1 Impactos dos Programas Jornal e Educação nos Negócios dos Jornais.
A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses
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A homogeneização e o agendamento nos três jornais diários de Goiânia
Quézia Alcantara1
Resumo:
Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa exploratória das manchetes de
capa de três jornais diários de Goiânia realizada durante os meses de agosto e setembro de 2008, que
pretendeu observar se existe uma homogeneização de pautas nas redações e porque isso acontece. A
pesquisa não fecha a questão, mas indica que em Goiânia, a chamada mídia das fontes realiza seu
trabalho com relativa eficiência, pois consegue inserir nos três periódicos pesquisados, as notícias de
seu interesse.
Palavras-Chave: jornalismo, newsmaking, agendamento, mídia das fontes, homogeneização
Abstract
This article aims to present the results of a research project of the headlines on the cover of three daily
newspapers in Goiânia during the months of August and September 2008, which sought to observe
whether there is a homogenization of guidelines in the newsroom and why it happens. The research does
not close the question, but indicates that in Goiânia, called sources‟media does its job with relative
efficiency because it can insert in the three newspapers surveyed, the news that interests you.
Key-words: journalism, newsmaking, agenda-setting, sources‟ media, homogenization
1 - INTRODUÇÃO:
É possível por meio da soma do número de matérias coincidentes nas capas de três jornais diários
identificar as características do jornalismo que é feito em Goiânia? Há homogeneização de conteúdos
entre estes periódicos? De onde surgem estas matérias? Quem pauta a imprensa? Qual a importância
dessas manchetes no contexto regional? Os temas globais ou nacionais merecem mais, igual ou menos
destaque que os temas locais? Os temas apresentados nos jornais de Goiânia mostram que a imprensa
ainda se pauta pelo que a grande imprensa do chamado „centro‟ em detrimento ao que acontece na
„periferia‟ do país?
O objetivo deste artigo não é responder tais questões, mas indicar o que acontece nas redações da
capital goiana. Utilizou-se para isso uma pesquisa comparativa das principais manchetes de três jornais
diários de Goiânia, realizada durante dois meses no ano de 2008, cujo alvo foi demonstrar se há
homogeneização de temas que pautam as redações nesta capital e com que frequencia ela ocorre.
1 Graduada em Comunicação Social pela UFG-Universidade Federal de Goiás, especialista em Gestão Pública e em Métodos e
Técnicas de Ensino Superior, atua em Assessoria de Comunicação desde 2004 e é assessora de imprensa da Câmara Municipal
de Goiânia.
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O embasamento será feito pela hipótese do agendamento descrito nas Teorias de Comunicação
por Maxwell McCombs e Donald Shaw, mas que nesta análise será olhada do ponto de vista de quem
pauta a grande imprensa, que nas opiniões de Francisco San‟tanna e Manoel Chaparro são as „mídias das
fontes‟ ou as „fontes das fontes‟ – assessorias institucionalizadas de empresas, governo e organizações.
Outra teoria que subsidiará este estudo é a do „newsmaking‟, ou segundo Wolf (1985, p.82), o
enfoque dado aos emissores e aos processos produtivos nas comunicações de massa, o qual tenta explicar
o fazer jornalístico e os critérios de noticiabilidade. Neste estudo surgiu a figura do gatekeeper, aplicada
ao jornalismo por White em 1950 para descrever a pessoa que toma a decisão do que é notícia e portanto
o que entra na edição do dia.
A importância desses questionamentos na atualidade passa pela democratização do acesso aos
conteúdos midiáticos, em uma sociedade cada vez mais planificada, tratada como massa única, sem
diversidades, sem direito à informação completa e ampla, mas retrita ao discurso que os meios de
comunicação de massa ditam e assim a fazem pensar e falar a médio e longo prazo.
O método empregado foi o descritivo exploratório e analisou a frequência com que ocorreu o
fenômeno, neste caso, a quantidade de temas coincidentes nas manchetes de capa em um mesmo dia nos
três jornais periódicos. O levantamento das manchetes foi realizado durante dois meses – agosto e
setembro do ano de 2008. Foram anotadas as principais manchetes desses jornais em uma tabela
comparativa. Depois, foi feito o cruzamento destes dados para determinar a veracidade das questões
elencadas na introdução deste, entre os principais, se há repetição de pautas ou homogeneização de
conteúdos. Em seguida, os dados foram transformados em valores e porcentagens.
A pesquisa realizada nesses periódicos não tem como objetivo a realização de análise
morfológica, cuja base é descrever a quantidade de páginas, quantas e quais são as editorias, os detalhes
técnicos e gráficos de um periódico. Trata-se, no entanto, de quantificar as notícias que coincidem, num
mesmo dia, em mais de um jornal, para assim, aferir a porcentagem com que ocorre a homogeneização e
a repetição de pautas.
1.1- O Jornal como objeto de estudo
Escolheu-se o jornal como objeto deste trabalho por vários motivos. O primeiro, e este fator não é
exclusivo da pesquisa em comunicação, refere-se ao fato de que um periódico contém o dia a dia da
cidade, mostra um dado momento histórico dos acontecimentos. Reflete o cotidiano da sociedade, a
descrição de narrativas da vida de um povo - a linguagem, a cultura, as inovações, o fazer de uma
sociedade em um espaço predeterminado e em um tempo predefinido.
