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95 TURISMO Revista de la Escuela Universitaria de Turismo Iriarte TURISMO revista anual número 0 septiembre 2008 95-118 ISSN 1889-0326 A História do turismo na Madeira Alguns Dados para uma Breve Reflexão Alberto Vieira 1 Nos últimos anos a investigação histórica em torno do turismo vem ga- nhando inúmeros adeptos e o tema tornou-se já um tema de debate e in- vestigação no mundo académico. As escolas universitárias, por força da exi- gência do trabalho científico têm sido os principais areópagos. Isto acon- tece seja na Europa, seja na América do Sul. Uma leitura mais atenta de alguma da leitura revela que a Madeira quase não faz parte do universo do turismo. Será que o turismo madeirense não tem direito a figurar nos anais da História Universal? 1. A HISTÓRIA DO TURISMO NA MADEIRA UMA QUESTÃO A DEBATER E ESTUDAR Os arquipélagos da Madeira e Canárias assumem uma posição particular no contexto do turismo e sua História. Foi um das primeiras regiões turís- ticas do mundo, mantendo uma constância de afirmação do sector desde o século XVIII até ao presente. Poucas regiões turísticas assumiram tal cons- tância. A hospitalidade madeirense, uma referência histórica desde o século XV, contribuiu para firmar a posição. O fenómeno afirmou-se de forma espontânea a partir do século XVIII e obrigou as autoridades e sociedade civil a criarem condições para a recepção de todos os forasteiros. Assim, as infra-estruturas de apoio ao turismo surgem por força da constante presen- ça dos estrangeiros, na condição de doentes, cientistas e aventureiro. No caso da Madeira é insistente a ideia de que a actividade tem mais de 200 anos, mas faltam estudos, publicações, debates de carácter histórico para que aquilo que para nós é grandioso, não se limite apenas ao nosso universo histórico e seja algo do domínio de todos. Compulsados muitos estudos sobre a História do Turismo, que surgiram nos últimos anos, não 1 Ceha (Madeira)

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A História do turismo na Madeira

Alguns Dados para uma Breve Reflexão

Alberto Vieira1

Nos últimos anos a investigação histórica em torno do turismo vem ga-nhando inúmeros adeptos e o tema tornou-se já um tema de debate e in-vestigação no mundo académico. As escolas universitárias, por força da exi-gência do trabalho científico têm sido os principais areópagos. Isto acon-tece seja na Europa, seja na América do Sul. Uma leitura mais atenta de alguma da leitura revela que a Madeira quase não faz parte do universo do turismo. Será que o turismo madeirense não tem direito a figurar nos anais da História Universal?

1. A HISTÓRIA DO TURISMO NA MADEIRA UMA QUESTÃO A DEBATER E ESTUDAROs arquipélagos da Madeira e Canárias assumem uma posição particular no contexto do turismo e sua História. Foi um das primeiras regiões turís-ticas do mundo, mantendo uma constância de afirmação do sector desde o século XVIII até ao presente. Poucas regiões turísticas assumiram tal cons-tância. A hospitalidade madeirense, uma referência histórica desde o século XV, contribuiu para firmar a posição. O fenómeno afirmou-se de forma espontânea a partir do século XVIII e obrigou as autoridades e sociedade civil a criarem condições para a recepção de todos os forasteiros. Assim, as infra-estruturas de apoio ao turismo surgem por força da constante presen-ça dos estrangeiros, na condição de doentes, cientistas e aventureiro.

No caso da Madeira é insistente a ideia de que a actividade tem mais de 200 anos, mas faltam estudos, publicações, debates de carácter histórico para que aquilo que para nós é grandioso, não se limite apenas ao nosso universo histórico e seja algo do domínio de todos. Compulsados muitos estudos sobre a História do Turismo, que surgiram nos últimos anos, não

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se vê reflectido o papel da ilha na História do Turismo. Tudo isto acontece por desconhecimento, mas acima de tudo por falta de divulgação do real protagonismo madeirense, através de estudos para o público em geral e o mundo académico.

Na verdade, temos mais duzentos de actividade turística, mas faz falta um museu que seja o reflexo da realidade e estudos, que são escassos para não dizer inexistentes. Noutras regiões a presença de espaços museológicos ou comunidade científica e académica empenhada na pesquisa e divulgação do tema têm contribuído para a afirmação do real protagonismos e o alcan-çar dum lugar, por vezes indevido, nos anais da História do Turismo2.

Em História quem não aparece, não existe e perde o lugar que de direito merece e lhe pertence. Temos que nos afirmar pela positiva, impondo no nosso entorno e fora dele aquilo que fomos. A História faz-se e afirma-se pelo discurso, com abertura à divulgação da informação e documentos que lhe dão suporte. A história do Turismo na Madeira pode e deve ser escrita de forma dourada e assumir um lugar de relevo nos anais do Turismo em geral, mas para que isso aconteça há ainda um longo caminho a percorrer. O Turismo deve também afirmar-se pela investigação histórica e a própria re-alidade pode ainda ser um dos motivos que nos diferencia dos demais como um espaço singular. Mas, a história só tem lugar se for estudada, debatida, publicada e divulgada. É isso que faz falta.

A literatura sobre a História do turismo faz parte duma das opções obri-gatórias de compra e leitura de livros. Nos últimos tempos as frequentes viagens ao Brasil conduziram-nos à descoberta da literatura sobre o tema na América do Sul. No Brasil, onde o estudo do fenómeno turístico, nalguns casos como o de Santa Catarina muito recente, induz, por vezes a ideia do pioneirismo da indústria3. Em muitos dos estudos por nós consultados não há qualquer referência à Madeira, ao contrário do que sucede com outros espaços de França ou Itália.

2 Para os Açores e as Canárias temos já diversos estudos, enquanto para a Madeira apenas podemos assinalar alguns apontamentos e referências isoladas ao tema, faltando uma História do Turismo no Arquipélago. Para os Açores podemos assinalar: Ricardo Manuel Madruga da Costa, Açores. Western Islands. Um Contributo para o Estudo do Turismo nos Açores, Horta, 1989. Manuel Ferreira, Turismo em S. Miguel. 100 anos, Ponta Delgada, 1999. Para as Canárias o inúmero de estudos é vasto podendo-se salientar os seguintes: González Lemus, Nicolás, El turismo en la historia de Canarias: viajeros y turistas desde la antigüedad hasta nuestros dias, [Santa Cruz de Tenerife], 2002, Idem, Idem, Puerto de la Cruz y el nacimiento del turismo en Canarias: apuntes para una interpretación, Puerto de la Cruz, 1999, Idem. El Puerto de la Cruz : de ciudad portuaria a turística, Puerto de la Cruz, 2005; Guimerá Ravina, Agustín: El Hotel Taoro: cien años de turismo en Tenerife (1890-1990), Santa Cruz de Tenerife, 1991.

3 Cf. Mário Jorge Pires, Raízes do Turismo no Brasil, São Paulo, 2001.

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Por outro lado temos que insistir na ideia de que os percursos do turismo na actualidade são bem distintos do passado. Hoje, o turismo pode muito bem dizer-se que se afirma como um meio de encontro e partilha de ho-mens e culturas. E´, sem duvida, uma actividade privilegiada em que o lazer se associa a um processo de humanização e inter-acção cultural. O turismo pode e deve ser um meio de potenciar a identidade local, através da afirma-ção dos usos e costumes, da cultura e património, do orgulho.

As motivações da viagem não foram nem poderão ser sempre as mes-mas. A cada sociedade ou época correspondem determinadas aspirações. Mas, chegados ao destino, o que comandará a solicitação dos visitantes tem a ver com aquilo que nos diferencia em relação aos demais no entorno que nos rodeia. A paisagem como factor de deleite e conhecimento científico, a cultura, a História, as tradições estarão sempre na linha da frente das prio-ridades da busca do forasteiro.

