A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

15
www.derphilosopher.supralus.com 1 A FILOSOFIA BRASILEIRA DO NOSSO TEMPO Antonio Sidekum Índice 1. INTRODUÇÃO: O PROBLEMA DA HISTORIZAÇÃO E PERIODIZAÇÃO DA FILOSOFIA NO BRASIL ................................................................................................................ 3 2. CARACTERIZAÇÃO DO INÍCIO DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX ................ 5 3. FILOSOFIA E EXPRESSÃO CULTURAL BRASILEIRA ..................................................... 7 4. A CORRENTE DO PENSAR DIALÉTICO: HEGELIANISMO E MARXISMO .............. 11 5. A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E REALIDADE NACIONAL ........................................... 11 6. UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DA CULTURA FILOSÓFICA ATUAL NO BRASIL ..... 12 7. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 14 8. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 15 www.derphilosopher.supralus.com derPhilosopher

Transcript of A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

Page 1: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com1

A FILOSOFIA BRASILEIRADO NOSSO TEMPO

Antonio Sidekum

Índice

1. INTRODUÇÃO: O PROBLEMA DA HISTORIZAÇÃO E PERIODIZAÇÃO DAFILOSOFIA NO BRASIL................................................................................................................ 32. CARACTERIZAÇÃO DO INÍCIO DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX................ 53. FILOSOFIA E EXPRESSÃO CULTURAL BRASILEIRA ..................................................... 74. A CORRENTE DO PENSAR DIALÉTICO: HEGELIANISMO E MARXISMO .............. 115. A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E REALIDADE NACIONAL........................................... 116. UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DA CULTURA FILOSÓFICA ATUAL NO BRASIL ..... 127. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 148. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 15

www.derphilosopher.supralus.com

derPhilosopher

Page 2: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com2

A FILOSOFIA BRASILEIRA DO NOSSO TEMPO

Antonio Sidekum1

“ Apesar de Você

Amanhã vai ser outro dia...Amanhã vai ser outro dia..Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão, não.A minha gente hoje anda falando de lado e olhando p’ro chão, viuVocê que inventou esse estado de inventar toda escuridãoVocê que inventou o pecado, esqueceu-se de inventar o perdãoApesar de você, amanhã há de ser outro diaEu pergunto a você onde vai se esconder da imensa euforia?Como vai proibir quando o galo insistir em cantar.Água nova brotando e a gente se amando sem pararQuando chegar o momento este meu sofrimentoVou cobrar com juros, juroTodo esse amor reprimido esse grito contido esse samba no escuroVocê que inventou a tristeza agora tenha a fineza de desinventarVocê vai pagar redobrado cada lágrima rolada desse meu penar.Apesar de você,Amanhã há de ser outro diaInda pago para ver o jardim florescer qual você não queriaVocê vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licençaE eu vou morrer de rir, que esse dia há de vir antes do que você pensa.Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia.Apesar de você, amanhã há de ser outro diaComo vai-se explicar, vendo o céu clarear de repente impunemente.Como vai abafar nosso coro a cantarNa sua frenteApesar de vocêVocê vai se dar mal etcetera e talLaraia laraiaLaraia larai laraia laraiApesar de você “

( CHICO BUARQUE)

1 Doutor em filosofia pela Universidade de Bremen, Alemanha. Professor visitante na Universidade deMünster, Alemanha, Universidade de Centro América, de San Salvador, El Salvador e The CatholicUniversity of America, em Washington, com Pós-Doutorado em Ética pela Universidade de Leipzig,Alemanha e pela The Catholic University of America, Washington, USA. Co-fundador do Corredor dasIdéias. Professor e pesquisador nas Faculdades de Taquara, RS. Brasil.

Page 3: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com3

1. Introdução: O Problema da Historização e Periodização da Filosofia no Brasil

Quando se trata de esboçar algumas linhas da história da filosofia é sempre difícilencontrar uma medida justa para se trabalhar o desenvolvimento das correntespredominantes em sua época e dentro de um critério de periodização ou seja na suacontextualização. Distinguindo-se e separando-se os autores de diferentes pertenças àcorrentes e escolas teremos maior evidência do problema. Nem sempre as correntescoincidem com todo processo universal de determinados tópicos como por exemplo dodesenvolvimento da história da arte, da literatura, do pensamento político e do pensamentoeconômico. Ou mesmo no processo da formação do êthos cultural e do indivíduo e tambémcomo um povo na busca do reconhecimento dos direitos de ser ator protagonista da história.Na história da filosofia brasileira atual, a situação não é muito diferente em relação aonosso passado colonial. O fluxo das idéias encontra rumos distintos e de uma atualidademais evidenciada em alcançar uma nova autodeterminação no mundo da política, seja pelacondição multicultural e multiétnica, isso tudo se coadunando num grande processocultural, quase como no sentido do chamado “socialismo moreno”, tão aclamado por DarcyRibeiro. No caso específico do Brasil, por um lado, que é considerado como um paíspertencente à periferia do eurocentrismo, é evidente que encontraremos umadissemelhança e concomitância em todos os movimentos filosóficos mundiais. Isto pode-se demonstrar pela demora da vinda do Iluminismo, acontecido durante o período colonial;e a da imediata absorção dos ideais do Positivismo na consolidação da República; a daintrodução e aceitação da Filosofia Analítica na década de 1970; o mesmo acontece com oMarxismo de Antonio Gramsci muito presente no final do século XX . E por outro lado,apesar de todo debate, que houve na década de 1960 sobre a identidade da culturabrasileira e sobre a identidade nacional, por exemplo, a repercussão da teoria daDependência ou do Movimento Tropicalista, a filosofia no Brasil não se tem aproximadoou inserido no mesmo debate comum dos pensadores latino-americanos, que levantaramtantas bandeiras no século XX, principalmente sobre a autenticidade do pensar na AméricaLatina, como por exemplo José Mariatequi, Augusto Salazar-Bondy, Leopoldo Zea; ousobre a identidade cultural e de uma ética emergente como podemos estudar em ArturoRoig e Arturo Ardao, entre outros.

