A Face Oculta Das Religioes

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JOSÉ REIS CHAVES A FACE OCULTA DAS RELIGIÕES UMA VISÃO RACIONAL DA BÍBLIA

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A Face Oculta Das Religioes

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  • JOS REIS CHAVES

    A FACE OCULTA DAS RELIGIES UMA VISO RACIONAL DA BBLIA

  • NDICE

    Agradecimentos.....................................................................7 Prefcio..................................................................................9

    Captulo 1: Deus numa viso universal............................13

    As religies orientais e outras..............................................15 Ateus que no eram ateus.....................................................20 Spinoza e Einstein................................................................23 Frases sobre Deus e o espiritualismo...................................28

    Captulo 2: O cristianismo primitivo e as heresias.........37

    Gnosticismo ou Gnonse.......................................................40 Montanismo.........................................................................42 Monofisismo.......................................................................,42 Nestorianismo......................................................................42 Origenismo...........................................................................44 Pelagianismo........................................................................46

    Captulo 3: A Bblia...........................................................49

    Divises da Bblia................................................................50 Quem escreveu a Bblia, quando e como?...........................52 Curiosidades e peripcias da Bblia.....................................54 Adaptaes da Bblia...........................................................60 O que de Cristo se mistura com o que de Csar............64 As tradues da Bblia.........................................................68

    Captulo 4: Cristianismo esotrico e exotrico................73

    Arianismo................................................................................. O cristianismo adotou muitas tradies pags.....................85 Smbolos..............................................................................90

    Captulo 5: Religio e santidade.......................................93

    F, predestinao, prece e salvao.....................................97

  • Captulo 6: Demnios, anjos e diabos............................101

    Diabos................................................................................104

    Captulo 7:A Santssima Trindade e o Esprito Santo 117

    A Trindade Crist..............................................................117 O Esprito Santo................................................................124

    Captulo 8: A reencarnao, crena ou realidade?..135

    Terapia de Vivncias Passadas (TVP)..............................137 Transcomunicao Instrumental (TCI) e Projeciologia....139 A reencarnao e a Bblia................................................140

    Captulo 9: De uma mesma fonte vm todas as religies............................................................................149

    Erros da Teologia Eclesistica.........................................151

    Captulo 10: A Bblia e o ressurgimento de suas prticas...........................................................................159 Fenmenos espirituais na Bblia.....................................162 Profecias e outros dons espirituais...............................163

    Concluso....................................................................173

    Sobre o autor................................................................179 Referncias bibliogrficas............................................181

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais Joo dos reis Rodrigues Milagres e Ana Chaves Milagres, que me deram uma educao exemplar totalmente voltada para a espiritualidade, o que despertou em mim o interesse pelo seu estudo. minha dileta companheira Justina Ins Valandro. Aos meus filhos Llian, Ricardo, Mrcia (e sua me Vanilda), Camila e Tiago. Aos meus irmos, alguns j residindo no Plano Espiritual: Maria, Geraldo, Ana, Terezinha, Luciana, Ins e Catarina. E a todos os meus grandes amigos que sempre incentivaram meu trabalho no rdio, TV e como palestrante e articulista de jornais e revistas, entre os quais o empresrio e deputado Federal Dr. Vittorio Medioli, Presidente do jornal O TEMPO, de Belo Horizonte, MG, em que tenho uma coluna bblico-esprita, s segundas-feiras, j h quatro anos, Professor Rosrio Amrico Resende, Professora Malvina Resende, Professor Pedro do Nascimento, Presidente do Comit da Paz, Seo MG, Zenade Faria, Oswaldo Faria, Dr. Oswaldo Wenceslau, Professor Reginaldo A. Orlandi, Professor Antnio Eustquio Gonalves, Dr. Abro Roque Silva, Dr. Sidney Batista, Dr. Ari Gonalves Neves, Lincoln Souza Cruz, Gilmar Jos Gouveia Giostri, Alosio Wagner, Professora Jussara, Paulo Neto, Alamar Rgis Carvalho, Nelson Morais, Professora Ana Maria Eustquia Santos, Joo Batista, Geraldo Sader, Professora Anglica, Dra. Francisca, Dr. Jos Herculano de Souza, Joo Cncio , Dr. Juarez Tvora de Freitas, Fernando Magalhes, Professor Nriton Braz, Wilmar Braz, Estevo Flores de Salles, Betinho, Dr.Waldemar Falco, Carlito, Josias, Dr. Jacy Henrique Pereira, Dr. Leonardo Magalhes, Clausy Soares, Dr. Martin Claret, Jether

  • Jacomini (da Rede Boa Nova) e muitos outros, que no esto aqui mencionados, mas que esto tambm em meu corao.

  • PREFCIO

    uma grande ousadia querer algum falar sobre Teologia, j que essa palavra designa um tratado sobre Deus, sobre o qual no temos condies de nada falar, j que Ele um Ser Infinito, portanto ininteligvel, para ns seres finitos. Provavelmente, por vislumbrar essa grande verdade, que Santo Toms de Aquino, autor de uma das maiores obras sobre Deus e Teologia, a Suma Teolgica, tenha dito, pouco antes de morrer, que tudo aquilo que escrevera era palha. Ou teria sido porque ele se inspirou em Aristteles, sem dvida, um dos maiores gnios da Filosofia que a humanidade j teve, mas que, se no pode ser tachado de materialista, foi um homem indiferente s questes relacionadas com a espiritualidade, que representa a ponte de ligao com Deus. E, se uma ousadia querermos falar sobre Deus ou sobres as questes inerentes a Ele, mais ousadia ainda algum enveredar pelo caminho das coisas subjacentes s coisas de Deus. Por isso, talvez, at sejam meio fantasiosas algumas abordagens desta obra A Face Oculta das Religies. Mas uma coisa certa, ela procura fundamentar-se numa hermenutica e numa exegese independente de toda e qualquer corrente teolgica crist tradicional e dogmtica, numa tentativa de mostrar concluses baseadas na lgica e no bom senso, sob a tica da mentalidade do homem de hoje, e no da mentalidade da Inquisio, das Cruzadas e do desrespeito total cultura religiosa indgena, nas regies colonizadas pelos civilizados! E poderamos at dizer que o que oculto justamente aquilo que a mentalidade do passado deixou de perceber ou que, a restrio da liberdade religiosa no deixou prevalecer na ortodoxia do Cristianismo, com o agravo do menor conhecimento que se tinha dos textos bblicos no passado, em relao ao conhecimento que se tem deles hoje. Ademais, h uma evoluo constante em todos os setores da humanidade. E a evoluo do esprito e da mentalidade, conseqentemente, impe-se poderosa e soberana, mentalidade essa que, como lavas de um vulco, vai levando de roldo tudo o que encontra pela frente, fazendo cair em desuso e desatualizando tudo o que, no passado, parecia ser verdades intocveis e irretocveis.

  • Muitas vezes, a verdade justamente aquilo que menos queremos ouvir, pois cada um tem a sua verdade, a qual protegida com todas as armas possveis de que lana mo aquilo que o mais suspeito de no ter a verdade, ou seja, o nosso ego, causa principal da maioria dos males que afligem a humanidade. Ter coragem de dizer a verdade , s vezes, o mais arrojado ato de herosmo e santidade. Essa atitude era uma das grandes virtudes dos hereges que, por esse motivo, tornaram-se mrtires da mentalidade atrasada da humanidade de ontem. Ao se dizer uma verdade, no se deve concluir, necessariamente, que se esteja agredindo algum ou uma organizao que, no passado estava ou ainda est no erro. Mas pode-se estar apenas condenando o erro. E essa a inteno nica do autor deste livro. Quando o Papa Joo Paulo 2 veio a pblico pedir perdo pelos erros mais conhecidos cometidos pela Igreja Catlica Apostlica Romana no decorrer da Histria, jamais ele quis agredir a Igreja que ele dirige e ama, mas to-somente mostrar que ela errou e lamentava esses erros, dos quais, pois, pedia perdo. Assim como foi necessrio que, anteriormente, muitos apontassem os erros da Igreja, para que hoje o Papa viesse a pblico abjur-los, ser necessrio, tambm, que outras pessoas apontem os muitos outros erros que a Igreja ainda tem, para que, futuramente, outro Papa, num gesto herico de renncia s instncias do ego, faa o mesmo que fez o Joo Paulo 2, ou seja, pedir perdo humanidade pelos outros erros da Igreja, principalmente na rea teolgica. A mentalidade do passado era complacente com a morte dos hereges na fogueira, justamente porque essa mentalidade era atrasada. E no seria tambm por ela ser atrasada que, em parte pelo menos, no se aceitaram as teses herticas? O certo que as mortes na fogueira foram substitudas pelas excomunhes, que tantos e desconfortveis incmodos causaram aos hereges. E ambas as coisas, excomunhes e incmodos dos hereges, eram tambm frutos de uma mentalidade atrasada. Podemos dizer, pois, que a causa principal das aberraes religiosas a ignorncia ou atraso mental. Mas agora, j passaram as mentalidades atrasadas das mortes nas fogueiras, das excomunhes (a Igreja praticamente no excomunga mais ningum) e das conseqncias de incmodos materiais e morais para os hereges. Sim, justamente por os hereges de ps-Inquisio serem numerosos, a Igreja se cansou de excomung-los, e as excomunhes caram em desuso. que a Igreja acabou se convencendo de que sua misso recebida de Jesus de abenoar e no de excomungar ou amaldioar! Mas, se terminaram essas coisas que nunca deveriam ter existido, por que no acabam tambm certas idias que as acobertavam e as originavam? Por que no libertar de vez o cristianismo dos erros, tornando-o vitorioso de fato? O objetivo deste livro mostrar algumas das idias erradas que ainda prejudicam a Igreja Catlica e outras igrejas crists, como, por exemplo, a no aceitao oficial da reencarnao. Dizemos a no aceitao oficial, porque grande parte dos cristos aceita a reencarnao, apesar de os lderes religiosos a condenarem. Mas eles esto ficando isolados e no vo dar conta de continuarem como que escondendo o sol com

  • a peneira. Alis, grande parte dos fiis mais culta do que os seus dirigentes religiosos, e, por conta prpria esto adotando a reencarnao. No importa que o modo de pensar do autor e algumas coisas pouco conhecidas, mostradas por ele, venham assustar muitos leitores cristos ortodoxos, que esto atolados nos erros de uma mentalidade arcaica vigente at hoje, apesar desses erros serem insustentveis, pois os hereges tambm assustaram os ortodoxos de ontem. E lembremo-nos de que o maior herege de sua religio foi o prprio Jesus. Primeiramente, Jesus desafiou os sacerdotes e a ortodoxia judaicos, e depois transformou grande parte do Judasmo, a sua religio, em Cristianismo.

  • CAPTULO 1

    DEUS NUMA VISO UNIVERSAL

    medida que se vo alargando os conhecimentos humanos, aquela imagem medocre que tnhamos de Deus vai alargando-se.

    Deus deixou de ser provinciano para se tornar universal.

    Werner Von Braun

    (Diretor do Projeto Apolo, responsvel pelo envio do homem Lua).

    Com a crescente democracia religiosa reinante no Mundo Moderno, no Ocidente, a partir do fim de Inquisio ou mais precisamente a partir do sculo 19, as idias sobre Deus comearam a aclarar-se, no s para os telogos e as pessoas de nvel intelectual elevado, mas tambm para as massas, que passaram a alfabetizar-se em maior nmero, e a ter mais acesso aos livros. E, com o advento da imprensa moderna, escrita, falada e televisiva, incrementou-se mais, ainda, o conhecimento sobre Deus, dando origem a uma nova Teologia Crist, que poderamos chamar, na falta de uma melhor expresso, de Teologia do Bom Senso, ou seja, uma teologia racional e desvencilhada de certos dogmas confusos e irracionais que foram impostos fora aos cristos.

