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A FOTOGRAFIA COMO ESTRATÉGIA PARA ATRAIR USUÁRIOS NA REDE SOCIAL FACEBOOK Meire Helen Godoi de Moraes, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Unesp, CNPq, [email protected]. 1. INTRODUÇÃO Segundo Aguiar (2006, p.2), em seu trabalho intitulado “Fotografia digital: hibridações e fronteiras”, com o advento da fotografia digital e a consequente popularização das câmeras digitais (pequenas, cada vez mais baratas e fáceis de manusear) não só o registro dos momentos banais, mas a própria manipulação e reconstituição desse registro passam a ser possível. A afirmação de Aguiar ilustra o que ocorre com muita frequência, atualmente. Encontra-se diversas pessoas com suas câmeras digitais fotografando a si próprias em diferentes lugares; registram instantes dos mais banais possíveis, a presença em uma padaria, por exemplo, a momentos considerados solenes como casamentos, formaturas etc. O surgimento da tecnologia digital possibilitou o desenvolvimento de softwares, os quais facilitaram o processo de manipulação e reconstituição das imagens fotográficas. Neste sentido, podemos verificar as fotos, logo após o registro, e se as imagens não nos agradar, há possibilidade de reconstituí-la, ou seja, recriar e transformar o “real” registrado. Este processo de manipulação e reconstituição ocorre, porque ao possuir um cartão de memória, pequeno chip que contém milhares de transistores 1 , as fotografias digitais podem ser transferidas da câmera digital para o computador. De acordo com Silva, Cassiani, Zem-Mascarenhas (2001) os transistores foram desenvolvidos nos Laboratórios Bell da ATT (American Telephone and Telegraph Company) em 1948 passando a ser utilizados comercialmente nos computadores em 1959, e eram cem vezes mais rápidos e confiáveis que as válvulas. Com o desenvolvimento tecnológico estes transistores foram se tornando cada vez mais rápidos e minúsculos, fator que explica a presença de chips em produtos eletrônicos menores como os celulares. A partir do momento que outros meios de comunicação passam a 1 Segundo Newton Braga (2001, p. 12-13) os transistores são os componentes mais importantes dos circuitos eletrônicos, pois podem gerar e amplificar sinais além de funcionar como chaves controladas eletronicamente. III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR 3009

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A FOTOGRAFIA COMO ESTRATÉGIA PARA ATRAIR USUÁRIOS NA REDE SOCIAL FACEBOOK

Meire Helen Godoi de Moraes, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Unesp, CNPq, [email protected].

1. INTRODUÇÃO

Segundo Aguiar (2006, p.2), em seu trabalho intitulado “Fotografia digital:

hibridações e fronteiras”, com o advento da fotografia digital e a consequente popularização

das câmeras digitais (pequenas, cada vez mais baratas e fáceis de manusear) não só o registro

dos momentos banais, mas a própria manipulação e reconstituição desse registro passam a ser

possível.

A afirmação de Aguiar ilustra o que ocorre com muita frequência, atualmente.

Encontra-se diversas pessoas com suas câmeras digitais fotografando a si próprias em

diferentes lugares; registram instantes dos mais banais possíveis, a presença em uma padaria,

por exemplo, a momentos considerados solenes como casamentos, formaturas etc.

O surgimento da tecnologia digital possibilitou o desenvolvimento de softwares, os

quais facilitaram o processo de manipulação e reconstituição das imagens fotográficas. Neste

sentido, podemos verificar as fotos, logo após o registro, e se as imagens não nos agradar, há

possibilidade de reconstituí-la, ou seja, recriar e transformar o “real” registrado.

Este processo de manipulação e reconstituição ocorre, porque ao possuir um cartão de

memória, pequeno chip que contém milhares de transistores1, as fotografias digitais podem

ser transferidas da câmera digital para o computador.

