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9 Revista Brasileira de Nutrição Funcional - ano 15, nº 64, 2015 Dra. Erika Santinoni e Dr. Guilherme Rosa Suplementação de carboidratos em esportes de alta intensidade Carbohydrate supplementation for high-intensity sports Resumo Durante o exercício, utilizam-se duas vias metabólicas para a produção de energia: uma dependente de O 2 (aeróbia), usada em exercícios de longa duração e intensidade baixa a moderada; e outra independente de O 2 (anaeróbia), usada em exercícios de alta intensidade e curta duração. O carboidrato (CHO) disponível no músculo, sob a forma de glicogênio muscular, é a principal fonte energética para esses exercícios. A utilização do glicogênio muscular pode resultar em lactato e contribuir para a fadiga muscular durante exercícios de elevada intensidade. Esse tipo de exercício promove o consumo de grande quantidade de CHO, pois há um aumento na disponibilidade e na taxa de oxidação de glicose. Entretanto, a quantidade total utilizada está limitada à duração do exercício. Durante uma sessão de exercício de força ou um “tiro” de 30 segundos, o consumo de glicogênio muscular é da ordem de 25 a 30% das reservas do músculo exercitado, e exercícios repetidos causam grande diminuição nos estoques de glicogênio. Sendo assim, ocorre uma depleção acentuada dos estoques de glicogênio muscular, podendo ocorrer queda no desempenho esportivo, hipoglicemia e até desidratação. Vários estudos têm pesquisado a influência da suplementação de CHO imediatamente pré, durante e pós-exercício de alta intensidade, assim como sua associação com proteína e ou cafeína. O bochecho com soluções contendo CHO também parece ter um efeito benéfico, minimizando transtornos gastrointestinais. Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as recomendações e os efeitos da suplementação de CHO em exercícios de alta intensidade. Palavras-chave: exercício de alta intensidade, suplementação de carboidratos, carboidratos, glicogênio, rendimento. Abstract During the exercise there are two metabolic pathways for energy production: one which is O2 dependent (aerobic), used in long duration and low to moderate intensity exercise, and another which is O2 independent O2 (anaerobic), used in high-intensity and short duration exercise. Carbohydrate available in the muscle, in the form of muscle glycogen, is the main energy source for these exercises. The use of glycogen can result in lactate and contribute to muscle fatigue during high-intensity exercise. This type of exercise promotes the consumption of large amounts of CHO, because there is an increase in glucose availability and oxidation rate. However, the total amount used is limited to the duration of the exercise. During a strength workout or “shot” of 30 seconds, the consumption of muscle glycogen is around 25-30% of the exercised muscle reserves, and repeated exercises cause great decrease in glycogen stores. Thus, there is a marked depletion of muscle glycogen stores, which may arouse a decrease in sports performance, hypoglycemia and even dehydration. Several studies have investigated the influence of CHO supplemen- tation immediately before, during and after high-intensity exercise, as well as its association with protein and or caffeine. The mouth rinse with CHO solutions also seems to have a beneficial effect, minimizing gastrointestinal disorders. This article aimed to perform a literature review on the recommendations and the effects of supplementation of CHO in high-intensity exercise. Keywords: high-intensity exercise, supplementation of carbohydrates, carbohydrates, glycogen, performance.

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Suplementação de carboidratos em esportes de alta intensidade

Carbohydrate supplementation for high-intensity sports

ResumoDurante o exercício, utilizam-se duas vias metabólicas para a produção de energia: uma dependente de O2 (aeróbia), usada em exercícios de longa duração e intensidade baixa a moderada; e outra independente de O2 (anaeróbia), usada em exercícios de alta intensidade e curta duração. O carboidrato (CHO) disponível no músculo, sob a forma de glicogênio muscular, é a principal fonte energética para esses exercícios. A utilização do glicogênio muscular pode resultar em lactato e contribuir para a fadiga muscular durante exercícios de elevada intensidade. Esse tipo de exercício promove o consumo de grande quantidade de CHO, pois há um aumento na disponibilidade e na taxa de oxidação de glicose. Entretanto, a quantidade total utilizada está limitada à duração do exercício. Durante uma sessão de exercício de força ou um “tiro” de 30 segundos, o consumo de glicogênio muscular é da ordem de 25 a 30% das reservas do músculo exercitado, e exercícios repetidos causam grande diminuição nos estoques de glicogênio. Sendo assim, ocorre uma depleção acentuada dos estoques de glicogênio muscular, podendo ocorrer queda no desempenho esportivo, hipoglicemia e até desidratação. Vários estudos têm pesquisado a influência da suplementação de CHO imediatamente pré, durante e pós-exercício de alta intensidade, assim como sua associação com proteína e ou cafeína. O bochecho com soluções contendo CHO também parece ter um efeito benéfico, minimizando transtornos gastrointestinais. Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as recomendações e os efeitos da suplementação de CHO em exercícios de alta intensidade.

Palavras-chave: exercício de alta intensidade, suplementação de carboidratos, carboidratos, glicogênio, rendimento.

