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A Formiga Fofoqueira Texto de Carlos Nobre

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A Formiga

Fofoqueira Texto de Carlos Nobre

PERSONAGENS

SEU CONFUSOLINO – Homem bom e engraçado

ESPANTALHO – Bom e amigo do Seu Confusolino

ALFACE – Moça e amiga do Seu Confusolino

CAROLINA – A Formiga Fofoqueira

__________________________________________________________

CENÁRIO

Interior de uma casa de campo, com duas cadeiras, duas camas ou

esteiras, uma mesa com xícaras e um açucareiro de lata.

AÇÃO

Ao abrir a cortina Seu Confusolino está ajeitando um Espantalho.

CONFUSOLINO (Está cantando, quando olha para a plateia para o

canto, como se tivesse tomado um susto) – Olá

meus amiguinhos! Quantas crianças... Vocês sabem o

que é que eu estou fazendo? Um espantalho...

(Continuando a ajeitar o Espantalho). Você sabe

para que serve um espantalho? Vou lhes explicar.

Aqui no campo, nós temos horta e pomares, então

vêm os passarinhos e começam a dar bicadas nas

frutas e nas verduras..., estraga tudo..., e colocando-

se o Espantalho..., os passarinhos fogem pensando

que é gente... Não sei qual é o passarinho que está

fazendo isto na minha horta... Minha amiga, Dona

Alface, está com suas folhas todas picadinhas de

dentadas e mordidas... (Quando Seu Confusolino

levanta um braço do Espantalho ele abaixa o outro

e vai adquirindo vida lentamente, o Espantalho vai

sorrindo, movimentando-se sempre com passos

duros, como um espantalho).

ESPANTALHO – Bom dia.

CONFUSOLINO – Bom dia... (Com medo). Ué! Como é que pode?

ESPANTALHO – Como é que pode o quê?

CONFUSOLINO – Um espantalho falar.

ESPANTALHO – É fácil explicar, Seu Confusolino.

CONFUSOLINO – Ele sabe até que meu nome é Confusolino.

ESPANTALHO – Você me fez com tanto carinho e com tanto amor, que

eu acabei adquirindo vida..., e aqui estou para ajudá-

lo.

CONFUSOLINO – E como é que você sabe o meu nome?

ESPANTALHO – Muito simples... Desde que você começou a me fazer,

eu comecei a escutar tudo, só não andava e falava...,

quer dizer, não me mexia.

CONFUSOLINO – Você sabe que você vai ter que dormir na horta à

noite, para espantar os passarinhos que estão

atacando minhas verduras e minhas frutas?

ESPANTALHO – Sei sim... Eu gosto de ser espantalho. Eu só me sinto

bem nos pomares e nas hortas.

CONFUSOLINO – E não tem medo?

ESPANTALHO – Eu só tenho medo de uma coisa.

CONFUSOLINO – De quê?

ESPANTALHO – De fósforo e de fogo.

CONFUSOLINO – Fique sossegado que na horta não tem nada disto.

(Entra Dona Alface nervosa e chorosa).

ALFACE – Seu Confusolino... Seu Confusolino...

CONFUSOLINO – O que foi Dona Alface?... O que houve?

ALFACE (Mostrando a saia verde toda picotada) – Deram dentadas

nas minhas folhas..., veja.

ESPANTALHO – Bom dia.

ALFACE (Assustada, escondendo-se atrás de Confusolino) – Cruz

credo... Que é isto?... Um espantalho falando...

CONFUSOLINO – Calma, que eu explico...

ALFACE – Nunca vi um espantalho com vida na minha vida.

ESPANTALHO – Eu nunca vi uma alface com vida na minha vida.

CONFUSOLINO – Calma que eu explico... Depois dizem que eu é que

sou confuso... Eu só fico confuso quando estou

nervoso.

ALFACE – E agora o senhor está nervoso?

CONFUSOLINO – Não..., mas se vocês não pararem eu acabo ficando.

ESPANTALHO – Como é que uma alface pode ter vida?

CONFUSOLINO – Foi o seguinte. Você sabe que à noite sempre cai do

céu o orvalho. De cem em cem anos, cai do céu uma

gota de orvalho dourado, e essa gota, se cai em cima

de qualquer verdura, ela adquire vida feito gente...

ALFACE – E numa noite caiu em cima de mim a gota de orvalho

dourado e então fiquei feito gente..., e você?

ESPANTALHO – Tudo que é feito com muito amor e carinho adquire

vida. O Seu Confusolino me fez com tanto carinho e

amor que eu acabei adquirindo vida.

ALFACE – Como assim?

CONFUSOLINO – Você não vê como as crianças às vezes ganham um

carrinho de brinquedo, mas gostam tanto dele, que é

como se ele fosse de verdade? Com as meninas é a

mesma coisa: gostam tanto de suas bonecas que é

como se elas fossem de verdade.

ALFACE – Agora entendi. Você me desculpe.

ESPANTALHO – Me desculpe você também.

CONFUSOLINO – Assim é que eu gosto..., muita paz.

ALFACE – Mas veja Seu Confusolino, como eu estou com minhas

folhas todas mordidas.