De acordo com Silva, Cassiani, Zem-Mascarenhas (2001) os transistores foram

desenvolvidos nos Laboratórios Bell da ATT (American Telephone and Telegraph Company)

em 1948 passando a ser utilizados comercialmente nos computadores em 1959, e eram cem

vezes mais rápidos e confiáveis que as válvulas.

Com o desenvolvimento tecnológico estes transistores foram se tornando cada vez

mais rápidos e minúsculos, fator que explica a presença de chips em produtos eletrônicos

menores como os celulares. A partir do momento que outros meios de comunicação passam a

1 Segundo Newton Braga (2001, p. 12-13) os transistores são os componentes mais importantes dos circuitos eletrônicos, pois podem gerar e amplificar sinais além de funcionar como chaves controladas eletronicamente.

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funcionar através de chips e, consequentemente, compartilhar as mesmas informações é

possível relacionar tal ocorrência com aquilo que Henry Jenkins denomina de cultura da

convergência.

Por convergência refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, a cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e o comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. (JENKINS, 2008, p. 27)

Estas características, citadas por Jenkins, aparecem nos sites de relacionamentos

virtuais, tanto em sua estrutura interna – práticas e estratégias utilizadas na criação do site –

quanto na maneira de utilizá-los. O site que selecionamos para análise é a rede social

Facebook, criada em 4 de fevereiro de 2004, no alojamento da Universidade de Harvard, pelo

estudante de Ciências da Computação Mark Zuckerberg. Porém, antes de seu surgimento

Mark criou o Facemash, o qual lhe serviu de inspiração para desenvolver o Facebook. De

acordo com Ben Mezrich (2010, p. 50/51) este sistema virtual surge da seguinte maneira:

Ele – Mark Zuckerberg – se ajoelha e abre a mochila. Seus dedos encontram um pequeno laptop da Sony, que é retirado. O cabo de rede conectado ao computador balança enquanto a máquina é ligada[...]. Ele metralha o teclado do computador de modo a abrir o programa que escrevera havia poucas horas e vê o monitor piscar[...]. Ele não está roubando dinheiro de um banco nem invadindo o site do Departamento de Defesa dos Estados Unidos[...]. Apenas pegando umas fotos de um banco de dados. Quer dizer, não são só umas fotos - são todas as fotos. E talvez seja um banco de dados particular, a que só tem acesso com uma senha atrelada ao endereço de IP exclusivo do alojamento.

As fotografias retiradas por Mark de um banco de dados particular foram transferidas

de uma câmera digital para um computador. Os estudantes de Harvard registraram suas

imagens em máquinas fotográficas, a seguir transferiram para um computador e,

posteriormente, as encaminharam para a Universidade de Harvard, onde foram inseridas num

banco de dados particular.

Ao perceber o grande interesse dos estudantes de Harvard em acessar seu site, após

disponibilizá-lo, Zuckerberg desenvolveu outro sistema de relacionamento virtual diferente do

Facemash, como é possível verificar na citação a seguir:

Diferentemente do Facemash, ele queria criar um site em que as próprias pessoas colocassem as fotos que quisessem – não só fotos, mas também perfis: onde tinham crescido, que idade tinham, quais seus interesses; talvez até os cursos que frequentavam; o que procuravam na rede – amizade,

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namorado(s), o que fosse. E então ele daria às pessoas a possibilidade de convidar amigos para entrar. Iniciá-los, de certa forma, e convidá-los para seu círculo social on-line. [...]. – Estou pensando em deixá-lo bem simples e em chamá-lo de Facebook – disse Mark, com os olhos acesos de excitação. (MEZRICH, 2010, p. 76).

A possibilidade dos usuários colocarem as fotos e perfis da própria escolha; seus

dados pessoais, interesses e a oportunidade de enviar convites convidando determinados

amigos para se comunicarem atraíram milhões de pessoas. Estes convites podem ser enviados

do Facebook para amigos cadastrados em outros programas virtuais como o IG, Hotmail,

Yahoo, UOL, MSN etc.

