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A GRAMÁTICA WITTGENSTEINIANA COMO ALTERNATIVA À POLARIZAÇÃO FIDELIDADE VS. DIFFÉRANCE NOS ESTUDOS DA TRADUÇÃO Paulo Oliveira Unicamp [email protected] Resumo: A desconstrução da noção tradicional de sentido imanente deu novo alento a uma área antes marcada pelo negativismo das “infidelidades”, mas nem sempre soube responder à acusação de que leva à negação de quaisquer critérios de qualidade. Proponho aqui que uma abordagem inspirada no “segundo” Wittgenstein possibilita dissolver esse impasse. Para tanto, discuto a noção derridiana de différance, tendo por horizonte a gramática wittgensteiniana, e proponho que essa última é perfeitamente compatível com abordagens sociológicas da tradução, em cujas bases não está, de modo algum, uma visão necessariamente essencialista de linguagem, como sugerem críticas recentes a tais abordagens. Palavras-chave: desconstrução, Wittgenstein, abordagens sociológicas. Abstract: The deconstruction of the “immanent meaning” notion has given a new breath to an area traditionally marked by the negativism of the “infi- delities”, but it hasn’t always known how to face the accusation of leading to the denegation of any quality criteria. The “second” Wittgenstein can help us to dissolve this impasse. For this sake, I discuss the derridian notion of différance from the viewpoint of Wittgenstein’s grammar, consid- ering this latter perfectly compatible with sociological approaches in transla- tion theory, which by no means have to base upon an essentialist under- standing of language, as some critics have recently suggested. Keywords: deconstruction, Wittgenstein, sociological approaches.

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A GRAMÁTICA WITTGENSTEINIANA COMOALTERNATIVA À POLARIZAÇÃO

FIDELIDADE VS. DIFFÉRANCE NOS ESTUDOS DATRADUÇÃO

Paulo OliveiraUnicamp

[email protected]

Resumo: A desconstrução da noção tradicional de sentido imanente deunovo alento a uma área antes marcada pelo negativismo das “infidelidades”,mas nem sempre soube responder à acusação de que leva à negação dequaisquer critérios de qualidade. Proponho aqui que uma abordagem inspiradano “segundo” Wittgenstein possibilita dissolver esse impasse. Para tanto,discuto a noção derridiana de différance, tendo por horizonte a gramáticawittgensteiniana, e proponho que essa última é perfeitamente compatívelcom abordagens sociológicas da tradução, em cujas bases não está, demodo algum, uma visão necessariamente essencialista de linguagem, comosugerem críticas recentes a tais abordagens.Palavras-chave: desconstrução, Wittgenstein, abordagens sociológicas.

Abstract: The deconstruction of the “immanent meaning” notion has givena new breath to an area traditionally marked by the negativism of the “infi-delities”, but it hasn’t always known how to face the accusation of leadingto the denegation of any quality criteria. The “second” Wittgenstein canhelp us to dissolve this impasse. For this sake, I discuss the derridiannotion of différance from the viewpoint of Wittgenstein’s grammar, consid-ering this latter perfectly compatible with sociological approaches in transla-tion theory, which by no means have to base upon an essentialist under-standing of language, as some critics have recently suggested.Keywords: deconstruction, Wittgenstein, sociological approaches.

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Traduzir é ser fiel a um texto original, cujo sentido remete àsintenções explícitas de seu autor? Ou traduzir é modificar, trans-formar, manipular esse texto, cujo sentido – já no original – não éfixo nem redutível às intenções do autor? Qualquer que seja a res-posta dada a essas perguntas (que, na discussão contemporânea,refletem linhas de investigação claramente definidas e aparente-mente irreconciliáveis), partiremos sempre do princípio de que oconceito de tradução traz em seu bojo a idéia de repetição – sejaela do “mesmo” ou já com uma necessária “transformação”.

“Repetir” pressupõe “igualdade”? Esse o tema de uma polêmi-ca da década de 70 entre os filósofos John Searle e Jacques Derrida,com grande repercussão em nossa área.1 Pergunta análoga já sefazia Ludwig Wittgenstein muito antes, em suas Investigações Fi-losóficas: “Quem um dia após outro promete: ‘Amanhã irei visitá-lo’, diz todo dia a mesma coisa ou diz cada dia algo diferente?” (§226). É certo que a indagação de Wittgenstein se dá num contextobem diverso daquele da polêmica Searle/Derrida. Mas também écerto, para ficarmos com uma expressão do filósofo austríaco, queas questões propostas apresentam, no mínimo, uma clara relaçãode “semelhança de família”. Por esse motivo, proponho aqui umbreve exercício especulativo, em busca de um divisor de águas quepermita apontar a proximidade ou distância entre os três filósofos.

À pergunta de Wittgenstein, suponho que Searle responderiaque sim, a pessoa em questão diz sempre “a mesma coisa”. Issoporque, para Searle, “repetição pressupõe igualdade” (1977: 207).Neste caso específico, Searle talvez distinguisse o conteúdo se-mântico das implicações pragmáticas, propugnando a combinaçãode um “núcleo de sentido” com variações de intencionalidade.

A resposta de Derrida seria provavelmente mais complexa, porenvolver uma afirmação e uma negação que afetam o próprio “nú-cleo semântico” – ou melhor, sua ausência. Segundo Derrida, paraque um determinado elemento de linguagem funcione, “uma certaidentidade consigo desse elemento (marca, signo etc.) deve permi-tir seu reconhecimento e repetição” (1991: 22). Por outro lado,

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essa identidade seria também e “paradoxalmente a divisão oudissociação consigo” (ibid.). Isso porque, ainda segundo Derrida,uma característica intrínseca do signo fônico – aquela que permitea criação de um grafema – é a “iterabilidade”, a “possibilidade deser repetido na ausência, não apenas de seu ‘referente’, (...) masna ausência de um significado determinado ou da intenção de signi-ficação atual, como de qualquer intenção de comunicação presen-te” (ibid.).