  • A democracia sempre foi e sempre ser o melhor tipo de governo, no s para o bem-estar social dos povos, mas tambm para o seu progresso tecnolgico e cientfico. E isso vale tambm para o desenvolvimento de uma mentalidade religiosa mais saudvel e mesmo para a evoluo espiritual do indivduo. Realmente, s com a contribuio do pensar livre das pessoas, pode-se chegar verdade plena, aos dons espirituais de profecia, j que, com a profecia, falamos aos homens, edificando, exortando e consolando 1 Corntios 14, 1,2 e 3). E oportuno que ns nos lembremos aqui de que profetizar no s dizer verdades, mas tambm, como vidente (1 Samuel 9,9), adivinhar o futuro e o passado, e dizer verdades, tambm exercer o dom do profetismo propriamente dito, ou seja, quando um esprito iluminado (Esprito Santo) fala, escreve e gesticula atravs do profeta, modernamente chamado de mdium ou canalizador, fenmeno esse que o apstolo Paulo chamou de dom espiritual (dom do esprito do indivduo). O profeta desse tipo que recebe espritos denomina-se em Hebraico de profeta Navi ou Nabi, de que a Bblia tem vrios exemplos, assunto esse que os padres e pastores, geralmente, ignoram, pois os poucos que sabem guardam segredo sobre esse fenmeno, no o passando para seus alunos e colegas, j que se trata de fenmeno esprita. Num outro captulo, esse assunto voltar baila. A Teologia do Bom Senso, a que nos referimos linhas atrs, surge mais dos sbios, que no passado foram chamados de hereges, do que dos telogos propriamente ditos. Alis, os hereges eram grandes telogos. Os telogos ortodoxos, ou seja, aqueles que pertencem a um sistema religioso, so fiis s diretrizes que vm das hierarquias superiores desse seu sistema religioso, caso contrrio, tero problemas com seus superiores hierrquicos. Por isso, quase sempre preferem o silncio a dizer verdades, servindo eles, pois, mais sua convenincia do que sua conscincia. De fato, eles tm que cuidar do seu ganha-po, do seu emprego, pois vivem da sua religio, quando deveriam ser voluntrios como o so os espritas, que no vivem da sua religio, mas vivem para a sua religio. Muitas vezes, nesta obra, vamos usar a expresso Teologia Eclesistica, como o faz Huberto Rohden, no sentido da teologia de determinada igreja, que tanto pode ser a Catlica, como pode ser tambm uma igreja protestante ou evanglica. Por Teologia Eclesistica, pois, entendemos o oposto da expresso Teologia do Bom Senso usada por ns. Infelizmente, a Teologia Eclesistica, ao invs de arrebanhar mais fiis para o cristianismo, ela responsvel pelo surgimento de um grande nmero de ateus no Ocidente, sendo culpada tambm pela indiferena e frieza de grande parte dos cristos. A Teologia Eclesistica foi tambm a responsvel pela Inquisio. Os hereges morriam na fogueira por no concordarem com suas doutrinas dogmticas. E um dos maiores erros doutrinrios da Teologia Eclesistica foi o de antropomorfizar Deus, erro do qual a Igreja j se libertou bastante. E lentamente, ela vai caminhando para a Teologia do Bom Senso. Mas os nossos irmos evanglicos, que herdam muitos erros da Igreja do passado, esto ainda atolados, salvo uma pequena parcela, na Teologia Eclesistica e na antropomorfizao de Deus, ou seja, numa viso de

  • um Deus velho e barbudo sentado em um trono, moda do Deus (Jav) do Velho Testamento, o qual justiceiro, colrico, vingativo, ciumento e possuidor de todas as outras mazelas prprias de ns, seres humanos. Esse Deus o oposto do Deus de amor, de bondade e de misericrdia, um Deus Esprito e Pai e Me de todos ns, inclusive do prprio Jesus. Alis, no dizer do apstolo Paulo, Deus o Pai ou o Rei dos Espritos (Hebreus 12,9). Outro grande erro cometido pela Teologia Eclesistica foi a sua imposio fora, tambm, aos indgenas e povos colonizados ou dominados por guerras religiosas, destruindo grande parte das culturas tradicionais religiosas de vrios povos. Devemos, porm, ser moderados nessas crticas contra a Igreja e o Judasmo Antigo, pois esses erros cometidos por eles so devidos ao atraso evolutivo dessas religies de tempos passados, e ao fato de elas terem sido ligadas direta ou indiretamente ao poder civil, quando no havia ainda regimes democrticos, o que levou as religies a tolherem tambm a liberdade de pensar de seus seguidores. De fato, como vimos, sem democracia ou liberdade, as coisas no caminham bem, principalmente na rea religiosa, pois a f tem de ser espontnea, natural, podendo ser exposta, mas nunca imposta pela fora. O prprio apstolo Paulo nos adverte dizendo quem nem de todos a f (2 Tessalonicenses 3,2).

    As religies orientais e outras

    Enquanto no havia democracia religiosa no Ocidente, as religies do Oriente praticavam uma crena em Deus mais prxima dos ensinamentos do Evangelho de Jesus, o qual deve ter tido uma grande decepo com os cristos medievais ocidentais, que faziam justamente o contrrio do que Ele nos ensinou em seu Evangelho. Sem dvida que Jesus preferiria a queima de seu Evangelho queima de pessoas nas fogueiras inquisitoriais, das quais ainda vivas, se fazia churrasco nas praas em redor das igrejas e catedrais crists. E, muitas vezes, as pessoas que assistiam s missas eram tomadas pelo cheiro dos churrascos dessas carnes humanas ainda vivas. E aqui ficamos a imaginar se tais fatos escabrosos aumentavam ou diminuam a f dos fiis e dos sacerdotes no interior dessas igrejas. Certamente, os espritos mais evoludos daquelas pessoas presentes nas missas ficavam acabrunhados e perturbados com a fumaa e o cheiro do incenso misturados com a fumaa e o cheiro dos churrascos que, no mnimo, criavam uma atmosfera de terror naquelas

  • cerimnias religiosas, atmosfera de terror essa agravada mais ainda com os gritos de dor e desespero das vtimas que agonizavam no fogo. Sem dvida que os espritos mais evoludos repudiavam em silncio aquelas barbaridades totalmente contrrias ao Evangelho do Mestre, contra as quais, por serem eles uma minoria, nada podiam fazer! Hoje, mais evoludos, todos ns, espritos humanos, repudiamos a Inquisio. J naquelas pocas, os orientais mais evoludos espiritualmente e mais sintonizados com o Evangelho do Mestre, apesar de no serem oficialmente cristos, viviam em paz e j ensinavam que Deus Amor e o nico, do qual nada pode ser dito. Destarte, se refletirmos bem sobre as religies orientais, ns vamos ver que a nossa cultura ocidental precipitou-se um pouco em ir tachando-as de politestas, quando na realidade, elas pregam um Deus nico. verdade que elas tm outros deuses, mas que so secundrios, como se fossem auxiliares do Deus nico, como os catlicos que tm anjos e santos, Maria e Jesus, mas que possuem tambm apenas um Deus propriamente dito. De fato, se Deus um Ser infinito, e ns seres finitos, no podemos compreend-Lo nem defini-Lo. Com razo, pois, diz So Paulo que as coisas do esprito no podem ser entendidas nem explicadas pelo intelecto (1 Corntios 2,14). como diz o adgio de um autor desconhecido: Deus do tamanho do vazio que h dentro de ns, o que deve ser entendido mais ou menos assim: quanto maior for esse vazio interior, maior o nosso contato com Deus, maior o nosso conhecimento de Deus, como nos ensina a filosofia do autoconhecimento. E isso inerente tambm aos ensinamentos de Jesus que nos exorta para que nos tornemos um com Ele e o Pai. Mas, infelizmente acontece freqentemente o contrrio conosco. Na China, de Lao-Ts este interessante pensamento sobre Deus: Se voc pode dar-Lhe um nome, no Deus, se voc pode defini-Lo, no Deus. E tambm no Oriente Mdio, o grande mdium Maom, fundador do Islamismo, num momento de grande inspirao, deixou-nos uma frase magistral sobre Deus, o Criador: No h outro Deus seno Deus. Eutiques, um dos mais famosos hereges do Cristianismo Primitivo, deixou-nos uma frase sobre Deus muito significativa e que exatamente de acordo com a Filosofia e a Teologia Orientais, o que, entretanto, quase lhe custou a vida: Quem sou eu para dizer alguma coisa sobre o meu Deu!.E Eutiques estava mais do que certo, pois que seu pensamento sobre Deus se identifica com o do apstolo Paulo: Quem saber as coisas do homem, seno o esprito do homem que nele habita? Assim tambm ningum sabe as coisas de Deus, seno o esprito de Deus (2 Corntios 3,6). O notvel mestre de filosofia e teologia, Huberto Rohden, ex-sacerdote Jesuta, que conviveu com Einstein na Universidade de Princenton, e o criador da Filosofia Univrsica, qual tenho a honra de pertencer, afirmou sobre Deus: Ningum pode descobrir Deus mas Deus pode descobrir o homem, se este o permitir. Na verdade, Deus at j nos descobriu, pois Ele est dentro de ns: O reino de Deus est dentro de vs (Lucas 17,21). Mas somente nos conscientizaremos disso, quando estivermos bem evoludos, ou seja, j realmente semelhantes ao nosso Mestre Jesus. So Paulo nos instruiu sobre esse fato: At que todos cheguemos unidade da f e estatura

  • mediana de Cristo... (Efsios, 4,13). E a partir da, que ns nos tornaremos tambm, de fato, um com Jesus e com Deus. Por enquanto, na maioria dos seres humanos, essa unidade com o Mestre e Deus s existe em estado potencial, isto , em forma de semente, cabendo ao nosso livre-arbtrio cuidar dessa semente, para que ela germine, cresa, floresa e produza bons frutos. Isso acontecer com todos ns. Mas o tempo para isso se concretizar em ns depende s de ns, pois nosso livre-arbtrio respeitado por Deus. como na Parbola do Filho Prdigo, ele entrou em si e voltou para o seu pai, que o recebeu de braos abertos e ainda com um grande e festivo banquete. No Bhagavad-Gita do Hindusmo, que, segundo as mais recentes pesquisas arqueolgicas levadas a efeito na ndia, data de cinco mil antes de Cristo, lemos: Aquele que se abandona a mim inteiramente e que s a mim ama, descobre-me. Aquele que me conhece como o Ser nico que vive no fundo de todos os seres, nele vivo e ele vive em mim, qualquer que seja o caminho para o qual, nesta Terra, a sorte o conduz (Charllaye, 1989:73). Para o Budismo, Deus uma vacuidade, um ser indefinido, incompreensvel, imanifesto. Em conseqncia disso, o Budismo , muitas vezes, visto como sendo uma religio materialista. Outro fator que nos traz dvidas sobre essa religio o fato de ela preocupar-se muito com as normas para evoluo espiritual de seus adeptos, at que eles se tornem budas, isto , iluminados, quando eles passam a fazer parte do Nirvana, em que haveria o aniquilamento da identidade do ser (esprito). Mas, na verdade, o aniquilamento do ego e das paixes. O Budismo classifica Deus como sendo a Grande Realidade. Um dos maiores erros dos telogos foi tachar de ateus pessoas que tinham uma viso diferente deles sobre Deus, como se um filsofo ou um cientista pudesse pensar em Deus do mesmo jeito que pensa uma pessoa simples e analfabeta. E ainda hoje costumam considerar ateus os que crem em Deus e Jesus, mas sem seguirem a cartilha religiosa deles. E muitos catlicos e evanglicos acham que o nico modo certo de pensar sobre Jesus Cristo o deles e, o que pior, eles no querem que os espritas, os Rosas-Cruz, os tesofos, os adeptos da Seicho-No-Ie, a Igreja Messinica e outras correntes religiosas no tenham tambm o direito de admirar Jesus nem de se considerarem seus discpulos. No entanto, o Mestre disse: Conhecereis meus discpulos pelo que eles se amarem uns aos outros. No , pois, a religio ou o modo de pensar das pessoas que determina quem e quem no discpulo de Jesus. Mas so seus discpulos os que fizerem o que Ele nos recomendou, ou seja, a vivncia do seu Evangelho ou o amor incondicional a todos os seres humanos, inclusive aos nossos inimigos. Nesse sentido, Ele nos deixou este ensino: Faam aos outros o que vocs querem que os outros lhes faam. E arrematou: Amem uns aos outros como eu os amei. E so os espritas que nos do melhor exemplo da vivncia do Evangelho do Mestre, pois so eles que mais praticam a caridade e a fraternidade. E aos que tm o hbito de ficarem condenando os seguidores de outras religies, eis uma advertncia do Mestre: No condeneis para no serdes condenados.

