A Igreja Na Idade Média

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História da Igreja

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A Igreja na Idade Mdia

A Igreja na Idade Mdia

A Idade Mdia o termo usado para o perodo situado entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Conceito estipulado no perodo do Renascimento Cultural (sculo XVI) voltado somente para a regio da Europa Ocidental, ou seja, no h Idade Mdia na frica, Japo, China. Cada um desses locais possuem denominaes prprias para esse perodo.

Tem como marco inicial o ano de 476 d.C (com o fim do Imprio Romano no Ocidente tomada de Roma, pelo imperador germnico Odoacro) e tem seu trmino no ano de 1453 d.C (com o fim do Imprio Romano no Oriente - Tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos).

Em meio desorganizao administrativa, econmica e social produzida pelas invases ou migraes germnicas e ao esfacelamento do Imprio Romano, praticamente apenas a Igreja Crist, com sede em Roma, conseguiu manter-se como instituio. Vemos os Vndalos na frica, os Visigodos na Hispania, os Francos na Glia, os Anglos e Saxes nas Ilhas Britnicas, os brbaros (Germnicos) na Itlia. Consolidando sua estrutura religiosa, a Igreja foi difundindo o cristianismo entre os povos brbaros, que um a um iam se convertendo ao cristianismo, recebendo no s direo espiritual como temporal. Essa capacidade de organizar-se provei do tempo em que era perseguida, considerada uma seita, perseguida, a Igreja crist conseguiu organizar-se, de modo que no apenas consegui levantar sua casa como tambm fortific-la.

Naquela poca, logo depois do Primeiro Sculo, diversas interpretaes da doutrina crist e outras religies pags se faziam presentes no contexto europeu. Foi atravs do Conclio de Niceia, em 325, que se assentaram as bases religiosas e ideolgicas da Igreja Catlica Apostlica Romana. Atravs da centralizao de seus princpios e da formulao de uma estrutura hierrquica, a Igreja teve condies suficientes para alargar o seu campo de influncias durante a Idade Mdia. Organizada em dioceses cuja sede ficava em uma cidade, eram presididas por um bispo sendo auxiliado pelos diconos. Nas reas rurais as funes religiosas eram desempenhadas por um padre ou presbtero.

Quando o cristianismo passou a ser a religio oficial do Imprio Romano, tornou-se mais complexa e sua organizao passou a ter em cada cidade das provncias imperiais um bispo que foi chamado de arcebispo, ficando o Patriarca de Roma acima de todos; este tinha o direito de se proclamar sucessor de Pedro. Valendo-se de sua crescente influncia religiosa, a igreja passou a exercer importante papel em diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de unificao, diante da fragmentao poltica da sociedade feudal. Aproveitando-se da expanso do cristianismo, observada durante o fim do Imprio Romano, a Igreja alcanou a condio de principal instituio a disseminar e refletir os valores da doutrina crist.

Estabelecida em uma sociedade marcada pelo pensamento religioso, a Igreja esteve nos mais diferentes extratos da sociedade medieval. A prpria organizao da sociedade medieval (dividida em Clero, Nobreza e Servos) era um reflexo da Santssima Trindade. Alm disso, a vida terrena era desprezada em relao aos benefcios a serem alcanados pela vida nos cus. Dessa maneira, muitos dos costumes dessa poca estavam influenciados pelo dilema da vida aps a morte.

Alm de se destacar pela sua presena no campo das ideias, a Igreja tambm alcanou grande poder material. Durante a Idade Mdia ela passou a controlar grande parte dos territrios feudais, se transformando em importante chave na manuteno e nas decises do poder da nobreza. A prpria exigncia do celibato foi um importante mecanismo para que a Igreja conservasse o seu patrimnio. O crescimento do poder material da Igreja chegou a causar reaes dentro da prpria instituio.

Aqueles que viam na influncia poltico-econmica da Igreja uma ameaa aos princpios religiosos comearam a se concentrar em ordens religiosas que se abstinham de qualquer tipo de regalia ou conforto material. Essa ciso nas prticas da Igreja veio subdividir o clero em duas vertentes: o clero secular, que administrava os bens da Igreja e a representava nas questes polticas; e o clero regular, composto pelas ordens religiosas mais voltadas s praticas espirituais e a pregao de valores cristos.

Sob outro aspecto, a Igreja tambm teve grande monoplio sob o mundo letrado daquele perodo. Exceto os membros da Igreja, pouqussimas pessoas eram alfabetizadas ou tinham acesso s obras escritas. Por isso, muitos mosteiros medievais preservavam bibliotecas inteiras onde grandes obras do Mundo Clssico e Oriental eram preservadas. So Toms de Aquino e Santo Agostinho, por exemplo, foram dois membros da Igreja que produziram tratados filosficos que dialogavam com os pensadores da Antiguidade. Os Padres da Igreja

