A farsa do bom senso - Observatório da imprensa.doc

5
Violência, farsa e limites do bom senso do jornalismo no Brasil Causa perplexidade, a quem tem bom senso, a opinião assinada por Rachel Sheherazade (http://youtu.be/nXraKo7hG9Y ) no Jornal do SBT, em 04/02/2014, sobre a tortura, agressão e racismo sofrido por um jovem no Rio de Janeiro. O fato obscuro envolve um jovem negro suspeito de crimes na região que foi espancado e deixado nu e ensanquentado com a orelha cortada, preso pelo pescoço com uma trava de bicicleta a um poste. Ação é de um bando de jovens da Zona Sul do Rio, denominado justiceiros. Nessa perspectiva não se pretende verificar simplesmente o fato ou mesmo aprofundar-se na questão sociológica da tortura e linchamento do rapaz, mas especificamente destacar a questão ética-comunicacional e o posicionamento político-ideológico do texto e suas consequências possíveis em um cenário contemporâneo. Nessa perspectiva a opinião da jornalista fere o bom-senso e a busca de um Estado Democrático de Direito, finalidade da prática do jornalismo. Sheherazade e e as mil e uma faces da discriminação e da violência O discurso de Rachel Sheherazade não é novo, está filiado à ideologia que modifica e se repete em diversas áreas, inclusive na política e instâncias conservadoras e reacionárias da sociedade brasileira. Tal discurso está presente em outros países como Estados Unidos e Europa, em passado nem muito remoto foi Política de Estado na Alemanha Nazista e Africa do Sul. O processo de tipificação dos crimes e dos criminosos faz parte do modus operandi das forças de segurança de Estado e está filiado à cultura e história social. No Brasil, a figura do pardo e negro é criminalizado e marginalizado. No entanto, certas posições, em

Transcript of A farsa do bom senso - Observatório da imprensa.doc

Violncia, farsa elimites do bom senso do jornalismo no Brasil Causa perplexidade, a quemtembomsenso, a opinio assinada por Rachel Sheherazade(http!!"outu#be!n$ra%o&h'()* no+ornal doSB,,em-.!-/!/-0., sobreatortura, a1ressoeracismo sofrido por um jo2em no Rio de +aneiro# 3 fato obscuro en2ol2e um jo2em ne1rosuspeitode crimes na re1io que foiespancado e deixado nu e ensanquentado com a orelha cortada, presopelo pesco4o com uma tra2a de bicicleta a um poste# 54o 6 de um bando de jo2ens da 7ona Sul doRio, denominado justiceiros#8essa perspecti2a no se pretende 2erificar simplesmente o fato oumesmo aprofundar9se na questo sociol:1ica da tortura e linchamento do rapaz, masespecificamente destacar a questo 6tica9comunicacional e o posicionamento pol;tico9ideol:1ico dotexto e suas consequncias poss;2eis em um censtado ?emocrstado e est< filiado @ cultura e hist:ria social# 8o Brasil, a fi1ura do pardo e ne1ro 6 criminalizadoemar1inalizado# 8oentanto, certasposi4Ces, emcontramodosprocessosdemocrm suma, criminoso 6 pardo, ne1ro, pobre e mora na periferia,mal encarado, mar1inal e sem escolaridade# N o triunfo do racismo institucional, mas que tem ra;zesprofundas na cultura e 6 constantemente refor4ado pelo discurso da m;dia que usa dos m6todos maisasquerosos para 1anhar audincia, satisfazer9se com o cont;nuo problema sistmico da 2iolncia ediscrimina4o nas suas mil e uma faces# 3 expl;cito da discrimina4o 6 camuflado em pala2ras de ordem e indi1na4o em opiniCes difusas,quase reli1iosas, mas que esconde o funcionamento da ordem estabelecida mal2ada da ausncia dosser2i4os pOblicos, das oportunidades indi2iduais e pri2il61ios da concentra4o dos meios decomunica4o social e da falta de liberdade de expresso# 3 desejo impl;cito 6 a se1re1a4o, a morteeoexterm;niodecertostipossociaisenocasodoBrasilone1ro, bandido, pobre, fa2eladoemenor# >sse esti1ma se perpetua e se amplia, tanto que as falas e os atos parecem continuarem semrepercusso, porque 6 um espetstado 6 omisso# 5 pol;cia, desmoralizada# 5 +usti4a 6 falha#3 que resta ao cidado de bem, que, ainda por cima, foi desarmadoP Se defender, claroQ 3 contra9ataque aos bandidos 6 o que eu chamo de le1;tima defesa coleti2a de uma sociedade sem >stadocontra um estado de 2iolncia sem limiteI# ,al perspeti2a que acaba sendo politicamente incorretoemmeios intelectuais e culturais, bemcomo emmo2imentos sociais pro1ressistas acabaparafraseando a ideolo1ia neoliberal, em tons menos :b2ios, mas com o mesmo efeito do fascismoe o racismo institucional :dio, discrimina4o, racismo, intoler=ncia, 2iolncia, desprezo e rancor# >ste tipo de discurso tem uma consequncia e refor4a o que j< est< no cotidiano e nas rela4Cesinterpessoais, incenti2andoatosde2iolncia, alimentandoa4Cesbrutais, inclusi2eporpartedapol;cia, principal a1entedecoa4osocial dosmar1inais, cal2