CONFUSOLINO – Esses passarinhos não dão sossego.

ESPANTALHO – Mas espera aí..., isto não são bicadas de passarinhos.

ALFACE – É mesmo... Isto parecem dentadas...

CONFUSOLINO – De que será então?

ESPANTALHO – Quando foi isto?

ALFACE – Esta noite...

CONFUSOLINO – Foram os passarinhos.

ESPANTALHO – Não foram.

ALFACE – Então quem foi?

CONFUSOLINO – Vocês estão começando a me botar nervoso. Por que

não foram os passarinhos?

ESPANTALHO – Porque passarinho não voa...

CONFUSOLINO (Cortando o Espantalho) – Passarinho voa sim...

ALFACE – Ele quer dizer que passarinho não voa de noite...

CONFUSOLINO – Passarinho voa...

ESPANTALHO – Não voa.

CONFUSOLINO – Voa sim...

ALFACE – Não voa...

ESPANTALHO – Pergunte às crianças se passarinho voa ou não voa

de noite...

ALFACE – De noite passarinho está no ninho dormindo.

CONFUSOLINO – Passarinho não voa?

ESPANTALHO – Viu... Não voa não...

ALFACE – Então quem será que me mordeu?

CONFUSOLINO – Já sei... Galinha?

ESPANTALHO – Galinha não morde, dá bicadas...

ALFACE – Isto mesmo, não foi a galinha.

CONFUSOLINO – Foi então jacaré.

ESPANTALHO – Onde se viu jacaré na horta, Seu Confusolino?

CONFUSOLINO – Eu estou ficando nervoso.

ALFACE – Fique calmo para poder raciocinar.

CONFUSOLINO – Foi urubu?

ESPANTALHO – Urubu de noite Seu Confusolino?

CONFUSOLINO – Se não foi urubu foi urubua.

ALFACE – O senhor já está fazendo confusão, Seu Confusolino.

ESPANTALHO – É melhor irmos até a horta para verificarmos se tem

alguma pista.

ALFACE – Isto mesmo.

CONFUSOLINO – Se não foi passarinho, nem galinha, nem urubu, nem

jacaré, urubua não foi..., então quem foi?

ESPANTALHO – Já disse: vamos até a horta para verificarmos...

CONFUSOLINO – E se foi disco voador?

ALFACE – Não diga isto..., eu fico até com medo.

ESPANTALHO – Que disco voador o quê, Seu Confusolino!

ALFACE – Vamos fazer o que disse o Espantalho..., vamos até a horta

e verificar o que houve...

CONFUSOLINO – Então vamos...

ESPANTALHO – Vamos até lá marchando, feito soldados.

ALFACE – Espera aí..., vamos dar um nome para o Espantalho?

ESPANTALHO – Eu bem que gostaria...

CONFUSOLINO – Que nome vai ser?

ALFACE – Não sei..., vamos perguntar às crianças?

CONFUSOLINO – Boa ideia... Crianças..., vamos arrumar um nome pra

o Espantalho sem nome? Por mim eu o batizava com

o nome de Gumercindo...

ALFACE – Que nome horroroso... Vamos escolher um nome mais

bonito...

ESPANTALHO – Pergunte às crianças..., vamos...

ALFACE – Que nome vamos dar ao Espantalho? (As crianças fazem

sugestões e escolhem o nome de uma criança).

Está bom... O Espantalho, de hoje em diante, vai se

chamar... (o nome escolhido).

CONFUSOLINO – Vamos então para o quintal ver a horta.

ESPANTALHO – Vamos..., marchando...

ALFACE – Vai na frente, Seu Confusolino...

CONFUSOLINO – Eu não... Pode ter alguma coisa no quintal e me pega

primeiro...

ESPANTALHO – Então eu vou... Vamos..., um..., dois..., um..., dois...,

um... (Vão saindo em fileira e a cena fica vazia uns

instantes. Colocando a cara em cena, depois

entrando, observando tudo entra Carolina, a

formiga, olha para onde saíram e começa a rir).

CAROLINA – Ha, ha, ha, ha, ha... Estava ali atrás e estava observando

tudo. Estou enjoada de comer as verduras da horta e

as frutas dos pomares... Eu vim até aqui para apanhar

o açucareiro, que eu gosto mais de açúcar... Esses

três bobalhões estão pensando que é o passarinho...

Ha, ha, ha..., mas eu sou Carolina, a formiga mais

inteligente do mundo que estou fazendo tudo isto...

Deixa eu esconder o açucareiro. (Pega o açucareiro

e sai de cena).

CONFUSOLINO – Já estou cansado de andar na horta e até agora

nada, vou dormir um pouco até a hora do almoço.

CAROLINA (Voltando) – Boa tarde...

CONFUSOLINO – Boa tarde... Quem é a senhora?

CAROLINA – Me chamo Carolina... E o senhor é o Seu Confusolino.

CONFUSOLINO – A senhora me conhece?

CAROLINA – Quem não conhece o senhor, um homem tão famoso,

dono de uma horta e de um pomar?

CONFUSOLINO – Muito obrigado... A senhora é muito gentil...

