A HIPERMODERNIDADE E A HIPEREVANGELIZAÇÃO
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1 INTRODUO
O Humanismo renascentista comeou no sculo XIV. A grande ideia deste
movimento cultural foi mudana do eixo de como os homens explicavam o mundoe a vida, isto , a passagem do teocentrismo para o antropocentrismo. Antes a
sociedade baseava a sua cultura na f, fundados na Bblia, agora os valores eram
fundamentados na razo, a melhor maneira de o homem viver bem tentar
descobrir, com fora de sua razo, todos os segredos da natureza, para poder
domin-la e coloc-la a servio do homem. (LARA, 1986 p. 27).
No Renascimento, a Igreja Catlica comeou a perder poder e a civilizao
procurou organizar-se a partir do homem. Sendo assim, o homem se liberta e passa
a buscar valores novos como: individualidade, criatividade e liberdade. Com toda
essa quebra de paradigmas, fica mais evidente a Reforma do Humanismo. LARA
(1986). O individualismo , portanto, a marca mais importante do Renascimento. Tal
avano nesta poca proporcionou ao ser humano a liberdade na esfera pblica e na
privada, ou seja, a autonomia do ser humano e o reconhecimento de sua liberdade
religiosa. (FALCON, 2000 p.28). Para Falcon, o Renascimento tem duas
caractersticas importantes para o entendimento terico: a secularizao nos
diversos setores da vida social, mas, ressalta principalmente a autonomia do setor
pblico.
A Igreja Catlica comeou a perder poder, tambm, numa outra esfera,
naquilo que ficou conhecido com a reforma protestante. Nesta mesma poca, no ano
de 1483, na cidade de Eisleben na Turngia, nascia Martinho Lutero, anos mais tarde
conhecido como o reformador da Alemanha.
Em 1513, o papa Leo X decretou a venda de indulgncias, que
assegurariam o perdo dos pecados de uma pessoa em troca de uma quantia em
dinheiro, para a construo da baslica de So Pedro, em Roma. (SAUSSURE,
2003 p, 33). Lutero no aceitava esta postura da Igreja, pois entendia que a
salvao era obtida pela f, e as indulgncias vendidas pelo papa no tinham
qualquer valor. Ao contrrio do monge Tetzel, Lutero incitava os cristos a darem
dinheiro aos pobres, em vez de empreg-lo na compra de indulgncias.
(SAUSSURE, 2003 p.36)
Boisset se atenta s mudanas que a reforma protestante props aopensamento religioso e a separao que ocorreu a partir das 95 teses: era Martinho
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Lutero quem procurava e quem encontrou um Deus misericordioso, ele afirma e
proclama o ensino a todos que, obscuro ou claramente, buscam o mesmo Deus
(BOISSET, 1971 p.19).
Desacreditado pela forma com que a Igreja explicava os ensinamentos
bblicos, Lutero buscava uma compreenso fidedigna dos livros sagrados. Sendo
assim o reformador afirma que a salvao no depende de um pagamento, Boisset
explica que a essncia da igreja consiste nas relaes imediatas dos fiis com o seu
chefe invisvel, o Cristo. A partir deste contexto observamos o indivduo sendo
conduzido para uma nova fase religiosa, o da individualidade e liberdade. Sua
relao com Deus, a partir de agora, no precisa mais de figura do padre confessor.
Ele est livre para se relacionar com Deus de acordo com sua f,Alm da Reforma Protestante, outro ponto importante, na sequncia
histrica, foi o Racionalismo que, tendo comeado com Ren Descartes (penso, logo
existo), abriu o caminho do homem para o Iluminismo. O mundo j est em plena
era moderna. Para Russel, o Iluminismo foi uma revalorizao da atividade
intelectual, que contribui e muito para a revoluo francesa de 1789. (RUSSEL,
2001 p. 332).
A ideia inicial do pensamento iluminista era de dessacralizar o conhecimentohumano, para alavancar a emancipao humana, os pensadores da poca
acreditavam que dominando a cincia, respectivamente eles poderiam controlar a
natureza, a razo foi uma das suas caractersticas tambm, o pensamento racional e
a cincia, libertariam o ser humano das irracionalidades do mito, da religio e da
superstio. (HARVEY, 2008).
Para Burns a Filosofia iluminista exclua todo pensamento que extrapolasse
a razo, assim os iluministas segundo o autor exclua a existncia de um Deuscaprichoso, que pudesse intervir, atravs de milagres (BURNS, 2008, p.466). A
partir do sculo XVII, a cincia se tornou uma atividade internacional em que, a
revoluo intelectual celebrou o triunfo no s da razo como tambm da cincia
(BURNS, 2008 p.466).
Na introduo do livro As consequncias da Modernidade Anthonny
Giddens, aborda uma anlise institucional da modernidade com nfase cultural e
epistemolgica, afastando-se da maior parte das abordagens normalmente
realizadas. Nas palavras de Giddens, modernidade refere-se a estilo, costume de
vida ou organizao social que emergiram na Europa a partir do sculo XVII, e que
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ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influncia (GIDDENS,
1991, p.11).
A modernidade destruiu a religio nica e os seus rituais, tabus e discurso
metafsico. Neste perodo, vemos que os princpios do Iluminismo so cultuados
pelo homem. Com a Revoluo Industrial, a cincia, o capitalismo e a tcnica o
homem se afastou ainda mais de um Deus que, aos olhos da Igreja Catlica,
reprovava esse comportamento libertrio. A Reforma Protestante; porm,
preencher esta lacuna, ao legitimar o enriquecimento individual.
O resultado desse processo que a modernidade avanou
significativamente no seu pluralismo ideolgico, na abrangncia da educao, e na
emancipao da cincia, mas, tambm, significou racionalismo, individualismo,humanismo e secularismo. Ou seja, a religio totalitria no tinha mais espao nesta
sociedade.
Neste captulo sero abordados os fenmenos e as consequncias da
Modernidade na religio, os autores abordados neste captulo so, Anthony
Giddens, Ulrich Beck, Scott Lash, David Harvey, Falcon, Marshall Berman, Barnard,
Gilles Lipovetsky e Jean-Marie Domenach, entre outros.
A Ps-Modernidade estudada no captulo 5 e traz a volta da religio, noseu aspecto do consumismo e o misticismo. Lipovetsky aborda as novas utopias
desta poca, dentre elas expanso do consumo e da comunicao de massa
(2004, p.45).
O campo religioso segundo Odmio Ferrari entra em ebulio, as religies
se multiplicam e as caractersticas so as mais variveis possveis, o atesmo e a
converso esto em alta, fazendo juz a poca de paradoxos no qual afirma o autor,
nesta ebulio religiosa ps-moderna o conservadorismo doutrinal, dogmtico eritual tem lugar garantido (FERRARI, 2007, p.36).
Paulo Gracino Junior e Barbieri Junior observam o avano dos
neopentecostais e, principalmente, o crescimento da Igreja Universal e de suas
caractersticas afirmando que a segunda metade do sculo XX foi caracterizada por
grandes transformaes o que criou condies de mudana no campo religioso
(BARBIERI JUNIOR, 2007, p.15).
O captulo 6 traz o conceito de Hipermodernidade com Gilles Lipovetsy. A
religio um tema, ao qual, inmeros pesquisadores de diferentes reas, tm
dedicado cada vez mais ateno. O principal autor deste trabalho faz uma
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observao importante para a realizao do seu entendimento, o autor comenta que
em tempos de crise, cresce tambm a necessidade de unidade e segurana, sendo
a nova chance das religies se aproximarem das pessoas.
Diferente de alguns autores, Gilles Lipovetsky alega que a
Hipermodernidade se caracteriza pela cultura do excesso que prega a moderao. O
objetivo ao trazer este autor ser analisar quais so essas caractersticas e como
elas se encaixam no campo da religio.
Deste modo, a proposta do presente trabalho , para alm da modernidade,
buscar um dilogo entre autores que estudam o tema da religio e do capitalismo
contemporneos como Gilles Lipovetsky, Zygmunt Bauman, Odmio Antonio Ferrari,
Urbano Zilles, Mariano Campos, Walter Barbieri Junior e Jos Francisco CalazansFalcon, entre outros, com o intuito enriquecer o presente trabalho.
A questo que motiva a realizao deste trabalho e, portanto, o problema da
pesquisa : como a Igreja Universal ostenta e trabalha os smbolos da
hipermodernidade? Que smbolos so estes? E como ela prega a sua mensagem de
felicidade e prosperidade para a sociedade atual?
O captulo 7 aborda a histria da Igreja Universal do Reino de Deus e como
esta instituio religiosa se organiza na obteno do lucro atravs da doao'voluntria' de seus fiis. Nesta parte do trabalho os principais autores utilizados so:
Ricardo Mariano, Douglas Tavolaro, Odmio Ferrari e Edir Macedo.
O captulo 8 conceitua a Igreja Universal dentro das proposies da
Hipermodernidade. A inteno tentar observar se a igreja se encaixa neste
conceito criado pelo autor Lipovetsky. Os autores principais neste captulo so:
Gilles Lipovetsky, Mariano Campos, Philip Kotler, Barbieri Junior entre outros.
O captulo 9 aborda a metodologia utilizada neste trabalho. O trabalho seconcentra na reviso bibliogrfica das obras, na pesquisa exploratria com a anlise
de discursos dos cultos da Igreja Universal do Reino de Deus e na anlise
etnogrfica.
O captulo 10 destinado ao estudo do objeto propriamente dito, ou seja, da
anlise do discurso. Neste captulo so identificadas as tcnicas discursivas
utilizadas pelos lderes religiosos nos cultos da IURD na construo da aceitao
dos fiis em doar tendo como recompensa o retorno financeiro.
O ltimo captulo apresenta a concluso do trabalho, colocando os objetivos
alcanados com a pesquisa.
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2 PR-MODERNIDADE
2.1 HUMANISMO E RENASCIMENTO
Antes de iniciarmos o exame crtico, necessrio que faamos uma
insero na histria a fim de captarmos a raiz histrica que trouxe a religio, esfera
do sagrado, aos domnios do capitalismo, esfera do profano. Na Idade Mdia,
apenas uma Igrejaa Catlicaestabelecia o que era certo e o que era errado em
termos de conduta pessoal. Pensamento crtico, escolhas polticas estava fora do
alcance individual. Esse poder quase que absoluto se inicia no ano de 391,
quando a religio crist foi transformada em religio oficial do Imprio Romano. A
partir da e em todo o curso do perodo medieval se organizou de tal forma a ponto
de ser considerada, at hoje, a maior instituio religiosa do mundo. Esse poder no
se restringia apenas ao campo religioso; a Igreja possua muitas terras, o que lhe
conferia poder econmico, interferia na elaborao das leis (poder poltico e
jurdico), estabelecia padres de comportamento moral para a sociedade (poder
social) e, no caso das Cruzadas, a responsabilidade de comandar exrcitos (poder
militar).