  • Gandhi nos deixou um grande exemplo de um cristo autntico. Com a sua doutrina da no-violncia (Ahinsa), apesar de ser considerado um pago, pois, como adepto do Hindusmo, no era batizado, ele tido como sendo o maior cristo do sculo 20. dele esta frase: Aceito o Evangelho de Jesus Cristo, mas no aceito a maneira como os cristos o praticam. A Igreja Catlica, sabendo dos seus valores espirituais e morais, numa sua Campanha da Fraternidade, na dcada de 1980, indicou-o como modelo a ser seguido pelos catlicos. E sobre ele afirmou Einstein: Geraes vindouras dificilmente acreditaro que tenha passado pela face da Terra, em carne e osso, um homem como Mahatma Gandhi. Parabns, pois, para a Igreja Catlica, que, no passado, tanto gritava que afora da Igreja no havia salvao, mas que hoje reconhece embora discretamente que toda religio salva. Nossos irmos evanglicos tm herdado muitos erros da Igreja Catlica do passado, sendo um deles esse de que s a Igreja salva. Mas tomara que eles, o mais rpido possvel, deixem de lado a herana desse citado erro da Igreja, e passem a herdar a nova e grande verdade dela de que toda religio salva, doutrina essa que sempre foi muito difundida pelo Espiritismo, cujo lema : Fora da caridade no h salvao. Ora, essa doutrina pode ser adotada por todas as religies, e ela tambm de So Tiago que nos ensina: A f sem obras morta. Em outras palavras, ser cristo sem caridade perda de tempo. Nas regies da sia, em que predomina o Budismo, h uma unio entre os budistas, os hindustas e os cristos. E nas regies em que domina o Confucionismo, h unio entre os confucionistas, hindustas e cristos. Foi o iluminado Ramakrishna quem, em meados do sculo 19, comeou a lanar as sementes desse ecumenismo, hoje com um grande nmero de adeptos na sia. Esse movimento ecumnico de Ramakrishna tem o nome de Caodasmo. E nele deve ter-se inspirado o Papa Joo 23, para convocar o Conclio Vaticano 2 (1963). Quase que ao mesmo tempo em que Ramakrishna iluminava a sia com o seu ecumenismo, Allan Kardec lanava na Frana as bases de um movimento religioso revolucionrio, isto , o Espiritismo, que, alm de ser uma religio com base na moral contida no Evangelho de Jesus, tambm uma filosofia e uma religio. Os fenmenos espritas sempre existiram em toda a histria da humanidade, inclusive na Bblia, que est repleta desses fenmenos medinicos, mormente nos Livros de Atos dos Apstolos, Apocalipse, 1 Samuel e a Primeira Carta de Paulo aos Corntios, em seus captulos 12 e 14. O que Kardec fez foi, com a sua Codificao, colocar disciplina e ordem na prtica dos fenmenos espritas, para o que esse grande cientista fez um profundo estudo e pesquisa dos fenmenos medinicos. Hoje, apesar das calnias e difamaes por parte da Igreja do passado, o que ainda feito por nossos irmos evanglicos, oi Espiritismo vem ganhando corpo, em todo o mundo, mas principalmente no Brasil, por ser a nao mais catlica do mundo. Isso acontece justamente porque h grandes afinidades entre o Espiritismo e a Igreja, pois enquanto ele lida com os espritos, ela lida com seus santos, que so tambm espritos. Alm disso, a Doutrina Esprita a mais fiel Bblia, como veremos no desenrolar deste livro, principalmente nas questes medinicas. Para o Espiritismo, Deus a Inteligncia Suprema ou a Causa Primria de todas as coisas.

  • Como vimos, h muitas semelhanas entre as idias sobre Deus e as doutrinas. E como disse Helena Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosfica: Entre as religies existe uma linha mestra unindo-as todas. Se no fossem, pois, o nosso egosmo e o nosso orgulho, no faltaria muito para que se concretizasse o desejo de Jesus de um s rebanho e um s pastor. Mas as coisas do nosso anticristo esto sempre retardando a chegada de fato do reino de Deus entre ns, que tambm o reino do Cristo. Mas chegaremos l!

    Ateus que no eram ateus

    Como j vimos por alto, a Teologia Eclesistica considerava como sendo ateu os indivduos que no se afinavam com ela. E, assim, eram considerados, por exemplo, quando algumas duas suas idias tinham influncia da Filosofia Oriental, que, diga-se de passagem, muito mais mstica do que a Ocidental, alm de ela se identificar mais com a cincia moderna do que a Ocidental. Exemplos do que estamos dizendo aconteceram com Goethe e Dostoievsky, que acreditavam em Deus e eram at msticos, sendo mesmo Dostoievsky um telogo. Porm, ele foi considerado ateu s porque desejava intensamente a humanizao do homem. J Goethe, porque pregava a desdemonizao da existncia, ou seja, a inexistncia do demnio tal qual ele era tido pelos telogos, foi tachado tambm de ateu. Mas Goethe tinha razo, pois hoje, aquele demnio da sua poca anda meio desacreditado at entre os prprios telogos da Igreja. A no ser entre os evanglicos que, como j vimos, herdam muitos erros da Igreja do passado, o demnio todo poderoso, como se fosse um outro Deus ou Deus do mal, est aposentado. Hoje se sabe que ele nada mais do que um esprito humano atrasado. E sobre esse assunto, voltaremos a falar em outro captulo. Dostoievsky e Goethe, assim como Nietzsche, eram reencarnacionistas, o que quer dizer que acreditavam na imortalidade do esprito. A dvida existente sobre a real posio de Nietzsche, j que ele pregou a morte de Deus. Seria a morte daquele

  • Deus antropomrfico de sua poca? O certo que ele acreditava, de fato, na imortalidade do esprito humano, pois demonstrou que aceitava a reencarnao. E quem acredita na imortalidade do esprito, cr em Deus. de Nietzsche esta frase: Minha doutrina : Deves viver de modo a poderes desejar a viver novamente esse o teu dever -, pois, de qualquer forma, vivers novamente (Chaves, 1998: 126). Diante do exposto, fica-nos, pois, difcil aceitar a afirmao de que Nietzsche fosse mesmo totalmente ateu. O que pode ter acontecido que, numa determinada poca de sua vida, ele tenha sido ateu, mas tenha, posteriormente, passado a crer em Deus. Assim pensamos, porque h mais textos deles afirmando a reencarnao: Ns revivemos as nossas vidas detalhe por detalhe (Chaves, 1998: 126). E eis mais este: O conceito de renascimento um ponto de mutao na histria da humanidade (pgina 125). E, quanto a Dostoievsky e a Goethe, que eram tambm adeptos da reencarnao, so deles, respectivamente, os seguintes pensamentos, que jogam por terra, por completo, a afirmao de que eram materialistas: Declaro que o amor pela humanidade constitui coisa simplesmente inconcebvel e mesmo impossvel sem a f em Deus e na imortalidade da alma; Meu Deus, longa a arte, e minha vida to curta! Ser ateu, no passado soava como sendo algo de pejorativo. Era como que uma pecha muito grave e uma desonra mesmo. Assim, se um indivduo era inimigo da Igreja, um anticlerical, por exemplo, para desacredita-lo, qualificavam-no como sendo ateu. o caso de Voltaire, que no simpatizava muito com a Igreja com a Igreja e o clero catlico, alm de ser muito irnico com relao ao catolicismo. E no deu outra, foi tachado de ateu por autores catlicos, o que no verdade. Ele apenas no aceitava os princpios da Teologia Eclesistica ou os dogmas da Igreja, e sim, os da Teologia do Bom Senso. S pela seguinte frase dele, ficamos sabendo que ele era, de fato, um espiritualista: Se Deus no existisse, seria preciso invent-Lo. como disse Santo Agostinho: No ntimo do homem existe Deus. Bom ns termos uma religio. Mas, mesmo sem religio, podemos ter Deus no corao! Tambm Guerra Junqueiro foi tambm tido como ateu por autores catlicos. Mas, na verdade, ele era um crdulo da Teologia do Bom Senso, no aceitando apenas as aberraes da Teologia Eclesistica. Por isso escreveu o livro A Velhice do Padre Eterno, em que ele satiriza o conceito de Deus antropomrfico da Teologia Eclesistica. E conveniente lembrar aqui que Padre Eterno, na sua poca, equivalia ao ttulo de Deus, Pai Eterno. E, por um seu pensamento, v-se claramente o que estamos afirmando sobre ele, ou seja, que ele no era ateu: O espia que Deus traz em cada um de ns a nossa conscincia.