No balanço entre o sim e o não de Derrida, predomina a nega-ção, o campo da “diferença” e “transformação” característico dopós-estruturalismo. Já o provável sim (“semântico”) de Searle ocolocaria claramente ao lado dos teóricos da tradução que se ori-entam pela noção tradicional de “fidelidade” – na medida em que,nessa tradição, caberia ao tradutor resgatar não apenas o “núcleosemântico” que permite a repetição, como também suas variaçõespragmáticas, objetiváveis na intenção do falante (que repete a cadadia a mesma promessa não cumprida).

A resposta de Wittgenstein, por sua vez, encontra-se no aforismoseguinte das Investigações: “Teria sentido dizer: ‘Se ele [aqueleque promete] fizesse cada vez algo diferente, não diríamos quesegue uma regra’? Isso não tem nenhum sentido” (§ 227). À guisade contextualização, retenhamos que Wittgenstein dialoga aqui comum interlocutor mentalista, para quem a repetição do ato pressu-põe o mesmo itinerário psicológico, a mesma intenção, enfim. ParaWittgenstein, pelo contrário, o que determinada se houve repeti-ção, ou se seguimos uma regra, não é a intenção do falante, nemuma pretensa descrição exaustiva do enunciado (sua “referência”,ou seu “núcleo semântico”), mas sim uma convenção social2 queatinge até mesmo o próprio conceito de identidade (cf. §§ 215-217)3

e leva à rocha dura das convicções.4 Recolocando a questão, pode-mos afirmar que, para ele, é possível repetir algo sem que se este-ja fazendo necessária e exatamente a “mesma” coisa: basta queessa repetição se configure como comportamento regulado, não-aleatório, dentro de determinada forma de vida (cf. Glock, 1997:

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1973-1978).5 Simplificando um pouco, podemos afirmar que toda aatividade filosófica do “segundo” Wittgenstein foi dedicada a com-bater, a fazer a terapia justamente daquelas generalizaçõesindevidas da concepção referencialista de linguagem que traça dis-tinções nítidas e irrevogáveis entre o lógico e o empírico, entre osemântico /transcendental e o pragmático /contingente, etc. Nessesentido, Wittgenstein está distante de Searle e próximo de Derrida,com quem partilha uma postura anti-essencialista que, de resto,pode ser considerada característica comum ao amplo leque de au-tores que convencionamos aglutinar sob o rótulo de “pós-estrutura-listas”.6

Mas o anti-essencialismo de Wittgenstein é muito diferente da-quele de Derrida. É certo que ambos denunciam os impasses dafilosofia tradicional, o primeiro ao desfazer as confusões conceituaise o segundo ao praticar a desconstrução dos conceitos tradicionais.Também é certo que nenhum deles se propõe a formular uma novateoria de base transcendental-metafísica. Mas a ênfase de cadaum recai sobre aspectos distintos: enquanto a desconstrução se pre-ocupa em expor as aporias do discurso universalista unificador,apontando para o caráter regional de qualquer critério, Wittgensteinpratica uma terapia que também passa pela diversidade dos pontosde vistas, porém sem questionar a validade do critério pelo simplesfato de ser ele necessariamente regional. Por isso, a recorrênciado paradoxo no discurso da desconstrução, como no trecho deDerrida citado acima – em contraponto à insistência de Wittgensteinde que não há segredo na linguagem, onde os critérios são públi-cos, identificáveis através das práticas aceitas como válidas (aindaque convencionais).

Para além das concepções básicas de signo na desconstruçãoderridiana ou na terapia wittgensteiniana, interessa-nos investigarque implicações elas podem ter para nossa compreensão do pro-cesso tradutório. Na vertente pós-estruturalista dos estudos da tra-dução, predomina uma visão de anti-essencialismo claramente tri-butária a Derrida e à hipótese do deslizamento contínuo do sentido,

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implicada na noção de différance.7 Ainda que tenha contribuídodecisivamente para abalar o discurso negativista da área, centradoem contabilidades de “perdas”, denúncias de “infidelidades” equestões correlatas, essa perspectiva nem sempre oferece argu-mentos convincentes para justificar a adoção de critérios depertinência e/ou qualidade na prática tradutória. Creio que issoocorre, pelo menos em parte, em função de certas dificuldades daprópria noção de différance, que discuto agora – de forma necessa-riamente abreviada – numa perspectiva informada pela gramáticawittgensteiniana.8

É notório o papel fundamental da différance no projeto derridianode desconstrução do que se designou metafísica da presença, oufonologocentrismo. Tributária de Saussure, a différance radicalizaa idéia de que na língua não existem senão “diferenças puras, semtermos positivos”, ao mesmo tempo em que supera a distinçãosincronia vs. diacronia do mestre de Genebra (cf. Davis, 2001: 12-13). O jogo contínuo de oposições implicado na différance traz emseu bojo, como fatores indissociáveis, espaçamento etemporalização (cf. Glossário: 24). O primeiro aspecto remeteàquilo que Wittgenstein chama de autonomia da linguagem (i.e. aindependência de seu funcionamento face a um sistema de referên-cia externo) e ficará, por ora, fora de nossa discussão.9 Do segun-do aspecto, deixarei de lado a questão da “regressão infinita”implicada na temporalidade intra-sistêmica (cf. Davis, ibid.). In-teressa-me antes destacar a noção de significado subjacente àdifférance, e sua ligação com a tradição que Derrida se propõe adesconstruir – a saber, o conceito de eidos como portador de umsignificado pleno, transcendental e indissociável da presença, navoz do falante (vide, p. ex., Derrida, 1973: 22).

Por ser resultado de espaçamento e temporalidade, na ótica dadifférance, o conceito significado nunca está presente de forma ple-na, fazendo-se necessário que “um intervalo o separe daquilo queele não é para que ele seja ele próprio” (cf. Glossário, ibid; Derrida,1968: 51). Em outras palavras, “o sentido de um signo ou enuncia-

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do é separado de si a cada novo uso, ele é deslocado (déplacé)”,pois nada garante que ele realizará a mesma síntese com seusubstrato expressivo após ter passado pelo hiato da iteração (cf.Frank, 1984: 206-207).

