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    A Histria e a Arte Cnica como Recursos PedaggicosQUMICA NOVA NA ESCOLA

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    Vol. 32, N 1 , FEVEREIRO 2010

    ESPAOABERTO

    Recebido em 04/03/09, aceito em 24/08/09

    Marilde Beatriz Zorzi S, Eliane Maria Vicentin e Elisa de Carvalho

    O ensino de Qumica tem recebido orientaes que no concebem mais aulas baseadas na transmisso/recepo de informaes. Muito mais do que ter conhecimento, o estudante deve ser preparado para exercersua condio de cidado conhecedor da realidade social de seu pas e que esteja disposto a melhor-la. Paratal, so necessrios, compreenso conceitual, o entendimento das relaes dos diversos campos do conhe-cimento e o desenvolvimento de competncias e habilidades. Assim, a Qumica deve ser entendida como

    construo humana, influenciada por aspectos diversos, com estreita relao com suas aplicaes tecnolgicase com questes ambientais e ticas. Estratgias bem estruturadas permitem ao aluno agir como protagonistana construo de seu prprio conhecimento, alm de proporcionarem uma conscientizao das implicaeshistricas no desenvolvimento cientfico.

    contextos, recursos metodolgicos, significados

    A Histria e a Arte Cnica como Recursos Pedaggicos

    para o Ensino de Qumica - Uma Questo Interdisciplinar

    Para cumprir sua funosocial, a escola deveestar comprometida

    com o desenvolvimentoda conscientizao dos

    estudantes quanto aos seusdireitos e aos seus deverese com o desenvolvimento

    de valores ticos.

    A seo Espao aberto visa abordar questes sobre Educao, de um modo geral, que sejam de interesse dos

    professores de Qumica.

    E

    scolas e professores tm sidopor muitas vezes meros deposi-trios de informaes. A prtica

    docente tem, em muitos casos, se re-duzido transmisso de informaes,sem que o professor seja capaz dedesenvolver no aluno a capacidadede agir, julgar, decidir, interferir, expe-rimentar, discutir, valorizar sua cultura,desenvolver valores de solidariedade,de fraternidade, de conscincia docompromisso social, de generosi-dade, de reciprocidade. Assim, paracumprir sua funo social, a escoladeve estar comprometida com o

    desenvolvimento da conscientizaodos estudantes quanto aos seusdireitos e aos seus deveres e com odesenvolvimento de valores ticos,para que estes assumam uma postu-ra comprometida com seu pas, coma tomada de decises e com a reso-luo de problemas da sociedade. Aescola, diante de tarefa to complexa,tem que estar comprometida com a

    busca de instrumentos que permitamo desenvolvimento de seu papel navida de cada estudante.

    Infelizmente, observa-se comfrequncia um ensino de Qumicapautado por uma descontextualiza-o, por uma forma estanque, semlevar em considerao o dia a dia daspessoas, desvinculado com a histriada sociedade (Silva, 2003).

    essa Qumica fragmenta-da, no ligada com as demaiscincias, que ensinamos deuma maneira as-sptica, abstra-

    ta, a-histrica, edogmtica queno atrai os alu-nos, pois a ci-ncia que elesconsomem e queresponde s suasnecessidades elhes traz satisfa-

    es , talvez, a mesma cinciaque lhes pretendemos ensinar,s que eles a querem encarnada

    diferentemente e com uma outraroupagem. H[...] um movimen-to de renovao crtica do ensinode Qumica, que busca fugir doscontedos apenas descritivos,para criar com a Qumica umaconscincia com responsabi-lidades social e poltica. Esta uma direo. (Chassot, 1995,p. 133)

    importante per-

    ceber que a boa oum utilizao da Ci-ncia uma questoideolgica s resolvi-da com a interfernciade uma sociedadebem informada, cr-tica, tica e atuante,que questione po-sies, que avalie

    ideias e que perceba as implicaessociais do conhecimento cientfico.Criar tal sociedade funo da edu-

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    cao escolar, desde que ela sejapautada em uma abordagem ampla econtextualizada de todos os aspectosque envolvem o saber. Pode parecer,diante do exposto, que tudo nopassa de um sonho utpico, porma escola tem em suas mos essegrande desafio e, a ns professores,

    cabe a tarefa de super-lo (S, 2006). clara a presena da Qumicano dia a dia das pessoas, portan-to, necessrio que estas tenhaminformaes sobre tal cincia quetanto influencia a sociedade tecno-lgica moderna. A Qumica e seudesenvolvimento esto diretamenterelacionados com questes polticas,sociais, econmicas e religiosas.Ento ela deve ser entendida comoconstruo humana influenciada poraspectos diversos.