No momento que Mark insere estes programas na rede social, ele estabelece não só

uma relação de cooperação e parceria com outros mercados midiáticos como também facilita

um comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, pois através destes

programas os usuários poderão ir para o Facebook e vice-versa.

Um sistema digital não sobrevive somente de usuários, é necessário que haja também

investimentos financeiros. Dessa forma, Mark precisou fazer um acordo com alguns amigos

para disponibilizar a rede social aos usuários. Eduardo Saverin, estudante de Economia da

Universidade de Havard, seria o diretor financeiro da empresa e, portanto, contribuiria com o

dinheiro; Dustin Moskovitz também estudante de Economia e gênio em computadores

assumiria o papel de vice-presidente e diretor de programação, Chris Hughes, interessado em

moda, torna-se o diretor de publicidade.

Com o aumento exorbitante de usuários, o Facebook passou a exigir cada vez mais

tanto atualizações quanto novas criações no sistema e para que isso ocorresse foi preciso

contratar estagiários qualificados. Não sendo suficientes as contribuições financeiras de

Eduardo, houve necessidade de encontrar setores empresariais que investissem neste site de

relacionamento virtual.

Após Sean Parker, um dos fundadores do Napster – primeiro software que permite

baixar músicas gratuitamente –, entrar na equipe de Mark, a rede social ganhou como um de

seus primeiros investidores Peter Thiel, dono do fundo de investimento multibilionário

Clarium Capital, ex-mestre de xadrez e um dos homens mais ricos dos Estados Unidos. Desde

então, a rede social atraiu o interesse de grandes empresas, que investem muito nela.

Neste sentido, o objetivo desta comunicação é tentar mostrar porque a fotografia pode

ser vista como uma prática de estratégia econômica para atrair usuários na rede social

Facebook. Nosso corpus de análise é composto pelos enunciados verbais e não verbais

inseridos no Facebook. Para analisar tais enunciados utilizaremos o aporte teórico da Análise

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do Discurso, derivada do trabalho de Michel Foucault, e a metodologia de análise e

interpretação das imagens fotográficas concebidas por Boris Kossoy.

Para Michel Foucault todo discurso apresenta unidades inteiramente formadas (como a

psicopatologia, ou a medicina, ou a economia política), o que nos permite fazer as seguintes

indagações:

Que unidades formam; com que direito podem reivindicar um domínio que as especifique no espaço e uma continuidade que a individualize no tempo; segundo que leis elas se formam; sobre o pano de fundo de que acontecimentos discursivos elas se recortam; e se, finalmente, não são, em sua individualidade aceita e quase institucional, o efeito de superfície de unidades mais consistentes. (FOUCAULT, 1997, p. 30).

Esta unidade discursiva é construída em espaços onde diversos objetos se alinham e

continuamente se transformam, isto é, num meio caótico encontramos uma regularidade.

Assim, de acordo com Foucault (1997, p. 37), definir um conjunto de enunciados no que ele

tem de individual consistiria em descrever a dispersão desses objetos, apreender todos os

interstícios que os separam, medir as distâncias que reinam entre eles – em outras palavras,

formular sua lei de repartição.

Partindo destas idéias teóricas de Foucault tentaremos mostrar que os enunciados

verbais, inseridos na rede social, apresentam uma unidade discursiva, a qual condiz com o

jogo das regras que definem as transformações dos diferentes objetos.

Juntamente com os enunciados verbais verifica-se a presença de muitas fotografias no

Facebook. Ao seguir a metodologia de Boris Kossoy, primeiro faremos uma “análise

iconográfica”, cujo fim é fazer a reconstituição do processo que gerou a fotografia e, em

seguida, uma “interpretação iconológica” para, de acordo com Kossoy (2009, p. 60), decifrar

a realidade interior da representação fotográfica, sua face oculta, seu significado, sua primeira

realidade, além da verdade iconográfica.

