A FORMAÇÃO POLÍTICA DO EDUCADOR

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE EDUCAO

    CARINA BANNWART

    A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR

    CAMPINAS

    2006

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE EDUCAO

    CARINA BANNWART

    A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR

    "Memorial apresentado ao Curso de Pedagogia -

    Programa Especial de Formao de Professores

    em Exerccio nos Municpios da Regio

    Metropolitana de Campinas, da Faculdade de

    Educao da Universidade Estadual de Campinas,

    como um dos pr-requisitos para concluso da

    Licenciatura em Pedagogia.

    CAMPINAS

    2006

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    by Carina Bannwart, 2006.

    Ficha catalogrfica elaborada pela bibliotecada Faculdade de Educao/ UNICAMP

    Bannwart, Carina

    B228f A formao politica do educador : memorial de formao / Carina

    Bannwart. -- Campinas, SP : [s.n.], 2006.

    Trabalho de concluso de curso (graduao) Universidade Estadual

    de Campinas, Faculdade de Educao, Programa Especial de Formao de

    Professores em Exerccio da Regio Metropolitana de Campinas (PROESF).

    1.Trabalho de concluso de curso. 2. Memorial. 3. Experincia de vida.4. Prtica docente. 5. Formao de professores. I. Universidade Estadual de

    Campinas. Faculdade de Educao. III. Ttulo.

    06-348-BFE

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    AGRADECIMENTOS

    meus pais Edilza e Paulo, por todos os anos de esforo e de luta que passaram para

    que eu chegasse at aqui; pelo apoio; pelo incentivo; e por todas as noites em que se

    arriscaram para me encontrar na rodovia, chegando da faculdade,

    minha irm amiga Bruna, por tantas leituras que ouviu e por ser minha crtica

    particular que muito me auxiliou com sua sabedoria,

    Ao meu esposo e companheiro Reginaldo, to atencioso e presente, que sempre me

    apoiou, e tambm soube me entender quando precisei deix-lo sozinho nos finais de

    semana para fazer meus trabalhos,

    s minhas colegas da Turma A, que trouxeram contribuies e amizades,

    professora Marta e professora Alexandra pela colaborao,

    queles professores do municpio de Indaiatuba que conseguiram desvelar seu olhar ,

    e no mais se omitem,

    E a todos que comigo convivem e me entendem quando digo que as pessoas tm

    pobrema!

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    A memria, onde cresce a histria, que por sua

    vez a alimenta, procura salvar o passado para

    servir o presente e o futuro.

    Devemos trabalhar de forma que a memria

    coletiva sirva para a libertao e no para a

    servido dos homens

    Jacques Le Goff

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    SUMRIO

    1. APRESENTAO 07

    2. FOI ASSIM QUE ACONTECEU... 09

    3. POLTICAS EDUCACIONAIS 12

    4. GESTO ESCOLAR 15

    5. ALIENAO 175.1. Alienao do Professor. 17

    5.2. A influncia da Formao. 19

    5.3. A Greve. 23

    5.4. E agora? Alienao? 26

    6. CONTINUIDADES E RUPTURAS. 296.1. Comisso de Estudos para Reestruturao do Estatuto e Plano

    de Carreira do Magistrio Municipal de Indaiatuba. 30

    7. CONSIDERAES FINAIS. 33

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 35

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    1. APRESENTAO.

    O segredo de ir em frente comear.Sally Berger.

    Memorial de Formao...

    Aparentemente algo de fcil elaborao, por tratar de minha vivncia... No

    entanto, to complexo, por referir-se a tantos erros e acertos da minha vida profissional,

    que nem sempre so fceis de reconhecer e de aceitar...

    Durante esses seis semestres em que tive a oportunidade de cursar o PROESF1,

    grande foi meu amadurecimento intelectual.

    Um desvelar de olhos me foi propiciado e hoje afirmo com segurana: sou porvezes mais feliz e por vezes mais receosa em relao profisso professor.

    Mais feliz ao perceber quo importante nossa misso, e quo significativos

    podemos ser na formao do indivduo...

    Mas, por vezes sou mais receosa, quando percebo alienao por grande parte de

    meus colegas, que usam o belo discurso do educar para a formao do cidado... ou

    possibilitar a formao crtica dos alunos..., quando na verdade, eles (professores) no

    o so cidados conscientes ou crticos! E seu comportamento verbal difere do no-

    verbal parecendo tratar-se de pessoas diferentes (SKINNER, 1995, p.87). Falta

    discernimento, conscincia e amadurecimento para muitos...

    Para outros, porm, que, no coincidentemente, tiveram ou esto tendo uma

    formao continuada, os pensamentos so diferentes, mais centrados e condizentes.

    Ento, diante de tal realidade e com tantas indagaes, exclamaes e

    afirmaes que me cercam, sem dvida alguma, meu Memorial de Formao tinha de

    tratar a respeito da Formao Poltica do Educador.

    um tema do qual sinto prazer em tratar e que tem tudo a ver com minha

    formao.

    Iniciarei, ento, meu Memorial com um breve histrico de minha vida at o

    momento em que comecei a lecionar e, depois, quando j professora, quais as mudanas

    que tenho vivenciado, seja na minha prtica educativa, seja na minha formao;

    1

    Programa Especial para Formao de Professores em Exerccio na Rede de Educao Infantil ePrimeiras Sries do Ensino Fundamental da Rede Municipal dos Municpios da Regio Metropolitana deCampinas.

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    2. FOI ASSIM QUE ACONTECEU...

    O importante e bonito do mundo isso:que as pessoas no esto sempre iguais,

    ainda no foram terminadas, mas que elasvo sempre mudando.Afinam e desafinam.

    (Guimares Rosa)

    Ser professora nunca foi o meu sonho de criana. Pelo contrrio, essa era a

    profisso da qual no desejava seguir!

    Lembro-me de quando meu tio falava sobre me achar com jeito pra ser

    professora e eu ficando muito brava com ele... Imaginava-me aeromoa, atriz,

    reprter... Menos: professora.

    Nem mesmo ao chegar na 8 srie (em 1994) tinha isso em mente. Porm, ao

    final daquele ano, uma dvida surgiu-me: fazer o ento colegial, ou tentar o

    magistrio??? Eis que, ento, acabei por iniciar minha carreira sem a menor inteno de

    que isso ocorresse.