AbstractDuring the exercise there are two metabolic pathways for energy production: one which is O2 dependent (aerobic), used in long duration and low to moderate intensity exercise, and another which is O2 independent O2 (anaerobic), used in high-intensity and short duration exercise. Carbohydrate available in the muscle, in the form of muscle glycogen, is the main energy source for these exercises. The use of glycogen can result in lactate and contribute to muscle fatigue during high-intensity exercise. This type of exercise promotes the consumption of large amounts of CHO, because there is an increase in glucose availability and oxidation rate. However, the total amount used is limited to the duration of the exercise. During a strength workout or “shot” of 30 seconds, the consumption of muscle glycogen is around 25-30% of the exercised muscle reserves, and repeated exercises cause great decrease in glycogen stores. Thus, there is a marked depletion of muscle glycogen stores, which may arouse a decrease in sports performance, hypoglycemia and even dehydration. Several studies have investigated the influence of CHO supplemen-tation immediately before, during and after high-intensity exercise, as well as its association with protein and or caffeine. The mouth rinse with CHO solutions also seems to have a beneficial effect, minimizing gastrointestinal disorders. This article aimed to perform a literature review on the recommendations and the effects of supplementation of CHO in high-intensity exercise.

Keywords: high-intensity exercise, supplementation of carbohydrates, carbohydrates, glycogen, performance.

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OIntrodução

O metabolismo de carboidratos (CHO) tem função crucial no suprimento energético para atividade física e para o exercício físico1. A contribuição relativa deste substrato energético depende da intensidade e da duração do exercício. Em exercícios de alta intensidade, a maior contribuição energética é proveniente da degradação dos CHO2, os quais se tornam disponíveis para o organismo por meio da dieta e são estocados como glicogênio muscular e hepático3, e sua falta pode levar a fadiga2. A fadiga que ocorre em exercícios físicos prolongados e de alta intensidade está associada, em boa parte, com baixas reservas e depleção de glicogênio, hipoglicemia e desidratação1. Entretanto, as reservas de CHO são limitadas no organismo, sendo a modulação por meio de uma dieta rica em CHO essencial para a reposição muscular e hepática, resposta imune1,4 e recuperação pós-treino, de forma a minimizar dano muscular4. Segundo alguns autores, a depleção e ressíntese de glicogênio pode influenciar respostas hormonais de testosterona, hormônio do crescimento (GH), cortisol e fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1)5. Alguns estudos têm mostrado que a suplementação de CHO pode afetar respostas hormonais e metabólicas em exercícios intermitentes de alta intensidade6,7. No entanto, a reposição de glicogênio depende de vários fatores, como o estado nutricional e de treinamento, ou o tipo, a quantidade, o horário e a frequência de consumo de CHO8. Logo, um aporte adequado de CHO é de suma importância para o treinamento e o sucesso do rendimento esportivo9.

O consumo de pequenas quantidades de CHO pode melhorar o rendimento durante exercícios de alta intensidade (acima de 75% do VO2 máx) realizados entre 45 e 60 minutos2. A literatura sugere que o mecanismo responsável por tais propriedades ergogênicas da ingestão de CHO durante o exercício intenso e de curta duração estaria associado ao sistema nervoso central2. A ingestão de CHO durante o exercício também beneficia atletas envolvidos em esportes intermitentes e de equipe. Esses atletas são

aconselhados a seguir estratégias de alimentação de CHO similares aos atletas de endurance (em torno de 8 a 10g por kg de peso corporal [PC]/dia), mas precisam modificar a ingestão de CHO exógenos baseado na intensidade e duração do jogo, bem como os estoques de CHO endógenos disponíveis.

O aporte adequado de CHO também tem um papel importante para os atletas que precisam competir duas vezes no período de 24 horas, quando a reposição rápida dos estoques endógenos de glicogênio é necessária para evitar uma diminuição do desempenho. Para favorecer a rápida reposição de glicogênio pós-exercício, devem ser fornecidas grandes quantidades de CHO exógenos (1,2g/kg PC/h) durante a fase aguda da recuperação do exercício exaustivo2. Achten et al.10, por exemplo, descobriram uma melhora no desempenho físico e no humor de corredores que receberam uma dieta contendo 8,5g/kg PC de CHO, em comparação com uma dieta com 5,5g/kg PC de CHO, durante um período de 11 dias de treinamento intenso. Outros autores11 realizaram um estudo por cinco dias com treinamento intenso e descobriram que corredores que ingeriram 4g/kg PC de CHO relataram uma classificação mais elevada de percepção de esforço (RPE) durante a realização do teste, em comparação com os corredores que ingeriram 8g/kg PC. Embora estudos como esses sugiram uma ligação entre o consumo de CHO, o desempenho esportivo e o potencial de desenvolver a síndrome do overtraining durante os períodos de treinamento intenso, a maioria das pesquisas tem sido, até agora, baseadas em modelos experimentais que restringem severamente a ingestão de CHO (5 g/kg PC).

Para os atletas com reduzido limiar gastrointestinal para a ingestão de CHO imediatamente pós-exercício, e/ou para apoiar a reposição muscular, a coingestão de uma pequena quantidade de proteína (0,2-0,4 g/kgPC/h) com menor teor de CHO (0,8 g/kgPC/h) pode fornecer uma opção viável para atingir taxas de reposição de glicogênio muscular semelhantes. Assim sendo, sugere-se que a suplementação de CHO durante o exercício também pode beneficiar atletas que participam de eventos intermitentes

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de alta intensidade2,12. Esta pesquisa teve como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre as recomendações e a suplementação de CHO em esportes de alta intensidade. O levantamento bibliográfico usou a base de dados PubMed, sem limite de tempo ou tipo de publicação, e foram utilizadas as seguintes palavras-chave: exercício de alta intensidade; suplementação de carboidratos, carboidratos, glicogênio, rendimento.

