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SET/OUT 2020 Nº 13 | edição especial gratuita A FORÇA DO ATIVISMO PEQUENAS E PERIGOSAS: O PROBLEMA DAS BEATAS DOIS ANOS PARABÉNS RAÍZES MAG!

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A FORÇA DO

ATIV ISMO

PEQUENAS E PERIGOSAS:

O PROBLEMA DAS BEATAS

DOIS ANOS

PARABÉNS RAÍZES MAG!

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A Raízes Mag é uma revista online bimestral focada nas áreas do ambiente e sustentabilidade, que tem como obje-tivo abordar temas complexos de forma simples, de modo a promover uma mudança de comportamentos e maior consciência por parte dos seus leitores. A Raízes Mag encontra-se neste momento a ultimar a sua inscrição na ERC — Entidade Reguladora para a Comuni-cação Social. Título da publicação Raízes Mag Data da publicação setembro de 2020 Período a que respeita Setembro / Outubro Preço de capa Edição especial gratuita Periodicidade Bimestral Número de registo 127357 Estatuto editorial raizesmag.com/sobre/estatuto-editorial

© Raízes Mag 2020 - Todos os direitos reservados

INFORMAÇÕES LEGAIS Diretora Leila Teixeira Proprietário Leila Teixeira Marketing & Comunicação Leila Teixeira, Sara Matos Edição Leila Teixeira Design Leila Teixeira Revisão Ana Marta Ramos, Liuna Alves Sede do editor Rua Nova das Lavouras, 876 4410-379 Arcozelo, VNG Domicílio da redação Rua Nova das Lavouras, 876 4410-379 Arcozelo, VNG Direito de resposta [email protected] Publicidade & Media Inquiries [email protected] Subscrições gumroad.com/raizesmag/ ou por e-mail para [email protected] 15€/ano + IVA (6 números) Compras individuais gumroad.com/raizesmag/ 3€ + IVA por cada número

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FICHA TÉCNICA….…….………………..……... 2 EDITORIAL……………………………………..… 4 CALEIDOSCÓPIO ……………………….….…...5 BOAS NOTÍCIAS …………………………..…….8 A FORÇA DO ATIVISMO….....…....………….10 ENTREVISTA JOANA GUERRA TADEU…...20 JUNTOS PELAS FLORESTAS…………….....24 O NOVO ATIVISMO…………..…….…….……26 À LEI DA BEATA……………….........….........29 PELAS PRÓPRIAS MÃOS………..…............35 DOIS ANOS DE RAÍZES MAG.………..........40

FOTOGRAFIA DE NATUREZA.………..........44 CONHECIMENTO NATURAL….…..…..........46 AUTOGESTÃO.………………….…….............49 PEGADAS SELVAGENS………………...........50 DE PÉS DESCALÇOS ………………….……..54 RAÍZES VIVAS ………………………......…,….55 PARA ENRAIZAR ..……………………….……60 VAMOS PASSEAR………….…..………………62 AGENDA……………..……….…..……………...66 NO PRÓXIMO NÚMERO……………….………68

ÍNDICE

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S O B R E E S T E N Ú M E R O

Queridos leitores,

Parece que foi ontem que vos escrevi pela primeira vez, mas já lá vão dois anos desde setembro de 2018! O tempo passa a correr e, deste lado, estamos de parabéns, por termos atingido um marco tão importante e tão cheio de significado. São «só» dois, mas lá dentro já cabe uma vida inteira.

Neste número tão especial, que vos disponibili-zamos de forma gratuita, falamos sobre ativismo e tudo o que este abrange. Colocamos o dedo na ferida e incentivamos todos a serem um pouco ativistas na sua vida.

Paula Cordeiro fala-nos do novo ativismo de sofá, escondido atrás das redes sociais, e questiona qual o verdadeiro impacto que pode ter na implementação de mudanças positivas na sociedade.

Diretamente das redes, apresento-vos a Joana Bianchi, que tomou as rédeas da remodelação da sua pequena casa de madeira, da forma mais sustentável possível. Uma inspiração dos tempos que correm e que nos mostra definiti-vamente que as redes também podem ser

locais incríveis e do bem.

Ainda temos tempo para que Sara Vaz Franco nos fale sobre a problemática das beatas e nos apresente algumas soluções, e Maria Campelo nos ensine o que são simbioses, na sua rubrica «Conhecimento Natural».

A maravilhosa rubrica de culinária ficou a cargo de Ana Catarina Sequeira, do projeto ZenCook, que nos preparou um menu de festa que com-bina com toda a aura deste número. Já Marco Fernandes, leva-nos pelos caminhos e segre-dos da Aldeia de Casal de São Simão, para nos deixar com vontade de que voltem depressa os longos dias de verão e de calor.

Em conjunto com este 13.º número da Raízes Mag, lançámos também o nosso «Ecoguia Portugal + Sustentável», que reúne um conjun-to de projetos e iniciativas conscientes, que nos mostram que já existe muita coisa boa a acontecer em Portugal. A mudança começa sempre por nós e devíamos todos ter muito orgulho nas coisas maravilhosas que se fazem no nosso país.

Deixamos o convite a que explorem estas páginas e que nos ajudem a passar a palavra.

Votos de boas leituras!

Leila Teixeira

A Raízes Mag nasceu de uma parceria entre o Âncora Verde e o UniPlanet.

Pode seguir a Raízes Mag em:

Website: www.raizesmag.com Facebook: www.facebook.com/RaizesMag Instagram: @raizesmag

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Rubrica de Arte em parceria com Portugal Manual

Sendo o tema desta edição o «Ativismo», queremos falar-vos do trabalho da Ana Marta Cerâmica, que é uma ceramista recente na nossa rede e que tem uma voz muito ativa no que diz respeito às questões feministas. Esta voz revela-se especialmente na sua coleção «Mulher Objeto».

Foi durante a licenciatura em escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, que a Ana Marta descobriu a sua paixão por cerâmica, tendo começado a traba-lhar no seu atelier em 2011. Mais tarde, fez o curso de cerâmica criativa, entre outros, no Cencal — Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica das Caldas da Rainha, onde atualmente é formadora. É mestre em Ensino de Artes Visuais e divide o seu tempo entre o ensino artístico e de cerâmica, e a criação de peças em nome próprio.

O seu trabalho é inspirado pelo universo femini-no e pela natureza. As suas peças são confor-madas manualmente à escala da mão e primam pelas características das pastas que utiliza. A par com a cerâmica, ilustra o seu trabalho utilizando a gravura e aquarela como técnicas primordiais.

A coleção «Mulher Objeto» surge da necessida-de de afirmar uma oposição à forma como a figura da mulher continua a ser retratada e interpretada. Em pleno século XXI, continuamos a debater-nos por questões de igualdade de género e a ser bombardeados com notícias de abuso, maus tratos e femicídio.

Com formas suaves e cores neutras, esta coleção pode ser caracterizada como contendo objetos para uso quotidiano. A aplicação de ouro nas peças retrata o enaltecimento do valor do corpo feminino, em particular os seios que têm como função biológica a amamentação.

Conheça mais em:

www.portugalmanual.com/artesaos/ana-marta-ceramica

www.instagram.com/anamartaceramica

cargocollective.com/anamartaceramicsphotography

ANA MARTA CERÂMICA A cerâmica ao serviço do ativismo

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© Ana Marta Cerâmica

© Ana Marta Cerâmica

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© Ana Marta Cerâmica

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por Patrícia Esteves, Raízes Mag, UniPlanet

Descubra, nesta rubrica, as boas notícias que selecionámos para si.

Estão a ser construídos hotéis para abelhas em

Lisboa

Foi criado um novo hotel para abelhas em Lisboa, Capital Verde Europeia 2020, desta vez no Pavilhão do Conhecimento.

Estes abrigos, feitos de madeira, tijolo, canas e cortiça, são verdadeiros hotéis para insetos polinizadores, como as abelhas-cortafolhas ou as abelhas-pedreiras.

Portugal aderiu à aliança internacional

«Promote Pollinators»

Apesar de diversas instituições portuguesas já se encontrarem fortemente empenhadas em aumentar a consciencialização sobre a impor-tância dos polinizadores e sua diversidade, através do Ponto de Contacto Nacional IPBES, e em conjunto com as entidades governamen-tais competentes na matéria, serão promovidos esforços para encetar a Iniciativa Portuguesa de Polinizadores.

A partir de 3 de setembro atirar beatas ao chão

pode valer coima até 250€

A partir de 3 de setembro de 2020 acaba o período de transição e quem atirar beatas de cigarro para o espaço público pode apanhar uma coima entre €25 e €250.

Câmaras de Águeda e de Oliveira do Bairro re-

tiram espécies invasoras do Rio Cértima

Esta intervenção tem como objetivo a reabilita-ção do Rio Cértima, removendo espécies de flora exóticas invasoras, nomeadamente a prímula de água e a erva pinheirinha, que estão a afetar o equilíbrio ambiental, os recursos naturais daquela zona e os habitats presentes nas margens e leito do rio.

Num telhado de Paris nasceu a maior horta ur-

bana do mundo

Paris inaugurou a maior horta urbana do mun-do, sobre os telhados do Parque de Exposições de Versalhes, no sul da capital. A Nature Urbaine vai ocupar um total de 14 mil metros quadrados.

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Madrid vai criar uma floresta metropolitana

Madrid vai criar uma Floresta Metropolitana (El Bosque Metropolitano) ao longo de um cinturão ambiental de 75 quilómetros nos arredores da cidade, com mais de 450 mil árvores. São vários os objetivos deste projeto: melhorar a qualidade do ar da cidade, arrefecer as ilhas de calor, melhorar a biodiversidade e reduzir a poluição sonora.

Sacos do Pão no Continente são agora sem

plástico

Os sacos da padaria do Continente deixaram de ter a janela de plástico; agora a parte transparente é feita em papel, numa fibra de celulose 100% natural e reciclável.

Continente lançou a Caixa Zer0% Desperdício

O Continente lançou as Caixas Zer0% Desper-dício com frutas e legumes que estão próximos de ultrapassar o ponto ótimo de consumo. Estas caixas com 5 kg estão à venda na zona dos frescos por 50 cêntimos/quilo.

Colheita mecânica noturna da azeitona suspen-

sa por provocar mortalidade de aves

A apanha mecânica noturna em olivais superin-tensivos provoca de «forma significativa a mor-talidade de aves», informou no dia 6 de julho o Ministério do Ambiente e Ação Climática, baseando-se num estudo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), a pedido do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Itália: mergulhadores libertam baleia presa

numa rede de pesca

A Guarda Costeira italiana filmou o momento em que mergulhadores libertaram uma baleia presa numa rede de pesca, na costa das ilhas Lipari.

Depois do salvamento, a baleia foi juntar-se a outras três que a aguardavam.

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P ode parecer um cliché, nos tempos que correm, falar de ativismo. O termo anda pelas bocas do mundo — nem sempre pelas melhores

razões — e, para muitos de nós, adquiriu uma conotação negativa por consequência de alguns excessos e exageros que se foram verificando ao longo dos anos. As redes sociais — que têm tanto de bom quanto de mau — vieram potenciar duas realidades distintas: por um lado, o aumento de grupos organizados de cidadãos que lutam em prol de um objetivo em comum; por outro, o extremismo, a individuali-dade, o ódio e o desprezo pelo que é diferente (em todos os sentidos). Esta desassociação da realidade e os potenciais perigos de uma incorreta utilização das redes sociais e das alterações de comportamento que dela decor-rem foram descritos de forma bastante sucinta e elucidativa no novo documentário com

assinatura da Netflix, The Social Dilemma. Numa época em que reina a desinformação, o «ter» tem mais poder que o «ser» e o digital tomou conta das nossas vidas, porque é que devemos continuar a lutar em vez de seguirmos ordeiros para a beira do precipício? Os valores fundamentais da nossa sociedade — liberdade, inclusão, respeito — estão a desaparecer à frente dos nossos olhos, para dar lugar a sociedades autocráticas, fascistas, racistas e profundamente xenófobas. A recente tentativa de retirar do currículo escolar dos mais novos a disciplina de Cidadania foi um golpe duro para este país que se afirma avançado e liberal. Qual a melhor maneira de abraçar a diferença do que admitindo que essa diferença existe? O medo incompreensível de muitos em relação ao que foge aos seus padrões morais e societários pode muito bem levar-nos a uma nova idade da pedra. No fundo, somos um

por Leila Teixeira, Raízes Mag

O MOTOR QUE NOS PERMITE MUDAR O MUNDO

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povo bom e pacífico. Mas como explicar o cres-cimento exponencial de movimentos extremistas de direita um pouco por toda a Europa, que ameaçam a nossa integridade enquanto sociedade? Os discursos extremistas disfarçados de voz do povo têm vindo a confir-mar algo que muitos de nós preferíamos não admitir: ainda somos muito pequenos na nossa pequenez de Estado de primeiro mundo. O racismo e a xenofobia ainda vivem em nós e alimentam uma grande parte da sociedade, mostrando que de avançados temos pouco, quando achamos que o nosso bem-estar pode advir do mal-estar de outros, da segregação racial, da desigualdade de oportunidades, da supremacia de uns em detrimento de outros, que, pelas nossas contas, nasceram com o tom de pele, a religião, ou a orientação social «errados». E é pelos muitos que teimam em continuar a viver «no tempo da outra senhora», que os outros — nós —, os que estamos com as mãos na cabeça enquanto vemos a socieda-de a desmoronar-se, precisamos de nos unir e de fazer com que a nossa voz seja ouvida. O discurso do ódio prolifera e invade-nos a alma, mas somos mais, muitos mais, do lado da luz. E é exatamente por isso que o ativismo é im-portante, que os ativistas são importantes. Para que esta luta por um planeta e uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável ganhe força e nos leve na direção certa. Que nos deixe um mundo em os nossos filhos possam ser livres na sua individualidade e nas suas opções, que não se julgue e não se discrimine com base em preconceitos e ideias pré-concebidas.

Ser ativista é, na verdade, muito simples: signi-fica defender algo, uma causa, promovendo uma transformação positiva da sociedade. E porque é que uma revista sobre ambiente está a abordar estas questões? Porque, quer consi-gamos perceber isso, quer não, estes assuntos

estão intrinsecamente ligados. As lutas fundamentais dos direitos humanos são lutas que nos dizem respeito a todos e não podemos lutar por um mundo mais justo a nível ambiental sem que isso tenha repercussões a nível humano.

