A identidade brasileira materializada nas cenas da cia ... · RESUMO: Esta pesquisa ... texto. O...
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A identidade brasileira materializada nas cenas da cia. Barbixas de humor
Cíntia Bicudo (UEM)
RESUMO: Esta pesquisa desenvolvida a partir de pressupostos teóricos da Análise do discurso
de linha francesa, resultante de um Projeto de Iniciação Científica (PIC), tem como objetivo
apresentar as bases para uma proposta de leitura com cenas de vídeos de humor sobre a
identidade brasileira, voltada a alunos do 3.º ano do Ensino Médio, considerando a
materialização discursiva da identidade brasileira a partir de trocadilhos, piadas de duplo
sentido e efeitos-ironia com base nas cenas que fazem parte do quadro, Cenas improváveis,
produzido pela Cia. Barbixas de Humor, durante o espetáculo Improvável. Para isso, dividimos
o trabalho nas seguintes etapas: 1) realizamos a transcrição das falas e a análise de outras
linguagens que produzem efeitos de sentidos; 2) descrevemos e interpretamos os mecanismos
relacionados ao efeito humor na sua relação com a identidade brasileira, a partir das cenas
selecionadas; 3) identificamos como se dá a materialização discursiva da identidade brasileira
com base no jogo entre as diferentes linguagens; 4) elaboramos atividades de leitura e de
reflexão sobre a linguagem, buscando dar ênfase a outras possibilidades de sentidos e
interpretações.
Palavras- chave: identidade brasileira; leitura em língua materna; improvável.
ABSTRACT: The present study was developed from theoretical and methodological
approaches in the French Discourse Analysis, as a result of one Scientific Initiation Project
(PIC). The aim of this article is to present the basis of a proposal for reading with scenes of
humor videos, which is about Brazilian identity. This is for High School students, considering
a discursive materialization of the Brazilian identity from puns, double meaning jokes and
irony effects based on the scenes that are part of the show called Unlikely Scenes, produced by
Barbixas Company of Humor during the spectacle Unlikely. For this, we divided the work in
the following steps: First, we did the transcription of the speeches and the analysis of other
languages that produce effects of senses. Second, we described and interpreted the mechanisms
related to the humor effect in its relation with the Brazilian identity from the selected scenes.
Also, we identified how the discursive materialization of Brazilian identity works, based on
the game between the different languages. Finally, we elaborated activities of reading and
reflection about the language, seeking to emphasize other possibilities of meanings and
interpretations.
Keywords: brazilian identity; reading in native language; spectacle unlikely.
INTRODUÇÃO
Nosso objetivo é apresentar as bases para uma proposta de leitura de cenas de vídeos
de humor sobre a identidade brasileira voltada a alunos do 3º. ano do Ensino médio,
considerando a materialização discursiva da identidade brasileira a partir de trocadilhos, piadas
de duplo sentido e efeitos-ironia, com base em nas cenas: E se Beethoven fosse brasileiro, E se
James Bond fosse brasileiro, E se Moisés fosse brasileiro, E se Sherlock Holmes fosse
brasileiro. Essas cenas fazem parte do quadro, Cenas improváveis, produzido pela Cia.
Barbixas de Humor durante o espetáculo Improvável. Para isso, primeiro, realizamos a
transcrição das falas e a análise de outras linguagens que produzem efeitos de sentidos, a partir
das cenas selecionadas; em seguida, descrevemos e interpretamos os mecanismos relacionados
ao efeito humor na sua relação com a identidade brasileira; na sequência, identificamos como
se dá a materialização discursiva da identidade brasileira com base no jogo entre as linguagens
diferentes; por fim, elaboramos atividades de leitura e de reflexão sobre a linguagem, buscando
dar ênfase a outras possibilidades de sentidos e interpretações. Por causa do limite de páginas,
este artigo não apresenta o material didático desenvolvido durante a pesquisa. O trabalho foi
desenvolvido a partir de pressupostos teórico-analíticos da Análise do discurso de linha
francesa (CORACINI, 2002; ORLANDI, 2001, 2015). Os resultados evidenciaram que a
identidade brasileira construída nas cenas provocam a imagem do brasileiro como desastrado,
que resolve tudo com suborno, transforma tudo em festa, o que pode possibilitar que o
professor trabalhe a dimensão subjetiva no ensino de línguas, dando visibilidade à identidade
dos alunos e a sentidos inscritos na memória do dizer sobre o que é ser brasileiro.
