A Formação em Supervisão Educacional e o Exercício do Cargo de Diretora Escolar

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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DA CAMPANHA

ANDRÉA OLIVEIRA DOS SANTOS

A FORMAÇÃO EM SUPERVISÃO EDUCACIONAL E O EXERCÍCIO DO CARGO DE DIRETORA ESCOLAR

Porto Alegre

2004

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ANDRÉA OLIVEIRA DOS SANTOS

A FORMAÇÃO EM SUPERVISÃO EDUCACIONAL E O EXERCÍCIO DO CARGO DE DIRETORA ESCOLAR

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Nível de Especialização em Supervisão Educacional da Universidade da Região da Campanha – URCAMP, Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, Para Obtenção do Título de Especialista em Supervisão Educacional

Orientadora: Profª. Lílian Zieger

Porto Alegre

Dezembro de 2004

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Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com a colheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes.

Gabriel Chalita

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FOLHA DE APROVAÇÃO Nome do Autor: Andréa Oliveira dos Santos Título: A formação em Supervisão Educacional e o exercício do cargo de diretora escolar Natureza do Trabalho: Monografia ao Curso de Pós-Graduação em Nível de Especialização em Supervisão Educacional da Universidade Nome da Instituição: Universidade da Região da Campanha – URCAMP Área de Concentração: Educação Local: Porto Alegre Data de Aprovação: ______________________________ Lílian Zieger

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RESUMO

O presente trabalho procurou analisar se a formação em Supervisão Educacional auxilia o trabalho do diretor de escola ou não. Esta questão surgiu em função da vivência da pesquisadora, como dirigente de uma escola estadual de Ensino Fundamental, no município de Guaíba e atualmente acumulando a função de Supervisora Educacional. Em primeiro lugar, caracterizou-se a escola e seu papel social nos tempos atuais e conseqüentemente o corpo docente e discente neste contexto. Após realizou-se uma análise sobre a administração escolar na atualidade, caracterizando-se também a administração participativa ou democrática, bem como as funções do diretor e os desafios deste na atualidade. A Supervisão Educacional foi abordada através de suas atribuições e considerações a respeito da função, ressaltando a importância desde profissional para o desenvolvimento de um projeto pedagógico de qualidade. A seguir, houve referência à relação entre a administração e supervisão educacional, ressaltando-se que é essencial o trabalho em conjunto, a união em prol da qualidade na educação, visando a função primordial da escola: ensinar, buscando meios para o sucesso atingir a todos os alunos, sem distinção. Neste momento, salientou-se que todas as ações efetuadas na escola são essencialmente pedagógicas e administrativas ao mesmo tempo, portanto, cabe tanto ao diretor como ao supervisor dominar conhecimentos em ambas as áreas. Dessa forma, poderemos sonhar com uma escola democrática, organizada e com competência pedagógica. Realizou-se também uma pesquisa de campo, com o propósito de analisar a vivência de diretores de escolas públicas graduados em Supervisão Educacional ou não. Dessa pesquisa foram levantados dados para fundamentar a conclusão do trabalho, chegando-se a uma resposta à questão inicial. Concluiu-se, enfim, que a formação em Supervisão Educacional embasa o trabalho do diretor de escola através da teoria trabalhada no curso e da experiência deste no exercício do cargo de supervisor.

Palavras-Chave: Supervisão Educacional, administração, escola, relação

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ABSTRACT

The present work looked for to analyze if the formation in Educational

Supervision assists the work of the school director or not. This question appeared in function of the experience of the researcher, as leading of a state school of Basic Education, in the city of Guaíba and currently accumulating the function of Educational Supervisor. In first place, it was characterized consequently school and its social paper in the current times and the faculty and learning in this context. After an analysis was become fulfilled on the pertaining to school administration in the present time, characterizing itself also the participative or democratic administration, as well as the functions of the director and the challenges of this in the present time. The Educational Supervision was boarded through its attributions and considerations regarding the function, standing out the importance since professional for the development of a pedagogical project of quality. To follow, it had reference to the relation between the administration and educational supervision, standing out itself that the work in set is essential, the union in favor of the quality in the education, aiming at the primordial function of the school: to teach, searching it half success to reach to all the pupils, without distinction. At this moment, one was outstanding that all the actions effected in the school are essentially pedagogical and administrative at the same time, therefore, it fits in such a way to the director as to the supervisor to dominate knowledge in both the areas. Of this form, we will be able to dream of a democratic school, organized and with pedagogical ability. A field research was also become fulfilled, with the intention to analyze the experience of directors of public schools graduated Educational Supervision or not. Of this research they had been raised given to base the conclusion of the work, arriving itself it a reply at the initial question. One concluded, at last, that the formation in Educational Supervision bases the work of the director of school through the theory worked in the course and of the experience of this in the exercise of the supervisor position.

Words-key: Educational supervision, administration, school, relation

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8 1 A ESCOLA E SEU PAPEL SOCIAL NOS TEMPOS ATUAIS .......................

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1.1 Corpo docente e discente no contexto atual ........................................... 13 2 A ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE .....................................

17

2.1 Administração Participativa ou Democrática ........................................... 19 3 A SUPERVISÃO EDUCACIONAL .................................................................

23

4 RELAÇÃO ENTRE A ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO EDUCACIONAL .................................................................

29 5 PESQUISA REALIZADA ...............................................................................

33

CONCLUSÃO ...................................................................................................

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OBRAS CONSULTADAS .................................................................................

39

ANEXOS ...........................................................................................................

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INTRODUÇÃO

Atualmente, a escola é vista como uma organização social, cultural e

humana, onde cada segmento tem seu papel definido num processo de participação

efetiva para o desenvolvimento dos projetos a serem executados.

A equipe diretiva, coordenada pelo diretor da escola, é responsável pela

administração, coordenação e organização do espaço escolar, dos segmentos que

compõem a escola e da construção do conhecimento no processo de aprender.

Cabe à Supervisão Educacional assistir o professor, dinamizar a

operacionalização do método educativo na escola, coordenando-o, com o sentido de

promover a melhoria do processo ensino-aprendizagem.

A Supervisão Educacional e a equipe diretiva precisam unir-se em prol de

uma educação de qualidade, desenvolvendo um trabalho conjunto, imbuídos da

intenção pedagógico-administrativa.

