A Fotografia Como Expressao Do Conceito Arlindo Machado

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    A Fotografia como Expresso do Conceito

    Arlindo Machado

    De tempos em tempos, a discusso sobre a natureza mais profunda da fotografia volta tona

    com insistncia. Nessas ocasies, tudo o que parecia slido se desmancha no ar. Dentro de maisalgumas dcadas, a fotografia ir completar dois sculos de existncia e ainda estaremos tentando

    entend-la. Existem boas razes para as dificuldades. A fotografia a base tecnolgica, conceitual

    e ideolgica de todas as mdias contemporneas e, por essa razo, compreend-la, defini-la um

    pouco tambm compreender e definir as estratgias semiticas, os modelos de construo e

    percepo, as estruturas de sustentao de toda a produo contempornea de signos visuais e

    auditivos, sobretudo daquela que se faz atravs de mediao tcnica. Cada vez que um meio novo

    introduzido, ele sacode as crenas anteriormente estabelecidas e nos obriga a voltar s origens

    para rever as bases a partir das quais edificamos a sociedade das mdias. A televiso e, por

    extenso, a imagem e som eletrnicos j nos fizeram enfrentar essa indagao h algumasdcadas. Agora, o processamento digital e a modelao direta da imagem no computador colocam

    novos problemas e nos fazem olhar retrospectivamente, no sentido de rever as explicaes que at

    ento sustentavam nossas prticas e teorias. Num momento como este, em que a imagem e

    tambm o som passam a ser sintetizados a partir de equaes matemticas e modelos da fsica,

    num momento em que at mesmo o registro indicial fotogrfico memorizado sob forma numrica,

    boa parte dos nossos paradigmas tericos precisam ser revistos.

    Falando nos termos da teoria dos signos de Charles S. Peirce, a fotografia tem sido

    habitualmente explicada ora com nfase em sua iconicidade(Cohen, 1989: 458; Sonesson, 1998),

    ou seja, com base em sua analogia com o referente ou objeto, bem como em suas qualidadesplsticas particulares; ora com nfase em sua indexicalidade (Dubois, 1983: 60-107; Schaeffer,

    1987: 46-104), ou seja, com base em sua conexo dinmica com o objeto ( o referente que causa

    a fotografia); ora ainda admitindo-se as duas nfases simultaneamente (Santaella e Nth, 1998:

    107-139; Sonesson, 1993: 153-154). No entanto, mesmo que todos admitam que muitos dos

    elementos codificadores da fotografia podem ser considerados arbitrrios e convencionais,

    praticamente no existe uma reflexo sistemtica sobre a fotografia como smbolo, no sentido

    peirceano do termo, ou seja, como a expresso de um conceito geral e abstrato.Embora alguns

    analistas j tenham alertado para a necessidade de se pensar a fotografia, sobretudo a

    contempornea, fazendo intervir, de maneira simultnea (e no exclusiva) as trs categorias

    peirceanas (Carani, 1998), a verdade que o pensamento da fotografia como lei ou norma

    generalizante permanece um desafio terico. A nica voz discordante no consenso geral parece ter

    sido a de Vilm Flusser, um pensador da tcnica que, j em 1983, numa obra fundamental escrita

    sob o impacto do surgimento das imagens digitais, assegurou que a fotografia, mais que

    simplesmente registrar impresses do mundo fsico, na verdade traduzia teorias cientficas em

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    ter muitas funes e usos em nossa sociedade, mas o fundamento de sua existncia est na

    materializao dos conceitos da cincia ou, para usar as palavras do prprio autor, ela transforma

    conceitos em cenas (1985: 45). O objetivo deste artigo , partindo da considerao inicial de

    Flusser e com base nos novos referenciais que nos esto sendo apontados pelas imagens digitais,

    discutir alguns dos argumentos e razes que nos parecem autorizar o reposicionamento da

    fotografia nesse terreno que Peirce classificou como o terceirode sua escala semitica, o terreno

    do conceito.

    ndice ou Smbolo?