Os testemunhos da intervenção dos produtos agrícolas ainda são abun-dantes e por isso mesmo merecem atenção. Por outro lado os antepassados clamam a uma necessária homenagem assente na trifuncionalidade agrícola que os empenhou e acalentou os mais de quinhentos anos. Os restos de eiras, engenhos, lagares, armazéns e vivendas solarengas, disseminados por toda a ilha, merecem atenção e o acolhimento do visitante. Para isso seria necessário a elaboração de um roteiro turístico dos valores patrimoniais, devidamente enquadrados na realidade social e económica. Só assim será possível manter o elo que nos liga ao passado económico e contribuir para consolidar a aposta no turismo.

A Madeira adquiriu uma posição desusada no “ranking” da comunida-de científica. A ilha continua a fascinar cientistas e visitantes. O clima, o endemismo, as particularidades do processo histórico, o protagonismo na História do Atlântico fazem dela, ontem como hoje, um pólo chave para o conhecimento científico. Hoje é tema de debate nos diversos areópagos científicos e cada vez mais se sentem o apelo da comunidade científica para o conhecimento e divulgação. Tudo isto vai ao encontro daquilo que foi a História do arquipélago. Porque não buscar vias de rentabilizar esta ideia em termos do turismo ?

O passado histórico da ilha, relevado quase sempre pelos aspectos eco-nómicos e sociais, esquece uma componente fundamental, a inovação e di-vulgação tecnológica que transformou a rotina das tarefas económicas e revolucionou o quotidiano dos avoengos. Mais do que isso, o madeirense, além de exímio inventor – na inevitável tarefa de encontrar solução para as questões e dificuldades do dia a dia – , foi também um eficaz divulgador da

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tecnologia. A Madeira foi a primeira terra revelada do novo mundo, escala para a navegação e expansão dos produtos europeus no mundo atlântico. Com o século XVIII a ilha transformou-se em escala obrigatória das ex-pedições científicas que fizeram saciar a curiosidade inata do Homem das Luzes.

Também a Madeira foi palco por onde passaram destacadas personali-dades oriundas da aristocracia e casas reais europeias, de políticos, cientistas, escritores, actores e cineastas. Por toda a ilha é fácil encontrar recantos que recordam a presença. Que fazemos para valorizar a presença como motivo e atracção turística ?

A viagem, por necessidade ou lazer, impõe-se como um facto do nosso quotidiano. Hoje, mais do que nunca, o turismo é uma indústria domi-nadora que serve, ao mesmo tempo, de suporte à viagem e de angariador de viajantes. A viagem seduz o cidadão e, poucos serão aqueles que, ainda que em sonho, não tenham viajado. As necessidades económicas, politicas e religiosas fazem com que esse ancestral espírito aventureiro se afirme. A viagem é sinónimo de progresso, de afirmação e quebra da insularidade real ou política, aproxima o Homem, culturas, civilizações. A Madeira foi frui-dora no bom sentido da aventura atlântica. Para que a viagem se torne uma realidade não basta a tendência errante, pois só tem lugar quando existem os meios e os motivos que a justificam. Até a inesperada viagem de Robert Machim e Ana Arfet à Madeira, teve uma motivação de base e condições materiais que propiciaram a concretização.

Hoje insiste-se muito na ideia de que o turismo surgiu a partir de mea-dos do século XIX, sendo as iniciativas do pastor baptista Thomas Cook o marco a partir do qual se baliza a actividade. Mas como podemos esquecer as Mémoires d’un touriste (1838) de Stendhal e o caso particular da Madeira. Será que deveremos ignorar toda a realidade anterior ao século XIX, porque não foi de iniciativa britânica? Os britânicos sempre procuraram definir tudo a partir do seu universo de memórias. Daí a valorização na literatura do”grand tour” do século XVII e das novidades da indústria desde meados do século XIX4.

Na Antiguidade, sabemos da existência de guias de viagem (periegeses) muito ironizados por Heródoto e Plutarco. Epidauro refere-nos o turismo terapêutico na cidade de Esculápio o deus da cura. Que diferença existe entre as peregrinações religiosas e o turismo? Para alguns apenas o número de pessoas envolvidas. Na verdade, são múltiplas as motivações geradoras

4 Cf. Miriam Rejowski (organizadora), Turismo no Percurso do Tempo, São Paulo, 2002; Marc Boyer, História do Turismo de Massa, São Paulo, 2003.

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do fenómeno turístico, que mudam com o correr dos tempos. Na década de sessenta do século XX, por exemplo, insistia-se no chamado turismo dos três SSS, isto é: sun, sand, sex. Hoje as motivações serão outras, como se pode constatar5.

A. Sigfried dizia em 1955 que o século XX era definitivamente o século do Turismo. Mas para nós que ultrapassámos a barreira da centúria fica-nos a ideia de que isso só se concretiza em pleno na actualidade, em que o direito à preguiça, proclamado em 1883 por Lafargue, genro de Karl Marx, é um direito adquirido de todos e o sector ganha uma posição destacada na economia mundial e de muitas regiões como a Madeira. O século XXI será, sem dúvida, o momento da plena e universal afirmação do turismo.

2. A HISTÓRIA DO TURISMO MADEIRA QUESTÕES FUNDAMENTAISAlguém terá dito que os iniciais promotores do turismo insular foram os gregos, mas os primeiros turistas foram, sem dúvida, ingleses. Os gregos ce-lebraram, na prolixa criação literária, as delícias das ilhas situadas além das colunas de Hércules. Os arquipélagos da Madeira e Canárias são mitologi-camente considerados a mansão dos deuses, o jardim das delícias, onde eles convivem com os heróis da mitologia. Foram os ingleses, ainda que muito mais tarde, a desfrutar da ambiência paradisíaca, reservada aos deuses e heróis, escolhendo-as como rincão de perma nência, breve ou prolongada. Diz-se até que a primeira viagem de núpcias, embora ocasional, terá sido protagonizada por um casal in glês. Mais uma vez a lenda que ficou conhe-cida como de Machim

O ilhéu, autêntico cabouqueiro e jardineiro deste rincão, estava por de-mais embrenhado na árdua tarefa de erguer paredes e arrotear os poios, e por isso mantinha-se alheio às delícias. A beleza agreste dos declives não passava de mais um entrave na luta contra a natureza. Enquanto o madei-rense cavava e traçava os poios o inglês entretinha-se nos passeios a cavalo ou em rede pe los mais recônditos locais da ilha. A verdadeira descoberta da Madeira foi obra dos ingleses. O português descobriu apenas o caminho para cá chegar.

A Europa oferecia ao aristocrata britânico motivos para o “grand tour” cultural6, mas a Madeira tinha algo diferente para dar, quando não lhe pro-

5 Cf. Miriam Rejowski (organizadora), Turismo no Percurso do Tempo, São Paulo, 20026 Paul Franklim Kirby, The Grand Tour in Italy(1700-1800), Londres, 1952; Jeremy Back, The

British and the Grand Tour, Londres, 1985, Idem, The Grand Tour in the Eighteenth century,

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piciava a recriação dos mitos da antiguidade clássica e reservava-lhe um ambiente paradisíaco e calmo para o descanso, ou, como sucede no século XVIII, o laboratório ideal para os estudos científicos. Os ingleses foram pioneiros nas expedições científicas, como foram também os primeiros a descobrir as qualidades terapêuticas do clima e a deleitar-se com as pai-sagens. A Madeira cedo ganhou o epíteto de estância turística do espaço atlântico, firmando-se como um espaço destacado da história do turismo no Ocidente7.

A revelação da Madeira como estância de turismo terapêutico aconteceu a partir da segunda metade do século XVII. As qualidades profiláticas do clima na cura da tuberculose cativaram a atenção de novos forasteiros. Foi a busca da cura para a tísica que propiciou aos madeirenses o convívio com poetas, escritores, políticos e aristocratas. Não obstante a po lémica causada em torno destas reais possibilidades de cura, a ilha permaneceu por muito tempo como local de acolhimento dos doentes, sendo considerada a pri-meira e principal estância de cura e convalescença do velho continente8.

