A identidade na era da internet

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A identidade na era da internet Fichamento do livro: TURKLE, Sherry. A vida no ecrã: a identidade na era da internet. Lisboa: Relógio D´Água, 1997. Título original: Life on the Screen (1995)

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Fichamento parcial do livro de Sherry Turkle - A vida no ecrã: a identidade na era da internet (1997). Título original: Life on the Screen.

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A identidade na era da internetFichamento do livro:

TURKLE, Sherry. A vida no ecrã: a identidade na era da internet. Lisboa: Relógio D´Água, 1997.

Título original: Life on the Screen (1995)

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Apresentação para a aula da Profa. Lúcia Santaella

Regimes de sentido na hipermídia e nas redes: identidades e subjetividades nas novas mídias

Área de Concentração: Signo e significação nas mídias

Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP

Agosto/2011

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Duas estéticas, dois discursos

MODERNIDADE PÓS-MODERNIDADE

• Cultura do cálculo.• Transparência, profundidade, controle.• Programadores.• Computador é como um carro que pode ser controlado (IBM).

• Cultura da simulação.• Opacidade, superfície, interface.• Usuários (dependência e sedução).• Computador é como um amigo com quem se pode conversar (Macintosh).

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Duas estéticas, dois discursos

MODERNIDADE PÓS-MODERNIDADE

A transparência de poder ver as “engrenagens” sob a superfície-> O que é que faz isto funcionar?-> O que está acontecendo ali dentro?

A transparência de poder ver, em ícones atraentes e fáceis de interpretar, documentos e programas.-> Pastas, arquivos, lixeiras.

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Duas estéticas, dois discursos

“A vida real é só mais uma janela e normalmente não é a que mais me agrada” (p.18).

“[...] as janelas tornaram-se uma poderosa metáfora para pensar no eu como um sistema múltiplo e fragmentado. O eu já não se limita a desempenhar diferentes papeis em cenários e momentos diferentes [...]. A prática vivida nas janelas é a dum eu descentrado que existe em muitos mundos e desempenha muitos papeis ao mesmo tempo” (p.18).

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Facetas do euAceitação e rejeição de analogias com “a máquina”.

Humano e maquínico: diferentes, iguais, complementares?

Imaginário cyborg, tecno-corpos.

Novas formas de organizar a produção e acesso ao conhecimento.

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Facetas do eu

“O advento desse discurso utópico em torno da descentralização coincidiu com a crescente fragmentação da sociedade em que vivemos. Muitas das instituições que costumavam reunir as pessoas – a rua principal duma localidade, a sede dum sindicato, uma associação de munícipes – já não cumprem a função de outrora. Muitas pessoas passam a maior parte do dia sozinhas, diante do ecrã duma televisão ou dum computador. Ao mesmo tempo, como seres sociais que somos, estamos a tentar (nas palavras de McLuhan) retribalizar-nos. E, nesse processo, o computador desempenha um papel central” (p. 262).

multiplicidade

heterogeneidade

flexibilidade

fragmentação

descentralização

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O ego é uma ilusão!

“Uma das contribuições mais revolucionárias de Freud foi ter proposto uma visão radicalmente descentrada do eu, mas a sua mensagem foi várias vezes obscurecida por alguns de seus seguidores, que insistiam em atribuir ao ego uma autoridade executiva superior no governo do eu. Todavia, estas tendências recentralizadoras foram por sua vez questionadas periodicamente por membros do próprio movimento psicanalítico. As ideias jungianas sublinharam que o eu é o lugar de encontro de diversos arquétipos. A teoria das relações objectais referiu o modo como as coisas e as pessoas que povoam o mundo vêm viver dentro de nós. Mais recentemente, os pensadores pós-estruturalistas tentaram descentrar o ego duma forma ainda mais radical. Na obra de Jacques Lacan, por exemplo, os complexos encadeamentos de associações que constituem o significado para cada indivíduo não conduzem a qualquer instância final ou nuclear. Sob a bandeira de um regresso a Freud, Lacan insistia que o ego é uma ilusão. Com isto, ele estabelece a ponte entre a psicanálise e a tentativa pós-moderna de retratar o eu como um domínio discursivo, e não uma coisa real ou uma estrutura permanente da mente humana” (p. 263).