Com base nestas considerações, e através da vivência da pesquisadora,

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Como dirigente de uma escola estadual de Ensino Fundamental no município de

Guaíba e atualmente acumulando a função de Supervisora Educacional surgiu a

questão: a formação em Supervisão Educacional traz benefícios ou não no exercício

de direção de escola?

O propósito desta monografia é desenvolver este tema, analisando a vivência

de diretores de escolas públicas, graduados em Supervisão Educacional ou em

outras áreas da Educação, estabelecendo-se comparação entre essas.

O trabalho divide-se em momentos, sendo que no primeiro capítulo será

abordado o papel social da escola nos tempos atuais, analisando o que a sociedade

espera da escola de hoje e quais desafios são enfrentados por esta escola. Neste

capítulo também serão descritas características do corpo docente e discente no

contexto atual, verificando-se as mudanças necessárias nestes atores para o cenário

educacional que se apresenta.

O capítulo seguinte descreverá a administração escolar na atualidade,

relacionando suas perspectivas, desafios e atribuições. Também será abordada a

administração participativa, através de suas características e seu papel para o

sucesso da escola.

O terceiro capítulo tratará da Supervisão Educacional, suas atribuições e seu

papel na escola atual, como articuladora do processo ensino-aprendizagem.

A seguir, será descrita a relação entre a Administração e a Supervisão

Educacional, mostrando como estas funções integram-se ao processo educativo.

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Encerrando este trabalho, o último capítulo apresentará a metodologia usada

que será uma pesquisa descritiva, de análise quali-quantitativa, aplicada com

diretores de escolas, e com os resultados obtidos e analisados, espera-se chegar a

resposta da questão inicial sobre a formação em Supervisão Educacional auxiliar ou

não o trabalho do diretor de escola.

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1 A ESCOLA E SEU PAPEL SOCIAL NOS TEMPOS ATUAIS

A missão da escola, nos tempos atuais e de acordo com a legislação em

vigor, é, promover o pleno desenvolvimento do aluno, preparando-o para a cidadania

e qualificando-o para o trabalho.

Visando refletir sobre a função social da escola, devemos considerar que

esta hoje, situa-se entre a tradição e a modernidade, entre o acesso aberto a todas

as fontes de informação e conhecimento e a absoluta falta de condições primárias

de estudos em periferias pobres; entre o social e o individual; entre as perspectivas

de longo prazo e as necessidades imediatas; a competição e a igualdade de

oportunidades; a economia globalizada e a valorização da micro-produção e por fim

entre o universal e o local.

Assim como a sociedade vive uma crise de paradigmas, com aspectos

modernistas e pós-modernistas, a escola também está atendendo alunos de

diferentes tempos culturais, convivendo com a coexistência de características ora

modernas, ora pós-modernas. Para realizar esta transição histórica, a escola deve

estar atenta a pontos como: multiculturalismo, diversidade, autonomia, conteúdos

significativos, unidade entre história e sujeito e visão de mundo abrangente.

Conforme Penin & Vieira (2002, p. 26),

Há a necessidade de a escola repensar profundamente sua organização, sua gestão, sua maneira de definir os tempos, os espaços, os meios e as formas de ensinar ou seja, o seu jeito de fazer escola!. é hora de jogar fora as roupas velhas e tornar a vestir a escola, a partir da essência sua função social que permanece: ensinar bem e preparar os indivíduos para exercer a cidadania e o trabalho no contexto de uma sociedade complexa, enquanto se realizam como pessoas.

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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96,

proporciona aberturas para a escola redefinir suas estruturas, seu projeto

pedagógico, seu papel na atualidade. Para tanto, não basta somente o estudo sobre

novas propostas de organização, gestão e avaliação; é importante acima de tudo, a

esperança em uma escola diferente e a vontade de mudar o que é preciso. É

necessário o entendimento de que a escola tem que evoluir, dentro de suas

possibilidades e necessidades e para tanto o trabalho coletivo, a participação da

comunidade escolar torna-se de extremo valor, pois constituem a “voz da escola”, o

termômetro que avaliará o que é preciso mudar ou não.

Dando continuidade ao pensamento de Penin & Vieira (2002, p. 26):

A escola ainda é a porta de entrada da maioria da população para o acesso ao mundo do conhecimento, pois vivemos um período no qual a informação está a um só tempo disponível como nunca esteve e, contraditoriamente, inacessível a a grandes parcelas da nossa população.

Neste contexto, a escola tem que tornar-se significativa. O ato educativo

deve ter como meta a aplicação, a utilidade do que se aprender, a relação dos

conteúdos com a realidade. A escola deve preocupar-se com a formação da

consciência crítica, para isso deve investir em novos conteúdos, métodos, espaços,

atores pedagógicos e formas de avaliação. Em todas estas inovações, o aluno deve

ser ouvido e seu espaço de participação ampliado, pois a escola não pode esquecer

que a aprendizagem do aluno é seu único objetivo.

Kuenzer (2003, p. 49) afirma:

A escola deverá propiciar a apropriação do conhecimento por meio

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da articulação com seu lócus de produção: o mundo das relações sociais e produtivas. Esta articulação é a nova função do professor, que não mais ensina por meio de relações interpessoais com os alunos, mas estabelece a mediação entre eles e a ciência no seu acontecendo, na práxis social e produtiva, gerenciando, portanto, o processo de aprender.

Dessa forma, a proposta de educação atual, exige que a escola desenvolva

integralmente a personalidade do aluno, explore todos seus talentos, sejam eles na

área da memória, raciocínio, imaginação, capacidade física, no sentido de estética ou

na facilidade de comunicar-se com os outros.

Num mundo em processo de globalização, novas demandas colocam-se para a escola e para aqueles que participam de sua gestão. Novos pilares para a educação no século XXI se firmam: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser para falar apenas de algumas das múltiplas aprendizagens necessárias a um mundo sob o signo da mudança (PENIN & VIEIRA, 2002, p. 43).

As novidades provenientes dessa nova visão de escola exigem também um

novo perfil de professor que deve estar preparado para atender às necessidades do

aluno que está chegando às nossas escolas, atualmente. Faz-se necessário analisar

o papel destas duas peças-chave do processo ensino-aprendizagem: o professor e o

aluno.