CAROLINA – O senhor é muito gentil, e agora vejo que é verdade o que

me contaram.

CONFUSOLINO – O que lhe contaram?

CAROLINA – Que o senhor é um homem muito educado.

CONFUSOLINO – Mais uma vez muito obrigado. A senhora quer tomar

um cafezinho?

CAROLINA – Aceito sim.

CONFUSOLINO (Numa mesa, num canto, bota um pouco de café

numa xícara e fica procurando o açúcar, enquanto

isso conversa com Carolina) – A senhora não

repare, mas está uma grande confusão aqui em casa,

imagine que... (interrompe)..., não encontro o

açúcar... Como pode o açúcar sumir daqui?

CAROLINA – É pena que eu tenha conhecido o senhor agora, e o

senhor ainda não me tem como uma grande amiga...

CONFUSOLINO – Que é isto? Que bobagem!

CAROLINA – Olha Seu Confusolino... Eu vim aqui para lhe contar uma

coisa.

CONFUSOLINO – Contar o quê?

CAROLINA – Bem... Como eu sou uma grande amiga sua e sempre

ouvi falar bem do senhor, vim aqui para lhe contar.

CONFUSOLINO – Já estou ficando nervoso, Dona Carolina... Contar o

quê?

CAROLINA – A pior coisa para mim, Seu Confusolino, é traição.

CONFUSOLINO – E quem foi que traiu a senhora? Foi o formigo?

CAROLINA – Que formigo o quê? Não fui eu que fui traída, mas sim o

senhor.

CONFUSOLINO – Eu? Não estou entendendo.

CAROLINA – Bem, como eu sou uma grande amiga sua, ouvi uma

conversa entre um Espantalho e uma Alface.

CONFUSOLINO – Conversa? Que conversa foi esta?

CAROLINA – Bem..., eu nunca vi, na minha vida, este Espantalho e a

Alface, mas eles diziam assim: “... vamos tapear ele,

você rasga as pontas de suas folhas e diz que foi

mordida e eu vou dizer que não foi passarinho, então

Seu Confusolino fica com medo e acaba

abandonando isto aqui e ficamos com tudo”.

CONFUSOLINO – Mas vejam só que traição... E eu que sou tão amigo

deles, como eles tiveram a coragem de fazer isto

comigo?

CAROLINA – Eu não minto. Eu juro que eles falaram.

CONFUSOLINO – A senhora viu, eles disseram que um urubu junto com

uma urubua tinha entrado aqui e mordido um jacaré...,

não é nada disto... , viu, estou nervoso...

CAROLINA – Não ligue não, Seu Confusolino... Eu sou sua amiga e vou

lhe ajudar...

CONFUSOLINO – Muito obrigado Dona Carolina, fico satisfeito de saber

que tenho amigos...

CAROLINA – Amigos de verdade sim..., porque eu não sou falsa igual

aquela Alface e aquele Espantalho.

CONFUSOLINO – Veja a senhora: eu acreditava que eles eram meus

amigos, e eu que fiz o Espantalho com tanto carinho...

CAROLINA – Pode deixar: eu tenho muitos amigos que também

poderão ajudar... Sim, porque se o senhor não sabe,

fique sabendo, que sou uma formiga famosa...

CONFUSOLINO – Famosa?

CAROLINA – Saiba que eu já dei uma mordida no dedão do Pelé, do

Marinho e do Zico.

CONFUSOLINO – Puxa: a senhora é famosa mesmo...

CAROLINA – E tem mais: antes de entrar aqui na sua casa, eu vi

quando a Dona Alface e o Espantalho escondiam uma

lata. Era uma lata de lata, com tampa.

CONFUSOLINO – Então foram eles que roubaram o açúcar.

FORMIGA – Viu... Eu nem sabia que aquela lata era de açúcar.

CONFUSOLINO – Como vamos fazer?... Eles devem estar vindo de

volta da horta. O que faremos?

CAROLINA – Deixe comigo, Seu Confusolino..., que eu tenho um plano.

CONFUSOLINO – Aeroplano?

CAROLINA – Não faça confusão... Plano.

CONFUSOLINO – A senhora quer um pedaço de pano?

CAROLINA – Não é pano..., é plano.

CONFUSOLINO – Plano... Por que não disse logo? Como é o plano?

CAROLINA (Apanhando um pedaço de corda) – Quando um deles

entrar, o senhor me apresenta, então eu começo a

conversar, eles prestam atenção na minha conversa,

o senhor vem por trás e pumba..., amarra.

CONFUSOLINO – Boa ideia... Eu estou nervoso. Vamos ver se vai dar

certo.

CAROLINA – Já sei: quando o senhor fica nervoso fica confuso.

CONFUSOLINO – Pois é. Tenho medo de não fazer as coisas direito.

CAROLINA – Não tem razão de ficar nervoso, eu sou sua amiga e aqui

estou para lhe ajudar.

CONFUSOLINO – Está bem... Eu fico aqui, quando a Dona Alface

chegar, eu apresento ela à corda, então eu apresento

o amarra e começo a conversar com a senhora...

