A Filosofia Moral. de Sócrates Aos Cristãos

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A Filosofia Moral: De Sócrates aos Cristãos Disciplina: Ética I Prof.ª Dr. Rosalice Lopes 14/03/22 1

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  • A Filosofia Moral: De Scrates aos CristosDisciplina: tica IProf. Dr. Rosalice Lopes**

  • tica ou filosofia moral

    Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, ou seja, valores relativos ao bem e ao mal, ao que permitido ou proibido e s condutas corretas e incorretas;Porm a existncia de da moral no significa a presena explicita de uma tica entendida como filosofia moral, ou seja uma reflexo que discuta e interprete os significados dos valores morais;Os costumes moral so anteriores ao nosso nascimento e formam o tecido social. Em virtude disso eles so naturalizados, tornando-se , por vezes sacralizados de modo a assegurar seu aspecto obrigatrio.**

  • Quando nasce a tica?A tica ou a filosofia moral nasce quando os humanos passam a indagar o que so, de onde vem e o que valem os costumes,A tica surge quando alm das questes sobre os costumes os humanos buscam compreender o carter de cada pessoa, isto seu senso moral e a conscincia moral das pessoas;No ocidente, o primeiro a discutir filosofia moral foi Scrates e sabemos disso a partir dos textos de Plato e Aristteles.**

  • Scrates e a ticaScrates era um incansvel perguntador. Ele questionava o povo ateniense sobre os valores nos quais eles acreditavam e respeitavam;As perguntas que ele fazia terminavam por revelar que os atenienses respondiam sem pensar e apenas repetiam o que tinham aprendido desde a infncia;Como cada um respondia sua maneira o que, Scrates sempre os surpreendia com novas perguntas diferentes e contraditrias.Esse comportamento do filsofo fazia com que muitos se zangassem com ele, pois a pessoa ou ia embora irritada com a impertinncia do filsofo ou tinha que admitir que no sabia o que imaginava saber se dispondo ento a aprender com o filsofo.**

  • Porque os atenienses se irritavam?

    Primeiro porque percebiam que confundiam valores morais com fatos contestveis da vida cotidiana coragem o que uma pessoa faz na guerraSegundo porque, inversamente, tomavam os fatos da vida como se fossem valores morais evidentes certo fazer assim, porque nossos antepassados faziam e meus parentes a fazem;Enfim confundiam fatos e valores, pois ignoravam as causas ou razes porque os valorizavam certas coisas e desvalorizavam outras;

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  • Por que essas confuses ocorriam....ocorrem???Nossas condutas, sentimentos, aes e comportamentos so modeladas pelas condies em que vivemos na nossa famlia e nos demais grupos dos quais fazemos parte;Somos formados pelos costumes de nossa sociedade que nos educa para respeitarmos e reproduzirmos os valores propostos por ela. Dessa forma os valores parecem existir por si e em si mesmos, parecem naturais e intemporais. Somos recompensados por cumpri-los e punidos por transgredi-los;Scrates deixava embaraados os atenienses porque os forava buscar a origem e a essncia das virtudes, Scrates perguntava a eles o sentido dos costumes estabelecidos, mas tambm indagava sobre as disposies carter das pessoas.**

  • A quem se dirige a tica socrtica?A indagao tica de Scrates dirige-se sociedade para indagar se ela sabe o que o bem e a virtude e ao individuo para saber se ele conhece os significados de suas aes;As questes de Scrates inauguram a filosofia moral porque definem o campo no qual valores e obrigaes morais podem ser estabelecidos pela determinao de seu ponto de partida, a conscincia do agente moral; apenas o sujeito moral ou tico que sabe o que faz, que conhece as causas de sua ao, o significado de suas intenes e atitudes e a essncia dos valores morais.Apenas o individuo ignorante e vicioso incapaz de virtude, pois quem sabe o que o bem no deixa de agir virtuosamente.**

  • Aristteles e a prxisNo campo da filosofia moral ou tica Aristteles estabeleceu a distino entre saber teortico ou contemplativo e saber prtico,Saber teortico o conhecimentos de seres e fatos que existem independentemente de ns e sem nossa interveno ou interferncia, ou seja, de seres e fatos naturais e divinos;O saber prtico o conhecimento do que existe como consequncia de nossa ao e, portanto depende apenas de ns;A tica e a poltica so um saber prtico e este saber pode ser de dois tipos: prxis e tcnica**

