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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
LINHA DE PESQUISA: PLANEJAMENTO, FORMAÇÃO E AVALIAÇÃO EM
SAÚDE
MIRIAM FIGUEIRA REIS
A HOMEOPATIA E A INTEGRALIDADE DO CUIDADO DE INDIVÍDUOS
PORTADORES DE HEPATITE C CRÔNICA
NITERÓI
ABRIL DE 2013
MIRIAM FIGUEIRA REIS
A HOMEOPATIA E A INTEGRALIDADE DO CUIDADO DE INDIVÍDUOS
PORTADORES DE HEPATITE C CRÔNICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de
Saúde da Comunidade da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para
obtenção do grau de mestre em saúde coletiva.
Orientador: Profª. Drª. Maria Inês Nogueira
R375
Reis, Miriam Figueira
A homeopatia e a integralidade do
cuidado de indivíduos portadores de
hepatite C crônica / Miriam Figueira
Reis. – Niterói : [s.n.], 2013.
142 f.
Orientador:Maria Inês Nogueira.
Dissertação(Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade
Federal Fluminense, Faculdade de Medicina, 2013.
1. Hepatite C crônica. 2. Homeopatia.
I. Titulo.
CDD
616.3623
Ao Prof. Romeu Carillo Jr .
e Participantes do Gênesis
5
AGRADECIMENTOS
À Clarissa Reis do Valle, minha filha, obrigada por compartilhar amor, luz, alegria e
esperança, cotidianamente.
Aos meus amados pais Paulo Roberto e Arésia Maria Reis, dos quais internalizei
valores que norteiam minhas ações. Marília e Mariana Reis, minhas queridas irmã e sobrinha,
que trazem os ventos do planalto e brincam com nossa “cidade empilhada”.
Ao Prof. Romeu Carillo Jr. por sua dedicação ao estudo da Homeopatia e
generosidade ao nos brindar com suas descobertas.
Aos participantes do Gênesis, por sua ousadia em buscar a cura para o sofrimento.
Agradeço especialmente a Maria Cândida Gouveia Pita, Osmar Meirelles e Maria
Emília Marinho, pela fortaleza e solidariedade constantes, incentivando e oferecendo suporte
aos parceiros de caminhada, entre os quais me incluo.
Aos demais integrantes da Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em
Homeopatia (ABRAH) especialmente a Domingos José Vaz do Cabo, parceiro da pesquisa
anterior, ponto de partida para o presente estudo e Ana Marta de Sousa Cavalcanti cujo
entusiasmo trouxe o convênio com a Universidade.
A Cláudia Mullé, Elizabete Ecard, Paulo Henrique Novaes, Jurema Mello e Rita
Castellar, obrigada.
À Martha Freire amiga sempre presente nos momentos de alegria, dificuldades e
decisões, obrigada pelo ombro amigo e por clarear o melhor caminho.
À Anna Alice Mendes pela humanidade, desprendimento, generosidade com que
sempre me acolheu, trazendo o essencial ao primeiro plano.
6
Aos Professores do Mestrado que me fizeram observar o cotidiano através do
estranhamento necessário para compreendê-lo e aos colegas pela vivência dos trabalhos em
equipe.
Aos Integrantes das Comissões Examinadoras de Qualificação e Defesa dessa
Dissertação, Profs. Kenneth Camargo Jr., Walcymar Estrêla, Anna Alice Mendes e Maria
Martha de Luna Freire cujas preciosas contribuições me ajudaram a encontrar o foco e o tom
para o desenvolvimento desse estudo.
E igualmente gratidão à Maria Inês Nogueira cujo zelo, disciplina e arte, ajudaram a
traduzir essa experiência em comunicação escrita. Sem você não teria sido possível.
Obrigada!
7
MIRIAM FIGUEIRA REIS
A HOMEOPATIA E A INTEGRALIDADE DO CUIDADO DE INDIVÍDUOS
PORTADORES DE HEPATITE C CRÔNICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto
de Saúde da Comunidade da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para
obtenção do grau de mestre em saúde coletiva.
Aprovada em 29 de abril de 2013.
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________________ PROFª. DRª. MARIA INÊS NOGUEIRA
Universidade Federal Fluminense
_____________________________________________ PROFª DRª WALCYMAR LEONEL ESTRÊLA
Secretaria Municipal de Saúde / JF
____________________________________________ PROFª DRª ANNA ALICE MENDES
Universidade Federal Fluminense
____________________________________________ PROFª DRª MARIA MARTHA DE LUNA FREIRE
Universidade Federal Fluminense
8
RESUMO
No ano de 2011 cerca de 200 milhões de pessoas no mundo foram diagnosticadas como portadoras de Hepatite C Crônica, que é a principal causa de cirrose hepática no Brasil. Em 2008, a coordenação do Grupo Gênesis de Niterói, ONG de Apoio aos Portadores de Hepatite, solicitou atendimento para os seus integrantes à Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em Homeopatia (ABRAH), com funcionamento ambulatorial no Hospital Universitário Antonio Pedro. Esses indivíduos apresentavam contraindicação ao tratamento oferecido pelo Serviço de Hepatologia do HUAP devido aos efeitos colaterais dos medicamentos e por não terem atingido critérios de cura ao final da terapêutica. Assim, a partir da pesquisa “Avaliação do Tratamento Homeopático em Pacientes Portadores de Hepatite C”, delineou-se o presente estudo qualitativo com análise dos relatos contidos nos prontuários de indivíduos que participaram da mesma durante os primeiros quatorze meses de atendimento. Dentre os referenciais teóricos utilizados neste estudo, destacamos a categoria Racionalidade Médica, elaborada por Luz, os estudos de Carillo Jr. sobre a Homeopatia, e as discussões propostas pela área da Saúde Coletiva sobre Cuidado e Integralidade. Os objetivos principais que nortearam a condução dessa pesquisa foram os seguintes: estabelecer paralelos entre a racionalidade médica homeopática e o conceito de Integralidade; dimensionar os aspectos subjetivos presentes na abordagem homeopática; discutir o tratamento do indivíduo portador de Hepatite C Crônica pela Homeopatia Sistêmica através do critério de suscetibilidade como determinante da cronicidade. Sob a ótica das quatro categorias analíticas utilizadas – adesão, resgate da subjetividade, autonomia e mudança de dinâmica vital – verificamos que o tratamento homeopático foi efetivo para a maioria dos indivíduos participantes dessa pesquisa. Concluímos, então, que esse estudo trouxe à tona as potencialidades e as especificidades proporcionadas pela Homeopatia Sistêmica para o cuidado e o alívio do sofrimento das pessoas portadoras de Hepatite C Crônica.
Palavras-chave: Homeopatia. Integralidade. Cuidado. Hepatite C.
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ABSTRACT
In the year of 2011, about 200 million people worldwide were diagnosed as carriers of the Chronic Type C Hepatitis virus, which is the main cause of hepatic cirrhosis in Brazil. In 2008, the management of the Grupo Gênesis, in Niterói, a Hepatitis Carriers Aid NGO, asked the Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em Homeopatia (ABRAH), that functions within the capacities of the Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), for treatment of their members. These individuals had contraindication to the therapy offered by the Hepatology Service of the HUAP due to presenting side effects to the medication and not managing to achieve the healing criteria by the end of the treatment. Therefore, starting with the research “Avaliação do Tratamento Homeopático em Pacientes Portadores de Hepatite C”, this qualitative study ‒ an analysis of the accounts contained in the medical records of the individuals who participated in the latter during the first fourteen months of treatment ‒ was outlined. Among the theoretical groundwork used in this study, we emphasize the Medical Rationalities, elaborated by Luz, Carillo Jr.’s studies on Homeopathy and the discussions proposed by the Public Health field concerning Care and Integrality. The main points that guided the conduction of this research were the following: to establish parallels between the homeopathic medical rationalities and the concept of Integrality; to observe the subjective aspects existing in the homeopathic approach; to discuss the treatment of Chronic Type C Hepatitis patients using the Systemic Homeopathy method through susceptibility criteria as a chronicity determinative. From the standpoint of the four analytical categories used ‒ adhesion, to recover of subjectivity, autonomy and change of the vital dynamics ‒ it was verified that the homeopathic therapy was effective for the majority of the individuals participating in the research. Therefore, we conclude that this study brought up the possibilities and the specificities provided by the Systemic Homeopathy for the care and relief of the suffering of those who carry the Chronic Type C Hepatitis.
Key words: Homeopathy. Integrality. Care. Type C Hepatitis
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10 2 RACIONALIDADE CIENTÍFICA MODERNA E BIOMEDICINA....................... 12 3 HAHNEMANN, A HOMEOPATIA e CONTRIBUIÇÕES DE CARILLO JR..... 22
4 HOMEOPATIA E INTEGRALIDADE....................................................................... 37 5 ABORDAGENS DA HEPATITE C CRÔNICA.......................................................... 47 6 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 63
7 OBJETIVOS .................................................................................................................. 67
8 METODOLOGIA ........................................................................................................ 68
9 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS........................................ 72
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 130
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 133
ANEXO I ...................................................................................................................... 138
10
1 INTRODUÇÃO
A discussão sobre o cuidado clínico aos sujeitos que sofrem está subordinada ao
paradigma que norteia a compreensão sobre o processo saúde – doença. Assim quando se
considera que a doença se restringe às lesões orgânicas – concretas - os sintomas subjetivos e
os sintomas indefinidos tornam-se apartados do campo de atuação médica.
No entanto a expectativa do indivíduo sofredor é de que ele seja acolhido,
compreendido, contemplado em suas necessidades, e tenha sua saúde restabelecida pela ajuda
do profissional que o recebe (TESSER; LUZ, 2008)
Balint (1984) argumenta que a relação médico-paciente é integrante da terapêutica
ministrada ao indivíduo. Madel Luz (1996) afirma que “...em qualquer sistema médico,
independentemente de sua racionalidade, grande parte de sua eficácia está condicionada ao
desempenho do terapeuta”. Dessa maneira a relação médico-paciente deveria ser
instrumentalizada por uma tecnologia que fornecesse ao médico subsídios para que o mesmo
lide com a dimensão dialógica desse encontro, dentro de um contexto diagnóstico e
terapêutico.
Nogueira (2010) argumenta que as medicinas vitalistas favorecem o resgate da
subjetividade na prática clínica. De acordo com Luz (2005), a Homeopatia tem na relação
médico-paciente um elemento fundamental da terapêutica.
Se a Homeopatia Sistêmica atende aos requisitos da proposta de cuidado integral do
indivíduo portador de hepatite C crônica é a principal questão que o presente estudo buscou
responder. A abordagem dessa questão se deu através da discussão sobre a integralidade do
cuidado oferecido pela Homeopatia.
Para tanto, este estudo se propõe a analisar os discursos de indivíduos que
participaram de uma pesquisa anterior “Tratamento Homeopático de Portadores de Hepatite C
Crônica” (2009) através das categorias “adesão ao tratamento”, “resgate da subjetividade”,
“autonomia”, “mudança de dinâmica vital”. A história dessa pesquisa, campo para o estudo
atual, é brevemente relatada a seguir.
Em novembro de 2008 o Sr. Osmar Meirelles, com a anuência da Sra. Maria Cândida
Gouveia Pita coordenadora do Grupo Gênesis – Organização Não Governamental (ONG) de
apoio aos portadores do Vírus da Hepatite C (VHC) – solicitou atendimento homeopático
11
aos coordenadores do ambulatório da Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em
Homeopatia (ABRAH) no Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP) para integrantes da
ONG que apresentavam contra-indicação à continuidade do tratamento oferecido pelo
Serviço de Hepatologia do HUAP, fosse por efeitos colaterais dos medicamentos ou por não
terem atingido critérios de cura ao final da terapêutica.
A ABRAH, cujo presidente é o Dr. Romeu Carillo Jr1., acolheu o pedido, e os
atendimentos foram iniciados através dos médicos Míriam Figueira Reis2– autora do presente
estudo – e Domingos José Vaz do Cabo3, supervisionados pelos Drs. Romeu Carillo Jr e
Maria Solange Gosik4 tendo como supervisora de análise dos dados coletados a Dra. Anna
Alice Mendes Schroeder5
Os referidos atendimentos, com a concordância da chefe do Serviço de Hepatologia do
Hospital Universitário Antonio Pedro, Dra. Eliane Bordallo, foram sistematizados sob a forma
de um projeto de pesquisa. Esse foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em
dezembro de 2009 e teve como objetivo a avaliação dos efeitos do tratamento homeopático
em indivíduos com hepatite C crônica na parceria da ABRAH com o Hospital Universitário
Antonio Pedro e a Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF), através da Profa. Anna
Alice Mendes Schroeder do Departamento de Saúde e Sociedade. Nos resultados preliminares
correspondentes aos primeiros 14 meses dessa pesquisa já se pode verificar melhoria clínica
observada através de sinais, sintomas e dosagens laboratoriais de enzimas hepáticas, conforme
descrição no capítulo sete.
Para o desenvolvimento do tema dessa dissertação, no capítulo dois discutiremos a
Racionalidade Científica Moderna e a Biomedicina; no capítulo três Hahnemann,
Homeopatia e contribuições de Carillo Jr. à Homeopatia, denominada Homeopatia Sistêmica;
no capítulo quatro, a Homeopatia e a Integralidade; no cinco discutiremos a epidemiologia da
Hepatite C Crônica e a avaliação do tratamento de um grupo de portadores da doença pela
1 Presidente da ABRAH, Mestre em Morfologia Aplicada pela Universidade da Cidade de São Paulo, especialista em Homeopatia e Ortopedia; coordenador e orientador dos cursos de Formação de Especialistas em Homeopatia e Pós Graduação em Homeopatia Contemporânea do HSPM-SP, Chefe da Clínica de Homeopatia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. 2 Médica Homeopata, professora do Curso de Formação e Atualização de Especialistas em Homeopatia da ABRAH, mestranda no Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da UFF . 3 Médico Homeopata e Pediatra, professor do Curso de Formação e Atualização de Especialistas em Homeopatia da ABRAH, mestrando da Saúde Coletiva da Ensp/ Fiocruz. 4 Médica Especialista em Homeopatia e Pediatria, Coordenadora Geral dos Cursos de Formação e Atualização de Especialistas em Homeopatia da ABRAH. 5 Professora Adjunta do Departamento de Saúde e Sociedade da UFF, doutora em Saúde Coletiva, Médica Homeopata.
12
Homeopatia Sistêmica, com ênfase na redução da suscetibilidade biopsíquica desses
indivíduos às ações deletérias do Vírus da Hepatite C. No capítulo seis, justifica-se o presente
estudo pela necessidade de se instrumentalizar o médico para uma abordagem resolutiva
durante o acolhimento das necessidades do indivíduo que o procura em seus sofrimentos,
ampliando sua capacidade diagnóstica-terapêutica na arte do encontro.
O capítulo sete pontua como objetivo geral discutir a potencialidade da Homeopatia no
tratamento dos indivíduos portadores de Hepatite C Crônica com enfoque no cuidado integral
desses sujeitos, tendo como objetivos específicos o estabelecimento de paralelos entre o
conceito de Integralidade e a abordagem da Homeopatia Sistêmica; dimensionar os aspectos
subjetivos presentes na abordagem homeopática e, finalmente, demonstrar o raciocínio
terapêutico homeopático, centrado no tratamento da suscetibilidade individual ao
desenvolvimento da Hepatite C Crônica.
O capítulo oito discorre sobre a metodologia qualitativa utilizada, com “análise de
conteúdo” (BARDIN, 1979 apud GOMES, 2009) dos discursos contidos nos prontuários dos
participantes da pesquisa que embasou o presente estudo e que deram sua permissão para a
realização do mesmo. No capítulo nove encontram-se a apresentação e discussão dos
resultados. O capítulo dez contém as considerações finais.
Seguem-se as referências utilizadas e o anexo.
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2 RACIONALIDADE CIENTÍFICA MODERNA E BIOMEDICINA
2.1 A RACIONALIDADE CIENTÍFICA MODERNA
Madel Luz (1987) considerou como marco inicial da racionalidade científica moderna
o período do Renascimento, século XVI, quando o indivíduo foi considerado como “força
criativa independente” em oposição aos conceitos e costumes da Idade Média. Durante esse
período, a teologia e as instituições católicas impediam o pensamento, a criação e ações
humanas. Persistiam contudo no Renascimento, conceitos medievalistas de busca da
harmonia, sendo a “inteligência divina” a promotora da ordenação cósmica (LUZ, 1987).
Com a metodologia científica6, o experimentalismo foi instituído como norma de
validação do “real” e “verdadeiro” a partir da observação objetiva dos fenômenos naturais
dentro de condições controladas (LUZ, 1987) 7. No entanto, “...dificilmente as observações de
laboratório podem ser transpostas diretamente para situações reais, uma vez que um
laboratório é algo bastante diverso de um ambiente ‘normal’ (CAMARGO JR., 2003 p. 74).
A natureza passou a ser percebida como “coisa” externa ao homem o qual seria seu
proprietário e representada como um conjunto de máquinas. Assim supunha-se que a natureza
seria subjugada, pois suas leis de funcionamento seriam expostas pela Razão, possibilitando
seu controle. As “evidências empíricas” e “significados racionais” eram encaixados “uns nos
outros, [...] como quebra-cabeças” (LUZ, 1987).
Descartes (1596-1650) considerou o dogma da razão como única produtora de
conhecimento (LUZ, 1987, p. 43), tornando tudo o que não pertencesse ao racional - artes,
política, moral, imaginação, fé, sentimentos, sentidos, paixões, vontade - fonte impura para o
conhecimento. Cores, cheiros, não sendo concretos, mensuráveis, não poderiam ser
6 “Supõe-se no racionalismo que as teorias e os conceitos são o fruto da correta aplicação da razão ao objeto,
ratificados (ou retificados) por experiências controladas, num circuito metódico de intuição (ou percepção) intelectual – dedução – observação, que funciona como um mecanismo perfeitamente regulado” (LUZ, 1987, p. 45).
7 O conhecimento produzido em condições controladas no laboratório são transferidos ainda hoje, “sem tradução” , para o cotidiano das pessoas (CAMARGO JR. , 2003).
14
analisados, sendo então descartados. Desse modo a ciência se pautou na razão depurada dos
sentidos, dos sentimentos ou seja, na “razão des-subjetivada” (LUZ, 1987).
De acordo com Luz, as implicações desse “imaginário científico” para a medicina
foram profundas. As rupturas dualistas matéria-espírito; objeto-sujeito; qualidade-quantidade;
natureza-homem; corpo-alma; sentidos-razão; organismo-mente; paixões-vontade, levaram à
“fragmentação do sujeito”, originando “objetividades discursivas especializadas” – as
disciplinas científicas - que são sistemas de produção de verdades sem possibilidade de
síntese teórica entre elas (LUZ, 1987).
Construiu-se um sistema classificatório para os males específicos que poderiam
danificar ou destruir a “máquina”, símbolo do corpo visto como “obra de engenharia em
movimento” (LUZ, 1987).
Assim, a observação, a descrição e classificação e a busca de ‘causas eficientes’ (explicação em termos de antecedente-consequente) das doenças no corpo humano constituem o objeto fundamental de conhecimento da medicina moderna. Por outro lado, o conhecimento anatomo-patológico dos órgãos, tecidos e sistemas componentes do organismo humano, enquanto sedes das doenças, é também objeto de conhecimento, na medida em que é neste organismo que trabalham as doenças e o conhecimento que sobre elas se constrói (LUZ, 1987, p. 101).
A medicina se instaurará com um discurso sobre objetividades com “as categorias:
doença, entidade mórbida, corpo, organismo, fato patológico, lesão, sintoma”. A doença e o
corpo seriam os temas científicos. Vida, saúde e cura deixam de ser tematizáveis, definindo-se
a saúde como eliminação da doença do corpo do indivíduo. A medicina tornou-se a ciência
das doenças (LUZ, 1987).
De forma similar, Camargo Jr. (2003) discorre sobre a construção da “teoria das
doenças”:
A “teoria das doenças” torna-se o eixo principal da “teoria da medicina”.[...] O saber médico é um saber sobre a doença, não sobre o homem, o qual só interessa ao médico, enquanto terreno onde a doença evolui [...] ... a construção das doenças como categorias teve de ser feita excluindo-se os indivíduos acometidos; tal exclusão repete-se a cada instante na elaboração do diagnóstico das pessoas que buscam auxílio médico (CAMARGO JR., 2003 p.79- 80).
15
Assim a vida presente no homem doente tornou-se “fonte de confusão e des-
conhecimento”, apesar da medicina ter como “campo de objetivações o viver e o sofrer
humanos” (LUZ, 1987).
Nos séculos XVII e XVIII as epidemias de peste, guerras, alcoolismo, prostituição,
doenças venéreas, fome, miséria, execuções do Santo Ofício deram à sociedade a imagem de
degenerescência - fonte de doença moral e física. Esse quadro levou ao desenvolvimento de
um “pacto social” em que as teorias sociais preconizam instituições perfeitas como
necessárias para direcionar o “como ser”, com modelos higienistas moralizadores, dando
origem à “Polícia Médica” (LUZ, 1987).
A anatomia e a patologia tornaram-se as bases da clínica moderna e o modelo
explicativo do adoecer seguiu a metáfora da invasão, de guerra, com penetração e
interiorização do mal no organismo e transmissão do agente patológico. Para se vencer essa
guerra, os remédios passaram a ser testados nos doentes e utilizados ( LUZ, 1987).
Conforme Canguilhem (CANGUILHEM apud LUZ, 1987, p. 111) teríamos duas
concepções de medicina: “organicista, localizante, mecanicista”, que ainda hoje mantém-se
hegemônica e a “concepção naturista, na maioria das vezes vitalista”, dinâmica, considerada
como metafísica.
A concepção naturista - vitalista, tem o seguinte pressuposto: quando as forças vitais
do homem estão em equilíbrio ou harmonia, temos a saúde; e quando estão em desequilíbrio,
demonstrado por sinais e sintomas, temos o adoecimento, cujas manifestações significariam
um esforço do organismo “em busca de um novo ponto de equilíbrio”. Assim a definição de
saúde atenderia “a critérios positivos de normalidade”, principalmente nas correntes vitalistas
e naturistas da segunda metade do século XVIII (LUZ, 1987).
Sendo assim, conforme sugere Luz (1987), o postulado ontológico da vida e da saúde
como equilíbrio das forças vitais, fica sem espaço na racionalidade médica moderna, que pode
ser definida como uma “disciplina da Doença”.
Mais uma vez, segundo Luz (1987) no século XIX, “evolucionismo, mecanicismo e
organicismo” serão os traços constitutivos da racionalidade moderna. Esse é o século da
industrialização, da grande revolução científica dos laboratórios (LUZ, 1987).
16
Camargo Jr. (2003) pondera que além das raízes históricas que nos ajudarão a entender
a medicina de hoje, deve-se avaliar o próprio ato médico em seus três aspectos principais: a
busca pela atenção médica, a prática médica e o saber que a informa (CAMARGO JR., 2003).
Esses aspectos serão melhor avaliados na próxima seção.
2.2 A BIOMEDICINA
Boa parte dos equívocos da medicina ocidental prende-se precisamente ao fato de ter se deixado dominar pela miragem da técnica onipotente, pondo de lado tudo o que, por ser subjetivo, mutável, complexo, infinitamente variável não é científico – precisamente os atributos que talvez melhor caracterizem nossa humanidade (CAMARGO JR., 2003, p. 53).
... ao se reduzir completamente a experiência do sofrimento ao domínio biológico, [...] (se exclui) precisamente tal sofrimento, origem do pedido do cuidado por quem sofre, como lembra Blank (1985) (CAMARGO JR., 2003, p. 33).
Blank (1985:11) enfatiza que “o ponto de partida da medicina, tanto historicamente
quanto a cada nova consulta, é o SOFRIMENTO8, o que determina como dever ético
primordial a atenção à terapêutica, para “aliviar sempre, curar quando for possível”
(CAMARGO JR., 2003, p. 33,67,78).
Há, no entanto, no círculo de produção do saber médico, a “objetividade” como
fundamento, considerando-se a lesão como equivalente à doença. Para que a doença seja
caracterizada de forma precisa e estudada em suas manifestações e causalidade, a
epidemiologia é agregada à clínica, mas a epidemiologia também prioriza o biológico e
permanecem os conceitos da mecânica clássica, ou seja, o caráter generalizante (não se
ocupando de casos individualizáveis), mecanicista e analítico (CAMARGO JR., 2003).
A crítica a esse modelo de construção do conhecimento médico se torna ainda mais
contundente, quando se acessa o estudo “A Medicina entre a Ciência e o Cuidado: uma leitura
de revistas de medicina (1990-2009)”, de autoria de Schroeder (2010), que pesquisou
publicações em revistas médicas no período de 1990 a 2009, com intuito de compreender a
8 Grifo do autor
17
insatisfação do médico com o distanciamento entre sua prática e a imagem idealizada de
“médico sacerdote” e “médico cientista”, decorrente de contradições entre o conhecimento
disponível para que ele efetue seu trabalho e o que se exige para a prática médica
humanizada, de cuidado ao indivíduo doente.
Então, o conhecimento hegemônico acerca do processo saúde-doença, que busca a
objetividade e cientificidade, determinando “o caráter generalizante (não se ocupando de
casos individualizáveis), mecanicista e analítico”(CAMARGO JR, 2003), estrutura o que
Ludwig Fleck denominou “estilo de pensamento”9 do coletivo biomédico, no qual o saber
“de ponta” desenvolvido em seus diversos núcleos de especializações, dificulta ao terapeuta
corresponder às expectativas do doente que “espera ser ele mesmo o objeto da atenção do
curador” (TESSER e LUZ, 2006). Soma-se a isso o fato de que “o encaminhamento a uma
infinidade de especialistas dilui a relação (médico-paciente)”, levando à “relação instituição
médica – doença, em que a subjetividade de ambos os pólos – médico e paciente – é negada”
(CLAVREUL apud CAMARGO JR., 2003) o que reafirma o distanciamento entre o cuidador
e o indivíduo que sofre.
Camargo Jr. (2003) faz a distinção entre a experiência da doença para o paciente e o
olhar médico sobre a doença:
Para o paciente, a experiência da doença (sofrimento)10 é um fato concreto,
incapacitante de uma forma que transcende sua capacidade de auto cuidado,
tornando necessária a intervenção do especialista. Para o médico, o sofrimento é
irrelevante, e o paciente fonte de distorções (CAMARGO JR., 2003 p. 78).
O alento à procura por soluções para essa dicotomia estabelecida na medicina
moderna, entre seus aspectos constitutivos de saber teórico versus a capacidade de atender à
demanda dos indivíduos que sofrem, foi o encontrado no próprio discurso da biomedicina por
Camargo Jr. (2003): ela se auto-define nos livros de referência adotados nas escolas médicas,
9 “ ‘Estilo de pensamento’: instância cognitiva, psicológica e sociológica a orientar e restringir o pensamento e as percepções, as práticas e as teorias, as indagações e as respostas dos membros de um coletivo que o compartilham” (TESSER E LUZ, 2006, p. 196).
10Grifos do autor.
18
além de artigos, como sendo “ciência e arte”, demonstrando que o discurso biomédico admite
que a ciência não seja tudo (CAMARGO JR. , 2003).
Camargo Jr. (2003) ao estudar o campo teórico da biomedicina, conclui que ela utiliza
como referencial único de verdade a Ciência, considerando-se a si mesma como a
“verdadeira” medicina.