    Numa viagem que fiz Patagnia argentina algum tempo atrs, chamou-me a ateno a incrvel

    e infinita variedade de verde na paisagem natural. Jamais poderia imaginar que essa simples cor

    que chamamos de verde pudesse abranger uma gama de sensaes cromticas to luxuriante, aponto de dar uma impresso de que cada rvore singular, ou cada parte de uma rvore, exibia um

    matiz de verde completamente diferente de todos os outros. De volta para casa, depois de revelar

    e ampliar os negativos fotogrficos sacados na Patagnia, pude constatar, bastante frustrado, que

    todo aquele espetculo cromtico da natureza havia se estreitado drasticamente. Apesar da

    utilizao de cmera profissional, fotmetro independente e pelcula de largo espectro de resposta,

    a variao dos verdes da paisagem fotografada me pareceu demasiado reduzida, alm de banal e

    previsvel. Comparando posteriormente essas fotos com outras obtidas por um colega que

    compartilhou a viagem e fotografou os mesmos lugares, percebi que, apesar dos resultados

    parecerem igualmente limitados em termos de resposta cromtica, ele havia obtido alguns tons deverde que no existiam em minhas fotos. A razo disso logo foi esclarecida: meu colega havia

    utilizado uma outra marca de negativo e um outro tipo de papel de ampliao.

    Essa singela experincia pessoal ajudou-me bastante a entender algumas das estratgias

    operativas da fotografia. O que chamamos de cor, na verdade, o resultado perceptivo do

    comportamento fsico dos corpos em relao luz que incide sobre eles e, como tal, uma

    propriedade de cada um desses corpos. Cada planta, em razo dos seus constituintes materiais,

    absorve e reflete de uma maneira particular os raios de luz e, por isso, produz a sua prpria gama

    de verdes. J as emulses fotogrficas, por serem constitudas de outros materiais, produzem

    outra gama de verdes. Por essa razo, quase impossvel ter numa foto exatamente as mesmascores de uma paisagem. A cor fotogrfica ser sempre, pelo contrrio, uma interpretaoda cor

    visada, a partir dos prprios constituintes materiais do filme. Na verdade, a palavra cor refere-se

    habitualmente a duas modalidades diferentes de fenmenos. De um lado, uma cor uma particular

    qualidade(em termos fenomnicos) ou uma particular sensao(em termos perceptivos), portanto

    um fato da primeiridade em termos peirceanos. De outro lado, uma cor pode ser tambm um

    conceito, uma categoria, uma abstrao do pensamento, estabelecida de forma inteiramente

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    convencional. Damos o nome de verde a uma certa gama de comprimentos de ondas luminosas

    (expressos em nanmetros), que resultam de determinadas propriedades reflexivas dos materiais.

    Mas como o espectro cromtico visvel contnuo, a categorizao das diversas cores no

    apenas imprecisa (nas fronteiras entre as cores, alguns vero amarelo ou azul naquilo que

    outros vem verde), mas tambm arbitrria, o que explica o fato de diferentes culturas

    classificarem de forma diferente essas mesmas qualidades (os esquims, por exemplo, classificam

    essa nica cor que chamamos de branco em mais de uma dezena de cores diferentes).

    No nosso caso, o corolrio inevitvel dessa constatao que a pelcula fotogrfica s pode

    responder paisagem focalizada com a gama de cores que ela capaz de produzir. A quantidade

    de verdes que se pode encontrar na natureza possivelmente infinita, porque infinitos so os

    corpos fsicos com suas diferentes propriedades reflexivas, mas um determinado padro

    fotogrfico digamos um filme Kodakolor de 100 ASA, fabricado na sucursal mexicana da Kodak e

    revelado rigorosamente de acordo com as instrues do fabricante produz uma gama de verdes

    no apenas finita, como tambm padronizada, regular e fixa. Todas as imagens produzidas comesse filme mostraro sempre a mesma gama de verdes, independentemente do fato de o referente

    ser a Patagnia argentina ou as estepes russas. Os verdes Kodakolor no so, portanto, simples

    quali-signos dessa luxuriante experincia cromtica que chamamos de a verdidade, mas sim

    cores-tipos padronizadas, classificveis em catlogos de cores (e, de fato, os laboratrios de

    revelao so calibrados com base em gabaritos cromticos), portanto algo prximo do conceito

    peirceano de legi-signo. Um filme Kodakolor nunca conseguir produzir um verde singular, como

    aquele que se pode encontrar apenas nas folhas de uma melissa officinalis, observada beira de

    um lago da Patagnia, numa determinada tarde de primavera, logo depois de haver parado de

    chover, ou como aquele que se pode ver apenas num determinado afresco de Giotto, produzidocom uma tinta fabricada pelo prprio pintor, a partir do processamento de plantas encontradas na

    periferia de Florena. Pelo contrrio, os verdes Kodakolor se repetem de forma regular e previsvel

    em todas as fotos obtidas nas mesmas condies-padro e essa regularidade que torna a

    fotografia utilizvel em situaes de reprodutibilidade industrial, para distribuio em escala

    massiva.