Precisamos de reconhecer que o problema existe, falar sobre ele, informar-nos. Recente-mente, o movimento Black Lives Matter mos-trou-nos que uma grande parte de nós, mesmo não sento racista, tem pequenas atitudes racistas no dia a dia. Não é aceitável, mas fo-mos educados dessa forma. «Trabalhar como um preto», «Mas afinal de onde és?» ou «Volta para a tua terra» são expressões injuriosas e que perpetuam na nossa mente e na nossa cultura práticas e preconceitos que há muito já deviam ter desaparecido. Até porque, na maior parte das vezes, e no caso em específico dos dois últimos exemplos, estamos a falar com pessoas nascidas e criadas em Portugal, que não têm nem conhecem outra

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pátria. Façamos um exercício: imaginem que iam num autocarro e que as pessoas se afasta-vam de vocês pela cor da vossa pele. Que não conseguiam arranjar um emprego decente por causa do sotaque com que falam o português. Que não tinham as mesmas oportunidades, que tinham de lutar o dobro, se esforçar o triplo e ouvir constantemente bocas e insultos por serem quem são. Que, num desacato no meio da rua iniciado por outras pessoas, vocês iam ser os primeiros a ser detidos, mesmo que estivessem à margem do que se estava a passar. Que não conseguiriam ter acesso a habitação digna ou que algumas escolas não aceitavam os vossos filhos. Para muitos de nós, é impensável que estas coisas aconteçam numa sociedade livre e evoluída como a nossa, mas a verdade é que não só acontecem, como são demasiado frequentes. O racismo é real, a segregação racial é real, o preconceito é real, o ódio, infelizmente, é muito, muito real. O mais recente Estudo Social Europeu (European Social Survey, de 2018/2019) é muito claro: certa de 62 % da população portuguesa tem opiniões racistas. Isto é, que responde «sim» a

pelo menos uma destas três perguntas: «há grupos étnicos ou raciais por natureza mais in-teligentes?», «há grupos étnicos ou raciais por natureza mais trabalhadores?» e «há culturas, por natureza, mais civilizadas que outras?» Só 11 % dos inquiridos responderam «não» a todas.

Mas não é só no que diz respeito ao racismo que as nossas crenças culturais deixam marcas. Quando pegamos, por exemplo, na expressão «Entre marido e mulher não se mete a colher», percebemos que não é à toa que todos os anos em Portugal morrem dezenas de mulheres à mão dos companheiros ou ex-companheiros — no final de agosto, eram já 20 as mulheres que perderam a vida por violência doméstica desde o início do ano. E quando falamos em violência doméstica, estamos a falar em violência baseada no géne-ro, nos direitos das mulheres e na igualdade de direitos e deveres. Também o feminismo faz ainda muita falta numa sociedade que se diz igual, mas que se comporta de maneira diferente.

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E é por todas estas desigualdades e por todas estas injustiças que é fundamental continuar-mos a falar sobre estes assuntos, a trazê-los para a ordem do dia, a sermos todos um pouco ativistas por aquilo que é preciso.

E, agora sim, depois desta (demasiado peque-na) introdução teórica ao ativismo, passemos ao que nos traz cá: o ativismo ambiental.

DIREITOS HUMANOS E AMBIENTE

“Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender”

Art. 66.º da Constituição da República Portuguesa

Nunca foi tão importante falar-se da ligação profunda entre direitos humanos e ambiente: os efeitos das alterações climáticas já se começam a sentir um pouco por todo o mundo, assim como as crises humanitárias que daí advêm. A vida humana apenas é possível num ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, mas ao longo das últimas décadas, o planeta tem vindo a sofrer danos consideráveis a este nível. Estima-se, por exemplo, que a poluição atmos-férica, apesar de a maior parte de nós não a conseguir ver ou sentir como uma ameaça, provoque a morte de cerca de três milhões de pessoas todos os anos, com mais enfoque nas grandes metrópoles do mundo e regiões mais industrializadas. Os microplásticos, que também já fazem parte da nossa cadeia alimentar, os elementos tóxicos presentes nos nossos produ-tos de higiene ou de cosmética, os materiais sintéticos das nossas roupas que se vão desfa-zendo nas lavagens ou os pesticidas utilizados para cultivar os nossos alimentos são outros dos inimigos invisíveis da nossa saúde que, por não se verem nem sentirem de forma clara, não são levados em conta com a seriedade que

deveriam.

O direito à saúde e, consequentemente, o direi-to à vida, tem vindo a ser continuamente posto em causa pelo constante crescimento económico, causador número um de toda a po-luição a nível mundial.

Mas não são só os níveis perigosamente altos da «poluição que não conseguimos ver nem sentir» que são preocupantes em matéria de direitos humanos. Estima-se que, até 2050, entre 50 a 200 milhões de pessoas sejam for-çadas a deixar as suas casas e as suas terras por motivos de desastres naturais em virtude das alterações climáticas. Apesar de não ser muito visível, isto tem vindo já a acontecer em várias regiões do mundo, um êxodo comunitário forçado devido a pobreza extrema resultante de secas, cheias e perdas de recursos naturais locais. Na Amazónia, por exemplo, várias tribos foram obrigadas a migrar para as periferias das cidades, quando viram as suas florestas derrubadas ou queimadas, devido a interesses económicos, por ganância de exploração dos recursos naturais destes locais.

Também o lago Chade, em África, do qual dependem cerca de 40 milhões de pessoas para acesso a água potável, pesca e rega de culturas nos Camarões, no Níger e na Nigéria,

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perdeu 90 % da sua água nas últimas quatro décadas. Tudo devido a ação humana, seja pela construção de barragens nos rios que alimentam o lago, ou pela extração exagerada para irrigação e animais de pasto. E quando secar? O que irá acontecer a estas comunida-des? Sem uma fonte de acesso a água potável, serão certamente forçadas a migrar. A procurar outro local onde consigam sobreviver. A questão é que nenhum dos locais terá as condições para suportar tantas novas pessoas.

Estas questões imediatas de perda de direitos humanos fundamentais pode estar a acontecer primeiro em África, mas também a Europa tem vindo a dar mostras de um crescente stress hídrico, que nos poderá levar na mesma direção. Apesar de nunca pensarmos nas questões de direitos humanos como algo que se aplicasse a nós, as consequências que vamos começar a sentir resultantes das altera-ções climáticas fazem com que este seja um problema global.

Quando, para além das alterações climáticas, falamos nas condições de trabalho, da saúde e do bem-estar das pessoas que fazem as

nossas coisas, então a correlação entre ambiente e direitos humanos torna-se por demais evidente. O trabalho sem dignidade e as novas formas de escravatura moderna empurram comunidades inteiras para a extrema pobreza, obrigando a que trabalhadores acei-tem condições desumanas pelo seu trabalho, sofrendo muitas vezes violência física e psico-lógica por parte dos empregadores. A competi-ção constante e feroz que se sente a nível mundial para baixar os preços de produção da maior parte das nossas coisas, da roupa aos telemóveis, do calçado aos bens alimentares, acarreta uma enorme pressão para os produto-res, que usam muitas vezes estratégias ilegais para manter os preços baixos, como recorrer a trabalho infantil ou operar sem condições de segurança para os trabalhadores — como as designadas «sweatshops». Estes locais definem-se por violar claramente duas ou mais leis de trabalho, de segurança e saúde dos trabalhadores, operando em países onde a fiscalização é inexistente ou mais permissiva.

Sabia que a Nike não produz sapatilhas? Ou que a Inditex não produz roupa? Aquilo que a maior parte das empresas «produz» atualmen-te, é a sua própria marca. O seu posiciona-mento. O seu reconhecimento na mente dos consumidores. Vendem e fabricam sonhos e estilos de vida, não produtos. Esses, são subcontratados a fábricas em países em desenvolvimento, onde os direitos humanos dos trabalhadores são todos os dias violados. O que é que esta engenhosa forma de operar traz às grandes empresas? Segurança. Como a produção dos seus produtos é subcontratada, não podem ser considerados responsáveis pelas condições deploráveis a que são subme-tidos os trabalhadores. Afinal, «eles não sabiam». Porque a fábrica que contrataram lhes assegurou que cumpria todos os requisitos

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legais para operar e eles, na sua boa-fé, acre-ditaram. Pois claro. Somos já todos um pouco crescidos para a velha história da Carochinha, não somos?

Em 2016, a Amnistia Internacional identificou e documentou a existência de trabalho infantil no Congo, na exploração de lítio para baterias de telemóveis e carros, onde crianças e adultos trabalham em condições extremamente perigo-sas. Milhões de pessoas utilizam diariamente estes itens, mas raramente se questionam como são feitos. Os abusos continuam sem que ninguém os veja e sem que ninguém pense neles, porque a roda do mercado mundial precisa de continuar a girar, continuamente e sempre a uma maior velocidade. O ditado popular diz-nos que «quem não sabe é como quem não vê», mas, em casos específicos de violação de direitos humanos, o melhor é mesmo não ver, para se poder continuar a fingir que não se sabe.

Na investigação levada a cabo pela Amnistia Internacional, várias crianças afirmaram que podem chegar a trabalhar 12 horas seguidas nas minas, transportando cargas pesadas, para ganharem entre um e dois dólares por dia. Doze horas por dóis dólares, para que possa-mos ter sempre a última versão dos nossos gadgets de última geração. A Unicef estima que, só em 2014, cerca de 40 mil crianças trabalhavam nas minas no Sul da República Democrática do Congo.

A questão que se impõe é: a que custo? A que custo é que temos uma camisola a custar à volta de 5 euros numa cadeia de moda rápida? A que custo nos podemos dar ao luxo de trocar de telemóvel a cada 18 meses ou de carro a cada par de anos? A que custo podemos ter alimentos que viajam desde o outro lado do

mundo apenas a alguns cêntimos o quilo? A que custo, afinal? Ativismo também é decidir sair fora desta roda envenenada de consumo.

As constantes violações de direitos humanos a que assistimos atualmente têm repercussões enormes: ao porem em causa os direitos mais básicos das famílias, prendem-nas a um círculo de pobreza insuperável, que as deixa sem acesso à educação e aos consequentes direitos e deveres de participação cívica e política que lhes dariam acesso a uma cidadania livre e esclarecida, assim como a respetiva contribuição para uma sociedade mais justa e equilibrada.

A responsabilidade para resolvermos estas questões é de todos nós. Dos governos, que podem atuar através da implementação de políticas públicas eficazes e sustentáveis, promovendo uma educação ambiental e de direitos humanos, cumprindo e fazendo cumprir as metas ambientais e compromissos assumi-dos na redução da emissão de gases com efeito de estufa; das empresas, através da adoção de práticas ambiental e socialmente responsáveis, ao longo de toda a sua cadeia de produção, distribuição e venda, assim como da certificação de que os seus fornecedores também cumprem as mesmas diretrizes; e dos cidadãos, que devem ser responsáveis e conscientes das suas escolhas, e exigentes com as empresas que fabricam as coisas que compram. Os cidadãos podem fazer a diferença desde o momento em que escolhem fechar a torneira enquanto lavam as mãos, até às escolhas que fazem no supermercado, quando vão comprar roupa ou produtos tecnológicos. As escolhas que fazem todos os dias ajudam a modelar e a ajustar o mercado a padrões de vida e de trabalho que todos consideremos justos.

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RACISMO AMBIENTAL

Já alguma vez ouviram falar de racismo ambiental? A probabilidade é que a resposta seja negativa, mas saibam que, infelizmente, é algo que acontece um pouco por todo o mundo. Verifica-se quando as grandes empre-sas instalam as suas unidades fabris mais poluentes em países em desenvolvimento, ou junto das cidades das comunidades mais pobres nos países desenvolvidos. Estas comu-nidades apresentam normalmente taxas de cancro bastante superiores às do restante país, malformações congénitas em fetos, doenças respiratórias, QI reduzido e, muitas vezes, uma esperança média de vida mais curta.

O filme «Dark Waters», lançado no nosso país no início de 2020, é um bom exemplo desta questão. Trata da luta de um advogado ambi-ental, Robert Bilott, contra a gigante química DuPont, que durante décadas poluiu as águas e o vale do rio Ohio, na pequena comunidade de Parkersburg, em West Virginia, e envenenou conscientemente milhares de pessoas e ani-mais, com o seu processo de produção e des-carte de produtos à base de politetrafluoretile-no, comercialmente conhecido como Teflon, um material altamente cancerígeno e ainda hoje em circulação. Se tiverem oportunidade, assistam ao filme e façam alguma pesquisa relacionada com este material. Não se vão arrepender.

As tentativas de encobrimento, silenciamento e descredibilização do trabalho de Bilott foram constantes, ao longo das quase duas décadas em que este tentou levar a DuPont a responsa-bilizar-se pelas suas ações. E, apesar de este caso ter chegado ao conhecimento do público e ter sido alvo de uma grande mediatização, infelizmente a maior parte dos casos não o é. Várias comunidades ao redor do planeta estão a ser lentamente envenenadas em nome do

crescimento económico, desenfreado e a qualquer custo — onde se incluem também os danos ambientais infligidos sobre os rios, o solo e o ar.

Todos têm direito à saúde e a um ambiente ecologicamente equilibrado, mas, na prática, não é o que acontece. Também em Portugal se verificam este tipo de questões: pense nas aldeias do interior afetadas pela indústria da mineração, ou nas dezenas de pessoas que foram obrigadas a abandonar as suas casas para a construção de uma nova barragem.

A realidade é dura e simples: a natureza passaria muito bem sem nós. Resta, no entanto, saber se nos sobreviverá.

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ATIVISMO AMBIENTAL

Quando falamos especificamente de ativismo ambiental, uma nova e preocupante realidade salta-nos à vista: o silenciamento dos ativistas.

Ao longo dos últimos anos, um pouco por todo o planeta as chamadas de atenção para a proteção do nosso planeta e dos nossos recur-sos naturais têm subido de tom. No entanto, para muitos, esta luta não é feita de igual para igual, existindo forças e poderes que se sobre-põem aos interesses e bem-estar das pessoas e das populações. E o que acontece, quando os ativistas ambientais enfrentam as grandes empresas, ameaçam o crescimento económico e se opõem a políticas e leis? Dependendo de onde no mundo nos encontramos, pode aconte-cer uma de três coisas: diálogo e tentativa de encontrar soluções que beneficiem ambas as partes; opressão e silenciamento dos ativistas; tortura e morte.

Em média, 4 ativistas ambientais têm sido assassinados por semana desde que foram assinados os acordos de Paris contra as altera-ções climáticas em 2015. Não somos nós que o dizemos, é o relatório anual da organização internacional Global Witness que, em 2019, revelou um novo recorde: 212 ativistas perde-ram a vida por defenderem o meio ambiente e as suas terras, um aumento de 30 % face a 2018. O relatório indica que a indústria mineira foi a que esteve ligada a mais crimes deste tipo em 2019: 50 assassinatos. Seguida pelos interesses da agroindústria, do setor madeireiro e dos grupos criminosos. A exploração madeireira foi a que mais aumentou o número de mortes: foram mais 85 % de casos.

Segundo os especialistas, na realidade este número deve ser muito mais elevado: a maior parte dos assassinatos ocorrem em zonas ou aldeias remotas e são muitas vezes abafados pelos governos locais, parceiros indispensáveis

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das grandes corporações.

Colômbia e Filipinas são os países onde é mais perigoso defender o ambiente, mas também na Europa temos os nossos esqueletos no armá-rio: a Roménia tem sido palco de atos bárba-ros, com o assassinato de vários guardas florestais que defendiam a floresta de madeirei-ros ilegais, como Liviu Pop, personalidade destacada por este relatório.

