A Família Fendrich em São Bento do Sul

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A FAMÍLIA FENDRICH NA HISTÓRIA DE SÃO BENTO Henrique Luiz Fendrich 1 O imigrante Anton Zipperer, um dos pioneiros da colonização de São Bento do Sul, veio ao Brasil em 1873, conforme mencionado em artigo sobre a família Zipperer, nesta mesma obra. Trouxe consigo a esposa e mais seis filhos. A sua primogênita, chamada Catharina Zipperer, permaneceu na Europa. Acredita-se que, na ocasião, ela já morava em Viena com seu esposo Friedrich Fendrich. A permanência em solo europeu, no entanto, não se prolongou por muito tempo, pois em 1875 Friedrich e Catharina também resolveram tentar a sorte no Brasil. Assim como os Zipperer, os Fendrich se instalaram na atual cidade de São Bento do Sul. Friedrich Fendrich, o imigrante, era filho de Franz Fendrich e Maria Magdalena Trnka, os últimos desse sobrenome que se tem notícia. Nasceu no dia 24.04.1843 em Lomnitz, perto de Hochin, na Boêmia. Há mais de uma cidade com esse nome na República Tcheca – país que abriga o atual território da Boêmia. A melhor pista aponta para a cidade de Lomnice nad 1

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Artigo traçando a história da família Fendrich que imigrou de Viena para São Bento do Sul/SC.

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A FAMÍLIA FENDRICH NA HISTÓRIA DE SÃO BENTO

Henrique Luiz Fendrich1

O imigrante Anton Zipperer, um dos pioneiros da colonização de São Bento

do Sul, veio ao Brasil em 1873, conforme mencionado em artigo sobre a família

Zipperer, nesta mesma obra. Trouxe consigo a esposa e mais seis filhos. A sua

primogênita, chamada Catharina Zipperer, permaneceu na Europa. Acredita-se que,

na ocasião, ela já morava em Viena com seu esposo Friedrich Fendrich. A

permanência em solo europeu, no entanto, não se prolongou por muito tempo, pois

em 1875 Friedrich e Catharina também resolveram tentar a sorte no Brasil. Assim

como os Zipperer, os Fendrich se instalaram na atual cidade de São Bento do Sul.

Friedrich Fendrich, o imigrante, era filho de Franz Fendrich e Maria

Magdalena Trnka, os últimos desse sobrenome que se tem notícia. Nasceu no dia

24.04.1843 em Lomnitz, perto de Hochin, na Boêmia. Há mais de uma cidade com

esse nome na República Tcheca – país que abriga o atual território da Boêmia. A

melhor pista aponta para a cidade de Lomnice nad Luznici, antiga Lomnitz, 112

quilômetros ao sul de Praga, perto de Hluboka nad Vitavou, antiga Hosin. Apesar

dessa coincidência, o pesquisador tcheco Petr Kalivoda informou que o sobrenome

Fendrich não existe nessa região e que, no período de nosso interesse, nunca

existiu nas redondezas (KALIVODA, 2008). De qualquer forma, o nome da aldeia de

Lomnitz representa um avanço na biografia de Friedrich Fendrich, pois era

desconhecido de todos aqueles que escreveram sobre este personagem.

Não é possível precisar a data em que Friedrich Fendrich se mudou para

Viena. O cronista Josef Zipperer comenta que Fendrich passou em Viena “toda sua

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infância e mocidade” (ZIPPERER, 1951, p. 93). Assim sendo, também é de se supor

que os pais estivessem com ele. Na capital austríaca, Friedrich aprendeu o ofício de

sapateiro. Provavelmente, também foi lá que se casou com Catharina Zipperer,

nascida no dia 08.07.1845 em Flecken, na Boêmia, primogênita de Anton Zipperer e

Elisabeth Mischeck. Em 03.05.1874, o casal teve a filha Hedwiges, que também iria

imigrar ao Brasil no ano seguinte.

Josef Zipperer afirma que as cartas escritas pelos imigrantes pioneiros aos

parentes que ficaram na Europa facilitaram a posterior vinda de famílias como os

Fendrich, Schadeck, Tschöke e Knittel. Isso porque, nessas cartas, a região era

descrita como o verdadeiro “paraíso que o velho Adão nos fez perder” (ZIPPERER,

1951, p. 18). Diziam que a caça e a pesca, ao contrário do que acontecia na

Boêmia, podiam ser livremente exercidas, e que não era preciso pagar pelo ensino,

e nem contas de médico ou impostos – o que não diziam era que praticamente

inexistiam possibilidades de caça e pesca, e que não havia nenhuma escola e

nenhum médico que pudessem ser pagos pelos seus serviços.

Não se sabe com que frequência houve esse contato entre os Zipperer e os

Fendrich, mas, de alguma maneira, ele realmente existiu. O diretor Ottokar Doerffel,

em ofício citado por Ficker (1973), afirma que os Zipperer, tendo conseguido

prosperar nos seus terrenos em São Bento, foram à Direção da Colônia para pagar

a passagem de parentes que ainda estavam na Europa. Doerffel referia-se a

Friedrich Fendrich e sua esposa Catharina Zipperer, o que é possível comprovar

através de um documento da Companhia Colonizadora reproduzido no livro de Josef

Zipperer (1951). Assim, os Zipperer contribuíram para que também os Fendrich

pudessem vir ao Brasil.

