A exclusão como processo social

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    4A exclusao como processo social

    Em 2002 assisti, na USp,a uma palestra da saudosa e querida Dra. LygiaAmaral que, baseada em Jose de Souza Martins, me levou a refletir e a concor-dar que exclusao nao e 0 avesso de inclusao, pois 0avesso desta pode ser umainclusao marginal,"na medida em que a sociedade capitalista desenraiza, exclui,para incluir de outro modo, segundo suas pr6prias regras, segundo sua pr6pria16gica.0 problema esta justamente nessa indusao" (Martins, 1997, p.32).

    A magnitude da questao, em decorrencia da quantidade de grupos eindividuos vitimas da exdusao ou da inclusao marginal, justificaria a produ-c;:aode um livro dedicado exclusivamente a esse grave problema.

    No entanto quero apresentar, apenas, algumas ideias a respeito, 0que me levou, para nao tornar este texto muito extenso, a aborda-lo,desdobrando 0 tema nos seguintes t6picos:

    I - Analise da exclusao social.2 - A construcao do irnaginario social sobre as pessoas com deficlencias.3 - Mecanismos excludentes no processo educacional escolar.4 - E entao ...

    Analise da exclusao socialFala-se muito, hoje, da exclusao social embora, historicamente para

    muitos, a condicao de exilio, de separacao, de ficar it parte, segregados eexperimentando sentimentos de rejeicao, tenha side uma caracterfsticade suas vidas.Parafraseando Julien Freund (citado por Xiberras, 1993) po-demos constatar que

    a maior parte das sociedades hist6ricas estabeleceram uma distincao entre osmembros de pleno direito e os membros com um estatuto a parte.A exclusaofazia entao parte da normalidade das sociedades sem levantar casos de consci-encia moral ou polltica, a nao ser quando suscitasse a miseric6rdia sob 0 signoda virtude da caridade (p.7)'O.Se a exclusao fazia parte da "normalidade das sociedades", nao mais

    desejamos que continue assim, tanto sob 0 aspecto flsico, espacial no qualse segregam grupos ou pessoas, quanta nas formas simb61icas de exclusao,objeto do segundo item deste capitulo.

    10 Extraido do prefacio do livro de Xiberras e que consta da bibliografia.

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    "1as, e curiosamente, constata-se, na hist6rica odisseia do sujeito:eficiencia, que uma das formas de enfrentamento de sua diferenca,=-;; 'ator de exclusao social, tem side a busca da "normalidade", em vez

    := ::.;-~a !=Ieseus direitos de ser "autorizado", socialmente, como diferen--= rem preconceitos e discrimlnacoes! Com propriedade, nos lembra

    "==-';5 (1999), queD esforco e a luta institucional ao longo de decadas para produzir finalmenteesse efeito de incorpora-lo a um padrao de normalidade segundo 0qual suad1feren

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    outro lado, uma saudavel rnanifestacao dos grupos de excluldos que ternlutado por efetivas acoes em respeito aos seus direitos de, sem discrimi-nacoes, serem integrados na sociedade.

    A cada dia, eles e muitos de nos, vamos tomando consciencia deque os mecanismos excludentes decorrem dos estigmas e preconceitosrelativos as caracteristicas biopsicossociais dos individuos e, tambem, dedeterminados fatores constitutivos da sociedade, geradores de tantas de-sigualdades. Para Castel (1996), citado por Demo (1998) como um dosteoricos mais conhecidos da exclusao social:

    A marginalidade - dever-se-ia, antes, dizer marginalizacao - e assim umaproducao social que encontra sua origem nas estruturas de base da sociedade,na organlzacao do trabalho e nos sistemas de valores dominantes, a partir dosquais se repartem os lugares e se fundam as hierarquias, atribuindo a cada umsua dignidade ou sua indignidade social {p.21}.

    . Sao excluidos, portanto, todos aqueles que sao rejeitados e levadosp-ara fora de nossos espacos, do mercado de trabalho, dos nossos valores,vitimas de representacao estigmatizante.

    Hoje, gracas aos avances nos processos de socializacao da informa-cao, as desigualdades sociais tern sido denunciadas publicamente, tornan-do-se mais conhecidas e combatidas. Felizmente, as questoes sobre exclu-sao/marginalizacao constam das mesas de debates on de sao analisadas,buscando-se acabar com as praticas que as produzem e mantem, discrimi-nado e segregando pessoas e populacoes.

    Segundo Xiberras (op.cit.), sob 0olhar da cultura ocidental, fundadasobre 0paradigma individualista, a exclusao social deve ser consideradaem termos das relacoes interpessoais que se manifestam como praticassociais de hostilidade, de rejeicao que: ou colocam os grupos a parte, defora, ou os excluem por dentro, provocando a formacao de guetos, porreclusao,

    Aprofundando as reflexoes em torno das relacoes dos seres huma-nos entre si, ocorre-me citar Paugan (1996) para quem as hostilidadesinterpessoais ou grupais geram rupturas, destruicao dos liames sociais ecrise identitaria. A questao do vinculo, do liame social, parece-me clara-mente examinada por Demo (1998) quando afirma, que

    a destruicao dos liames coesivos na sociedade apresenta-se como um dos nu-cleos mas decisivos da exclusao.A pobreza material e sempre marcante, masesta condicao nova passaria tarnbem pela perda do senso de pertencer, dandoa entender que tais populacoes experimentariam 0sentimento de abandonopor parte de todos, acompanhado da incapacidade de reagir {p.18-19}.