CAROLINA – Não é nada disto, Seu Confusolino, não fique nervoso,

senão o senhor vai fazer confusão. O senhor me

apresente a eles, eu fico conversando, o senhor vem

por trás e amarra eles.

CONFUSOLINO – Está bem... Eu já entendi.

ALFACE (Entrando) – Seu Confusolino..., nós descobrimos... (vendo a

formiga). Quem é a senhora?

CONFUSOLINO – Essa aqui é minha amiga Pelé..., que o urubu

amarrou com a corda para conversar e apresentar a

Carolina enquanto a...

ALFACE – O senhor está nervoso, Seu Confusolino.

CAROLINA – Sou uma grande amiga dele... Carolina, a famosa formiga

que mordeu o dedão do Pelé, Zico e Marinho... (Para

o Seu Confusolino). A corda..., amarra... (para

Alface) então eu vim fazer uma visita ao meu amigo,

Seu Confusolino, que eu não via há muito tempo.

CONFUSOLINO (Prendendo por trás a Alface) – Pronto... Prendi...

ALFACE – Que é isto?... Me solte, Seu Confusolino...

CAROLINA – Isto: muito bem, Seu Confusolino... Não solta não...

CONFUSOLINO – Soltar você, sua traidora?... Então pensa que eu não

sei? Você, juntamente com o Espantalho, roubou o

açúcar, para dar para o jacaré, para eu abandonar a

minha horta, a minha amiga Zico...

CAROLINA – Zico não, Seu Confusolino... Carolina... Meu nome é

Carolina, foi o dedão do Zico que eu mordi...

CONFUSOLINO – Pois é, mordeu o Zico no dedão só para eu

abandonar o açúcar e o urubu ficar aqui morando...

ALFACE – Seu Confusolino..., eu sou sua amiga..., não estou

entendendo nada do que está acontecendo...

CAROLINA – Cale a boca... Amarre ela direito e bote um lenço na boca,

que é para ela não poder falar.

ALFACE – Isto não se faz... É tudo mentira...

CAROLINA (Amarra um lenço na boca da Alface) – Fique caladinha e

sentada aqui neste canto...

CONFUSOLINO – Não estou gostando muito... Fico com pena...

CAROLINA – Pena? Mas ela não teve pena do senhor quando

combinou com o Espantalho a traição para o senhor

ficar na miséria... (Alface fica murmurando sem

poder falar, amarrada e amordaçada). Agora

prepare a outra corda, porque o Espantalho não deve

estar demorando...

CONFUSOLINO – Meu Deus: quanta confusão. E tudo por causa do

Espantalho e da Alface...

ESPANTALHO (Entrando) – Seu Confusolino: ..., descobrimos que...

Ué?... Por que razão a Alface está amarrada?... Que

está acontecendo aqui? E quem é esta formiga?

CONFUSOLINO – Essa formiga é uma grande amiga minha... , e nós

descobrimos que a Alface comeu o dedão do Marinho

e amarrou a corda na Carolina, para ser apresentada

ao Zico para trair o Pelé.

ESPANTALHO – O senhor deve estar muito nervoso, Seu Confusolino,

eu não estou entendendo nada que o senhor está

falando.

CAROLINA – Eu explico. Meu nome é Carolina... Sou muito amiga do

Seu Confusolino (faz sinal para ele apanhar a corda)

então eu vim visitar o Seu Confusolino, porque há

muito tempo que eu não o via... (para Confusolino).

A corda.

ESPANTALHO – O que tem isto a ver com a Alface estar ali amarrada,

e que negócio é este do dedão do Marinho?

CAROLINA – Estou explicando... Eu é que sou uma formiga famosa,

porque mordi o dedão do Pelé, Zico e Marinho,

então...

CONFUSOLINO (Passando a corda em torno do Espantalho) –

Pronto: amarrei...

ESPANTALHO – O que significa isto?... O que está acontecendo?...

CAROLINA (Ajudando a dar um nó) – Este Espantalho deve ficar bem

amarrado, que é para ele não fugir...

ESPANTALHO – Seu Confusolino: como é que o senhor faz isto

comigo?

CAROLINA – Faz sim... Vocês estavam inventando esse negócio de

que passarinho estava acabando com a horta só para

ele abandonar tudo e ficarem com a horta dele...

ESPANTALHO – Isto é uma mentira...

CONFUSOLINO – Roubaram o meu açúcar...

CAROLINA (Amordaçando também o Espantalho) – Pronto... Você

quer falar para contar mentiras... Vai ficar também

amordaçado para não termos que ouvir suas

mentiras... Rá, rá, rá, rá... (Os dois ficam sentados

em bancos ao fundo do palco, murmurando e

querendo se desamarrar sem conseguirem).

CONFUSOLINO – Eu lamento muito que tenha que acontecer isto.

CAROLINA – Não se lamente, Seu Confusolino... Lembre-se que sou

muito sua amiga... Eles não foram seus amigos.

CONFUSOLINO – Mas não é isto, Dona Carolina...