  • Diferenas entre prxis e tcnica: distintos modos de relao do agente como a ao e com a finalidadePrxisNa prxis, o agente, a ao e a finalidade do agir so inseparveis ou idnticos. Por exemplo: dizer uma verdade uma virtude do agente inseparvel de sua fala verdadeira e de sua finalidade que proferir uma verdade;Na prxis tica somos o que estamos fazendo.TcnicaNa tcnica o agente, a ao e a finalidade da ao so diferentes e esto separados sendo independentes uns dos outros. A tcnica tem a finalidade de fabricar algo que diferente do agente;Na tcnica a finalidade do objeto fabricado diferente da ao fabricadora. Por exemplo fabricar uma mesa no tem nada a ver com sua finalidade**

  • Campo das aes ticasAs aes ticas no so apenas definidas pela virtude, pelo bem e pela obrigao, mas tambm pertencem esfera da realidade na qual esto envolvidas a deliberao e a deciso ou escolha;Com relao s leis universais no h como deliberar, ou seja, no deliberamos pelas estaes do ano, movimento dos planetas, a chuva , os ventos, mas podemos decidir sobre tudo o que nos acontece, sobre tudo o que escolhemos;A partir da distino entre o que natural e o que surge a partir de uma escolha racional Aristteles distingue dois conceitos importantes: o necessrio e o possvel.**

  • O possvel e o necessrioNo deliberamos sobre o que necessrio porque no depende de ns ele ser sempre como , independente da nossa vontade. O necessrio o que ocorre por natureza;Apenas podemos deliberar sobre o que possvel, ou seja por aquilo que pode ser ou deixar de ser, o possvel refere-se s escolhas, a conscincia moral guiada pela razo. O possvel refere-se vontade;Para Aristteles a tica e a poltica referem-se a aes que esto sobre o nosso poder;A importncia dada por Aristteles vontade racional, deliberao ou escolha levou-o a eleger a prudncia ou sabedoria prtica como a maior das virtudes.**

  • A excelncia e a moralidade gregasNo texto tica a Nicmaco, Aristteles apresenta como se distinguiam, na Grcia clssica, os vcios e as virtudes. Para ele um vcio um sentimento ou uma conduta excessivos ou ao contrrio deficientes, e a virtude um sentimento ou conduta moderados. Exemplos:**

    VIRTUDEVICIO POR EXCESSOVCIO POR FALTACORAGEMTEMERIDADE(coragem imprudente)COVARDIA(fraqueza, medo, sem firmezaRESPEITO PRPRIOVULGARIDADE(imprudente, enganador)VILEZA(baixeza, mesquinhez, avareza)TEMPERANA(equilbrio)LIBERTINAGEM(devassido, indignidade)INSENSIBILIDADE(indiferena, frieza)

  • Trs princpios da tica gregaOs seres humanos aspiram a felicidade que s pode ser atingida por uma vida virtuosa;A virtude uma excelncia atingida pelo carter, ou seja, virtude a fora interior do carter que consiste na conscincia do bem e da conduta definida pela vontade guiada pela razo;A conduta tica aquela na qual o agente sabe o que no esta em seu poder realizar referindo-se portanto ao possvel e desejvel para o ser humano.A conduta tica, em sntese aquela que no se deixa arrastar pelas circunstncias nem pelos instintos, nem pela vontade alheia, mas que afirma a independncia e capacidade de autodeterminao**

  • O sujeito tico x sujeito passionalSujeito ticoNo se submete aos acasos da sorte (fortuna);No se submete aos desejos do outro;No se submete s tiranias da paixo;Mas...Obedece apenas sua conscincia que conhece o bem e as virtudes, busca o bem e a virtude como valores essenciais

    Sujeito passionalSomos passionais por natureza e a tarefa primeira da tica a educao de nosso carter;O passional aquele que se deixa levar pelas satisfaes imediatas, por seus apetites e desejos e se torna escravo deles;O passional desconhece a moderao e vtima de si mesmo.**

  • Trs aspectos gerais da tica dos gregos antigosO racionalismo a vida virtuosa aquela em que o agente moral age no uso da razo, conhece o bem e a virtude e se guia para eles;O naturalismo a vida virtuosa agir em conformidade com a natureza cosmos e com a nossa natureza thos que parte do todo. Agir voluntariamente no agir contra uma necessidade natural sobre a qual no temos poder, mas em harmonia com ela, de tal modo que o possvel, desejado e realizado por nossa vontade realize nossa natureza individual e a coloque em harmonia com o todo da natureza;Inseparabilidade entre tica e poltica ou seja, a inseparabilidade da conduta dos indivduos e os valores da sociedade, somente na existncia compartilhada com os outros podemos ter liberdade, justia e felicidade.