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Destacado pelo professor José Marques de Melo(1972, p.33), o antropólogo Gilberto Freyre -
um dos pioneiros no uso de periódicos como fonte científica para a pesquisa acadêmica - disse que o
jornal é “riqueza humana que se esconde”, “valioso material”, “verdadeira mina de conhecimentos” para
análise em vários campos: antropologia, psicologia social, história, geografia, política e linguística.
Assim, é por meio do jornal que o sujeito se conhece e conhece a realidade que o cerca.
Consegue se situar num mundo cada vez mais globalizado e globalizante. Diz Daltoé (2004, p.3) que “o
jornalismo tem um espaço significativo na vida das pessoas. As notícias ocupam um papel relevante na
imagem que elas controem da realidade. Acreditamos que buscar entender como elas são construídas
contribui para o aperfeiçoamento democrático da sociedade”.
O segundo motivo é que o jornal é o produto do fazer jornalístico. Ele é o resultado concreto,
palpável do trabalho de uma categoria profissional de destaque no mundo contemporâneo - o jornalista.
Ele é a materialização de um processo intelectual e industrial que tem como objetivo dar voz aos fatos de
um dia em uma determinada comunidade. E por relatar atos e fatos de pessoas, exercidos por outras
pessoas, essa atividade não se atem apenas a questões técnicas, mas é altamente ideológica.
As questões subjetivas e ideológicas, no entanto, não farão parte deste artigo, uma vez que não é
objetivo do mesmo realizar uma análise de conteúdo. Isso não impede que se tenha conciência da
presença e da influência subjetiva do jornalista na construção diária do jornal. Como salienta Cavalcante
(2009)“fazendo isso, ele (o pesquisador) poderá, inclusive, melhor entender certas contradições que
frequentemente encontrar no tratamento dado pelo jornal a um mesmo acontecimento”.
A observação se ateve às capas dos jornais porque a primeira página é o resumo do dia, é um tipo
de índice do que merece ser destacado naquela edição, é o local que dá visibilidade às manchetes. Por si
só a primeira página reflete o trabalho do gatekeeper - figura que será mais bem analisada nos tópicos
seguintes - que em contato com as matérias de uma edição, seleciona, mediante critérios jornalísticos,
editoriais e ideológicos, aquilo que vai para a capa. Explica Cavalcanti que:
A primeira página...adquire um caráter cartográfico de mapeamento do conjunto de
conteúdos oferecidos pelo próprio jornal; nela, o leitor encontrará sempre as notícias de
maior efeito social, seja como reação provável ou esperada, no interior de uma cadeira de
acontecimentos em curso, seja no sentido de uma intenção deliberda do jornal em formar
opinião, em função de sua inserção no jogo político e ideológico vigente.
(CAVALCANTE, 2009, p.4).
A capa de um periódico é como a propaganda daquela edição. Manchetes são como anúncios do
produto completo que poderá ser consumido naquele número de jornal; são como as chamadas que eram
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gritadas pelas ruas por um antigo jornaleiro ou os destaques na abertura de um telejornal e nos
informativos on-line vêm geralmente na forma de „últimas notícias‟.
Feitas tais observações, parte-se para uma reflexão acerca das teorias e hipóteses da comunicação
que embasam esta pesquisa. Depois, será mostrado o resultado da pesquisa das manchetes de capa de três
jornais de Goiânia e a seguir, os caminhos indicativos dos motivos que levam à homogeneização e os
critérios de noticiabilidade do gatekeeper ao selecionar o que vai sair numa edição, para enfim, chegar-se
à conclusão.
2- O AGENDAMENTO DAS FONTES QUE PAUTAM A MÍDIA E O PAPEL DO GATEKEEPER
Dentre os estudos das modernas teorias ou hipóteses de comunicação de massa encontram-se dois
que darão suporte a este artigo: agenda-setting e o newsmaking com desdobramento para o gatekeeper.
Estudos recentes dos professores Chaparro e Sant‟anna indicam a existência de um novo tipo de
agendamento no hieraquizado processo de comunicação, que são as mídias de assessorias de
comunicação a serviço das fontes. Estas mídias pautam, ou ainda, agendam temas que a grande imprensa
vai divulgar e poderão, por conseguinte, fazer parte da agenda pública do cidadão.
2.1 - A agenda-setting
A hipótese do agendamento foi formulada em 1972 pelos professores Maxwell McCombs e
Donald Shaw e explicitada no artigo “The agenda-setting function of mass-media”, relatando a pesquisa
realizada por eles durante as eleições presidenciais americanas em 1968 e baseada nos estudos de Walter
Lippman no livro Public Opinion. Oliveira (1997, p.1-2) ainda destaca os estudos dos sociólogos Kurt e
Glayds Lang que “apontavam para o fato da mídia fornecer uma grande quantidade de informação que os
receptores absorvem” e também que a “mídia pode construir, na sua essência, imagens públicas de
figuras públicas... sugerindo aos indivíduos o que pensar e saber”.
