A história do futebol 7ª e 8ªs - ASFA

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Resumo da História do futebol e suas influências sociais, políticas e culturais no Brasil.Professor: Renilton Oliveira Santos.

Antes de discutirmos sobre a chegada do futebol no Brasil, vamos viajar pelos campos chineses e ingleses para entendermos sobre as primeiras manifestações dos jogos que inspiraram a origem do futebol.

O tsu-chu foi uma das primeiras manifestações que podem ter inspirado o nascimento do futebol há cerca de 2.500 anos a.C. Na dinastia do Imperador chinês Huang-Ti, era costume chutar os crânios dos inimigos derrotados. Mais tarde eles foram substituídos por bolas de couro com o objetivo de chutá-las entre duas estacas cravadas no chão. O esporte foi criado para fins militares.

Na Inglaterra o primeiro registro de um esporte semelhante ao futebol atual vem do livro de William Fitztephe em 1175. Era um jogo semelhante ao soule que era praticado durante a terça feira gorda, os habitantes das cidades inglesas saíam nas ruas chutando uma bola de couro para comemorar a expulsão dos dinamarqueses. A bola simbolizava a cabeça do invasor.

Durante muito tempo o futebol era um festejo para os ingleses. Aos poucos o esporte passou a ficar mais popular. A violência no futebol predominava, uma vez que nas partidas ocorriam pernas quebradas, roupas rasgadas e dentes arrancados. Havia casos até de assassinatos devido à rivalidade entre os times.

Apenas em 1700 a violência foi proibida no futebol. Com as mudanças nas regras, o esporte se modernizou e então em 1710 as escolas da Inglaterra passaram a adotá-lo como atividade física.

O futebol ganhou treze regras que influenciam até hoje as contemporâneas. O futebol ganhou prestígio rapidamente entre as elites financeiras e intelectuais da época por ser considerada uma ótima atividade recreativa, logo o esporte ganhou times de origem operária.

Os donos de fábricas financiavam os times do Arsenal (1886) e do Manchester United (1878) que foram os pioneiros no território inglês. Em curto espaço de tempo, os times perceberam a questão empresarial do novo esporte e investiram na organização de competições assistidas por um público extremamente apaixonado.

Em outubro de 1894, um anglo brasileiro chamado Charles Miller, filho de britânicos nascido em São Paulo, trouxe da Inglaterra um par de bolas e um livro de regras de futebol. Inicialmente ele teve algumas dificuldades para apresentar esse novo esporte ao clube em que era sócio, o São Paulo Atletic Club. Sua ação principal era ensinar as regras básicas, inclusive as dimensões do campo. Mas quando o campeonato paulista engrenou em 1902, Miller tornou-se artilheiro e o clube conquistou o primeiro campeonato brasileiro.

Em 1906 foi criada uma liga entre os clubes do eixo Rio - São Paulo. Os grandes clubes do Rio de Janeiro situados as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas iniciaram suas atividades com as Regatas, a exemplo do Botafogo, Vasco da Gama e do Flamengo. Os times europeus visitavam as cidades do Rio e de São Paulo, nas quais a mais famosa foi a visita do Corinthians da Inglaterra em 1910. Com o sucesso da visita, foi fundado em São Paulo e batizado um time com o nome de Corinthians. Percebia-se que nos primeiros anos do séc. XX o futebol era conhecido apenas como um passatempo para os brancos ricos.

Com o tempo as coisas foram mudando, Arthur Friedenreich que era filho de pai alemão e mãe brasileira de origem africana, era um jogador mestiço que marcou 1329 gols, o maior número em toda a história do futebol. Ele influenciou o Vasco da Gama a quebrar a barreira contra os jogadores negros que em 1923 conquistou o campeonato estadual graças à raça negra. Foi uma atitude revolucionária que causou um grande impacto social. Os outros clubes não queriam jogar com o Vasco. No entanto esse tempero negro fez a diferença para o sucesso do futebol brasileiro.

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O coração da população negra do Brasil está situado em Salvador, a capital do Estado da Bahia. A capoeira é uma mistura de música, arte, dança e espiritualidade que vem dos escravos trazidos da África. O foco da capoeira está no corpo e dentro dessa cultura está a chave para a compreensão do marcante estilo que os negros trouxeram ao futebol brasileiro. O brasileiro é muito bom de drible e melhor ainda de finta, que é o uso do corpo sem a bola.

Em 1950 o Brasil sediou a Copa do Mundo pela única vez na sua história. Depois de uma ausência de 12 anos em função da 2ª Guerra Mundial. O estádio do Maracanã era o palco mais importante desse evento com uma capacidade para 200 mil pessoas. O Brasil tinha o melhor time do mundo, a copa era uma festa e o time não deixou a desejar. Era uma época política. Os candidatos a presidência da República utilizavam o futebol como instrumento de campanha eleitoral.