CAROLINA – Não é isto nem aquilo... É melhor o senhor dormir um

pouco para descansar e depois veremos o que vamos

fazer com eles... Eu também vou dormir um pouco

para descansar... E vocês aí atrás, parem de

murmurar que não adianta nada... (Seu Confusolino

deita de um lado à direita, e Dona Carolina à

esquerda).

CONFUSOLINO – Nunca tive um dia tão agitado na minha vida... (Eles

estão deitados. O Espantalho, embora amarrado,

levanta-se da cadeira para fugir por um lado e a

Alface pelo outro. Vão tentando sair, lentamente,

sem fazer barulho).

CAROLINA (Vendo) – Depressa Seu Confusolino... Eles querem fugir...

(Seu Confusolino e Carolina seguram-nos e

tornam a colocá-los sentados). Viu Seu

Confusolino, como eu estava certa? Se eles queriam

fugir, é porque tinham culpa no caso, ou não haveria

razão para fugir.

CONFUSOLINO – A senhora tem razão...

CAROLINA – Pode dormir sossegado, Seu Confusolino... , que eu tive

uma ideia. Vou amarrar essas latas nos pés deles,

caso eles queiram fugir, as latas fazem barulho e aí a

gente acorda e segura eles.

CONFUSOLINO – Boa ideia... (Carolina pega umas latas amarradas e

prende nos pés da Alface e do Espantalho).

CAROLINA – Duvido que com essas latas eles andem sem eu ouvir...

CONFUSOLINO – Eu estou morto de sono... (Deita). Vou dormir...

(Carolina fica olhando. Seu Confusolino deita e

começa a dormir).

CAROLINA – Rá, rá, rá... Meu plano dará certo... É só afastar vocês

dois e morderei todas as verduras da horta... Rá, rá,

rá... Ninguém..., ninguém pode comigo... Carolina, a

formiga fofoqueira... Rá, rá, rá... (A Cortina vai

fechando lentamente).

SEGUNDO ATO

Este início do segundo ato é quase todo em pantomima. Carolina

está dormindo e Seu Confusolino também. Alface tenta fugir e faz

barulho com as latas. Ora Seu Confusolino acorda e faz sentar a

Alface, e é a mesma situação com o Espantalho. Determinado

momento, quando a Alface levanta e faz barulho, Carolina apanha

uma colher de pau ou coisa semelhante para bater na Alface. Seu

Confusolino acorda e fica espantado de ver Carolina com aquilo na

mão.

CONFUSOLINO – O que é que a senhora está fazendo com essa colher

de pau na mão?

CAROLINA – Não imagine: graças a Deus eu acordei e vi a tempo. A

Dona Alface estava com essa colher e ia bater na sua

cabeça, mas eu vi a tempo e consegui salvar.

CONFUSOLINO – A senhora é mesmo minha amiga... , e você, Dona

Alface, com franqueza, fazer isto comigo... (Alface

tenta falar e Espantalho também, mas estão

amordaçados).

CAROLINA – Pode ficar tranquilo, Senhor Confusolino, e continuar a

dormir, que estou sem sono e vou ficar vigiando.

CONFUSOLINO – Muito obrigado, minha amiga... (Bocejando). Estou

cansado mesmo, e a senhora estando por perto sei

que a minha cabeça não vai dar na Alface da Dona

Colher de Pau.

CAROLINA – Isto mesmo. Já vi que o senhor está nervoso. Vê se

dorme um pouco. (Seu Confusolino deita e dorme

em seguida, roncando. Carolina para Alface e

Espantalho). Comigo é assim: escreveu não leu a

colher de pau comeu... Agora que Seu Confusolino

está dormindo vou até a horta picotar umas verduras,

pois quero armazenar bastantes verduras para o

inverno. Rá, rá, rá. E se vocês fizerem barulho eu

escuto de lá, venho correndo e já sabem, meto a

colher de pau na cabeça de vocês... Rá, rá, rá.

Fiquem em silêncio... (Sai. A cena fica em silêncio.

Alface e Espantalho murmurando, ficam de pé, um

de costa para o outro, e com as mãos, o

Espantalho consegue desatar o nó dos pulsos da

Alface. Ela se liberta, tira o lenço que está

amordaçando e sem fazer barulho tira as latas do

pé e chama Seu Confusolino, que dorme).

ALFACE – Seu Confusolino... (Baixinho). Seu Confusolino.

(Desamarra o Espantalho e os dois chamam Seu

Confusolino).

CONFUSOLINO (Meio dormindo) – Quem me chama?

ESPANTALHO – Acorde Seu Confusolino: queremos lhe contar a

verdade.

CONFUSOLINO – Hein? Vocês? Socorro... (Quando vai gritar, o

Espantalho coloca a mão na boca, evitando que

ele grite).

ALFACE – Agora escute Seu Confusolino... Fale baixo, senão seremos

obrigados a amordaçá-lo.

CONFUSOLINO (Falando baixinho) – Já sei: vocês mataram a formiga.

ESPANTALHO – Quem matou formiga Seu Confusolino? O senhor nos

acha capazes de uma coisa dessas?

CONFUSOLINO (Choramingando) – A formiga é minha grande amiga.

Onde está ela? Como vocês se desamarraram?...