CHO e intensidade do exercício

Os CHO, também conhecidos como hidratos de carbono ou glicídios, são moléculas formadas por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio associados22. A maior parte dos CHO é de origem vegetal e tem função principalmente energética, mas também apresentam funções estruturais, como participação na estrutura dos cromossomos e genes13. Este nutriente é um importante substrato energético para a contração muscular durante o exercício prolongado realizado sob intensidade moderada e em exercícios de alta intensidade e curta duração. As estratégias nutricionais utilizando o consumo de uma refeição rica em CHO pré-exercício elevam as reservas de glicogênio, tanto muscular quanto hepático, enquanto a ingestão de CHO durante o exercício auxilia na manutenção da glicemia e na oxidação desses substratos. No período pós-exercício, a ingestão de CHO tem por objetivo repor os estoques depletados e garantir padrão anabólico14. Dietas hipoglicídicas favorecem a fadiga precoce e a queda de rendimento durante treinos de alta intensidade15. Os CHO constituem um valioso substrato energético, mas a capacidade de estocá-lo é limitada, fazendo-se necessária a busca por estratégias de economia e armazenamento de energia na forma de carboidrato16. A capacidade do fígado, principal reservatório de CHO, em armazenar glicogênio é de cerca de 100g/dia em adultos17. Por outro lado, as reservas de lipídios em nosso organismo são inúmeras vezes superiores aquelas de CHO, o que explicaria a preferência do nosso organismo pelos lipídios em condições basais e principalmente de jejum, aumentando a disponibilidade de glicose para outros tecidos (sistema nervoso, sanguíneo

e imunológico), os quais são essencialmente mantidos a custa desse substrato18. A importância fisiológica desse mecanismo, o ciclo glicose-ácido graxo, portanto, consiste não somente no aumento do fornecimento de energia aos tecidos, mas principalmente na economia da utilização dos estoques limitados de glicose16. Durante o exercício de alta intensidade há aumento na disponibilidade e na taxa de oxidação de glicose19,20.

Enquanto o glicogênio muscular é usado exclusivamente pelos músculos, o hepático é utilizado para a manutenção da glicemia e com o objetivo de suprir as necessidades energéticas do cérebro, do sistema nervoso e de outros tecidos1. Segundo Maughan et al.3, o conteúdo de glicogênio presente no músculo esquelético é de aproximadamente 250-400g. No fígado de um ser humano adulto em estado pós-prandial são estocados entre 80-110g de glicogênio, podendo ser liberado na circulação para manter a glicemia em mais ou menos 0,9g por litro. Estes limitados depósitos de glicogênio influenciam o tempo que o organismo será capaz de se exercitar. Quando os estoques de glicogênio se tornam muito baixos, o organismo alcança o limite, ocorre uma sensação de extrema fadiga, o que ocasiona a interrupção do exercício21. Para manter ou até mesmo aumentar os estoques de glicogênio muscular durante períodos de treinamento, é necessária uma dieta com elevada quantidade de CHO22. Tais valores podem ser modificados de acordo com o nível de treinamento do indivíduo, associado à ingestão de dietas ricas em CHO23.

Figura 1. Efeito da intensidade (VO2max%) de exercício no consumo de glicose e ácidos graxos plasmáticos, glicogênio, e triglicerídeo muscular. Os valores (%) são relativos ao consumo máximo de energia (J/kg/min).

Fonte: Romjin et al.19

74%

13%13%

25% 65% 85%

30%

38%

9%

23%60%

12%

18%

10%

Glicogênio muscular Ácidos graxos plasmáticosGlicose plasmáticaTriglicerídeo muscular

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Figura 2. Efeito da intensidade de exercício no consumo de glicose e ácidos graxos. Os valores são relativos da cinética de consumo de glicose e ácidos graxos pelo músculo esquelético durante contrações.

Fonte: Brooks e Mercier20

Fonte: Adaptado de: Hirschbruch; Carvalho25 e Jeukendrup et al.26.

Em exercícios de força, o treinamento físico associado ao uso de dietas hiperglicídicas pode proporcionar um aumento nas reservas de glicogênio muscular, acentuando o processo de hipertrofia14. Há muitos anos já se sabe que os efeitos metabólicos e ergogênicos alcançados

pelo consumo de CHO antes, durante e após o exercício físico mereciam especial atenção quanto à melhoria do desempenho físico24.

Os tipos de carboidratos e suas características específicas, como a velocidade de oxidação, encontram-se na tabela 1.

Tabela 1. Características específicas dos CHO

Ácidos graxos

Glicose

Oxid

ação

de

ácid

os g

raxo

s

Oxid

ação

de

glico

se

Leve (<40%) Moderada (60%/80%) Intensa(>80%)

Intensidade (VO2máx)

Tipo de carboidrato Características específicas

*Açúcar formado da quebra do amido*Glicose + frutose;*Taxa de absorção e oxidação semelhante a da glicose.*Taxa de absorção e oxidação semelhante a da glicose.*Açúcar formado da quebra do amido;*Sabor neutro e baixo valor osmótico;*Taxa de absorção e oxidação semelhante a da glicose.*Açúcar formado da quebra do amido;*Rapidamente ingerida e absorvida.*Incorpora palatabilidade às bebidas;*Promove estímulos 20-30% menores nos níveis plasmáticos de insulina quando comparada à glicose e, portanto, reduz a lipólise;*Taxa de oxidação 25% maior que a da glicose.*Taxa de oxidação 50% menor que a da glicose.*Açúcar encontrado em mel e cana de açúcar;*Oxidação mais lenta que a da glicose.*Açúcar achado em microrganismos;*Oxidação mais lenta que a da glicose.*Açúcar formado da quebra do amido;*Amilose – menor taxa da hidrólise.*Absorção de água mais eficaz.

