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A EXPERIMENTAÇÃO NOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSO DAS LICENCIATURAS EM QUÍMICA NA EAD - SISUAB Cezar Soares Motta Dra. Maria do Carmo Galiazzi Rio Grande 2015

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A EXPERIMENTAÇÃO NOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE

CURSO DAS LICENCIATURAS EM QUÍMICA NA EAD -

SISUAB

Cezar Soares Motta

Dra. Maria do Carmo Galiazzi

Rio Grande

2015

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Cezar Soares Motta

A EXPERIMENTAÇÃO NOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSO DAS

LICENCIATURAS EM QUÍMICA NA EAD – SISUAB

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação em Ciências: Química

da Vida e Saúde, da Universidade Federal do

Rio Grande, como requisito para a obtenção do

título de Mestre em Educação em Ciências.

Orientadora: Profa. Dra. Maria do Carmo

Galiazzi

Rio Grande

2015

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Cezar Soares Motta

A EXPERIMENTAÇÃO NOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSO DAS

LICENCIATURAS EM QUÍMICA NA EAD – SISUAB

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação em Ciências: Química

da Vida e Saúde, da Universidade Federal do

Rio Grande, como requisito para a obtenção do

título de Mestre em Educação em Ciências.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Profa. Dra. Maria do Carmo Galiazzi

Universidade Federal do Rio Grande – FURG

______________________________________________

Prof. Dr. Paulo Valério Saraçol

Instituto Federal Rio Grande do Sul – IFRS

______________________________________________

Prof. Dr. Luiz Fernando Mackedanz

Universidade Federal do Rio Grande – FURG

______________________________________________

Prof. Dr. Valmir Heckler

Universidade Federal do Rio Grande – FURG

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Dedicatória

A

Maria do Carmo Galiazzi e Valmir Heckler

que, com seus exemplos, tornam-me um

sujeito mais maduro e humano. Nossas

conversas em diferentes momentos estão para

além de atividades acadêmicas e foram

fundamentais na construção de quem sou hoje.

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Agradecimentos

À professora Drª. Maria do Carmo Galiazzi, pela orientação desta dissertação e por

me acompanhar nesta jornada, contribuindo de diversas maneiras durante minha formação.

Aos colegas e amigos Aline Machado Dorneles, Moacir Langoni de Souza, Vivian

dos Santos Calixto, Renata Hernandez Lindemannn, Márcia Von Firme, Jackson Luís

Martins Cacciamani, Diana Paula Salomão de Freitas, Edi Morales.

Ao professor Dr. Valmir Heckler, pela amizade e diálogos no construir de caminhos

e projetos da profissão docente.

Aos professores membros da Banca de Qualificação e Banca de Defesa: Prof. Dr.

Dr. Paulo Valério Saraçol e Prof. Dr. Luiz Fernando Mackedanz. À professora dra.Orliney

Maciel Guimarães, por sua participação na Banca de Qualificação e por suas contribuições

na construção desta dissertação.

Aos colegas e professores do Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências:

Química da Vida e Saúde, por contribuírem na construção de minha identidade como

professor e na escrita da dissertação.

Aos integrantes da SEaD e CEAMECIM, por possibilitarem-me o contato com a

EaD.

À Universidade Federal do Rio Grande – FURG, ambiente que me proporcionou

todas essas experiências.

À minha companheira Laise Machado Dorneles, por sua parceria nos mais diversos

momentos de nossa vida.

À minha família, por estar sempre presente em meu caminho mesmo que, por vezes,

só em energia, incentivando-me com seu carinho, dedicação e empenho em todas as etapas

de minha vida.

E a todos os que, de alguma forma, contribuíram na construção desta pesquisa e de

minha formação.

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RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo compreender os significados atribuídos à experimentação

nos Projetos Pedagógicos de Curso – PPC das Licenciaturas em Química na modalidade de

Educação a Distância –EaD geridos pela plataforma virtual de suporte à Universidade

Aberta do Brasil –SisUAB. A pesquisa qualitativa desenvolvida teve abordagem

fenomenológica-hermenêutica, tendo a Análise Textual Discursiva como metodologia de

análise. Apresenta-se inicialmente a trajetória do pesquisador no encontro com o tema da

EaD. Num segundo momento, apresenta-se o movimento da EaD no contexto brasileiro, de

modo a possibilitar a construção do panorama nacional dos cursos de Licenciatura em

Química nessa modalidade através da análise de informações presentes nos Projetos

Pedagógicos de Curso – PPC e na plataforma SisUAB. No terceiro momento, discute-se,

com um enfoque hermenêutico, a origem e os significados atribuídos às palavras

relacionadas à experimentação, além da compreensão e proposição para a experimentação.

As categorias resultantes da análise apontam para a obrigatoriedade do laboratório

presencial pautada em documentos oficiais, o que exige a formação de parcerias entre as

redes federais, estaduais e municipais; o diálogo relativo ao currículo de Química na EaD, a

fim de promover processos de ensino/aprendizagem que desenvolvam competências

pedagógicas através da experimentação; e o Ensino de Química na EaD necessita de

infraestrutura e de mediação de diferentes sujeitos a partir da orientação de tutores ao

integrar a teoria, a prática e o uso de recursos didáticos. A partir do enfoque

fenomenológico da pesquisa, foi possível a construção do seguinte argumento: no Ensino

de Química na EaD, é necessária a mediação de diferentes sujeitos na formação e o

estabelecimento de parcerias entre a universidade e a rede de Educação Básica, estando no

currículo para a Educação em Química a proposição obrigatória, mas não exclusiva, da

experimentação presencial em laboratórios, com intensificação de processos de formação

continuada dos professores para o uso de recursos didáticos específicos da experimentação

online.

Palavras-chave: Experimentação; Licenciatura em Química; Educação a Distância; Projeto

Pedagógico de Curso.

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ABSTRACT

This research aimed to understand the meanings attributed to experimentation in

Pedagogical Projects Course – PPC of Chemistry Degree in the modality of Distance

Education – DE managed by the virtual platform to support the Open University of Brazil –

SisUAB. The developed qualitative research was phenomenological hermeneutic approach

with the Análise Textual Discursiva analysis methodology. It presents initially the

trajectory of the researcher in the meeting with the theme of distance education. Secondly

shows the movement of distance education in the Brazilian context to enable the

construction of the national panorama of Chemistry Degree courses in this modality

through the analysis of information from Pedagogical Projects Course – PPC and SisUAB

platform. In the third, we discussed with a hermeneutic approach the origin and meanings

attributed to words related to experimentation, beyond comprehension and proposition for

experimentation. The categories resulting from the analysis point to: the mandatory

presence laboratory guided by official documents, which requires the formation of

partnerships between federal, state and city; dialogue on the Chemistry curriculum in

distance education to promote teaching/learning processes to develop teaching skills

through experimentation; and Teaching Chemistry in Distance Education need

infrastructure and mediation of different subjects from the guidance of tutors in integrating

theory, practice and the use of teaching resources. From the phenomenological research

approach, it was possible the construction of the following argument:Teaching Chemistry

in Distance Education is required the mediation of different subjects in the

formationprocess and the establishment of partnerships between the university and the

basic education, being in the curriculum for Education in Chemistry mandatory proposition,

but not exclusive of the presential experimentation in laboratories, with intensification of

continuing education processes of teachers to the use of specific teaching resources online

experimentation.

Key words: Experimentation; Chemistry degree; Distance Education; Pedagogical

Project Course.

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LISTA DE SIGLAS

AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem

CEAMECIM – Centro de Educação Ambiental, Ciências e Matemática

CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade

DCQ – Diretrizes Curriculares para Cursos de Química, bacharelado e licenciatura plena

EaD – Educação a Distância

FURG – Universidade Federal do Rio Grande

FVJM – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

IFMA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão

IFMT –Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso

IFPA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará

IUB – Instituto Universal Brasileiro

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

LQ – Licenciatura em Química

MEC – Ministério da Educação

OU– Open University

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

PPC – Projeto Pedagógico de Curso

PPGEC – Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde

SisUAB – Plataforma virtual de suporte à Universidade Aberta do Brasil

TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação

UAB – Universidade Aberta do Brasil

UECE – Universidade Estadual do Ceará

UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense

UEPB – Universidade Estadual da Paraíba

UFAM – Universidade Federal do Amazonas

UFC – Universidade Federal do Ceará

UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

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UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora

UFMA – Universidade Federal do Maranhão

UFMG– Universidade Federal de Minas Gerais

UFPA – Universidade Federal do Pará

UFPI – Universidade Federal do Piauí

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFS – Universidade Federal do Sergipe

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UFT – Universidade Federal do Tocantins

UNEAL – Universidade Estadual de Alagoas

UNEB – Universidade do Estado da Bahia

UNED – Universidade Nacional de Educação a Distância

UNIFAL-MG – Universidade Federal de Alfenas

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Cursos de Química Licenciatura na modalidade EaD ......................................... 23

Figura 2 – Mapa do Brasil com instituições nas cidades-sede que ofertam o curso de

Química Licenciatura em seus respectivos estados .............................................................. 25

Figura 3 – Instituição e polos da região Centro-Oeste ......................................................... 27

Figura 4 – Instituição e polos da região Norte ..................................................................... 28

Figura 5 – Instituição e polos da região Nordeste ................................................................ 29

Figura 6 – Instituição e polos da região Sudeste .................................................................. 30

Figura 7 – Representação dos elementos constituintes do Racionalismo Experiencial e

Empirismo Sensorial ............................................................................................................ 36

Figura 8 – Ambiente com disponibilização de simulador para construção e utilização de

destilador .............................................................................................................................. 65

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Instituições presentes na plataforma SisUAB ................................................... 23

Quadro 2 – Relação de instituições que apresentam o PPC e polos ativos .......................... 24

Quadro 3 – Relação instituição e polos descritos no PPC .................................................... 25

Quadro 4 – Relação de instituições, polos e vagas dos cursos de Química Licenciatura na

modalidade EaD vinculados à UAB por regiões brasileiras ................................................ 31

Quadro 5 – Acepções da palavra experiência e suas descrições .......................................... 34

Quadro 6 – Descrição dos sentidos atribuídos ao conceito de experiência .......................... 35

Quadro 7 – Unidades de significados retiradas dos PPC das instituições com descrição do

seu local no PPC ................................................................................................................... 46

Quadro 8 – Relação de unidades de significado por local no PPC de cada instituição ........ 46

Quadro 9 – Recorte das unidades de significado e codificações da planilha ....................... 48

Quadro 10 – Título das categorias intermediárias e códigos interligados ao código das

categorias finais .................................................................................................................... 49

Quadro 11 – Título das categorias finais com seus respectivos códigos .............................. 50

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SUMÁRIO

PRIMEIRAS PALAVRAS ................................................................................................... 13

Capítulo I – O MOVIMENTO DE PESQUISA EM DIREÇÃO À EXPERIMENTAÇÃO

EaD ....................................................................................................................................... 16

Capítulo II – O CONTEXTO DA EaD NO CENÁRIO BRASILEIRO .............................. 19

2.1 A UAB e a plataforma SisUAB ............................................................................. 21

2.2 A escolha dos PPC e o panorama das Licenciaturas em Química na modalidade a

distância vinculados ao SisUAB ...................................................................................... 22

Capítulo III – ASPECTOS TEÓRICOS DA EXPERIMENTAÇÃO EM CIÊNCIAS ........ 33

3.1 Exercício hermenêutico sobre a experiência.......................................................... 33

3.2 A experimentação investigativa em ação ............................................................... 37

3.2.1 A imersão na linguagem para compreender os fenômenos da natureza ............ 38

3.2.2 A mediação por meio da indagação na experimentação investigativa ............... 39

3.2.3 O diálogo, o registro e a teoria no operar o objeto aperfeiçoável ...................... 42

Capítulo IV – METODOLOGIA .......................................................................................... 44

4.1 Constituição do objeto de análise .......................................................................... 44

4.2 Análise Textual Discursiva .................................................................................... 47

Capítulo V – A EXPERIMENTAÇÃO NAS LICENCIATURAS EM QUÍMICA NA

EaD.............................. ......................................................................................................... 51

5.1 Química na EaD exige o laboratório presencial e o estabelecimento de parcerias 51

5.2 Experimentação online constitui o currículo de Química na EaD ......................... 60

5.3 O Ensino de Química na EaD requer infraestrutura, mediação de diferentes

sujeitos e processos de formação específicos ................................................................... 68

Capítulo VI – ENCAMINHAMENTOS DA DISSERTAÇÃO ........................................... 73

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 76

APÊNDICES ........................................................................................................................ 81

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PRIMEIRAS PALAVRAS

Esta pesquisa teve por objetivo compreender como a experimentação se apresenta

nos Projetos Pedagógicos de Cursos – PPC das Licenciaturas em Química na modalidade

de Educação a Distância – EaD. Nesse sentido desenvolveu-se a pesquisa qualitativa

através da abordagem fenomenológica-hermenêutica, tendo a Análise Textual Discursiva

como metodologia de análise. Analisou-se nos PPC disponíveis no SisUAB, em novembro

de 2012 (BRASIL, 2012a), de cada licenciatura, a presença de palavras que remetam ao

contexto da experimentação na formação de professores de Química.

Destaca-se, parao cenário investigado, a oferta de 4580 vagas nos cursos de

Química Licenciatura na modalidade EaD vinculados à UAB em dezoito instituições e 112

polos a elas vinculados.No Brasil, atualmente, observa-se o seguinte quadro de

concentração de oferta: 56,3% na região Nordeste, 27,5% na região Sudeste e, com apenas

16,2%, as demais regiões, dos quais 8,6% pertencem à região Norte e 7,6%à região Centro-

Oeste.

Em vista desse cenário para a licenciatura em Química na EaD, compreender a

proposta de experimentação dos PPC dos referidos cursos torna-se necessária por se

acreditar que a experimentação investigativa acontece pelo intercâmbio de significados

iniciais, entre sujeitos com diferentes experiências, envolvidos na investigação de

fenômenos da natureza. Momento de expressar conhecimentos iniciais, indicativos

importantes para as estratégias a serem assumidas no processo investigativo, ponto de

partida do aventurar-se, do ser “pirata”, pois ainda não se sabem nem os caminhos a seguir

nem os resultados a encontrar. Envolve a indagação dos objetos aperfeiçoáveis no coletivo

de estudantes em um processo de colocar-se em movimento de transformação de

pensamentos, sentimentos e ações, de (re) significar a natureza das Ciências e o ensino de

Ciências.

Nesse sentido, apresenta-se, no primeiro capítulo, o modo como ocorre o encontro

do pesquisador com o tema, intitulado "O movimento de pesquisa em direção à

experimentação EaD", no qual se realizou, por meio da escrita e da reflexão sobre

acontecimentos tanto passados quanto atuais, os caminhos que proporcionaramtal encontro.

Ao dialogar acerca das participações em diferentes espaços, foi possível compreender a

experimentação como atividade investigativa,viabilizadora da indagação, através da

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operação dos modelos manifestados pelos sujeitos sobre o fenômeno investigado. E ainda

compreender que a indagação,mediada pela escrita, leitura e diálogo no e em coletivo,

favorece a imersão dos sujeitos nos discursos próprios à linguagem química.

No segundo capítulo, "O contexto da pesquisa na EaD", apresenta-se o histórico da

EaD no Brasil, destacando influências internacionais presentes em sua construção, os

objetivos e ações da EaD, como também os artefatos e as políticas públicas que

possibilitaram sua efetivação e desenvolvimento. A delimitação das informações

pesquisadas são evidenciadas nesse capítulo,por meiode Quadros e Figuras, diálogos sobre

as relações existentes nos PPC e a apresentação da disposição dos cursos de Licenciatura

em Química na modalidade EaD, geridos pela plataforma SisUAB no cenário brasileiro.

Tais informações apontam para a necessidade de expansão da oferta de cursos de Química

Licenciatura na modalidade adistância nas demais regiões do país bem como o aumento e a

manutenção dos cursos nas regiões já contempladas.

O terceiro capítulocompreendeum exercício hermenêutico, desenvolvido pelo

pesquisar as palavras relacionadas à experimentação e seus significados filosóficos, sendo

possível perceber que o conceito de experiência no campo científico-filosófico demanda

questões que permeiam o fazer ciência e as visões desse fazer ciência ainda na atualidade, o

que remete à apresentaçãodas apostas de construção de uma sala de aula que possibilite dar

significado às palavras do coletivo, em um diálogo intenso nas linguagens e no discurso das

Ciências em torno do e com o experimento.

O quarto capítulo abarca a constituição do objeto de análise deste estudo a partir de

pressupostos da pesquisa qualitativa, assumindo na investigação a análise qualitativo-

fenomenológica do projeto pedagógico proposta por Bicudo (2011) na constituiçãodas

informações analisadas. Apresentam-se os PPC para cursos de Licenciatura em Química na

modalidade a distância a partir de orientações das Diretrizes Curriculares para os cursos de

Química bacharelado e licenciatura plena (BRASIL, 2001) e, com a transformaçãodas

informações dos documentos em informações para análise,pelo viés da metodologia de

Análise Textual Discursiva – ATD, de Moraes &Galiazzi (2011), construir a compreensão

do fenômeno da experimentação descrito nos PPC dos cursos analisados.

No capítulo 5, apresenta-se a análise das informações produzidas com interlocuções

teóricasrelativas à temática experimentação, as quais possibilitam a construção do seguinte

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argumento: no Ensino de Química na EaD, é necessária a mediação de diferentes sujeitos

na formação e o estabelecimento de parcerias entre a universidade e a rede de Educação

Básica, articulando processos de formação continuada. O currículo desses cursos exige

desenvolver a experimentação em laboratório presencial obrigatório, mas não exclusivo.