ALFACE – Quer escutar o que temos para contar, Seu Confusolino?

CONFUSOLINO – Que vai ser agora? Mataram o dedão do Pelé,

amarram o Zico, quiseram dar com a minha cabeça na

colher de pau do Marinho...

ESPANTALHO – Não é nada disto. Escute o que tenho para falar.

ALFACE – Sente aqui e escute.

CONFUSOLINO – Estou escutando.

ESPANTALHO – Toda esta confusão começou, quando a formiga

apareceu...

ALFACE – Lembra-se que nós pensávamos que era passarinho que

andava beliscando tudo na horta?...

ESPANTALHO – Mas nós descobrimos que eram mordidas...

ALFACE – Olhe minhas folhas: todas mordidas...

ESPANTALHO – E passarinho não morde...

ALFACE – As dentadas são de formiga...

ESPANTALHO – De mais a mais, como eu poderia ter combinado com

Dona Alface para estragar a horta, para o senhor

abandonar e ir embora?...

ALFACE – Se ele foi feito com carinho e amor pelo senhor, depois que

apareceu tudo cheio de dentadas...

CONFUSOLINO – É mesmo.

ESPANTALHO – Então... Eu nem conhecia a Dona Alface, lembra-se,

que até nós brigamos, porque ela disse que nunca

tinha visto um Espantalho falar e eu disse que nunca

tinha visto Alface falar na minha vida?...

CONFUSOLINO (Mais espantado ainda) – É mesmo...

ALFACE – Isto são provas suficientes para o senhor saber que a

formiga estava mentindo...

CONFUSOLINO – E a colher de pau que vocês queriam dar na minha

cabeça?

ALFACE – Ela estava com a colher de pau para bater na gente, isto

sim.

ESPANTALHO – Como poderíamos estar com a colher de pau na mão,

se estávamos com as mãos amarradas?

CONFUSOLINO (Mais alto ainda) – É mesmo...

ESPANTALHO – E eu tenho um plano para pegar a formiga.

CONFUSOLINO – Pano?

ESPANTALHO – Pano não... Plano... P L A N O.

ALFACE – P de pá... L de lagartixas... A de árvore... N de novela e O de

ovelha...

CONFUSOLINO – Começou a confusão...

ESPANTALHO – Confusão nenhuma... Escute: eu e a Alface vamos

fingir que estamos amarrados e amordaçados, quando

a Carolina entrar, o senhor fique conversando com

ela, nós levantamos e amarramos ela...

ALFACE – Conforme ela fez comigo e o Espantalho...

CONFUSOLINO – Eu fico conversando com ela e aí vocês amarram...

ESPANTALHO – Entendeu...

ALFACE (Olhando para a coxia) – Depressa, que ela vem vindo...

ESPANTALHO – Amarre aqui, Seu Confusolino...

CONFUSOLINO – Aonde?

ALFACE – O braço, atrás. Fingir que amarra... (A direção fará uma

movimentação. Seu Confusolino não acertando, a

Alface dizendo que a Formiga está chegando, a

Alface coloca a mordaça no Espantalho e o

Espantalho na Alface. Seu Confusolino, nervoso,

andando de lá para cá, querendo ajudar e

atrapalhando, até que eles sentam-se,

amordaçados, e com a corda segurando com as

mãos nas costas, Seu Confusolino, deita como se

estivesse dormindo).

CAROLINA – Ah! Está tudo como deixei... Este Seu Confusolino: além

de confuso é dorminhoco... (Para Alface e

Espantalho). E vocês dois aí: vão ver o que vai

acontecer...

CONFUSOLINO (Acordando e espreguiçando-se) – Ahhhhnnnnnn!

CAROLINA – Dormiu bastante Seu Confusolino...

CONFUSOLINO – E a senhora dormiu?

CAROLINA – Não... Como sua grande amiga, fiquei aqui vigiando esses

dois...

CONFUSOLINO (Tentando conversar) – A senhora é mesmo minha

amiga?

CAROLINA – Quanto a isto não tenha dúvida.

CONFUSOLINO – Então me explique, como é que a árvore de lagartixa

deu com a pá na ovelha da novela?

CAROLINA – O quê? Não estou entendendo nada, o senhor deve estar

nervoso. (A Alface e o Espantalho levantam-se

rápidos e seguram Carolina).

ESPANTALHO – Agora é a nossa vez...

CAROLINA – Me soltem...

ALFACE – Soltar nada... A senhora tem que dizer a verdade...

ESPANTALHO – Assim... Amarre os braços, Dona Alface...

ALFACE – Pronto: está amarrada...

CAROLINA – Como é que o senhor deixa fazerem isto com a sua

melhor amiga, Seu Confusolino?

CONFUSOLINO – A senhora não é minha amiga...

CAROLINA – Sou sua amiga sim...

CONFUSOLINO – Não é não... A senhora botou o dedão do Pelé na

árvore, fez uma novela com a lagartixa, colocou a pá

na ovelha e ainda por cima deu o açúcar ao

passarinho...

ALFACE – Que confusão...

ESPANTALHO – Ele está nervoso...