GlicoseSacarose

MaltoseMaltodextrina

Amilopectina

Frutose

GalactoseIsomaltulose

Trealose

Amilose

Frutose mais glicose

Rapidamente oxidada (~60 g/h)

Lentamente oxidada (~30 g/h)

Taxa de oxidação maior do que somente glicose

Velocidade de oxidação

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Associação de diferentes CHO

Segundo Jeukendrup12, é provável que a oxidação de um único carboidrato exógeno seja limitada a aproximadamente 60g/h, pois a taxa de absorção intestinal daquele carboidrato é limitada. Sugere-se que, na ingestão de altas taxas de uma única fonte de CHO, as proteínas específicas dos transportadores que ajudam na absorção daquele carboidrato no intestino fiquem saturadas. Com os transportadores saturados, o aumento da ingestão daquele carboidrato não promoverá aumento da absorção intestinal e nem das taxas de oxidação, favorecendo o acúmulo do excesso no intestino. Entretanto, se diferentes CHO forem consumidos em grandes quantidades, maior será a taxa máxima de oxidação de CHO exógenos, pois diferentes CHO estimulam diferentes mecanismos de transporte do intestino para a corrente sanguínea, aumentando, assim, a oferta de CHO para os músculos. Taxas de pico de oxidação de CHO são geralmente em torno de 60g/h. Glicose, sacarose, maltodextrinas e amilopectina são oxidadas a taxas elevadas, enquanto frutose, galactose e amilose são oxidadas a taxas cerca de 25-50% mais baixas26. Em estudo de Nunes et al.27, a glicose foi o substrato mais eficaz para a ressíntese de glicogênio muscular, e a frutose, para a recuperação do glicogênio hepático. Consequentemente, as bebidas esportivas contêm tipicamente uma mistura de vários tipos de CHO para otimizar a oxidação de CHO exógenos28.

Recomendações

Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBME), quanto maior a intensidade dos exercícios, maior será a participação dos CHO como fornecedores de energia. A recomendação de CHO da SBME para atletas é em torno de 60 a 70% do valor calórico total, ou 5 a 10 g/kgPC/dia, dependendo do tipo e da duração do exercício escolhido e respeitando a individualidade do atleta, como a hereditariedade, o gênero, a idade, o PC e a composição corporal, o condicionamento físico e a fase de treinamento. O consumo de CHO entre 5 e 8 g/kgPC/dia otimiza a recuperação muscular, enquanto em

atividades de longa duração e/ou treinos intensos podem ser necessários até 10 g/kgPC/dia para a adequada recuperação do glicogênio muscular e/ou hipertrofia9. Já a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (ISSN) recomenda, para otimizar um estoque máximo de glicogênio endógeno, uma dieta rica em CHO de alto índice glicêmico e consumo elevado de CHO (600-1000g ou ~ 8-10g/kg PC/dia), e a ingestão de aminoácidos livres e proteína (PRO) sozinha ou associada aos CHO pré-exercício pode estimular a síntese proteica máxima29. Os estoques de glicogênio durante exercícios de moderada a alta intensidade (65-85% VO2 máx) podem durar apenas 3 horas30.

No pré-exercício, a ISSN recomenda 1 a 2g/kgPC 3 a 4 horas antes da competição. O consumo de um suplemento de CHO com PRO pré-exercício pode resultar em níveis máximos de síntese proteica29.

Durante atividades prolongadas e acima de uma hora, a ingestão de CHO, melhora o desempenho e pode retardar a fadiga nas modalidades esportivas que envolvem exercícios intermitentes e de alta intensidade, além de prevenir a queda da glicemia após duas horas de exercício. A quantidade de glicogênio consumida depende, naturalmente, da duração do exercício. Para provas longas, a SBME recomenda o consumo de CHO (7 a 8 g/kgPC) ou 30 a 60 g/hora de exercício, o que evita hipoglicemia, depleção de glicogênio e fadiga9. A ISSN também recomenda o consumo, durante o exercício, de 30 a 60g/hora em uma solução de 6-8% de CHO a cada 10-15 minutos29. Frequentemente, os carboidratos consumidos fazem parte da composição de bebidas desenvolvidas especialmente para atletas. Estudos indicam que bebidas com 8% de CHO ocasionam maior lentidão na absorção e no esvaziamento gástrico, em comparação a água e bebidas com 6% de CHO. Preferencialmente, deve ser utilizada uma mistura de glicose, frutose e sacarose, mas o consumo não deve exceder 80 g/hora9. O uso isolado de frutose pode ocasionar distúrbios gastrointestinais e retardar sua absorção29. Adicionando PRO ao CHO, em uma relação CHO:PRO de 3 a 4:1, pode-se aumentar o desempenho e promover a ressíntese de glicogênio durante sessões agudas, como as

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Tabela 2. Comparativo das indicações de consumo de CHO pós-treino.