    Na verdade, tive como formao inicial o magistrio, que fiz no por crer ter

    habilidades pra isso, ter o dom, mas sim por acreditar ser o magistrio uma opo

    melhor que um simples ensino mdio. Afinal, como ainda no tinha tido nenhuma

    experincia profissional, uma possibilidade a mais no mercado de trabalho faria muita

    diferena.

    E assim, ao longo dos quatro anos do curso, busquei uma participao ativa no

    mesmo, a fim de ter uma boa formao.

    Ento, formei-me em 1998 com excelentes notas. E, em 1999 iniciei minha vida

    profissional trabalhando como monitora num stio de Indaiatuba. Stio que recebiavisitas escolares.

    L, explicava aos alunos sobre as plantas e frutas, ensinava os alunos a

    semearem hortalias, explicava sobre o minhocrio, e, alm disso, eles passeavam de

    trator e a cavalo. Porm, era um trabalho espordico, que no me dava condies nem

    mesmo de arcar com o curso de informtica que tanto tinha interesse em fazer. Por isso,

    ainda em 1999, quando da publicao do concurso pblico de Indaiatuba, arrisquei

    prest-lo. No que ansiasse por lecionar, mas precisava, definitivamente de um trabalhoregular! E, enquanto isso, distribua meus currculos para outras reas de interesse.

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    Fui aprovada...

    Conseqentemente, no incio do ano de 2000, veio-me a oportunidade de

    lecionar, e eu aceitei. No que tivesse mudado de idia e me interessado repentinamente

    pela rea, mas porque, dentre as oportunidades profissionais que surgiram, essa foi a

    que garantiu estabilidade.

    Porm, sempre pensando em seguir futuramente uma outra carreira, prestei um

    vestibular para Comrcio Exterior e passei!

    Mas no tive condies de sozinha, arcar com as despesas. Era uma faculdade

    particular e meus pais no poderiam me ajudar: minha me cuidava da casa e da famlia,

    e meu pai, sendo agricultor, sempre teve uma renda baixa.

    Ento, no me matriculei.

    Fiquei muito triste com isso, mas tinha a inteno de tentar novamente numa

    prxima oportunidade...

    E assim as semanas e os meses foram passando...

    E eu, lecionando e me atualizando na rea da educao, atravs de vrios cursos

    oferecidos pela Prefeitura Municipal de Indaiatuba, tais como: Programa de Formao

    de Professores Alfabetizadores (PROFA); Piaget para Professores (ministrado pelo

    pessoal do laboratrio de Psicologia Gentica, da Unicamp); PCN2 em Ao, mdulos:

    Matemtica na Educao Infantil; Artes na Educao Infantil; Matemtica na Educao

    de Jovens e Adultos; Portugus na Educao de Jovens e Adultos; Histria no Ensino

    Fundamental, entre outros.

    Sei que, quanto mais experincia e formao fui adquirindo, mais me interessei e

    me dediquei nessa rea (ainda no percebia nesta poca as polticas educacionais a

    inseridas).

    E quando em 2003 surgiu a possibilidade de graduar-me em Pedagogia pela

    UNICAMP, toda e qualquer dvida que por ventura ainda sustentava, dissipou-se, e,para substitu-la, veio o desejo de estudar mais e mais.

    Muito aprendi ao longo de minha Graduao: amadureci e apurei meu olhar

    sobre as coisas que antes me faziam parecer serem certas e indiscutveis, imutveis.

    Muitas leituras e discusses me fizeram perceber isso.

    Hoje procuro um embasamento maior, uma explicao mais eloqente em tudo

    que me passado, e tambm no que transmito a meus alunos, j que a educao nos

    2 Parmetros Curriculares Nacionais.

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    3. POLTICAS EDUCACIONAIS.

    No mundo capitalista em que vivemos, as polticas educacionais so voltadas

    preparao do indivduo para o mercado de trabalho, onde

    absolutamente necessrio considerar o processo de reproduo em suaforma fundamental, livre de todas as interferncias perturbadoras, a fim dedesprender-nos de todos os ilusrios subterfgios que assumem a aparnciade explicao cientfica quando tomamos diretamente, como objeto deanlise, o processo social de reproduo em sua forma concretaembaraante4(MARX, 1983, p.487).

    Ao analisarmos a LDB5

    , os PCNs, o PNE6

    , percebemos que as tendnciaspredominantes so reforadas e, os valores, as polticas educacionais e as concepes de

    conhecimento, ditadas pelo Banco Mundial.

    Vemos refletidas as desigualdades, e podemos perceber que, para a elite,

    interessa numa certa medida, a ignorncia da populao, como meio de manuteno do

    sistema. Alis, os pensamentos da classe dominante so tambm, em todas as

    pocas, os pensamentos dominantes (MARX; ENGELS, 1998, p.48).

    O governo impe reformas para tentar acompanhar a nova ordem mundial. Da a

    criao de programas e parmetros a serem institudos na educao a fim de melhorar as

    estatsticas educacionais, cumprindo assim as exigncias do Banco Mundial e

    garantindo financiamentos.

    Mas necessrio preocupar-se com o professor, que pode tornar-se um

    obstculo desse processo.

    Da a idia de que para a obteno de sucesso Seria desejvel que a admisso

    profisso (docente) se fizesse a partir de testes sobre o conhecimento das matrias, para

    logo depois fornecer uma formao inicial curta e capacitao em servio, a fim de

    moldar o educador conforme a convenincia. (BM, 1998 apud TOMMASI; WARDE;

    HADDAD, 1996, p.165).

    Diante de tal fato, recordo-me dos cursos de PCNs que fiz pela Prefeitura

    Municipal de Indaiatuba logo no incio de minha carreira.

    4

    Grifos meus.5 Lei n 9.394 / 96 - Diretrizes e Bases da educao Nacional.6 Lei n 10.172 / 01 Plano Nacional de Educao.

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    Foram fornecidos vrios mdulos (Histria, Geografia, Matemtica,...). E

    aqueles professores que se interessavam, deviam curs-los aos sbados, fora do horrio

    de trabalho e sem receber nada a mais por isso, alm de mseros pontos, ou melhor,

    dcimos de pontos, teis nas atribuies de aula.

    Porm, esses pontos tinham a validade de dois anos. Terminado o prazo,

    perdiam-se os mesmos...