Shaw(1979, p.96) conceitua a teoria da agenda-setting dizendo que “em consequencia da ação
dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou
descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos”. Ele fala ainda que as
pessoas tanto incluem como excluem assuntos que a mídia inclui ou exclui e dão importância aos fatos
segundo a ênfase que os meios de comunicação dão a esses fatos.
Além dos temas que a mídia impõe sobre o cidadão, existe um tipo de agendamento que
funciona pela omissão de temas, um tipo de autocensura dos veículos de comunicação, seja por critérios
ideológicos ou meramente técnicos de limitação de espaço nos impressos ou de tempo nos audiovisuais.
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A omissão provoca no receptor a percepção de que aquilo que a mídia não divulga não aconteceu ou é
importante.
Conforme Wolf (1985, p.65), “a omissão, a não-cobertura de certos temas, a cobertura
intencionalmente modesta ou marginalizada que alguns assuntos recebem” é um tipo de agenda-setting
por omissão porque o público não tem acesso a fontes alternativas, por ser algo oneroso e complicado.
Mesmo com o crescimento do acesso à Internet, a web contém muita informação disponível, porém ainda
dispersa pela rede e quando é organizada encontra-se em sites jornalísticos que seguem as mesmas pautas
dos demais veículos.
2.2 - O Newsmaking e a função do gatekeeper
Se de um lado está a hipótese do agendamento centrada no receptor e nos efeitos que os meios
causam, na outra ponta do processo comunicativo aristotélico (a pessoa que fala=emissor/
assunto=mensagem/a pessoa a quem se fala=receptor), surge a teoria do newsmaking que se atém a
estudar o fazedor da notícia, o emissor. Ela tenta esclarecer por que as notícias são como são e por que
alguns fatos viram notícia e outros não?
Hohlfeldt(2001, p.219) defende que “...a hipótese de estudo é importante porque ajuda a
entendermos o modo pelo qual a informação flui, neste caso, de uma fonte primeira para o intermediário
ou mediador, que é o jornalista – profissional da informação – e deste até o receptor final”.
Desdobrando os estudos do newsmaking, David Manning White aplicou a figura do gatekeeper
ao jornalismo. O termo foi usado pelo psicólogo social Kurt Lewin em 1947 e descrevia a pessoa da
família que tomava a decisão sobre as compras no lar. White, conforme Daltoé (2004, p.13), falou que no
“processo de produção da informação como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias é filtrado,
tem que passar por diversas portas(gates), que são áreas de decisão nas quais o jornalista(gatekeeper)
seleciona se uma notícia vai entrar ou não”. Paillet(1986, p.30) enumerou alguns gatekeepers - árbitros,
diretores, redatores-chefes, animadores em posição elevada, editorialistas bem-cotados. “Eles decidem
deixar ou não passar esse ou aquele elemento escolhido no fluxo dos acontecimentos, e frequentemente
são eles mesmos que determinam a escolha”, disse.
Dines(1986, p.120) avalia o difícil trabalho exercido pelos tomadores de decisão nas redações,
que vão além dos já citados por Paillet: “...está permanentemente tomando decisões em ritmo veloz. Se
fotógrafo, é o ângulo da fotografia que importa...se repórter, é o enfoque da notícia, a pergunta ao
entrevistado e a escolha do próprio entrevistado”. Se é editor, tem em sua mesa uma gama de
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acontecimentos que previsa avaliar e decidir o que fará parte daquela edição e em qual dará destaque.
Então, a função do gatekeeper também é omitir alguns temas e privilegiar outros.
Não é portanto, uma tarefa aleatória e descompromissada. Antes, conforme Sousa (2006, p.15),
“qualquer notícia é fruto de condicionamentos pessoais, sociais, ideológicas, culturais e históricos, do
meio físico em que é produzida e dos dispositivos tecnológicos que afetam a sua produção”.
A este estudo cabe ressaltar que o gatekeeper está inserido no processo de construção da agenda
pública divulgada pela mídia. É ele quem escolhe o que vai sair numa edição jornalística, seja no meio
impresso, on-line ou audiovisual, quem filtra os conteúdos que o receptor vai ler, ver e ouvir, ou melhor,
quem seleciona os temas que o leitor, telespectador, internauta ou ouvinte a longo prazo vai pensar,
discutir e dar importância. Ele é o destinatário de dezenas de releases que chegam às redações, produtos
do trabalho dos jornalistas em assessorias de organizações.
Paillet ao discorrer sobre a função do gatekeeper conta que seu trabalho vai além da escolha das
pautas ou dos temas que vão compor a edição. Nessa tarefa de escolhas, existem outros critérios:
A formalização da informação dá igualmente ocasião a manipulações mais ou menos sutis.
A escolha dos elementos a serem colocados no alto, a ordenação dos diferentes parágrafos,
os detalhes retidos, as citações feitas, as insinuações, as aproximações maliciosas, tudo
pode contribuir para dar uma determinada impressão, para colocar numa certa pista, para
sugerir uma conclusão...A paginação, a titulagem, a utilização da iconografia são
colocados igualmente de modo a produzirem certos efeitos. (PAILLET, 1986, p.30).
