A Garota Dos Olhos de Ouro - Margareth Mayo - By O Blog Da Selminha

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    Bianca 158

    A Garota dos olhos de ouro

    Resumo:- No orfanato, todos diziam que Liane era uma garota de sorte por ter umrico protetor que queria lev-la para sua casa na Sardenha. Mas ela estavaamedrontada: quem seria esse sr. Malaspina de quem nunca tinha ouvido falar? O queesperava em troca da vida de luxo que lhe oferecia? Viajou com o corao pesado dedesconfiana, sabendo que ia se sentir um patinho feio naquele ambiente demilionrios. A realidade, porm, era ainda mais cruel do que imaginava. O rico italianotinha mesmo um motivo secreto para mandar busc-la. E seu filho Marcello humilhouLiane desde o primeiro dia. Para ele, ela no passava de uma aproveitadora, e o lindotom dourado de seus olhos era o brilho da cobia!

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    Autora:-Margaret Mayo

    Ttulo original:- The Emerald Coast

    Publicado em 1983

    CAPTULO I

    Liane no estava ansiosa para sair do Orfanato St, Morrow. Sabia muito bem o que

    significava aquele chamado sala da sra. Morton: o aviso de que o orfanato, sua casa durantetantos anos, ia se transformar numa recordao.

    Hesitante, bateu slida porta de carvalho, depois abriu-a e entrou.Liane era uma garota magra, de expresso amedrontada, grandes olhos de um castanho-

    dourado, cabelos levemente ondulados.Parou diante da enorme mesa e cruzou as mos, nervosa. No fique com tanto medo Lucy Morton disse suavemente. Tenho boas notcias para voc. Encontrou algum lugar para onde eu possa ir? A mulher sorriu e pegou uma carta. Voc uma jovem de muita sorte. No sempre que algum aqui consegue essa

    chance. Na verdade, durante os trinta anos que passei dirigindo este lugar, acho que nunca vinada parecido.

    Liane gostaria que a sra. Morton fosse diretamente ao assunto. No conseguia imaginarpor que estava to animada.

    Sente-se. Acho que vai levar um susto. O que , afinal, tia Lucy? Voc vai para a Sardenha! Sardenha! Liane repetiu, depois de um longo silncio. Mas. . . por qu. . . ? Quem. . . ? No estava entendendo. No gostaria de ir para

    o exterior. No queria sair do orfanato e, muito menos, ir embora da Inglaterra. Era umpensamento que a amedrontava. Arregalou os olhos, sem acreditar no que tinha ouvido. Doque est falando?

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    Disto. A diretora sorriu. Chegou uma carta do sr. Malaspina. Ele convidavoc para se hospedar em sua casa pelo tempo que quiser. uma tima chance, Liane, e estoumuito satisfeita. A garota empalideceu.

    Sr. Malaspina? Quem e!e? Por que me escolheu? o seu benfeitor, garota. quem manda aqueles lindos presentes.Durante toda a vida, no dia do aniversrio e no Natal, sempre recebia presentes caros e

    misteriosos. Isso acabara causando inveja s outras crianas e uma situao delicada para Liane,que fora se tornando cada vez mais tmida.

    Foi uma surpresa tambm para mim, mas tinha algumas esperanas. Investiguei umpouco a vida do sr. Malaspina. Ele um homem muito rico, Liane, com negcios no mundointeiro. Tem muita sorte que ele a aceite em casa. Nenhuma das outras crianas teve essaoportunidade.

    Mas se ele me conhecia, por que esperou at agora para me convidar?A sra. Morton deu de ombros. No sei. No est contente? Percebe que a grande chance de sua vida? Sim. tia Lucy Liane respondeu, um pouco em dvida, tentando sorrir. Sentia-se

    aterrorizada, mas era do tipo que se controla em situaes difceis. Alm do mais, no podiadizer sra. Morton que no queria aceitar o convite.A prxima visita que Liane fez ao escritrio da sra. Morton foi no dia em que saiu do

    orfanato. Na vspera, Lucy Morton havia avisado que o sr. Malaspina estava chegando parabusc-la, e desde aquele momento Liane mal conseguira dormir.

    Antes de entrar na sala da diretora, ouviu a voz do sr. Malaspina, alta, profunda. E aintimidava! No era o tipo benevolente de velho que ela havia imaginado.

    Quase virou-se e saiu correndo, mas a porta da sala da sra. Morton se abriu e a diretoraa chamou.

    Entre, Liane. Parece que o sr. Malaspina no estava passando bem e mandou o filhobuscar voc.

    Olhando para aqueles olhos frios, Liane sentiu uma vontade ainda

    maior de fugir. O homem a olhava como se no gostasse dela. Parecia profundamenteaborrecido com sua misso.

    Parou humildemente diante dele e baixou os olhos, sentindo que ele a analisava. Est pronta? a sra. Morton perguntou. O sr. Malaspina no pode perder tempo.

    Estendeu a mo para a garota. Vou sentir sua falta. Escreva de vez em quando, contandocomo est passando. Virou-se para o homem. At logo, sr. Malaspina. Por favor, mandeminhas recomendaes a seu pai. Espero que ele melhore logo.

    Um carro enorme, com chofer, esperava l fora. Liane entrou ansiosa, sabendo queestava sendo observada e se sentindo pouco vontade com aquele homem a seu lado.

    Ele no parecia italiano. Os cabelos eram castanhos, alourados, e tinha a pelebronzeada. Era alto, forte, e os olhos revelavam uma determinao que a perturbava.

    Liane tinha sido feliz no orfanato. No havia pensado muito no dia em que teria que sair

    de l. Detestava conhecer novas pessoas, principalmente quando pareciam no gostar dela.. .como aquele homem a seu lado.

    Ele estava sentado rigidamente e no a olhava; parecia no se importar nem um poucocom ela. O carro vencia a distncia, e Liane ficava menos vontade a cada minuto.

    Quando no conseguiu aguentar mais o silncio, disse: Desculpe, mas acho que no est gostando da idia de eu ir morar com vocs. Sinto

    muito. Queria que soubesse que no fui consultada sobre esse assunto. Ento, somos dois ele disse, friamente. Quando meu pai tem uma idia,

    ningum consegue mud-la.Ele no tinha nenhum sotaque. Se no fosse aquele nome estranho, ela acharia que era

    ingls. Imaginou se o pai no seria ingls. Talvez a me fosse italiana. Ningum falara na sra.

    Malaspina. Talvez o sr. Malaspina fosse vivo e por causa disso tivesse adiado o convite paraela ir morar em sua casa. Nenhum homem quer viver com uma garotinha.

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    Como seu pai soube da minha existncia? Sempre fiquei imaginando de ondevinham os presentes...

    Ele lhe dir pessoalmente. No tenho nada a ver com isso. Lamento ter perguntado. Mergulhou no silncio mais uma vez. Nunca o tempo

    tinha passado to devagar. Parecia que jamais chegariam ao aeroporto.Quando a sra. Morton lhe dissera que ia andar de avio, Liane se sentira nervosa. Mas

    agora estava mais animada. Tentou esquecer a presena daquele homem frio e distante e pensarapenas na viagem que ia fazer.

    Sua imaginao cresceu, vendo um avio nos cus voando como um enorme pssaro.Devia ser uma delcia estar l dentro. E ver Londres, l embaixo, desaparecendo, os edifcioscada vez menores...

    Talvez voassem acima das nuvens, onde o mundo devia ser diferente, com nuvens corde prola, um sol dourado, a sensao do infinito.

    De repente, voltou realidade, quando o sr. Malaspina lhe tocou o brao. Tinhamchegado ao aeroporto de Heathrow.

    O silencioso chofer abriu a porta e ela desceu depressa. Seu companheiro estalou os

    dedos e um carregador apareceu, pegando as malas dela. Isso tudo que voc tem? o homem perguntou, rspido. Liane fez que sim, comum ar de quem pede desculpas.

    Ele ficou srio e dispensou o carregador. Eu mesmo levo. Liane viu que na outra mo ele carregava uma maleta muito

    elegante, com as iniciais M. M. em dourado.Depois de despachar as malas, ele perguntou: Quer um caf, srta. Chandler? Temos que esperar meia hora. Liane ainda estava

    tentando adivinhar o nome dele. J tinhapensado numa lista enorme de nomes ingleses, como Martin e Mark. Mas depois achou

    que devia ser um nome italiano. Olhou bem: tinha jeito de Mrio.Demorou algum tempo para perceber que ele havia feito uma pergunta. Ningum a

    chamava de srta. Chandler; fazia com que parecesse mais velha. Aos dezoito anos, tinhaconvivido apenas com

    meninos e meninas bem mais jovens, e s naquele momento percebeu que no era maisuma criana.

    Costuma sonhar acordada, srta. Chandler?Ele parecia aborrecido e Liane sentiu vontade de se esconder. Desculpe murmurou, com os olhos to grandes e tristes que pareciam ocupar

    todo o rosto. Em que est pensando? Em nada. Nada de importante. Ele ficou ainda mais zangado. Vamos tomar uma xcara de caf.Que homem esquisito! No gostara dele desde o comeo, mas, quanto mais tempo

    passava em sua companhia, menos o apreciava. Ser que o pai era igual? Esperava que no. Noaguentaria conviver com dois homens to detestveis.

    Enquanto esperava o caf, sentada ao lado dele na mesa, ela o olhou discretamente.Tinha uma expresso autoritria e um queixo bem definido. O palet de camura modelava osombros largos. Parecia um homem importante, cheio de dinheiro e que sabia como aproveit-lo.No havia nele nenhum calor, nem a sugesto de que poderia ser um bom amigo. Era duro eamargo, a julgar pela seriedade do rosto. Liane estremeceu de repente e desviou os olhos,observando os outros passageiros que tambm esperavam o caf.

    O contraste era marcante. Por toda parte havia risos, espontaneidade e conversas. Ohomem da mesa ao lado, que devia ter mais ou menos a idade do sr. Malaspina, conversava comuma garota de uns dezoito anos, sorrindo muito e explicando que era uma bobagem o medo que

    ela sentia de avies.Por que no tinha a sorte de viajar com algum parecido? .

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    O encanto sumiu. Abaixou a cabea, ressentida com a crtica que percebeu no olhardele. Eram olhos de leo, um leo que sente um prazer intenso em destruir a presa.

    Virou-se para a janela, procurando controlar as lgrimas. No importava o queacontecesse, no ia deixar que o sr. Malaspina a visse chorando. Isso s confirmaria sua opiniode que ela no passava de uma criana.

    Durante um perodo que pareceu uma eternidade, ficou observando o cu, e s voltousua ateno para dentro do avio quando lhe trouxeram uma refeio.

    Comeu automaticamente, mal sentindo o sabor da comida. Aquele homem horrvelestava estragando todo o seu divertimento. Voar teria sido uma experincia fascinante, se eleno estivesse ali. Sua presena tinha transformado a viagem em pesadelo.

    Depois da refeio, ele fechou os olhos e no os abriu at que o comandante anunciouque se aproximavam de Roma.

    Como Liane gostaria de conhecer Roma! Tinha lido muito sobre as obras deMichelangelo, na Capela Sistina, sobre a praa So Pedro, no Vaticano. Era um mundo que afascinava. E agora que parecia estar to prxima de tudo, estava, na verdade, completamentedistante. S tinham uma hora de espera, antes de seguirem viagem.

    Quer tomar alguma coisa? ele perguntou. Era a primeira vez que falava nasltimas duas horas. Aceito uma limonada.Novamente, ele deu aquela risadinha irritante. No, acho que vou tomar um caf ela corrigiu depressa. Ele no disse nada, mas

    Liane percebeu o que pensava. Ficou comraiva outra vez, No precisava ficar com aquele ar condescendente!Foi com alvio que ouviu a chamada para o prximo vo. Aos poucos, o cu escurecia.