Também afetados por esta instabilidade, são os jornalistas ambientais: já é quase tão perigoso como ser repórter de guerra. Um estudo do Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) registou 13 mortes na última década, mas muitos mais repórteres têm sido vítimas de violência, assédio, intimidação e processos judiciais.

O padrão de violência e intimidação repete-se em todos os continentes contra jornalistas que investigam situações abusivas em torno de atividades de exploração de recursos naturais por parte de empresas e interesses políticos. Estes recursos estão na base de produtos utilizados diariamente por milhões de consumi-dores que ignoram a sua origem e história.

Jornalistas e ativistas ambientais estão juntos pela mesma causa: uns expõem as mentiras e mostram a verdade por trás dos interesses económicos; outros, lutam pelo seu direito à terra e a um meio ambiente saudável e equilibrado.

A luta pela preservação da natureza e pela conservação das espécies animais não é nova e tem feito centenas — senão milhares — de mortes.

À medida que avançamos em direção ao colap-so climático, nunca foi tão importante apoiar aqueles que estão a tentar defender as suas

terras e nosso planeta contra a destruição imprudente que está a ser perpetuada pelos ricos e poderosos.

Leia mais sobre estes temas no artigo «Uma Árvore e as suas Raízes», por Pedro A. Neto, Diretor Executivo da Amnistia Internacional — Portugal, para a Raízes Mag N.º 5 e no artigo «Assassinados — Porque Morrem os Ativistas Ambientais», por Leila Teixeira, para a Raízes Mag N.º 9.

A FORÇA DO ATIVISMO

É inquestionável a força que o ativismo pode ter para mudar a sociedade. São inúmeros os exemplos do papel que teve no passado a ultrapassar vários estigmas enraizados um pouco por todo o mundo, mas estamos longe de poder arrumar as botas e descansar. A mudança rumo a uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável está nas nossas mãos. Ainda temos muito caminho pela frente. Não precisamos de ser todos Gretas ou de nos juntarmos a associações ou ONGs. Existem muitas formas de se ser ativista: através da nossa voz, da nossa arte, do nosso tempo, do nosso interesse, da nossa indignação, da nossa mudança, do nosso exemplo. Através de qualquer uma delas, é possível moldar e inspirar as pessoas à nossa volta, diminuindo as injustiças sociais e ambientais a que temos vindo a assistir ao longo dos anos.

Aqui na Raízes Mag, lutamos através das palavras, da informação. Expandimos o conhecimento e a consciência dos nossos leitores, chamamos a atenção para problemas, práticas e questões que nos afetam a todos enquanto sociedade. E vamos, nesta nossa forma tão particular de ativismo, continuar a nossa luta.

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Joana Guerra Tadeu

por Leila Teixeira, Raízes Mag

N este número tão especial, entrevis-to uma pessoa com a qual me identifico muito, cujo trabalho, de certa forma, se funde com o meu,

e que tem sido uma convidada frequente da Raízes Mag: a Joana Guerra Tadeu. Sim, porque nisto do ativismo e da luta por um pla-neta mais sustentável não existem concorren-tes: somos todos aliados nesta luta; quando mais pessoas a falarem do mesmo, a lutar pelo mesmo, melhor. E a Joana desempenha um papel crucial nestas lutas, dando a sua voz a causas que nos tocam a todos! Quem já a co-nhece e segue o seu trabalho sabe do que falo. Para os curiosos, a Joana trabalha como con-sultora para o empreendedorismo e a gestão da mudança em projetos com objetivos ecológicos, mas a sua vida e os seus ideias vão muito mais além. Leiam a entrevista exclusiva que lhe fiz nas próximas páginas e passem pelo nosso ca-nal de YouTube para ouvirem a conversa incrí-vel que tive com a Joana, fez agora um ano.

Dia da Liberdade | © Joana Guerra Tadeu

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Raízes Mag (RM): Enquanto ativista e ambien-talista, qual consideras ser o papel do ativismo na sociedade?

Joana Guerra Tadeu (JGT): O ativismo tem um papel transformador, que impulsiona a inovação rumo a uma sociedade mais justa. São os ativistas que promovem os movimentos sociais, políticos, económicos, culturais e am-bientais que alavancam essa mudança do status quo. Assim, considero que qualquer cidadão disposto a contribuir para aquela mudança ou a incomodar os que a impedem é um ativista.

RM: É difícil ser ativista em Portugal?

JGT: Sim. É difícil ser ativista em todo o lado, porque é um papel que, se for vivido no contex-to moderno de individualismo em que a maioria de nós vive (sempre ligados, sempre sozinhos), pressupõe alguns privilégios discriminatórios: informação, acesso, tempo, dinheiro, saúde. Para dar um exemplo, é isto que faz o «consumidor consciente»: tenta «salvar o mundo sozinho», munin-do-se de informação, es-colhendo produtos que normalmente não estão acessíveis às massas, in-vestindo muito tempo em pesquisa e dinheiro em opções mais éticas, en-quanto usufrui da saúde mental que lhe permite fa-zer tudo isto sem entrar num estado de ansiedade paralisante. No entanto, a história mostra-nos que o ativismo que leva a vitórias esmagadoras, efetivas e eficientes é, maioritaria-mente, feito por gente sem

estes privilégios (ou a quem estes foram retira-dos) mas que se organiza em coletivos, o que vem mostrar que para ser ativista, o que é real-mente fundamental, é não estar sozinho. Inde-pendentemente de ser fácil ou difícil, enquanto vivermos num mundo em que existe discrimina-ção, exploração de pessoas e sobre-exploração de recursos, o ativismo é necessário, e uma responsabilidade moral de todos os cidadãos.

RM: Anne Marie Bonneu tem uma frase muito célebre referente ao movimento desperdício zero. Em tradução livre: «Não precisamos de muitas pessoas a praticar o desperdício zero de forma perfeita; precisamos de milhões a fazê-lo de forma imperfeita». Isto pode aplicar-se também ao ativismo?

JGT: Aplica-se, com certeza: muitos ativistas imperfeitos alcançarão sempre mais e melhores resultados que poucos ativistas perfeitos. Afinal,

Chamada de atenção para as alterações climáticas | © Joana Guerra Tadeu

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é essa a força das maiorias em democracia, que faz com que quanto mais pessoas apoia-rem uma causa, mesmo que com alguns laivos de ignorância (ou mesmo de hipocrisia), mais a causa crescerá. Claro que isto não funciona só para o bem, já que é com base na ignorância, na desinformação e na defesa de interesses individualistas que o fascismo ganha força, por exemplo. A informação, a educação e a cultura são fundamentais para o sucesso do ativismo, mas a pressão da perfeição pode afastar as massas e as causas mais relevantes

precisam de ser abraçadas por todos, mesmo que nem todos façam tudo bem. Penso que o movimento Black Lives Matter veio colocar isto em evidência ao pedir a pessoas brancas, como eu, para serem ativamente anti-racistas observando o seu privilégio, lendo, investigan-do, divulgando e contribuindo para a causa, discutindo e denunciando comportamentos e políticas racistas e discriminatórias, mesmo que ainda estejam a aprender como podem fazer mais e melhor, mesmo que ainda não tenham conseguido eliminar completamente o racismo

Marcha do Dia Internacional da Mulher | Amamentação | © Joana Guerra Tadeu

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da linguagem, que ainda sejam culpados de fa-zer microagressões, que ainda estejam a usufruir do seu white privilege e que ainda este-jam a experienciar dissonância cognitiva. Não temos de saber tudo (muito menos de saber explicar tudo) para começar a contribuir para a melhoria da sociedade, só temos de reconhecer o potencial do nosso contributo. O que quero dizer, no fundo, é que se o ativismo estiver reservado aos «perfeitos», então estará a discriminar aqueles que não são suficiente-mente privilegiados para serem perfeitos, mas que são suficientemente conscientes, empáticos e generosos para quererem contribuir para a mudança rumo a uma sociedade mais justa.

RM: Quais consideras terem sido as maiores vitórias alcançadas por movimentos de ativismo?

JGT: Ui! São inúmeras e tive de me controlar para responder empirica-mente e não ir fazer esta pergunta ao Google. Lembrei-me imediata-mente da abolição da escravatura e da segre-gação e, depois, do direito ao voto para todos os cidadãos, claro. Se falarmos de ambiente, penso na retirada do chumbo da gasolina e da abolição dos aerossóis que danificam a camada de ozono. E desengane- -se quem acha que a ca-da vez mais significativa cobertura mediática sobre sustentabilidade e altera-ções climáticas não é consequência direta dos movimentos de justiça

climática, ou que a recente legislação e regula-mentação contra o plástico descartável e o recente boom de modelos de negócio de economia circular ou com base no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — e o seu gémeo malvado, o greenwashing — não são causa direta do movimento de consumo consciente, que ainda que seja individualista tem os seus resultados. Pessoalmente, participei ativamente no movimento pela despe-nalização da interrupção voluntária da gravidez, no movimento pelo acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e, logo depois, pela legalização da adoção homoparental, que são vitórias recentes, que dependeram do esforço de milhares de ativistas em Portugal, e que irão contribuir para uma sociedade mais justa, solidária e sustentável. Espero que sirvam de inspiração para todas as vitórias que precisam, urgentemente, de ser celebradas.

Feminismo | © Joana Guerra Tadeu

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AS FLORESTAS PRECISAM DA

NOSSA AJUDA!

Mais de 100 ONGs e entidades da sociedade civil europeias, entre as quais se destacam 10 nacionais como a Raízes Mag, a WWF Portugal, a ZERO ou a SPEA, lançam a campanha #JuntosPelasFlorestas, pedindo ação da UE na criação de uma lei que regule a entrada nos mercados europeus de produtos resultantes de desflorestação e conversão de terras.

As florestas são essenciais à nossa sobrevivên-cia. Não só nos dão o ar que respiramos e purificam a água que bebemos, como são tam-bém casa de milhões de plantas, animais e comunidades indígenas. Além disso, florestas saudáveis protegem-nos de doenças e absor-vem as emissões de carbono da atmosfera.

A agricultura destrutiva leva à degradação das florestas e de outros habitats naturais. Sem saberem, os Europeus consomem produtos que contêm ingredientes provenientes de áreas des-florestadas e de outros habitats destruídos, co-mo as savanas. Hoje em dia, a União Europeia

permite a entrada de produtos ligados à desflo-restação e à destruição de habitats no mercado europeu. Isto significa que, mesmo sem saber-mos, estamos a comer as nossas florestas! Queremos que a Comissão Europeia proteja as nossas florestas e o nosso futuro, AGORA!

Temos agora uma oportunidade única de travar a desflorestação. Uma nova lei europeia sobre os produtos ligados à desflorestação está agora ao nosso alcance, e a Comissão Europeia abriu uma consulta pública para podermos dar a nossa opinião sobre uma lei. Mostra o teu apoio e preenche o formulário na página da WWF Portugal ou no site oficial da campanha e clica em AGE AGORA

QUAL É O PROBLEMA?

Pesquisas revelam que estamos a perder habi-tats naturais a um nível alarmante. Ao longo da última década, a Amazónia perdeu uma quanti-dade de árvores equivalente a 8,4 milhões de campos de futebol, e 10 milhões de campos de futebol de habitat natural foram destruídos no Cerrado, a savana com mais biodiversidade no

#TOGETHER4FORESTS

#JUNTOSPELASFLORESTAS

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mundo. A principal razão é a agricultura destru-tiva para mercadorias como a soja, usada para alimentar animais, óleo de palma, gado, cacau e muito mais. Estes ingredientes escondem-se nas prateleiras dos supermercados, e são extremamente difíceis de evitar.

A União Europeia tem de assumir um papel de liderança na proteção das florestas e de outros ecossistemas. Se não travarmos a desfloresta-ção, a degradação florestal e conversão e degradação de outros ecossistemas, corremos o risco de perder a luta contra as alterações climáticas e o colapso da biodiversidade. Mas tu podes ajudar a mudar isto!

Age Agora! #Together4Forests #JuntosPelasFlorestas: pede à Comissão Eu-ropeia que proteja o nosso futuro!

QUEM É O RESPONSÁVEL?

A desflorestação e a destruição de terras são problemas complexos, nos quais estamos to-dos, direta ou indiretamente, envolvidos. Uma vez que a União Europeia não impede a entrada de produtos ligados à destruição da natureza no mercado da UE, estes facil-mente entram nas prateleiras do supermer-cado e, consequentemente, no nosso prato. O óleo de palma é um ingrediente presente na maioria dos alimentos processados e dos produtos de cosmética, enquanto a soja é usada para alimentar os animais criados para a indústria da carne e dos lacticínios. Estamos literalmente a comer as nossas florestas sem termos conhecimento disso.

A União Europeia é não só uma grande importadora de óleo de palma e soja, mas também de outros produtos que levam à desflorestação, como a carne de vaca

proveniente da Amazónia, o café e o cacau. Não queremos banir estes produtos — mas sim ter a certeza de que são produzidos de forma sustentável. Mas para fazer isso, precisamos de uma forte lei Europeia. E tu podes ajudar.

QUAL É A SOLUÇÃO?

Os consumidores merecem ter a certeza de que as suas escolhas alimentares não contri-buem inadvertidamente para a desflorestação, conversão de ecossistemas e degradação de terras. Uma lei forte que impeça a entrada de produtos ligados à desflorestação e à degrada-ção de ecossistemas no mercado europeu até 2021 pode conseguir isto. Tal lei teria um impacto enorme, e está agora a ser discutida em Bruxelas. Está ao nosso alcance, mas pre-cisamos da tua ajuda para fazê-la acontecer!

Age Agora! #Together4Forests #JuntosPelasFlorestas: pede à Comissão Eu-ropeia que proteja o nosso futuro!

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N o nosso íntimo, queremos todos mudar o mundo, mais que não seja, o nosso pequeno mundo. No nosso eterno egoísmo, o mundo é

demasiado grande para poder ser salvo. Concentramo-nos naquilo que, sozinhos, conseguimos fazer, ou escolhemos nada fazer. Entretanto apareceram os media sociais e o mundo nunca mais foi igual.

Ser activista — ou afirmar-se enquanto tal — nunca foi tão fácil: basta ser activamente activo (redundância propositada) na defesa de uma causa para poder influenciar outras pessoas e, quem sabe, mudar o mundo. Felizmente, o activismo digital é a cena da moda porque antes ter um filho que quer ser activista do que qualquer outra coisa sem propósito maior.

Um dia, Greta Thunberg sentou-se no chão, à porta do parlamento sueco e o activismo juvenil

mudou para sempre. Contagiou jovens por todo o mundo que perseguem essa ideia de salvar o mundo — ou evitar o colapso — e fazem-no com o coração, à sua dimensão, deixando marcas que semeiam a mudança. Para além da greve estudantil e das marchas pelo clima, arregaçam mangas e põem mãos à obra: a partir do sofá, criando grupos de acção que passam palavra e mobilizam outros jovens, na praia apanhando o lixo que o mar traz e os humanos deixam, ou, nas universidades, estu-dando o fenómeno e disseminando saber, como demonstra uma investigação recente1, sobre a mensagem de Greta Thunberg nos me-dia e nas comunidades virtuais no Facebook.