    Parte dos problemas relacionados com a compreenso da fotografia derivam de seu tradicional

    enquadramento na categoria peirceana do ndice, um enquadramento que se pode considerar, no

    mnimo, problemtico. O que a pelcula fotogrfica registra no exatamente uma ao do objeto

    sobre ela (no h contato fsico ou dinmico do objeto com a pelcula), mas o modo particular deabsoro e reflexo da luz por um corpo disposto num espao iluminado, tal como uma emulso

    sensvel o interpreta,com base apenas naquela parte dos raios de luz refletidos pelo objeto que

    puderam ser coletados pela lente e filtrados pelos dispositivos internos da cmera. Trata-se de um

    processo extraordinariamente complexo, que se encontra distante alguns anos-luz da simplicidade

    franciscana dos ndices visuais clssicos, como a pegada deixada no solo por um animal, ou a

    impresso digital. No limite, possvel fotografar (isto , registrar em pelcula) os raios de luz

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    diretamente de sua fonte, sem que eles tenham sido refletidos por objeto algum. Isso quer dizer

    que se pode ter fotografia sem objeto, a menos que consideremos, alis com toda pertinncia, que

    o verdadeiro objeto da fotografia a luz e no o corpo que a reflete. Pensemos nos seguintes

    paradoxos da fotografia astronmica:

    1) A exploso de uma estrela, fotografada neste momento por uma cmera acoplada a um

    telescpio, aconteceu, na verdade, vrias centenas de anos antes. O que ocorre que a luz

    emitida pela estrela moribunda teve de percorrer uma boa parte do universo antes de chegar

    at a nossa emulso de registo.

    2) H pelo menos um referente que jamais poder ser fotografado: o buraco negro, uma vez que

    ele no absorve nem reflete raios de luz ou qualquer outro tipo de onda. Eis porque uma prova

    material da existncia do buraco negro impossvel.

    A fotografia um processo inteiramente derivado da tcnica, entendendo-se aqui por tcnica

    aquilo que Simondon (1969: 12) define como gesto humano fixado e cristalizado em estruturas

    que funcionam. Na sua feio industrial e massiva, a tcnica concebida como uma forma deautomatizao ou de padronizao, no limite mesmo da estereotipia. Em sua acepo mais

    sofisticada, na investigao cientfica e na experimentao artstica, por exemplo, a tcnica pode

    ser tambm um detonador heurstico, na medida em que ela pode possibilitar ao pensamento saltar

    para alm daquele outro que a engendrou. Se um dispositivo tcnico prev uma certa margem de

    indeterminao, como afirma Simondon (1969: 11), ele pode tornar-se sensvel a uma informao

    exterior. De qualquer forma, sempre o conhecimento cientfico materializado nos meios tcnicos

    que faz a fotografia existir, uma vez que, ao contrrio das pegadas e das impresses digitais,

    fotografias no se formam naturalmente, por mero acaso do encontro fortuito entre um objeto e um

    suporte de registro. A fotografia s existe quando h uma inteno explcita de produzi-la, por partede um ou mais operadores e detentores do know how especfico, e quando se dispe de um

    imenso aparato tcnico para produzi-la (cmera, lente, filme, iluminao, fotmetro embutido ou

    separado da cmera, sala escura de revelao, banhos qumicos, cronmetros diversos para

    marcao de tempo, etc.), aparato esse desenvolvido depois de vrios sculos de pesquisa

    cientfica e produzido em escala industrial por um segmento especfico do mercado.

    A definio clssica de fotografia como ndice constitui, na verdade, uma aberrao terica, pois

    se considerarmos que a essncia ontolgica (expresso tomada de Andr Bazin, 1981: 9-17) da

    fotografia a fixao do trao ou do vestgo deixado pela luz sobre um material sensvel a ela,

    teremos obrigatoriamente de concluir que tudoo que existe no universo fotografia, pois tudo, dealguma forma, sofre a ao da luz. Se me deito numa praia para tomar banho de sol, a pele de

    meu corpo registrar a ao dos raios de luz sob a forma de bronzeamento ou queimadura. Se

    coloco meu disco predileto numa mesa beira de uma janela onde, por azar, numa determinada

    hora do dia, bate a luz do sol, o disco empenar como uma ptala de rosa e poderemos ento

    chamar esse disco empenado de fotografia, pois, de alguma forma, essa a sua maneira de

    registrar em definitivo a ao da luz do sol sobre ele. Mesmo a simples folha de papel esquecida

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    no cho, exposta luz do sol, depois de algum tempo amarelar. Mas quando tomo uma

    fotografia nas mos, o que vejo ali no apenas o efeito de queimadura produzido pela luz. Antes,

    vejo uma imagem extraordinariamente ntida, propositadamente moldurada, enquadrada e

    composta, uma certa lgica de distribuio de zonas de foco e desfoque, uma certa harmonia do

    jogo entre claro e escuro, sem falar numa inequvoca inteno expressiva e significante, que no

    encontro jamais no corpo bronzeado, no disco empenado, ou no papel amarelecido.