    No dava para ver nada pelas janelas. Teve que voltar sua ateno para o interior do avio.0 sr. Malaspina lia uma revista, mas colocou-a de lado quando percebeu que ela havia

    parado de olhar pela janela. Por que no tenta dormir? Ainda temos uma hora antes de chegarmos a Alghero.

    No estou com sono. Mas parece cansada.Obrigada pela cortesia, ela pensou, seu queixo se erguendo num ar de desafio. Mas no

    disse o que pensava, comentando apenas: No tenho dormido bem, ultimamente. S isso. Mas no estou cansada. Vai estar, antes de chegarmos. Teremos ainda que viajar mais dois quilmetros de

    carro, cruzando a ilha, antes de chegar a Porto Cervo.Isso significava que no chegariam casa do sr. Malaspina antes da madrugada. No

    tinha imaginado que a viagem fosse demorar tanto. Sentiu-se desanimada. Voc mora em Porto Cervo? A sra. Morton no me disse nada. Como a cidade?

    Fica beira-mar? na extremidade nordeste da ilha. Fica na chamada Costa Esmeralda. Era

    quase despovoada, h bem pouco tempo, mas agora se transformou no parque de diverses da

    alta sociedade. A regio foidesenvolvida por Aga Khan nos anos 60, e agora ocupada portropas do Exrcito para evitar sequestros. Voc vai ver todo tipo de pessoas: nobres, estrelas decinema, milionrios e at reis.

    Agora ela sabia por que ele a havia olhado com ar de pouco caso. Para que tipo demundo estava sendo levada? Ser que ia se adaptar?

    Acho que ficou espantada, mas devia ser avisada. Estou contente que tenha me avisado. Pelo menos, era melhor do que ser atirada

    de cabea no desconhecido. Talvez devesse ter adivinhado que no ia viver numa casa comum.Os presentes caros j tinham sido um indcio de que a famlia Malaspina era rica, e aquelehomem tinha um ar to importante quanto o dos artistas de cinema.

    Liane j imaginara muitas vezes como seria viver num mundo em que o dinheiro no

    era problema, onde era natural ter um armrio cheio de vestidos novos, uma casa linda comjardins e piscina.

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    Mas isso tinha sido apenas sonho. Nem mesmo em seus momentos mais loucos defantasia, pensara que acabaria morando num lugar assim. Coisas desse tipo no aconteciam comrfs.

    Acha que no vai se acostumar? No sei. Claro que vai ser uma vida completamente diferente da queteve at agora. J percebi isso. Pode ter dificuldades em se adaptar. Acho que sim. Suspirou, entendendo o que ele estava tentando lhe dizer. J tinha

    deixado bem claro que ela ia para a Sardenha contra sua vontade. Bem, no era novidade. Apesar de tudo, acho que meu pai vai ficar encantado. Voc tem o ar de garota

    desprotegida de que ele tanto gosta. Parece mesmo a orfzinha desamparada que .Realmente, ele no fazia nenhum esforo para ser gentil. Desculpe se no sou o que voc esperava. Oh, est enganada. exatamente o que eu esperava.

    O vo parecia no ter mais fim. Ela procurou se entreter, olhando os outros passageirose imaginando o que iriam fazer na Sardenha. Passar frias, talvez? O homem de terno do ladoesquerdo carregava uma maleta; certamente, estava viajando a negcios. De qualquermaneira, todos pareciam ansiosos para chegar. Provavelmente, se sentiam mais felizes do queela.

    Seu acompanhante comeou a ler uma revista. Liane olhou-o de lado e notou que tinhamos bonitas e unhas bem cuidadas. O punho branco da camisa estava preso por umaabotoadura de ouro. Tudo nele era muito elegante. Sentiu o perfume suave da loo de barba eassociou-o ao perfume de um homem. A masculinidade dele a envolveu docemente. Percebeu,de repente, que era um homem muito atraente. E isso foi uma descoberta, o contato com algumacoisa muito nova

    em sua vida.

    No que o fato dele ser atraente fizesse alguma diferena. Continuava a ser detestvel eno demonstrava o menor interesse por ela. Mas por algum motivo inexplicvel, tornou-semuito consciente da presena dele, sentindo um certo calor e uma vibrao estranhos quandoseu ombro tocava o dela. Percebeu que a observava.

    E qual sua opinio? perguntou, divertido e com um brilho intenso no olhar. No sei o que quer dizer. Voc me observou atentamente, nos ltimos minutos. No chegoua nenhuma concluso?Liane sentiu-se embaraada. Ele era esperto. Nem percebi que estava olhando para voc. No? Bem... que no havia mais nada para fazer. Oh, desculpe!

    No quis ser indelicada. No me importo. S queria saber que pensamentos passarampela sua cabea. Eu estava admirando suas roupas. Ele a olhou, arrogante. Comparando-as com as suas, sem dvida? Minhas roupas foram perfeitamente adequadas at agora, sr.Malaspina. Ainda bem que reconhece o "at agora". Isso mostra que percebe uma coisa: elas

    no so adequadas para conviver com as pessoas que conhecer daqui para a frente. Pior para elas. Aquele homem no tinha nenhum direito detrat-la como uma pessoa inferior. S porque havia nascido numa famlia rica, no era

    melhor do que ela. No gosto de sua atitude, srta. Chandler. Devia ser mais agradecida.

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    Tambm no posso dizer que gosto de suas atitudes respondeu, com os olhoscastanho-dourados lanando chispas de fria. E, na verdade, no sei por que deveria seragradecida. Parece que

    vou ser tudo, menos feliz.Ele ficou tenso e seus olhos cor de mbar escureceram, Ah, essas desamparadas mal-agradecidas...Liane respirou fundo. Nunca, em toda sua vida, algum tinha lhefalado assim. Como se atreve? gritou, sem perceber que havia levantado a voz. Depois viu que

    os outros passageiros olhavam os dois e se calou. Tenho todo o direito ele disse, calmamente. E por favor, olhe para mim

    quando eu falar com voc.O olhar dela estava cheio de ressentimento. Desculpe, sr. Malaspina. Sei que no devia ter respondido, A ironia no combina com voc, menina.Devia contar que nunca tinha falado com algum como falara com ele? Lucy Morton

    ficaria chocada, se a ouvisse. Sempre achara Liane uma das garotas mais comportadas doorfanato. Acho que agora voc vai emburrar e ficar em silncio.Os olhos dele estavam fixos nela. Eram bonitos, apesar de frios. Nunca fico emburrada. timo. No aguento gente que no pode ouvir certas verdades. Liane respirou fundo

    e contou at dez. Verdades eram uma coisa;insultos, outra. Ns teremos que conviver, depois que chegarmos em casa? Posso perguntar por que est fazendo essa pergunta? E claro que no combinamos, sr. Malaspina, Pelo que vi, acho melhor ficarmos

    longe um do outro.

    Concordo plenamente. Mas vai ser difcil; estou sempre em casa. No trabalha? Vamos dizer que trabalho em casa. Temos um computador insta-lado l e posso entrar em contato com nossas empresas sem sair deminha cadeira.Liane tinha visto documentrios na televiso mostrando essas coisas.Mas imaginara que eram mquinas do futuro. Vejo que no est acreditando. Mas garanto que verdade. Meu pai vai lhe mostrar

    tudo. Ele gosta disso,O que mais estaria reservado para ela? Tinha tido uma surpresa por minuto at ento. O

    que a perturbava era perceber que no escaparia daquele homem. A vida ia ser difcil, umcontraste completo

    com a que conhecia.A variedade o tempero da vida, disse a si mesma. Sabia que teria que enfrentar

    grandes mudanas, que ia ver muitas coisas novas. S no sabia se seriam mudanas paramelhor.

    Logo em seguida, aterrissaram no aeroporto de Fertilia, e um carroesperava por eles.Liane estava curiosa a respeito daquele estranho pas, mas s conseguia ver os nomes

    das cidades passando nas placas da estrada. Primeiro passaram por Alghero, cujas luzesbrilharam entre palmeiras. Depois o caminho comeou a subir, e seu acompanhante explicouque estavam indo para o interior, a regio dos vales.

    Logo passavam por Sassari, a segunda cidade da ilha em importncia: um lugar digno

    de ser visitado.

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    Agora o sr. Malaspina parecia mais afvel. Liane imaginou se ele se sentiria assim porestar chegando o momento de entreg-la ao pai.

    A prxima cidade foi Tempio; depois, Olbia. Em seguida, passaram por uma rochaonde estava escrito "Costa Esmeralda". Estavam quase

    em casa.Momentos depois, chegavam a Porto Cervo. O carro parou Liane, que havia cochilado,

    abriu os olhos e descobriu, horrorizada, que tinha encostado a cabea no ombro do sr.Malaspina.

    Uma criana cansada ele disse, irnico.Ela no respondeu. Desceu do carro e olhou ao redor com interesse.As luzes l fora iluminavam um ptio. Das sombras surgia uma casa que parecia

    afundada na rocha. No conseguiu distinguir comple-tamente os contornos.O sr. Malaspina caminhou a seu lado e o motorista os seguiu comas malas. Liane notou que agora sua mala parecia ainda mais velha e que suas roupas

    no combinavam com coisa alguma, ali. Sentiu-se

    desajeitada e insegura.Desejou no ter vindo. Tinha sido tudo um erro. Devia ter dito sra. Morton que noqueria sair da Inglaterra. Mesmo que tivesse que morar numa das penses que detestava tanto,seria melhor do que

    aquilo.E ento, de dentro da casa, surgiu um velho. Parecia doente e usava um roupo sobre o

    pijama. Sorriu, lhe dando as boas-vindas, e seu sorriso a compensou de todo o sofrimento quetinha enfrentado.

    Liane! Ele estendeu os braos. At que enfim! Abraou-a com fora e elase permitiu relaxar de encontro a ele, sentindo que sua alegria era sincera.

    Quando a afastou gentilmente, Liane viu que havia lgrimas emseus olhos.

    Voc linda como uma pintura. Exatamente como sua me.Ela arregalou os olhos. Conheceu meus pais? Aquilo a surpreendeu. Nunca tinha pensado nisso. Mas,

    claro, ele devia conhecer seus pais; seno, como saberia de sua existncia? Conheo voc mais do que imagina. Mas acho que est cansada, depois dessa longa

    viagem. E deve estar com fome tambm. Vamos conversar mais tarde, depois que tiverdescansado. Marcello, leve Liane para o quarto dela. O jantar est servido na sala. Encontro

    vocs dois l.Marcello! Ento era esse o nome dele. Parecia muito italiano.Mas, olhando-o, ela podia jurar que era ingls.Ele se parecia com o pai. Ambos tinham o mesmo tipo de corpo, o maxilar firme e o

    nariz reto. S os cabelos eram diferentes. Os do pai eram pretos, e a pele, mais escura.

    Fcil ver de quem Marcello tinha puxado os traos marcantes. O velho tinha a aparnciade um homem duro, e o filho pareciarespeit-lo.

    Esta observao surpreendeu Liane. Ele dava a impresso de ser o tipo de pessoa queno respeita ningum. De certa forma, sentiu-se satisfeita. Seria agradvel ouvir algum falarcom ele no mesmo tom que usara para conversar com ela.

    Estava ocupada demais, comparando os dois homens, e nem perce-beu que tinhamparado diante de uma porta. Marcello abriu-a.