    Eu fiz quase todos os cursos, uma vez que, sendo recm-nomeada, no tinha

    nenhuma pontuao, e no tinha tambm conhecimento da proposta educacional da rede

    de ensino. Ainda no percebia nessa poca o esquema de manipulao existente,

    tampouco sabia das exigncias do Banco Mundial...

    Bem, muitos professores no puderam participar desses cursos, uma vez que

    poucos podiam disponibilizar suas manhs inteiras de sbados para os mesmos, depois

    de uma semana inteira dobrando perodos, em troca de dcimos de pontos com

    validade! E, aqueles que o faziam, muitas vezes sentiam-se desestimulados em

    continu-los, aps alguns encontros de repetio, ministrados por coordenadores de

    unidade escolar a quem fora imposto serem os multiplicadores, e que nem sempre

    tinham tais habilidades ou preparo.

    Por isso, durante nossas reunies na escola e durante os HTPC7s, a direo

    escolar tinha a postura de tentar convencer a todos sobre a necessidade de realizarem

    tais cursos. Havia tambm certa discriminao com aqueles professores que no

    participavam dos mesmos. Mas essa discriminao no vinha apenas da parte da direo

    escolar: muitos professores os julgavam tambm.

    Ainda assim, muitos no participavam dos cursos. Ento, desde dezembro de

    2003, a Secretaria Municipal da Educao, instituiu o misterioso GPAP8 no fim do

    ano, destinados queles professores que no atingissem certo nmero de faltas/aula e

    faltas/HTPCs, alm de terem cumprido n carga horria de cursos que tivessem sidooferecidos pela administrao naquele ano. A partir disso, era calculado o percentual

    que cada um teria para receber (100%, 50% ou 25% do salrio base), sendo que a

    grande maioria dos professores nem mesmo tinham direito aos 25%. No ano de sua

    instituio, por exemplo, muitos no o receberam por no terem feito o PROFA daquele

    ano, e, mesmo j o tendo feito em ano anterior, no se pde contar com o mesmo na

    contagem de pontos para alcanar o direito a tal benefcio.

    7 Hora Trabalhada Pedaggico Coletiva.8 Gratificao de Produo e Aperfeioamento Profissional.

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    O fato de muitos no obterem o direito a gratificao foi divulgado pela

    Secretaria da Educao nos meios de comunicao local, a fim de desmoralizar o grupo

    de professores que comeava a incomodar a mesma com seus descontentamentos e suas

    queixas...

    Vale ressaltar que alm da Licena-Sade, a Licena Gala9 e a Licena Nojo10

    tambm impediam o direito gratificao. O que tambm prejudicou a muitos...

    Utilizei anteriormente do termo misterioso bnus, devido ao fato de no

    sabermos se a verba para o mesmo proveniente do FUNDEF (o que daria direito a

    todos os professores!), ou se a verba proveniente de outros recursos da Prefeitura (o

    que daria o direito reivindicao a todos os demais funcionrios!).

    Alm disso, no decorrer desses 3 anos, nunca se soube logo no incio do ano se

    haveria o mesmo ou no. O GPAP sempre foi uma surpresa. Com exceo deste ano

    (2006) em que se leu as regras do ano anterior na suposio de que continuaro as

    mesmas - com a contagem de pontos a serem atingidos pelo professor e sua conseqente

    porcentagem no mesmo (que pode ser 0%, no havendo um mnimo a ser recebido por

    todos, mas um mnimo a ser pago de 25%).

    Enfim, essa gratificao de produo e aperfeioamento incentivou muitos

    educadores, mas indignou uma outra parte, devido ao seu mistrio, suas regras

    excludentes e a incerteza a cada ano.

    Mas o que vale que, de certa forma, a imagem da Prefeitura atravs da

    Secretaria da Educao, a de quem incentiva seus professores a se aperfeioarem e a

    no faltarem no trabalho, oferecendo assim uma educao de qualidade aos filhos da

    populao...

    9 Licena para Matrimnio.10 Licena por Falecimento de parentes.

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    4. GESTO ESCOLAR.

    A gesto baseada na escola

    Uma estrutura e processo que permite maior poder de tomada de deciso comrelao s reas de ensino, oramento, polticas, normas e regulamentos,corpo docente e todo assunto de governo, um processo que envolve umavariedade de agentes nas decises relacionadas a uma escola concreta eindividual (HERMAM, 1990 apud SANTOS FILHO, 1998, p. 2).

    Por isso, a importncia de revermos certas situaes ocorridas no mbito escolar.

    O professor deve ter maior participao nas decises escolares, ter maior

    responsabilidade pelo processo escolar, e autonomia respeitada, e, como conseqncia,

    maior interesse e responsabilidade pelos acontecimentos escolares.Porm, das muitas leituras e das muitas discusses que participei em sala durante

    o PROESF, pude perceber e lamentar no vivenciar uma gesto realmente participativa.

    No municpio em que trabalhei, recebemos muitas coisas prontas e apesar de

    sermos consultados em HTPCs geralmente as decises j foram tomadas, restando-nos

    apenas decidir sobre o dia a entregar o planejamento de aula, as sondagens dos alunos...

    A Gesto autoritria e qualquer descontentamento por parte do professor no

    levado em considerao e, s vezes, sua reivindicao nem sai da Unidade Escolar.Isso possivelmente deve-se ao fato de o municpio adotar a indicao para os

    cargos de Coordenador de Unidade Escolar e para Diretor de Unidade Escolar.

    Assim, o professor que aps o perodo de estgio probatrio (3 anos) demonstrar

    comprometimento com a rede de ensino (e em alguns casos, certas amizades lucrativas)

    indicado ao cargo. Mas, at algum tempo atrs, ao assumir esse novo cargo por

    indicao o profissional devia assinar sua exonerao do cargo de professor (o que

    legalmente prejudicial, uma vez que um cargo pblico deve ser decorrente de umconcurso pblico - salvo os cargos de comisso - e se o professor exonerar-se, fica sem

    a estabilidade, sem a garantia de acesso ao cargo pblico pelo concurso) para poder

    assumir a funo de Coordenador ou Diretor.

    Aqueles que no correspondessem ao esperado teriam de voltar sala de aula.

    Mas, e quanto exonerao que tiveram de assinar? Qual a funo da mesma?

    Pressionar o profissional? Mant-lo moldado conforme a convenincia?