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    vancando mais nesta linha de reflexoes, dela extraindo subsidies=:-:. ~:>ordar a questao do grupo das pessoas com deflciencias, preciso-==.::-ar, ainda no eixo epistemol6gico de analise, a contribuicao de: _~'-3:n ( , I 978, apud Xiberras, op.cit.) relativa a distlncao entre solidarie-,,-.::. -mnica e solidariedade organica.

    =vram seus estudos sobre a natureza do laco social que 0 levaram a-.....&:" as forcas que permitem ligar os individuos entre si, ao mesmo=--:::3 em que os liga a coletividade. Dai ele deduziu as duas formas prin-::::;c:.. ::e Ugac;:ao,ou solidariedade: a rnecanica e a organica,

    o primeiro caso, a solidariedade exprime-se de forma natural ou~===1ca, simplesmente por contato ou proximidade entre os homens._ -=--e a solidariedade organica, quando os individuos tern consciencia de

    J!J r-edsarn participar para fazer funcionar a coletividade como um todo.- -- -=- --5a. portanto, de uma consciencia coletiva que, segundo 0 Durkheim_ ~_6-i-se pelos sentimentos e crencas comuns a media dos membros da-_:.::-.idade, levando-os a formas de cooperacao global.

    ::onsiderando-se a irnportancla dos liames (vlnculos) que ligam as~ entre si e com a coletividade, todos os esforcos de combate a

    ::; ::;_~D social devem ser, necessariamente, analisados em termos das- = - : :oe.5 de acolhimento dos excluldos, pois nao e desprezivel a hip6te-- - = : ~ "'

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    (a) insercao indica as condicoes de acolhimento dos excluldos, com arnanutencao dos particularismos de origem. Na insercao prevale-ce a solidariedade mecanica;

    (b) integracao indica a participacao dos excluidos, nao mais comosimples ocupantes de um espaco flsico ao lade dos outros, masdispondo de reciprocidade nas interacoes, em coerencia com 0grupo como um todo, de acordo com a nocao de solidariedadeorganica durkheiminiana;

    (c) assirnilacao indica a unidade do grupo, como espaco ultimo de refe-rencia a preservar e no qual, igualmente prevalece a solidariedadeorganica.

    Com base nesses conceitos, vizinhos, mas desiguais, no caso daspessoas com deflciencia, cabe perguntar,:- inserir, integrar ou assimilar?Onde? e/ou - Excluido(s) de que? De onde? Por que?_ Tais indagacoes se justificam pelas reflex6es que suscitam. Uma, pelo

    menos.relacionada aos espacos ffsicos e as outras referentes as relacoesinterpessoais ou as instancias sociais, bem como aos laces simb61icos queos tres processos sociais citados por Costa-Lascoux propiciam.

    Em cad a um desses processos, 0acolhimento manifesta-se com ca-racteristicas pr6prias, enquanto resgate dos vfnculos socials e simb6licosque ligam cad a indivfduo a seus semelhantes e a sociedade.

    A exclusao nem sempre e visfvel,como 0 e a que se manifesta porcomportamentos de evitacao explicitados na separacao flsica isto e, espacial.A exclusao pode-se apresentar, tarnbern, com formas dissimuladas porquesimb6licas, mas presentes nas representacoes sociais ace rca dos exclufdos.Embora com baixa visibilidade, os processos de exclusao simb61icaigualmente geram rupturas nos vfnculos que ligam os atores sociais entresi e com os valores compartilhados. Talvez tais processos simb61icos se-jam os mais perversos, ate porque podem ser considerados como os res-ponsaveis, an6nimos e ocultos, das formas visfveis da exclusao.

    As correntes sociol6gicas conternporaneas apontam para a necessi-dade da rnudanca de referencial, abandonando-se 0 individualismo que eexcludente por definicao, para examinarmos a ternatica da exclusao e a dodesvio, sob outra 6tica na qual 0 Homo Economicus nao seja 0 modeledominante, como ocorre atualmente.A construcao do lmaglnario social sobre as pessoas com deflciencias

    Como acabei de mencionar e agora referee, uma das formas de

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    :;. : (Jsao social, talvez a mais perversa porque "invisivel" e rnitica e a sim-: ~ , . : a J . 2 ,

    Na sociedade contemporanea, em busca da producao de sentido, os_scursos sobre os outros ganham novos significados, fugindo da-=-:o.z:nalidadeinstrumental, propria do lIuminismo.