    As paredes de tijolos estavam nuas; a cama, baixa e simples, tinhaapenas uma colcha, e a penteadeira e o guarda-roupa eram de mognoencerado. Apesar da simplicidade, era um quarto gostoso. Havia umajanela enorme em uma das paredes e alguns quadros enfeitavam as

    outras.

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    H um banheiro ali ele disse, indicando uma porta. Eu a encontro na sala, lembaixo, dentro de alguns minutos.

    Antes que Liane respondesse, ele j tinha sado. Ela fechou a porta, sentindo-se muitocansada.

    Talvez um banho a fizesse relaxar, antes do jantar com sr. Malas-pina. No banheiro,ficou chocada com a prpria aparncia. Parecia mesmo a rf desamparada a que Marcellohavia se referido.

    Seus olhos estavam enormes e com olheiras; os cabelos, oleosos e despenteados. Tinhaum ar pattico e se sentia assim- Lgrimas comearam a descer pelo rosto.

    Em vez de tomar um banho, simplesmente lavou o rosto; depois, despiu-se e vestiu umacamisola. Em seguida, entrou na cama. No ia conseguir enfrent-los novamente, naquela noite.No podia. Em alguns minutos, tinha adormecido.

    Quando acordou, estava claro. O sol se filtrava pela janela, chegando at a cama. Eladeu um pulo e foi at a janela, olhando a paisagem l fora.

    Estavam no alto de uma montanha que dava para uma floresta. L embaixo, o portocheio de iates. E um mar incrivelmente azul, pontilhado de ilhotas. Era lindo demais, diferente

    de tudo o que tinha visto antes.Tomou um banho, vestiu-se, escovou os cabelos e viu que seus olhos brilhavam. Aescada levava ao hall, todo enfeitado com plantas e com uma moblia simples. Desceu umaescadinha e chegou saleta onde estava servido o caf da manh.

    O dono da casa j estava l. Olhou-a carinhosamente quando entrou.Buon giorno. Liane, perdoe-me se no me levanto. Espero que tenha dormido bem.

    Estava muito cansada, ontem.Desculpe no ter descido para o jantar. Eu entendo. Mas ela achou que ele no compreendia. No tinha sido apenas o

    cansao. Era tambm medo do futuro, medo da grandiosidade daquele lugar, medo de nocombinar com tudo aquilo.

    Venha, sente-se. Tenho certeza de que deve estar com fome. Temos pezinhos e

    frutas. Ou ser que prefere o caf da manh inglesa? Pozinho est timo. O senhor tem uma linda casa. Nunca imaginei que fosse assim. um pouco diferente dos ambientes a que estava acostumada, mas espero que seja

    feliz aqui. Marcello me disse que voc ficou um pouco apreensiva, durante a viagem.Imaginou o que exatamente o filho teria contado. Havia uma certa meiguice no velho;

    parecia realmente contente em v-la e no se importava que no vestisse roupas bonitas. Foi estranho, porque eu nunca tinha viajado de avio. Achei muito gostoso. Tambm acho. E como se deu com meu filho?Liane desviou os olhos, observando as rvores pela janela, o sol brilhando nos ramos

    verdes e fazendo sombras no cho da sala. Parece que no quer me contar ele insistiu.Ela suspirou. Seria rude dizer que no tinha gostado do filho dele, mas devia mentir?

    Acho que ele no gostou da idia de me ver morando aqui. Bobagem. Marcello gosta de garotas. No h motivo para no gostar de que voc

    more aqui.Liane achou que seria mais prudente mudar de assunto. Vai me dizer como conheceu meus pais? Eu nunca soube disso. Por que no entrou

    em contato comigo antes? Eu amei sua me e sempre pensei que voc poderia ter sido minha filha. Talvez, um

    dia, voc consiga se imaginar nessa posio. Se a amava, por que no casou com ela? Ele sorriu tristemente. Porque ela preferiu seu pai. Ela veio passar as frias aqui... Foi assim que nos

    conhecemos. Para mim, foi um romance de frias que significou muito, mas ela voltou para a

    Inglaterra e me esqueceu. Quando no respondeu mais s minhas cartas, fui para a Inglaterra edescobri que tinha ficado noiva de seu pai. Ela o conheceu no avio, na viagem de volta. Apesar

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    O que isso? Ainda esto tomando caf? No sabe que j estquase na hora do almoo?Roberto olhou friamente para o filho. Eu deixei que Liane dormisse. . . a viagem foi muito cansativa. Desculpe, eu no sabia que era to tarde. Claro que no sabia, garota. Roberto sorriu confiante. No preste ateno a

    meu filho. Creio que ele acha divertido humilhar voc. Vou ter uma conversa com ele.Marcello olhou preocupado para o pai. O que isso? Ele transferiu o olhar cheio de suspeita paraLiane. No tem nada a ver com ela disse o velho, rispidamente. Est claro que voc no se sente feliz com a situao atual. Eu lhe disse isso, antes de ir busc-la Marcello respondeu,tambm rspido. J chega. Enquanto Liane estiver em minha casa, voc Vaitrat-la com toda a gentileza.

    Marcello franziu as sobrancelhas e seu olhar endureceu mais, masno disse nada. E espero que voc a leve a passear, que a apresente a seus amigos e que a faa se

    divertir. E no se esquea de que ela tinha um estilo de vida muito diferente.O jovem olhou-a pensativo e seus olhos se estreitaram. Vou levar Lusa para fazer compras, mais tarde. Talvez voc queira vir conosco.. . Lusa Rossi? Eu j disse que no aprovo essa jovem. E noacho que. ela seja companhia para Liane. E desde quando voc escolhe minhas amigas, papai? Eu gosto dela... apesar de voc

    achar isso estranho. Alis, voc parece ter mesmo um gosto excelente...Roberto desatou a falar em italiano, depois disse moa: Perdoe, querida. H momentos em que meu filho e eu no nos entendemos. Vi que

    voc s trouxe uma mala. Talvez algumas roupas novas sejam uma boa coisa, no?Ela gostaria de alguns vestidos novos, verdade, mas preferia escolh-los sozinha. No

    gostaria de ir fazer compras com uma amiga de Marcello. Eu preferia ficar aqui, hoje, e descansar. Descansar? Marcello riu. Voc acabou de se levantar! Bem, s sairemos s

    cinco horas. As lojas fecham durante a tarde.Ento o velho disse: Veja como voc se sente mais tarde, Liane. Compreendo que queira ficar aqui hoje.

    Tudo novo demais, Por outro lado, quero que faa amigos. Mas no Lusa Marcello disse num tom amargo. Chega! O pai respondeu. Voc sabe como me sinto e novou falar mais nada.

    O jovem saiu com raiva. Liane tomou o resto do caf e faiou: Acho que gostaria de dar uma olhada em tudo, Roberto. Posso dar uma volta pela

    casa? Claro, garota. Eu mesmo a acompanharei. Tem certeza de que. quer isso? volveu Liane. Ele parecia muito plido. No tinha

    o rosto de um homem saudvel.Segurando as mos dela. Roberto disse: Sua chegada me deu vida nova. Me sinto uma pessoa diferente. Estou contente com isso. Ela o beijou no rosto, satisfeita. Nunca tive ningum

    que se importasse comigo. Obrigada por ter mandado me buscar.Ele sorriu, contente.

    Sinto que vamos nos dar muito bem. Agora, por onde comeamos?

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    A casa era fascinante. Comearam pela cozinha, espaosa, ciara e tipicamente italiana,com jarras, panelas de cobre, cebolas e alhos pendurados no teto. Roberto apresentou-a aocozinheiro, Giorgio, que s falava italiano e um pouco de espanhol. Ele cumprimentou Lianecom o mesmo calor e cortesia do patro.

    A sala do computador era enorme. As portas de entrada eram de vidro e se abriam parauma linda varanda, muito fresca, cheia de plantas.

    A casa foi planejada para ser fresca no vero e quente no inverno. O sol baixo doinverno brilha diretamente dentro dela; assim, temos o melhor das duas estaes.

    Havia dez nveis diferentes, cada um atingido por escadinhas de poucos degraus ourampas em espiral. O quarto de Roberto dava para um terrao l em cima, cheio de plantascoloridas.

    tudo to lindo! Eu tambm acho ele disse, sorrindo, sentando numa das poltronas e indicando

    outra a ela.Liane viu que ele estava ofegante; talvez no devessem ter andadotanto.

    Quer beber alguma coisa? ela lhe sugeriu. Vou pedir a Giorgio um suco delaranja. Ou prefere caf? Suco de laranja est timo. Roberto recostou-se e fechou os olhos. Apesar de

    conhec-lo h poucas horas, Liane sentia que havia um lao afetivo entre eles, como se fossemamigos h muito tempo.

    A praia era visvel dali e ela observou os iates que deslizavampelas guas. Marcello deve lev-la para velejar, um dia desses. Voc vai gostar. H muita

    coisa para se fazer aqui, garota. Estou comeando a me sentir culpado por t-la deixado em St.Morrow por tanto tempo, mas acho que foi para o seu bem.

    Ele ficou em silncio e Liane percebeu que pensava nos planos de cas-la com o filho.Ficou preocupada novamente. De jeito nenhum poderia casar com um homem to perturbador

    como Marcello!De qualquer modo, no estava pronta para o casamento. Ainda se via como uma

    criana. .. Roberto tambm a via assim, pois a chamara vrias vezes de garota. Ela precisava demais experincia, antes de pensar em criar sua prpria famlia. Sempre achara que um dia iriacasar. Afinal, este o sonho de toda menina, mas at ento no havia se interessado pelo sexooposto.

    Marcello falou a voc sobre a ilha? A Costa Esmeralda? Sim, disse que foi desenvolvida pelo Aga Khan e que

    habitada por pessoas muito ricas. Mas ele disse que h um controle rgido sobre quem compra as terras e sobre as

    construes?Ela sacudiu a cabea.

    Ningum pode construir em mais do que dez por cento da terra que comprou. Todasas plantas so cuidadosamente removidas antes da construo e depois so replantadas. Aslinhas de telefone e os fios eltricos so subterrneos, no h nenhum esgoto sendo despejadono mar e todas as casas devem ter uma arquitetura que combine com a paisagem. A maior partedas casas so trreas e tm jardins no telhado. At mesmo os hotis e lojas devem serconstrudos de modo a se integrar na paisagem.

    Isso nunca ser estragado Liane comentou. por isso que este lugar lindo. Eu nunca conseguiria morar em outra parte.Logo entraram na casa. O sol estava ficando quente e l dentro a temperatura era mais

    fresca. Temos um piscina, se voc quiser nadar. No a usamos muito, pois Marcello prefere

    o mar, mas daqui at a praia um pouco longe. Eu adoraria nadar. Quer vir comigo e ficar olhando?

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    Apresente-me, Marcello. Lusa, esta Liane Chandler. Liane, esta Lusa, uma grande amiga minha. Ele

    olhou para a morena e havia uma tal intimidade entre eles que Liane se sentiu aborrecida. Voc veio fazer compras conosco, Liane? A pequena orfzinha precisa de vestidos Marcello sorriu e eu achei que voc

    poderia ajud-la a escolher alguma coisa.O comentrio fez Liane estremecer e as coisas no melhoraram quando Lusa disse: Claro que posso fazer isso, querido. Onde voc comprou essa coisa horrvel,

    menina? Lamento que voc no goste Liane respondeu, furiosa. Eu gosto muito. Se

    no se importa, Marcello, vou esperar no carro. Resolvi que no preciso de nada.Comeou a se afastar, tremendo de raiva. Estava profundamente humilhada. Nunca

    ningum lhe havia falado daquele jeito antes. Ser que eles no tinham educao? Podiam serricos, mas no tinham a considerao das pessoas que ela havia conhecido na Inglaterra.