1.1 Corpo docente e discente no contexto atual

O contexto atual da educação exige um repensar da prática docente. Os

professores devem ter consciência que o conhecimento hoje não encontra-se

somente na escola. Portanto, na sua prática uma prioridade deve ser proporcionar ao

aluno meios para buscar o conhecimento.

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Antes, ao professor cabia apenas transmitir o conhecimento de forma pronta e acabada. Agora, se espera que ele seja o mediador entre os alunos e o conhecimento, facilitando a aprendizagem. Seu principal papel é, pois, o de orientar e guiar as atividades dos alunos, levando-os a aprender, progressivamente, os conteúdos escolares, compreendendo seu significado e importância (DAVIS & GROSBAUM, 2002, p. 81-82).

O professor atual não pode querer ser dono das verdades absolutas. Deve

modificar sua postura frente aos questionamentos realizados pelo aluno, que hoje, é

visto como um ser que contribui para sua aprendizagem de forma ativa,

selecionando, assimilando, interpretando e generalizando informações acerca de seu

meio físico e social.

A visão atual de aluno é a de um ser crítico, participativo, ativo, que

questiona os fatos e que precisa ser motivado para aprender. A aprendizagem

precisa ser significativa, vinculada à vida do aluno e relacionada a conhecimentos

anteriores. É também importante considerar a história de vida e o autoconceito do

aluno no processo de ensino.

A escola deve analisar as necessidades educativas do aluno, da sua

comunidade e atendê-los dentro de suas possibilidades e também trabalhar com o

autoconceito deste aluno, levando-o a acreditar em si mesmo e a querer aprender.

Dando continuidade ao pensamento de Davis & Grosbaum (2002, p. 86),

É importante que os docentes construam, nos alunos, confiança em sua capacidade de aprender e expectativas elevadas quanto ao próprio desempenho. Para isso, compete começar o trabalho um pouco além daquilo que o aluno já consegue compreender e/ou realizar, deixando claro que ele vai contar com ajuda para realizar a tarefa. Não vale comparar alunos entre si. Cada um é cada um e todos podem progredir com o auxílio do professor, se ele conseguir lhes mostrar a importância da aprendizagem.

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O aluno tem que ser desafiado a aprender, através de atividades

motivadoras e instigantes. O professor precisa também ensinar que aprender exige

persistência, concentração, erros e tentativas. E também o aluno deve ser envolvido

pela escola e cativado pelo professor. Vários autores reforçam a idéia de que é a

qualidade do relacionamento professor-aluno que torna o processo educativo e a

escola significativos para o educando.

Em síntese, a eficácia do processo educativo centra-se no professor: seus conhecimentos, suas habilidades e suas atitudes em relação ao aluno a quem deve motivar. Torna-se, pois, de vital importância promover, antes de mais nada, o desenvolvimento desse professor, orientá-lo e assisti-lo na promoção de um ambiente escolar e processo educativo significativos para o educando. Mudanças curriculares, inovação de métodos e técnicas de ensino ou do próprio currículo não tornarão, por si só, o processo ensino-aprendizagem repentinamente eficazes. Se este tiver que ser melhorado, terá que ser a partir dos professores, do desenvolvimento de suas atitudes, habilidades e conhecimentos a respeito das mudanças e inovações necessárias (LÜCK, 2003, p. 15).

O professor é elemento principal para o aprendizado do aluno, mas o bom

resultado deste aprendizado dependerá da forma como o professor vê este aluno e

de seu interesse em ajudá-lo, até este adquirir autonomia e segurança na

apropriação do novo conhecimento.

Mesmo num momento histórico, onde a escola parece viver uma fase de

redefinição de papéis, inclusive o seu próprio e o de todos que nela interagem, a

figura do professor assume maior importância, pois, apesar de saber-se que o

conhecimento rompeu as barreiras da escola e está em todo o lugar, há a

necessidade do articulador, do mediador, da pessoa que contribuiu ativamente para

aproximar os alunos do conhecimento e dar-lhes as ferramentas para fazer uso

deste.

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A interação entre professores e alunos em torno do conhecimento, que constitui a dinâmica da sala de aula, decorre da forma como o professor vê os processos de ensino e de aprendizagem. A compreensão de que os alunos não são pessoas a serem moldadas pelo professor mas selecionam, assimilam e processam as informações, conferindo-lhes significado e construindo conhecimentos muda radicalmente a concepção de aprendizado. Só que nossos alunos não constroem sozinhos seus conhecimentos: isso depende da interação mantida com professores e colegas (DAVIS & GROSBAUM, 2002, p. 99).

Enfim, a aprendizagem se traduz em uma troca de experiências,

conhecimentos, onde o aluno aprende com o professor e este aprende com o aluno,

num constante movimento de transformação das realidades existentes.

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2 A ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE

A administração de uma escola compete à equipe diretiva, geralmente

formada pela pessoa do diretor, vice-diretores, supervisor educacional, orientador e

Conselho Escolar (existente na rede estadual de ensino a partir do ano de 1995).

Administração escolar é um ramo da Ciência Administrativa, tendo como objeto próprio o estudo dos métodos e processos mais eficientes e práticos de se organizar e administrar um sistema escolar ou uma escola, em ordem aos ideais e objetivos visados pelo trabalho educativo (BELLO apud LACERDA, 1977, p. 14).

A principal preocupação da administração escolar, atualmente, deve ser

educar para a vida. O objetivo principal deve ser formar a personalidade, dando ao

aluno o domínio de si mesmo, hábitos sadios, consciência de seus deveres e direitos,

integrando-o no meio social em que irá viver; enfim, formar-lhe o caráter.

O momento atual no mundo, caracterizado por crise de paradigmas,

contrastes entre modernidade e pós-modernidade, exigem da administração da

educação novas compreensões, novos conceitos, categorias e interpretações. Uma

das tarefas mais urgentes para os administradores da educação é pensar em formas

de intervenção e construção de conhecimento que possibilitem o enfrentamento dos

desafios da atualidade.

Os desafios da atualidade exigem a formação de uma consciência crítica da

comunidade escolar (pais, alunos, professores e funcionários). Esta comunidade

pode exercitar sua participação no âmbito da escola, auxiliando a equipe diretiva na

administração desta. Para tanto, cabe à direção proporcionar momentos para que

exista a efetivação desta participação.