Fonte: Adaptado de: Silva et al.32.

Suplementação de CHO no exercício de força

Um estudo com 6 homens e 4 mulheres realizando 10 séries de 10 repetições no leg press

e 8 séries de 8 repetições no extensor de joelhos suplementou os indivíduos de 3 formas diferentes: CHO, aminoácido ou CHO mais aminoácido, e observou que a união de CHO com aminoácido mostrou melhores resultados na síntese de PTN

subsequentes a exercícios de resistência (força). Ingerir CHO isolado ou em combinação com PRO durante exercícios de força aumenta o glicogênio muscular, previne lesão muscular e facilita uma maior formação de adaptações após períodos agudos ou prolongados da suplementação com o treinamento de resistência29.

No pós-exercício exaustivo, a SBME recomenda a ingestão de CHO simples entre 0,7 e 1,5g/kgPC no período de 4 horas, o que é suficiente para a ressíntese plena de glicogênio muscular9. Segundo a ISSN29, no pós-exercício (dentro de 30 minutos) o consumo de CHO deve ser elevado (8 a 10g/kgPC/dia), por estimular ressíntese de glicogênio muscular, enquanto a adição de PRO (0,2 g a 0,5g/kgPC/dia) ao CHO em uma proporção de 3 a 4:1 (CHO:PRO) pode aumentar ainda mais a ressíntese de glicogênio. Imediatamente e 3 horas pós-exercício, o consumo de aminoácidos, em especial aminoácidos essenciais, tem mostrado estimular aumentos consideráveis na síntese proteica muscular, enquanto que a adição de CHO pode estimular ainda mais os níveis de síntese proteica. Durante o treinamento de força consistente e prolongado, o consumo pós-exercício de doses variadas de suplementos de CHO + PRO tem mostrado estimular melhoras na força e composição corporal, quando comparado ao grupo controle ou placebo. A adição de creatina (Cr) (0,1 g/kgPC/dia) para um suplemento CHO + PRO pode facilitar ainda mais as adaptações ao treinamento de força. Segundo a ISSN, o momento adequado para repor o nutriente deve

ser considerado no planejamento nutricional, pois é um fator importante que permite melhorar a recuperação e reparação tecidual pós-exercício de alto volume, aumentando a síntese proteica muscular e o estado de humor, quando comparado com as estratégias não planejadas ou tradicionais de consumo de nutrientes29.

A reposição de glicogênio muscular constitui o fator mais importante para determinar a recuperação pós-exercício. O consumo de CHO pós-exercício é descrito como o determinante mais importante da síntese de glicogênio muscular, e a coingestão de proteínas e/ou aminoácidos não parece aumentar ainda mais as taxas de glicogênese muscular quando a ingestão de CHO é superior a 1,2 g/kgPC/hora. No entanto, a partir de um ponto de vista prático, quando nem sempre é viável ingerir grandes quantidades de CHO, parece que o consumo combinado de uma pequena quantidade de proteína (0,2-0,4 g/kgPC/hora) com menos CHO (0,8 g/kgPC/hora) estimula a liberação de insulina endógena, e são encontrados resultados semelhantes na taxas de reposição de glicogênio muscular à ingestão de CHO (1,2 g/kgPC/hora). A ingestão de CHO e PTN durante as fases iniciais de recuperação afeta positivamente o desempenho do exercício subsequente e poderia ser um benefício específico para atletas envolvidos em várias sessões de treino ou competições no mesmo dia ou em dias consecutivos31. A tabela 2 apresenta o comparativo das diferentes recomendações pós-treino encontradas na literatura.

Referência Quantidade

0,7 a 1,5 g/kgPC/h

1,5 g/kgPC/h1,5 g/kgPC/h1,5 g/kgPC/h

SBMETarnapolsky e colaboradores (1997)CAME (2000)Jentjens e Jeukendrup (2003)Ivy (2004)

Por 4 horas

Por 2 horasPor 5 horasPor 2 horas

Período

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muscular33. Corroborando com este estudo, Kreider et al.34 avaliaram 32 homens realizando 13 exercícios de musculação com 3 séries de 10 repetições e também usaram CHO, aminoácido essencial ou CHO mais aminoácido essencial (MIX) ou placebo. O MIX mostrou mais efeitos anticatabólicos do que apenas uma das substâncias separadamente.

Suplementação de carboidratos em jogos de equipe

Philips et al.35, em sua revisão, analisaram a influência da ingestão de soluções de CHO e eletrólitos imediatamente antes e durante exercícios intermitentes de alta intensidade e prolongados (jogos de equipe, como futebol, rugby e hóquei). Uma preocupação e crítica dos autores foi a utilização de protocolos de exercício que conseguissem replicar o padrão de atividade ou demanda fisiológica em jogos de equipe.