Reside aqui o núcleo do problema a ser destacado. Para que talnoção de recontextualização funcione, precisamos pensar esse sen-tido (ou significado) “não pleno” em termos bastante exatos, casocontrário ele não seria susceptível a alterações mínimas de contex-to.10 Ora, tal sentido que “escapa”, que se dá na fluidez do contínuotemporal, pertence ao domínio da vivência (Erlebnis) – das sensa-ções imediatas, enfim. A questão é saber se, ao negar “plenitude”a esse sentido imediato (com base no argumento que ele não tem“poder de síntese” [cf. Glossário, ibid.]), nega-se a ele também ainteligibilidade, restaurando precisamente a “oposição fundadorada metafísica” que se queria combater, a saber, a distinção entre osensível e o inteligível (ibid.: 22). Não sendo tal restauração o queestá em jogo na différance, devemos aceitar, portanto, a premissade que esse sentido imediato é mais do que uma simples “sensa-ção”, e que ele é, a cada momento, um sentido “exato” (porquesusceptível às mínimas alterações contextuais) – ainda que não“pleno”.

Abrindo um pouco o foco, podemos então perguntar se um con-ceito, para ser “conceito”, precisa mesmo ser “exato”.11 Sabe-seque a opção de Derrida é por operar com as noções tradicionais, dedentro do sistema para nele provocar fissuras e delimitação. É issoo que explica, em parte, a recorrência da oposição traduzibilidadevs. intraduzibilidade na obra de Derrida – sendo ambos termos to-mados em seu sentido tradicional (cf. Davis, 2001: 17). A différancenão escapa a essa regra, na medida em que parte das noções deexato e pleno para contestá-las a seguir, não podendo, no entanto,ser pensada sem recurso a essas noções – mesmo que de formanão-explícita. Já o itinerário da terapia é outro: se para o “segun-do” Wittgenstein o sentido se constitui na linguagem e em seu inter-relacionamento com as formas de vida,12 o conceito “exato” é

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logicamente posterior ao “vago”.13 Por esse motivo, uma sensa-ção, uma vivência pode ser perfeitamente inteligível, ainda quevaga, inexata, inapreensível tal qual por uma fenomenologia ouuma “linguagem fenomenológica”.14 Mas há, ainda, uma dificul-dade adicional, colocada pelo próprio estilo argumentativo dadesconstrução. Em sua discussão da iterabilidade do signo, Derridaargumenta que “a possibilidade estrutural de ser cortada do refe-rente ou do significado” parece “fazer de toda marca (...) a restância[restance] não-presente de uma marca diferencial cortada de suapretensa ‘produção’ ou origem” (1991: 22). Derrida não fornece,no entanto, nenhuma explicação adicional sobre qual seria a natu-reza dessa restância, desse algo que permanece a ponto de permi-tir a identificação de um “mesmo”, que também é um “outro”.

Estamos aqui novamente diante de nossa questão inicial, a sa-ber, da relação entre “repetição” e “igualdade”. Já mencionamosque, para Wittgenstein, o que decide se uma “regra” foi seguida,se houve “repetição”, não é a recorrência de um “mesmo”, não éa possibilidade de se resgatar a plenitude de uma intencionalidade(ou estado mental), nem uma descrição exaustiva (de um “núcleosemântico”), mas antes uma “prática social” (cf. Glock, 1997:317). Isso porque, nos termos de um célebre aforismo das Investi-gações, “o significado de uma palavra é seu uso na linguagem” (§43).15 Do uso recorrente de um signo ou enunciado, em situaçõesanálogas, emerge a gramática do conceito, que, nesse sentido é umproduto da experiência (Erfahrung) – experiência essa que é tribu-tária da forma de organização do mundo pela linguagem, i.e. dasformas de vida.16

Na medida em que a gramática organiza a priori as diferentesvivências (Erlebnisse), que em seu conjunto passam a constituiruma experiência (Erfahrung), podemos até dizer que há algumasimilaridade entre a terapia filosófica de Wittgenstein e a différancederridiana. Mas também há, como vimos, diferenças significati-vas, cujas maiores implicações para nossa área talvez estejam nofoco principal, ou na ênfase maior de cada filósofo. Nos dois ca-

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sos, estamos diante de sistemas abertos, cujo fechamento é apenasvirtual. Ocorre que, em Derrida, a ênfase recai sobre o não-fe-chamento, o deslizamento contínuo, a “rede cuja tessitura seráimpossível interromper” (cf. Glossário, ibid.). Já Wittgensteinenfatiza a possibilidade de fechamento, ainda que virtual ou provi-sório, exercida continuamente na práxis da linguagem. Em ambosos casos, o contexto exerce um papel crucial na determinação ouindeterminação do sentido. Jonathan Culler (1983) lembra-nos que“meaning is context-bound, but context is bondless”. Lendo-se talaforismo sob a perspectiva da desconstrução, a ênfase recai sobreo fato de que sempre poderá haver uma mudança de contexto quealtere o significado de um signo, de um enunciado, texto, discurso,etc. Abordando-se o mesmo aforismo numa perspectivawittgensteiniana, a ênfase recai sobre o fato de que, se o contextofor insuficiente para determinar o sentido de um signo, enunciado,etc., poder-se-á sempre ampliá-lo até que se chegue a critériossuficientes para uma determinação – que não será definitiva nemnecessária, mas precisamente o suficiente para equacionar as ne-cessidades pragmáticas em questão, naquela situação específica,sem cair em absoluto nalguma espécie de subjetivismo qualquer.17

Posto que toda decisão, inclusive e sobretudo no caso da tradução,é tomada sempre num dado contexto,18 a visão wittgensteinianaparece-me ser mais produtiva para nossa área, principalmentequando o que estiver em jogo não for uma reflexão mais abstrata,de cunho epistemológico, mas sim trabalhos concretos de tradu-ção, definições de critérios de adequação ou qualidade, e outrasquestões do gênero.19

Voltemos a nosso exemplo inicial, da pessoa que prometereiteradamente nos visitar, mas nunca o faz. Como reajo a tal pro-messa? Num primeiro momento, estarei preparado para a visita,ficarei em casa, quem sabe vou até arrumá-la para estar maisapresentável quando a visita chegar. Depois de algum tempo, fica-rei em casa, mas já com uma expectativa menor, talvez nem arru-me a casa para receber a visita: se ela chegar, ótimo; caso contrá-