No sexto capítulo são descritos os encaminhamentos da dissertação, destacando-se a

experimentação descrita nos PPC; além de envolver o laboratório presencial, busca o

desenvolvimento de domínio de técnicas e apropriação dos conceitos químicos, o que

acontece a partir da mediação do tutor presencial. Nesse contexto,o aperfeiçoamento da

experimentação dá-se a partir da formação dos sujeitos que estão diretamente ligados ao

seu desenvolvimento. Ainda no mesmo capítulo, destaque tambémpara a necessidade de

cada vez mais os PPC serem reconstruídos ao longo dos anos pelos sujeitos que constituem

os cursos e implementam suas propostas nas disciplinas, no sentidode retratarem com mais

precisão as concepções que fundamentam esses cursos e o modo como será a condução de

suas propostas, cabendo, assim, uma releitura e uma reescrita constantes desse material tão

significativo na ação de propor e deconstruir cursos de licenciatura em Química na EaD.

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Capítulo I - O MOVIMENTO DE PESQUISA EM DIREÇÃO À

EXPERIMENTAÇÃO EaD

Neste capítulorelato como começou o movimento de pesquisa em que estou imerso.

Movimento que iniciano períodoentre 2006 e 2011, durante minha formação como

professor no curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Rio Grande –

FURG. Não posso deixar de destacar e lembrar, neste início da escrita, dos parceiros,

professores e colegas, nos mais diversos momentos da graduação e da vida pessoal.

Dos momentos citados, cinco em particular se relacionam com o movimento de

pesquisa que me trouxe ao tema da dissertação: as disciplinas de estágios supervisionados

do curso de graduação; a participação como bolsista do PIBID; o processo de elaboração da

monografia; a participação como colaborador do curso de especialização Educação

Ambiental Lato Sensu na EaD da FURG e o envolvimento com a temática da

experimentação à distância no grupo de pesquisa Centro de Educação Ambiental, Ciências

e Matemática – CEAMECIM.

No curso de Licenciatura em Química da FURG, vivenciei cinco estágios

supervisionados e compreendo que as participações nesses espaços me possibilitaram

perceber e pensar a escola de maneira diferente da que tinha enquanto filho, sobrinho e neto

de professores da escola básica e estudante concluinte do ensino fundamental e médio. Por

meio da observação, do registro, da reflexão e da interação com a escola e seus professores

de Química foi possível entender melhor a docência e a escola desde a sua estrutura física,

nos diferentes espaços e recursos de que a mesma dispõe, até as atividades que lá são

desenvolvidas (gestão escolar, encontro com os estudantes, entre outros).

Destaco os registros reflexivos e as atividades exigidos durante todos os estágios, na

perspectiva de escrever para pensar, por possibilitarem o construir e o reconstruir de

significados atribuídos à escola e à atividade docente, a partir de um diálogo entre quem

escreve e o que é escrito. Com a proposição de escrever para pensar (MARQUES, 2008), o

exercício de escrita e leitura presente durante os cinco estágios supervisionados me auxiliou

na compreensão da atividade docente e na construção da identidade enquanto profissional,

gerando uma perspectiva de maior reflexão enquanto professor em formação e entendendo

melhor a perspectiva de escrever para ler, em movimento contrário ao de que é necessário

primeiro ler para depois escrever.

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Do segundo momento, a participação enquanto bolsista no Programa Institucional

de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, de 2009 a 2010, destaco a oportunidade de

vivenciar um espaço coletivo de formação, para potencializar aprendizagens através da

escrita mensal de históriasrelativas à sala de aula e das rodas de conversas semanais. As

rodas contavam com a participação de professores da universidade, professores da escola

básica e licenciandos, com objetivo de dialogar sobre a atividade docente, realizando a

partilha de experiências, pensamentos e ações desenvolvidas enquanto educadores em

formação permanente, possibilitando diversas aprendizagens sobre o ser professor e a

relevância social da profissão.

O terceiro momento, a disciplina de Monografia, é quando inicio um mergulho mais

intenso na escrita e na pesquisa de temas relacionados à formação de professores de

Química e à experimentação na Educação Básica, mergulho que não foi solitário, pois a

recursividade a partir do diálogo com diferentes interlocutores e a mediação do processo

desenvolvido em parceria com minha orientadora e colaboradores que constituem o grupo

CEAMECIM, esteve presente em todas as etapas e possibilitou-me perceber a pesquisa

como movimento permanente de investigação, de modo que os temas citados me

acompanham e me inquietam ainda nas atuais pesquisas.

O quarto momento, a participação no auxílio junto à coordenação, no

gerenciamentodo curso de especialização Educação Ambiental Lato Sensu da FURG,

possibilitou-me a vivência e a construção de aprendizagens no âmbito da Educação a

Distância – EaD, trazendo questões e percepções acerca de temas que, enquanto

participante do ensino presencial, eram desconhecidas para mim.

Após o término da graduação, no ano 2011, inicio o quinto momento, representado

pelo envolvimento no grupo de pesquisa CEAMECIM com foco na compreensão relativa à

experimentação a distância. Nesse grupo tive a oportunidade de me envolver com

diálogosenvolvendo a experimentação na EaD, de modo que o tema me intrigou a ponto de

servir como base para a escrita do projeto de mestrado para participar do processo seletivo

no Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde –

PPGEC. Destaco a importância do estágio-docência do mestrado, realizado em 2013, por

me possibilitar atuar como professor formador na disciplina de Estágio Supervisionado

Licenciatura em Química I – LQ I, do curso em que me formei. A colaboração do grupo de

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pesquisa nesse espaço do estágio proporcionou a mim e aos demais participantes da

disciplina diálogos, estudos, proposição prática, exercício da docência partilhada com foco

na experimentação investigativa. No estágio realizamos encontros semanais

presencialmente na instituição e atividades a distância através do Ambiente Virtual de

Aprendizagem – AVA Moodle1, espaço virtual organizado para discussão de temas

relacionados à experimentação, como, por exemplo, o desenvolvimento de atividades

experimentais na Educação Básica, a reconstrução de experimentos propostos em vídeos, a

postagem de registros escritos e fotográficos da construção de experimentos, a interação

com as propostas de experimentos dos demais participantes da disciplina e as reflexões

sobre os encontros semanais.

Os momentos descritos me instigaram, e ainda me instigam, a buscar construir cada

vez mais conhecimentos sobre a modalidade EaD e me remeteram a compreender o cenário

nacional na formação de professores de Química na modalidade a distância, bem como, no

grupo CEAMECIM, investigar a experimentação na formação de professores de Química.

As participações nesses diferentes espaços me possibilitaram construir a

compreensão que de a experimentação é uma atividade investigativa, a qual oportuniza a

indagação, através do operar os modelos manifestados pelos sujeitos sobre o fenômeno

investigado. A indagação mediada pela escrita, leitura e diálogo no e em coletivo favorece a

imersão dos sujeitos nos discursos próprios à linguagem química.

Estas são as razões que me acompanharam e me levaram a buscar compreender

como a experimentação se apresenta nos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos de

Licenciatura em Química na modalidade EaD no cenário brasileiro.

1 O Moodle é um Sistema Open Source de Gerenciamento de Cursos, utilizado por educadores como uma

ferramenta para criar sites de web dinâmicos no sentido de proporcionar uma melhor interação entre

educadores e educandos.

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Capítulo II – O CONTEXTO DA EaD NO CENÁRIO BRASILEIRO

Compreender como estão estruturados os Projetos Pedagógicos de Cursos para a

EaD no contexto brasileiro remete ao conhecimentoda história dessa modalidade no Brasil.

A crescente demanda por formação de profissionais nas mais diversas áreas, a escassez, a

distância e o alto custo envolvido na construção e manutenção de instituições formadoras

constituem o desafio de pensar novas rotas para disponibilizar formação aos membros da

sociedade. A EaD, no contexto em questão, torna-se potência para ampliar a oferta e a

formação por meio do desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação –

TIC.

É possível destacar três momentos para a EaD no contexto brasileiro: o primeiro,

centrado no uso de materiais impressos e entregues via correio; o segundo, na utilização de

materiais impressos em uso concomitante ao rádio, televisão e vídeos; e terceiro, o uso da

internet, artefato que possibilitou maior mediação e interação dos sujeitos nos cursos da

modalidade EaD. Nesse sentido, o Projeto Pedagógico de Curso de Química Licenciatura

da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (BRASIL, 2005b, p. 10) é um exemplo,

ao apresentar a internet como potência para a modalidade EaD, pois “constituiu um

importante momento no que concerne à "passagem da educação a distância para a educação

sem distância, tanto no que se refere ao espaço/tempo, quanto à democratização da

educação de qualidade".

O primeiro momento da EaD brasileira inicia-se oficialmente no século XX, a partir

do ano de 1904, ainda que haja indícios de seu começo antes do referido século, através de

cursos por correspondência, movimento este influenciado pela experiência vivida por

países europeus e norte-americanos no final do século XIX, conforme Alves (2009) apud

Faria e Salvadori (2010, p. 20):

Em 1904, com a instalação das Escolas Internacionais, é possível demarcar

oficialmente este fato. Estas escolas se tratavam de unidades de ensino

estruturadas que eram filiais de uma organização norte-americana. Os cursos

sempre eram voltados para pessoas que buscavam empregos, principalmente nos

setores de serviços e comércio. Naturalmente o ensino era por correspondência e

os materiais didáticos enviados pelos correios, que utilizavam as ferrovias para

transporte.

Destaca-se que a oferta de cursos profissionalizantes a distância no Brasil, através

do uso de materiais impressos, entregues por correspondência, “ganhou maior expressão

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através do Instituto Monitor criado em 1939 e do Instituto Universal Brasileiro – IUB,

criado em 1941”. (ALVES, 2011)

O segundo momento tem seu começo em meados do século XX, quando se torna

presente a utilização de materiais impressos concomitante ao uso do rádio e televisão como

modo de potencializar a Educação a Distância, a qual se torna expressiva a partir das

experiências realizadas pelo Serviço de Radiofusão Educativa do Ministério da Educação,

de modo a tornar o rádio um artefato com fins educacionais.

Ao final do século XX, o terceiro momento é iniciado a partir da disponibilização

das primeiras ferramentas de apoio virtual no Brasil, intensificando a interação e os

processos de mediação na modalidade EaD, de modo síncrono e assíncrono. Conforme

afirma Moran (2011, p. 44),

Especialmente em rede, o computador se converte em um meio de comunicação,

a última grande mídia, ainda em estágio inicial, mas extremamente poderosa para

o ensino e aprendizagem. Com a internet podemos midificar mais facilmente a

forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos a distância.

A publicação da LDB nº 9.394, em 1996, menciona, no artigo 80, o papel do poder

público no incentivo, desenvolvimento e vinculação de programas de Educação a Distância

(BRASIL, 1996). A legitimação da EaD no Brasil se efetuou pelo Decreto nº 2.494 em

1998, no artigo 1, com a definição para essa modalidade:

[...] forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem a mediação de recursos

didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de

informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos

meios de comunicação. (BRASIL, 1998)

Atualmente, a modalidade de educação a distância no Brasil recebeu destaque

através do Plano Nacional pela Educação – PNE, a partir da Lei 13005/14 | Lei nº 13.005,

de 25 junho de 2014, cujas metas ressaltam a necessidade de expandir a oferta de educação

profissional técnica de nível médio e de cursos de pós-graduação stricto sensu na

modalidade EaD, bem como a importância dessa modalidade para fomentar a integração da

educação de jovens e adultos com a educação profissional, considerando especificidades

das populações itinerantes, do campo, das comunidades indígenas e quilombolas (BRASIL,

2014).

Do começo da modalidade EaD no Brasil até o presente, é possível, a partir da

literatura existente sobre o tema, perceber sua expansão, avanço nas metodologias e meios

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de desenvolvimento, bem como reconhecer o potencial existente nessa modalidade de

ensino e a necessidade de cada vez mais investigá-la para melhor compreendê-la.

2.1 A UAB e a plataforma SisUAB

A criação da Universidade Aberta do Brasil – UAB, em 2005, constitui um sistema

que integra instituições públicas para formação de nível superior, através da iniciativa do

Ministério da Educação – MEC. Seguindo o movimento internacional, iniciado em meados

do século XX, com a criação da Universidade Aberta da Inglaterra (Open University– OU)

em 1969; da Universidade Nacional de Educação a Distância – UNED, na Espanha, em

1972, e da Fernuniversitat, na Alemanha, em 1975, a EaD no Brasil ganhou relevante

expressão, seguindo orientações dessas três instituições internacionais, como se percebe no

PPC do curso de Química Licenciatura da UFMG (BRASIL, 2005b, p. 9),segundo o qual,

“além de se tornarem modelo de educação a distância, essas três universidades têm

exercido influência nas organizações nessa modalidade na Europa e no mundo”.

Na perspectiva de consolidar a modalidade de EaD, a UAB assume a inclusão social

e educacional por meio da oferta de educação superior a distância. A UAB sustenta-se em

princípios defendidos pela EaD, tais como oportunizar a democratização e a expansão do

acesso à formação e outros, como a interiorização do ensino superior público e gratuito no

país, bem como diminuir a carência de professores para atuarem na educação básica,

ressaltado como objetivo prioritário à formação de professores:

O público em geral é atendido, mas os professores que atuam na educação básica

têm prioridade de formação, seguidos dos dirigentes, gestores e trabalhadores em

educação básica dos estados, municípios e do Distrito Federal. (BRASIL, 2012b)

A institucionalização da UAB foi oficializada em 2006, pelo Decreto nº 5.800

(BRASIL, 2006a), e incentiva as instituições públicas a participarem em programas de

formação tanto inicial quanto continuada de professores para a Educação Básica na

modalidade EaD.

No sentido de responder aos princípios de oportunizar a democratização e expansão

do acesso à formação, interiorização do ensino superior público e gratuito no país e de

diminuir a carência de professores para atuarem na educação básica, a UAB afirma que visa

articular e promover ações conjuntas entre os três níveis governamentais (federal, estadual

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e municipal), para assim estimular a criação de centros de formação permanentes por meio

dos polos de apoio presencial, em localidades estratégicas.

O SisUAB, plataforma virtual da UAB para a execução, acompanhamento e gestão

de processos da Universidade Aberta do Brasil, é resultado do esforço contínuo da equipe

UAB para cumprir os objetivos da EaD brasileira, permitindo, mediante autorização, o

acesso a informações das instituições que compõem a UAB.

2.2 A escolha dos PPC e o panorama das Licenciaturas em Química na modalidade

à distância vinculados ao SisUAB

Na busca por investigar os significados atribuídos à experimentação, a partir dos

PPC das Licenciaturas em Química da modalidade EaD vinculadas à UAB e geridas na

plataforma SisUAB, torna-se necessário escrever sobre como se deu esse movimento de

coleta das informações e objetivos estabelecidos para a investigação.

Ao acessar a plataforma virtual SisUAB, utilizando o mecanismo de busca

oferecido pela plataforma, foi possível localizar, a partir da procura por cursos de Química

na modalidade licenciatura, 25 cursos, dos quaisfoi possível acessar informações de 24,

conforme é apresentado na Figura 1:

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Figura 1 - Cursos de Química Licenciatura na modalidade EaD

Fonte: BRASIL (2012ª). Acesso em 28 nov. 2012.

Depois de identificados os cursos de formação de professores de Química, realizou-

se o acesso a cada um deles, com a intenção de mapear quais apresentavam polos ativos

(ofertando o curso) e quais continham no banco de informações da plataforma o PPC,

conforme o Quadro1:

Quadro 1 - Instituições presentes na Plataforma SisUAB

Instituição Apresenta PPC Nº de polos ativos

IFMA SIM 2

IFMT SIM 7

IFPA SIM 6

UECE SIM 2

UENF SIM 4

UEPB NÃO 0

UFAM SIM 0

UFC SIM 13

UFERSA NÃO 0

UFES SIM 6

UFJF SIM 5

UFMA SIM 4

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UFMG SIM 6

UFPA NÃO 0

UFPI SIM 12

UFRJ SIM 2

UFRN SIM 6

UFS SIM 9

UFSC SIM 0

UFT SIM 4

UFVJM SIM 5

UNEAL NÃO 0

UNEB SIM 15

UNIFAL-MG SIM 3 Fonte: Próprio autor

Assim constitui-se o campo empírico da pesquisa, com os PPC de dezoito cursos de

instituições com polos ativos, de acordo com o quadro a seguir:

Quadro 2 - Relação de instituições que apresentam o PPC e polos ativos

Nome da Instituição de Ensino Sigla

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão IFMA

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso IFMT

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará IFPA

Universidade Estadual do Ceará UECE

Universidade Estadual do Norte Fluminense UENF

Universidade Federal do Ceará UFC

Universidade Federal doEspírito Santo UFES

Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF

Universidade Federal do Maranhão UFMA

Universidade Federal de Minas Gerais UFMG

Universidade Federal do Piauí UFPI

Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ

Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN

Universidade Federal do Sergipe UFS

Universidade Federal do Tocantins UFT

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri FVJM

Universidade do Estado da Bahia UNEB

Universidade Federal de Alfenas UNIFAL-MG Fonte: Próprio autor

A partir do estabelecimento dos cursos que cumpriam a exigência para a análise, foi

construído um mapa com a distribuiçãodos cursos de Licenciatura em Química na

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modalidade EaD2 e seus respectivos estados, construindo, assim, a Figura 2, que mostra as

instituições das ofertas de cursos de Química Licenciatura nas respectivas cidades e

estados.