Este estudo revela que Greta tem uma repre-sentação diferente nos media e nestas comuni-dades. Como em outros domínios temáticos, as notícias em torno de Greta Thunberg, das suas aparições públicas, discursos ou sobre o

por Paula Cordeiro

O texto foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico

DO SOFÁ PARA O MUNDO

E DO MUNDO PARA O SOFÁ

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movimento por ela iniciado são, regra geral, notícias sobre Greta e não sobre a sua acção. Como a própria afirma, interessa mais a irrele-vância do detalhe e da pessoa, do que o tema sobre o qual essa pessoa fala. Porque, como também se lê no seu livro, a sustentabilidade não é tema e falamos de temas avulsos, apelamos ao consumo. Também na comunicação social, a economia se sobrepõe à ecologia. Avança este estudo que, nas comuni-dades virtuais criadas por Greta, ou em torno da Greve Climática Estudantil, esta apresenta- -se como uma fonte de informação e inspira-ção. O estudo, que analisou grupos e páginas de Facebook, um dos quais privado e adminis-trado por Greta Thunberg, juntando mais de 30 mil membros, demonstra que mais do que a pessoa que lhe deu origem, im-porta o movimento que esta semeou e o alcance que consegue ter. Da consciencia-lização tão necessária, à mudança de atitudes e comportamentos, Greta Thun-berg é reconhecida neste estudo como uma forte influência por levar à adesão a este movimento que se espalha através das plataformas digitais, criando comunidades que partilham interesses e comunicam entre si para difundir informa-ção. Criam um sentimento colectivo de compromisso assumido que estimula a acção e pode, lentamente, mudar o mundo. Iremos a tempo?

Nunca, como agora, se falou tanto em sustentabilidade, nunca a nossa consciên-cia ambiental foi tão estimulada e, nunca, como hoje, foi tão urgente reverter a marca que deixamos no meio ambiente, da mesma forma que nunca foi tão fácil viver de forma (mais) sustentável. Mais de 40 anos depois do Rainbow Warrior levantar âncora, o activismo ambiental é hoje mais do que a Greenpeace e outras

organizações mundiais podem representar. Faz-se a título individual, com o digital como arma e ferramenta, juntando pessoas em comunidades numa expressão mais abrangen-te, de uma sustentabilidade global: da nossa relação e respeito pela natureza à forma como vivemos nas cidades, as nossas rotinas, opções de estilo de vida e consumo, tudo se liga entre si. A nova geração de activistas quer parar, pensar e chamar a atenção para o facto de que precisamos de diminuir drasticamente o nosso impacto no mundo. Conseguiremos?

Florence Williams, no seu livro «A Natureza Cura», explica que, em 2008, a nossa espécie ultrapassou um importante marco na história da

Greta Thunbger | Fonte: Vogue

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humanidade. Tornamo-nos metrosapiens, ou seja, a maioria dos seres humanos passou a viver em cidades, facto que, como Yuval Noah Harari escreve, em «21 Lições para o Século o XXI», coloca uma enorme pressão global, pela forma como a nossa rotina quotidiana pode influenciar a vida dos que se encontram do outro lado do mundo. Greta Thunberg segue a mesma lógica, quando escreve, em «A Nossa Casa Está a Arder», que vivemos um período histórico de superabundância, num mundo que está cada vez pior. A todos os níveis, acrescento.

A mensagem apocalíptica gera medo e o medo desperta-nos o estado de alerta, o qual, por sua vez, pode contribuir para activar o nosso instinto de sobrevivência, percebendo o sentido da urgência climática que Thunberg protagoniza e que não existia nas gerações anteriores. Contudo, o medo também paralisa e contribui para esse novo fenómeno chamado eco-ansiedade, um distúrbio psicológico que tem cada vez mais impacto na sociedade ocidental. O que fazer, quando nada podemos fazer?

Tudo.

Como no caso da pandemia pelo corona vírus, sabemos que não vai ficar tudo bem a não ser que passemos à acção ou mudemos, radical-mente, a nossa acção. Perante a informação catastrófica, os eventos que confirmam a catás-trofe e o facto de as Nações Unidas indicarem que temos menos de dez anos para reverter esta situação, há quem se sinta em pânico, impotente perante a dimensão do problema. Esta emergência climática tornou, repentina-mente, as gerações mais novas mais conscien-tes da situação, mobilizando-as para a acção, criticando e culpando as gerações anteriores pelas suas opções, os media pela manipulação e desinformação e as grandes corporações por sobreporem a economia à ecologia. E agora? Activismo de sofá?

1 Lopes, L. (2020). A Mensagem de Greta Thun-berg nos Media e nas Comunidades Digitais: uma análise comparativa dos discursos e das perceções dos jovens portugueses (Trabalho de Seminário da Licenciatura em Ciências da Comunicação, orienta-do por Paula Cordeiro, ISCSP).

Paula Cordeiro Urbanista

Com dois livros publicados sobre rádio e platafor-mas digitais, foi consultora de rádio e música, a primeira mulher provedora do ouvinte na RTP e a primeira embaixadora em língua Portuguesa do Body Image Movement, um movimento pelo amor próprio, e coordenou o lançamento da primeira rádio de lifestyle em Portugal, a NiTfm. Para além das aulas de comunicação digital no ISCSP, lan-çou recentemente uma produtora de audiovisual storytelling, é autora de artigos de opinião e do podcast Urbanista. Para acompanhar em:

Website: www.urbanista.biz Instagram: @urbanista_2.0

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PEQUENAS, PERIGOSAS E AOS MILHÕES:

O PROBLEMA DAS BEATAS

por Sara Vaz Franco

O texto foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico

F ez dia 3 de Setembro um ano que foi promulgada a lei n.º 88/2019, desconhecida da maior parte das pessoas, e que prevê que «as

pontas de cigarros, charutos ou outros cigarros contendo produtos de tabaco passam a ser equiparadas a resíduos sólidos urbanos, sendo por isso proibido o seu descarte em espaço pú-blico». Terminou portanto o período transitório que permitiu aos estabelecimentos comerciais, «designadamente de restauração e bebidas, os estabelecimentos onde decorram actividades lúdicas e todos os edifícios onde é proibido fumar» adaptarem-se a novos cuidados de limpeza de espaços públicos, nomeadamente, «dispor de cinzeiros e de equipamentos pró-prios para a deposição dos resíduos indiferen-

ciados e selectivos produzidos pelos seus clien-tes», assim como proceder à limpeza das áreas de ocupação comercial num raio de cinco me-tros. Resumidamente, candidata-se a uma coi-ma entre 25 e 250 euros qualquer pessoa que atirar lixo para a via pública, incluindo beatas.

Esta lei resultou de indicações europeias, nomeadamente da Directiva (UE) 2019/904, de 5 de junho de 2019, aplicável aos dez arti-gos de plástico de utilização única mais encon-trados nas praias europeias, sendo uma das alíneas relativa aos filtros de tabaco: «Os Esta-dos-Membros deverão promover uma vasta gama de medidas para reduzir o lixo gerado pelos resíduos pós-consumo dos produtos do tabaco com filtros que contêm plástico».

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Na origem destas medidas ambientais está a constatação da problemática do lixo marinho a nível mundial. Durante a 33.ª edição da iniciati-va «International Coastal Cleanup» da Ocean Conservancy, que ocorreu em 2018 e à qual aderiram mais de um milhão de voluntários, foram recolhidos num só dia cerca de 10 milhões de quilos de lixo em zonas costeiras de todo o mundo, mais ou menos o equivalente ao que 7,5 milhões de portugueses descartam num dia. Desafio o leitor a adivinhar qual foi o principal tipo de lixo recolhido, em quantidade. Bem, pela introdução deste texto, não é difícil de acertar… foram, pois, as pontas de cigarro, vulgo beatas: mais de 5,7 milhões (M) de unidades, correspondendo a mais de um quarto do top 10 de itens recolhidos. Pelo segundo ano consecutivo desta iniciativa, esse top 10 é integralmente preenchido por artigos de plástico como invólucros de comida (3,7M), palhinhas (3,6M), talheres (1,9M), garrafas (1,7M),

tampas (2,1M), sacos (1,9M), pratos e copos (650 mil).

No contexto dos chamados países desenvolvi-dos, se o cerne desta problemática está no cada vez mais raro acto de atirar lixo para o chão (ou deixado nas praias), infelizmente, essa raridade não se aplica às beatas: estima-tivas apontam que, só em Portugal, todos os dias são atiradas para o chão perto de 10 milhões de beatas, e, segundo dados da orga-nização «Missão Beatão», cerca de 18 % vão parar aos circuitos de águas pluviais pela acção do vento ou da chuva. No entanto, não existe em Portugal um estudo sistemático sobre este «fenómeno» como existe, por exemplo, nos Estados Unidos da América, onde se estima que, apesar de 86 % dos fumadores conside-rar as beatas como lixo, 75 % descarta-as para o chão ou pela janela do carro, sendo também descartados indevidamente 65 % dos resíduos de tabaco (embalagens e invólucros incluídos).

Fonte: Ocean Conservancy/Shine Gabienu. Lagos, Nigeria

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MICRO-INQUÉRITOS E MICRO-

PLÁSTICOS

De um (pequeno) inquérito que realizei, pude verificar que cerca de 45 % dos fumadores (portugueses) respondentes atira o cigarro para o chão quando não está ao pé de um cinzeiro e 55 % guarda a beata até chegar perto de um local onde o depositar. Nada mau, do meu ponto de vista. Mauzinho, do ponto de vista ambiental. Aproveito para partilhar que a maioria (65 %) dos inquiridos (fumadores e não fumadores) considera o acto de atirar bea-tas para o chão como «falta de civismo», e os restantes como «falta de consciência ambien-tal». Não resisto a outro dado curioso: estas respostas têm incidências semelhantes entre homens e mulheres, sendo os homens mais fumadores (cerca de 22 % versus 13 %).

Não é novidade para ninguém que um cigarro contém mais de 4000 partículas químicas, nunca sendo demais recordar que as estimati-vas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam para, em 2016, o tabaco ter contribuí-do para uma morte a cada 50 minutos em Portugal (cerca de 11 800 pessoas, aproxima-damente 10 % das mortes), e que os fumado-res perdem, em média, cerca de 10 anos de vida. O que não é geralmente sabido é que os filtros dos cigarros contêm acetato de celulose onde se alojam substâncias com um nível de toxicidade prejudicial para os ecossistemas on-de se depositam. É, aliás, esse componente plástico que resiste à decomposição durante pelo menos nove meses e que confere às beatas a leveza e o tamanho suficientes para serem facilmente transportadas para os circuitos de águas pluviais e para escaparem às grelhas de filtragem das estações de tratamento. Para além da poluição, existe a possibilidade de as

substâncias tóxicas entrarem na cadeia alimen-tar na forma de microplásticos, quando animais confundem este resíduo com alimento.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) reconhece as beatas como «sendo um dos mais recorrentes contaminantes dos rios e do mar», mas esclarece que, de acordo com o Regime Geral de Gestão de Resíduos, «os resíduos de beatas não consubstanciam nos termos dos resíduos perigosos, visto as substâncias perigosas presentes não ultrapas-sarem os limites de concentração estabelecidos para efeito de avaliação da perigosidade». Além de não serem classificadas como resíduos perigosos, «as beatas não possuem potencial de valorização material, pelo que a sua recolha selectiva não traz mais-valias em termos de gestão de resíduos».

Ou seja, em Portugal, não existe recolha selectiva de beatas, pelo que estas são tratadas como um resíduo indiferenciado. Susana Fonseca, da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, alerta para a necessida-de de análise técnico-económica quando se coloca a questão da valorização do resíduo por reaproveitamento para novos produtos. A ambientalista lembra que, se o aterro for bem gerido, a deposição no mesmo «pode ser a melhor solução». Outra alternativa é a incorpo-ração em matéria para valorização energética,

Fonte: www.pixabay.com

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permitindo a produção de energia. «Mas o valor e a quantidade que tem de ser recolhida pode não tornar viável uma solução de valorização que não seja a deposição em aterro», afirma a responsável, sublinhando que «o passo mais importante é que as pessoas percebam que as beatas não são para deitar para o chão».

É, portanto, um acto condenável de falta de civismo (ou de consciência ambiental), mas ainda aceite em sociedade, ao contrário de se atirar um recipiente de plástico para o chão. «Há aqui uma clara aceitação social», afirma Paula Sobral, presidente da Associação Portu-guesa de Lixo Marinho (APLM). «É muito mais condenado quem atira uma garrafa ao chão, porque se vê com muita naturalidade que al-guém fume e faça o mesmo com as beatas.»

COIMAS A JUSANTE, SENSIBILI-

ZAÇÃO A MONTANTE

Em Portugal, podemos congratular os Municí-pios que já se tinham antecipado à «lei das beatas» como Funchal, Leiria e Oeiras. Neste município, «lançar para o chão beatas de cigar-ros, charutos e outros cigarros, bem como ma-ços de tabaco vazios», constitui contraordena-ção punível com coima de 50 a 1000 euros para pessoas singulares, chegando aos 8000 euros no caso de pessoas colectivas). Em Lis-boa, as alterações ao Regulamento de Gestão de Resíduos, Limpeza e Higiene Urbana apro-vadas em Janeiro de 2019, incluíam novas contraordenações, entre as quais para quem lançar beatas ou pastilhas elásticas ao chão, com coimas que podem chegar aos 15 000 euros.

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Noutros países, esta já é uma realidade há anos. Na Austrália e no Canadá, existem sites onde os cidadãos podem denunciar outros que tenham atirado beatas (ou lixo) para o chão através das janelas dos seus carros, facilitando a aplicação de coimas pelas autoridades competentes. Em Paris, no ano de 2017, foram passadas 21 000 multas a pessoas que atiraram beatas para o chão, um aumento de 1200 % em comparação com 2016, devido a uma maior fiscalização. Um ano depois, o número passava para 36 000, cada multa com o valor de 68 euros. Em França, as coimas não são aplicadas a nível nacional, sendo definidas por cada município: além de Paris, há também coimas em Biarritz, Cannes ou Colmar.

Em Portugal, a responsabilidade da fiscalização é da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), das Câmaras Municipais, da Polícia Municipal, da Guarda Nacional Repu-blicana (GNR), da Polícia de Segurança Pública (PSP), da Polícia Marítima e das restantes au-toridades policiais. Contudo, alguns responsá-veis mostraram-se receosos quanto à garantia de que conseguiriam fazer cumprir a lei: «no policiamento de proximidade feito quer pela GNR, quer pela PSP, isto é visto todos os dias», afirmou um responsável da GNR, salien-tando que «na cultura portuguesa, hoje a beata não é mentalmente considerada um resíduo», aproveitando para pedir mais campanhas de sensibilização.