    O traogravado pela cmera fotogrfica (no caso, a luz refletida pelo objeto) depende de um

    nmero extraordinariamente elevado de mediaes tcnicas. No que diz respeito cmera, temos:

    a lente com uma especfica distncia focal, a abertura do diafragma, a abertura do obturador, o

    ponto de foco. No que diz respeito emulso fotogrfica: a resoluo dos gros, a maior ou menor

    latitude, a amplitude da resposta cromtica, etc. No que diz respeito ao papel de ampliao ou

    impresso: sua rugosidade, propriedades de absoro, etc. Isso quer dizer que uma foto no

    somente o resultado de uma impresso indicial de um objeto, mas tambm das propriedades

    particulares da cmera, da lente, da emulso, da(s) fonte(s) de luz, do papel de reproduo, dobanho de revelao, do mtodo de secagem, etc. Claro que, como foi corretamente observado por

    Sonesson (1998), tambm uma pegada resultado de uma interao varivel entre a pata de um

    animal e o solo (diferentes tipos de solo permitem imprimir diferentes tipos de pegadas de um

    mesmo animal). Mas uma pegada, mesmo que tenha aparncias diferentes conforme o tipo de

    solo, ser sempre uma pegada, podendo ser reconhecvel como tal por um interpretante, enquanto

    uma fotografia s ser uma realmente fotografia se todas as condies tcnicas forem cumpridas

    com o rigor exigido pelos dispositivos mecnico, ptico e qumico.

    Nesse sentido, diferentemente da pegada, da impresso digital e mesmo da pintura e do

    desenho, a fotografia resultado de clculos complexos e matematicamente precisos,automatizados no desenho da cmera e da pelcula. O fato de se poder fotografar sem

    necessariamente conhecer todos esses clculos no muito diferente do fato de se poder modelar

    formas, texturiz-las e ilumin-las em computador, sem precisar necessariamente saber

    programar, mas usando apenas aplicativos comerciais. Fotografia atividade tcnica de extrema

    preciso, baseada na mensurao (da distncia e velocidade do objeto, da quantidade de luz que

    penetra na cmera, da paralaxe entre o visor e a janela do filme, da margem de profundidade de

    campo, do tempo de revelao, etc.). O fotmetro mede a quantidade de luz incidente no objeto ou

    refletida para a cmera; o termocolormetro mede a temperatura de cor, para adequar o tipo de

    filme ao tipo de iluminao; o diafragma e o obturador devem ser ajustados numa relao decompensao entre os dois (quanto mais se abre um, mais se fecha o outro), de acordo com o

    valor obtido pelo fotmetro e de acordo ainda com o grau de sensibilidade do filme. Um erro de

    clculo, por mnimo que seja, e adeus fotografia, ainda que o referente esteja l e bem iluminado.

    O mesmo raciocnio serve tambm para o clculo da profundidade de campo, que estabelece a

    quantidade de foco e desfoque numa foto e que determinado com base numa complexa

    equao, envolvendo: 1) a distncia do objeto em relao cmera; 2) o grau de abertura do

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    diafragma e obturador; 3) a quantidade de luz que banha a cena; 4) a distncia focal da lente

    utilizada. Bons fotgrafos sempre trazem em suas bolsas um manual com tabelas de profundidade

    de campo, que preciso consultar sempre que surgem dvidas sobre se uma imagem aparecer

    em foco ou no. Eis porque uma fotografia pode ser considerada, sem nenhuma vacilao, um

    signo de natureza predominantemente simblico, pertencente prioritariamente ao domnio da

    terceiridade peirceana, porque imagem cientfica, imagem informada pela tcnica, tanto quanto a

    imagem digital, ainda que um certo grau de indicialidade esteja presente na maioria dos casos. Em

    outras palavras, fotografia , antes de qualquer outra coisa, o resultado da aplicao tcnica de

    conceitos cientficos acumulados ao longo de pelo menos cinco sculos de pesquisas nos campos

    da tica, da mecnica e da qumica, bem como tambm da evoluo do clculo matemtico e do

    instrumental para operacionaliz-lo.