O Ocidente industrializado tem na ciência seu referencial último de verdade. A descrição científica define o real; segue-se portanto que a ‘verdadeira’ medicina é necessariamente científica (CAMARGO JR., 2003 p. 17).
Segundo Luz (1987), na racionalidade moderna apenas o caminho (método científico)
a ser trilhado na construção das verdades deve ser perene 11, o que a leva a questionar o
processo de produção de “enunciados de verdade”, na ciência:
A racionalidade científica moderna seria um “regime específico de produção de enunciados de verdade que variam, se alteram, se desmentem uns aos outros sucessivamente, se substituindo, se superando, no qual as regras da produção são mais importantes, [...] que sua ‘veracidade’ enquanto tal” (LUZ, 1987, p. 36).
De acordo com a autora citada, a “mutabilidade das verdades” possibilitaria a
“produção permanente de novas verdades” que levariam à impressão de progresso da nova
racionalidade”, “o que define a racionalidade moderna como científica” (LUZ, 1987).
Consequentemente, como afirma Camargo Jr. (2003): “no imaginário social médico,
‘novo’ é necessariamente melhor”. Desse modo, os médicos sentem-se compelidos a “...
11
[...] a doença como categoria reificada, representa um tipo ideal (no sentido weberiano do termo), portanto genérico. O paciente é, por definição, INDIVÍDUO, e por isso sujeito a uma variabilidade infinita. Assim, enquanto o saber médico discursa sobre o coletivo, atua concretamente sobre o individual. A lacuna entre esses dois universos é preenchida pela experiência, o que implica de antemão a exclusão do método” (CAMARGO JR. , 2003 p. 79).
19
manter(em)-se atualizados sobre os últimos desenvolvimentos do conhecimento médico”
(CAMARGO JR., 2003, p. 161).
Com a enorme quantidade de informação nova disponível, proveniente de variadas
fontes, o critério de seleção da informação torna-se imprescindível. Novamente, o método
científico é trocado pela intuição e experiência do médico sobre o que buscar, em que
informações confiar e o que valorizar nos textos, no escasso período de tempo permitido pela
carga horária intensa de trabalho (CAMARGO JR. 2003).
Provavelmente o método utilizado pelos médicos é o “reconhecimento de padrões”
(SACKETT et al, 1991, apud CAMARGO JR. 2003, p.175), similar ao método utilizado ao
estabelecerem o diagnóstico do doente, quando eles rapidamente selecionam certos
elementos, reconstruindo-os numa Gestalt (CAMARGO JR. 2003). A sensação de que o
conhecimento nunca é suficiente, persiste entre os médicos que atuam conforme a
biomedicina. Entretanto, questionamentos trazidos por Camargo Jr. sobre se há de fato tantas
inovações ou se o que existe seria uma estratégia de marketing determinada pelo mercado por
razões econômicas, levaram-no a considerar que a produção e difusão do conhecimento
médico é um problema de saúde pública (CAMARGO JR. 2003).
Na polêmica discussão sobre medicina e ciência, Camargo Jr.(2003) cita Canguillem
(1982:185)
Ora, a clínica não é uma ciência e jamais o será, mesmo que utilize meios cuja
eficácia seja cada vez mais garantida cientificamente. A clínica é inseparável da
terapêutica e a terapêutica é uma técnica de instauração ou de restauração do
normal, cujo fim escapou à jurisdição do saber objetivo, pois é a satisfação
subjetiva de saber que uma norma está instaurada” (Canguillem, 1982:185)12.
Camargo Jr (2003) conclui que aspectos fundamentais da eficácia terapêutica serão
excluídos, se houver subordinação da terapêutica aos valores da ciência e argumenta que a
terapêutica eficaz, depende tanto da “eficácia material”, na qual se inclui a medicação, quanto
da “eficácia simbólica” que será abordada a seguir.
12 Grifo do autor.
20
A “eficácia simbólica” se refere ao poder terapêutico dos símbolos culturais,
compartilhados por terapeutas e seus clientes durante a consulta: a roupa branca, olhares,
gestos, perguntas, têm um profundo significado simbólico e possibilitam o uso de doses
menores de medicamentos, reduzem efeitos colaterais, e garantem a adesão dos pacientes ao
tratamento proposto (CAMARGO JR. , 2003).
Segundo Balint (1984) a relação médico-paciente é integrante da terapêutica
ministrada ao paciente. O autor chega a afirmar que “o remédio mais usado em medicina é o
próprio médico”.
Igualmente, Madel Luz (1996) afirma que “...em qualquer sistema médico,
independentemente de sua racionalidade, grande parte de sua eficácia está condicionada ao
desempenho do terapeuta”.
Sendo assim, acreditamos que essa relação deveria ser instrumentalizada por uma
tecnologia leve13, capaz de fornecer ao médico subsídios para que ele lide de forma resolutiva
com a dimensão dialógica da terapêutica. No entanto, em trabalho de campo com equipes de
saúde da família, Capozzolo (2006) percebeu profissionais médicos com dificuldades de uma
escuta ampliada voltada ao fortalecimento do sujeito, nos quais se percebe a “formação de
profissionais de saúde sem recursos tecnológicos para a escuta e afirmação dos usuários...”
(CECCIM, CAPOZZOLO, 2006, p. 357).
Agravando-se ainda mais esse quadro, seguem-se os encaminhamentos excessivos a
diversos especialistas.
Então se percebe na biomedicina, uma valorização maior do “projeto científico de
estudo das doenças do que do projeto ético da terapêutica”, demonstrada através das seguintes
considerações de Camargo Jr.(2003, p.132):
- “é digna de nota a inexistência da disciplina terapêutica em várias escolas médicas”;
- há uma solicitação excessiva de exames complementares;
- não há princípios gerais de orientação para as intervenções, que poderão ser várias,
mas na prática apenas a intervenção medicamentosa e cirúrgica são consideradas
terapêutica real;
13 Merhy(2002): dentre as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde, as leves se referem às tecnologias de relações – “produtoras de vínculo, autonomização, acolhimento, gestão como forma de governar processos de trabalho”.
21
- “tudo o que se refere à subjetividade, ao imaginário é posto de lado como não
científico, sendo objeto de farmacologização tão maciça quanto cega – sempre em
nome da ciência”, e consequentemente há uma “propensão iatrogênica intrínseca”.
(CAMARGO JR., 2003, p. 77)
22
3 HAHNEMANN, HOMEOPATIA E CONTRIBUIÇÕES DE CARILLO JR.
No final do século XVIII e início do XIX, Samuel Hahnemann (1755-1843) funda a
Homeopatia, um sistema médico vitalista. O vitalismo homeopático tendo como pressuposto
teórico o equilíbrio (ou desequilíbrio) da “força vital” do indivíduo, apresentou-se:
... como sistema racional e experimentalista da arte de curar doentes. O indivíduo doente é portanto, o ponto de partida clínico e o objeto epistemológico básico do sistema homeopático. [...] A homeopatia é desta forma, no início do século XIX, um sistema médico centrado na concepção e na observação da vida, através do seu princípio – força vital – manifestado nos seus desequilíbrios – eventos mórbidos” (LUZ, 1987, p. 136-139).
Hahnemann, médico alemão, poliglota14, iniciou seus estudos na segunda metade do
século XVIII. A discussão presente em sua época com a ascensão da racionalidade médica
científica em oposição aos conceitos tanto da época medieval – quando se preconizava que
seria possível a harmonia através da inteligência divina - quanto das “correntes filosóficas
espiritualistas românticas, de origem racionalista” (LUZ, 1987), ampliou a capacidade de
observação e síntese de Hahnemann.
Assim, para formular sua teoria, Hahnemann associou suas observações clínicas ao
conhecimento obtido através de diversas fontes médicas, como textos escritos em vários
idiomas e o conceito vitalista da Faculdade de Medicina de Montpellier15.
No “Organon da Ciência Médica Racional”, publicado por Hahnemann em 1810, e
em sua segunda edição de 1818 (seguiram-se quatro edições), conhecida como “Organon da
Arte de Curar”. Nessa obra, Hahnemann expôs a doutrina homeopática.
Sua obra é composta de 291 parágrafos, com estilo sistemático, ordenado e metódico.
Pustiglione e Carillo Jr. editaram em 1994 sua versão comentada do “Organon” - utilizada no
presente trabalho - que traduziram para o português agregando seus comentários, o que
14Falava e lia alemão, inglês, francês, espanhol, latim, árabe, grego, hebreu, caldeu, que lhe possibilitou, no início de sua vida profissional, sobreviver fazendo traduções (ww w.homeopatiaveterinaria.com.br/hahnemann.htm). 15 Faculdade de Medicina de Montpellier : o vitalismo tem sido fortemente associado à medicina setecentista de Montpellier e, particularmente, às idéias de Paul-Joseph Barthez (1734-1806) ( Waisse S, Amaral MTCG, Alfonso-Goldfarb AM, 2011).
23
possibilitou aos estudantes e médicos homeopatas, uma compreensão maior da obra de
Hahnemann (PUSTIGLIONE, CARILLO JR, 1994).
Os métodos utilizados por Hahnemann para construir sua doutrina foram o
fenomenológico, através da experimentação de substâncias no homem são e sensível, e o
construtivista, através do suporte teórico do vitalismo (CARILLO JR., 1999).
2.3 MÉTODO FENOMENOLÓGICO: EXPERIMENTAÇÃO NO HOMEM SÃO E
SENSÍVEL
Ao traduzir a matéria médica de Cullen e discordar das hipóteses explicativas para a
atuação da China officinalis sobre a malária16, Hahnemann ingeriu o chá produzido com o
córtex do tronco dessa árvore em 1790. Desenvolveu então sintomas similares àquela doença
(KEUSSEYAN, 2010).
Percebeu que se houvesse concordância entre os quadros clínicos de doenças e os
sintomas desenvolvidos por ingestão de substâncias tradicionalmente utilizadas para curá-las,
ele teria descoberto como utilizar na prática a “Lei dos Semelhantes” já descrita por
Hipócrates: Similia similibus curantur (HAHNEMANN, [1810-1921]17 apud CARILLO JR,
PUSTIGLIONE, 1994).
A experimentação de substâncias, um dos traços constitutivos da racionalidade
médica científica, foi utilizada por Hahnemann, mas com grandes diferenças metodológicas.
Ele observou as alterações desenvolvidas nos aspectos físicos e psíquicos - o todo
indissociável do ser humano - quando da utilização de substâncias em si mesmo ou pessoas
voluntárias consideradas saudáveis e depois as utilizou em doentes com sintomas
semelhantes avaliando a seu potencial efeito curativo (HAHNEMANN, [1810-1921] apud
CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994).
16 Cullen atribuía a ação terapêutica da China officinalis sobre a febre intermitente (ou Malária), ao seu estímulo do amargor e adstringência, no estômago. “Hahnemann no rodapé desse capítulo, descreveu a auto-experimentação da China, revelando que, ao tomá-la, apresentara os mesmos sintomas da febre e esta seria a verdadeira razão para a cura”... “A base desse raciocínio vem mais ou menos do ano quatrocentos antes de Cristo, do ‘pai da Medicina’, Hipócrates” (www.abrah.org.br/homeopatia). 17 O Organon foi publicado em 06 edições (1810,1818,1824,1829,1833, 1842=1921) em alemão e utilizadas, juntamente com observações e estudos de outros autores, por Carillo Jr. e Pustiglione para compor a versão traduzida e comentada do Organon utilizada no presente estudo (PUSTIGLIONE; CARILLO JR., 1994, p. 17).
24
Hahnemann efetivamente foi o primeiro a utilizar essa linha de pesquisa experimental intimamente ligada à prática clínica: os sintomas obtidos experimentalmente eram pesquisados nos doentes para o cumprimento da ‘Lei da semelhança’ e observação de resultados. Esse trabalho representa o estilo hahnemanniano de ciência nos séculos XVIII e XIX, indo da pesquisa observacional para a aplicada. Assim cria sistema integrado retro-alimentado e desta forma exclui e/ou controla variáveis, acerta detalhes teóricos, propõe e adota condutas (CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994, p. 103).
Na Homeopatia teoria e prática curativa são indissociáveis pois o conhecimento é
construído com base na experimentação das substâncias que, por sua vez, se constituem
medicamentos para os indivíduos cujo sofrimento é o retrato dos sintomas observados
durante a experimentação – Lei dos Semelhantes.
A seguir apresentaremos a metodologia homeopática proposta por Hahnemann.
a) Experimentação de substâncias em indivíduos saudáveis
Hahnemann testou substâncias potencialmente medicamentosas (uma por vez) em
pessoas sadias e não em doentes, pois assim haveria a evidência dos sintomas que a
substância poderia desenvolver, sem que viessem mesclados com sintomas da doença
apresentada pelos experimentadores.
Entre 1790 e 1796 experimentou substâncias - enxofre, mercúrio, belladonna,
digitalina, prata, ouro, ferro, cicuta, ipecacuanha e outras drogas - dentro de normas
protocolares pré- estabelecidas, comprovando que diferentes drogas produzem no organismo
sadio manifestações características inerentes a cada uma delas e capazes de identificá-las
(CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994).
a.1 Lei dos Semelhantes
Através da evidência dos sintomas que o indivíduo são e sensível a uma
substância desenvolve durante a experimentação da mesma, demonstra-se na prática clínica a
Lei dos Semelhantes, ou seja, quando essa substância medicamentosa é utilizada por um
25
indivíduo doente que apresente os mesmos sintomas evidenciados durante a experimentação
da substância, essa o colocaria no processo de cura.
b) Uso de doses infinitesimais e medicamento único
Visto que Hahnemann observava os efeitos das substâncias em pessoas vivas e
saudáveis, ele passou a diluí-las em doses mínimas, ato de um processo chamado
dinamização18 evitando sintomas tóxicos, como também tornando possível a observação
apenas dos efeitos primários da substância, precavendo-se dos efeitos provocados pela reação
do organismo à mesma (efeito secundário) (CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994).
Utilizava um único medicamento em cada experimentação para identificar o conjunto
de sintomas a ele relacionado.
c) Possibilidade de Prevenção de Doenças através da atuação sobre a suscetibilidade
Percebeu que as doses infinitesimais só estimulariam o desenvolvimento de sintomas
(patogenesias) em indivíduos com “sistemas frágeis”, portanto com suscetibilidade à
substância experimentada (CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994).
Assim, demonstrou na prática, que o tratamento deve ser individualizado, pois o
indivíduo doente apresenta-se sensível à ação das drogas em doses mínimas, de acordo com
sua idiossincrasia19 .
E como o experimentador é saudável clinicamente, caso os sintomas se desenvolvam
pelo uso das substâncias, significará a presença de sistemas frágeis não detectados
previamente, cuja instabilidade levaria ao indivíduo doenças, quando do encontro com um
fator desencadeante natural. O uso dessas substâncias traria através da Lei dos Semelhantes o
18Dinamização das substâncias: “Diluição sucessiva de uma parte do soluto (substância medicinal) em 99 partes
de solvente (água e álcool), imprimindo a cada passagem o movimento de 100 sucussões” (Parágrafo 269-271 –
HAHNEMANN [1810-1921] apud CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994, p. 181-188).
19 Hahnemann observou através das experimentações de substâncias, que os indivíduos apresentam diferentes sensibilidades a elas, definindo no parágrafo 117 o que seriam idiossincrasias: “ constituições especiais que se por um lado são sadias por outro possuem a predisposição de apresentarem estado mais ou menos mórbido desencadeado por certas causas que parecem não produzir impressões nem mudanças na maioria dos indivíduos... (p. 27)
26
reequilíbrio aos sistemas frágeis, promovendo a prevenção de doenças (CARILLO JR,
PUSTIGLIONE, 1994).
d) Observação ampla dos fenômenos
Ao invés da dicotomia que fragmentava o ser humano na dualidade objetividade-
subjetividade, Hahnemann valorizava todos os sintomas desenvolvidos nos experimentadores,
inclusive os relacionados aos sentidos e sentimentos, visto ser o homem uma unidade
(CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994).
Hahnemann valorizou a influência do ambiente sobre a saúde do ser humano, como
suas condições de vida, incluindo alimentação, trabalho, moradia, iatrogenia, condições
sanitárias, socioeconômicas, relações familiares (CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994).
Criou uma classificação de adoecimentos de acordo com seu dinamismo sobre o ser
humano, com abordagens terapêuticas não apenas medicamentosas, mas que incluíam
orientação de hábitos saudáveis para seus pacientes, como exercícios físicos e dieta, além de
preconizar o afastamento das causas desencadeantes sempre que possível (CARILLO JR,
PUSTIGLIONE, 1994).
O método fenomenológico trouxe os princípios da teoria, como a Lei dos Semelhantes,
a Experimentação no Homem São e Sensível, as Doses Infinitesimais e o Medicamento
Único.
A matéria médica homeopática é cumulativa, contendo os registros referentes às
experimentações das substâncias (patogenesias20) - nos dois gêneros, várias idades e
biótipos21 diferentes - relacionando-os com as aferências situacionais em que ocorrem: meio
ambiente, horários de agravamento, fatores socioeconômicos, trabalhistas, relações
familiares (CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994).
Então, poderão ser acrescentados sintomas aos medicamentos menos experimentados,
mas o que já foi registrado se mantém.
20 Patogenesias: sintomas desencadeados quando indivíduos clinicamente saudáveis experimentam substâncias a que são sensíveis. 21 Biotipos carbônico, sulfúrico e fosfórico: estruturas - dinâmicas - com que o indivíduo se apresenta, resultado da interação da matéria que as compõem com as diáteses, com o temperamento ( defesa e plasticidade) e que evidencia a suscetibilidade e resistência do indivíduo ao adoecimento (CARILLO JR., 2000).
27
Como os padrões de organização22 relativos aos adoecimentos se repetem nas pessoas,
os diagnósticos medicamentosos podem ser feitos ao longo das gerações.
Hahnemann classificou as doenças de acordo com suas características de dinamismo
(falsas ou verdadeiras), subtaneidade ou cronicidade (CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994),
nos parágrafos a seguir.
Parágrafo 72: ... As moléstias a que está sujeito o homem dividem-se em duas categorias. Umas são processos mórbidos súbitos, manifestações das alterações da força vital anormalmente perturbada, que tem a tendência de completar seu curso de modo mais ou menos rápido, mas sempre em um tempo moderado; são as chamadas doenças agudas. Outras são doenças de caráter tal que, com um início insignificante, muitas vezes imperceptível, afetam dinamicamente o organismo vivo, cada uma de seu modo peculiar, fazendo-se desviar pouco a pouco, do estado normal de saúde. Nestas a energia vital automática, chamada força vital, cuja função é preservar a saúde, só opõe no começo e no decorrer do seu curso, resistência imperfeita, inadequada e inútil, sendo por si incapaz de extingui-las, sofrendo impotente seu alastramento, a ponto de ser cada vez mais perturbada até que por fim, o organismo seja destruído. A essas doenças dá-se o nome de crônicas. Provém de um contágio dinâmico por um princípio infeccioso (miasma crônico) (HAHNEMANN, [1810-1921] apud CARILLO JR E PUSTIGLIONE, VERSÃO DO ORGANON: 1994, p. 78 ).
No parágrafo 77, Hahnemann desenvolveu o conceito de doenças crônicas falsas, por
serem devidas a causas evitáveis23.
Parágrafo 77: São impropriamente chamados crônicos, os males contraídos por pessoas que se expõem continuamente a influências nocivas evitáveis...(falsas doenças crônicas) (HAHNEMANN, [1810-1921] apud CARILLO JR E PUSTIGLIONE, VERSÃO DO ORGANON: 1994, p. 82 ).
22 Padrão de Organização: modo como se organizam as informações hereditárias e provenientes de evolução, o que o torna o maior responsável pelas caraterísticas e controle do processo vital, garantindo a individualidade de cada ser. Mas outros padrões de organização interagem com esse padrão geral (CARILLO JR.,2008, p. 60,68,70). De tal forma as estruturas dos órgãos têm padrões que as individualizam, assim como as doenças também apresentam padrões que as identificam. Mas ao se comporem, interagirem, com o padrão de organização próprio do indivíduo, esse padrão de organização geral do organismo do sujeito acometido, lhes determinará variações. 23 Carillo Jr. (2008) reviu essa classificação redefinindo-a como “predominantemente extrínseca de caráter crônico”.
28
Nos parágrafos seguintes, 78 – 82, Hahnemann descreveu as doenças crônicas
naturais, atribuindo-lhes três origens distintas: miasmas - sífilis, sicose, psora. Seus
seguidores posteriormente, propuseram o tuberculinismo como um quarto miasma.
Hahnemann publicou o “Organon da Arte de Curar” após 20 anos de estudos,
experimentações de substâncias e observações de seus pacientes, o que faz com que os
parágrafos por vezes, mostrem momentos diferentes de sua compreensão sobre o processo
saúde-doença. Ele chamou “miasma” ao princípio infeccioso dinâmico capaz de alterar a
força vital tornando-a doente, pensando inicialmente que o adoecimento ocorria de “fora para
dentro”, conforme o parágrafo 11:
Quando um indivíduo adoece, é somente a força vital (imaterial, ativa por si mesma e presente em todas as partes do organismo) que sofre inicialmente o desvio determinado pela influência dinâmica do agente mórbido hostil à vida ...dando-se a conhecer por manifestações anormais das sensações e funções das partes do corpo acessíveis aos sentidos do observador e do médico (sintomas mórbidos)...” (HAHNEMANN, [1810-1921]apud CARILLO JR E PUSTIGLIONE, 1994, p. 28 ).
Ele mantém a concepção de “miasma” como “agente dinâmico externo capaz de
alterar a força vital” ao explicar as doenças crônicas cuja gênese ele atribui a três miasmas
crônicos distintos.
Parágrafo 78: As verdadeiras doenças crônicas naturais são as oriundas de um miasma crônico. Quando entregues à própria sorte, e não combatidas pelo emprego de remédios específicos, continuam sempre aumentando e piorando [ ...] Não obstante os melhores regimes mentais e físicos... (HAHNEMANN, [1810-1921] apud CARILLO JR E PUSTIGLIONE, VERSÃO DO ORGANON: 1994, p. 83).
Parágrafo 79: Até agora só era conhecida em alguma medida a sífilis, como doença crônica miasmática [...] a sicose (mal condilomatoso) igualmente não erradicável pela força vital sem tratamento medicinal adequado [...] sem sombra de dúvida o é... (HAHNEMANN, [1810-1921] apud CARILLO JR E PUSTIGLIONE, VERSÃO DO ORGANON: 1994, p. 84).
Parágrafo 80: Incomparavelmente maior e mais importante que os dois miasmas crônicos anteriormente mencionados24 é o miasma crônico da psora [...] única causa
24 Miasmas anteriormente mencionados: sífilis e sicose (HAHNEMANN, [1810-1921] apud CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994, parágrafo 79 p. 84)
29
fundamental real produtora de todas as demais [...] que figuram nas obras sistemáticas de patologia como doenças peculiares e independentes (HAHNEMANN, [1810-1921] apud CARILLO JR E PUSTIGLIONE, versão do ORGANON: 1994, p. 84, 85, 86).
Posteriormente, Hahnemann observou através das experimentações de substâncias,
que os indivíduos apresentam diferentes sensibilidades a elas. Assim ele introduz o conceito
de idiossincrasia.
Parágrafo 116: Os sintomas patogenéticos25, ou são produzidos frequentemente em grande número de indivíduos sãos, ou menos frequentemente em poucas pessoas, ou excepcionalmente em muito poucas (HAHNEMANN, [1810-1921] apud CARILLO JR E PUSTIGLIONE, versão do ORGANON: 1994, p. 107).
Parágrafo 117: A esta última categoria pertencem as chamadas idiossincrasias: constituições especiais que se por uma lado são sadias por outro possuem a predisposição de apresentarem estado mais ou menos mórbido desencadeado por certas causas que parecem não produzir impressões nem mudanças na maioria dos indivíduos... (HAHNEMANN, [1810-1921] apud CARILLO JR E PUSTIGLIONE, versão do ORGANON: 1994, p.107)
Hahnemann também argumenta que não é adequado falar que o paciente tem tal ou
qual doença, visto que cada indivíduo adoece de acordo com sua idiossincrasia. Os males
devem ser tratados “de acordo com a totalidade de sinais do estado individual de cada
paciente” (HAHNEMANN, [1810-1921] parágrafo 81 apud CARILLO JR, PUSTIGLIONE,
1994 p.87). No entanto se houver necessidade de empregar o nome de doenças, para facilitar a
compreensão entre os interlocutores, diz-se que o paciente “tem uma espécie de doença de
São Vito, uma espécie de hidropsia, uma espécie de tifo” [...] “pois não existem doenças de
caráter fixo invariável” (HAHNEMANN, [1810-1921] parágrafo 81 apud CARILLO JR,
PUSTIGLIONE, 1994, p. 87).
2.4 O MÉTODO CONSTRUTIVISTA: O VITALISMO E A HOMEOPATIA
25 Sintomas patogenéticos se desenvolvem durante a experimentação de substâncias por indivíduos sadios sensíveis a elas.
30
O método construtivista refere-se à construção teórica da Homeopatia por
Hahnemann cujo embasamento foi o vitalismo26 para explicar e interpretar os fenômenos
observados. Para ele, a força vital em equilíbrio promoveria a manutenção e a harmonia das
funções vitais do organismo o que equivaleria à saúde (LUZ, 1987).
Hahnemann utilizou o modelo ternário “corpo - força vital – espírito” - de Barthez
(1734-1806), da Faculdade de Medicina de Montpellier (CARILLO JR., 1994), para explicar
o funcionamento do organismo e da atuação dos medicamentos homeopáticos. Esses agiriam
sobre a força vital que levaria à recuperação da saúde do corpo.
No estado de saúde, a força vital que dinamicamente anima o corpo, reina com poder ilimitado e mantém todas as suas partes em admirável atividade harmônica, nas suas sensações e funções, de maneira que o espírito dotado de razão, que reside em nós pode livremente dispor desse instrumento vivo e são para atender aos mais altos fins de nossa existência (HAHNEMANN, [1810-1921] parágrafo 9 apud PUSTIGLIONE; CARILLO Jr., 1994, p.28 ).
A recuperação do binômio força vital – corpo, permitiria ao espírito “utilizar esse
instrumento livre e são para alcançar os altos fins de sua existência” (HAHNEMANN,
[1810-1921] apud CARILLO JR, PUSTIGLIONE, 1994).
As explicações teóricas da Homeopatia, construídas com base no vitalismo, podem
sofrer modificações devido ao desenvolvimento de vários campos do saber.
Considera-se então que as diferentes abordagens à homeopatia têm em comum a
Matéria Médica e a Lei dos Semelhantes. A diferença entre elas se refere à especificidade da
compreensão vitalista utilizada para explicar o processo saúde-doença, notadamente no que
diz respeito à utilização do conceito de energia vital. Em decorrência disso, as explicações
para o modo de atuação dos medicamentos homeopáticos em sua interação com os
organismos, através da Lei dos Semelhantes, podem ser diferentes, trazendo
consequentemente mudanças no sistema terapêutico (CARILLO JR. 1999).
Nesse estudo utilizaremos conceitos homeopáticos atualizados por Carillo Jr. (2008) e
seus estudos sobre Teoria da Complexidade com os quais formulou novas explicações sobre a
teoria e prática homeopáticas, definidas por ele como “ Homeopatia Sistêmica”.
26 O termo “ vitalismo” é utilizado para embasar teorias variadas: racionalista, metafísica; mesmerismo, teorias animistas, teoria vitalista espontaneísta (LUZ, 1987, p. 136, 137).