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  • O Cristianismo: interioridade e deverDiferentemente de outras religies que eram racionais e polticas, o cristianismo nasce como uma religio de indivduos que no se definem por seu pertencimento a uma nao ou a um estado, mas por sua f num mesmo e nico Deus;Diferente de outras religies mais antigas nas quais a divindade se relacionava diretamente com a comunidade social e politicamente organizada, o Deus cristo relaciona-se diretamente com o indivduos que nele crem;A vida tica do cristo no definida por sua relao com a sociedade, mas por sua relao interior e espiritual com Deus.**

  • Diferenas na concepo de tica com o cristianismoA virtude se define por nossa relao com Deus e no com a cidade plis e nem com os outros;Nossa relao com os outros depende de nossa relao com Deus, o nico mediador entre ns e os demais;As duas virtudes crists primeiras e condies de todas as outras so a f qualidade da relao da alma com Deus e a caridade o amor aos outros e a responsabilidade pela salvao dos outros, conforme exige a f;A f e a caridade so privadas, ou seja, so relaes do indivduo com Deus e com os outros a partir da intimidade e da interioridade de cada um.

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  • Diferenas na concepo de tica com o cristianismoTodos somos dotados de vontade livre livre arbtrio e, em decorrncia da desobedincia do primeiro homem pecado original de Ado e Eva nossa vontade se perverteu e nossa liberdade se dirige espontaneamente para o mal e o pecado isto para a transgresso das leis divinas;Somos seres fracos, pecadores, divididos entre o bem obedincia a Deus - e o mal desobedincia a Deus, submisso do livre arbtrio tentao demonaca;Em decorrncia do pecado original o ser humano tornou-se uma natureza fraca, incapaz de realizar o bem e as virtudes apenas pela vontade prpria;

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  • O que mudou em relao aos antigos filsofos?Enquanto para os filsofos antigos a vontade era uma capacidade racional de estabelecer controle e domnio sobre as paixes, e dessa fora admitia-se uma fora interior vontade consciente que nos tornava morais, para o cristianismo a vontade est pervertida pelo pecado e precisamos do auxlio divino para nos tornarmos morais. A lei divina revelada ou os dez mandamentos revelados por Deus so o auxlio moral aos humanos pecadores**

  • A idia de deverDever a idia de que a virtude a obrigao de cumprir o que ordenado pela lei divina;Por meio(AT) de Deus e Jesus Cristo (NT) Deus tornou sua vontade e sua lei manifesta ao humanos definindo eternamente o bem e o mal, a virtude e o vcio, a felicidade e a infelicidade, a salvao e o castigo;As trs virtudes necessrias, chamadas de teologais so: f, esperana e caridade, relacionadas nossa relao com Deus.Ser virtuoso buscar uma relao com Deus, ser virtuoso estar com o corao cheio com a lei de Deus Mas o cristianismo define outras virtudes...**

  • As virtudes crists

    Virtudes cardeais: das quais todas as outras dependem, so as principais ou primeiras: fortaleza, justia, temperana e prudncia;Virtudes morais: relacionam-se ao nosso comportamento interior: sobriedade, prodigalidade, trabalho, castidade, mansido, modstia e generosidade;s virtudes morais, opem-se os chamados sete pecados capitais. Assim temos:

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  • As virtudes morais e os sete pecados capitaisSobriedade GulaProdigalidade AvarezaTrabalho PreguiaCastidade LuxuriaMansido Ira ou CleraGenerosidade InvejaModstia - Soberba**

  • Como os humanos devem se comportarUm ato moral um ato voluntrio do dever; ou seja uma obrigao de obedincia voluntria s leis divinas ou mandamentos divinos, distinguindo-se a, trs tipos de conduta moral:A conduta moral tica: que se realiza de acordo com as normas e regras impostas;A conduta imoral ou antitica: a que se realiza contrariando as normas e regras impostas;A conduta indiferente moral: a que se produz nas situaes que no so definidas pelo bem e pelo mal e nas quais no se impem as normas e regras do dever.

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  • A ideia de intenoJunto ideia de dever o cristianismo introduziu a ideia de inteno;At o cristianismo, a filosofia moral, a conduta tica se baseava nas aes e atitudes visveis do agente moral, em sua vontade consciente e racional;Sendo o cristianismo uma religio de interioridade, a vontade est inscrita no corao do ser humano;A primeira ao tica, portanto, se estabelece entre o corao do indivduo e Deus;Assim est submetido ao julgamento tico tudo o que invisvel aos olhos humanos, mas visvel ao esprito de Deus,O dever no se d mais apenas no campo do que visvel, mas ao que invisvel aos olhos humanos;As intenes invisveis passam a ser julgadas eticamente. Quando um cristo confessa, confessa atos palavras e intenes.

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