Por se considerar nica, a Igreja Catlica no permitia questionamento aos
seus dogmas e reagia com violncia queles que os contestavam. O Tribunal do
Santo Ofcio a Inquisio foi criado para combater os hereges. A tortura
configurou-se uma prtica comum. Por outro lado, a prpria Igreja, atravs de alguns
monges que se dedicaram a copiar (monges copistas) e guardar os conhecimentos
das sociedades antigas principalmente a grega permitiu a retomada de alguns
fundamentos filosficos do passado. o incio da poca conhecida como
Renascimento.
O Humanismo, o Renascentismo e, mais tarde, o Racionalismo vo abalar
profundamente as convices da Igreja, bem como suas crenas no sobrenatural. A
Filosofia e a Teologia nesta poca colocavam Deus acima de todas as coisas.
Acreditava-se no pressuposto de que a razo humana pode descobrir muita coisa,
mas existem verdades supremas que a razo no chega a conhecer. Estas, Deus as
revelou. Esto na Bblia (LARA, 1986 p.25).
Dessa maneira, a religio exerceu um valor central para a cultura medieval,em que Deus o cidado nmero um dessa sociedade, mas o Deus dos cristos. E
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por isso que muulmano e judeu nela no tm vez (LARA, 1986 p.25). Isto nos
permite comparar, hoje, os fundamentalistas islmicos com o pensamento da Igreja
naquela poca. Mas, as estruturas sociais em profunda mudana, a partir do
Renascimento vo colocar em evidncia uma nova classe social. Lara complementa
que a partir do sculo XV, a burguesia, dona do capital mvel e do comrcio em
geral, luta para ascender ao poder poltico.
Esta luta perdurou durante trs sculos e desencadeou em uma srie de
mudanas de pensamentos ao longo desse tempo. A principal delas foi tratar a
Razo como uma nova forma de pensar e de descobrir a verdade. Os historiadores
veem no Humanismo o agente das mudanas sociais e ideolgicas. No sculo XVI,
so muitas as pessoas cultas que renunciando s verdades reveladas direcionamsuas vidas pelas vias da Razo. Este tambm o cenrio favorvel s Reformas
Protestantes, sinais considerados perigosos dos novos tempos que esto a
amadurecer.
Este novo conceito se define posteriormente na mudana de centro, do
Teocentrismo para o Antropocentrismo. De acordo com (LARA, 1986 p. 27) a partir
da, toda a cultura se estrutura e toda civilizao se organiza. Ou seja, o homem
liberta-se, renova-se; a partir de ento, ser o senhor do seu prprio destino. Comessa nova mentalidade, o homem comea a construir seus prprios valores e uma
nova filosofia de vida, voltado para o individualismo, liberdade e enriquecimento.
Enriquecimento que, vale observar, durante a Idade Mdia, no era visto com bons
olhos pela Igreja. neste momento que a relao do homem com o dinheiro o
comea a mudar.
2.2 MARTINHO LUTERO E A REFORMA PROTESTANTEPara os propsitos deste TCC, os acontecimentos acima narrados s ganham
sentido se compreendidos paralelamente ao contexto da revoluo que ocorreu no
seio da Igreja Catlica e que ficou conhecido como Reforma Protestante. Martinho
Lutero, o precursor do movimento se indignou, dentre outras coisas com a venda de
indulgncias, um decreto de Leo X, que assegurariam a salvao da alma pelo
perdo dos pecados.
O monge Joo Tetzel era o encarregado da arrecadao e viajava at as vilaslevando uma caixa destinada ao recebimento de dinheiro. Nas vilas, as filas para as
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confisses rapidamente se esvaneciam, pois o que interessava era a arrecadao.
Lutero no aceitava o fato de que, em troca de dinheiro, algum teria a sua alma
livre do purgatrio e, quem no pagasse seria excomungado, ou seja, a
excomunho implicaria do banimento do crente ou sanes como forma de punio
da comunidade religiosa.
Lutero no aceitava esta postura da Igreja, pois entendia que a salvao era
obtida pela f, e as indulgncias vendidas pelo papa no tinham qualquer valor e, ao
contrrio de Tetzel, Lutero incitava os cristos a darem dinheiro aos pobres, em vez
de empreg-lo na compra de indulgncias. (SAUSSURE, 2003 p.36). E assim foi
que na noite de 31 de outubro de 1517, Lutero comeava a revoluo que
provocaria uma ciso irreversvel, ao afixar na porta da catedral de Wittenberg, as 95teses contra as indulgncias da Igreja.
As teses afixadas na porta da igreja se espalharam rapidamente fazendo
Roma estremecer. De acordo com Saussure, Lutero no pensava em reformar a
Igreja ou ir contra Roma, simplesmente ele como pastor acreditava que as ovelhas
do seu rebanho estavam indo para um mau caminho, pela primeira vez a doutrina
evanglica da remisso gratuita dos pecados foi proclamada publicamente
(SAUSSURE, 2003, p.38). De volta a Wittenberg, Lutero publicou suas resoluessobre as suas teses. Num desses tratados, declarava-se que o crente poderia obter
o perdo de Deus, sem a participao do padre confessor, esse assunto seria agora
de foro individual, entre Deus e o fiel, apenas. Lutero torna, assim, o pecador mais
buscando o perdo para seus pecados e a salvao da alma pela de Deus.
No ano de (1520), Lutero publicou mais de cem volumes sobre as suas
explicaes bblicas; sua ttica foi entregar aos colportores que vendiam de cidade
em cidade para conseguir dinheiro. Lutero fez vrias crticas igreja, sendo umacom relao ao celibato, ou seja, os padres e at mesmo o papa eram livres para
casar. Lutero tambm queria transformar as instituies monsticas e os conventos
em escolas crists, bem como abolir os jejuns, as romarias e as numerosas festas
dedicadas aos santos. (SAUSSURE, 2003 p.57)
Boisset se atenta s mudanas que a reforma protestante props ao
pensamento religioso e a separao que ocorreu a partir das 95 teses, era Martinho
Lutero quem procurava e quem encontrou um Deus misericordioso, ele afirma e
proclama o ensino a todos que, obscuro ou claramente, buscam o mesmo Deus
(BOISSET, 1971 p.19).
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Foram tantas as mudanas que j no era mais possvel uma conciliao
entre Lutero e a Igreja. A partir de julho do ano 1520, a Igreja de Roma comea a
contest-lo com mais veemncia, e a acusao agora era gravssima: Lutero estava
sendo acusado por heresia, e uma bula de excomunho estava sendo enviada para
alertar o telogo. Em resposta, a bula papal, Lutero, no dia 10 de dezembro de 1520,
anunciou que no dia seguinte, os decretos do papa seriam todos queimados
publicamente (SAUSSURE, 2003 p.61).
Este ato de coragem contra Roma foi encarado como uma afronta ao poder
papal e, no dia 5 de janeiro de 1521, de acordo com Saussure, uma segunda bula
papal foi assinada acusando-o de herege e expulsando-o, definitivamente, da Igreja
Catlica. As mudanas que a reforma protestante props ao pensamento religioso ea separao que a Igreja sofreu a partir das 95 teses ocorreram, principalmente,
como mostra Lutero, uma compreenso mais fidedigna dos livros sagrados e que
estes, deveriam ser lidos por todas as pessoas. Lutero mesmo, alm de incumbir-se
da traduo da bblia propunha, ainda, que esta deveria ser livremente interpretada.
A salvao, no dependendo mais de um pagamento coloca-se nas mos do
indivduo. A partir deste contexto observa-se, claramente, o indivduo surgindo e
inserido-se em um novo tempo, com liberdade de discernimento e de escolha.Lutero, por assim dizer, conduziu-o para uma nova fase religiosa, o da
individualidade e liberdade. Caiu o dogma da verdade nica.
Mesmo em meio a desacertos, Lutero se organizou e a reforma protestante
ganhou parte da Europa. Outros reformadores ao longo do tempo foram aparecendo
e construindo as suas igrejas e se manifestando de acordo com as suas
interpretaes bblicas. Em seu livro Tempos Modernos Falcon visa entender os
acontecimentos precursores da Reforma. Para este autor Lutero irrelevante e suaatitude foi apenas um estopim de algo que j estava para acontecer. Outro autor que
tenta compreender e desmitificar a origem da Reforma Lucien Febvre. Junto com
Falcon tenta elucidar e reforar a posio de alguns historiadores vendo os
reformadores como lderes, mais conduzidos pelos acontecimentos que, de fato, seu
condutor. (2000 p.42).
Por detrs das suas contestaes e afirmaes de 1517, Lutero entregava-
se inteiro, de corpo e alma. Apresentava um homem, a que nada nestemundo faria recuar, porque no corao deste homem, um Deus, o seuDeus, vivia sensvel e tangvel em cada momento: um Deus, de que extraa
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fora confessando-lhe, confiando-lhe por assim dizer a sua fraqueza e a suamisria (FEBVRE, 1976, p.89-90).
No mesmo sculo XVI surgem os movimentos da Contra- Reforma onde negar a
religio oficial da Coroa era crime de lesa-majestade e pecado mortal. As tentativasde retrocesso do ideal humanista tornam-se batalhas acirradas pelo monoplio
doutrinrio. O advento da imprensa e os estudos filolgicos e lingusticos
inaugurados pelos sbios humanistas converteram nas grandes armas dessas
batalhas cujo campo de combate eram as sagradas escrituras (FALCON, 2000
p.45).
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3 MODERNIDADE
3.1 O RACIONALISMO
Para o nosso entendimento terico, o Renascimento deve ser visto a partir de
duas caractersticas importantes: a secularizao nos diversos setores da vida
social, mas, principalmente a secularizao da esfera pblica. Mas, dois outros
marcos importantes para o entendimento em questo esto por vir. Um deles o
Racionalismo que vai pavimentar o caminho para a Revoluo Industrial, fenmeno
que deu incio a uma etapa de acumulao em carter permanente e sistemtico e
sem precedente, e o Iluminismo, uma nova forma de pensar que abalou as
pretenses tericas e prticas da Igreja de dominao do supranatural. O Iluminismolibertou a Razo de sua condio de serva da Teologia e proclamou sua autonomia.
No campo da razo, o sculo XVII, teve importantes filsofos, como (Descartes,
Spinoza e Leibniz).
Apesar da funo demolidora e construtiva que exerceu na histria do
pensamento, o Racionalismo no conseguiu como veremos adiante, construir uma
sociedade harmoniosa e humanista, organizada como corpo poltico, pois acabou
cometendo muitos dos erros que pretendia combater em nome da cincia e dohomem. Diferente de alguns autores do perodo racionalista, Ren Descartes,
considerado o pai do racionalismo moderno, propunha encontrar uma
fundamentao terica para uma ordem scio-poltica que no descambasse no
atesmo (LARA 1986 p.35). Nesta poca a Europa estava dividida e ntre
protestantes e catlicos que brigavam para obter a hegemonia. O livro com o qual
revolucionou o pensamento ocidental o Discurso do Mtodo, e, nele, Descartes
explica por que sua Filosofia se preocupa em provar a existncia de Deus e da alma.Para isso ele afirma, segundo Lara que nem a f, nem a tradio nem mesmo o
conhecimento sensvel, so dignos do crdito absoluto (LARA 1986 p.36).