Nesse campo, as campanhas de sensibilização sobre a problemática associada ao descarte de beatas para o chão passam maioritariamente por iniciativa privada, local, pontual ou sazonal de associações, algumas em parceria com Municípios, e na maioria dos casos a jusante do problema. São exemplo a já referida APLM, que desenvolve acções de limpeza de praias desde 2014; a Associação Bandeira Azul /

EcoEscolas com o Programa «Caça à Beata»; o Movimento ALP — Ajude a Limpar a Praia!, fundado em 2011 com objectivo de sensibilizar para a protecção das praias; a Brigada do Mar, que desenvolve, desde 2009, acções de protecção da biodiversidade e intervenções de limpeza em zonas costeiras não concessiona-das com o apoio da Câmara Municipal de Grândola; o Movimento Feel4Planet, com acções de limpeza de praias em Setúbal desde 2017; o Movimento Waste4Coffee, que iniciou o projecto em 2019 no Wind Surf Café, em Carcavelos, oferecendo um café às pessoas que recolherem lixo da praia, e promovendo a adesão à iniciativa por parte de outros estabele-cimentos; assim como outras iniciativas como o #BragaSemBeatas e «Plogging Braga» promo-vidas pelo grupo «Braga Para Todos» durante o verão de 2019. Outros exemplos são a «Acção Nacional de Limpeza de Praias» da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e o Programa «Jovens em Movimento» da Câmara Municipal de Oeiras, que promove acções de limpeza das praias, jardins e ruas do município todos os anos.

Ora, as acções de sensibilização com real impacto para o combate ao descarte indiferente deste agente tóxico terão que ser feitas a montante, como é exemplo o projecto «EcoPontas» do Laboratório da Paisagem da

Eco Pontas & Papa Chicletes | Guimarães

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Câmara Municipal de Guimarães, que desde 2016 disponibiliza nas ruas da cidade cinzeiros em estruturas cilíndricas cuja parte superior apresenta questões em jeito de sondagem, agindo como factor promotor da sua utilização, onde os utilizadores depositam a sua beata na resposta que pretendem dar. Um exemplo de «envolvimento da população, impacto ambiental e social da redução de resíduos nas ruas e praças do concelho». Este projecto foi alargado a outras «paragens» como Santarém, Funchal, Celorico de Basto, Cascais, Estarreja, Loulé, Marco de Canavezes, Viseu, Torres Vedras, Juntas de Freguesia de Cacia (Aveiro) e Castelo Branco.

Outras iniciativas despontaram, de âmbito local e na sequência da «lei das beatas», como a Zero Waste Lab, em Lisboa, que criou a cam-panha de sensibilização «Beata é plástico», aplicando artes plásticas em caixotes de lixo / cinzeiros de rua da freguesia da Penha de França. Também na capital, a Junta de Fregue-sia de Santo António disponibilizou cerca de 200 cinzeiros de parede pela freguesia no âmbito da campanha de sensibilização ambien-tal «Porque o mar começa aqui», assim como cinzeiros de bolso que os fregueses podem solicitar no polo de atendimento da Junta.

Santarém merece, aliás, uma menção honrosa, pois é na cidade ribatejana que está sediada a «Missão Beatão», pioneira nestas andanças: desde 2013, associação e Município

implementam e distribuem soluções de recolha de beatas junto da população através de porta-beatas pessoais, mini-beatões colocados em superfícies comerciais e edifícios públicos, e beatões, grandes reservatórios onde é deposi-tada toda a matéria recolhida. Comparada a esta iniciativa, só encontro Vancouver, no Canadá, que também em 2013 implementou o seu projecto-piloto Cigarette Waste Brigade, disponibilizando cinzeiros em espaços públicos da cidade e porta-beatas individuais aos munícipes, com o objectivo de se manter «as ruas limpas e a cidade bonita». Deixo aqui as minhas saudações aos santarenos e um «hat tip» aos… vancouveritanos.

Sara Vaz Franco

Sara Vaz Franco é licenciada em Ciências da Engenharia do Ambiente e pós-graduada em Comunicação de Ciência. Residente na Ericeira desde os 3 anos, não é surfista, mas gosta de pensar que é tenista. Amante de música (de Ana Moura a Zero 7) e sócia n.º 4740 da SPEA — Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Ambiente e Energia nas horas vagas. Livros favori-tos: To Kill a Mockingbird, A Viagem do Elefante e Os Maias.

Podem entrar em contacto com a Sara através do seu perfil de LinkedIn em: www.linkedin.com/in/sara-vaz-franco

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© Joana Bianchi

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Q uem disse que remodelar uma casa não pode ser feito de forma sustentável, nunca ouviu falar, com certeza, de Joana Bianchi. Esta

cientista tornada mestre de obras, tanto por necessidade como por opção, mostra-nos que não só é possível, como o podemos fazer nós mesmos e a um custo bastante mais simpático do que se optássemos pela via tradicional. Mas nem tudo é um mar de rosas: é preciso mais tempo, muita perseverança e uma grande dose de teimosia. Tudo ingredientes que a Joana tem de sobra.

Mas afinal, quem é a Joana? Foi isso que fui descobrir, num início de tarde de agosto, céu limpo, mas tempo fresco, bem ao estilo do Nor-te. Assim que desfaço a curva para a rua onde se encontra a casa de madeira mais famosa do Instagram, é como se fosse transportada para

por Leila Teixeira, Raízes Mag

JOANA BIANCHI, A MESTRE DO D.I.Y.

OU COMO A RENOVAÇÃO DE UMA CASA

TAMBÉM PODE SER SUSTENTÁVEL

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outro lugar. Estamos a poucos metros da praia, mas o ar é de campo. A casa a espelhar as árvores circundantes, está protegida por um portão feito com madeira reaproveitada das paredes interiores da casa que foram deitadas abaixo — e é logo aqui que se percebe que este projeto é único e especial.

Comprou a casa quase por impulso, com o seu namorado, faz um par de anos. Enamorou-se dela, da tranquilidade e da centralidade, e das possibilidades do que poderia criar, construir ou renovar para a tornar no seu lar. Quem a viu antes, não acredita no que é agora: o branco das paredes dá-lhe vida, e as divisões em open space do andar inferior, uma maior

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sensação de espaço e liberdade. Numa casa a precisar de obras, Joana via possibilidades. Num dos muitos momentos que passava a con-templar a casa para perceber o que poderia transformar, concluiu que as fundações da casa estavam tortas. O veredicto não tardou a chegar e as sugestões do que fazer a seguir também não: deitar abaixo e construir de novo. A recusa da solução mais simples — e lá está aquela boa dose de bom senso e teimosia a dar os seus frutos — fez com que tivesse vivido largos meses em estado de sítio, sem sala ou cozinha. O lema da Joana — e do seu namora-do que, apesar de não ser o protagonista desta história, também desempenhou um papel fun-damental na evolução da casa — é ir fazendo as coisas à medida que têm tempo e dinheiro. Este mês podemos pôr janelas? Então fazemos isso. Para o próximo logo se vê. A decoração consciente da casa nasceu assim, sempre com um propósito, daquilo que fazia

falta, que era útil, e nunca pela frivolidade do que está na moda ou do que poderia ficar bem.

Chegada ao jardim que precede a entrada prin-cipal, a Joana mostra-me o seu pequeno (tendo em conta as obras estruturais que a casa sofreu) monte de lixo, aquele que já não pode ser reaproveitado de nenhuma forma. Mais à frente, temos a sua mesa de trabalho — uma porta montada em cima de dois cavaletes — e um andaime com um novo propósito: servir de arrumação para todos os restos de madeira das paredes e vigas da casa que tiveram de ser substituídos e que estão à espera de uma nova vida. Com estas tábuas, já construiu um sofá para o jardim (foto na página seguinte) e, com as sobras do chão do anexo, um pequeno armário que funciona como casa para o gás. A mesa da sala é feita de paletes e muita da decoração é em segunda mão ou veio da casa de familiares — especialmente dos avós.

Exemplo de sebe morta | © Joaquim Dantas

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O sentido crítico e a vontade de construir coisas e de ver como elas funcionam estão com a Joana desde sempre. Pode ter começa-do quando a avó a ensinou a fazer bordado e aumentado quando se tornou cientista, mas uma coisa é certa: veio para ficar e a tendência é continuar a aumentar.

A Joana dá uma nova vida ao que muitos considerariam lixo — e que não demorariam dois segundos a descartar — e mostra-nos que é possível pensarmos de forma sustentável quando estamos a construir ou a remodelar uma casa. Mostra-se peremptória quando afirma que estas opções não são apenas «para quem pode». Tem apenas de existir alguma flexibilidade e não ter pressa ou prazo para terminar a empreitada. Estas preocupações fazem parte de si e de valores maiores: a

sustentabilidade sempre fez parte da sua vida e não concebe viver de outra forma. As compras a granel são uma constante, o desperdício é quase nulo e a consciência ambiental não para de aumentar. Inspira sem pretensa e sem julgamento e chegou para ficar.

Para os próximos tempos, já existe um casamento sustentável a caminho e outras mudanças e projetos dos quais ainda não posso falar — mas garanto: não vão querer perder pitada das aventuras da nossa mestre de obras preferida!

Podem seguir o trabalho da Joana em:

www.instagram.com/johannabianchi/

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D ois anos, vinte e quatro meses, cento e quatro semanas e mais de setecentos e trinta dias ao vosso lado. Foram mais minutos do que

aqueles que podem ser contados, o equivalente a umas três ou quatro vidas condensadas em dois anos. Dos mais felizes e mais extenuan-tes, dos «vamos mudar o mundo» ao «ninguém quer ler o que temos para dizer». Foram altos e baixos e, apesar de desejar po-der dizer que foram mais os «altos», e que os «baixos» não deixaram muita mossa, a verdade é que não foi bem isto que se passou.

Trazer-vos a Raízes Mag de dois em dois meses tem sido um privilégio e uma aprendiza-gem constante. Comunicar o ambiente de forma simples, mas sem ser simplista, não mostrar apenas os problemas, mas apostar na apresentação das soluções, tem sido o nosso apanágio desde o primeiro dia. Ao longo de

treze edições, já falámos de coisas tão vastas como o minimalismo, consumo consciente, moda sustentável, alterações climáticas, ensino alternativo, desenvolvimento sustentável… E contámos com artigos incríveis, altamente infor-mativos, escritos por pessoas que admiramos muito! Quem se lembra de ler sobre os proble-mas dos pacotes de turismo «tudo incluído» com a Joana Guerra Tadeu, na revista n.º 4? Ou aprender a fazer uma limpeza de praia com a Straw Patrol, na revista n.º 3? Pelas mãos da ANP/WWF Portugal chegaram-nos dois artigos que deveriam ser de leitura obrigatória: um so-bre os oceanos, e sobre o poder das nossas escolhas na sua proteção, na revista n.º 5, e outro sobre os cavalos que também andam à solta no nosso mar, na revista n.º 9. E já que estamos a falar sobre o mar… então e o artigo de Sónia Sousa Ell, sobre os mais te-midos do oceano, que nos mostrou que, afinal,

por Leila Teixeira, Raízes Mag

JÁ SÃO DOIS ANOS DE RAÍZES MAG

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são os tubarões que deveriam ter medo de nós e não o contrário?

Com a Ana Milhazes aprendemos a fazer detergentes ecológicos na revista n.º 3 e com Pedro Neto, da Amnistia Internacional, ficámos a perceber que o Ambiente e os Direitos Humanos são como uma árvore e as suas raízes (revista n.º 5). Com Marco Fernandes conhecemos os trilhos mais bonitos de Portugal e arredores e, na nossa rubrica de culinária, aprendemos a fazer receitas simples, deliciosas e sempre sem crueldade animal. Que mais podemos querer?

Mas o melhor de tudo, é mesmo a equipa

incrível que temos vindo a construir ao longo destes dois anos. Desde a Maria Campelo, que está connosco desde o primeiro momento com a sua rubrica «Conhecimento Natural», à Filipa Belo, que alinhou nestas maluquices há ainda pouco tempo, tomando conta da nossa rubrica de arte, Caleidoscópio.

Pelo meio, criámos um canal de YouTube onde podem espreitar as conversas inspiradoras que tive com muitas pessoas do bem (na fotomon-tagem abaixo podem ver quem foram alguns dos convidados) e uma breve passagem pelo formato podcast, onde também podem ouvir mais umas quantas conversas com raiz.

Greta Thunbger | Fonte: Vogue Alguns dos convidados do nosso canal de YouTube

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Através da Raízes, nasceu também o meu primeiro livro, «Defender o Futuro — Manual para o Cidadão Consciente», que é quase uma homenagem ao trabalho que vamos fazendo por aqui.

Ao final de dois anos, apesar do orgulho desmesurado que temos neste pequeno projeto, faltam-nos pernas para andar. O traba-lho nunca deixou de ser pro bono e, tendo em conta o tempo e dedicação que lhe queremos continuar a dar, é profundamente insustentável nos moldes em que se assenta atualmente (tendo por base a subscrição voluntária por parte dos leitores). Seguem-se alguns meses para repensar a estratégia, com a certeza de que no próximo número da revista já traremos novidades neste sentido!

Até lá, festejemos juntos este marco tão importante!

Um bem-haja a todos os que nos ajudam a tornar este projeto realidade (mesmo sem lhes podermos dar nada em troca a não ser um enorme carinho e admiração). Este número, e todos os outros, são também vossos.

UM OBRIGADA ESPECIAL AOS QUE FAZEM PARTE DA RAÍZES MAG;

→ Sara Matos, a nossa ninja da comunicação.

→ Maria Campelo, da rubrica «Conhecimento Natural».

→ Magda Ferro e Mónica Franco, da rubrica «De Pés Descalços».

→ Filipa Belo, que assumiu recentemente o compromisso de ficar à frente do nosso «Caleidoscópio».

→ Joaquim Dantas, que se ofereceu para nos ajudar e nunca mais o largamos.

→ Fernando Ferreira, o nosso eterno fotógrafo preferido, responsável pelas fotografias incríveis da rubrica «Fotografia de Natureza».

→ Ana Marta Ramos e Liuna Alves, que com olhos de águia fazem a revisão à revista.

→ Paula Cordeiro, que nos traz artigos que nos deixam sempre a pensar.

→ Marco Fernandes, que nos faz sonhar e querer partir à aventura.

→ Patrícia Esteves, que teve a ideia original para a revista.

→ Leila Teixeira, quem faz tudo acontecer, as mãos, a cabeça e a alma por trás da Raízes.

O nosso agradecimento também a todos os outros que pontualmente colaboram connosco! Muito obrigada! Nada disto seria possível sem o vosso apoio e dedicação! E aos nossos que-ridos leitores, vai o nosso maior agradecimento de todos! OBRIGADA!

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9 DOS 12 NÚMEROS DA RAÍZES MAG JÁ EDITADOS

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FOTOGRAFIA DE NATUREZA por Fernando Ferreira

para seguir em Facebook | Instagram | YouTube

Formiga-leão

Nome científico: Creoleon lugdunensis (Villers, 1789)

Nome comum: Formiga-leão Família: Myrmeleontidae

HABITAT E ECOLOGIA

O nome deste inseto deve-se ao facto de as suas larvas serem predadores temíveis, provi-das de longas mandíbulas, que se enterram no solo e onde constroem galerias onde fazem emboscadas às suas presas, maioritariamente formigas.