Como ponto de partida deste breve esboço é necessário destacar que carecemos deuma historiografia mais abrangente de desenvolvimento da filosofia no Brasil.2 Podemosainda sublinhar de que nas últimas décadas, acompanhamos o transplante quase simultâneode muitas correntes filosóficas atuais dos centros originários da Europa e dos EstadosUnidos: tais como a Ética do Discurso de Jürgen Habermas e de Karl Otto Apel,3 assimcomo a filosofia analítica, o pensamento político de Rawls ou a corrente francesacontemporânea. É claro que um dos fatores importantes é o intenso intercâmbio acadêmicoatravés de bolsas de estudos, do grande número de doutores adquiridos no exterior, osignificativo número de professores visitantes ministrando cursos em quase todas asfaculdades de filosofia no Brasil, principalmente nos Programas de Pós - Graduação em

2 Sobre a perspectiva histórica da filosofia contemporânea no Brasil temos uma obra fundamental, queutilizo aqui como orientação do trabalho que estou apresentando, trata-se da obra de Antonio JoaquimSEVERINO, A Filosofia Contemporânea no Brasil. Petrópolis : Vozes 3.ed. 20013 Antonio SIDEKUM. A Ética do Discurso e a Filosofia da Libertação. São Leopoldo: UNISINOS, 1994.

Page 4: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com4

Filosofia4. Além dessas iniciativas temos alguns centros culturais importantes, quefacilitam a vinda de pensadores da Europa, refiro-me à Aliança Francesa e ao GoetheInstitut que primam em realizar excelentes seminários, nos quais acontecem bonsdebates com pensadores brasileiros e da Europa. Esse fato nos possibilita apontar paraverdadeiros centros de excelência através dos professores de filosofia transplantados daFrança, da Alemanha ou dos Estados Unidos. O que não deixa de caracterizar o surgimentode determinados conflitos no que diz respeito, às vezes, às atribuições administrativas parao reconhecimento e avaliação de Programas de Pós - Graduação e bem como da posturaindividual no que diz respeito ao complexo de superioridade ou do grau de dominação e dastendências ainda latentes, entre muitos acadêmicos em copiar,5 ou transplantarsimplesmente conteúdos para os Programas de Pós - Graduação, que continuam bemclassificados e bem situados por sua seriedade e rigor entre muitos centros de excelência denossa cultura filosófica. A tudo isso, somam-se as dificuldades financeiras em nosso meioacadêmico, pois, sofremos de uma falta de recursos para financiar os programas deinvestigação de nossos professores e além disso, é sempre enorme a carência de obras emnossas bibliotecas universitárias. Existe, no entanto, uma boa parte dos pensadoresbrasileiros ocupados com a situação ética de nossa cultura política, educacional eeconômica. Dessa forma, poderemos apresentar uma grande lista de autores filósofos quediscutem a nível acadêmico a cultura da política nacional, as variadas formas da cultura dacorrupção política, dos problemas econômicos, da exclusão social, da política educacional eda governabilidade do país. Já são inúmeros os veículos de comunicação que trazem odebate filosófico para a realidade acadêmica e para a massa popular através dos meios decomunicação, das inúmeras revistas de filosofia e de cadernos semanais dos principaisperiódicos do país6.

Não poderemos contar na segunda metade do século XX com um fluxo linearatravés de datas e autores no que se refere ao desenvolvimento e à assimilação de correntesfilosóficas no país, mas, com uma constante interação e de apontamentos da temática queestão em enfoques . Tudo isso dá-se em virtude das características da conjuntura nacional,que se transforma pelo ritmo muito acelerado do processo da vida política interna comopelas conquistas na política internacional, concebido como um processo de modernizaçãode todos os setores da sociedade brasileira, o que na atualidade se identifica pelos processosde mundialização e da globalização da economia internacional, sob a forma detransnacionalização, e dos meios de comunicação social que instauram uma nova ordemsimbólica. Nesta perspectiva é fundamental apontar para os trabalhos que são publicadosna Revista CEBRAP, sob a coordenação de José Arthur Giannotti e os inúmeros trabalhossobre ética de Manfredo de Araújo Oliveira, da Universidade Federal do Ceará. Asinstituições econômicas e políticas brasileiras não querem ficar à margem do processo dahistoria da globalização, basta observar determinadas posturas no campo da política

4 Deveremos acentuar aqui o investimento realizado pelo Ministério da Educação pelos órgãos de fomento doCNPq e CAPES, ao criarem cursos de mestrado com um rigoroso acompanhamento de avaliação e dedistribuição de bolsas de estudos para professores e alunos dos programas de pós-graduação. O mesmoacontece em alguns Estados da Federação, onde temos bons investimentos para atualização de professores,v.g. FAPERGS, FAPESP entre outras.5 Roberto GOMES. Crítica da razão tupiniquim. Porto Alegre: Editora Movimento, 1978. Este texto jáaponta para determinados males que muitas vezes aparecem em nossa filosofia.6 Entre os quais destaca-se o Caderno Mais do Jornal Folha de São Paulo, editado nos domingos.

Page 5: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com5

econômica e dos grandes investimentos das empresas transnacionais, apesar dos desafiosque apresentam para o Estado, como não poderíamos deixar de apontar para a iniciativa depoder-se pensar em alternativas para o mundo contemporâneo, o que está bem demonstradopelo êxito das duas edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, nas quaisaconteceram várias oficinas de filosofia.

2. Caracterização do início da segunda metade do século XX

Todo ato de filosofar estará sempre inserido num contexto histórico que se traduzatravés forma de uma assimilação cultural da sociedade civil, como um todo, e pelaexperiência singular realizada pelo indivíduo ao se debater com a formação da consciênciahistórica, ou no sentido da expressão forte consagrada por Paulo Freire: pelo longoprocesso da “conscientização”.