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Efetivamente, a família Fendrich, então constituída por Friedrich Fendrich,

Catharina Zipperer e a filha Hedwiges, saiu do porto de Hamburgo a bordo do Barco

Alert no dia 15 de maio de 1875. Na lista de passageiros do navio, que contava com

40 pessoas, Friedrich foi qualificado como lavrador, embora fosse sapateiro em

Viena. Como os lavradores eram os preferidos para a imigração, devido ao árduo

trabalho braçal que teriam pela frente, é possível que Fendrich tenha se deixado

qualificar dessa maneira, o que aconteceu com frequência entre os imigrantes que

vieram a São Bento do Sul. Em 14 de julho de 1875, os Fendrich chegaram ao porto

de São Francisco do Sul e de lá se encaminharam para a Colônia de São Bento.

Fendrich, dessa forma, “num destino estranho, trocou a requintada Viena

pelos pinheirais de São Bento” (BLAKE, 1966, p. 7). É curiosa a constatação das

enormes diferenças entre Viena, na época um dos maiores centros da Europa, e a

modesta Colônia de São Bento, que havia sido fundada há apenas dois anos e

ainda sofria com a ausência de médicos, escolas e igrejas. Viena contava com

aproximadamente 700 mil habitantes na época da imigração, enquanto que São

Bento, em 1874, não havia chegado aos 400 moradores. Por mais que Friedrich

tivesse em mente a esperança de encontrar dias melhores em solo brasileiro, não é

difícil imaginar que, em muitos aspectos, o início da sua vida no Brasil, se

comparado ao seu passado recente, não foi tão bom quanto se esperava.

Por conta disso, é possível que Fendrich estivesse incluído entre os

imigrantes que Josef Zipperer afirma terem se decepcionado com a realidade

encontrada em São Bento – muito diferente daquela propagada pelos pioneiros. A

falta de meios não tornava possível o regresso à Europa. Tudo o que podiam fazer

era começar a trabalhar, levando a mesma vida que os primeiros imigrantes. Foi o

que fizeram, e logo também entre eles “tudo era sorrisos” (ZIPPERER, 1951, p. 18).

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Friedrich Fendrich adquiriu um lote no núcleo central da cidade – ficava no

prédio da antiga Caixa Econômica, atual Farmácia do Sesi. Uma pequena casa foi

erguida nesse terreno, e lá a família passou a morar. No local, Friedrich montou uma

sapataria e logo passou a exercer o ofício aprendido ainda em Viena. As

necessidades dos colonos de São Bento, no entanto, fizeram com que Fendrich

acumulasse ainda uma outra profissão, para a qual não fora treinado anteriormente:

a de professor das crianças alemãs.

Embora já tivesse um número razoável de imigrantes, a Colônia de São

Bento, como dito, não contava ainda com médicos, professores e igrejas. Essas

carências incomodavam os imigrantes, que então começaram a articular protestos e

reivindicações à direção da Colônia exigindo as melhorias. Ainda em julho de 1874,

menos de um ano depois da criação da Colônia, os imigrantes encaminharam uma

petição à Direção em Joinville, na qual faziam uma série de exigências que incluíam

a criação de uma escola com subvenção para um professor. Em resposta, o diretor

Ottokar Doerffel informou que a Sociedade Colonizadora não se sentia na obrigação

de criar uma escola, embora apoiasse a iniciativa (FICKER, 1973).

Protestos também ocorreram em 10 de janeiro de 1875, quando um grupo de

colonos de São Bento foi a Joinville apresentar queixas semelhantes à direção da

Colônia. Doerffel entendia que o número de moradores em São Bento ainda era

reduzido e que essas carências eram inevitáveis no começo de uma povoação.

Como resultado, os manifestantes conseguiram o direito de mandar dois imigrantes

apresentar suas queixas pessoalmente às autoridades da Corte no Rio de Janeiro.

Apenas na metade do ano seguinte a Sociedade Colonizadora receberia um ofício

da Corte solicitando um orçamento para as melhorias pretendidas.

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Em julho de 1875, quando Friedrich Fendrich chegou a São Bento, as

carências ainda eram as mesmas. O problema da falta de assistência religiosa,

entretanto, pôde ser amenizado no ano seguinte. O Padre Carlos Boegershausen,

de Joinville, encomendou a construção de uma capela em São Bento. Ela foi erguida

e ficava próxima à residência dos Fendrich. Era uma capela pequena e rudimentar –

Zipperer a comparou ao estábulo onde Jesus nasceu. Naquele lugar, foi celebrada

pela primeira vez uma missa em São Bento do Sul, no dia 08 de março de 1876.

Para suprir a ausência de escolas, os colonos decidiram agir por conta

própria. Primeiro, era preciso encontrar um professor disposto a ensinar as crianças.