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    Bem, por essas e outras a gesto escolar no em nada democrtica: a direo

    escolar faz cumprir s exigncias e modismos da Secretaria da Educao, uma vez que

    se assim no o fizerem sero advertidos e pressionados.

    J os professores que parecem ter uma postura mais crtica11, dificilmente tm

    seus questionamentos esclarecidos.

    Outros, que temem pela presso exercida de cima pra baixo com tantas

    advertncias e relatrios, preferem no questionar.

    Havia ainda at o ano de 2005 um terceiro grupo, que alimentava a esperana de

    uma indicao e que adotava a postura do bom exemplo. Esse grupo perdeu sua fora

    devido a Reestruturao do Estatuto, que teoricamente extinguir as indicaes...12

    Sabemos que

    Na medida em que se conseguir a participao de todos os setores da escola educadores, alunos, funcionrios e pais nas decises sobre seus objetivos eseu funcionamento, haver melhores condies para pressionar os escalessuperiores a dotar a escola de autonomia e recursos. (PARO, 2001, p.12).

    Por isso, lamentvel verificar que uma Gesto Escolar participativa no existe

    no Municpio de Indaiatuba. E eu tenho bem claro que a Secretaria Municipal de

    Educao teme que isto ocorra.

    No indicado para a manuteno das tendncias que haja tanta autonomia na

    escola... Ento, melhor manter como est: as normas so ditadas e cabe direo escolar

    repassar aos professores, que devem segu-las, preferencialmente sem muito questionar.

    11 Ver A Influncia da Formao, p.13.12 Ver Continuidades e Rupturas, p.23.

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    5. ALIENAO.

    Ao analisar o comportamento do professorado, to distante do discurso dos

    mesmos, e da sua capacidade de discernimento, cheguei a nica explicao possvel

    para tal destoamento: a Alienao.

    Mas afinal, o que Alienao?

    O verbo alienar vem do latim alienare, afastar, distanciar, separar. Alienus

    significa que pertence a outro, alheio, estranho. Alienar, portanto, tornar alheio,

    transferir para outrem o que seu13 (ARANHA, 1996, p.22).

    Ainda sobre seu conceito: Alienao: 1. Ato ou efeito de alienar (-se). 2.

    Cesso de bens. 3. Enlevo, arrebatamento. 4. Falta de conscincia dos problemas

    polticos e sociais14 [...] (FERREIRA, 2000, p.32).

    5.1. Alienao do Professor.

    Chego, ento, ao ponto que muito me aflige no professorado: sua alienao.

    Por diversas vezes testemunhei colegas descontentes questionarem modismos da

    Secretaria da Educao, que nada mais so que reflexos das recomendaes do Banco

    Mundial para preservao de financiamento ao pas, inclusive na rea da educao.

    Pois bem, os mesmos que, fervorosamente, debatiam em intervalos de suas aulas

    a respeito de certas atitudes da Secretaria, rarssimas vezes expunham tal

    descontentamento direo escolar, ou a escales maiores.

    como se fossem outras pessoas participando das reunies, onde de repente

    tudo est correto, sem muitos questionamentos.

    Eu, enquanto cidad consciente, (no tanto como o sou hoje aps o PROESF)

    sempre questionei certas atitudes. Sempre fui das que mais falavam, a ponto de meuscolegas confiarem a mim suas inquietaes na inteno que eu os representasse em

    minha fala...

    Sempre conversei com os mesmos a respeito da importncia de reivindicarmos

    sobre nossos direitos, reivindicarmos sobre nossas condies de trabalho e condies

    salariais. Mas, at ento, pouco havia mudado no comportamento do professor.

    13 Grifos meus.14 Grifos meus.

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    Os riscos de alienao que ameaam os profissionais em geral do mundocontemporneo atingem tambm os professores, profissionais quedesenvolvem um tipo de trabalho intelectual, ou trabalho no-material, muitopeculiar, [...] j que seu trabalho se desenvolve durante o ato mesmo de seproduzir (ARANHA, 1996, p. 25).

    Seja l qual a profisso, j se lamenta quando h alienao, porm, quando se

    trata do professor isso tem uma agravncia ainda maior por serem estes, intelectuais que

    lidam com a transmisso de conhecimentos e de valores.

    Alm disso, ao se compreender os professores como intelectuais, possvel aelaborao de uma severa crtica quelas ideologias que legitimam as prticassociais que separam, de um lado, conceitualizao, projeto e planejamento e,de outro, os processos de implementao e execuo. importante enfatizarque os professores devem responsabilizar-se ativamente por levantar questes

    srias sobre o que ensinam, como devem ensinar e quais os objetivos maisamplos por que lutam. Isto significa que devem desempenhar papelimportante na definio dos propsitos e das condies da escolarizao(GIROUX, 1987 apud ARANHA, 1996, p. 27).

    Ento, diante de tal situao, fica muito claro a desconformidade discurso x

    atitude e, tambm, a discordncia entre a funo formadora do educador e sua alienao,

    alm da urgente necessidade de mudana de atitude.

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    5.2. A Influncia da Formao.

    Em 2002, inicia-se o programa de formao continuada do professor. E como j

    mencionado anteriormente, as polticas educacionais sofrem srias influncias do Banco

    Mundial, da a possvel explicao para a implantao desse programa:

    O BM chegou a um ponto crtico em que se v forado a revisar posies:no possvel continuar sustentando que a capacitao em servio maisefetiva quando, ao mesmo tempo, se reconhece que essa apenas umaestratgia paliativa com relao a um mau sistema escolar e uma m (ouinexistente) formao inicial, sendo ela quem garante o domnio decontedos, varivel fundamental no desempenho docente; no possvelcontinuar defendendo a formao docente em termos da oposio entreformao inicial e capacitao em servio, quando se reconhece que o

    prprio sistema escolar (e a sua melhoria) a fonte mais segura de umaeducao geral slida dos professores; no possvel propor novosparmetros de recrutamento docente os melhores, os mais competentes esquivando-se das questes salariais e profissionais associadas a esse perfildocente. No possvel continuar afirmando, em definitivo, que se podemelhorar a qualidade da educao sem melhorar substancialmente aqualidade dos docentes, o que por sua vez leva a reconhecer o quanto inseparvel a qualidade profissional da qualidade de vida (TOMMASI;WARDE; HADDAD, 1996, p.166).