  • Spinoza e Einstein

    Spinoza e Einstein so dois grandes sbios da histria da humanidade sobejamente conhecidos para que se team aqui comentrios sobre eles. Vamos apenas fazer uma abordagem de ambos do ponto de vista de sua religiosidade. Spinosa no cr numa liberdade plena do homem, pois que ela depende da conscincia, e at idntica a ela, segundo Huberto Rohden. E ns nunca somos pleniconscientes, logo tambm no podemos ser plenilivres. Somente Deus pleniconsciente, e por isso plenilivre. O homem tem algo da essncia divina, mas tem tambm seu lado existencial, que no permite que ele seja plenilivre. Spinoza, com esse seu raciocnio, divide o homem em duas partes: a divina, que ele chama de natura naturans, e a parte existencial, fenomenal, a que ele d o nome de natura naturata. A natura naturans determinante, ativa, enquanto que a natura naturada determinada, passiva. E, assim, Spinoza conclui que o homem tem uma causa determinante, ativa, divina, mas o efeito dela determinado, que seu lado da existncia fenomenal, do mundo, que o impede de ser inteiramente divino, e, ipso facto, impede-o tambm de ser plenilivre. Com essa tese de Spinoza, fica evidente que o homem no totalmente livre. Seu livre-arbtrio tem interferncias que no dependem exclusivamente do homem, o que o isentaria de ser totalmente responsvel pelos seus erros. E interessante lembrarmos aqui que Santo Agostinho afirma que o homem no realmente livre por causa do pecado original. Esse princpio do bispo de Hipona e de Spinoza traz, sem dvida, complicaes para ns, no tocante nossa responsabilidade sobre os pecados ou faltas cometidas por ns, principalmente o de Santo Agostinho, pois o tal de pecado original polmico. Outra questo muito importante na Filosofia de Spinoza, mais importante, talvez, do que a anterior, a referente a Deus, a qual levou muitos autores a acusarem-no de pantesta e at mesmo de ateu, quando na realidade, ele era um homem mstico. Era apenas um adepto da Teologia do Bom Senso. A sua religio de bero, isto , o Judasmo, excomungou-o. A base de sua filosofia espiritualista pode ser resumida num seu pensamento sobre Deus: Tudo o que existe, existe em Deus. Fora de Deus nada pode ser concebido. A Filosofia de Spinoza no era bem pantesta. A etimologia dessa palavra pantesmo pan (tudo, em grego), e Theos , (Deus em grego). Assim, pantesmo um princpio filosfico que quer dizer Deus em tudo. Cremos que seja imprudente tacharmos o pantesmo de atesmo propriamente dito. Talvez melhor fosse vermos

  • nessa doutrina um misticismo muito profundo. Santo Agostinho diz algo que endossa mais ou menos o que estamos afirmando: Deus mais intimamente em ns do que ns mesmos. E tambm o apstolo Paulo diz algo semelhante ao de Santo Agostinho: Ns somos templos do Esprito de Deus. E vejamos esta frase de Jesus que nos faz pensar mais sobre essa questo de Spinoza que estamos abordando: O reino de Deus est dentro de vs mesmos. Entre a afirmao de que Deus tudo e Deus est em tudo h uma grande diferena. E essa diferena faz a diferena entre a Filosofia Oriental a favor do Pantesmo propriamente dito e a Filosofia Ocidental a favor de Deus transcendente. O Pantesmo no s coloca Deus imanente em tudo, mas tambm diz que Deus tudo. J o transcendentalismo v Deus imanente em tudo, mas tambm fora de tudo ou transcendente e imanente simultaneamente. Assim, o Deus imanente do Pantesmo um erro, enquanto limita Deus s coisas e mesmo confundindo Deus com as coisas. A Filosofia Ocidental est certa, pois admite Deus imanente, mas tambm transcendental ao mesmo tempo, ou seja, Ele est em tudo, mas no tudo, e est, igualmente, fora de tudo. E aqui uma ressalva. Como Deus tem livre-arbtrio, Ele est em tudo, sim, mas em que Ele quiser estar. O alemo Krause criou uma palavra que esclarece essa questo, isto , Panentesmo, que significa Deus presente em tudo, o que diferente do Pantesmo que, como vimos, afirma que Deus tudo. O Panentesmo tambm a tese de Teilhar de Chardin, que, precipitadamente, foi tachado de pantesta por alguns autores. Ele via Deus nas coisas, mas no confundia Deus com as coisas, e via Deus tambm fora das coisas. Muitas vezes difcil sabermos at onde Spinoza era pantesta ou apenas panentesta. Mas, como vimos, no podemos considerar um pantesta como sendo um materialista propriamente dito. E sobre Spinoza afirmou Ernest Renan: Homem que teve a mais profunda viso de Deus. E vejamos o que afirmou o grande poeta catlico Novalis sobre o filsofo da natura naturans e da natura naturata: Spinoza foi um homem brio de Deus. E terminamos essa parte com frases de alguns personagens que dispensam comentrios e nas quais eles nos demonstram que Spinoza, o renomado filsofo e telogo do sculo 17, pensava semelhantemente a eles: A alma divina por natureza (Tertuliano). Somos participantes da natureza divina (So Pedro). ...no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser (apstolo Paulo). O reino de Deus est dentro de vs (Jesus) Deus estava sempre presente em mim, mas eu estava ausente Dele (Santo Agostinho).

    * * *

  • Alguns autores dizem que Fernando Pessoa era tambm ateu. A frase dele seguinte demonstra a falsidade dessa afirmao: Os sentidos so divinos porque a relao nossa com o Universo a relao com o Universo de Deus (Fernando Pessoa). Outro tachado tambm, falsamente, de ateu, e de que j falamos, Voltaire. Eis duas frases dele que desmentem os seus acusadores: A voz de Deus nos diz constantemente: uma falsa cincia faz um homem ateu, mas uma verdadeira cincia leva o homem a Deus. Um pouco de filosofia inclina o homem ao atesmo. Profunda filosofia faz retornar o homem religio. Existe um adgio muito popular: Para quem sabe ler, um pingo letra. E, assim, um gnio da cincia como Einstein, por pouquinho que ele tenha se dedicado ao estudo sobre Deus, ele deixou para trs a maioria dos telogos. E acontece que ele estudou muito sobre Deus. Juntou, ento, o dom da sabedoria com a dedicao ao conhecimento de Deus. Alm disso, Einstein tinha uma sabedoria intuitiva, qual ele mesmo se refere, como nos informam os seus bigrafos, entre eles Huberto Rohden. E de tudo isso, se infere que Einstein tinha um profundo conhecimento sobre Deus. E, de fato, ele conseguiu acumular uma grande bagagem cultural religiosa, como poucos contemporneos dele conseguiram, quebrando, inclusive, um preconceito que muitos cientistas tm com relao aos assuntos inerentes a Deus e s questes religiosas. Einstein chegou a fazer conferncias sobre temas espiritualistas, que so estudos profundos ou esotricos (o contrrio dos estudos exotricos ou das massas), tendo tambm escrito bastante sobre esses assuntos. Mas a religiosidade de Einstein se coadunava com a Teologia do Bom Senso. Sua religio de bero era o Judasmo. Certa vez, ele declarou: Minha religio no crist nem judaica. Mas Einstein era muito mstico. Para ele, s com um sentimento de religiosidade, ns podemos contemplar a grandiosidade do Universo. Em matria de religio, h pessoas que se acham frente das outras, mesmo que sejam pertencentes mesma religio, dcadas e at sculos. Einstein um exemplo disso. E no podia deixar de ser, por ter sido o grande gnio que era. Assim que, apesar de ele ter sido educado na religio judaica, e conviver com a cultura crist, desvencilhou-se cedo das duas culturas religiosas, tendo como absolutamente incompatveis com seu modo de pensar as idias antropomrficas de Deus, como, por exemplo, a viso de um Deus preocupado com os nossos defeitos e nossos erros, e que nos castigaria por causa dessas nossas mazelas morais. Na verdade, existem leis espirituais e morais que funcionam de modo inexorvel, as quais nos trazem felicidade ou a dor. Em outras palavras, colhemos o que plantamos. Mas no se trata de castigo ou prmio propriamente ditos de Deus, mas de funcionamento das leis csmicas criadas por Deus ou espritos (anjos) a seu servio.

  • Em seu livro Como Vejo o Mundo, Einstein nos transmite sua viso de Deus, da humanidade e do Universo, mostrando-nos por que comum uma certa incompatibilidade entre as igrejas e a cincia. E destaca que isso se deve ao fato de que os cientistas so mais inclinados a uma religio csmica, ou seja, a uma viso de Deus mais ligada a uma teologia que, como j vimos, estamos denominando neste livro de Teologia do Bom Senso, e no tradicional Teologia Eclesistica baseada em dogmas que, muitas vezes, so at contrrios ao ensino de Jesus. Einstein, alm de cientista renomado, criador que foi da Teoria da Relatividade, que revolucionou a Fsica, foi tambm um filsofo. E foi justamente a sua filosofia que fez despertar nele esse seu lado mstico, que ele deixou bastante extravasado em algumas de suas obras, principalmente na que j mencionamos: Como Vejo o Mundo. E encerramos esse captulo sobre Deus, com uma lista de pensamentos e frases referentes a Deus e a questes espiritualistas de vrios filsofos, telogos e sbios, esperando, esperando que essas citaes tragam mais luz a respeito do assunto aqui focalizado, algumas das quais j citamos nesta obra.

    Frases sobre Deus e a espiritualidade

    Aceito o mesmo Deus que Spencer chamou de alma do Universo, e no aceito Deus que se preocupe com as nossas necessidades (Einstein).

    Essa viso de Deus de Einstein e Sspencer a mesma de Spinoza, Huberto Rohden, Pietro Ubaldi, e que se aproxima bastante da viso de Deus de Teilhard de Chardin, e que se resume no seguinte: O Universo est para Deus como o nosso corpo est para o nosso esprito. E lembremo-nos de que ns fazemos parte do Universo, sendo, pois, essa viso de Deus e do Universo de acordo com a Filosofia Monista Espiritualista, ou

    seja, a de unidade total entre Deus, Jesus, ns e o Universo. Mas no entramos no modo como de fato se dar tal unio, a qual bastante heterognea na viso dos

    filsofos. Apenas expressamos a nossa opinio de que, por enquanto - e no sabemos at quando isso continuar -, estamos engajados na metafsica platnica da

    dualidade. E uma coisa certa: nunca perderemos a identidade de nossa entidade espiritual e imortal.

    Hoje eu creio melhor em Deus, e mais do que nunca no Universo (Teilhard de Chardin).

    Estive sua espera, estive tentando unir o que divino em ns ao que divino no Universo (ltimas palavras de Plotino ao seu discpulo Eustquio).

    Deus a lei e o legislador do Universo (Einstein). No ntimo do homem existe Deus (Santo Agostinho). O Deus por ns inventado no Deus (Krishnamurti).

    O Universo e Deus a mesma coisa (Pitgoras). No Universo no pode faltar Deus infinito que abrange tudo, mas Deus transcende o Universo.

    Deus est aonde O deixam entrar (Paulo Coelho).

  • Deus Amor (So Joo Evangelista). Deus Ato Puro (Aristteles).

    Deus meu Pai e vosso Pai (Jesus Cristo). Conhea eu a mim, para que eu conhea a Ti, Deus! (Santo Agostinho).

    Deus um na essncia e muitos na existncia (Huberto Rohden). Deus no apenas substantivo. Deus verbo. vibrao ordenando, infinitamente,

    o caos primordial (Martin Claret). A voz de Deus nos diz constantemente: uma falsa cincia faz um homem ateu, mas

    uma verdadeira cincia leva o homem a Deus (Voltaire). Um pouco de filosofia inclina o homem ao atesmo. Profunda filosofia faz retornar o

    homem religio (Voltaire). A Divindade a alma do Universo (Spinoza).

    O Deus Pessoal a leitura do Impessoal pela mente humana (Swami Vivekananda). No posso imaginar um Deus a recompensar e a castigar o objeto de sua criao

    (Einstein). De fato, Deus no castiga. Apenas funcionam as leis crmicas criadas por Ele ou seus espritos (anjos).

    Deus no joga dados com o mundo (Einstein). Com essa frase, Einstein quer dizer que nada existe aleatoriamente ou por acaso, mas tudo passado, medido e

    administrado por Deus ou seus espritos (anjos). Se eu, em algum livro, disse o que no verdade, no estou disposto a brigar com

    Deus porque no fez o mundo assim como eu disse (Einstein). Se eu no fosse judeu, seria um quakers (Einstein).

    Deus sutil, mas no maldoso (Einstein) Tornei-me um semideus, apesar de mim mesmo (Einstein).

    Os sentidos so divinos porque a relao nossa com o Universo a relao com o Universo de Deus (Fernando Pessoa).

    O que o homem pode fazer de melhor para a sua vida pr-se em harmonia constante com Deus por meio de splicas e oraes (Plato).

    No necessrio apelar para Deus, a fim de justificar as condies iniciais para o Universo, mas isso no prova que no h Deus. Apenas Ele age atravs das leis

    fsicas (Stephen W. Hawking). Este cientista ingls o maior fsico da atualidade. E trata-se de grande autoridade na Teoria dos Buracos Negros.