31
3.3 HOMEOPATIA SISTÊMICA: CONTRIBUIÇÕES DE CARILLO JR. À HOMEOPATIA
3.3.1 Classificação das Doenças por Hahnemann, modificada por Carillo Jr.
Carillo Jr. propõe a classificação das doenças não mais como falsas ou verdadeiras,
mas referentes à sua origem predominante: se por causas externas – origem
predominantemente extrínseca de caráter agudo - mecânicas ou indisposições, e de caráter
crônico - profissionais, higienodietéticas, intoxicações, ambientais; as por causas mistas,
surgiriam consequentemente à imaturidade do sistema imunológico do ser humano (fator
intrínseco) para lidar com determinados agentes (fatores extrínsecos), como os presentes nas
epidemias de sarampo, varíola, ou quando há desequilíbrio entre padrões diferentes de
organização: peste, dengue, febre amarela, nas quais os vetores estão em desequilíbrio com o
meio.
As doenças de origem predominantemente intrínseca de caráter agudo seriam
consequentes a sistemas frágeis desequilibrados o suficiente para tornarem-se sistemicamente
dominantes, levando à doença aguda ou caso localizada apresenta-se como “sintoma vicário” 27(HANEMANN,1831 apud PUSTIGLIONE E CARILLO JR., 1994). Para as doenças
predominantemente intrínsecas de caráter crônico, manteve as denominações dadas por
Hahnemann e seus seguidores: psora, sicose, sifilinismo e tuberculinismo, denominando-as
“ diáteses”28.
Carillo Jr. (2000) sintetizou os conceitos referidos por Hahnemann: “miasma”
(princípio infeccioso dinâmico capaz de alterar a força vital tornando-a doente) e
“idiossincrasia” (diferentes sensibilidades às substâncias que os indivíduos apresentam), no
conceito médico de “diátese” (predisposição mórbida a desenvolver sintomas) fortalecendo a
idéia de que a doença crônica é devida à predisposição mórbida do indivíduo para
desenvolver sintomas, de acordo com sua hereditariedade e na interação com o meio
(CARILLO JR., 2000).
27 Sintoma vicário: “afecção localizada é só uma parte da doença geral projetada unidirecionalmente pela força vital” (HAHNEMANN apud PUSTIGLIONE; CARILLO JR., 1994). 28 Diátese: termo utilizado em medicina para predisposição a desenvolver sintomas decorrente de uma doença geral.
32
Carillo Jr. (2000) explicou a fisiopatologia das diáteses, confirmando as observações
de Hahnemann. Relacionou cada uma das quatro diáteses a um dos tipos de
hipersensibilidade de Gell e Coombs. Segundo Coombs e Gell na sua classificação de 1963,
existem 4 tipos de hipersensibilidades: tipo I – hipersensibilidade imediata, mediada por
anticorpos IgEs (2-30min.) como na asma, eczema e anafilaxia; tipo II - hipersensibilidade
citotóxica mediada por anticorpos citotóxicos IgM e IgG (5-8 horas) como nas transfusões de
sangue; tipo III- hipersensibilidade mediada por imunocomplexos (2-8 horas) como nas
artrites, glomerulonefrites; tipo IV- hipersensibilidade mediada por células (24-72 horas)
como no teste DTH tuberculina.
Assim, para que os agentes externos desencadeiem ou intensifiquem sintomas
crônicos, necessitam ter afinidade com a alteração na saúde, causada pela tendência intrínseca
de adoecimento crônico, que possui um modo reacional dinâmico específico - diátese. Essa
seria a gênese da síndrome de caráter sistêmico e crônico, com forma peculiar de reação do
organismo.
Portanto, Carillo Jr. (2000) argumenta que cada doença crônica, conforme a
classificação biomédica, teria mecanismo fisiopatológico similar a uma das diáteses e estaria
por conseguinte incluída em uma delas (CARILLO JR , 2000). Como exemplos teríamos a
síndrome metabólica e hipersensibilidade I de Gell e Coombs semelhantes à psora;
semelhantes ao sifilinismo exemplificamos hepatites virais, doenças neurológicas, distúrbios
da coagulação com modo reacional determinado por hipersensibilidade II de Gell e Coombs;
tendências hidrogenóides e proliferativas, com infecções crônicas ou subagudas de portas de
entrada, varizes, tumores, colagenoses, hipersensibilidade III de Gell e Coombs, semelhantes
à sicose. O tuberculinismo estudado pelos seguidores de Hahnemann, apresenta-se como
hipersensibilidade IV de Gell e Coombs, tal qual na tuberculose.
Isso significaria que nas doenças crônicas predominantemente intrínsecas, os agentes
externos, como vírus, bactérias, fungos, etc. necessitariam ter afinidade com o modo
reacional do organismo – diátese - para conseguirem nele penetrar, se desenvolver e
desencadear ações deletérias já potencialmente presentes naquele indivíduo, através de sua
hereditariedade, ou intensificar a doença já aparente.
Por esta classificação, a doença não viria de fora, ela seria a interação do que vem de
fora com as tendências internas de adoecimento, que confeririam ao organismo
suscetibilidades, fragilidades. De acordo com a suscetibilidade, um agente externo poderá se
33
estabelecer ou ser recusado. A menos que as condições do meio sejam tão inóspitas e o
estímulo nocivo tão imenso que vençam a refratariedade natural do organismo, este
desenvolverá uma doença compatível com sua tendência natural.
Os medicamentos homeopáticos para o tratamento de doenças relacionadas à
cronicidade, também estariam associados às diáteses (CARILLO JR., 2000).
A diátese mais importante a ser compreendida nesse trabalho, é o Sifilinismo pois
segundo Carillo Jr (2000), a essa tendência pertencem, dentre outras, as hepatites virais, a
sífilis, cirrose hepática, síndromes neurológicas como Parkinson, Alzheimer, esclerose
múltipla, esclerose lateral amiotrófica, assim como as dependências químicas onde o
alcoolismo não recuperável é patognomônico.
Sua fisiopatologia se deveria à deficiência enzimática do sistema mononuclear
fagocitário para o metabolismo do álcool e derivados como dinitrobenzol, ésteres, aloe
tornando-os toxinas não eliminadas pelo organismo. Como o sistema mononuclear fagocitário
é responsável pelo metabolismo intermediário que nutre o parênquima dos órgãos, as células
parenquimatosas ficariam desnutridas e expostas às toxinas que se acumulariam e gerariam
mecanismos inflamatórios correspondentes à hipersensibilidade tipo II de Gell e Coombs com
consequente necrose nos vários órgãos (CARILLO JR., 2000).
3.3.2 O Processo Vital
De acordo com o parágrafo 9 do Organon, Hahnemann define a “ força vital” como
responsável pela saúde do organismo, quando em equilíbrio e se em desequilíbrio pela
doença, sendo passível de tratamento homeopático.
Carillo Jr. (2008) problematiza o conceito de “força vital” utilizado por Hahnemann,
pois quando este define que uma única força vital corrigiria todos os desequilíbrios do
organismo, colocaria no mesmo grau de importância doenças de gravidades diversas.
Assim, Carillo Jr.(2008) propôs um novo modelo teórico para explicar o processo
saúde-doença, que ele denominou “Processo Vital” composto por oito elementos: consciência,
padrão de organização, autorregulação, autopoiese, cognição, adaptação, processo
dissipativo, estrutura, que interagiriam e se influenciariam de maneira dinâmica e
interdependente e colocariam o organismo em interação com o meio.
34
“A consciência deteria o conhecimento comum a muitas pessoas, ou a todo o Universo,
do micro ao macrocosmo. Poderia ser definida também como ‘unidade infinita do processo
vital’ ou ‘rede da vida’ ” (CARILLO JR.,2008, p. 114). Cada ser vivo seria uma expressão
desta “ consciência ampla, universal, imanente, atemporal”, e participaria das decisões
tomadas pelo sistema. Na “consciência” estariam imersos todos os seres vivos, o que lhes
permitiria manterem uma ligação constante (CARILLO JR.,2008).
“Autorregulação” seria a capacidade do organismo de manter um equilíbrio dinâmico
de suas instabilidades constantes, traduzido por constantes internas, o que definiria a saúde
(CARILLO JR., 2008). A perda da capacidade de autorregulação do organismo, com
instabilidades não corrigidas, traduzidas como constantes inadequadas para as aferências
situacionais, equivaleria à doença que geraria aniquilamento, deterioração, ou adaptação do
organismo (CARILLO JR., 2008 p. 126, 135).
Carillo Jr., (2008) propõe que o mecanismo de ação da terapêutica homeopática que
utiliza a Lei dos Semelhantes, através da substância de padrão semelhante à doença que se
pretende curar, estimularia o sistema alterado que seria recondicionado em sua
autorregulação, tornando possível ao organismo adaptar-se às aferências situacionais
(CARILL JR, 2008, p.133,135) que se apresentam.
A “adaptação” é a capacidade do sistema de modificar determinadas características a
fim de sobreviver ou para gerar um padrão melhor do que se teria anteriormente, o que
mudaria a noção predominante de que a doença é um mal a ser combatido (CARILLO JR.,
2008, p. 59, 129). O sistema, nesse caso, incorporaria através dela um aprendizado novo –
“cognição” – que lhe permitiria manter-se em equilíbrio, mesmo ao lidar com fatores que
anteriormente seriam causadores de desestabilizações mantidas.
Toda a Dinâmica Vital29 estaria relacionada ao “padrão de organização” tido como
informação determinante do modo reacional dinâmico do organismo. Além disso ele é
29 Dinâmica Vital é uma das 06 dimensões propostas pelo Grupo de Pesquisas do CNPq “Racionalidades Médicas”, originário do campo da Saúde Coletiva no Brasil, desde 1992 liderado por Luz, que estabeleceu que saberes e práticas envolvendo a “Arte de Curar” para serem considerados uma “Racionalidade Médica” deverão ser complexos - estruturados e integrados - e abranger seis dimensões fundamentais: a) cosmologia: equivale aos fundamentos empregados nos discursos das diversas culturas; seria a forma de cada cultura apreender, através da atribuição de sentido e significado, as formas de representar a sua “realidade”; b) doutrina médica: explicativa do que é doença, sua origem ou causa, sua evolução ou cura; c) dinâmica vital: fisiologia; d) morfologia: anatomia; e) sistema de diagnose; f) sistema de intervenção terapêutica (TESSER, LUZ, 2008).
35
também considerado fruto da hereditariedade e da interação constante do ser humano com o
meio que o circunda, composto de “padrões biológicos, sociais, familiares, profissionais,
morais, estéticos, religiosos, ecológicos, o que lhe garante individualidade” (CARILLO JR.,
2008, p. 61). A interação com o meio se dá através do “processo dissipativo”, onde o
organismo receberia inputs, os processaria e poderia gerar produtos para seu próprio
desenvolvimento com assimilação de nutrientes (matéria e energia) e reconstrução através da
“autopoiese” ou para o meio como produto eliminado. Este, por sua vez, servirá de input
para outros sistemas. “Este movimento de relação entre os seres, ou entre as partes de cada
ser, garante a manutenção da vida” (CARILLO JR., 2008 p. 58).
No organismo doente o padrão de organização está susceptível às influências do meio
sem conseguir se autorregular. Essa susceptibilidade se traduziria em fragilidades psico-
orgânicas que dificultariam ou impediriam o caminhar na vida, com autonomia e qualidade.
Ao ser diagnosticado e tratado, há o retorno à saúde e, como definiu Hahnemann, o ser
poderá utilizar “livremente esse instrumento (corpo) vivo e são para atingir os mais altos
fins de sua existência”.
A estrutura está intimamente relacionada ao padrão de organização, permeado pela
consciência. O organismo complexo do ser humano é uma estrutura, composta por sua vez de
várias estruturas diferentes, subordinadas ao padrão de organização do organismo completo
no qual estão inseridas, e que influencia o funcionamento de todas as células. As
particularidades do funcionamento orgânico, diferentes entre pessoas diferentes, são devidas a
padrões de organização diferentes entre pessoas. Uma pessoa longilínea tem seu
funcionamento glandular e psico-orgânico, diferente tanto da brevilínea, quanto da
normolínea. Em homeopatia são denominados biótipos: fosfórico, que tem predominância do
funcionamento da glândula tireóide sobre a suprarrenal; carbônico, predominância do
funcionamento da glândula supra renal sobre a tireóide e sulfúrico, com equilíbrio de
funcionamento entre a tireóide e suprarenal. Consequentemente, a suscetibilidade a
desenvolver determinadas doenças, também difere. (CARILLO JR., 1996, 2008).
36
Carillo Jr. (2008) propõe para a terapêutica que os medicamentos sejam escolhidos em
conformidade com a classificação de adoecimentos e o elemento do processo vital a ser
tratado: equalizadores – atuariam sobre a lesão de órgãos vitais; circunstanciais –para
intercorrências clínicas; sistêmicos – para retorno ao padrão de organização saudável, de
acordo com a diátese a ser tratada; e diatésicos quando necessários para atuação em sistemas
frágeis pouco evidenciados à avaliação clínica. Os medicamentos tautoterápicos auxiliariam
na neutralização de efeitos colaterais, gerados durante a utilização de medicamentos
convencionais.
Os medicamentos são prescritos como únicos ou em conjunto, para as necessidades
do paciente.
Como o ser humano é um todo indivisível em interação com o meio e como a
discussão sobre a Homeopatia inclui a discussão acerca da terapêutica que interferiria nessa
unidade, é importante discutir o conceito de Integralidade e sua relação com a Homeopatia,
que virá no capítulo a seguir.
37
4 A HOMEOPATIA E A INTEGRALIDADE
Em busca de definir o conceito de “integralidade”, Mattos (2004, 2011) problematiza
o “atendimento integral” atribuindo-lhe três sentidos:
O primeiro se refere à “boa prática médica”, cujo conceito foi estendido a todos os
profissionais da equipe de saúde. Os profissionais de saúde devem ser capazes de ouvir o
sofrimento que demandou a busca espontânea do atendimento no serviço de saúde pelo
indivíduo, em um encontro intersubjetivo em que através da “prática de conversação” é
diagnosticado o problema emergente, fazendo-se o primeiro atendimento dentro do contexto
da queixa. Com sua resolução segue-se o segundo passo, quando serão diagnosticadas nesse
indivíduo, outras necessidades assistenciais e de prevenção, com as intervenções
correspondentes para melhorar a sua saúde. Então essa atividade de saúde estaria voltada à
assistência e prevenção de agravos tendo como ponto de partida o encontro entre os sujeitos,
caracterizado pela dimensão dialógica.
O segundo sentido da integralidade é o direcionamento da organização das práticas de
saúde e o terceiro se refere à criação de políticas especiais para problemas de saúde que
afligem grupos específicos – crianças, adolescentes, mulheres, idosos, trazendo o contexto da
vivência desses indivíduos para a política a ser implantada (MATTOS, 2004, 2011).
A integralidade assim se realizaria como produto da ação social potencializada por “
tecnologia leve”30 que se refere ao plano individual - relação usuário-profissional de saúde,
onde se constrói a integralidade no ato da atenção individual - e profissional de saúde e seus
pares - plano sistêmico, no qual se garante a integralidade das ações na rede de serviços
(PINHEIRO, 2001 apud FRANCO TB 2006).
Ao discutirem o atendimento integral, autores como Merhy (1997), propõem que o
cuidado seja seu fio condutor. Ele considera que a construção da integralidade se dá a partir
da atenção à saúde, usuário - centrada, através da percepção das necessidades dos usuários
captadas e trabalhadas em uma dimensão individual. Assim segundo ele, se daria a
30
Para a atuação do profissional da saúde há tecnologias de trabalho conforme discutido por Merhy,
1998: dura – que enfatiza a utilização de máquinas e instrumentos, centrada em procedimentos, na qual a
relação fica negligenciada; levedura - refere-se ao conhecimento técnico estruturado; a leve seria relacional e
deveria ser priorizada na produção dos serviços de saúde, segundo Merhy (FRANCO TB, MERHY EE, 2003).
38
contribuição para seu “caminhar mais autônomo” no seu “modo de andar a vida” (MERHY,
1997, p. 30). Para Merhy é o usuário que dá o significado (missão) do serviço de saúde.
Nesse estudo nos ateremos ao cuidado que se efetiva e se constrói no encontro
intercessor entre os usuários – “pessoas que trazem um sofrimento ou necessidades” - e
outras pessoas - os profissionais, que “dispõem de um conhecimento específico ou de
recursos instrumentais que podem solucionar o problema trazido pelos primeiros (SILVA
JUNIOR, ALVES, ALVES, 2005).
O cuidado é uma ação integral [...](que) resgata o tratar, o respeitar, o acolher e o atender o ser em seu sofrimento. É uma ação integral de relações de pessoas, com efeitos e repercussões de interações positivas entre usuários, instituições e profissionais, que geram uma atitude digna e respeitosa, com responsabilização, vínculo e acolhimento. (PINHEIRO E GUIZARD 2004, in ANDRADE; FRANCO; FERREIRA, 2009, p. 134).
Nogueira (2010) contribui para essa discussão propondo o resgate da subjetividade
como um caminho para o cuidado em saúde.
Hardt (2003) corrobora essa proposta argumentando que “os serviços de saúde
baseiam-se fundamentalmente em trabalho afetivo e prestação de cuidados” (HARDT, 2003)
Assim a relação médico-paciente seria um dos componentes do plano individual da
integralidade, na atenção do médico ao usuário do serviço de saúde que o procura.
Para a compreensão dos aspectos envolvidos na relação médico-paciente trazemos um
conceito desenvolvido por Espinosa31 (1632) - o de “afetamento” de um corpo32 sobre o
outro quando se encontram:
Quando um corpo “encontra” outro corpo, uma idéia, outra idéia, tanto acontece que
as duas relações se compõem para formar um todo mais potente, quanto que um
decompõe o outro e destrói a coesão das suas partes. [...] A ordem das causas é então
uma ordem de composição e de decomposição de relações que afeta infinitamente
toda a natureza. [...] sentimos alegria quando um corpo se encontra com o nosso e
com ele se compõe; inversamente sentimos tristeza quando um corpo ou uma idéia
ameaçam nossa própria coerência (DELEUZE, 2002, p. 25).
31 Espinosa nasceu em 1632 , sendo um filósofo que” queria fazer de si mesmo um homem livre [...] e isso indo até os limites de seus pensamentos, e interligando todos os elementos uns aos outros...” (DELEUZE: Espinosa - Filosofia Prática, 2002 p. 7) 32 “Corpo” pode ser material ou imaterial como idéia, filme, pessoa...(notas de aula de FRANCO, 2011)
39
Camargo Jr. (2003) enfatiza da eficácia simbólica ao analisar a relação do “sujeito
sofredor” com o médico que o está acolhendo - a relação médico-paciente:
Além da eficácia material [...] as práticas de cura falam de outras formas aos homens de todo o tempo e lugar; para usar a expressão de Lévi-Strauss, todas têm também eficácia simbólica. A partir de crenças, representações e valores compartilhados por pacientes e terapeuta – e pela cultura da qual fazem parte – surgem efeitos ‘mágicos’ – que talvez expliquemos por meio de nossos conhecimentos sobre a psico-fisiologia, a neuroendocrinologia e outros discursos disciplinares [...] Todo o ritual da consulta médica – olhares, gestos, perguntas, a roupa branca – reveste-se de enorme importância simbólica. A crença do paciente – e do médico – nos poderes da medicina são um poderoso aliado em qualquer circunstância. [...] a eficácia simbólica pode ser um poderoso agente terapêutico, quer possibilitando o uso de doses menores, quer reduzindo efeitos colaterais, ou ainda garantindo a adesão dos pacientes ao tratamento proposto (CAMARGO JR., 2003 p.62, 63, 64).
Logo, a “ eficácia simbólica” poderia ser compreendida como “afetamento positivo”
ou “efeito placebo positivo” que potencializa a terapêutica33, assim como o “efeito placebo
negativo”, iatrogenia indesejável mas que pode acontecer independente da vontade do
cuidador (CAMARGO JR., 2003 p. 64).
Portanto, “vínculo, responsabilização e humildade” integram o compromisso
terapêutico presente na arte do encontro que ocorre na relação médico-paciente (CAMARGO
JR., 2003) sendo mobilizados sentimentos, emoções e identificações, que dificultam ou
facilitam a aplicação dos conhecimentos do profissional na percepção das necessidades de
atenção ou interpretação das demandas trazidas pelo usuário (SILVA JUNIOR; ALVES;
ALVES, 2005).
Como respostas para o cuidado integral ao doente, Tesser et al (2008) propõem as
medicinas vitalistas - consideradas alternativas ou complementares ao modelo hegemônico da
biomedicina – por considerarem que nessas, “a integralidade é um alicerce fundador e
organizador do saber, presente na construção da diagnose e da terapêutica”.
33 Efeito placebo positivo: quando da utilização de medicamentos, torna possível uso de doses menores, reduzem-se efeitos colaterais e se garante a adesão dos pacientes ao tratamento proposto (CAMARGO JR, 2003, p. 64)
40
Queiroz (2006) também considera a perspectiva vitalista como essencialmente
integradora, por estar centrada tanto na experiência de vida do paciente como na sensibilidade
do terapeuta em detectar sinais de desequilíbrio nessa experiência.
Nesse sentido, ao discutir Integralidade e Complementaridade entre os saberes das
diversas Racionalidades Médicas, Nogueira (2010) faz um comentário sobre a especificidade
do olhar viabilizado pelas racionalidades médicas vitalistas:
As racionalidades médicas vitalistas, por outro lado, viabilizam a ampliação do olhar
do terapeuta para outras dimensões presentes no adoecimento, com a inclusão da
subjetividade na prática clínica, permitindo assim que o Sujeito possa ser visto. O
resgate da subjetividade pode ser um caminho para a integralidade do cuidado em
saúde (NOGUEIRA, 2010, p. 112).
Ao discutirem as Racionalidades Médicas Vitalistas e a Integralidade, Tesser e Luz
(2008) afirmam que “esse centramento da atenção e ação no sujeito é o mais relevante do
ponto de vista dos doentes”.
Segundo Luz (2005), as categorias de Vida, Saúde e Equilíbrio (ou Harmonia) são
centrais no paradigma de conhecimento e na prática terapêutica das medicinas vitalistas,
incentivando a existência de cidadãos saudáveis, capazes de interagir em harmonia com
outros cidadãos, e de criar para si e para os que lhe são mais próximos um ambiente
harmônico, gerador de saúde. Em princípio tais medicinas tendem a propiciar um
conhecimento maior do indivíduo em relação a si mesmo, de seu corpo e de seu psiquismo,
com uma consequente busca de maior autonomia em face de seu processo de
adoecimento, facilitando um projeto de construção (ou de reconstrução) da própria saúde
(LUZ, 2005).
De acordo com Luz (2005), a Homeopatia tem na relação médico-paciente um
elemento fundamental da terapêutica.
A Homeopatia através da experimentação de substâncias no homem clinicamente
saudável, uma por vez, método que Hahnemann propôs para evidenciar suas potencialidades
como medicamentos, conseguiu evidenciar além da possibilidade de tratamento dos sintomas
orgânicos, o tratamento também dos sintomas psíquicos. Isso significa ser possível tratar o
ser humano como ele é: um todo indivisível.
41
Assim a Matéria Médica Homeopática contém os registros dos medicamentos
homeopáticos e cada substância que a compõe equivale não apenas à compilação de sinais e
sintomas de relatos de vários experimentadores - que a ingeriram sob condições determinadas
pela metodologia de Hahnemann - como também sinais e sintomas de indivíduos que
obtiveram melhora clínica com ela ou ainda, daqueles que sofreram sua intoxicação.
A matéria médica homeopática considera as patologias como síndromes biopsíquicas,
trazendo a relação dos sintomas que o medicamento homeopático poderia curar. Ao
considerar os sintomas subjetivos como componentes fundamentais dessas síndromes
biopsíquicas, a matéria médica instrumentaliza o terapeuta para a necessária compreensão dos
sintomas subjetivos do indivíduo que sofre, ajudando-o a definir o medicamento que poderia
curá-lo. Desse modo, a incorporação dos sintomas subjetivos do sofredor nessas síndromes
biopsíquicas através do processo diagnóstico estimula o médico homeopata a buscar
compreender a subjetividade do indivíduo durante a relação médico-paciente, ampliando
assim os sentidos do cuidado individual.
Como exemplo, segue um resumo da matéria médica do medicamento Ignatia amara.
4.1 RESUMO DA MATÉRIA MÉDICA DE IGNATIA AMARA
O indivíduo que necessita dessa substância vem à consulta reproduzindo em seu
discurso (em itálico no texto), o que está contido na matéria médica da substância (ALLEN,
1986, p. 66-91)34:
Eu estou negligenciando meu dever, quebrando minha promessa.
Pensa que é um criminoso e chega a ter idéias de suicídio.
Reage aos transtornos com humor ou modo de ser alternante, muito variável,
trocando em um tempo incrivelmente curto da alegria à tristeza, do riso ao pranto.
34 Foram utilizadas também as traduções de sintomas contidos na Matéria Médica de Allen por ANTOLLINI, Jorge Luiz, cedidas em sala de aula do curso de Homeopatia do Instituto Hahenemanniano do Brasil, em [1997?].
42
O remédio das grandes contradições perceptíveis através tanto de sintomas físicos
quanto mentais:
Ri por fatos tristes ou mágoas. Ri espasmodicamente, até de coisas sérias ou tristes
ou passa facilmente do riso ao pranto e vice versa. Chora involuntariamente, por seus
próprios problemas ou pelos que afligem aos demais, ainda que não os conheça.
Extremadamente irritável por contradição. Indecisão e inconstância. Remói. Mágoa
silenciosa, não demonstrada; sensação de vazío ou debilidade no epigástrio que
melhora com una respiração profunda ou com suspiros; fome nervosa que não se
acalma comendo”. As partes muito inflamadas, vermelhas, quentes, são indolores
(Kent); hemorróidas melhoram caminhando; a garganta dolorida melhora se deglute
principalmente sólidos; o vazio no estômago não melhora comendo; a tosse está pior
quanto mais tosse; tem desejos sexuais com impotência; tem sede durante calafrio e
sem sede durante a febre; face hiperemiada durante o calafrio; a face muda de cor
enquanto descansa, tem a sensação de um tampão na garganta que sobe quando não
deglute; vomita tudo exceto coisas indigestas; prolapso retal pior quando as fezes são
moles; constipação intestinal com fezes moles; dor de dente que melhora comendo.
Fezes amarelas, esbranquiçadas, moles mas difíceis de evacuar. Pele: suor com frio.
Sistema Nervoso: estados histéricos, bolo histérico; respiração suspirosa, com
desejos de inspirar profundamente. Espasmos na garganta; agrava bebendo e
melhora deglutindo sólidos; paralisias, desmaios com convulsões; sobressaltos
musculares isolados nos membros ao dormir. Convulsões: por susto, por castigo, por
excitação; alternando com opressão no peito; com gritos e risos; Hipoacusia-
excepto para la voz humana y zumbidos acentuados por una preocupación.
É um dos principais medicamentos para a susceptibilidade a transtornos de origem
emocional - especialmente mágoas - percebidas como sendo recentes, mesmo tendo ocorrido
há longo tempo atrás, o indivíduo pode senti-las “como se houvessem ocorrido hoje”;
"pessoas mental e fisicamente esgotadas por mortificação" .