2. ANÁLISE DO CORPUS

O corpus selecionado trata-se de uma das páginas inseridas na rede social Facebook,

como é possível verificar na Figura 1. Primeiramente, analisaremos os enunciados verbais a

partir da teoria arqueológica de Michel Foucault e, em seguida, para a análise das imagens

fotográficas utilizaremos o método de Boris Kossoy.

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Figura 1: Interação entre amigos A imagem de duas pessoas próximas, ao lado da palavra “Amigos”, nos apresenta o

próprio sentido do termo “amigo” que, segundo o dicionário Aurélio (1988, p.27), é quem

está ligado a outrem por laços de amizade.

À medida que aparecem outros enunciados, abaixo do termo “amigos” – “Adicionar

contatos pessoais como amigos” e “Escolha como se comunicar com seus amigos”

(FACEBOOK, 2011) – nota-se que há uma possibilidade de estabelecer contatos e se

comunicar com amigos virtualmente, após verificar o enunciado seguinte “Veja como

funciona ou gerencie contatos importados” (FACEBOOK, 2011) e, logo abaixo o símbolo do

Live Hotmail, site de relacionamento virtual, com um determinado espaço para preencher o e-

mail. Este possível contato pode ser visto como consequência da interação entre o homem e

as tecnologias da informação2, que resultou em diversas transformações sociais, políticas,

históricas e culturais através da criação dos novos sistemas de relacionamentos virtuais.

Com o aparecimento da Internet e, posteriormente, da plataforma gráfica e interativa

World Wide Web (Web), a qual possibilitou o nascimento de diversos sistemas digitais como o

Twitter, o Facebook etc. as pessoas compartilham informações, cada vez mais, por meio de

diferentes meios de comunicação digital, sem a necessidade de sair de suas casas ou dos

locais de trabalho.

Embora o ato de compartilhar pareça muito recente, ele não é. Assim, como afirma

Richard Stallman, criador do projeto GNU – um sistema operacional de código aberto – em

uma entrevista concedida à Folha de São Paulo.

2 É o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, optoeletrônica, engenharia genética (CASTELLS, 1999, p.67).

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Desde o surgimento dos primeiros computadores, programadores já modificavam e compartilhavam códigos de software. Porém, na década de 60, muitos programas começaram a se tornar proprietários e a cooperação foi por água abaixo. Na década de 70, quando eu começei a programar, encontrei uma comunidade de programadores no Laboratório de Inteligência Artificial do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets). Todo o sistema operacional utilizado por eles era composto de software livre. Então fui contratado para ajudar no desenvolvimento daquele sistema e, ao fazer esse trabalho, tornei-me um bom desenvolvedor de sistema operacional. Com o desaparecimento dessa comunidade no início de 80, decidi criar uma outra semelhante. O GNU então chegou a essa comunidade. (STALLMAN, 2002)

O projeto GNU facilitou e favoreceu o surgimento de diversos “softwares livres”,

constituído pelo compartilhamento de outros programas de software existentes, como é o caso

do Linux, criado por Linus Benedict Torvalds, em agosto de 1991, sob a licença do Genuine

Public Licence (GPL), desenvolvida para o uso de componentes baseados no GNU.

Segundo Richard Stallman (2002), o Linux é um kernel, isto é, o componente de um

sistema operacional que transfere os recursos do computador para os outros programas

rodados pela máquina. Stallman afirma também que, na ocasião, o GNU estava quase pronto,

faltando apenas o kernel. Então as pessoas integraram o GNU ao Linux para conseguir um

sistema operacional completo.