    Uma das caracterlstlcas da epoca atua], chamada por muitos de pos--.:.:'ernidadeI3, reside no novo entendimento que se tem do papel da lin-?r.5r.:me sua importancia, a ponto de ter resultado num movimento que se.:e-ominou de virada IingOistica.No dizer de Veiga Neto(s/d),

    die uma maneira um tanto simplificada, podemos dizer que hoje se compreen-de a linguagem nao mais como um meio de representacao que fazemos darealidade, mas como um instrumento que institui a realidade. Costurna-se di-zer que sao os nossos discursos sobrao rnundo que constituem 0mundo(pelo menos aquele que interessa). Ou seja, a questao nao e perguntar se forade n6s existe mesmo um mundo real, uma realidade, (seja ela metafisica ounao): a questao e perguntarmos se 0mundo fa z sentido para n6s ou, melhordizendo, sobre 0sentido que colocamos no mundo. E essa colocacao se fazpela linguagem (pA).Na medida em que 0 discurso tem 0 poder de instituir a realidade

    -......"ando em nos representac;6es a seu respelto, podemos dizer que as: ~cas discursivas sao signiflcanvas na construcao de nosso imagtnario,

    Penso que a citacao de Foucauk (2002) contribui para esta hipotese.= _ ele:As "palavras e as colsas" e 0titulo - serio - de um problema; eo titulo- ironico - do trabalho que Ihe modifica a forma,lhe desloca os dados e revel a,

    afinal de corttas, urna tarefa inteiramente diferente, que consiste em nao maistratar os discursos como conjunto de signos (elementos significantes) que re-metem a conteudos ou a representacoes, mas como pniticas que formam sis-tematicamente os objetos de que falam. Certamente os discursos sao feitos de

    ~ndo Malrieu (1996: 125), 0 lrnaginario se assenta no slrnbolo que e, simultaneamente,=-'= e instrumento. Sua acao pode ser fugidia, como nos sonhos, ou de longa duracao comos.-~~com as religi6es e com os rnltos sendo que, nestes, as origens afetivas do simbolismo~ ......mtoevidentes.

    ; ;>s debates atuais em torno de ideias, talvez um DOS mais cornplicados gire em torno da pos-~idade, pois 0proprio termo modennidade tem significados diversos segundo as diferen-=-ps e segundo a area do conhecimento humano em que seja empregado [hlstoria, artes,~:!ia, etc.) Alguns pensadores preferem usar a denominacao ultra-moderno, neo-moderno_ -ooerno avanc;:ado.Nao e minha lntencao entrar nessa dlscussao e, ao adotar a expressao=_,~dernidade, compartilho das ideias de Lyotard (1979) apud Xiberras, segundo as quais-e.-.o-s uma epoca em que perdernos a credibilidade nas formas de pensar construidas pelo_:;---Jsmo, ou seja, em sua metanarrativa.

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    signos: mas 0 que fazem e mais que utilizar esses signos para designar coisas[ ...]E esse mais que e preciso fazer aparecer e que e preciso descrever (p.56).Os grifos sao meus e justificam-se na medida em que: (a)reforc;:am a

    citacao de Veiga Neto referente a linguagem e aos discursos que colocamsentido no mundo, por serem praticas que formam os objetos de quefalam; e (b) "esse mais" que os discursos produzem, no meu entendimen-to, pode ser considerado como a construcao do lrnaginario individual ecoletivo.Mas0que e 0imaginario e como ele se expressa?o imaginario e composto por um conjunto de relacoes imageticas

    produzidas em nossos contatos cotidianos. Estou me referindo a produ-cao de imagens a partir das experiencias perceptivas que temos do mundoque nos cerca.

    Cabe, desde ja, diferenciar irnaginacao de percepcao, na medida emque esta e reconhecimento e identiflcacao de conteudos sensiveis, en-quanto a irnaginacao consiste na sirnbolizacao, ora completamenteinvoluntaria, como no sonho, ora organizada e integrada num sistema decrencas coletivas.

    A irnaginacao e, ainda, "0meio que 0 sujeito encontra para comporuma representacao ...integrando uns nos outros, aspectos do real e de simesmo, que nao podiam ser apreendidos pela percepcao" (Malrieu, 1996 ,p.138).o irnaginario, mais do que c6pia do real, e uma forma de ligar ascoisas ao eu, ou de plasmar visoes de mundo, modelando condutas e esti-los de vida.A construcao do imaginario social tem um percurso simb61icoo que 0"torna dependente do f1uxo comunicacional entre 0emissor (queirradia uma concepcao de mundo integrada a seus objetivos estrategicos)eo receptor (que a decodifica ou nao)" (Moraes, sid) .

    Com base em todas essas inforrnacoes, creio que ja dispomos deelementos suficientes para tecer algumas considerac;:6es relativas a cons-trucao do imaginario social sobre as pessoas com deficiencia. Procurareiabordar a questao a partir das narrativas que se tern construido a respeitodessas pessoas embora caiba enfatizar que elas nao devem ser considera-das como um grupo homogeneo, mesmo se tern deficiencias comuns.