Com esta linha de pensamento, Descartes acredita que Deus no permite que
uma ideia perfeita nos engane, ou seja, se fruto da nossa inteligncia, perfeita
assim como Deus. J, a filosofia iluminista exclua todo pensamento que
extrapolasse a razo, assim, segundo o autor exclua a existncia de um Deus
caprichoso, que pudesse intervir, atravs de milagres (BURNS, 2008 p.466).
Citamos Descartes como exemplo do pendor religioso da poca que, alm de ser
total aos homens comuns, era crucial aos pensadores. o fenmeno do homo
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religiosus, ao qual a sociologia se refere, como sendo o sentimento de sacralidade
existente desde o homem primitivo e que ainda permanece, como se houvesse um
sagrado intrnseco ao nvel de uma natureza humana, mesmo naqueles que o
renunciaram.
3.2 O ILUMINISMO
Iniciado no sculo XVIII, o Iluminismo foi o perodo em que a Razo ganha
notria projeo. O Iluminismo configurou, por assim dizer, o apogeu da razo.
Vrios pensadores destacaram-se nessa poca, dentre os quais, os filsofos
Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Locke e Kant. Se, para Descartes a razo era
mais voltada o pensamento crtico sem, contudo, abandonar a metafsica para os
iluministas a razo alguma coisa ao mesmo tempo mais modesta e tambm mais
ambiciosa do que era para os grandes filsofos do sculo anterior.(FALCON, 1986
p. 36) A razo, nesta poca iluminista, se diferencia como crtica impiedosa dessa
cidade de Deus, para em seu lugar edificarem a cidades dos homens. (FALCON,
1986 p. 38)
O filsofo alemo Emanuel Kant declarava que era preciso o homem usar a
razo, pois atravs dela conheceria a realidade e ficaria livre das trevas da
ignorncia. John Locke, pensador ingls, criticava o direito divino dos reis e defendia
a separao da Igreja do Estado, isto , a ideia de um estado laico. De um modo
geral, os pensadores iluministas questionaram o poder absoluto, a escravido e o
colonialismo, sujeitando estas questes ao exame crtico e estabelecendo que as
desigualdades so criadas pelo prprio homem e no por Deus.
Desde Plato, a luz a metfora da razo. A luz, que j era citada por Plato,
na clssica alegoria da Caverna, foi adotada pelo movimento Iluminista no qual
permanece sua funo: tirar o homem das trevas. De acordo com o telogo e
filsofo Urban Zilles, foi a partir do sculo XVIII, que essa luz alcanou a sua
plenitude. Pases como Inglaterra, Itlia, Frana e Alemanha foram alguns dos
principais pases a aderir cincia moderna. Urbano complementa que existia uma
confiana ilimitada na razo humana e no seu poder ilimitado para libertar o
pensamento de preconceitos (ZILLES, 1993 p.13).
Lara (1993 p.13) enfatiza que o pensamento iluminista entendia que o divino e
o supersticioso eram vistos como algo que levava o homem para a ignorncia. Noauge de uma poca em que a religio foi fortemente criticada, Voltaire esbravejava:
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esmagai a infame, referindo-se Igreja Catlica. Voltaire era um grande crtico da
tradio religiosa e inclusive de Deus. Sendo uma das principais figuras do
Iluminismo, a sua posio contra o fanatismo cristo, acabou se tornando, tambm,
uma obsesso fantica pelo filsofo.
Nos primrdios da Revoluo Cientfica, Falco (1986) aborda as dificuldades
de quem descobria algo novo, tinha com a Igreja Catlica. Esse tempo foi chamado
de obscurantismo da Igreja e o mecanismo de resistncia cincia e ao
protestantismo se apoiava no Direito Cannico usado pela Santa Inquisio. Nesta
poca a cincia era vista pela igreja como um mistura de bruxaria e alquimia e era
contra isso que Voltaire bradava seu discurso.
Mas, como desejava Descartes, o homem no perde sua ligao com ametafsica religiosa. Mesmo com o avano cada vez mais notrio do pensamento
racional e da cincia o Iluminismo, mesmo, com exceo de alguns mais radicais,
constri uma filosofia religiosa mais racional e natural, tambm chamada de Desta.
Neste sentido, Zilles avalia que o desmo iluminista significa crenas naturais e
deveres naturais ao nosso tempo, so racionais, leigos e independentes da
Revelao, como a tolerncia liberdade, etc. Tudo isso leva ao paradoxo que, de
um lado, o racionalismo iluminista conduz crena, e de outro, incredulidade(ZILLES, 1986 p.19).
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4 A MODERNIDADE A PARTIR DO SCULO XX
Mas a mstica de superioridade que se criou no homem, nesta altura dos
acontecimentos, era um caminho sem volta. Discutiremos mais adiante algumas
distores do projeto racional iluminista e apresentaremos os perigos que o
progresso trouxe ao homem, tais como a luta de classes advindas dos interesses
burgueses, as guerras ideolgicas que se converteram em guerras concretas,
invenes como arma de destruio em massa. Os interesses do capitalismo
estavam acima das relaes humanas. O projeto do humanismo e do iluminismo de
salvao da humanidade por meio da crtica e da cincia deixou em evidncia que
conceitos como guerra e patriotismo e a ideia de paz universal no passavam deideias utpicas e cedeu lugar ao pesadelo da destruio da humanidade por essa
mesma cincia (FALCON, 1986 p, 8).Isto se torna preocupante quando a ideia de
ptria evolui no sentido de militarismo, como podemos observar os ocorridos dos
sculos seguintes, onde tivemos grandes guerras, a cujos contextos esto atrelados
historicamente o nascimento do cidado, pice da Revoluo Francesa no fim do
sculo XVIII e o nascimento do operrio, figura revolucionria que marcou o sculo
XIX em todo o mundo.Falcon aborda em seu livro "Iluminismo", aborda o contexto social que
configurava este movimento. Tratava-se de um movimento de classe mdia. O
Iluminismo tinha um carter burgus. Sua ideologia e seus "intelectuais formam uma
confraria dividida em diversas seitas (FALCON, 1986 p, 26). Falcon acredita que os
iluministas burgueses no eram defensores da humanidade e sim de seus
interesses sociais.
Diante deste cenrio, Falcon observa o objetivo dos iluministas que segundoele era de divulgar, centralizar um programa baseado na crtica racional e nos
princpios que possibilitam libertar o homem da era do preconceito para uma nova
sociedade (FALCON, 1986 p, 38). Para Falcon os aspectos iluministas de guerra e
patriotismo, e de uma ideia de paz universal era uma proposta utpica. Segundo ele,
a utopia da salvao da humanidade por meio da cincia cedeu lugar ao pesadelo
da destruio da humanidade por essa mesma cincia (FALCON, 1986 p, 8).
cabvel lembrar que o final do sculo XVIII foi marcado por duas grandes
mudanas na sociedade humana. Os fenmenos sociais e suas respectivas
mudanas so, por excelncia, a caracterizaes da Modernidade, cujas
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consequncias reverberam at os dias de hoje. As transformaes atingiram todas
as reas possveis: polticas, sociais, econmicas, religiosas. Para o socilogo
Anthony Giddens, a modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou
organizao social que emergiram na Europa a partir do sculo XVII, que se
tornaram mais ou menos mundiais. (1991 p.11).
No seu ltimo livro chamado Modernidade e Identidade, o autor aborda a
Modernidade referindo-se s instituies e modos de comportamento estabelecidos
pela primeira vez na Europa depois do feudalismo, mas que no sculo XX se
tornaram mundiais em seu impacto. (GIDDENS, 2002). Giddens acredita que no
passamos ainda para o perodo ps-moderno, para o autor os traos que separam
este dois perodos ainda no so claros ao bastante para poder fazer tal afirmao.O sculo XX viu as instituies se desenvolverem em escala mundial, o
progresso e o industrialismo eram evidentes, mas esse perodo marcado por
diversos paradoxos. O sculo XX conheceu o lado sombrio da Modernidade.
(GIDDENS, 1991 p.16). O progresso do mundo moderno trouxe consequncias, e o
seu lado negro estava ligado questo de uma potente fora destrutiva em relao
ao meio ambiente.
Para Giddens o processo de modernizao se inclui em quatro grandesgrupos, sendo eles o poder administrativo, o poder militar, o capitalismo e, por
ltimo, a industrializao. No aspecto militar, tanto Giddens como David Harvey,
apontam os conflitos militares e a guerra mundial como o lado obscuro da
Modernidade. A Modernidade no estava dando conta de seu projeto emancipatrio.
Harvey concorda e completa.
O sculo XX com seus campos de concentrao e esquadres da morte,
seu militarismo e duas guerras mundiais, sua ameaa de aniquilaonuclear e sua experincia de Hiroshima e Nagasaki certamente deitou porterra esse otimismo. (HARVEY, 2008 p.23)
O progresso e a guerra so o exemplo do paradoxo na Modernidade. O livro
de Harvey tem seu formato pensado de maneira a oferecer uma crtica dialtica do
que apresentado como condio ps-moderna.
Na sua primeira tentativa de definir a Modernidade o autor apresenta o
pensamento de Baudelaire em que "a modernidade o transitrio, o fugidio, o
contingente, uma metade da arte, sendo a outra o eterno e o mutvel." (HARVEY
apud BAUDELAIRE, 1883 p.21).
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De acordo com Harvey, a vida moderna est permeada pelo sentido de
efmero e fragmentrio, a modernidade no pode sequer respeitar o seu prprio
passado (2011, p, 22). O autor traz discusso a histria do termo moderno e
modernidade, que segundo ele entrou em discusso a partir do sculo XVIII,
segundo o autor, esse projeto equivalia a um extraordinrio esforo intelectual dos
pensadores iluministas para desenvolver a cincia objetiva, a moralidade e a lei
universais e a arte autnoma nos termos da prpria lgica interna destas.
(HARVEY, 2011, p. 22).
Anthony Giddens, Ulrich Beck e Scott Lash, abordam no livro Modernizao
Reflexiva a transio da modernidade para a ps-modernidade e coloca a tradio
como fundamental nos discursos. Para esses autores a modernidade se reinventou.O mundo atual j no se configura essencialmente com base na sociedade industrial
e de racionalidade cientfica, ambas as caractersticas da modernidade.
Segundo os autores, a crise da tradio e da modernidade abre espao para
a modernidade atual. Para Giddens (1991) a modernidade no acabou e o que est
acontecendo uma radicalizao, segundo o autor da prpria modernidade.