CAROLINA – Pensam que eu tenho medo?... Não tenho não... Fui eu

sim que dava dentadas na Alface e roubei o açúcar...

ESPANTALHO – Tudo o que a senhora fez, foi errado...

ALFACE – E o pior de tudo, que fez uma enorme fofoca entre eu, o

Espantalho e o Seu Confusolino.

CAROLINA – Todo mundo sabe que eu gosto de açúcar. Qual a formiga

que não gosta de açúcar?

ESPANTALHO – Mas não tinha nada que fazer fofocas...

ALFACE – Por isto é que dizem que a senhora é uma formiga

fofoqueira.

CONFUSOLINO – Coitada da Dona Carolina...

ESPANTALHO – Coitada..., é de quem ela faz fofocas.

CAROLINA – Eu não sou a única formiga que rouba açúcar, tudo

quanto é formiga faz isto...

ESPANTALHO – Mas fazem combinando... Por isto é que a gente vê

aquele cordão de formigas, todas trabalhando juntas...

ALFACE – E elas só apanham o suficiente para passar o inverno...

CONFUSOLINO – E por que a senhora não trabalha junto com as

outras formigas?...

CAROLINA – Eu deixei o formigueiro.

ALFACE – E por que a senhora deixou o formigueiro?

CAROLINA – Fiz uma bruta fofoca no formigueiro, que foi uma

formigada danada...

ESPANTALHO – Tá vendo?... Mania de fazer fofoca.

CONFUSOLINO – Por que a senhora não perde a mania de fazer

fofoca?

CAROLINA – Bem... Eu fiquei arrependida da fofoca que fiz no

formigueiro. Todas as formigas trocaram de mal

comigo... Eu tenho vontade de voltar ao formigueiro,

mas não quero dar o braço a torcer...

CONFUSOLINO – Dar o quê?

ALFACE – Dar o braço a torcer... , quer dizer: não quer pedir desculpas

às outras formigas...

ESPANTALHO – Bom... Vamos resolver esta situação...

CONFUSOLINO – Como?

ESPANTALHO – Fazendo o julgamento da formiga...

CAROLINA – Como se fosse um Tribunal?

ALFACE – É como se fosse um Tribunal?

CONFUSOLINO – E o que é um Tribunal?

ESPANTALHO – Tribunal é onde julgam as ações das pessoas...

CONFUSOLINO – Ah! Já sei... Têm advogados, juízes..., não é isto?

ALFACE – É isto mesmo... Eu serei o Juiz.

ESPANTALHO – Eu serei o advogado de acusação.

CAROLINA – Mas todo o mundo tem direito à defesa...

CONFUSOLINO – Então eu serei o advogado de defesa... Afinal, a

Carolina pode vir a ser uma boa amiga...

ESPANTALHO – E os Jurados... Quem serão os jurados?

CONFUSOLINO – Jurados?

ALFACE – Jurados... São aqueles que julgam; que vão dar a sentença;

se ela é culpada, os jurados dizem culpada e por que;

se é inocente, os jurados dizem inocente e porquê...

Então, vamos começar o julgamento?

CONFUSOLINO – E quem serão os jurados?...

ESPANTALHO – As crianças...

ALFACE – Boa ideia... (Para as crianças). Vocês vão ser os jurados,

está bem?

ESPANTALHO – A Dona Carolina fica sentada aqui, pois é a ré.

CONFUSOLINO – Ré?

ESPANTALHO – Ré... É aquele que está sendo julgado. Eu fico deste

lado para ser o advogado de acusação...

CONFUSOLINO – Eu fico deste para ser o advogado de defesa...

ALFACE – Eu, como Juiz, fico aqui no meio... Agora silêncio... Os

jurados são todas as crianças... Prestem atenção...

(Tomando pose de Juiz). Vamos dar início ao

julgamento da Dona Carolina, a formiga... Com a

palavra o advogado de acusação...

ESPANTALHO – Bem... Eu acuso a Dona Carolina de ser uma grande

fofoqueira, ter mentido para o Seu Confusolino, ter

feito uma maldade comigo e Dona Alface, querendo

nos acusar de bater com a colher de pau e prejudicara

o Seu Confusolino...

ALFACE – Foi feita a acusação... Agora com a palavra o advogado de

defesa... (Seu Confusolino não se manifesta). Com

a palavra o advogado de defesa... (Silêncio). Com a

PALAVRA O ADVOGADO DE DEFESA... Como é,

Seu Confusolino?...

CONFUSOLINO – Ah!... É verdade: sou eu...

CAROLINA – Com esse advogado eu vou acabar uma formiga torrada...

CONFUSOLINO – Fala outra vez Dona Alface...

ALFACE – Com a palavra o advogado de defesa.

CONFUSOLINO (Com pose, tomando à frente) – Crianças e

crianças...

ALFACE – Que é isto Seu Confusolino?...

CONFUSOLINO – Isto o quê?

ALFACE – Crianças e crianças...

CONFUSOLINO – Mas não são eles os jurados?...

ALFACE – Mas não se diz crianças... Crianças, a gente entende que

são meninos e meninas...