    A Qumica pode ser um ins-trumento de formao humanaque amplia os horizontes cultu-rais e a autonomia no exerccioda cidadania, se o conhecimen-to qumico for promovido comoum dos meios de interpretar omundo e intervir na realidade, sefor apresentada como cincia,com seus conceitos, mtodose linguagens prprios, e como

    construo histrica, relaciona-da ao desenvolvimento tecno-lgico e aos muitos aspectosda vida em sociedade. (Brasil,1999, p. 86)

    O ensino da Qumica deve serorientado de modo que o estudanteperceba a vinculao desta aos maisdiferentes contextos(histricos, polticos,sociais, culturais,rel igiosos e eco-

    nmicos), recons-truindo significados;formando para osvalores; determinan-do responsabilida-des e atribuies;desenvolvendo o senso crtico, ocompromisso com questes dasociedade; desenvolvendo atitudesde solidariedade, de compromissocom o ambiente; desenvolvendoautonomia e capacidade de se comu-nicar, de pesquisar; e mediando uma

    aprendizagem realmente significativaque amplie a estrutura cognitiva doaluno (Santos e Schnetzler, 2003;Santos e Mortimer, 2001). Assim, aaprendizagem de conceitos qumi-cos deve servir para organizar osconhecimentos cientficos como umtodo, bem como sua relao com a

    manuteno e qualidade de vida.O desenvo lv i -mento da Qumicaest int imamenterelacionado com apossibilidade de pro-duo de novos pro-dutos que facilitema vida das pessoas,o que pode levar aum equvoco de queela a soluo detudo e pode resolverplenamente os pro-blemas, como tambm pode levar acrticas que a condenem como cin-cia, esquecendo-se que o que leva aum prejuzo o seu mau uso. Assim,levanta-se uma grande questo parase discutir.

    A Qumica uma produo huma-na e teve seu desenvolvimento mar-cado pela busca da compreenso danatureza e de suas transformaes,pela possibilidade de control-la, pela

    procura incessante da qualidade devida, pelas mudanas ocorridas pro-vocadas pelo homem e com o prpriohomem, pelo desenvolvimento deinstrumentos culturais e tecnolgicos,bem como pelas diferentes disputasde carter social, poltico, geogrfico,religioso, tecnolgico, entre outros

    (S, 2006).Assim, para que

    tenha uma ntima re-lao com o objeto

    de conhecimento daQumica (para quese aproprie desseobjeto do conheci-mento), o cidadodever compreender

    as transformaes da matria, agirde maneira a preservar a natureza,investir tempo e energia para aplicarconhecimentos que beneficiem asociedade, formar juzo no que serefere a riscos e benefcios das maisdiversas tecnologias e relacionar o

    conhecimento especfico da Qumicacom a produo tecnolgica.

    Para a apropriao do objeto doconhecimento, a qumica deve sercompreendida nos diferentes contex-tos: devem-se perceber as influnciassofridas por ela nas mais diferentespocas; perceb-la como constru-

    o humana e sujeita a interfernciade vrios setores dasociedade; compre-ender o seu car-ter provisrio semverdades absolutas,inquestionveis eimutveis; entend-la como componentede uma grande reaassociada a outrasreas do conheci-mento que tambminfluenciam o seu de-

    senvolvimento e a sua compreenso.Durante o processo de aprendi-

    zagem, devem ser levados em con-siderao a vivncia do aluno, suasconcepes prvias, sua culturafamiliar e social e a relao entre osujeito e o objeto de estudo.

    Certamente que o trabalhar demaneira diversificada em sala deaula exige que o professor reflita ereconstrua a sua prtica pedaggica

    (Castilho; Silveira e Machado, 1999),o que no algo to elementar eacaba ocorrendo um sentimento deinquietao, ansiedade e necessi-dade de mudana aliado ao receiodessa mesma mudana.