1 LEITURA DISCURSIVA
A Língua na AD é a materialização do interdiscurso, não se trata de um mero
instrumento a ser controlado ou utilizado para informar conteúdo, mas se trata de um
acontecimento no sujeito e o sentido é atribuído ideologicamente. “Partindo da ideia de que a
materialidade específica da ideologia é o discurso e a materialidade específica do discurso é a
língua, trabalha a relação língua-discurso-ideologia” (ORLANDI,2015, p.17). Orlandi (2001)
não entende ideologia como ocultação da realidade ou visão de mundo, pois, segundo Orlandi,
não há realidade sem ideologia. Assim sendo, a autora descreve ideologia como “[...] fixação
de um conteúdo, pela impressão do sentido literal, pelo apagamento da materialidade da
linguagem e da história, pela estruturação ideológica da subjetividade” (ORLANDI, 2001,
p.22). O sujeito é afetado pelo inconsciente e interpelado pela ideologia. Os sujeitos cumprem
funções não por decisão própria, mas por injunções de classe ou grupo e por estar afetado por
determinada ideologia, que determina o que ele pode e deve dizer. “Em outras palavras, o
sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha consciência disso [...]”
(MUSSALIM, 2001, p.110). Por isso, a teoria não subjetiva do sujeito explica a ilusão da
autonomia. A ideologia determina, inconscientemente, as ações e pensamentos do indivíduo,
uniformizando o pensamento das classes sociais.
A redução do sentido a um conteúdo é parte da ilusão referencial, um mecanismo
ideológico importante. Segundo Orlandi (2015), com base em Pêcheux (2014) podemos
distinguir duas maneiras de esquecimentos que constitui o sujeito como social e
ideologicamente constituído. O primeiro esquecimento é o ideológico; por esse esquecimento
temos a ilusão de ser a origem do que dizemos quando, na realidade, retomamos sentidos pré-
existentes. O segundo esquecimento é uma ilusão referencial, nos faz acreditar que há uma
relação direta entre o pensamento, a linguagem e o mundo, de tal modo que pensamos o que
dizemos só pode ser dito com aquelas palavras e não com outras (ORLANDI, 2015). Para que
as palavras tenham sentido em um enunciado específico, é preciso que elas já façam sentido.
O interdiscurso é o conjunto de tudo o que já foi dito; a memória discursiva é um “recorte” do
interdiscurso, que precisamos recuperar para resultar na interpretação e no entendimento do
texto. O interdiscurso ou a memória é, então, esse conjunto de formulações feitas e esquecidas
que determina o que dizemos: retomamos em nossas palavras o que pertence ao já-dito embora
ignoremos sua existência, repetimos discursos que também foram repetidos (ORLANDI,
2015).
O mesmo discurso pode causar interpretações diferentes para o mesmo leitor se as
condições de produção forem diferentes. Orlandi (2015) classifica as condições de produção
em dois grupos: as condições de produção do contexto imediato que se refere às circunstâncias
da enunciação (quem fala, para quem fala, como fala, quando fala? onde o dizer circula?) e as
condições de produção amplas que inclui o contexto sócio-histórico e ideológico. As condições
de produção implicam o que é material, o que é institucional e o mecanismo imaginário.
Esse mecanismo produz imagens dos sujeitos, assim como do objeto do discurso,
dentro de uma conjuntura sócio-hitórica. Temos assim a imagem da posição locutor
(quem sou eu para lhe falar assim?) mas também da posição sujeito interlocutor
(quem é ele para me falar assim, ou para que eu lhe fale assim?), e também a do objeto
do discurso (do que estou lhe falando, do que ele me fala?) (ORLANDI, 2015, p.38).
Por exemplo, quando um médico vai fazer uma palestra de conscientização sobre
determinada doença (objeto do discurso) para a população ele não falada mesma maneira que
conversa com outro médico. Isso acontece porque a imagem que o médico (locutor) tem da
população (interlocutor) é de que são pessoas que não tem o domínio dos termos técnicos e
nem o conhecimento das enfermidades, mas ele, como médico, é autorizado socialmente a
instruir a população para evitar determinadas doenças. Dessa forma, a leitura discursiva
concebe a língua como um acontecimento, no qual o sentido não está preso às palavras, ele
depende das condições de produção. A leitura está “na interface entre a análise do discurso e
a desconstrução que considera o ato de ler como um processo discursivo no qual se inserem os
sujeitos produtores de sentido – o autor e o leitor -, ambos sócio-historicamente determinados
e ideologicamente constituídos” (CORACINI, 2002, p.15).
Por essa perspectiva, vamos conduzir uma leitura/gesto analítico prévio à leitura, em
uma visão discursiva, acerca dos vídeos E se Beethoven fosse brasileiro, E se James Bond fosse
brasileiro, E se Moisés fosse brasileiro, E se Sherlock Holmes fosse brasileiro que compõem
o quadro Cenas improváveis da Cia. Barbixas de humor.