O compartilhamento e a integração se tornaram essenciais na criação dos meios de

comunicação digital, pois estes atos direcionam para um mesmo fim, isto é, para a

digitalização. Tais meios se originam, inicialmente, a partir do contato com os sistemas

digitais existentes e, em seguida, pela interação seja com outros programadores ou com o

próprio sistema já existente. A Web foi criada através da colaboração de diversos

programadores que navegavam na Internet, portanto, o funcionamento desta foi

imprescindível para o surgimento daquela. Neste sentido, Castells afirma:

(...) ninguém disse a Tim Berners-Lee que projetasse a WWW, e na verdade ele teve que esconder a sua verdadeira atenção por algum tempo porque estava usando o tempo de seu centro de pesquisa para objetivos alheios ao trabalho que lhe fora atribuído. Mas teve condições de fazer isto porque pôde contar com o apoio generalizado da comunidade da Internet, à medida que divulgava seu trabalho na rede, e foi ajudado e estimulado por muitos hackers do mundo inteiro. (CASTELLS, 2003, p. 28, apud, SILVEIRA, 2005).

O “software livre” Linux, assim como a Web, originou-se a partir do momento que seu

criador, Linus Benedict Torvalds, conheceu o projeto GNU. De acordo com Silveira (2005),

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Torvalds teve seu primeiro contato com dois elementos fundamentais para o desenvolvimento

de sua solução, o sistema operacional Unix e Richard Stallman, meses antes.

Os sistemas de relacionamentos virtuais que surgiram, recentemente, como o Twitter,

o Facebook partiram de sistemas digitais já existentes, como a Web – plataforma gráfica

interativa –, para serem desenvolvidos e na base desta “cultura da convergência” (JENKINS,

2008) que se tornou uma espécie de regra ou lei obrigatória, para os programadores de

software, quando desenvolvem um meio de comunicação digital. No Facebook verifica-se

uma parceria com outros programas virtuais. Tal afirmação se evidencia na Figura 2:

Figura 2: Parceria entre sistemas digitais Essa relação de parceria funciona da seguinte maneira: o Facebook possibilita ao

usuário que encontre seus amigos em outros programas, basta digitar e-mail e senha que

aparecerá uma lista com os nomes dos amigos, os quais podem ser selecionados para

receberem um convite, apresentado na Figura 3.

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Figura 3: Convite enviado

Ao selecionar o amigo e clicar em “enviar convite”, automaticamente, o convite irá

para um dos programas escolhidos, assim, no momento, que o amigo abrir tal programa

encontrará o convite, como é possível observar nas Figuras 4, 5 e 6.

Figura 4: Convite recebido

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Figura 5: Convite recebido

Figura 6: Convite recebido

Ao digitar seu e-mail e senha para procurar amigos e, em seguida, os selecionar para

receber um convite o usuário, geralmente sem perceber, segue uma série de discursos que

regula seus atos e pensamentos. Neste sentido, para se criar sistemas de comunicação digital

é necessário seguir determinadas leis de códigos computacionais, e a partir delas os

programadores de software criam instruções, na linguagem dos usuários, para levá-los a

realizarem ações no sistema.

Segundo o sociólogo britânico Steve Woolgar (apud LYMAN, 2000)

[...] o software, em qualquer formato, é em si mesmo uma forma de engenharia social – um processo que ele descreve como “configuração do

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usuário” [...] onde “configurar” inclui definir a identidade dos supostos usuários e estabelecer restrições sobre suas prováveis ações futuras.

A união destas séries de discursos forma um todo organizado, cujo conteúdo condiz

com o jogo das regras que definem as transformações dos sistemas digitais. A formação destas

regras se deve às condições positivas de um feixe complexo de relações estabelecidas entre

instituições, processos econômicos e sociais, sistema de normas, técnicas etc.

Em relação às imagens fotográficas, inicialmente, será feito um levantamento do

tempo e do espaço que ocorreu a tomada do registro, como também do assunto, isto é, o que

observamos nas fotografias; da tecnologia que garantiu o registro e do autor, que de acordo

com Kossoy (2009, p. 25/26), é quem motivado por razões de ordem pessoal e/ou

profissional, a idealiza e elabora através de um complexo processo cultural/estético/técnico,

processo este que configura a expressão fotográfica.