Londres, 1997.7 Sobre o turismo: Luísa Filipa Aguiar, “Os Carros do Monte”, in Islenha, 18, 1996, 39-48;

Agostinho Cardoso, A Madeira e o Turismo Nacional, Funchal, 1964; Alberto F. Gomes, “O Caminho de Ferro Americano”, 1960, Das Artes e da História da Madeira, Vol. V, Nº 30, pp. 30-32; Idem, “Documentos inéditos sobre o exílio de Carlos de Habsburgo na Madeira”, Das Artes e da História da Madeira, VI, Nº 32, 1962, pp.22-31; Dr. Álvaro Reis Gomes, “A ilha da Madeira vista por grandes nomes das letras Nacionais e estrangeiras”, Das Artes e da História da Madeira, vol. VII, Nº 38,196?, pp..27-30; Albino Pina Ribeiro, Irmã Wilson – Vida – Testemunhos – Cartas, 2.ª Edição, Edição das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, Março de 2000; António Ribeiro Marques da Silva, “Os inícios do turismo na Madeira e nas Canárias. O domínio inglês”, II Colóquio Internacional de História da Madeira 1990 pp. 469; Iolanda Silva, A Madeira e o Turismo. Pequeno Esboço Histórico, Funchal, 1985; J. Ezequiel Veloza, “Hospital para tuberculosos no sítio da Casa Branca, S. Martinho”, Das Artes e da História da Madeira, 1949, p. 341; Dr. Elmano Vieira, “A Madeira nas estampas da primeira metade do século XIX”, Das Artes e da História da Madeira, Vol. I, Nº 2, 1950, pp. 28-30; Maria da Conceição Vilhena, “Estrangeiros na Madeira: Platon de Waxel, um russo apaixonado pela cultura portuguesa”, Islenha, N.º 11, 1992, pp. 5-15; Eberhard Axel Wilhelm, “Visitantes de língua alemã na Madeira (1815-1915)”, Islenha, Nº 6,1990, pp. 48-67; Idem, “A Madeira entre 1850 e 1900 uma estância de tísicos germânicos”, Islenha, Nº 13, 1993, pp. 116-121Idem, “Hamburgueses falecidos na Madeira (1868-1896)”, Islenha, 20, 1997, pp.64-68; Idem, Visitantes e Escritos Germânicos na Madeira 1815-1915, Funchal, DRAC, 1997; João Cabral do Nascimento, Estampas Antigas da Madeira: Paisagem-costumes-traje-edifícios-marinhas, Funchal, 1935; idem, Estampas Antigas com Assuntos Madeirenses, in Arquivo Histórico da Madeira [AHM], Vol. II 1933, IV, 1934-1935. Diogo de Macedo, Notas sobre Pintores Portugueses que Estiveram na Madeira, in AHM, VII, 1949. João Camacho Pereira, Colecção de Gravuras Portuguesas, V Série: Ilha da Madeira, Lisboa, 1948.

8 Não será por acaso que muitos guias do século XIX dão especial atenção ao clima e existem numerosa bibliografia: Adams, J. A., Guide to Madeira With an Account of the Climate, Lisboa, 1801; idem, Observations on Pulmonary Consumption and on the Utility of the Climate of Madeira. Publicado em Extract of the Medical & Physical Journal. Abril de 1801; Francisco António Barral, Noticia sobre o clima do Funchal e sua influência no tratamento da tisica pulmo-

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A partir da segunda metade do século dezoito foi a revelação da Madeira como estância para o turismo terapêutico, mercê das qualidades profiláticas do clima na cura da tuberculose, o que cativou a atenção de novos forastei-ros. A tísica propiciou-nos, ao longo do século dezanove, o convívio com poetas, escritores, políticos e aristocratas. Não obstante a po lémica causada

nar, Lisboa: Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1854; idem, Le Climat de Madère et son Influence Thérapeutique sur Ia Phithisie Pulmonaire, Paris: J. B. Baillière et Fils, Libbraires de I’Académie Impériale de Médicine, 1858; James Mackenzie Bloxam,. The Climate of the Island of Madeira, or the errors & misrepresentations on this subject contained in a recent work on climate, Lodon, T. Richards, 1855; Castelo Branco, Hugo Carvalho de Lacerda. Le climat de Madère. Ebauche dun étude comparative. Le meilleur climat du Monde. Station fixe et Ia plus belle d‘Hiver, Funchal, 1936 (2ª ed. em 1938); James Clark, The influence of climate in the prevention and cure of chronic diseases, more particulary of the chest and digestive organs: Comprising an account of the principal places resorted to try invalids in England, the South of Europe. Londres: Thomas and George Underwood, 1830; John Driver, Letters from Madeira in 1834; With an Appendix Illustrative of the History of the Island, Climate, Wines and other information up to the year 1838. Londres, Longman and Co. Liverpool; J. F. Cannell, 1838; John Driver, Co-aut. A Treatise on the Climate and Meteorology of Madeira, London: John Churchill. Liverpool, Deighton And Laughton, 1850; William Gourlay, Observations on the Natural History, Climate and Diseases of Madeira, during a Period of Eightenn Years. Londres, 1811; Michael Comport Grabham, The Climate anda resources of Madeira as regarding chiefly the necessities of consumption and the welfare of Invalids. By Michael C. Grabham, M. D., F. R. G. S. London: John Churchill & Sons, 1870; Henri Halmes, Études sur le Climat de Madère et la Phthisle. Na Gazette Médicale de Paris. 1860 ; Charles Heineken, Observations of Climate of Madeira. Em Me-dical Repository, Vol. XII. Londres, 1824 e Philosophical Magazine, Londres 1827; Alberto Figueira Jardim,Trad. the Climate of Madeira, with a comparative study, Funchal: Delegação de Turismo da Madeira, 1938; James Yate Johnson, Ed. lit, Madeira its climate and scenery. A hand-Book for invalid and other visitors, Edimburgh: Adam and Charles Black, 1857; Macé de Lepinay, Quelques notes sur le Climat e les Sources Minérales de Madère et des Açores, in Annales de la Société D’Hidrologie et de Climatologie Médicales. Paris, 1936; G. Lund, The Climate of the Island of Madeira. Londres, 1853-54; Lyall,Rambles in Madeira and in Portugal in the early part of 1826 witch an appendix of details, illustrative of the health, climate, produce, and civil History of the Island. London: Printed for C. and. J. Rivington, 1827; James Ma-caulay, Notes on the Physical Geography, Geology and Climate of the island of Madeira, in Edinburgh new Philosophical Journal. Outubro de 1840; João Augusto Martins, A Madeira e o seu clima, Lisboa: Imprensa Nacional, 1901. Sep, do Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa; J. A. MASON e outros, A Treatise on the Climate and Meteorology of Madeira, London, John Churchill. Liverpool, Deighton and Laughton, 1850; Armando da Cunha Narciso, Les Climats de Portugal. 1934; idem, Le climat de Madère et ses effects thérapeutiques. Porto: Tip. da Enciclopédia Portuguesa, Ld.ª [1935?]. Sep. do Nº 4 Vol. XVIII, Avril de 1934 (pag. 158 a 161) de Portugal Medico; Georg Peacock, A Treatise on the Climate and Meteorology of Madeira, London, John Churchill. Liverpool, Deighton And Laughton, 1850. César Augusto Mourão Pitta, Du climat de Madère et de son influence therapeutique dans le traitement des maladies chro-niques en géneral et en particulier de la phthisie pulmonaire, Montpellier, Typ. de Boehm, 1859. César Augusto Mourão Pitta, Madère, Station Médicale Fixe, Climat des Plaines, Climat des Altitudes. Accompagné d’un Guide-Madere, Paris, Ancienne Librairie Germer Baillière et Cie. Félix Alcan, Editeur, 1889; Rambles in Madeira, and in Portugal in the early part of MDCC-CXXVI. With an appendix of details, illustrative of the health, climate, produce, and civil history of the Island, London: C. & J. Rivington, 1827; Francisco de Assis de Sousa Vaz, De I’influence salutaire du climat Madère. Paris, 1832; Guilherme Telles de Menezes, Climatologia compara-da, 1895; Pedro Júlio Vieira, Études médicales sur le climat de Madère. Montpilier, 1852; Robert White, Madeira. Its climate and scenery. A hand-Book for invalid and other visitors, Edimhurg, Adam and Charles Black,1857. Hermann Weder, Climatotherapie, 1886.