Os Barbixas é uma companhia de teatro formada por: Anderson Bizzocchi, Daniel
Nascimento e Elídio Sanna; também conta com a participação do pianista Daniel Tauszig. Essa
trupe está em cartaz no Teatro da Universidade Católica (Tuca), em São Paulo, desde 2009
com o espetáculo Improvável. Esse espetáculo é um projeto de humor baseado em jogos de
improviso nos quais a plateia escolhe o tema para a criação das cenas que são executadas
utilizando apenas objetos que já estão no palco como: água, toalha, cadeira etc. Além dos
Barbixas, entram em cena um ator convidado e o Mestre de Cerimônias. No quadro Cenas
improváveis, o Mestre de Cerimônias é responsável por sortear uma frase que foi escrita por
alguém da plateia na hora da entrada para ser tema da cena e tocar a campainha para marcar o
fim da cena. Quando o Mestre de Cerimônias lê a frase, o jogador que tiver ideia vai para a
boca de cena e apresenta, quando necessário, os outros integrantes o acompanham.
Por se tratar de um espetáculo de improvisação, em que o público é co autor e os temas
podem ser variados, eles utilizam como recurso a pantomima que é a representação de uma
ação ou gesto convencionalizado dentro de um grupo cultural (SEELAENDER, 2013).
Como o nosso objetivo é analisar a temática identidade do brasileiro, vamos descrever
apenas as cenas em que as frases sorteadas foram: E se Beethoven fosse brasileiro, E se James
Bond fosse brasileiro, E se Moisés fosse brasileiro, E se Sherlock Holmes fosse brasileiro. Para
maior fidelidade na descrição das cenas, utilizaremos os nomes dos atores, já que as cenas são
curtas e não há tempo para a criação de um personagem.
1.1 E se Beethoven fosse brasileiro
Andrei Moscheto é o mestre de cerimônias no vídeo E se Beethoven fosse
brasileiro(Cenas improváveis 60)que é descrito no quadro 1.
Quadro 1. Descrição das cenas improváveis 60
Temos que considerar que esse vídeo foi gravado em maio de 2014 no Teatro da
Universidade Católica (Tuca) em São Paulo e que as pessoas que têm o hábito de ir ao teatro
são, geralmente, classe média ou alta. O deslocamento de Beethoven, considerado o maior
compositor da música clássica universal, para Anitta, cantora brasileira pop, que teve sua
música, O show das poderosas, entre as três mais tocadas no Brasil em 2013 é o que causou o
riso da plateia.
Quando pensamos discursivamente a linguagem, é difícil traçar limites estritos entre
o mesmo e o diferente. Daí considerarmos que todo o funcionamento da linguagem
se assenta na tensão entre processos parafrásticos e processos polissêmicos. Os
processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo dizer há sempre algo que se
mantém, isto é, o dizível, a memória. A paráfrase representa assim o retorno aos
mesmos espaços do dizer. [...] na polissemia, o que temos é deslocamento, ruptura de
processos de significação. Ela joga com o equivoco (ORLANDI, 2015, p.34).
Nessa cena, percebemos um processo parafrástico - a formulação de uma imagem
sedimentada- quando os atores representam o papel de um maestro enquanto o músico toca
Beethoven e o processo polissêmico- o deslocamento, isto é, uma mexida na rede de filiação
(0min 0s) Andrei Moscheto (com microfone): cenas improváveis. Todo mundo joga. Nos cenas improváveis
vocês, lá fora, escreveram sugestões para gente de várias cenas e vocês colocaram nessa caixinha aqui e eu vou
ler essas sugestões que vocês deram e eles vão ter que fazer as ideias que eles se inspirarem, com o que vocês
escreveram.[...]
(3min. 47s) Andrei Moscheto: E se Beethoven fosse brasileiro.
Daniel Nascimento, Márcio Ballas, Anderson Bizzocchi e Elídio Sanna olham e apontam para Daniel Tauszig,
o músico do grupo, em seguida balançam as mãos como maestro. Daniel começa a tocar a quinta sinfonia de
Beethoven e depois emenda tocando a música “O show das poderosas” da cantora Anitta.
dos sentidos-quando a canção executada desliza do erudito para o popular/pop/comercial, isto
é, quando o Tauszig começa tocar Anitta e os atores continuam regendo, mas de maneira mais
descontraída/ bagunçada, que constituiria o estilo brasileiro, tendo em vista sentidos e imagens
inscritos(as) na memória do dizer sobre o que é ser brasileiro.
1.2 E se 007 fosse brasileiro
Guilherme Tomé é o mestre de cerimônias no vídeo E se 007 fosse brasileiro que faz
parte do quadro Cenas improváveis 53, postado no dia 12 de dezembro de 2013, apresentado
no quadro 2.
(0min 0s) Guilherme Tomé (com microfone):cenas improváveis. Todo mundo de pé. Vocês escreveram, lá
fora, sugestões de cenas improváveis e colocaram aqui (aponta para a caixa) nessa caixinha vermelha. Eu vou
sortear, vou ler e os atores, improvisadores dão um passo à frente e fazem a primeira coisa que lhes vier à
cabeça [...]
(3 min. 17s) Guilherme Tomé: E se 007 fosse brasileiro.
CENA 1: Edu Nunes (dá passos largos para frente): Sou zero, zero três e meio. No máximo.
Guilherme toca a campainha marcando o fim da cena. Edu Nunes vai para trás.