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rio, também não será surpresa. Passado mais tempo ouvindo apromessa da visita que nunca se concretiza, passarei a me preocu-par menos ainda, talvez até saia de casa sem deixar aviso, como oArnesto do samba de Adoniram Barbosa. Nesse momento, já tereimudado radicalmente meu critério de ação face à promessa devisita: saberei que o que está por trás do enunciado não é de fatouma promessa, cuja gramática pressupõe a expectativa de que sejacumprida, mas sim algo diferente, talvez uma desculpa de alguémque se sente em falta comigo, um despiste, ou algo do gênero.Quem trabalha com relações interculturais conhece bem a situa-ção. Se dissermos a um estrangeiro, suíço ou alemão, por exem-plo, “passa lá em casa”, ele provavelmente pedirá para confir-marmos dia e hora, para marcar na agenda. Um brasileiro nãofaria necessariamente o mesmo, reagindo antes, talvez, com um“‘tá bem”, “claro”, etc. – e não viria necessariamente nos visitar.Tampouco pediria meu número de telefone se eu lhe dissesse “meliga”, ambos sabendo que ele não tem meu número de telefone – eque não tenho grande interesse em sua ligação. Em todos essescasos, não há como definir a priori quando ocorrerá uma mudançano modo de agir das pessoas envolvidas, não há uma resposta únicanem definitiva. Mas haverá certamente critérios de pertinência parajustificar as decisões, no sentido de entender uma promessa comoalgo a ser cumprido, de fato, ou apenas uma desculpa, um despis-te, uma frase feita, etc. Ou seja, o contexto nos fornecerá semprealgum elemento para a necessária tomada de decisão, para agir,enfim – mesmo que depois cheguemos eventualmente à conclusãode que a decisão poderia /deveria ter sido outra.20

Se a adequação é contextual, se ela depende das formas de vidaem jogo, não há como se estabelecer um critério absoluto, imutá-vel. Por esse motivo, não há também como se estabelecer a tradu-ção ideal de um texto, no sentido de que fosse “fiel” às intençõesdo original e também “definitiva”, válida de uma vez por todas.Isso, por outro lado, não nos isenta da necessidade de descrever oscritérios de adequação e pertinência dentro de determinados con-

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textos – históricos, políticos, lingüísticos, culturais, etc. Tal des-crição, no entanto, não tem mais um caráter epistemológico, nãolhe cabe indagar insistentemente sobre a concepção de linguagempor detrás de cada critério tradutório apresentado. O critério cum-prirá seu papel mesmo que não possa ser justificado por uma ca-deia de razões (cf. nota 5). A questão de cunho filosófico é que háum critério, e que esse critério é público, estabelecido em confor-midade com a forma de vida em questão, ou seja, ele é radical-mente convencional (cf. Glock, 1997: 317-318).21 Por esse motivo,a descrição dos critérios é antes de natureza sociológica: trata-sede estudar as formas de vida em questão e verificar quais critériossão aplicados como elementos norteadores das decisões.

Nesse sentido, não vejo incompatibilidade entre o programa detrabalho daquelas abordagens que se inserem na chamada viradacultural nos estudos da tradução (cf. Bassnet & Lefevere, 1990),representada por autores como André Lefevere e Gideon Toury,dentre outros, e uma concepção radicalmente anti-essencialista delinguagem. Compreendo que tais abordagens são não apenas com-patíveis com uma visão anti-essencialista de linguagem, mas tam-bém complementares à discussão de cunho filosófico sobre a natu-reza da linguagem, tal como a efetuada no âmbito das abordagenspós-estruturalistas. Por esse motivo, creio que temos mais a per-der do que a ganhar quando tentamos abordar propostas que sequerem descritivas, de cunho antes sociológico, sob o prisma deuma discussão eminentemente epistemológica. Não proponho comisso que sejam assumidos plenamente todos os pressupostos de taisabordagens, até porque eles podem ser lidos, de maneira produti-va, sob um prisma anti-essencialista, até quando aparentarem ocontrário. O que devemos evitar é a confusão conceitual entre adimensão filosófica, epistemológica, e a dimensão descritiva, so-ciológica, de uma mesma abordagem.

Na discussão contemporânea em nossa área, resta por vezes aimpressão de que, no intuito de detectarmos resquícios da chama-da “visão tradicional” nos autores discutidos, tomamos seus enun-

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ciados descritivos ou programáticos por afirmações filosóficas, ou– talvez mais provável – os taxamos genericamente de “tradicio-nais”, ou “logocêntricos”, por não identificar em sua postura umanti-essencialismo à maneira de Derrida, quando eles talvez co-munguem algum outro tipo de anti-essencialismo, até mesmo àmaneira de Wittgenstein. Por economia, fiquemos com os autoresjá mencionados, lembrando que as categorias utilizadas por AndréLefevere (1990, 1992a, 1992b) são de cunho eminentemente socio-lógico e – como registra Edwin Gentzler (1993: 129) – que na teo-ria dos polissistemas desenvolvida por Gideon Toury (1980: 18)recorre-se, explicitamente, à noção de “semelhança de família”de Wittgenstein, para com elas questionar exatamente aquelas con-cepções tradicionais de original e tradução como textos estáveisque as abordagens pós-estruturalistas tanto criticam.

Reduzindo ainda mais o foco, tomemos dois casos discutidospor André Lefevere. O primeiro guarda certa semelhança comnosso exemplo da promessa, e de como nosso agir diante dela podemudar ao longo do tempo. No texto introdutório à coletânea sobre avirada cultural, Bassnet & Lefevere (1990) sugerem que a noçãode “fidelidade” está mais relacionada à confiança que depositamosno tradutor e à familiaridade que temos com certas práticas do quecom a possibilidade de um cotejo com o original – algo pouco pro-vável no leitor (não profissional) de traduções. O argumento reto-ma uma anedota narrada por Marcel Proust em sua introdução aSodoma e Gomorra: sua avó estava acostumada a certas traduçõesdos clássicos para o francês, e as considerava “fiéis” – rejeitandooutras traduções, feitas com base parâmetros distintos daquelesque lhe eram familiares. Para ela, por exemplo, o herói da Odis-séia era identificado pelo nome latino de Ulysses, e a deusa Atenasconhecida pelo nome de Minerva. Traduções mais recentes, emque os mesmos protagonistas passaram a ser referidos por seusnomes gregos, tornaram-se, para a avó de Proust, necessariamen-te “infiéis”. Desenvolvendo o argumento, os autores lembram ain-da que, se os editores das versões francesas dos clássicos gregos

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resolveram mudar seus critérios, isso se deu provavelmente por-que houve uma modificação na interpretação dominante dentre osespecialistas consultados – em parte até em função da morte dealguns e do surgimento de outros (ibid.: 2).