    A mo de Marcello desabou em seu ombro e ele a forou a encar-lo. No vire as costas para mim! O rosto dele estava sombrio. Voc vai fazer

    compras comigo e com Lusa, querendo ou no. No vamos voltar para casa at que tenha umguarda-roupa perfeito.A morena no parecia zangada, mas indiferente. Ou estaria se divertindo? No seja duro com a menina, Marc. Ela est certa. O vestido bonito. Foi voc que

    fez, querida?Aparentemente ela estava sendo simptica, mas o tom de voz era pior do que as

    palavras duras de Marcello. Liane se sentiu desanimada. Toda a vontade de brigar tinhadesaparecido. Olhou para o cho e esperou o prximo ataque.

    Ele suspirou lentamente e a segurou pelo brao. V na frente, Lusa. Voc sabe aonde vamos,Com Lusa caminhando na frente e ele praticamente arrastando Liane, os trs saram

    andando. Liane estava resolvida a no se entusiasmar com nada, mesmo que fosse o vestido

    mais fantstico do mundo.A loja era diferente de todas as que conhecia, luxuosa e finamente decorada. Os

    vestidos foram trazidos e Liane viu que no gostava deles, antes mesmo de experiment-los.O estilo sofisticado das roupas combinava com Lusa, mas ela sentia que elas iriam

    transform-la em algo que no era. Mas sabia que era melhor no discutir. Marcello escolheuuma poro delas, embora Liane soubesse que nunca as usaria.

    Depois vieram os biquinis. Lusa insistiu em que precisava de pelo menos quatro, maisas sadas-de-praia. Eram to pequenos que Liane nunca deixaria ningum v-la vestida comaquilo.

    Quando terminaram as compras, sentia-se exausta e suada. Estava resolvida a nuncamais ir fazer compras com os dois.

    Acho que voc est precisando beber alguma coisa Marcello disse. Est

    exausta, no ? Mas a maior parte das garotas ficaria deliciada com tantas coisas novas.Liane o olhou friamente. Sei que deveria me sentir agradecida; lamento no estar. Seu pai muito gentil. Vou

    pagar a ele assim que puder. Ele no vai gostar disso. tudo um presente; aceite de bom grado, garota.Garota! Quando o pai dele a chamava assim, era um elogio. Mas quando ele dizia isso,

    era um insulto. Os olhos dela ficaram vermelhos de raiva.Na calada do caf, encontraram outros amigos, algumas garotas que olharam com

    curiosidade para Liane. uma orfzinha que meu pai adotou ,ele disse como apresentao.Ela o olhou furiosa, antes de conseguir sorrir para os outros. A maior parte das garotas

    usava o suti do biquini e short, e estavam bem bronzeadas.

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    Olharam para ela como se fosse algo que ningum tivesse visto antes. Observaram suapele clara, seu vestido e o corpo delicado. Ento, uma delas disse alguma coisa em italiano e asoutras caram na gargalhada. Liane sentiu lgrimas nos olhos e tudo ficou muito pior quandoLusa falou:

    A pobre garota no tem nada para usar, Ns a levamos para fazer compras. Garantoque vocs vo ficar espantadas, quando a virem da prxima vez.

    Outra frase em italiano e mais gargalhadas. Ento Liane disse a Marcello: Acho que prefiro ir para casa. Ainda cedo. Vamos sentar. O que voc quer: um milk-shake ou um suco de frutas?Um milk-shake est bem ela respondeu, baixinho, se mexendo nervosa na cadeira

    que uma das garotas tinha trazido. A conversa prosseguiu. Tentou parecer vontade. Gostariaque conversassem em ingls. Achava que todos estavam falando dela, em italiano.

    De vez em quando percebia que Marcello a olhava, como se estivesse pensando emalguma coisa. No que seria? Ser que ele desejava convencer o pai a mand-la embora?

    Ela sentia que no combinava com aquele grupo. Todos tinham muita confiana em si,eram sofisticados, ricos e no tinham nada a fazer a no ser gastar dinheiro e se divertir.

    Ficou aliviada quando Marcello sugeriu que fossem embora. Nunca tinha passado umahora to terrvel.Todos protestaram quando ele se levantou. Tem mesmo que ir, Marc? H um baile no Tnis Clube e ns vamos mais tarde.

    Venha conosco.Ele olhou preocupado para Liane. Eu sei voltar sozinha ela disse depressa. No estrague seu programa. Meu pai no gostaria disso. Talvez eu me encontre com vocs depois. Depois que tiver descarregado "o pacote" em casa?Estava claro que ele no ia mistur-la com os amigos. Preciso cuidar para que nada acontea a ela ele disse, fingindo uma

    preocupao exagerada. Meu pai jamais me perdoaria.

    Eu nunca vi voc brincando de bab, Marc uma das moas disse. Nem eu, e lhe garanto que isso no vai acontecer muitas vezes. Liane desejava ter

    tido a coragem de dizer ao grupo que tinha aidade deles e no precisava de nenhuma bab. Mas devia se controlar. Tinha tido uma

    educao diferente. Sabia as boas maneiras. No ia insultar ningum.Ela comeou a se afastar, ignorando as despedidas. Minutos depois Marcello a seguiu. Voc foi muito rspida, saindo sem se despedir. E voc no acha que eles foram rspidos comigo? No posso deixar de ver quem sou

    e no precisam fazer pouco caso de mim. Voc tambm no ajudou muito.Ele deu de ombros. Acho que agora vai chegar em casa e contar tudo a meu pai. Eu no vou contar nada, mas, se me recusar a sair com voc e seus amigos

    novamente, no fique surpreso. Voc quem ter de dar explicaes a Roberto.Quando chegaram ao carro, ele sentou-se a seu lado e desta vez dirigiu com calma,

    deixando-a apreciar a paisagem.Era um passeio lindo, entre fazendas e stios, bosques e montanhas rochosas.

    Frequentemente viam o mar e as praias de areia branca.Ela gostaria que seu acompanhante fosse uma pessoa diferente, algum com quem

    pudesse conversar, com quem pudesse dividir o encantamento da paisagem.Quando entraram na Costa Esmeralda, Liane compreendeu o que Roberto havia falado

    sobre a arquitetura da ilha. As vilas, lojas e hotis pareciam ter nascido da paisagem. Todos osmateriais usados eram naturais.

    Ela tinha quase conseguido esquecer o homem a seu lado. Mas, quando chegaram a

    Porto Cervo, ele apontou para a casa em que morava, agora visvel no alto das rvores quecresciam na encostada montanha, e ela se lembrou de que no estava sozinha.

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    Voc deve deix-la conviver com seus amigos e com voc, Marcello. omnimo que pode fazer.

    Mas, papai, voc no entende. Ela um patinho feio, no combina. Meusamigos vo rir dela.

    Voc no quer que ela combine. Na verdade, papai, no quero, mesmo.Liane sentiu vontade de morrer. Tinha sido humilhada antes, mas agora sentia que

    estava completamente arrasada. Ali estava ela, num pas estranho e com pessoas que no aqueriam, e no tinha jeito de escapar.

    Estava com os olhos to cheios de lgrimas que no viu Marcello se aproximar, at queele quase lhe deu um encontro.

    Talvez voc tenha ouvido tudo. Bem, agora sabe que no desejada aqui. Se notiver dinheiro, eu pagarei de boa vontade sua passagem de volta para a Inglaterra.

    CAPTULO III

    Liane no conseguia falar. Ficou olhando para Marcello, tentando imaginar por que eleno tolerava sua presena.

    No vai dizer nada?Ela sabia que, se abrisse a boca, iria desmoronar completamente. As lgrimas tremiam

    em seus Olhos, ameaando descer, e ela virou o rosto.Espantado, ele se afastou, mas, antes que ela pudesse sair correndo para o quarto,

    Roberto apareceu. Ele olhou seu rosto cheio de angstia e sua terrvel palidez. Voc ouviu? Ela fez que sim. Oh, lamento, eu no tinha a inteno...Liane virou-se zangada. Ele era igual ao filho e ela no queria nada deles. Confiei em voc, Roberto. Lamento que tenha se sentido na obrigao de me trazer

    para c. Vou embora assim que voc quiser.Ele estava com o rosto sombrio. Apoiou-se na parede, como se no conseguisse ficar

    em p. Liane, eu preciso de voc. Ele estava rouco de emoo e falava com dificuldade. Para que eu case com seu filho? No precisa continuar com essa histria. Ouvi o

    suficiente para saber que no me querem. Ela ficou triste por falar com ele daquele jeito.Roberto parecia um homem gravemente enfermo, mas a tinha magoado mais do que imaginava.Os dois a tinham magoado e ela queria se livrar deles, queria voltar para a segurana do St.Morrow e para sua querida tia Lucy.

    Claro que em sua vida l tinha havido altos e baixos. Nem tudo havia sido maravilhoso.Ela fora to feliz quanto uma criana rf poderia ser.

    Tinha esperado ansiosamente pelo dia em que deixaria o orfanato. Mas nem em seussonhos mais loucos podia ter imaginado que seria to infeliz quanto naquele momento.

    Sabia que ia se sentir sozinha, que ia ter dificuldades em fazer novos amigos, masaquilo era o desmoronamento completo de suas iluses, do futuro maravilhoso previsto porLucy Morton.

    Quando Roberto Mataspina caiu no cho, com os olhos fechados e respirandopesadamente, ela esqueceu sua prpria angstia e comeou a chamar Marcello, desesperada,

    ajoelhando-se ao lado do velho.

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    No tinha idia do que havia acontecido, Ele no falara nada sobre sua doena, mas oque a fazia sofrer mais era v-lo daquele jeito, e tudo por sua causa.

    Se ele no tivesse discutido com Marcello, nada daquilo teria acontecido. De certaforma, era tudo culpa sua. Se partisse, ser que as coisas iam melhorar? Bem, ele pareciasinceramente contente pelo fato de ela estar ali.

    Isso a deixava muito confusa. Se estava contente, por que tinha dito ao filho que faziaisso para cumprir uma promessa?

    Vendo que Marcello no aparecia, ela foi procur-lo. Encontrou-o ao lado da piscina e,a princpio, ele pareceu no ouvir, quando ela o chamou de volta para casa.

    E seu pai! ela insistiu. Ele est desmaiado! Venha logo! Ento, ele saiucorrendo, numa velocidade que a surpreendeu. L

    chegando, agarrou o pai pelos braos e o estendeu num sof largo, na saleta. Ento osolhos do velho se abriram.

    V buscar um copo de gua Marcello ordenou.Liane afastou-se depressa, voltando um minuto depois e sentindo-se aliviada ao ver

    Roberto sentado. Mas ele ainda estava terrivelmente plido.

    Quer que eu chame o mdico? ela perguntou baixinho a Marcello. No. Logo ele estar melhor. No a primeira vez que issoacontece. Ele devia ficarcalmo, aceitar melhor as coisas. No bom para ele ficar aborrecido.

    Ela queria dizer: bem, voc comeou tudo isso, mas percebeu que a frase s iriaaborrecer o velho novamente.

    Liane sentou-se ao lado dele, segurando o copo de gua e olhando-o ansiosamente.Ele levantou a mo, muito fria, e tocou a dela. Por favor, no nos deixe, Liane. Voc como a brisa do vero ingls, como uma

    rosa. Eu estava to ansioso para que viesse, no vou aguentar que v embora, agora.Sem perceber, ela levantou os olhos para Marcello. Ele parecia preocupado. Deixava

    bem claro que a escolha seria dela.E Liane sabia que, apesar de infeliz, precisava ficar. A fraqueza de Roberto a comovia.