    Trabalhar de forma contextua-lizada tira o aluno da posio deespectador passivo, proporcionandoaprendizagens significativas. Quandofora do contexto do aluno, a Qumicanormalmente no compreendida

    por este, pois ele no percebe nenhu-ma relao com a sua vida nem coma sociedade, acha-a desvinculada dasua realidade.

    Dentro do Componente CurricularQumica, vrios assuntos so de fcilcontextualizao, portanto, muito im-portante trabalhar com temas sociaisque podem evidenciar aspectos daQumica e propiciar condies para odesenvolvimento de atitudes de soli-dariedade e de tomada de decisesem situaes diversas, sendo a con-

    A escola tem que estarcomprometida com abusca de instrumentos

    que permitam odesenvolvimento de seupapel na vida de cada

    estudante.

    A boa ou m utilizaoda Cincia uma questo

    ideolgica s resolvidacom a interferncia de umasociedade bem informada,crtica, tica e atuante, quequestione posies, que

    avalie ideias e que percebaas implicaes sociais doconhecimento cientfico.

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    textualizao e a interdisciplinaridadeeixos fundamentais na estruturaodas dinmicas e aes didticas.

    Quando nos reportamos s aulasde Qumica, podemos constatar queainda, em muitas escolas, professo-res continuam dando um tratamentoestanque, descontextualizado, acrti-

    co, dogmtico, distante da realidadedo aluno e como se ela fosse umacincia pronta e acabada, com ver-dades absolutas, inquestionveis eimutveis, construda por pessoasdotadas de superpoderes, pessoas(os cientistas) que no pertencem anenhum tipo de sociedade, inclusiveso atemporais (Kosminsky e Gior-dan, 2002). No entanto, essa no a expresso da verdade. Cientistasso pessoas tambm inseridas emum contexto, que vi-vem uma vida emsociedade, sujeitosa inmeros erros ea interferncias domeio.

    Segundo Kos-minsky e Giordan(2002), ao imaginaro cientista to dis-tante da realidadedas pessoas, a ci-ncia acaba sendo

    tambm assim considerada e, ento,no compreendida como atividadehumana que . Ao darmos aos estu-dantes a possibilidade de conhecer ocontexto histrico em que os cientis-tas estiveram sujeitos, muitas de suascontribuies podero ser mais bemcompreendidas.

    A Qumica uma cincia que estdiretamente ligada ao dia a dia daspessoas mesmo quando estas no apercebem. Assim, de fundamental

    importncia que se tenha informa-es e conhecimentos suficientespara compreender que ela no umfim em si mesma e sim um produtode atividades e de dedicao dehomens e mulheres, cujo trabalhoest intimamente relacionado comprocessos sociais e histricos e,como dizia Newton (apud Chassot,1994), que valorizava e reconheciaos trabalhos e as contribuies deoutros cientistas: Se vi mais longe deque os outros homens, foi porque me

    coloquei sobre os ombros de gigan-tes (p. 109). Chassot (1994) comentaque hoje no h quem no receba ouno conhea algo da cincia. Ento,a Qumica deve ser entendida comoconstruo humana, influenciada poraspectos polticos, sociais e econ-micos, com estreita relao em suas

    aplicaes tecnolgicas, questesambientais e ticas.Vivemos em um mundo complexo

    e o conhecimento deste no pode serresponsabilidade de uma nica reado conhecimento e sim das diversasreas para que se tenha uma visomultifacetada, cuja construo feitapelo trabalho conjunto de todos oscomponentes curriculares, nos quaisa Qumica se insere e nos quais oprofessor deve trabalhar com o aluno

    de forma a provo-car reflexes sobre aaplicao dessa ci-ncia na vida em so-ciedade. Assim, a uti-lizao de espaosno formais pode seruma estratgia queamplia os horizontesdos alunos, que pro-porciona a eles umamaior integrao aoprocesso de ensino

    e de aprendizagem e, portanto, umaao efetiva na construo do co-nhecimento.