    Tal como afirma Skliar (2000) precisamoscompreender 0 discurso em torno da deficiencia para logo revelar que 0 obje-to desse discurso nao e a pessoa que esta numa cadeira de rodas, ou 0 que usa

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    um aparelho auditivo ou 0 que nao aprende segundo 0 ritmo e a forma comoa norma espera ...a deficiencia esta relacionada com a pr6pria ideia de norma-lidade e com sua historicidade (p.5).Calcados na concepcao de normalidade - mesmo sem termos na

    oonta da lingua a res posta para 0que e ser normal- construimos 0 imagi--.ario acerca dos deficientes, em torno da oposicao binaria: normalidade &~efidencia. Pensamos a contradicao entre normalidade e deficiencia, comoJOlos opostos, em vez de pensar por contradicao (Saviani, 98, p.128).

    Sob a primeira matriz de pensamento - pensar a contradicao - cri-lITIOS representacoes, imagens em torno das pessoas com deflciencia, pelo.;ue Ihes falta, 0 que as torna "diferentes" porque sao "incompletas". Sao::ercebidas como diferentes, tambern, porque nao sao iguais aquelas ditas-ormais. Estas raciocinam com abstracao, enxergam, ouvem, andam semnenhum equipamento de apoio, sem incoordenacoes, comunicam-se de".arias maneiras, comportando-se em conformidade com 0 que se consi-dera "normal".

    Pensar a contradicao representa, sem duvida, valorizar a hegemoniada normalidade que, se "desrespeitada", gera irnaginarios construidos emtorno do deficit dos sujeitos. Sob esse enfoque, a pergunta que aflora,medfatamente, diz respeito a natureza do agente m6rbido (a causa) quehes provocou a deficiencia, isto e.o defeito (seja sensorial, mental, fisico,motor ...ou com outras rnanifestacoes).

    E, no caso das pessoas com altas habilidades, superdotadas, ahegemonia da normalidade tarnbem "atua" gerando indagacoes acerca da"superioridade" que apresentam, sejam intelectuais, artisticas ou de ou~raaatureza.Sob a segunda matriz de analise e reflexao - pensar por contradicao -,damo-nos conta de que fatos e fenornenos humanos nao podem ser enqua-d'rados na condicao de serem "isso ou aquilo", po is constata-se que eles vari-2 J l 1 . segundo as condlcoes em que se manifestam e as expectativas dos grupossocials em torno dos comportamentos das pessoas.

    A irnportancia que tem side atribuida as causas da deficiencia, comenfase para os componentes organicos, gerou uma rede de signiflcacoesque associa deficiencia com doenca. Essa associacao obedece a estere6ti-:lOS sociais muito estruturados em torno da normalidade como sinonimode saude e da deficiencia como desvio, estigma, decorrente de patologias.

    E,no caso dos superdotados, sem tira-los da condicao de desviantes,acribuem-se suas caracteristicas a fatores geneticos ou misticos, dentreoutras causas.

    Tais percepcoes podem ser mais facilmente denunciadas e combatidas

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    ho]e, com a virada lingufstica.0 discurso fundante, calcado numa racionalidadeobjetiva em torno das deficiencias e organizado como retorica social, histo-rica e econornica gerou, no lrnaglnario social, um sujeito fundado como de-ficiente, incapaz e improdutivo, porque percebido apenas em suas limita-coes, qualquer que seja a rnanifestacao objetiva de sua deficiencia.

    Como 0mundo se globalizou priorizando-se as regras do mercadoe exacerbando-se os processos competitivos - geradores de maior exclu-sao social -, fiicou mais objetiva a condicao de vulnerabilidade de certaspopulacoes, como a das pessoas com deflciencla.

    Segundo Castoriadis (1982), os movimentos sociais poem em questaoas signiflcacoes l rnaginarias da sociedade. E 0que podemos constatar, dentreoutros, nos movimentos dos negros, das mulheres ou de pessoas com defi-ciencia. Neste caso, nao tern sido questionadas, apenas, suas especificidadescomo grupo, mas sim as formas de dornlnacao que, desde sempre, permearamas significacoes imaglnarlas, criando-se mitos como 0 de que deflciencia e- sinonirno de ineficiencia. Ou ... que as altas habilidades fazem com que ossuperdotados acertem sempre e consigam, espontaneamente, resolver seusproblemas com autonomia e independencia ...como super herois.

    E, em sua odisseia hist6rica, 0 "sujeito deficiente" fundado no dis-curso da incapacidade tem side etiquetado sob diversas denorninacoes 0que, em si mesmo, ja nos permite identificar as sutilezas com que se pro-cura mascarar a verdadeira imagem de sua alteridade".

    As varias etiquetas com que tern sido rotulados, como as atualmen-te mais usadas - pessoas portadoras de necessidades especiais" ou comnecessidades educacionais especiais - trazem, impllcitas, referencias aosseus comportamentos desviantes (mesmo para os de altas habilidadeslsuperdotados) e aos lugares institucionais que Ihes cabem.