    Ele precisava de cuidados, no importavam os motivos que tivesse para cham-la ali.Ela lhe apertou a mo. Vou ficar ela disse, baixinho, e foi recompensada pelo brilho que viu surgir nos

    olhos dele. Marcello virou-se e saiu apressado. Mas ela no ficou surpresa. Sem dvida, suaresposta no lhe agradara.

    A recuperao de Roberto foi rpida. Meia hora depois ele anunciava que estava prontopara o jantar.

    No gostaria que eu trouxesse seu jantar aqui? ela perguntougentilmente. Ainda no estou aleijado. Vamos jantar na sala. Procure Marcelloe avise que estou esperando.Liane procurou peia casa toda, mas no encontrou o rapaz.

    Ele deve ter sado. Ento, vamos jantar sem ele. Voc est encantadora, em seuvestido novo. Obrigada, Roberto. Foi muita gentileza sua gastar tanto dinheiro comigo. Os meus

    outros vestidos serviriam muito bem. Bobagem, menina. Todas as mulheres adoram vestidos novos e acho que voc no

    uma exceo,Liane sentiu que era melhor no dizer mais nada. Pelo menos naquele momento. O

    desmaio de Roberto a tinha deixado com medo. Da em diante ia tentar cuidar para que ele nose aborrecesse.

    Depois do jantar, ela insistiu para que Roberto fosse para a cama.

    Eu estarei bem. Vou procurar um livro e provavelmente dormirei cedo tambm.

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    Ela estava sentada sozinha h mais de uma hora quando ouviu Marcelto entrar. Seucorao deu um pulo. Por que ele tinha voltado to cedo? Talvez pudesse fugir l para cimaantes que ele a visse.

    Mas, no momento seguinte, descobriu que no se tratava de Marcello, e sim, de umestranho que ficou parado, olhando-a, sorrindo com um ar de admirao.

    No era to alto quanto Marcello, mas muito bonito, moreno como grande parte dosmoradores da Sardenha.

    Acho que hoje meu dia de sorte ele disse. Ningum me falou sobre voc.Posso perguntar quem ?

    Ele sorria amigavelmente e, depois do susto que tinha tomado, Liane viu que falavacom ele cheia de entusiasmo.

    Sou Liane Chandler. Vim morar com Roberto e o filho. Lamento, mas Roberto noest passando bem, foi para a cama e Marcello saiu. Quer deixar algum recado e seu nome?

    Ele sorriu e estendeu a mo. Sou Raffaele Bruschi, vim fazer uma visita. Sou primo de Marcello. Eles estavam esperando voc?

    Ele tomou sua mo e a segurou por mais tempo do que seria necessrio. Mas ela no seimportou. Achou-o muito agradvel e ele deixou bem claro que ela o interessava. Isso era umatima mudana, depois do tratamento de Marcello.

    uma surpresa. Se eu soubesse de sua presena, teria vindo mais cedo. H quantotempo est aqui?

    Cheguei ontem. Ento ainda no teve tempo de dar uma olhada por a. Deixe-me ser seu guia. A

    Sardenha um dos lugares mais lindos do mundo. Temos muito a oferecer.Ela riu. Algum est pagando para voc falar isso? No, mas a verdade. Espere e ver. Voc vai ficar surpresa, ao ver que um pas

    pequeno tem tantas coisas bonitas. Ele puxou uma poltrona para perto da dela e olhou

    confiante em seus olhos. Por que Marcello saiu e deixou sozinha uma garota linda comovoc?

    No sou linda. Voc est me lisonjeando. A beleza est nos olhos de quem olha ele disse. Para mim, voc a moa mais

    linda do mundo. Como conheceu a famlia Malaspina? Acho que nunca os ouvi falarem devoc.

    O calor dos olhos dele era um calmante para os nervos agitados de Liane. Ela sentiu queseu rosto ficava vermelho. Ele era encantador. Ningum a tinha tratado assim antes e eladescobriu que suas atenes eram muito estimulantes.

    Eu nunca tinha ouvido falar de nenhum dos dois, at poucas semanas atrs, masparece que Roberto conheceu minha me antes de eu nascer. Infelizmente, meus pais morreramquando eu tinha seis anos e passei o resto da vida em um orfanato. Agora Roberto decidiu me

    aceitar em sua casa. Tio Roberto um homem bom. Pena que no esteja bem. Por isso vim at aqui.

    Como est ele?O rapaz parecia preocupado e Liane sentiu que gostava dele. No momento, est bem, mas s vezes parece muito mal. bom que voc esteja aqui. Ele precisa dos cuidados de uma mulher. Marcello no

    serve para isso, est sempre saindo com as garotas.O modo como Raffaele falou fez Liane pensar que ele tambm estava sempre

    preocupado com o sexo oposto. Mas no tinha nada com isso. Ele era apenas a boa companhiade que ela precisava agora.

    Ser que pode me arranjar alguma coisa para comer? Acho que Giorgio j foi

    embora e estou morrendo de fome. Liane sorriu e levantou-se. Vou ver o que encontro.

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    Se voc conhecesse meu primo como eu conheo, tambm seria rude. Oh, claro queele parece encantador. Eu no duvido disso, mas Raffaele um mau-carter e seria bom voc selembrar disso.

    Liane arregalou os olhos com hostilidade. Eu prefiro descobrir as pessoas por mim mesma, e Raffaele parece muito agradvel. Voc uma ingnua. No teve nenhuma experincia na vida, ficou fechada l

    naquele buraco... Acredite em mim, Liane, eu sei exatamente do que estou falando. Fique longede Raffaele, ele no de seu tipo.

    Nem voc. E ento, o que me sobra? Pelo menos ele foi gentil e amigvel. De vocj no posso dizer o mesmo. Esta ltima hora que passei com ele foi a mais feliz, desde quecheguei aqui.

    Voc sabe o que pode fazer, no ? No precisa ficar aqui. Vou ficar por causa de Roberto. Ele me pediu, Este o nico motivo.O sorriso dele agora era de pouco caso. Tem certeza de que no porque gostou da boa vida? Por acaso no estar

    pensando que meu pai vai coloc-la em seu testamento?

    Como voc desprezvel! Eu nunca pensei nisso. O dinheiro no me interessa, massim, a sade de seu pai. Talvez voc devesse prestar um pouco mais de ateno a ele. E voc talvez deva tomar mais cuidado com o que diz!Ela sentiu que sua fria aumentava. Aquele homem no tinha nenhum direito de falar

    daquele jeito! Antes que percebesse, seu brao j se havia levantado e dado um tapa no rostodele.

    Meu Deus! ele exclamou, em italiano.Imediatamente ela sentiu sua reao. Ele lhe devolveu o tapa. Ela levou a mo ao rosto

    e sentiu que queimava. Sentiu-se horrorizada, chocada e arregalou os olhos, mas continuoufirme, sem se afastar.

    Voc se sente bem, batendo numa mulher? Espero que responda ao mesmo tipo de pergunta. Mas devo admitir que voc me

    pegou de surpresa. No esperava isso. Voc escondeu seu fogo. Vejo que terei que observ-lamelhor, no futuro.

    Ela tinha surpreendido a si mesma. No acontecer novamente ela disse tensa. Sentia o rosto quente, sob os dedos.

    A nica satisfao que tinha era saber que Marcello devia estar sentindo a mesma coisa. Orosto dele estava vermelho e isso fez com que ela se sentisse melhor.

    De repente, ele sorriu de um modo estranho. No posso garantir que no vou gritar com voc outra vez. Ento tenho que manter meu terrvel temperamento sob con-trole. Talvez, senhor,

    esteja interessado em saber que eu desconhecia ter um temperamento assim, at encontr-lo.O rosto dele pareceu ficar mais suave. Acho que h muitas coisas que no sabe sobre si mesma, Liane. Est comeando a

    ser mulher e tem muito a aprender. Espero que no pretenda ser o meu professor. O sorriso dele era muito perturbador. At que no seria m idia.Ela se lembrou daquele beijo rpido na beira da piscina. Uma sensao estranha surgiu

    na boca de seu estmago. Sentiu um n na garganta, Como j disse que no sou nem um pouco atraente, acho que seria uma idia

    terrvel. Talvez voc prefira algum como Raffaele... Havia uma certa ironia nas

    palavras dele, como se soubesse que a resposta ia ser sim e no gostasse disso. Pelo menos, ele um cavalheiro. Na aparncia, apenas. Voc no o conhece.

    Devo dizer que os poucos momentos que passei na companhia dele foram muitomais agradveis do que o tempo que passei com voc?

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    Ele tentou lhe dar uma cantada? Que diferena isso faz? Marcello ficou mais srio. Raffaele o ltimo homem que eu sugeriria para lhe ensinar os fatos da vida.Ela fingiu uma risada. Eu no sou to inocente assim! Eu sei que... Era difcil continuar com aquele

    homem olhando para ela com uma curiosidade to intensa. Mas ela sabia o que acontecia navida, mesmo sem ter experimentado. Tinha lido muitos livros, visto muitos filmes, sabia o queacontecia entre um homem e uma mulher.

    Claro que voc sabe. Mas sabe como a gente se sente ao fazer amor? Tem uma idiadas sensaes que um homem pode despertar numa mulher?

    Nem sei se quero saber.Quando ele a segurou pelos ombros, ela foi pega de surpresa. Ele a apertou de encontro

    a seu corpo e ela sentiu que seu corao disparava. Quase perdeu o flego e dobrou a cabeapara trs, para poder olh-lo, para poder protestar.

    Foi um erro. Ele segurou seu rosto com as duas mos e beijou seus lbios gentilmente.Tremores de emoo a sacudiram, comeando na garganta e percorrendo todo o corpo at as

    pontas dos dedos.Ela estremeceu e ele a afastou, murmurando algo suave em italiano. Ento abraou-acom fora outra vez e desta vez seus lbios foram mais exigentes, procurando uma resposta,deixando que os beijos explorassem a pele suave do pescoo dela.

    Liane sentiu que escorregava para uma mistura de xtase e de vontade de resistir. Masera uma experincia maravilhosa e, quando os lbios dele procuraram os dela novamente, elano conseguiu se controlar.

    Apesar de odi-lo, sentia que ele estava despertando desejos que tinham permanecidoadormecidos nela at aquele momento. Sentia-se deliciosamente feminina, e desejada, e fraca,encostada junto ao corpo dele, satisfeita com seus beijos, abrindo os lbios involuntariamente,desejando que aquele momento no terminasse nunca.

    Quando os beijos se tornaram mais ardentes, ela sentiu um arrepio de medo. Ele era

    perturbador. Sabia exatamente o que queria e como conseguir. Tinha uma espcie de podermgico que fazia com que ela no pudesse resistir, mesmo sabendo que devia.

    H quanto tempo o conhecia? Dois dias, no mais. Entretanto, ali estava ele, virandoseu mundo de cabea para baixo, mostrando-lhe um outro lado da vida, do qual at ento notinha notcias.

    O corao dela comeou a bater como um tambor, seus ouvidos latejavam e ela sentiufalta de ar. Novamente ele beijou seus ombros nus. Mas quando colocou a mo por baixo de suablusa de seda, segurando um de seus seios, ela lutou para se libertar e deu um grito.

    Afaste-se de mim. Como se atreve?! Voc demorou muito para me mandar parar. Por qu? Estava gostando? No. . . no

    responda. Eu sei que estava. E isso s uma amostra dos prazeres que a aguardam. Avise-mequando quiser outra lio.