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em torno das possibilidades de cura a ilha permaneceu por muito tempo como local de acolhimento dos doentes, sendo considerada a primeira e principal estância de cura e convalescença do velho continente.

O turismo na Madeira começou como uma forma de busca da cura para a tísica pulmonar. Foi este movimento que paulatinamente contribuiu para que se transformasse rapidamente numa realidade. Na verdade, a partir da segunda metade do século dezoito foi a revelação da Madeira como estân-cia para o turismo terapêutico, mercê das qualidades profiláticas do clima na cura da tuberculose, o que cativou a atenção de novos forasteiros. Agus-tina Bessa Luís diz-nos que foram eles que fizeram a fama da ilha.

A revelação das qualidades terapêuticas do Funchal na cura da tísica pulmonar aconteceu a partir dos estudos de Thomas Heberden (1751)9, John Fothergill10 e John Adams11 e provocou a atenção de entidades e en-fermos12. A situação corporizava o chamado turismo terapêutico que moti-vou um movimento desusado de doentes. A Madeira destacou-se, mercê das referências elogiosas feitas por alguns especialistas, como os doutores SousaVaz (1832) e J. Clark13 que consideravam o Funchal como a primeira e principal estância de cura e convalescença da Europa14. O epíteto fez com que parte significativa do movimento de doentes se orientasse na direcção da ilha, pelo que no período de 1834 a 1852 a média anual oscilava entre os 300 e 400 doentes maioria de origem inglesa. Foram tais condições que justificaram, em 1859, de um sanatório, o primeiro que se construiu em Portugal. O movimento manteve-se, ampliando as motivações dos visitan-tes interessados nas belezas e recantos paradisíacos.

A presença cada vez mais assídua de visitantes em estadias prolongadas, como era o caso dos doentes, provocou a necessidade de criação de infra-

9 As primeiras observações foram publicadas na Philosophal Transactions, de Londres.10 On Consuption Medical Observations, Londres, 177511 J. Adams, A Guide to Madeira With an Account of the Climate, Lisboa, 1801; “Observations

on Pulmonary Consumption and on the Utility of the Climate of Madeira”, in Extract of the Medical & Physical Journal. Abril de 1801.

12 Os estudos de T. Heberden e Adams são uma referência sobre o tema, cf. W. Gourlay, Natural History, Climate and Diseases of Madeira, Londres, 1811, p.71.

13 James Clark, The influente of climate in the prevention and cure of chronic diseases, more parti-culary of the chest and digestive organs: Comprising an account of the principal places resorted to try invalids in England, the South of Europe. A comparative estimate of their respective merits in particular diseases; and general directions for invalids while travelling and residing abroad with an Appendix, containing a series of tables on climate. 2.º ed. enlarged. Londres: Thornas ard George Underwood, 1830.

14 Cf. Fernando Augusto da Silva, Clima, in Elucidário Madeirense, vol.I, Funchal, 1984, pp.273-274. Agostinho Cardoso, A Madeira e o turismo Nacional, Funchal, 1964, p.24.

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estruturas de apoio: sanatórios, hospedagens e agentes, que serviam de in-termediários entre forasteiros e proprietários de acolhimento. O último é o prelúdio do actual agente de viagens. O turismo, tal como hoje se entende, dava os primeiros passos. Como corolário disso, estabeleceram-se as pri-meiras infra-estruturas hoteleiras e o turismo passou a ser uma actividade estruturada com uma função relevante na economia da ilha. E, mais uma vez, o inglês é o protagonista. Em termos históricos podemos dizer que o turismo caminhou lado a lado com o vinho e o aparecimento de novas actividades económicas. A vinha persistiu nas latadas e fez-se companheira de vimeiros, bordados e bordadeiras. A harmonia marchava a favor da ilha e tornava possível a existência de várias formas de actividade que garantiam a sobrevivência. A variedade de actividades e produtos foi a receita certa para manter de pé por algum tempo a frágil economia insular. Na década de 40 do século XX define-se o “comércio, a navegação e o turismo, os grandes propulsores do desenvolvimento insular”. As actividades em torno da obra de vimes e bordados tiveram nos estrangeiros, principalmente ingleses, os seus principais promotores. A primeira metade do século XX foi marcada por profundas mudanças na economia madeirense. É, para aqueles que a vive-ram, um momento para esquecer. Primeiro os conflitos mundiais (1914-18 e 1939-45) e depois os problemas políticos e económicos marcaram um momento negro da vida madeirense. A guerra evidenciou a fragilidade da economia da ilha e evidenciou a extrema dependência do mercado exter-no. Os problemas económicos arrastam convulsões sociais que se misturam com as políticas.

Ao interesse científico pela fauna botânica e flora da ilha veio juntar-se, a partir de meados do século dezoito, a climatologia. A revelação, através dos estudos de Herber (1751), Fothergill (1775) e Adams (1801), das qua-lidades terapêuticas do Funchal, na cura da tísica pulmonar, galvanizaram o interesse de entidades e enfermos. A situação corporizava o chamado turismo terapêutico que motivou um movimento desusado de doentes para as ilhas Atlânticas. A Madeira destacou-se, mercê das referências elogio-sas feitas por alguns especialistas, como os doutores Vaz (1832) e J. Clark (1834) que consideravam o Funchal como a primeira e principal estância de cura e convalescença da Europa. Em 1859 construiu-se o primeiro sanató-rio. O último sanatório a ser construído foi feito em 1903 por iniciativa dos alemães, através do príncipe Frederik Charles de Hohenlohe Oehringen, ficando conhecido como a Companhia dos Sanatórios da Madeira15. Desta

15 J. Ezequiel Veloza, “Hospital para tuberculosos no sítio da Casa Branca, S. Martinho”, Das Artes e da História da Madeira, 1949, p. 341; Eberhard Axel Wilhelm, “A Madeira entre 1850

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iniciativa polémica resultou apenas o imóvel do actual Hospital dos Mar-meleiros.

O epíteto fez com que parte significativa do movimento se orientasse na direcção da ilha, pelo que no período de 1834 a 1852 a média anual oscilava entre os 300 e 400, sendo na maioria inglesa. Foram tais condições que jus-tificaram em 1859 do Sanatório, o primeiro que se construiu em Portugal. Por tal motivo a ilha teve o mérito de receber visitantes ilustres que bus-cavam cá o alívio necessário para as enfermidades. Temos notícia de dois lustres escritores portugueses, Júlio Dinis e António Nobre, do príncipe Alexandre dos Países Baixos, em 1848, da princesa D. Amélia do Brasil. A situação favorável que a ilha desfrutou durante o período contribuiu para a divulgação do nome da mesma na Europa e criação de uma forte apetência. Criados e familiares continuam a demandar a ilha. O movimento subse-quente fez alterar os anteriores circuitos da cura, ampliando as motivações geradoras da entrada dos estrangeiros na ilha. O estrangeiro começou a interessar-se pelas belezas do meio e, deste modo, às qualidades terapêuti-cas aliaram-se as paisagens e o ambiente paradisíaco.

Tenha-se em conta que este momento de forte afluência de estrangeiros coincide com a época de euforia da Ciência nas Academias e Universidades europeias. Desde finais do século XVII as expedições científicas tornaram-se comuns e o Funchal foi um porto fundamental de escala, para ingleses, franceses e alemãs. A função do Funchal como porto de escala das navega-ções oceânicas e estância de turismo terapêutico contribuiu para afirmar o papel da ilha e justifica os inúmeros estudos científicos ou de viagem que se dedicam ou fazem referência à Madeira.