É o gatekeeper, com seus filtros ideológicos, com os constrangimentos organizacionais ou
baseados nos valores-notícia, que vai determinar, dia-a-dia, os assuntos sobre os quais o público vai
conversar. E mais: é esta figura – que no jornal é exercida tanto pelo pauteiro como pelo editor e o
repórter e nos audiovisuais, pelo produtor – que vai contribuir para a construção de “significados e
interpretações da realidade” e que para DeFleur(1993, p.280) “é função da imprensa”.
2.3 – Da mídia das fontes para a grande mídia
Mas quem pauta os pauteiros ou os gatekeepers dos veículos de comunicação? Sant‟anna (2009,
p.3) responde que este trabalho recai sobre as “mídias das fontes” e os canais de que dispõem para
produzir pautas. Além de releases, elas têm investido em produtos do jornalismo 2.0 (blogs, twitters,
redes sociais, newsletters e sites institucionais).
Nas palavras de Chaparro (2009) são as “fontes das fontes” que cada vez mais impõem sua
presença como importantes agentes, se não na construção direta da notícia, pelo menos, na indicação ou
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agendamento das mesmas. Elas são jornalistas que conhecem os dois lados do processo: vivem ou já
viveram o ambiente da redação, têm muitos contados e conseguem mídia espontânea para seus
assessorados. O autor conceitua essas fontes como “sujeitos sociais organizados, produtores de
acontecimentos e/ou detentores de conhecimentos com irrecusáveis atributos de noticiabilidade. São
sujeitos sociais dotados de saber estratégico para agir e interagir nos espaços vivos da atualidade”.
Hohlfeldt (1993, p.216), faz distinções entre os vários tipos de „fontes‟, distinguindo-as em fontes
institucionais e oficiosas, com relação ao tipo de relacionamento com as instituições de administração
pública ou empresarial. Ele diz que “a fonte ou agência institucional é aquela que fala formal e
legalmente em nome de alguém ou alguma instituição”, enquanto a oficiosa “não gostaria de ser
identificada e que, embora integrante da estrutura administrativa, dela pode vir a discordar, fazendo vazar
uma informação que pode chegar e gerar constrangimento junto à autoridade”.
Esses autores estão discorrendo, em suma, sobre as assessorias de comunicação ou de imprensa
de corporações, empresas, organizações não governamentais ou governos. São as fontes institucionais ou
oficiais às quais o jornalista estava acostumado a recorrer e que agora, tomam a iniciativa de produzir
material jornalístico para ser distribuído para a grande imprensa e que por diversas vezes, serve de
sugestão de pauta, ou até mesmo de subsídio para matérias. Diz Sant‟anna”( 2009, p.4) que “a Mídia
Corporativa, ou mais especificamente a Mídia das Fontes, busca interferir no processo de construção da
notícia (newsmaking) e na formação do imaginário coletivo, principalmente naquele do setor formador
de opinião”.
A explicação de Lima (1985, p.45) é que: “o processo de busca da informação começou a
inverter-se, ou seja, ao invés do repórter ir diretamente à fonte, as fontes, representadas pelos inúmeros
press-releases de assessorias, passaram a inundar as redações dos órgãos de comunicação”. Chamando a
prática no Brasil de „releasemania‟, ele destaca também que “o aproveitamento do press-release como
notícia pronta, acabada, é cada vez mais frequente”, deixando de lado o trabalho de checar a fonte,
investigar o fato.
Nesse aproveitamento de matérias prontas, as fontes das mídias, de acordo com Marques de Melo
e citado por Lima(1985, p.14) tem como aliadas as empresas jornalísticas, pois “antecipando-se à
iniciativa dos repórteres e, sem dúvida, desestimulando-a, os assessores de imprensa oferecem o prato
feito da notícia”. Com isso as empresas “podem até mesmo suprimir a reportagem. E não são raras as que
sobrevivem e se alimentam exclusivamente dessa fonte”, completa o autor.
2.4 - Razões para a existência da homogeneização de pautas
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A existência da homogeneização dos jornais é tema que há muito levanta discussões dentro da
teoria do newsmaking. Porém, os motivos que levam à tematização não podem ser categoricamente
indicados, mas sugeridos. Além do aproveitamento de releases das assessorias feito pelas redações, ela
pode ser inerentes ao fazer jornalístico e à estrutura de uma empresa de comunicação, alertam estudiosos.
Lage(2003, p.15) afirma que a decisão dos editores sobre o que vai ou não ser publicado se
orienta “ora por leis de mercado, ora por conveniências que traduzem o jogo dos grupos de pressão ou
entidades abstratas”.
Outra razão da existência de pautas coincidentes em várias mídias em um mesmo dia pode ser a
prática conhecida como troca de figurinhas. Cardoso e Coelho(2009, p.75) discorrem que “ao mesmo
tempo que disputam entre si o „furo‟, os jornalistas dividem informações, retribuem favores aos colegas
de profissão, enfim, por vezes, há uma ajuda mútua que influencia as pautas diárias”.