    E apesar dessa influncia externa, essa foi uma excelente oportunidade para que

    pudssemos aprimorar nossa formao. Afinal, nem sempre se cuidou adequadamenteda importante questo da formao do professor. H uma idia corrente de que vocao

    e desprendimento generoso bastam para que a pessoa se encaminhe para esta profisso

    o que significa a viso de muitos que ainda ignoram a importncia da formao do

    professor (ARANHA, 1996, p.152).

    Por isso, todos ns, professores da Rede Municipal de Ensino de Indaiatuba,

    ficamos ansiosos em relao a tal projeto.

    Ento, um grupo de professores concorreu ao curso Pedagogia Cidad,ministrado pela UNESP, apostilado e realizado em Indaiatuba mesmo, utilizando o

    recurso de videoconferncias. Para essa turma 50 vagas foram oferecidas...

    Outro grupo de professores concorreu ao curso de Pedagogia (PROESF) da

    UNICAMP, a ser realizado em Valinhos. Nesse, 20 vagas foram oferecidas...

    E eu, juntamente com outros colegas, no pude concorrer a nenhuma dessas

    vagas, por estar ainda em estgio probatrio, sendo essa uma das condies exigidas

    pela Secretaria da Educao para concorrer s vagas: ter terminado o estgio probatrio,

    que tem a durao de 3 anos.

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    Havia tambm aqueles que preferiam ignorar nossas conversas por nos considerarem

    insurgentes.

    Lembro-me de que estando ainda no 1 semestre do PROESF nos foi proposto

    um trabalho a respeito das polticas educacionais, e nosso grupo teve de explanar sala

    a respeito do FUNDEF15.

    Nessa ocasio, eu pouco sabia do mesmo. Ento, aps pesquisas, informei-me

    sobre o repasse do Fundo, do qual 60% devem ser aplicados em salrios e capacitao

    do professor que atue nesse nvel de ensino.

    Art. 7 Os recursos do Fundo, includa a complementao da Unio,quando for o caso, sero utilizados pelos Estados, Distrito Federal eMunicpios, assegurados, pelo menos 60% (sessenta por cento) para a

    remunerao dos profissionais do magistrio, em efetivo exerccio de suasatividades no ensino fundamental pblico.

    Pargrafo nico - Nos primeiros cinco anos, a contar da publicaodesta Lei, ser permitida a aplicao de parte dos recursos da parcela de 60%(sessenta por cento), prevista neste artigo, na capacitao de professoresleigos, na forma prevista no art. 9, 1 (LEI n 9.424, 1996).

    Ao comentar sobre isso na escola em que trabalhava, muitos professores

    demonstraram surpresa em relao a essa informao. Eles (assim como eu) no tinham

    idia sobre.Da, que, sendo o FUNDEF calculado por aluno, e tendo um valor nico fixado

    no Estado, comeamos a comparar nossos salrios em relao Regio Metropolitana

    de Campinas (RMC), da qual Indaiatuba faz parte.

    Percebemos que em nosso municpio paga-se um dos menores salrios da regio.

    Comeamos a questionar se estaramos recebendo ou no o repasse dos 60% do

    FUNDEF, j que os salrios eram to discrepantes e no recebamos reajuste h anos,

    com a justificativa de falta de verbas...Os questionamentos comearam a incomodar a Secretaria, pois estavam

    tornando-se uma constante. Tentaram nos convencer de que no havia nada de errado

    com os clculos de repasse do Fundo, e que, se houvesse algum problema, o Conselho

    que fiscaliza a distribuio desse recurso com toda a certeza impediria aes

    desonestas...

    15 Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorizao do Magistrio, Lei n9.424, de 24 de Dezembro de 1996.

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    Art. 4 O acompanhamento e o controle social sobre a repartio,a transferncia e a aplicao dos recursos do Fundo sero exercidos, junto aos respectivos governos, no mbito da Unio, dos Estados, doDistrito Federal e dos Municpios, por Conselhos a serem institudos emcada esfera no prazo de cento e oitenta dias a contar da vigncia destaLei.

    1 Os Conselhos sero constitudos, de acordo com norma decada esfera editada para esse fim:

    [...]IV - nos Municpios, por no mnimo quatro membros

    representando respectivamente:a) a Secretaria Municipal de Educao ou rgo equivalente;b) os professores e os diretores das escolas pblicas do ensino

    fundamental;c) os pais de alunos;d) os servidores das escolas pblicas do ensino fundamental;

    (LEI n 9.424, 1996).

    Porm, quanto mais informaes obtamos, e quanto mais discutamos em nosso

    curso, maior nosso desapontamento.

    Verificamos, por exemplo, via on-line, o valor do FUNDEF a ser repassado ao

    Municpio, e percebemos que o valor do nosso salrio era muito menor do que o

    previsto dentro dos seus 60%; Alm disso, como as contas do Municpio foram por 3

    anos seguidos rejeitadas pelo Tribunal de Contas da Unio fomos ficando cada vez mais

    descrditos com a Secretaria da Educao.

    E o que deu incio a um clima ainda maior de descontentamento foram as

    presses hierrquicas ditatoriais e injustas. E, no coincidentemente, os professores que

    estavam na Graduao foram os mais questionadores e provocadores de uma certa

    desordem na ento ordem existente. Desordem essa referente s reclamaes antes

    no existentes.

    Tambm no coincidentemente, somente a partir dessa formao dos

    professores, surgiram as queixas com embasamento, as crticas sobre a at ento a

    aparente administrao perfeita - que conseguiu por durante 8 anos no reajustar os

    salrios dos funcionrios pblicos e ainda manter-se vista como uma das melhores

    administraes da cidade (conseguindo inclusive, eleger um sucessor aliado).

    Porm, a conscientizao e tomada de atitude por parte do funcionalismo

    municipal de Indaiatuba, no foram iniciadas pelos professores, que apesar de

    apresentarem uma mudana de pensamentos, com relao s atitudes demonstraram

    poucas mudanas. E o progresso com relao aos atos comeou a surgir aps a juno

    entre a formao que esto vivenciando e o movimento de greve do qual poucosparticiparam.

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    5.3. A Greve.

    O ano de 2004 foi um ano de considervel ganho poltico na cidade de

    Indaiatuba. Final do 2 mandato do ento prefeito, a ser, conforme pesquisas, sucedido

    por seu candidato.