Temos aqui dois aspectos relevantes, de um ponto de vistawittgensteiniano. O primeiro é que aprendemos a lidar com certoscritérios, que passam a ter valor normativo. O segundo é que essescritérios, dentro de uma certa forma de vida, podem mudar. Nessecaso específico, a mudança na forma de vida está vinculada aodeclínio, ou à morte, de uma geração de especialistas, e aosurgimento, ou consolidação, de uma outra.22

A questão da re-tradução dos clássicos é um tópico recorrentenas abordagens pós-estruturalistas, e serve à perfeição para ilus-trar o fato de que não há tradução definitiva, por mais bem sucedi-da que ela possa ter sido quando de seu lançamento. De certo modo,essa questão recoloca, numa dimensão histórica, o efeito dadifférance, do deslocamento do sentido, do não-fechamento do sis-tema. Por outro lado, há de se lembrar que, se há re-traduções,elas não ocorrem necessariamente em intervalos curtos, havendocasos de textos traduzidos que continuam sendo aceitos por um bomperíodo de tempo. O que ilustra a possibilidade de fechamento,ainda que provisório.

Isso posto, passemos a nosso segundo exemplo. Gideon Toury eAndré Lefevere, dois autores que mencionei como representativosda virada cultural, têm suas respectivas obras submetidas a umrigoroso escrutínio no excelente trabalho de Cristina CarneiroRodrigues (2000). Apesar de concordar em linhas gerais com aanálise de Rodrigues,23 creio que ela, em vários momentos, acabapor não fazer jus aos autores discutidos, exatamente por abordarsob um viés epistemológico – nítida e explicitamente tributário dadesconstrução – programas de trabalho de cunho eminentementesociológico. Tentarei ilustrar esse raciocínio através de um únicotrecho, em que se discute a concepção de linguagem subjacente àabordagem de Lefevere. Fique claro que tomo essa discussão como

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amostra representativa de certa tendência nos estudos pós-estrutu-ralistas da tradução, não se restringindo nem à autora citada nemao trabalho comentado.24

Rodrigues questiona, por exemplo, a sugestão que Lefevere faza futuros tradutores, de “‘buscar equivalentes em um dicionáriobilíngüe’”, com a ressalva de que “‘a língua-alvo pode não ter equi-valentes exatos’” (Lefevere 1992a: 63; Rodrigues, 2000: 119 – grifosda autora). Segundo Rodrigues, a ressalva de Lefevere significaque também pode haver o “equivalente exato” (ibid.) – possibilida-de essa questionada pela autora ao longo de sua argumentação.

Dentro de uma ótica anti-essencialista tributária de Wittgenstein,não vejo o menor problema em admitir a possibilidade de um “equi-valente exato”, em termos de uso, o que não significa dizer queessa “equivalência” seria resultante de um significadotranscendental, nos moldes tradicionais. Pessoalmente, recorro comfreqüência a dicionários bilíngües em minha prática tradutória, ebem sei que essas obras não espelham significados transcendentais,sendo antes repositórios de convenções – convenções essas perfei-tamente operacionais dentro das formas de vida em questão. Con-sidero, sem restrição alguma, que livro, book, Buch, livre, etc.,operam de forma análoga no português, no inglês, no alemão, nofrancês, etc. Nesse sentido, são “equivalentes exatos”, obedecemà mesma regra de uso.25 Por esse motivo, diferentemente deRodrigues, considero as recomendações de Lefevere perfeitamen-te plausíveis, no âmbito das práticas tradutórias.

No mesmo trecho (p.119-122), Rodrigues questiona a distinção,feita por Lefevere, entre os níveis locucionário e ilocucionário dalinguagem, e retoma o exemplo da tradução de um poema de Catulo,para a qual Lefevere sugere que o termo latino “passer” seja tra-duzido pelo inglês “sparrow” (“pardal”), conforme a informaçãodicionarizada, e não por “hipopótamo” (Rodrigues, 2000: 121-122).Problematizando a sugestão de Lefevere, Rodrigues recorre aotradutor brasileiro, Paulo Sérgio Vasconcellos (Catulo, 1991), paralembrar que a palavra “passer”, na língua corrente, passou a de-

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signar, por extensão, “outros tipos de pequenas aves”. Mesmo as-sim, Vasconcellos

decidiu traduzir “passer” por “pardal”, tendo em vista adificuldade de “escapar à já consagrada tradução”, pois “aexpressão ‘pardal da Lésbia’ é mundialmente conhecida.(Catulo, 191: 83-84; Rodrigues, 2000: 122)

Parece-me sensata a opção do tradutor, pois não vejo que ganhoteríamos, nesse contexto, em traduzir “passer” por algo como“passarinho”, sobretudo se já estiver consagrada a expressão “par-dal da Lésbia”.26 O que Vasconcellos fez, ao mencionar o uso es-tendido do termo para designar “pequenos pássaros”, foi ampliar ocontexto para, neste caso específico, descartar uma opção em prolda outra, tomando como parâmetro justamente as convenções deuso. Se o termo consagrado pela tradição fosse “passarinho”, ouum outro qualquer, faria sentido descartar a solução lexicalizada“pardal”. Aparentemente, não é esse o caso. Convenhamos, tam-bém, que falar de “pequenos pássaros” como uso estendido de“passer” é diferente de escolher “hipopótamo” para traduzir omesmo termo.

