”, atenta Ladvocat, da ABNT. Ele explica que é necessário que o sistema tenha um foco na melhoria do desempenho ambiental e que não seja simplesmente um sistema para atender aos requisitos da norma. “É fundamental que a empresa realmente procure montar o SGA buscando a melhoria do desempenho ambiental, uma vez que bem implementado ao longo do tempo, embora no início possa exigir algum investimento, temos absoluta convicção de que vai trazer benefícios, inclusive financeiros, para a empresa”, destaca.

Para ele, com esta postura, a empresa vai se desenvolver, novas tecnologias vão ter de ser compreendidas e absorvidas, sendo assim, a questão ambiental não é um retrocesso, mas, sim, uma evolução, por isso é importante que a empresa busque efetivamente a melhoria do desempenho ambiental. Diante disso, as perspectivas são de que aumente o número de empresas com sistemas de gestão integrados.

Como recado, Virlene, do Tecpar, diz que uma organização ser sustentável hoje já é uma

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necessidade, amanhã será requisito mínimo de sobrevivência. “Por isso, a NBR ISO 14001 é uma excelente ferramenta para que as organizações reavaliem seus processos e sua forma de atuação quanto às questões ambientais e suas boas práticas. “Não deixem a oportunidade passar”, orienta.

Laudísio, do BVC, afirma que a questão ambiental está cada vez mais presente no nosso cotidiano. Diante disso, a imagem da empresa, a sua marca, seus colaboradores e sua visão são os maiores bens que ela possui, e como as legislações, regras e opiniões da sociedade sobre aspectos ambientais se modificam de forma rápida e constantemente, estar em acordo com a legislação e a opinião dos consumidores valoriza a empresa. “Sendo assim, implementar sistemas de gestão é a melhor maneira de obter controle e monitoramento sistêmico dos seus processos e aspectos ambientais. Certificar representa mostrar à sociedade a sua visão e atitude em relação aos aspectos ambientais da empresa”, constata.

Nesses termos, Alves, da DNV, comenta a importância das certificações integradas que, consequentemente, auxiliam no gerenciamento de riscos de uma forma mais ampla dentro das empresas. “Acreditamos que um sistema de gestão integrado vem ao encontro da tarefa do gerenciamento de risco dentro do processo da empresa buscando, também, os benefícios que ele pode proporcionar. Nossa idéia de sistema integrado é aquele que gerencia todos os riscos dentro do processo, seja ele na área ambiental, na saúde, na segurança do trabalho, entre outros setores”, enumera.

Chan, da PM Analysis, relata que desde o início da década algumas empresas tinham a necessidade de demonstrar seu desempenho ambiental, e por isso adotaram o monitoramento contínuo para acompanhar seu desenvolvimento e fazer os ajustes necessários no processo, o que, na norma ISO 14001, é um item conceitual, não está explicito. Por isso, na opinião do especialista, o próximo passo, até porque tem sido uma das expectativas no mercado, é que haja uma modificação nos serviços normativos, de modo que as empresas passem a demonstrar o seu desempenho ambiental. “Existe o modelo da norma ISO 14031, mas não é certificável e nem todas as empresas implementam. A oficialização de um modelo de monitoramento do desempenho ambiental, com certeza, proporcionará resultados mais efetivos para o empresário”, observa.Para Chan, uma forma também de consolidar o desenvolvimento sustentável é a adoção do sistema de gestão ambiental desde a implantação do projeto nos novos empreendimentos. Ele cita um exemplo que foi muito bem-sucedido no setor siderúrgico: uma empresa implantou o Sistema de Gestão Integrado desde a sua concepção e contou com o total apoio da alta administração do grupo. “Essa atitude favoreceu a empresa no mercado e tornou visível o seu posicionamento frente às partes interessadas”, explica.

Como prova de uma postura evolutiva, hoje, após o avanço da certificação ISO 14001, as empresas brasileiras estão adotando a implantação de novas diretrizes voltadas para a redução do consumo de água, energia e, especialmente, a prática da economia de baixo carbono. 

Lemos, do ISO TC 207, explica que as empresas brasileiras continuam com um esforço para melhorar a sua competitividade, mas um dos grandes desafios a partir de agora, em nível mundial, será enfrentar a economia de baixo carbono. “Nesse aspecto, uma empresa que possui um bom sistema de gestão ambiental, sem dúvida, gasta menos recursos naturais e emite menos carbono fóssil, então, ela já está um passo à frente para atender a essa nova realidade ambiental global”, salienta. 

Já existe a norma para medição de carbono, que é a ISO 14064, mas para atender mais essa demanda empresarial, Lemos conta que já está quase em fase final a aprovação uma norma específica para a pegada de carbono – a norma ISO 14067, que conta com duas partes, uma de quantificação e uma de comunicação.

Sobre a possibilidade dessa nova norma de pegada de carbono tirar o foco das empresas quanto a buscarem a certificação em conformidade com a norma ISO 14001, Lemos informa que isso até pode vir a acontecer, pois é uma evolução natural que o mercado está vivenciando, mas uma norma não prejudica a outra. “Uma premissa básica é que para ter uma

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economia de baixo carbono é necessário que a sua empresa tenha um bom sistema de gestão ambiental, certificado ou não. Para conquistar a certificação em conformidade com a norma ISO 14001 a empresa precisa atender alguns aspectos importantes, como ter uma política ambiental definida, a qual, certamente, terá de ser modificada para adicionar a questão do baixo carbono. Além disso, a ISO 14001 exige que a empresa documente e meça todas as suas atividades, o que coloca certa ordem e possibilita que o empresário verifique onde está desperdiçando mais recursos e, consequentemente, emitindo mais carbono. Isso significa que um bom sistema de gestão ambiental ou mesmo um sistema de gestão integrado é, também, muito importante para que a empresa consiga atingir uma economia de baixo carbono e, assim, promover a sua sustentabilidade de forma efetiva”, conclui.