CONFUSOLINO – Então está bem... (Com pose novamente). Povo e

povas...

ALFACE – Que é isto Seu Confusolino?...

CONFUSOLINO – Isto o quê?

ALFACE – Povo e povas... Povas não se diz...

CONFUSOLINO – Não se diz? (Para as crianças).

ALFACE – Vamos logo Seu Confusolino...

CONFUSOLINO – Vamos aonde?

ALFACE – Fazer a defesa.

CAROLINA – Com essa defesa até um santo será condenado...

CONFUSOLINO – Bem... O mal da Dona Carolina é fazer fofocas. Se

ela não tivesse feito fofocas no formigueiro, ela estaria

trabalhando com as outras formigas e nada disto teria

acontecido...

ESPANTALHO – Seu Juiz: dá licença para um aparte?

ALFACE – Concedido: pode falar.

ESPANTALHO – Está errado fazer fofocas, isto não justifica ela ter feito

a maldade que fez com o Seu Confusolino, comigo e

com a senhora, Dona Alface...

CAROLINA – Isto é verdade... Mas eu preciso falar...

ALFACE – A ré não pode falar, para isto tem o advogado de defesa...

CAROLINA – Mas eu preciso explicar uma coisa que Seu Confusolino

não sabe...

ALFACE – Sendo assim, o Tribunal autoriza a ré a falar.

CAROLINA – Bem... Seu Confusolino, Dona Alface, Seu Espantalho e

crianças: permitam que eu explique... Eu estou

arrependida, não só das fofocas, como também estou

com saudades das minhas companheiras, pois no

formigueiro sempre fui feliz, mas uma formiga lá me

chamou de tanajura, então fiquei com raiva, porque

não sou tanajura nem saúva. Sou uma formiga

boazinha, não destruía as plantas como fazem as

saúvas, que são formigas ruins, então, eu fiquei com

raiva e fiz uma bruta fofoca, e fui expulsa. Comecei a

atacar a horta do Seu Confusolino para me fazer de

forte... (Chorosa). Me arrependi..., mas não quis pedir

desculpas...

ESPANTALHO – Porque é orgulhosa..., e o orgulho é um pecado feio.

CAROLINA – Eu sei... , mas quando eu voltei já estava arrependida...

CONFUSOLINO – Não precisa ficar triste nem chorar...

ALFACE – Eu agora vou falar uma coisa importante..., talvez a coisa

mais importante do mundo.

CONFUSOLINO – E qual é a coisa mais importante do mundo?

ALFACE – Sempre quando alguém nos faz alguma coisa, nunca

esquecemos e queremos vingança. Dificilmente

pensamos no perdão... , e a coisa mais importante é

saber perdoar...

ESPANTALHO – Saber perdoar é importante e difícil, pois perdoar é

difícil, se alguém nos faz algum mal.

CONFUSOLINO – Desde que a formiga se arrependeu, eu perdoo a

formiga e vou convidá-la para ser nossa amiga.

ALFACE – Um momento... As crianças é que são os jurados. Elas vão

resolver.

ESPANTALHO – Antes que as crianças deem a solução ou o veredito...

CONFUSOLINO – Veredito: o que é isto?

ESPANTALHO – Veredito é a sentença, se perdoa ou não.

CAROLINA – Deixem eu falar para as crianças. Escutem, crianças, eu

realmente fui má e orgulhosa, não deveria nunca ter

feito o que fiz, peço a vocês que me perdoem, peço

perdão à Dona Alface, ao Espantalho e,

principalmente, ao Seu Confusolino, que é um homem

bom e só faz confusão quando fica nervoso.

CONFUSOLINO – Estou quase chorando...

ALFACE – O arrependimento é importante. Se a Dona Carolina se

arrependeu é por que no fundo ela é uma boa

formiga...

ESPANTALHO – Agora estou entendendo tudo... A formiga ficou

revoltada, porque sendo uma boa formiga, lá no

formigueiro tinham chamado ela de saúva e tanajura...

ALFACE – Temos que perguntar às crianças se depois da formiga

explicar o que houve, elas também a perdoam...

CAROLINA – Peço às crianças que me perdoem, e se eu for perdoada,

tenham certeza que voltarei ao formigueiro, farei as

pazes com minhas companheiras, e voltarei para

ajudar o Espantalho e o Seu Confusolino na horta.

ALFACE – Como é, crianças: vocês perdoam a Dona Carolina? (Todos

se dirigem às crianças, induzindo-as ao perdão).

CONFUSOLINO – Agora que tudo está bem, e eu estou calmo, não tem

confusão...

ALFACE – Vamos todos cantar juntos com as crianças...

CAROLINA – Estou tão feliz. Aprendi uma lição: agora quero ser amiga

de todos... Muito obrigado.

ESPANTALHO – Que música nós vamos cantar?

CAROLINA – Músicas de roda. Sempre desejei aprender cantigas de

rodas...

CONFUSOLINO – Vamos então ensinar Atirei o Pau no Gato e Ciranda

Cirandinha à Dona Formiga... (Cantam e dançam e a

cortina vai lentamente fechando).

FIM