CENA 2: Daniel Nascimento (se aproxima da plateia): Olá, me chamo James Bond. Para deputado estadual
zero, zero sete, zero, sete. Não se esqueçam. (Aponta para a plateia).
Guilherme aciona a campainha, marcando o fim da cena. Daniel volta para as cadeiras.
CENA 3: Edu Nunes se aproxima da plateia fingindo voz de mulher: Olá, sou a James Bunda.
Guilherme aciona a campainha, marcando o fim da cena. Edu Nunes volta para as cadeiras.
CENA 4: Anderson convoca Elídio para a cena. Os dois começam a correr.
Anderson (mira como se fosse disparar algo do relógio): Parado. Anderson dispara e se fere caindo no chão.
Elídio continua correndo.
CENA 5: Anderson chama todos para cena. Ele segura algumas cartas de baralho e diz: Meu nome é
Bond,James Bondi Pereira Agular Andrade da Silva Gonçalves de Lemos. Olha para os colegas e grita: Truco.
Elídio grita irritado: Merda.
Guilherme Tomé aciona a campainha finalizando a cena: Eu pensei, nem fodendo que ele joga Poker.
CENA 6: Anderson, Eduardo e Elídio se aproximam da plateia.
Anderson: Pessoal, parece que ele chegou.
Quadro 2. Descrição das cenas improváveis 53
Na cena 1, o ator utiliza o número 007 como se fosse uma nota atrelada a uma avaliação
(prova, exame, concurso), assim sendo, o James Bond brasileiro seria/receberia uma nota
003,5, provocando um efeito de sentido ligado à inferioridade do brasileiro em relação ao
James Bond britânico. Há que se considerar o fato de que o interdiscurso disponibiliza dizeres
que afetam o modo como o sujeito-humorista significa o brasileiro nas condições de produção
do humor: um já-dito de que o brasileiro não consegue chegar lá ou não é tão bom quanto o
agente James Bond europeu ou ainda de que o brasileiro é sempre inferior aos estrangeiros, em
termos de avaliação/notas, está sustentando a base da tomada da palavra e produz esse efeito
de riso nos interlocutores.
Na cena 2, o número 007 é retomado novamente, mas, dessa vez, como número de um
candidato a deputado estadual. Nesse momento, o riso da plateia mostra a identificação do
brasileiro com o personagem, afinal, no Brasil, é comum cantores, atores, apresentadores,
humoristas, jogadores de futebol, enfim, qualquer pessoa famosa se candidatar a cargos
políticos. Mais uma vez, pelo efeito da memória, podemos dizer que há um pré-construído que
sustenta o efeito-humor de que artistas ou figuras folclóricas se candidatam a cargos públicos
e conseguem grande número de votos, muitas vezes, pelo efeito voto-protesto ou como forma
de debochar da situação política do país. Mais uma vez, notamos uma regularidade de sentidos
(assim como no vídeo do Beethoven), nem na política, nem na campanha eleitoral, o Brasil é
sério.
Enquanto nas cenas 1 e 2 os atores utilizaram o número 007; nas cenas 3,5 e 6 os atores
utilizam o nome James Bond para fazer a cena. Na cena 3, Edu Nunes transforma o sedutor,
James Bond, na sedutora James Bunda, brincando com a semelhança sonora do sobrenome
Bond com a palavra bunda que desliza para um substantivo próprio, isto é, um sobrenome ou
nome de guerra. Além de a palavra bunda ser usada somente no Brasil e Portugal, ela também
carrega uma característica de denominação popular. A palavra bunda chegou ao Brasil com os
negros que vieram da Angola. De acordo com Mendonça (2013) as ancas brancas eram
chamadas de nádegas e as negras de mbunda ou simplesmente bunda. Nádegas era usada por
Elídio: Ele?
Daniel (se aproxima): para tudo. (cruza os braços) É o bonde do James Bond. Vai no zero, zero, zero; vai no
zero, zero, sete. (começa a dançar)
Eduardo, Elídio e Anderson começam a dançar também.
uma classe social, enquanto que bunda era popularizada. Além disso, retoma o estereótipo do
Brasil de ser o país do carnaval, da globeleza, onde tudo é sensualizado.
Na cena 5, o jogador retoma a frase mais conhecida do personagem/agente secreto
“Meu nome é Bond, James Bond" e continua acrescentando sobrenomes comuns no Brasil. No
fim, grita truco, quebrando as expectativas de que o público tinha até o momento, pois a plateia
acreditava que eles estavam jogando Poker; mais uma vez, o costume popular, um jogo mais
“brasileiro” é convocado para produzir humor na cena.