Já como adulto, este inseto não se assemelha nem um bocadinho aos animais que determina-ram o seu nome, muito pelo contrário, mais parece ser uma libélula.

Possui antenas filiformes e dois pares de asas, que em repouso, cobrem o corpo.

Voa apenas ao anoitecer ou à noite.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

NE — Não Avaliado

Referências Bibliográficas:

http://momentosdenatureza.web.ua.pt/

Fernando Ferreira

A nossa rubrica «Fotografia de Natureza» é da autoria de Fernando Ferreira. Pode seguir o seu trabalho através dos seguintes locais:

Facebook | Instagram | YouTube

Para questões sobre o seu trabalho, ajuda na iden-tificação de alguma espécie, ou caso pretendam apoiar o seu projeto (todo o trabalho do Fernando é voluntário), podem utilizar o seguinte e-mail: [email protected]

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Formiga-leão Creoleon lugdunensis

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DOIS A DOIS

Neste número vou começar o meu artigo de uma forma diferente, para desejar os parabéns à nossa querida Leila, por dois anos deste projeto incrível que é a Raízes Mag. É um gosto e um orgulho poder colaborar nela contigo.

Se chegaram até aqui, já devem ter percebido que o tema principal deste número é o «ativismo». Talvez, e muito provavelmente, por ser bióloga, não descurando nem esquecendo as suas outras formas, penso automaticamente no ativismo sobre causas ecológicas, sobrevi-vência de espécies e de bem-estar animal. A verdade é que não vivemos sozinhos neste planeta, nem enquanto indivíduos humanos nem enquanto espécie. Outra, é que todas as nossas ações têm consequências para um grande conjunto de outras espécies, se não mesmo todas.

Ora, se por vezes esta ligação interespecífica é invisível, outras ocasiões existem em que não poderia saltar mais aos olhos! E assim introduzo o meu tema para esta 13ª coluna: as simbioses!

O QUE SÃO AS SIMBIOSES

Uma simbiose, é uma relação entre dois indiví-duos de espécies diferentes, da qual, pelo menos um dos indivíduos retira algum benefício.

Existem simbioses obrigatórias, nas quais os indivíduos dependem um do outro para sobrevi-ver; outras são facultativas, onde nenhum indivíduo depende dela para sobreviver, mas, por ser benéfica, a relação é mantida.

MUTUALISMO

Neste tipo de simbiose ambos os indivíduos ganham com a relação. Quando facultativa, pode chamar-se também de protocooperação.

Um exemplo é o dos polinizadores. As abelhas, por exemplo, alimentam-se do néctar produzido por certas flores e recolhem o seu pólen para fazer mel. Enquanto andam de flor em flor para o fazer, inevitavelmente o pólen colhido numa flor vai tocar na flor seguinte, que será da mesma espécie, e por aí fora, polinizando as flores e permitindo às plantas reproduzirem-se.

Outro exemplo muito conhecido é o dos líque-nes, em que dois organismos vivem numa relação obrigatória, praticamente formando um organismo único. Na verdade, há quem defenda que o são. Estes podem ser uma associação entre fungos e algas, no caso dos líquenes ver-des, porque as algas fazem fotossíntese, logo têm cloroplastos que as tornam verdes; a outra opção é a associação entre fungos e arqueas, no caso dos líquenes laranja ou negros. O fungo protege, fornece a humidade e sais minerais necessários à sobrevivência da alga ou da arquea, ou seja, um ambiente em que esta possa sobreviver. A alga produz o carbono,

CONHECIMENTO NATURAL por Maria Campelo, Tutisfore

Líquenes | Exemplo de simbiose por mutualismo

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enquanto a arquea produz nitrogénio, que alimentam o fungo.

Um outro exemplo de protocooperação é o das vacas e das garças boiadeiras. As vacas têm muitas vezes inúmeros parasitas na pele. As garças comem estes parasitas, aliviando o desconforto das vacas.

Outro exemplo é o do caranguejo-eremita e das anémonas. Os caranguejos-ermitas são uma espécie que tem a zona ventral com um exoes-queleto frágil, pelo que precisa de proteção, metendo-se muitas vezes dentro de conchas. Por vezes, em vez das conchas, colocam por cima dessa zona frágil uma anémona, que se agarra e cresce ali. O caranguejo está protegido de predadores devido às células urticantes da anémona. Para se alimentarem, as anémonas, que vivem fixas a um ponto, limitam-se a esperar que uma presa passe perto dos seus tentáculos para a capturar. Elas beneficiam desta relação com o caranguejo porque passam a estar fixas a um ponto móvel, aumentando assim em muito a probabilidade de capturarem alimento.

COMENSALISMO

Neste tipo de simbiose, um dos indivíduos ganha com a relação, sem causar nenhum benefício nem prejuízo para o outro.

Dois exemplos de comensalismo envolvem tubarões, sendo que esta é a espécie que não é prejudicada nem beneficiada, limitando-se a fazer a sua vida normal. É frequente ver junto aos tubarões pequenos cardumes de uns peixes relativamente pequenos, brancos e pretos às riscas, chamados peixe-piloto. É também frequente ver agarrados à parte ventral dos

tubarões, uns peixes cinzentos, que se agarram com uma ventosa que têm no cimo da cabeça. Estes são as rémoras. Tantos os peixes-piloto como as rémoras estão protegidos de predado-res pela presença do tubarão e conseguem alimentar-se dos restos quando o tubarão se alimenta.

PARASITISMO

Neste tipo de simbiose um dos indivíduos ganha com a relação, mas o outro fica a perder. Este tipo de simbiose é negativa, causando algum tipo de dano para um dos indivíduos.

As cochonilhas, por exemplo, são parasitas de plantas, levando-as à morte. Muitos fungos são parasitas de plantas e de animais, assim como muitos insetos ou nematodes podem ser parasi-tas de plantas. Um exemplo deste último é a filoxera, que parasitas as vinhas.

Tubarão e rémora | Exemplo de simbiose por comensalismo

Conhecimento Natural é uma rubrica de educação e sensibilização ambiental. Se gostaria de ver aqui abordado algum tema em particular, envie-nos um e-mail para [email protected]

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SIMBIOSES COM HUMANOS

Enquanto humanos, vivemos com diversos outros organismos dentro e sobre nós. Pode parecer estranho pensar nisto, mas a verdade é que, em muitos destes casos, estamos na verdade dependentes destes outros organis-mos! Temos, em nós, mutualismos obrigatórios e comensalismos a todo o momento. Mas podemos também, muitas vezes, ter parasitas.

Um exemplo de mutualismo é a relação que existe entre nós e as bactérias que formam a nossa flora intestinal, sem as quais não conseguiríamos fazer a digestão ou absorção apropriada de certos alimentos. Estas bactérias também nos ajudam a manter o intestino saudável e a produzir algumas vitaminas. Elas beneficiam porque têm o ecossistema ideal para sobreviver e alimentam-se dos nossos alimentos.

Um exemplo de comensalismo são os Demo-dex, um género de ácaros microscópicos que, sem nos causar nenhum mal, vivem nos poros e raízes dos pelos da nossa cara! Podemos ter até dois por cílio! Eles nascem, acasalam, vivem e morrem na nossa cara, e alimentam-se da nossa pele morta.

Um exemplo óbvio de parasitismo em humanos são as lombrigas, vermes que se instalam nos intestinos para se alimentaram e acabam por nos causar doenças. Outro são os vírus que se aproveitam de certas espécies de mosquitos para entrar na nossa corrente sanguínea, podendo levar a doenças bastante graves.

Nada na natureza existe em isolamento e muitas destas simbioses são mesmo fundamen-tais para a adaptação e sobrevivência das espécies .

Maria Campelo Tutisfore

Em latim, tutis significa «proteger» e fore significa «futuro». A Tutisfore é uma empresa de Conserva-ção da Natureza e Sensibilização Ambiental, pelo amor e admiração pela natureza, com toda a sua força e fragilidade, e porque a responsabilidade de a proteger e conservar cabe a todos nós.

A cara por trás da Tutisfore é a Maria, licenciada em Biologia e mestre em Ecologia e Gestão Ambiental. Ninguém melhor do que ela para nos mostrar as pe-quenas subtilezas da natureza!

Na Tutisfore, a Maria dá workshops em variadas temáticas, mas sempre assentes em valores ecológi-cos, de sustentabilidade e de exploração consciente dos recursos naturais. Promove ainda diversas ativi-dades de educação ambiental para crianças e facilita expedições na natureza, para que todos possam conhecer de forma profunda as nossas montanhas, serras, florestas, vales, rios, mares, fauna e flora.

Para acompanharem o trabalho da Maria, sigam a Tutisfore em:

Website: www.tutisfore.com Instagram: @tutisfore Facebook: www.facebook.com/Tutisfore

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Fiquei a conhecer este conceito quando vi o fil-me «A Fábrica de Nada». Alguém também viu?

A autogestão é um modelo no qual os trabalha-dores asseguram, eles próprios ou através de representantes, a gestão de uma empresa ou instituição. Os trabalhadores decidem sobre os meios de produção e sobre os resultados finais da produção. A autogestão preconiza a não existência de um patrão.

Para além das empresas, este modelo pode ser aplicado também a comunidades locais ou mesmo a escolas.

As cooperativas são também um exemplo de autogestão, sempre que os trabalhadores tomam decisões de gestão e sobre a forma como a riqueza gerada é aplicada.

Depois do 25 de abril de 1974, surgiram em Portugal centenas de empresas que entraram

em autogestão, principalmente no setor fabril, face ao desemprego e à fuga dos patrões.

O filme «A Fábrica de Nada» foi inspirado no que aconteceu à empresa Otis, que a partir de 1975 e até 2016 deu lugar à Fateleva, gerida pelos próprios trabalhadores.

Em 1975, a administração americana que controlava a produção dos elevadores saiu e os trabalhadores compraram a fábrica por 1 dólar.

Acabou por fechar em 2016, mas terá sido a fábrica em autogestão que mais tempo durou em Portugal.

O que vos parece este conceito? Em que tipo de projetos poderia funcionar? Enviem-nos as vossas ideias ou sugestões para [email protected]

AUTOGESTÃO

Já alguém ouviu falar neste conceito?

por Patrícia Esteves, UniPlanet e Raízes Mag

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RETRATO DO TAGIS

CENTRO DE CONSERVAÇÃO DAS

BORBOLETAS DE PORTUGAL

16 ANOS A CONSERVAR E A DIVULGAR

BORBOLETAS E OUTROS INSETOS DE

PORTUGAL

As borboletas e as traças são insetos perten-centes à Ordem Lepidoptera, que se reconhe-cem bem pelas suas grandes asas membrano-sas cobertas de escamas que formam desenhos coloridos e variados. As borboletas são, talvez, juntamente com a abelha-do-mel, os insetos mais bem conhecidos e queridos das pessoas. São também bioindicadores da diversidade de outros insetos e do estado de conservação dos

habitats naturais, e excelentes embaixadores destes organismos em atividades de educação ambiental e de divulgação junto do público.

Ainda assim, não havia, até ao início do século XXI, nenhum grupo dedicado ao seu estudo em Portugal. Apenas em Março de 2004 se fundou o Tagis — Centro de Conservação das Borbole-tas de Portugal, uma Organização Não Gover-namental de Ambiente sem fins lucrativos com os principais objetivos de contribuir para a investigação científica, a conservação e a divulgação das borboletas e traças de Portugal e seus habitats naturais. Dada a grande relação entre as borboletas e os outros insetos, e porque não conseguimos deixar de reparar neles quando andamos no campo, não passou muito tempo até alargarmos a nossa área de interesse a outros grupos. Primeiro foram as

PEGADAS SELVAGENS por Eva Monteiro, Patrícia Garcia Pereira e Renata Santos

Phengaris alcon Borbo le ta -azu l -das-turfeiras, espécie quase ameaçada na Europa e com populações muito localizadas nas serras do Norte, em Portugal. A sua conservação depen-de da existência de la-meiros bem conserva-dos, onde ocorram a sua planta-hospedeira, a genc i ana -dos-paú i s (Gentiana pneumonan-the), mas também formi-gas do género Myrmica, que adotam e alimentam as lagartas durante os rigorosos invernos. Veja o documentário a «A flor, a formiga e a borboleta ameaçada» disponível no YouTube.

© Albano Soares EBIO Campo Benfeito

29-07-2012

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Pegadas Selvagens é uma rubrica sobre associações de defesa da vida selvagem em Portugal Se gostaria de ver aqui o seu projeto, envie-nos um e-mail para [email protected]

libélulas e libelinhas, depois os gafanhotos e grilos, os escaravelhos e as abelhas...

O Tagis tem procurado estabelecer uma ponte entre a investigação científica e a sociedade, contribuindo para o avanço do conhecimento, ao mesmo tempo que privilegia o contacto próximo com o público através de uma forte componente de educação e sensibilização ambiental. Ao longo dos nossos 16 anos de atividade, desenvolvemos vários estudos cientí-ficos, participámos em projetos de conservação, realizámos inúmeras atividades, exposições e materiais didáticos para todos os públicos, sem-pre em parceria com várias entidades de norte a sul do país e contando com o financiamento de municípios, empresas, fundos nacionais e europeus.

ESTUDOS CIENTÍFICOS E PROJE-

TOS DE CONSERVAÇÃO

A formação deste polo de investigação especia-lizado na Biologia da Conservação das Borbole-tas Portuguesas foi uma iniciativa inovadora ao nível da Península Ibérica. Tendo em conside-ração a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade, e procurando aplicar as suas orientações fundamentais ao grupo dos insetos, temos vindo a realizar vários estudos pioneiros em conservação destes invertebrados em Portugal. Na área da conservação, destaca-mos a participação no projeto Proteger é Conhecer, realizado em parceria com a Câmara Municipal de Vila Real, onde colaborámos no estudo e delineação do plano de conservação da borboleta-azul-das-turfeiras (Phegaris alcon), uma espécie rara e emblemática pela sua ecologia, que vive nos lameiros da Serra do

Alvão e cuja conservação depende de um deli-cado equilíbrio ecológico.

Outra contribuição importante para a conserva-ção de insetos, é a participação na elaboração de listas vermelhas de diferentes grupos. Em 2013, participámos na avaliação do estado de conservação das borboletas da região mediter-rânica. Atualmente, somos parceiros na elabo-ração da Lista Vermelha de Grupos de Inverte-brados Terrestres e de Água Doce de Portugal Continental. (www.lvinvertebrados.pt). Como coordenadores executivos do grupo dos insetos, tivemos a oportunidade de amostrar os 62 Sítios de Importância Comunitária de Portugal Continental, num total de 200 pontos, num trabalho inédito em esforço e diversidade de técnicas, grupos alvo de insetos amostrados, e na espetacular equipa de entomólogos reunida, nunca antes vista no nosso país. Tendo em conta a enorme quantidade de informação que este projeto nos permitiu obter, estamos seguros que os seus frutos para o conhecimen-to e estabelecimento de uma situação de referência sobre os insetos de Portugal se vão prolongar muito para além da publicação da Livro Vermelho em 2021.

Lachnaia variolosa Lachnaia variolosa nova espécie de escaravelho descoberta para Portugal, em 2018, na Estação da Biodiversidade do Alvor.