Como uma breve introdução gostaria de apresentar o desenvolvimento da filosofiabrasileira na segunda metade do século XX tendo como pano de fundo os maissignificativos movimentos culturais expressos na arte, principalmente pela MúsicaPopular Brasileira nascida na década de 1960. E, em segundo lugar, a partir da discussãodo problema da identidade nacional, temática iniciada bem no início da segunda metade doséculo XX..

A filosofia no Brasil tomou novos rumos a partir da consciência história de suacomplexidade cultural na qual mergulhara a sociedade brasileira no inicio da década de1950. Essa complexidade cultural implica a repercussão da crise internacional na vidapolítica e econômica interna do país. O Brasil naquela circunstancia apelava para umainserção no processo de modernização, no sentido da doutrina Keynes, e tendo forteparticipação no desenvolvimento da teoria da dependência em eu se destacam os clássicosautores como por exemplo Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso, bem como algunsdos clássicos da teoria política e econômica para o Brasil, tais como: Florestann Fernandese Hélio Jaguaribe. Por outro lado, temos uma teoria da cultura brasileira desenvolvida porDarcy Ribeiro, que apresentaremos a seguir.

Poderíamos caracterizar a expressão da cultura filosófica no Brasil através de variasformas culturais. Por um lado um amplo surgimento de faculdades, cursos e diciplinas(asignaturas), com programas atualizados que imitam importantes centros de filosofia datradição alemã e francesa. Durante a ditadura militar ouve um forte incremento dos estudosda filosofia analítica, principalmente da tradição de Heidegger.

Antes de abordar-mos as principais correntes filosóficas no Brasil nas últimasdécadas, seria importante apontar para uma nuance informal de filosofia subjacente na arteda música popular brasileira, eu foi também uma expressão de resistência ao regime militardebalde sua origem ser uma nova busca da identidade brasileira, referindo-se ao famosomovimento da semana da arte moderna de 1922. Tratando-se do Movimento Tropicalista.Pode-se considerar que nesse movimento procurou-se refletir sobre a realidade histórica eprincipalmente da condição humana nesse período.

Page 6: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com6

O Movimento Tropicalista poderá ser descrito como o movimento cultural maisimportante do fim da década de sessenta, eu usava o deboche, a irreverência e improvisaçãorevoluciona a música popular brasileira, em que artistas liderados pelos músicos CaetanoVeloso(1942) e Gilberto Gil(1942) tentam retomar as lições do manifesto antropofágico deOswald de Andrade(1890- 1954) através da música popular brasileira (MPB), mistura-las acultura de massa urbana (consumismo, americanização, rock e televisão). O movimento élançado com as músicas “ Alegria Alegria” de Caetano Veloso, e “ Domingo no Parque” ,de Gilberto Gil acompanhadas por guitarras elétricas no Festival da Record de 1967.Causam polêmicas, já que na época MPB era dominada pela estética da bossa nova. Oartista plástico Hélio Oiticica batiza o Movimento Tropicalista através de sua esculturapenetrável eu expõe no museu de arte moderna no Rio de Janeiro. Manifesto domovimento, o disco Tropicália ou Panis et Circensis, de 1968 resume todas as suastendências: a estática brega do tango dramalhão de Vicente Celestino (1894-1968)“Coração Materno”, a presença da cultura urbana internacional marcada pela influência dosBeatles e do rock em “Panis et Circensis” cantada por os Mutantes o refinamento da bossanova nos vocais de Caetano Veloso e na presença de Nara Leão. As letras são uma visãoclara da realidade brasileira. Com isso Gil e Caetano são presos em suas casas. O motivonão foi revelado. Era só mais um capítulo dos festivais de besteiras que assolava o país.Acabariam exilados em Londres. O clima é de agitação política, nas ruas, os estudantesuniversitários, contrários às influências estrangeiras nas artes brasileiras e protestam contrao regime instalado no país.

O Tropicalismo tem vida curta. Na prática, acaba com o AI-5 em dezembro de1968.Em 1997, quando se comemoram os 30 anos do tropicalismo, são lançados dois livros eucontam a história do movimento. Verdade Tropical, de Caetano Veloso, e Tropicália – Ahistória de uma Revolução Musical, do jornalista Cairos Calado.

Durante a década do tropicalismo vivia-se no Brasil uma era de obscuridade eopressão política. A censura nos meios de comunicação ao incentivo de protestos velados ecamuflados nas manifestações artísticas, tendo a musica popular como o grande destaquedesta forma de ação. Apresento como epígrafe desta conferência a letra de uma música deChico Buarque, poderia-se utilizar como uma referência filosófica ou ao menos como umacrítica ao sistema contextual. Assim outras formas artísticas ocuparam-se em cultivar esustentar o clima informal de filosofia no Brasil nesse período obscuro da ditadura militar.Um dos artistas mais consagrados pelo contexto e aceitos pelo povo, naquele tempo, eraChico Buarque de Hollanda. Suas músicas são todas de grande beleza e de poesia mas eramprincipalmente perturbadoras ao regime militar. Assim poderíamos classificar sua artecomo um marco de critica e de resistência intelectual ao regime da ditadura. Sua arte falavada imortal esperança de liberdade de um povo, em contraposição ao pensamento e àideologia dominante. Assim poderíamos inserir o Movimento Tropicalista como um marcofilosófico que se estenderá por várias décadas ancariando outros meios artísticos, como aliteratura, o cinema, e artes plásticas como elementos importantes para o desenvolvimentode uma postura crítica que se desenvolvia informalmente pelos caminhos paralelos daacademia.