E por fim, outro motivo pode estar relacionado à uma função antiga que com o surgimento da
Internet está tomando outra dimensão - a de radioescuta. Cardoso e Coelho(2009, p.75) contam que “este
profissional, geralmente em início de carreira, acompanhava emissoras de rádio, assistia aos telejornais e
consultava as agências de notícia” – hoje fica conectado em portais jornalísticos na Internet.
Pratica uma espécie de „vigilância‟ entre os jornalistas. Há uma grande preocupação em
não se perder uma notícia importante, mas também em não ter um noticiário tão diferente
dos outros veículos de comunicação. Importa muito o que os líderes de audiência estão
dizendo ao seu público.(CARDOSO E COELHO, 2009, p.75)
Após estas opiniões quanto às razões que levam os jornais a uma tematização em seu
conteúdo informativo e com a ressalva que nem sempre as ações que geram a homogeneização são
premeditadas ou intencionais, passa-se ao detalhamento da pesquisa realizada em Goiânia e que
serve de palco para este artigo.
3- FREQUÊNCIA EM QUE HÁ HOMOGENEIZAÇÃO NOS JORNAIS DE GOIÂNIA
3.1-Periódicos pesquisados
Os jornais, objeto desta pesquisa, são: O Popular, Diário da Manhã e o Hoje. Com exceção do
Hoje, que na primeira semana da análise não circulava ainda às segundas-feiras, todos circulam de
segunda a domingo.
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O jornal O Popular, o mais antigo da capital, iniciou suas atividades em 1938, tornando-se
diário em 1944. Ele é também o jornal de maior circulação com uma tiragem de 30 mil unidades
diariamente. Autodenomina-se “como carro-chefe dos veículos dos veículos da Organização Jaime
Câmara (OJC) - como é conhecida a holding que reúne as empresas do grupo”.
O Diário da Manhã foi fundado em 1980 pelo casal Batista Custódio e Consuelo Nasser. Ele é
oriundo do semanário Cinco de Maio, o primeiro jornal de esquerda fundado em Goiás. Fechado em 3 de
outubro de 1984, foi reaberto dois anos depois, em 10 de outubro de 1986. Atualmente imprime 16 mil
exemplares aos sábados e domingos e 8 mil durante os demias dias da semana.
Já o jornal Hoje, o mais novo periódico de Goiânia, foi fundado em 2005 e naquela época
continha apenas 8 páginas. Em 2008 passou para 12 páginas após ganhar um caderno de Economia e
Política. Em 2010 passou a ser considerado de grande circulação. Conta atualmente com tiragem de
23.500 exemplares.
Os três periódicos possuem editorias políticas, econômicas, de cidades, suplemento cultural,
nacionais e internacionais. Possuem redações próprias, com sedes nesta capital e contam com jornalistas
e colaboradores em seu corpo de trabalho.
3.2- O resultado da pesquisa
Assim, tentando identificar se o fenômeno da homogeneização das pautas ocorre entre os
periódicos de Goiânia, dispensou-se um olhar mais atento aos percentuais e valores encontrados com a
pesquisa exploratória dos jornais O Popular, Diário da Manhã e Hoje Notícias nos meses de agosto e
setembro de 2008, motivação deste artigo.
Foram 59 dias de análise – de 19/08/2008 a 19/10/2008. Somente em oito dias não houve
redundância entre os periódicos aferidos, ou seja, nenhuma manchete de capa foi coincidente nos três
jornais. Todas as chamadas desses oito dias foram diferentes. Isso representa 13,55% dos dias analisados.
Desses oito dias, cinco caíram no domingo ou na segunda-feira (07 e 08/09/08; 15, 21 e 29/09/08).
Nesses dias é de praxe que as redações recorram a matérias especiais e de gaveta, devido a redação
trabalhar em regime de escala, com 50% de seu efetivo. Então, sobram apenas três dias(27/08/08;
04/09/08; 10/09/08) nos quais as capas dos jornais pesquisados não tiveram nenhuma manchete
coincidente.