O que os outros chamam de ps-moderno para mim a radicalizao da
modernidade no sentido em que vimos falando. Os princpios dinmicos damodernidade ainda esto a: a expanso do capitalismo, os efeitostransformadores da cincia e da tecnologia, a expanso da democracia demassa. Por isso prefiro falar de modernizao reflexiva, em vez de ps-modernidade. S existe modernidade e s podemos refletir sobre amodernidade atravs da modernidade; isto , atravs, tambm, da cincia eda tecnologia. No se pode escapar da cincia e da tecnologia senoatravs da cincia e da tecnologia (Giddens e Pierson, 2000, pgs. 87-88).
Para Beck, a modernizao reflexiva significa a possibilidade de uma (auto)
destruio criativa para toda uma era: aquela da sociedade industrial. O sujeito
dessa destruio criativa no a revoluo, no a crise, mas a vitria da
modernizao ocidental. (1997 p.12).
Neste contexto, a sociedade moderna aponta a fragilidade da sociedade
industrial. Para Beck, a sociedade industrial comea a fracassar quando a
industrializao no atende a sociedade, abrindo ento espao para uma nova
modernidade.
Supe-se que a modernizao reflexiva signifique que uma mudana dasociedade industrial ocorrida sub-repticiamente e sem planejamento noincio de uma modernizao norma, autnoma, e com uma ordem poltica eeconmica inalterada e intacta implica a radicalizao da modernidade,
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que vai invadir as premissas e os controles da sociedade industrial e abrircaminhos para outra modernidade. (BECK, 1997 p.13).
De acordo com o autor, a sociedade moderna est num novo estgio que est
acabando com suas formaes de classe, camadas sociais, ocupao, papis dossexos, famlia nuclear, agricultura e setores empresariais (BECK, 1997 p.12).
Numa viso um pouco diferente, Lash traz a ideia de que a modernidade
reflexiva mais abrangente. Ele critica a modernidade reflexiva principalmente no
que se refere ao conceitual. Giddens e Beck compartilham a ideia que a sociedade
de risco caracteriza a sociedade atual, baseada nas estruturas e instituies.
Segundo Lash os indivduos saem de uma estrutura de sociedade industrial para
uma nova estrutura, sendo a reflexiva.
Se modernizao simples nos fornece o cenrio de atomizao,normalizao e individuao de Foucault, ento a contrapartida reflexivasobre uma individualizao genuna, abre possibilidades de subjetividadeautnoma em relao a seus ambientes naturais, sociais e psquicos.Entretanto, como adverte Giddens, at a modernidade reflexiva umadevoo cega, pois as consequncias da reflexividade podemdesavisadamente resultar em novas inseguranas, em novas formas desubjugao (Lash, 1997, p. 139).
Neste sentido as sociedades modernas no so modernas porque amodernidade reflexiva vem depois da modernidade simples, e que segundo o autor
isto s ocorre pelo processo de individualizao.
Neste contexto, a questo que este estgio simples e inicial damodernidade no apenas moderno pela metade, mas pela metademoderna, e at sua coletividade fundamentada na atomizao e naindividualizao. essa individualizao maior na segunda fase a fasereflexiva da modernidade que libertou os indivduos tambm dessasestruturas coletivas e abstratas, tais como classe, nao, famlia, nuclear e
crena incondicional na validade da cincia. (Lash, 1997, p. 141).
Portanto, o autor acredita que s se pode atingir a modernidade reflexiva,
aps o mundo passar por essas crises.
Para Falcon, o conceito de modernidade recorre primeiro, chamada Idade
Moderna, visto que a modernidade mergulha suas razes na cultura ocidental
europeia dos sculos XVII at o sculo XX.
Em busca da histria da modernidade nos conduz disputa entre antigose modernos, no sculo XVII, autoconscincia da ilustrao, no sculoXVIII, e, sobretudo, ao impacto da Revoluo Francesa principalmente(2000, p.223).
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Ainda segundo o autor, a partir desse processo histrico e cronolgico que
corresponde a Idade Moderna dos historiadores, assim a Modernidade passa a
existir como conhecemos por intermdio de um Discurso Filosfico prprio.
(FALCON, 2000, p.223).A modernidade segundo o autor comprometida com a
utopia do progresso e ideologia, sendo que a modernidade antes de tudo um fato
e, para os que se percebem nela inseridos, ela significa a rpida compreenso dos
espaos de experincia. (FALCON, 2000).
A autoconscincia da modernidade se manifesta sob diversas maneiras.
Falcon menciona seis importantes categorias que a forma: "secularizao, crtica e
crise, progresso, revoluo, emancipao e liberdade e desenvolvimento (FALCON,
2000 p.231).Marshall Berman em seu livro Tudo o que slido se desmancha no ar,
descreve a experincia da modernidade por uma frase de Marx:
Existe uma forma de experincia vitalexperincias de espao e de tempo,de si prprio e dos outros, das possibilidades e dos perigos da vida partilhada, hoje em dia, por homens e mulheres de todo mundo. Designareiesse conjunto de experincias como modernidade. Ser moderno encontrar-se num ambiente que promete aventura, poder, alegria,crescimento, autotransformao e transformao das coisas ao redor, masao mesmo tempo ameaa destruir tudo que temos, que conhecemos e quesomos. A experincia ambiental da modernidade anula todas as fronteirasgeogrficas e raciais, de religio e de ideologia: nesse sentido pode-se dizerque a modernidade une a espcie humana. Porm, uma unidadeparadoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos numturbilho de ambiguidade e angstia. Ser moderno fazer parte de umuniverso em que, como afirmou Marx, tudo que slido desmancha no ar(1990, p.15).
Segundo Barnard, a modernidade uma configurao social, econmica,
cultural e poltica, relacionada com a cincia e tecnologia (BOYNE, RATTANSI, apudBARNARD, 2003, p.218). Barnard discorre sobre a questo temporal em relao
modernidade.
A modernidade funcionava enquadrada ou entravada por todo um conjuntode contrapesos, contra-modelos e contra-valores. O esprito de tradioperdurava em diversos grupos sociais: a diviso dos papis sexuaispermanecia estruturalmente desigual; a igreja conservava forte ascendnciasobre as conscincias; os partidos revolucionrios prometiam outrasociedade, liberta do capitalismo e da luta de classes; o ideal de naolegitimava o sacrifcio supremo dos indivduos; o estado administravanumerosas atividades da vida econmica. No estamos mais naquelemundo. A sociedade que se apresenta aquela na qual as foras de
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oposio modernidade democrtica, liberal e individualista no so maisestruturantes; na qual periclitaram os grandes objetivos alternativos; na quala modernizao no mais encontra resistncias organizacionais eideolgicas de fundo. (LIPOVETSKY, 2004, p.46)
De acordo com o autor, na modernidade percebemos que as influncias que
tnhamos anteriormente acabaram saindo de cena, o Estado, a religio e a famlia,
abrem espao para a sociedade de mercado e para a ambio tcnica. Neste
cenrio, Lipovetsky aborda uma segunda modernidade, que segundo ele
desregulamentadora e globalizada, sem contrrios, absolutamente moderna (2004.
p.46). Esta modernidade nova que Lipovetsky se refere possui trs axiomas, o
mercado, a eficincia tcnica e o indivduo, ainda segundo o autor, tnhamos uma
modernidade limitada agora, chegado o tempo da modernidade consumada.
(LIPOVETSKI, 2004. p.46)
Jean-Marie Domenach cita trs ciclos que marcam a Modernidade, o primeiro
seria do fim do sculo XVIII, com a Revoluo Francesa. Outro ponto no incio do
sculo XIX, que anuncia a derrocada desses ideais, progresso, racionalidade e
liberalismo, paixes coletivas (fascismo, cristianismo social e socialismo)" e, por
ltimo, nos anos 60 e que ainda, segundo o autor no terminou.
Este autor alerta sobre a dificuldade de definio da palavra moderno, j que
ela est em constante transformao de sentido, pois considerado moderno o
objeto ou o indivduo do qual se diz estar em conformidade com a sua poca.
(DOMENACH 1995 p.21). Ou seja, a modernidade se define pela sua constante
mutao, pela acelerao do tempo, Domenach acrescenta ainda que para a
modernidade nada sagrado e nada deve escapar investigao e s conquistas
da cincia, da arte e da natureza (DOMENACH 1995 p.25).
Definir a modernidade segundo o autor difcil devido a sua recusa aqualquer limitao.
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5 PS-MODERNIDADE
O fim da dcada de 70 foi marcado pelo fracasso das grandes ideologias e o
incio de um novo conceito, a ps-modernidade. A nova utopia tinha a
responsabilidade de dar um novo rumo para as sociedades democrticas, tais como:
fazer uma rpida expanso do consumo e da comunicao de massa,
enfraquecimento das normas autoritrias, consagrao do hedonismo e perda da f
no futuro revolucionrio. (Lipovetsky, 2004, p. 53).
Uma linha de pensamento que questiona as noes clssicas de verdade,razo, identidade e objetividade, a ideia de progresso ou emancipaouniversal, os sistemas nicos, as grandes narrativas ou os fundamentos
definitivos de explicao. Contrariando essas normas do iluminismo, v omundo como contingente, gratuito, diverso, instvel, imprevisvel, um con-junto de culturas ou interpretaes desunificadas gerando certo grau deceticismo em relao objetividade da verdade, da histria e das normas,em relao s idiossincrasias e a coerncia de identidades. (EAGLETON,1998, p. 7)
A percepo do tempo, para o socilogo Bauman, tambm foi muito
importante nesta era ps-moderna. O socilogo compreende que o homem foi
treinado para no se preocupar com as coisas que no sejam o do presente, ou
seja, o foco tirar o pensamento do longnquo e divino, concentrando-se no aqui-
agora, se tornando um indivduo focado para o consumo. (Bauman, 2005).
Em seu livro intitulado, O Ps-Moderno, Lyotard, aborda que o ps-moderno,
caracteriza-se exatamente pela incredulidade perante o metadiscurso filosfico-
metafsico, com suas pretenses atemporais (1986, p.8).
Ao mesmo tempo em que se associou Ps-Modernidade a decadnciadas grandes ideias, valores e instituies ocidentais como Deus, Ser,Razo, Sentido, Verdade, Totalidade, Cincia, Sujeito, Conscincia,Produo, Estado, Revoluo e Famlia, valorizou-se outros temasconsiderados menores ou marginais em filosofia, como Desejo, Loucura,Sexualidade, Linguagem, Poesia, Sociedades Primitivas, Jogo, Cotidiano,enfim, elementos que abrem novas perspectivas para a liberao individual.(MORAES, 2004).
Para Odmio Ferrari a ps-modernidade surgiu na metade do sculo XX.