A história da filosofia sofre um violento impacto com a implantação da ditaduramilitar em 1964. Durante esse período ainda repercutiam fortemente os pensadores que

Page 7: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com7

eram influenciados pelo existencialismo de Jean Paul Sartre, Albert Camus, Simone deBeauvoir e Karl Jaspers. Assim, sem menos intensividade também repercutia o pensamentodos pensadores ligados à corrente dos marxistas, principalmente de Roger Garaudy eGeorgy Lukacs e de Louis Althusser. Imediatamente o regime militar fechou os maiorescentros de filosofia cassando os direitos políticos dos professores e perseguindo-os eexilando-os. O Brasil sofre um enorme esvaziamento na produção filosófica durante oregime militar. No entanto alguns fatos curiosos e importantes para o balanço da filosofiano Brasil seriam: 1- O surgimento dos Cadernos de Opinião, trazendo atualizados artigossobre a conjuntura econômica e política do Brasil e da América Latina sendo a maioria dosautores comprometidos com a teoria da dependência; 2- A revista Encontros com aCivilização Brasileira, tendo no elenco dos seus articulistas autores que abordavam ensaioscríticos de literatura, música, Igreja, e tema temas filosóficos; 3- A criação e manutenção darevista Paz e Terra que tratava da temática social, da igreja como contestadora do regimemilitar e da conjuntura do país, tendo a participação de filósofos e sociólogos; 4- A criaçãodo Centro Brasileiro de Planejamento (CEBRAP), São Paulo coordenada pelo professorJosé Arthur Giannotti, que teve como finalidade a elaboração de monografias sobre opensamento sociológico buscando momentos da reflexão sobre o social embasado nadialética do materialismo. O Centro Brasileiro de Planejamento (CEBRAP), São Paulo,manteve uma publicação sempre com temas atuais referentes à conjuntura social,econômica e política como fundamento do seu pensamento crítico; 5. Outro fatorsignificativo no balanço da história da filosofia no Brasil foi a organização da coleção Ospensadores que teve sua concepção pelo professor José Américo Motta Pessanha e editadopor Victor Civita, que é uma coletânea de textos selecionados dos pensadores desde os pré-socráticos até os contemporâneos.

A partir da década de 1970 iniciam-se vários programas de pós graduação emfilosofia a nível de especialização e mestrado. Os doutorados começam a se delinearprincipalmente na década de 1980 quando o país já respira a anistia política que possibilitouo retorno de importantes filósofos, professores e pesquisadores às universidades, iniciandouma atividade sistemática através de projetos de investigação filosófica. Destacando-seimportantes centros como UNICAMP (Campinas SP), USP, UFRJ, UFRGS. Nessasuniversidades encontramos facilmente centros de excelência de investigação e de ensino dafilosofia, tendo como áreas de concentração a filosofia política, a filosofia analítica, ética etemas de filosofia contemporânea. Para uma melhor coordenação e interação dos programasde pós-graduação foi criada a Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia(ANPOF), que reúne de dois em dois anos os professores e pesquisadores em filosofia,divididos por Grupos de Trabalho e por temáticas específicas. A seguir faremos uma brevereferência a isso.

3. Filosofia e Expressão Cultural Brasileira

A história da filosofia no Brasil precisa ser estudada dentro de determinadospressupostos que envolvem as dimensões de nossa identidade cultural.7 Por um lado

7 . Marilena CHAUÍ, Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: editora Fundação PerseuAbramo, 2001. Este livro trata das profundas nuanças da concepção de Brasil. Como foi construído o mito

Page 8: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com8

devemos considerar as dimensões culturais a partir do período colonial e do neocolonialismo cultural predominante durante o império e nos primórdios da República. Noentanto, a filosofia sempre foi uma cultura transplantada, pelos modelos de dependênciaestrangeira, principalmente da Europa.. A filosofia nunca demonstrou ser uma matériaimportante dentro da formação da cultura brasileira. Um outro fator fundamental no estudoda história da filosofia no Brasil atual é a história da universidade brasileira, que é recenteem relação aos demais países de América Latina, pois, ela tem seu nascimento registradono início das primeiras décadas do século XX, consolidando-se uma verdadeira tradiçãouniversitária a partir da década de 1930. Assim, o pensamento filosófico no Brasil terá suaexpressão sistemática e sua maior autonomia na segunda metade do século XX.Certamente o grande impulso é dado pelo enfoque da filosofia da educação em busca dainterrogação sobre a realidade socio-econômica e política do país, isso como sendo umameditação filosófica atualizadora e concientizadora. Para responder ao compromisso dafilosofia praticada no Brasil é necessário uma sistematização e uma análise dialética doselementos constitutivos e conflitivos da sociedade brasileira. Nesta perspectiva gostaria desublinhar a importante contribuição de Darcy Ribeiro8 através de seu clássico tratadoTeoria do Brasil, do qual apresentamos alguns breves trópicos que consideramosfundamentais e que servem como elementos que norteiam a reflexão filosófica sobre acultura e alienação.

A crítica antropológica de Darcy Ribeiro tem inspirado a formulação de projetospara uma filosofia da realidade nacional, bem como ter inspirado um constante debate sobrea identidade nacional tendo como pano-de-fundo a temática da ética e da cultura. ConformeDarcy Ribeiro, deveremos apontar para o fato de que muitas gerações de brasileiros foramalienadas por uma inautenticidade cultural essencial de sua postura, que os tornavainfelizes por serem tal qual eram e vexados pelos ancestrais que tiveram. Nessascircunstâncias, a alienação passou a ser a condição mesma desta classe dominante,inconformada com seu mundo atrasado, que só mediocremente conseguia imitar oestrangeiro, e cega para os valores de sua terra e de sua gente. Essa visão do mundo real edo além túmulo como uma explanação fundada principalmente nas concepções religiosascatólico-cristãs, impregnada de elementos tomados de outras matrizes.