Na cena 6, o jogador utiliza o Bond do nome do personagem, para se referir ao Bonde
que, na gíria da periferia carioca, é utilizado para denominar grupos de amigos, por isso é
comum Bonde aparecer em nomes de grupos de funk. “Em todos os casos, ou muito geralmente,
textos humorísticos supõem que o leitor perceba algum jogo de linguagem (um duplo sentido,
um deslocamento etc.)” (POSSENTI, 2013 p.28).Por isso, o jogo de sentidos da formulação
Bonde do James Bond nos leva a pensar tanto no sobrenome do personagem-do agente- quanto
pode se referir a uma expressão bonde (conjunto/grupos de amigos) ou ainda a um nome de
um grupo de funk do Rio de Janeiro. Essa possibilidade de trabalho com o equívoco é muito
produtiva em sala de aula: levar o aluno a considerar os deslizes entre Bond (o sobrenome de
um agente famoso e sério) e bonde que remete, seja a um grupo de amigos, seja a uma
designação de grupos musicais cujo estilo está ligado a bairros da periferia do Brasil. Esse
movimento produz justamente o riso, o humor: no nosso país bonde é alusão à festa, à dança,
“ao requebrar na batida do pancadão” e não à investigação, à espionagem, a um trabalho
profissional.
Já na cena 4, o James Bond brasileiro se fere com a própria arma, provocando um efeito
de sentido que o brasileiro (ou o agente secreto, o Bond brasileiro) é desastrado, não sabe fazer
as coisas direito. Com efeito, sentidos ligados a profissionalismo, à eficiência e à seriedade do
agente secreto James Bond (britânico, bonito e personagem clássico do cinema) são deslocados
e vão jogar justamente com a falha, ineficiência, com o despojamento, no caso do Bond
brasileiro. Interessante notar que o humor justamente coloca em conflito o já-produzido, já-
visto (inscrito na memória) e tangencia o novo, o possível, o diferente.
1.3 E se Moisés fosse brasileiro
Andrei Moscheto é o mestre de cerimônias no vídeo E se Moisés fosse brasileiro(Cenas
improváveis 63)transcrito no quadro 3:
(0min 0s) Andrei Moscheto (com microfone):próximo jogo da noite é o Cenas Improváveis, todo mundo joga.
É... os cenas improváveis vocês,lá fora, escreveram para gente várias sugestões de cenas eu vou ler essas
sugestões, aqui, e os atores tem que fazer na hora a sugestão que vocês deram para gente [...]
(1 min. 8 s) Andrei Moscheto: E se Moisés fosse brasileiro.
CENA 1: Anderson acena para os outros atores se aproximarem e vai para frente. Ele bate um cajado no chão
duas vezes.
Elídio ofegante (olha para trás): os egípcios estão vindo
Anderson (bate o cajado no chão mais uma vez, olha para o lado): Pepe, já bati o cajado.
Andrei toca o sinal marcando o fim dessa cena. Os atores voltam para as cadeiras.
CENA 2: Eles retornam para frente do palco com Daniel Nascimento na frente. Anderson (ofegante): Moisés.
Elídio: Moisés, mas os egípcios, Moisés.
Daniel bate o cajado no chão e olha para o relógio.
Anderson: Mas, Moisés, quando isso vai ficar pronto? (aponta para frente)
Daniel: lá em julho, agora, na copa já vai ficar pronto.
Elídio coloca as mãos na cabeça.
Anderson: vai não. Olha como que está para.
Acaba a cena e os atores retornam para as cadeiras.
CENA 3: Elídio conversa com Anderson.
Andrei (observa a movimentação dos atores): Haaa sabia que tinha.
Os atores vêm para frente. Daniel Nascimento é o primeiro, segurando o cajado.
Gustavo, Anderson e Elídio vem logo atrás.
Gustavo: He He
Elídio: tá rindo do que? (dá um tapinha em Gustavo)
Gustavo: uma piada que contou ali o Jeremias. (apontou para trás)
Elídio sorri.
Daniel(sorri): concentrar aqui, pessoal. (aponta para frente)
Gustavo: desculpa, Moisés. Desculpa mesmo.
Anderson e Elídio estão rindo.
Daniel: mas tem uma boa do egípcio que tava ai.
Andrei toca o sino marcando o fim da cena.
CENA 4: Anderson chama os outros jogadores para nova cena (aparentemente teve uma ideia), mas Daniel já
estava indo para frente. Então todos acompanham Daniel novamente.
Daniel segurando o cajado se abaixa.
Daniel(olha para trás): só um segundo.
Agachado Daniel finge conversar com o mar: O água, tenho aqui quinhentinhos. Metade para lá(sinaliza para
sua direita)metade para cá (sinaliza para sua esquerda).
Andrei toca o sino marcando o fim da cena.
Atores voltam para as cadeiras.
CENA 5: Elídio vem vagarosamente para frente do palco, logo Daniel e Gustavo vem atrás dele. Elídio bate o
cajado no chão. Gesticula com os braços para mostrar que o mar abriu. Elídio(olha para trás):agora, podem
atravessar, mas opa tem um pedágio oh! (olha para cima)
Andrei toca o sinal marcando o fim da cena.
Elídio: Meu Deus. Opa.
Gustavo e Daniel tiram dinheiro do bolso.