No dia 16 de Julho de 1950 aconteceu a grande final da Copa do Mundo com um público de 199 mil pessoas. O dia que estava marcado para ser uma grande festa transformou-se no pior dia da história do futebol brasileiro, foi uma grande comoção nacional. O Brasil começou ganhado e não conseguiu jogar mais, permitindo ao Uruguai empatar e virar o jogo. Barbosa, o goleiro, assumiu o papel principal pela derrota do Brasil.

O Brasil viveu o trauma de perder a Copa do Mundo em casa. Muitos torcedores choraram a derrota, alguns até se suicidaram. Havia um grande fanatismo entre os torcedores do Brasil que não aceitavam a derrota em casa e atribuíam o insucesso aos jogadores negros, especialmente ao Barbosa que morreu carregando esse peso da derrota injustamente.

Em 1954, após o suicídio de Vargas começa uma nova era na política brasileira. Ele contribuiu muito pela integração dos pobres e negros à sociedade brasileira. Os políticos que o sucederam investiram no crescimento da economia trazendo investimentos estrangeiros principalmente dos Estados Unidos. A Ford simbolizava esse novo crescimento. Mas o projeto mais ambicioso foi a construção de Brasília pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Em 1956 Juscelino prometeu 50 anos de progresso em apenas cinco. Para Pelé, o que mais marcou para ele foi a construção do Maracanã. Ele estreou no time do Santos com apenas 15 anos, um ano depois viajou com a seleção brasileira para a Suécia rumo à copa do Mundo de 1958.

Pelé, nascido em 1940 na cidade de Três Corações, prometia ser um novo ídolo do futebol brasileiro. Conquistar uma copa do mundo estava se tornando uma obsessão para o Brasil. Foi tudo bem planejado em termos de preparação, desde a alimentação até a preparação física e psicológica, era um conceito inédito para a época. Pelé e Garrincha, por recomendação dos especialistas não estavam preparados ainda para jogarem na estréia do Brasil na Copa do Mundo.

O jogo que marcou a estréia de Pelé, com apenas 17 anos, foi contra o País de Gales nas quartas de final. Depois que Mazola tirou o lateral do País de Gales passou a bola para o Didi que a recebeu de cabeça e serviu o Pelé pedindo um “1-2”, mas Pelé dominou a bola passando pelo zagueiro com um “chapéu”, marcando um golaço, que foi o seu primeiro gol em um jogo de Copa do Mundo.

Na final contra a Suécia, o Brasil tinha estudado o adversário assistindo as partidas anteriores na competição, e como não era considerado o favorito ao título, os jogadores estavam muito tensos por jogarem contra a torcida e contra os donos da casa, mas ainda assim estavam bem confiantes no potencial da equipe.

A Suécia marcou o 1º gol, mas o Brasil reagiu com classe e terminou o 1º tempo ganhando por dois a um. A partida terminou com um placar de cinco a dois para o Brasil conquistando a sua primeira Copa do Mundo.

Garrincha nascido em Pau Grande, interior do Rio, foi considerado como um dois maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Talvez suas pernas tortas o ajudassem em seus dribles maravilhosos que mesmo após inúmeras cirurgias ainda continuaram tortas.

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Pelé e Garrincha na Copa de 1962 formavam uma dupla imbatível, mas após uma contusão no 2º jogo, Pelé foi afastado do torneio. Garrincha foi o maior destaque daquela Copa. O Brasil enfrentou a Tchecoslováquia na final que começou perdendo, mas reagiu a altura com Amarildo e Vavá que virou o jogo. A copa foi de Garrincha, fez gol de cabeça, com o pé direito, com o pé esquerdo, driblou de maneira fantástica.

Em 1964, os militares tomaram o poder num golpe que culminou na ditadura por 21 anos e o Brasil sofreu nas mãos dos generais e o futebol não ficou fora dessa. O milagre brasileiro que se caracteriza por um rápido desenvolvimento econômico virou realidade dentro e fora dos campos. Na preparação para a copa do México, o presidente Médici se mostrou bem ligado a seleção. Dizia que tinha direito, como todo brasileiro de acompanhar o time. Mas abusava do seu direito no momento em que o futebol tinha uma imagem positiva para explorá-lo como ideário político e se popularizar principalmente nas camadas menos favorecidas. João Saldanha foi uma das vítimas da ditadura de Médici quando teve que se submeter à exigência do mesmo pela convocação de Dario do Atlético no time e logo foi demitido ao recusar a imposição. Zagalo então foi convidado pelo presidente da Federação Brasileira de Futebol da época, João Havelange, a assumir o cargo e assim convocou o Dario.

Em 1970, aconteceu no México a primeira copa transmitida em cores pela televisão. Alguns especialistas dizem que essa seleção brasileira foi considera a melhor equipe de todos os tempos.