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...Saliento a importância da direção que se constrói e legitima na participação, no exercício da democracia e na competência da construção coletiva do projeto político-pedagógico, por meio de uma prática de gestão comprometida com a formação de homens e mulheres brasileiros/as fortes intelectualmente, ajustados emocionalmente e capazes tecnicamente (FERREIRA, 2003, p. 10).

O papel da escola hoje é este formar pessoas fortalecidas por seu

conhecimento, orgulhosas de seu saber, emocionalmente corretas, capazes de auto-

crítica, solidárias com o mundo exterior e capacitadas tecnicamente para enfrentar o

mundo do trabalho e da realização profissional.

Neste contexto, o diretor de escola é o principal responsável pela execução

eficaz da política educacional. É sua função também, coordenar e orientar todos os

esforços no sentido de que a escola, como um todo, produza os melhores resultados

possíveis no sentido de atendimento às necessidades dos educandos e promoção do

seu desenvolvimento.

O centro de atenção máxima da escola deve ser o aluno. A escola existe em função dele, e, portanto, para ele. A sua organização, em qualquer dos seus aspectos, deve ter em vista a consideração do fim precípuo a que a escola se destina: a criação de condições e de situações favoráveis ao bem-estar emocional do educando, e o seu desenvolvimento em todos os sentidos: cognitivo, psicomotor e afetivo, a fim de que o mesmo adquira habilidades, conhecimentos e atitudes que lhe permitam fazer face às necessidades vitais e existências (LÜCK, 2003, p. 63).

Cabe ao diretor da escola proporcionar espaço para que os setores

educacionais (supervisão, orientação, biblioteca e outros) desenvolvam seus projetos

em prol da aprendizagem do aluno. Todos os segmentos devem unir-se e ter um

objetivo comum: o desenvolvimento integral de todos os alunos, o sucesso da escola,

pois este será medido pelo desempenho dos educandos. Este sucesso depende da

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participação de toda a equipe e sobretudo do diretor. É dele a responsabilidade de

trabalhar com os professores a concepção de escola que desejam implementar,

como se definirá o projeto pedagógico, as formas de avaliação, de maneira a

promover a aprendizagem contínua dos alunos.

Chalita (2001, p. 189) afirma:

O papel de diretor é o de líder. Tudo ficará mais fácil se ele permitir uma participação democrática dos outros sujeitos da educação nas tomadas de decisão, entretanto é importante que se lembre: poder se delega, responsabilidade não.

Neste contexto, o diretor da escola atual deve inteirar-se de todos os

processos desencadeados no interior do espaço educativo e perceber que a escola

que se deseja construir aponta para a valorização do pedagógico. Ele é o centro de

todo o trabalho da escola, é a razão de existir da escola e neste sentido a ação

administrativo-financeira deve acontecer como suporte necessário para acontecerem

a produção e a construção do conhecimento.

Para dirigir esta escola, Chalita (2001, p. 190) complementa: “O novo

conceito de gestor é o daquele que vai até seus companheiros e interage, e observa,

e resolve, e participa, e constrói”.

2.1 Administração Participativa ou Democrática

A sociedade atual precisa de uma escola democrática, organizada, com

identidade social, atualizada, aberta, crítica e eficiente na educação. À frente desta

escola se faz necessário um diretor com visão pedagógica e educacional;

comprometido com a melhoria do processo educativo; que faça dos aspectos

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pedagógicos questões prioritárias na sua administração; lute pela qualidade do

ensino e do currículo e proporcione discussões sobre educação e realidade. Um

diretor com gestão participativa, que não permaneça fechado em sua sala, que seja

aberto ao diálogo com todos os segmentos, que valorize as iniciativas e trabalhos da

comunidade escolar, que incentive a participação, entrosamento e harmonia dos

diversos setores envolvidos no processo educacional.

[...] a gestão democrática é entendida como processo de aprendizado e de luta política que não se circunscreve aos limites da prática educativa mas vislumbra, nas especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a possibilidade de criação de canais de efetiva participação e de aprendizado do ‘jogo’ democrático e, conseqüentemente, do repensar das estruturas de poder autoritário que permeiam as relações sociais e, no seio dessas, as práticas educativas (DOURADO, 2003, p. 79).

Na década de 90, no Rio Grande do Sul, os professores, através de suas

reivindicações, conseguiram a implantação de órgãos colegiados, os Conselhos

Escolares, nas escolas públicas estaduais.

Os Conselhos Escolares com suas atribuições pedagógicas, administrativas

e financeiras e suas competências fiscalizadoras, consultivas e deliberativas se

comprometem com a totalidade da vida da escola. tais conselhos são compostos por

representações de todos os segmentos da escola que devem ter seus espaços de

participação garantidos.

A participação na administração da escola está, pelo menos teoricamente, garantida por meio do funcionamento do Conselho de Escola, cuja forma atual é resultado de uma longa e dura luta política [...] com o sentido de dotar a escola de autonomia para poder elaborar e executar seu projeto educativo (GUTIERREZ & CATANI, 2003, p. 69).

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A gestão democrática implica na participação intensa e constante dos

diferentes segmentos sociais nos processos decisórios, no compartilhar as

responsabilidades, na articulação de interesses, na transparência das ações, em

mobilização e compromisso social, em controle coletivo.

Cada escola precisa construir sua gestão democrática, estimulando a

participação dos segmentos, abrindo espaço para estes, mostrando-lhes a

importância deste processo democrático para a busca de uma escola de qualidade.

Lück (2003, p. 17) afirma que o diretor assume uma série de funções, tanto

de natureza administrativa, quanto pedagógica. Do ponto de vista administrativo,

compete-lhe, por exemplo:

* organização e articulação de todas as unidades componentes da escola;

* controle dos aspectos materiais e financeiros da escola;

* articulação e controle dos recursos humanos;

* articulação escola-comunidade;

* articulação da escola com o nível superior de administração do sistema

educacional;

* formulação de normas, regulamentos e adoção de medidas condizentes

com os objetivos e princípios propostos;

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* supervisão e orientação a todos aqueles a quem são delegados

responsabilidades.