O indivíduo que necessita de Ignatia amara, piora por: amor não correspondido; perda
recente do ser amado; mortificações; contradições; antecipação de acontecimentos;
situações constrangedoras; susto (se assusta facilmente); más noticias; castigos ou
repreensões em crianças; conversação; pelo consolo que leva a irritabilidade e aumento da
intensidade do choro. Alimentícios: café, doces, álcool; durante e depois de alimentação.
Tem aversões: a alimentos quentes, a comidas e bebidas, ao leite, à carne, ao vinho, ao
43
conhaque, ao tabaco, ao fumo que lhe provoca soluço, náuseas, suor e cólica; ao calor; ar
livre. Piora por odores e perfumes fortes; correntes de ar livre; pela manhã; ao aquecer-se.
Melhora por: trocas de posição; deitando-se sobre o lado dolorido - pela forte compressão;
ruídos nos ouvidos melhoram pela música.
Tem desejos: solidão e às vezes companhia; deseja algo e não sabe o quê; desejo de
várias coisas, mas quando se lhes oferece não as quer mais; alimentícios: ácidos, alimentos
indigestos, queijo, pão de centeio, comidas frias.
É hipersensível a: dor e tato, ar livre, conversação, ruídos.
Outros sintomas:
Ira: com ansiedade, susto, pena silenciosa; suprirnida o reprimida. Ele não pode se expressar
falando, escrevendo ou qualquer coisa tão rapidamente como quisesse; então ocorre um
comportamento ansioso, ele comete erros quando fala e escreve. Faz tudo desajeitadamente e
necessita ser corrigido. (Her 7, Allen 40 apud Antolini). Está melhor mentalmente quando está
ocupada; é muito ativa , industriosa.
Cognição:
Compreensão difícil, embotamento mental, esforço mental é cansativo. Imagina que não
pode prosseguir, não pode andar. Sonhos à noite cheios de decepção, expectativas de
esforços fracassados. (Hahnemann apud Antolini). Sonhos com reflexões e deliberações.
Sonhou ter sido enterrado vivo.
Memória:
Grande fraqueza de memória. Esquece tudo, exceto os sonhos.
Exprimiriam cura:
Tranquilo, amável, de percepção rápida.
Disposição delicada com consciência muito clara.
44
Com esse exemplo tornar-se-ia perceptível o potencial da Homeopatia para o
acolhimento e compreensão do indivíduo em sua totalidade.
4.2 A HOMEOPATIA COMO ESTRATÉGIA POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL À
SAÚDE
Movimentos mundiais surgidos na década de 60 contra a medicalização da sociedade e
a inacessibilidade de grandes massas populacionais aos serviços médicos por seus altos custos
levaram à Conferência Internacional sobre a Atenção Primária à Saúde, em Alma-Ata
(Casaquistão) em 1978. Novas políticas de saúde foram propostas nas quais reafirmou-se “ser
a saúde um dos direitos fundamentais do homem, sob a responsabilidade política dos
governos (...) com determinação intersetorial” (ESCOREL, NASCIMENTO, EDLER, p. 64)
Os esforços reformadores levaram a que em 1988 se conquistasse no Brasil com o
artigo 196 da nova Constituição, o direito de toda a população – universal – de acesso à saúde
gratuita, integral e de qualidade (SAIPPA-OLIVEIRA, FERNANDEZ, KOIFFMAN, 2010 in
PINHEIRO, SILVA JR.,2010).
O crescimento das “medicinas alternativas” verificou-se tanto em países
desenvolvidos como periféricos, principalmente a partir da segunda metade dos anos 70,
intensificando-se na década de 80 (LUZ, 2005), pois a biomedicina tendo tido bastante
sucesso nas doenças infectocontagiosas, mostrou-se insuficiente tanto para o tratamento das
doenças crônicas, como para fazer com que o sujeito enfermo se sinta verdadeiramente
acolhido e cuidado em seus variados mal-estares (LUZ, 1997; NOGUEIRA, 2009). Haveria
na biomedicina, a ênfase no diagnóstico em detrimento da terapêutica, o que produziria uma
“investigação cada vez mais sofisticada de patologias”, “esquecendo-se que além de ser um
saber científico é uma arte de curar sujeitos doentes” (LUZ, 2005).
As medicinas vitalistas, dentre elas a Homeopatia – considerada pelo Conselho
Federal de Medicina do Brasil como Especialidade Médica desde 04/06/1980 (quatro de
junho de hum mil novecentos e oitenta), - despontam como respostas possíveis para o cuidado
45
integral ao doente que busca o Sistema Único de Saúde (SUS) pois “...nas racionalidades não
biomédicas, a integralidade [...] é um alicerce fundador e organizador do saber, presente na
construção da diagnose e da terapêutica...” (TESSER et al, 2008 apud NOGUEIRA, 2010
p.106) com inclusão da “subjetividade na prática clínica, permitindo assim que o Sujeito
possa ser visto” (NOGUEIRA, 2010, p.112).
Luz (2005) traz algumas informações sobre a história da introdução e legitimação dos
serviços de medicinas alternativas na Previdência Social e instituições acadêmicas:
“Em agosto de 1985, a homeopatia, a fitoterapia e a medicina tradicional chinesa, através da acupuntura, foram legitimadas nos serviços médicos da previdência social, através de um convênio celebrado pelo então presidente do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e o ministro da Previdência Social, com instituições acadêmicas como a Fiocruz e a UERJ, além do Instituto Hahnemanniano do Brasil (IHB), no sentido de estabelecerem-se atividades não apenas de atendimento médico envolvendo homeopatia, acupuntura e fitoterapia, mas também atividades de pesquisa e ensino sobre essas “medicinas alternativas” (LUZ, 2005, p.165).
Dando continuidade a alguns dados históricos, Sandra Chaim Salles (2008) publica:
Em 1988 a Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação (CIPLAN)
composta pelos Ministérios da Saúde, Educação, Previdência Social, do Trabalho e
Planejamento, fixa as primeiras diretrizes para implantação e implementação do
atendimento homeopático no SUDS, atual SUS. (SALLES, 2008, p. 24)
Em 1999 o Ministério da Saúde inseriu na tabela do SIA/SUS a consulta médica
homeopática.
No período de 2002-2005 a OMS estimulou o uso da Medicina Tradicional/Medicina
Complementar/Alternativa no seu documento “Estratégia da OMS sobre Medicina
46
Tradicional”. Em 2006, através da Portaria número 971, publicada no Diário Oficial da União
de 04/05/2006, o Ministério da Saúde oficializou a aprovação da Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares – PNPIC – no SUS, onde se estabeleceu dentre outros, a
incorporação da Homeopatia nos diferentes níveis de complexidade no Sistema, com ênfase
na atenção básica assim como no fortalecimento de iniciativas de atenção homeopática na
atenção especializada: nos ambulatórios de especialidades ou nos centros de referência,
emergências, UTI, centros de cuidados paliativos ou em enfermarias hospitalares de forma
complementar, contribuindo para a maior resolubilidade da atenção.
Vale ressaltar que esse estudo só se tornou possível devido aos avanços propostos
pelo Ministério da Saúde através da PNPIC, pois a pesquisa que forneceu os dados para
serem avaliados, ocorreu no Hospital Universitário Antonio Pedro, em ambulatório da
especialidade homeopática.
Luz e colaboradores (2005) em pesquisa realizada nos serviços públicos de
Homeopatia, Biomedicina e Medicina Tradicional Chinesa entre 1994 e 1996, na cidade do
Rio de Janeiro, constataram que as medicinas vitalistas demonstraram aumento da
resolubilidade de doenças crônicas (ou mesmo em relação a distúrbios funcionais), como
doenças circulatórias, reumatismos, problemas osteo-articulares, diabetes, renais crônicos etc.
ao terem seus resultados comparados aos encontrados na Biomedicina.
A abordagem terapêutica biomédica da Hepatite C Crônica, considerada como doença
de origem infecciosa dentro dos critérios propostos pela Biomedicina, tem como estratégia de
cura o combate ao vírus. De modo diverso, na Homeopatia o foco terapêutico é voltado à
redução da suscetibilidade que o indivíduo apresentaria à infecção pelo vírus.
No próximo capítulo, segue-se essa discussão, detalhando-se a abordagem da Hepatite
C Crônica pela Homeopatia Sistêmica.
47
5 ABORDAGENS DA HEPATITE C CRÔNICA
Através de uma perspectiva vitalista, Canguilhem (2005, p. 63) aborda a doença de forma peculiar, inserindo-a na história pessoal do ser humano: ‘as doenças do homem não são somente limitações de seu poder físico, são dramas de sua história’ (NOGUEIRA, 2010).
5.1 EPIDEMIOLOGIA DA HEPATITE C CRÔNICA
O vírus da hepatite C (VHC), pertence à família Flaviviridae, tendo sido descrito em
1989. Apresenta alta taxa de mutação, responsável pelos diferentes genótipos, subtipos,
quasispécies. Há 06 genótipos descritos e o de maior prevalência no Brasil é o tipo 1,
considerado como o de pior resposta ao tratamento (FERRAZ; LEMOS, 2004).
A hepatite C crônica evolui por décadas, sendo acelerada na presença de co-fatores
como consumo de álcool, diabetes melitus (parece que o vírus a predispõe), idade avançada
de aquisição, co-infecção pelo vírus da imunodeficiência humana ou co- infecção por outros
vírus hepatotrópicos35 (GUIDELINE 2011, p.1). A taxa de cronificação é em torno de 80%,
sendo a hepatite C crônica a principal causa de cirrose no Brasil (FERRAZ; LEMOS, 2004).
O número de pessoas cronicamente infectadas pelo vírus da hepatite C (VHC) ao redor
do mundo pode exceder 200 milhões. Fatores genéticos parecem indicar diferentes
suscetibilidades à infecção pelo vírus tornando o acometimento hepático muito variável. As
lesões no fígado mantêm-se como alterações mínimas, ou estendem-se à fibrose extensa e
cirrose com ou sem hepatocarcinoma sem relação com genótipo ou carga viral. Apenas
excepcionalmente há remissão espontânea (GUIDELINE, 2011).
Nas décadas de 70, 80 a principal via de transmissão era por hemotransfusão. Hoje o
uso de drogas intravenosas assumiu papel primordial. Outras formas são transmissão vertical,
ambiente de hemodiálise, tatugens, body-piercing, acidentes com materiais perfurocortantes
contaminados e sexual (FERRAZ; LEMOS, 2004, p. 47).
35 O consenso para o tratamento biomédico da Hepatite C Crônica foi publicado no GUIDELINE 2011 European Association for the Study of the Liver (EASL), Journal of Hepatology 2011 – Clinical practise Guidelines, Editora Elsevier.
48
O objetivo da terapia biomédica é eliminar os vírus da hepatite C circulantes, que
deverão permanecer indetectáveis após 6 meses de parada do tratamento. Entretanto
considera-se que poderá ocorrer evolução da Hepatite C Crônica mesmo após a erradicação
do vírus (GUIDELINE, 2011, p. 2).
Dentre os efeitos colaterais dos medicamentos preconizados, pelo consenso interferon
alfa peguilado e ribavirina encontram-se os seguintes: desenvolvimento de fadiga severa,
depressão, irritabilidade, desordem no sono, reações de pele e dispnéia.
5.2 ABORDAGEM DA HOMEOPATIA SISTÊMICA
O tratamento homeopático pretende reduzir a suscetibilidade ao vírus
apresentada pelos indivíduos portadores de sifilinismo (CARILLO JR. et al, 2009), que
determina alterações orgânicas com fisiopatologia similar à das lesões atribuídas ao VHC
(CARILLO Jr, 2000).
O paciente com “sifilinismo” apresenta-se como habitat propício ao vírus da hepatite
C (VHC). Ao infectar esse paciente susceptível, ou seja, predisposto, o VHC aceleraria o
surgimento de lesões típicas ou as agravaria.
Para Carillo Jr. (2000) o acúmulo de toxinas como álcool, dinitrobenzol, ésteres, aloe
nos pacientes portadores de sifilinismo, seria derivado do metabolismo intermediário precário
desses pacientes, realizado pelas células do sistema mononuclear fagocitário. Essas toxinas
desencadeariam citotoxicidade – hipersensibilidade II de Gell e Coombs- com inflamação,
fibrose e necrose predominantemente em glândulas, gânglios, sistema nervoso, ossos, tecido
fibroelástico, vasavasorum e desnutrição parenquimatosa. Por isso haveria a possibilidade de
manifestações extra-hepáticas como glomerulonefrites membranoproliferativas; porfiria
cutânea tardia, alta prevalência de anticorpos antitireoidianos.
Síndromes neurológicas como Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla, esclerose
lateral amiotrófica, (XAVIER MENDES, 2005), sífilis, assim como as dependências químicas
onde o alcoolismo não recuperável é patognomônico, dentre outras patologias, pertencem a
esta tendência. Outras características são as coagulopatias com tendências hemorrágicas e
trombóticas (CARILLO JR. 2000).
49
Carillo Jr. et al (2010) ponderam que se o indivíduo portador de sifilinismo também
apresentar sicose - outra das 04 diáteses crônicas - poderia haver o surgimento de
hepatocarcinoma, líquen plano, atividade do fator reumatóide na crioglobulinemia mista
essencial, Sindrome de Sjogren, linfoma não-Hodgkin de células B, observados clinicamente
e citados nas publicações de referência. Imunologicamente, a sicose corresponderia à
hipersensibilidade tipo III de Gell e Coombs36 (CARILLO JR. 2000).
Desse modo o recondicionamento do organismo ao funcionamento adequado do
processo vital com retorno à saúde, seria promovido pelos estímulos dos medicamentos
homeopáticos (CARILLO JR, 2008).
Outros benefícios que merecem ser abordados (CARILLO JR. et al, 2009), são o custo
financeiro, pois a utilização de doses infinitesimais torna extremamente pequeno o custo dos
medicamentos utilizados; os efeitos colaterais dos medicamentos praticamente inexistem,
visto que as doses infinitesimais possibilitam a ação primária dos medicamentos sobre os
receptores que lhe têm afinidade por estarem ativados no processo de doença.
Quanto à cronicidade das doenças, a compreensão sobre as diáteses – tendências
crônicas de adoecimento que conferem ao organismo susceptibilidade a determinados agentes
- traz ao paciente a possibilidade de prevenção, tratamento e cura de doenças crônicas através
dos medicamentos homeopáticos (CARILLO JR., 2000).
Finalmente, a questão do cuidado e valorização da subjetividade do paciente, através
de uma abordagem sistêmica e biopsíquica, torna a consulta humanizada.
5.2.1 Avaliação do Tratamento Homeopático em Pacientes Portadores de Hepatite C
Crônica
Nessa pesquisa que serviu de base para o presente estudo, foram atendidos 41
indivíduos portadores de Hepatite C Crônica, sendo previsto no protocolo o retorno trimestral
dos mesmos. Desses, 06 estavam fora do grupo de inclusão, sendo seus dados excluídos deste
relatório.
5.2.1.1 Resultados Preliminares
50
Os resultados parciais desse estudo foram apresentados no IX CONABRAH
(Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em Homeopatia) e
no Primeiro Fórum Nacional de Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas e
Complementares realizado em abril de 2012 na Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ.
Dos 35 pacientes do grupo de inclusão, 26 pacientes aderiram ao tratamento
(correspondentes a 74,3% do total) e 09 pacientes não aderiram, (correspondentes a 34,6% do
total), conforme ilustrado no gráfico 1.
Gráfico 1 Adesão de 26 indivíduos ao tratamento homeopático para hepatite C crônica, do total de 35 indivíduos que iniciaram o tratamento. Nove indivíduos não aderiram.
.
Realizou-se o levantamento dos vinte e seis prontuários dos participantes que aderiram
ao tratamento homeopático, correspondentes aos primeiros quatorze meses de evolução, da
primeira etapa da pesquisa “Avaliação do Tratamento Homeopático em Pacientes Portadores de
Hepatite C”.
Seguiu-se a análise da evolução dos vinte e seis casos de portadores de Hepatite C
Crônica através dos prontuários levantados.
51
Gráfico 2: Principais sintomas referidos por 88,5% a 38,5% de indivíduos em ordem decrescente de frequência:
insuficência hepatobiliar: 23 indivíduos (88,5% dos indivíduos); ansiedade 20 (76,9%); distúrbio do sono 19 (73,1%); apatia
16 (61,5%); artralgia 14 (53,8%); irritabilidade 14 (53,8%); fraqueza de memória 13 (50%); depressão/choro 12 (46,2%);
enxaqueca 11 (42,3%); inapetência 11(42,3%); secura da pele 10 (38,5%).
A seguir apresentaremos cada sintoma de forma gráfica, a partir dos relatos dos
indivíduos, classificados de acordo com critérios de intensidade propostos pela OMS:
extremamente, bastante, mais ou menos, muito pouco, nada, em duas consultas: primeiro
atendimento e após 14 meses de evolução.
52
Insuficiência Hepatobiliar
Gráfico 3: Sintomas de insuficiência hepatobiliar referidos pelos 26 indivíduos (100%) no início do tratamento- Extremamente: 10 (38,5%), Bastante: 8 (30,8%), Mais ou menos: 4 (15,4%), Muito pouco: 1(3,8%);
Nada: 3(11,1%) e 14 meses após - Extremamente: 2 (7,7%), Bastante: 8 (29,6), Mais ou menos: 4 (15,4%%), Muito pouco: 5 (18,5%); Nada: 7 (25,9%).
Ansiedade
Gráfico 4: Sintomas de ansiedade referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento-Extremamente: 17
(65,47%), Bastante: 3 (11,5%), Mais ou menos: 0, Muito pouco: 0; Nada: 6 (23,0%); total: 26 indivíduos e 14
meses após -Extremamente: 4 (15,4%); Bastante: 5 (19,2%); Mais ou menos: 1(3,8%), Muito pouco: 8 (30,8%);
Nada: 8 (30,8%). Total 26 indivíduos.
53
Distúrbio do Sono
0
5
10
15
20
Primeira consulta
14 meses após
Gráfico 5: Sintomas de distúrbio do sono referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento-Extremamente: 7
(26,9%), Bastante: 8 (30,8%), Mais ou menos: 4 (15,4%), Muito pouco: 0; Nada: 7 (26,9%) e 14 meses após -
Extremamente: 2 (7,7%), Bastante: 0, Mais ou menos: 4 (15,4%), Muito pouco: 5 (19,2%); Nada: 15 (57,7%).
Apatia
0
2
4
6
8
10
12
14
Primeira consulta
14 meses após
Gráfico 6: Sintomas de apatia referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento -Extremamente: 11 (42,3%), Bastante: 2 (7,7%), Mais ou menos: 3 (11,5%), Muito pouco: 0; Nada: 10 (38,5%) e 14 meses após -
Extremamente: 1 (3,8%), Bastante: 1(3,8%), Mais ou menos: 7 (26,9%), Muito pouco: 4 (15,4%); Nada: 13 (50,0%).
54
Artralgia/Mialgia
0
5
10
15
20
Primeira consulta
14 meses após
Gráfico 7: Sintomas de artralgia/mialgia referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento -Extremamente: 6 (23,0%), Bastante: 5 (19,2%), Mais ou menos: 2 (7,7%), Muito pouco: 1 (3,8%); Nada: 13 (50,0%) e 14 meses após -Extremamente: 3 (11,5%), Bastante: 4 (15,4%), Mais ou menos: 1 (3,8%), Muito pouco: 2 (7,7%); Nada:
17 (65,4%).
Fraqueza de Memória
0
5
10
15
20
Primeira consulta
14 meses após
Gráfico 8: Sintomas de fraqueza de memória referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento- Extremamente: 3 (11,5%), Bastante: 7 (26,9%), Mais ou menos: 1 (3,8%), Muito pouco: 2 (7,7%); Nada: 13 (50,0%) e 14 meses após -Extremamente: 0, Bastante: 3 (11,5%), Mais ou menos: 3 (11,5%), Muito pouco: 4
(15,4%); Nada: 16 (61,5%).
55
Irritabilidade
02468
10121416
Primeira consulta
14 meses após
Gráfico 9: Sintomas de irritabilidade referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento -Extremamente: 8 (30,8%), Bastante: 6 (23,0%), Mais ou menos: 0, Muito pouco: 0; Nada: 13 (50,0%) e 14 meses após -
Extremamente: 0, Bastante: 2 (7,7%), Mais ou menos: 3 (11,5%), Muito pouco: 7 (26,9%); Nada: 15 (57,7%).
Depressão/Choro
0
5
10
15
20
Primeira consulta
14 meses após
Gráfico 10: Sintomas de depressão/choro referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento -Extremamente: 11 (42,3%), Bastante: 1 (3,8%), Mais ou menos: 0, Muito pouco: 0; Nada: 14 (53,8%) e 14 meses após -
Extremamente: 2 (7,7%), Bastante: 0, Mais ou menos: 4 (15,4%), Muito pouco: 3 (11,5%); Nada: 17 (65,4%).
56
Secura da pele
0
5
10
15
20
Primeira consulta
14 meses após
Gráfico 11: Sintomas de secura da pele referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento Extremamente: 3 (11,5%), Bastante: 4 (15,4%), Mais ou menos: 3 (11,5%), Muito pouco: 0; Nada: 16 (61,5%) e 14 meses após -
Extremamente: 2 (7,7%), Bastante: 1 (3,8%), Mais ou menos: 3 (11,5%), Muito pouco: 2 (7,7%); Nada: 18 (69.2%).
Enxaqueca
0
5
10
15
20
Primeira consulta
14 meses após
Gráfico 12: Sintomas de enxaqueca referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento -Extremamente: 5 (19,2%), Bastante: 1 (3,8%), Mais ou menos: 2 (7,7%), Muito pouco: 2 (7,7%); Nada: 17 (65,4%) e 14 meses
após -Extremamente: 2 (7,7%), Bastante: 0, Mais ou menos: 2 (7,7%), Muito pouco: 4 (15,4%); Nada: 19 (73,1%).
57
Inapetência
Gráfico 13: Sintomas de inapetência referidos pelos 26 indivíduos no início do tratamento - Extremamente: 1 (3,8%), Bastante: 5 (19,2%), Mais ou menos: 3 (11,5%), Muito pouco: 0; Nada: 18 (69,2%) e 14 meses após -Extremamente: 2 (7,7%), Bastante: 0, Mais ou menos: 3 (11,5%), Muito pouco: 2 (7,7%); Nada: 20 (76,9%).
Comentários
Verificamos após aproximadamente 14 meses de tratamento homeopático, uma
redução da frequência das categorias ‘extremamente’ e ‘bastante’ e um aumento da frequência
das categorias ‘muito pouco’ e ‘nada’, para os sintomas de ansiedade, distúrbio do sono,
artralgia/mialgia, fraqueza de memória, irritabilidade, depressão/choro, secura da pele,
enxaqueca.
Com relação aos sintomas associados à “insuficiência hepatobiliar” e “inapetência”, a
redução verificada não foi satisfatória, segundo a avaliação dos pesquisadores. Esses dois
sintomas apontaram para a introdução de um segundo equalizador hepático.
5.2.1.2 Resultados parciais referentes à avaliação enzimática
Procedeu-se à dosagem das enzimas AST (aspartato aminotransferase), ALT (alanina
aminotransferase) anteriormente denominadas TGO (transaminase glutâmico-oxaloacética) e
58
TGP (transaminase glutâmico pirúvica) respectivamente , fosfatase alcalina e gamaglutamil
transferase no início do tratamento e em consultas subsequentes com um mínimo de 03
dosagens por paciente. Como a doença é crônica e progressiva, a “estabilidade” nas dosagens
foi avaliada como positiva, em conjunto com “melhora”.
Seguem os gráficos com os resultados consolidados:
Gráfico 14: Evolução de resultados consolidados da enzima AST -Aspartato aminotransferase- (anteriormente denominada TGO) em 23 indivíduos após 14 meses de tratamento: melhoria(10) e estabilidade(5) = > 15
(57,7%%) piora 8 (30,8%); sem medições seriadas 3 (11,5%).
59
ALT
Melhoria e Estabilidade
Piora
Sem medições
Gráfico 15: Evolução dos resultados consolidados de enzima ALT -alanino aminotransferase- anteriormente
denominada TGP, em 23 indivíduos após 14 meses de tratamento: melhoria 12 e estabilidade 3 => 15 (57,7%);
piora 8 (30,8%); sem medições seriadas 3 (11,5%).
Gráfico 16: Evolução dos resultados consolidados de enzima FALC em 20 indivíduos após 14 meses de tratamento: melhoria 6 e estabilidade 2 => 8 (30,8%); piora 12 (46,2%); sem medições seriadas 6 (23,1%).
60
Gráfico 17: Evolução dos resultados consolidados de enzima GGT em 22 indivíduos após 14 meses de
tratamento: melhoria 11 e estabilidade 2 => 13 (50%); piora 9 (34,6%); sem medições seriadas 4 (15,4%).
Gráfico 18: Consolidado da evolução de 88 resultados das enzimas AST, ALT, FALC, GGT após 14 meses de tratamento: melhoria e estabilidade 51 (= 58,0%); piora 37(=42,0%).
61
Comentários
Conforme mencionado anteriormente, como os sintomas associados à “insuficiência
hepatobiliar” e “inapetência” tiveram uma redução insatisfatória, foi iniciado um segundo
equalizador hepático. Tal necessidade foi corroborada ao se analisar a piora nas dosagens da
Fosfatase alcalina. Essa enzima se refere principalmente às vias biliares (juntamente com a
GGT) e vesícula biliar. O segundo equalizador utilizado foi o Chelidonium majus,
selecionado pelos sintomas apresentados pelos indivíduos (que poderiam corresponder às
vias biliares afetadas na patologia).
Para o consolidado dos resultados enzimáticos, considerou-se como o total de
resultados, o que de fato foi medido, excluindo-se o número equivalente às medidas não
realizadas. A comparação entre a melhoria-estabilidade e piora apresentou como divisor a
soma entre essas duas categorias, ou seja 88 resultados. Assim os resultados referentes à
“melhoria e estabilidade das enzimas”, das 04 enzimas avaliadas, correspondem a 58% do
total; a piora ocorreu em 42% dos resultados.
Assim, as dosagens enzimáticas demonstram que a soma dos resultados de melhoria e
estabilidade supera a piora nos resultados, com exceção da fosfatase alcalina, que evoluiu com
piora predominante em 12 dos 20 pacientes (60%) cujos resultados foram avaliados.
5.2.1.3 Levantamento sobre história familiar e pessoal de interação sifilinismo/sicose
Dos 26 indivíduos avaliados nesse estudo, 100% apresentam sifilinismo pessoal e
história familiar confirmando-o como tendência de adoecimento crônico, hereditário
(“diátese”), condição necessária para o desenvolvimento da Hepatite C Crônica. Desses, 19
(73,1%), além do sifilinismo, apresentavam forte história familiar de sicose proliferativa –
diátese fortemente relacionada com o surgimento de tumores benignos e/ou malignos,
conforme demonstrado no gráfico a seguir.
62
Gráfico 19: Proporção de 73,1 % de indivíduos com sicose familiar: 19 indivíduos de um total de 26 portadores de sifilinismo.
.
5.2.1.4 Discussão sobre os resultados parciais do tratamento homeopático
Verificou-se como resultados preliminares a predominância de melhoria tanto dos
sintomas referidos pelos indivíduos em tratamento como dos sinais objetivos, verificados
através de dosagens de enzimas hepáticas.