A escolha não era das mais fáceis, pois a maior parte daqueles imigrantes era

constituída de gente simples e sem muito estudo. Wilhelm Bollmann, ao comentar a

escolha dos professores no interior da Colônia de São Bento, escreveu que, em

geral, o cargo de professor era assumido por um imigrante mais instruído e letrado,

e que “não hesitava em compartilhar da mesma adversidade e dos mesmos rigores

criados pelo meio nos seus começos, dispondo-se a desempenhar as funções por

poucos milréis mensais” (1923, apud PFEIFFER, 1997, p. 193). Essas

considerações também valem para a escola do centro da Colônia, uma vez que foi o

fator instrução que definiu aquele que viria a ser o primeiro professor do lugar. O

escolhido foi exatamente Friedrich Fendrich, o qual, tendo recebido certa educação

e cultura em Viena, era, na opinião dos colonos, quem melhor estava em condições

de tomar para si a responsabilidade de ensinar os filhos dos imigrantes alemães.

Fendrich aceitou o convite e então começaram a ser tomadas providências para que

a escola entrasse em funcionamento.

Era preciso providenciar um prédio escolar para que as aulas pudessem ser

ministradas. Pensando no assunto, os imigrantes se lembraram de um rancho

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abandonado pelo agrimensor Theodor Ochsz, que havia se mudado da Colônia.

Decidiram que aquele rancho seria transformado no prédio escolar. O problema era

que ele estava montado no atual bairro de Oxford, a quatro quilômetros do centro da

cidade. Foi preciso, então, que alguns imigrantes mais dispostos fossem até lá,

desmontassem o rancho menor de Ochsz, feito de tábuas rachadas, e carregassem

o material nas costas até a sede de São Bento. Ao chegarem, montaram novamente

o rancho, dessa vez ao lado da casa de Fendrich. Em seguida, foram instalados

bancos para os alunos e, dessa maneira improvisada, estava pronta a primeira

escola do centro de São Bento do Sul (Figura 1).

Figura 1 - Em primeiro plano, a casa de Friedrich Fendrich, localizada no começo da atual Avenida Argolo. Ao seu lado, a improvisada escola em que Fendrich, primeiro professor do lugar, lecionou entre 1876-1879. Aos fundos, a primeira Igreja de São Bento. Arquivo Histórico Municipal de São Bento do Sul

Josef Zipperer (1951), que fez parte do grupo que montou a escola, afirma

que isso se deu no ano de 1875. No entanto, é provável que ele tenha se

1 Nascido em São Bento do Sul no dia 20.05.1987. Em 2008, formou-se em Jornalismo pelas Faculdades Integradas do Brasil, em Curitiba. Desde 2004 pesquisa a história e a genealogia das famílias de São Bento do Sul e região. Possui artigos publicados em periódicos locais. Está trabalhando nas publicações “Genealogia e História da Família Zipperer” e “Genealogia Brasileira de São Bento do Sul e Campo Alegre”. Também está realizando a transcrição dos diários feitos pelo seu avô Herbert Alfredo Fendrich enquanto fez parte da Banda Treml e da Sociedade de Cantores da cidade.

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equivocado ligeiramente. Sabemos que foi em julho de 1875 que Friedrich Fendrich

chegou ao Brasil, de modo que a data de criação, certamente, é posterior a essa

vinda. Por outro lado, o historiador Carlos Ficker (1973), baseado em documentação

oficial, afirma que o agrimensor Theodor Ochsz foi embora de São Bento em maio

de 1876. Assim sendo, supõe-se que o rancho utilizado como material para a

primeira escola da cidade não estivesse abandonado até então. O mais provável é

que o prédio escolar tenha sido construído pouco depois da saída de Ochsz. E,

assim sendo, a criação da primeira escola do centro de São Bento seria posterior à

criação da primeira Igreja, que, como visto, se deu em março de 1876.

Arranjados da forma que era possível, Fendrich começou a lecionar para os

filhos dos imigrantes. As aulas eram ministradas em alemão, a única língua que o

professor Fendrich sabia falar – e com forte sotaque vienense. Não era possível

ensinar o português. Embora as famílias de origem germânica representassem a

maioria daquelas que habitavam a sede de São Bento, também existiam as

polonesas, que resistiram e não mandaram os seus filhos para a escola alemã.

Apesar das limitações, a iniciativa dos colonos permitiu que o problema do

ensino fosse parcialmente solucionado. “O essencial era que havia uma escola; não

queríamos ver crescer nossos filhos como analfabetos” (ZIPPERER, 1951, p. 44)

Como não era possível se sustentar apenas com o trabalho de professor, Fendrich

dividia o seu dia entre a escola e a sapataria. Cerca de 30 alunos recebiam suas

lições na parte da manhã, enquanto que a tarde era dedicada ao seu ofício original.

Pagava-se uma taxa mensal de 500 réis por criança e a Sociedade Colonizadora

passou a subvencionar a escola com 1200$000 por ano. E, dessa maneira, a escola

se mantinha e Fendrich levava os seus dias.

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Em seu artigo sobre o ensino no interior de São Bento, Bollmann comenta

que, no começo da colonização, não havia obrigatoriedade de frequência às aulas.