3. MADEIRA A SALA DE VISITAS DO ATLÂNTICOA Madeira pode muito bem ser considerada uma das mais destacadas sa-las de visita do espaço atlântico, pois foi desde os primórdios da ocupa-ção europeia um espaço aberto à presença quase assídua de forasteiros. A hospitalidade madeirense é uma constante da História que não se cansa de assinalar a frequência de aventureiros, marinheiros, mercadores, aristo-cratas, políticos, artistas, escritores, cientistas. Uns surgem apenas de vista fugaz de passagem, outros vêm ao encontro da ilha, em busca da cura para

e 1900 uma estância de tísicos germânicos”, Islenha, nº 13, 1993, pp. 116-121. Nelson Verís-simo, A Questão dos Sanatórios da Madeira, Islenha, 6 (1990), 124-144.

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as doenças ou do tédio dos ambientes aristocráticos. A todos a ilha acolheu de braços abertos.

ARISTOCRATAS, POLÍTICOS e ESCRITORES. A Madeira cedo ganhou o epíteto de estância turística do atlântico, firmando-se como um espaço destacado da história do turismo no Ocidente. A revelação da Ma-deira como estância de turismo terapêutico aconteceu a partir da segunda metade do século XVII. As qualidades profiláticas do clima na cura da tu-berculose cativaram a atenção de novos forasteiros. Foi a busca da cura para a tísica que propiciou aos madeirenses o convívio com poetas, escritores, políticos e aristocratas.

Dos visitantes que a ilha merecem especial atenção quatro grupos dis-tintos: invalids (=doentes), viajantes, turistas e cientistas. Os primeiros fu-giam ao Inverno europeu e encontravam na temperatura amena o alívio das maleitas. Os demais vinham atraídos pelo gosto de aventura, de novas emoções, da procura do pitoresco e do conhecimento e descobrimento dos infindáveis segredos do mundo natural. O viajante diferencia-se do turista pelo aparato e intenções que o perseguem. É um andarilho que percorre todos os recantos na ânsia de descobrir os aspectos mais pitorescos. Na ba-gagem constava sempre um caderno de notas e um lápis. Através da escrita, do desenho e gravura regista as impressões do que vê. Daqui resultou uma prolixa literatura de viagens, que se tornou numa fonte fundamental para o conhecimento da sociedade oitocentista das ilhas. O turista, ao invés, é pouco andarilho, preferindo a bonomia das quintas, e egoísta, guardando para si todas as impressões da viagem. O testemunho da sua presença é documentado apenas pelos registos de entrada dos vapores na alfândega, pelas notícias dos jornais diários e pelos “títulos de residência”.

A Madeira foi desde então um espaço aprazível de acolhimento para a maior parte da aristocracia europeia. Bulhão Pato diz-nos que, de entre os numerosos visitantes da década de 50 do século XIX, muitos são oriun-dos da aristocracia de dinheiro e de sangue. Alguns rendidos pelo fascínio das suas belezas, testemunhando em inúmeros livros publicados em inglês, francês, alemão, outros pela necessidade de encontrar no clima da ilha as condições de alívio e cura para a tuberculose. Neste grupo podemos enqua-drar escritores, como Júlio Dinis (1869), António Nobre (1898-1899), Ber-nard Shaw (1924), John dos Passos (1905, 1921, 1960) e muitos outros que deixaram testemunho escrito da passagem pela ilha. Um grupo significativo de doentes e visitantes situava-se entre a mais destacada aristocracia euro-peia e mesmo de algumas casas reais, como foi o caso da Rainha Adelaide de Inglaterra (1847), Princesa Dona Maria Amélia (1853), da Imperatriz

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Isabel da Áustria, mais conhecida por Sissi (1860-1861, 1893-1894), a im-peratriz Carlota do México(1859, 1864), Alberto I, Rei da Bélgica(1909), o imperador da Áustria, Carlos de Habsburgo (1921), Ferdinando I, rei da Bulgária(1936), Marash de Barodá, soberano indiano(1932), Wilhem Prinz zu Wied, ex-rei da Albânia(1932).

Também, por força das circunstâncias de o Funchal ser um porto de es-cala das rotas europeias que ligavam à América e África, tivemos várias per-sonalidades em passagem obrigatória no Funchal, sendo quase sempre alvo do melhor acolhimento pelas autoridades do arquipélago, que improvisavam cais de desembarque e faustosas recepções. Em alguns casos a ocorrência resultou de condições difíceis para os próprios, sendo a ilha porto de escala de caminho para o exílio, como sucedeu com Napoleão Bonaparte (1815), o imperador da Áustria, Carlos de Habsburgo (1921), Fulgêncio Baptista y Zaldivar, ex-presidente de Cuba (1959). Outros mais políticos desfilaram pelo porto e ruas da cidade funchalense, como os Generais Luís Botha (1909) e Jan Christian Smuts (1921) da União Sul-Africana. E não pode-remos esquecer ainda a estadia temporária de Winston Churchill(1950).

De entre as autoridades portuguesas podemos assinalar a passagem do DR. Manuel de Arriaga (1883, 1884), Dr. António José de Almeida (1922), o General Óscar Carmona (1938), o Genral Craveiro Lopes (1955), o Al-mirante Américo Thomas (1962, 1963, 1969). Mas, na História do século XX, as visitas mais memoráveis e mobilizadoras dos madeirenses foram sem dúvida a do Rei D. Carlos I em 1901 e a da imagem de Nossa Senhora de Fátima em 1948.

EXPEDICIONISTAS E CIENTISTAS. As ilhas entraram rapida-mente no universo da ciência europeia. Os séculos XVIII e XIX foram momentos de assinaláveis descobertas do mundo através de um estudo sis-temático da fauna e flora. A procura e descoberta da natureza circundante cativou toda a Europa, mas foram os ingleses que marcaram presença mais assídua nas ilhas, sendo menor a de franceses e alemães. Aqui são protago-nistas as Canárias e a Madeira. A Inglaterra apostava nas ilhas como pontos fundamentais da estratégia colonial, acabando por estabelecer na Madeira uma base para a guerra de corso no Atlântico.

Se as embarcações de comércio e as expedições militares tinham cá es-cala obrigatória, mais razões assistiam à passagem quase que obrigatória de inúmeras expedições científicas. Foram inúmeras as expedições científicas europeias que escalaram o Funchal. Desde a segunda metade do século XVIII que o porto do Funchal se animou com a passagem assíduas des-tas expedições. De entre estes expedicionistas podemos contar com ale-

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mães (1860, 1874, 1910, 1937), americanos (1838, 1915, 1939), austríacos (1857), belgas (1897, 1911, 1922), dinamarqueses (1845, 1921), franceses (1785, 1883, 1903, 1908, 1911, 1913,1923, 1933), ingleses (1755, 1764, 1766, 1768, 1772, 1792, 1816, 1824, 1839, 1841, 1842-1846, 1901, 1902, 1910, 1914, 1921, 1922, 1929, 1934, 1937) e noruegueses (1910, 1914, 1922, 1930).

As ilhas, pelo endemismo que as caracteriza e pela história geo-botâni-ca, permitiram o primeiro ensaio das técnicas de pesquisa a seguir noutras longínquas paragens. Também elas foram um meio revelador da incessante busca do conhecimento da Geologia e Botânica.

Instituições seculares, como o Museu Britânico, Linean Society, e Kew Gardens, enviaram especialistas às ilhas proceder à recolha de espécies, en-riquecendo os seus herbários. Os estudos no domínio da Geologia, Botâ-nica e Flora são resultado da presença fortuita ou intencional dos cientistas europeus. E por cá passaram destacados especialistas da época, sendo de realçar John Ovington(1695), John Byron(1764), Joseph Banks(1768), Ja-mes Cook(1768, 1772), Humboldt, John Forster(1772), John Barow(1792), Robert Scott(1910). O próprio Darwin deslocou-se às Canárias e aos Aço-res (1836), deixando os estudos sobre a Madeira nas mãos de um discípu-lo. James Cook escalou a Madeira por duas vezes em 1768 e 1772, numa réplica da viagem de circum-navegação apenas com interesse científico. Os cientistas que o acompanharam intrometeram-se no interior da ilha à busca das raridades botânicas para a classificação e depois revelação à comunida-de científica.