    Enquanto smbolo, segundo a definio peirceana, a fotografia existe numa relao tridica

    entre: o signo (a foto, ou, se quiserem, o registro), seu objeto (a coisa fotografada) e a

    interpretao fsico-qumica e matemtica. Essa interpretao um terceiro, podendo ser lida(alis, essa a nica leitura sria da fotografia) como a criao de algo novo, de um conceito

    puramente plstico a respeito do objeto e seu trao. A verdadeira funo do aparato fotogrfico no

    , portanto, registrar um trao, mas interpret-lo cientificamente. Isso quer dizer que o trao

    fotogrfico, quando existe, no nos dado em estado bruto e selvagem, mas j imensamente

    mediado e interpretado pelo saber cientfico. Observe-se como o aparato tcnico de captao de

    sinais, em cincias rigorosas como a medicina e a astrofsica, est programado para interpretar e

    codificar o trao indicial em elementos sensveis ou perceptveis que possam ser lidos pelo

    analista: por exemplo, determinadas cores podem representar, por mera conveno, determinadas

    temperaturas do corpo ou determinadas propriedades dos materiais. Isso quer dizer que se podecodificar visualmente, para efeito de registro fotogrfico, valores obtidos atravs de mensurao

    termodinmica ou de anlise fsico-qumica.

    Na verdade, o sensoriamento remoto em astrofsica, bem como a perscrutao no-invasiva do

    interior do corpo humano em medicina, modalidades mais rigorosas de fotografia, para uso

    cientfico, so processos to codificados que s um especialista pode decifr-los, pois s o

    especialista detm o gabarito, a chave interpretativa, a conveno-padro. Essas fotos cientficas

    exigem um trabalho de decifrao difcil e altamente especializado, parte do qual realizado pelo

    prprio dispositivo tcnico, parte pelo cientista que o opera. Mesmo assim, a ambigidade e o erro

    so inevitveis, pela simples razo de que nunca se pode inferir com segurana sobre asqualidades de um objeto ao qual no se tem acesso direto, mas apenas atravs de investigao

    instrumental. Nesse sentido, astrofsicos podem interpretar equivocadamente determinados sinais

    dos astros e mdicos podem tambm interpretar mal as respostas do corpo s ondas de

    perscrutao emitidas pelas mquinas. O erro sempre uma possibilidade inevitvel nesses meios

    porque o investigador trabalha no com amostras reais, mas com interpretaes tcnicas dos

    sinais emitidos pelos corpos animados ou inanimados, portanto com ndices degenerados,

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    transfigurados pela mediao tecno-cientfica. Por essa razo, um bom mdico nunca faz um

    diagnstico com base apenas nos resultados apontados por uma radiografia, um ecograma ou uma

    tomografia computadorizada, mas sim com base num exame completo, ao qual se acrescentam

    ainda os exames de laboratrio de amostras reais do corpo, e aps confrontar e interpretar os

    diferentes resultados. A deciso do mdico no , portanto, ditada pelo que diz uma suposta

    evidncia indicial, sabidamente imprecisa e distorcida pela mediao tcnica, mas pela

    interpretao do maior nmero possvel de evidncias dadas pelo cruzamento de exames de

    natureza variada.

    Um ndice diz Peirce (1978: vol. 2: 315) envolve sempre a existncia de seu objeto. Mas

    uma imensa quantidade de elementos encontrveis numa fotografia no existe no mundo. Por

    exemplo: a mancha deixada por um corpo em deslocamento rpido; o tremido da cmera; a

    decomposio em forma de arco-ris dos raios de luz que entram na lente diretamente da fonte; o

    afunilamento e diminuio do tamanho dos objetos que se distanciam da cmera (efeito de

    perspectiva renascentista); o ponto de fuga; o desfocado; o recorte ou moldura do quadro(retangular na maioria dos casos, circular no caso das lentes olho-de-peixe); a excluso do que

    est fora do quadro; a alterao da escala; a granulao, saturao, homogeneidade e contraste

    da emulso de registro; a inverso de tons e cores produzida pelo negativo; a deformao ptica

    produzida por certas lentes como a grande-angular e a teleobjetiva; o preto e branco; o ponto de

    vista da cmera; o movimento congelado; a bidimensionalidade do suporte de registro; o sistema

    de zonas (Ansel Adams); a deformao lateral (nas cmeras pinhole); a anamorfose das figuras

    planas; a anamorfose produzida por obturadores de plano focal; a filtragem dos reflexos por

    polarizao; o brilho ou opacidade do papel de reproduo e assim por diante, para ficar apenas

    nos aspectos visuaisdo enunciado. Todos esses elementos icnicos e simblicos introduzidos peloaparato tcnico no so apenas acrscimosque se sobrepem ao ndice, ao trao do objeto, mas

    tambm agentes de transfigurao, deformao e mesmo de apagamentodo trao. A histria da

    fotografia est repleta de exemplos de fotos cujo referente, pelas mais variadas razes tcnicas ou

    expressivas, no pode ser identificado, nem sequer genericamente. Neste caso, perdeu-se o trao,

    embora tenha permanecido a fotografia com toda sua eloqncia icnica e simblica.