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A rápida alternância entre diferentes identidades não era uma experiência facilmente acessível. Nem bem vista.

“FORJAR” UMA IDENTIDADE

Metáfora da solidez dos metais: valor central de uma identidade nuclear. Apesar dos diferentes papeis e máscaras sociais, a alternância ficada sob controle bastante apertado. Na era moderna: vigarista, bígamo, o travesti, a “personalidade desdobrada”, Dr. Jekyll e Mr. Hyde.

A DESMARGINALIZAÇÃO DAS IDENTIDADES MÚLTIPLAS

“Agora, na era pós-moderna, as identidades múltiplas perderam grande parte do seu caráter marginal. Muitas pessoas apreendem a identidade como um conjunto de papeis que podem ser misturados e acoplados” (p.265).

Facetas do eu

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IDENTIDADE MULTIFORME

IDENTIDADE SATURADA

IDENTIDADE FLEXÍVEL

Novas formas de se conceber a questão da identidade (sociologia e psicologia):

Facetas do eu

Vidas paralelas

Superação de si próprio

Anonimato

Desempenho de papeis

Intimidade

Projeção

Transposição entre fronteiras

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Internet como laboratório social para experimentação de construções e reconstruções do eu que caracterizam a vida pós-moderna. “Na sua realidade virtual, moldamo-nos e criamo-nos a nós mesmos” (p. 265).

“Que tipo de identidades alternativas adotamos? Que relações existirão entre estas e aquilo que tradicionalmente encarávamos como a pessoa ‘inteira’? Encaramo-las ocmo uma expansão do eu ou como algo de separado do eu? E as nossas personalidades da vida real têm algo a aprender com as nossas identidades virtuais? Estas identidades virtuais serão fragmentos duma personalidade coerente da vida real? [...] Será a expressão de uma crise de identidade, do tipo que associamos tradicionalmente à adolescência? Ou estamos a assistir à lenta emergência dum novo estilo de pensamento, de natureza múltipla, acerca da mente?” (p. 265-266).

Facetas do eu

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Crise de identidade

“Cada era constrói as suas próprias metáforas, tendo em vista o bem-estar psicológico do indivíduo. Há não muito tempo, a estabilidade era socialmente valorizada e culturalmente reforçada. Papeis rígidos atribuídos a cada um dos sexos, trabalho repetitivo, o desejo de ter o mesmo tipo de emprego ou permanecer na mesma cidade ao longo de toda a vida, tudo isto fazia da consistência um elemento central nas definições de saúde. No entanto, estes mundos sociais estáveis entraram em colapso. Nos nossos dias, a saúde é descrita em termos de fluidez, mais do que estabilidade. O que conta é a capacidade de mudar e adaptar-se – a novos empregos, novas perspectivas de carreira, novos papeis atribuídos a cada um dos sexos, novas tecnologias” (p. 381).

Identidade virtual como elemento vocativo para pensar o eu

Brincar com máscaras e pensar nas máscaras que são utilizadas no dia-a-dia

A problematização do eu – antes dado como “natural”

Descoberta da natureza múltipla

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Crise de identidade

Cérebros colonizados – seres saturados pelas muitas vozes da humanidade

Estado contínuo de construção, reconstrução – tudo é relativizado!

Impossibilidade de existência de um centro (ou de um centro coeso)

Êxtases do ser múltiplo: “Embora no início as pessoas possam se sentir angustiadas ante aquilo que entendem como um colapso da identidade, Gergen acredit que elas poderão vir a abraçar as novas possibilidades que se lhes oferecem. As noções individuais de eu desaparecem, dando lugar ao ‘primado das relações’. Deixamos de acreditar num eu independente da teia de relações na qual estamos mergulhados” (p. 384-385).