4. O TURISMO E A HISTÓRIA DA ILHAO turismo caminhou lado a lado com o vinho e o aparecimento de novas actividades. A vinha persistiu nas latadas e fez-se companheira de vimeiros, bordados e bordadeiras. A harmonia marchava a favor da ilha e tornava possível a existência de várias formas de actividade que garantiam a so-brevivência. A variedade de actividades e produtos foi a receita certa para manter de pé por algum tempo a frágil economia insular. Na década de quarenta define-se o “comércio, a navegação o turismo, os grandes propulsores do desenvolvimento insular”. As actividades em torno da obra de vimes e bordados tiveram nos estrangeiros, principalmente ingleses os seus princi-pais promotores.

A primeira metade do século XX foi marcada por profundas mudanças na economia madeirense. É para aqueles que a viveram um momento para

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esquecer. Primeiro os conflitos mundiais (1914-19 e 1939-45) e depois os problemas políticos e económicos marcaram um momento negro da vida madeirense. A guerra evidenciou a fragilidade da economia da ilha e evi-denciou a extrema dependência do mercado externo. Os problemas econó-micos arrastam convulsões sociais que se misturam com as políticas.

A maioria dos visitantes, como é óbvio, pertence à aristocracia endinhei-rada. Um breve olhar pelos registos e testemunhos corrobora esta evidência. As famílias reais dos Habsburgos eram frequentes na ilha. A lista de aristo-cratas, príncipes, princesas e monarcas parece ser infinda, mas entre todos fica o registo da imperatriz Isabel, mais conhecida por Sissi, mulher do im-perador Carlos da Áustria. Assídua foi a presença da imperatriz do México, que legou um registo apaixonado em Un Hiver à Madère (1859-1860).

Ontem como hoje a realização de uma viagem depende também da dis-ponibilidade de infra-estruturas de apoio. Hoje fala-se em hotéis e restau-rantes, ontem, eram as estalagens, os albergues e as tabernas. A palavra ho-tel, deriva do francês hotel, mas com um significado diferente do que aquele que assumiu na actualidade. Na Idade Média existiam os Hospitalis, casas para recolha dos peregrinos e doentes. A par disso coexistiam os albergues e hospedarias, que pelo importante serviço que prestavam à sociedade, me-receram sempre a atenção dos municípios e coroa.

Até ao advento da era industrial, em que o transporte por tracção ani-mal dominava a circulação em terra, a albergaria ou estalagem, regra geral asseguravam ao viajante apenas cama para dormir, o necessário aprovisio-namento de forragem para os animais e algum alimento. A par disso os viandantes poderiam contar com o acolhimento das igrejas, ordens reli-giosas e casas particulares. Ao longo dos caminhos de peregrinação, como o S. Tiago de Compostela, amontoavam-se estas infra-estruturas, sempre abertas para receber os peregrinos, propiciando-lhe o necessário descanso e alimento.

No mar o equivalente era conhecido como porto de escala e reabasteci-mento, estes polvilhavam o vasto oceano e por norma situava-se em ilhas – Madeira, La Gomera, La Palma, São Tiago, Santa Helena e Terceira. A principal povoação dispunha de uma enseada natural que servia de ancora-douro para as embarcações, que se abasteciam de água e alimentos frescos, e os viajantes poderiam usufruir de um albergue para pernoitar e hospitais para curar os doentes. Era o refresco retemperador da viagem. A Madeira, através do porto, o Funchal, demarcou-se desde os primórdios da expansão atlântica como um importante e necessário porto de escala.

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Para que o Funchal assegurasse o serviço foi necessário montar as ne-cessárias infra-estruturas de apoio. De acordo com informação de Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, a Rua dos Mercadores (actual Rua da Alfândega) era o espaço de acolhimento de forasteiros e mercadores, “a rua dos mercadores e fanqueiras, ingleses flamengos, e outros forasteiros”. Nada faltava, desde hortaliças, vinho, legumes, biscoito, água e, até mesmo as me-retrizes, que deambularam escandalosamente pela praia. Giulio Landi, que em 1530 desfrutou da hospitalidade madeirense, refere que ‘os madeirenses abundam, entre outras, em três coisas: pulgas, ratos e meretrizes. A hospita-lidade dos madeirenses é uma evidência, sendo frequentemente realçada pelos visitantes. Aliás, a fama do turismo na ilha deve-lhe muito. A atitude é definida de forma exemplar por Henrique Galvão em 1941: A hospitali-dade dos madeirenses é a expressão dum sentimento e a força dum hábito. É uma manifestação de cortesia, cada vez mais rara em todo o mundo, e é também um prazer dos habitantes”.

Por todo o século XVIII e primeira metade do seguinte, a frequência assídua de tísicos à procura de cura e os demais que por aí passavam, en-contravam fácil acolhimento nas casas particulares. Todavia, o aumento do tráfego conduziu ao aparecimento dos primeiros hotéis. William Reid, que se havia fixado na ilha, em 1844, foi, conjuntamente com W. Wilkinson, primeiro, com intermediário entre os proprietários de casas ou quintas e os forasteiros. Mais tarde assumem-se como os primeiros proprietários das iniciais unidades hoteleiras. A família Reid’s começa com The Royal Edim-burgh Hotel, mas em 1850 era já detentora de três hotéis – Santa Clara, Carmo Hotel, Reid’s New Hotels. Os filhos de W. Reid, Alfred e William, deram continuidade à obra do pai, tendo mesmo, em 1891, escrito um guia para a Madeira. É de salientar que o Reids Hotel é na actualidade a mais antiga unidade hoteleira madeirense e de todo o espaço atlântico, sendo por isso mesmo um marco emblemático do nosso turismo. A par disso o facto de ali se terem alojado personalidades ilustres, como W. Churchill, B. Shaw, G. Marconi, entre outros, leva-nos a concluir que foi e continuará a ser umas principais salas de visita e acolhimento do arquipélago, uma refe-rência do turismo madeirense.

Na Madeira, a exemplo do que sucedeu nas demais ilhas, o principal porto e cidade, não monopoliza a atenção do viajante. Os passeios a pé, a cavalo e, no caso madeirense, de rede permitiam incursões no interior. Em finais da década de quarenta do século XIX, foi Silvestre Ribeiro, Governa-dor civil, lançou as bases para a criação de um conjunto de infra-estruturas de apoio no interior da ilha. Todavia, só a partir de 1887 temos a primeira

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informação sobre uma rede de estalagens fora do Funchal. O visitante pas-sou a dispor de locais de acolhimento em Boaventura, S. Vicente, Seixal, Rabaçal, Santana e Santa Cruz.

As unidades de acolhimento não acabaram com a tradicional hospitali-dade das casas e quintas mantiveram-se, sendo de referir, em finais do sé-culo dezanove, merecendo referência a casa de Mr. Newton Luscombe e as quintas das Angústias, Santana e Palmeiras. Aliás, em 1889 C. A. Mourão Pita apresentava com destaque um numeroso conjunto de casas e quin-tas, preparadas para alugar aos visitantes, estando o serviço assegurado por angariadores. Até à presente centúria a quinta, nomeadamente, na área de Santa Luzia e Monte, continuou a colher inúmeros visitantes, não obstante o florescimento de novas infra-estruturas hoteleiras, a partir da década de trinta. Hoje, de novo voltam a assumir idêntico papel, albergando no seu seio luxuosas unidades hoteleiras.

A presença de viajantes e “invalids” na ilha conduziu obrigatoriamen-te à criação de infra-estruturas de apoio. Se num primeiro momento se socorriam da hospitalidade insular, num segundo, a cada vez mais maior afluência de forasteiros, conduziu à montagem de uma estrutura hotelei-ra de apoio. Aos primeiros as portas eram franqueadas por carta de reco-mendação. A isto juntou-se a publicidade através da literatura de viagens e guias. Os guias forneciam as informações indispensáveis para a instalação no Funchal e viagem no interior, acompanhados de breves apontamentos sobre a História, costumes, fauna e flora.