Aqui deve-se observar a condição imposta pelo processo de colonização edominação. Era uma cultura ingênua, porque consagradora da ordem social como sagrada eespúria, porque destinada a mistificar a exploração classista e a colonial. Existiu tambémuma reação para criar-se uma cultura integrada, na media em que houve também umacontracultura popular rebelde. E temos uma constatação histórica quando depois dedécadas de rebeliões populares que se seguiram à independência, desaparece aquela eliteclerical, para dar lugar primeiro à coorte de bacharéis letrados com mentalidade reacionáriae, mais tarde, a novos contestatários elitistas lidos em Rousseau e depois em Comte,Spencer e Lamarck. Desapareceram também os artistas criadores do passado e os novosjamais alcançaríamos antigos níveis artísticos. Darcy Ribeiro critica essa cultura e que élevada a ruir a cultura erudita que, que em certos setores se fizera herdeira do patrimônio

fundar do Brasil, desde 1500 aos nossos dias? Que papel essa idéia desempenha em nosso país, como fator decoesão e de coerção social?8 Darcy RIBEIRO. Teoria do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1978.

Page 9: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com9

europeu, começa a ruir também a cultura vulgar. Embora se possa dizer que a cultura dequalquer civilização do passado ou do presente é também esta busca de autenticidade, areconstituição dos modos pelos quais ela é buscada e das vicissitudes em que incorremosem busca-la é indispensável para compreender nossa criatividade cultural.

É fundamental observarmos as conseqüências da herança cultural e como a mesmaainda se manifesta em nossa cultura. Pois, ao longo da maior parte da nossa históriacolonial não encontramos no Brasil uma camada erudita que seja a expressão dacriatividade cultural de seu povo. Encontramos uma elite transplantada que aqui realiza pormimetismo gestos culturais de um outro contexto. Só nas ultimas décadas, havendoalcançado, por fim, certa magnitude como sociedade nacional e certo grau de autonomiacultural, começamos, os brasileiros, a criar nossa própria visão do mundo e a exercer umacriatividade cultural genuína. Aqui deve-se inserir a crítica muito ampla que começa coma discussão de nossa identidade nacional. Havendo uma forte influência da crítica literáriade Antonio Cândido e bem como uma reação ao metodologia dos enfoques dados porGilberto Freyre.

Para Darcy Ribeiro não há dúvidas de que. cada uma das formações sociais que seconfiguram no Brasil era coetânea com respeito as formações cêntricas. Com efeito, tanto aformação colonial escravista como a neocolonial capitalista dependente eram contrapartesde formações globais cujo componente dominante estava nas metrópoles portuguesas edepois nos centros capitalistas industriais.

Porém, o Brasil recebe já certos influxos da Revolução Industrial como umaevolução da sociedade, sempre que se processa pela via de atualização histórica, trazconsigo certos efeitos de atraso e arcaísmo que de algum modo distanciam componentescêntricos dos periféricos através da presença de várias defasagens sociais e culturais.Principalmente no campo tecnológico e na limitação do pensamento social. É assim que seobserva no desenvolvimento brasileiro uma série de defasagens culturais na forma devicissitudes provenientes do próprio processo de atualização histórica através do qual asociedade nacional se constituiu, integrando-se na economia mundial, primeiro como umaformação colonial e, depois neocolonial. Pois, o Brasil surge na fase colonial como umafeitoria onde se implantavam técnicas produtivas avançadas, visando ao aumento daprodução exportável, mas só nestes limites, onde certos avanços tecnológicos jáincorporados à agricultura e ao pastoreio em Portugal (como a introdução de novas técnicasno cultivo dos campos e a de tratamento dos animais domésticos) foram abandonados noBrasil para dar lugar a técnicas mais adaptadas às condições ecológicas ou por seremdesnecessários, uma vez que o provimento da subsistência se fazia com base nas técnicasherdadas dos indígenas.

No segundo passo corresponde à nova atualização histórica que conduziria o Brasilà condição de área neocolonial de exploração das potências industriais, a cultura nacionalexperimentou inovações substanciais, tanto no plano tecnológico como no institucional e noideológico. Mas, em Darcy Ribeiro observa-se que certos aspectos da defasagem culturaldo Brasil têm, no entanto, outras raízes porque provêm do próprio atraso cultural dametrópole colonizadora. Essa situação se incorpora fortemente em nossa mentalidadesocial, principalmente no relacionamento do cidadão com o estado. Aqui, dá-se um espaço

Page 10: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com10

fabuloso onde filosofia política contemporânea se ocupa amplamente na tentativa para umadação de sentido e da compreensão do processo ideológico brasileiro.

É ainda fundamental para a elaboração da cultura filosófica, considerando nossaformação histórica, seguir a observação de Darcy Ribeiro de que o Brasil como colôniasubmetida ao mais estrito monopólio, cresceu isolado do mundo, apenas convivendo comaquele Portugal pobre e retrógrado. Essa situação não permitiu a criação de um sistemapopular de ensino no Brasil e, menos ainda, de escolas superiores, ao mesmo tempo em quea Espanha mantinha cerca de duas dezenas de universidades em suas colônias. Assim, oBrasil emerge para a independência sem nenhuma universidade, com sua populaçãoanalfabeta e iletradas também suas classes dominantes. E isso foi uma das mais terríveisheranças que tivemos até o século XX.. No primeiro impulso de deculturação, oscontingentes africanos e indígenas foram desenraizados de suas tradições e aculturados naprotocélula étnica brasileira, como um passo de sua incorporação à força de trabalho. Estadeterioração de um patrimônio cultural já de si parco ou paupérrimo, cuja expressão setorna inviável nas cidades, faz esta massa descer mais alguns degraus na condição de tabularasa cultural que caracteriza os Povos - Novos. Darcy Ribeiro quer apontar para a situaçãodas desigualdades sociais e de exclusão social já através desse fracasso do saber acadêmicoem prover soluções adequadas para os problemas populares demonstra a incapacidade dosistema para criar formas de participação na riqueza, no poder e na cultura.