“Por vezes acontecia de crianças maiores faltarem. Faltavam porque tinham que

ajudar nos serviços de casa ou tomar conta de irmãos menores enquanto os pais

iam trabalhar” (1923, apud PFEIFFEER, 1997, p. 193). Embora faltem detalhes

sobre o funcionamento da escola de Fendrich e a assiduidade de seus alunos, é de

se especular a existência de dificuldades semelhantes. A dedicação de Fendrich, no

entanto, fez com que a pioneira escola continuasse existindo, embora com intervalos

irregulares. Ele se manteve no cargo de professor até por volta de setembro de

1879, quando chegou a São Bento o padre Adalberto de Leliva Bukowski, que

assumiu a questão do ensino na Colônia e atraiu para a escola os poloneses que

Fendrich não podia ensinar (FICKER, 1973). Foi, portanto, por cerca de três anos

que Fendrich atuou como professor. O reconhecimento pelos seus esforços e o

pioneirismo da sua atividade fizeram com que fosse homenageado, anos depois,

com o nome de um estabelecimento de ensino no bairro de Serra Alta.

Nessa época, Friedrich Fendrich e Catharina Zipperer já eram pais de Maria

Catharina, nascida em 15.04.1877 e batizada no dia 19.04.1877, tendo como

padrinhos seus tios Josef Zipperer e Anna Maria Pscheidt (JÜRGENSEN, 2006).

Além de Maria Catharina e de Hedwiges, a filha nascida na Europa, o casal teria

ainda uma terceira mulher, chamada Amália Josefina, que nasceu em São Bento do

Sul no dia 07.07.1880 e foi batizada em 11.07.1880. Seus padrinhos foram os

mesmos de sua irmã Maria Catharina.

O filho seguinte, que, assim como o pai, recebeu o nome de Frederico,

herdou o seu ofício de sapateiro. Nasceu em 18.09.1881 e foi batizado no dia

seguinte. Novamente, José Zipperer e sua esposa foram os padrinhos. Outro dos

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filhos homens se chamava Francisco, nome recebido em homenagem ao seu avô.

Assim como o irmão Frederico, ele também trabalhava na sapataria com o pai. De

Francisco, no entanto, não encontramos registro de batismo, mas sabemos ter

nascido por volta de 1887, conforme idade alegada em um assento de casamento.

Além deles, Friedrich Fendrich e Catharina Zipperer tiveram mais dois filhos

homens: José, nascido em 07.11.1883 e batizado no dia 11.11.1883, aquele que

seria o criador Açougue Fendrich; e Rodolfo, nascido em 14.11.1891 e batizado em

05.12.1891 – nessa ocasião, a mãe Catharina Zipperer já estava com 46 anos.

Assim como aconteceu com os outros irmãos, Josef Zipperer e Anna Maria Pscheidt

foram padrinhos desses dois batizados. Foram, portanto, quatro homens e três

mulheres que tiveram o casal Friedrich Fendrich e Catharina Zipperer.

Com o término das suas aulas, Friedrich pôde se dedicar exclusivamente à

sua sapataria. E, como dito, quando os filhos Francisco e Frederico cresceram,

puderam aprender o mesmo ofício. Os membros da família Fendrich “faziam um par

de botinas por 7 mil réis e que duravam anos! Botas até o joelho eram usadas nos

matos e roças” (ZIPPERER, 1951, p. 77). Atendendo com eficiência as

necessidades dos moradores de São Bento, a sapataria logo se tornou uma das

mais tradicionais do lugar.

O nome de Friedrich Fendrich volta a aparecer na história de São Bento nos

últimos anos do século XIX. Foi quando ele se tornou presidente – e provavelmente

tenha sido um dos criadores – de uma agremiação que reunia os imigrantes

boêmios, antigos súditos da Áustria, para preservar as suas tradições e prestar

auxílio mútuo nas suas diversas necessidades. Essa agremiação, criada entre os

anos de 1895 e 1898, levou o nome de “Sociedade Auxiliadora Austro-húngara”.

Para melhor representá-la, os imigrantes criaram uma bandeira pintada em verde-

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amarelo de um lado (as cores da nova pátria) e amarelo-preto do outro (as cores da

dinastia dos Habsburgos, que ainda governava a Áustria na época).

Sob a presidência de Fendrich, a Sociedade Auxiliadora Austro-húngara

(Figura 2) tinha a sua principal festa no dia 18 de agosto – aniversário de Franz

Joseph, então imperador austríaco. Esse dia começava com uma missa para os

associados e seus familiares. Depois acontecia um desfile pelas vias públicas de

São Bento. Nessas ocasiões, alguns antigos soldados que lutaram contra a Prússia

exibiam com satisfação as suas condecorações. Em seguida, iniciavam-se os

festejos, animados por bandas que tocavam canções da velha Áustria. Terminavam

o dia na cervejaria de Johann Hoffmann (ZIPPERER, 1951).

Figura 2 - A Sociedade Auxiliadora Austro-húngara em 1900. O presidente Friedrich Fendrich é o quinto da primeira fileira, partindo da esquerda. Seu filho Frederico está na terceira fileira – é o quarto da direita para a esquerda. Arquivo Histórico Municipal de São Bento do Sul.