Do ponto de vista pedagógico, é de sua alçada, por exemplo, a:

* dinamização e assistência aos membros da escola para que promovam

ações condizentes com os objetivos e princípios educacionais propostos;

* liderança e inspiração no sentido de enriquecimento desses objetivos e

princípios;

* promoção de um sistema de ação integrada e cooperativa;

* manutenção de um processo de comunicação claro e aberto entre os

membros da escola e entre a escola e a comunidade;

* estimulação à inovação e melhoria do processo educacional.

Dando continuidade ao pensamento de Lück, o diretor deve relacionar o

administrativo e o pedagógico a fim de coordenar sua equipe com clareza em suas

ações. Davis & Grosbaum (2002, p. 89) complementam esta idéia:

A presença de liderança, de coordenação, é indispensável na vida de uma equipe: alguém que tenha uma visão global da situação e que saiba onde se quer chegar, incentivando o grupo a pensar e a ‘por a mão na massa’ para executar o que foi previsto; que aponte a direção do trabalho, apoiando o grupo durante sua execução e levando cada um a superar suas dificuldades. Essa pessoa será o mobilizador do trabalho coletivo, o articulador do processo de elaboração e desenvolvimento do projeto pedagógico da escola.

Este é o perfil de diretor numa administração democrática, participativa, na

escola que desejamos, um diretor diretamente envolvido com o processo em busca

da qualidade de ensino, que assume o papel de coordenador ou articulador,

identificando-se com o grupo.

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3 A SUPERVISÃO EDUCACIONAL

A Supervisão Educacional é responsável pela articulação da prática

pedagógica, buscando a construção do planejamento curricular, coordenando o

processo pedagógico da escola, adequando a aprendizagem às exigências da

sociedade.

Saviani (2002, p. 14) afirma:

Se se entende a supervisão como a ação de velar sobre alguma coisa ou sobre alguém a fim de assegurar a regularidade de seu funcionamento ou de seu comportamento (FOULQUIÉ, 1971:452) vê-se que mesmo nas comunidades primitivas, onde a educação se dava de forma difusa e indiferenciada, estava presente a função supervisora.

Pode-se dizer que a ação supervisora acompanha a ação educativa desde

suas origens, mas ao longo dos anos, suas atribuições modificaram-se. Da função

fiscalizadora, de inspeção e controle, muito pouco ainda é usado, pois o que hoje é

valorizado nesta profissão é o caráter pedagógico, o assessoramento, a melhoria do

desempenho do professor, visando a qualidade do processo ensino-aprendizagem.

Esta é uma nova dimensão do trabalho do supervisor educacional, atuar no sentido

pedagógico e não técnico da educação.

A supervisão, assim concebida, vai muito além de um trabalho meramente técnico-pedagógico, como é entendido com freqüência, uma vez que implica uma ação planejada e organizada a partir de objetivos muito claros, assumidos por todo o pessoal escolar, com vistas ao fortalecimento do grupo e ao seu posicionamento responsável frente ao trabalho educativo. Nesse sentido, a supervisão deixa de ser apenas um recurso meramente técnico para se tornar um fator político, passando a se preocupar com o sentido e os efeitos da ação que desencadeia mais que com os resultados imediatos do trabalho escolar (ALONSO, 2002, p. 175).

O supervisor atual deve ser pesquisador do cotidiano escolar para realmente

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realizar um trabalho que faça sentido, que ressignifique. Seu trabalho deve basear-se

na observação das realidades existentes na escola. Medina (2002, p. 51) reafirma

esta idéia:

Para que tudo isso seja possível, é indispensável a ação de um profissional que, além de possuir competência teórica, técnica humana, política, disponha de tempo necessário para tornar possível a relação entre vivencias dos alunos fora da escola e o trabalho do ensinar e aprender na escola. esse profissional é o supervisor que define sua função pedagógica quando contribui para a melhoria do processo de ensinar e aprender por meio de ações que articulam as demandas dos professores com os conteúdos e as disciplinas.

Além de possibilitar a relação da bagagem que o aluno traz com a

aprendizagem, o supervisor deve fazer-se conhecer pela comunidade escolar. A

comunidade precisa inteirar-se de sua função, para saber o que esperar dele, para

poder contar com sua ajuda.

O Projeto de Lei nº 4.412/01 que visa regulamentar o exercício da Profissão

de Supervisor Educacional aponta como atribuições deste profissional:

a coordenação do processo de construção coletiva e execução da

Proposta Pedagógica, dos Planos de Estudo e dos Regimentos Escolares;

investigar, diagnosticar, planejar, implementar e avaliar o currículo em

integração com outros profissionais da Educação e integrantes da comunidade;

supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula estabelecidos

legalmente;

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velar pelo cumprimento do plano de trabalho dos docentes nos

estabelecimentos de ensino;

assegurar processo de avaliação da aprendizagem escolar e a

recuperação dos alunos com menor rendimento, em colaboração com todos os

segmentos da Comunidade Escolar, objetivando a definição de prioridades e a

melhoria da qualidade de ensino;

promover atividades de estudo e pesquisa na área educacional,

estimulando o espírito de investigação e a criatividade dos profissionais de educação;

emitir parecer concernente à Supervisão Educacional;

acompanhar estágios no campo da Supervisão Educacional;

planejar e coordenar atividades de atualização no campo educacional;

propiciar condições para a formação permanente dos educadores em

serviço;

promover ações que objetivem a articulação dos educadores com as

famílias e a comunidade, criando processos de integração com a escola;

assessorar os sistemas educacionais e instituições públicas e privadas

nos aspectos concernentes à ação pedagógica.

Page 26: A Formação em Supervisão Educacional  e o Exercício do Cargo de Diretora Escolar

26

Além destas atribuições explicitadas em lei, Medina (2002, p. 87) nos aponta

as propostas para uma ação supervisora renovada:

Explicitar as contradições, trabalhando o conflito com o objetivo de

estabelecer relações de trabalho no grupo da escola;

Trabalhar as diferenças;

Trabalhar, procurando criar demandas;

Fazer a leitura da escola, considerando sua singularidade;

Criar formas próprias de conhecimento;

Enfatizar a produção do professor no interior da escola, num movimento

de ensinar e aprender ou aprender e ensinar;

Ser um problematizador;

Ter o conhecimento como um dado relativo;

Ver na Proposta pedagógica uma possibilidade de reconstrução da

escola;

Expressar com clareza o comportamento;

Page 27: A Formação em Supervisão Educacional  e o Exercício do Cargo de Diretora Escolar

27

Trabalhar, tendo em vista o sentido da vida humana.