    Se na antlguidade, realizava-se 0 extermfnio dos deficientes; maismodernamente sao considerados como merecedores de protecao, com achancela de filantropia e de caridade, praticadas em espacos institucionais

    14 Ocorre-rne aqui lembrar dos estudos realizados por Foucault (op.cit,) em torno do dever serdo sujeito. Os diversos estatutos do dever ser foram determinados pelo discurso do poder, emexercicio. 0 sujeito do dever ser variou, segundo 0 conceito de normalidade, colocando osdeficientes na condicao de anormais, "etiquetados" e institucionalizados como sujeitos para areabilltacao, para a pedagogia terapeutica, ou para a educacao compensat6ria de suas incapaci-dades, excluidos das normas estabelecidas do dever ser normal.15 Concordo inteiramente com 0 Prof. Marcos Mazzotta(2000) quando, enfaticamente, critica aexpressao pessoa portadora de necessidades especiais. Necessidades nao se carregam comofardos, determinados para sempre. Necessidades se manifestam como exigencias a serem su-pridas.A imagem de que alguern que porta uma necessidade, esta a servlco da crenca de queela faz parte do seu "quadro" patol6gico.

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    = e tern se organizado e funcionado como exclusives e excludentes.Atualmente, sob 0 discurso da educacao lnclusiva, pretende-se de-

    32loj,ar 0 estatuido em torno da deflclencia e romper a fronteira exclusao/-dusao, inserindo todos os portadores de deflclencia em turmas do ensi--n regular.

    Mas, se nao tivermos a coragem de enfrentar discuss6es assumindo~l!Ides mais criticas, poderemos ter, como resultado das propostas de-clusao educacional escolar, nada mais do que insercao fisica, comnseracoes baseadas na solidariedade mecanica, Os sujeitos permanece-...ao,operacionalmente, na marginalidade, excluldos e na inclusao marginal,:.o1l10 citado anteriormente.

    A rede de significacoes e muito mais complexa do que se pode="aginar para ser desmontada por providencias includentes, baseadas em;)Ulas legais, no forte e louvavel desejo de alguns, ou em decretos das-osclncias que detem poder e autoridade.

    Retomando as ideias de Vidales (op.cit.) encerro este t6pico con-zordando com sua proposta:

    Se reconhecemos que vivemos num mundo construido pela linguagem[...] estabelecarnos agora uma verdadeira revolucao conceitual que nao perma-neca criando mecanismos artificiais ...mas que possibilite um amplo reconheci-mento de que a diferenca e a normalidade (p.93). (0 grifo e meu.)Sei que essa mensagem,apesar do grifo que introduzi no texto.pode

    ser usada a service da inclusao educacional em sua posicao mais radical.Ate por isso eu a escolhi...E que, valendo-me da tetraletica anteriormente analisada, e -assu-mindo poslcoes mais moderadas ou mais centrais, perm ito-me reconhe-eer na normalidade de ser diferente, a igualmente "normalidade" de seeferecerem diferentes mecanismos de suporte, como services de apoioDU substitutivos das modalidades de atendimento escolar existentes, coma qualidade que assegure e garanta 0direito a aprendizagem e a participa-~aode todos.

    Estou, com ousadia, propondo uma virada linguistica a service daconstrucao do lmaginario individual e coletivo em torno das diferencasdas pessoas com deficiencia, sem nega-Ias ou banaliza-las, mas reconstru-indo-as numa nova rede de significacoes na qual as narrativas dos pr6priosdeficientes e de suas familias sejam constitutivas.

    Precisamos ouvi-Ios mais! Utopia? Talvez. Mas creio que vale a penaenveredar por esse caminho.

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    Mecanismos excludentes no processo educacional escolarPor que as escolas podem ser produtoras de fracasso e gerar uma

    pedagogia da exclusao? 0 que acontece no interior das escolas (nao s6 asbrasileiras) que leva os alunos e 0 sistema educacional ao insucessoespelhado em estatisticas, no minimo, alarmantes?

    lnumeros sao os estudiosos desse tema e nao menos numerosa edensa e a producao academica nesse senti do. Mas, apesar de tudo que seescreve e se fala a respeito e das medidas politico-administrativasimplementadas, ainda convivemos com elevados indices de exclusao tra-duzidos, dentre outros indicadores por: alunos que nunca ingressaram naescola, defasagem idade-serie, evasao escolar, estrategias de aceleracaoadotadas para compensar fracassos e evitar a repetencia, baixa qualidadedas respostas educativas das escolas, insatisfat6rias condicoes de trabalhodos educadores, sua formacao inicial e continuada, natureza da gestae_escolar, dentre inumeros outros.

    Parece que ainda nao encontramos a res posta que explique 0 fra-casso escolar.Talvez ela nao deva ser procurada apenas na escola ou, comomuitos ainda pensam, no aluno, como 0 responsavel solitario de um fra-casso que nao e s6 dele, mas do qual e a maior vitima!

    Minhas reflex6es sobre 0assunto tern side reforcadas pelas contri-buicoes te6rico-metodol6gicas de alguns autores que analisam a questaodo fracas so escolar, tais como Fernandez (200 I), Collares e Moyses( 1996),Patto (1993), Pain (1982), Gentili, (1995).