    Objetivos da atividade

    Um trabalho que alcance as ex-pectativas anteriormente descritasparece ser adequadonuma tentativa deconstruir conheci-mentos, de provo-car o surgimento de

    uma aprendizagemsignificativa para oestudante. Assim,num esforo conjun-to, professores deQumica, Histria eArte decidiram pr em prtica umaatividade que pudesse envolver asdiferentes reas do conhecimento.Tal recurso metodolgico tinha comoobjetivos, dentre vrios:

    - Articular o conhecimento cien-tfico, tecnolgico e histrico numa

    perspectiva interdisciplinar, desenvol-vendo o esprito investigativo e pes-quisador, relacionando o momentohistrico com a atividade de cadacientista em questo e posicionando-se criticamente diante de diferentesacontecimentos.

    - Elaborar estratgias que permi-

    tam o enfrentamento e a resoluode diferentes problemas que acabemsurgindo no apenas na execuo daatividade proposta, mas tambm emoutros momentos do dia a dia dosestudantes.

    - Compreender e utilizar diferentesgneros textuais, o conhecimentohistrico e cientfico como meios paradiagnosticar e equacionar questesde ordem social, econmica, poltica,ambiental e tica e tambm desenvol-ver e aperfeioar capacidades de co-municao e de agir com autonomia.

    - Desenvolver a capacidade detrabalhar em equipe e de atuar comoagente na construo de seu conhe-cimento.

    - Reconhecer a importncia eo sentido histrico da cincia e datecnologia nos diferentes momentos,percebendo-as como uma constru-o humana e sujeita a anlises decarter tico e moral.

    - Participar de atividades artsticas,

    mostrando empenho e capacidadede se envolver em diferentes situ-aes requeridas na construo emontagem de pea teatral.

    Metodologia

    Essa atividade foi realizada comalunos da 1 srie doEnsino Mdio como objetivo de utiliz-la como um recursometodolgico rele-

    vante e que permitisseaos estudantes com-preender o momen-to histrico em quepersonagens ligadosao desenvolvimento

    cientfico/tecnolgico viveram e a influ-ncia dessa vivncia na sua obra.

    As salas foram divididas em duasequipes (com aproximadamente 18alunos) e cada equipe ficou respon-svel por pesquisar um personagemque contribuiu de maneira significa-

    A Qumica e seudesenvolvimento esto

    diretamente relacionadoscom questes polticas,

    sociais, econmicase religiosas, devendoser entendida comoconstruo humana

    influenciada por aspectosdiversos.

    O ensino da Qumica deveser orientado de modo

    que o estudante percebaa vinculao desta aos

    mais diferentes contextos(histricos, polticos,

    sociais, culturais, religiosose econmicos).

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    tiva para o desenvolvimento do co-nhecimento cientfico e tecnolgico.Foram sugeridos pelos professoresvrios nomes: RobertBoyle, Antoine Lau-rent Lavoisier, Micha-el Faraday, John Dal-ton, Marie S. Curie,

    Joseh Louis Proust,Ernest Rutherford,Linus Pauling e JnsJacob Berzelius, po-dendo os estudantesoptarem por outrospersonagens que atendessem s exi-gncias e aos objetivos da atividade.Eles deveriam ainda relatar aconteci-mentos histricos que cada cientistaviveu, no que trabalhava, como eraseu cotidiano, percebendo-o comopessoa comum e que, por sua vez,seu olhar para o mundo refletia asociedade em que estava inserido,relacionando sua contribuio cientfi-ca com o momento histrico. A seguir,redigir um roteiro para a realizao deuma pea teatral que envolvesse taisconhecimentos. O resultado final dotrabalho foi socializado com os cole-gas, o que contribuiu para ampliaodos conhecimentos.

    Durante os procedimentos paraa realizao da atividade, os alunos

    realizaram pesquisas em diversosmeios como livros didticos e para-didticos, internet, idas bibliotecada escola, biblioteca pblica e biblioteca da universidade estadual,garimpo em sebos, debates, tro-cas de informaes com os demaisparticipantes e com os professoresdas reas envolvi-das. Aos professoresde Qumica, Histriae Arte coube a tarefa

    de discutir com osalunos o contextohistrico, a impor-tncia das pesquisasfeitas pelo cientistapara o aquele mo-mento, a repercusso das pesquisaspara a atualidade e a caracterizaopara a montagem dos cenrios, figuri-nos e sonoplastia para apresentaoda pea teatral. Entre os diversoscientistas, os estudantes optarampor trabalhar com: Antoine Lavoisier,

    Marie S. Currie, Ernest Rutherford,Alfred Nobel (sugesto dos prpriosalunos) e Michael Faraday.