© Albano Soares | EBIO Alvor

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Todo este intenso trabalho de monitorização e inventariação possibilitou-nos caracterizar comunidades e detetar tendências populacio-nais, especialmente de borboletas e libélulas em locais do país onde fizemos estudos mais prolongados no tempo, como o estudo das comunidades de libélulas do rio Paiva e na ribeira do Torgal, ou a inventariação de insetos e monitorização de borboletas diurnas nas serras de Arga, Montemuro e Alvão. Tivemos ainda a oportunidade de descobrir algumas espécies novas para o nosso território, como o curioso escaravelho Lachnaia variolosa encon-trado em 2018 na Estação da Biodiversidade de Alvor, ou as novas abelhas, traças e moscas descobertas durante o trabalho de campo da Lista Vermelha de Invertebrados.

LEVANDO AS BORBOLETAS E OS

INSETOS A TODO O LADO

A nossa primeira grande aventura na aproxima-ção das borboletas ao público foi o Lagartagis, a primeira estufa de borboletas autóctones da Península Ibérica e um espaço onde estes inse-tos pousavam literalmente nos visitantes mais afortunados. O Lagartagis abriu as portas em 2006, no Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, e foi um enorme sucesso. Além das visitas guiadas, onde se dava a conhecer a diversidade das borboletas em todas as fases do ciclo de vida e as suas plan-tas hospedei-r a s , f o r am também conce-bidos ateliers

pedagógicos dirigidos a crianças e jovens em idade escolar.

Mas aventurámo-nos também na realização de exposições científicas, como a exposição «Borboletas Através do Tempo», que inaugurou em 2007 no Museu Nacional de História Natural, ou a exposição «Insetos em Ordem», em exibição desde 2010, e que mereceu uma crítica na conceituada revista Science. Com esta exposição, levámos verdadeiramente os insetos a todo o país, num total de 18 cidades, incluindo no arquipélago dos Açores, tendo recebido mais de 60 000 visitantes. Associa-das ao conceito dos Insetos em Ordem, foram ainda promovidas outras iniciativas de educação ambiental e divulgação, como a produção de uma miniexposição para ser exibida em locais mais pequenos, o jogo de tabuleiro «Insetos em Ordem», ou o programa educativo «Dia dos Insetos em Ordem», dirigido a alunos do ensino básico e com uma forte componente prática ao ar livre.

A Rede de Estações da Biodiversidade é o outro projeto de divulgação científica de longa duração da associação. Iniciado em 2009, este projeto de ciência cidadã conta atualmente com 46 percursos pedestres abertos ao público com painéis de informação, especialmente

Exposição «Insetos em Ordem», uma chave dicotómica construída no espaço que oferece aos visitan-tes a experiência do processo de identificação biológica de insetos até à Ordem. A versão «mini» pode ser visitada até dia 30 de outubro no Parque Ambiental de Santa Margarida, Constância.

© Rita Correia

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adequados para a observação, inventariação e monitorização da biodiversidade pelos seus visitantes. Os principais objetivos são aumentar o conhecimento sobre biodiversidade, contribuir para a valorização do património natural, mas, especialmente, promover a participação dos cidadãos no inventário da fauna e flora portuguesas.

No ano passado, lançámos os «Censos de Borboletas de Portugal», um novo projeto de ciência cidadã integrado no Plano Europeu de Monitorização de Borboletas. Pede-se a colabo-ração dos cidadãos na contagem regular de borboletas diurnas em percursos fixos, ou transectos, seguindo uma metodologia padroni-zada que é usada em toda a Europa. O objetivo é criar uma rede europeia de monitorização de borboletas para desenvolver indicadores que informem a União Europeia sobre a eficácia das políticas de biodiversidade e uso dos solos, e avaliem a saúde dos habitats naturais e dos polinizadores europeus.

Por último, e porque a informação publicada sobre insetos portugueses é quase inexistente, temos apostado na elaboração de guias de campo como o «Guia de campo do Dia B» (2010), «As Libélulas de Portugal» (2013), «Guia de plantas e insetos das Estações da Biodiversidade de Mértola» (2018), «Guia de campo Praia Fluvial do Malhadal e Ribeira de Isna» (2018) e «Guia das borboletas comuns de Portugal Continental» (2019).

Olhando para trás, e correndo o risco de sermos suspeitos por advogar em causa própria, parece que podemos dizer que o cami-nho percorrido foi longo e trabalhoso, mas que valeu a pena, porque de facto contribuímos para pôr as borboletas e outros insetos no mapa da biodiversidade portuguesa, que cada vez mais gente de todas as idades reconhece e aprecia.

Nada disto seria possível sem uma «grande» equipa, muitas parcerias e o apoio dos sócios e de muitos cidadãos interessados, que também participam na monitorização e inventariação da biodiversidade. Atualmente os principais parcei-ros são a Câmara Municipal de Avis e o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Visite www.tagis.pt para saber mais sobre todos os nossos projetos e como fazer-se sócio.

Siga-nos no Facebook em : facebook.com/TAGIS-Centro-de-Conservação-das-Borboletas-de-Portugal e facebook.com/EstacoesDaBiodiversidade.

Mapa da rede de Estações da Biodiversidade e Biospots São já 46 os locais abertos ao público que integram a Rede de Estações da Biodiversidade e Biospots, estando previstas mais inaugurações para breve. Desde o início do projeto, foram regista-das mais de 1000 espécies de insetos e realizadas muitas visitas guiadas, onde o contacto próximo com borboletas e outros insetos foi proporcionado a milhares de pessoas.

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FÉRIAS CÁ DENTRO

Este foi um tempo de férias diferente. Não vive-mos em pleno essa sensação maravilhosa de nos entregarmos aos dias que passam devagar e que aproveitamos ao máximo. Foram umas férias assombradas pelo medo e pela insegu-rança. Contudo, os constrangimentos deste tempo também revelam oportunidades. Como aquela que nos faz olhar para dentro. De nós, dos outros, do país onde vivemos.

As limitações de viajar para o estrangeiro leva-ram muitas famílias a ficar e a descobrir o seu jardim à beira-mar plantado. As redes sociais

encheram-se do verde das paisagens desbrava-das por estes novos descobridores. Rios, montanhas, serras e lagos, parques naturais e praias fluviais inundaram-nos por dentro e a natureza, em todo o seu esplendor, deslum-brou-nos. Afinal estava tudo aqui tão perto.

Valorizarmos o melhor que temos passa neces-sariamente pela experiência de o vivermos, provarmos, sentirmos. Desencadeamos uma ligação emocional perdida e profunda e relem-bramo-nos que somos todos (afinal) esta nossa maravilhosa natureza.

DE PÉS DESCALÇOS por Associação Ambiental Movimento Bloom

Por esses caminhos fora, cheios de surpresas, há tanto por descobrir! Aqui fica uma forma simples e divertida de levar as crianças (e os adultos também) a explorarem o mundo natural à sua volta.

(Copiar, levar e usar vezes sem conta)

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RAÍZES VIVAS ● SABORES DA NATUREZA por Catarina Sequeira , ZenCook®

Olá, o meu nome é Ana Catarina Sequeira, sou nutricionista certificada e membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas 4381N.

Sou apaixonada pelo poder que a alimentação e nutrição têm no nosso corpo, mente, saúde, bem-estar, emoções, humor, equilíbrio, concentração... A minha abordagem é única, desenvolvida por mim e resultado da minha educação, evidência científica e experiência. O que faço é nutrição integrativa, onde vejo cada indivíduo como único que é, com necessidades específicas para cada exato momento de vida, e com grande foco na educação alimentar para empoderar a pessoa e a tornar autónoma, capaz de fazer as melhores escolhas alimenta-res e de nutrição para si, em qualquer momen-to e circunstância.

As minhas consultas são uma jornada de auto-conhecimento, onde a pessoa vai apren-der mais sobre si, sobre o seu corpo e sobre como pode melhorá-lo em várias áreas: corpo, mente, saúde, bem-estar, emoções, humor, equilíbrio, concentração, ...

Para mim, a nutrição é muito mais do que aquilo que comemos: é também como comemos, o que pensamos (o nosso diálogo interno) e como nos sentimos / como nos permitimos sentir, e expressar as emoções. É como nos nutrimos.

A minha formação é vasta: além de licenciada em Ciências da Nutrição, sou licenciada também em Ciências da Saúde e fiz vários cursos de macrobiótica, alimentação vegan e vegetariana, dietética chinesa, alimentação

mediterrânea, alimentação paleo, nutrição funcional e plantas medicinais.

Em 2014, fundei a marca ZenCook® e com ela viajei o mundo, off-line e online.

De momento estou a realizar consultas online, tanto em português como em inglês.

Para saber mais do meu trabalho, consulte:

Instagram: @zencook.anacatarinasequeira Facebook: facebook.com/zencookr Website: www.zencook.pt E-mail: [email protected]

Aceda, nas próximas páginas, às receitas deliciosas e com sabor a festa que a Catarina preparou para este nosso 13.º número da Raízes Mag.

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HUMMUS DE GRÃO-DE-BICO

INGREDIENTES

- 520 g de grão cozido (equivalente a uma lata Compal ou outra de grão-de-bico, peso escorri-do)

- 1 dente de alho

- Sumo de limão (menos de ½ limão)

- Pitada de sal

- Pitada de curcuma

- Pitada de pimenta preta

- ½ mão de coentros frescos

- 1 c. chá de tahini (manteiga de sésamo) —opcional

MODO DE PREPARAÇÃO

Colocar todos os ingredientes num processador de alimentos e triturar tudo. Bom apetite!

SALADA DE QUINOA, BETERRABA

E CENOURA

INGREDIENTES

- 1 chávena de quinoa

- 2 cenouras cruas

- 1 beterraba crua

- 1 folha de louro

- Sal, orégãos

- Sumo de ½ limão ou vinagre (sem caramelo)

- Azeite

MODO DE PREPARAÇÃO

Lavar bem a quinoa, esfregando bem os grãos. Descartar essa água. Colocar a quinoa numa panela com o dobro da água, uma pitada de sal e uma folha de louro. Deixar cozinhar por cerca de 15 minutos (ou até os grãos da quinoa ficarem semi-transparentes).

Reservar e deixar arrefecer (escorrer a água se necessário).

À parte, ralar (ou triturar num processador de cozinha) a beterra-ba descascada e as cenouras descascadas. Juntá-las à quinoa (quando esta estiver arrefecida) e envolver bem. Temperar com sal marinho, azeite virgem extra, orégãos, sumo de limão ou vinagre. Envolver bem, provar para verificar o tempero e... desfrutar!

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SALADA DE QUINOA,

BETERRABA E CENOURA

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GUACAMOLE

INGREDIENTES

- 1 abacate maduro

- 4 tomates cherry ou 1 tomate normal

- Mão cheia de coentros frescos

- 1 c. sobremesa de sumo de limão

- Pitada de sal e de pimenta

MODO DE PREPARAÇÃO

Esmagar com um garfo o abacate. Cortar em 4 os tomates cherry. Picar os coentros.

Juntar todos estes ingredientes e envolver. Temperar com o sumo de limão, sal e pimenta.

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PANQUECAS VEGAN

INGREDIENTES

- 1 chávena de flocos de aveia

- 1 chávena de bebida vegetal (por exemplo, bebida de arroz e côco)

- 1 banana (opcional)

- 1 c. chá de bicarbonato de sódio

- 1 c. chá de canela

- 1 c. sopa de sementes de linhaça moída

- Pitada de baunilha

- Óleo de côco para untar

TOPPING (opcional)

- Puré de maça e canela

- Abacate

- Creme de avelã e cacau

MODO DE PREPARAÇÃO

Juntar todos os ingredientes num processador de alimentos e triturar.

Levar uma frigideira ao lume com ½ colher chá de óleo de coco e deixar aquecer. Quando esti-ver bem quente, adicione o preparado (uma concha de sopa por panqueca). Verifique se está douradinha por baixo da panqueca e, quando estiver, vire e frite do outro lado até dourar.

Sirva simples (de-li-ci-o-sa!) ou polvilhada com canela ou puré de maçã, ou mesmo outro topping a gosto. Desfrute!

Variações

Experimente colocar na massa da panqueca pedaços de maçã, de frutos vermelhos, ou

pepitas de chocolate... depois, envolva e leve a massa, às colheradas, ao lume... é simples-mente divinal!

CREME DE AVELÃ E CACAU

INGREDIENTES

- 1 chávena de avelãs

- 1-2 c. sopa de cacau

- 1-2 c. sopa de agave

MODO DE PREPARAÇÃO

Triturar tudo no processador de alimentos até ficar com a consistência pretendida.

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DOCUMENTÁRIO

EU, MALALA

Título original: He Named Me Malala Realização: Davis Guggenheim Data de lançamento: 2015 | 88 min

Do realizador Davis Guggenheim, Vencedor de um Óscar da Academia - Melhor Filme Docu-mentário — Uma Verdade Inconveniente, chega este altamente inspirador e profundamente comovente documentário sobre a coragem,

sobrevivência e capacitação.

Eu, Malala, conta a história notável e verídica da adolescente Malala Yousafzai, que foi atacada com um tiro à queima-roupa, por um grupo de atiradores Talibans, por defender o direito das raparigas à educação. Ao invés de se manter no silêncio, Malala emergiu como a voz global dos direitos à educação de todas as crianças e, em 2014, tornou-se a mais jovem de sempre a ser condecorada com o Prémio Nobel da Paz.

PARA ENRAIZAR

O tema do ativismo dá pano para mangas, por isso decidimos sugerir um documentário que serve também de inspiração: «Eu, Malala». Do lado dos livros, continuamos a dar destaque à ação dos jovens, com «A Nossa Casa Está a Arder», de Greta Thunberg. Os mais novos, ficam com um livro bastante elucidativo sobre o papel dos animais na nossa sociedade atual. A não perder!

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LIVRO

A NOSSA CASA ESTÁ A ARDER

Greta Thunberg Editora: Editorial Pre-sença Edição: 09-2019

A nossa luta contra as alterações climáticas

A greve à escola pelo clima levada a cabo por uma estudante adolescente em frente

do Parlamento sueco tornou-se uma mensagem global que inspirou centenas de milhares de jo-vens de todo o mundo a seguir o seu exemplo no âmbito dos #fridaysforfuture.

Greta iniciou uma revolução que parece desti-nada a não parar, uma batalha travada em prol de um futuro sonegado às novas gerações ao ritmo vertiginoso de 100 milhões de barris de petróleo consumidos diariamente.

A Nossa Casa Está a Arder é a história de Greta, dos seus pais e de Beata, sua irmã, que, como ela, sofre de perturbações do espetro autista. É o relato de como uma família sueca decidiu confrontar-se com uma crise iminente que afeta o nosso planeta.

É uma tomada de consciência de que é urgente agir agora, quando nove milhões de pessoas morrem anualmente por causa da poluição. É um grito de socorro de uma rapariga que convenceu a própria família a mudar de vida e que agora procura convencer o mundo inteiro a fazer o mesmo.