Figura 2 - Mapa do Brasil com as instituições pesquisadas nas cidades-sede que ofertam o curso de

Química Licenciatura, em seus respectivos estados

Fonte: Próprio autor

Ao realizar a análise exploratória das informações dos PPC selecionados, construiu-

se uma relação entre as instituições e seus respectivos polos, conforme o Quadro 3:

Quadro 3 - Relação instituição e polos descritos no PPC

Instituição Municípios com polos que ofertam o curso

IFMA São Luís, Dom Pedro, Caxias, São Bernardo, Santana, Vargem

Grande e na UNED de Buriticupu

IFMT Cuiabá, Barra do Bugres, Pontes e Lacerda, Juará, Ribeirão

Cascalheira, Primavera do Leste, Guarantã do Norte

IFPA Iracema, Normandia, Paragominas, São João da Baliza, São

Luiz do Anauá e Tucumã

UECE Mauriti e Oros

UENF Piraí, Paracambi e São Fidélis

UFC Aracati, Aracoiaba, Barbalha, Brejo Santo, Caucaia, Camocim,

2 Ferramenta Google Maps. Disponível pelo caminhohttps://maps.google.com.br/

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Campos Sales,Jaguaribe, Quiterianopoles, Quixeramombim,

Russas e São Gonçalo do Amarante

UFES Aracruz, Ecoporanga, Itapemirim, Iúna, Pinheiros e Vila Velha

UFJF Barroso, Cataguases, Ilicinea, Juiz de Fora e Sete Lagoas

UFMA Bom Jesus das Selvas, Grajaú e Pinheiro

UFMG Teófilo Otoni, Araçuaí, Montes Claros e Frutal

UFPI Parnaíba, Piripiri, Esperantina, Picos, Floriano, Bom Jesus, São

Raimundo Nonato, Corrente, Paulistana e Teresina

UFRJ Angra dos Reis e São Gonçalo

UFRN Caicó, Currais Novos, Macau, Nova Cruz e Santa Cruz.

UFS

Araua, Areia Branca, Brejo Grande, Estância, Japaratuba,

Lagarto, Laranjeiras, Nossa Senhora da Gloria, Poco Verde,

Porto da Folha, Própria e São Domingos

UFT Araguatins, Gurupi e Porto Nacional

UFVJM Águas Formosas, Nanuque, Padre Paraíso, Taiobeiras, Teófilo

Otoni e Turmalina

UNEB

Alagoinhas, Brumado, Conceição do Coite, Euclides da Cunha,

Feira de Santana, Ibotirama, Irece, Itaberaba, Lauro de Freitas,

Paulo Afonso, Remanso, Santo Estevão, Senhor do Bonfim,

Serrinha e Valença

UNIFAL-MG Campos Gerais, Santa Rita de Caldas, Bambuí e Bragança

Paulista Fonte: Próprio autor

A partir das informações evidenciadas no Quadro 3,foi construído o mapa para cada

uma das instituições e polos a elas vinculados, de modo a proporcionar a percepção não só

da dimensão em termos de distância entre a instituição e os polos, como também a aposta

na EaD em fornecer acesso à formação universitária a populações distantes dos centros de

formação presencial. Conforme as figuras 3, 4, 5 e 6, apresentadas a seguir:

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Figura 3 - Instituição e polos da Região Centro-Oeste

Fonte: Próprio autor

É possível, a partir da Figura 3, observar a oferta do curso de Química licenciatura a

distância na região Centro-Oeste, identificando a instituição que proporciona essa oferta e

os polos a ela vinculados.

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Figura 4 - Instituição e polos da Região Norte

Fonte: Próprio autor

A Figura 4 apresentou as ofertas existentes de cursos de Química licenciatura a

distância na Região Norte, destacando as duas instituições que realizam tal oferta e os polos

vinculados a ambas.

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Figura 5 - Instituição e polos da Região Nordeste

Fonte: Próprio autor

A Figura 5 evidenciou a localização das oito instituições e seus polos que ofertam

cursos de Química licenciatura a distância na Região Nordeste.

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Figura 6 - Instituição e polos da Região Sudeste

Fonte: Próprio autor

Foram apresentadas, na Figura 6, as sete instituições da Região Sudeste que

realizam a oferta de cursos de Química licenciatura a distância, dando ênfase também à

distância aproximada entre os polos e sua instituição-sede.

Ao analisar os PPC e as informações da plataformaSisUAB a respeito das

instituições e relacioná-las a suas respectivas regiões, para assim compreender como se

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encontra o acesso aos cursos de Química Licenciatura na modalidade a distância, geridos

pela plataforma SisUAB, foram obtidas as informações apresentadas abaixo no Quadro 4:

Quadro 4 - Relação de instituições, polos e vagas dos cursos de Química Licenciatura na modalidade

EaD vinculados à UAB por regiões brasileiras

Instituição

Nº de

polos por

instituição

Nº de

vagas por

instituição

Região

Nº de

instituições

por região

depolos

por

região

devagas

por

região

IFMT 7 350 Centro-Oeste 1 7 350

IFMA 7 175

Nordeste 8

66

2580

UECE 2 70

UFC 12 360

UFMA 3 75

UFPI 10 500

UFRN 5 300

UFS 12 600

UNEB 15 500

IFPA 6 300 Norte 2 9 390

UFT 3 90

UENF 3 90

Sudeste

7

30

1260

UFES 6 180

UFJF 5 150

UFMG 4 200

UFRJ 2 200

UFVJM 6 300

UNIFAL-MG 4 140 Fonte: Próprio autor

As informações apresentadas no Quadro 4 tornam evidente que das 4580 vagas

ofertadas nos cursos de Química Licenciatura na modalidade EaD, vinculados à UAB, das

dezoito instituições e dos 112 polos a elas vinculados, 56,3% dessa oferta está concentrada

na região Nordeste e 27,5% na região Sudeste.E, com apenas 16,2%, as demais regiões para

acesso a esses cursos no Brasil: 8,6% pertencem à região Norte e 7,6%,à região Centro-

Oeste. Como deixa evidente o Quadro 4, não há, para essa modalidade, cursos de

Licenciatura em Química na região Sul.

Tais informações apontam a necessidade de expansão da oferta de cursos de

Química Licenciatura na modalidade adistânciae do aumento e manutenção dos cursos nas

regiões já contempladas. A afirmação é reforçada por Diniz-Pereira (2011, p. 43), quando

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afirma que “há no Brasil um déficit de aproximadamente 250 mil professores de Química,

Física, Biologia e Matemática”. Destaca-se que dos dezoito cursos analisados, doze

(UENF, UFC, UFES, UFJF, UFMA, UFMG, UFPI, UFRN, UFS, UFT, UFVJM e UNEB)

habilitam seus egressos para atuarem como professores nas séries finais do Ensino

Fundamental e para o Ensino Médio;quatro (IFMA, IFMT, IFPA e UECE), para as séries

finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio eEnsino Técnico e dois (UFRJ e UNIFAL-

MG) somente para o Ensino Médio. Isso mostra o esforço do estado e das universidades

públicas para diminuir a carência de professores na disciplina de Química. Conforme o

fragmento do PPC da UFMA, há no Brasil a carência de “23,5 mil professores para a

disciplina de Química no ensino médio e aproximadamente 30,7 mil para a disciplina de

ciências no ensino fundamental”. (BRASIL, 2007b, p. 4)

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Capítulo III –ASPECTOS TEÓRICOS DA EXPERIMENTAÇÃO EM CIÊNCIAS

Neste capítulo, apresentam-se significados assumidos a partir de interlocuções

teóricas relativas à experimentação em Ciências. Inicialmente se expressa no estudo

aspectos interligados à etimologia e a conceitos filosóficos da palavra experiência, que

carrega significados e diferentes sentidos ao longo do tempo. No Ensino de Ciências, os

conceitos oriundos dos fenômenos naturais são objeto de ensino e aprendizagem. Esses

fenômenos são operados na Educação em Ciências, seja concretamente, seja em

explanações mais expositivas, embora se tenha, ao longo dos últimos duzentos anos,

defendido a intensificação da operação concreta do fenômeno em laboratório ou mesmo

fora dele.

O estudo do tema permitiu argumentaracerca da importância da experimentação

como um trabalho colaborativo, que oportuniza a indagação dialógica (WELLS, 2009), por

meio da operação de modelos manifestados pelos sujeitos sobre o fenômeno investigado.

Nesse sentido, propõe-se a criação de objetos aperfeiçoáveis mediados pela escrita, leitura e

diálogo, no e em coletivo, o qual favorece a imersão dos sujeitos nos discursos próprios da

linguagem das Ciências e, mais especialmente, da linguagem Química, quando o foco do

ensino for um curso de licenciatura em Química.

3.1 Exercício hermenêutico sobre a experiência

Nesta seção, a partir do estudo etimológico da palavra experiência3, é possível

compreender a existência de diferentes significados ao longo do tempo em que sua história

na linguagem, desde a Antiguidade, é construída. Experiência foi descrita por

PubliusVirgilius Maro (70 a.C.) como “prática, destreza”, publicada na obra Georgica;

Experientia que tem sua entrada no latim datada no século XV e definida por Marcus

Tulliaaus Cicero (43 a.C.) como “ciência experimental” e a palavra Experiri, da obra

Epistulae, de PubliusOvidiusNaso (43 a.C.) como “prova para conhecer a verdade”.

Derivações da palavra experiência, tais como experimento, têm sua origem em

Experimentum, termo definido como “ensaio, prova, tentativa”, a partir obra Epistulae, por

CaiusPliniusSecundus (113 d.C.). Interpretações como“acontecimento, resultado”, nas

3 EXPERIÊNCIA. In:CUNHA, Antônio Geraldoda.Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua

Portuguesa. 2ª ed., 1986.

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obras BelloCivillis e De BelloGalico, por Caius Julius Caesar (44 a.C.), assim como o

significado “ensaio, experiência”, na obra De InstitutioneOratoria, por Marcus

FabiusQuintilianus (95 d.C.).

A partir do estudo dessas evidências no dicionário etimológico de língua

portuguesa, pode-se registrar também que de 1813 a 1873, variantes da palavra experiência

são dicionarizadas, a exemplo de Experimentado, em 1813; Experiente, em 1844 e, em

1873, o foco da investigação desta dissertação, a palavra Experimentação.

Na busca por compreender a experiência em seu sentido filosófico4, encontram-se

sete principais acepções: Experiência como prática genérica; Experiência como prática

específica; Experiência cognoscitiva; Experiência acumulativa; Experiência gnosiológica

fenomenológica; Experiência sistemática e Experiência indutiva. No Quadro 5, apresentam-

se as definições acerca das acepções descritas acima.

Quadro 5 - Acepções à palavra experiência e suas descrições

Acepções para a

palavra experiência Descrição

Prática Genérica

Indica o conjunto de vivências que influíram no caráter e no

comportamento do indivíduo. Experiência como releitura da

vida de um determinado sujeito.

Prática Específica

Produto de repetidas experiências de um determinado tipo.

Profissional que acumulou conhecimentos de sua área pelo

exercício prolongado de sua função.

Cognoscitiva

Dá-se através de um acontecimento singular, ocasional ou

procurada deliberadamente (ex.: observação científica) ou

provocada para prova específica de uma afirmação (ex.:

experimentação). Experiência demonstrando que determinado

fenômeno ocorre a partir de determinados fatores.

Acumulativa

Envolve o acúmulo ou o volume de experiências no sentido da

experiência cognoscitiva de fatos de qualquer gênero,

conhecidos por sensação (empíricos). Relação da experiência

com o pensamento.

Gnosiológica

fenomenológica

Desenvolve-se a partir de uma elaboração cognoscitiva sobre

um dado anteriormente conhecido de um saber fundado na

experiência acumulativa. Saber de experiências feito e

conhecimento empírico.

4 EXPERIÊNCIA. In: LOGOS. Enciclopédia luso-brasileira de Filosofia. Lisboa: Verbo, 1990. v. 2.p. 405.

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Sistemática Sistematização e estruturação das experiências acumulativas.

Expressão “leis da experiência” e conhecimento científico.

Indutiva Momento indutivo em contraste com o silogismo. Indução é

conhecer por experiência.

Fonte: Próprio autor

Com base nos sentidos filosóficos atribuídos à palavra experiência, torna-se

necessário o diálogo a respeito do experiencialismo e sua relação com a palavra experiência

no contexto científico-filosófico. O experiencialismo é uma teoria-metodologia de

origemcientífico-filosófica, originada durante o renascimento português a partir da

dimensão experiencial, com o ideal de construção do conhecimento verdadeiro-objetivo e

que coloca a experiência como centro do processo, buscando o saber desde sua origem à

prova, com descrição da explicação dos fenômenos. Essa corrente de pensamento tem como

base duas propostas: o empirismo sensorial e o racionalismo crítico-experiencial. Tais

propostas se distinguem a partir do sentido semântico atribuído ao conceito de experiência.

No Quadro 6, apresenta-se a descrição desses sentidos.

Quadro 6 - Descrição dos sentidos atribuídos ao conceito de experiência

Empirismo sensorial Racionalismo crítico-experiencial

Vivência/ação individual de cada

ser humano

Observação quantitativa ou qualitativa,

repetida, comparada, pluripessoal e

transmissível com fundamentação

Acumulação informativa de dados

da realidade

Acumulação informativa de dados da

realidade que devem ser interrogados

criticamente por não constituírem em si

uma evidência/certeza, mas somente um

quadro fenomenal recolhido

Evidência a partir da observação Ação especializada do ser humano no seu

domínio do mundo/vida Fonte: Próprio autor

É possível perceber diferenças básicas entre o empirismo sensorial e o racionalismo

crítico-experiencial, tais como o empirismo sensorial colocar a existência/vida do sujeito

em primeiro lugar, enquanto no racionalismo crítico-experiencial há um conceito

observacional quantificado da experiência. Ainda que ambos abordem um conceito

informativo de experiência, para o empirismo sensorial, a experiência constitui uma

verdade absoluta, enquanto para o racionalismo, a experiência é somente um instrumento

de investigação racional. Cabe ressaltar que as proposições existentes na corrente do

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racionalismo crítico-experiencial não anulam o empírico-sensorial, mas tomam-no como

parte de seu processo. Como forma de ilustrar essa visão, apresenta-se, na Figura 7, um

esquema sobre as duas correntes do experiencialismo.

Figura 7 - Representação dos elementos constituintes do Racionalismo Experiencial e Empirismo

Sensorial

Fonte - Retirada de LOGOS. Enciclopédia luso-brasileira de Filosofia. Lisboa: Verbo, 1990. v. 2. p. 411.

A observação da natureza, relacionando os sentidos e a prática na compreensão

proposta pelo empirismo sensorial para a experiência é restrita, visto que o mesmo não

considera o papel da razão, do entendimento matemático com senso crítico e da visão

problemática para as evidências observadas, conforme é proposto no racionalismo

experiencial.

De encontro às apostas defendidas no racionalismo experiencial, estáa crítica de

Larrosa (2002, p. 9) à forma como a ciência moderna toma a experiência, tratando-a como

um “método da ciência objetiva, da ciência que se dá como tarefa a apropriação e o

domínio do mundo” e não como “saber que forma e transforma a vida dos homens em sua

singularidade”. No sentido de aproximar a experimentação ao significado de experiência

atribuído por Larrosa (2002, p. 2), como aquilo que “nos passa, o que nos acontece, o que

nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca”.

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Aproxima-se, assim, a experimentação investigativa ancorada na proposição de

Larrosa de tornar à experiência: aquilo que acontece a quem dela participa e não apenas um

conjunto de ações que demonstram e provam teorias estabelecidas.

Com base nos significados filosóficos apresentados, é possível perceber que o

conceito de experiência no campo científico-filosófico traz questões que permeiam o fazer

ciência e visões desse fazer ciência ainda na atualidade, que remetem o pensarà proposição

da experimentação investigativa em ação, apresentada a seguir.

3.2 A experimentação investigativa em ação

Pensar a palavra experiência e suas relações na construção de propostas para a

experimentação a partir dos significados científico-filosóficos discutidos, implica um olhar

atento à organização da experimentação enquanto investigação. Na escola envolve trabalhar

a partir de perguntas dos alunos e do professor sobre os fenômenos da natureza em estudo.

Defende-se quetais perguntas oportunizam a construção de objetos aperfeiçoáveis5, seja

para o fenômeno em estudo, seja para os demais processos de investigação envolvidos, o

que possibilita questionamentos e argumentos que podem levar a melhor compreender o

fenômeno e, com isso, aperfeiçoaro objeto produzido.

A experimentação investigativa que se propõe aposta na construção de uma sala de

aula que vise dar significado às palavras expressas pelo coletivo e que surgem no diálogo

intenso em torno e com o experimento, das linguagens e do discurso das Ciências. Para tal,

o grupo precisa ser constituído de sujeitos ativos, responsáveis e críticos, formando, assim,

um espaço de acontecimentos, aqui considerado como aquilo que acontece com o sujeito

que participa da atividade, aquilo que faz o sujeito perceber que aprendeu, o que passa ao

sujeito (LARROSSA, 2002).

De uma forma ampla, modelo é um esquema teórico que representa um fenômeno

ou conjunto de fenômenos complexos que permite compreender, explicar e prever. Nesse

processo, é que as previsões iniciais são colocadas em discussão, partindo do observável,

através de uma conversa desorganizada, de modo a gerar aprendizagens mais complexas

sobre o fenômeno da natureza em estudo.Tal proposição é desenvolvida a seguir,

considerando a articulação com o mundo dos estudantes e suas vivências, a importância do

5 Objeto aperfeiçoável – tradução livre do inglês para português de “improvableobject”, de Wells (2009, p.

289)

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38

registro para a indagação dos modelos e a mediação como ação transformadora.O processo

em foco é que favorece que a experimentação se torne um lugar de acontecimento.