A seguir, tentaremos resgatar a história própria do assunto, no momento, em que foi

registrado e, logo depois, buscar desmontar as condições de produção destas imagens,

apresentadas na Figura 7.

Figura 7: Imagens fotográficas

Segundo Kossoy (2009, p. 26) o espaço e o tempo implícito no documento fotográfico

subentendem sempre um contexto histórico específico em seus desdobramentos sociais,

econômicos, políticos, culturais etc. Neste sentido, a Figura 7 foi retirada, da rede social

Facebook, no dia 10 de março de dois mil e onze, logo, trata-se do contexto contemporâneo.

Na contemporaneidade o novo pode se tornar obsoleto em um piscar de olhos, o que é agradável mostra-se desagradável em algumas horas, os relacionamentos amorosos se desfazem como os laços que desfazemos dos

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presentes que ganhamos na noite de Natal, as pessoas se interconectam com diversos indivíduos a cada segundo, as identidades são descontínuas, fragmentadas, instáveis. (MORAES, 2010, p. 7).

As características, descritas acima, podem ser pensadas como consequência de uma

nova estrutura social que, de acordo com Manuel Castells (1999, p. 51), está associada ao

surgimento de um novo modo de desenvolvimento, o informacional, historicamente moldado

pela reestruturação do modo capitalista de produção no final do século XX.

No modo informacional de desenvolvimento a informação se torna a matéria-prima e o

produto do processo de produção, isto é, o homem em parceria com a tecnologia da

informação age sobre a informação e a transforma em uma nova informação, para aprimorar a

geração de conhecimentos e o processamento da informação.

Com o aprimorar da geração de conhecimentos e do processamento da informação

novas tecnologias digitais foram se desenvolvendo e, consequentemente, novos meios de

comunicação surgiram. Dentre estes meios observamos as câmeras digitais, cuja forma de

captação de imagem e armazenamento se diferem das máquinas fotográficas convencionais,

tais diferenças interferem no processo e na técnica de produção de imagens. Na primeira há

um cartão de memória para armazenar as fotografias e um sensor eletrônico para o registro de

luz, enquanto que na segunda o armazenamento é feito por um suporte físico e um filme. Este

apresenta um produto químico, que é sensibilizado pela luz e faz o registro da imagem.

A concretização das fotografias digitais poderá ser feita através do computador. Para

Aguiar (2006, p. 3) a tela do computador passa a ser o suporte onde a imagem virtual se

atualiza, deixando de ser um amontoado de dados numéricos e assumindo uma forma, uma

visualidade.

Ao visualizar as fotos, da Figura 7, observamos que há um close-up3 no rosto das

pessoas, exceto a de Camila Pasquini, em que aparece outra imagem. Essas fotografias foram

selecionadas para serem colocadas na página a qual se encontra os dados dos perfis no

Facebook. Ao contrário de um fotógrafo que, geralmente, tem a preocupação com

determinados detalhes como luzes, posição da câmera etc., cujo fim é obter uma imagem bem

feita, os autores das fotos, encontradas na Figura 7, apenas apertam o botão da máquina, e

após tirar a foto vai até a pessoa que foi fotografada, isso quando não foi essa própria pessoa

que tirou a sua foto, para mostrar a imagem dela feita há alguns instantes, caso esta não goste

da foto, o autor a fotografa novamente.

3 “Diz-se do enquadramento de apenas uma parte da pessoa ou coisa focalizada”. (CEGALLA, 2005, p.203).