As atividades filosóficas numa perspectiva objetiva como o conjunto de formas deexpressão cultural e analise acadêmica, já possui um significativo desenvolvimento noBrasil nas últimas décadas. A filosofia não está restrita aos ambientes da escolástica ou aopositivismo eclético. A filosofia expandiu-se em todas as instituições de ensino, públicas eprivadas, nos vários graus, em cursos específicos ou integrando sob forma de disciplinasfilosóficas os currículos do ensino superior sob a forma de filosofia da ciência, metodologiacientífica, lógica, hermenêutica, filosofia da arte, antropologia filosófica, etc. Existemmuitas instituições associativas e científicas que se dedicam ao cultivo e a promoção dafilosofia. Sendo uma das grandes ênfases o trabalho acadêmico sério e com acribia que tratacomo o filosofar se pode expressar na realidade brasileira. Pois, segundo Antonio JoaquimSeverino: É que não basta reconhecer a presença da filosofia como mero fato cultural. Épreciso indagar-se até que ponto a emergência desse fato é resultante de umamadurecimento do filosofar entre nós ou um simples fenômeno artificial, sem raízesprofunda em solo firme. Seria ela a expressão da conquista de autonomia pelo pensamentobrasileiro, ou, ao contrário, um agravamento de sua dependência cultural? A questão érelevante e precisa ser preliminarmente discutida porque a questão histórica da prática dafilosofia no Brasil sempre apontou no sentido desta dependência, revelando, na condição deseu evento concreto, que o filosofar não era elemento imprescindível e vital para odesenvolvimento da cultura de nossa sociedade. Assim, neste primeiro momento, estará empauta a discussão da significação da filosofia como trabalho reflexivo-interpretativo dainteligência nacional.

Aqui podemos destacar a corrente do culturalismo que tem uma forte tradição noBrasil, sendo que a maioria oriundos do mundo jurídico. Vamos encontrar esta vertenteconstituindo-se em Tobias Barreto passando por Miguel Reale e vai manifestando-se empensadores de enorme contribuição para a história da filosofia contemporânea, tais autores

Page 11: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com11

como: Renato Cirell Czerna, Luiz Luisi, Silvio Macedo, Antonio Machado Paupério,Nelson Nogueira Saldanha, Irineu Strenger, Lourival Villanova, Gláucio Veiga, TércioSampaio Ferraz, Luís Washington Vita. Além desses clássicos, Severino inclui nessacorrente do culturalismo , como importantes filósofos Antonio Paim, Roque SpencerMaciel de Barros, Vamerih Chacon, Antonio Luiz Machado Neto e incluo também nestalista Ricardo Velez Rodriguez

4. A Corrente do pensar dialético: Hegelianismo e Marxismo

Os filósofos brasileiros de inspiração marxista desenvolveram um enorme trabalhode análise da realidade socio-econômica e do problema da identidade nacional. Podemosdestacar Caio Prado Júnior que buscou romper com a tradição comteana introduzindo umaanálise a partir do socialismo científico de Karl Marx. Outros pensadores representam estavertente, eu possui como preocupação fundamental a implantação da sociedade racional embases marxistas, podemos citar como representantes Leônidas de Resende, Hermes Lima,João Cruz Costa, Álvaro Vieira Pinto e Roland Corbisier.

Ainda dentro da tradição marxista deve-se destacar Leandro Konder que se inspirano marxismo de Lukacs. Konder é certamente um dos principais estudiosos do marxismono Brasil. Começou sua longa produção intelectual sobre o tema com o estudo “Marxismoe Alienação” , em 1965 e nunca mais abandonou as idéias do autor de “O Capital“. Kondercomo intelectual ocupa-se no seu livro “A Revanche da Dialética” , do papel crítico dasciências sociais.

Dentro do pensamento dialético, Antonio Joaquim Severino em seu livro A filosofiacontemporânea no Brasil identifica duas grandes vertentes: uma de cunho afirmativo,herdada do Hegelianismo e do marxismo, enfatizando o poder transformador da históriapela práxis humana, tem como representante teórico o filósofo José Arthur Giannotti comotambém a linhagem de Caio Prado Júnior, Leôncio Basbaum, Leandro Konder. DenisRosenfield. Uma outra corrente mais recente sustenta sua leitura nos clássicos da Escola deFrankfurt, são representantes os autores como Sérgio Paulo Rouanet, Barbara Freitag eOlgária Matos, Rodrigo Duarte.

Ao lado da tradição marxista formou-se recentemente um novo grupo de estudos dadialética na tradição hegeliana e associado à tradição da hermenêutica tendo comorepresentante principal Carlos Cirne Lima.

5. A Filosofia da Educação e Realidade Nacional

Dentro das principais características da atividade filosófica no Brasil merece umdestaque especial a filosofia da educação que abrange num sentido profundo dos problemasda consciência nacional bem como da elaboração de um projeto nacional que visa alibertação do povo brasileiro da alienação e da exclusão social. Desde Paulo Freire e ErnaniFiori despertou-se para uma nova consciência da realidade nacional através do método doprocesso de conscientização desenvolvido por Paulo Freire.

Page 12: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com12

Ainda, conforme Antonio Joaquim Severino, na obra anteriormente destacada,podemos sublinhar a discussão político educacional dos diferentes discursos filosóficos. Ofilosofar brasileiro foi então enfocado sob uma preocupação bem determinada: tratou-se dese saber se a abordagem própria de uma perspectiva educacional, permeia a reflexãofilosófica no país. Ou dizendo de outra forma, até que ponto as preocupações de naturezapolítico-educacional estão presentes nos projetos e discursos filosóficos de nossospensadores, e até que ponto essas preocupações marcam a orientação de seus pensamentos.A questão foi ver até que ponto essa reflexão filosófica, consumada na expressão culturalda filosofia brasileira, vem contribuindo para a discussão e para a compreensão daeducação a partir dos subsídios que estaria fornecendo para constituição da própriaidentidade da sociedade nacional9 e, até que ponto ela adquiriria autenticidade elegitimidade, só possíveis se se fizesse uma reflexão sobre as mediações da existênciahistórica de nossa sociedade.