Com relação à interação sifilinismo/sicose, como a sicose está presente na história
familiar de 73,1% desses indivíduos, há um sentido de atenção também a essa diátese, devido
ao seu potencial de desenvolvimento de câncer e manifestações extra-hepáticas, com
potencialidade de prevenção para essa evolução clínica.
63
6 JUSTIFICATIVA
Apesar dos avanços científicos, uma parte substancial da medicina permanece uma
arte, e requer empatia, sensibilidade e habilidade de comunicação.Para Doherty
(1996), a habilidade de compreender e assimilar o fato biológico e científico é
apenas um componente pequeno entre as necessidades do médico. As habilidades
sociais e interpessoais são igualmente necessárias, especialmente onde os serviços
de saúde são baseados na atenção primária e o GP37 controla a interface entre o
paciente e o especialista e o tratamento (Schroeder, 2010, p. 175).
O trabalho em saúde tem como característica o encontro entre pessoas que trazem um
sofrimento ou necessidades e outras pessoas que dispõem de um conhecimento específico ou
de recursos instrumentais que possam solucionar o problema trazido pelos primeiros (SILVA
JR., ALVES, ALVES, 2005).
Blank (1985:11) enfatiza que “o ponto de partida da medicina, tanto historicamente
quanto a cada nova consulta, é o SOFRIMENTO38, o que determina como dever ético
primordial a atenção à terapêutica, para “aliviar sempre, curar quando for possível”
(CAMARGO JR., 2003).
Mas em trabalho de campo com equipes de saúde da família, Capozzolo (2006)
percebeu profissionais médicos com dificuldades de uma escuta ampliada voltada ao
fortalecimento do sujeito nos quais se percebe a “formação de profissionais de saúde sem
recursos tecnológicos para a escuta e afirmação dos usuários revelando uma “preparação
profissional apartada da integralidade e da humanização” (CECCIM; CAPOZZOLO, 2006).
De acordo com a hipótese que embasa este estudo, tais situações ocorrem devido à
compreensão conceitual hegemônica acerca da doença que “permanece materialista,
mecanicista e fragmentária” (CARILLO JR, 2000).
De acordo com Luz (2005), a Homeopatia tem na relação médico-paciente um
elemento fundamental da terapêutica sendo o indivíduo doente o ponto de partida clínico e o
objeto epistemológico básico do sistema homeopático.
37 GP = General practitioner 38 Grifo do autor
64
As pessoas que desenvolveram adoecimento com lesões orgânicas graves, sem
possibilidade de continuidade do tratamento hegemônico preconizado, como o caso dos
portadores de Hepatite C Crônica que solicitaram atendimento no Serviço de Homeopatia da
ABRAH, cujos prontuários aqui serão avaliados, chegaram ao serviço desesperados,
demandando acolhimento, compreensão e atenção aos seus sofrimentos.
Foi realizada então, uma revisão de trabalhos publicados na Biblioteca Virtual de Saúde
(BVS) sobre o tratamento homeopático e suas especificidades. Infelizmente há poucos
estudos sobre o tratamento da Homeopatia, como demonstraremos adiante.
Foram encontrados trinta e oito trabalhos (relativos ao período de 2003 a 2011) nas
pesquisas realizadas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) voltadas aos temas: “homeopatia
e integralidade” (sete referências); “homeopatia e autonomia” (cinco referências);
“homeopatia e cuidado” (onze referências); “homeopatia e qualidade de assistência à saúde”
(quinze referências), sendo que alguns trabalhos se encontram como referências cruzadas em
mais de um descritor.
Para “homeopatia e suscetibilidade” foram encontrados cinquenta e nove resultados, o
que demonstra a importância do tema do tratamento de doenças crônicas, no campo de saber
homeopático.
Para “homeopatia e hepatite C crônica” não foram encontradas referências.
Seguem comentários a respeito de intercessões e diferenças entre o enfoque desse
estudo e alguns dos trabalhos apresentados por esses autores.
Em relação ao tema da “suscetibilidade” percebe-se que se apresenta com maior
número de publicações por sua relevância, pois Hahnemann, em seu “Organon da Arte de
Curar”, já vislumbrava o potencial de cura através do tratamento homeopático, conforme
proposto por ele.
Elizabeth Souza (2011) traz a abordagem de Masi Elizalde, autor influente na
homeopatia desenvolvida na Argentina e no Brasil, como a “individualização na totalidade
expressa no composto substancial que constitui o ser humano”. A Psora primária como
sensação imaginária da perda de uma virtude, consequente ao desejo equivocado de possuir
um atributo divino equivalente, levando ao desencadeamento do estado de desequilíbrio ou
enfermidade. A autora se refere ao fato de Masi Elizalde utilizar o pressuposto de que um
medicamento único - simillimum - reequilibraria a energia vital. As doenças crônicas seriam
65
todas referentes à psora, sendo a sicose e o sifilinismo doenças reativas desse miasma. Esses
conceitos são diferentes dos conceitos propostos na abordagem preconizada por Carillo
Jr.(2000), utilizada no presente estudo, que considera as diáteses como tendências de
adoecimento com fisiopatologias distintas. Essas poderiam interagir entre si, não
representando estados diferentes da mesma forma de adoecimento, mas ao invés disso, seriam
formas de adoecimento distintas.
Bárbara Metzner (2008) faz uma revisão sobre artritismo descrevendo suas
manifestações como fenômenos associados ligados à psora, mas sem um fio condutor
fisiopatológico conforme proposto por Carillo Jr. e descrito no capítulo 3.
Sandra Allegro (2010) chama a atenção para as dificuldades da interpretação de
difíceis e complexos textos clássicos, que levaria muitos dos profissionais formados em
homeopatia a não praticarem a especialidade. A versão comentada do Organon de
Hahnemann da autoria de Carillo Jr. e Pustiglione (1994), que foi utilizada no presente
estudo, facilita a compreensão dos princípios homeopáticos a estudantes e médicos, ao trazer
o “intercâmbio solidário” entre saberes distintos (NASCIMENTO, 2006).
A suscetibilidade ao adoecimento, através da discussão sobre as idiossincrasias, é uma
questão trazida por Hahnemann. Entretanto, as explicações das diáteses por Carillo Jr. são
inéditas, com fisiopatologias distintas definidas e facilitam a compreensão do diagnóstico e
tratamento de doenças, por ser fruto do “intercâmbio solidário” entre o desenvolvimento de
pesquisas científicas e as observações de Hahnemann, assim como de determinados autores
que o seguiram.
“Integralidade e Homeopatia” têm sido associadas em estudos atualmente, visto que a
Racionalidade Médica Homeopática opera em sintonia com o princípio da integralidade.
Conforme já discutido, as Racionalidades Médicas vitalistas a possuem em sua estrutura de
saber.
Loch-Neckel et al (2010) trabalhando com estudantes de farmácia, odontologia e
medicina de uma universidade do Sul do Brasil, concluíram que “os estudantes souberam
correlacionar o atendimento integral ao sujeito à compreensão de suas necessidades a partir de
sua realidade. Constatou-se desconhecimento sobre os pressupostos teóricos da homeopatia e
o não reconhecimento da incorporação da homeopatia no SUS, para a maioria dos
estudantes”. Isso fortalece a necessidade do desenvolvimento de trabalhos de pesquisa que
66
legitimem a discussão no meio acadêmico sobre os conceitos homeopáticos e resultados
obtidos no atendimento dos indivíduos com a abordagem terapêutica homeopática.
Santanna et al (2008) estudaram o Centro de Saúde Modelo que foi a primeira unidade
do Sistema Único de Saúde (SUS) a implantar o serviço de atendimento homeopático no Rio
Grande do Sul, para conhecer a “contribuição desse atendimento para o desenvolvimento do
princípio da integralidade. Os resultados indicam que a homeopatia, ao acolher e tratar
pessoas em sua singularidade e totalidade permite uma atenção diferenciada. Entretanto, a
integralidade tem sido restrita a alguns de seus aspectos, como o vínculo e o cuidado
diretamente associados à relação médico-usuário. A dificuldade de acesso foi o principal
problema identificado”.
No presente estudo buscou-se preencher essa lacuna percebida por Santanna et al ao se
agregar a evolução clínica obtida com o tratamento homeopático em doença de grande
morbidade tal qual a hepatite C crônica.
Estrela propõe que se busque avaliar a resposta ao tratamento homeopático a partir das
narrativas dos pacientes e médicos:
A realização de estudos como este, que busquem compreender as terapêuticas que incluem as práticas integrativas e complementares no SUS, tal com a homeopatia, a partir do entendimento sobre sua utilização tanto pelos praticantes como pelos usuários pode contribuir para a pesquisa social sobre essas práticas, visando sua efetiva institucionalização no sistema público de saúde no país [...] qual o entendimento de pacientes e de médicos sobre a resposta ao tratamento homeopático, a partir de suas narrativas, visando identificar a existência de relação com os sentidos da integralidade do cuidado (ESTRELA, 2006).
Assim, no presente estudo, realizado de forma retrospectiva, os dados avaliados foram
coletados das narrativas registradas nos prontuários dos indivíduos portadores de Hepatite C
Crônica durante sua participação na pesquisa anterior sobre a avaliação do tratamento
homeopático e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
67
7 OBJETIVOS
7.1 OBJETIVO GERAL
Discutir a potencialidade da Homeopatia para o tratamento dos indivíduos portadores
de Hepatite C Crônica, com enfoque no cuidado integral desses sujeitos.
7.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
− Estabelecer paralelos entre o conceito de Integralidade e a abordagem da Homeopatia
Sistêmica.
− Dimensionar os aspectos subjetivos presentes na abordagem homeopática.
− Demonstrar a especificidade do raciocínio terapêutico homeopático, cujo enfoque aponta a
suscetibilidade individual como fator de desenvolvimento da Hepatite C Crônica.
68
8 METODOLOGIA
Neste estudo utilizamos como estratégia principal a metodologia qualitativa para
dimensionar o cuidado produzido através das consultas homeopáticas, com enfoque nos
sintomas subjetivos de portadores de hepatite C crônica.
Concordamos com o comentário crítico de Camargo Jr. sobre a utilização de critérios
de avaliação de eficácia em racionalidades médicas distintas:
“... é inadequado e impróprio supor que critérios de avaliação de eficácia internos a uma racionalidade sejam imediatamente aplicáveis a outras – por exemplo, tomar-se o ensaio clínico randômico controlado como modelo universal de avaliação de eficácia.” (Camargo Jr., 2008, p. 168)
A estratégia metodológica do presente estudo constou de três etapas que
descreveremos a seguir.
1ª Etapa
Levantamento dos prontuários dos indivíduos portadores de hepatite crônica associada
ao vírus da hepatite C, tratados pela Homeopatia Sistêmica, correspondentes aos primeiros
quatorze meses de evolução, da primeira etapa da pesquisa “Avaliação do Tratamento
Homeopático de Pacientes Portadores de Hepatite C”.
2ª Etapa
Análise da evolução dos casos de portadores de Hepatite C Crônica que aderiram ao
tratamento homeopático (e também os casos de abandono), através dos relatos contidos nos
prontuários desses indivíduos onde serão relacionadas as suas falas mais significativas a partir
da “ análise de conteúdo” desenvolvida por Bardin (BARDIN, 1979 apud GOMES, 2009)
cuja definição reproduziremos a seguir:
69
... conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência39 de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens
(GOMES, 2009).
Gomes (2009) sugere como metodologia da análise de conteúdo, a decomposição do
material em partes, com sua distribuição em categorias que reúnem um grupo de elementos
sob um título genérico – as “unidades de registro” (BARDIN, 1979, in GOMES, 2009); a
descrição dos resultados da categorização e inferência dos mesmos, com o auxílio da
fundamentação teórica para sua interpretação.
Para analisarmos o discurso dos indivíduos em tratamento homeopático, utilizamos
quatro categorias analíticas principais, determinadas previamente: adesão, resgate da
subjetividade, autonomia, mudança de dinâmica vital.
Essas categorias foram escolhidas com base nas discussões propostas pela área de
Saúde Coletiva sobre o conceito de “integralidade do cuidado”, na definição de saúde
proposta por Hahnemann e no estudo de Estrela (2006).
A “boa prática médica” (MATTOS, 2004, 2011) seria um dos princípios da
integralidade, sendo o “cuidado” proposto como seu fio condutor (MERHY, 1997). O
encontro entre sujeitos pressupõe o resgate da subjetividade, considerado como um “caminho
para a integralidade” (NOGUEIRA, 2010). Esse ocorre quando a relação médico- paciente,
fortalecida pelo “vínculo, responsabilização e humildade” (CAMARGO JR. 2003), favorece a
adesão ao tratamento, o que possibilitaria a resolubilidade do sofrimento do indivíduo que
traz o problema emergente, pelo profissional que o acolhe (SILVA JUNIOR et al, 2005).
Assim, esse usuário do serviço de saúde, tendo sido acolhido em suas necessidades, teria sua
autonomia fortalecida (MERHY, 1997). Tal virtude o capacitaria a inventariar suas
possibilidades de vida, com modificação de sua Dinâmica Vital (ESTRELA, 2006), pela
descoberta do melhor sentido para “alcançar os altos fins de sua existência” (HAHNEMANN,
[1810 – 1921?]).
39 Inferência: “ Quando deduzimos de maneira lógica algo do conteúdo que está sendo analisado” (GOMES, 2009).
70
I – Adesão
Derivada de fatores como vínculo efetivo com algum profissional
(longitudinalidade do atendimento) com “o estabelecimento de uma relação contínua no
tempo, pessoal e intransferível, calorosa – encontro de subjetividades” (CECÍLIO, 2001),
assim como a questão do acesso ao fornecimento de medicamentos gratuitos através da
Farmácia Universitária da UFF e ao local de atendimento.
Para a análise dessa categoria, foram selecionados sete unidades de registro:
frequência às consultas; utilização dos medicamentos; relação pelo participante entre o uso do
medicamento e sua evolução clínica; melhoria clínica; percepção pelos participantes da
pesquisa da sensação de acolhimento por seu médico demonstradas por expressões afetivas;
acesso aos medicamentos de forma gratuita e o acesso ao local de atendimento.
II – Resgate da subjetividade
É uma categoria inerente à própria doutrina médica da Homeopatia, que permite que o
indivíduo doente possa ser visto de forma integral.
Foram utilizadas como unidades de registro para avaliarmos o regaste da
subjetividade, o encontro no prontuário da transcrição, feita pelo médico, das palavras do
próprio indivíduo que utiliza a primeira pessoa do singular durante o diálogo na consulta, pois
na técnica da anamnese homeopática as palavras do próprio indivíduo são utilizadas como
registro, para que se obtenha maior fidelidade à sua descrição “do como se sente”; a
existência de relato no prontuário de sintomas raros, estranhos e peculiares; e dos sintomas
modalizados.
III – Autonomia
71
A “autonomia do usuário” é uma importante categoria nos estudos da área de saúde
coletiva pois se refere “a uma maior capacidade dos sujeitos compreenderem e agirem sobre
si mesmos e sobre o contexto...” (CAMPOS, 2006 apud VIDAL p. 20).
Foram utilizadas duas unidades de registro retiradas dos relatos dos indivíduos a
partir do tratamento homeopático. A primeira se referiu à melhoria sintomática no processo de
recuperação da saúde física e psíquica e que permite o que foi considerada a segunda unidade
de registro – o retorno às atividades sociais.
IV – Mudança de Dinâmica Vital
A Mudança de Dinâmica Vital, segundo Estrêla (2010), seria a mudança de atitude
da pessoa frente à vida, ou seja, uma mudança interna de padrão.
Como unidades de registro, consideramos depoimentos sobre mudança de emprego;
mudança de relações afetivas; programação de atividades não pensadas antes do tratamento
homeopático, possíveis pelo reconhecimento pelo indivíduo de outras aptidões pela
capacidade de inventariar-se adquirida com o tratamento homeopático.
3ª Etapa
Análise quantitativa descritiva dos dados avaliados, através de uma representação
gráfica das categorias selecionadas e dos medicamentos utilizados.
72
9 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
9.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA
A fim de que o anonimato dos participantes da pesquisa seja preservado, as pacientes
do sexo feminino receberam nomes de flores, e os do sexo masculino nomes de árvores. As
profissões foram excluídas, pois o grupo é pequeno e determinadas especificidades levariam à
identificação dos participantes.
Os resultados de biopsias hepáticas a que tivemos acesso foram transcritos, como
exemplos de comprometimento hepático de alguns dos participantes, ressaltando-se que a
maioria dos resultados correspondem a períodos anteriores ao início da realização da
pesquisa. A classificação histológica da fibrose e atividade necroinflamatória corresponde à
escala METAVIR: a fibrose é graduada em uma escala de cinco pontos, de zero a quatro. A
atividade de lesões necroinflamatórias é graduada em uma escala de A0 a A3 (Kaplan MM,
Bonis PA, Malet, PF., 2009).
9.1.1 Tabela: escala METAVIR
FIBROSE ATIVIDADE NECRO-INFLAMATÓRIA
F0 = sem fibrose A0 = nenhuma atividade
F1 = fibrose dos espaços porta, sem septo. A1 = atividade leve
F2 = fibrose dos espaços porta, poucos septos A2 = atividade moderada
F3 = numerosos septos fibrosados sem
cirrose
A3 = atividade severa
F4 = cirrose //
73
9.1.2
Tabela: Adesão ao tratamento
Nomes Sexo Idade
FORMA PROVÁVEL DE CONTÁGIO
TEMPO PROVÁVEL DE INFECÇÃO PELO VIRUS
Alguns resultados de biopsias hepáticas
1 AÇUCENA F 54 Transfusão de sangue 28 anos
2 ANGÉLICA F 47 Transfusão de sangue 28 anos A3F3(2005)
3 BROMÉLIA F 59 Não sabe Não sabe
4 CAMÉLIA F 62 Transfusão de sangue 25 anos
5 CAMOMILA F 60 Transfusão de sangue 30 anos
6 CARVALHO M 47 Acidente 12 anos A1F2-3(2004)
7 CIPRESTE M 46 Transfusão de sangue 20 anos
8 CRYSÂNTEMO F 64 Transfusão de sangue 30 anos A2F2(2006)
9 DÁLIA F 65 História de cirurgias anteriores Não sabe A3F4(2009)
10 FLOR DE LIS F 55 Transfusão de sangue Não sabe A2F3(2008)
11 GARDÊNIA F 55 Transfusão de sangue 29 anos A3F4(2007)
12 GIRASSOL F 62 Transfusão de sangue 35 anos A2F3(2005)
13 HORTÊNSIA F 54 Transfusão de sangue 26 anos
14 JASMIM F 53 Transfusão de sangue 18 anos A2F3(2008)
15 LÍRIO F 47 Transfusão de sangue 29 anos A2F3(2004)
16 LOTUS F 57 Transfusão de sangue 21 anos
17 MARGARIDA F 56 Acidente com material perfurante
30 anos A2F3(2006)
18 MYOSÓTIS F 53 Transfusão de sangue 30 anos
19 ORQUÍDEA F 57 Transfusão de sangue 26 anos A3F3(2006)
74
9.1.3 Participantes que abandonaram o tratamento homeopático
N Nomes Sexo Idade Forma provável de contágio
Tempo provável de infecção pelo virus
Número de consultas
Resultados de biopsias hepáticas
1 ACÁCIA F 58 Provavelmente cirurgia
30 anos 01
2 AZALÉIA F 64 Transfusão de sangue
30 anos 01
3 AMENDOEIRA F 55 Provavelmente cirurgia
20 anos 02
4 CEREJEIRA F 53 Provavelmente cirurgias
Não sabe 03 A1F2(2004)
5 FLAMBOYANT F 46 Não sabe Não sabe 03
6 IPÊ M 50 Não sabe Não sabe 01
7 GERÂNIO F 56 Transfusão de sangue
30 anos 03 A3F4
8 LIMOEIRO F 61 Transfusão de sangue
30 anos 01
9 PESSEGUEIRO M 55 Não sabe Não sabe 01
20 PAEÔNIA F 61 Não sabe Não sabe A2F3 (2001)
21 PETÚNIA F 54 Transfusão de sangue 17 anos
22 STELLARIA F 42 Transfusão de sangue 07 anos
23 TULIPA F 48 Transfusão de sangue 18 anos A2F3 (2006)
24 VERBENA F 61 Não sabe Não sabe
25 VINCA F 62 Transfusão de sangue 27 anos
26 VITÓRIA REGIA
F 55 Transfusão de sangue 30 anos
75
Percebe-se pela distribuição de gênero a predominância do sexo feminino. Dos 35
participantes da pesquisa, trinta e um são do sexo feminino (81,6%) e quatro são do sexo
masculino (11,4%).
Pela idade dos participantes e longa duração da doença, vinte e três participantes
(65,7%) atribuem às transfusões de sangue a fonte de contágio o que está de acordo com a
epidemiologia da hepatite C crônica citada anteriormente “ nas décadas de 70, 80 a principal
via de transmissão era por hemotransfusão”. Quatro (11,4%) referem cirurgias anteriores;
seis (17,1%) não sabem a forma de contágio; dois (5,7%) relatam acidentes. Atualmente a
principal fonte seria o uso de drogas intravenosas (FERRAZ; LEMOS, 2004, p. 47).
O Consentimento Livre e Esclarecido (CLE) foi solicitado a vinte e oito participantes
da pesquisa anterior “Avaliação do Tratamento Homeopático para Portadores de Hepatite C”,
para a utilização dos seus relatos presentes nos prontuários.
Desses vinte e cinco consentiram formalmente, assinando o Termo de CLE cujos
relatos foram utilizados no presente estudo. Dois participantes deram o consentimento após se
inteirarem do pedido, mas não conseguimos nos encontrar para que a assinatura pudesse ser
feita e por isso agradecemos, mas não pudemos utilizar seus relatos. Um participante não
permitiu a utilização.
Assim, serão analisados nas quatro categorias escolhidas, os relatos de vinte e dois
participantes. A ausência de relatos de quatro participantes se deve a três questões: ao fato de
a pesquisadora não ter conseguido se encontrar com dois dos participantes para a assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; ao falecimento de uma das participantes
por motivo alheio à evolução da hepatite C crônica, e a impossibilidade de contato telefônico
com uma das participantes para o procedimento do pedido de consentimento livre e
esclarecido necessário para o presente estudo. Dois participantes que deram seu
consentimento para o presente estudo abandonaram o tratamento, sendo possível a avaliação
dos mesmos na categoria adesão - abandono do tratamento.
76
9.2 DISCUSSÃO DOS RELATOS A PARTIR DAS CATEGORIAS ANALÍTICAS
9.2.1 Adesão
A adesão do paciente a uma determinada terapia depende de vários fatores que
incluem, dentre outros, os relativos à relação médico-paciente, às questões
subjetivas do paciente, às questões referentes ao tratamento, à doença, ao acesso ao
serviço de saúde, à obtenção do medicamento prescrito e à continuidade do
tratamento (MANFROI; OLIVEIRA, 2006, p. 165).
A abordagem terapêutica dos indivíduos portadores de hepatite C crônica
correlaciona-se com diferentes concepções do que seria “doença” e “cura” de acordo com as
distintas racionalidades médicas.
De acordo com Camargo Jr. (2003), na biomedicina se considera que a doença
equivale às lesões orgânicas diagnosticadas. Nessa concepção a hepatite C crônica teria
origem exclusivamente externa – infecciosa viral - que também poderia originar
manifestações extra-hepáticas. Dessa maneira, a proposta de tratamento seria a redução da
carga viral definindo-se a cura como carga viral mantida negativa por 6 ou 12 meses após o
tratamento, tempo definido conforme a resposta do indivíduo aos medicamentos, segundo
informações contidas no consenso Infectious Disease Clinics Of North America (2012). A
biopsia hepática é considerada padrão ouro para a instituição da terapêutica. Como nessa
perspectiva a doença viria de fora, o indivíduo não seria o principal foco do tratamento.
Além disso, os medicamentos apresentam toxicidade gerando dois problemas: a
doença é diagnosticada mas não sendo grave o suficiente para justificar o risco dos efeitos
colaterais da terapêutica, o tratamento não é iniciado. O indivíduo é instruído sobre o
problema e pode reagir com desalento conforme relatado por Lotus que era assintomática,
tendo descoberto ser portadora do vírus em exames de rotina.
77
“O médico que me atendeu “me colocou no caixão”: que a doença era grave, que a cura era difícil... chorei meses. Muito cansaço. Fiquei deprimida, não saía de casa” ( Lotus).
Caso o indivíduo apresente lesões muito graves ou as desenvolva por efeitos
colaterais dos medicamentos preconizados – interferon peguilado, ribavirina, inibidores de
protease (2012), não poderá fazer uso dessa terapêutica. O indivíduo é deixado sem qualquer
perspectiva de melhoria ou cura através do tratamento medicamentoso, restando-lhe apenas o
transplante caso evolua com gravidade.
Iniciei tratamento c/ interferon e ribavirina em 2005 – evoluí com anemia,
emagrecimento – tive que interromper o tratamento 9 meses depois. Até hoje,
apenas fazendo acompanhamento... Ultimamente seguro as lágrimas… (Açucena)
Quando descobri o vírus, fiquei louca! Quero saber a verdade. Isso é grave? É grave. Mata? Mata... Só consegui fazer o tratamento por 05 meses. Passei muito mal. Na primeira aplicação sangramento gengival. Parecia que havia entrado em máquina de moer - “carnes moles”. Febre. Dor por todo o corpo. Parecia pancada no corpo. Coceira insuportável. Plaquetas caindo muito. Sangramento aumentando. Sangrava toda a gengiva: febre direto. Um dia, falta de ar – parecia que o pulmão estava crescendo. Plaquetas 42.000. Sangrava direto. Interrompi o tratamento de imediato. Aí eu já não falava direito, não enxergava direito. Ao parar o tratamento, fui mellhorando (Jasmim).
Acrescente-se o que Araújo (2008) pondera ao discutir sobre o efeito da abordagem
de indivíduos enfermos quando se exclui a subjetividade:
... a percepção do doente sobre sua enfermidade inúmeras vezes não coincide com a
doença lesional ou orgânica diagnosticada pelo médico, o que pode explicar os
motivos de descontinuidade e falta de adesão aos processos terapêuticos. Ao
perceber que o médico frequentemente não valoriza ou não valida suas queixas,
aborta-se a possibilidade do vínculo e o tratamento não se instaura (ARAÚJO,
1999).
78
Por outro lado, na Homeopatia, Hahnemann estabelece nos parágrafos 7, 8 e 9 do seu
“Organon da Arte de Curar”, que cada caso de doença seria conhecido pela totalidade de
sintomas apresentados pelo indivíduo e que a cura obtida pelo medicamento homeopático
seria o processo de remoção dos mesmos. Tal feito levaria a que todas as partes do organismo
passassem a interagir harmonicamente, “tanto com respeito às sensações como às funções”,
permitindo ao “espírito dotado de razão que habita em nós, (...) empregar esse instrumento
vivo e sadio para os mais altos fins de nossa existência” (HAHNEMANN apud
PUSTIGLIONE e CARILLO JR, 1994).
Em 2008, com o conhecimento de ter em seu quadro indivíduos sem possibilidade
terapêutica pela biomedicina, a liderança do Grupo Gênesis - ONG de apoio ao portador do
vírus da hepatite C, reconhecida e legitimada pelos seus associados, soube da satisfação da
frequentadora do grupo Otimismo-RJ com relação a seu tratamento homeopático oferecido
pela ABRAH no HUAP. Intermediou então, junto à coordenação do ambulatório da ABRAH,
o acompanhamento homeopático para esses indivíduos que apresentavam necessidade urgente
de acolhimento tanto para seus sofrimentos como para resolubilidade para as consequências
de lesões já estabelecidas em seus organismos, dentre elas fibrose e cirrose hepáticas,
urgência essa perceptível em seus discursos durante as consultas homeopáticas realizadas.