A Madeira firmou-se, partir da segunda metade do século dezoito, como uma das estâncias do turismo terapêutico. A ilha foi considerada por alguns como uma das principais estâncias de cura e convalescença da Europa. No período de 1834 a 1852 a média anual de Invalid’s oscilava entre os 300 e 400, na maioria ingleses. Em 1859 construiu-se o primeiro sanatório. O último investimento foi dos alemães que em 1903 através do principie Frederik Charles de Hohenlohe Oehringen constituiu a Companhia dos Sanatórios da Madeira. Da iniciativa polémica resultou apenas o imóvel do actual Hospital dos Marmeleiros. John Ovington, em finais do século XVII, refere que os negociantes ingleses, que aqui na ilha “seguem a maneira de viver inglesa característica das suas cidades e casas de campo acolhem nos seus aposentos compatrícios seus que estejam de passagem na ilha. A falta de alber-gues insuficientes para acolher os inúmeros transeuntes gerou esta forma personalizada de acolhimento.

Certamente que a hospitalidade, que não era apenas apanágio dos ingle-ses, radica as origens no medieval direito de aposentadoria. O rei, os senho-

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res e comitiva, nas deslocações usufruíam da oferta da estância e alimenta-ção concedida pelos moradores do lugar. A exigência deixou de ser força de lei mas a tradição imortalizou-a como uma forma de bem receber. A partir do século XV só deveria ser assegurada aos oficiais régios ou municipais, que se deslocaram em serviço. Será uma forma arcaica das actuais ajudas de custo? Foi na mística hospitalidade que as infra-estruturas hoteleiras deram os primeiros passos. O aparecimento assíduo de grupos esgotava a capacidade de acolhimento e tornava necessário a criação de espaços de acolhimento adequados à qualidade dos viandantes. A estalagem ou alber-gue dão lugar aos primeiros hotéis.

As ilhas atlânticas (Açores, Madeira, Canárias), mercê do empenho dos ingleses nas actividades comerciais cedo se firmaram como um aprazível recanto para a aristocracia britânica da ilha ou do Novo Mundo. A assídua frequência de ingleses, em viagem de negócios, passeio, de passagem ou de regresso das colónias, criou um movimento inaudito no Funchal possibili-tado também pela franca hospitalidade dos patrícios ou madeirenses, pois os poucos albergues não eram suficientes para conter as gentes em trânsito. Foi a constante presença de forasteiros que motivou a atenção de todos e motivou as autoridades a apostaram num conjunto de melhoramentos no Funchal. Assim, desde 1848, com José Silvestre Ribeiro, temos o delinear de um moderno sistema viário, a que se juntaram novos meios de locomoção: em 1891 o comboio do Monte, em 1896 o carro americano e finalmente o automóvel em 1904. Já em 1908, Mota Prego16 é peremptório em afirmar a importância do turismo na economia madeirense. Orientação que não caiu no esquecimento uma vez que em 1911 a Junta Agrícola, sob a presidência do Visconde da Ribeira Brava, fez do turismo a principal aposta do pro-gresso económico da ilha, apontando para o estímulo na iniciativa privada na construção de hotéis, casinos e campos de golfe, ao mesmo tempo que se responsabilizava pelo melhoramento da rede viária.

O turismo não se limitou ao espaço urbano, tendo beneficiado alguns dos concelhos rurais mais solicitados pelas suas belezas. São Vicente e San-tana são dois casos paradigmáticos. Mesmo assim o Norte nunca teve o mesmo número e assiduidade de visitantes que acorriam à vertente sul. Alguns atreviam-se a rumar à descoberta do Norte, seguindo os sinuosos caminhos que o ligam ao Funchal. Desde meados do século XIX são fre-quentes as visitas de estrangeiros que aceitam este sacrifício A circulação

16 Notas sobre Portugal, Lisboa, 1908.

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a pé entre o Norte e o Sul fazia-se por íngremes caminhos e para isso era necessário estabelecer casas de abrigo para socorrer os viajantes.

Não temos dados seguros quanto ao desenvolvimento da hotelaria nas ilhas, pois os dados disponíveis são avulsos. Os hotéis são referenciados em meados do século XIX mas desde os inícios do século XV que as cidades portuárias de activo movimento de forasteiro deveriam possuir estalagens. A documentação oficial faz eco da realidade como se poderá provar pelas posturas e actas da vereação dos municípios servidos de portos. No caso da Madeira assinala-se em 1850 a existência de dois hotéis (the London Hotel e Yate’s Hotel Family) a que se juntaram outros dez em 1889. Em princípios do século XX a capacidade hoteleira havia aumentado, sendo doze os hotéis em funcionamento que poderiam hospedar cerca de oitocentos visitantes. A preocupação dos visitantes em conhecer o interior da ilha, nomeada-mente a encosta Norte levou ao lançamento de uma rede de estalagens que tem expressão visível em S. Vicente, Rabaçal, Boaventura, Seixal, Santana e Santa Cruz.

5. O TURISMO E O DEBATE POLÍTICOA actual fase do turismo madeirense começou a dar os primeiros passos no post Segunda Guerra Mundial. A guerra fez parar o movimento de turistas obrigando os hotéis a encerrar as portas. O anúncio do fim da guerra foi o prenúncio da nova era para o turismo madeirense. Em 1952 Ramon Hono-rato Rodrigues chamava a atenção para a promissora indústria, uma vez que está a “desenvolver-se em todo o mundo o hábito ou o prazer de viajar.” Na época a capacidade hoteleira da ilha resumia-se a 453 quartos e o número de turis-tas era de 9131, sendo 142.135 os que transitavam pelo porto do Funchal.

O turismo madeirense é demarcado pela afirmação da época invernal. Os protagonistas deste movimento continuam a ser os mesmos europeus. Já em 1941 Henrique Galvão se lamentava da falta de portugueses: E ainda hoje não compreendo que havendo já em Portugal tanta gente que viaja por pra-zer, haja tantos ingleses que vão à Madeira e tão poucos portugueses que a conhe-çam.”. Apenas a partir da década de setenta ocorreu a mudança mais signi-ficativa. O grupo de visitantes alargou-se ao espaço peninsular e a época de Inverno tem um concorrente forte no período estival. Finalmente, nos anos oitenta a aposta da Secretaria Regional do Turismo numa animação capaz de realçar alguns dos aspectos que faziam os cartazes da ilha conduziu a que o turismo perdesse finalmente o carácter sazonal para se consolidar com a principal actividade económica.

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Na década de sessenta o turismo foi o pólo central e único do desen-volvimento da Madeira. Isto contribuiu para o rápido salto no número de camas. Em 1967 tínhamos apenas 2295 camas que subiram para 3832 em 1971, como resultado da construção de novos hotéis como o Madeira Palá-cio (1969). O salto mais significativo foi a partir de 1973, altura em que se atingiu as 8248 camas. O Madeira Sheraton (1972), Holiday Inn e Matur (1972), D. Pedro-Machico (1972). Apartamentos Lido-Sol (1970). Final-mente em 1982 atingiu-se as 12.244, para no fim do século se ultrapassar as vinte mil. A importância do turismo na economia da ilha conduziu a mudanças ao nível institucional e ao maior interesse e empenho das autori-dades. O turismo era definitivamente a principal aposta do arquipélago e o motor do desenvolvimento económico.

Em 1967 foi criada a Escola de Hotelaria Basto Machado. A preocupa-ção do estado começou em 1930 com a comissão de turismo que antecedeu a Delegação de Turismo da Madeira que começou a funcionar em 5 de Setembro de 1936. A mudança para a actual situação ocorreu em 1978 com a regionalização do sector, que marcou o início do actual boom turístico.