Ao analisar a perspectiva socio-econômica do Brasil a preocupação torna-seinterrogante ao discurso filosófico em virtude da própria natureza da filosofia em geral euimplica na necessidade de se dar como temas essenciais as mediações históricas e sociaisdo quefazer filosófico.

A reflexão filosófica atual no Brasil vem ensaiando experiências de autonomia semdesligar-se da grande tradição e das correntes filosóficas do Ocidente. Esta vinculação édemonstrada pelo trabalho meticuloso e metódico feito sobre os clássicos, caracterizando-se no aspecto da cuidadosa exegese dos textos clássicos.

6. Uma Contextualização da cultura filosófica atual no Brasil

Segundo Severino, a prática atual da filosofia no Brasil poderá ser observada nosregistros da produção teórico literária, está intimamente ligada à tradição ocidental.Interessaria aqui um estudo do acompanhamento mais aprofundado dessa realização dafilosofia nos mais variados aspectos, como por exemplo, da agregação de filósofos adeterminados movimentos e correntes filosóficas ocidentais que caracterizaramprincipalmente a segunda metade do século XX, os quais poderiam ser descritos, segundoos nossos historiadores da filosofia nos seguintes grupos:

Podemos inserir alguns pensadores com uma resistência à tradição metafísicaclássica com a perspectiva de compreender a realidade. Nesse grupo podemos destacar ospensadores com expressões teóricas neo-tomistas.10 Outro grupo de significativa expressãoseriam os filósofos analíticos que buscam a compreensão da realidade além do positivismo.Numa terceira vertente teríamos os autores de natureza epistemológica que se ocupam emdiscutir a própria especificidade do conhecimento científico, não só em seus aspectos

9 Ver os artigos de Henrique C. de Lima Vaz. Consciência e Realidade Nacional. Em Revista Encontroscom a Civilização Brasileira, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978 p. 68 –81. E o artigo de RolandCorbisier. Filosofia no Brasil. Na mesma Revista p.52-67.10 Ver o clássico estudo de Fernando Arruda CAMPOS. Tomismo no Brasil. São Paulo: Paulus, 1998.

Page 13: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com13

formais mas também em suas condições objetivas. Nesta vertente, situa-se LeônidasHegenberg, que foi também o escolhido como representante significativo da tendência neo-positivista, Miltom Vargas, Oswaldo Porchat, Luís Alberto Peluso, Michel Ghins, ZelikoLoparic, para só citar alguns.

A vertente transpositivista, assim denominada por Severino, que reconhece aautonomia e a relevância da ciência sem, no entanto, isolá-la das outras atividadeshumanas. Para o autor dessa denominação a filosofia da ciência não pode ater-se apenas àscondições lógico-formais do conhecimento, ela implica condições axiológicas em virtudeda sua inserção histórico-social da própria ciência. Está inserida na linha do racionalismocientífico de Gaston Bachelard, Thomas Kuhn e Jean Piaget. Destacaremos algunspensadores brasileiros que inserem suas atividades filosóficas nesta dimensão: HiltonJapiassu, Constança Marcondes César, Marly Bulcão Brito, Elyana Barbosa John PessoaMendonça, Luis Carlos Bombassaro.

Uma outra importante vertente que abarca grande número de pensadores que formado neo-humanista que tem em Cláudio de Lima Vaz seu mais expressivo representante.Lima Vaz (falecido no dia 24 de maio de 2002), considera e atribui como papel filosóficofundamental a tarefa antropológica. Isso transparece em todos os seus tratados, mormente,nas contribuições mais recentes. Transita por toda tradição filosófica dialogando com asmodernas ciências humanas e desenvolve uma nova visão da existência humana no seucontexto histórico real. Sendo sua grande ênfase fundado na antropologia filosófica edireitos humanos. Para o autor de dois vastos volumes de Antropologia Filosófica11 éimpossível pensar a problemática dos direitos humanos sem se referir à filosofia do homemque dá razão desses direitos na sociedade política em que eles são reconhecidos, se nãoefetivamente respeitados. Lima Vaz acentua que essa espécie de antropologia políticafundamental assume formas diferentes no curso da história, já relativamente longa, dassociedades políticas do Ocidente. Desde a chamada “cosmonomia” do Direito arcaico naGrécia até o conflito dos humanismos ou mesmo à crítica anti-humanista que refletem acrise das sociedades políticas do Ocidente, estamos diante de uma sucessão de concepçõesdo homem cuja função histórica-ideológica, explicitada freqüentemente na intenção dospensadores que as propuseram, define-se justamente pela tarefa teórica, ora de crítica orade justificação, da prática política; ou seja, do tipo de relação entre o poder e o direitoadmitido na sociedade.12

Um outro grupo importante está associado ao existencialismo, personalismo,marxismo a teilhardismo tais como José Luiz Maranhão, Irapuã Teixeira, Paulo Freire, JoséLuiz Arcanjo, Aluísio Ruedell, Alino Lorenzon. E recentemente temos um bom número depesquisadores que giram entorno da reflexão ética a partir da filosofia dialógica de MartinBuber e de Emmanuel Levinas tais como Luiz Carlos Susin, Pergentino Pivatto, RicardoTimm de Souza e Antonio Sidekum

11 Henrique C. de LIMA VAZ. Antropologia Filosófica. 2 vol., São Paulo: Loyola, 1992.12 Henrique C. de LIMA VAZ. Antropologia e Direitos Humanos. Em Revista Encontros com aCivilização Brasileira. Rio de Janeiro :Civilização Brasileira v.1 p. 34

Page 14: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com14

Severino, destaca ainda com muita ênfase o grupo de pensadores ligados àfenomenologia. Segundo ele, a fenomenologia inspira igualmente um número significativode pensadores, desdobrando-se em várias correntes. Uma corrente seria a de inspiração emMerleau-Ponty representados por Creusa Capaldo, Newton Aquile von Zuben, SalmaTannus Muchail, Telma Tonselli, José Ozana de Castro; sendo que uma outra correnteexpressa sob a influência da fenomenologia existencial heideggeriana , representada porGerd Bornheim, Ernildo Stein, Dulce Maria Critelli e Emanuel Carneiro Leão.Teremos um outro grupo de filósofos, que Severino denomina de sob a orientação dearqueogenealogia, apresentando como autor fundamental Rubem Alves. Nesse grupo estãoconcentrados os pensadores com contribuições epistemológicas da arqueologia de Foucaulte nas referencias axiológicas de Nietzsche.