Com o estabelecimento da dinâmica dos atendimentos, Gardênia que recebeu
transfusão de sangue contaminado durante o parto há 29 anos e havia sido tratada com
interferon peguilado e ribaverina por 6 meses sem negativar a carga viral, trouxe o sentimento
de alegria e segurança através do relato do médico assistente no prontuário: “muito feliz
porque agora tem alternativa de tratamento – sente-se segura porque voltou a ter referência e
esperança de melhora”.
“Antes era como estar à deriva” (Gardênia).
Em seu artigo “Racionalidades Médicas e Integralidade” Tesser e Luz (2008)
ponderam que:
79
Os doentes esperam e valorizam um compartilhamento simbólico e um acolhimento
emocional na relação com o curador pois permite a reorganização simbólica
juntamente com o tratamento... Mas os doentes têm uma perspectiva pragmática... o
que interessa para o doente é uma resolução favorável de seus sofrimentos e
adoecimentos ... Ele quer ser curado e satisfaz-se com sentir o compromisso na
intenção e ação do curador, aderindo ao tratamento sem exigir explicações
pormenorizadas dessa ou daquela natureza. O curador detém uma expertise própria
que lhe permite interpretar as queixas do doente, reorganizar o vivenciado dando
sentido a ele e executar ações em saúde-doença, preventiva e/ou terapêuticas
(TESSER; LUZ, 2008, p. 197).
Em seu artigo “Homeopatia: uma abordagem do sujeito no Processo de Adoecimento”
(2008), Araújo considera que:
A sistemática de consultas programadas que caracteriza a continuidade inerente ao processo terapêutico homeopático, fortalece o vínculo e favorece o desenvolvimento de uma ‘aliança terapêutica’ entre paciente e médico. Este fato torna possível a existência de um projeto de recuperação da saúde, o que por si só pode ser considerado um fator mobilizador do processo curativo.”
Lírio - 4 meses de tratamento: “Foi Show!” Minhas enzimas reduziram bonito! 14
meses de tratamento: chegou a pensar de não vir hoje. Mas caiu em si e descobriu que ainda
não chegou a minha hora – preciso continuar. Levanto a cabeça e sigo em frente.
Outro aspecto considerado por Araújo (2008) é o tempo de duração da consulta
homeopática:
A disponibilidade de tempo durante a consulta, permitindo maior espaço para a conversa e para a escuta, constitui-se em componente do vínculo e pode ser destacada como fator que proporciona outra dimensão ao atendimento, importante tanto para o paciente como para o trabalho do médico (ARAÚJO, 2008).
No caso dos indivíduos da pesquisa, cada consulta transcorria durante
aproximadamente uma hora.
80
O acesso ao fornecimento gratuito de medicamentos foi garantido através da
Farmácia Universitária da UFF.
O local de atendimento já era previamente conhecido pelos participantes da pesquisa,
pois esses são acompanhados pelo Serviço de Hepatologia do HUAP nas mesmas salas que
são utilizadas pela ABRAH para as consultas homeopáticas.
Assim a categoria “adesão ao tratamento” no presente estudo enfatizou
principalmente a avaliação da relação médico–paciente através da “longitudinalidade” do
atendimento - “o estabelecimento de uma relação contínua no tempo pessoal e intransferível,
calorosa – encontro de subjetividades” (CECÍLIO, 2001) entre o indivíduo e o profissional.
As unidades de registro para sua análise foram:
- a transcrição no prontuário pelos médicos durante a consulta, do discurso dos
participantes da pesquisa, evidenciando silêncios e intensidades. Esse acolhimento foi
percebido pelos indivíduos, que se comunicavam expressando-se afetivamente demonstrando
com clareza seus sintomas, sentimentos e afetos.
- a frequência às consultas: foram consideradas como abandono de tratamento os
indivíduos que tiveram até 03 consultas nos 14 meses avaliados. A frequência em 04
consultas foi considerada irregular, pois o intervalo entre elas foi maior do que o preconizado
no tratamento (retorno de 3 em 3 meses), mas houve vínculo com o serviço e por isso esses
indivíduos foram considerados como tendo aderido ao tratamento homeopático, assim como
os de frequência acima, até 07 consultas.
- a capacidade do usuário em utilizar os medicamentos prescritos;
- a relação feita pelo usuário entre a evolução clínica e o uso dos medicamentos
homeopáticos.
- os resultados do tratamento homeopático verbalizados através dos relatos de
sintomas e atitudes e avaliados pelos médicos.
81
Seguem os relatos dos participantes da pesquisa com a discriminação das unidades
de registro de análise da adesão ao tratamento homeopático – transcrição afetiva dos relatos,
frequência às consultas; utilização dos medicamentos; relação pelo participante entre o uso do
medicamento e sua evolução clínica e evolução clínica.
Açucena: 3 meses de tratamento...quando tomo bórax (medicamento homeopático
prescrito) melhora. 6 meses de tratamento: Comprei óculos novos e quero passar
batom. 14 meses de tratamento: agora estou calmíssima...(sorri) cansaço? bem
melhor; joelho: passou, não estou sentindo nada. Até o inchaço não tenho mais;
as dores (no hipocôndrio) não sinto mais. Aquela sensação de mal estar e
estômago cheio não sinto mais. Sinto apetite.
� Boa frequência às consultas (sete).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
Angélica: 3 meses de tratamento: cefaléia: tinha melhorado - há duas semanas
sem o remédio ela piorou. Oscilo muito – hoje estou bem leve; amanhã bate uma
tristeza. 6 meses de tratamento: Leva mais tempo para ter a “sensação de um
lado da cabeça funcionando e outro não”. Estou corujando ele ... – dá alegria e
motivação... dá vontade de fazer as coisas. 13 meses de tratamento: Há dias que
me sinto bem melhor, porém cansada. Tem dia que estou mais expansiva,
conversando mais... querendo caminhar a partir desse mês...
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
82
Bromélia: Difícil tomar a medicação.. Estava tomando errado. Tomava a receita
inteira três vezes ao dia. 3 meses de tratamento: melhorei da tosse e do engasgo.
Melhorei da irritabilidade: estou uma bênção! 7 meses de tratamento: Estou
melhorando. Teve um dia que acordei e a mente clara! Parecia que eu estava
boa! Tem hora que a gente sente tão bem...!
� Frequência irregular às consultas (quatro).
� Uso inadequado dos medicamentos.
� Referência sobre o uso da medicação sem relação direta entre a evolução do
quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhoria clínica
Camélia: 3 meses de tratamento: apesar da piora das varizes não evoluiu mais
com erisipela. 8 meses de tratamento: as dores estão diminuindo.13 meses de
tratamento: dores no corpo, coceira, alergia. As varizes coçam muito! E agora no
corpo todo! Parece que os ossos estão esgotados. Não trabalhe tanto e tão
cansada...
� Boa frequência às consultas (cinco).
=> Uso adequado dos medicamentos.
=> Sem referência ao uso dos medicamentos.
=> Piora clínica.
Camomila: 03 meses de tratamento: diminuí agitação nas pernas. Percebo que
estou falando mais (trabalhando melhor a empatia). 9 meses de tratamento: Ela
tem que fazer sim...! Antigamente eu ficava com aquela raiva! Agora consigo
ficar bem comigo mesma. OBS: a partir do 19º mês de tratamento consegue
relacionar os sintomas ao medicamento homeopático: o phosphorus me ajuda
bastante. Durmo bem com o Phosphorus.
� Boa frequência às consultas (cinco).
83
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
Carvalho: 3 meses de tratamento: melhora do aspecto da urina. 4 meses de
tratamento: melhorou da prostração; fica mais animado para fazer as coisas;
melhorou muito do humor. 7 meses de tratamento: mais ativo, mais disposto.
Trabalhando muito. 11 meses de tratamento: no trabalho assumindo tarefas extras.
Mais atento!
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Sem referência direta à relação entre o quadro clínico e a medicação homeopática
� Melhoria clínica
Cipreste: 3 meses de tratamento: melhora da disposição, das dores articulares, dos
tremores de extremidades. Pensando em voltar a estudar – estou montando o
plano. Estou mais confiante. 7 meses de tratamento: Tenho dormido mais
relaxado. Bastante disposição.
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Sem referência direta à evolução do quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
Crysântemo: 3 meses de tratamento: não dormi. Tenho depressão. Choro à toa. 6
meses de tratamento: Quando perguntam como estou começo a chorar. Esqueço
as coisas. 9 meses de tratamento: melhorou a tendinite, melhorou a secreção
84
esbranquiçada. Esqueço as coisas, mas fico insistindo até lembrar. Não usou
iodium, allium sativum, argentum nitricum: esqueceu! 10 meses de tratamento:
Melhora da gastrite. Não sinto mais nada!
� Boa frequência às consultas (seis).
� Uso inadequado dos medicamentos.
� Não refere a relação entre evolução clínica e o uso dos medicamentos homeopáticos.
� Melhoria clínica aquém do previsto por não conseguir tomar adequadamente os
medicamentos.
Dália: 3 meses de tratamento: dormindo melhor. Compulsão para comer. No
calcanhar as rachaduras pararam. 6 meses de tratamento: um desastre! Mal
estar no estômago; câimbras; dores nas articulações! Os sibilos melhoraram
muito com a homeopatia. 10 meses de tratamento: Irritabilidade: melhorou muito!
Achei que o remédio tem sonífero (dá risada).13 meses de tratamento: sinto o
sono, que antes não sentia. Pele: sem prurido. Apetite: melhorou do excesso, mas
ainda ansiosa.
� Boa frequência às consultas (seis).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhoria clínica
Gardênia: Primeira consulta: Não me imagino mais com homem...3 meses de
tratamento: Emocionalmente: “Maravilhosa”!!! estou amando...! é um ex..paixão
muito antiga. Sou muito ansiosa. a pressão está beleza... minha PA tem estado
130x90. Sem cansaço. Me sinto bem. Não sei ficar parada. Memória boa. Estou
bem compreensiva com os filhos. Eu atrapalhava . Agora bem mais calma.. agora
mais tranquila. Ajudo muita gente que precisa de mim.
85
� Boa frequência às consultas (seis).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o
tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
Girassol: 15 meses de tratamento: desanimada, vontade de largar tudo! A vida
não tem sentido. Desanimada para trabalhar.
� Boa frequência (cinco)
� Uso adequado dos medicamentos
� Sem referência à medicação
� Sem melhoria clínica
Hortênsia: 2 meses de tratamento: Só uma vez dor de cabeça, forte. De modo
geral, bem. Se eu passar dias tranquilos, fazendo só o que gosto, não sinto nada.
Uma beleza! Rouquidão e choro quando fala de si (chora de novo). Memória:
melhorou um pouquinho. Consigo me lembrar de coisas que antes não lembrava.
Tive oportunidade de ficar muito estressada, mas lidei com isso bem. 8 meses:
tremor no corpo passou. Confusão na fala passou totalmente. Notei que a
impaciência retorna no final do intervalo da Ignatia. (obs: medicamento Ignatia
amara prescrito por 15 dias alternando-se com intervalo de 15 dias)
� Boa frequência (cinco).
� Uso adequado dos medicamentos
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o
tratamento homeopático.
� Melhora clínica.
86
Jasmim: 3 meses de tratamento: Fiz a medicação – resposta positiva. Eu estava
tensa, impaciente - a compulsão por comer diminuiu bastante – gostei muito
desta resposta à medicação. Consigo dormir em qualquer posição, não sinto mais
falta de ar deitada sobre o lado esquerdo.
� Boa frequência às consultas (seis).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhora clínica.
Lírio: 4 meses de tratamento: “Foi Show!”Minhas enzimas reduziram bonito! 14
meses de tratamento: refere melhora quase que completa (do sintoma) após a
introdução da Euphrasia 6 CH.
� Frequência irregular às consultas (quatro).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência ao uso da medicação e evolução clínica.
� Melhoria clínica.
Lotus: 3 meses de tratamento: sentindo-se bem, melhorou muito do cansaço e do
peso nas pernas. Memória ainda dando rateadas. 6 meses de tratamento: dor no
peito. Se envolveu muito com sofrimento – quero abraçar o mundo com as pernas.
Sempre fui assim. Me revolto com a indiferença dos outros.
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso errático dos medicamentos.
� Sem referência espontânea à relação entre evolução clínica e os medicamentos homeopáticos.
� Melhoria clínica
87
Margarida: 3 meses de tratamento: Melhorei bastante com a medicação. 6 meses
de tratamento: O ânimo: tenho andado muito cansada. Querendo tomar
vitaminas. Memória: melhorei bastante. O relacionamento em casa melhorou
bastante. Trabalho melhorou. Sem stress, sem aborrecimento. Sem vontade de
chorar.
� Boa frequência às consultas (seis).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
Miosótis: 15 meses de tratamento: os remédios vão chegando a um período que os
efeitos são mais rápidos. Aquelas dores que eu sentia na barriga, quase não sinto
mais. Tenho andado muito. Essa semana saí a semana toda. Remédio milagroso...
o remédio é muito bom... e tonteira?? Antes a cabeça rodava. Agora não tenho
tido tonteira.
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o
tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
Paeônia: 3 meses de tratamento: Observei que com a medicação tive melhora na
concentração, estou lembrando mais dos compromissos. 6 meses de tratamento: A
homeopatia aumenta minha energia.
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso adequado dos medicamentos.
88
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
Petúnia: Sou muito severa em meus julgamentos. Sou inquieta, não consigo ficar
parada, preciso ler, ficar andando, ir para o computador. Eventualmente lapsos
de memória – dependo de agenda pra tudo, faço muita coisa junta ao mesmo
tempo. 3 meses de tratamento: melhora da insônia, dormindo bem! Passei o Natal
feliz, em paz, com tranquilidade, no silêncio. O cabelo está crescendo. Super feliz
por isso.
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso errático dos medicamentos.
� Sem referência à relação entre a evolução clínica e os medicamentos
homeopáticos.
� Melhoria clínica.
Stellaria: 1 mês de tratamento: Depois do início do tratamento, melhorei
bastante, dormindo melhor; prisão de ventre melhorou muito. 4 meses de
tratamento: Tensa durante o dia. Medo .... vou ficar envolvida com outras coisas.
7 meses de tratamento: Sem câimbras. ... ajudando, mas sem esquentar a cabeça.
Estou mais tranquila. Relacionamento em casa está bom. 14 meses de tratamento:
Não sinto fome. Medo de engordar. Medo de doença. Trabalhando, ajudando às
pessoas. Quando posso vou à praia. Não quero me magoar esse ano.
� Boa frequência às consultas (seis).
� Uso inadequado dos medicamentos (a partir do oitavo mês de tratamento.)
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o
tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
89
Tulipa: Falta de ar, desânimo, dor nos ossos, no frio piora. Faço o serviço todo.
Cansaço por dentro. Se eu ficar nervosa, eu fico rouca. Aborreço, perco a voz.
Vontade de respirar e prende por dentro. 3 meses de tratamento: melhor. Saindo.
Antes eu não saía para nada. O nervoso é mais interno. Não sou de soltar. 6
meses de tratamento: Barriga desinchou mais. Me senti bem melhor da parte
digestiva com a Ignatia. (obs: Ignatia amara medicamento homeopático.) Sinto
que no intervalo volto a piorar. 15 meses de tratamento: Irmão internado. Stress
mais cansaço. Diminuiu bastante a dor no estômago, bastante! Agora é só de vez
em quando. Cansaço: reduziu bastante, mas ainda tenho. Dores nas pernas
diminuíram mais. Por causa da arnica. Sem dores na sola do pé! Sumiu! Dor de
cabeça diminuiu bastante.
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso adequado dos medicamentos.
� Referência à associação direta entre a evolução do quadro clínico e o
tratamento homeopático.
� Melhoria clínica.
Vinca: 3 meses de tratamento: já não estou mais com aquela canseira. A unha
começou a crescer e os cabelos pararam de cair. Hoje vou dançar. Adoro
dançar! 13 meses de tratamento: ótima com a disposição de sempre.
� Boa frequência às consultas (cinco).
� Uso adequado dos medicamentos
� Sem fazer relação entre os medicamentos e a evolução clínica.
� Melhoria clínica.
9.2.1.1 Abandono do tratamento
90
Neste tópico analisamos a situação de indivíduos que abandonaram o tratamento após
uma, duas ou três consultas.
Pela dificuldade de se fazer novo contato para obtenção do Consentimento Livre e
Esclarecido tivemos apenas os relatos de dois participantes.
Acácia, Azaléa, Ipê, Copo de Leite e Oliveira foram à primeira consulta.
Gerbera foi à duas consultas.
Flor de Cerejeira, Hibiscus, Gerânio frequentaram três consultas.
- Casos que abandonaram o tratamento após três consultas e que permitiram através do
consentimento livre e esclarecido a divulgação de seus relatos:
Flor de Cerejeira: crises de dores no corpo. Se eu ficar parada as dores pioram.
A sola do pé dói de manhã ao levantar. Estou usando antidepressivo que não
aliviou – só resseca a boca. Sono: não durmo a noite inteira por causa das dores
Quero as coisas certas. Fico contrariada. Se eu puder falar, fico aliviada. Não
sou de guardar rancor. Me deixa falar! Se não falar fica engasgado, ou então
ignoro. Se eu puder falar, acabou ali. Se eu não puder falar, não engulo fingindo
que está tudo bem. Me afasto. Eu me emociono hoje em dia com criança
chorando em novela, se ouvir algo de sofrimento...quando nova, chorava muito de
raiva. 2 meses de tratamento: melhorei muito! Diferença absurda! Sem dores à
noite. Irritada. Falta de paciência. Tolerância pequena. Memória tem falhas. Mas
não atrapalha o dia a dia. Estou mais disposta que antes. 6 meses de tratamento:
Não estou bem. O fígado continuou a doer. Dor em repouso, em peso, piora ao
movimento. Sensação de plenitude até como copo de água. Irritada. Dores nos
pés – tem que movimentar para melhorar.
� Boa frequência às consultas durante os seis meses de tratamento (três).
� Uso adequado dos medicamentos no período de seis meses de frequência ao tratamento.
� Sem referência à relação entre evolução clínica e o tratamento homeopático.
91
� Houve melhoria clínica seguida de piora, tendo deixado de retornar às
consultas.
Gerânio: cansaço quando respiro. Peso no peito. Mesmo quieta – cansada.
Tristeza: muita ... Sofro muito... Recorri a ele para que ele ajudasse ... Foi
humilhante ele se esquivar de ajudar. Me entristece muito isso. (chora).
Taquicardia. Palpitação. Há dor no peito às vezes. Não é forte. Dá e passa.
Quando dá incomoda. Impaciência: muito stress. Estou cansada e estressada. 3
meses de tratamento: Em todos os sentidos tive uma melhora boa! Muito serviço
que eu não fazia, voltei a fazer. Pego a vassoura e já varro um espaço grande! O
coração parou de disparar. Agora estou bem mais tranquila, mais calma ...
Passou tudo... Aquela tristeza que tinha dentro de mim... já superei tudo... (Rs) 6
meses de tratamento: Continua bem disposta. A coceira acabou – não sente mais
nada. OBS: em consulta desenvolveu sintomas pelo uso de um dos medicamentos
homeopáticos – patogenesia.
� Boa frequência às consultas durante os seis meses de tratamento (três).
� Uso adequado dos medicamentos no período de seis meses de frequência ao
tratamento.
� Relacionou a patogenesia com a medicação.
� Melhora clínica seguida de piora.
No relato de Flor de Cerejeira houve períodos de melhora do quadro clínico e piora
a seguir, o que possivelmente levou ao abandono do tratamento homeopático.
Gerânio melhorou muito, mas durante intercorrência clínica fez uso de
medicamento homeopático, tendo desenvolvido sintomas patogenéticos40. Após esse
episódio, apesar de terem sido dadas explicações sobre a metodologia homeopática,
não mais retornou ao tratamento. No entanto, durante o contato para assinatura do 40 Sintomas patogenéticos se desenvolvem durante a experimentação de substâncias por indivíduos sadios sensíveis a elas. No caso dessa participante ela provavelmente ingeriu o medicamento durante tempo maior que o indicado por sua necessidade, e passou a reproduzir sintomas causados pela substância.
92
consentimento livre e esclarecido, Gerânio mostrou-se bem de saúde, feliz em
participar desse estudo.
9.2.2 Resgate da subjetividade
“O que diferencia as pessoas e as torna únicas são detalhes.”
E. Merhy, 2012.
A subjetividade é uma categoria inerente à própria doutrina médica da Homeopatia, o
que permite que o indivíduo doente possa ser visto de forma integral.
Percebo que antes do tratamento homeopático, eu me sentia um fígado com
duas pernas. Eu vinha ao hospital para trazer meu fígado. Hoje quando venho
na Homeopatia, sei que o tratamento é para mim. Nem leio mais artigos sobre
hepatite. O fígado é apenas uma parte de mim. Estou recuperando minhas
emoções (Paeonia).
Hahnemann propôs como técnica de semiologia homeopática que o discurso do
paciente fosse escrito na íntegra, o que permitiria a percepção do seu modo particular de
adoecer - “exame individualizador de um caso de doença” (Parágrafos 83 e 84
HAHNEMANN apud PUSTIGLIONE E CARILLO, 1994). A variabilidade de resposta aos
fenômenos que acontecem no meio onde os indivíduos se encontram inseridos é evidenciada
durante a anamnese. Assim durante o acolhimento ao indivíduo doente pelo médico assistente
- relação médico-paciente - estabelece-se o diálogo que, associado ao olhar atento e
observador do médico também no exame físico e quando necessário, nos resultados de
exames complementares, origina os elementos diagnósticos que indicarão a substância
terapêutica, eleita pela Lei dos Semelhantes.
93
O indivíduo pode ser portador de sintomas raros que se repetem também em um
grupo restrito de pessoas que adoeceria assim de forma similar. O diagnóstico do
medicamento homeopático adequado poderá ser feito e os indivíduos tratados. Então mesmo
no processo de individualização - a doença de cada pessoa - o médico homeopata
diagnosticará a semelhança entre o sintoma referido e observado tanto nesse indivíduo como
na matéria médica homeopática que contém o registro da repetição do mesmo sintoma em
determinados indivíduos.
A individualidade de cada pessoa é perceptível em sua história - Carillo Jr. enfatiza
em suas palestras - mas o que é digno de curar é o sofrimento do indivíduo, evidenciado
através de seus sinais e sintomas. O sistema de auto-regulação alterado pelo padrão de
organização que expressa seu adoecimento é o que sofrerá a intervenção do medicamento
homeopático (CARILLO JR., 2008). Uma vez que o indivíduo esteja curado, haverá a
possibilidade de que ele exerça com plenitude o sentido de sua vida, conforme preconizado
por Hahnemann.
Para a análise de conteúdo dos discursos presentes nos prontuários,
consideraremos três unidades de registro: os relatos com verbos na primeira pessoa do
singular como “expressão de si mesmo”; sintomas “raros, estranhos e peculiares” e sintomas
modalizados.
a) Relatos com verbos na primeira pessoa do singular como “expressão de si
mesmo”
Os relatos com verbos na primeira pessoa do singular refletem a “expressão de si
mesmo” pelo portador de hepatite C crônica durante o acolhimento na anamnese
homeopática:
Açucena: Ultimamente seguro as lágrimas – “Se você perguntar mais sobre isso
vou chorar”. Me sinto rejeitada. Gostaria ainda de estar trabalhando ... queria
voltar a fazê-lo.
� seguro, vou chorar, me sinto, (eu) gostaria, (eu)queria.
94
Angélica: se começar a falar sinto vergonha, não me sinto bem. Tenho a sensação
de que vou inflar e falta pouco para cair. Pavor de estar em lugar com muita
gente – pode acontecer alguma coisa, posso não ser aceita. Venho mais cedo do
trabalho por conta disso.
� sinto, não me sinto, tenho, vou inflar, posso não ser aceita, venho.
Bromélia: ... não lembro de nada. Se alguém falar que é o que não é me irrita.
Gosto de tudo limpinho. Não posso ver sujeira, poeira, quero limpar. Quando
tenho problemas, qualquer um, preciso de portas e janelas abertas.
� não lembro, me irrita, gosto, não posso, quero limpar, tenho, preciso.
Camélia: Não aceito que venham me aborrecer, ditar ordem no que já resolvi.
Adoro ficar sozinha, não gosto de muita gente aglomerando. Quero fazer minhas
coisas, bater um bolo; quero eu resolver meus problemas.
� não aceito, me aborrecer, resolvi, adoro, não gosto, quero, quero eu resolver.
Camomilla: Insônia. Pernas agitadas. Estou com emocional muito mexido, me
fecho muito, me descontrolo e me escondo no trabalho ... sofro calada.
� Estou, me fecho, me descontrolo, me escondo, sofro calada.
Carvalho: Gosto de dar atenção aos outros, ajudar. (estou) Sempre disponível
para ajudar.
� Gosto, (estou).
Cipreste: ... o desânimo foi geral – inclusive no trabalho, no estudo. Sinto
dificuldades para aprender coisas novas. Busco fazer outras atividades, pensar
positivo...
95
� sinto, busco.
Crysântemo: Acho que oscilo muito, hora estou muito feliz, hora estou chorosa e
depressiva. Boa relação com os amigos, converso muito com eles.
� acho, oscilo, estou, converso.
Dália. Não consigo dormir bem por preocupações com família. Eles não gostam
de ouvir a verdade. Gritei muito! Varejava as coisas! Durante muito tempo fiz
isso. Me saí bem. Nunca devi.
� não consigo, gritei, fiz, me saí, nunca devi.
Gardênia: o problema da pressão arterial é emocional. Se eu estiver nervosa a
tendência é subir. Se eu ficar feliz demais. Tudo é motivo. Ansiosa com doença.
Não me imagino mais casada... Sou severa - gosto das coisas direitinho: não
gosto de mentira. Fico revoltada. Não sou de esconder. Gosto das coisas claras.
Brigo! Mas são todos velhos..rsrs
� se eu estiver, se eu ficar, não me imagino, sou, gosto, não gosto, fico, não
sou, brigo.
Girassol: Quando me aborreço, pressão sobe. Fiquei mais de um ano rouca
quando a filha nasceu. “Esqueço tudo”. Não lembro onde coloco as coisas. Tudo
anoto. Falo muito. Sempre sorrindo, falando. Adoro dançar. Atualmente não ligo
para dançar. Chega uma época que a gente cai tanto que nem liga mais. Tem
hora que parece que vou ficar deprimida. Procuro relaxar. Sou muito ansiosa.
Quero fazer tudo ao mesmo tempo. Ando sem paciência com as coisas.. quero só
ficar em casa. Ando muito magoada (chora muito).
� me aborreço, fiquei, esqueço, não lembro, coloco, anoto, falo, adoro, não ligo,
vou ficar, procuro relaxar, sou, quero, ando.
96
Hortênsia: Está me cansando muito! Me aborreço muito... (chora). Quando vou
levantar, tenho que caminhar devagarinho. Dificuldade de falar. Acho que pela
depressão, pelo excesso de trabalho.
� me cansando, me aborreço, vou , tenho, acho.