A mudança mais significativa no turismo madeirense ocorreu a partir da década de 70. O grupo de visitantes alargou-se ao espaço peninsular e a época de Inverno tem um concorrente forte no período estival. Finalmen-te, nos anos 80 a aposta da Secretaria Regional do Turismo e Cultura, numa animação capaz de realçar alguns dos aspectos que faziam os cartazes da ilha, conduziu a que o turismo perdesse finalmente o carácter sazonal para se consolidar como a principal actividade económica. Já na década de 60 o turismo era o pólo central e único do desenvolvimento da Madeira. A mu-dança para a actual situação ocorreu, pois, em 1978, com a regionalização do sector, que marcou o início do actual boom turístico.

Em 1927 o Marquês de Jácome Correia traça-nos o retrato do movi-mento de passageiros no porto em que a grande aposta está no apoio ao turismo de cruzeiros: Todos os dias estão a chegar vapores, alguns dos quais trazem regularmente passageiros, comos os transatlânticos de África do Sul e os pertencentes à “Mala Real”, além de inúmeros cruzeiros de recreio que de quando em quando fazem escala pelo porto despejando para terra levas de meio milhar de viajantes de cada vez.17.

Na década de trinta do século XX o turismo é reconhecido como uma importante riqueza nacional e no caso madeirense é considerado a indústria fundamental da ilha. A Segunda Guerra Mundial fez apagar a presença

17 . A Ilha da Madeira, Coimbra, 1927, 233

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deste efeito vigorante da economia nacional, mas em 194618, terminada a guerra, o sector surge como uma área estratégica de desenvolvimento na-cional. E já nesta data a Madeira é reconhecidamente a principal estância turística e a que continua a granjear mais nome ao nível internacional. Foi, assim, no período posterior à Segunda Guerra Mundial que o turismo ac-tual começou a assumir importância especial na economia madeirense até adquirir uma posição cimeira. O movimento de passageiros em trânsito ou para estadia temporária é uma constante.

A tradição secular do turismo madeirense, alicerçada nas condições his-tóricas criadas pela comunidade britânica no arquipélago, foi, no decurso do século XX, o mote dos madeirenses, nomeadamente dos seus deputados ao Parlamento Nacional, para reivindicar uma atenção especial ao desenvolvi-mento do sector. A qualquer momento que surge o debate sobre o turismo, proclamação da Madeira como “a mais bela entre todas as nossas estâncias de turismo, a de maior fama e renome internacionais”, ou a de “uma das nossas primeiras e mais afamadas estâncias de turismo”e, porque, não “ a velha capital lusitana do turismo internacional”, e ainda o “principal centro português de turismo”19. Tudo isto era dito para fazer ver ao todo nacional que a Madeira tinha óptimas condições para apostar no turismo e que essa aposta reque-ria por parte do Governo uma maior atenção. Esta mais-valia do turismo madeirense não era devidamente tida em conta quando faltavam condições para a fazer render ainda mais, como facilidades de comunicação e acesso através do porto.

Em 195820 o turismo era um sector estratégico da economia madeirense, junto com os bordados e as remessas dos emigrantes. Todavia, como se viu, será na década seguinte que a actividade terá um momento de grande flores-cimento. E, para alguns madeirenses, o efeito multiplicador desta situação era evidente. Segundo declarava em 1962 Agostinho Cardoso, deputado da nação, “o turismo,…sacudirá a vida económica da Madeira. Criará e distribuirá riqueza, dará origem a espantoso desenvolvimento da iniciativa particular e à

18 Diário das Sessões, n.º 25, Ano de 1946, 6 de Fevereiro, IV Legislatura, Sessão n.º 25 da As-sembleia Nacional, em 5 de Fevereiro, p. 392

19 . Diário das Sessões, N.º 25, Ano de 1946, 6 de Fevereiro, IV Legislatura, Sessão N.º 25 da Assembleia, Nacional, em 5 de Fevereiro, p. 393; Diário das Sessões, N.º 68, Ano de 1946, 24 de Dezembro, IV Legislatura, Sessão N.º68 da Assembleia Nacional, em 18 de Dezembro, pp.201-202; Diário das Sessões, N.º 46, Ano de 1954, 20 de Março, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão N.º 46, em 19 de Março, p.766.

20 . Diário das Sessões, N.º 18, Ano de 1958, 29 de Janeiro, Assembleia Nacional, VII Legislatura, Sessão N.º 18, em 28 de Janeiro, p.381.

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subida do nível da população.”21. A História acabou por confirmar esta previ-são. Deste modo, em 1967 o turismo era já entendido como o sector basilar da economia madeirense no sentido de que era “a única indústria possível em larga escala e eixo de outras indústrias acessórias”22. Nas vésperas da revolução de Abril, Eleutério de Aguiar, ao dar conta da ruína da agricultura afirma que a vida económica madeirense assentava no binómio emigração turismo, quando em 1965 outro deputado havia afirmado que a economia “nasceu e vive sobretudo do complexo agricultura + emigração + turismo…”23

A partir da década de sessenta do século XX o turismo foi eleito como o principal factor de desenvolvimento da Madeira. A partir de então pode-mos definir o início de uma nova fase na História do turismo madeirense que marcou a marcha irreversível do arquipélago para a aposta preferencial neste sector e que propiciou o desenvolvimento ao actual nível. Para isto foi fundamental o processo de mudança política resultante da Revolução do 25 de Abril de 1974, que conduziu ao processo de autonomia implementado a partir de 1978. A importância assumida pelo turismo na economia da ilha provocou mudanças ao nível institucional e o maior interesse e empe-nho das autoridades. Primeiro tivemos em 1930 a comissão de turismo que deu origem em 5 de Setembro de 1936 à delegação de Turismo da Madeira, depois, Secretaria Regional de Turismo. A mudança para a actual situação ocorreu em 1978 com a regionalização do sector. No contexto da política regional o Turismo assumiu uma posição relevante a partir da década de oitenta, coma criação da Secretaria Regional do Turismo (1983). Em 1967 a ilha dispunha de 2295 camas que subiram em 1971 para 3832. Mas, o salto significativo do sector, aconteceu a partir de 1973, altura em que se atingiu as 8248 camas. E, finalmente em 1982 alcançaram-se as 12.244 para no fim do século se ultrapassarem as vinte mil.

A construção do aeroporto nos anos sessenta abriu novas possibilidades ao desenvolvimento do turismo. As instalações aeroportuárias, que ao lon-go dos últimos anos do século XX foi sendo melhorado até se transformar numa pista intercontinental, marcou a total mudança no turismo, provoca-da pela substituição dos vapores pelo avião.

21 Diário das Sessões, N.º 44, Ano de 1962, 14 de Março, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão N.º 44, em 13 de Março, p.1005.

22 Diário das Sessões, N.º 98, Ano de 1967, 24 de Novembro, IX Legislatura, (Sessão Extraordi-nária), Sessão N.º 98 da Assembleia Nacional, em 23 de Novembro, p.1839.

23 Diário das Sessões, N.º 46, Ano de 1974, 3 de Abril, Assembleia Nacional, XI Legislatura, Sessão N.º 44, em 2 de Abril, p.903; Diário das Sessões, N.º 5, Ano de 1965, 11 de Dezembro, Assembleia Nacional, IX Legislatura, Sessão N.º 5, em 10 de Dezembro, p.46.

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A ilha foi e continuará a ser um espaço de busca permanente sendo infindáveis as motivações da viagem. Primeiro os aventureiros e navegantes abriram o caminho à sua descoberta, que depois foi motivo de fruição para políticos, aristocratas, cientistas, escritores e artistas. Uns aproveitaram a oportunidade da demora da escala para um rápido conhecimento ou es-tudos, outros vieram obrigatoriamente ao encontro da ilha e dos seus en-cantos definidos pela beleza natural, amenidade do clima ou propriedades profiláticas do entorno. A todos encantou mas só de alguns soubemos das impressões que ficaram testemunhadas nos textos, gravuras e pinturas.

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