Quadro 3. Descrição das cenas improváveis 63
Na cena 1, Anderson mostra que o certo seria ele bater o cajado e “Pepe” fazer o mar
abrir, mas isso não aconteceu, já que ele bateu o cajado três vezes e teve que avisar o Pepe que
já era hora de para abrir o mar, provocando o efeito de sentido que o brasileiro é ineficiente ou
demora para executar as ações previstas.
Para analisar a cena 2 é necessário lembrar, em termos de condições de produção
imediatas, que esse vídeo foi publicado dia 19 de maio de 2014 e a abertura da Copa do mundo
no Brasil ocorreu no dia 12 de junho de 2014. No momento de publicação desse vídeo, era
comum encontrar notícias e reportagens circulando na mídia que destacavam o atraso nas obras
para a Copa do Mundo. De acordo com Possenti (2013), as piadas discutem os mesmos pontos
de vista que apareceram anteriormente em discursos sérios de temas controversos. Isso que os
atores fizeram nesta cena: selecionaram a discussão da demora na construção das obras da Copa
do Mundo e levaram para o contexto de Moisés, provocando o efeito de sentido de que se
Moisés fosse brasileiro, provavelmente, os egípcios alcançariam os hebreus porque o mar
demoraria para abrir.
O brasileiro apresentado na cena 3 leva tudo na brincadeira, tanto que até o líder Moisés,
que, a princípio, pede concentração depois também se rende à brincadeira.
Na cena 4, temos a ilustração de um momento em que o Moisés brasileiro suborna a
água para que eles, os hebreus, pudessem passar. Durante a cena em nenhum momento,
nenhum dos atores explicitaram que se tratava de um suborno. A plateia chega a essa conclusão
por causa de uma sequência de ações ligadas ao plano imagético e corporal: primeiro, falar em
tom de voz mais baixo, dando a impressão de que o que está sendo dito é um segredo, não deve
ser divulgado; segundo, utilizar o diminutivo (quinhentinhos) quando fala do valor, para causar
a impressão de que não é um suborno, seria apenas uma “gratificação” que Moisés daria à água
por colaborar. A plateia interpreta essas ações e identifica isso como uma característica do
brasileiro, por isso ri. Vale dizer que a esquete de humor traz imagens/ações corporais já
ditas/vistas que convocam a representação do Brasil como país do jeitinho/da malandragem ou
do “tirar vantagem”, rememorando sentidos constitutivos do imaginário nacional brasileiro. O
riso se produz justamente no deslocamento da figura do Moisés bíblico, o homem que
apresentou ao seu povo a tábua dos 10 mandamentos e foi um grande líder. No caso do
personagem, o Moisés brasileiro, o deslocamento se dá, tanto pelo brasileiro não representar
um primor de virtudes quanto pelo Moises do Brasil absurdamente não poupar nem as águas
do mar do oferecimento de propina.
A mudança de sorte dos judeus ganha destaque na cena 5. A princípio, eles estavam
fugindo, quando chegam ao mar acreditam que serão pegos pelos egípcios, na sequência,
Moisés abre o mar e os judeus voltam acreditar que é possível fugir, depois, Moisés quer cobrar
um pedágio dos hebreus para deixá-los passar, dificultando a fuga novamente. Além de toda
essa peripécia na cena, percebemos que o cajado na mão de Moisés se transforma em uma
cancela de pedágio e Moisés ainda finge surpresa. Esse modo de significar o Brasil como país
de alta carga tributária, que cobra da população pesados impostos, está relacionado a uma
memória que ressoa, na formulação imagética e corporal dos atores em cena, a partir da imagem
dos egípcios que não podem transitar livremente, da representação corporal da cobrança de
uma taxa, da expressão facial de sarcasmo (opa, mas tem um pedágio), do objeto cajado que,
no jogo cênico, passa a representar uma cancela de pedágio. O deboche se dá no deslize de um
objeto que passa a significar outro: de cajado a cancela, o brasileiro não é o mestre que guia,
mas aquele que paga impostos.
1.4 E se Sherlock Holmes fosse brasileiro
Andrei Moscheto é o mestre de cerimônias no vídeo E se Sherlock Holmes fosse
brasileiro (Cenas improváveis 64), publicado no youtube no dia 26 de maio de 2014, descrito
no quadro 4:
(1) (0min 0s) Andrei Moscheto (com microfone):cenas improváveis, senhoras e senhores. Todo mundo joga.
Cenas improváveis o que acontece aqui:eles... vocês escreveram ideias, sugestões de cenas, lá fora, e a gente
vai ler essas sugestões aqui e eles vão ter que fazer as primeiras ideias que eles tiverem com o que vocês
sugeriram [...]
(3 min.15s) Andrei Moscheto: E se Sherlock Holmes fosse brasileiro.
CENA 1: Elídio Sanna e Anderson se aproximam da plateia. Elídio segurando uma lupa: Elementar meu caro
Wellington... como isso aconteceu. (a plateia aplaude e eles retornam para as cadeiras).