3.2.1 A imersão na linguagem para compreender os fenômenos da natureza

O movimento construtivista de experimentação buscou a superação de

interpretações de senso comumdos fenômenos da natureza. Foram denominadas

de interpretações errôneas aquelas diferentes do modelo aceito pela ciência. Apesar das

contribuições importantes da epistemologia construtivista para a compreensão da

aprendizagem, a questão da substituição de interpretações diferentes das produzidas pela

ciência, pela experimentação, como estava inicialmente proposto, mostrou não acontecer

facilmente: é preciso tempo e imersão na linguagem para que a aprendizagem ocorra. Nessa

epistemologia é que surgem os conflitos cognitivos:

algumas vezes, quando o professor consegue propor uma “boa” questão, as

previsões, antecipações elaboradas pelos estudantes, a partir de seus esquemas

conceituais espontâneos ou baseados em outros referenciais, são contrariados

pelos resultados experimentais. Esses fatos podem criar conflitos cognitivos, isto

é, quando as ideias espontâneas dos alunos ou as explicações deles sobre

determinados fenômenos são colocados em conflito com o observável. É da

superação destes conflitos cognitivos que nascem as aprendizagens efetivas e as

demonstrações investigativas são as melhores atividades de ensino para que elas

apareçam, em forma de hipótese dos alunos, sendo discutidos e superados pela

visão da realidade do fenômeno. (CARVALHO, 2010, p. 65)

O modelo construtivista mostrou não dar conta da transformação a que se propunha.

Para além dele, as atividades experimentais envolvem os estudantes à medida que passam a

associar a observação com transformações de seu contexto ou que buscam explicações para

o que ocorre nos fenômenos em estudo. Segundo a mesma autora, é por meio de um

universo de percepções e significações que o indivíduo constrói e interpreta o mundo.

(idem, p.114); assim, não é a partir de uma explanação simples sobre um equívoco que um

sujeito substitui uma interpretação. É preciso um envolvimento intenso com discussão no

coletivo para potencializar transformações de interpretações.

Mjfad-Merino e Ferrero (2007) ajudam a pensar a experimentação investigativa

como proposição que leva a projetar e avaliar os objetos aperfeiçoáveis, a partir de

perguntas, das informações que emergem no coletivo sobre o fenômeno em estudo,

considerando e discutindo aspectos e possibilidades, apresentando propostas

fundamentadas com uma hipótese, decidindo sobre os objetos e as mudanças a serem feitas,

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39

analisando e discutindo os resultados, tirando conclusões e refletindo a partir do registro e,

com isso, favorecendo aprendizagens mais efetivas e duradouras.

A experimentação investigativa acontece por meio da indagação, com a tomada de

consciência de possíveis equívocos a partir de objetos aperfeiçoáveis, que permitem

produzir evidências e, com elas, argumentação favorável ou contrária ao modelo

explicitado pelos sujeitos em atividade investigativa. Os propositores podem avançar na

compreensão de um fenômeno pelo experimento ao operar, indagar, analisar evidências,

socializar e escrever, fazendo desse exercício uma prática investigativa. Embora autores

também defendam que o experimento enquanto recurso lúdico contribui de modo efetivo

para a aprendizagem, defende-se que é na interação, na conversa, na argumentação, no falar

sobre o modelo e sobre o fenômeno investigado, com imersão na linguagem como potência

para a aprendizagem.

3.2.2 A mediação por meio da indagação na experimentação investigativa

A experimentação investigativa no ensino de Ciências rompe com proposições de

ilustração baseadas na motivação e na comprovação das aulas teóricas, tão presentes em

modelos tradicionais de ensino de Ciências.Isso porque, nela, a escola é percebida como

espaço de aprender em relação à natureza da Ciência e suas atividades em um movimentar

de conhecimentos via desenvolvimento de processos investigativos.

Constitui um operar sobre o fenômeno que envolve os estudantes mais do que em

uma atividade demonstrativa, pois a mediação ocorre pela fala, pelo diálogo, pelo registro

escrito e pelo uso de outros artefatos culturais, em movimento de indagação em torno da

atividade experimental, em que o coletivo opera sobre e com o objeto

aperfeiçoável/experimento desenvolvido pelo e no coletivo. A maioria das questões

surgidas no grupo constitui mediação pedagógica do processo de ensinar e aprender no

coletivo, sobre diferentes temáticas, linguagens da área de Ciências, relações com o

contexto escolar e acadêmico, em torno do fenômeno da natureza, em diálogo investigativo.

O texto de Driver, Leach, Millar e Scott (1995, p.3, tradução do autor) contribui no

pensara respeito do papel da escola no ensino de Ciências, o qual

[...] é de contribuir efetivamente para a melhoria da compreensão pública da

ciência e, para isso, precisa promover a compreensão dos alunos sobre a atividade

científica em si, dos objetivos e propósitos do trabalho científico, e da natureza

do conhecimento que ela produz. Isso, para os autores torna a ciência em si o foco

de investigação, pois exigiria incluir uma apreciação dos propósitos da ciência, na

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40

busca de explicações sobre os acontecimentos do mundo natural, e das maneiras

em que a ciência funciona como uma instituição social e interage com a cultura

mais ampla, bem como a compreensão da natureza e estado do conhecimento

científico. Este é o conhecimento sobre ciência, em oposição ao conhecimento

científico.

Assim é que a mediação é entendida como processo de promoção da aprendizagem:

[...] não pode ser caracterizada nem pela aprendizagem dos conteúdos, nem pela

aprendizagem dos processos, mas pela sua interação dinâmica em situações de

aprendizagem que possibilitem aos alunos mobilizar os seus saberes conceituais e

processuais no desenvolvimento de processos investigativos e, deste modo,

construírem e reconstruírem contínua e progressivamente a sua compreensão do

mundo. (ALMEIDA, 2001. p. 54)

A mediação na experimentação investigativa constitui-se complexa e desafiadora,

por estarmos imersos em uma cultura acadêmica e escolar no Ensino de Ciências, que se

apoia muitas vezes na resolução de exercícios sem umadiscussão conceituala respeito do

que seja Ciências.

Na experimentação investigativa, é no operar imerso na linguagem, considerando

sua componente social e interativa, que consiste a ação do aprender a partir do outro. E isso

inclui operar no fenômeno investigado com o outro na conversa, a provocar indagações a

partir do que se sabe e, ao mesmo tempo, produzir e provocar inferências, conexões e

interconexões que levam ao raciocínio e à aprendizagem de conceitos num processo

ampliado de compreensões mais complexas do que as iniciais.

Wells (1999, p. 23) aposta na potência da previsão como modo de colocar em

movimento a experimentação investigativa, pois ao fazer uma previsão em torno do

experimento, o sujeito se concentra “num tipo de teorização”, analisa suas “próprias

crenças sobre o fenômeno” envolvido no processo investigativo e as “relaciona com

qualquer outro conhecimento que possui”, o qual considera importante para os possíveis

resultados. Os processos de raciocínio que levam os sujeitos a fazerem previsões são tão

importantesquanto as próprias previsões, pois potencializam processos de transformação da

argumentação, pelo conflito cognitivo, imersão na linguagem, comparação das formas de

explicar do outro e, por muitas vezes, os dados empíricos do experimento refutarem o

modelo inicial.

Aprender Ciências exige aprender o discurso das Ciências e, por isso, a

experimentação precisa promover essas diferentes linguagens da ciência,de que constitui

exemploa expressão dos resultados por produção de tabelas, gráficos, equações, entre

outros. Se a previsão é um artefato a promover a mediação na cooperação, também os

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objetos de visualização dos modelos oportunizam representações gráficas na Educação em

Ciências, permitindo aos sujeitos processar de forma mais eficiente, organizar os conceitos-

chave e as informações necessárias para gerar inferências, conexões e interconexões na

resolução de problemas emergentes da indagação dos experimentos. Lemke (2006, p. 8)

nos leva a reconhecer

a importância da linguagem como meio de raciocínio primário e da conceituação

nas Ciências, como também de ajuda aos estudantes a pensar de forma mais

eficaz sobre assuntos científicos e tecnológicos de forma quantitativa, utilizando

tanto ferramentas algébricas, como exemplos numéricos.

Diferentes linguagens e artefatos na Educação em Ciências são potência aos sujeitos

para o operar investigativo de um fenômeno pela manifestação de uma pergunta

relacionada a ele. Nesse sentido, as tabelas e os gráficos são expressões de uma linguagem

que mede; por isso, a experimentação precisa ser ampliada com a habilidade de operar em

diferentes linguagens. Uma experimentação tem teorias que a explicam, mas também

metodologias que expressam o compromisso do professor, seja no desenvolvimento de um

conceito a partir de uma abordagem mais clássica,sejana aprendizagem de diversos

conteúdos e discursos, em uma compreensão mais contemporânea.

A indagação dos modelos explicitados é um princípio no desenvolvimento da

experimentação investigativa, e acontece por meio do diálogo intenso e desordenado na

sala de aula sobre o experimento, nas diferentes linguagens das Ciências, o que exige

diálogo crítico, escuta atenta ao outro e acolhimento. Assim, um coletivo com projeto

investigativo de experimentação pode partir de objetos aperfeiçoáveis, que permitem

produzir evidências e, com elas, argumentação,as quais levam a indagar o modelo inicial e

modelar novamente o fenômeno, produzindo, assim, um modelo mais complexo. Nesse

operar com o modelo é que se constitui a modelagem (JUSTI, 2010). Uma forma de superar

o caráter ilustrativo de conhecimentos teóricos, sendo a indagação e a reflexão que alguém

exerce sobre um conteúdo, fruto de um ato, ou sobre o próprio ato, para agir melhor, com

os demais na realidade.

Com isso, se reconhece como uma das potências da experimentação investigativa a

sua capacidade no transformar os sujeitos envolvidos, ao modificar, (re)construir

representações sobre a realidade em que se encontram situados os sujeitos que a

desenvolvem quando da investigação de um fenômeno, estando o diálogo, a escrita e a

operação sobre o objeto aperfeiçoável permeando este espaço.

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3.2.3 O diálogo, o registro e a teoria no operar o objeto aperfeiçoável

A experimentação investigativa, a partir de uma pergunta inicial, mesmo que

implícita, gera um objeto aperfeiçoável e, a partir dele, registros do processo e de

aprendizagens em diferentes linguagens. Para todo o operar existe um modelo que, no

coletivo, na conversa, pode ser discutido, indagado e ressignificado. Assim, são

fundamentais os seguintes artefatos culturais: diálogo, registro e busca por interlocutores

teóricos, a fim de indagar esses modelos, produzindo outros mais embasados teoricamente.

Nesse contexto, a experimentação é um discurso das Ciências em que são construídos

modelos da realidade investigada, diferenciando o fenômeno dos conceitos que o explicam.

O registro em diferentes modos, fotografias, filmes e escritas sobre o que acontece aos

sujeitos na experimentação investigativa favorece a indagação e contribui para a construção

de outras aprendizagens.

Uma experimentação investigativa é aquela que tem uma perguntaa guiar as ações e

geradorado objeto aperfeiçoável, colocando à prova os modelos sobre um fenômeno da

natureza. Esses conhecimentos expressos nos modelos constituem o foco da mediação por

artefatos e instrumentos. Nenhum experimento por si só é suficiente para a construção e a

ressignificação de modelos. Ao modelar no coletivo, com interação dialógica entre os

participantes, oportuniza-se a elaboração de um modelo mais consistente e, com isso,

constitui-se a experiência em seu sentido filosófico para os envolvidos.

Objeto aperfeiçoável está aqui sendo considerado como estratégia didática no

âmbito da EaD,onde é produzido um artefato/experimento que oportuniza a obtenção de

dados empíricos, evidências, para expressar modelos sobre determinado fenômeno da

natureza, orientando o processo da aula e sendo mediado no coletivo de sujeitos

aprendentes.

Afirma-se que isso acontece quando os alunos e o professor atuam juntos e em

grupo na linguagem não só oral, para compreender e operar sobre um fenômeno, mas ao

relacionar teoria e prática com o experimento proposto, processo de construir modelos que

modificam o referido experimento. Solicitar aos estudantes explicações para os fenômenos

observados num experimento é um meio de envolvê-los e, de certa forma, de explicitar o

conhecimento que possuem sobre o fenômeno. A experimentação proporciona investigação

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a partir do momento em que se questiona o que acontece e por que acontece, promovendo a

busca de explicações para o fenômeno.

Mesmo a demonstração investigativa sendo diferente da proposição da

experimentação investigativa, que exige o operar em seu experimento, ambas ideias se

aproximam, pois tanto a demonstração investigativa quanto a experimentação investigativa

devem “apresentar não só o fenômeno em si, mas criar oportunidade para a construção

científica de um dado conceito ligado a esse fenômeno e esse deve ser o primeiro cuidado

que temos que tomar quando preparamos uma demonstração investigativa: estar consciente

da epistemologia das Ciências e saber diferenciar entre um fenômeno e o(s) conceito(s) que

o envolve(m)” (CARVALHO, 2010, p.64).

Para Hofstein e Lunetta (2003), as explicações referentesaos fenômenos da natureza,

próprios do estudo na educação em Ciências e, em seguida, as justificativas das

explicações, com os dados recolhidos nas investigações dentro e fora das paredes da sala de

aula de Ciências são consideradas cada vez mais elementos importantes da aprendizagem

da ciência no contexto escolar.

Nesse sentido, durante a experimentação é necessário atenção e registro aos

comentários e perguntas dos estudantes, pois é nesse momento que os estudantes explicitam

o conhecimento sobre determinado tema. A experimentação investigativa envolve a

indagação dos objetos aperfeiçoáveis no coletivo de estudantes. Para tanto, o grupo

constrói, desenvolve, modela, opera com artefatos/instrumentos, em busca de evidências,

interlocutores e argumentos. A experimentação investigativa é processo de colocar-se no

movimento de transformação de pensamentos, sentimentos e ações, de (re) significar a

natureza das Ciências e o ensino de Ciências.

A experimentação investigativa que se propõe acontece pelo intercâmbio de

significados iniciais, entre sujeitos envolvidos na investigação de fenômeno da natureza.

Momento de expressar conhecimentos iniciais, indicativos importantes para as estratégias a

serem assumidas no processo investigativo, ponto de partida, de aventurar-se, de ser

“pirata”, pois ainda não se sabem nem os caminhos a seguir nem os resultados a encontrar.

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Capítulo IV – METODOLOGIA

Neste capítulo será apresentado o caminho metodológico da pesquisa, assumindo a

investigação a partir dos pressupostos da análise qualitativo-fenomenológica de projeto

pedagógico (BICUDO, 2011) para a produção textual do material empírico, articulado à

metodologia Análise Textual Discursiva – ATD (MORAES e GALIAZZI, 2011) para a

análise das informações produzidas. A referida metodologia oportuniza a construção de

outras compreensões sobre os fenômenos investigados, produzindo, assim, a compreensão

sobre como está articulada a experimentação nas ações propostas nos PPC de Licenciaturas

em Química na EaD, geridos pela plataforma SisUAB.

4.1 Constituição do objeto de análise

Nesta seção, apresenta-se a constituição do objeto de análise do presente estudo, a

partir de pressupostos da pesquisa qualitativa. Uma pesquisa do campo qualitativo tem na

produção textual o seu material empírico; portanto, "[...] parte da noção da construção

social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos participantes [...]"

(FLICK, 2009, p. 16). Assume-se nessa investigação a análise qualitativo-fenomenológica

de projeto pedagógico proposta (BICUDO, 2011) que, conforme a autora, “visa a uma

análise abrangente, que fique atenta às articulações possíveis de serem feitas pela

compreensão do que está sendo dito no documento”. Para isso, propõe-se que o

investigador realize de forma atenta a leitura dos textos, escutando o que está sendo dito

pelos mesmos, a fim de evitar o apriorismo de verdades definidas pelo pesquisador.

Inicialmente, faz-se necessário descrever a estrutura de um PPC de um curso de

Licenciatura. Nesse sentido,observa-se que a elaboração de PPC para cursos de

Licenciatura em Química na modalidade a distância tem por orientação as Diretrizes

Curriculares para cursos de Química, bacharelado e licenciatura plena – DCQ. Conforme

Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior 8, de 11 de

março de 2002 (BRASIL, 2002), Artigo 2º, os projetos pedagógicos de formação

profissional a serem formulados pelo curso de Química deverão explicitar:

I - o perfil dos formandos nas modalidades bacharelado e licenciatura;

II - as competências e habilidades – gerais e específicas a serem desenvolvidas;

III - a estrutura do curso;

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IV - os conteúdos básicos e complementares e respectivos núcleos;

V - os conteúdos definidos para a Educação Básica, no caso das licenciaturas;

VI - o formato dos estágios;

VII - as características das atividades complementares; e

VIII - as formas de avaliação.

Atendendo demandas propostas pelas DCQ, os PPC apresentam em sua proposta

uma formação que possibilite ao licenciado em Química ter formação generalista, mas

sólida e abrangente em conteúdos dos diversos campos da Química, preparação adequada à

aplicação pedagógica do conhecimento e experiências de Química e de áreas afins na

atuação profissional como educador na educação fundamental e média. Os PPC também

deverão atender a outras demandas presentes nas diretrizes, com relação à formação

pessoal; à compreensão da Química; à busca de informação, comunicação e expressão; ao

ensino de Química e à profissão proposta. As diretrizes também norteiam aos cursos quanto

a sua estrutura geral (módulos semestrais, anuais ou híbridos) e tópicos referentes aos

conteúdos curriculares, apresentando proposições para conteúdos básicos, conteúdos

específicos, estágios e atividades complementares, que deverão permear os cursos de

Química.

A partir de uma leitura exploratória dos PPC dos cursos de Licenciatura em

Química na modalidade EaD, selecionaram-se Unidades de Significado de dezoito PPC das

licenciaturas, entendidas como passagens significativas dos PPC sobre o tema que se busca

compreender: a experimentação. Isso foi feito, definindo-se palavras-chave do contexto da

experimentação na pesquisa dos documentos com o auxílio do buscador de palavras,

ferramenta disponível em programas de leitura de arquivos. Realizou-se, assim, a leitura

dos parágrafos que se apresentavam, de modo a identificar o local e o contexto de tais

palavras, a fim de compreender se as palavras localizadas eram pertinentes ao que a

investigação propunha, retirando-as dos PPC e colocando-as em planilha eletrônica como

Unidades de Significado.