Os autores concluíram que a maioria das pesquisas não mostrou melhorias no desempenho de sprint durante exercícios em jogos de equipe com a ingestão de CHO, talvez devido à falta de influência de CHO no desempenho de sprint quando a concentração de glicogênio muscular permanece acima de um limiar crítico de ~200 mmol/kg de peso seco. Apenas três estudos demonstraram melhora no desempenho de sprint36-38, a qual tem sido atribuída à manutenção dos níveis glicêmicos36,38, que pode permitir um maior metabolismo muscular e cerebral38, mantendo, assim, a função do sistema nervoso central (SNC) e permitindo uma melhor manutenção da potência ou poupando o glicogênio muscular37. Além disso, em um dos estudos38 os indivíduos começaram o exercício com reservas de glicogênio esgotadas (~ 200 mmol/kg de peso seco), o que poderia explicar a melhora do desempenho do sprint com a suplementação de CHO39 nesse estudo. Quando a disponibilidade de glicogênio não estiver comprometida, a concentração de creatina fosfato e sua taxa de ressíntese, ao invés de disponibilidade de carboidratos, estará mais relacionada com o desempenho do sprint40 e talvez explique a falta de efeito do CHO no rendimento do sprint na maioria dos estudos. Entretanto, deve ser considerado que

enquanto a disponibilidade de creatina fosfato é o fator determinante quando sprints curtos são intercalados com a recuperação passiva adequada, durante jogos de equipe, os indivíduos são obrigados a correr e/ou caminhar entre cada sprint. Nesta situação, a ressíntese de fosfocreatina pode não ser completa o suficiente para contribuir plenamente para cada sprint. Neste caso, outros substratos, principalmente de CHO e gordura, se tornariam combustíveis mais prevalentes41. Portanto, os suplementos de CHO podem ser importantes para a manutenção de desempenho do sprint durante os últimos estágios dos jogos de equipe, sendo particularmente pertinentes quando os estoques de glicogênio muscular no pré-exercício não estejam ideais38, podendo também ajudar a explicar os resultados de Welsh et al.36 e Winnick et al.37, que encontraram uma melhora significativa em desempenho do sprint apenas nos estágios finais do exercício. Entretanto, são necessários estudos mais aprofundados35. A ingestão de CHO durante os jogos da equipe foi significativamente associada a melhor manutenção das habilidades motoras de corpo inteiro e estado de humor36,37 e reduziu a percepção de esforço38, fadiga42 e a produção de força43 nos últimos estágios do exercício. A ingestão de CHO não parece influenciar a função cognitiva durante os exercícios em jogos de equipe42,43. Segundo Phillips et al.35, a suplementação com CHO pode provocar alterações na percepção de esforço e no estado de humor que poderiam melhorar o desempenho nas fases finais dos jogos de equipe e permitiriam uma melhor manutenção de tiro de precisão durante os jogos. As melhoras com a ingestão de CHO são atribuídas a melhora da captação de glicose cerebral, maior função do SNC e controle motor. Mais trabalhos são exigidos nestas áreas. A ingestão de CHO não altera diretamente respostas fisiológicas durante exercício intermitente prolongado. A suplementação com CHO normalmente aumenta a glicemia e insulinemia regulares ou durante o treino, aumenta taxas de oxidação de CHO e a razão de troca respiratória e atenua os níveis de ácidos graxos livres no sangue e oxidação de gordura35.

Quanto ao tipo de CHO, a ingestão de múltiplos

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carboidratos transportáveis, tipicamente glicose e frutose, numa razão de ~ 2:1, parece útil durante os exercícios para o aumento da taxa de esvaziamento gástrico44, absorção intestinal de CHO e água44,45 e taxas de oxidação de CHO45,46, mas este último não é universalmente encontrado47. Uma solução de CHO-eletrólito (CHO-E) com 5 a 7% de diferentes CHO e sódio e com um osmolalidade de 250-370 mOsm pode ser ótima antes e durante os jogos de equipe e tem sido recomendada35. Segundo Jeukendrup e Jentjens48, um consumo ótimo de CHO é de 1,0 a 1,1g/min durante o jogo.

Muitas vezes as oportunidades para a ingestão de líquidos em intervalos regulares durante jogos de equipe são insuficientes, e qualquer oportunidade que surja pode ser breve e não proporcionar ao atleta o tempo de consumir um volume de fluido ou de CHO adequados. Além disso, há evidência de uma taxa de esvaziamento gástrico atenuado e, possivelmente, aumento do desconforto gastrointestinal com a ingestão de soluções contendo CHO-E durante jogos de equipe49. Logo, o uso de bochechos de soluções contendo CHO durante os jogos de equipe pode ser interessante, particularmente por permitir uma suplementação mais fácil e rápida do que soluções de CHO-E e limitar possíveis transtornos gastrointestinais associados ao fluido e à ingestão de CHO50. Entretanto, são necessários mais estudos para quantificar se um bochecho de CHO é suficiente para melhorar o desempenho em jogos de equipe na presença de depleção de glicogênio muscular significativa35.

Bochecho de carboidrato

O uso de um bochecho com um pequeno volume de uma solução de CHO na cavidade oral tem demonstrado melhorar o rendimento durante a corrida e o ciclismo, com duração de ~ 30-60 minutos51-53. Estudos com imagens de ressonância magnética funcional demonstram que a introdução de carboidratos doces ou não doces na cavidade oral ativa o paladar putativo primário e secundário no córtex orbitofrontal54,55. A estimulação dessas regiões pode também ativar o córtex pré-frontal dorsolateral, o córtex cingulado anterior, estriado ventral e ínsula anterior / opérculo frontal54. Estas regiões cerebrais podem controlar respostas comportamentais e autonômicas a estímulos

recompensadores54,56. Em particular, o córtex dorsolateral pré-frontal e o estriado ventral relacionam-se com as funções cognitivas de atenção e motivação e de processamento, respectivamente54,57.