A Sociedade também organizava bailes. Em 1898 houve um deles, em

comemoração aos 50 anos de Franz Joseph como imperador. O salão de Josef

Zipperer, então membro da Sociedade, foi bastante enfeitado com guirlandas e

bandeiras transparentes com as armas do Brasil e da Áustria.

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Por vários anos, a Sociedade Auxiliadora Austro-húngara continuou

organizando festas nas ocasiões especiais. Ainda em 1915 houve uma

comemoração ao aniversário do imperador austríaco. As atividades da Sociedade

passaram a ser uma das ocupações de Friedrich Fendrich quando não estava

tomando conta da sapataria – e isso, provavelmente, até o final da vida.

No dia 18 de dezembro de 1905 ocorreu o falecimento de Catharina Zipperer,

a matriarca da família Fendrich em São Bento do Sul, deixando viúvo o esposo e

enlutados os sete filhos. Catharina contava com 60 anos de idade e foi sepultada no

Cemitério Municipal da cidade. O registro civil do óbito de Catharina mostra que foi

Friedrich Fendrich quem compareceu ao cartório para declarar o falecimento. Por

esse registro, sabe-se que Catharina faleceu na residência da família – mas não se

descobre a causa do óbito.

Depois de mais de 30 anos de casamento, Friedrich se viu sem a sua esposa.

Com ela havia decidido imigrar ao Brasil, acreditando na possibilidade de um destino

melhor para a família. E também com ela havia criado sete filhos, suportando todo

tipo de privação nos primórdios da colonização em São Bento. Não é de todo

improvável que o sofrimento causado pela ausência da esposa tenha contribuído

para o que aconteceria a seguir.

Às 9h da manhã de 24 de janeiro de 1906, pouco mais de um mês depois da

esposa, Friedrich Fendrich também veio a falecer. Estava com 62 anos e no dia

seguinte foi sepultado no Cemitério Municipal - partindo do lado direito da escadaria

principal, é o primeiro túmulo da quarta fileira (próximo ao de sua esposa). O óbito

foi declarado pelo filho, também chamado Frederico (SÃO BENTO, 1906). Por esse

assento, ficamos sabendo que a causa da morte foi “paralisia do coração”.

Terminava dessa forma a vida do primeiro Fendrich no Brasil (Figura 3).

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Os irmãos Fendrich, dessa maneira, perderam a mãe Catharina Zipperer e o

pai Friedrich Fendrich no intervalo de um mês. Convém lembrar que, nessa ocasião,

as filhas Hedwiges e Maria Catharina já estavam casadas.

Hedwiges casou-se em São Bento no dia 08.04.1893 com Aloís Grosskopf,

nascido em Müllik, na Boêmia, no dia 21.06.1869, filho de Anton Grosskopf e

Therezia Tauscheck, que imigraram pelo mesmo navio que os Fendrich. Era neto

paterno de Jakob Grosskopf e Clara Wesselack e materno de Josef Tauscheck e

Barbara Jackl (JÜRGENSEN, 2006).

Aloís Grosskopf e Hedwiges Fendrich foram moradores do Km 87 da Estrada

Dona Francisca e tiveram os filhos: Hedwiges, casada com Carlos Ehrl Júnior; Berta,

casada com Carlos Eckstein; Catharina, casada com Carlos Grossl; Maria, casada

com Germano Augusto Mallon; Francisca, casada com José Grossl; Jorge, casado

com Cristina Harasckewicz; João, casado com Zilda Pereira; Paulo, casado com

Regina Tschöke; Paulina, casada com Guilherme Ziemann; Afonso, casado com

Catharina Robl; Frida, casada com Miguel Gschwendtner; Erna, casada com Luiz

Schulze; e Emília Grosskopf, casada com Jorge Weiss. Aloís Grosskopf faleceu no

dia 03.07.1944 e sua esposa Hedwiges em 20.03.1849, estando ambos sepultados

no Cemitério Municipal.

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Figura 3 - Friedrich Fendrich (1843-1906) deu início à história da família em território brasileiro. Arquivo Histórico Municipal de São Bento do Sul.

Já Maria Catharina Fendrich, realizou o seu casamento religioso em São

Bento do Sul no dia 12.05.1897 e o casamento civil em 04.10.1898. Seu esposo era

Jacob Treml, nascido em Flecken ou Rothembaum, na Boêmia, no dia 10.08.1875,

filho de outro Jacob Treml e de Barbara Böhm, que imigraram ao Brasil em 1876 a

bordo do Humboldt. Era neto paterno de um terceiro Jacob Treml e de Barbara

Bachmeier, e neto materno de Josef Böhm e Maria ou Catharina Rank

(JÜRGENSEN, 2006). O casal teve os seguintes filhos, e os respectivos cônjuges

conhecidos até o momento: Jacob; Fernando, casado com Hedwiges Kucherl; Maria,

casada com Antônio Hilgenstieler; José; Francisca; Carlos, casado com Alsina

Gerdes; outra Francisca, casada com Francisco Muller; João; Antônio, casado com

Maria Kollross; Hedwiges; Rodolfo, casado com Maria Cristina Linzmeyer; Frederico,

casado com Maria Gruber; e Alfonso Treml, casado com Ida Priebe. Jacob Treml, o

esposo de Maria Catharina Fendrich, faleceu em São Bento do Sul no dia

21.05.1948. Sua esposa faleceu aos 91 anos, no dia 31.07.1968. Os dois também

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foram sepultados no Cemitério Municipal da cidade.