Utilizou-se, paratal movimento, palavras-chave como: experi para contemplar na

ferramenta de busca localizar-se as palavras experimental(is), experimento(s),

experiência(s) e experimentação(ões); prática para contemplar nos textos as palavras

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atividade(s) prática(s) e aula(s) prática(s); laboratório para localizar atividade(s) de

laboratório(s) e prática(s) de laboratório(s), conforme exemplo no Quadro 7:

Quadro 7 – Recorte das unidades de significados retiradas a partir dos PPC das instituições com

descrição do seu local no PPC

Instituição Local no PPC (Capítulo,

Ementa, Subitem, Página) Unidade de significado

IFMT

CAPÍTULO - Sistema de

Orientação e Acompanhamento do Aluno

(pág. 131)

Os momentos presenciais serão organizados nos polos de apoio presencial onde a licenciatura será ofertada. Os alunos participarão de atividades programadas

de acordo com os objetivos do curso: plantões pedagógicos, aulas práticas de

laboratório, videoconferências, trabalhos de campo, fóruns de discussão e

avaliações da aprendizagem.

UFT

CAPÍTULO - Instalações e

Equipamentos - SUBITEM -

Laboratórios e instalações (pág. 83)

Serão utilizados laboratórios e equipamentos disponíveis nas UNOs da UFT.

As aulas práticas dos cursos serão ofertadas obrigatoriamente nas mesmas,

localizados nos municípios de Araguatins, Gurupi e Porto Nacional, de modo a aproveitar os recursos materiais e humanos existentes.

UFT CAPÍTULO - Instalações e

Equipamentos - SUBITEM -

Recursos audiovisuais (pág. 86)

Dentre os meios e recursos didáticos possíveis, se planeja utilizar basicamente (...) Kits de laboratório de Química, disponibilizados nos polos para serem

manuseados pelos alunos acompanhados do tutor.

Fonte: Próprio autor

Desse movimento, resultaram 315 Unidades de Significado, estando 162 nos

diferentes capítulos dos PPC, 150 unidades situadas em ementas das disciplinas descritas

nos documentos e três unidades presentes em anexos incorporados aos PPC das

instituições, conforme o Quadro 8:

Quadro 8 - Relação de Unidades de Significado por local no PPC de cada instituição

Instituição Capítulo do PPC Ementas de disciplinas Anexos

IFMT 7 1 0

IFMA 16 1 0

UECE 5 4 0

UFC 10 27 0

UFMA 5 6 0

UFPI 6 2 0

UFRN 6 5 0

UFS 12 13 3

UNEB 14 14 0

IFPA 12 12 0

UFT 13 13 0

UENF 10 10 0

UFES 8 8 0

UFJF 6 6 0

UFMG 19 19 0

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UFRJ 5 5 0

UFVJM 4 4 0

UNIFAL-MG 4 4 0 Fonte: Próprio autor

Com base nas informações apresentadas no quadro anterior, compreende-se essas

Unidades de Significado como “passagens significativas do texto que respondem às

perguntas a ele dirigidas, para assim, proceder-se com a análise hermenêutica, como um

enxerto ao procedimento fenomenológico” (BICUDO, 2011). Entende-se que essas

unidades comportam intenções, sobretudo, modos para desenvolvimento da formação

proposta pelos cursos.

4.2 Análise Textual Discursiva

Apresenta-se nesta seção a estrutura da análise a partir da ATD das Unidades de

Significado selecionadas nos PPC das Licenciaturas em Química na EaD. A Análise

Textual Discursiva desenvolve seu corpus de análise através de uma interpretação da

natureza qualitativa, com o intuito de construir compreensões acerca das informações

pesquisadas.

Essa construção possibilita complexificar argumentos em torno do tema pesquisado

ao inicialmente criar palavras-chave e títulos para as Unidades de Significado. Desse

conjunto, resultaram 315 títulos para as unidades, sendo construídas vinte categorias

intermediárias, produzidas a partir de aproximações entre os significados que os títulos das

unidades expressavam.

O Quadro 9 exemplifica quatro Unidades de Significado presentes na tabela de

análise da planilha eletrônica, apresentando nessa organização a instituição de origem do

PPC, utilizando-se a sigla da referida instituição; o local de onde a unidade foi retirada no

PPC, indicando o capítulo, se era ementa de disciplina, se possuía subitem no capítulo e a

página em questão; a Unidade de Significado, retirada integralmente dos PPC, de modo a

possibilitar a sua descrição do escrito sobre o tema em questão; palavras-chave, construídas

a partir dos significados presentes nas unidades; o título, construído para a Unidade de

Significado, com a intenção de interpretá-la e descrevê-la; e o código da categoria

intermediária, o qual apresenta letras que foram estabelecidas ao realizar aproximações com

as Unidades de Significado semelhantes.

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Quadro 9 - Recorte das Unidades de Significado e codificações da planilha

Instituição

Local no PPC

(Capítulo, Ementa,

Página)

Unidade de significado Palavras chave Título

Código da

categoria

Intermediária

UFPI

Ementa da disciplina

Química Geral

Experimental (pág. 25)

Normas de segurança, Técnicas

Elementares de Laboratórios, Construção

de Gráficos. Soluções: unidades de

Concentração. Velocidade de Reações.

Ligações Químicas. Práticas de

laboratório.

Normas de

segurança, técnicas

e práticas de

laboratório,

ligações químicas,

construção de

gráficos.

O trabalho em

laboratório para

discussão sobre ligações

químicas utiliza de

técnicas e práticas com

construção de gráficos.

A

UFC

CAPÍTULO - Projeto

pedagógico do Curso -

SUBITEM -

Fundamentação e

objetivos (pág. 25)

Esta proposta curricular foi norteada

também pelas competências e habilidades

requeridas para um professor na área da

Química. Assim, espera-se que os sujeitos

demonstrem [...] Possuir conhecimento

sólido e abrangente na área de atuação,

com domínio das técnicas básicas de

utilização de laboratórios, bem como dos

procedimentos necessários de primeiros

socorros, nos casos dos acidentes mais

comuns em laboratórios de Química.

Proposta curricular,

competências,

habilidades,

professor de

Química,

conhecimento

sólido, domínio de

técnicas de

laboratório,

primeiros socorros,

laboratório de

Química.

A proposta curricular no

desenvolvimento de

competências e

habilidades para o

professor de Química

envolve a construção de

um conhecimento sólido

articulado ao domínio de

técnicas de laboratório e

primeiros socorros.

B

UFJF

CAPÍTULO -

Fundamentos e objetivos

(pág. 4)

Nesse sentido, o currículo é compreendido

não como uma compilação de conteúdos

mais ou menos subordinados, mas como

uma construção interativa entre atividades

práticas presenciais em laboratório, nas

práticas pedagógicas, nas diversas

atividades de estágios supervisionados,

nas atividades didáticas específicas para as

práticas de ensino e nas atividades de

pesquisa inerentes à construção do

conhecimento.

Currículo,

construção

interativa,

atividades práticas

presenciais em

laboratório,

construção do

conhecimento.

O currículo como

construção interativa que

promova atividades

práticas presenciais em

laboratório para a

construção do

conhecimento.

B

UFJF

CAPÍTULO - Proposta

Metodológica -

SUBITEM - Estratégias

de Desenvolvimento da

Aprendizagem -

Comunicação entre

alunos, tutores e

professores ao longo do

curso (pág. 23)

Os momentos presenciais serão

organizados nos Centros de Apoio a

Distância dos Polos. Os alunos

participarão de atividades programadas de

acordo com os objetivos do Curso:

plantões pedagógicos, aulas práticas de

laboratório, videoconferências, trabalhos

de campo, fóruns de discussão e

avaliações da aprendizagem.

Momentos

presenciais, Centro

de Apoio a

distância dos Polos,

participação dos

alunos, aulas

práticas de

laboratório.

A importância da

participação dos alunos

em momentos

presenciais nos Centros

de Apoio para realização

de aulas práticas de

laboratório.

C

Fonte: Próprio autor

O uso da planilha eletrônica possibilitou organização, comparação e modificação de

categorias para as Unidades de Significado, servindo como potência na construção

recursiva da escrita nesse conjunto de informações analisadas. Nesse sentido, as

categorizações intermediárias e finais das Unidades de Significado fazem parte de um

movimento investigativo para a construção de argumentos a serem defendidos no metatexto

resultante, no qual expressa compreensõesrelativas ao conjunto de informações emergentes

da análise. A partir de Marques (2008), entende-se o metatexto como princípio de pesquisa

em conjunto com diferentes interlocutores no sentido da ampliação dascompreensões

referentes às informações sobre o ambiente investigado.

Moraes e Galiazzi (2011) descrevem o processo de produção do metatexto em

conjunto com a unitarização e a categorização, como estrutura básica da produção textual a

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ser desenvolvida. O que indica um mergulho hermenêutico no estabelecimento de

diferentes sentidos e significados para as informações presentes nos PPC investigados.

No Quadro 10, são apresentadas as categorias intermediárias com seus códigos para

identificação das Unidades de Significado correspondentes e o código das categorias finais.

Essas últimas produzidas a partir da descrição-síntese das categorias intermediárias. O

referido movimento demonstra a construção das categorias, situando o modo como se dá a

organização das informações, na busca por compreender o fenômeno da experimentação

nos PPC das Licenciaturas em Química na EaD investigadas. Nesse sentido, buscou-se

descrever o modo como as Unidades de Significado estão articuladas às categorias

intermediárias no contexto da pesquisa.

Quadro 10 - Título das categorias intermediárias e códigos interligados ao código das categorias finais

Código

da C.I. Título da categoria intermediária

Código

da C.F.

A A dimensão experimental da Química envolve trabalho no laboratório com o uso da literatura científica para a transposição didática do conhecimento.

1

H O caráter teórico-experimental do Curso de licenciatura em Química envolve investigações de atividades

práticas que possibilitem a transposição didática de conteúdos. 1

I Uma abordagem integradora para aprendizagem em Ciências da Natureza requer metodologias científicas com

atividades práticas para se realizar observações experimentais. 1

L

A elaboração de cursos de Química na Educação a Distância envolve pensar a construção de conhecimentos

básicos a partir de conteúdos curriculares teóricos e atividades experimentais que relacionem os fenômenos

químicos com o cotidiano do aluno, tornando-o ator ou observador nessa construção.

1

J

As Diretrizes Curriculares para licenciaturas em Química defendem, a partir de atividades experimentais e

teóricas presenciais e semipresenciais, a formação de um Educador com conhecimento de Química capaz de

utilizar laboratórios didáticos.

1

K A formação de professores em Química a partir das Diretrizes Curriculares, busca desenvolver a compreensão e

o domínio de técnicas básicas de laboratório com planejamento e construção de materiais didáticos. 1

P Os Decretos Nº 5.622/2005 e Nº 6.303/2007 determinam a obrigatoriedade de atividades presenciais como

atividades de laboratório, estágio supervisionado e avaliações. 1

O

Os Centros de Apoio aos polos da Educação a Distância possibilitam momentos presenciais para orientação a

partir de tutorias individualizadas ou em grupo, bem como o desenvolvimento de atividades práticas de laboratório.

1

T A parceria entre escolas municipais e estaduais com a universidade para a realização de aulas práticas, pesquisa, extensão e estágios conta com a UAB e FINEP para fornecimento de recursos no desenvolvimento de

laboratórios didáticos.

1

B O currículo para a Educação em Química a Distância envolve o desenvolvimento de competências, habilidades, técnicas de laboratório e primeiros-socorros.

2

Q O processo de ensino/aprendizagem possibilita integrar professor e aluno em metodologias de experimentos técnico-científicos e desenvolvimento de projetos para estágios supervisionados.

2

R O uso de recursos didáticos, como a experimentação, possibilita ao licenciando em Química desenvolver

competências pedagógicas para discutir conteúdos básicos da Química na Educação Fundamental e Média. 2

E A Educação em Ciências Naturais, ao integrar a teoria e a prática para promover a transposição didática de conceitos de Química, utiliza a experimentação pedagógica para respeitar a realidade da escola.

2

G A transposição didática de conteúdos de Química para a Educação Básica envolve adaptar práticas de

laboratório e desenvolver métodos experimentais alternativos de baixo custo com materiais do cotidiano. 2

M A experimentação nos laboratórios dos polos com o uso de kits experimentais possibilita a comunicação entre

aluno e tutor para a formação de conceitos da Química. 2

S A substituição de atividades experimentais em Laboratórios de Química dos polos de apoio presenciais pode

acontecer a partir do uso de materiais alternativos como simulações em laboratório de informática. 2

C Nos polos, as disciplinas experimentais contam com a orientação de tutores para a utilização de recursos didáticos.

3

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D O tutor em encontros presenciais, como práticas de laboratório e processos avaliativos, é o orientador

responsável pela integração entre teoria e prática. 3

F

O trabalho entre coordenadores, professor especialista e tutores para a construção do conhecimento envolve o

planejamento de atividades didáticas individuais e em grupo, para a resolução de problemas experimentais e

domínio de técnicas de laboratório.

3

N No Ensino de Química, a avaliação ocorre em momentos a distância e presenciais, mediada por tutores,

coordenação local e geral. 3

Fonte: Próprio autor

Apresenta-se, no Quadro 11, os títulos provisórios das categorias finais, emergentes

do processo de ATD das categorias intermediárias.

Quadro 11 - Título das categorias finais com seus respectivos códigos

Código

da C. F. Título provisório da categoria final

1

A obrigatoriedade do laboratório presencial determinada pelas Diretrizes

Curriculares para licenciaturas em Química na Educação a Distância exige a

formação de parcerias.

2

O currículo na Educação em Química a Distância promove processos de

ensino/aprendizagem que desenvolvam competências pedagógicas através da

experimentação para a formação de conceitos da Química.

3 No Ensino de Química na Educação a Distância é necessária a mediação de

diferentes atores do processo. Fonte: Próprio autor

A partir das descrições-síntese das vinte categorias intermediárias, construíram-se

três categorias finais para a pesquisa. Essas categorias emergem da Análise Textual

Discursiva como argumentos que compõem o metatexto no Capítulo V, dando origem ao

argumento aglutinador a ser defendido na pesquisa.

No caminho metodológico, a análise das informações relativas à experimentação

descrita nos PPC das licenciaturas em Química propõe a interconexão entre as categorias

intermediáriase as finais e, com isso, na presente pesquisa, surge a interlocução entre a

exigência do laboratório presencial para cursos de Química na EaD, a presença da

experimentação online6 no currículo desses cursos e as questões referentes à infraestrutura e

à necessidade de mediação para o Ensino de Química na modalidade em foco, exigindo,

assim, processos de formação continuada específicos para a modalidade EaD.

6Online está no sentido de diferenciar a mediação da aprendizagem a partir da web 2.0; envolve o coletivo em

formação, com relações horizontais abertas à colaboração e à coautoria. Adaptado de Silva (2012, p. 89).

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Capítulo V – A EXPERIMENTAÇÃO NAS LICENCIATURAS EM QUÍMICA NA

EaD

Neste capítulo, apresenta-se a análise das informações produzidasem relação à

temática da experimentação nas licenciaturas em Química na EaD. As compreensões

expressas acontecem em uma abordagem qualitativa,na qual são construídos significadosdo

tema interligados à análise dos Projetos Pedagógicos de Curso, investigação proposta nesta

pesquisa. Abrange interlocuções descritivas articuladas a aspectos empíricos dos PPC de

licenciatura em Química na modalidade de Educação a Distância, vinculados à plataforma

SisUAB.

As informações expressas nos PPC, interconexas às interlocuções teóricas e à

escrita sobre o tema possibilitam a construção do argumento central da pesquisa.

Compreende-se que a experimentação nas licenciaturas em Química na EaD abrange

necessariamente a mediação de diferentes sujeitos na formação e o estabelecimento de

parcerias entre a universidade e a rede de Educação Básica.

Significa, ao longo da análise, que o currículo na Educação em Química a Distância

propõe processos de ensino/aprendizagem que desenvolvam competências pedagógicas

através da experimentação em laboratório presencial, obrigatório a partir de decretos que

dispõem sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições

de educação superior e cursos superiores de graduação.

5.1 Química na EaD exige o laboratório presencial e o estabelecimento de

parcerias

Nesta seção, são apresentadas interlocuções com os PPC em relação à

obrigatoriedade de atividades presenciais na legislação e à necessidade de construir

parcerias entre a universidadee a rede de Educação Básica para o atendimento de demandas

existentes nos documentos oficiais que regulamentam os cursos. O desafio que se apresenta

aos sujeitos envolvidos nos cursos de Química na EaD se interligaao pensar em como

desenvolver as atividades da experimentação frente à exigência do laboratório presencial,

associado ao cenário investigativo, recente no Brasil, do desenvolvimento da Educação

Química com artefatos/ferramentas via web.

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De acordo com Heckler (2014), a formação de professores na área de Ciências

aponta para um campo investigativo recente na linha de formação de professores de

Ciências no ensino a distância. O autor destaca quetal cenário foi ampliado

significativamente a partir de 2005, com a criação do sistema UAB, em rede de parcerias

entre instituições públicas de ensino, de pesquisa e de extensão, órgãos de fomento e de

regulamentação e municípios, especialmente pelo cumprimento de exigências de

infraestrutura em polos municipais. Nesse contexto, faz-se necessário desenvolver

compressõesrelativas à estruturação exigida para o funcionamento dos cursos de Química,

no que concerne aos aspectos do funcionamento e à proposição das atividades pedagógicas.