    As peas forammontadas e ensaia-das com o auxilio daprofessora de Arte.As caracterizaes

    dos personagens eos cenrios tambmficaram a cargo dosalunos, mediadospela professora. Asapresentaes fo-

    ram feitas para outras turmas docolgio como forma de promover ointercmbio e a construo dos co-nhecimentos adquiridos. Ao final decada apresentao,abriu-se para deba-tes entre os alunosque montaram cadapea e os que as-sistiram como formade esclarecer algunspontos que talvez,durante a pea, pu-dessem ficar pouco claros. Os pro-fessores de Histria e de Qumicaajudavam, mediando tal debate.

    Cada apresentao deveria terum tempo mximo de 25 minutos.Levando isso em considerao, os

    professores decidiram pela realizaodo debate aps a apresentao, umavez que, com o tempo limitado, infor-maes poderiam no ficar claras aosespectadores.

    Durante os momentos de trabalhoque antecederam a apresentao daspeas teatrais e os debates, os pro-

    fessores envolvidosna atividade analisa-vam a participaodos alunos como

    uma das formas deavaliar o recurso me-todolgico utilizado.

    Como exemplo daatividade realizada,podemos citar a pea

    que falava sobre Lavoisier. Os alunosconstataram a importncia de suaspesquisas, pois o cientista formulou alei da conservao das massas, o quemuito contribuiu para revolucionar aimagem da Qumica moderna, provo-cando um distanciamento entre esta e

    a alquimia. A partir de seus trabalhos,o uso da balana passou a ser maisconstante porque ela foi incorporadapraticamente em todos os seus tra-balhos.

    Algo que surpreendeu na poca eque foi levantado pelos alunos duran-te as pesquisas o fato de o cientista

    constatar que a gua uma substn-cia composta, o que era espantosopara a poca, pois se acreditava quefosse uma substncia simples.

    Questes ticas tambm foramlevantadas como, por exemplo, o fatode ser brilhante, Lavoisier em vriassituaes queria atribuir a si mesmoo mrito de descobertas que nemsempre eram suas.

    Os alunos se sur-preenderam com ofato de esse cientista,nascido em famlianobre, isenta de im-postos, ser cobradorde tais tributos, o queno era bem vistopela burguesia, pelos

    sans-culottee pelos camponeses eque, tal motivo, fez com que Lavoisierfosse preso sob a acusao de des-vio de dinheiro pblico e guilhotinadonum dos perodos mais sangrentos daRevoluo Francesa, o Terror.

    Fatos como os citados fizeramcom que os alunos estabelecessemrelao com questes polticas,econmicas e sociais do Brasil con-temporneo.

    Resultados e concluses

    Durante a realizao da atividade,pde-se perceber o envolvimento dosalunos em diferentes situaes, quan-do houve uma grande socializaoentre eles devido necessidade de

    interagir para a execuo de diversastarefas, colocando em prtica vriostipos de conhecimento. Ocorreu tam-bm dilogo entre diferentes reasdo saber, principalmente em Qumicae Histria, devido realizao depesquisas contextualizadoras quepermitiram compreenso do desen-volvimento cientfico e suas implica-es sociais. Com isso, percebeu-seo quo significativa torna-se a apren-dizagem quando se oportuniza mo-mentos diferenciados e em espaos

    A aprendizagem deconceitos qumicos deveservir para organizar os

    conhecimentos cientficoscomo um todo, bem

    como sua relao com amanuteno e qualidade

    de vida.

    O desenvolvimento daQumica est intimamente

    relacionado com apossibilidade de produo

    de novos produtosque facilitem a vida das

    pessoas.

    A Qumica uma

    produo humana e teveseu desenvolvimento

    marcado pela busca dacompreenso da naturezae de suas transformaes.

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    Para saber mais

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    MORAES, R. e RAMOS, M.G. Construin-do o conhecimento uma abordagempara o ensino de cincias. Porto Alegre:Sagra, 1988.