    A conscincia a presena de Deus (Swedenborg). O autor deve estar na sua obra como Deus est no Universo, onipotente e invisvel

    (Fernando Pessoa). Jesus crucificado no rejeitado. Pelo contrrio, Ele aquele que carrega o peso da

    humanidade e nos indica o caminho para Deus (Gandhi). Somos todos pela religio, contra as religies. Sim, eu venho adorar o Ente Supremo

    no seu templo (Victor Hugo). Religio: a nossa amiga neste mundo e companheira no outro (Tagore).

    O esoterismo excita o esprito do homem procura da verdade (Eliphas Lvi). mais fcil ns dizermos o que Deus do que o que Ele seja (Santo Toms de

    Aquino). A base do Universo a Mente (Hermes Trismegisto).

  • O centro de Deus est em toda parte, mas a sua periferia no est em parte alguma (Santo Agostinho).

    Tenho como certo que o puro raciocnio pode atingir a Realidade, segundo o sonho dos antigos (Einstein).

    O princpio criador existe na matemtica (Einstein). Pitgoras, Plato e o livro bblico Sabedoria (11,21), como Einstein, afirmam tambm que Deus usou nmeros para

    criar o Universo. Deus no um indivduo. Ele todos os indivduos (Masaharu Taniguchi, fundador

    da Seicho-No-Ie). A meditao uma ao de uma mente desenvolvida (Ouspensky).

    Todas as coisas so uma s, como uma ma uma s coisa (Ouspensky). Deus tem as chaves das coisas ocultas (Alcoro, VI, 59).

    Deus a Inteligncia Suprema, a Causa Primria de todas as coisas (Questo N 1, do O Livro dos Espritos, de Allan Kardec).

    A Unidade individual e indestrutvel (Plato). Isso que pensa no com a mente, mas pelo qual a mente pensa, saibam que isso

    Brhman, no o que adorado como tal (Upanixades do Hindus). Todas as mnadas criadas nascem, por assim dizer, por meio de fulguraes

    contnuas da Divindade a cada instante (Leibniz). Enquanto existir o Absoluto, todas as outras coisas tm o direito de existir, morrendo

    e renascendo (Ouspensky). Se no houvesse nenhum passado, no haveria nenhum presente, e, se no

    houvesse fpresente, onde estaramos ns (Ouspensky). No centro de todas as coisas, e superior a todas, est a ao produtora do Princpio

    Supremo (Tchung). A unio da alma com Deus muito mais profunda do que a da alma com o corpo

    (Meister Eckart). A existencialidade de Deus minha existencialidade (Meister Eckart).

    O maior engano de quem se afasta da Lei julgar seu erro maior do que a misericrdia divina (Trigueirinho).

    Nenhum pecador jamais se converteria, se no tivesse uma profunda experincia de amor divino (Santo Afonso Maria de Ligrio).

    Deus um tesouro escondido, e deseja ser conhecido (Maom). As almas no so salvas aos magotes (Emerson).

    At mesmo duvidar da prpria existncia seria pressupor a existncia daquele que duvida (autor desconhecido).

    O prprio esprito testifica com o nosso esprito que somos filhos de Deus (So Paulo, Romanos 8,16).

    O que est mais prximo de voc exatamente aquilo que voc menos conhece (Jung).

    Se algum me pergunta o que Deus, confesso que no sei, mas, se ningum pergunta, sei (Santo Agostinho).

    A melhor religio aquela que consiste em abraar todas as religies, aproveitando tudo aquilo que est de acordo com a nossa razo (autor desconhecido).

  • Deus Pai (Jesus). Deus Pai-Me (Quakers).

    Deus Me Keli (Ramakrishna). Deus, alm de Pai, Me (Joo Paulo 1).

    Deus Amigo (Abrao). As leis fundamentais do Universo no podem ser demonstradas por anlise lgica,

    mas somente pela intuio (Einstein), numa carta). Do mundo dos fatos no conduz nenhum caminho para o mundo dos valores, porque

    os valores vm de outra regio (Einstein). Com esse pensamento, Einstein que dizer que s se chega a Deus e verdade, de

    fato, pelo esprito, pelo nosso Eu Interior, pela nossa essncia, pela intuio, que representam o mundo dos valores, enquanto que o mundo dos fatos representado pela nossa existncia, a parte material, corporal ou da nossa persona, ego e nosso

    intelecto. A mais bela e profunda emoo que se pode experimentar a sensao do mstico

    (Einstein). Esse pensamento nos leva a concluir que Einstein tinha experincia prpria mstica,

    pois fala dela como algum que j aa experimentou. A experincia csmica religiosa a mais forte e a mais nobre fonte da pesquisa

    cientfica (Einstein). Minha religio consiste em humilde admirao do Esprito Superior e ilimitado que se revela nos menores detalhes que podemos perceber com nossos espritos frgeis e

    incertos. Esta convico profundamente emocional na presena de um Poder raciocinante Superior, que se revela no incompreensvel Universo, a idia que fao

    de Deus (Einstein). As trs ltimas citaes de Einstein foram tiradas do livro de Lincoln Barnet, O

    Universo e o Dr. Einstein, Ed. Melhoramentos, pg. 99, So Paulo, SP. Eu creio em Deus que se revela na harmonia ordenada do Universo, e que a

    inteligncia est manifesta em toda a Natureza (Einstein). Deus se confunde com o Universo, porque o Universo no existe sem Deus (autor

    desconhecido). Assim como a alma nica no corpo,

    Deus tambm nico no Universo. Assim como a alma pura e est acima do corpo,

    Deus tambm puro e est acima do mundo. Assim como a alma no come nem bebe,

    Deus tambm no come nem bebe. Assim como a alma preenche o corpo,

    Deus preenche o mundo. Assim como a alma v e no vista,

    Deus tambm v e no visto (autor desconhecido).

  • CAPTULO 2

    O cristianismo primitivo e as heresias

    Novo mandamento vos dou: que ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que tambm vos ameis uns aos outros. Nisto conhecero todos que sois meus discpulos,

    se tiverdes amor uns aos outros (Joo 13, 34 e 35).

    Das histrias da fundao das religies, a do Cristianismo uma das mais dramticas, a comear pela crucificao de Jesus que abalou e comoveu a prpria histria da humanidade. Podemos dividir o Cristianismo Primitivo em duas partes. A primeira a da perseguio que ele sofreu por parte dos imperadores romanos. E a segunda aquela que caracterizada pelas polmicas filosficas e teolgicas envolvendo os prprios cristos, fase esta tambm marcada pelo incio da interveno do poder temporal na Igreja, de maneira at escandalosa. E nisso merece destaque o papel exercido pelo Imperador Constantino, que, por um lado, beneficiou a Igreja, mas por outro, prejudicou-a, e muito, como veremos no desenrolar deste captulo e de outras partes deste livro. Com as suas crises internas, o Cristianismo comeou a enveredar por caminhos diferentes daquele do novo mandamento do Mestre: o amor incondicional ou at aos nossos prprios inimigos.

  • Os dois focos principais envolvendo as divergncias no Cristianismo Primitivo estavam nas Igrejas de Roma e de Constantinopla, sendo notrias tambm as posies assumidas pela Igreja de Alexandria, com relao a uma das duas Igrejas citadas e, s vezes, s duas ao mesmo tempo. Essas disputas, em parte, se devem ao fato de os bispos das citadas igrejas ou dioceses de Roma e Constantinopla serem os bispos das duas capitais dos dois Imprios Romanos o Ocidental e o Oriental. Em outras palavras, os bispos dessas capitais julgavam-se mais importantes do que os outros, por estarem mais prximos dos respectivos imperadores. J o de Alexandria considerava-se tambm importante, porque essa cidade era um grande porto e um grande centro cultural e cientfico da poca, alm de ser tambm um centro de entroncamento entre o Ocidente e o Oriente. Uma outra corrente forte dentro da Igreja era a da ala ortodoxa, que, geralmente, estava mais centralizada em Roma e Constantinopla. Essa ala ortodoxa da Igreja tinha o maior nmero de telogos. Mas, como acontece, a maioria dos elementos de uma classe de pessoas no representa o grupo dos mais sbios, que, geralmente, uma minoria. Um exemplo disso so os cristos gnsticos daquela poca, que eram os mais talentosos e mais sbios, mas que eram uma minoria que foi sufocada e mesmo eliminada pela maioria dos telogos da ortodoxia. E era Alexandria o centro dos gnsticos, que representaram o primeiro e mais poderoso grupo dos hereges que a Igreja teve que enfrentar. A ortodoxia considerava-se inspirada por Deus em suas posies contrrias s idias herticas. Mas ser que era mesmo assim, ou no se tratava, muitas vezes, de uma atitude egica e orgulhosa e arrogante, e at de vingana de seres humanos dotados dos mesmos defeitos e mazelas que todos ns temos? E isso se agravava mais, ainda, porque, muitas vezes, as questes teolgicas ortodoxas no s tinham a interveno das autoridades civis e temporais, mas elas que ditavam as regras que eram acatadas pelos telogos e autoridades eclesisticas da ortodoxia. E foi assim que nasceu a Teologia Eclesistica contra a Teologia do Bom Senso, esta, como sempre, mais fiel ao Evangelho do Mestre. Essas divises, tendo de um lado a ala ortodoxa, aliada do poder civil, e, de outro, a ala da Teologia do Bom Senso ou estribada, de fato, no Evangelho, perduram at hoje. Alis, elas constituem tambm as bases das instabilidades e cismas acontecidos em toda a histria do Cristianismo. Muitas questes teolgicas daqueles tempos idos, s vezes ingnuas e infantis, mas tambm j conflitantes e polmicas mesmo para aquela poca, hoje se apresentam a ns do sculo 21 como sendo insustentveis para a nossa mentalidade e nosso modo de pensar de hoje. Por isso mesmo, cabe Igreja Catlica, a religio com o maior poder cultural e cientfico-tecnolgico do mundo, com suas cerca de 4.000 PUCs existentes nos quatro cantos da Terra, tomar providncias no sentido de uma reviso geral em sua estrutura teolgico-dogmtica antiga, mas vigente at hoje. Isso se torna mais necessrio, quando se sabe que alguns princpios dogmticos, alm de no estarem baseados na Bblia, s vezes so at contrrios a ela. E essas irregularidades doutrinrias da Teologia Eclesistica so responsveis pela maior parte dos conflitos e divises existentes na histria do Cristianismo, as quais, alm

  • disso, vm acentuando tambm, ao longo dos sculos, mas principalmente no mundo moderno, a indiferena e frieza comuns entre os cristos, mormente entre os jovens e pessoas de melhor nvel cultural. E o pior: essa Teologia Eclesistica tambm a grande responsvel pelo grande nmero de ateus no Mundo Ocidental. O homem tem sede de Deus, mas no matemos sua sede com uma gua contaminada que mata a sua f! J se foi aquela poca em que os padres, ao responderem s perguntas que as pessoas lhes faziam, diziam: trata-se de mistrios de Deus! Na verdade, trata-se de mistrios inventados pelos telogos antigos, que no conheciam bem a Bblia. Por isso que algumas das doutrinas da Teologia Eclesistica tiveram que ser transformadas em dogmas, no expostos, mas impostos fora aos fiis do passado, o que no mais pode ser feito hoje. E da a balbrdia em que se encontra o Cristianismo. Por que deixar que o estrago nele ficar maior? Por que no o salvar enquanto tempo? E, como dissemos, cabe Igreja tomar as providncias nesse sentido, como sendo aa mais importante igreja crist, para que ela no se sucumba, mas continue no seu labor sagrado de ajudar a levar, de fato, a mensagem verdadeira do Evangelho de Jesus para todos os povos. E isso s se concretizar com a Teologia do Bom Senso.Os telogos, pois, apesar dos seus votos de obedincia hierarquia eclesistica, tm que buscar a verdade de modo incondicional, e no o interesse do seu sistema, do qual vivem. Dizendo de outro modo, eles tm que servir sua conscincia e no sua convenincia! E sejamos otimistas, pois, de qualquer jeito, chegaremos a bom termo, no tocante a essas questes. que, cada vez mais, ns vamos conhecendo a verdade que nos libertar, e que, um dia, nos arrancar das trevas da escravido e levar-nos- para a luz da libertao. Passaremos agora a apresentar, com exceo do Arianismo, de que trataremos num outro captulo, uma sntese das principais heresias do Cristianismo Primitivo, as quais para o apstolo Paulo foram benficas para o Cristianismo (1 Corntios 11,19), pois colaboraram para que muitas coisas fossem esclarecidas do ponto de vista doutrinrio. Mas ser que alguns princpios que foram tidos como sendo herticos no seriam justamente os verdadeiros e que, por isso mesmo, deveriam ter sido adotados pelos telogos ortodoxos?