Nos demais 86,45%, ou 51 dias da pesquisa, ocorreu a homogeneização de pautas. E mais:
49,15% foi o índice alcançado para os 29 dias em que os três veículos em discussão, ao mesmo tempo,
tiveram pelo menos uma manchete com o mesmo tema, de acordo com o quadro:
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Quadro 1 - Frequência da mesma manchete nos 3 jornais em 59
dias
8 dias; 13,55%
29 dias; 49,15%
22 dias; 37,30%
- 8 dias não houve nenhuma coincidência
- 29 dias pelo menos uma manchete foi igual nos 3 jornais
- 22 dias pelo menos uma manchete foi redundante em 2 jornais
Fonte: Pesquisa Comparativa de 3 jornais goianienses-2008
Após o cruzamento das mesmas manchetes de capa com apenas dois dos jornais verificou-se
percentuais mais elevados, sendo que o Diário da Manhã e o jornal O Popular são os mais redundantes
entre si. Em 39 dias (66%) o Diário da Manhã e o Hoje ou O Popular e o Hoje tiveram manchetes
coincidentes. Em 49 dias (83%) o jornal O Popular e o Diário da Manhã tiveram as mesmas pautas
estampadas em suas capas. Ou seja, nesses dias, se o leitor goianiense leu um quanto o outro recebeu as
mesmas informações, conforme quadro a seguir:
Quadro 2 - Frequencia em que pelo menos dois informativos
foram redundantes em suas manchetes
O POP e DM - 49
dias; 83%
DM e HOJE - 39
dias; 66%
O POP e HOJE -
39 dias; 66%
Fonte: Pesquisa Comparativa de 3 jornais goianienses-2008
Nos dias 3, 5 e 18 de setembro e 6 e 18 de outubro(Quadro 3), os três informativos tiveram 2
manchetes iguais e apesar deste não ter como objetivo a análise de conteúdo, verifica-se no quadro
abaixo que os temas globais, passados pelas agências de notícias, bem como um sequestro de uma moça
em São Paulo dominam os noticiários de Goiânia, em detrimento de outras notícias locais.
QUADRO 3 – DUAS MANCHETES COINCIDENTES NOS TRÊS JORNAIS
DIAS EM QUE 2
MANCHETES
COINCIDIRAM NOS 3
INFORMATIVOS
O POPULAR DIÁRIO DA MANHÃ HOJE NOTÍCIAS
03/09/08
Arapongagem CPI dos grampos
-Petróleo:pré-sal para pagar dívidas
-CPI dos Grampos
-O sal da Vida(petróleo)
-Petróleo:pré-sal
-Congresso quer fiscalizar ABIN e
PF
05/09/08
Produção industrial goiana é a que mais cresce no país / Juiz de Aparecida decide
contra lei seca / Saneago investiga mau
cheiro em água
Lei seca é inconstitucional, diz juiz de Aparecida / Produção na
indústria, Goiás é líder em julho
Indústria goiana lidera crescimento no país / Juiz declara lei seca
inconstitucional
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18/09/08 Crise se agrava mesmo com socorro de
85 bi nos EUA / Rapaz é morte após
seqüestro de jornalista/ Chuva interrompe seca de 4 meses
Lei seca de ressaca/ Enfim, chuvas/
Goiás é o nono em qualidade de
vida/ Alcides: vou asfaltar todo o estado / Jornalista é seqüestrada e
estuprada
Dólar sobe e bolsa cai / Chuva-pena
que durou pouco / Sequestrador
morre em tiroteio / Governador Alcides mostra pavimentação da
GO-156
06/10/08 Iris e Maguito eleitos no 1º turno /
Anápolis:Gomide e Onaide vão disputar
2º turno.
Iris reeleito / Maguito chega a 81%
dos votos/ Lista dos prefeitos
eleitos, votação nos municípios
Com 74% dos votos, Iris é reeleito
no 1º turno/ Câmara Renovada/
Anápolis-o petista Antônio Gomide
venceu 1º turno e vai para o 2º com Onaide Santillo/O ex-governador
Maguito Vilela pôs fim a mais de 20
anos de domínio político em
Aparecida
18/10/08 Drama em Santo André-sequestro acaba
em tragédia/ Gol acumula 98 mil reais em multas, carro tem 211 infrações
Sequestro em SP tem desfecho
dramático/Motorista tem 210 multas por excesso de velocidade
Carro tem 97 mil reais em multas/
Sequestro em SP acaba em tragédia
Fonte: Pesquisa Comparativa de 3 jornais goianienses -2008
Para reafirmar a tematização e homogeneização das pautas na imprensa de Goiânia, nos dias 11 e
12 de setembro de 2008 e 7 de outubro do mesmo ano, conforme o Quadro 4, os três periódicos
apresentaram as primeiras páginas praticamente iguais – tiveram três manchetes com a mesma pauta. Os
temas políticos como eleições, o escândalo envolvendo os vereadores da capital mereceram lugar
privilegiado nas manhetes de capa, além de um crime cometido por policias militares, fato que também
ocupou o noticiário no mês anterior. E mais: o aniversário de sete anos do atentado às torres gêmeas em
Nova York-EUA mereceu lugar nas capas dos três periódicos no dia 12/09.