    Abstract: The History and the Scenic Art as a Pedagogic Resourse to the Chemistry Tesching An interdisciplinar question. The Chemistry teaching has received some orientations that doesnt allowclasses based on transmision/receptation of information. Much more than have knowledge, the student must be prepared to practise his expert citizen condition of his countrys social reality andbe ready to improve it. To do that, the conceitual compreension is necessary, as though, the understanding of the relations of the varied knowledge areas and the development of the competencesand hablilities. At this point of view, chemistry must be assimilated as the human construction, influenced by many aspects, with a close relationship with its tecnological aplications and so, withenviromental and etic questions. Good structured strategies let the student act as the protagonist of the construction of his own knowledge, in adition of being ready to proportion a consientizationof the historical implications in the cientific development.Keywords:contexts, methodologic resources, meanings.

    fora da sala de aula. Alm disso, osalunos puderam desenvolver habi-lidades cnicas para apresentaodas peas teatrais.

    Para a execuoda atividade, tive-ram que desenvolvercompetncias e ha-

    bilidades como agircom autonomia; tra-balhar em equipes;envolver-se na reso-luo de problemasde ordem prtica;desenvolver e aperfeioar capa-cidade de comunicao; articulardiferentes conhecimentos; compre-ender o sentido histrico da cinciae a influncia da tecnologia nas maisdiferentes situaes; ler e interpretartextos histrico-cientficos; utilizartecnologias; selecionar material depesquisa e estratgias de trabalho,capacidade de comunicao e so-cializao de conhecimentos.

    Com a atividade, os alunos pu-deram perceber que a Qumica umproduto do trabalho desenvolvidopelos homens para a soluo de pro-blema e questes que se apresentamno cotidiano, e que os cientistas so

    pessoas normais, com vida pessoale, inseridos na sociedade, sujeitosaos mesmos problemas que outras

    pessoas.A experincia foi

    de grande relevn-cia, pois possibili-tou aos estudantes

    perceberem que aQumica uma pro-duo humana sujei-ta aos diferentes inte-resses econmicos,polticos e sociais

    associados ao seu perodo hist-rico, caracterizando-se como umacincia que contribui para grandestransformaes no modo de viverde diferentes sociedades e culturashumanas ao longo dos tempos.

    Verificou-se uma nova tomada deconscincia e postura dos alunosfrente s exigncias de estudo coti-diano, pois estes passaram a esta-belecer maiores e melhores relaesentre o saber sistematizado cientifi-camente e sua aplicao prtica nocotidiano. E em todos os momentosda atividade, estiveram envolvidos,construindo aprendizagens.

    Alunos passaram a posicionar-

    Durante o processo deaprendizagem, devem serlevados em consideraoa vivncia do aluno, suasconcepes prvias, sua

    cultura familiar e social e arelao entre o sujeito e o

    objeto de estudo.

    se de forma crtica diante de textosde peridicos referentes s novastecnologias, sua empregabilidade ecapacidade de apropriar-se de sa-beres produzidos.

    Debates em relao a questesticas referentes a acontecimentosrelacionados aos estudos em ques-

    to foram realizados, o que permitiu aeles se posicionarem acerca destes.Reconheceu-se que a melhoria daqualidade de vida tambm atribu-da ao desenvolvimento cientfico-tecnolgico.

    Diante do exposto, ntida a im-portncia de atividades que vinculemo desenvolvimento e o conhecimentocientfico ao dia a dia das pessoas, oque as fazem compreender o sentidoe a importncia das cincias.

    Marilde Beatriz Zorzi S([email protected]),licenciada e bacharel em Qumica e especialistaem Qumica e suas aplicaes pela UniversidadeEstadual de Maring e da UEM. Eliane Maria Vicentin([email protected]), graduada em Histriae especialista em Histria Social do Trabalho pelaUEM, professora do Colgio Estadual Papa JooXXIII e Colgio Marista de Maring. Elisa de Carvalho([email protected]), graduada em Pedago-gia pela Universidade do Vale do Itaja (UNIVALI) eespecialista em Psicopedagogia pela FAFIAJM , professora do Colgio Marista de Maring.