    Gnosticismo ou Gnose .

  • O Gnosticismo foi uma das heresias mais poderosas, porque ela envolvia princpios filosficos cristos e orientais ao mesmo tempo, alm da dualidade persa do Zoroastrismo, do Maniquesmo, platonismo, judasmo, a reencarnao e elementos dos mistrios de Elusis e Dionsio. Como se v, muitas das idias gnsticas acabaram ficando mesmo no Cristianismo. A maior parte do clero ortodoxo no estava em condies de entender as idias gnsticas muito profundas, e por isso as deturpava, atribuindo a essa doutrina todo tipo de idias estranhas que aparecessem. Em conseqncia disso, pouco se conhece de fato do Gnosticismo. Todas as suas obras foram queimadas. As nicas referncias que existem sobre essa heresia chegadas at ns acham-se inseridas em obras de outros assuntos, e principalmente de antignsticos. E, assim, ou elas foram pouco entendidas por esses autores ou propositalmente distorcidas por eles. O Gnosticismo, na realidade, nunca deixou de existir, embora, no passado, depois da sua condenao pela ortodoxia crist, seus seguidores, para evitarem represlias e mesmo a morte, tenham se mantido na clandestinidade. Mas hoje, muitas de suas idias esto ressurgindo, principalmente atravs do Espiritismo, Maonaria, Teosofia, Rosas-Cruz e dos Templrios. Alis, a reencarnao, uma das doutrinas gnsticas, abrange em algumas regies quase que 100 % dos cristos, mormente cristos catlicos. Em 1945, no Egito, no Alto Nilo, foi encontrado um bom nmero das principais obras gnsticas, as quais foram copiadas do seu original na Lngua Copta, para o Grego, no sculo 4, a fim de serem protegidas da queima por parte da Igreja, destacando-se entre essas obras traduzidas hoje para todas as lnguas importantes do mundo moderno, o Evangelho de Tom, Pstia Sofia, o Apcrifo de Joo, o Evangelho de Maria Madalena e o Apocalipse de Ado, entre outras. Os grandes vultos do Gnosticismo so Mrcio ou Marcion, Valentino, Basilides, Menandro, Cerinto, Simo, o Mago, Bardesanes e Saturnino. Mas sem dvida, foi Marcion a maior figura do Gnosticismo. Ele chegou at a fundar a sua igreja: a Igreja Marcionita, que tinha como fundamento principal de sua doutrina contrapor o Novo Testamento ao Velho Testamento. Segundo ele, Jesus e Jav so muito diferentes. Cita como exemplo o episdio ocorrido com Eliseu e umas crianas que dele escarneceram, e no qual, por uma maldio de Eliseu, Jav mandou duas ursas que as devoraram, episdio esse que ele compara com o de Jesus, quando disse: Deixai vir a mim as criancinhas. Hoje, grande nmero de cristos concorda com as idias de Marcion, o que quer dizer que eles so da Igreja Marcionita, embora ela no exista oficialmente. A principal obra de Marcion foi Atitheses, enquanto que o seu principal adversrio foi o renomado sbio Tertuliano, que escreveu contra ele a obra Adversus Marcionem. Mas o prprio Tertuliano acabou tornando-se tambm herege, adepto que foi da heresia de Montano.

    MONTANISMO

  • Montano era um sacerdote frgio de Cibele. Converteu-se ao Cristianismo e fundou a heresia chamada Montanismo. Ela consistia em juntar aos demais dogmas j existentes da ortodoxia catlica o da atuao perptua do Parclto ou Esprito Santo, crena hertica esta que surgiu por volta do ano de 170. Nesta poca a Igreja ainda no tinha uma idia certa do Esprito Santo. Esse assunto vir baila novamente em um outro captulo deste livro.

    NESTORIANISMO

    O Nestorianismo surgiu com Nestrio, Bispo Patriarca de Constantinopla, no sculo 5. Sua tese ensinava que em Jesus Cristo havia duas pessoas: uma divina e outra humana, e que essas pessoas eram separadas entre si, sendo uma delas a do Cristo, o Verbo de Deus, e a outra a do homem Jesus, no qual veio encarnada a Pessoa Divina do Verbo de Deus, o Cristo. Nestrio no aceitava o ttulo em grego de Theotkos (Me de Deus) dado a Maria, Me de Jesus. Para Nestrio Maria era apenas Me do homem Jesus, portanto, ela deveria receber o ttulo em grego de Cristotkos (Me do homem Jesus Cristo). Mas o Conclio Ecumnico de feso (431), apreciando essa questo nestoriana, condenou-a, afirmando que em Jesus Cristo havia uma s pessoa, ou seja, a Pessoa Divina, e que Maria deveria ter o ttulo grego de Theotkos (Me de Deus). E, assim, a Igreja criou a orao Santa Maria, Me de Deus..., que foi acrescentada Ave-Maria bblica da saudao do anjo Gabriel a Maria. Os protestantes e evanglicos no rezam a Santa Maria.... Eles aceitam apenas a Ave-Maria bblica do Anjo Gabriel. J os espritas rezam a Ave-Maria completa, ou seja, com a Santa Maria. Porm, no dizem Me de Deus, mas, Me de Jesus (Cristotkos).E a tendncia de que, no futuro, todos as catlicos passem a adotar a expresso nestoriana e esprita Me de Jesus ou, como muitos j o fazem, a expresso Me do Salvador, apesar de se tratar de um dogma que obriga os catlicos a dizerem Me de Deus, e de que a Igreja diz que no abre mo. De fato, o ttulo de Me de Deus para Maria estranho e deixa confusos e enrolados os prprios telogos, pois Deus nunca pode ter tido me e nunca poder t-la!

  • MONOFISISMO

    O Monofisimo surgiu com Eutiques, um sbio abade de Constantinopla. Ele concluiu que, se em Jesus Cristo havia uma s pessoa, isto , a Pessoa Divina, como o definiu o Conclio Ecumnico de feso (431), Nele deveria haver tambm uma s natureza, ou seja, a Natureza Divina. A ala ortodoxa da Igreja considerou essa doutrina prejudicial ao lado humano de Jesus. Por isso a condenou no Conclio Ecumnico de Calcednia (451), decretando que em Jesus Cristo h duas naturezas: A Natureza Divina e a Natureza Humana. Como vimos, o Conclio Ecumnico de Calcednia decretou que em Jesus Cristo h duas naturezas: a Natureza Divina e a Natureza Humana. Isso meio estranho, pois o Conclio Ecumnico de feso (431), como j foi dito, sustentou que em Jesus Cristo h uma s Pessoa, a Divina, e, assim, como poderia Ele ter natureza humana sem ser pessoa humana? E o mais estranho, ainda, que ns sabemos que Jesus Cristo foi, sim, pessoa humana, pois foi um ser de carne e ossos como ns, isto , da mesma espcie humana nossa, e do que temos certeza absoluta. Alis, o prprio aspecto do Jesus Cristo Histrico tambm nos confirma que Ele era uma pessoa humana. Mas reiteramos a pergunta: como um ser ter natureza humana, se ele no uma pessoa humana? S podemos aceitar essas questes por f, mas uma f que agride a nossa razo, quando o prprio Santo Toms de Aquino disse que a f no pode violentar a razo. E So Paulo ensinou que nem de todos a f, ao que acrescentamos que, quando o objeto de f for algo excntrico e absurdo, criado pela mente fantasiosa de telogos do passado, no inspirados por nenhum esprito santo de luz, mas irritados, orgulhosos e at cheios de dio no corao contra seus adversrios, ser que sobrou algum no meio deles que tivesse f mesmo de verdade? Faltou aos telogos da poca dos Conclios Ecumnicos de feso (431) e Calcednia (451) uma reflexo mais inteligente e mais condizente com a Teologia do Bom Senso, para tratarem dessas questes to simples, mas das quais eles fizeram um bicho de sete cabeas! Provavelmente alguns deles ainda digam que se trata de mistrio de Deus, mas isso no satisfaz mais aos questionadores dessas doutrinas que no constam do Evangelho de Jesus, mas so oriundas das mentes dos telogos nada inspirados, a no ser que tenham sido inspirados por espritos atrasados! A doutrina do ttulo de Me de Deus para a Me de Jesus foi criada s pressas por telogos que formavam uma espcie de partidos polticos adversrios, cada lado tendo os seus lderes apaixonados e orgulhos com suas idias, pois eram seres humanos imperfeitos como todos ns o somos.

  • Aos conclios, alguns desses lderes religiosos polticos compareciam s assemblias de bispos armados e escoltados milirtamente, como aconteceu com Nestrio, no Conclio Ecumnico de feso (431). As ameaas de excomunhes de uns contra os outros eram o que mais saia das suas bocas. Bem disse o Mestre que no o que entra pela boca que nos faz mal, mas o que sai de nossa boca! Ademais, esses primeiros conclios ecumnicos da Igreja eram convocados pelos imperadores romanos. Por exemplo, o Conclio Ecumnico de feso (431) foi convocado por Teodsio 2, Imperador Romano do Oriente, e por Valentiniano 3, Imperador Romano do Ocidente. Esse conclio terminou com a excomunho de Cirilo pelos partidrios de Nestrio, e a condenao e exlio de Nestrio pelo Imperador Teodsio 2, pela Imperatriz Eudxia, pelo Papa ou apenas Bispo de Roma Celestino 1, Cirilo e seus partidrios. Mas o certo que as idias de Nestrio no morreram, pois continuaram e continuam at hoje com seus adeptos. Teodoro de Tarso foi um grande defensor das idias nestorianas. Em 1910, foi encontrada a obra de Nestrio O Livro de Herclides de Damasco, que contm as bases da sua doutrina.

    ORIGENISMO

    Orgenes foi um padre de Alexandria que nasceu no final do sculo 2, e viveu a maior parte de sua vida no sculo 3. Foi um gnio. Com apenas 17 anos, em substituio a So Clemente de Alexandria, foi reitor da Universidade de Alexandria, a maior do mundo naquela poca. Chamavam-no de O Santo Agostinho do Oriente. E to brilhante era a sua inteligncia, que lhe deram o ttulo de Adamantino. E tanto foi gnio e sbio, como foi tambm um santo de verdade. Segundo So Jernimo, ele era o maior santo da Igreja, depois dos 12 apstolos. Certamente foi um exagero dele, erro com o qual no podemos concordar, o fato de ele ter-se automutilado. E, segundo ele, isso ele fez para poder servir melhor ao Evangelho de Jesus, o que, porm, demonstra uma santidade mpar. Por seu talento, foi grande vtima de inveja por parte de Dom Demtrio, Bispo de Alexandria, que lhe negou a Ordenao Sacerdotal, que ele tanto merecia.