Observam-se, ao longo dos diferentes PPC analisados, aspectos que mostram sua

vinculação com o cumprimento de exigências legais, postas nos decretos oficiais. Esses

decretos oficiais, em consonância com exigências descritas nas DCQ, obrigam que cursos

na modalidade de Educação a Distância realizem atividades presenciais, conforme

apresentado pelo Instituto Federal do Maranhão (IFMA):

“[...] o Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, dispõe sobre a estruturação

formal do projeto para fins de EAD. No seu texto, podemos observar [...]

descrição das atividades presenciais obrigatórias, tais como estágios curriculares,

defesa presencial de trabalho de conclusão de curso e das atividades em

laboratórios científicos, bem como o sistema de controle de freqüência dos

estudantes nessas atividades, quando for o caso. (BRASIL, 2007a, p. 10)

Nesse sentido, ao buscar-se interlocuções teóricasem relação à construção histórica

internacional dessa modalidade e suas possíveis influências sobre a estruturação dos

documentos oficiais que atualmente regem a EaD no Brasil, cabe destacar a criação da

Open University,na década de 70, como marco de democratização do acesso ao Ensino

Superior, à pesquisa e ao acesso à educação científica. Junto a isso, o desenvolvimento de

Tecnologias de Informação – TIC com as contribuições mais expressivas à experimentação

na EaD, nos últimos quarenta anos, produziu significativas modificações na forma de se

desenvolver ciência, no que tange a aspectos metodológicos do ensino e da organização da

comunidade científica (FREITAS, 2002). O fazer ciência por meio de atividades teórico-

práticas consolidou profundas mudanças nas últimas décadas, possibilitando aos sujeitos,

através das TIC, o acesso a experimentos remotos, para desenvolver experimentos

colaborativos; compartilhar dados; acessar às bibliotecas digitais e realizar comunicações

de resultados (SCANLON, 2002, p. 84).

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Em vista das mudanças no que se refere ao “fazer ciência” no contexto global,

documentos oficiais brasileiros, tais como o Decreto Nº 5.622/2005 e o Decreto Nº

6.303/2007, surgem nas descrições dos PPC analisados, em defesa da obrigatoriedade de

organização de atividades presenciais em laboratório científico na sede da instituição ou

nos polos presenciais credenciados, utilizando finais de semana e períodos de férias para

desenvolver esses momentos presenciais. Referente atal possibilidade, o PPC da

Universidade Federal do Tocantins apresenta que:

Os momentos presenciais serão utilizados para apresentação de conteúdos,

atividades práticas, tais como laboratório, prática de ensino, estágio

supervisionado, práticas de grupo e avaliações. Corresponderão cerca de 30% da

carga horária do curso e serão realizados na UNO e no pólo em datas pré-

determinadas, preferencialmente, em finais de semana e períodos de férias

escolares. (BRASIL, 2009, p. 89)

É possível perceber as influências do movimento internacional sobre a escrita dos

PPC de Química, conforme passagem do PPC da UFT apresentada anteriormente, a partir

de Lambourne (2012), ao citar como são desenvolvidas as atividades experimentais em

cursos de Ciências da OpenUniversity: a) experimentos remotos em tempo real via internet;

b) uso de softwares e equipamentos virtuais (simuladores, animações, entre outros); c)

fornecimento de kits com equipamentos e manuais completos enviados aos estudantes; d)

agrupamento de estudantes em laboratórios das universidades; e e) participação de cursos

intensivos em períodos de férias em universidade presencial.

Ao aprofundar a interlocução com o fragmento do PPC da UFT e com base no

proposto pela OU, podemos significar que as atividades pedagógicas apresentadas, entre

elas a experimentação, acontecem em momentos presenciais, o que demonstra a

importância de, no decorrer do curso, serem explorados esses momentos em favor da

construção de aprendizagens.

No referido cenário investigativo, significa-se, também, a complexidade frente às

possíveis atividades a serem desenvolvidas pelos sujeitos envolvidos nessa modalidade

educativa. Heckler (2014) aponta para o desafio de desenvolver a experimentação, mesmo

que com as atividades presenciais obrigatórias, articulada ao uso dos ambientes virtuais, da

web e da integração de diferentes mídias nos processos educativos. Para o autor citado,

frente às possibilidades pedagógicas de envolvimento dos estudantes na construção de

compreensões dos fenômenos e dos modelos, essas acontecem articuladas ao uso das TIC e

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visualizam a necessidade de se romper com a ideia dos limites físicos da sala de aula. O

autor ainda observa que os espaços da Educação em Ciências, a partir das TIC, não podem

ser exclusivamente definidos pelas paredes das salas ou dos laboratórios de ensino, em

atividades a serem construídas para além do laboratório didático.

Trata-se do espaçotempo7 contemporâneo na Educação em Ciências, no qual se

compreende que a utilização das TIC pode acontecer na construção de laboratórios virtuais

colaborativos, nos quais estudantes, professores e tutores se comunicam, compartilham

dados, modelos e interagem com ferramentas de desenvolvimento via internet (LEMKE,

2013). Abrange ainda o pensar a sala de aula da EaD, em atividades investigativas

semelhantes às ações desenvolvidas atualmente em grupos de pesquisa. Esses grupos não

apenas trocam conjuntos de equações e dados numéricos, mas operam com simulações e

modelos computacionais com visualizações dinâmicas e interativas, utilizando ferramentas

complexas para a representação e análise dos fenômenos investigados, assim como

projetam perspectivas futuras de compreensão e de comunicação das Ciências por meio de

tais ferramentas multimídia (LEMKE, 2013).

Nessa perspectiva os PPC descrevem que os momentos presenciais constituem

espaço em tempo integral que os estudantes “contarão com técnicos e monitores, para

auxiliá-los em atividades e na utilização de equipamentos” (BRASIL, 2006b), bem como

“acesso à Internet e a CD-roms, pois estes servirão para orientar os alunos nas práticas de

laboratório” (BRASIL, 2005a). Nesses momentos presenciais, os licenciandos também

devem ser incentivados a participarem de tutorias e a realizarem atividades como “práticas

de laboratórios, atendimento tutorial, seminários, videoconferências, fóruns de discussão e

atividades avaliativas” (BRASIL, 2007b).

Norteado pelas DCQ, os PPC propõem um educador com “formação generalista,

sólida e abrangente em conteúdos dos diversos campos da Química” (BRASIL, 2007b), que

venha a aplicar de forma pedagógica o conhecimento e as experiências de Química na

Educação Básica.

Estando esses PPC subordinados a demandas dos Parâmetros Curriculares

Nacionais – PCN e DCQ, descrevem a necessidade de estimular o desenvolvimento de

7 Utiliza-se a grafia espaçotempo a partir das ideias de Alves (2001) e Diniz-Pereira e Lacerda (2009), pois

defende-se que cada um dos termos tem uma relação com o outro e só existem nessa relação.

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atividades experimentais e teóricas de formas presenciais e semipresenciais, que integrem

conhecimentos específicos e pedagógicos. Conforme descrito pelo PPC da Universidade

Federal do Espírito Santo,

[...] a experimentação é peça mestra nesta proposta e se dá ao longo de todas as

disciplinas nos diferentes eixos: nas atividades de formação conceitual e

experimentação estética, de caráter bimodal (presencial e semipresencial), [...]

gerarão objetos que podem ser articulados como fontes geradoras para uma

produção que vise a consolidação das diretrizes curriculares do ensino da

Química, assim como as premissas estabelecidas pelos PCN’s do ensino da

Química (BRASIL, 2006b, p. 47)

A criação e o uso de laboratórios didáticos descritos nos documentos analisados,

propõem o desenvolvimento de competências para “diagnosticar, formular e encaminhar a

solução de problemas químicos, experimentais ou teóricos, práticos ou abstratos, fazendo

uso dos instrumentos laboratoriais, matemáticos e/ou computacionais” (BRASIL, 2007b),

seguindo, assim, o movimento da ciência contemporânea.

Observa-se que as comunidades científicas utilizam a rede de computadores para

desenvolver ciência, através de experimentos remotos, compartilhamento de dados,

armazenamento de informações e comunicação de resultados. Nesse contexto, Heckler

(2014) aponta que quando é proposto o desenvolvimento de atividades experimentais

articuladas aos objetivos da formação científica, o laboratório não deverá ser reconhecido

como, necessariamente, o único espaço à experimentação em Ciências na EaD. O autor

destaca que o laboratório de Ciências, articulado aos artefatos/ferramentas disponíveis na

internet, é mais um recurso a ser utilizado em ações pedagógicas a distância, para que seja

promovida a formação científica.

No cenário destacado na pesquisa, o laboratório didático presencial é um espaço

cultural significativo na construção de compreensões na Educação Química. Um cenário de

aprendizagem, em que os experimentos remotos, os softwares, os modelos computacionais,

as plataformas de aprendizagem, as animações, as simulações, os kits, os experimentos, os

vídeos, as interfaces multimídias são artefatos/ferramentas complementares a serem

utilizados na mediação dos estudos referentes a fenômenos e modelos (HECKLER, 2014).

Constituem um conjunto complexo de possibilidades a serem compreendidas pelos sujeitos

envolvidos em cursos na EaD. Desafiam a compreender em como o laboratório didático,

articulado às atividades colaborativas com os artefatos/ferramentas contemporâneas, pode

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ser utilizado na mediação do comunicar, compartilhar dados e modelos, a fim de promover

a interação entre os diferentes sujeitos em sala de aula via web.

No que se refere à “expansão da oferta dos cursos de Química”, os PPC anunciam a

“necessidade de adequada infraestrutura de laboratórios e sala, bem como corpo docente

qualificado” (BRASIL, 2012c). Torna-se importante nessa formação de professores em

Química proposta pelos PPC e norteada pelas DCQ, o desenvolver no licenciando um

conhecimento sólido, com compreensão das técnicas básicas de laboratório, métodos,

instrumentos, análise de dados experimentais e de primeiros-socorros a acidentes em

laboratórios de Química. Conforme descrito pela no PPC da UFT,

Esta proposta curricular foi norteada também pelas competências e habilidades

requeridas para um professor na área da Química. Assim, espera-se que os alunos

demonstrem [...] possuir conhecimento sólido e abrangente na área de atuação,

com domínio das técnicas básicas de utilização de laboratórios, bem como dos

procedimentos necessários de primeiros socorros, nos casos dos acidentes mais

comuns em laboratórios de Química. (BRASIL, 2009, p. 20)

As proposições expressas no fragmento do PPC da UFT demonstram a intenção de

preparar profissionais que organizem e utilizem os laboratórios de Química durante a

formação. Devido a esse caráter experimental da Química, os documentos analisados

também descrevemo quanto é importante que o licenciando adquira conhecimento sobre

metodologias científicas, para realizar investigações de atividades práticas no laboratório,

relacionadas a fenômenos e observações experimentais, bem como desenvolva

compreensão e domínio de técnicas básicas de laboratório, com planejamento e construção

de materiais didáticos que se aproximem do cotidiano.

Em vista dessa dimensão experimental da Química e da necessidade de discussão

sobre o método científico que esses PPC propõem, é de “inegável importância o

aprendizado do uso do laboratório de ensino para o aperfeiçoamento da aprendizagem

científica e tecnológica”, pois a grande maioria dos professores de Química concorda que,

para se ensinar melhor a disciplina, é preciso praticar, por meio de experimentos científicos,

realizando “discussões e aprofundamentos teóricos sobre o experimento enquanto

instrumento na construção de conceitos”.(BRASIL, 2012d)

Aliadas à literatura científica, as proposições expostas anteriormente visam orientar

os estudantes no planejamento, montagem de equipamentos de laboratório e discussões

conceituais para a Educação Básica. Isso exige, nas disciplinas específicas, a análise de

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teorias e experimentos, com trabalho em equipe e com discussão sobre segurança no

laboratório, práticas de laboratório e descarte de resíduos. Conforme aponta o PPC da UFS,

A disciplina deve ser desenvolvida associando e correlacionando teoria e

experimentação. Métodos e técnicas básicas de laboratório. Materiais e reagentes

de laboratório. Manuseio de substâncias com segurança. Estocagem e descarte de

resíduos de laboratório. Estequiometria das soluções. Técnicas básicas de

gravimetria e titulometria. Pesagem e calibração de material volumétrico.

Preparação e padronização de soluções. Tratamento de dados. (BRASIL, 2006c,

p. 33)

A informação empírica apresentada possibilita observar que o curso de licenciatura

em Química, enquanto curso de caráter teórico-experimental, busca promover o

conhecimento de forma sólida, abrangente e atualizada, desenvolvido em disciplinas como

Química Ambiental, Química Orgânica, Química Analítica, entre outras. Isso com o

desenvolvimento de “competências para aquisição de habilidades no resolver de problemas

experimentais, do seu reconhecimento até a análise de resultados e formulação de

conclusões” (BRASIL, 2007b), com manuseio de equipamentos de laboratório, simulações

computacionais e “reconhecimento das normas e operações de laboratório, vidrarias,

materiais e reagentes” (BRASIL, 2012c).

As disciplinas citadas anteriormente, em conjunto com disciplinas como Didática e

Estágio Supervisionado, são espaços para aulas experimentais de ensino que realizem a

análise crítica de currículos, conteúdos específicos e programas de Química para a

Educação Básica, bem como discussõesreferentes à Ciência, Tecnologia e Sociedade –

CTS, com enfoque histórico em temas químicos, para a realização de pesquisas com análise

qualitativa e quantitativa de dados. A partir do exemplo exposto na ementa da disciplina

Instrumentação para o Ensino de Química I, descrita no PPC da UFS,

A disciplina deve ser desenvolvida associando e correlacionando teoria e

atividade prática. Análise didática das principais teorias da aprendizagem. As

teorias da aprendizagem na compreensão e nas práticas educativas. Estratégias do

ensino de CTS – Ciência Tecnologia e Sociedade. Discussão de temas sociais

químicos para o ensino fundamental. (BRASIL, 2006c, p. 21)

A elaboração de cursos de Química na EaD, a partir das descrições postas nos PPC,

evidencia a necessidade de participação do aluno como autor e produtor do currículo no

processo, de modo a possibilitar a construção do conhecimento básico e a promoção de seu

interesse em assuntos relacionados aos fenômenos químicos. Para tanto, é importante

desenvolver com os estudantes, ao longo do curso, conteúdos curriculares teóricos e

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atividades experimentais, bem como promover a participação em fóruns e seminários para

aprender a sistematizar, elaborar, comunicar e relatar a investigação de fenômenos

químicos, baseando-se em uma filosofia distinta da proposta em cursos tradicionais da área:

[...] A Química é apresentada de uma forma unificada, sem as divisões

tradicionais – Química Orgânica, Química Inorgânica, Química Analítica e

Físico-Química – e de modo a relacionar os fenômenos químicos com o cotidiano

do aluno. Desta forma, através de experiências das quais o aluno participa, seja

como ator ou observador, na sua vida diária, ele passa a perceber a existência da

Química e a importância dos fenômenos químicos. A partir dessas experiências

vamos construindo o conhecimento básico necessário para que ele entenda as

experiências vivenciadas. Outras experiências são então introduzidas com a

finalidade de fazer despertar no aluno o interesse pelo assunto. (BRASIL, 2005c,

p. 75)

Seguindo a proposição do fragmento do PPC da UFRJ, é necessário pensar em

“atividades práticas que integrem os conteúdos das diferentes áreas de conhecimento

Químico” (BRASIL, 2007a) na construção de experimentos de baixo custo, na sala de aula,

como instrumentos de aprendizagem em Ciências da Natureza na Educação Básica.

Nesse sentido, cabe pensar em relação às possibilidades apontadas pelos PPC para o

cumprimento dessas demandas, destacando, entre elas, o estabelecimento de parcerias com

escolas municipais e estaduais e com a universidade e Centros de Apoio aos Polos da

Educação a Distância, contando com aporte financeiro a partir da UAB e FINEP para o

fornecimento de recursos ao desenvolvimento de laboratórios didáticos.

Ao analisar a descrição dos PPC sobre tais parcerias, encontra-se para os Centros de

Apoio aos Polos da Educação aDistância, o papel no fornecer aos cursos espaços para que

“tutores locais atendam os licenciandos através de plantões pedagógicos presenciais, para

acompanhamento dos alunos na realização das atividades práticas em laboratório”

(BRASIL, 2005a), e realização de atividades acadêmicas, como avaliações, aula de

videoconferência e atividades administrativas. Esses espaços possibilitam ao estudante

orientação por tutorias individualizadas ou em grupo e assistência de laboratorista para

momentos presenciais, a fim de cumprir com a obrigatoriedade do presencial na realização

de práticas de laboratório nas disciplinas experimentais organizadas pelo curso:

[...] cada pólo deverá possuir um Centro de Apoio à Educação a Distância na

cidade que funcionará como sede do pólo. Cada um deles contará com uma infra-

estrutura que permita a realização das atividades acadêmicas e administrativas

exigidas por um curso de Química na modalidade a distância. Para tanto, estão

previstas [...] a instalação de laboratórios para a realização das práticas de

química demandadas pelo Curso. (BRASIL, 2005b, p. 46)

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Os PPC também sinalizam que a formação de parceria entre a rede de Educação

Básicae a Universidade contribui com espaços para a realização de aulas práticas, pesquisa,

extensão e estágios, bem como promove centros de integração dos alunos para a fixação do

aluno no curso, conforme descrito no fragmento abaixo:

[...] laboratórios específicos para aulas experimentais, bibliotecas, contribuindo

na fixação do aluno no curso, criando uma identidade do mesmo com a

Universidade e reconhecendo a importância do papel do município, como centro

de integração dos alunos. (BRASIL, 2009, p. 8)

Nesse sentido, a UAB integra a parceria em questão como fonte de recursos

financeiros, “através da CAPES/MEC, para a compra de equipamentos de laboratório para

os polos” (BRASIL, 2012d), materiais de consumo e desenvolvimento de laboratórios

didáticos e para o ensino experimental, complementar à formação dos alunos. Além de

contar com recursos doFINEP, que contribuem comaportes para adquirir “vidrarias e

reagentes para todos os polos, além de equipamentos para montagem de laboratórios de

química”.(BRASIL, 2011)

Cabe salientar o acordo de cooperação realizado em 1997 entre o Brasil e os

Estados Unidos como um marco histórico para o ensino de Ciências no Brasil, em função

do desenvolvimento e da disponibilização da tecnologia para o uso pedagógico, envolvendo

a produção de Objetos Virtuais de Aprendizagem, articulada à Secretaria de Educação a

Distância – SEED do Ministério da Educação. A partir de 2004, o processo de produção de

diferentes tipos de objetos de aprendizagem no Brasil passou a ser desenvolvido pelas

universidades, constituindo Rede Interativa Virtual de Educação – RIVED (RIVED, 2013).