    Funcionrios pblicos em geral descontentes com o salrio (que durante os 8

    anos de mandato da mesma administrao, no teve nenhum reajuste), resolveram unir-

    se para debaterem suas reivindicaes.

    Atitude ento iniciada por monitoras de creche, (profissionais com menor

    formao que os professores, mas com maior conscincia poltica) que em parceria com

    o Sindicato dos Metalrgicos - que cedeu espao para reunies e uma advogada para

    esclarecimentos legais - elaboraram boletins informativos a todos os funcionrios

    pblicos municipais, cujo tema central era a defasagem salarial, alm das divergentes

    condies de trabalho que tnhamos quando comparadas Regio Metropolitana de

    Campinas; o autoritarismo; o desrespeito com o funcionrio,... Enfim, muitos aspectos

    negativos e a necessidade de um posicionamento crtico de nossa parte.

    Nesses boletins os funcionrios eram convocados a participar de reunies para

    estudar as leis, analisar e definir as reivindicaes a serem encaminhadas ao prefeito,

    em nome de todo o funcionalismo.

    Porm, durante as muitas e muitas reunies, sempre houve um nmero irrisrio

    de participantes, sendo o professorado o menos interessado aparentemente, por ser o

    menos participativo (mesmo aqueles que modificaram seu discurso nas escolas e

    estavam em meio formao demonstraram medo em participar das reunies!).

    Ainda assim, apesar da pouca participao do funcionalismo, formou-se uma

    Comisso para representar os funcionrios e encaminhar prefeitura nossas

    reivindicaes que foram construdas nas reunies.Infelizmente, no houve nenhum retorno por parte da administrao que fingia

    ignorar o modesto, porm indito comportamento.

    Enquanto isso, na escola, os professores sabendo que eu participava das

    reunies, perguntavam-me sobre o andamento das mesmas; e alegavam no terem ido

    por n motivos que os impossibilitavam.

    Ainda na expectativa da participao dos mesmos, esclarecia suas dvidas e

    insistia para que fossem s prximas reunies... E os professores apoiavam nossa atitudee davam sugestes.

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    O mesmo ocorria nas outras escolas em que haviam professores envolvidos no

    movimento.

    Mas a participao de professores nas reunies em pouco crescia... Para ser

    alguma coisa, para ser si mesmo e sempre uno, preciso agir como se fala; preciso

    estar sempre decidido a respeito do partido a se tomar, tom-lo abertamente e continuar

    sempre com ele (ROUSSEAU, 1999, p.12).

    Quanto ao andamento de nossas reivindicaes, divulgamos em jornal e rdio

    local nosso descontentamento, a perda salarial do perodo daquela administrao que

    chegou a 50% comparado inflao. Mas tambm no tivemos nenhum retorno.

    Diante disso, a Comisso elaborou uma Carta Aberta Populao onde

    expunha nossa realidade, com as reivindicaes e informando a todos que se a

    administrao continuasse a ignorar nossa fala, faramos uma paralisao como forma

    de protesto.

    Novamente no houve retorno. Por isso, combinamos que iramos realizar a

    paralisao.

    E o dia 21 de junho de 2004 foi o primeiro dos 4 dias que entraram na histria

    do Municpio por acontecer uma paralisao dos funcionrios.

    Naquela manh, acreditando em todo o apoio e conscientizao dos

    professores, fomos s escolas buscar adeses para a paralisao, que tnhamos certeza,

    se tivesse considervel representatividade, seria eficaz.

    Enquanto isso, outras categorias do funcionalismo faziam o mesmo: pessoais da

    sade, das obras, das creches, tambm foram aos seus locais de trabalho em busca de

    adeses.

    Contudo, segundo o argumento da apatia das massas, muitas pessoas so

    politicamente apticas e ficam felizes que uma minoria que ambiciona a liderana tome

    decises em nome delas (SANTOS FILHO, 1998, p.10).Por isso, ao conversar com meus colegas no porto da escola, os mesmos

    disseram concordar e estarem dispostos a paralisar naquele dia! Porm, quando a

    diretora chegou, uma professora preferiu entrar sem nem sequer me olhar, outra se

    aproveitou da situao e entrou tambm,... Logo, todos haviam entrado sob a

    justificativa que se no parassem todos de nada adiantaria.

    E eu fiquei sozinha com as monitoras que me acompanhavam do lado de fora da

    escola, enquanto a diretora e os coordenadores olhavam-nos com ar de satisfao dolado de dentro...

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    A populao ficou dividida: alguns nos criticaram por considerarem uma tima

    administrao que tantas praas construiu, outros porque sofreram sem o atendimento

    integral das creches; Mas muitos nos apoiaram. E por ser essa a primeira manifestao

    da histria do municpio e apesar de ter havido pouca adeso do professorado, foi um

    acontecimento notvel e marcante.

    E sendo eu uma das pouqussimas representantes do professorado descontente,

    muito me orgulho de ter participado dos quatro dias de paralisao ocorridos.

    E esses quatro dias significaram pra mim experincia e aprendizado de uma

    vida!

    5.4. E agora? Alienao?O passado torna-se passado quando opresente estabelece com ele relaes demudanas inaugurando um novo tempoLana Mara de Castro Siman

    Como registrado anteriormente, encerramos a paralisao por desunio dos

    funcionrios. Ento, ao retornar ao trabalho (vale ressaltar que trabalhei muito mais na

    greve do que em sala de aula!) fui recebida como a corajosa, recebendo o

    cumprimento de todos... E com um belo relatrio da diretora a respeito e quaseperdendo a licena prmio, uma vez que nossa justificativa de falta foi indeferida, por

    ter sido uma greve ilegal, conforme verso oficial.

    Porm, a partir deste movimento, muita coisa mudou: os professores passaram a

    reivindicar mais seus direitos, expondo direo e superviso seus descontentamentos.

    E ainda hoje alguns se declaram arrependidos por no terem participado do movimento,

    afirmando no mais se omitirem caso haja uma outra paralisao...

    Isso, aliado ao fato de um grupo de professores da rede municipal de Indaiatubaestar cursando sua graduao, tm resultado num vagaroso progresso em relao

    participao dos mesmos em algumas decises. Porm, como dito, realmente vagaroso

    progresso...