Segundo Rivelino (2002) essa equipe era um conjunto harmonioso, o jogo não estava centrado apenas no Pelé, havia uma magia centrada no todo. Evidentemente que Pelé com sua genialidade desequilibrava o jogo, os jogadores eram maravilhosos.

Na final contra a Itália, o Brasil em 18 minutos de jogo já havia marcado o seu 1º gol com Pelé. A Itália fazia uma marcação individual que segundo Zagalo isso permitiria ao time do Brasil criar movimentações importantes aproveitando os espaços no campo em conclusões de jogadas estratégicas para o sucesso da equipe.

A partir dos anos 70 o país viveu uma crise no futebol, o time do Santos que teve 18 anos de glórias com a presença de Pelé, não ficou fora dessa. O clube havia conquistado 24 troféus e duas taças Libertadores da América e dois títulos de campeão do Mundo. O clube Santos foi o time que mais promoveu o Brasil no exterior.

O primeiro campeonato nacional foi realizado em 1971 no momento em que o “milagre brasileiro” tornou-se realidade. Grandes projetos mudaram as paisagens do país para facilitar a comunicação entre as cidades e aproximar-se da elite econômica mundial. O campeonato fazia parte dessa visão nacional.

Em 1979 a liga já contava com 94 clubes que lutavam pelo título. O que inicialmente era uma boa idéia transformou-se num caos. Os clubes reclamavam ao viajarem por todo o país para jogar contra times desconhecidos até 1971. Percebia-se ainda que o nível dos jogos era fraco e a crescente violência acentuava ainda mais essa tendência.

A maioria dos clubes brasileiros enfrenta problemas financeiros, está na hora de organizarmos melhor o futebol. O Brasil não é mais aquela equipe imbatível. (PELÉ, 2002)

Não existem atualmente muitos espaços livres para a prática do futebol como lazer. São Paulo transformou-se numa mega cidade. São muitos edifícios e poucas áreas livres para a prática do futebol. Segundo Rivelino (2002) os grandes jogadores saem desses campos de várzea.

No Rio, a praia de Copacabana ainda mantém a tradição do futebol que se mistura ao samba, sexo e carnaval. É a alma e o coração do futebol brasileiro além de ser uma síntese da cultura brasileira. Todos são iguais nesse contexto do futebol, não existe, crise, miséria, fome, entre outros problemas, tudo é esquecido. Mas será que essa é a pura realidade do futebol brasileiro?

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O futebol é cada vez mais um esporte de classe média. Uma boa parte dos brasileiros não tem acesso a Escola. E nem sempre a Escola tem boa infra-estrutura para a prática de esportes.

O futebol brasileiro assume uma característica europeizada. Na escola de futebol da classe média observa-se a predominância de crianças brancas. Acontece um embranquecimento do futebol brasileiro que traduz um problema do ponto de vista cultural, do talento e da manifestação do brasileiro miscigenado. Outra preocupação é a quantidade de brasileiros que tem deixado o país. No início da década de 90, houve uma grande debandada de jogadores que foram jogar no exterior. Ronaldo foi jogar na Europa com apenas 17 anos.

Uma grande questão é se o futebol deve ser jogado pela sua beleza, o “futebol arte” ou se os times devem fortalecer o jogo pelo “resultado” que é uma característica européia. O time que participou da copa de 1982 simboliza o futebol arte, projetando grandes nomes como Zico, Cerezo, Falcão, Sócrates, Junior, entre outros. Ao passo que o time de 1994 apresentou fortes características táticas de um “futebol de resultados”. A imprensa brasileira acusava a equipe de representar um jogo defensivo para garantir resultados positivos.

Parreira afirmava que o sistema de jogo se baseava numa defesa em zona, em que o jogador brasileiro se preocupava também em jogar “sem a bola”, pois segundo ele nós somos bons apenas com a bola no pé. O que faltava para o Brasil, no entanto era saber se defender de uma forma organizada, ou seja, com a bola no pé um futebol brasileiro, sem a bola um futebol organizado, com uma compactação tática, não um futebol europeu como a imprensa o acusava.

Em 1998 o Brasil foi derrotado mais uma vez de forma vergonhosa após o caso “Ronaldo”. Na final o time estava com certa elegância, mas quando o estádio não confirmou a escalação de Ronaldo, um novo drama começou para o Brasil. Ronaldo se sentiu mal e teve que comparecer a uma clínica para alguns exames e ao voltar insistiu em participar da final tirando a concentração de todos os jogadores que perderam de três a zero para França. O time entrou em campo completamente desestabilizado emocionalmente.

O Brasil tornou-se um símbolo na Copa do Mundo, seja pelo triunfo ou pelas atribulações. Esse é um país que a imagem de um garoto de favela que cresce e se torna um campeão do mundo continua mais forte. Este é um país que a esperança pode se transformar em realidade. E o sonho de todo jovem jogador é se transformar um próximo Pelé.