    H ainda um outro aspecto da questo: a fotografia vem sendo hoje largamente utilizada, no

    plano das mdias impressas ou eletrnicas, como signo genrico, designador de uma classede

    imagens. Vide o exemplo dos bancos de imagens (analgicos ou digitais), que alimentam a maior

    parte das publicaes e produes icnicas do presente. Em geral, as imagens, nesses bancos,so solicitadas pelo que elas tm de poder de generalidade, no pela sua singularidade. Uma

    revista, por exemplo, pretende publicar um artigo sobre esportes de inverno e, para ilustrar, precisa

    de imagens de gente esquiando. Pouco importa quem est esquiando, quando, onde ou porqu. O

    que importa uma imagem que signifique genericamente o gesto de esquiar na neve. Quanto mais

    indefinidos e inidentificveis forem o modelo, o cenrio e a ocasio, tanto melhor para a foto, pois

    ela ter maior poder generalizante. Os bancos de imagens hoje guardam vrios milhes de fotos

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    classificadas j no mais por legendas descritivas, mas por temas visuais genricos e identificadas

    apenas por nmeros de ordem. Praticamente todos os temas podem hoje ser encontrados nesses

    bancos: crianas, florestas tropicais, fazendas de criao de gado, intervenes cirrgicas, rpteis,

    bibliotecas, nvens, piscinas, o que se quiser. Essa nova demanda tem incentivado o

    desenvolvimento de um outro tipo de fotografia, j no mais documental no sentido habitual

    dessa palavra, mas uma fotografia que busca, atravs de uma imagem singela, simbolizar uma

    classe, uma norma ou uma lei dotada de sentido generalizante.

    Fotografia: Conceito em Expanso

    Em termos de possibilidades criativas e heursticas, a tradicional nfase na fotografia como

    ndice introduziu nessa rea de produo simblica uma outra distoro: privilegiou o aperto do

    boto disparador da cmera como o momento emblemtico da fotografia, deixando de lado tanto

    os preparativos anteriores do motivo a ser fotografado e os ajustes do aparato fotogrfico, comotambm todo o processamento posterior da imagem obtida. Ainda hoje, apesar da crescente

    digitalizao do processo fotogrfico em todos os seus nveis, grande parte dos crculos tericos e

    profissionais permanece ainda paralisada pela mstica do clique, do momento decisivo (Cartier-

    Bresson, 1981: 384-386), daquele instante mgico em que o obturador pisca, deixando a luz entrar

    na cmera e sensibilizar o filme. Todo o demais, isto , o antes e o depois do clique,

    considerado afetao pictrica (icnica) ou manipulao intelectual (simblica), fugindo portanto

    do mbito do especfico fotogrfico. A insistncia, por parte de muitas teorias e prticas ainda em

    voga, numa suposta natureza indicial da fotografia, produziu, como resultado, uma restrio das

    possibilidades criativas do meio, a sua reduo a um destino meramente documental e, portanto, oseu empobrecimento como sistema significante, uma vez que grande parte do processo fotogrfico

    foi eclipsado pela hipertrofia do momento decisivo. O sistema de zonas de Ansel Adams parece

    ter sido a nica manipulao posterior ao registro universalmente aceita (ou pelo menos tolerada)

    nos crculos mais restritos da fotografia. J a digitalizao e o processamento posterior da foto em

    computador permanecem ainda largamente contestados, no plano terico, como procedimentos

    que se possam incluir no mbito da fotografia, embora, a rigor, no exista diferena alguma entre o

    processamento da imagem em computador e a ampliao diferenciada das partes de uma foto

    atravs do sistema de zonas.