Suas prticas visavam a resgatar os valores humanos respeitando o indivduo e
suas complexidades. O resgate do valor humano segundo Ferrari (2007, p.32) traz
consigo a valorizao da criatividade, o sentido da velhice, o respeito criana, aodeficiente e ao feminino, ou seja, buscam valorizar os direitos s minorias tnicas
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em suas variadas diferenas sociais. A Modernidade racionalizadora segundo o
autor ignorou tais valores iluministas. A ps-modernidade traz mudanas no mundo
segundo o autor por dois fatores importantes, o mundo ps-segunda guerra mundial
e a guerra fria. Tais acontecimentos foram importantes para o avano tecnolgico.
O despontar vertiginoso de novas tecnologias, permite, pela automao, aproduo massiva em srie, o que vem provocar a necessidade de umcrescente consumo. Nesse perodo, ampliou-se o mecanismo de mercadocapitalista com a fluidez na circulao de mercadorias, ofertas, gerao econcentrao de lucro. (FERRARI, 2007, p.32).
A partir deste novo cenrio, a produo em larga escala cresceu e a
publicidade se consolidou como um brao do capitalismo na criao de demandas e
mudanas comportamentais como o consumismo e o hedonismo.
O avano desta sociedade moderna trouxe alguns problemas para o ser
humano em funo desta racionalidade instrumental e mercadolgica, na crena no
poder do desenvolvimento da cincia e da tcnica, ocorreu destruio cultural em
nome da emancipao de supostos dogmas e mitos (FERRARI, 2007, p.33).
O mercado se amplia e os governos regidos pela globalizao, abrem suas
fronteiras e suas legislaes, o sistema ps-neoliberal se estrutura com o fim da
guerra fria, existe uma nova ideologia, onde os mais fortes lideram o mercado global.
Odmio Ferrari resumiu este perodo ps-moderno de poca dos paradoxos,
Lipovetsky tambm utiliza este mesmo termo, mas utiliza em pocas diferentes. De
acordo com Ferrari esta poca marcada por contradies.
Opulncia-misria, intelectualidade-ignorncia, tecnolgico-rudimentar,global-local, evoluo-riscos catastrficos, criao-destruio, inovao-descartvel, coletivo-individual, tradio-transitrio, crena-descrena, ps-moderno e pr-moderno. Nessa relatividade de tempo e espao, osconceitos, valores e projetos tornaram-se ambivalentes. (2007, p.34).
A crise estrutural que o autor descreve atinge tambm s relaes humanas e
culturais, deixando o racionalismo, e certos padres sociais caractersticos da
modernidade, como os ideais tico-morais, que segundo o autor norteiam a
sociedade e os valores religiosos.
No campo religioso especificamente Ferrari afirma haver um declnio da
secularizao, por outro lado eleva-se o resgate do misticismo, h muito tempo
esquecido. Um deles era a rigorosidade da igreja de Roma com quem a praticava.
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Na ps-modernidade as Filosofias de vida e tcnicas psicologizantes ganham
adeptos e novas formas de religiosidade.
Para alguns, o ps-moderno o tmulo da f. Para outros, instaura uma fsem Deus. A crena se transforma em uma busca psicolgica, que nodesemboca em nenhum ser transcendente. A salvao est na mente,iluminao, no mais na alma a caminho da condenao ou do paraso.(FERRARI apud Queiroz, 2007, p.34).
O campo religioso na ps-modernidade comea a entrar em ebulio
segundo Ferrari, as religies se multiplicam e as caractersticas so as mais
variveis possveis, o atesmo e a converso esto em alta, fazendo juz a poca de
paradoxos no qual afirma o autor, nesta ebulio religiosa ps-moderna o
conservadorismo doutrinal, dogmtico e ritual tem lugar garantido (FERRARI, 2007,
p.36).
Na revista Anthropolgicas, o Paulo Gracino Junior aborda a Igreja Universal
como um fenmeno religioso ps-moderno que visa solucionar os problemas dos
seus fiis por via individual incitando o individualismo moderno. Entretanto, o autor
analisa especificamente a flexibilidade das relaes sociais e a crise da narrativa
que segundo ele so promovidas por um capitalismo de curto prazo.
Segundo Junior os neopentecostais so como uma religio mgica, que no
seu comeo, foi fundada por negros e imigrantes e como uma de suas
caractersticas recuperar os valores do cristianismo primitivo e se inspiram nos
dons do esprito santo.
O neopentecostalismo surgiu na dcada de 70, nesta poca ainda o mundo
estava em transformao do tradicional para o moderno, no campo da religio,
Junior aborda que os antigos mapas oferecidos pelo catolicismo e pelo antigo
pentecostalismo no se mostram eficazes (BARBIERI JUNIOR, 2008, p.52). Asideias das igrejas pentecostais so de construir uma comunidade fraterna de
irmos, negar o fictcio paraso capitalista, no comer da rvore do consumismo,
pois, s assim, atingiram a plenitude espiritual (BARBIERI JUNIOR, 2008, p.52).
Segundo Barbieri Junior, o neopentecostalismo surge como uma nova proposta para
um novo individuo que ainda conhecia as igrejas como tradicionais e sombrias.
Bauman nos diz a respeito disso.
A incerteza do estilo ps-moderno no gera a procura da religio: elaconcebe, em vez disso, a procura sempre crescente por especialistas na
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identidade. Homens e mulheres assombrados pela incerteza de estilo ps-moderno no carecem de pregadores para lhes dizer das fraquezas dohomem e da insuficincia dos recursos humanos. Elas precisam dereafirmao de que podem faz-lo e de um resumo a respeito de comofaz-lo. (BAUMAN, 1998, p.222)
De acordo com Junior, os neopentecostais trazem a Teologia da
Prosperidade, que diferente da Idade Mdia, agora, o cristo, pode ter prosperidade
financeira e grandes empreendimentos. Este novo posicionamento da igreja muda o
comportamento religioso principalmente na relao entre religio e enriquecimento.
Segundo Barbieri Junior, esse novo discurso da IURD e dos pentecostais em
geral, so um grande atrativo para os aventureiros descuidados e despreparados
para as experincias na Modernidade Lquida (2008, p.53). O autor ainda cita um
texto da IURD em sua campanha para a Fogueira Santa de Israel, campanha que
baseia a contribuio do fiel com a maior quantia de dinheiro possvel que ele puder
dar. Este texto nos mostra a confiana oferecida para o indivduo ir ao mais puro
risco.
O sacrifcio do Senhor no faz com que as bnos dele venhamautomaticamente para sua vida. Para isso voc precisa manifestar sua fcom atitudes. Pessoas de f no ficam paradas esperando que algo
acontea, mas chama a ateno de Deus. (BARBIERI JUNIOR, 2008, p.53).
As igrejas neopentecostais, tratam o indivduo como um ser que tem que
buscar a sua salvao diariamente.
Bauman tenta responder o que sagrado para o nosso tempo. Conforme o
autor, isso no um conceito fcil de ser descrever. Comumente quando se fala de
sagrado, temos em mente a igreja ou algo do gnero religioso, mas Bauman e
outros autores repensam a relao que temos hoje com um carro ou ida da famlia
ao shopping no domingo atual encarnao do sagrado. (2005, p.77)
Desde a primeira vez que eu fui Fogueira Santa, a minha vida comeou ase transformar, depois j comprei um apartamento bem localizado, depoiseu comprei uma casa muito boa l nos Palmares, de dois pavimentos, ai jcomecei a comprar carros mais caros, e todos vista, troco de carro de doisem dois anos, no trocava mais porque s vezes eu ficava com dois ou trscarros. No final do ano eu comprei uma Pajero Esporte, de mais de cem milreais vista. Hoje eu tenho um apartamento luxuoso aqui no bairro deLourdes, com sauna, piscina num lugar nobre, eu vou ao restaurante que euquero, eu viajo umas trs a quatro vezes ao ano, eu frequento os melhoresrestaurantes - tenho vrios lotes. Tenho certeza que o que eu tenho foi fruto
do meu sangue que eu deixei no altar. (FERREIRA, 2012)
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Em uma de suas definies, Bauman (2005, p.78) trata o conceito de sagrado
como o que transcende os nossos poderes de compreenso, comunicao e ao.
O autor discute o movimento da cincia em relao religio e a Deus. A
mente moderna no era necessariamente ateia. A guerra contra Deus, busca
frentica da prova de Deus no existe ou morreu, foi deixado para os radicais.
(BAUMAN, 2005, p.79). Os pensadores modernos deixaram o assunto religioso de
lado, logo que se a mente de Deus impossvel de entender ou estudar vamos nos
preocupar com aquilo que pode ser compreendido. Com isso, a cincia moderna se
desvinculou de Deus e passou a estudar fenmenos no religiosos, tais estratgias
conduziu a espetaculares triunfos da cincia (BAUMAN, 2005, p.79). Esta grande
mudana de postura no deu espao para o eterno o agora, era o maisimportante a se refletir, segundo Bauman.
Pascal, se refere a mudana de ideia, quem estiver interessado nos dias de
hoje, em coisas de longa durao, melhor investir no prolongamento da vida
corprea individual do que em causas eternas (Bauman apud Pascal, 2005, p.80).
Na Igreja Universal vemos estas duas ideias muito prximas, os fiis buscam
uma resposta de um mundo vindouro no qual querem fazer parte, mas ao mesmo
tempo gozam dos prazeres do aqui e agora. No plano teolgico, o bispo EdirMacedo difusor da crena de que o cristo deve ser prspero, saudvel, feliz e
vitorioso em seus empreendimentos terrenos. (TAVALARO apud Mariano, 2007,
p.244)
De acordo com Bauman, estas novas ideias e tempos modernos fizeram com
que o sagrado vive-se o seu maior desafio ao longo da sua histria, no que agora
nos consideramos mais autossuficientes e onipotentes, tendo deixado de lado os
sentimentos de inadequao (2005, p.81). Bauman acredita que isto no dependede ns, alias, fomos treinados para no nos preocuparmos com as coisas eternas e
distantes, e sim de pensarmos somente no presente, concentramos as nossas
atenes energias em tarefas de acordo com o nosso alcance, a nossa competncia
e capacidade (individuais) de consumo (2005, p.81):
Analise a vida econmica de quem est na igreja. A maioria entrou falida,sem nada, fracassada na vida econmica e hoje so empresrios bem-sucedidos, donos de negcios lucrativos, carros, casas, bens que no
acabam mais As pessoas que mais focamos so as fracassadas.(TAVALARO, 2007, p.244)
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6 HIPERMODERNIDADE
A conceituao que Gilles Lipovetsky elabora a respeito da exacerbao dos
comportamentos individuais como caractersticas no mais de uma ps-modernidade, mas de uma hipermodernidade encaixa-se, a nosso ver, nesta
anlise. Trata-se do contexto de um hiperindividualismo, onde o padro do homo
oeconomicus ditado pelo hipercapitalismo, busca maximizar, alm dos seus ganhos,
outros setores da vida, desde a escola e a sexualidade at a poltica e a religio,
passando, claro, pelo consumo anmico, imoderado".