Um estudo58 duplo-cego randomizado avaliou a influência da administração de repetidos bochechos com CHO sobre desempenho, respostas metabólicas e percepção durante um sprint no ciclo ergômetro em 12 homens fisicamente ativos com 23 (±3) anos, 1,83 (±0,07) m de altura, 86,5 (±13,5) kg de PC. Foram realizados 8 bochechos de 5 segundos cada com uma solução de 25 ml de CHO (6% de maltodextrina) e 8 bochechos de 5 segundos cada com uma solução de 25 ml de placebo (PLA). Após a administração do bochecho, os indivíduos realizaram um sprint de 30 segundos em bicicleta ergométrica, em que 8 deles alcançaram um pico de potência (PPO) significativamente maior ao utilizar o bochecho com CHO quando comparado ao PLA. Porém, não houve diferença significativa para o índice de fadiga, percepção do esforço, níveis de excitação e náuseas ou concentrações sanguíneas de lactato e glicose. Os autores concluíram que a administração dos bochechos com solução a 6% de CHO pode melhorar significativamente o PPO durante o sprint. Ainda, essa melhora parece limitar-se aos 5 segundos iniciais do sprint e pode vir a um maior custo relativo para o restante do sprint. A administração de uma série de bochechos com CHO pode ser benéfica para os atletas de sprint como um método para a melhora de desempenho, que minimiza tanto o risco de redução de desempenho por meio do aumento de PC como distúrbios gastrointestinais associados à ingestão de soluções de CHO.

Uma revisão sistemática foi realizada por Silva et al.32 para identificar estudos que avaliaram o efeito do bochecho com CHO no desempenho do exercício e para quantificar a diferença média geral deste tipo de manipulação em todos os estudos analisados. Em nove dos onze estudos analisados, o bochecho com CHO aumentou a performance (intervalo de 1,50 % a 11,59 %) durante exercício de moderada a alta intensidade com aproximadamente 1 hora de duração. A análise estatística para quantificar as diferenças médias individuais e totais foi realizada em sete dos onze estudos elegíveis que relataram

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potência (watts) como o principal resultado de desempenho. O efeito global do bochecho com CHO sobre o desempenho foi significativo (p = 0,02), mas houve uma grande heterogeneidade entre os estudos (I2 = 52%). Uma ativação dos receptores bucais e, consequentemente, das áreas do cérebro envolvidas com a recompensa (ínsula / opérculo frontal, córtex orbitofrontal e núcleo estriado) é sugerida como um possível mecanismo fisiológico responsável pelo melhor desempenho com o bochecho com CHO. No entanto, esse efeito positivo parece ser acentuado quando estoques de glicogênio muscular e hepático estão reduzidos, possivelmente devido a uma maior sensibilidade dos receptores orais, e necessita pesquisas mais detalhadas. Diferenças no tempo de jejum antes do ensaio, duração do bochecho, tipo de atividade, protocolos de exercício e tamanho da amostra podem explicar a grande variabilidade entre os estudos.

Efeitos metabólicos e hormonais da suplementação de CHO pré, durante e pós-treino

Sousa et al.59 avaliaram os efeitos da sobrecarga de um microciclo do treinamento (do primeiro ao oitavo dia) nas respostas metabólicas e hormonais em corredores do sexo masculino, com ou sem a suplementação de CHO, em uma sessão de corrida intermitente de alta intensidade. Foram acompanhados 24 corredores homens, divididos em dois grupos: um recebendo 61% de sua ingestão energética como CHO (grupo-CHO), e outro, 54%, no grupo-controle (CON). A testosterona foi maior para o grupo CHO do que para o CON após a formação de sobrecarga. No nono dia, os indivíduos realizaram 10 tiros de 800m com intervalo de 1 minuto e 30 segundos para a recuperação e dois testes de desempenho máximo de 1000m de corrida, antes e após as séries de 800m. Antes, durante e após este protocolo, os corredores receberam solução contendo CHO ou CON. O atletas ingeriram um café da manhã padronizado 140 minutos antes do início do protocolo de exercícios (770 calorias e 132,8 g de CHO). Trinta minutos antes do início dos testes, os atletas receberam 4 ml/kgPC de uma solução contendo 7% de CHO ou o equivalente CON. Essa solução foi oferecida imediatamente após o

primeiro teste de 1000m e depois da décima série de 800m. Durante a corrida intermitente em alta intensidade, os corredores ingeriram 2 ml/kgPC de uma solução contendo 7% de CHO ou CON depois de cada duas séries, até o final do protocolo de exercícios. Em resumo, eles ingeriram um total de 5 vezes (após a série 1, 3, 5, 7 e 9). Após o segundo teste de 1000m, eles continuaram recebendo 3 ml/kgPC de água contendo CHO complementar a uma concentração de CHO (1,2 g/kgPC) ou CON de 0 até 60 minutos do período de recuperação. Nos intervalos do período de recuperação, os atletas ingeriram água ad libitum, e a temperatura das soluções ingeridas durante os testes ficaram em torno de 4-7°C. O desempenho nas séries de 800m não apresentou diferença entre os grupos, mas no teste de 1000m a redução de desempenho foi menor para o grupo CHO. As concentrações de cortisol foram mais baixas no grupo CHO em relação ao grupo CON, e a razão IGF1/IGFBP3 aumentou 12,7% no grupo CHO. Durante a recuperação, as concentrações glicêmicas permaneceram maiores no grupo CHO em comparação ao grupo CON. Os autores concluíram que a suplementação de CHO possivelmente atenuou a supressão do eixo hipotálamo-hipófise gonadal, resultando em menos estresse catabólico, e, assim, melhorou o desempenho da execução. O estudo enfatizou a necessidade de suplementação com CHO em atletas de alto rendimento durante treinos intervalados de alta intensidade, tanto em treinos longos como em treinos com menos de 1 hora de duração. Além disso, os autores reforçaram a necessidade de nutricionistas em equipes esportivas para orientar sobre dieta e a importância do consumo adequado de CHO na melhora do desempenho, o que ainda é negligenciado por alguns atletas.