Os tempos de ouro da Patrstica foram os sculos IV e V, embora possa se entender que se estenda at o sculo VII a chamada "idade dos Padres". Os principais Pais do Oriente foram: Eusbio de Cesaria, Santo Atansio, Baslio de Cesaria, Gregrio de Nisa, Gregrio Nazianzo, So Joo Crisstomo e So Cirilo de Alexandria. Os principais Padres do Ocidente so: Santo Agostinho, autor das "Confisses", obra prima da literatura universal e Santo Ambrsio; Eusbio Jernimo, dlmata, conhecido como So Jernimo que traduziu a Bblia diretamente do hebraico, aramaico e grego para o latim. Esta verso a conhecida Vulgata, cuja autenticidade foi declara pelo Conclio de Trento. Outros pais que se destacaram foram So Leo Magno e Gregrio Magno, este um romano com vistas para a Idade Mdia, as suas obras "os Morais e os Dilogos" sero lidas pelos intelectuais da Idade Mdia, e o canto "gregoriano" permanece vivo at os dias de hoje. Santo Isidoro de Sevilha, falecido em 636, considerado o ltimo dos grandes padres ocidentais.

A Cristandade medieval ocidental , em certa medida, a continuadora da Cristandade antiga, a do Imprio Cristo dos sculos IV e V. No contexto medieval, acentuaram-se muito mais a situao de unanimidade e conformismo, obtida por um consenso social homogeneizador e normatizador, consenso este favorecido pela constituio progressiva de uma vasta rede paroquial e clerical. As instituies todas tendiam, pois, a apresentar um carter sacral e oficialmente cristo, onde predominava, em geral, a tutela do clero.

O Bispo de Roma, o Papa Gelsio I (492-496) efetuou a distino entre o poder temporal dos imperadores e o espiritual dos papas, considerando superior o poder destes ltimos. Envia um documento ao imperador do Oriente (Anastcio). Definiu a teoria dos dois poderes: o poder temporal (poder do imperador) e o poder espiritual (poder dos bispos). Os bispos, de acordo com essa teoria, seriam superiores ao poder temporal. Estabelecido ainda que a figura do papa no poderia ser julgada por ningum. Dizia que o papel do Pontfice era antes ouvir do que julgar.

Com So Bento de Nursia (529), uma retomada e revigoramento dos mosteiros. Os ermites (Ermo significa desertos) atuavam sozinhos e passam a se organizar em pequenos grupos. So Bento traa uma regra, dando uma forma a vida monstica, a qual passa a ser copiada em outros mosteiros. O mosteiro deveria ser autossuficiente e autogovernado. A pobreza e a castidade deveriam ser a sua lei. O chefe da comunidade, o abade, deveria ser eleito pelos monges. Todo homem que desejasse tornar-se monge deveria prestar votos de obedincia, de converso de vida - promessa de melhorar espiritualmente e de estabilidade, prometendo ligar-se por toda a vida comunidade monstica. O dia do monge dividia-se em momentos de orao, de trabalho manual ou espiritual, produziam seu prprio alimento e era absolutamente proibido arriscar a sade por desordenados jejuns Ora et Labora. Vivendo pela regra, os monges acabaram sendo chamados o clero regular, diferenciando-se do clero secular, que inclua os que viviam no mundo. No era necessrio buscar mosteiros distantes, mas se santificar com aqueles que convive. Deu forma ao monasticismo medieval. Ao longo da Idade Mdia vemos que os mosteiros preservam as escrituras sagradas, tornam-se refgio, guardam as obras de arte e cultura.

Houve ento uma grande expanso do movimento monstico. Os monges de Cluney, os Camldulos, Cartuxos e Circenses viriam em vrios graus reviver a prtica dos primeiros cristos de existncia austera em local isolado.

Tendo que os chefes brbaros no se dispunham ao penoso trabalho burocrtico, coube Igreja oferecer uma variedade de servios sociais como assistncia aos pobres, cuidados aos doentes e, atravs dos seus ensinamentos, diminuir as exploses gerais de violncia. Com isso a Igreja envolveu-se em uma rede burocrtica de intenso poder, dando aos clrigos valiosos privilgios.

Em 768 Carlos Magno e seu irmo, Carlomano, herdaram o imprio do pai Pepino, o Breve, que ficou conhecido por unificar o sistema monetrio, colocando funcionrios do reino para monopolizar a cunhagem de moedas, prtica que ficou esquecida com a queda do Imprio Romano. Pepino, o Breve, com a sano do Papa Zacarias destronou o ltimo dos rei merovgios e apossou-se da coroa. So Bonifcio ungiu Pepino, o Breve com os santos leos e persuadiu-o tambm a regularizar sus relaes com a Rainha Bertrada, legitimando o filho de ambos. Como gratido Pepino defende o Papa Estevo III, sucessor de Zacarias, contra os lombardos do norte da Itlia e oferece ao papa as terras tomadas aos lombardos, cujo nico vestgio hoje o Estado do Vaticano.