O mundo Ps-Moderno para alguns autores representa o atual momento
desta sociedade. Mas Lipovetsky traz um novo pensamento para um novo cenrioglobal a Hipermodernidade, para este trabalho de concluso de curso, no iremos
adentrar o perodo correto que cada autor aborda. A Hipermodernidade nada mais
que, a cultura do excesso que prega a moderao, ou seja, o paradoxo o
acompanha em quase todas as esferas, hipercapitalismo, hiperclasse,
hiperpotncia, hiperterrorismo, hiperindividualismo, hipermercado, hipertexto o que
mais no hiper? (LIPOVETSKY, 2004, p.45).
De acordo com Lipovetsky, a Hipermodernidade desregulamentadora e
globalizada, se apoiando especialmente em trs axiomas, o mercado, a eficincia
tcnica e o indivduo. Tnhamos uma Modernidade limitada, agora chegada a
Modernidade consumada (LIPOVETSKY, 2004, p.46).
Os comportamentos individuais tambm refletem esta nova fase global, como
tudo levado ao extremo, o ser humano hipermoderno, precisa cada vez praticar
esportes que oferecem uma maior adrenalina como os esportes radicais e as lutas
de artes marciais.
A passagem do capitalismo de produo abriu as portas para o capitalismo do
consumismo, do excesso e da falsa sensao de felicidade, impulsionada por
campanhas publicitrias cada vez mais intensas. Esta segunda Modernidade recorre
aos princpios bsicos do ser humano, como a democracia, os direitos humanos e o
mercado. Acrescenta se tambm o lado paradoxal desta era como, o
individualismo e o hedonismo.
Nasce toda uma cultura hedonista e psicologista que incita satisfaoimediata das necessidades, estimula a urgncia dos prazeres, enaltece oflorescimento pessoal, coloca no pedestal o paraso do bem-estar, do
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conforto e do lazer. Consumir sem esperar, viajar, divertir-se, no rertunciara nada, as polticas do futuro radiante fora sucedidas pelo consumo comopromessa de um futuro eufrico. (LIPOVETSKY, 2004, p.49)
O presente exaltado, e o futuro no mais calculado. Os indivduos
passam a se confrontar com um maior nmero de anseios e problemas: a felicidade
o maior destes. Entretanto essa felicidade paradoxal, e digna de ser repensada,
pois viramos mquinas individuais de consumo, a sociedade do hiperconsumo
aquela em que as insatisfaes crescem mais depressa que as ofertas de felicidade
(LIPOVETSKY, 2007, p.158).
O lao social na era industrial, na modernidade, era francamente orientadopor um eixo vertical. As pessoas se juntavam em nome de, em torno a. Afamlia, a empresa, a nao eram estruturas triangulares, ou piramidais,com um pice ideal e aglutinador. (...) O Pai que tinha as chaves do saberseguro, e dava a direo ocupava, ele e seus representantes, o pice dapirmide. (...) o saber consagrado, desde os iluministas, virou um genrico.(Forbes, 2005, p.30).
Lipovetsky traz a religio como um dos fatores que mais causam a decepo
neste momento. Por um lado vemos o enfraquecimento dela, por outro observamos
a multiplicao de seitas, esoterismo e novas igrejas (LIPOVETSKY, 2007, p.8).
Observamos um aumento de pessoas sem religio nestes tempos modernos que
segundo o autor, a falta de no que acreditar torna o indivduo mais fraco ao se
deparar com os problemas da vida.
O excesso de opes e de liberdade para Lipovetsky um problema para o
indivduo, a sociedade hipermoderna cria novas imposies e cobra novas
posturas. A liberdade pode ser um preo muito alto: a frustrao (LIPOVETSKY,
2007, p.9). Lipovetsky no chega a ser considerado um pessimista, o autor apenas
faz uma anlise do atual momento que para ele a decepo como tantos outros
temas abordados at aqui uma reao a este excesso de opes junto com uma
ditadura da felicidade.
O grande problema que agora cada um sente-se na obrigao de serealizar, de fazer algo da sua vida, de ser bem-sucedido, de dar um sentidosatisfatrio ao prprio destino. Ficamos livres da obrigao de conquistar oparaso. Estamos cada vez mais livres do pesadelo do pecado e domoralismo. Temos direito a uma opo sexual. Podemos, em tese, andarcomo quisermos. Mas, em contrapartida, queremos estar na moda e somosprisioneiros de novas e terrveis obrigaes terrenas. (LIPOVETSKY, 2007,
p.9)
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Assim a sociedade ultra-moderna, hedonista, individualista, frustrada e
presentesta. Muitos so os sintomas abordados para uma poca que segundo o
autor se deu incio nos anos 90. Porm, com tantas observaes a respeito do
mundo catico em que vivemos, segundo Lipovetsky esta a nova chance das
religies (LIPOVETSKY, 2004, p.62).
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7 A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS
A Igreja Universal do Reino de Deus nasceu sob a influncia da Teologia da
Prosperidade americana, dando forma a um novo pentecostalismo. O Bispo EdirMacedo, dono da Igreja Universal e tambm da Emissora Record, se converteu ao
pentecostalismo na Igreja Nova Vida no Rio de Janeiro, mas antes de se tornar
evanglico, chegou a frequentar a Igreja Catlica e a Umbanda.
Porm, dizendo estar no fundo do poo, ele procurou outra doutrina para se
agregar. Ento, farto do elitismo desta igreja e sem apoio para suas atividades
evangelsticas, consideradas agressivas, decidiu partir para voos mais altos
(MARIANO, 2005, p.55), fundando mais tarde, em parceria com Romildo RibeiroSoares, hoje atual missionrio da Igreja internacional da Graa de Deus, Roberto
Augusto Lopes, e os irmos Samuel e Fidelis Coutinho, a Cruzada do Caminho
Eterno, Edir Macedo foi tesoureiro nesta igreja.
O futuro bispo tinha segundo ele, uma misso a cumprir aqui na terra, sua
vontade de anunciar Jesus Cristo para o povo, baseado num mandamento da
Bblia.
O que me motivou a pregar a palavra de Deus foi obedincia a umexplcito mandamento de Jesus: Ide por todo mundo e pregai o evangelhoa toda a criatura. Quem crer e for batizado ser salvo. (Marcos 16. 15, 16).Minha maior revolta no era contra a idolatria, mas sim em ver tanta gentesem conhecer o Senhor Jesus Cristo. A mesma situao que eu vivinaqueles primeiros anos de frequentador da nova vida. (MACEDO, 2012,p.96)
As pregaes comearam com o povo mais humilde vindo das favelas do Rio
de Janeiro, o local dessas pregaes foram ministradas em dois cinemas, o cine
Ridan no bairro da abolio e o cine Mier. Na mesma poca, Macedo e Soares
tambm seu cunhado, tornaram-se pastores da Casa da Bno, o que no durou
muito tempo. Aps se desentenderem com os irmos Coutinho, os parceiros
fundaram, em 9 de julho 1977, na zona norte do Rio de Janeiro, a Igreja Universal
do Reino de Deus (IURD), dando incio terceira corrente do movimento
pentecostal.
Manh de sbado, dia 9 de julho. Avenida Suburbana, 7248. O bairrocarioca da Abolio amanheceu agitado com a intensa movimentao noantigo galpo da funerria. Carros estacionavam, vai e vem de pedestres
nas caladas, nibus desembarcando gente nos pontos mais prximos. Erao primeiro culto da Igreja Universal do Reino de Deus (MACEDO, 2012,p.219).
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Devido ao estilo centralizador de Macedo ocorreram desentendimentos entre
eles e os demais fundadores da instituio, Macedo e Soares, comearam a brigar
pelo poder da igreja, foi quando resolveram abrir uma votao para decidir quem
ficaria com o trono da igreja, resultado final: doze votos a meu favor e trs contra.
Daquele dia em diante, Soares, profundamente decepcionado, desligou-se da igreja
e partiu para realizar seu trabalho religioso (MACEDO, 2012, p.216).
Aps o fato, Soares criou, em 1980, a Igreja Internacional da Graa de Deus,
que hoje, juntamente com a Igreja Mundial do Poder de Deus, constituem-se como
as principais instituies religiosas concorrentes da Universal.
Na dcada de 80, Lopes foi um grande parceiro de Edir Macedo, juntos
resolveram definitivamente seguir o modelo eclesistico da Igreja Nova Vida, deonde haviam sado (FERRARI, 2007 p.104). Mas, tempos depois, aps lanar
Lopes como candidato a deputado federal sendo eleito com uma grande votao, o
seu parceiro desliga-se da Universal e o acusa de terviso apenas empresarial e
mercantilista (FERRARI, 2007 p.104), e com isso acaba voltando para a sua antiga
igreja. Com isso, o bispo Macedo assumiu a direo sozinha da IURD.
J no ano de 1986, Macedo vai morar nos Estados Unidos com o objetivo de
estabelecer uma nova Roma e angariar dlares (FERRARI, 2007 p.105), masneste comeo de vida no pas americano foi um fracasso, no juntava mais de
quinzes fiis nos domingos (TAVALARO, 2007, p.129),aps quatro anos, o bispo
volta para o Brasil e se concentra a sua mensagem em imigrantes, pobres e
desenraizados culturalmente, a igreja captou as carncias dessa clientela e a
trabalhou na sua pregao, a partir das carncias da massa popular envolvida
(FERRARI, 2007 p.105).
Gilles Lipovetsky (2007) diz que em tempos de crise, cresce tambm anecessidade de unidade e segurana, sendo a nova chance das religies se
aproximarem das pessoas. Como por exemplo, a crise de 2001 na Argentina.
A crise econmica de dezembro de 2001, que at hoje espalha reflexospelas ruas, como lojas fechadas e mendicncia, provocou um boomde fiisnos templos. O atendimento religioso, s residncias e a empresas eestabelecimentos, comerciais em geral aumentou a tal ponto que, segundoa direo da igreja, faltaram pastores e auxiliares para atender a demanda(TAVOLARO, 2007, p.247)
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7.1 O CRESCIMENTO INSTITUCIONALA IURD, na dcada de 90, j considerada uma potncia tanto no ambiente
religioso como no econmico, sua influncia nas camadas mais populares muito
grande, as estratgias da igreja, tem a sensibilidade pastoral para lidar com as
massas carentes e com a classe mdia no Brasil e no exterior (FERRARI, 2007
p.105). Aos poucos a marca IURD, comea a exercer a sua influncia tambm nos
meios de comunicao.
No rdio, o imprio do bispo comeou com a compra da Rdio Copacabana,do Rio, em 1984. Hoje, a igreja detm espao em uma rede chamadaAleluia, que conta atualmente com 62 emissoras, cobrindo 75% do territrionacional. A programao basicamente de msica gospel e transmitemfielmente, duas vezes ao dia, as mensagens de Edir Macedo (TAVOLARO,2007, p.239).