    Mas o arranjo do objeto no seu espao natural ou no estdio, a disposio da iluminao, amodelao da pose, os ajustes do dispositivo tcnico e todo o processo de codificao que

    acontece antes do clique to fotografia quanto o que acontece no momento decisivo. Da

    mesma forma, tambm faz parte do universo da fotografia tudo o que acontece no momento

    seguinte: a revelao, a ampliao, o retoque, a correo e processamento da imagem, a

    posterizao etc. Depois de mais de um sculo e meio de restries tcnicas, conceituais e

    ideolgicas, subvertidas apenas marginalmente pelos artistas de vanguarda, a fotografia comea,

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    finalmente, a conhecer a sua emancipao e a derrubar as fronteiras que a limitavam. Com a

    cmera digital e o software de processamento tomando rapidamente o lugar das tradicionais

    tcnicas fotogrficas, podemos dizer que a fotografia vive um momento de expanso, tanto no que

    diz respeito ao incremento de suas possibilidades expressivas, como no que diz respeito s

    mudanas em sua conceitualizao terica. Recentemente, Andreas Mller-Pohle (1985),

    fotgrafo, crtico e editor da revista European Photography, cunhou o termo fotografia expandida

    para designar a nova atitude emergente com relao a esse meio. Para Mller-Pohle, a fotografia

    hoje pressupe uma gama praticamente infinita de possibilidades de interveno, tanto no plano da

    produo(pode-se interferir no objeto a ser fotografado, nos meios tcnicos para fotografar, como

    ainda na prpria imagem fixada no negativo), quanto nos planos da circulaoe consumosocialde

    fotografias.

    Vejamos alguns exemplos. Podemos citar, em primeiro lugar, a obra da fotgrafa norte-

    americana Cindy Sherman. Pelo que se sabe, ningum discorda da incluso dessa obra no mbito

    da fotografia. No entanto e paradoxalmente, Sherman no fotografa, ou pelo menos no elaquem se dedica ao trabalho de espiar pelo visor da cmera, enquadrar o motivo e clicar o boto do

    disparador. Na verdade, ela no poderia fazer isso, porque sempre o referente, o objeto de suas

    prprias fotos e no poderia estar frente e atrs da cmera ao mesmo tempo. Quem manipula a

    cmera um outro, ou vrios outros, nunca nomeados. A fotgrafa transita, portanto e de forma

    ambgua, entre o sujeito e o objeto de suas prprias fotos. Para Sherman, fotografar consiste

    menos em apontar a cmera para alguma coisa pr-existente e fixar a sua imagem na pelcula, do

    que em criar cenrios e situaes imaginrias para oferecer cmera, como acontece no cinema

    de fico. A fotografia aqui concebida como criao dramtica e cenogrfica, ou como mise-en-

    scne, onde a fotgrafa interpreta, ao mesmo tempo, os papis de diretora, dramaturga,desenhista de cenrios e atriz.

    Numa outra direo, temos o caso de Rosngela Renn, uma fotgrafa brasileira que no

    fotografa, no usa cmera, nem filme, nem nada. Ela apenas recoloca em circulao as fotos j

    existentes, sobretudo aquelas que foram descartadas pelo fluxo interminvel de imagens

    industriais no mercado de massa. Num primeiro momento, Renn vai buscar o material de suas

    reflexes em fotos antigas e annimas, em geral produzidas para fins legais ou institucionais, como

    aquelas utilizadas em documentos de identidade, em obiturios e na identificao criminal. Ela as

    encontra aos milhares, em estdios de fotgrafos populares: so fotos padronizadas, produzidas

    em larga escala, feias e mal acabadas, que a fotgrafa retira de seus circuitos normais deconsumo, propondo novas formas de relacionamento. Nem sempre essas fotos so apresentadas

    tais e quais encontradas. s vezes, a fotgrafa expe o prprio negativo original, como forma de

    obliterar a visibilidade e tornar ainda mais evidente o carter fotogrfico (tcnico) da imagem.

    Outras vezes, a artista amplia os negativos e expe cpias extremamente escurecidas das fotos

    originais, de tal forma que preciso um certo esforo de visualizao para se conseguir distinguir

    um tnue vestgio de figura humana. O efeito final lembra aquelas fotos fantasmticas que se v

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    nos tmulos e que, por ficarem muito tempo expostas ao tempo e ao sol, acabam se deteriorando e

    perdendo seus detalhes. Outras vezes ainda, Renn imprime suas cpias diretamente sobre vidro,

    para que o observador, ao se defrontar com a fotografia, veja tambm a sua prpria imagem

    refletida no vidro e superposta imagem que se oferece viso, como num jogo de ironia com o

    prprio efeito especular da fotografia (espelho da realidade).

    A recuperao dessas imagens descartadas pela sociedade e despejadas no lixo industrial

    permite a Rosngela Renn enveredar por dois caminhos simultneos e aparentemente

    contraditrios. De um lado, as fotos ampliadas e escurecidas, sem qualquer referncia a um

    contexto, sem legendas que as identifiquem no tempo e no espao, resultam apenas traos opacos

    e sem sentido de singularidades perdidas, que atestam a imperfeio da fotografia como

    documento ou como revelao de uma realidade e a impossibilidade de uma verdadeira memria.