Carboidrato e cafeína pós-treino

A coingestão de cafeína (CAF) com CHO parece otimizar as taxas de ressíntese de glicogênio muscular durante a recuperação do exercício exaustivo. Em 2008, Pedersen e colaboradores, em dois ensaios experimentais de desenho cruzado, duplo-cego e randomizado, forneceram a primeira evidência de que em indivíduos treinados a coingestão de CAF (8mg/kgPC) com

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CHO (4g/kgPC) tem um efeito aditivo sobre as taxas de glicogênese muscular pós-exercício em comparação ao consumo de CHO (4 g/kgPC) isolado60. Segundo Jensen et al.61, a AMPK está relacionada com a resposta à captação de glicose estimulada pela cafeína. Alguns autores62 sugerem que os aumentos induzidos pela cafeína na sinalização de Ca2+ e na atividade de AMPK estão ambos envolvidos na mediação do aumento do transporte de glicose no músculo. Segundo outros pesquisadores, em adição à ação da cafeína no Ca2+ e AMPK no transporte de glicose, a proteína quinase B/Akt também tem importante associação na ligação entre a cascata de sinalização de insulina e mecanismos importantes para translocação de GLUT463. Taylor et al.64 também avaliaram se a adição de cafeína à refeição contendo CHO no pós-exercício melhora o rendimento em corrida intervalada em alta intensidade em comparação ao consumo apenas de CHO. Seis homens realizaram um protocolo de exercício para redução do glicogênio até a exaustão, imediatamente após e 1, 2, e 3 h pós-exercício. Os participantes consumiram CHO (1,2 g/kgPC) de uma solução com 15% de CHO, uma solução de CHO semelhante com a adição de cafeína (8 mg/kgPC) (CHO + CAF), ou um volume equivalente de água apenas aromatizada (A). Após o período de recuperação de 4 horas, os participantes realizaram um teste com exercício intermitente em alta intensidade para a exaustão voluntária. Os valores médios de glicemia durante o período de recuperação de 4 horas foram maiores na condição CHO (p <0,005) do que na A, porém não houve diferença (p = 0,46) entre CHO e CHO + CAF. A capacidade de exercício foi significativamente maior na condição CHO + CAF (48 ± 15 min) do que na CHO (32 ± 15 min, p = 0,04) e na A (19 ± 6 min, p = 0,001). Todos os seis participantes melhoraram o desempenho em CHO + CAF quando comparado a apenas CHO. O estudo demonstrou que a adição de cafeína ao CHO pós-exercício melhora a capacidade de execução de exercício intervalado em alta intensidade, uma descoberta

que pode estar relacionada com as taxas mais elevadas de ressíntese de glicogênio muscular pós-exercício anteriormente observadas em condições alimentares similares64. Entretanto, um estudo crossover, duplo-cego e randomizado avaliou, em 11 atletas mulheres, os efeitos da suplementação de CAF (6 mg/kgPC) com PLA, CAF (6 mg/kgPC) com CHO (0,8 g/kgPC) e CHO (0,8 g/kgPC) com PLA 60 minutos antes de 10 séries de 5 sprints de 4 segundos no ciclo ergômetro com intervalo para recuperação de 20 segundos. Os resultados indicaram que CAF + PLA ou CAF + CHO não melhoraram o desempenho ou agilidade de sprints com intervalos de descanso curtos. No entanto, CHO ingerido imediatamente pré-exercício forneceu um pequeno mas significativo benefício no desempenho de repetidos sprints em atletas do sexo feminino65.

Considerações finais

A maioria dos estudos aponta para melhora de rendimento em esporte de alta intensidade com a suplementação de CHO pré, durante e pós-exercício. O bochecho com soluções contendo CHO parece ter um efeito positivo no rendimento de esporte de alta intensidade de duração entre 30 e 60 minutos e evitar certos desconfortos gastrointestinais causados pelo consumo oral de CHO. Apesar da divergência entre alguns autores, a associação da cafeína ao CHO no pós-exercício parece otimizar a reposição do glicogênio muscular. Deve-se atentar para o tipo de CHO, associações de CHO, quantidade e concentração de CHO em função do horário (pré, durante ou pós-exercício) de acordo com a demanda específica da modalidade nos treinos e competições. Da mesma forma, deve-se respeitar a individualidade de cada atleta e avaliar a quantidade adequada para que a melhora do rendimento ocorra sem prejudicar a composição corporal que o atleta deva alcançar e/ou manter.

Referências

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