Diante dessas demandas dos cursos a distância, a literatura internacional aponta os

caminhos trilhados pela OU, onde foram necessários investimentos governamentais em

parceria com as universidades e a comunidade científica. Os investimentos acontecem em

duas grandes áreas, com necessidade de pesquisa e desenvolvimento de recursos e

atividades a serem exploradas na EaD. Uma das áreas financiadas envolve a construção de

bancos de recursos para armazenar softwares, simuladores e videoaulas em espaço de apoio

ao ensino de professores e estudantes. A outra abrange a proposição de atividades didáticas

com os recursos para se fomentar habilidades de laboratório da área de Ciências

(LAMBOURNE, 2007).

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Nessa perspectiva, visualiza-se a partir das interlocuções com as informações

emergentes nos PPC que o desenvolvimento de cursos de Química na EaD, frente à

exigência do laboratório presencial, instiga a formação do autores envolvidos nos processos

formativos. Abrange construir cenários de estudos, no significar atividades presenciais

nessa modalidade educativa, para além das questões legais da estruturação do laboratório

didático. Envolve debater os modos de serem desenvolvidas compreensões de fenômenos e

modelos na educação química na contemporaneidade, com a construção de comunidades

colaborativas interconexas com uso das TIC, em possíveis atividades teórico-práticas

interligadas às ações de laboratório, as quais poderão ser ampliadas com o uso de

artefatos/ferramentas via web.

5.2 Experimentação online constitui o currículo de Química na EaD

Apresenta-se a análise dos PPC que descrevem o currículo de Química na EaD

enquanto possibilidadede envolvimento dos sujeitos participantes do curso (professor,

tutores e aluno) em processos de ensino/aprendizagem que integrem metodologias com

experimentos técnico-científicos. Abrange pensar também que recursos didáticos, como a

experimentação,contribuam para o desenvolvimento de competências pedagógicasna

discussão de conteúdos básicos da Química. Processo da formação online com sujeitos,

contemplaa apropriação de práticas de laboratório para a Educação Básica,

desenvolvimento de metodologias experimentais alternativas de baixo custo, com materiais

do cotidiano e também com artefatos/ferramentas das comunidades científicas disponíveis

na web.

Pensar em um cenário da experimentação em Química em contexto online em

cursos da EaDsignifica contemplar espaços interativos entre sujeitos envolvidos nos

processos formativos e na interação com artefatos/ferramentas via web. Para Heckler

(2014), o cenário da formação online envolve atividades dialógicas, mesmo que os

estudantes, professores, tutores estejam localizados em pontos geográficos distintos.

Abrange contemplar a combinação integrada de artefatos e interfaces, como vídeo,

simulador, fóruns, chats e escrita de texto como meios de comunicação, e em interações

entre os participantes da aula. Os fenômenos e modelos são investigados de forma

colaborativa, emergindo como artefatos utilizados em comunidade aprendente,na qual a

aprendizagem ocorre pela colaboração entre colegas e professores.

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A aposta da aprendizagem pela colaboração na experimentação em Ciências em

contexto online está pautada no uso dos dispositivos comunicacionais nos processos

formativos. Assume-se, a partir de Mercado et al. (2012), Silva (2006),Kenski (2013)

eHeckler (2014), o online interligado aos aspectos da participação, colaboração, interação e

cocriação entre os sujeitos envolvidos nas atividades de sala de aula e fora dela. Cada

participante constrói seus próprios conhecimentos e a compreensão científica no ambiente

coletivo. Contempla ações individuais de questionar e expor os modelos como formas de

colaborar com os demais colegas na construção do ambiente nesse contexto da EaD. Dessa

forma, “[...] eles não só trazem o seu conhecimento existente como crenças, habilidades,

mas também trazem sua própria forma de construir novos conhecimentos” (WINER et al.

2002, p. 50). As construções acontecem associadas à experiência de cada participante,

desenvolvidas dentro e fora das paredes da sala de aula, com elementos da Educação em

Química.

Nessa perspectiva, as interfaces, como fóruns, chats, webconferências e os AVA das

disciplinas podem ser caracterizados como um locus em que os participantes se apropriam

dos artefatos/ferramentas da experimentação em Ciências na EaD (HECKLER, 2014). Cada

sujeito envolvido no processo formativo poderá assumir o papel de autor e coautor das

atividades, ao colaborar intensamente com os colegas na ressignificação dos modelos

expressos ao longo de diferentes atividades.Sendo assim, a aula pode ser compreendida

como experimentação investigativa (SÁ, 2009), mediada pelos professores/tutores e

estudantes em interfaces com questões abertas, nas quais é registrada a cocriação dos

questionamentos em diferentes diálogos.

Trata-se de um cenário online, em que se significa a experimentação em Química

interligada a sua componente social e interativa, com ações dos participantes que aprendem

a partir do outro. Operar os fenômenos e modelos inclui atividades conjuntas com os

colegas, pelas "conversas" em diferentes interfaces e pelas indagações a partir do que se

sabe. Ao mesmo tempo, produz e provoca inferências, conexões e interconexões, que levam

ao raciocínio e à aprendizagem de conceitos em um processo de aperfeiçoamento das

compreensões mais complexas do que as iniciais. Isso significa aconstrução de currículo

pela interatividade, com a interação entre sujeitos e os artefatos da Química.

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Logo, pensar a construção interativa de currículo para a Química na EaD que

possibilite o desenvolvimento de competências e habilidades para a construção de um

conhecimento sólido envolve os PPC em descriçõesde processos de pesquisa com práticas

laboratoriais presenciais, via internet e outras tecnologias, articulado ao domínio de

técnicas de laboratório e primeiros-socorros. O currículo, nesse sentido, está

[...] compreendido não como uma compilação de conteúdos mais ou menos

subordinados, mas como uma construção interativa entre atividades práticas

presenciais em laboratório, nas práticas pedagógicas, nas diversas atividades de

estágios supervisionados, nas atividades didáticas específicas para as práticas de

ensino e nas atividades de pesquisa inerentes à construção do conhecimento.

(BRASIL, 2005a, p. 4)

Registra-se, na análise dos PPC, indicativos de que o processo de

ensino/aprendizagem expresso no currículo deve ser pautado com temáticas articuladas ao

cotidiano em que estão imersos professor e aluno, de modoa integrar suas realidades através

de metodologias e recursos tecnológicos para estabelecer:

[...] conexão entre identificação de problemas, experimentos técnico-científicos e

formulações expressas na forma de textos e/ou representações em linguagens

adequadas aos recursos teóricos, tecnológicos e metodológicos utilizados e

específicos às ciências. (BRASIL, 2010, p. 15)

Considerar esse aspecto exige, para o ensino de Química, um ambiente de trabalho

que promova a articulação de conhecimentos teóricos ao uso de “métodos e técnicas de

ensino no desenvolvimento dos conteúdos de Química” (BRASIL, 2012d). Atualmente,

com o uso de recursos/artefatos científicos resultantes da integração das TIC na

experimentação escolar e acadêmica em comunidades colaborativas remete à investigação

na Educação em Química do diálogo a respeito das necessidades de integrar as TIC aos

currículos acadêmicos e escolares (SCANLON, 1997), através de atividades didático-

pedagógicas de pesquisa como, por exemplo, a experimentação pedagógica, para

compreender diversos conceitos da Química:

[...] nas disciplinas Instrumentação para o Ensino de Química, Metodologia para

o Ensino de Química e Temas Estruturadores do Ensino de Química, os

conteúdos químicos passam pelo enfoque da discussão, da mediação didática e da

experimentação pedagógica em atividades em sala de aula e oficinas; da

elaboração de materiais didático-pedagógicos: concretos, escritos e audiovisuais e

da discussão crítica de livros didáticos e paradidáticos, considerando as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Básica. (BRASIL, 2006c, p. 12)

Nesse sentido, os PPC orientam como estratégia pedagógica, discussõesenvolvendo

a “pesquisa e evolução histórica do ensino de Química no Brasil, análise crítica de

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currículos e programas de Química na educação básica e as inter-relações Ciência,

Tecnologia e Sociedade – CTS” (BRASIL, 2010). Os polos, com isso, ocupam lugar de

destaque enquanto espaço para desenvolver a experimentação a partir do uso de kits

experimentais e uso de materiais alternativos, como simulações em laboratório de

informática, na promoçãoda comunicação entre aluno e tutor para a formação de conceitos

da Química.

Considerando a evolução das ferramentas das TIC, é possível obter-se diferentes

recursos para as atividades experimentais de laboratório, como potenciais no ensino e na

aprendizagem das Ciências (HOFSTEIN; LUNETTA, 2003). Tais transformações geram

novos modos de desenvolvimento da pesquisa e de metodologias de ensino, ensejando

avanços à experimentação em Ciências nos diferentes contextos educativos através da

apropriação das TIC articuladas ao designer instrucional.

Referente ao uso de kits experimentais nos laboratórios dos polos, em conjunto com

outros recursos didáticos, tais como materiais impressos e audiovisuais, ambientes virtuais

de aprendizagem, livro-texto de disciplinas, guias acadêmicos, jogos, modelos e atividades

práticas, os PPC descrevem a necessidade de comunicação entre aluno e tutor no polo, no

sentido de serem realizadas orientaçõesrelativas ao uso desses recursos no estudo de

conceitos básicos da Química. Os PPC encaminham também a possibilidade de uso de

“recursos multimídia como vídeos de fenômenos naturais e simulações computacionais na

construção de ambientes não formais para experimentação”. Chamam atenção também para

a importância da “formação de conceitos que tornem possível ao aluno perceber a química

no cotidiano”.(BRASIL, 2010)

Na comunidade de Educação em Ciências, diante do uso de simuladores,

ampliaram-se os diálogos investigativos em torno das atividades experimentais. Nesse

sentido, define-se a simulação como “[...] uma mediação distinta, pois relaciona os

fenômenos macroscópicos e sub-microscópicos, em uma construção teórica que nem

sempre encontra sustentação empírica para medições” (GIORDAN, 2008, p. 190). O que

proporciona reconhecer os ambientes de modelagem e simulação como formas de tornar o

pensamento sobre um fenômeno ou evento visível e oportunizar de maneira mais simples

aos estudantes a realização de atividades experimentais que seriam perigosas ou difíceis de

executar usando materiais físicos. (LINN, 2004)

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Apresenta-se como desafio nas descrições expressas nos PPC, a elaboração de

“materiais didáticos (experimentos, textos, aulas, avaliações e outros), que envolvam a

contextualização do conhecimento, articulação teoria-prática, uso de modelos dentre outras

ênfases” (BRASIL, 2007a), para despertar o interesse e tornar o aluno capaz de realizar a

leitura crítica de livros e textos científicos, bem como desenvolver materiais teóricos,

experimentais e instrucionais para construir o aprendizado na sala de aula, provocando-o a

testar hipóteses, estudar casos e realizar verificações experimentais no entendimento de

aspectos fenomenológicos e conceitos básicos.

Nesse sentido, os PPC sinalizam como possibilidade para resolução de desafio no

presencial, envolvendo a experimentação, o “substituir a atividade ou realizá-la com

material alternativo ou mesmo por meio de simulações e animações, com uso de objetos

virtuais de aprendizagem, no laboratório de informática” (BRASIL, 2012d), que não podem

ser desenvolvidas nos laboratórios de Química dos polos de apoio presenciais. Isso torna

possível a familiarização dos alunos com a experimentação e outras metodologias

científicas, além de envolver esses estudantes em atividades científicas complementares

para o desenvolvimento de competências e aprendizagens fora do ambiente acadêmico.

Exemplos disso são os passeios virtuais em museus e os espaços de interação e

diálogos investigativos via internet. Nesses ambientes, também podemos desenvolver

questionamentos, via internet ou telefone, em torno de temas a serem debatidos e

respondidos por especialistas (SCANLON, 1997). Também são dispostos, no contexto

educativo, diferentes bancos de recursos multimídia, com simulações interativas, a partir de

modelos computacionais como apoio às atividades de laboratório de Ciências, por exemplo,

o simulador para montagem e a utilização de destilador do Laboratório de Química

Orgânica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS (Figura 8).

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Figura 8 - Ambiente com disponibilização de simulador para construção e utilização de destilador

Fonte - http://www.pucrs.br/quimica/professores/arigony/lab.html

Acerca das possibilidades e limitações das simulações computacionais no contexto

educativo, o texto de Medeiros e Medeiros (2002) ressalta a importância de investigar os

modelos na simulação e como eles representam explicações limitadas do fenômeno

apresentado em face às simplificações necessárias para a construção de um artefato. Para

tanto, percebe-se a simulação como não substitutiva do experimento físico, pelas diferenças

significativas existentes no ato de se experienciar um fenômeno com auxílio do

experimento e/ou da simulação computacional.

O desenvolvimento de capacidades específicas no licenciando em Química para o

uso de recursos didáticos como a experimentação também envolve trabalho em laboratório,

com mediar, organizar, orientar e relacionar teoria e prática. Nesse sentido, os PPC

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afirmam que o licenciado em Química “[...] deverá apresentar formação sólida e abrangente

em conteúdos da Química, com competências para a tradução pedagógica dos

conhecimentos e experiências de outras áreas científicas afins nas situações de ensino-

aprendizagem” (BRASIL, 2007b), adequando práticas e a discussão de conteúdos básicos

da Química para a realidade das escolas da região.

As informações analisadas descrevem que a adaptação de práticas de laboratório e

experimentos para a Educação Básica requer “planejamento, elaboração, adequação e

execução de atividades práticas laboratoriais, utilizando materiais alternativos, multimídia e

softwares especiais de Química”, bem como “elaboração de eventos educacionais e projetos

de Feiras de Ciências”.(BRASIL, 2010)

Para esse cenário da experimentação em Química, compreende-se o potencial da

educação online, com a construção do currículo pelo envolvimento dos diferentes autores

na formação de professores. Processo que pode utilizar os avanços de recursos digitais da

web no desenvolvimento da sala de aula interativa.A sala de aula, a partir de Silva (2006,

2012), é assumida de maneira interativa, fundamentada nos aspectos comunicacional,

colaborativo e dialógico. Assim, a interatividade, enquanto conceito, "[...] exprime a

disponibilização consciente de um mais comunicacional de modo expressamente complexo

presente na mensagem e previsto pelo emissor, que abre ao receptor possibilidades de

responder ao sistema de expressão e de dialogar com ele". (SILVA, 2006, p. 28) [Grifo do

autor]

Assim, um curso de Química na EaD, assumido como experiência formativa

online,está focado na interatividade, por propiciar aos sujeitos a participação e a

intervenção nas mensagens criadas pelo outro, proporcionando o compartilhamento de

sentidos e significados a partir de suas experiências (HECKLER, 2014). De acordo com

Silva (2006), a comunicação entre professores, tutores e estudantes, nesses ambientes,

assume a bidirecionalidade, em que ambos têm a possibilidade de codificar e decodificar as

mensagens produzidas em coletivo. A "[...] comunicação é produção conjunta de todos.

Diante de conteúdos de aprendizagem o professor é aprendiz e o aprendiz é professor em

potencial. Os dois polos codificam e decodificam". (SILVA, 2006, p. 31)

No contexto da formação em Química da EaD brasileira, é espaço a ser construído

entre os autores envolvidos em disciplinascuja ênfase recai nas discussões das atividades de

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laboratório. Tais espaços desafiam ao diálogo mediado em ambientes online e/ou

presenciais, no desenvolver “noções básicas de trabalho e segurança no laboratório,

precisão de medidas e tratamento de dados experimentais” (BRASIL, 2007b). O ato de

investigar os fenômenos através do experimento em cursos na EaD aponta para diferentes

estratégias, tais como: desenvolver as referidas atividades a partir de materiais do cotidiano,

promover a interação com os estudantes em previsões em torno das atividades e usar vídeos

curtos e imagens investigadas de forma colaborativa (LAWS, 2013). Portanto, assume-se

para as atividades experimentais em Química a centralidade dos meios de comunicação em

suas distintas formas, como narrativos, interpretativos, adaptativos, comunicativos e

produtivos. (LAURILLARD, 2004)

Visualizam-se indicativos ao longo da análise nessa segunda categoria de abranger a

interatividade no fomento de diferentes ambientes educativos, desde que sejam propiciadas

aos sujeitos em formação as experiências de participar, colaborar, criar e cocriar a

aprendizagem e a comunicação (SILVA, 2006). Dessa forma, a discussão em cursos na

EaD não está centrada na tecnologia, pois interfaces e/ou AVA via internet,por si só, não

caracterizam nem definem o currículo online em Química. A centralidade do debate para

uma EaD online engloba proposições metodológicas ante as interfaces/ferramentas da

web.(HECKLER, 2014)

Para Dias e Leite (2010), os AVA e suas interfaces auxiliam a promover e mediar o

processo educativo, mas não garantem e/ou determinam que o mesmo aconteça. Segundo

Mercado et al. (2012, p. 125), a "[...] educação online é centrada em atividades que exigem

participação, iniciativa, cooperação para a solução de problemas”. Portanto, o

desenvolvimento da educação via web acontece associado a um "[...] conjunto de ações de

ensino e de aprendizagem ou atos de currículo mediados por interfaces digitais que

potencializam práticas comunicacionais interativas e hipertextuais" (SANTOS, 2010, p.

37). É um espaçotempo de conectar professores e estudantes em ambientes colaborativos,

com ações síncronas e assíncronas, para além da execução de conteúdos predefinidos e

controlados por uma única fonte emissora.