Os demais filhos ainda não haviam constituído família quando Friedrich

Fendrich e Catharina Zipperer faleceram. Amália Josefina Fendrich casou-se em

1909 com Aloís Gassner, nascido em São Bento do Sul no dia 17.08.1884, filho de

Joseph Gassner e Philomena Hornick, neto paterno de Andreas Gassner e Anna

Baumann, e neto materno de Franz Hornick e Thereza Ploetz (JÜRGENSEN, 2006).

Foram pais de Maria, Rodolfo, Alfredo, Carlos, Luiz, Relina e Frederico Gassner.

Ambos estão sepultados no Cemitério Municipal, sendo que Amália faleceu primeiro,

no dia 17.07.1961, enquanto que Aloís faleceu em 02.03.1971.

Embora não se tenha a informação sobre a data em que o filho Francisco

Fendrich se casou, acredita-se que também era solteiro em 1906. Da mesma forma,

sabemos que os seus irmãos Frederico, José e Rodolfo também não eram casados

na ocasião – o caçula Rodolfo Fendrich, inclusive, tinha apenas 14 anos na época.

Os irmãos Francisco e Frederico foram aqueles que aprenderam o ofício de

sapateiro com o pai Friedrich Fendrich. Com o falecimento do patriarca, eles não se

entenderam sobre quem deveria tomar a frente nos negócios da família. Então

Francisco Fendrich decidiu se mudar para Curitiba e lá abrir o seu próprio negócio,

enquanto que Frederico ficou com a sapataria que era do seu pai.

Francisco Fendrich se casou com Anna Luiza Brenner, falecida em 1976, com

quem teve cinco filhos, os primeiros Fendrich da capital paranaense: Frederica,

casada com Albino Romfeld; Flora, que faleceu solteira; Fernando, casado com

Frida Born; Gisela, casada com João Cazura e em segundas núpcias com Ewaldo

Sytriski; e Irene Fendrich, casada com João Karowetz (FENDRICH, 2009).

Frederico Fendrich, o filho, conseguiu repetir o êxito do pai com a Sapataria

Fendrich, que chegou a contar com 10 funcionários. Conforme o negócio progredia,

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Frederico conseguiu anexar a ela uma loja de calçados – que teria sido a primeira de

São Bento. Depois de falecer, em 1947, quem tomou conta da Sapataria foi seu filho

mais velho, Alexandre Fendrich – a terceira geração de sapateiros na família

Fendrich. Alexandre cuidou da sapataria e da loja de calçados até falecer em 1974.

Como não deixou filhos homens, a história da Sapataria Fendrich em São Bento,

iniciada pelo patriarca ainda na Europa, chegou ao seu fim.

Além da sua atividade como sapateiro, o filho Frederico Fendrich se destacou

em outras áreas da vida pública de São Bento do Sul. Também foi membro da

Sociedade Auxiliadora Austro-húngara, presidida pelo seu pai. Em 1915, foi eleito

suplente de vereador, tendo posteriormente assumido o cargo de 2º secretário entre

os vereadores. Na década de 20, foi suplente e delegado de polícia. Também foi ele

o idealizador, em 1934, da primeira carroça fúnebre de São Bento, da qual foi ele

próprio o principal condutor dos cortejos que seguiam para os cemitérios da região.

Frederico também utilizava um trole para conduzir casamentos, além de usar outras

carroças para fazer fretes de tijolos, areia e outros materiais de construção. Durante

a Segunda Guerra, vendo o problema da falta de gasolina, utilizou seu trole como

táxi. Por mais de 40 anos fez parte do Coral da Igreja Católica do centro da cidade.

Também foi membro e fez parte da diretoria do Coral da Sociedade Beneficente

Operária, além de ter participado ativamente da Sociedade dos Atiradores. Em 1960,

os feitos de Frederico Fendrich foram homenageados quando se decidiu emprestar

o seu nome a uma rua localizada ao lado da Sociedade Literária São Bento.

Frederico Fendrich casou-se em São Bento do Sul no dia 23.09.1908 com

Anna Roesler, nascida em 02.04.1891, filha de Johann Rössler, imigrante de

Reichnau, e Amalie Preussler, de Grafendorf, neta paterna de Franz Rössler e

Antonia Lang e neta materna de Bernard Preussler e Anna Jaeger (JÜRGENSEN,

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2006). Com ela, o casal teve 14 filhos: Afonso; Luiza, casada com Lourenço Peng;

Alexandre, casado com Catharina Fleith e em segundas núpcias com Irmalinda

Becker; Hilda, casada com Jorge Schewinski; Paulo, falecido ao nascer; José,

gêmeo de Paulo, casado com Maria Tereza Linzmeyer e em segundas núpcias com

Herta Karsten; Wally, casada com Antônio Hastreiter; Erna, casada com Sebastião

Sthäelin; Lídia, que faleceu solteira; Ana Cristina, casada com Luiz Hilgenstieler;

uma menina natimorta; Matilde Irene, casada com Aloísio Freiberger; Herbert

Alfredo, casado com Dóris Izolda Giese; e Frederico Fendrich Neto, que viveu uma

semana. O falecimento de Frederico Fendrich ocorreu às 18h40 de 25.05.1947, aos

65 anos, vítima de miocardite no curso de febre tifóide. Foi sepultado no mesmo

túmulo de seu pai Friedrich Fendrich, no Cemitério Municipal. Sua esposa, falecida

em 14.06.1968, foi sepultada no mesmo lugar.