    De Fernandez (200 I) extra! a contribuicao referente a atividade depensar, implicita no processo de aprendizagem e, muitas vezes, considera-da como uma das limita~6es do aluno, 0 que explicaria seu insucesso naescola. Afirma a autora que

    a fabrica de pensar nao se situa nem dentro nem fora da pessoa; localiza-se"entre". A atividade de pensar nasce na intersubjetividade, promovida pelodesejo de fazer proprio 0 que e alheio, mas tarnbem e nutrida pela necessidadede nos entender e de que nos entendam (p.21).Perm ito-me pontuar, a partir deste pequeno paragrafo, algumas ca-racteristicas dos processos reflexivos - e que fazem parte dos mecanis-

    mos cognitivos: ocorrem na intersubjetividade; dependem da rnotivacao e do desejo; dependem da slgniflcacao que 0objeto tenha, para a atividade depensar;

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    ou depend em da constatacao de que 0"objeto" do pensamento eum "bern" historicamente construido e que pode ser reconstrufdo;

    dependem, ainda, da irnportancia de dispormos de conhecimen-tos que possam se organizar em n6s enos permitam dialogar eexpressar nossas ideias, com a clareza suficiente para que sejamentendidas pelos nossos interlocutores.

    Penso que se tratam de argumentos suficientes para tirar alunos"" ;:>.rofessores do banco dos reus, nessa perversa busca por culpados.= . . - ' outras palavras, quero me referir ao ensino/aprendizagem como;-c::'essos intimamente relacionados, como as duas faces da mesma-Jed1a, sern que se' possa considera-los isoladamente.

    Sob a 6tica bipolar!", na "face" do ensino no espaco educacional:s::olar colocamos os professores que, em sala de aula, repassam conheci-+errtos e experiencias aos seus alunos. Na outra face da moeda costuma--.:lS situar os alunos, esquecendo-nos de que, nesta perspectiva bipolar,:e-demos a visao do todo e, nela, as inter-relacoes que se estabelecem:::--:re quem ensina e quem aprende, pois muito ensinam os que aprendem,~ """Iuitoaprendem os que ensinam!Se concordamos que, para os docentes, ensinar deve ir alern de transmitiririorma ; .srece-rne oportuno relembrar a matriz de pensamento que opera pensando a contradicao,~ 'er de pensar por contradicao, como ja comentei.

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    No caso do aluno empobrece, porque Ihe impoe "aprisionar" seusinteresses, sua inteligencia e a autoria de seus pr6prios textos, para ex-pressar-se num idioma que nao e 0seu,"abandonando a tarefa de transfor-mar a si mesmo".Por influencia de um campo de forcas do qual nem sempre 0 professortem consciencia, ou s6 pode controlar parcialmente (Netto, 1987) generahza-se, lamentavelmente, a percepcao de que 0sujeito que abandona a tarefa deaprender age assim porque e portador de uma def iciencia, Ese for superdotadoe apresentar dificuldades pode-se, ate, considera-lo como preguicoso.o aluno "aprisionado" em dificuldades que a escola ainda nao sabebem como resolver, passa a ser considerado deficiente.

    Uma pesquisa realizada por Colares e Moyses (1996) evidencia 0quanto e marcante, no lmaginario dos educadores atuais e dos profissio-nais das areas medicas, a correlacao que estabelecem entre 0 insucesso doaluno e a existencia de uma possivel dcenca que 0bloqueia ou Ihe impede- a atividade de pensar e, consequenternente de aprender.- - - As dificuldades dos alunos tern sido atribuidas a diversas causas comohiperatividade, disritmias, defkiencia mental e a diferentes doencas que interfe-rem no "seu juizo", segundo a fala de muitos de nossos professores. Em decor-rencia, costuma ser considerado como alguern que "nao-aprende".

    Sara Pain (1989) tece importantes criticas a essa expressao, lem-brando-nos que a nocao de nao-aprendizagem nao e 0 reverse de apren-dizagem, pois esta "nao e uma estrutura, e sim um efeito e, neste sentido,e um lugar de articulacao de esquemas"(p.IS}.

    Sob essa 6tica, e importante entender a aprendizagem que, mesmocomo processo individual, exige de nos conhecer e reconhecer 0 contextoem que se desenvolve. Esse aspecto e da maior relevancia para evitarmos osr6tulos injustamente aplicados ao aluno, gerando lamentaveis consequencias.Percebido como incapaz cria uma imagem desvalorizada de si mesmo que,alern de sofrimento psiquico,acaba produzindo mecanismos reativos de aco-rnodacao ou de agressividade manifesta.

    Do mesmo modo que transformar questoes sociais em biol6gicastem side chamado de biologizac;:ao, entender que as dificuldades de apren-dizagem de inurneros alunos traduzem um seu "defeito", chama-sepatologizac;:ao e a busca de solucoes, fora do eixo de discussao de nature-za politico-pedag6gica, e denominada medicalizacao do processo ensino-aprendizagem (Collares e Moyses,op.cit).