A partir dos potenciais das interfaces/ferramentas da web 2.0 e dos indicativos

presentes nos PPC analisados, compreende-seser possível desenvolver um currículo de

Química na EaD na perspectiva da educação online. Isso desafia considerar o uso para as

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aulas das tecnologias digitais interativas disponíveis frente às possibilidades de se

desenvolverem ambientes com hipertexto e hipermídia multidirecionais, em que os sujeitos

podem expressar-se individual e coletivamente em rede. Nesse sentido, o

ensino/aprendizagem na experimentação poderá integrar metodologias via web, com debate

sobre os recursos didáticos para o desenvolvimento de competências pedagógicas na

construção de significados dos conteúdos básicos da Química e suas aplicabilidades em sala

de aula e fora dela.

5.3 O Ensino de Química na EaD requer infraestrutura, mediação de diferentes

sujeitos e processos de formação específicos

Nesta seção, aborda-se a análise das informações descritas nos PPC sobre o papel

do polo no Ensino de Química na EaD, para o desenvolvimento das disciplinas

experimentais, com orientação de tutores, no processo de integração entre teoria e prática a

partir da utilização de recursos didáticos.

Envolve,no referido processo de integração, a mediação, compostapor ações de

coordenadores, professor especialista e tutores no construir conhecimento, planejar

atividades didáticas a distância e presenciais, bem como avaliações individuais e em grupo.

Um cenário na EaD da Educação Química, em que as funções do professor formador

precisam ser ressignificadas, pois a despeito do que "tradicionalmente" acontece em uma

sala de aula, o professor não "ministra aulas", e sim constrói estratégias didáticas na

mediaçãoda aprendizagem. Abrange o trabalho coletivo articulado à mediação dos

processos de ensino e de aprendizagem com o uso das TIC, em atividades conjuntas com

diferentes sujeitos, entre os quais estão os tutores presenciais e a distância.

O tutor presencial de um curso na EaD desenvolve suas funções nos polos

presenciais, ou seja, um sujeito que, no processo formativo, tem um contato mais

"próximo" com os estudantes. De acordo com Novello (2011), entre as principais

atribuições desse profissional estão:

[...] organizar o espaço físico do polo para as atividades presenciais; auxiliar os

acadêmicos na organização no desenvolvimento das atividades pedagógicas do

curso; desenvolver grupos de estudos no polos; participar das atividades

presenciais obrigatórias como aulas, avaliações e práticas de laboratório [...].

(NOVELLO, 2011, p. 61)

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O tutor presencial, frente as suas atribuições, tem um papel fundamental no

processo da aprendizagem de um curso na EaD. Esse profissional não desenvolve ações

pedagógicas no AVA das disciplinas, mas acompanha e orienta a construção coletiva dos

estudantes em um contato permanente com o tutor a distância e os professores do curso

(NOVELLO, 2011). Poderá estabelecer uma rotina de encontros face a face com o

estudante, registrar eventuais dificuldades, articular interações entre os estudantes no polo e

na observação de possíveis temas, questões a serem ampliadas frente às temáticas e

atividades em estudo.

As atividades no AVA e as interações a partir dos materiais didáticos são mediadas

em comunicações entre os tutores a distância, estudantes e professores. O tutor a distância

geralmente é um profissional com a formação na área específica do curso, um autor do

processo formativo que desenvolve o diálogo com os estudantes, mediando a aprendizagem

de conteúdos conceituais e procedimentais inerentes aos planejamentos das disciplinas. De

acordo com Novello (2011), entre as atribuições desse profissional está a de realizar a

comunicação com os estudantes no AVA, promovendo, pela interação, a mediação das

atividades pedagógicas via ambiente virtual e interfaces, como fóruns, chats e

webconferências.

Além disso, os PPC revelam que, nos polos, o aluno conta com uma série de

recursos para o desenvolvimento de atividades práticas das disciplinas experimentais, tais

como:

Nos pólos os alunos contarão com facilidades como: salas de estudo,

microcomputadores conectados à internet, supervisão acadêmica, laboratórios

didáticos, biblioteca, recursos audiovisuais, seminários, serviço de distribuição de

material didático. (BRASIL, 2009, p. 9)

Em vista da obrigatoriedade do laboratório presencial em cursos de Química na

EaD, tambémé descrito, nas informações analisadas, que o funcionamento dos laboratórios

nos polos dá-se a partir da relação de proximidade física entre os municípios, de modo que

a colocação de “equipamentos de tecnologia avançada fique em polos que contemplem uma

maior área e que equipamentos com tecnologia mais simples fiquem em áreas de menor

abrangência”, havendo, assim, um “melhor aproveitamento dos recursos materiais e

humanos existentes”. (BRASIL, 2009)

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Em relação aos recursos humanos, os PPC possibilitam compreender que o tutor

presencial tem funções acadêmicas e administrativas, como “preparar a infraestrutura dos

encontros presenciais” (BRASIL, 2005a) e realizar com os alunos, aos finais de semana,

práticas de laboratório sob coordenação de tutores a distância e professores titulares, além

de orientar em processos avaliativos presenciais. Conforme descrição presente no PPC da

UFMG, é possível salientar que:

O tutor local desempenhará funções referentes a quatro dimensões: orientadora:

mais centrada na área afetiva; acadêmica: mais relacionada com a área cognitiva;

administrativa e de colaboração: com a UFMG e responsáveis pelo

desenvolvimento do Curso; avaliação curricular: relacionada com a avaliação e

monitoramento. São elas [...] fomentar o uso da biblioteca, laboratórios e

midiática do Centro de Apoio. (BRASIL, 2005b, p. 49)

Para o tutor a distância, é designado, nos documentos analisados, o papel de

“acompanhar, supervisionar, orientar e avaliar” (BRASIL, 2009) atividades presenciais e a

distância, como a participação em fóruns, videoconferências, seminários e atividades

avaliativas. Os tutores presenciais e a distância, juntamente com professores coordenadores,

promovem a integração de aspectos teóricos e práticos dos componentes curriculares.

Como recurso nesse acompanhamento das atividades acadêmicas, os PPC propõem

a utilização de ficha de acompanhamento acadêmico para mediação sobre uso dos materiais

instrucionais e atividades práticas. Esse recurso possibilita aos tutores, coordenação local e

geral e o registro e acesso de avaliações e relatórios, bem como “a avaliação dos relatórios

das atividades de campo e laboratório, a participação nas atividades presenciais, e outras

observações necessárias”. (BRASIL, 2009)

Nessa perspectiva, o trabalho conjunto entre professores e tutores no desenvolver

das atividades acadêmicas emerge como desafio à formação permanente dos autores

envolvidos. Compreende-se que cada aula proposta e mediada em AVA, frente às ações

coletivas de estudantes, tutores e professores emerge na perspectiva da "[...] experiência

vivida na experimentação em Ciências na EaD como um processo de pesquisa-formação

online [...]" (HECKLER, 2014, p.209). Para o autor citado, é necessário integrar interfaces

e recursos das TIC no planejamento e na análiseda atuação conjunta em metodologias

interativas, na construção de significados para os fenômenos da natureza. Um ambiente

formativo, em que cada participante da aula se apropria das tecnologias em um movimento

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para além da instrumentação, articulado ao desenvolvimento humano, ao ressignificar a

linguagem da área de Ciências.

A avaliação de atividades propostas nas informações analisadas tem por objetivo

acompanhar interesse e participação do acadêmico nos momentos a distância e presenciais,

bem como em seu desenvolvimento em torno de técnicas em atividades de campo e práticas

em laboratório. Encontra-se, através dos recursos da web, a possibilidade de fazer uso de

cursos, materiais e espaços interativos, o que, teoricamente, possibilita o acesso aos

referidos recursos em diferentes horários e locais geográficos (SCANLON, 2002). Um

processo da formação na Educação Química online que abrange a interatividade no ato de

compreender os fenômenos.

Isso significa, a partir de Heckler (2014), que as interações entre os professores-

tutores-estudantes e os artefatos da experimentação em cursos na EaD ampliam a

construção de significados sobre modelos dos fenômenos e temáticas em estudo. Interagir

com a linguagem de vídeos, simuladores, experimentos, questões e com a linguagem

construída nas interações entre os sujeitos participantes das aulas em interfaces do AVA

potencializa as ações pedagógicas dos cursos nessa modalidade educativa.

Nesse sentido, ao pensar a avaliação como parte do processo de construção do

conhecimento e o desenvolvimento de habilidades e competências no aluno, é apontada,

nos PPC de Química na EaD, a necessidade de trabalho conjunto de tutores, coordenadores

e professor especialista,envolvendo-os no planejamento de atividades didáticas que

possibilitem o desenvolvimento de discussões, avaliações e trabalhos individuais e em

grupo, conforme descritos no fragmento do PPC da UFT:

[...] atividades de campo poderão ser desenvolvidas pelos acadêmicos,

individualmente ou em grupo, a partir da orientação do tutor a distância. Após a

realização destas atividades (práticas de ensino, laboratório e atividades de

campo), o acadêmico apresentará o resultado do trabalho e relatório ao tutor

presencial. Estas atividades serão agendadas com antecedência, estando sob a

coordenação do tutor a distância. (BRASIL, 2009, p. 80)

Visualiza-se, com isso, o desafio do trabalho coletivo em contexto online, no operar

dos artefatos da experimentação com diálogos e questionamentos entre os sujeitos em

interfaces do AVA. Para Heckler (2014), esse processo envolve a construção do

conhecimento, ao se configurar o movimento interconectado à compreensão de ser

professor aprendente, como espaçotempo de uma experiência vivida ao pensar/atuar

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conjuntamente na aula da experimentação em Ciências. Uma sala de aula em que os

diferentes participantes possam ser reconhecidos como autores do processo de

aprendizagem, como uma comunidade de indagação mediada via web (HECKLER, 2014).

Abrange também pensar no compromisso coletivo a ser assumido entre colegas tutores,

professores, coordenadores e os estudantes no desenvolvimento da Educação Química

online.

Observa-se, em tais interlocuções com os PPC e os aspectos teóricos emergentes na

escrita da análise, potenciais à constituição de comunidades com os envolvidos nesses

cursos, para se pensar/atuar na proposição, organização e atuação conjunta nas aulas da

experimentação. Uma atuação colaborativa no planejamento das atividades a serem

desenvolvidas com a construção conjunta das comunicações e dos conteúdos, em processos

mediados em AVA.

Destaca-se os avanços da internet como potência na disponibilização de recursos e

artefatos da Ciência contemporânea na web, inclusive no âmbito das escolas e

universidades. Dessa forma, há a necessidade de integrar, nas investigações, o design

instrucional aos recursos pedagógicos no ensino e na aprendizagem em atividades

experimentais de Ciências via internet (SCANLON, 2002), projetando ambientes de

aprendizagem para a educação científica. Nos referidos ambientes, são incluídas avançadas

representações multimídias, ferramentas de modelagem que oportunizam a interação entre

sujeitos, através de mecanismos inteligentes, modelos computacionais e simulações

(LEMKE, 2013).

Compreende-se, a partir de investigações dos PPC e análise dos recursos da Ciência

online,nas últimas décadas, a existência de desafios pedagógicos frente aos diferentes

contextos educativose observa-se, nos processos formativos em espaços online, a mediação

pedagógica que "[...] requer dos professores domínio das TIC e conhecimento das

possibilidades apresentadas pelas diversas mídias, no sentido de garantir diálogo, a

construção do conhecimento e a efetiva aprendizagem online" (OLIVEIRA, 2012, p. 174).

Isso demanda formação aos sujeitos que integram os cursos nas funções de ensino, nas suas

mais variadas atividades, seja na docência, tutoria ou na coordenação.

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Capítulo VI – ENCAMINHAMENTOS DA DISSERTAÇÃO

Neste capítulo apresentam-se os encaminhamentos da dissertação frente às

informações analisadas em conjunto com as interlocuções teóricas desenvolvidas ao longo

dos demais capítulos. Eles constituem o argumento aglutinador de que a experimentação

nas licenciaturas em Química na EaD acontece com a mediação de diferentes sujeitos e o

estabelecimento de parcerias entre as diversas redes de ensino, seja em nível federal,

estadual ou municipal. Consta no currículo para a Educação em Química a Distância a

descrição dos processos de ensino/aprendizagem para o desenvolvimento de competências

pedagógicas através da experimentação em laboratório presencial, embora não exclusivo,

conforme disposto nos documentos oficiais que estruturam a organização dos cursos.

Em defesa desse argumento, as diferentes linguagens e artefatos na Educação em

Ciências são potência aos sujeitos no constituir uma experimentação que, em conjunto com

outras metodologias, expressam o compromisso do professor, seja no desenvolver de um

conceito a partir de uma abordagem mais clássica, seja na aprendizagem de diversos

conteúdos e discursos em uma compreensão mais contemporânea. Nesse sentido, encontra-

se o operar de modelos dos sujeitos que, no coletivo, na conversa, discutem, indagam e

ressignificam os discursos das Ciências. Ao modelar no coletivo, com interação dialógica

entre os participantes e busca por interlocutores teóricos, oportuniza-se a elaboração de um

modelo mais consistente e, com isso, constitui-se a experiência em seu sentido filosófico

para os envolvidos.

Compreende-se, a partir da análise, que a experimentação proposta nos PPC é

potência no atendimento à demanda exigida nos documentos oficiais para formar

professores com conhecimentos sólidos e abrangentes dos conteúdos de Química. Isso

envolve mediar, organizar, orientar e relacionar teoria e prática nos trabalhos em

laboratório. E, por vezes, reconstruí-las, ao utilizar materiais alternativos, multimídia e

softwares especiais de Química para seu desenvolvimento na Educação Básica.

A educação online, nesse cenário da experimentação em Química, contribui na

construção do currículo com envolvimento ativo dos diferentes autores na formação de

professores. O desenvolver de uma sala de aula interativa fundamenta-se nos aspectos

comunicacional, colaborativo e dialógico. No referido contextoonline em cursos da EaD,

estão envolvidas atividades dialógicas, mesmo que os estudantes, professores e tutores

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estejam localizados em pontos geográficos distintos. Abrange contemplar a combinação

integrada de artefatos e interfaces,como vídeo, simulador, fóruns, chats e escrita de texto

como meios de comunicação e em interações entre os participantes da aula. Os fenômenos

e modelos são investigados de forma colaborativa, no qual a aprendizagem ocorre pela

interação entre colegas e professores.

Reconhece-se,no presente estudo, o tutor como fundamental para a EaD, ao

possibilitar e articular o desenvolvimento das propostas de experimentação descritas nos

PPC, pois é o tutor que, ao atuar diretamente com os estudantes, viabiliza a realização de

processos de aprendizagem em torno do fenômeno investigado. Frente as suas

atribuições,exerce um papel fundamental no processo da aprendizagem de um curso na

EaD. Embora esse profissional não desenvolva ações pedagógicas no AVA das disciplinas,

ele as acompanha e orienta a construção coletiva dos estudantes, em um contato

permanente com o tutor a distância e com professores do curso, acumulando ainda funções

acadêmicas e administrativas, como preparar a infraestrutura dos encontros presenciais e

orientar os estudantes em processos avaliativos presenciais. Isso sinaliza a necessidade de

formação específica para esse sujeito e um maior reconhecimento de sua participação no

desenvolver de cursos na EaD.

Os PPC também sinalizam que a formação de parceria entre a rede de Educação

Básica e a Universidade contribui com espaços para a realização de aulas práticas,

pesquisa, extensão e estágios, bem como promover centros de integração dos alunos, com

vistas à fixação deles no curso.

Assim, a experimentação descrita nos PPC, além de envolver o laboratório

presencial, busca o desenvolvimento de domínio de técnicas e apropriação dos conceitos

químicos, o que ocorre a partir da mediação do tutor presencial. Daí, o aperfeiçoamento da

experimentação dá-se a partir da formação dos sujeitos diretamente ligados ao seu

desenvolvimento.

Destaca-se também a necessidade de cada vez mais os PPC serem reconstruídos ao

longo dos anos pelos sujeitos que constituem os cursos e implementam suas propostas nas

disciplinas. Nesse sentido os PPC necessitamretratarcom maior precisão as concepções que

fundamentam os cursos em questão e o modo como será a condução de suas propostas,

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cabendo, assim, uma releitura e uma reescrita constante desse material na proposta e

construção de cursos de licenciatura em Química na EaD.

Fica claro, ao pesquisar as compreensões sobre experimentação descritas nos PPC

de Química na EaD, a importância da gestão da UAB enquanto articuladora dos processos

formativos e no fornecimento de recursos financeiros e na intensificação de financiamento

para essa modalidade de ensino.

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APÊNDICES

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Apêndice A – Mapa da instituição IFMT e seus polos na região Centro-Oeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice B - Mapa da instituição IFMA e seus polos na região Nordeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice C - Mapa da instituição UECE e seus polos na região Nordeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice D - Mapa da instituição UFC e seus polos na região Nordeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice E - Mapa da instituição UFMA e seus polos na região Nordeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice F - Mapa da instituição UFPI e seus polos naregião Nordeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice G - Mapa da instituição UFRN e seus polos na região Nordeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice H - Mapa da instituição UFS e seus polos na região Nordeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice I - Mapa da instituição UNEB e seus polos na região Nordeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice J - Mapa da instituição IFPA e seus polos na região Norte

Fonte: Próprio autor

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Apêndice K - Mapa da instituição UFT e seus polos na região Norte

Fonte: Próprio autor

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Apêndice L - Mapa da instituição UENF e seus polos na região Sudeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice M - Mapa da instituição UFES e seus polos na região Sudeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice N - Mapa da instituição UFJF e seus polos na região Sudeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice O - Mapa da instituição UFMG e seus polos na região Sudeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice P - Mapa da instituição UFRJ e seus polos na região Sudeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice P - Mapa da instituição UFVJM e seus polos na região Sudeste

Fonte: Próprio autor

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Apêndice R - Mapa da instituição UNIFAL-MG e seus polos na região Sudeste

Fonte: Próprio autor