QUADRO 4 - TRÊS MANCHETES COINCIDENTES NOS TRÊS JORNAIS
DIAS EM QUE 3
MANCHETES FORAM
REDUNDANTES NOS 3
JORNAIS
O POPULAR DIÁRIO DA MANHÃ HOJE NOTÍCIAS
11/09/08 Taxa Selic sobe / Camara cria 13º,14º e 15º
salários / Advogado baleado tem morte
cerebral
Imoral: vereadores aprovam 15º
salário para eles / Juro sobe 0,75 -
Copom eleva taxa Selic / Quadro é
irreversível –estudante baleado para
policiais
Câmara derruba veto e mantém 15º
salário / Copom aumenta juros em
0,75 pontos / Rapaz baleado por PM
tem morte cerebral
12/09/08 Desgaste leva vereadores a ensaiar recuo / Confirmada a morte do bacharel em direito /
7º aniversario do 11 de setembro
Morre inocente baleado por PM/ 11 de setembro reúne adversários nos
EUA/ Goiás em obra na GO-
060/Pressionados vereadores
desistem do 15º salário
Vereadores recuam e 15º pode cair/ Morre rapaz baleado por PM/
Memória – atentado 11 de setembro
07/10/08 Crise-pânico domina mercados, Bovespa pára
duas vezes/ Eleições-alternam forças políticas em Goiás, com o PMDB fortalecido e PSDB
sofre perda./Renovação da Câmara inclui
veteranos e herdeiros políticos/ (Foto de Iris
cortando cabelo)
Efeito Bush-mundo treme com medo
da recessão global/ As prioridades de Iris-criação de 12 subprefeituras/ BC
injeta dinheiro no mercado/ (Foto de
Iris em salão da Tamandaré cortando
cabelo)
Iris retoma projeto de 12
subprefeituras. / Iris corta cabelo com Ruimar Ferreira (com foto)/O
governador diz que resultado foi
satisfatório no Estado /Pânico leva
Bovespa a parar por 2 vezes.
Fonte: Pesquisa Comparativa de 3 jornais goianienses -2008
3.3-Analisando o porquê da existência da homogeneização
Destes resultados verifica-se que há homogeneização de temas nos veículos de imprensa da
capital goiana durante o período avaliado. Não se pode afirmar categoricamente, antes de pesquisas junto
aos editores e diretores dos impressos, as razões que levam a essa tematização.
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Pode-se observar, no entanto, que pelas primeiras páginas dos três periódicos analisados,
matérias relativas aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário municipal e estadual e as enviadas por
agências internacionais e nacionais são as que aparecem nas capas nos três veículos nos mesmos dias.
Assim, a presença do repórter in loco, muitas vezes pode ser substituída pela do rádio-escuta, que hoje
tem a seu favor a rede mundial de computadores facilitando a pesquisa e o acompanhamento dos fatos
em tempo real.
Com isso, vê-se que os produtos produzidos pelas assessorias em Goiânia estão estampados nas
capas dos jornais. Exemplo são as matérias relacionadas ao governador do estado e ao prefeito da capital.
Todos os periódicos avaliados publicaram em uma determinada edição a mesma notícia relacionada a
uma dessas autoridades. Como exemplo cita-se o dia 7/10/2008 (Quadro 4) em que os três informativos
pesquisados divulgaram a mesma foto do prefeito eleito Íris Rezende, cortando o cabelo. Como o
pauteiro ou editor desses jornais chegaram a esta pauta? Certamente pelas informações publicadas ou
distribuídas pelas assessorias desses governos em seus sítios na Internet, pois hoje a prática de envio de
release está cada vez mais sendo substituída pelos links com notícias recentes ou agendas das autoridades
inseridas nas homepages oficiais.
Hoje, o que se vê é a concretização da Lei de Lavoisier “na natureza nada se cria, nada se perde,
tudo se transforma”. Pode-se parafrasear a lei dizendo que no jornalismo atual, institucionalizado e
globalizado, quase nada se cria, muito de copia. É o famoso recurso do editor de texto da Microsoft – o
Word: control C e control V – copiar e colar.
Portanto, não se observa muita criatividade no trabalho dos pauteiros dessas redações. Muitas
notícias sequer são redigidas por funcionários desses veículos, e o que se pode ver são que elas são
copiadas de agências de notícias2 ou clonadas das assessorias. É o caso da manchete sobre um veículo
que acumulou R$ 97 mil de multas, que saiu nos três jornais no dia 18/10/08 e que revela ter sido
pautada pela assessoria do Detran de Goiás(Anexo 1, 2 e 3).
Sabe-se que esses periódicos também refletem as pautas da grande imprensa do país.
Reproduzem o que acontece nos grandes centros político (Brasília) e econômicos (São Paulo, Rio de
2 O jornal O Popular recebe notícias da AE(Agência Estado), FP (folhapress), AP(Associated Press), Reuteurs, Agência Globo e
Portal IG. O Diário da Manhã tem convênio com a AE e a Folhapress e O Hoje, AE e Agência Brasil. Eles também se pautam pelos portais
regionais:www.noticias.go.gov.br (Do Governo do Estado de Goiás); www.goiania.go.gov.br (da Prefeitura de Goiânia);
www.camara.go.gov.br (da Câmara Municipal de Goiânia); www.assembleia.go.gov.br (da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás);
www.tjgo.jus.br(do Tribunal de Justiça de Goiás; www.mp.go.gov.br(do Ministério Público de Goiás) e outros.
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Janeiro e Minas Gerais). Constata-se na mídia goianiense a influência do centro sobre a periferia com
a quantidadede de matérias sobre o que acontece especialmente nos já citados estados de relevância
econômica e política do país, conforme os anexos.