Do trecho discutido, Rodrigues conclui que Lefevere pressupõea existência de “um nível de linguagem transparente, unívoco ecompartilhado por todos que tenham conhecimento lingüístico bási-co”, cujas “marcas” no nível locucionário e ilocucionário poderi-am ser “ensinadas” a futuros tradutores (ibid.: 122). Mais adiante,associa essa crença a concepções tradicionais de leitura e inter-pretação, sugerindo que teríamos aqui uma contradição interna nodiscurso de Lefevere (123).

Contra o argumento de Rodrigues, gostaria de lembrar, comWittgenstein, que a linguagem é necessariamente pública, pressu-pondo, sim, compartilhamento, e que algo seja tomado como nor-ma. Pressupõe também o aprendizado dessa norma, desse conhe-cimento partilhado – e aqui, novamente, considero plausíveis os

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pressupostos atribuídos por Rodrigues a Lefevere, de que os crité-rios de uma “boa” tradução possam ser ensinados. O que não querdizer que ensinemos os futuros tradutores a verem marcas que “jáestão lá”, mas sim marcas que, dentro de determinadas formas devida, são definidas como tal. Cabe então ao professor justamenteapontar para as diferentes maneiras de definir as normas em dife-rentes contextos, e, para esse fim, as categorias propostas porLefevere – ideologia, poética, autoridade, etc. – podem ser de umautilidade inestimável.27

De modo coerente com o referencial teórico desconstrucionista,Rodrigues critica a separação feita por Lefevere entre o interno eo externo ao sistema literário, entre parâmetros intra- e extra-tex-tuais, com o argumento de que “se um discurso reflete ou refrata oideológico e o cultural, esses fatores não são extrínsecos ao texto,[mas] dele fazem parte” (ibid.: 124). Concordo com Rodrigues, nosentido de que tais fatores “fazem parte” do texto, na medida emque mantêm com ele uma relação dinâmica de troca. O que nãoquer dizer que as diferentes coisas sejam uma só, que tudo é “in-terno” ao texto.

Creio que estamos aqui diante de uma dificuldade típica dadesconstrução, que é a de não aceitar a definição de limites, que éa tendência a ver qualquer proposta de categorias analíticas comoum regresso a taxonomias naturalizantes. Ora, o fato de traçarmosum limite entre o interno e o externo não significa que esse limiteseja dado, que seja um objeto da natureza ou pertencente a algumaordem transcendental-metafísica.28

A questão dos limites entre a linguagem e o mundo, entre ointerno e o externo, etc., é um tópico que perpassa toda a obra deWittgenstein. Se nos trabalhos de juventude tais limites eram dadospela lógica, se o empírico se constituía per se, sem intervenção dalinguagem, na obra madura do filósofo austríaco é a própria lin-guagem, é a gramática que traça os limites entre a linguagem e omundo, entre o interno e o externo – mas essa divisão continua aexistir.29 É esse um dos motivos pelos quais insisto na tese de que

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um anti-essencialismo à maneira de Wittgenstein pode ser extre-mamente profícuo para os estudos da tradução – mais profícuo,talvez, do que abordagens que contestem a própria possibilidadede operarmos com categorias analíticas, seja em nome de um “flu-xo contínuo”, de uma “indeterminabilidade radical do sentido” oude hipóteses correlatas.

Há de se reconhecer que, diferentemente da obra de Derrida,os textos de Wittgenstein raramente versam explicitamente sobrea tradução. No mais, o caráter disperso e fragmentário dessesescritos, aliado ao fato de que a tradição filosófica contemporâ-nea, inclusive no Brasil, continua a dar mais destaque ao filósofologicista que ao filósofo da gramática, contribui para que, nos estu-dos da tradução, o pensamento do “segundo” Wittgenstein seja antescitado en passant do que explorado em profundidade.30 Num mo-mento em que o discurso tradicional sobre a tradução já não reinaabsoluto, em que as abordagens pós-estruturalistas já demarcaramclaramente seu lugar, talvez seja chegada a hora de nos ocuparmosum pouco mais com o legado do filósofo austríaco. Tenho plena con-vicção de que a discussão na área só teria a ganhar com isso, aju-dando, quem sabe, a superar algumas das enormes barreiras quetornam por vezes tão difícil o diálogo e a compreensão mútua.

Notas

1. Cf. apresentação de Elisabeth Weber e prefácio de Gerald Graff ao livro LimitedInc. (Derrida, 1991), onde estão reunidos os textos de Derrida nesse debate, aosquais se agregam um resumo de um texto de Searle e uma entrevista de Graff comDerrida. No Brasil, essa polêmica repercute, dentre outros, em trabalhos como osde Arrojo e Rajagopalan (1992a-c). Na Alemanha, a temática é tratada de modorecorrente por Manfred Frank, de modo direto (1983, 1984, 1993) ou abrangendotambém outros pensadores (p.ex. 1992: 7-48).

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2. Assim, pois, você diz que o acordo entre os homens decide o que é correto e o queé falso? – Correto e falso é o que os homens dizem; e na linguagem os homens estãode acordo. Não é um acordo sobre opiniões, mas sobre o modo de vida. (§ 241)

3. Cf. § 216: “‘Uma coisa é idêntica a si mesma’ – Não há melhor exemplo de umafrase inútil e que, no entanto, está ligada ao jogo da imaginação. (...)”

4. (...) Se esgotei as justificações, então atingi a rocha dura e minha pá entortou.Estou então inclinado a dizer: “é assim que eu ajo” (§ 217). Cf. também § 211:“... – Ora, como eu sei? – Se isso significa ‘tenho razões?’, então a resposta é:logo não terei mais razões. E agirei então sem razões.”