  • De acordo com Epifnio, Bispo de Salamina, Orgenes escreveu cera de 6.000 obras. E, segundo So Jernimo, seriam 600. Foi um grande intrprete da Bblia.. E a ele se deve a criao da Teologia Crist, ou pelo menos, foi o seu iniciador, implantando as suas bases. At hoje, ele lembrado pelos telogos, principalmente no tocante s questes bblicas e s referentes alma. Como os grandes sbios do Cristianismo Primitivo, de um modo geral, ele tambm era adepto das doutrinas da preexistncia do esprito (alma), com relao ao nascimento do corpo, e da reencarnao, entre outras. Se o seu Bispo de Alexandria, Demtriop, no quis aceit-lo como padre, outros bispos no invejosos dele, mas admiradores dele, ofereciam-lhe a Ordenao Sacerdotal. Assim que os bispos Alexandre, de Jerusalm, e Teocristo, de Cesaria, convidaram-no para se ordenar padre, e bvio que ele aceitou isso de imediato. Mas esse fato despertou a ira de Demtrioo, que, da em diante partiu para uma campanha macia contra Orgenes, no s em sua Diocese de Alexandria, mas em todas as partes em que o Cristianismo j estava presente. E o pior de tudo que Demtrio alcanou, infelizmente, o seu objetivo, conseguindo que Orgenes fosse condenado pela Igreja, ele que era o maior sbio cristo da sua poca, e tambm, como vimos, um dos maiores exemplos de santidade. Mas h um consolo para ns cristos, ou seja, o fato de ser vitoriosa a mensagem que Orgenes nos postergou, a qual vem concretizando-se atravs dos sculos, e est hoje mais viva do que nunca na mente e nos coraes da cristandade, sendo devida to-somente a esta mensagem origenesiana a lembrana, ainda em nossos dias, do nome do invejoso Bispo Demtrio.

    PELAGIANISMO

    Pelgio foi um heresiarca ingls do sculo 5, o qual negava o pecado original, e defendia a tese de que o homem pode salvar-se por si mesmo, sem a chamada graa de Deus. Santo Agostinho ops-se veementemente a Pelgio, dizendo que ns somos salvos pela teo-redeno e no pela ego-redeno, isto , por ns mesmos. Se esse ego for entendido como sendo o nosso Eu Interior ou a centelha divina, ou ainda o nosso Cristo Interior, Pelgio no estava longe da verdade. E, de fato, cabe a ns fazermos a nossa parte, a de Deus se Jesus j foram feitas do melhor modo possvel. Se no houvesse a parte que nos cabe fazer, e se ela no fosse importante, ento poderamos todos ns nos esbaldar e ficar de braos cruzados com relao prtica do bem e do Evangelho, salvando-nos sem nenhum mrito, o que contradiz o ensino

  • da Bblia, principalmente do Novo Testamento. De fato, o Mestre e seus discpulos afirmaram: A cada um ser dado segundo suas obras. Lutero, sobre o pelagianismo, foi mais radical do que Santo Agostinho, condenado-o com todo o rigor, e afirmando que todos os nossos atos so pecaminosos, e que ns, por ns mesmos, nada podemos fazer para a nossa salvao. Mas acabamos de ver que temos muito que fazer para evoluirmos espiritualmente e atingirmos a perfeio, ou seja, o nvel da nossa salvao ou libertao. E temos que chegar l, pois no foi para ingls ver que Jesus nos disse que temos de ser perfeitos como perfeito nosso Pai Celestial. claro que nunca vamos ser perfeitos como perfeito Deus. Temos na frase de Jesus o que se chama de fora de expresso. Mas temos que ter a perfeio do Pai como sendo a nossa meta ou uma seta, e em direo da qual estaremos caminhando sempre pela eternidade afora. E o apstolo Paulo mostra tambm que ns temos que evoluir muito. Veja-se esta afirmao dele: At que todos cheguemos... medida da estatura da plenitude de Cristo (Efsios 4,13). So Joo Evangelista afirma que todos ns recebemos graa sobre graa (Joo 1,16). Tambm So Paulo afirma que onde abundou o pecado, superabundou a graa (Romanos 5,20). Desses ensinamentos de So Joo e So Paulo, podemos concluir que a graa no falta para ningum. Todos recebemo-las de Deus, por atacado, se que podemos dizer assim. De fato, sem exceo, Deus no-las d a todos, pois Ele no faz acepo de pessoas. Deus no faz distino de pessoas (Atos 10,34). Destarte, o que temos que fazer querer recebe-las. Em outras palavras, cabe a ns fazermos a nossa parte. Realmente, agora conosco. Da parte de Deus e do seu Enviado e nosso Irmo Maior, Jesus, tudo j est feito, e muito bem feito. Ora, se assim, se todos recebemos graa de sobra, o que falta a ser feito realmente de nossa responsabilidade. E temos que lutar muito para isso, pois no se consegue o reino de Deus a no ser por muito esforo de nossa parte (Mateus 11,12). De fato, passar pela Porta Estreita no fcil. o que nos ensinou o apstolo Paulo. Como j vimos, segundo ele, ele queria fazer uma coisa, mas acabava fazendo outra que ele no queria. Mas nos final de sua vida ele pde dizer: Eu combati o bom combate. E Jesus deu-nos um exemplo mais objetivo sobre o esforo que temos que fazer, para que adquiramos o reino de Deus, quando disse: Eu venci o mundo (Joo 16,33). Diante do que acabamos de ver, Santo Agostinho e principalmente Lutero estavam, pois, completamente errados. De fato, se ns no fizermos a nossa parte e bem feita, poderiam morrer 300 Jesus no cruz, e ns no seramos salvos, ou seja, libertos. Em outras palavras, Pelgio que nos deixou o verdadeiro ensinamento, quando disse que ns temos que nos salvar por ns mesmos. E esse o sentido da Parbola do Filho Prdigo, ele voltou para o seu pai, que o recebeu de braos abertos e com um banquete, mas foi quando o Filho Prdigo quis ou, como diz o texto evanglico, quando ele entrou em si. De fato Deus sempre est pronto para nos receber, quando, como e onde quisermos voltar para Ele, pois Deus respeita o nosso livre-arbtrio de modo incondicional, por ser Ele perfeito e por nos amar com amor infinito. E foi com sabedoria infinita e amor infinito que Ele nos criou. Isso quer dizer

  • que, no fim, tudo vai dar certo, apesar de o nosso livre-arbtrio retardar o plano divino. Mas, de fato, o plano de Deus tem que dar certo, pois Ele onipotente, onisciente e onipresente. Em outras palavras, Deus sempre sabe o que faz. E jamais se poderia equivocar, quando tomou a deciso de nos criar para a felicidade, pois a nossa felicidade prpria da natureza divina, j que Deus Amor, e tudo que Ele faz no pode, pois, escapar sua sintonia de amor infinito.

  • CAPTULO 3

    A BBLIA

    "A Bblia um livro de profundos e fantsticos ensinamentos,que nos mostram o caminho para a nossa perfeio, mas no a palavra de Deus,no

    sentido em que, comumente, se diz. Para estudarmos e compreendermos bem a Bblia, so necessrias a liberdade e a aceitao das vidas sucessivas, a fim de que possa ocorrer a evoluo de tudo o que foi, e ser criado."

    ROSRIO AMRICO DE RESENDE

    A Bblia a Escritura Sagrada mais respeitada da humanidade. Cerca de um tero da populao mundial segue ou procura seguir os seus ensinamentos, apesar das divergncias que h nas suas interpretaes que dividem em vrias igrejas ou correntes religiosas os seus mais de dois bilhes de seguidores catlicos, espritas, protestantes, judeus, evanglicos, ortodoxos, coptas e outros. Os religiosos bblicos esto mais densamente concentrados na Europa, Amrica Latina, Amrica do Norte e Austrlia. Mas a Bblia tm tambm muitos seguidores na frica e na sia. Na sua Encclica Providentissimus Deus, o Papa Leo 13 diz sobre a Bblia: Deus, com o seu sobrenatural poder, por tal forma moveu os escritores sagrados a escrever, e lhes assistiu em quanto escreviam, que s concebiam o que Lhe aprazia dizer-nos, expressando-se com infalvel verdade; ao contrrio, no se poderia dizer Autor de toda a Bblia. O contedo do texto da Encclica Providentissimus Deus, do Papa Leo 13, foi escrito de conformidade com o pensamento catlico de sua poca. Trataremos fazer neste captulo, dedicado Bblia, traduzida para mais de 4.000 lnguas e dialetos, uma crtica clara e construtiva do mais importante livro de nosso planeta.

  • Divises da Bblia

    A palavra Bblia significa livros, ou seja, o plural da palavra biblion em Grego, que quer dizer o livro, o livro por excelncia. De fato, a Bblia um conjunto de vrios livros. A Bblia tem duas divises principais bastante conhecidas: o Velho e o Novo Testamento. O Velho Testamento do perodo antes de Cristo. E o Novo Testamento a partir de Cristo. So 73 o total de livros da Bblia Cannica (oficial) Catlica, sendo 46 livros do Velho Testamento para a Bblia Catlica, e 27 livros do Novo Testamento para a Bblia Catlica, Protestante e Evanglica. J a Bblia Protestante e Evanglica possui apenas 66 livros, pois, como veremos, 7 livros do Velho Testamento foram retirados por Lutero. Os autores da Bblia so muitos. Compreende a Bblia o perodo de 1.600 anos, ou seja, de 1513 a. C. ao ano 98 depois de Cristo. Do Novo Testamento temos quatro Evangelhos: dois escritos por dois discpulos que conviveram com Jesus, isto , Mateus, que era cobrador de impostos, e Joo, um pescador. Os outros dois so atribudos a Marcos e Lucas, mdico. Marcos no conviveu com Jesus porque era ainda muito jovem. Alguns autores acham que ele seja aquele jovem que, fugindo dos soldados romanos, deixou nas mos de um deles um lenol com o qual se cobria. No Novo Testamento temos tambm 14 cartas de So Paulo, 1 de So Tiago, 2 de So Pedro, 3 de So Joo e 1 de Judas. H ainda no Novo Testamento o Livro de Atos e o Apocalipse (Revelao), o qual fala de muitas coisas que ocorreriam no futuro da humanidade: tragdias e descoberta de verdades, confirmando a clebre frase de Jesus, a que nos referimos: Nada ficar oculto. Os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e Marcos so chamados de Sinpticos, por serem muito semelhantes, se comparados com o de So Joo, que bem diferente. O de Mateus e de Lucas comeam com o nascimento de Jesus. O de Marcos fala de Jesus, a partir de seu Batismo, ou seja, a partir da chamada Vida Pblica de Jesus, quando Ele iniciou a sua Misso propriamente dita. E o Evangelho Joanino, de difcil interpretao, por ser muito esotrico. Mas, para os livros do Velho Testamento, temos tambm uma diviso importante. So os Protocannicos (cujo sentido de escritos antigos) e os Deuterocannicos (cujo sentido de escritos posteriores) Os Protocannicos so os que no trazem nenhuma dvida quanto sua legitimidade ou canonicidade. So aceitos por todas as correntes religiosas bblicas. J os Deuterocannicos (do Velho Testamento) so os que trazem dvidas para uma parte dos cristos, isto , os protestantes e evanglicos, e tambm para os