    A generalizacao do processo de patologlzacao e duplamente per-verso: de um lade rotula de doentes criancas normais e, por outro lado,ocupacom tal intensidade os espacos de discursos e de propostas de atendimentos,

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    _Le desaloja desses espacos aquelas criancas que deveriam ser os seus legftimos:c...::antes. Estes, expropriados de seu lugar,permanecem a margem das acoes=-n-etas das politicas publicas, Segundo essas autoras (op.cit.),

    o universe de criancas normais que sao transformadas em doentes, por umavisao de mundo medicalizada,da sociedade em geral e da institulcao escola emparticular, e tao grande que tem nos impedido de identificar e atender adequa-damente as criancas que realmente precisam de uma atencao especializada,seja em temos educacionais, seja em termos de saude,Elegi essa citacao, porque diz respeito a dois segmentos de excluf-

    :,:.5; 0 dos alunos com deficiencia - a maio ria dos quais, sequer esta em=--"-.IIl1ascola - e 0dos alunos que podemos considerar como deficientes:;:unstanciais, isto e tornados deficientes em decorrencia de serem tra-:::::os como doentes e por nao receberem as respostas educativas de que-Kssitam Creio que cabe, tarnbern, uma referenda aos de altas habilida-:::sJsuperdotados, sempre que Ihes forem negadas as oportunidades dife--;::ci.

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    60 Educacao inclusiva

    lade dos outros, mas formando nucleos de reclusao, ou estaraointegrados, experienciando reciprocidade nas interacoes comcolegas, professores e demais funcionarios da escola?

    E na aprendizagem estarao, de fato construindo conhecimentostal como seus colegas?

    Reduziram-se os estigmas que os colocam em desvantagem e osfazem desenvolver sentimentos de baixa auto-estima?

    Que lugar ocupam no imaglnario dos educadores e da sociedadeem geral?

    Evolufram as praticas narrativas a seu respeito? E a respeito dos que apresentam altas habilldades/superdotacao! Existira, entre todos os alunos, a solidariedade organica ou pre-valece a solidariedade mecanica? Como podemos analisar os mo-vimentos dos alunos ditos normais em relacao aos alunos comdeficiencias] E em relacao aos superdotados?

    Estarao, deficientes e superdotados, respeitados em seus idiomas?Sei que essas e muitas outras perguntas que me tern me inquietado,

    levam muitos educadores que defendem a inclusao radical (entendendo-a,ate, como processo natural. ..) a considerar-me contraria a proposta dainclusao em seu verdadeiro sentido e no seu aspecto referente a presencade alunos com deficiencia nas turmas do ensino regular. Este e um equfvo-co e tambern uma verdade, por mais paradoxal que possa parecer. Explico:e equfvoco pensar que sou contra a inclusao porque defendo e luto:

    pela universalizacao da educacao, isto e, para que todas as escolasacolham todos os alunos oferecendo-Ihes educacao de qualidade(e isso e inclusao);

    pela matrlcula de alunos com deficiencias nas turmas ditas regula-res, desde que Ihes sejam asseguradas e garantidas praticas peda-g6gicas e todas as modalidades de suporte que permitam a remo-c;:aode barreiras para sua aprendizagem e para sua participacao;

    por uma rede de ajuda e apoio a alunos que apresentem necessi-dades educacionais especiais, seus pais e professores;

    para que possamos oferecer aos alunos de altas habilidades/superdotados, as respostas educativas que atendam a seus inte-resses e necessidades;

    pela formacao inicial e continuada dos educadores, introduzindoe desenvolvendo 0estudo das caracterfsticas cerebrais, mentais,culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e mo-

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    dalidades, das disposicoes tanto psiquicas quanta culturais que 0conduzem ao erro ou a ilusao (Morin, 200 I ,p.14);

    para que as classes especiais nao mais sejam criadas ou mantidas,como ate entao, para atender ao fracasso escolar, mas receio quesejam abolidas como ofertas educativas para os que dela, realmentenecessitam e temo que 0fechamento das mesmas acarrete a distri-buicao aleat6ria de seus alunos pelas turmas do ensino comum, semque possam ser devidamente apoiados (eles e seus professores);

    pela ressignitlcacao do papel das classes e das escolas especiais,ate entao exclusivas e excludentes, levando-as a oferecer as res-postas educativas adequadas aos alunos que necessitam de apoiocontinuo e permanente e que, por direito de cidadania, fazem jusa matricula na escola, para aprender.

    Mas,e verdade que critico a inclusao educacional escolar sempre que: for irresponsavelmente implementada; for interpretada, apenas, como insercao de pessoas com deficien-cia nas classes comuns, sem os cuidados com sua mtegracao nogrupo, gerando-se a inclusao marginal, ou sua reclusao em guetos;

    representar 0"desmonte" da educacao especial, desconsiderando-se todo 0seu percurso e as hist6ricas contribulcoes que seus espe-cialistas tern nos oferecido e que sempre serao necessarias, pols,dificilmente, alguern podera ser especialista em generalidades;

    for criticada a existencia de escolas especiais, desacompanhada deuma analise critica de seu processo e das funcoes que devera assu-mir para fazer face aos desafios que 0sistema educacional ainda naopode resolver como, por exemplo, a educacao para 0 trabalho,particularmente dos aprendizes deficientes mentais severos e pro-fundos, dentre outros, mais comprometidos;

    forem banalizados e/ou extintos os services de ajuda e apoio aprofessores, alunos e seus familiares;

    nao se der ouvido as opinioes das pr6prias pessoas com deficien-cias, querendo silencia-las com nossas vozes que abafam suas falas;

    as famflias nao puderem opinar, fazer escolhas, como e desejavelna democracia (pois esta e plural);

    desconsiderarmos os ape los de nossos professores, aprisionan-do-os num ideal do qual ainda nao se apropriaram, pois isso levatempo e e um movimento de dentro para fora;