CENA 2: Daniel Nascimento gesticula convocando Elídio para participar da cena.
Daniel anda com a cabeça baixa fingindo estar procurando alguma coisa com a lupa. Se aproxima de Elídio e
diz: Ah! achei o culpado.
Elídio tira dinheiro do bolso e dá para Daniel que retorna pelo mesmo caminho que veio e diz: E ele fugiu não
sei como. Andrei Moscheto toca a campaninha marcando o fim da cena. Plateia aplaude.
CENA 3: Anderson e Elídio se aproximam da plateia. Anderson fingindo fumar um cachimbo e Elídio fingindo
estar procurando alguma coisa com uma lupa.
Elídio: Watson??
Anderson: Sim
Elídio: dá um pega desse crack (estende a mão e finge pegar o cachimbo do Anderson, que começa a se retorcer
e emitir sons).
CENA 4: Daniel se aproxima da plateia: Eu sou Watson direto para você ai, Datena.
Anderson: obrigado, waf wazi wa... qual é seu nome mesmo?
Daniel: Watson
Anderson: Watson. Obrigado, Watson. Agora vamos.. (plateia aplaude)
Quadro 4. Descrição das cenas improváveis 64
Na cena 1, há uma mudança no nome do ajudante que originalmente é Watson para
Wellington, um nome mais popular no Brasil. De acordo com o Censo Demográfico 2010, no
Brasil há mais pessoas que tem como primeiro nome Wellington/Welington/Welinton do que
as que têm como primeiro nome Watson/Watsom/Whatson (quadro 5). Os atores fizeram um
abrasileiramento do nome.
Nome Quantidade de pessoas Total
Whatson 23
1.281 Watsom 44
Watson 1.214
Wellington 77.126
159.765 Welington 50.631
Welinton 32.008
Quadro 5. Frequência dos nomes Watson e Wellington no Brasil
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010
Na cena 2, a ação do Elídio de tirar algo do bolso e entregar para Daniel/Sherlock causa
o efeito de sentido de que Sherlock Homes fora subornado. Destacamos a importância da
linguagem corporal para esta cena, se considerarmos apenas as falas entendemos que o culpado
realmente fugiu, assim não haveria humor.
A plateia acredita que Anderson/Watson está fumando um cachimbo, na cena 3,
somente depois que Elídio revela que se trata de crack o Anderson começa a se retorcer,
evidenciando os efeitos do uso da droga. Novamente, imagens já vistas, em outras condições
de leitura, que representam uma rede de formulações visuais sobre uso de drogas, são
convocadas para a produção de um efeito na plateia. Fumar cachimbo que, no caso de Sherlock
Homes, representa uma prática para “esclarecer a mente”, na cena de humor desliza para outra
região de sentidos: o cachimbo de fumar crack, droga tida como bastante pesada e de efeito
rápido que causa alta dependência no usuário. Novamente, assim como no jogo cajado/cancela
pedágio, o cachimbo do detetive é o cachimbo de um “brasileiro” consumidor de crack.
Se Sherlock Holmes fosse brasileiro, na cena 4, o seu ajudante Watson seria
correspondente do programa policial Brasil Urgente e o apresentador não lembraria o seu
nome. O Brasil Urgente é apresentado por José Luiz Datena e por se tratar de um programa ao
vivo já aconteceram vários erros/ confusões do apresentador; dos mais conhecidos foram
quando Datena confundiu Band, a emissora que ele trabalha, com a Record e também, em outra
situação, quando chamou seu repórter Marcelo Moreira de Marcelo Rezende, apresentador que
é seu concorrente. Os atores (re)lembraram essas situações para produzirem a cena e o riso se
produz nessa relação entre o dito e o já-dito/visto.
2 ABORDAGEM DISCURSIVA DAS CENAS DE HUMOR
Percebemos que a plateia ri em vários momentos nas cenas analisadas. De acordo com
Possenti (2013), o riso é a manifestação clara do funcionamento do humor. O nosso objetivo é
conduzir os alunos do ensino médio a compreenderem os diferentes recursos de que os atores
lançaram mão para provocar esse riso e considerar a opacidade do dizer na leitura do vídeo,
atrelando o verbal, o visual e outras linguagens em sua constituição.
Para que os alunos compreendam tais recursos e os possíveis efeitos de sentidos ligados
ao humor dos atores, elaboramos uma proposta de atividades. Algumas perguntas servem para
o aluno refletir sobre a situação (condição de produção em um sentido micro) e os sujeitos no
momento de produção da cena. As condições de produção observadas incluem os atores, a
plateia, o teatro, o momento sócio-histórico da produção das cenas e qualquer elemento que
possa produzir efeitos na produção do discurso. Para a AD o sentido é determinado pelas
posições ideológicas colocadas em jogo no contexto em que as palavras foram produzidas. Por
isso, consideramos a possibilidade dessas cenas serem acessadas em outro momento por meio
dos vídeos, no canal do Youtube, por exemplo, ou mesmo ser compartilhado em mídias sociais,
blogs, entre outros.