  • judeus. Os Protestantes e os judeus chamam esses livros de apcrifos (ocultos, falsos). Isso porque os originais dos Deutorocannicos foram escritos mais tarde, e no existem em Hebraico, mas apenas em Grego. Essas dvidas devem-se ao seguinte fato. Ptolomeu 2 Filadelfo, rei do Egito, de 285 a 246 a. C, segundo uma tradio, foi quem promoveu a iniciativa da traduo da Bblia Hebraica ou Velho Testamento, do Hebraico para o Grego, por 72 sbios egpcios judeus, traduo essa que foi intitulada de Verso dos Setenta ou Septuaginta. No princpio do sculo 4, essa Verso dos Setenta ou Septuaginta j estava traduzida para o Latim, tendo essa traduo ganho o ttulo de Vulgata. Veremos, de agora em diante, que a Bblia foi e ainda um livro muito mexido. Somente em cerca de 400 anos a.C., Esdras reescreveu o Velho Testamento que conhecemos hoje, pois a Bblia foi destruda mais de uma vez com as destruies do Templo de Jerusalm, e durante muitos sculos ela s existia de forma oral, passando de pais para filhos. E foi So Jernimo, em 405 depois de Cristo, que organizou a Bblia propriamente dita, a qual serviu de base para todas as tradues existentes hoje. E Lutero fez tambm uma alterao importante na Bblia, como veremos. Por deciso do Papa Dmaso, o grande sbio So Jernimo fez uma reviso e traduo dos livros de que se compe a Vulgata, por volta de 405, jogando para escanteio vrios livros chamados apcrifos pela Igreja Catlica e pseudepgrafos pelos protestantes e evanglicos. Apcrifos para os protestantes e evanglicos so os 7 livros que Lutero tirou da Bblia, dos quais falaremos mais adiante. E ele adotou outros livros mais novos e escreveu de novo outros que tinham contradies. Na seleo dos livros que compem a Bblia (Vulgata) comandada e traduzida para o latim por So Jernimo, houve tantas polmicas, que algumas foram at acompanhadas de agresses fsicas entre os bispos e telogos, bem como demisses de bispos de suas dioceses, como ocorreu com Flvio e Demtrio de Cesaria, por ocasio do Conclio Ecumnico de feso (431), quando Flvio veio a falecer em conseqncia de pontaps e outros maus tratos recebidos do bispo Diodoro (Blavatsky, Sntese da Doutrina Secreta, 1996, pgs., 326-327, Ed. Pensamento). Do resultado das polmicas, surgiu a Vulgata de So Jernimo que passou a ser a Bblia Cannica ou oficial da Igreja Catlica, o que foi reforado pelo Conclio Ecumnico de Trento (1545 a 1563). Lutero, antes desse conclio, havia rejeitado a Vulgata, por ela conter 7 livros que s existem em grego. Da a Bblia Protestante ter 7 livros menos do que a Catlica. Eles no constam do original hebraico do Velho Testamento, do que se conclui que foram acrescentados traduo para o grego conhecida por Verso dos Setentaou Septuaginta (cerca de 250 a.C.). Essa verso para o grego foi feita por 72 sbios, por recomendao de Ptolomeu 2, Filadelfo, rei do Egito (285 a 246 a.C). E esses nomes de Verso dos Setenta ou Septuaginta se devem justamente ao fato de esses sbios tradutores serem de nmero 72. Os protestantes, os evanglicos e os judeus tm, pois, esses 7 livros como sendo apcrifos (ocultos, falsos). J a Igreja considera-os vlidos, denominando-os de Deuterocannicos. Para isso, a Igreja alega que o grego era muito conhecido entre os judeus, tendo em vista a importncia que essa lngua ganhou com as conquistas do famoso grego Alexandre Magno. O prprio Novo Testamento foi escrito, como se

  • sabe, em grego. E a Vulgata de So Jernimo ou organizao e traduo do Velho Testamento (hebraico) e do Novo Testamento (grego e aramaico) para o Latim possui esses sete livros bblicos catlicos (Deuterocannicos), que so os seguintes: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesistico (Sirac), Baruc, o Primeiro e o Segundo Livros dos Macabeus. E fazem tambm parte desses apcrifos, para os judeus e protestantes, os sete ltimos captulos de ster, trs passagens do Livro de Daniel (3,24-90) e os seus captulos 13 e 14. Portanto, o Livro de Daniel s vai at o captulo 12, na Bblia Protestante. Se esses livros e fragmentos, todos do Velho Testamento, no existem em hebraico ou aramaico, porque no foram escritos nessas lnguas, originariamente, ou pode isso ter acontecido, mas esses escritos originais teriam sido perdidos ou eliminados por terem sido considerados falsos pelos judeus. Concluindo esse assunto, registramos aqui que notamos uma certa reserva por parte dos telogos catlicos e protestantes em abordarem essa diferena de 7 livros entre as duas Bblias Catlica e Protestante. Lembramo-los de que no devemos ter medo de dizer a verdade e nem fazer da Bblia um novo bezerro de ouro! Vimos que os 7 livros e alguns fragmentos de outros livros bblicos, com o nome de Deuterocannicos para os catlicos, so denominados de apcrifos pelos judeus, protestantes e evanglicos. Mas para os catlicos, apcrifos (desconhecidos) so os livros que no foram includos na Bblia (Vulgata) por So Jernimo, no princpio do sculo 5. J para os protestantes, evanglicos e judeus, esses 7 livros tm o nome de pseudepgrafos (escritos falsos posteriores). Trata-se dos achados de Khenoboskion, perto de Nag Hamadi, Egito, no Alto Nilo, em 1945, e dos Manuscritos do Mar Morto, em Quumran, localidade prxima do Mar Morto, em 194. Reiteramos que so apcrifos para os catlicos e pseudepgrafos para os protestantes, evanglicos e judeus. E reiteramos, ainda, para a clareza dos leitores, que aqueles 7 livros excludos da Bblia Protestante que so denominados apcrifos pelos protestantes, evanglicos e judeus, mas conhecidos por Deuterocannicos (Cannicos Posteriores) pelos catlicos, pelo que constam da Bblia Catlica. As cpias dos apcrifos ou pseudepgrafos achados no Egito em 1945, em Khenoboskion, perto de Nag Hamadi, no Alto Nilo, so livros que so Jernimo no incluiu na parte da Vulgata do Novo Testamento, entre eles: Evangelho Segundo os Hebreus, Evangelho dos Ebionitas ou dos Doze Apstolos, Evangelho de Pedro, o Evangelho Copta de Tom, o Evangelho de Maria Madalena e Pstia Sofia. D-se-lhes tambm o nome de Evangelhos Gnsticos. Estavam guardados dentro de um vaso de cermica, e foram achados por um campons, que os estava usando para acender fogo no fogo de lenha de sua casa. Muitos textos ficaram em frangalhos, sendo muito difcil a colocao deles em ordem de leitura, num verdadeiro quebra-cabea para os que trabalham na sua traduo. Porm, as coisas j esto bem resolvidas com o auxlio de computadores. E os textos esto traduzidos em quase todas as grande lnguas do mundo. Quanto aos apcrifos ou pseudepgrafos conhecidos por Manuscritos do Mar Morto e Rabinismo (dos rabinos) achados em 1948, perto da localidade de Quumran, eles so praticamente todos do Velho Testamento. E eis alguns deles: Livro dos

  • Jubileus, Ascenso de Isaias, Livro de Henoc ou Henoc Etope, Apocalipse de Baruc, Testamento dos Doze Patriarcas, Assuno de Moiss, Salmos de Salomo e Hinos. Os apcrifos ou pseudepgrafos so vistos hoje como sendo de grande valor. Algumas autoridades no assunto chegam a dizer que eles tambm so inspirados (Frei Jacir de Freitas Faria, As origens apcrifas do cristianismo, pg 30, Ed. Paulinas). E eles ajudam numa melhor compreenso dos livros cannicos de que se compe a Bblia. E santo Agostinho disse: Por baixo da lama dos apcrifos encontramos ouro. Temos ainda os grafos (no escritos), que so ditos atribudos a Jesus, mas que no se encontram escritos nos Evangelhos, os quais, porm, aparecem em outros livros do Novo Testamento, ou se conservaram pela tradio oral. E vejamos um exemplo de grafo: H mais felicidade em dar do que em receber (Atos 20,35).

    Quem escreveu a Bblia, quando e como?

    Poucas pessoas sabem que a histria da Bblia muito complexa. Durante muitos sculos, ela, como j vimos, s existiu oralmente, passando assim, de boca em boca, s geraes sucessivas. S mais ou menos na poca de Davi e Salomo, ela comeou a ser escrita em parte. Esdras, grande sbio judeu, que, cerca de 400 anos antes de Cristo, reconduziu da Babilnia para Jerusalm 1775 de seus compatriotas, restaurando a nao e a religio judaicas, foi quem compilou a Bblia no seu Velho Testamento, juntando tudo que j havia sido escrito e escrevendo outras partes de acordo com o que se conservou verbalmente entre os rabinos e os doutores israelitas. A Esdras mesmo so atribudos 4 livros, mas a Igreja s aceitou como sendo autnticos 2 deles. Um outro detalhe que poucas pessoas sabem que nem sempre um livro foi escrito pela pessoa pela qual ele conhecido. Por exemplo: o Pentateuco ou os cinco primeiros livros da Bblia, com os quais tanto est envolvido Moiss, os quais no so todos de sua autoria. Assim que, no ltimo deles, o Deuteronmio, narrado o sepultamento do prprio Moiss, inclusive o local em que foi enterrado, ou seja, Moabe, defronte de Bete-Peor, regio prxima da Terra Prometida, em que ele no chegou a entrar, mas somente a viu bem de perto. Desnecessrio afirmarmos que Moiss no poderia descrever o seu prprio enterro, a no ser que seja mais um fenmeno medinico de psicografia bblico, que, alis, no seria o nico da Bblia. No Novo testamento ocorre tambm esse fato de os livros nem sempre terem sido escritos por indivduos, cujos nomes se do aos livros. Da dizermos Evangelho segundo Mateus, segundo Lucas etc., sabendo, assim, que determinado Evangelho

  • de acordo com o ensinamento de Mateus, de Lucas, mas no temos certeza de que eles mesmos sejam seus autores. Voltando a nossa ateno para Moiss, sabemos tambm que ele era um legislador, ditando leis e normas para uma boa convivncia entre as pessoas e tambm para como elas deveriam comportar-se com relao a Jav. claro que nem tudo precisava ser, necessariamente, ditado ou determinado por Jav, mas Moiss fazia silncio sobre isso, pois o povo, pensando que tudo partisse de Jav, aceitava mais facilmente as instrues de Moiss. Tambm muitos rabinos, querendo defender, s vezes, seus interesses particulares, abusavam da frase: A Bblia a palavra de Deus, justamente para que o povo acatasse tudo o que eles diziam. A Igreja Catlica, que herdou essa frase do Judasmo, abusou dela, tambm. Inclusive a Igreja, muitas vezes, justificava a Inquisio com essa frase. Hoje, porm, apesar de ainda ter erros, a Igreja regenerou-se bastante. Mas nossos irmos evanglicos, que, como j dissemos, tm herdado muitos erros da Igreja Catlica do passado, esto abusando muito, ainda, dessa frase, como meio de manipular mais facilmente os fiis. Refiro-me aos pastores - no todos -, que abusam da exigncia do dzimo, ameaando seus fiis com o