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    no foi em vo. Alis, as iniciativas coletivas so fundamentais para desencadear

    rupturas no quadro de individualismo, isolamento e corporativismo de todos os

    segmentos que se envolvem na formao de professores (LAROCA, 1999, p.31).

    E a iniciativa j foi tomada!

    S no podemos nos esquecer de que a mais longa caminhada s possvel

    passo a passo...

    6. CONTINUIDADES E RUPTURAS.

    Os acontecimentos ltimos com o funcionalismo municipal, inclusive com os

    profissionais da rea de educao do municpio de Indaiatuba (greve / formao do

    professor / incio da desalienao) provocaram uma certa mudana de atitude por parte

    da administrao.

    Logo no primeiro semestre de mandato (2005), o atual prefeito deu ao

    funcionalismo um reajuste salarial que variou entre 5% a 20%, dependendo do salrio.

    Acontecimento raro de se observar logo no incio de uma administrao onde comum

    o governante alegar precisar estudar o oramento para planejar as alteraes no ano

    seguinte...

    Tambm surpreendeu a atitude da Secretaria Municipal de Educao, que

    parecendo ter uma postura mais acessvel, talvez fazendo valer o discurso de sua

    proposta onde Como todos os Educadores so tambm aprendizes, de fundamental

    importncia que possam, sempre, estudar, debater e compartilhar as diferentes aes e

    conhecimentos pedaggicos criou uma Comisso (tendo os professores seus

    representantes!) para reestruturar o Estatuto e instituir um Plano de Carreira

    (INDAIATUBA, 2004, p.36).

    Sem dvida, um ganho para a categoria. Porm isso ainda no basta, afinal

    reforma uma palavra cujo significado varia conforme a posio que elaocupa, se dentro das transformaes que tm ocorrido no ensino, na formaode professores, nas cincias da educao ou na teoria do currculo a partir dofinal do sculo XIX. No possui um significado ou definio essencial. Nemtampouco significa progresso, em qualquer sentido absoluto, mas implica,sim, uma considerao das relaes sociais e de poder (POPKEWITZ,1997 apud CANDAU, 1999, p.30).

    E ainda no se tem o produto final, ou seja, o Novo Estatuto. O que muitopreocupa e incomoda.

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    6.1. Comisso de Estudos para Reestruturao do Estatuto e Plano de Carreira doMagistrio Municipal de Indaiatuba.

    Eis que em agosto de 2005chega s escolas a informao de que seria criada

    uma Comisso para reestruturar o ento ultrapassado estatuto do Magistrio vigente,

    datado de 1990, e instituir o Plano de Carreira, dado s queixas cada vez mais

    constantes do professorado.

    Para tanto, aqueles que tivessem interesse em representar sua categoria deveriam

    manifestar-se e a direo escolar enviaria o nome Secretaria.

    Cada escola podia indicar um professor por categoria. Havendo mais de um

    interessado, seria feita uma votao entre o corpo docente da UE17. Seriam indicados:

    um professor do ensino fundamental; um professor substituto do ensino fundamental;

    um professor especialista18; um professor de educao infantil; um professor substituto

    da educao infantil; e um suplente para cada um.

    Ento, aps todas as UEs terem enviado os nomes dos indicados, marcou-se uma

    reunio com os mesmos. Eu fui como indicada da escola em que trabalhava para

    representar os professores substitutos do ensino fundamental. Na reunio ns votamos

    em quem seriam os membros da Comisso, pois somente um professor de cada

    categoria poderia participar (juntamente com seu suplente).

    Ento se formou a Comisso composta pelos representantes dos professores, e

    toda a hierarquia da Secretaria de Educao (Secretria da Educao, Secretria

    Adjunta, Coordenadora do Ensino Fundamental, Coordenadora da Educao Infantil,

    Supervisora do Ensino Fundamental, Supervisora da Educao Infantil, Orientadora

    Pedaggica, Diretora de Escola Fundamental, Diretora de Escola de Educao Infantil,

    Coordenadora de escola do Ensino Fundamental e Coordenadora de Escola de Educao

    Infantil). No foi uma Comisso paritria, mas ao menos houve algumarepresentatividade. E eu fui eleita por meus pares, professores substitutos, para

    represent-los.

    Essa Comisso est sendo assessorada por uma empresa que, de acordo com o

    Departamento Jurdico da prefeitura foi contratada atravs de carta convite, pelo valor

    de R$207.000,00 pagos com recursos da Educao... E conforme acordo firmado, o

    prazo para encaminhamento do documento Cmara para votao era de 90 dias a

    17 Unidade Escolar.18 Professor de Educao Especial; Filosofia; Educao Fsica; Artes.

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    contar da assinatura do contrato e 150 dias para estar tudo finalizado (elaborado, votado

    e aprovado)...

    Ento iniciamos nossas reunies - a princpio quinzenais com 4 horas de durao

    - para num primeiro momento estudarmos as leis Federais, Estaduais e Municipais

    voltadas ao funcionalismo e magistrio e, esclarecidas as dvidas sobre esses pontos,

    elaborarmos as sugestes de modificaes permitidas por lei.

    Tudo o que discutamos nas reunies, transmitamos aos professores nos HTPCs,

    alm das leituras das atas das reunies, que eram enviadas a todas as escolas!

    Logo de incio o que mais preocupava eram os cargos por indicao de

    Coordenador de UE e de Diretor de UE. A maioria dos professores prefere a instituio

    de concursos para todos os cargos. J os profissionais envolvidos e a Secretaria da

    Educao preferem e sugerem que continuem as indicaes, ou pelo menos que no se

    mude quem j est, e alteraes sejam feitas a partir de novas vagas.

    E ficou imposto na reunio que vamos modificar daqui pra frente e o que j foi

    feito est sacramentado e no iremos fazer um documento retroativo...

    Quanto instituio ou no de Concurso Pblico, foi acertado de que ser

    decidido em Assemblia Geral com os professores essa e outras modificaes. Mas

    antes da Assemblia, fez-se necessrio um levantamento em todas as escolas sobre

    quais reivindicaes tinham os professores. E os mesmos tinham de nos encaminh-las

    por escrito dentro do prazo estipulado pela Comisso.

    Recebemos centenas de reivindicaes: umas muito pertinentes; outras

    totalmente distantes das atribuies do Estatuto.