A Supervisão Educacional, no contexto atual, precisa analisar as propostas

de renovação, buscar sentido para estar em sua realidade escolar, visando a

melhoria do processo ensino-aprendizagem.

O trabalho dos profissionais da educação em especial da supervisão educacional é traduzir o novo processo pedagógico em curso na sociedade mundial, elucidar a quem ele serve, explicitar suas contradições e, com base nas condições concretas dadas, promover necessárias articulações para construir alternativas que ponham a educação a serviço do desenvolvimento de relações verdadeiramente democráticas (FERREIRA apud Rangel, 2002, p. 9).

Para desenvolver o trabalho idealizado por Ferreira, o supervisor precisa ser

um constante pesquisador, é necessário que ele antecipe conhecimentos para o

grupo de professores, lendo muito, não só sobre conteúdos específicos, mas também

livros e diferentes jornais e revistas.

Entre as tarefas do supervisor estão ajudar a elaborar e aplicar o projeto da

escola, dar orientação em questões pedagógicas e principalmente, atuar na

formação contínua dos professores. O supervisor faz a transposição da teoria para a

prática escolar, reflete sobre o trabalho em sala de aula, estuda e usa as teorias para

fundamentar o fazer e o pensar dos docentes.

Um bom supervisor deve apresentar em seu perfil as seguintes

características: auxiliador, orientador, dinâmico, acessível, eficiente, capaz,

produtivo, apoiador, inovador, integrador, cooperativo, facilitador, criativo,

interessado, colaborador, seguro, incentivador, atencioso, atualizado, com

Page 28: A Formação em Supervisão Educacional  e o Exercício do Cargo de Diretora Escolar

28

conhecimento e amigo.

Além disso, o trabalho de supervisão é uma atuação de grupo que acontece com os professores e demais setores da escola, especialmente o de Orientação Educacional (SOE). Por ser grupal, o trabalho exige o exercício constante do pensar, do descobrir e do saber o modo de avançar nas ações e também o de recuar. Esse trabalho requer estudo, dedicação e se constrói no fazer diário da escola (por isso, nunca se sabe como fazê-lo, ‘não tem receita’), o que permite olhá-lo de diversas maneiras (lados). Em suma, caracteriza-se como um trabalho administrativo-burocrático que transcende o conhecimento puro e simples da sala de aula (só o conhecimento discente não é suficiente para ser supervisor) (MEDINA, 2002, p. 102).

O conhecimento, a prática de sala de aula fundamenta o trabalho do

supervisor, mas só isto não basta como diz Medina, porém o supervisor será sempre

professor em primeiro lugar. Alguns atores usam a expressão “professor supervisor”

para tratar a figura deste especialista, a firmando que o supervisor que tem esta

visão sobre sua função, aproxima-se mais do grupo de professores com os quais

trabalha, buscando a interação, a troca entre os pares.

O supervisor que tiver como ponto de partida e de chegada o pensamento de que a escola, como instituição social, precisa ser pensada dialeticamente cria um espaço novo e diferente daquele que, historicamente, foi ocupado e que se caracterizou pelo controle e também, como refúgio burocrático... (MEDINA, 2002, p. 159).

Um supervisor que trabalhe dentro desta visão será capaz de junto com seu

grupo, transformar a realidade de sua escola, priorizando a aprendizagem do aluno,

pois este é seu objeto de trabalho e para quem suas ações devem se voltar.

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4 RELAÇÃO ENTRE A ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO EDUCACIONAL

O caráter pedagógico e o administrativo de uma instituição escolar estão

intimamente relacionados. O administrador está a serviço do pedagógico, pois a

função primordial da escola é a aprendizagem, o processo pedagógico.

Segundo Raphael (2003, p. 20):

É necessário ponderar que, para atender às necessidades da escola, o supervisor não pode abandonar, em momento algum, sua intenção pedagógica, que está ligada ao instrumental para a transmissão do conhecimento, essência da escola. este pedagógico, entretanto, está diretamente associado, pode-se até dizer dependente de uma organização do ensino, algo de caráter tipicamente administrativo. Para cumprir o caráter pedagógico de sua função, creio que o supervisor necessita de um vasto conhecimento da Administração Escolar, no sentido de dominar critérios de organização da instituição escolar, para garantir seu bom funcionamento pedagógico.

Neste contexto, é importante que o diretor também conheça os princípios da

Supervisão Educacional, pois segundo as tendências atuais da escola, nenhuma

ação é somente administrativa ou pedagógica. Qualquer ato pedagógico reflete no

administrativo e vice-versa. Uma situação onde o professor recebe uma sala de aula

suja no início de seu turno repercutirá em sua motivação para desenvolver seu

trabalho cm os alunos.

Dando continuidade ao pensamento de Raphael (2003, p. 20), pode-se

afirmar que o pedagógico e o administrativo devem funcionar harmonicamente.

[...] É o bom funcionamento de cada uma das células que garante o funcionamento orgânico do sistema. É desse enfoque de organização do sistema que emana a possibilidade de uma escola democrática, organizada, com competência pedagógica, adequada aos fins a que se propõe e à clientela que dela necessita.

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30

É essa a concepção de escola que espera-se para os tempos atuais. Uma

escola que desenvolva a criatividade, estabeleça conexões, alie a teoria e a prática.

Até os anos oitenta, as ações escolares eram distintas, as funções

administrativas eram de responsabilidade única do diretor e os atos pedagógicos

diziam respeito apenas à Supervisão Educacional.

Os tempos agora são outros, o corpo docente da escola atual é outro e os

alunos também modificaram-se ao longo desses vinte anos.