Jasmim: Sempre fui impaciente. Não gosto que me dê palpite. Eu era bem
malcriada. Não gosto que me mandem fazer as coisas Tenho horror que me
chamem atenção. Não gosto que gritem comigo, não gosto que me chamem
atenção na frente dos outros. Antes eu era muito brava mesmo! Já não sou mais
agressiva. Eu brigava muito. Não tinha medo de nada! Hoje em dia tenho
controle. Tenho tremor nas carnes.
� descobri, fiquei, quero saber, fui, não gosto, me dê, eu era, não gosto, me
mandem fazer, tenho, me chamem, gritem comigo, não sou
Lírio: Acho-me com personalidade – encaro tudo com naturalidade. Tem
momentos na vida que prefiro ficar entocada, sem falar com ninguém. Mas passa
e sai, “vai dar tudo certo”. Adoro estudar doenças, p/ saber o que está
acontecendo. Não tinha vontade de viver. Pensei em suicídio.
� acho-me, encaro, prefiro ficar, adoro estudar, pensei.
Lotus: Fico desanimada, sinto logo dor nas pernas.
� fico, sinto.
Myosotis: Mágoas .... Não durmo: carnes tremem, por dentro ! Deito não
durmo. Muito agitada, muitos tremores, não quero falar com ninguém! Sem
vontade de comer. Vontade de chorar, de não ver ninguém. Muito medo!
=> deito, não durmo, acordo, levanto, não quero.
97
Paeonia: não estou interessada, medo tenho muito, fico parada, não consigo
assimilar. Hoje tenho vontade de fazer as coisas. Tenho ido à missa. Depois estou
lendo. Voltando ao tempo que eu era ativa.
� estou interessada, tenho, fico, não consigo, percebo, eu me sentia, eu vinha,
meu fígado. Venho, sei para mim, nem leio, estou recuperando minhas
emoções, tenho ido, estou lendo, eu era.
Petúnia: apenas tenho vontade de tomar uma cervejinha de vez em quando.
Tenho vergonha de ficar parada, ociosa. Tenho o direito de me aposentar mas
tenho vergonha de reivindicar isso. Critico os que ficam parados, que não fazem
nem um bordado! como podem se conformar com isso? Como eu posso ficar na
mesma posição dos que critico? Sou inquieta, não consigo ficar parada, preciso
ler, ficar andando, ir para o computador.
� tenho vontade, tenho vergonha, tenho o direito, critico, eu posso, sou, não consigo, preciso.
Stellaria: Sempre gostei da área de Medicina. Preocupação com a saúde.
Controla gorduras, doce (ansiedade). Moro sozinha. Pesquiso sintomas nos
livros. Quero fazer Psicologia. Trabalho muito no serviço. Insônia por stress? Me
dedico muito às coisas. Se pego algo para fazer, me coloco inteira naquilo...
Perdoei ele...raiva um pouquinho ... depois de tudo o que ele me fez...
� gostei, moro, pesquiso, quero, trabalho, me dedico pego, me coloco, perdoei,
me fez
Tulipa: Atualmente: falta de ar, desânimo Falta de ar. Cansaço por dentro.
Quando ando. Se eu ficar nervosa, eu fico rouca. Vontade de respirar e prende
por dentro. Deprimida. Não tenho vontade de sair. Só vou a médico. Choro às
vezes. Faço o serviço todo. Depois que paro, sinto dores na parte da tarde.
� ando, se eu ficar, eu fico, não tenho, vou, choro, faço, paro, sinto.
98
Vinca: Sou tagarela. Sou ... estou ... Sou explosiva. Porta de banco me irrita
profundamente. Coisas malfeitas me deixam com raiva: problemas de fora - se
leio algo... Em casa em geral, não me importo. Não coloco nem óculos para não
ver. Ignoro. Não vou me irritar por pouco. Antigamente era chatinha, chamava
atenção para o sujo, ia limpar. Agora se tá sujo, fica...Medo: tenho, mas enfrento-
avião, elevador - de ficar presa, dele cair. Raiva: da doença.
� sou, estou, me irrita, me deixam, se leio, não me importo, não coloco, ignoro,
não vou, tenho, enfrento.
b) Sintomas raros, estranhos e peculiares:
Tais sintomas são valorizados na homeopatia para o diagnóstico do adoecimento
e seleção de medicamentos. Esses, embora sejam incompreensíveis em sua
fisiopatologia, por não se correlacionarem com lesões orgânicas perceptíveis,
exprimem o modo peculiar de adoecimento daquele indivíduo e que se repete em
grupos de pessoas afins.
Açucena: Nem gosto de roupa fechada porque me sinto agoniada. As pernas
parecem amarradas. Parece uma friagem no joelho por dentro do osso. Dorme
bem, somente de bruços sobre os braços cruzados.
Angélica: no abdome como se estivesse entornando algo dentro, tipo cachoeira.
Sensações como se não tivesse ossos, de que flutua quando se irrita. Tenho a
sensação de que vou inflar e falta pouco para cair. Cefaléia pulsátil, de dentro
para fora, parece que vai explodir; sensação de um lado da cabeça funcionando,
o outro não.
Bromélia: Aversão a frutas. Maracujá: fico doente como se fosse dengue.
Camélia: Parece que os ossos estão esgotados.
Camomila: Dor em articulação do joelho (e metatarso) como se travasse.
Carvalho: a urina tem óleo por cima.
99
Cipreste: Transpiração manchando as roupas de branco.
Crysântemo: sem relato de sintoma raro, estranho e peculiar.
Dália: Dor (no hipocôndrio direito) sobe e dá agulhada (na fossa clavicular);
sensação de “cica” na boca
Gardênia: não apresenta sintomas raros, estranhos ou peculiares descritos no
prontuário.
Girassol:Fiquei mais de um ano rouca quando a filha nasceu. Dor nas juntas
queimando e ardendo. Gosma branca parece cola com espuma. A pessoa fala
comigo, não entendo o que a pessoa fala. Não é surdez. Não entendo o que a
pessoa fala... parece que o som passa de um ouvido para o outro.
Hortênsia: Dificuldade de respirar quando nervosa. Um pouco de dor nas pernas
e coluna. Se eu ficar nervosa, fica latejando.
Jasmim:Tenho tremor nas carnes. Comia pimenta e sentia dor de cabeça (gosto
muito de pimenta).
Lírio: Fico com uma dor de cabeça! Parece que vou explodir. É a mesma que me
dá vontade de tirar o tampão da cabeça.
Lotus: Cefaléia pulsátil como se o olho fosse pular da órbita. Sente odor de rosas
vê vulto de espírito.
Margarida: Hiperemia de escleróticas, com prurido local no “resfriado”.
Myosotis: Não durmo: carnes tremem, por dentro
Paeonia: Cabeça como se crescendo. Não consigo chorar apesar de ter muita
vontade. Aí fico com enjoo.
Petúnia: como se os polegares fossem repuxados; dor como se estivessem
quebrando os dedos
Stellaria: Intolerância à fruta ácida (laranja, tangerina) levando à febre. Aversão
à água. Chuvisco na vista... se eu ficar nervosa, dá.
100
Tulipa: Se eu ficar nervosa, eu fico rouca. Vontade de respirar e prende por
dentro.
Vinca: Ando à vontade na reta. Subiu, fico exaurida.
c) Sintomas modalizados
O desencadeamento dos sintomas dos indivíduos pode estar associado tanto a
fatores do ambiente, como horários, tempo, umidade do ar, quanto à alimentação,
posição corporal, movimentos, assim como aos fatores emocionais, que remetem a
sensações que se repetem nos diversos órgãos e sistemas.
Açucena: Suo muito. É só no peito, mal estar. Detonei uma garrafa de vinho...
abriu .... não tem como....(desejo de vinho).
Angélica: Desejo de café (não consigo parar) e doces.
Bromélia: Dores na coluna parecem facadas. Dores melhoram quando estou em
movimento. Parece mosquito andando na perna...mosquito, formiga...
Camélia: Varizes ardentes com ferroadas por dentro.
Camomila: Agrava com alimentos ácidos: língua arde e empola. Muita dor no
cotovelo; caminhando não sentia.
Carvalho: Cefaléa: dor que se localiza à esquerda, migrando da região do
supercílio para a têmpora, como se fosse explodir.
Cipreste: Dores articulares erráticas piores pela manhã e quando em repouso.
Desejos de frutas. Intolerância frituras e pimenta.
Crysantemo: Desejo de pimenta caiena; desejo de gordura. Não gosto de dormir
no escuro, tem dificuldades para dormir.
Dália: Asma brônquica quando criança em abril e maio. Muita compulsão para
comer. Desejo de doce: pudim de leite condensado inteiro, um pote inteiro de
101
sorvete. Aí vou ficar sem comer um ano. Rachaduras próximas aos dedos dos pés
na mudança de temperatura - no outono.
Gardênia: O problema da pressão é emocional. Se eu estiver nervosa a tendência
é subir. Se eu ficar feliz demais. Tudo é motivo. Memória: esquecendo-se do nome
das pessoas, “dando falhas”.
Girassol: Couro cabeludo está sensível. Parece queimando. Muito pigarro,
catarro durinho, amarelo escuro. Às vezes levanto cheia de dor. Quando ando
melhora.
Hortênsia: Dores no corpo todo. Quando vou levantar, tenho que caminhar
devagarinho. Dorzinha nos pés espetando, formigando. Cãibras de extremidades
(mãos e pés) irradiando-se proximalmente – pior quando expõe ao frio e melhora
com fricção.
Jasmim: Consigo dormir em qualquer posição, não sinto mais falta de ar deitada
sobre o lado esquerdo.
Lírio: Fico com uma dor de cabeça! Parece que vou explodir. Cefaléia: como se
fosse arrancar a face!
Lotus:, rinite no frio; obstrução nasal piora com vento, com ar frio.
Margarida: Cefaléia supraorbitária a esquerda que irradia para têmpora
esquerda, como se fosse explodir; eventualmente acomete a nuca, não
conseguindo sequer virar o pescoço, acompanhada de náuseas. Odinofagia à
esquerda, com descarga nasal posterior ora esbranquiçada, ora amarelada,
grossa.
Myosótis: acordo e levanto com mal estar, dor de cabeça e dor de ouvido.
Paeonia: alimentícios - Aversões: qualquer coisa fria; paralisia facial aos 33
anos por choque emocional; dor de cabeça por coco e chocolate; intolerancia a
açúcar: enjôo
Petúnia: Como se os polegares fossem repuxados A dor nos dedos como se
estivessem quebrando os dedos.
102
Stellaria: muita enxaqueca alimentar, dor ocular, melhorava com pressão. Coriza
por dois, três dias, na mudança do tempo firme para o úmido.
Tulipa: Depois que paro, sinto dores na parte da tarde.
Vinca: Prefere sal que doce.
9.2.3 Autonomia
Existem diferentes concepções sobre o que estudiosos do campo da saúde coletiva
consideram como “autonomia do sujeito”.
Estrêla (2006) comenta que Illich (1982) consideraria perda de autonomia a
dependência dos sujeitos à excessiva medicalização imposta pelos serviços de saúde e esse
autor proporia que os sujeitos exercessem “diversas formas de auto-cuidado para recuperar
sua autonomia a fim de não necessitarem da intervenção profissional”.
Em “A clínica do sujeito: por uma clínica reformulada e ampliada” Gastão Wagner de
Sousa Campos (1996,1997) se contrapõe a Illich (1982) argumentando que essa postura “nem
sempre ajuda o enfermo”. E se pergunta “como produzir saúde para aqueles Sujeitos
portadores de qualquer enfermidade sem considerar também o combate a esta enfermidade?”
Igualmente para Campos (1996, 1997) essa enfermidade seria diferente de um indivíduo para
outro:
... doenças semelhantes do ponto de vista classificatório podem incidir de forma
diferenciada conforme a história e os recursos subjetivos e materiais de cada Sujeito.
Os serviços de saúde deveriam operar com plasticidade suficiente para dar conta
desta variedade (Campos, 1996,1997, p.6).
Campos (2006, apud VIDAL) conclui sobre autonomia que seria “uma maior
capacidade dos sujeitos compreenderem e agirem sobre si mesmos e sobre o contexto...”
(CAMPOS, 2006 apud VIDAL, p.20).
103
Para Merhy, “O sentido de qualquer serviço de saúde é o de se centrar no usuário e
intervir a partir de seus problemas procurando contribuir para um caminhar mais autônomo no
seu “modo de andar a vida” (MERHY, 1997, p.30).
Assim, no presente estudo consideramos autonomia nos sentidos propostos por
Campos e Merhy, pois se assemelham ao que Hahnemann propõe como objetivo do
tratamento homeopático que seria a possibilidade do “espírito dotado de razão que habita em
nós, utilizar desse instrumento vivo e são para alcançar os altos fins de sua existência”. Ou
seja, Hahnemann chama atenção para o corpo saudável como pré-requisito para que o
indivíduo exerça plenamente sua Missão.
Vale acrescentar um comentário de Campelo (2001) em sua dissertação “Relação
Médico-Paciente na Homeopatia: Convergência de Representações e Prática”:
... esta atitude do médico que ouve seu paciente e que, além disso, estimula seu relato e quer saber sobre os desencadeantes de suas emoções, suas vulnerabilidades a fim de abarcar a totalidade individual, para que possa desta forma tratá-lo, com o intuito de possibilitar-lhe autonomia para desenvolver “os mais altos fins de sua existência” faz parte da própria racionalidade da medicina homeopática (CAMPELO, 2001, p.37).
Assim, nesse trabalho consideramos que o ganho de autonomia para os indivíduos
portadores de hepatite C crônica, estaria condicionado à sua recuperação clínica seja no
aspecto orgânico, seja no psíquico.
Então, como “unidades de registro” selecionamos melhoria clínica e recuperação de
atividades que esses indivíduos haviam deixado de exercer antes da intervenção do tratamento
homeopático.
Os relatos encontram-se transcritos a seguir.
Açucena
� Melhoria clínica: 3 meses de tratamento: Eu sentia muitas cólicas.
(Agora) uma vez ou outra, bem menos. (fezes) amarronzadas, antes
104
esbranquiçadas. 14 meses de tratamento: artralgia do joelho - passou.
Não estou sentindo nada. Até o inchaço não tenho mais. Cansaço:
bem melhor. As dores (no hipocôndrio) não sinto mais. Estômago
cheio não sinto mais ...
� Recuperação de atividades: 14 meses de tratamento: Tênis para
caminhar incomoda... Tem hora que pego paninho para pintar ...
� Ganho de autonomia.
Angélica
� Melhoria clínica: 13 meses de tratamento: Há dias que me sinto bem
melhor, porém cansada. Tremores. Glicose subindo. Oscilando muito.
Esquecimento para lugares onde coloquei as coisas. Teve uma
melhora (porque a frequência dos erros por fraqueza de memória,
diminuiu). Falta de ar se seu fizer muito esforço. Dor no peito. Muita
dor de cabeça. Diminuiu a dor precordial. Pressão chegou a 200x160,
mas reduziu a 160x100 quando no Pronto Socorro. Querendo galinha
com macarrão. Carne de porco! Se eu sentir o odor não consigo
comer. Melhorou. Há algo que já tolero.
� Recuperação de atividades: 3 meses de tratamento: Oscilo muito – hoje
estou bem leve; amanhã bate uma tristeza. Mas é tudo assim mesmo:
tudo aos pouquinhos. 13 meses de tratamento: Querendo caminhar a
partir desse mês...
o Ganho, pois apesar de apresentar-se com bastante instabilidade física e
emocional, consequência de graves perdas afetivas relatadas no
prontuário, a atitude foi de oferecer suporte aos familiares, “
querendo caminhar”.
Bromélia:
� Melhoria clínica: 4 meses de tratamento: Melhorei bastante da tonteira
que vinha com o calor por esforço. Melhorei da irritabilidade. Estou
uma bênção! Agora mais tolerante. Teve um dia que acordei e a
mente clara! Melhora do sono; melhorei da tosse e do engasgo. 7
105
meses de tratamento: Teve um dia que percebi que estava
caminhando bem. Nesse dia andei bem, que até parece que rebolei.
Atualmente vou para cama 1 hora e se não for interrompida durmo
até às 10 horas.
� Recuperação de atividades: Vou voltar para o trabalho.
o Ganho
Camélia:
� Piora clínica: Varizes ardentes com ferroadas por dentro. As varizes
coçam muito. E agora no corpo todo! parece que os ossos estão
esgotados.
� Recuperação de atividades: Não trabalhei tanto e tão cansada...
o Perda
Camomila:
� Melhoria clínica: Melhorou muito da irritabilidade e das pernas
inquietas.
� Recuperação de atividades: Tenho conseguido me controlar mais mas
acabo brigando.
o Mantida
Carvalho:
� Relato de Familiar: 2 meses de tratamento: “Desanimado para
caramba. Ele tenta levantar, mas fica aquela prostração” Memória:
desatento, desligado, memória recente: não gravo. OBS: o intervalo
106
pergunta-resposta normalizou! Mais atento! ... alguns lapsos de
memória – melhor que na consulta anterior.
� Recuperação de atividades: 8 meses de tratamento: Mais ativo, mais
disposto, trabalhando muito.
o Ganho.
Cipreste
� Melhoria clínica: 7 meses de tratamento: urticária parece que empola e
agrava ao coçar. Muito raro eu sentir dor. Parece que está
desaparecendo. 11 meses de tratamento: Melhora do cansaço, bom
preparo físico. Diminuição da urticária.
� Recuperação de atividades: Melhora da disposição. Pensando em voltar
a estudar – estou montando o plano. Voltando a concentrar-se mais
no trabalho.
o Ganho
Crysântemo:
� Melhoria clínica: Muito esquecida e muito estressada.
� Recuperação de atividades: Fico memorizando e aí lembro
o Mantida.
Dália:
� Melhoria clínica: Ansiedade com compulsão para comer. Não consigo
dormir bem por preocupações com a família. Púrpura, artrose, dor em
hipocôndrio direito. 13 meses depois: Sinto sono que antes não sentia.
Púrpura. Apetite: melhorou do excesso, mas ainda ansiosa. Cismo
107
com um alimento. Isso melhorou um pouco. Quando mais nervosa,
tremores - iguais ao que já tinha
� Recuperação de atividades: Acho que não tenho nada mais a
fazer...Carnaval me ofereci para ficar com meu tio que estava no
hospital.
o Mantida
Gardênia
� Melhora clínica: 14 meses de tratamento: a pressão tem se mantido
controlada. Não sinto dor, não sinto nada.
� Recuperação de atividades: 14 meses de tratamento: 1Curtimos
enquanto deu. Vivi o que não vivia há muitos anos. Feliz porque valeu
a pena!
o Ganho
Girassol:
� Melhora clínica: 12 meses: Pé rachado, doendo. Dor lombar igual. Sem
dor no joelho. Às vezes querendo dar câimbra. Tosse mais calma. A
pessoa fala comigo não entendo o que a pessoa fala. Parece
perturbação do ouvido.
� Recuperação de atividades: 15 meses de tratamento: Sem paciência.
Não tenho paciência. Com nada! Aflição! Quero largar tudo para lá!
Sem ânimo! Muito desanimada. Não tenho paciência com nada. Sem a
coragem que eu tive. Ainda um pouco desanimada. Tem hora que dá
vontade de largar tudo. Para mim a vida não tem sentido. Deprimida
de novo.
o Perda
108
Hortênsia:
� Melhora clínica: Tremor no corpo passou. Confusão na fala passou
totalmente. Memória boa. Lembrando geografia, história. Fadiga
depois do almoço que havia passado totalmente, voltou. Parei de
chorar como antes (diminuiu muito).
� Recuperação de atividades:
o Ganho
Jasmim
� Melhoria clínica: 19 meses de tratamento: Melhorei muito do desejo
alimentar. Consigo controlar. Havia saído do controle e não fico
cansada. Agora sempre ânimo que eu não estava tendo.
� Recuperação de atividades:19 meses de tratamento (perda afetiva por
falecimento de familiar há 5 meses): Sou eu sozinha. Mas acho
natural da vida. Tenho que ter força para continuar a viver. Quero
meus projetos para fevereiro.
o Ganho
Lírio
� Melhoria clínica: Ainda em pânico. Tem vezes que fica doze dias sem
sair à rua. Meu amigo me estimula muito me chama para estudar e eu
vou – gosto muito de estudar!
� Recuperação de atividades: Relação com o filho melhorou muito
o Mantida
109
Lotus:
� Melhoria clínica: Sentindo-se bem: melhorou muito do cansaço e do
peso nas pernas – está caminhando melhor. A angiolista descartou a
necessidade de cirurgia de varizes, devido à melhora do quadro
angiológico. Pensando em se aposentar.. muita mesquinharia.
Questionei. Deseja muito viajar. Há 01 mês sentindo dor no peito com
sensação de aperto na garganta e vômito por 15 min, com melhora
espontânea. Trabalhou muito nas chuvas ajudando no resgate de
moradores.
� Recuperação de atividades: Se envolveu muito com sofrimento. – quero
abraçar o mundo com as pernas. Mas sempre fui assim – me revolto
com a indiferença dos outros (chora).
o Mantida
Margarida
� Melhoria clínica: 9 meses de tratamento.. No final de novembro é que
foi o resfriado. Eu estava bem melhor, mais disposta, sem cansaço. 12
meses de tratamento: memória: Melhorei bastante. Eu estava muito
esquecida. Às vezes ia fazer uma coisa e esquecia. Agora melhorei
bastante.
� Recuperação de atividades: Não tenho ânimo para trabalho. Se puder
ficar em casa, prefiro. Até as coisas de casa, empurro pra frente,
sempre fui muito ativa e isso me incomoda. 03 meses de tratamento:
Melhorou 100% o estresse no trabalho – trocou de chefe – foi o
melhor remédio... Melhorou o ânimo pra fazer as atividades diárias. O
desânimo para fazer estas atividades cessou.
o Ganho
110
Miosótis
� Melhoria clínica: 3 meses de tratamento: Sem tremores internos Era
muito cansaço. Não tenho sentido como antes, só se ando muito.
Agora não tenho tido tonteira. 12 meses de tratamento: Família nota
que aumentei o peso. A netinha falou que estou comendo melhor. 15
meses de tratamento: Estou me sentindo bem. Caminhando bem...
Aquelas dores que eu sentia na barriga, quase não sinto mais.
� Recuperação de atividades: 3 meses de tratamento: Fez o cabelo. Bem
melhor. ...cuidando da filha, fiquei muito junto dela. 6 meses de
tratamento: Estou ajudando minha mãe e estamos caminhando
(sorrindo, excelente estado geral) 15 meses de tratamento: Tenho
andado muito. Essa semana saí a semana toda.
o Ganho
Paeonia
� Melhoria clínica: 9 meses de tratamento: Memória: melhorada, boa.
Começando a assimilar bem o que estou lendo.
� Recuperação de atividades: 6 meses depois: Mais animada, vida
tranquila. Há muitos anos não ajudava na casa. 12 meses após:
Saindo mais. Voltando ao tempo que eu era ativa. Curtindo esse
momento de volta ao trabalho.
o Ganho
Petúnia
� Melhoria clínica: Sou inquieta, não consigo ficar parada, preciso ler,
ficar andando, ir para o computador. 16 meses de tratamento. Não
que tenha piorado, mas tem se cobrado mais desses lapsos (de
memória).
111
� Recuperação de atividades
o Mantida
Stellaria:
� Melhoria clínica: 3 meses de tratamento: Depois do início do
tratamento melhorei bastante. Prisão de ventre: melhorou muito.
Caimbra: muito difícil, bem mais rara...
� Recuperação de atividades: 8 meses de tratamento: ajudando, mas sem
esquentar a cabeça. Estou mais tranquila. 14 meses de tratamento:
Bem, trabalhando, ajudando as pessoas.
o Ganho
Tulipa:
� Melhoria clínica: 6 meses de tratamento: sem falta de ar. Não tenho
percebido rouquidão. Me senti bem melhor da parte digestiva. 9
meses de tratamento: Antes tudo o que eu comia passava mal. Agora
não. Posso comer e não há gases, até frituras.
� Recuperação de atividades: 9 meses de tratamento: Esquecida de mim.
Esqueço até que estou doente. Não sinto nada mesmo quando pego
peso.
o Ganho
Vinca: Melhoria clínica: 11 meses de tratamento: Ótima. Com a disposição de
sempre. Sem queixas.
� Recuperação de atividades: 10 meses de tratamento: Viajou no
Carnaval. Adoro mar!
112
o Mantida
Os relatos em sua maioria demonstram ganho de autonomia a partir do tratamento
homeopático. Ponderamos que a manutenção de autonomia deveria igualmente ser
considerada como “ganho de autonomia”, pois seria esperado que o indivíduo portador de
uma doença crônica evoluísse com piora gradativa de seu quadro clínico.
Em sua dissertação “Integralidade no Cuidado nas Medicinas Naturais: a resposta dos
usuários ao medicamento homeopático”, Estrêla (2006) citando Luz, (1997), Ayres, (2001) e
Lacerda, (2004) problematiza o conceito Hahnemanniano de autonomia:
Finalmente, se o processo terapêutico logrou êxito, o paciente está saudável, pronto para viver e atingir “os mais altos fins de sua existência” (Hahnemann,1992), corroborando sua autonomia no que diz respeito ao livre arbítrio para escolher o caminho de lidar com sua vida e de como cuidar dela. Entende-se que a expressão teleológica de Hahnemann – “os mais altos fins de sua existência” – volta-se para o enaltecimento de diferentes valores e princípios tais como liberdade, autonomia e integralidade, apresentando convergência com definições relacionadas ao conceito de cuidado em saúde, quando se referem a “projeto de vida e felicidade”, “cuidado de si” e “apoio social” (ESTRELA, 2006 p.19).
Compreendemos que para Hahnemann, o conceito de “ autonomia” incluiria a
capacidade do indivíduo modificar sua atitude frente a vida, a partir do tratamento
homeopático. Nesse trabalho nós consideramos que essa capacidade pode ser estudada em
uma quarta categoria analisada a seguir: Mudança de Dinâmica Vital.
9.2.4 Mudança de Dinâmica Vital
Dentre os critérios que definem as Racionalidades Médicas, existe o de “Dinâmica
Vital” que corresponde à compreensão de “fisiologia”, de “funcionamento do organismo”,
pela racionalidade médica estudada.
113
No entanto no presente estudo esse conceito terá o sentido que lhe atribui Estrêla
(2006), referindo-se à “ mudança de atitude da pessoa frente à vida”, ou seja, uma mudança de
sentido de sua atuação.
O sentido em que nos apropriamos da integralidade do cuidado (Pinheiro & Mattos, 2001) está na propriedade da evolução que pacientes apresentam durante um tratamento homeopático (...) se houve mudança na atitude vital do paciente na acepção do modo singular como o indivíduo reage aos estímulos, tanto na dimensão física quanto na psíquica (ESTRELA, 2006 p. 37).
Essa categoria também se depreende nos resultados obtidos por Campelo (2001)
em sua pesquisa de mestrado, ao avaliar os resultados terapêuticos da homeopatia através de
entrevistas com pacientes tratados no serviço público:
O aspecto mencionado com mais entusiasmo pelos pacientes, talvez por ser o menos
esperado é que o tratamento homeopático trouxe melhora a suas vidas. Referem
mudanças no psiquismo, na maneira de agir, de pensar. Um dos entrevistados chega
a chorar, emocionado, por estar falando sobre as mudanças ocorridas “sempre que
eu converso com alguém sobre a minha vida assim, sobre o que eu era e o que eu
sou agora, sempre me dá emoção, sabe. Porque quando eu me lembro a vida que eu
levava, antes desse tratamento aí; era uma vida muito ruim, mas muito ruim,
mesmo”. Daí a gratidão imensa que sente por seu médico, por quem pede sempre a
Deus que o mantenha com saúde neste caminho (CAMPELO MF, 2001, p.