    Disse isso e se afastou imediatamente, deixando-a morta de vergonha. Como deviaach-la vulgar! Por que no o havia empurrado? Como permitira que a manipulasse daquelejeito? Seu corpo parecia agir por conta prpria. Tinha se tornado mais vivo do que nunca, comose uma fonte de prazer borbulhasse l dentro, impedindo que ela controlasse suas emoes.

    Tinha tido sorte de voltar ao bom senso a tempo. O que podia ter45acontecido, se no o impedisse? Ser que aquilo era amor? Ou seriam apenas sensaes

    fsicas?No podia amar um homem como ele! Ento como havia gostado de suas carcias?

    Cus, ela tinha ouvido falar de outras garotas que dormiam com qualquer um, apenas peloprazer do sexo! Esperava que no fosse como elas. Mas por que tinha gostado tanto dos beijos

    de Marcello, se no o amava?

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    Estava espantada com o que tinha acontecido. Ficara chocada com sua prpriasensualidade. Aquilo no podia acontecer novamente. Ela nunca mais devia permitir que ele seaproximasse. Ele era um homem perigoso.

    Seu corao ainda batia com fora quando foi para a cama. Antes foi dar uma olhadaem Roberto, mas ele dormia calmamente e ela sentiu-se agradecida por ele no tertestemunhado a cena na cozinha.

    Mal conseguiu dormir, naquela noite. Ainda sentia os lbios de Marcello sobre os seus,a rigidez de suas coxas. Ao pensar nisso, seu corao bateu com mais fora.

    Ficou aliviada quando a manh surgiu. Enquanto tudo ainda estava quieto, ela saiu dacama, vestiu um dos biquinis novos e foi para a piscina.

    A gua estava gelada e ela quase perdeu o flego. Depois de algumas braadas,comeou a ficar mais calma. Com uma toalha nos ombros, ela voltou para o quarto. Marcelloestava ao lado da porta do quarto dela. Vestia apenas as calas do pijama e tinha cruzados osbraos.

    Buon giorno! Dormiu bem? os olhos dele tinham um ar brincalho.Liane sentiu que estremecia, ao v-lo. Ele era um homem atraente e era fcil perceber

    por que tinha tantas admiradoras. Muito bem ela mentiu. Estou contente. Ia odiar ser a causa de uma noite de insnia. No se preocupe.

    Dormi bem e me diverti muito nadando.apesar de a gua estar um pouco fria. Com licena, vou me vestir, antes que pegue um

    resfriado.Quando ela tentou passar por ele, Marcello pegou sua toalha. Voc no deixou que eu a visse experimentando os biquinis.46Ele olhou insolentemente seu corpo, demorando na curva dos seios coberta levemente

    com o tecido fino. Agora est muito melhor do que com aquele maio. Este mais revelador. ..

    hipnotizante. Ele levantou a mo e tocou levemente, com as pontas dos dedos, o brao dela,mas seu olhar parecia distante.

    Liane levantou a mo, mas dessa vez ele a segurou com fora pelo pulso. J esqueceu o que aconteceu na primeira vez em que voc me deu um tapa? Nunca vou esquecer. Estou contente por ter causado uma impresso to marcante. No ia ficar contente se soubesse o que eu pensei. Ento talvez seja melhor eu lhe devolver isso. Ele estendeu a toalha, mas, quando

    Liane a segurou, ele a puxou para si e seus lbios se encontraram durante alguns segundos. Assim voc no vai esquecer isto tambm ele murmurou. Com o corao batendo

    mais forte, Liane correu para o quarto,fechando a porta. Aquele homem era terrvel. E ela no tinha idia de como lidar com

    ele.Quando se vestiu e j estava recuperada do susto, desceu. Os outros j a esperavam.Roberto parecia melhor do que nunca. Liane ele disse logo , Marcello j ia chamar voc. Ele disse que j a tinha visto

    antes e que voc no estava dormindo. Desculpe se estou atrasada. Ela o beijou. Como se sente esta manh,

    Roberto? Sentou-se mesa, evitando olhar para Marcello. Melhor, muito melhor ele disse, alegre. Eu acredito que voc tenha conhecido

    Raffaele na noite passada, no? Foi bom ele ter vindo me ver, no acha? Mas eu lhe garanti queno estou to

    mal quanto pensou.

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    Raffaele olhava para Liane. Ela se sentiu pouco vontade, sabendo que Marcelloobservava os dois. Ser que ele achava mesmo que o primo tinha tentado conquist-la na noitepassada? Ser que por isso a tinha beijado nesse dia?

    Aquele pensamento no lhe tinha ocorrido antes, mas podia ser a resposta. Antes deRaffaele aparecer, ele no tinha mostrado o menor interesse por ela.

    Eu vou levar Liane para um passeio Raffaele estava dizendo. No se importa, tio? Prometi que mostraria a ela nosso maravilhoso pas. uma boa idia. Meu filho parece ter muitas coisas para fazer; no pode lhe dar

    ateno. Eu gostaria de estar bom para lev-la eu mesmo. Vai ser um prazer para mim Raffaele disse. Quer que eu lhe sirva o caf?Marcello ficou em silncio e Liane continuou quieta, sem dizer nada, como se tivesse

    medo de falar. Assim que o caf terminou, ele desapareceu.Liane vestiu um dos vestidos novos, de algodo lils e com alcinhas. Era um dos

    vestidos mais simpticos que Lusa tinha escolhido e Liane sentia que nele no parecia muitomais velha.

    Encantadora Raffaele disse , completamente encantadora

    e ela sentiu-se satisfeita, sabendo que aquele ia ser um dia feliz. Rafaelle tinha carro,no um modelo esporte como o do primo,mas um carro bonito, cinza-prateado, com teto solar e ar condicionado. Ela se sentia

    muito bem, sentada ao lado dele, mais relaxada do que nunca. Aonde voc est me levando? Para a Grotta Nuova. um lugar que voc no pode perder. Gosta de grutas? Sim, gosto muito. longe?__ Uma hora de viagem, talvez duas. Depende do que vamos fazerno caminho.Ela sentiu uma espcie de sinal em sua cabea, mas ignorou-o. Estava sendo

    excessivamente sensvel, disse a si mesma. Tinha suspeitas demais. E tudo por culpa deMarcello.

    O caminho que ela escolheu passava por Olbia e pela estrada costeira, de onde se via oazul do Mediterrneo. Passaram pelo Castelo de Fava, do sculo XII, com suas torresimponentes, por plantaes de milho e de pinheiros, e chegaram a um lugar chamado Dorgali,onde ficaram uma hora olhando as lojas que vendiam cermica, terracota, tapetes eartesanato de couro.

    Liane gostou de um burrinho de terracota e Raffaele lhe deu de presente. No sabiacomo agradecer, porque nunca tinha recebido um presente de um homem. Ele passou o braopor sua cintura, sentindo o seu embarao, e puxou-a para si. Ela no fez nenhuma objeo.

    De volta ao carro, viajaram mais um pouco em direo a um porto chamado CalaGonone. Ali, tomaram um barco com gente de todas as idades e nacionalidades, todos ansiosospara ver a famosa gruta. Raffaele continuou com o brao ao redor do corpo de Liane e ela olhoupara ele interessada.

    Est se divertindo?Ela fez que sim e a presso do brao dele aumentou. Liane desejou que ele no se

    tornasse aborrecido. Estava confiando em Raffaele como num amigo, no mais do que isso. Notinha a menor experincia em colocar os homens em seus lugares, quando eles faziam avanosamorosos.

    O barco ancorou junto a uma escarpa pedregosa. Havia uma poro de pequenascavernas, visveis s para eles, que poderiam ser atingidas por uma escada que saa da rocha.Parecia um lugar muito perigoso e Liane sentiu que no tinha a menor vontade de se aventurarpor ali.

    Meia hora depois, o barco entrou numa abertura e parou perto de um ancoradouro deconcreto. O guia conduziu-os entrada da famosa gruta.

    L dentro, esquerda, ficava a Grotta del Blue Marino. Blue Marino era o nome de umafoca, mas no havia focas vista. Depois viraram direita e entraram na Grotta Nuova.

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    emoes descontroladas eram um modo de lhe dizer que devia lutar contra ele. Ficou chocadaquando Raffaele disse:

    Marcello beijou voc? Ele parecia estar com cime e isso era muitosurpreendente.

    Marcello? perguntou indignada. No aguento aquele homem!S no sabia por que tinha evitado responder pergunta dele.

    CAPTULO IV

    Marcello no apareceu para o jantar e Liane achou que Raffaele se comportava como um filho,com Roberto, pelo menos em sua presena. Era atencioso com o velho e muito gentil com ela, como se jtivesse se tornado algum especial.

    Liane gostou daquilo, teve uma sensao agradvel de calor humano. Nunca tinha pertencido aningum e nunca ningum se interessara por ela. Aquilo lhe fazia bem.

    No preciso perguntar se voc se divertiu Roberto disse. Vocs dois parecemextremamente satisfeitos.

    Depois, Raffaele sugeriu um passeio ao porto para ver os iates. Sabendo que Roberto no seimportava, ela aceitou e comearam a descer pela encosta da montanha.

    Havia uma praa s para pedestres, cheia de lojas e apartamentos. Passaram uma horaexaminando os souvenirs. Raffaele falou sobre as esculturas de bronze, cpias dos nuragos um tipo defortaleza construdas em poca anterior dos romanos.

    H milhares delas pela ilha. A mais famosa a runa de Su Nuraxi. Eu a levarei l...amanh, se voc quiser.

    Liane disse qualquer coisa que no a comprometesse e continuou olhando os tapetes e bolsas, asbonecas vestidas com as roupas tpicas da Sardenha. Achava que no devia passar muito tempo com

    Raffaele. Roberto estava doente, queria que ficasse por perto. J era muito ruim que Marcello sempreestivesse fora de casa.

    Da praa passaram para uma ponte de madeira que cortava um dos canais. Os iates ficavamancorados mais longe. Eram magnficos, diferentes de tudo o que ela j havia visto antes. Ficouencantada.

    Enquanto observavam, um iate que vinha se aproximando lenta-mente ancorou no porto. S havia duas pessoas a bordo. Liane viu que eram Marcello e Lusa,

    que usava o short mais curto que ela j havia visto.Ele franziu as sobrancelhas, quando a viu com Raffaele,

    O que est fazendo aqui? Fazendo o seu trabalho Raffaele disse , mostrando a ilha a Liane. Achei que sua visita era para meu pai. Acho que nem ele esperaria que eu fosse passar lodo o tempo dentro de casa. Alguma coisa me diz que voc no passou nenhum tempo l. Olhou profundamente de

    um para o outro; estavam de mos dadas e ele pareceu zangado ao ver aquilo. Onde vocs estiveram?Liane olhou para Raffaele e deu de ombros, como se perguntasse: preciso mesmo dizer a ele?

    Depois virou-se para Marcello e respondeu: Fomos a uma gruta magnifica. Foi como se estivssemos em outro mundo. Aposto que sim, mas agradeceria muito se voltasse para casa agora. No gosto que meu pai

    fique sozinho. Nesse caso Raffaele disse rspidamente , por que voc saiu? Porque achei que vocs dois ficariam l.Liane sentiu que aquele no era o nico motivo do aborrecimento dele.

    Vamos ela disse baixinho para Raffaele. Na verdade, tinha uma sensao de culpa por terdeixado Roberto sozinho, principalmente depois de terem ficado fora o dia inteiro.

    Raffaele no pareceu satisfeito, mas concordou. Ela se sentiu aliviada ao ver Robertosentado na varanda, lendo. Ele levantou os olhos quando os dois entraram.