5. Laurrent Carraz (2000: 36) lembra que “o ‘problema’ da linguagem privada eseu desaparecimento em Wittgenstein nos reconduz, através da problemática de‘seguir uma regra’, às questões centrais das Investigações Filosóficas, a saber,aquelas da significação, da significação dentro do uso da linguagem, da linguagemcompreendida como atividade e prática humana.” Na seqüência, Carraz discute asdificuldades da tradição filosófica em assimilar a noção wittgensteiniana de “seguiruma regra” (ibid: 37-40). Num extremo, teríamos autores como Charles Altieri(1976) que, no intuito de definir limites e incompatibilidades entre os aportes deDerrida e Wittgenstein, faz uma leitura das formas de vida como uma “base ontológicairredutível” (cf. Carraz, 2000: 38). No outro extremo, teríamos leituras “céticas”como a de Samuel Kripke (1996): “a partir de uma mesma concepção ‘comunitária’ou ‘social’ de ‘formas de vida’, [Kripke] fala de uma ‘solução cética’ que Wittgensteinagrega ao problema de ‘seguir uma regra’ e traça uma analogia entre Wittgenstein eHume” (Carraz, 2000: 39). O autor conclui: “Assim, essa noção de ‘forma devida’, interpretada de maneira comunitária, considerada por Altieri como a ‘baseontológica’ das verdades do senso comum e o solo da linguagem ordinária, torna-se em Kripke um argumento para fazer de Wittgenstein um representante do ceticismo”(Carraz, 2000: 39). Em notas, o autor remete à abundante literatura sobre o tema,com destaque para os trabalhos de Stanley Cavell (1979) e de Backer & Hacker(1984). São também citados trabalhos de Christine Michel e Pierre-Yves Mailard,sem maiores indicações bibliográficas (ibid.).

6. Para um cotejo específico Wittgenstein / Derrida, no campo estrito da filosofia,vide o supracitado trabalho de Carraz (2000). Para uma discussão mais ampla docampo pós-estruturalista, vide Frank (1983). Na área de tradução, no Brasil, AnaMaria Siqueira (2002: 68-81) parte da mesma questão da iterabilidade para discutira opção do tradutor e teórico da tradução e Lawrence Venuti em aproximar-se deWittgenstein, distanciando-se de Derrida – com foco e resultados distintos daqueles

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aqui sugeridos. A opção de Venuti por Wittgenstein também é comentada, de formabreve, por Maria Paula Frota (2000: 80-81).

7. Em seu breve artigo sobre as traduções do termo para diferentes línguas, PauloOttoni (2000) nos fornece um exemplo emblemático dessa visão.

8. A abordagem de tópicos complementares envolve todo um programa de trabalho,com alguns passos já bem definidos e outros em fase de estudos. De concreto,temos O aspecto na tradução, comunicação apresentada ao XI Encontro Nacionalde Filosofia da ANPOF (Salvador, BA, outubro 2004), na qual trato das implicaçõesda noção wittgensteiniana de aspecto para os estudos da tradução. Já emÜbersetzungspragmatik und –soziologie: Übergänge, comunicação apresentada nocongresso internacional Translating and Interpreting as a Social Practice (Graz,Áustria, maio 2005), discuto a passagem de uma pragmática filosófica – de extraçãowittgensteiniana – a uma sociologia da tradução. Pesquisa adicional sobre aspectosrelevantes da obra wittgensteiniana para a teoria da tradução foi realizada no Institutode Filosofia da Karl-Franzens-Universität Graz, no período de maio a agosto de2005, com bolsa de pós-doutoramento da FAPESP (processo 05/00029-2). EmEstudos da tradução sem tertius comparationes? Considerações sobre o besourode Wittgenstein e o diabo no Grande Sertão – de Rosa e da Globo (Caderno deTradução, volume temático sobre Tradução Audiovisual, no prelo), retomo a questãoda “essência” para discutir a incompatibilidade entre uma teoria da “traduçãointersemiótica” e os Estudos Descritivistas.

9. Retenhamos, no entanto, dois pontos de aparente divergência. O primeiro é queWittgenstein, ao mesmo tempo em que reafirma a autonomia da linguagem, investigaconstantemente sua ligação com o mundo /real (vide, p.ex., os Dictées: Wittgenstein,1997: 110-113). O segundo é a importância atribuída pelo filósofo austríaco àdimensão analógica da linguagem, cuja expressão mais notória é talvez o conceitode semelhança de família (cf. Glock, 1997: 324-328).

10. Frank (ibid.) assinala que a diferença entre uma ocorrência e outra do signopode ser mínima, mas nunca insignificante (grifo meu). Abstenho-me de remeteraqui à distinção conceitual entre “sentido” e “significado” recorrente em diversosautores na história da filosofia, sob diferentes prismas, por entender que ela não écentral para nossa discussão.

11. Era isso o que postulavam Frege e o “primeiro” Wittgenstein” (vide Moreno,2005c; cf. Tractatus 4.122 e seg.: Wittgenstein, 1989: 72-73). É certo que, para

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Frege, “exato” pressupõe ter uma referência no mundo, ao passo que em Derridaprescinde-se de tal referência – o que não quer dizer que não possamos falar de“exatidão” nos termos aqui discutidos, i.e. de susceptibilidade à menor variaçãocontextual. Em ambos casos, “exato” remete a “único”, inconfundível.

12. Cf. verbete “determinabilidade do sentido” em Glock (1997: 126-128).

13. Cf. Investigações: “De que modo está fechado o conceito de ‘jogo’? O queainda é um jogo e o que não o é mais? Você pode indicar os limites? Não. Vocêpode traçar alguns: pois ainda não se traçou nenhum. (Mas isso jamais o incomodouao empregar a palavra ‘jogo’) (§ 68). “Não conhecemos os limites, porque não setraçou nenhum limite” (§ 69). Ver também Moreno (2005a: 53): “O estilo, segundoGranger (1980), permanece sempre no horizonte das ciências. Pelo contrário, paraWittgenstein, não há uma cisão de natureza entre o estrutural e o vago: os limitesexatos de um conceito são estabelecidos a partir de decisões tomadas no interiordo vago” (grifo meu [P.O.]).

14. Sobre o projeto de uma “linguagem fenomenológica” acalentado num curtoperíodo da “fase intermediária”, cf. Wittgenstein (1929, 1997: 159-172). Cf. tambémMoreno (2005c). Para um cotejo da fenomenologia de Husserl com as preocupaçõesfenomenológicas de Wittgenstein, cf. Moreno (2005b).

15. Resguardados alguns casos específicos, como o dos nomes próprios (ibid.).

16. Cf. Investigações, §§ 206-7 e seg.

17. Note-se bem: no primeiro caso, a idéia de re-contextualização sugere a existênciade “outro” contexto, no momento da ampliação, tendo como pano de fundo a idéia detemporalidade; no segundo, trata-se do “mesmo” contexto, apenas visto de umaperspectiva mais ampla (ou diversa), sem deslocamento temporal – porém sem descartartal deslocamento, pois o que conta é o uso, entendido como “seguir uma regra”.