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    nao aceitarmos a possibilidade de que escolas e classes especiaisate possam ser inclusivas, dependendo da filosofia que embasa 0projeto politico da escola e as pratica pedag6gicas adotadas;

    usarmos narrativas que falam de tolerancia, de solidariedade, semas devidas analises e criticas quanta as praticas discursivas queatendem aos interesses das regras do mercado, como convern aocapitalismo ...

    inserirmos pessoas com deficiencia nas turmas do ensino ditoregular, para que elas sirvam de estirnulo ao resgate de valoreshumanos, lamentavelmente em declinio;

    desconhecermos as especificidades dos grupos de pessoas comdeficiencias, desconsiderando a multiplicidade de suas manifesta-coes e as varias estrategias que permitem remover barreiras paraa aprendizagem e para a participacao de qualquer aluno.

    Para promover a inclusao (de todos os alunos) no espaco escolar,- precisamos enfrentar os mecanismos excludentes que ocorrem no seudia-a-dia. Eles podem ser relacionados ao fracasso escolar

    que acontece no interior da escola e tem relacao direta com sua estrutura efuncionamento; com suas praticas disciplinares e pedag6gicas; com a formacaoe as condicoes de trabalho do corpo docente; com a relacao preconceituosaque os educadores geralmente estabelecem com as criancas e as familias dasclasses populares (Patto apud Collares e Moyses. 1996. p.12).Parafraseando Fernandez (op.cit),"devemos intervir no contexte que

    priva 0aluno de um espac;:o de autoria de pensamento. Ou seja, devemosintervir no "sistema ensinante".Assim como para quem vive na rniseria e esta desnutrido nao ad ian-tam exames do aparelho digestivo, em busca de explicar porque nao sealimenta, e sim intervir no contexto que 0priva de alimentos ... do mesmomodo, para enfrentar os mecanismos excludentes, precisamos intervir nosistema educacional, arnpliando, diversificando suas ofertas, aprimorandosua cultura e pratica pedag6gica e, principalmente, articulando-o com to-das as politicas publicas,

    A grande questao e como transformar 0 cotidiano da escola, quedefende 0mite da igualdade de oportunidades e a traduz como 0 ofereci-mento de educacao identica para todos, desconsiderando-Ihes a diversi-dade e a complexidade ou, no dizer de Fernandez, desconhecendo-se osdiferentes idiomas de ensino e de aprendizagem.

    Embora seja sofrido, precisamos admitir que a escola tem legitima-

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    :.::. z exclusao, principal mente dos grupos em desvantagem, mesmo quan-tt:.J;focura inserir alunos nas classes regulares, mas sem os apoios neces-~'JS.

    Eentao?Vamos desistir, fazer as malas, juntar nossos objetos, desejos:: ESperans:as e mudar de profissao? Honestamente penso que nao, apesar. : " ' = rrao serem poucos os desafios que temos que enfrentar, a partir dos-'--;:'i7.smasdo medo ou dos "genies deAladim" que povoam nosso irnagina-

    Para que tenhamos uma escola verdadeiramente democratica e que$espaco de exerdcio de cidadania, devemos lutar, principal mente: por melhores condicoes de trabalho e de salario de nossos pro-fessores; por maiores investimentos na sua formacao permitindo-Ihes apro-priarem-se de novos saberes e das tecnologias que possam estara service da educacao escolar;

    pela realizacao sistematica de avaliacoes do processo ensino-aprendi-zagem, muito mais util aos educadores do que as inflndaveis e muitasvezes indecifraveis estatistkas do desempenho dos sistemas educa-cionais; pela capacitacao dos gestores com vistas a administracao com-partilhada;

    pela constante reflexao de todos os educadores acerca do senti-do da educacao num mundo globalizado e em permanente mu-danca;

    pela educacao na diversidade, ampliando-se e aprimorando-se asoportunidades de aprendizagem por toda a vida;

    por constantes (semanais?) relacoes dial6gicas entre professoresdentro das escolas e entre escolas (mensais?)

    para que 0 direito a educacao seja entendido como um bemessencial que deve ser extensive a todos.

    Esta na hora de terminar esse texto.Afinal, temos muito 0que fazerpara transformar palavras em efetivas acoes que beneficiem a todos. E,nocaso das pessoas com deficiencia que do "todos" nao sejam excluidos denossas narrativas e de nossas praticas inclusivas, aqueles mais comprome-tidos - como os deficientes multiples - garantindo-Ihes os espacos deaprendizagern de que necessitam de fato e de direito. Que tenhamos to-dos muita sorte e muita determinacao!

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