Nessa visão atual da educação, Quaglio (2003, p. 52) afirma:

Dentro dessa linha de ‘intelectuais transformadores’, os administradores e os supervisores, visando melhor organização e funcionamento da educação brasileira, têm um trabalho fundamental, isto é, não podem se preocupar em dar ao pessoal escolar e à comunidade uma simples assistência técnica. Cabe-lhes ainda, e sobretudo, uma participação mais ativa, que os levem a inserir-se no processo de transformação, conscientizando principalmente os educadores e a comunidade ao mesmo tempo em que se conscientizem. Isso significa tomar consciência das implicações das próprias mudanças e estar alerta para o significado total das mesmas, portanto, assumir as suas conseqüências e lutar no sentido de efetivá-las. Mais do que técnicos frios e distantes, devem ser profissionais que se comprometem e se inserem com os professores e a comunidade na solução dos problemas educacionais.

O diretor de escola que tenha sólidos conhecimentos sobre administração e

supervisão, aliados a docência terá uma visão ampla e profunda de tais problemas

educacionais. É de um profissional assim que a escola atual necessita, um

profissional aberto para as descobertas, em atitude de busca permanente, que tenha

o entendimento de que a ênfase do trabalho escolar deve estar no ensino e na

aprendizagem, subordinando o administrativo ao pedagógico.

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Os administradores e supervisores têm de acreditar e ampliar o dialogo, como uma estrutura fundamental de conhecimento em educação, aos demais elementos dos sistemas educacionais. Assim sendo, a organização e o funcionamento da educação brasileira tornar-se-ão um encontro de pessoas que buscam conhecer e implantar, por meio do diálogo, as medidas a serem adotadas (QUAGLIO, 2003, p. 53).

Cabe aos diretores e supervisores ouvirem as vozes da escola,

oportunizando-lhes espaço para a comunicação dialógica. Estas considerações

surgidas no diálogo serão base para uma ação conjunta e cooperativa, que requer

atitude de mudança, disponibilidade e busca de novas soluções para a organização e

funcionamento da escola.

A função de diretores e supervisores será a de “facilitadores” das alterações

na educação brasileira, a de “instigadores” dos professores, para que estes

transformem-se em verdadeiros sujeitos da mudança.

Há carência de administradores e supervisores com visões ampla e profunda sobre os problemas educacionais brasileiros, que implicam obrigatoriamente vivência tanto no nível de docência como no de administração e supervisão. São imprescindíveis profissionais comprometidos com a causa educacional brasileira, que além de sólidos conhecimentos sobre administração e supervisão, estejam abertos para as descobertas, isto é, longe de se apresentarem prontos e acabados, tenham uma atitude de busca permanente (QUAGLIO, 2003, p. 57).

Relacionando-se a administração com a supervisão, pode-se dizer que as

duas funções completam-se e são essenciais à escola. Nesta visão, um diretor que

possua formação em Supervisão Educacional poderá ser um profissional com uma

visão especifica do aspecto pedagógico da escola.

Para levantar considerações a este respeito, realizou-se pesquisa de campo

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com diretores de escolas com formação em Supervisão Educacional e em outras

áreas. O capítulo seguinte descreve esta pesquisa.

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5 PESQUISA REALIZADA

O presente trabalho desenvolveu-se a partir da questão problematizadora: a

formação em Supervisão Educacional auxilia na direção de escola?

Realizou-se pesquisa de campo, de caráter descritiva, com perguntas semi-

abertas em diretores de escola dos municípios que compõem a 12ª Coordenadoria

Regional de Educação.

Os dados coletados foram analisados de forma quali-quantitativa, sendo

usada a análise crítico-descritiva e gráficos.

Dos questionários respondidos pode-se analisar com o gráfico abaixo, a

formação dos diretores entrevistados.

Formação dos Diretores Entrevistados

30%

70%

Supervisão Educacional

Outros cursos da Área da Educação

A pergunta seguinte referia-se ao tempo em que o diretor exerce esta função.

Tempo de exercício na função de diretor

47%

30%

23%

Mais de 3 anos

3 anos

Menos de 2 anos

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Alguns diretores (23%) estão em seu primeiro ano de mandato, visto ter

havido eleição para diretor das escolas estaduais no ano de 2003.

Indagou-se dos diretores se estes já haviam exercido a função de Supervisor

Educacional e por quanto tempo.

Exercício na função de Supervisor Educacional

53%47% Exerceram a função

Não exerceram a função

Tempo de exercício na função de Supervisor Educacional

44%

12%

44% Mais de 3 anos

2 anos

1 ano

A pergunta seguinte da pesquisa questionou o que era aspecto

administrativo e aspecto pedagógico, na concepção dos diretores.

Os diretores com formação em Supervisão Educacional consideram aspecto

administrativo como a técnica de administrar uma escola, o comando do todo, o

andamento geral da escola e também como o conjunto de recursos humanos e

meios materiais que cumprem papel importante dentro das instituições escolares, no

fazer pedagógico.

Como aspecto pedagógico consideram que é a atividade didática que

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35

envolve conteúdo, avaliação, aprendizagem dentro do administrativo, envolvendo

alunos e professores.

Quanto aos diretores com formação em outras áreas educacionais, aspecto

administrativo é a organização, a tomada de decisões para o bom funcionamento de

todos os setores; é ter uma visão holística da escola, administrando em parceria com

o pedagógico, a parte burocrática, os aspectos materiais; é dinamizar e coordenar o

trabalho burocrático de acordo com a lei vigente, garantindo o espaço permanente de

formação de ensino, onde as relações deverão estar calcadas nas decisões

democráticas não perdendo de vista a qualidade do ensino-aprendizagem.

Para estes diretores, aspecto pedagógico é como está se realizando a

aprendizagem, o que se está proporcionando ao aluno, para que produza bons

frutos; é o próprio funcionamento da escola, diretamente ligado ao trabalho com

professores e alunos apoiando e organizando o planejamento do professor, o

rendimento e dificuldades que por ventura ambos venham a encontrar, em

consonância com a Proposta Pedagógica da Escola. Para eles, o aspecto

pedagógico visa coordenar o processo de formação pedagógica da escola, com

clareza da fundamentação teórica e estar comprometido com a construção e

reconstrução de conhecimento do educando, garantindo o planejamento didático-

pedagógico entre os docentes para qualificar os processos de tomadas de decisões

referentes às práticas.

A última pergunta feita aos diretores foi: O que é prioritário para você, como

diretor de escola: o pedagógico ou o administrativo? Por quê?