Finalmente, gostaria de apontar para um outro grupo que criou o IFIL, Instituto deFilosofia da Libertação ocupando-se com os estudos da filosofia na América Latina, tendooutros grupos que giram em torno da temática. latino americana: mitologia indígena,cultura afro - latino americana, ética e cidadania, filosofia intercultural, multiculturalismo.Este grupo tem uma organização por uma rede pelo Brasil inteiro, utilizando-se dainternet13.

7. Conclusão

A história da filosofia no Brasil registra na segunda metade do século XX umaextraordinária criatividade e autonomia. Insere uma maneira metodológica própria quandose ocupa em discutir a temática da identidade cultural e nacional. Alcança uma forma deprodução acadêmica que lhe dá um lugar na participação a nível internacional, através dointercâmbios de pesquisadores e professores financiados pelos órgãos de fomento e pelasua intensa participação14 em debates sobre temas relevantes, que atingem a política,economia e a filosofia da educação.

E como grande projeto ainda por realizar, a filosofia no Brasil precisará retomar suaregionalidade e seu espaço sócio - cultural próprio para alcançar a universalidade. Estauniversalidade será conseguida se o pensar partir de sua particularidade e de suacircunstância que está impregnada de universalidade e de interculturalidade. A filosofia noBrasil ocupará seu espaço digno quando for capaz de desenvolver mais essa perspectivade dialogar com os filósofos de outras tradições, realizando um verdadeiro intercâmbio dareflexão e produção criteriosa, principalmente, quando estiver inserida nessa nova tradiçãoque se expressa pela filosofia intercultural.

13 http://www.ifil.org que possui um enorme acervo bibliográfico e promove seminários sobre a filosofia naAmérica Latina.14 como por exemplo do Corredor das Idéias. www.corredordelasideas.org

Page 15: A Filosofia Brasileira do Nosso Tempo

www.derphilosopher.supralus.com15

8. Bibliografia

AZEVEDO, Fernando. A Cultura Brasileira. São Paulo: Melhoramentos/Edusp, 1971.ARANTES, Paulo e outros. A filosofia e seu ensino. Petrópolis/São Paulo, Vozes/EDUC, 1995BORNHEIM, Gerd. Et alii. Cultura brasileira: tradição/contradição. Zahar/FUNARTE, 1987.BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo : Companhia das Letras, 1992CAMPOS, Fernando Arruda. Tomismo no Brasil. São Paulo: Paulus, 1998.CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. São Paulo: Edusp. 2 vols., 1975CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo, Àtica, 1995.CHAUÍ, Marilena.Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Editor Fundação Perseu Abramo, 2001.COSSUTA, Frederic. Elementos para a leitura de textos filosóficos. São Paulo, Martins Fontes, 1994.CRUZ COSTA, João. Contribuição à história das idéias no Brasil. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1967.CRUZ COSTA, João . Panorama de Filosofia no Brasil. São Paulo: Cultrix, 1960.CRUZ COSTA, João. O pensamento brasileiro. São Paulo, Inst. Est.Bras./USP, 1971 (mimeo)GADOTTI, Moacir. Para eu serve afinal a filosofia ? Reflexão 4(13): jan/abr. 1979.GALLO, Sílvio. Do futuro da filosofia na universidade. Impulso. Piracicaba. Unimep. 9 (19): 131-142. 1995.GOMES, Roberto. Crítica da razão tupiniquim. Porto Alegre: editora Movimento, 1978.HABERMAS, Jürgen. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Rio, Tempo Brasileiro, 1990.JAPIASSU, Hilton F. Um desafio à filosofia: pensar-se nos dias de hoje. São Paulo, Letras & Letras, 1997.LIMA VAZ, Henrique Cláudio de. Pensamento Filosófico no Brasil. In: Revista. Port.Fil.n.17, 1961.PAIM, Antonio. História das idéias filosóficas no Brasil. São Paulo, Convívio/INL, 1984.PAIM, Antonio. O estudo do pensamento filosófico brasileiro. São Paulo, 1986.PRADO JUNIOR, Caio da Silva. O que é filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1981.RIBEIRO, Darcy. Teoria do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1978ROUANET, Sérgio P. As razões do Iluminismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.SALDANHA, Nelson. A Escola do Recife. São Paulo: Convívio / INL. 1985.SÁNCHEZ REULET, Aníbal. La Filosofía Latinoamericana Contemporanea.. Mexico: Union Panamericana. 1949.SIDEKUM, Antonio. Ética do Discurso e a filosofia da libertação. São Leopoldo: Unisinos, 1994.SEVERINO, Antônio Joaquim. A filosofia Contemporânea no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2001.SEVERINO, Antonio J. O papel da filosofia no Brasil: compromisso e desafios atuais. Reflexão. (17): 5-12.Maio/ago. 1980----------------, A questão da autenticidade da filosofia brasileira. Reflexão (1): 43-53. 1976-----------------, A filosofia no Brasil: catálogo sistemático dos profissionais, cursos, entidades s publicaçõesda área de filosofia no Brasil. Rio de Janeiro, Anpof, 1990.SILVA, Golbery do Couto e. Geopolítica do Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.VITA, Luís Washington. Panorama da Filosofia no Brasil. Porto Alegre: Globo, 1968.ZILLES, Urbano. Grandes tendências na filosofia do século XX e sua influência no Brasil. Porto Alegre: EDUCS, 1987.