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Logo após a escolha da fotografia, ela vai ser transferida para o computador e depois

para o Facebook. A partir do momento que estas fotos estiverem na rede social elas

apareceram em outra página deste sistema, próximas ao seguinte enunciado “pessoas que

talvez você conheça” (FACEBOOK, 2011), cuja finalidade é de mostrar para outros

indivíduos, provavelmente conhecidos, que as pessoas retratadas nas fotografias se tornaram

usuárias da rede social e caso eles façam parte deste sistema terão a oportunidade de entrar em

contato com tais pessoas.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das análises é possível inferir que Mark Zuckerberg criou um espaço virtual,

constituído por uma linguagem sincrética, isto é, a união de linguagens verbais e visuais. Tal

constituição ocorre pela tradução de códigos fonte, escritos por programadores, em linguagem

binária.

A união de diferentes linguagens, a cooperação com diversos sistemas digitais – IG,

Yahoo, Messenger etc. –, a facilidade de um comportamento migratório dos públicos dos

meios de comunicação e a possibilidade de interação entre amigos transformaram o Facebook

em uma “inovação tecnológica”4.

O Facebook pode ser visto como uma “inovação tecnológica”, pois ele apresenta um

potencial de pesquisa, a partir dos conhecimentos científicos e tecnológicos de Mark

Zuckerberg, estudante da Universidade de Harvard. A capacidade de especificação se deve à

preocupação de se criar estratégias para intensificar a interação entre amigos, como é o caso

dos convites enviados aos amigos, no interior da rede social.

Ao se apresentar como uma “inovação tecnológica” e despertar o interesse de grandes

empresas, o Facebook se tornou um objeto de grande valor econômico. Portanto, estas

inovações são criadas e disponibilizadas com a finalidade de atrair milhões de usuários e,

consequentemente, incitar interesses e mobilizar um grande número de aliados para obter

sucesso comercial.

4 A inovação é, ela mesma, dependente de duas condições: do potencial de pesquisa e da capacidade de especificação, isto é, novos conhecimentos devem ser descobertos, logo aplicados com propósitos específicos em um contexto organizacional ou institucional dado. (CASTELLS, 1996, apud, LYMAN, 2000).

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NOTAS

AGUIAR, Katia Fonseca. Fotografia digital: hibridações e fronteiras. Disponível em: <https://bocc.ufp.pt/pag/aguiar-katia-fotografia-digital.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2011. BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. ______. Modernidade líquida.Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. BRAGA, Newton. Eletrônica básica para mecatrônica. Mecatrônica Fácil. São Paulo: Editora Saber LTDA, n.1, p.9-17, 2001. Disponível em: <ftp://193.137.229.181/Curso.EEM/AnoLecti vo.2006-2007/Fiabilidade/Textos/Componentes%20e%20Acess%F3rios/f01_09.pdf>. Acesso em: 05 mar. 2011. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venâncio Majer. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. 1.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005, p. 203. FACEBOOK. Disponível em:<www.facebook.com>. Acesso em: 20 fev. 2011 FERREIRA, Aurélio Buarque Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 27. FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 5.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. GREGOLIN, Maria Rosário. Análise do discurso: lugar de enfrentamentos teóricos. In: Teorias Lingüísticas: problemáticas contemporâneas. Uberlândia: UFU, 2003. p. 21 - 34. ______. Análise do discurso: os sentidos e suas movências. In: Análise do Discurso: entornos do sentido. Araraquara: Cultura Acadêmica, 2001. p. 9 - 34. ______. Foucault e Pêcheux na análise do discurso – diálogos & duelos. São Carlos: Claraluz, 2004. JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução de Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2008, p. 25-51. KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. 4. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. LYMAN, Peter. O debate “UCC 2B” (UCITA) e a sociologia da era da informação. DataGramaZero. Ciência da Informação, Brasília, n.1, 2000. Disponível em: <http://dgz.org.br/fev00/Art_01.htm>. Acesso em: 23 jul. 2010. MEZRICH, Ben. A criação do Facebook. Uma história de sexo, dinheiro, genialidade e traição. Tradução de Alexandre Matias. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.

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