Page 36: A Formação em Supervisão Educacional  e o Exercício do Cargo de Diretora Escolar

36

Dos diretores com formação em Supervisão Educacional, 60% consideram

prioridade os dois aspectos, afirmando que estão relacionados, interligados, devem

andar juntos, pois a finalidade da Escola é uma só: “educar”. Outros 40% dão

prioridade ao aspecto pedagógico, considerando este aspecto a alma da escola,

fazendo-a vibrar, dando movimento e ação na escola, família e comunidade.

Para os diretores com outra formação que não a Supervisão Educacional,

67% priorizam ambos os aspectos, afirmando que para que um trabalho seja

desenvolvido com êxito é necessária a integração de todos os setores, para

continuidade das ações e alcance de objetivos. O aspecto administrativo é

considerado prioridade para 25% dos entrevistados. Estes alegam saber lidar melhor

com a parte administrativa. E apenas 8% dos diretores prioriza o aspecto

pedagógico, dizendo que a escola tendo um trabalho pedagógico bem construído,

comprometido, fica bem mais fácil o diretor administrar.

Analisando os resultados obtidos, pode-se concluir que os diretores com

formação em Supervisão Educacional valorizam mais o aspecto pedagógico, mas

não deixam de lado o aspecto burocrático-administrativo. Com isso, priorizam a

integração, a cooperação entre os dois aspectos, situando-se na linha atual da

educação que afirma que nenhuma ação hoje na escola é somente administrativa ou

pedagógica e que para o diretor é importante estar a par de tudo, ter conhecimento

em ambas as áreas.

Page 37: A Formação em Supervisão Educacional  e o Exercício do Cargo de Diretora Escolar

CONCLUSÃO

Diante do exposto ao longo deste trabalho, conclui-se que o diretor com

formação em Supervisão Educacional prioriza tanto o aspecto administrativo quanto

o pedagógico da escola ou até mesmo considera o aspecto pedagógico como o mais

importante.

Nesse momento, pode-se dizer que tendo a Supervisão Educacional como

formação, o diretor consegue aliar o pedagógico ao administrativo e com isso

perceber a escola como um todo.

A escola, analisada no primeiro capítulo, passa hoje por transformações,

situando-se entre a modernidade e pós-modernidade, vivendo uma crise de

paradigmas, necessitando portanto de um líder que domine conhecimentos em todas

as áreas educacionais, um diretor que tenha visão geral da escola e principalmente,

inter-relacione as áreas pedagógica e administrativa, fazendo-as remar na mesma

direção. Com isso, as possibilidades de sucesso serão muito maiores.

Também, hoje, professores e alunos modificaram seus comportamentos,

seus papéis neste novo cenário educacional que surge a partir da nova LDB. O aluno

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não é mais um ser passivo, interagindo em sua aprendizagem e não cabe mais ao

professor o título de “dono do saber” e sim o papel de desafiador, instigador,

provocador do aluno para que este adquira meios de buscar o conhecimento por si

só, visto este não estar mais apenas na escola.

As novidades provenientes da nova legislação exigem que se analise a

administração escolar e a Supervisão Educacional na atualidade. À Supervisão não

cabe mais o papel de controle, fiscalização e sim o de articuladora de uma relação

dialética entre escola e sociedade. Quanto à administração, o ideal seria que todas

as escolas conseguissem desenvolver um projeto de administração participativa,

onde todos os segmentos da escola interagem e definem os rumos do processo

educativo.

Considerando a relação entre Supervisão Educacional e Administração,

pode-se dizer, que no contexto atual, tais funções devem interagir, integrar-se,

trabalhar em conjunto, uma entendendo das funções da outra e nesta perspectiva,

um diretor que tenha formação em Supervisão Educacional terá mais chances de

constatar se realmente suas ações administrativas estão se refletindo no pedagógico,

na sala de aula, na aprendizagem dos alunos.

Pelo analisado nas respostas obtidas na pesquisa de campo, a formação em

Supervisão Educacional embasa o trabalho do diretor através da teoria desenvolvida

no curso, principalmente se esta estiver aliada à experiência no exercício desta

função e na docência, pois com isto este diretor observará a escola com outros olhos

e com certeza suas ações tanto administrativas quanto pedagógicas refletirão

diretamente no aluno e no professor, peças-chave do processo educativo.

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OBRAS CONSULTADAS

CATANI, Afrânio M; GUTIERREZ, Gustavo L. Gestão democrática da Educação; atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 2003. CHALITA, Gabriel. Educação A solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001. FERREIRA, Naura S. Carapeto (Org.); DOURADO, Luiz F.; KUENZER, Acácia Z. et al. Gestão democrática da Educação; atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 2003. FERREIRA, Naura S. Carapeto (Org.); SAVIANI, Dermeval~ALONSO, Myrtes et al. Supervisão Educacional para uma escola de qualidade. São Paulo: Cortez, 2002. LACERDA, Beatriz Pires de. Administração Escolar. São Paulo: Pioneira, 1977. LÜCK, Heloisa. Ação Integrada: Administração, Supervisão e Orientação Educacional. Petrópolis: Vozes, 2003. MAIA, Graziela Z. Abdian (Org.); RAPHAEL, Hélia S.; QUAGLIO, Paschoal et al. Administração e Supervisão escolar: Questões para o novo milênio. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003. MEDINA, Antonia da Silva. Supervisão escolar. Porto Alegre: AGE, 2002. RANGEL, Mary (Org.). Supervisão Pedagógica: Princípios e Práticas. Campinas: Papirus, 2002.

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40

SCHIRMER, Cezar. Projeto de Lei nº 4.412/01. VIEIRA, Sofia Lerche (Org.); DAVIS, Cláudia; GROSBAUM, Marta W.; PENIN, Sonia T. Souza et al. Gestão da Escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. ZIEGER, Lílian. Escola um lugar para ser feliz. Canoas: ULBRA, 1998.

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ANEXO

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Instrumento aplicado como forma de pesquisa (Questionário)

1) Qual a sua formação? 2) Há quanto tempo exerce a função de diretor? 3) Na sua concepção o que é aspecto administrativo e o que é aspecto

pedagógico? 4) Já exerceu a função de Supervisor Educacional? Por quanto tempo? 5) O que é prioritário para você, como diretor de escola: o pedagógico ou o

administrativo? Por quê?