No campo da poltica. A igreja do bispo faz campanha, assume partido e elege
bancada (FERRARI, 2007 p.105), mostrando o seu poder e influncia no Brasil.
7.2 LINHA DA IURD
A base ideolgica de Macedo vem do missionrio canadense Walter Robert
Mac Alister. Alister atuou fortemente nos Estados Unidos e tambm foi
representante das igrejas pentecostais no dilogo com o Vaticano (FERRARI, 2007
p.102). Mac Alister pregou em igrejas de todos os nveis sociais, sua mensagem era
voltada para combater os demnios e suas possesses nos cultos. Foi um grande
combatedor das igrejas afrodescendentes. Vemos a linha da IURD, semelhante ao
do missionrio canadense.
Eu, de fato, virei luz. Os demnios que habitavam meu corpo foramarrancados. Nunca manifestei com espritos malignos, mas era uma pessoaendemoninhada. Isso mesmo: havia foras espirituais do mal quecontrolavam meu ser e a minha maneira de pensar. Estive no espiritismo,me envolvi com curas milagrosas e depositava minha f nos santinhos,alm de viver de costas para os ensinos de Deus(MACEDO, 2012, p.112).
A Igreja Universal segundo Ferrari trabalha em cima de quaro pilares, o
simbolismo do dinheiro, a guerra santa, a realidade do mal e as doenas divinas
(diabo) (FERRARI apud BONFATTI, 2007, p.106) .
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construtoras, seguradoras, empresa de txi areo, agncias de turismo, mdia,
consultorias. As empresas geram 22 mil empregos diretos e 60 mil indiretos s no
Brasil (TAVOLARO, 2007, p.244).
Atualmente, a sede da IURD mais conhecida ; a catedral mundial da f,
localizada na zona norte do Rio de Janeiro, no bairro de Del Castilho, com
capacidade para doze mil pessoas sentadas.
A igreja, tambm, est construindo o famoso Templo de Salomo, no bairro
do Brs, na cidade de So Paulo, a construo uma rplica nos moldes do Templo
do rei Salomo, e conta com uma hiperestrutura com mais de 126 metros de
comprimento e 104 de largura.
7.4 ADMINISTRAO E INVESTIMENTOS
A administrao dos templos segundo o bispo fica por conta do bispo ou
pastor regional, no existe nenhuma espcie de relatrio, documento, nada. S
quero saber se a igreja est crescendo. Ai vou at o pas e fao reunies
(TAVOLARO, 2007, p.213). Edir Macedo confia plenamente nos seus empregados
pastorais, segundo o bispo, quando um pastor colocado em alguma igreja, elerecebe autoridade sobre este local, se for espiritual, bem casado, no dar
problemasconclui o bispo. (TAVOLARO, 2007, p.213)
Os investimentos de pequeno porte na IURD so responsabilidades dos
bispos locais, Macedo quer ser apenas informado. No Brasil e nos pases da
Amrica Central, o responsvel o Romualdo Panceiro que visita os terrenos e
aprova as construes. No h burocracia na tomada de decises (TAVOLARO,
2007, p.213). Para construo de novos templos, a IURD conta com servio deengenharia, jurdico e financeiro. A expanso da Igreja Universal chega a ser
comparada com grandes empresas, como Philip Morris e Mc Donalds. A igreja est
presente hoje em quase todos os continentes, a cada quinzes dias um pastor se
transfere para fora do pas (TAVOLARO, 2007, p.245). De acordo com Tavolaro, a
expanso da IURD uma das principais transformaes religiosas do final do
sculo 20: a transformao do pentecostalismo em religio global e mudana do
centro (TAVOLARO, 2007, p.245), para regio distante do centro histrico do
protestantismo.
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7.5 ESTRUTURA E CARGOS
Cada congregao local da IURD conta com vrios obreiros, que so
subordinados aos pastores e encarregados de trabalhos menores, como o convite
de pessoas participao nos cultos, recepo das pessoas que chegam aos
templos. Aos pastores cabe o servio religioso no culto, a orientao dos obreiros e
a administrao da igreja local. Em meados da dcada de 1990, Edir Macedo,
consagrou dezenas de novos bispos para assumir funes de direo, de acordo
com Mariano, a diviso ficou assim:
Em nvel regional, estadual e nacional. Para evitar cismas, reestruturou opoder eclesistico, criando trs instncias hierrquicas: Conselho Mundialde Bispos, Conselho de Bispos do Brasil e Conselho de Pastores. Com isso,a igreja manteve os princpios de verticalidade e concentrao de seugoverno episcopal, que continuou encimado por Macedo (MARIANO, 2004).
Para dificultar a autonomia dos pastores, Macedo remaneja com grande
frequncia, os seus mais de quinze mil pastores titulares e auxiliares dos seus locais
de trabalho. Os pastores nogerenciam os recursos que arrecadam, enquanto os
fiis no escolhem seus lderes locais nem participam da deliberao sobre a
aplicao dos dzimos e ofertas (MARIANO, 2004).
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8 CONCEITO DE HIPERMODERNIDADE E A IURD
8.1 MEGA TEMPLO
Como vimos at aqui, o autor Lipovetsky trata a Hipermodernidade sobre
vrios smbolos, dentre eles, o excesso e o volumoso. O objetivo nesta parte do
trabalho identificar se a igreja Universal se encaixa nestes aspectos tratados pelo
autor. Numa segunda-feira, dia 19 de julho de 2010 no seu blog, o bispo Edir
Macedo anuncia aos seus fiis a mega construo de uma rplica do Templo de
Salomo na Zona Leste de So Paulo.
Com bases nas orientaes bblicas, a Igreja Universal do Reino de Deusconstruir a rplica do Templo de Salomo, aqui no Brasil, na cidade deSo Paulo (SP). Ser uma mega igreja, com 126 metros de comprimento e104 metros de largura, dimenses que superam as de um campo de futeboloficial e as do maior templo da Igreja Catlica da cidade de So Paulo, aCatedral da S. So mais de 70 mil metros quadrados de rea construdanum quarteiro inteiro de 28 mil metros. A altura de 55 metros correspondea de um prdio de 18 andares, quase duas vezes a altura da esttua doCristo Redentor. Com previso de entrega para daqui a 4 anos, a obra serum marco na histria da Igreja Universal do Reino de Deus. O complexotambm contar com 36 Escolas Bblicas com capacidade para comportaraproximadamente 1,3 mil crianas, estdios de tev e rdio, um auditriopara 500 pessoas, alm de um estacionamento para mais de mil carros.
(MEIBACH, 2010)
Segundo informaes da IURD, a data prevista para o trmino da construo
ser em 2014. No seu blog, o bispo Edir Macedo explica o grandioso desafio que a
igreja e seus fiis tm pela frente. Segundo o bispo, nesta reta final de construo os
gastos so muito maiores, no vdeo o lder da igreja pede apoio aos fiis para
terminar o grandioso templo iurdiano.
Ns temos a iluminao tem um custo altssimo, fora a iluminao nostemos as cadeiras que ao total so 10.200 cadeiras, cada uma custa 2.220reais, ento voc faa as contas, so mais de 22 milhes de reais s ascadeiras Alm dos custos da obra, ns temos os custos da iluminao,das cadeiras e do som. E para conquistarmos essas aquisies nscontamos com voc, ns temos que ir enfrente bvio que Deus no vaitocar naquelas pessoas que no tem dinheiro, que no vai tocar no coraode quem s tem 5 reais.Ento obviamente ns estamos orando e pedindoa Deus que Ele, levante mulheres e homens de f e que venha sercoparticipantes dessa obra, que no minha e que no sua, mas donosso Deus. E eu digo, se o Esprito Santo tocar em voc, e eu sei que eleest tocando, ns precisamos de muitas doaes ns precisamos depessoas que venham nos ajudar com 100 mil, 200 mil, 500 mil ou 1 milho
ns precisamos de muitos milhes de reais para darmos continuidade aotemplo. - Eu preciso da sua ajuda, e tenho certeza que o Esprito Santo est
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tocando naqueles que tem aqueles que podem dar uma oferta especial.(MACEDO, 2010).
No decorrer do vdeo o bispo faz inmeras apelaes para adoo, para
sensibilizar os seus fiis, Macedo puxa a memria dos iurdianos para o seu primeiro
dia na igreja, voc chegou arrasado, quebrado, voc estava endividado, voc
estava preparando-se para se matar ai voc viu na igreja Universal e sua vida foi
desabrochandoe de repente a sua vida restaurada (MACEDO, 2013).
De acordo com Lipovetsky j faz tempo que a sociedade de consumo se
exibe sob o signo do excesso, da profuso de mercadorias, pois agora isso se
exacerbou com os hipermercados e shoppings centers gigantescos
(LIPOVETSKY, 2004, p.46).
8.2 MDIA E MARKETING
Uns dos elementos mais importantes no impressionante crescimento da IURD
so as suas estratgias de comunicao e as suas tcnicas de propaganda. As suas
estratgias miditicas so bem estruturadas e avanam rapidamente para todas as
reas geogrficas e sociais do Brasil e do mundo, nossa sociedade dominada
pelo imaginrio da comunicao. Estamos na era da mdia e da midiatizao
(SILVA, 2007, p.8) A sua mensagem alm de levar o clamor religioso, tambm vem
acompanhada de seus produtos que ajudam este pblico necessitado que tanto
almeje a felicidade, bem-estar e espiritual.
Por meio da propaganda a Universal atribui valores adicionais aos seus
produtos. Como resultado disso as pessoas consomem no um objeto em si, mas o
signo que substitui esse objeto, como sugere Baudrilard. A Igreja Universal hoje
possui um imprio gigantesco na parte de mdia.
Da necessidade de controlar e construir o seu prprio mercado surge odesafio na IURD de montar uma editora prpria. A sua mais antiga revistapublicada Plenitude, que em 1990 tinha uma tiragem bimestral de 200 milexemplares. Publica tambm a revista Mo Amiga, destinada a divulgar otrabalho de assistncia social da Igreja realizado pela ABC (Associaobeneficente crist). Porm o maior triunfo da IURD o seu jornal semanal,Folha universal, cuja tiragem se aproxima de um milho de exemplares e seapresenta como um jornal a servio de Deus. Foi, entretanto, no rdio e nateleviso que a Igreja universal encontrou o caminho para constituir o seu
pblico, aproveitando para isso a prtica pentecostal norte-americana que,desde os anos 1920, emprega com sucesso o rdio e, a partir dos anos1950 deu origem aos televangelistas e Igreja eletrnica. Edir Macedoadquiriu em 1984 a sua primeira estao de rdio (Rdio Copacabana),
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ultrapassando, com a compra em 1995 da frequncia 99.3 FM, em SoPaulo, a quantia de trs dezenas de emissoras. A sua chegada televisose deu com a aquisio (1989) da Rede Record, por 45 milhes de dlares,rede hoje formada por cerca de trinta emissoras, aperfeioada com acompra em 1995 da sede e equipamentos da TV Jovem Pan, operao que
ultrapassou os 50 milhes de dlares. (CAMPOS, 1999)
A Rede Record de Rdio e Televiso concretizou-se rapidamente. De acordo
com Ferrari, a partir do comeo do sculo a Record era a terceira rede em
audincia e nmero de retransmissoras (FERRARI, 2007, p.184) no Brasil. As
estratgias de massa da IURD crescem a partir do momento que a igreja avana
nas programaes religiosas atraindo pessoas com diversos problemas pessoais.