LIVRO INFANTIL

O PROTESTO

Eduarda Lima Editora: Orfeu Negro Edição: 05-2020

Os pássaros deixaram de cantar.

Os gatos já não mia-vam.

E as vacas recusavam-se a dar leite.

Os animais pareciam ter feito um pacto... O Protesto é um grito silencioso. Dos minúscu-los insetos aos animais de estimação lá de ca-sa, da floresta virgem ao rio da nossa cidade, o silêncio ecoa por todo o lado.

Conseguem ouvir?

Esta é uma história sobre o impacto da ação humana no ambiente e um apelo para nos unir-mos hoje, em nome da biodiversidade e de um planeta mais sustentável.

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DE VOLTA A

CASAL DE SÃO SIMÃO

Por estes dias, muitos portugueses lançaram-se à redescoberta do interior de Portugal. Talvez em busca de uma sensação de maior seguran-ça, talvez para evitar multidões, ou talvez, por terem finalmente a perfeita desculpa para não mais adiar, o que há muito tinham vontade de fazer.

Em alguns casos, o motivo para este breve êxodo para o interior não será o mais «legítimo», mas o resultado final fará com que valha a pena. Descobrir esta alternativa ao turismo de massas vai fazer com que muitos turistas passem a considerar esta opção como válida, não só em época de pandemia, mas para férias futuras.

Dos inúmeros recantos à espera de serem descobertos, sobressaem as nossas magníficas aldeias de xisto. Talasnal, Gondramaz, Casal Novo, Candal, Chiqueiro, e tantas outras, são locais que valem mesmo a pena visitar, não por terem infindáveis actividades para distrair todo e qualquer visitante — mas por essa mesma razão. Permite-nos desligar e prestar atenção aos encantos da natureza. Somos transportados para um outro tempo, outro modo de viver. Com um bónus impagável: respira-se saúde.

Destas simpáticas aldeias, uma que me agradou particularmente foi o Casal de São Simão, a uns escassos 20 km de Pedrógão Grande, ou cerca de 40 km a

sul de Coimbra.

A forma mais rápida de lá chegar é aceder à A13. Depois, em Avelar, saímos para o IC8, e a partir daqui, faltará apenas aceder à M525 e fazer mais umas curvas e contracurvas, seguin-do as placas indicativas até à aldeia.

A ALDEIA DE SÃO SIMÃO

Esta aldeia, particularmente bem recuperada, a transbordar autenticidade, transporta-nos para outras épocas. Pasme-se o visitante: numa das habitações podemos ver a inscrição «1701» a assinalar a data de construção!

Tem uma só rua, porém as casas preenchem o espaço disponível de forma harmoniosa. Basta um breve olhar para perceber que não foi uma reconstrução ao estilo do «Querido mudei a casa». O que foi feito transmite a autenticidade de uma obra feita pelas mãos dos proprietários, de forma hábil, paciente e meticulosa.

As imitações irritantes não têm aqui lugar. As paredes são mesmo de pedra da região, o quartzito. As madeiras possantes, carregam as cicatrizes do tempo. Grandes videiras e roseiras

VAMOS PASSEAR por Marco Fernandes

o artigo foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico

Todas as fotos deste artigo são da autoria de Marco Fernandes ©

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escalam até aos telhados e sublinham o carácter rústico e hospitaleiro deste local.

Os seus troncos retorcidos, podiam muito bem servir de território para os temíveis felinos da aldeia emboscarem pequenos pardais ou lagar-tos. Mas não — ficar estendidos nas varandas soalheiras, a fazer pose para os turistas, parece ser ocupação para dias inteiros, sem tempo para muito mais…

Há uma capela e uma fonte. Uma eira e um forno. Há uma loja de artesanato com produtos regionais. Por cima da loja, um excelente restaurante, com uma vista inigualável — uma autêntica varanda, na qual podemos contemplar a aldeia e as serras que se perdem no horizon-te. E há uma vereda, que nos conduz à ribeira e à praia, bem lá em baixo, ladeadas pelas imponentes Fragas de São Simão — uns calhaus «XXL», que a passagem do tempo tão bem se encarregou de esculpir.

A aldeia, assente num dos maciços quartzíticos, acompanha lá do alto o percurso feito pela Ribeira de Alge, e só termina quando o declive começa a impor a sua lei.

PERCURSO PEDESTRE

PR1 FVN

Para ficar a conhecer a zona envolvente à aldeia, o melhor mesmo é darmos corda às sapatilhas e lançarmo-nos num percurso pedestre. O PR1 FVN cumpre o objectivo na perfeição. Além do mais, inclui agora um passadiço que ajuda a aceder a alguns locais que de outra forma seria quase impossível.

O percurso total, circular, cobre uma distância de aproximadamente 5 kms, e para uma cami-

nhada tranquila, é feito entre 2h30 e 3h00.

Ao deixarmos a aldeia em direcção à ribeira do Fato, vamos ser surpreendidos por pequenas quedas de água, mas o momento que vai surpreender, será o encontro com os densos arvoredos que guardam a zona ribeirinha. Os troncos estão cobertos de musgos e plantas trepadeiras; as copas formam um túnel verdejante ao longo das margens; as águas frescas reflectem toda esta palete de cores, e o silêncio, chama-nos.

Dá vontade de abandonar o trilho e seguir ribei-ra abaixo ao sabor da corrente, quais explora-dores excêntricos, no meio de florestas tropicais. Prossigo, mas tomo nota desta ideia tresloucada, para uma próxima visita.

De salientar que ao longo da ribeira de Alge e do Fato podemos ainda ver as levadas que, durante tanto tempo, abasteceram as azenhas e que ainda marcam presença ao longo do percurso.

Da distância total, teremos cerca de 2 km em que vamos calcar passadiços, com longas e impressionantes escadarias, quer seja para aceder à praia, ao miradouro, ou regressar à aldeia de forma mais directa. Facilmente queimamos umas centenas de calorias só de olhar para esta estrutura que serpenteia pelo terreno, moldando-se na perfeição aos obstáculos.

Vamos Passear é uma rubrica sobre os trilhos e locais visitados pelos nossos leitores. Se gostaria de ver aqui um trilho em específico, ou se gostaria de colaborar para esta rubrica, envie-nos pf. um e-mail para [email protected]

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Para quem preferir abreviar o percurso para cerca de metade da distância, pode fazê-lo, acedendo ao PR1.1. Neste caso, a partir da aldeia, numa caminhada tranquila, chegamos à praia em cerca de 15 minutos.

O percurso completo é considerado de dificulda-de baixa, mas, compreensivelmente, muitos caminhantes poderão ficar retidos na praia… Este é sempre um dilema complicado de solucionar: prosseguir, pelos zigues e pelos zagues do passadiço, contemplando as serras circundantes, a aldeia na outra margem e a paisagem que a abraça, ou ficar nestas águas cristalinas, com uma paisagem surreal. E só aqueles muito determinados (mesmo muito), conseguirão facilmente deixar a praia para trás…

AS FRAGAS E A PRAIA

A praia fluvial é pequena, simpática, irresistível. Conta com águas translúcidas, que mais pare-cem resultar do degelo de um glaciar. Bem fres-quinha!

Não posso negar. Sim, custa entrar nestas águas da Ribeira de Alge, que nasce a poucos quilómetros deste local, já ali, na incrível serra da Lousã, e, depois de percorrer bosques e vales, desagua pacificamente no rio Zêzere. Mas depois do choque térmico inicial, é uma experiência única, poder desfrutar destas águas tão límpidas, ladeadas pelas majestosas fragas — esculturas milenares —, um monumento geológico sempre inacabado.

O correr da ribeira compõe uma melodia relaxante — o canto da água, que cai pela represa mesmo à nossa frente, é acompanhado por um troar mais distante, para lá das fragas. Como se houvesse um turbilhão de águas bravias a esgueirarem-se por entre rochedos, mas, ao transpor as fragas, transformam-se nas águas tranquilas onde nos banhamos.

Quem se arriscar a um mergulho nas zonas mais profundas, junto às fragas, poderá constactar a incrível transparência destas águas. Mesmo aqui, é possível ver o fundo da ribeira com total nitidez. Tanto as rochas, polidas até à perfeição, como alguns peixes endémicos: enormes bacalhaus a nadar ribeira acima, gambas gorduchas e desajeitadas a lutar contra a corrente, polvos à lagareiro que procuram camuflagem nas rochas,…

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…ou então, a fome já me prega partidas e vejo a ementa de peixes do restaurante da aldeia. Pois — é bem capaz de ser isso. Mas antes de ir solucionar a questão gastronómica, antes de deixar esta praia tão peculiar, nascida entre bosque e rochedos, há que aproveitar ao máximo os últimos raios de sol, já que a exposição solar é encurtada pela sombra precoce — ou não estivéssemos num vale!

Ao regressar à aldeia, depois de tantos mo-mentos gravados na memória, estaremos bem mais receptivos a entrar na loja de artesanato e fazer despesa — seria imperdoável não levar connosco um simbólico pedacinho deste local.

Desengane-se quem achar que este é um programa para apenas um dia — nas proximi-dades, facilmente encontraremos várias razões para prolongar a visita: a imperdível Praia das Rocas, com ondas artificiais; as Fragas do Cercal; inúmeros percursos para fazer em caminhada ou BTT, que se estendem até ao

Zêzere, sem esquecer, que mesmo aqui ao lado, temos à nossa espera a imponente serra da Lousã, com tantos outros tesouros para descobrir.

ACERCA DOS IMPONENTES PASSADIÇOS...

Na data em que este artigo foi escrito, o acesso aos novíssimos e grandiosos passadiços ainda era gratuito. Portanto, só vantagens, certo? Nem por isso… Por poder comparar, o antes e o depois de várias obras semelhantes, noutras paragens de idêntico esplendor, leva-me a ter muitas reservas em relação à real mais-valia destas estruturas, para o ambiente.

Somos um povo que tende a desvalorizar o que é disponibilizado de forma gratuita. E onde antes haviam recantos impolutos, após a instalação de passadiços, ou estruturas equiva-lentes, foi com desalento que passei a encon-trar as inevitáveis pontas (e até maços) de cigarros, garrafas de plástico, copos de iogurte, sacos plásticos, embalagens, fraldas (!) e muitos, muitos outros artigos, que os seus antigos proprietários entenderam que podiam contribuir para embelezar o espaço.

Pois… não contribuem. E com uma mancha florestal tão vasta em redor, que na maior parte da sua extensão, não é limpa, nem ordenada, impõe-se estar em alerta permanente para evitar que um oásis como o Casal de São Simão e as suas fragas possam ser vítimas de ainda mais sobressaltos.

Zelar pela preservação destes espaços, tem mesmo de ser uma missão de todos.

Boas descobertas!

Marco Fernandes [email protected]

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OUTUBRO

Acordar para a Vida! O Despertar da

Consciência Ambiental

DATA: 1 de outubro LOCAL: Galeria da Biodiversidade — Centro Ciência HORÁRIO: 21h30 – 23h Mais informações aqui

GreenFest 2020

DATA: 2 a 4 de outubro LOCAL: Nova SBE, Carcavelos HORÁRIO: vários Mais informações aqui Impressão Botânica em Tecido

Oficina Prática

DATA: 3 a 4 de outubro LOCAL: Krya Atelier, Porto HORÁRIO: 14h30 – 18h Mais informações aqui

Mercado Vegan do Dia do Animal

DATA: 4 de outubro LOCAL: Lisboa HORÁRIO: 10h – 20h Mais informações aqui Marcha Nacional pelos Direitos de

Todos os Animais

DATA: 4 de outubro LOCAL: Lisboa HORÁRIO: 14h – 20h Mais informações aqui

CineEco—XXVI Festival Internacional de

Cinema Ambiental da Serra da Estrela

DATA: 10 a 17 de outubro LOCAL: Casa Municipal da Cultura de Seia HORÁRIO: vários Mais informações aqui

AGENDA

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Exposição «A Árvore Que Eu Sou» —

Graça Sarsfield

DATA: a partir de 15 de outubro LOCAL: Arquivo Municipal de Lisboa HORÁRIO: vários Mais informações aqui

Workshop de Upcycling

«A caminho da Economia Circular»

DATA: 16 e 23 de outubro LOCAL: Online HORÁRIO: 18h – 20h Mais informações aqui

Planetiers World Gathering

DATA: 21 a 23 de outubro LOCAL: Altice Arena & online HORÁRIO: vários Mais informações aqui Exposição «Cultivar: As Hortas de

Lisboa»

DATA: a partir de 22 de outubro LOCAL: Museu de Lisboa — Palácio Pimenta (Pavilhão Preto) HORÁRIO: vários Mais informações aqui

Exposição «Lixo ou Luxo?»

DATA: a partir de 22 de outubro LOCAL: Palacete dos Marqueses de Pombal HORÁRIO: vários Mais informações aqui

AGENDA

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Foi, mais uma vez, um gosto trazer-vos este número da Raízes Mag. Numa altura em que comemoramos dois anos de existência, este marco só faria sentido se celebrado junto dos nossos muitos leitores e muitos mais seguido-res. A informação de qualidade, vestida de forma simples, tem sido o nosso apanágio desde o início e esperamos, sinceramente, que este nosso 13.º número tenha correspondido às vossas expectativas. Falar sobre ativismo, ainda para mais no momento atual, não foi fácil e existiam mais coisas para dizer e outros tantos ângulos a partir dos quais poderíamos ter construído esta edição. Esperamos que a mensagem que prevalece seja a de que todos desempenhamos o nosso papel para o avanço das sociedades e todos somos, à nossa maneira, ativistas.

No próximo número, o último de 2020, vamos abordar vários temas pequeninos, ao invés de

ter vários artigos sobre um mesmo tema principal. Ainda assim, podemos desvendar que vamos falar, por exemplo, sobre o conceito de água invisível ou de cosmética biológica.

Vai ser mais um número para não perder, e, até lá, podem seguir o nosso trabalho através das seguintes ligações:

Website: www.raizesmag.com Facebook: www.facebook.com/RaizesMag Instagram: @raizesmag

Esperamos que continuem desse lado durante os próximos números!

Um bem-haja,

Equipa Raízes Mag Âncora Verde & UniPlanet

NO PRÓXIMO NÚMERO

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© Raízes Mag 2020 - Todos os direitos reservados Um projeto de Âncora Verde e UniPlanet

Fotografia: Unsplash, Pixabay, Pexels, Pinterest e projetos mencionados neste número Edição e Design: Leila Teixeira

Logótipo: UniPlanet Revisão de textos: Ana Marta Ramos, Liuna Alves

O conteúdo desta publicação não pode ser distribuído, reproduzido ou copiado, direta ou indiretamente, sem expressa autorização da Raízes Mag.

Os autores não se responsabilizam pelos danos causados ou perda, direta ou indireta, na interpretação desta revista.

A Raízes Mag foi desenvolvida de forma autónoma pela equipa do projeto, Âncora Verde e UniPlanet, não tendo existido qualquer compensação monetária ou patrocínio para a elaborar, nem para divulgar os

projetos que aqui são apresentados.

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POR UM MUNDO MAIS SUSTENTÁVEL