18. Penso aqui sobretudo no ato de traduzir (das Übersetzen), que não ocorre novazio, mas sempre e necessariamente numa dada situação.

19. Nesse sentido, tendo a concordar com a postura de Venuti (1995: 115, apudSiqueira, 2002: 69; Frota, 2000: 81), sem necessariamente segui-lo em todos seuspressupostos sobre a linguagem e os preceitos teóricos sobre tradução daí derivados.

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20. Circulou há algum tempo na Internet uma lista (elaborada pela empresa TodayTranslations) com os termos de diferentes línguas “mais difíceis” de traduzir parao inglês. O ranking das “10 mais” foi publicada na revista Superinteressante(n.203, agosto 2004: 24). Em primeiro lugar, vem: “Ilunga. Idioma: /Tshiluba/(dialeto banto falado no Congo e no Zaire). Definição: Pessoa que perdoa umabuso pela primeira vez, tolera na segunda, mas nunca na terceira.” Nesse caso,podemos dizer que a forma de vida dos povos que utilizam a expressão deixoumuito claro o campo de utilização do conceito. A dificuldade de tradução nãodecorre, portanto, de eventual vagueza ou inexatidão, mas antes do fato de que, nasformas de vida onde o idioma inglês costuma ser utilizado, tais critérios de utilizaçãode um conceito ligado à repetição são provavelmente desconhecidos, não-usuais etc.

21. Tal convencionalidade é, não raro, eivada de ideologia. Mas as implicaçõesdesse fato fogem ao escopo da discussão ora em pauta.

22. Note-se que não estou dizendo que Lefevere propõe um programa de trabalhode cunho wittgensteiniano, pelo contrário: sua proposta, como já assinalei, é decunho sociológico, e as preocupações de Wittgenstein eram eminentemente filosóficas.O aspecto a ser ressaltado é que a proposta de Lefevere não é incompatível comuma visão anti-essencialista de linguagem à maneira de Wittgenstein, e que ela podeser lida como uma descrição dos critérios adotados como normas em determinadasformas de vida, sendo, nesse sentido, complementar à reflexão filosófica queafirma ser todo sentido baseado em normas convencionais da linguagem.

23. Tal concordância inclui, aparentemente, as conclusões a serem tiradas a partirda anedota envolvendo a avó de Proust (cf. Rodrigues, 2000: 125-126).

24. O Colóquio Traduzir Derrida – Políticas e Desconstruções (Unicamp, agosto2003) traz claras indicações de outras abordagens com enfoque semelhante.Cf. http://www.unicamp.br/iel/traduzirderrida/coloquio.htm.

25. Como já mencionei, a própria noção de “exato” tem sua condição de necessidadequestionada pela terapia wittgensteiniana, quando se trata de “seguir uma regra”, i.ede comportamento regulado.

26. A não ser que um dos objetivos da tradução fosse justamente por em xeque atradição, apontando para outra acepção possível de “passer”.

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27. Note-se que essa visão não é incompatível com a célebre definição de Derrida(1975: 31), segundo a qual a tradução é uma “transformação regulada de umalíngua por uma outra, de um texto pelo outro”. As categorias de Lefevere apontamprecisamente para o tipo de fator que pode regular as transformações em curso.

28. Seja registrado que a crítica de Rodrigues a Lefevere passa também pelanoção de “exato”, a exemplo do que ocorre com a própria noção de différance,como apontei em meu brevíssimo cotejo da vivência com a experiência. Rodriguesretoma o conceito de refração, utilizado por Lefevere para caracterizar a influênciado meio na tradução (assim como a luz não passa incólume pelo meio ondetransita), e lembra que, na física, resta a possibilidade de refração /desvio zero,ou insignificante, se a incidência da luz for perpendicular ao meio – água, ouvidro, por exemplo. Com base nessa possibilidade, Rodrigues (ibid.: 123-124)atribui a Lefevere uma concepção de linguagem em que o sentido seria“transparente”, em termos muito próximos daquilo que é propugnado por autorescriticados pelo próprio Lefevere. Nessa operação, a autora transforma um podehaver (refração insignificante, ou equivalência de sentido) em um deve haver(equivalência na língua). Ou seja, retomando o conceito da física: o caso particu-lar é transformado em regra geral, para que a crença nessa regra geral seja lidacomo “latente” no autor criticado, apesar de sua manifestação explicitamentecontrária, e a despeito dos resultados concretos de todo seu programa de trabalho!Diferentemente de Rodrigues, não vejo contradição entre a interferência necessáriado meio na refração, ou na reescritura, e a possibilidade de que essa interferênciaseja “insignificante” num determinado contexto. Essa contradição só existe senos interditarmos a possibilidade de traçar limites, de operar com categoriasanalíticas, de estabelecer critérios de pertinência. O paradoxo do argumento é queele postula a existência e a necessidade do “exato”, transformando-o em regra,para em seguida negar sua possibilidade.

29. A esse respeito, vide Moreno, 2005c. A questão também é abordada – comenfoque ligeiramente diferente – por Bento Prado Jr. (2003, 2004), quando discuteo conceito de erro categorial e lembra que, para Wittgenstein, os conceitos têmfronteiras “porosas e fluídas” (cf. 2004: 100).

30. Como lembra Bento Prado Jr. (2004: 80), “Wittgenstein dizia que era precisoler seus textos muito devagar”. Cf. Vermischte Bemerkungen: “Meine Sätze sindalle langsam zu lesen” (Minhas proposições são todas para leitura devagar.Wittgenstein, 1984b: 57). Eu acrescentaria: devagar, e sem procurar reduzi-las àtradição filosófica (cf. nota 6, acima), tendo sempre em mente o caráter terapêuticoe o estilo dialógico da obra madura do filósofo – diante dos quais o leitor menos

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avisado pode tomar o argumento do interlocutor a ser questionado como sendo oponto de vista do próprio terapeuta das confusões conceituais.

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