    Ento, durante 4 reunies socializamos e tabulamos todas as reivindicaes,

    inclusive as no pertinentes, para que, apoiados pela lei, pudssemos avaliar a

    viabilidade e legalidade das mesmas e, assim que terminssemos a organizao das

    possveis modificaes, a empresa de assessoria elaboraria uma prvia do documento enuma Assemblia os professores iriam decidir sobre alguns pontos principais como os

    cargos de Diretores e Coordenadores serem por Concurso Pblico ou continuarem as

    indicaes.

    Mas, a essa altura do processo, tanto o advogado da empresa de assessoria como

    a Secretria de Educao, quiseram inviabilizar a Assemblia. Protestamos e, como j

    havia sido acordado a respeito disso no incio de nossas reunies, manteve-se o

    compromisso.

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    Fato que surpreendeu a todos os professores que estavam acostumados a ver as

    imposies de at ento, e sabendo que

    no se far uma reforma educativa autntica se no se colocar no centro de

    suas preocupaes as questes relativas identidade, s condies detrabalho, ao status econmico e social e profissionalizao dos professores.O centro de toda ao educativa tem no docente seu principal ator. Unindoforas nessa perspectiva, construiremos a outra reforma (CANDAU,1999, p.41).

    Mas, infelizmente, em dezembro de 2005 aconteceu nossa ltima reunio. E

    desde ento, no houve progressos. Nem aps minha sada da prefeitura, no aconteceu

    mais nenhuma reunio, tenho me informado sobre e at pedi Secretaria Adjunta, antes

    de exonerar, que permitisse que eu continuasse participando da Comisso, uma vez quegostaria de terminar o trabalho que comecei, sendo a indicada por meus pares para

    represent-los. Porm, como passei no concurso para PEB I do Estado e assumi uma 1.

    srie no perodo da manh, tive de exonerar do cargo de professora substituta no

    municpio - que tambm era de manh - e no permitiram que trocasse meu horrio.

    Ento, por no mais fazer parte do corpo docente, no posso mais participar, ficando

    minha suplente no lugar. Esse foi a nica coisa que lamento ter perdido ao sair da

    prefeitura: deixar um trabalho inacabado.Fico triste em ouvir os comentrios de que no haver mais Assemblia, de que

    o Estatuto j est pronto...

    No quero acreditar em boatos, mas interessante registrar que, 250 dias aps a

    assinatura do contrato (lembram-se do prazo estipulado?), o documento ainda no foi

    finalizado, nem foi marcada a Assemblia Geral com os professores, muito menos

    encaminhado Cmara para votao.

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    7. CONSIDERAES FINAIS.

    A graduao em minha vida significou um amadurecimento intelectual sem

    igual.

    No h alienao em minha viso e tive a oportunidade de participar de

    momentos marcantes para toda a histria da educao do municpio de Indaiatuba.

    Bem, j fui considerada pela Secretria da Educao de Indaiatuba, como

    pertencente esquerda festiva, mas hoje, acredito terem uma viso mais coerente a

    respeito.

    Tambm, graas ao curso, tive a oportunidade e a preparao para prestar o

    Concurso do Estado, passar e assumir minha sala, depois de 6 anos de substituio.

    Enfim, muito aprendi e me surpreendi.

    Tambm me entristeci ao ver que pensamentos, atitudes e palavras que

    (re)produzimos so tantas vezes o reflexo do sistema capitalista que nos corrompe e

    manipula, tornando-nos fantoches e reprodutores de seus ideais...

    A partir dessa reflexo, reforo a afirmao de que

    Se queremos uma escola transformadora, precisamos transformar a escolaque temos a. E a transformao dessa escola passa necessariamente por sua

    apropriao por parte das camadas trabalhadoras. nesse sentido queprecisam ser transformados o sistema de autoridade e a distribuio doprprio trabalho no interior da escola (PARO, 2001, p.10).

    E essa transformao depende nica e exclusivamente de ns, participantes do

    processo.

    triste tambm observar que caractersticas que deveriam ser hoje a muito

    ultrapassadas, na verdade permanecem presentes em muitos lugares... Como a atitude

    autoritria e ditadora que vivenciei no municpio de Indaiatuba: exonerei sob a ameaade ter de pagar uma multa para arcar com todos os gastos que a prefeitura teve comigo

    durante meu curso do PROESF (!) correndo o risco, segundo a Secretaria da Educao,

    de perder minha vaga no curso, uma vez tendo assinado o termo de compromisso no

    incio do mesmo para poder receber a declarao de professora em exerccio e efetuar

    minha matrcula.

    Disseram-me tambm que seria possvel que, ao invs de pagar multa, j que a

    UNICAMP pblica, teria de prestar servios voluntrios cidade...

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    Obviamente que nada disso ocorreu, por tratar-se de alegaes infundadas. Mas,

    na entrevista de desligamento, fui informada que tenho uma dvida moral com o

    municpio dado o acordo quebrado... (Deixo os comentrios para os Senhores, caros

    leitores...).

    Bem, a escola continua repressora mesmo quando se diz libertadora, porque no

    adianta mudar somente as tcnicas de aprendizagem se o educador no mudar sua

    postura.

    Acredito que esteja finalmente se iniciando essa mudana no municpio. E se

    assim o for, no ser apenas um belo discurso a idia de formao para a cidadania,

    mas, ser sim, o reflexo do que o educador vivencia.

    Espero que a Formao Poltica do Educador so seja utpica. E espero, de

    alguma forma ou de outra, ter contribudo um resqucio que seja, na mudana do

    comportamento do professorado em questo.

    E quanto ao Memorial

    No sobre as idias de outrem que escrevo, mas sobre as minhas. No vejoas coisas como os outros homens; faz muito tempo que me chamaram aateno para isto. Mas depender de mim dar-me outros olhos e exibir outrasidias? No. Depende de mim no confiar excessivamente em mim mesmo,no acreditar ser sozinho mais sbio do que todo o mundo; depende de mim

    no mudar de sentimento, mas desconfiar do meu; isto tudo o que possofazer, e o que fao. Se s vezes assumo o tom afirmativo, no para imp-lo ao leitor, mas para fazer tal como penso. Por que proporia em forma dedvida aquilo sobre que, no que me diz respeito, no tenho dvidas? Digoexatamente o que se passa em meu esprito (ROUSSEAU, 1999, p.4).

    Fao minhas essas palavras que traduzem todo o meu sentimento.

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    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da Educao. So Paulo: Moderna,1996.

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