Pelas capas dos jornais locais de Goiânia, vê-se que os gatekeepers reservam grande parte de seu
espaço dentro das editorias nacional, política, econômica e até mesmo nos suplementos culturais para as
pautas de eventos e acontecimentos daquelas localidades, em detrimento dos acontecimentos regionais
ou locais. O que vem de fora, do centro, sempre tem mais importância para a periferia. Raramente um
tema local ocupa espaço na capa. Quando o faz são matérias de repercussão nacional como escândalos ou
tragédias.
A imprensa local reflete a relação centro-periferia porque Goiás é considerado um estado
periférico. Conforme o economista da Secretaria do Planejamento de Goiás, Jeferson Vieira (2007, p.1),
“é o fato de Goiás ser um Estado periférico na lógica da acumulação global do capital” um dos motivos
que mantiveram o estado até o ano 2000 à margem das transformações econômicas que ocorriam em
nível mundial.
Da mesma forma, as empresas de comunicação de Goiás mantêm-se ora como repetidora dos
acontecimentos do centro, ora subserviente ao se pautar quase que exclusivamente pelos releases das
assessorias governamentais ou de órgãos públicos, as fontes das fontes goianas. Ainda deixam
transparecer pelas notícias divulgadas, a influência que a internet, especialmente que os sites
corporativos, têm sobre seus gatekeepers.
Outros critérios que influenciam essa tomada de decisão do gatekeeper e por consequinte, o fazer
jornalístico são: o dead-line da redação, a atualidade, as facilidades para se obter a informação e até
mesmo a falta de funcionários, onde várias redações passaram por um enxugamento de seu pessoal, caso
conhecido no jornal Diário da Manhã. Em O Popular há, de tempos em tempos, demissão de parte da
redação, quando os jornalistas com mais tempo de casa são substituídos por iniciantes, ou „focas‟,
segundo relato desses profissionais.
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, sejam pelos critérios de noticiabilidade já definidos por Galtung e Ruge, Wolf,
Hohlfeldt, Traquina e Sousa, sejam pelo comodismo e facilidade em conseguir a matéria, pela baixa
autoestima dos jornalistas que interiorizam as questões de viverem na „periferia‟, pela imprensa
embrionária (apesar de ter iniciado suas atividades em Goiás em 1836) ou ainda pela falta de estrutura
das empresas de comunicação goiana que dependem de verbas governamentais e anunciantes detentores
de oligopólios no estado e que acabam por cometer ingerência sobre o funcionamento dos jornais, pode-
se dizer que existe homogeneização de temas nos três periódicos sob análise.
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Não se pode com esta pesquisa preliminar indicar os motivos dessa homogeneização: se advém
do fato das assessorias - as mídias das fontes - serem tão eficientes e terem também a seu favor o
esvaziamento das redações e a facilidade para se ter acesso à notícia, da reprodução do que as agências
noticiosas nacionais e internacionais enviam ou da globalização e conseqüente padronização que a
Internet proporciona.
A homogeneização de pautas entre os veículos assemelha-se ao monópolio que grandes empresas
têm sobre determinado setor da economia. Uma quantidade de agências informativas „vende‟ a notícia
para diversas empresas de comunicação, o que pode visto nos seus produtos – jornais, telejornais, sites
noticiosos. O uso da rede mundial de computadores, tecnologia que poderia ser aliada da democratização
da informação, ao contrário, é utilizada para um nivelamento das pautas, para a tematização dos
conteúdos veiculados pelas mídias tradicionais. O que se vê na internet pauta o jornal do dia seguinte.
De 59 dias de pesquisa das manchetes em três redações desta capital, somente em oito dias não
houve coincidência de pautas. Apenas nesses dias as redações diversificaram seu conteúdo, o que não
indica necessariamente que modificaram a maneira como vinham realizando a captação e a filtragem dos
temas que ocupariam as primeiras páginas, pois desses oitos, cinco caíram no domingo ou segunda-feira,
é de praxe o uso de matérias especiais e de gaveta nas edições de fim de semana.
Devido à extensão do tema, o resultado desta pesquisa indica a existência do trabalho que os
gatekeepers e as „mídias das fontes‟ no jornalismo goianiense. Porém, não se aprofunda, necessitando
ratificar tais conclusões com novas pesquisas ouvindo editores, pauteiros, produtores e outros
responsáveis por filtrar as informações recebidas para somente assim, determinar de onde surgem os
temas, além de determinar a quantidade de matérias oriundas da rua pelos repórteres, a quantidade de
pautas surgidas a partir dos releases recebidos e a quantidade de matérias enviadas por agências
noticiosas.
Nas redações de Goiânia, a homogeneização existe- o que é verificado pelas capas dos três
principais jornais, podendo ser fruto do aproveitamento de produtos das mídias das fontes goianienses.
Resta uma nova pesquisa para indicar as razões que levam os gatekeepers dos jornais O Popular, Diário
da Manhã e O Hoje, da capital de Goiás, a repetirem os mesmos temas todos os dias nas páginas de seus
impressos.
* * *
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WOLF, Mauro. “Teorias da Comunicação”. 8ª Edição. Lisboa, Portugal: Editorial Presença, 1985.
17
ANEXOS:
ANEXO 1
18
ANEXO 2
19
ANEXO 3