Como podemos ser múltiplos e coerentes?

O que é o eu quando funciona como uma sociedade? (p.388)

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Crise de identidade

“[...] a profusão de manifestações de multiplicidade na nossa cultura, incluindo a adoção de personalidades online, está a contribuir para uma revisão generalizada das noções unitárias, tradicionais, de identidade” (p.389).

“Num extremo, o eu unitário mantém a sua unidade reprimindo todos os aspectos dissonantes. Assim censuradas, as partes ilegítimas do eu não são acessíveis. Como é óbvio, este modelo funcionaria melhor no âmbito duma estrutura social razoavelmente rígida, com regras e papeis claramente definidos. No outro extremo do continuum vamos encontrar indivíduos afetados por PPM, cuja multiplicidade existe no contexto duma rigidez igualmente repressiva. [...] Todavia, se o que caracteriza as perturbações da personalidade múltipla é a necessidade de erigir barreiras rígidas entre as diferentes facetas do eu (bloqueando os segredos que essas facetas protegem), então o estudo das PPM talvez possa abrir caminho a formas de encarar a personalidade saudável como não-únitária mas com acesso fluido entre as suas múltiplas facetas. Assim, para além dos extremos do eu unitário e das PPM, podemos imaginar um eu flexível” (p. 390).

Perceber a diversidade interna é conhecer nossas limitações, nosso caráter incompleto (p. 391).

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Crise de identidade

“Hoje em dia, todos nós sonhamos sonhos de cyborgs” (p. 395).“[...] para Gibson, o jogador de vídeo-game já se fundiu com o computador. O jogador de vídeo-game já é um cyborg, ideia que Gibson incorporou numa mitologia pós-moderna. Ao longo da última década, tais mitologias têm vindo a reformular a nossa percepção da identidade coletiva” (p. 396-397).Os computadores, “através da realidade virtual, permitem-nos passar uma maior parcela do nosso tempo imersos nos nossos sonhos” (p. 399).

Somos todos habitantes de um LIMIAR

Lógica formal x BricolageNatureza do real x Cultura de simulação

“E nos computadores ligados em rede das nossas vidas quotidianas, as pessoas estabelecem interações cativantes que dependem inteiramente das suas

autorepresentações online. [...] E, contudo, a noção de realidade contra-ataca. Os indivíduos que vivem vidas paralelas no ecrã não deixam por isso de estar limitados

pelos seus desejos, pela dor e pela mortalidade de sua pessoa física” (p. 400).

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Crise de identidade

“A adoção de pontos de vista múltiplos suscita um novo discurso moral. Eu tenho afirmado que a cultura da simulação pode ajudar-nos a alcançar uma visão duma identidade múltipla mas integrada, cuja flexibilidade, elasticidade e capacidade de

alegrar-se advém do fato de ter acesso às muitas personalidades que nos constituem. Todavia, se entretanto nos tivermos divorciado da realidade, ficaremos claramente a

perder” (p. 401).

“As imagens seduzem quem as vê. São mais ricas e mais cativantes do que a vida real” (p. 402).

“Alguns de nós sentem-se tentados a encarar a vida no ciberespaço como algo de insignificante, uma fuga à realidade ou uma diversão sem grandes implicações. Estão

enganados. As nossas experiências no reino do virtual são uma coisa séria. Submestimá-las é correr sérios riscos. Devemos compreender a dinâmica das

experiências virtuais para antever quem poderá estar em perigo, bem como para utilizar essas experiências de forma mais útil” (p. 402).

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Cíntia Dal Bello

Doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, bolsista CAPES.Mestre em Comunicação e Semiótica também pela PUC-SP, sua pesquisa versa sobre

Cibercultura e Subjetividade, com particular interesse pelas emergentes redes sociais.

E-mail: [email protected]: www.cintiadalbello.blogspot.com

Twitter: @cintiadalbelloFacebook: Cíntia Dal Bello