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    O passeio foi curto. Eu fiquei preocupado com voc, tio Raffaele disse depressa. No devamos ter sado

    noite. Se algo acontecesse... No estou assim to mal. E gostaria muito de tomar um drinque. Talvez vocs dois queiram

    me acompanhar.

    Os trs ficaram bebendo e conversando, Liane se sentindo cada vez mais vontadenaquele novo pas e na nova casa.

    Logo depois Marcello chegou em casa. Era cedo ainda, Liane esperava que ele passassea noite fora. At Roberto se surpreendeu, ao ver o filho.

    O que isso? Brigou com a namorada?Marcello no pareceu achar a observao divertida. Serviu-se de um copo de usque e

    bebeu tudo de um gole, dizendo: Vou trocar de roupa. Deso daqui a pouco.Quinze minutos depois, estava de volta. Tinha tirado o short e a camisa azul-marinho e

    agora vestia uma cala elegante e uma camisa de seda cor de areia. Parecia muito bem disposto.Seu cabelo, molhado do banho, estava mais escuro do que normalmente.

    Ele se serviu de outro drinque e sentou-se perto de Liane. Imediatamente ela sentiu afalta de ar caracterstica de quando ele se aproximava.

    Depois das dez, Roberto oi para a cama, mas os dois homens continuaram na sala,como se nenhum deles pretendesse deixar Liane sozinha. Pela primeira vez em sua vida, elaachou divertido ser uma mulher e ter homens interessados nela. Estava crescendo.

    Finalmente, anunciou que ia dormir. Raffaele levantou-se. Eu tambm disse, se espreguiando. Ento, Marcello falou baixinho: Eu gostaria de conversar com voc, Liane... a ss. Raffaele franziu as sobrancelhas,

    mas saiu dizendo a Liane que, seela quisesse, poderiam ver as fortalezas no dia seguinte.Durante um momento, depois da sada de Raffaele, os dois ficaram em silncio. Ento

    Marcello falou:

    Eu no gosto que voc saia com Raffaele. Eu sei. J percebi. Ento, o que vai fazer? Nada. Por que deveria fazer alguma coisa? Sou livre e acho seu primo uma tima

    companhia. Raffaele pode encantar uma mula, se resolver fazer isso. Ele tem a habilidade de

    fazer as pessoas pensarem que diferente do que realmente . E acha que ele est fazendo isso para ser simptico comigo? Por que faria isso? Eu no esperava mesmo que entendesse. Ele no contava com voc, com algum

    com quem pode passar algumas horas agradveis, enquanto no atinge seu objetivo. E qual esse objetivo? Ele quer parecer simptico a meu pai a fim de ser includo no testamento do velho.

    Liane riu. Tudo parecia muito engraado, mas Marcello pareceu magoado. Qual a graa? Voc. Primeiro voc me acusou de querer o dinheiro de seu pai, agora acusa

    Raffaele. Oh, Marcello, voc deve ler algum, problema com isso, Nenhum de ns estinteressado nesse testamento. Tudo vai ser seu, quando ele morrer. No estamos querendo tirarnada do que seu. Eu pelo menos no estou, mas sinto que posso falar por seu primo tambm.

    Eu no estou pensando s em mim e voc no conhece meu primo como eu. Ele novem sempre aqui. Na verdade, acho que nem me lembro de quando apareceu a ltima vez. Masagora que soube da doena de meu pai...

    Oh, Marcello, pare com isso! tudo imaginao sua. Se seu pai no quer Raffaeleaqui, ele que o mande embora. Afinal, a casa dele.

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    Voc no compreende, voc no consegue entender. No conheceu Raffaele em seumundinho, s pessoas simpticas. Voc confiante demais. Deixe que eu julgue, Liane. Fiquelonge dele. Sei do que estou falando.

    Quer saber o que eu penso? Ela o olhou duramente durante algum tempo. Seusolhos estavam muito escuros.

    Diga. Acho que voc est com cime. Ele tentou falar, mas ela o impediu. Voc no me quer, mas no gosta que outros homens me achem atraente. Raffaele

    disse que sou bonita, sabia? Raffaele diria qualquer coisa.Aquelas palavras irnicas foram como uma ducha de gua fria. Ela sabia que no era bonita, mas

    ele no precisava deixar isso to claro. Se voc j terminou o que tinha a dizer, eu gostaria de ir para a cama. Ainda no terminei. Gostaria de ter sua companhia durante uma hora mais ou menos. E por qu? De repente, Liane se sentiu apreensiva. Havia alguma coisa nele que a deixava

    nervosa. O que estaria querendo? preciso haver um motivo?

    Com voc, sim. No confio em voc. Por que no tenta?Houve um momento de silncio entre os dois. Marcello indicou o lugar a seu lado, no sof, e

    dirigiu-se a ela com suavidade: Sente-se.Nervosa, Liane sentou, mantendo-se o mais longe possvel dele.Ele estendeu a mo e pegou a dela, olhando a palma e traando-lhe as linhas delicadas com os

    dedos. Liane respirou fundo, imaginando o que ia acontecer em seguida e procurando desesperadamentecontrolar suas emoes.

    Estava mais convencida do que nunca de que ele tinha cime de Raffaele. Seno, por que todasaquelas atenes? Mas, quando ele falou, no foi sobre ela e Raffaele, mas sobre Roberto.

    Estou preocupado com meu pai. Ele tenta fingir que no est doente, mas voc viu o queaconteceu ontem noite. A menor contrariedade o deixa arrasado.

    O que h de errado com ele? Exausto, nervosismo, stress. Algum tempo atrs, ele no parava aqui, viajava pelo mundo

    todo para controlar suas empresas. Ento, um dia, teve um colapso e o mdico disse que, se ele no seacalmasse, morreria em seis meses.

    E ele se acalmou?__ Sim, de certa forma. Eu tento fazer a maior parte do trabalho,mas, com aqueles malditos computadores, ele est l todos os dias, controlando, verificando

    tudo. Acha que ningum sabe dirigir asfirmas melhor que ele. Tento mant-lo em contato com tudo, inform-lo sobre os negcios, mas

    no sei se ele acredita em mim. Estou contente por ter me contado isso ela disse, desejando que ele soltasse sua mo. No

    era fcil pensar, naquela situao. Talvez voc possa ajudar. Papai gosta de voc e talvez a escute. Claro que ajudarei. No conheo nenhum de vocs dois h muito tempo, mas j gosto muito

    de Roberto e farei qualquer coisa por ele. E eu? O que sente por mim? Eu ainda no tive tempo de formar uma opinio. Mas j sabe o que sente por meu pai.. , Com voc diferente. Quer dizer que ele no a perturba, como eu?No havia resposta para aquela pergunta. Ele j tinha descoberto muito. No momento seguinte,

    levou a mo dela aos lbios, beijando-a ternamente e observando-a enquanto fazia isso, como se estivessecurioso para conhecer sua reao.

    Liane procurou se acalmar, mas Marcello se aproximou mais, movendo os lbios sobre o braodela. Ele parecia hipnotiz-la.

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    No tinha a menor dvida de que ele se comportava assim com todas as garotas. Apesar disso,no conseguia fazer nada para impedi-lo. Deixou a cabea cair de encontro ao encosto do sof, com osolhos fechados e os lbios separados, esperando.

    De repente, ele a soltou, falando apressado: Agora, melhor voc ir para a cama, do contrrio no me responsabilizo pelo que acontecer,

    Mas Liane tinha sentido o doce veneno daquelas carcias e no aguentava pensar que ele iadeix-la assim.

    Por favor, beije-me mais um pouco, Marcello. Dio! Voc no sabe o que est pedindo. Eu sei e quero provar que no vou desapont-lo. Liane! Liane! Ele a abraou com fora. Ela sentiu seu corao disparar de encontro ao

    dele e ento seus lbios se encontraram. Era um beijo exigente, forte, que a machucava e exigia umaresposta.

    Aquela brutalidade a chocou. Quando ele a beijara, antes, tinha sido gentil. Aquilo era diferente.Ele percebeu o choque. Ento parou e olhou profundamente nos olhos dela. Era isso o que voc queria? Eu no sei. Pensei que fosse, mas agora. . . Furioso, Marcello se afastou.

    Voc uma criana! No sabe nada sobre os desejos de um homem. Pense, antes deme pedir que a beije de novo, Liane. Eu posso no ser to paciente na prxima vez.Ela baixou os olhos. Ele sempre conseguia humilh-la. Como tinha sido tola! Como

    podia ser to idiota, pedindo, implorando os beijos dele?Estava plida, quando finalmente se levantou. Boa noite, Marcello. Ele no respondeu.No espelho do quarto ela viu que tinha os olhos fundos e a pele muito plida. Estava

    com vergonha de si mesma. Entrou no chuveiro, levantando o rosto para a gua.Depois do banho, sentiu-se melhor. Mas. demorou para dormir. Ficou muito tempo

    olhando a noite, o cu estrelado.No podia entender por que o temperamento de Marcello era to varivel. Num minuto

    estava zangado com ela e no minuto seguinte, ansioso para acarici-la. Depois, quando ela

    tinha, de certa forma, se oferecido a ele, incapaz de controlar seus sentimentos, ele a recusara.Devia estar agradecida, na verdade. As carcias poderiam ter escapado de seu controle.E ela no queria nada alm de alguns beijos. No era difcil adivinhar o que Marcello teria feito,se no tivessem parado a tempo.

    Comparando-o com o primo, concluiu que gostava mais de Raffaele. Pelo menos, nuncadiscutiam. E tudo o que acontecera entre eles tinha se limitado a uns poucos beijos leves. Ascoisas nunca sairiam do controle, com Raffaele.

    Perdida nesses pensamentos, s conseguiu fechar os olhos quando j amanhecia.Apesar disso, foi a primeira a descer para o caf. Serviu-se de uma xcara e ficou

    esperando os outros.Roberto parecia cansado, quando desceu. Liane se aproximou dele: No est se

    sentindo bem?

    No nada. Onde est Marcello? Preciso falar com ele. No sei. Quer que o procure? Mas, enquanto faiava, Marcello entrou na

    sala.Olhou rapidamente para Liane e depois se dirigiu ao pai: Voc esteve trabalhando com os computadores outra vez? Roberto fez que sim. H um problema com a Plstica Malaspina de Nova York. Voc precisa ir l. Papai, eles podem resolver o problema sozinhos. Por que insiste em querer controlar

    tudo? Eles so to capazes quanto voc. a minha empresa. Eu a constru, no quero v-la desmoronar por falta de

    superviso. Segal um timo homem. Voc mesmo o escolheu. Ele saber lidar com qualquer

    situao. Posso verificar o problema mais tarde, se isso o deixa satisfeito, mas tenho certeza deque no precisam de mim l.

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    Marcello est certo Liane disse. Voc precisa aprender a confiar nas pessoas,.Roberto. No pode ficar para sempre por trs delas.

    Mas so os meus bebs... Eu os alimentei, eu os vi crescendo. Meu coraoarrebentaria, se perdesse qualquer um deles, agora.

    No vai perder nada Marcello disse com firmeza. A empresa est seguindoestritamente o planejamento. Deixe-a com Segai e ele resolver tudo.

    E se no resolver? Teremos perdido a maior encomenda que j recebemos. Roberto parecia completamente desesperado.

    Ento eu vou ver isso pessoalmente. Se j no for tarde demais. Quer um caf? Liane perguntou, ansiosa. Prefiro alguma coisa mais forte. Vou servir um conhaque. Marcello sorriu para Liane ao passar por ela.Roberto tomou o drinque lentamente e a cor voltou a seu rosto, mas ele continuava com

    o pensamento nos negcios. Vamos, coma alguma coisa Liane disse, segurando-o pelo brao e puxando-o

    para a mesa.Ele sorriu, distrado, e pegou um pozinho. Vou entrar em contato com Segal e descobrir exatamente o que est acontecendo.