102,103).
Nesse estudo procuramos sedimentar o conceito de mudança de dinâmica vital,
observando-o nos relatos dos indivíduos e que seguem abaixo.
Açucena:
3 meses de tratamento: Menos irritada, menos preocupada. 14 meses de
tratamento: Gosto de ficar parada, meditando. Adoro dormir. Mas também
nunca parei na vida... só trabalho... é experiência boa ficar
parada...Antigamente qualquer coisa irritava e eu queria resolver... Agora
114
estou calmíssima... (sorri). Antigamente eu queria dar conta das cobranças...
agora não...
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
OBS: com dois anos de tratamento está animada, trabalha em nova atividade
como cuidadora e viaja pelo trabalho, o que a deixa feliz.
Angélica:
Primeira consulta: Não se sente bem no meio das pessoas; se começar a falar
sinto vergonha, não me sinto bem.... Tenho vontade de ficar distante, de entrar no
quarto e ficar quieta. ... posso não ser aceita. Venho mais cedo do trabalho por
conta disso.13 meses de tratamento: Me senti melhor consegui me divertir mais
do que das outras vezes. Arrisquei passos de dança. Coisas que jamais faria... me
entrosei no meio deles; ficar conversando jamais faria...
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Bromélia: Primeira consulta: esquecimento total... não lembro de nada... não sei
se tomei o remédio de pressão...um nervoso! Me irrita! 7 meses de tratamento:
Quero estudar! ... Querendo fazer gestão de meio ambiente
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Camélia: parece que os ossos estão esgotados. Não trabalhei tanto e tão
cansada...
o Mudança para pior da dinâmica vital
Camomila 3 meses de tratamento: Percebo que estou falando mais, trabalhando
115
melhor a empatia. Sabendo lidar melhor com as mágoas. 12 meses: Assimilando
melhor a saída dele ... melhorou da irritabilidade e das pernas inquietas.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Carvalho: 2 meses de tratamento: Desanimado para caramba. Ele tenta levantar, mas
fica aquela prostração. Desatento, desligado. Não gravo. Após 12 meses de
tratamento: Tô legal. No trabalho, assumindo bem tarefas extras.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Cipreste: Bastante disposição. Namorando. Preciso dormir mais. Levanto 5:30 e
durmo 1 hora. Porque fico empolgado. Quer prestar concurso público. Estou mais
confiante.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Crysântemo: Estou sem estímulo. Não ligo para arrumar a casa (chora). Ele deveria
ter mais atenção comigo... dela não reclamo, ela paga meu convênio.
o Manutenção da dinâmica vital
Dália: Contando até 10 para não explodir! Não pular da ponte! Está difícil! Me
ofereci para ficar com meu tio que estava no hospital. Fiquei indignada!
o Manutenção da dinâmica vital
Gardênia: Primeira consulta: Não me imagino mais com um homem... Após 8 meses
de tratamento: Melhora de emotividade, está com um companheiro e está muito feliz
por isso.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
116
Girassol: Aflição! Quero largar tudo para lá! Sem ânimo! Muito desanimada.
Não tenho paciência com nada. Sem a coragem que eu tive. Ainda um pouco
desanimada. Tem hora que dá vontade de largar tudo. Para mim a vida não tem
sentido. Deprimida de novo.
o Mudança para pior da dinâmica vital
Hortênsia: “... pastas para os exames, cópias organizadas – em outros tempos
teria esquecido”. Não estou muito cansada. Fazendo tudo. Trabalhando em
várias áreas, ajudando como empresária. E paralelo a isso, trabalhando em casa.
Com o marido: “Não estamos discutindo mais. Estamos mais tolerantes – um
com o outro. Estou muito calma. Aparece um jeito dentro de mim e não me irrito.
Acho normal. Fazendo curso de fotografia e fui a campo. Fazendo curso de corte
e costura.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Jasmim: Eu estava com a mente muito conturbada, muito revoltada ... foi bom
parar um pouco (afastou-se de atividades após perda familiar). Vi que não estava
pronta para aprender. Eu queria ensinar a quem estava ensinando... Fiz inscrição
para atividades de idosos, aprender violão, curso de teologia. Me engajei em uma
ONG de assistência social. Mas a atividade será ano que vem...
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Lírio: Muito tensa (problemas familiares). Não consigo nem chorar. Pensando em
desistir da vida, em dizer chega !... mas descobri que ainda não chegou a minha
hora. Meus amigos se preocupam comigo e fico feliz de saber que posso contar
com alguém.
o Manutenção da dinâmica vital
117
Lotus: Se envolveu muito com sofrimento. – quero abraçar o mundo com as
pernas. Mas sempre fui assim – me revolto com a indiferença dos outros (chora).
Muito triste porque a minha grande amiga está muito mal. Muito angustiada por
ela.
o Manutenção da dinâmica vital
Margarida: 03/04/2009- Primeira Consulta: Não tenho ânimo para trabalho. Se
puder ficar em casa, prefiro. Até as coisas de casa, empurro pra frente, sempre
fui muito ativa e isso me incomoda. 3 meses de tratamento: Melhorou o ânimo pra
fazer as atividades diárias. O desânimo para fazer estas atividades cessou. 9 meses
esse ano espero que consiga comprar minha casa. E muitas outras coisas. Espero
que seja melhor do que ano passado. 12 meses: continuo querendo comprar
minha casa até o final do ano.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Myosotis: Participando do grupo antitabagismo. Quarta feira iniciou aurículo -
terapia pelas dores nas pernas.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Paeonia: Curtindo o momento de volta ao trabalho.
o Manutenção da dinâmica vital
Petúnia: Primeira consulta: Tenho vergonha de ficar parada, ociosa. Tenho
direito de me aposentar, mas tenho vergonha de reinvindicar isso. Após 3 meses
de tratamento: Muito feliz porque voltou a trabalhar! 14 meses: Não que tenha
piorado mas tem se cobrado mais desses lapsos (faz uso errático das medicações).
o Manutenção da dinâmica vital
118
Stellaria: Quando posso saio, vou à praia para relaxar. Não quero me magoar
este ano. ... cursos para ficar envolvida com outras coisas.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Tulipa: Esquecida ainda de mim. Preocupando-me apenas com problemas
alheios. Não me esquento mais com pouca coisa.
o Mudança positiva de sua dinâmica vital
Vinca: Levo vida na boa.
o Manutenção da Dinâmica Vital
119
9.3 ANÁLISE QUANTITATIVA DESCRITIVA DO MATERIAL EXAMINADO
9.3.1 Adesão
Gráfico 9.3.1.1 Adesão 26 indivíduos (74,28%). Abandono: 9 indivíduos (25,71%) durante os primeiros 14
meses de tratamento.
Gráfico 9.3.1.2 Adesão 26 indivíduos: Frequência e número de indivíduos (entre parênteses) que aderiram ao
tratamento homeopático: 7 consultas (1 – 3,8%); 6 consultas (6 – 23%); 5 consultas (13 – 50%); 4 consultas (2 –
7,7%). Abandonaram o tratamento 9 (34,6%) indivíduos: desses, frequentaram 3 consultas(3 -11,5%); 2
consultas (1 – 3,8%); 1 consulta (5 – 19,2%).
120
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Consentiram Não Consentiu
Gráfico 9.3.1.3: Solicitação a 28 pessoas. 27(96,4%) consentiram ; um indivíduo (3,6%) recusou.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi solicitado a vinte e oito pessoas,
das quais vinte e sete (96,4%) deram o consentimento para a utilização de seus relatos. Um
indivíduo recusou (3,6%). Dessas vinte e sete pessoas, duas não conseguiram assinar o TCLE
e por isso seus relatos não foram utilizados.
Vale ressaltar que o número de consentimentos foi muito significativo, tendo em vista
que a médica e pesquisadora Míriam Figueira Reis encontrava-se afastada do campo de
pesquisa há um ano. A resposta positiva para a realização do presente estudo demonstra o
forte vínculo criado através da relação médico-paciente e dos resultados clínicos obtidos
através da terapêutica homeopática.
121
Gráfico 9.3.1.4: Total de 26 indivíduos (100%) aderiram ao tratamento homeopático. 22 (84,6%)
tiveram seus relatos analisados. De 04 participantes (15,4%) que aderiram ao tratamento, não foi possível a
análise.
Gráfico 9.3.1.4: Referem uso adequado dos medicamentos: 17 (77,3%) indivíduos; e inadequado: 05 (22,7%)
indivíduos.
122
Gráfico 9.3.1.5: Associam nos relatos dos prontuários a evolução clínica ao tratamento homeopático 13 (59,1%)
indivíduos. Não fazem essa associação 9 (40,9%) indivíduos.
Gráfico 9.3.1.6: Apresentaram relato de melhora em seu quadro clínico: 19 (86,4%) indivíduos; manutenção
1(4,5%) e piora: 1 (4,5%) indivíduo.
123
9.3.2 Resgate da Subjetividade
Gráfico 9.2.1: Relatos utilizando a primeira pessoa do singular: 22 indivíduos (100%).
Demonstra a utilização adequada da técnica homeopática que busca a valorização do
encontro entre sujeitos, em 100% dos atendimentos, conforme demonstrado nos relatos em
primeira pessoa encontrados em todos os prontuários avaliados.
Gráfico 9.3.2.2: Registro de sintomas raros, estranhos e peculiares: 21 (95,5%) indivíduos; ausência de registro
1(4,5%) indivíduo.
124
A percepção de sintomas pelo indivíduo dependeria também do quanto ele valoriza o
que está sentindo, ou do quanto é capaz de se observar. Caberia então o seguinte
questionamento: Isso teria sido um obstáculo para a não obtenção de sintomas raros estranhos
e peculiares em um dos prontuários?
Gráfico 9.3.2.4: Relatos nos prontuários com modalização dos sintomas: 22 indivíduos (100%).
A evidência da modalização dos sintomas em 100% dos prontuários avaliados
comprova a utilização da técnica homeopática em 100% dos atendimentos e a confirmação da
preocupação de individualização dos participantes da pesquisa.
125
9.3.3 Autonomia
Gráfico 9.3.3.1: Apresentaram relato de melhora em seu quadro clínico: 19 indivíduos (86,4%); manutenção: em
1 indivíduo (4,5%), e piora: em 1 indivíduo(4,5%).
Gráfico 9.3.3.2: Recuperação de atividades: ganho em 13 indivíduos (59,1%); manutenção em 07 indivíduos
(31,8%) ; perda em 02 indivíduos (9,1%).
126
9.3.4 Mudança de Dinâmica Vital
Mudança de Dinâmica Vital
Para melhor Manutenção Para pior
Gráfico 9.3.4.1: Mudança de Dinâmica vital: Para melhor: 13 (59,0%) indivíduos; Manutenção: 07 indivíduos
(31,8%); Para pior: 2 indivíduos (9,0%).
9.4 CORRELAÇÃO ENTRE BIOPSIAS HEPÁTICAS, AUTONOMIA e MUDANÇA DE
DINÂMICA VITAL.
A tabela seguir foi construída com base na análise dos relatos das categorias
autonomia e mudança de dinâmica vital, avaliadas previamente de maneira independente.
9.4.1 Tabela: Correlações entre biopsias hepáticas, autonomia, mudança de dinâmica vital
127
Resultados de biopsias hepáticas/ano de realização
Autonomia Mudança de Dinâmica vital
1 AÇUCENA Ganho Para melhor
2 ANGÉLICA A3F3(2005) Ganho Para melhor
3 BROMÉLIA Ganho Para melhor
4 CAMÉLIA Perda Para pior
5 CAMOMILA Mantida Para melhor
6 CARVALHO A1F2-3(2004) Ganho Para melhor
7 CIPRESTE Ganho Para melhor
8 CRYSÂNTEMO
A2F2(2006) Mantida Mantida
9 DÁLIA A3F4(2009) Mantida Mantida
10 GARDÊNIA A3F4(2007)
Ganho Para melhor
11 GIRASSOL A2F3(2005) Perda Para pior
12 HORTÊNSIA Ganho Para melhor
13 JASMIM A2F3(2008) Ganho Para melhor
14 LÍRIO A2F3(2004) Mantida Mantida
15 LOTUS Mantida Mantida
16 MARGARIDA A2F3(2006) Ganho Para melhor
17 MYOSÓTIS Ganho Para melhor
18 PAEÔNIA A2F3 (2001) Ganho Mantida
19 PETÚNIA Mantida Mantida
20 STELLARIA Ganho Para melhor
21 TULIPA A2F3 (2006) Ganho Para melhor
22 VINCA Mantida Mantida
128
A adesão ao tratamento e o resgate da subjetividade, nesses 22 indivíduos, está
implícita.
Observou-se que o ganho de autonomia por 13 indivíduos correlacionou-se com a
modificação da dinâmica vital para melhor em 11 deles (84,6%). Isso demonstraria que o
indivíduo no processo de recuperação de autonomia faz um inventário de suas melhores
possibilidades e modifica suas atividades para melhor.
Logo, essas duas categorias deveriam ser analisadas conjuntamente, conforme
discutido por Campello (2001) e Estrela (2006), quando analisaram o parágrafo 9 do Organon
escrito por Hahnemann.
Observou-se também que mesmo indivíduos com lesões graves hepáticas,
diagnosticadas em biópsias hepáticas, apresentaram evolução positiva com o tratamento
homeopático. Desse modo, poderíamos então aventar a hipótese de que a homeopatia traria
ganho no aproveitamento da reserva funcional presente no fígado lesado, assim como a
regeneração possível do órgão seria efetiva.
129
9.5 PRESCRIÇÃO DOS MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS
Medicamentos Homeopáticos Utilizados
Zincum metallicum
Ignatia amara
Arnica montana
Cactus grandiflorus
Nitri acidum
Nux vomica
Iodium
Selenium
Chelidonium majus
Hamamellis virg
Berberis vulg
Kali brichr
Solidago
Metallum album
Cocculus ind
Coffea
Rhus tox
Cuprum met
Passiflora
Allium sativum
Sygygium jam
China off
Gráfico 9.5: Demonstra o caleidoscópio dos 81 medicamentos utilizados e o número de indivíduos (entre
parênteses) para os quais aqueles foram prescritos.
Zincum metallicum (26), Cactus grandiflorus (9), Arnica montana (9), Ignatia amara para (9). Nitri acidum (8)
Nux vômica (8); Selenium (7), Iodium (7), Chelidonium majus (6), Hamamellis virg. (6); Berberis vulg(5), Kali
bichromicum (5), Solidago(5), Metallum album(5), Cocculus indicus (5); Coffea cruda (4), Rhus Tox(4),
Cuprum metallicum(4), Passiflora (4), Allium sativum (4), Syzygium jambolanum (4); China off (3), Sanícula
aqua (3), Robinia(3), Kalmia latifolia(3), Latrodectus mactans(3), Ruta graveolens (3), Ledum palustre (3),
Sabadilla (3), Phosphorus (3); Carbo veg (2), Glonoinum (2), Serotoninum(2), Indigo(2), Hypericum perf (2),
130
Rumex crispus (2), Hydrastis canadenses (2), Symphytum(2), Apis mel(2), Cantharis(2), Aescullus hip(2),
Ribavirina 6 CH (2); Colchicum(1), Antimonium crudum(1), Borax(1), Crataegus(1), Plantago(1), Belladona(1),
Cajuputum(1), Agaricus muscarius(1), Natrum mur(1), Lachesis trig(1), Bryonia alba(1), Eupatorium perf(1),
Kali mur(1), Drosera(1), Secale(1), Sticta pulm(1), Antimonium tartaricum(1), Ipecacuanha(1), Gnaphallium(1),
Harpagophytum(1), Ooforinum(1), Lapis albus(1), Cimicifuga racemosa(1),Calcarea phosphorica(1),
Sambucus(1), Rhododendron(1), Myristica sebifera(1), Sataphysagria(1), Thuya occ(1), Pancreatinum(1) cada
medicamento.
Foram utilizados 81 medicamentos para os 26 indivíduos portadores de hepatite C que
aderiram ao tratamento. O Zincum metallicum é o medicamento de escolha para o padrão de
organização hepático alterado. Por esse motivo todos os indivíduos o utilizaram. Os outros
medicamentos variaram conforme as necessidades individuais.
131
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS .
Neste estudo procurou-se dimensionar a potencialidade da Homeopatia, em especial
da abordagem da Homeopatia Sistêmica, para oferecer um cuidado integral aos indivíduos
portadores de hepatite C crônica. Para tal, discutiu-se paralelamente a abordagem da
biomedicina, na qual a doença encontra-se diretamente associada a uma lesão orgânica. Desse
modo, para o portador de hepatite C Crônica, a biomedicina propõe a eliminação do vírus
como critério de cura.
Ao discutir o paradigma biomédico, Luz (1987) discorre sobre suas categorias
constituintes – “doença, entidade mórbida, corpo, organismo, fato patológico, lesão, sintoma”
– e pondera que “vida, saúde e cura” deixam de ser tematizáveis neste modelo. Camargo Jr.
(2003) corrobora esse pensamento ao afirmar que “o saber médico é um saber sobre a doença,
não sobre o homem, o qual só interessa ao médico, enquanto terreno onde a doença evolui: “a
construção das doenças como categorias teve de ser feita excluindo-se os indivíduos
acometidos” (CAMARGO JR. 2003, p.79, 80).
Assim, nesse estudo, acrescentamos à pesquisa “Avaliação do Tratamento
Homeopático em Indivíduos Portadores de Hepatite C Crônica”, apresentada no capítulo
cinco, algumas interrogações: se a Homeopatia Sistêmica teria oferecido a esses indivíduos
um cuidado integral, se teria sido capaz de trazer o indivíduo doente de volta ao centro da
intervenção. Foram utilizadas quatro categorias para análise do discurso dos indivíduos em
tratamento homeopático: adesão, resgate da subjetividade, autonomia, mudança de dinâmica
vital.
Encontramos adesão ao tratamento homeopático de 74,3% dos indivíduos portadores
de hepatite C crônica que procuraram o serviço.
Percebemos também presentes nos relatos de 77,3% dos que aderiram ao tratamento
homeopático, referência ao uso adequado dos medicamentos. Dentre esses 59,1%
relacionaram aos medicamentos homeopáticos sua melhoria clínica, sendo que relatam
evolução clínica com melhoria: 86,4%.
Poderíamos deduzir que o resgate da subjetividade em 100% dos relatos dos
participantes da pesquisa, durante a anamnese homeopática, com a compreensão de sinais e
sintomas indefinidos ou “raros, estranhos e peculiares”, satisfez suas expectativas de
acolhimento e compreensão.
132
A análise dos resultados do tratamento homeopático sobre a autonomia desses
indivíduos mostra que, após o tratamento homeopático, 59,1% conseguiu reassumir atividades
durante os primeiros 14 meses de tratamento e 31,8% manteve o que já exercia, o que poderia
ser considerado positivo em se tratando de uma doença crônica, o que equivale a 90,9% de
resultados positivos. Sobre este aspecto, vale mencionar Merhy (1997), ao propor que os
serviços de saúde deveriam auxiliar o indivíduo no seu “modo de andar a vida”.
Com a homeopatia, ao recolocar o indivíduo em um processo de cura, com a
recuperação de “sua harmoniosa função vital” (HAHNEMANN, [1810-1921] in
PUSTIGLIONE, CARILLO JR., 1994), esses indivíduos tornaram-se capazes de inventariar
suas possibilidades na vida com mudança em sua dinâmica vital, em sua maioria,
proporcionalmente à recuperação de sua autonomia. Isso confirma a compreensão de
Hahnemann de que essas duas categorias estão intrinsecamente ligadas no mesmo processo.
Através da ótica homeopática, a Hepatite C Crônica teria uma origem
predominantemente intrínseca de caráter crônico – o “sifilinismo” (CARILLO JR., 2000).
Assim sendo o vírus não seria determinante da mesma, mas um agente externo que poderia
desencadear ou agravar um processo já presente intrinsecamente no indivíduo doente e
tratável pela homeopatia, conforme demonstrado pelos resultados obtidos nesse estudo.
Percebeu-se que a diferença conceitual sobre o que seja cura nos paradigmas
biomédico e homeopático é fundamental, pois mesmo os indivíduos que aderiram ao
tratamento homeopático com boa evolução isto é, sentindo-se melhor, vivendo melhor,
modificando sua dinâmica vital com novas perspectivas e capacidade de traçar seu futuro -
retornando às atividades de trabalho, viajando, amando, não se sentem seguros com seu
processo de cura, em vista do único critério de cura proposto pela biomedicina - paradigma
hegemônico na sociedade - ser a eliminação da carga viral. Esses indivíduos apresentaram-se
assim vulneráveis (pois que desejosos) ao retorno ao tratamento biomédico com
medicamentos experimentais (associados aos anteriores), na tentativa de negativação da carga
viral. Tal opção poderá torná-los expostos potencialmente ao desenvolvimento de lesões
orgânicas graves e concomitantes repercussões psíquicas, devido a toxicidade desses
medicamentos, como divulgado no consenso de 2012 sobre o tratamento da hepatite C
crônica: sintomas depressivos, incluindo tendências suicidas, exacerbação de doenças
autoimunes, supressão da medula óssea, anemia hemolítica. Enquanto isso o mesmo consenso
ressalta que “uma proporção significativa de pacientes já tratados não alcançarão resposta
133
virológica mantida com terapia tripla com inibidores de proteases, então a necessidade de
terapia alternativas para esses pacientes permanece alta”. Assim a cura pela ótica da
biomedicina assemelha-se a uma situação praticamente inalcançável.
Pelo grande número de substâncias medicamentosas utilizadas em combinações
diferentes para cada participante da pesquisa, percebe-se o “exame individualizador de cada
caso”, preconizado por Hahnemann, que confirma que a homeopatia aborda o indivíduo
doente e suas singularidades.
O Zincum metallicum é o único medicamento oferecido a 100% dos indivíduos
portadores de Hepatite C, visto ser o que mais se assemelha às lesões e sintomas hepáticos
apresentados por esses indivíduos.
Um outro elemento que merece ser mencionado nessas considerações finais diz
respeito ao encontro intersubjetivo que ocorre no transcorrer de cada consulta homeopática,
que modifica também a vida do profissional de saúde. Mas isso não fica relatado nos
prontuários. Não há espaço na ficha clínica para que o médico exponha seus sentimentos e
transformações pelas quais passa durante o encontro com a pessoa que o procura.
Consideramos que o presente estudo cumpriu os objetivos propostos.
Tendo sido enfatizado através desse estudo, em conformidade com estudos de outros
autores, a importância da Homeopatia como uma “tecnologia leve-dura” (que se refere tanto
aos aspectos relacionais quanto ao conhecimento técnico estruturado), conforme discutido por
Merhy41 (1998, 2003), esperamos contribuir para sua incorporação na estratégia Saúde da
Família (ESF), com incentivo à disponibilização de medicamentos distribuídos gratuitamente,
produzidos em Farmácias Homeopáticas próprias do Sistema Público de Saúde uma vez que a
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde propõe que a
Homeopatia seja incorporada nos vários níveis de atenção, com ênfase na Atenção Básica.
Estima-se que esse estudo sobre a abordagem da Hepatite C Crônica também poderá
contribuir para a discussão sobre a importância da suscetibilidade individual hereditária no
adoecimento crônico, questão trazida pela homeopatia, mesmo quando se considera pela
biomedicina - racionalidade médica hegemônica - que o adoecimento crônico seja causado
por um agente externo infeccioso.
41 Merhry (1998, 2003) identifica três tipos de tecnologia presentes no trabalho em saúde – leve, leve-dura e dura –, enfatizando a importância da tecnologia leve, ou relacional, para as práticas de cuidado.
134
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139
ANEXO
TERMO DE CONSENTIMENTO DO PACIENTE
TÍTULO DO PROJETO: “Homeopatia e a Integralidade do Cuidado de Indivíduos Portadores de Hepatite C Crônica”.
RESPONSÁVEL PELO PROJETO: Míriam Figueira Reis (Mestranda) e Maria Inês Nogueira (Orientadora)
Telefone para Contato: (021) 9648-3621.
INSTITUIÇÃO: INSTITUTO DE SAÚDE DA COMUNIDADE, PÓS - GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA, UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE.
NOME DO VOLUNTÁRIO: _________________________________________________________
IDADE:__________ANOS. RG: _______________________________________
RESPONSÁVEL LEGAL (quando for o caso)
________________________________________ RG:________________________
Eu, _________________________________________________________, abaixo assinado, responsável pelo meu parente próximo, __________________________________________, declaro ter pleno conhecimento do que se segue:
O(A) Sr. (ª) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa “ A Homeopatia e a Integralidade do Cuidado de Indivíduos Portadores de Hepatite C Crônica” de responsabilidade da pesquisadora Míriam Figueira Reis sob orientação de Maria Inês Nogueira por sua experiência com a abordagem homeopática durante a pesquisa “Avaliação do Tratamento Homeopático para Portadores de Hepatite C”.
A Homeopatia considera para o diagnóstico e tratamento do processo de doença, tanto as lesões orgânicas quanto os aspectos subjetivos como sentimentos e emoções, sensações, respostas diferenciadas às interações com o meio, o que pode ser traduzido como a integralidade no cuidado.
A importância do presente estudo é perceber através dos seus relatos no prontuário, qual a impressão que os atendimentos e o tratamento lhe deixaram, para colocarmos em discussão esse potencial da Homeopatia no cuidado do indivíduo com um todo.
Caso seja confirmado através desse estudo que a Homeopatia é uma Racionalidade Médica de abordagem integral à pessoa e sendo a integralidade um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) se reforçará a importância de torná-la acessível aos usuários que desejarem utilizá-la no SUS.
O que lhe está sendo solicitado com esse documento, garantindo-se seu anonimato com manutenção do sigilo da identidade, é a possibilidade de divulgação de trechos de seus relatos já anotados no prontuário durante as consultas que ocorreram ao longo da pesquisa anterior. Tal
140
divulgação seria feita em revistas científicas, aulas e congressos e apenas com o propósito científico. Para se garantir o anonimato e sigilo, serão utilizados no lugar dos nomes verdadeiros, nomes de flores e árvores tendo-se ainda o cuidado de não serem divulgadas informações que poderiam identificar a pessoa.
Esse consentimento poderá ser retirado a qualquer momento caso o Sr.(a) não queira permitir a continuidade da divulgação solicitada, sem que isto traga prejuízo ao seu tratamento homeopático.
A qualquer momento haverá a possibilidade de se obter informações atualizadas acerca do estudo, ainda que isto possa afetar sua vontade de continuar dele participando.
Serão fornecidos respostas ou esclarecimentos a qualquer dúvida acerca dos assuntos relacionados com a pesquisa. O telefone de contato para qualquer dúvida será o celular pertencente à Dra. Míriam Reis 9648-3621.
Eu, __________________________________________, RG nº _____________________ declaro ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de pesquisa acima descrito.
Ou
Eu, __________________________________________, RG nº _______________________, responsável legal por ____________________________________, RG nº _____________________ declaro ter sido informado e concordo com a sua participação, como voluntário, no projeto de pesquisa acima descrito.
Niterói, _____ de ____________ de _______
Nome e assinatura do paciente ou seu responsável legal
_________________________________
____________________________________
Nome e assinatura do responsável por obter o consentimento
______________________________________________________________
_________________________________
Testemunha
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142