Ao contrário dos irmãos Francisco e Frederico, José Fendrich aprendeu um

outro ofício. Mudou-se para Curitiba e lá arrumou trabalho no “Açougue Garmatter”,

que era a mais tradicional casa de carnes e fábrica de linguiças da cidade. Lá, José

“se fez mestre no preparo da carne para a venda e no preparo de todos os derivados

de carne, desde simples linguiças até produtos de requintada classe” (PFEIFFER,

1997, p. 140-141). Depois de um longo tempo trabalhando em Curitiba, José decidiu

voltar para São Bento e abrir o seu próprio negócio. E, de fato, em 15.08.1908 era

inaugurado o “Açougue Fendrich”, localizado na atual Rua Felipe Schmidt.

Não demorou até que o estabelecimento comercial de José Fendrich

conseguisse se destacar entre a população de São Bento, “pela idoneidade de seus

proprietários e pela variedade e excelente qualidade de produtos que oferece aos

seus fiéis clientes” (id, p. 143). Bem sucedido, e superando as adversidades, o

Açougue Fendrich existe até os nossos dias – ou seja, já ultrapassou os 100 anos,

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sempre funcionando no mesmo endereço. João Fendrich, filho de José Fendrich, foi

por muito tempo o gerente e principal cotista do estabelecimento. Hoje, são os filhos

de João que cuidam do Açougue e, assim, dão continuidade a essa tradição já

centenária na família Fendrich.

Pouco tempo antes de voltar para São Bento, em 1908, José Fendrich casou-

se em Curitiba com Anna Pfeiffer, nascida em São Bento do Sul no dia 18.06.1886,

filha de Ambros Pfeiffer e Franziska Hübner, imigrantes de Labau, neta paterna de

Ignaz Pfeiffer e Klara Feix e neta materna de Josef Hübner e Franziska Tomesch

(PFEIFFER, 1997). Com sua esposa, José Fendrich foi pai de dez filhos: Eduardo,

casado com Elza Kohlbeck; Elisabeth, casada com Alto Arno Stelter; Frederico,

casado com Martha Baum; Afonso, casado com Elly Kahlhofer; Paulo, casado com

Eraclides Zanluca; Adelheit, casada com Ricardo Klitzke; José, casado com Alzira

Fleith; João, casado com Maria Kaszubowski; Ernesto, casado com Serena Stueber;

e Bento Carlos, casado com Olanda Katzer. José Fendrich também foi personagem

ativo das atividades da Sociedade dos Atiradores, a exemplo do irmão Frederico.

Faleceu em 20.11.1940, aos 57 anos. Já sua esposa, faleceu em 17.03.1972, aos

85 anos. Ambos estão sepultados no Cemitério Municipal de São Bento do Sul.

Dos sete filhos que Friedrich Fendrich e Catharina Zipperer tiveram, apenas

Rodolfo Fendrich não chegou a se casar e deixar descendentes. Faleceu solteiro no

dia 28.06.1955 e está sepultado no mesmo cemitério que seus irmãos. Os outros

filhos, como visto, casaram-se e constituíram famílias – dois filhos homens de

Friedrich, inclusive, puderam ensinar as suas profissões a alguns dos seus

descendentes. A tradição familiar em atividades comerciais bem sucedidas, como a

sapataria e o açougue, contribuiu para que o sobrenome Fendrich se tornasse

bastante conhecido em São Bento do Sul até os nossos dias.

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Tal destaque também se deve a vários descendentes que atuaram de forma

positiva no município. Entre eles, deve-se citar o nome de Arno Fendrich, filho de

Eduardo Fendrich e Elza Kohlbeck, e neto do açougueiro José Fendrich. Arno foi um

batalhador do teatro amador e da cultura na cidade. Desde 1955, escreveu, dirigiu,

representou e organizou em São Bento do Sul várias peças teatrais de reconhecido

valor. Destacou-se especialmente com o “Drama do Calvário”, encenação ao ar livre

da Paixão de Cristo, realizada na Colina dos Três Templos, e que reunia cerca de

mil atores amadores, além de grandiosos cenários e vestuários. A apresentação

movimentava a cidade e logo foi reconhecida como um dos maiores espetáculos do

gênero no Brasil. Os feitos de Arno Fendrich fizeram com que fosse comparado com

seu ancestral Friedrich Fendrich em um artigo de Santana Blake, já que os dois

estiveram juntos “no mesmo ideal para concorrer pela cultura em São Bento”

(BLAKE, 1963, p. 1). Arno Fendrich faleceu em 23.06.1994.