A insistncia nos resultados, o oferecimento de solues para uma classemdia premida pela crise econmica e para camadas pobres em busca deascenso social, acrescido das mutaes provocadas pela ps-modernidade, fez com que a comunicao dessa Igreja assumisse comofim, a satisfao dos sonhos e desejos do pblico-alvo (MARIANO,2004)
Na internet a IURD, tem um site institucional que apresenta a igreja, a
programao de cultos, endereos de templos, notcias, links para doaes e
tambm um portal na rede chamado de Arca Universal 1que disponibiliza diversos
servios entre eles, grandiosa campanha Fogueira Santa, testemunhos,
mensagens, livro de oraes, Bblia online, caixa de promessas, diversas notcias do
Brasil e do Mundo. O site tambm abriga a loja virtual Arca Center, onde possvel
comprar produtos e artigos religiosos, link para doaes, links para blogs parceiros e
RSS. A IURD TV uma TV online, com programaes 24 horas por dia, o fiel pode
assistir aos cultos, fazer a sua doao e comentar sobre os programas.
A IURD realiza a marquetizao do sagrado, utilizando uma linguagem decunho cristo popular com legitimaes bblicas e com segmentao de seupblico. H competncia em criar, recriar produtos simblicos, diferentesformas de arrecadar recursos e os gerenciar. Junto com o seu agressivoavano missionrio, fica claro que a Igreja Universal atua como empresareligiosa com gesto de alta especializao. (FERRARI, 2007, p.187)
Os usos dos meios de comunicao pela IURD trabalham de uma formaintegrada com os objetivos da igreja, vemos isto com Philip Kotler:
A comunicao integrada de marketing transmite uma forte coerncia damensagem e produz enorme impacto nas vendas. Ela criaresponsabilidadesonde antes no existiampara unificar as mensagens
e imagens de marca da empresa (KOTLER, 2000, p. 589).
1Arca Universal: Site que rene informaes sobre Poltica, Notcias Internacionais, Estudos Bblicos,Doaes e notcias referentes ao mundo cristo.
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Este um dos fatores que explica o seu sucesso na rea de Comunicao eMarketing.
8.3 A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
A Teologia da Prosperidade praticada pelos neopentecostais visa conquista
material e consequentemente a felicidade terrena, deixando para trs sculos de
discurso da Igreja Catlica onde o dinheiro e a abundncia tinha um significado
pesado e demonaco por quem almejava. De acordo com Ferrari, a mudana na
compreenso de Deus e do ser humano (2007, p.134). Os maiores representantes
da Teologia segundo Barbieri Junior, o americano Kenneth Hagin e Oro Roberts
que era um grande evangelicista da dcada de 50 quando criou a noo de Vida
Abundante, prometendo retorno financeiro sete vezes maior do que o valor
ofertado (2007).A Teologia da Prosperidade cr na ideia de que o homem foi liberto
do pecado por Jesus Cristo, podendo assim o cristo usufruir de bens materiais
como tambm exigir de Deus como um direito adquirido, a sade fsica e a
abundncia material (BARBIERI JUNIOR, 2007).
O autor Pieratt separou a Teologia da Prosperidade em trs partes: a
Autoridade Proftica, Confisso Positivista e Sade e Prosperidade, sendo base
de sua filosofia.
No Brasil a Igreja Universal utiliza esta filosofia de vida crist e de acordo com
o bispo Edir Macedo o Deus deste mundo o dinheiro. Os banqueiros no me
deixam mentir. Oferta investimento. Isso mesmo oferta investimento
(TAVOLARO, 2007, p.207).
Longe de entrar em questes religiosas, o autor Ferrari observa a pregao e
os rituais apelarem para o utilitarismo de certo textos bblicos (2007, p.135), para o
bispo segundo Tavolaro a oferta no serve para ajudar a igreja e sim a si prpria
(2007, p.207).
Cultiva-se um mito iurdiano, envolto pelo sonho da volta do paraso perdidoe vida das primeiras comunidades crists (Igreja Primeva). O resgate daharmonia da criao possvel a quem tomar deciso, isto , aceitar Jesusna Igreja Universal do Reino de Deus. A reconquista alcanada por quemtiver f possuidora e assumir o compromisso, tornando-se parceiro destaaliana com o Deus criador. Esse merecedor de todas as bnos eprosperidade. a transposio do mito para a atualidade. O bom cristo
deve colocar sua f em ao e ser um obediente scio de Deus, que rico(FERRARI, 2007, 135).
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Libnio trata a Teologia praticada pelo cristianismo como pag e materialista,
esta teologia corresponde muito bem ao clima dominante da cultura ps -moderna a
servio do neoliberalismo (2002, p.156). A viso do autor negativa pois procura-se
uma prosperidade sem trabalho, deixando esta tarefa para Deus fazer pelo pedinte,
sem ter tido um esforo para o merecer. Ainda segundo o autor o fiel, submete-se
s propostas neoliberais de consumismo, hedonismo, triunfo pessoal custa do
social (2002, p.156).
Questionado pelo escritor Tavolaro sobre a relao da Igreja Catlica e a
pobreza, o bispo comenta que a igreja de Roma impregnou na cabea das pessoas
que no tem problema em ser pobre, segundo o bispo eu prego o que Jesus falou
(2007, p.208). O bispo refora a ideia que o pai sempre quer o melhor para o filho,inclusive ser rico. Mesquita descreve a relao entre fiel e Deus ou patro e servo,
no qual Deus obrigado a realizar o desejo de prosperidade almejado pelo fiel,
como vemos a seguir.
A adeso do indivduo aos "planos de Deus" explicitada, na IgrejaUniversal, pela ideia de se estabelecer uma "aliana com Ele". Desse modo,o ser humano torna-se scio de Deus quando se dispe a "fazer umsacrifcio", isto , a oferecer Igreja uma porcentagem de tudo o que ele
ganhou ou pretende ganhar (o dzimo). Se isso for feito corretamente, Deusficar obrigado a realizar o desejo de prosperidade de seus adoradoresmais fiis. (MESQUITA, 2007).
Robinson Cavalcanti trata as igrejas Neopentecostais como uma doutrina
eclesistica2. Cavalcanti compartilha a mesma ideia do autor Mesquista, onde a
religio desestimula o assalariado, mas pelo lado positivo, estimulam o evanglico a
empreender e melhorar consequentemente sua vida e sua oferta, quanto maior a
oferta, maior a beno (2000, p.121).
A anlise feita por Ferrari em cima da relao do dinheiro e da IURD nos
revela que o dinheiro, o fiel e Deus, so uma trade de simbolismo, cabe pessoa
desejosa de soluo tomar a iniciativa e selar financeiramente a sua reivindicao
divindade (2007, p.137), no qual Deus ir fazer a sua partedo acordo.
Este ideal de vida na Hipermodernidade, caracterizado pela busca da
felicidade por meio do dinheiro, sade e bem-estar, podemos notar em Lipovetsky,
nos seus diversos livros com temas sobre consumismo, felicidade e decepo. A
2Eclesistica: que pertence Igreja ou homem dedicado ao servio da Igreja.
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religio vem se notando como uma parte do sistema de consumo, o conceito de
quanto mais voc tiver dinheiro mais feliz voc ser, descartado pelo autor.
O consumismo gera um ciclo vicioso que nunca se satisfaz, na sociedade do
hiperconsumo, mesmo a espiritualidade comprada e vendida (2007, p.132). A
religio se tornou um produto do mercado de massa a ser comercializado e por
consequncia disso, o indivduo exigente e cobra direitos de Deus como
recompensa dos seus dzimos e ofertas.
De acordo com o bispo Julio Freitas h pessoas que ficam cansadas de
semear e ofertar e acabam desanimando. Se parar de semear no ter o que colher,
mas se semear, ainda que seja pouco, ter sempre o que colher (2013, p.12).
Vemos o conceito e algumas prticas da Teologia da Prosperidade nas igrejasNeopentecostais no Brasil, mas para um maior enriquecimento deste trabalho, a
seguir iremos analisar o discurso religioso da IURD sobre a prosperidade e a
felicidade do individuo da Hipermodernidade.
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9 METODOLOGIA
Esta pesquisa ser desenvolvida com um embasamento terico, atravs de
materiais elaborados por diversos autores sobre o tema abordado. O estudo ter
como base autores no ramo da Sociologia, Filosofia e Comunicao. Sero
analisados livros, artigos, teses para atingir um maior esclarecimento terico.
De acordo com Antnio Joaquim Severino (2007, p. 25) a produo de
conhecimento como construo de um objeto ocorre mediante nossa capacidade de
reconstituio simblica dos dados de nossa experincia.
relevante destacar que o autor alerta para o fato de que a construo do
conhecimento no ambiente acadmico tem um diferencial e deve ser construdopela experincia ativa do estudante e no mais ser assimilado passivamente
O presente trabalho tem como base a pesquisa bibliogrfica. Como ensinam
Jorge Duarte e Antnio Barros (2009, p. 52) A pesquisa bibliogrfica, num sentido
amplo, o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa.
aquela que se realiza a partir do registro disponvel, decorrente depesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses
etc. Utiliza-se de dados ou de categorias tericas j trabalhados por outrospesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dostemas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir dascontribuies dos autores dos estudos analticos constantes dos textos.(SEVERINO, 2007, p. 122).
Segundo Marconi e Lakatos (2003, p.183) a pesquisa bibliogrfica abrange
toda bibliografia j tornada pblica em relao ao tema de estudo, desde
publicaes avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, entre outros.
Para analisarmos o discurso proposto pelo trabalho, o mtodo utilizado ser o
da Etnografia que se refere a analise descritiva de um grupo social ou cultura.
Malinoski diz que os resultados de uma pesquisa cientfica devem ser apresentados
de maneira totalmente neutra (1997, p.18). Ou seja, no podemoscolocar nossos
conceitos sobre o tema a ponto de influenciar ou julgar o que est sendo analisado.
Foram observados 6 dias de cultos na Igreja Universal do Reino de Deus em
Curitiba no centro nobre da cidade, as primeiras visitas foram no ms de maio, nos
dias 15 e 22, o culto comeou ao 12:00 e se encerrou s 13:00 horas.
No ms de abril 3 dias foram observados sendo o dia 8 e 15 deste ms, o