    Marcello encerrou a conversa, saindo da sala. Deve aceitar as coisas com calma. Liane sorriu para ele. Deixe que Marcello

    se preocupe; voc j fez a sua parte, tempo de esquecer os problemas.Ele acariciou a mo dela. Voc uma boa menina, mas no entende. No fcil se desligar de tudo, depois

    que se passou a vida inteira construindo umimprio. Acho que entendo melhor do que voc. Prefiro ter a minha vida e nenhuma riqueza

    a trabalhar demais e me enterrar cedo. Aquilo parecia cruel, mas talvez fosse o que ele

    precisava ouvir.Durante um momento, Roberto ficou quieto; depois disse: At voc vir para c, Liane, no me importava viver ou morrer. Meu trabalho era a

    minha vida e, se no podia faz-lo, nada mais me interessava. Quando fiquei doente, Marcellome convenceu a comprar os computadores e instal-los aqui. Assim, poderia controlar

    tudo de casa. Mas no a mesma coisa. Eu gostaria de estar l.Agora... tenho que pensar em voc. Gosto de voc, Liane, e querov-la casada com Marcello. Quero ver meus netos.Ela achou que ele estava indo longe demais, mas no teve coragemde interromp-lo. Voc me deu um motivo para viver e talvez esteja certa. Eu devo largar as rdeas.

    Droga, Liane, Marcello pode fazer todo o trabalho em vez de ficar por a, caando mulheres!

    Talvez a culpa tenha sido sua. Se voc o tivesse deixado segurar as rdeas antes,talvez estivesse dirigindo seu imprio, agora. Mas, se no der uma oportunidade a ele, nuncasaber se capaz.

    Marcello voltou sorrindo. O pnico j acabou. Foi tudo resolvido. O pedido ser atendido. Roberto deu um

    suspiro e apertou a ruo de Liane com fora. Elao beijou na testa. Viu, Roberto? Voc no tinha motivos para se preocupar.Ele devolveu o sorriso e olhou para o filho. Liane e eu estivemos conversando. Acho que vou passar toda a direo para voc...

    o controle, o estoque, tudo.. .

    Marcello olhou preocupado de um para o outro. Que tima notcia! O que fez voc mudar de idia to de repente?

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    O velho olhou sorridente para Liane. Esta garota. Ela tima para mim, Marc. Devamos t-la trazido para c h muitos

    anos. Sabe, acho que vou comer um pouco de bacon com ovos. Vou ver se Giorgio podeprepar-los.

    O que aconteceu? Marcello perguntou, quando ficaram sozinhos. Vocconseguiu numa manh o que eu persigo h anos.

    Eu simplesmente disse a ele a verdade.Ele sacudiu a cabea, como se ainda no conseguisse acreditar. Bem, no importa o que disse, o importante que deu certo e estou agradecido. O

    mais engraado que praticamente j estou dirigindo tudo, s que ele vive se metendo e sepreocupando desnecessariamente,

    No importa como aconteceu, tambm estou contente. Depois que ele aprender arelaxar, no haver motivos para que no viva muito.

    Eu subestimei voc, Liane. Deixe-me lev-la para um passeio, hoje, paracomemorar.

    Ela j prometeu sair comigo Raffaele disse, entrando na sala.

    A mudana de expresso de Marcello foi completa. Num segundo deixou de ser ohomem sorridente e amigvel de minutos atrs para se transformar na imagem da raiva. Lianeestremeceu, diante do olhar dele.

    Neste caso ele disse, tenso , no h nada que eu possafazer. Se quer um encontro com Liane, sugiro que se coloque na fila. Marcello saiu da sala

    sem dizer mais nada. Raffaele sorriu, confiante. Um mau perdedor, mas acho que foi uma novidade, para ele, no poder sair com a

    garota que quer. Acho que ele no me queria. Eu lhe fiz um favor e ele s queria me mostrar sua

    gratido. Que tipo de favor?

    Eu convenci Roberto a se desligar um pouco dos negcios. Marcello agora oencarregado de tudo.

    Voc fez o qu? Agora era Raffaele quem parecia muito zangado. Que direitovoc tinha de meter o nariz nisso? No sabe de nada do que est acontecendo aqui.

    Sei que Roberto um homem doente. Se no se desligar dos negcios, no ver seuprximo aniversrio.

    Mas ele ficar feliz, sem fazer nada? Acho que no pensou nisso. O tdio pode serto fatal, para um homem, quanto o excesso

    de trabalho. Ele no vai ficar entediado, pelo menos enquanto eu estiveraqui. Vou mant-lo entretido. Vai ser a queridinha do velho?

    Ela no gostou da insinuao e seus olhos brilharam de raiva. Voc me d nojo, Raffaele! Eu no quis dizer nada de mau, Liane. Foi s uma brincadeira. Naturalmente que

    estou contente, muito contente que tenha convencido tio Roberto a se desligar dos negcios. Naverdade, no foi isso que eu tambm pedi a ele?

    Ela levantou o queixo e olhou-o, cheia de suspeitas. No me olhe assim. Eu amo meu tio e por isso estou aqui. Fiquei preocupado. a

    melhor coisa que voc poderia ter feito. Seus olhos castanhos eram suaves e ela sentiu querelaxava. Finalmente, sorriu para ele.

    Acredito em voc, Raffaele, apesar de achar que no devo. E ir passear comigo, hoje?

    Ela pensou em Marcello, em sua raiva fria. Mas isso agora no faria diferena. Mesmoque se recusasse a sair com Raffaele, no recuperaria a amabilidade de Marcello.

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    Mas no vamos ficar fora o dia inteiro. No quero deixarRoberto sozinho por muito tempo. No, claro que no. Eu entendo.O caf estava terminado, quando Roberto voltou com seu bacon com ovos. Parecia

    muito contente e Liane ficou espantada ao ver que ele tinha se reconciliado com a novarealidade, to facilmente. Sentia-se muito contente tambm e disse baixinho:

    Voc j parece melhor, Roberto. como se eu tivesse tirado um grande peso dos ombros. Mas no sei se teria feito

    isso, se voc no estivesse aqui, Liane. Sua companhia compensar o fato de eu no ter nadapara fazer.

    Ela mordeu o lbio e olhou-o preocupada, depois disse a Raffaele: Acho que no vou sair com voc. Bobagem Roberto falou, sorrindo. Se j fizeram planos, podem ir. No

    pretendo manter nenhum dos dois amarrado a meu lado. Tem certeza, tio? Ns podemos ficar, se quiser.Liane estava comeando a conhecer Raffaele e percebeu um tom falso na voz dele. Ser

    que Marcello estava certo? Ele estaria mesmo procurando agradar para receber algum benefciodepois? Se ela pudesse fazer alguma coisa, Roberto ainda ia viver muito tempo. Raffaele iacansar de esperar.

    Saiam Roberto pediu. Tenho um livro muito interessante que quero terminarde ler.

    Apesar disso, Liane foi contrariada. O passeio, dessa vez, foi para as montanhas quedominavam o centro da ilha.

    Elas se chamam Gennargentu Raffaele explicou , que quer dizer Porto dePrata. Receberam esse nome por causa da neve que cobre os picos. Escondido dentro dasmontanhas h um labirinto de rios e cavernas. Dizem que uma manada de cavalos selvagenstambm vive por l, mas ningum ainda conseguiu v-la.

    Ela no sabia que o passeio seria longo. Quando Raffaele parou para o almoo, ainda

    no tinham chegado a seu destino. Eu no sabia que era to longe. No teria vindo, se soubesse. Por que no me disse? Porque, como voc disse, no teria vindo, e eu a queria s para mim, Liane. Voc se

    importa? Claro que sim. Voc me enganou, Raffaele. Sabe como estou preocupada com

    Roberto. Alis, pensei que voc tambm estivesse. Estou, mas o que poderamos fazer? Ele est passando bem.Por que no sentamos,

    j que estamos aqui? H tantas coisas, nailha, para voc ver!... Vai haver tempo para isso. Roberto vai comear a pensar que no quero ficar em

    casa cora ele. Acho que no seria justo. Eu gostariade voltar. Desculpe, Liane. Eu devia ter lhe dito. Mas sabia que, se deixasse voc l, Marcello

    chegaria e acabaria com as minhas chances. Eu nunca tenho chances, quando ele est por perto. Marcello no gosta de mim. Ele segurou as mos dela. Por favor, Liane, no fique zangada. Vamos passear, hoje.Depois s sairemos quando voc quiser. O olhar dele implorava, parecia to

    arrependido que ela concordou. Por que eu sempre tenho que concordar com voc, Raffaele? Porque eu sou irresistvel. Voc incorrigvel ela respondeu. Na verdade, era bobagem se preocupar com

    Roberto. Ele estava timo e, alm disso, Marcelloestava por perto.Pararam em um dos restaurantes, decorado com quadros alegres de cenas da cidade. As

    mesas estavam postas e as cadeiras eram confortveis.

  • 7/30/2019 A Garota Dos Olhos de Ouro - Margareth Mayo - By O Blog Da Selminha

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    Comeram presunto da ilha, servido com vinho rose. Depois, pediram um raviliacompanhado de um vinho mais forte. Em seguida vieram as carnes e, como sobremesa,panquecas doces. Terminaram o almoo

    com um licor.Antes de ir para a Sardenha, Liane jamais bebera. Apesar de gostar da sensao que o

    vinho proporcionava, j no sabia com certeza se queria mais. Sentia-se extraordinariamentealegre.

    Vamos Raffaele disse. Voc pode dormir no carro, sequiser. Acho que farei isso. Depois de comer e beber tanto, no vouconseguir fazer mais nada.Mas ela no dormiu. Colocou a cabea no ombro de Raffaele e fechou os olhos. Meia

    hora depois, seguiram para Barumini, perto de Su Nuraxi. Liane aprendeu que os nuragostinham sido descobertos h trinta anos apenas, quando uma chuva fortssima varreu a encostadas montanhas revelando as fortalezas e tambm um grande povoado escondido na base. Dele,restaram runas. Mas dava para perceber o que antigamente tinham sido ruas, casas, lojas e a

    praa central. Est gostando? Raffaele perguntou, segurando a mo dela. Ela no teve coragemde dizer que no se impressionava nada

    com aquelas pedras antigas, que teria preferido alguma coisa mais moderna emovimentada. Mas fez que sim com a cabea.

    fascinante.Um guia os levou a um passeio pelas fortalezas. Subiram por uma escada de madeira e

    ferro, entre duas torres, e depois penetraram no tnel que levava a um ptio interno.Depois chegaram cmara central. Era escura e o guia acendeu uma tocha. Liane

    estremeceu, agarrando-se a seu acompanhante.Raffaele a abraou. Depois, levantou o rosto da moa e, na escurido, pressionou seus

    lbios contra os dela. Liane desejou que ele no tivesse feito isso, mas no queria causar

    confuso, diante do grupo de turistas e do guia.Raffaele no percebeu a falta de entusiasmo dela e continuou a abra-la com fora,

    enquanto continuavam a visita.Liane ficou aliviada quando subiram uma escadaria e saram para um ptio externo, de

    onde podiam olhar o que havia sobrado do vilarejo. O ar parecia fresco e ela decidiu que noqueria visitar mais nenhum nurago. Depois de conhecer o interior de uma das casas, resolveramir embora.

    Raffaele queria ainda lev-la para visitar uma i