É preciso mencionar também o nome de José Fendrich Filho, o fundador da

Padaria Fendrich. José começou a aprender o ofício com apenas 12 anos, e em

26.02.1946 fundou um dos mais tradicionais estabelecimentos da cidade. No início,

José precisava se deslocar de bicicleta por estradas cheias de barro para poder

entregar os pães fresquinhos às famílias da cidade. E, por mais de 55 anos, José

trabalhou na Padaria Fendrich, até falecer em 28.09.2002.

O ofício foi repassado ao seu filho Leomar José Fendrich, que mantém a

tradição e cuida do negócio até os nossos dias. Leomar, por sua vez, teve um filho

chamado Leomar José Fendrich Júnior, que se tornou piloto e, há vários anos, tem

se destacado em competições de automobilismo no estado. Em 2002, Leomar foi

campeão da categoria Marcas A do Campeonato Catarinense de Automobilismo, do

qual já havia sido o vice-campeão em 1996 e 2001 (RELAÇÃO, 2009).

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Pode-se citar também o nome de Herbert Alfredo Fendrich, filho de Frederico

Fendrich, o filho, e Anna Roesler. Herbert foi o regente da Sociedade de Cantores

25 de Julho entre os anos de 1983-2000. Participou por 35 anos da Banda Treml e

de diversas bandinhas e corais da região, registrando em cuidadosos diários os

eventos que acompanhou enquanto era membro desses grupos. Seria possível citar

vários pequenos gestos que demonstrariam os feitos de Herbert pela música e pela

preservação da memória da cidade. Faleceu aos 77 anos em 30.07.2007.

Outro Fendrich que conseguiu destaque na vida pública de São Bento foi

Paulo Fendrich, filho de José Fendrich e Anna Pfeiffer. Candidato a vereador nas

eleições que aconteceram em 03.10.1951, Paulo Fendrich conseguiu votação

suficiente para que, em 04.02.1953, tivesse a oportunidade de assumir o cargo

durante aquela legislatura. Faleceu em 21.12.1992.

Também houve aqueles que se destacaram fora de São Bento do Sul.

Roberto Fendrich, filho de Fernando Fendrich e neto de Francisco Fendrich, aquele

que se mudou para Curitiba, é doutor em Geologia Ambiental, professor na

Universidade Federal do Paraná e tem se destacado nas áreas afins da Engenharia

Civil, com ênfase na Engenharia Hidrológica e Engenharia de Recursos Hídricos.

Poderiam ser citados ainda muitos nomes que, cada um à sua maneira, têm

se destacado em suas atividades e contribuído para o desenvolvimento de São

Bento do Sul e região. Friedrich Fendrich, olhando para trás e considerando a

grande mudança de vida que representou a sua imigração, provavelmente teria

muito do que se orgulhar ao ver que, mesmo tanto tempo depois, o sobrenome da

família continua sendo pronunciado em tom de admiração na cidade.

Algumas tentativas de se erguer um busto em homenagem a Friedrich

Fendrich se mostraram infrutíferas. Ainda em 1963, reclamava-se por um

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monumento que pudesse relembrar às gerações futuras os feitos e as dificuldades

passadas por Fendrich no ensino das primeiras crianças são-bentenses: “Mas onde

está a lápide assinalando o local da primeira escola e o nome do primeiro mestre

que se tornou um benfeitor da cidade? Que dívida enorme a saldar!” (BLAKE, 1963,

p. 6). Em um futuro próximo, acredita-se que a iniciativa, enfim, será levada adiante,

e a população de São Bento do Sul poderá perpetuar algumas das marcas do seu

passado –que é motivo de orgulho para os descendentes da família Fendrich.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BLAKE, Santana. Dois Fendrich, Duas Histórias. Tribuna da Fronteira, São Bento do Sul, 17 fev. 1963, p. 6.

BLAKE, Santana. O Tropeiro Louro. Tribuna da Fronteira, São Bento do Sul, 23 set. 1966, p. 7.

CEMITÉRIO MUNICIPAL DE SÃO BENTO DO SUL. [Lápides da Família Fendrich]

FENDRICH, Roberto. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 07 abr. 2009.

FICKER, Carlos. São Bento do Sul: Subsídios para a sua história. Joinville: Ed. do autor, 1973.

JÜRGENSEN, Paulo Henrique. Famílias tradicionais: Povoamento do Alto Vale do Rio Negro. São Bento do Sul: Ed. do Autor, 2006.

KALIVODA, Petr. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 01 Jan. 2008.

PFEIFFER, Alexandre. São Bento na Memória das Gerações. São Bento do Sul: Ed. do autor, 1997.

RELAÇÃO dos Campeões Campeonato Catarinense de Automobilismo. Apresenta os primeiros colocados em todas as categorias ao longo dos anos. Disponível em:

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Page 21: A Família Fendrich em São Bento do Sul

<http://www.fauesc.org.br/modules/mastop_publish/?tac=11>. Acesso em: 14 Nov. 2009.

SÃO BENTO DO SUL. Livro de registros de óbitos nº 03. [Livro depositado no Cartório de São Bento do Sul-SC]

ZIPPERER, Josef. São Bento no passado: Reminiscências da época da fundação e povoação do município. Curitiba: João Haupt, 1951.

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