As outras perguntas/atividades são destinadas, especificamente, a cada frase encenada
E se Beethoven fosse brasileiro, E se James Bond fosse brasileiro, E se Moisés fosse brasileiro,
E se Sherlock Holmes fosse brasileiro; mas antes de trabalhar cada cena é necessário trabalhar
a história de leitura dos alunos, as leituras já realizadas, que vão determinar a compreensão do
texto. Para perceber qual é o imaginário de brasileiro construído na cena, é necessário saber
quais as características são prototípicas do personagem original e que constituem um
imaginário eficaz sobre a brasilidade.
CONCLUSÕES
Com base na análise prévia dos vídeos e na formulação de atividades, buscamos
contemplar o fato de que os efeitos de humor são produzidos pelos atores, ao relacionarem
pessoa/personagem conhecido mundialmente com pessoas e tendências populares no Brasil.
As regularidades de sentidos para a identidade brasileira que as cenas constroem colocam a
imagem do brasileiro como desastrado, que resolve tudo com suborno, transforma tudo em
festa. Na cena E se James Bond fosse brasileiro o imaginário de sensualidade e erotismo
ligados ao Brasil é representado quando o nome espião Bond se transforma, deriva para Jamis
Bunda.
Julgamos interessante trabalhar a dimensão subjetiva da identidade do aluno, ao
problematizar que nos vídeos o brasileiro é representado como descontraído, ou seja, que faz
as coisas de modo bagunçado/atrapalhado ou não muito eficiente: nas cenas E se Beethoven
fosse brasileiro, no momento que os maestro regem; E se James Bond fosse brasileiro, na
propaganda política, o candidato brinca com o nome do agente, quando o agente atira em si
mesmo, quando quem chega é o Bonde do James Bonde e esse começa a requebrar na batida
no funk, de apresentadores que se confundem e cometem equívocos na apresentação de
programas. O humor permite que Bond, sobrenome do agente, ganhe diversos sentidos: bonde
do Funk, grupo de amigos, bunda, Bond no sentido de um agente com nota baixa e pouca
eficiência, ou um agente que usa o cachimbo do crack. Para tanto, os atores convocam um já-
dito de que o brasileiro não consegue chegar lá ou de não é tão bom quanto o agente James
Bond ou ainda de que o brasileiro é sempre inferior aos estrangeiros, em termos de
avaliação/notas.
Já nas cenas E se Sherlock Holmes fosse brasileiro e, E se Moisés fosse brasileiro, as
imagens/ações corporais já ditas/vistas convocam a representação do Brasil como país do
jeitinho/da malandragem ou do “tirar vantagem”, rememorando sentidos constitutivos do
imaginário nacional brasileiro. Os objetos cênicos que remetem à seriedade (cajado de Moisés
e o cachimbo de Sherlock) são deslocados para a produção do deboche da identidade do
brasileiro (cajado é cancela de pedágio e cachimbo é o cachimbo de fumar crack). Acreditamos
que ler é saber que o sentido pode ser outro e os alunos podem produzir suas leituras quando
um cajado tem outros sentidos, quando o cachimbo é deslocado.
Das dezesseis cenas analisadas, o brasileiro foi apresentado como inferior ou ineficiente
em quatro cenas (25%); a ação do suborno ou o “jeitinho brasileiro” foi representado em duas
cenas (12,5%). Nos vídeos que analisamos percebemos que no momento da improvisação, é
comum os autores recorrerem a personalidades populares ou a fatos relevantes naquele ano.
Isso acontece por dois fatores: o primeiro, é por causa do objetivo dos jogadores que é o fazer
com que o maior número de pessoas entendam/conheçam a quem eles estão se referindo para
produzir o humor; o segundo, é por causa do formato do espetáculo, que, por se tratar de uma
cena de improviso, exigem que os jogadores encenam a primeira coisa de que se lembram, e
mais uma vez o que é popular/atual no contexto atual se destaca.
Enfim, nosso esforço na análise prévia dos vídeos e na formulação da proposta de leitura
apresentada foi justamente produzir práticas de leitura em que a opacidade e a polissemia do
dizer e da imagem, no funcionamento do humor, fossem vistas como aspectos produtivos e
instigantes em sala de aula.
Com efeito, procuramos não somente explorar a relação verbal e visual na abordagem
das materialidades verbo/visuais (vídeos de humor), como também mobilizar questões ligadas
à memória, ao já-dito e às condições de produção dos vídeos, o que pode representar para o
ensino de língua materna, neste caso especificamente para práticas escolares de leitura, novas
possibilidades de abordagem do texto, um novo olhar para a linguagem compreendida como
aberta e polissêmica.
Referências
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CENAS improváveis #63. E se Moises fosse brasileiro.Direção de Elídio Sanna.Coordenação
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