    De outro lado, essas mesmas imagens, rearticuladas e recolocadas num novo contexto, permitem

    artista redescobrir um sentido para elas. Mller-Pohle (1985) define essa postura como uma

    espcie de ecologia da informao, pois se trata de intervir sobre o refugo(Abfall) e reintroduziruma nova significao naquilo que a sociedade das imagens tcnicas descartou. Dessa forma, a

    obra de Renn se apresenta como uma investigao sistemtica sobre o trao e a conveno,

    sobre a memria e o esquecimento, sobre os efeitos do tempo sobre a experincia humana,

    terminando por propor uma espcie de poltica do sentido e da opacidade.

    Um outro fotgrafo que nos tem possibilitado entender mais a fundo o processo de expanso da

    fotografia o tambm brasileiro Kenji Ota. Uma vez que tanto o efeito indicial, quanto a homologia

    icnica s podem ser obtidos, em fotografia, atravs de um controle extraordinariamente preciso de

    todos os elementos do cdigo fotogrfico (a qualidade da emulso, a natureza da luz de registro e

    de ampliao, o tempo e a temperatura de revelao e secagem, a homogeneidade do papel etc),uma maneira de subverter os resultados consiste em jogar aleatoriamente com o controle qumico

    e matemtico do processamento. Em lugar de cumprir todos os protocolos ditados pela tcnica,

    para desta maneira obter um resultado fotograficamente consistente, Ota prefere abrir o seu

    processo para o acaso e introduzir a instabilidade, o desregramento, a desordem na produo da

    imagem. Navegando na contra-corrente da tcnica, ele rejeita tudo o que padronizado e industrial

    e reintroduz o artesanato na fotografia. Resgata processos fotogrficos antigos e em desuso, como

    a ciantipo, o caltipo, o papel albuminado etc., no a ttulo de nostalgia, mas como forma de sacar

    da fotografia algumas qualidades novas.

    Assim, a utilizao de vrios tipos de gelatina, com diferentes graus de dureza e diferentesnveis de saturao na gua torna o processo de reconstituio da imagem uma aventura errtica

    entre a vontade e o acaso. O uso de papel artesanal, em lugar do papel industrial prprio para

    ampliao fotogrfica, permite obter como resultado imagens manchadas com cores, tons e

    texturas de uma variedade impressionante, em decorrncia principalmente do fato de as

    irregularidades na distribuio das fibras determinarem uma absoro no homognea e tambm

    no previsvel da emulso.A maior ou menor permeabilidade emulso repercute na escala

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    cromtica e tonal da imagem. E como a emulso espalhada de forma no homognea na

    superfcie do papel, atravs do uso de pincel, as irregularidades aumentam. Os processos de

    revelao e fixao podem ser barrados antes do surgimento integral da imagem, permitindo assim

    o resgate de estgios intermedirios de acabamento. E mais: uma vez que as irregularidades do

    papel e da emulso variam de folha para folha, cada cpia completamente diferente das outras,

    ainda que a matriz possa ser a mesma. Assim, a cada nova cpia, o registro fotogrfico vai se

    transfigurando em imagens completamente diferentes umas das outras.

    Quanto mais Ota se distancia das normas, das regras rgidas da prtica laboratorial (controle de

    tempo e temperatura, controle da qualidade e vida til das substncias reveladoras e fixadoras),

    quanto mais ele introduz a impreciso, a descontinuidade, o processamento sem cronmetro e

    sem mediao tcnica, tanto mais as imagens se decompem em anamorfoses, manchas e

    alteridades grficas de toda espcie, fazendo a fotografia distanciar-se cada vez mais da

    homologia icnica e do trao documental para aproximar-se estreitamente da pintura abstrata. Com

    o desenvolvimento de seu processo, Ota percebe que os melhores resultados plsticos ocorrem,paradoxalmente, nas zonas do negativo em que no h imagem (reas esvaziadas, fundos

    negros), porque nelas a emulso recebe mais luz e o processamento qumico mais intenso. A

    partir dessa constatao, ele comea ento a eliminar quase que completamente o referente de

    suas fotos, deixando o espetculo visual nascer apenas do jogo semi-controlado e semi-aleatrio

    entre a luz, o papel, a emulso e as substncias de ativao/fixao da imagem. O resultado

    uma espcie de fotografia inaugural, admica, sem cmera, sem objeto, sem trao, pura epifania,

    como a definir a fotografia como a arte da revelao, no duplo sentido do termo.

    Obras Citadas

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