Em 799 o papa Leo III pede auxlio a Carlos Magno para manter o pontificado, e no natal do mesmo ano coroa Magno como imperador do ocidente. Enquanto o imperador apoiava o poder papal pois queria o reconhecimento do Imprio do Oriente e por mediao papal vem este reconhecimento a Santa S Romana mantinha sua hegemonia na Europa ocidental. Sua relao com a Igreja foram mais estreitas que a de seu pai, para benefcio mtuo. Conquistava a Europa com a bandeira da cristandade e atravs de um edito determinou que aos saxes aceitar o batismo ou morrer. Construiu inmeras igrejas e mosteiros e foi dele que surgiu a discusso sobre a palavra Filioque (e do filho) sugerindo que ela fosse acrescentada ao Credo de Nicia, explicando assim que o Esprito Santo procedia no apenas de Deus Pai, mas tambm de Deus Filho, Jesus Cristo. Essa doutrina aceita com relutncia pelo papa foi causa de cisma entre os cristos gregos e latinos.

Carlos Magno governou com a seguinte estratgia: o poder era centralizado em sua mo e as principais decises do reino passavam pelo seu julgamento, mas cada nobre tinha uma certa autonomia sobre suas terras que muitas das vezes eram terras doadas pelo imperador, que cobrava fidelidade aos nobres, que por sua vez ajudavam a defender as fronteiras do imprio.

Com o tempo, cada nobre passou a distribuir fraes de suas terras a outros nobres, cobrando-lhes fidelidade. Essa cadeia de relaes comea no imperador, o nico a ser somente suserano, e termina no campons, o nico que apenas vassalo. Alm disso, o clero tinha livre trnsito no reino.

Aps a morte de Carlos Magno, em 814, o Imprio Carolngio perdeu fora. As terras do imprio foram divididas e os grandes senhores feudais ficaram entregues a si prprios. A terra era a sua fora. Pois, ao concederem as terras, poderiam exigir vassalagem em troca. Quando o recebedor era um bispo ou um abade, ficava este sob a dupla vassalagem, devia simultaneamente ao seu superior eclesistico e ao seu suserano leigo.

No falecimento de um bispo ou abade, o suserano laico afirmava seu direito de escolher o sucessor, afirmando que sendo celibatrio, o homem de igreja no possua herdeiros e segundo sua opinio, as terras assim vacantes voltariam ao seu poder. E tendo ele o direito de decidir quem deveria governar dentro de seus domnios e investir no cargo o homem escolhido, inclua a o direito de conferir ao bispo o anel e a cruz pastorais.

Essa prtica deu lugar ao crescimento de um vcio grandemente nocivo moral crist: a simonia, que a compra e venda dos cargos eclesisticos.

A Igreja desce ento a um lamentvel estado de degradao. Nesses momentos em que a Igreja parece naufragar que aparece a assistncia de Deus. Surge uma nova ordem monstica, a ordem Cluney, fundada pelo Duque Guilherme o Piedoso, da Aquitnia, na Frana em 910, com a tarefa de limpar a imundice da casa de Deus.

A Ordem de Cluny foi uma das mais marcantes. Partindo da Regra de So Bento, a Ordem cluniacense construiu uma gigantesca rede de mosteiros filiados, sempre em obedincia Abadia de Cluny. A vida monstica contemplativa no impedia uma participao decisiva nas questes polticas.

O xito da ordem Cluny se deu pela elevada espiritualidade que se cultivava em seus mosteiros. Ao contrrio do que havia acontecido at ento, o mosteiro de Cluny e as comunidades dependentes dele foram reconhecidas como isentas da jurisdio dos bispos locais e submetidas diretamente do Pontfice Romano e graas precisamente proteo e ao nimo dos pontfices, os ideais de pureza e de fidelidade, que a reforma cluniacense pretendia buscar, puderam difundir-se rapidamente. Alm disso, os abades eram eleitos sem interferncia alguma por parte das autoridades civis, ao contrrio do que acontecia em outros lugares.

A ordem Cluny teve grande influncia no despertar da vida monstica e representou um estmulo para combater dois graves males que afligiam a Igreja daquela poca: a simonia, isto , a compra de cargos pastorais, e a imoralidade do clero leigo. Com as migraes germnicas e a queda do Imprio Romano no ocidente (476) os bispos comeam a buscar a unificao. Apelam para a elite romana Romanitas, que passam a defender os valores cristos. Os reis brbaros vo se convertendo ao longo dos anos. Vemos a ao do papa Gregrio I, o Magno (590-604) assinala que todo o poder foi dado ao alto aos meus senhores para ajudar os homens a fazer o bem. Assim os bispos e o Imperador e os reis tm a funo de ajudar o bem e punir o mal. Primeiro papa monge, intitulava-se Servidor dos Servidores de Deus. Aproveitou-se da falncia imperial na Itlia para assumir o poder temporal. Desligou-se da influncia bizantina e aproximou-se dos germnicos. Visigodos, subios e lombardos se converteram. Agostinho foi Inglaterra e converteu os anglo-saxes. Os escritos de Gregrio Magno instruram o clero e fortaleceram a religiosidade dos fiis. Sua Regra Pastoral serviu de manual para os padres em toda a Idade Mdia.- As CruzadasAtendendo ao apelo dopapa Urbano II, em 1095, foram organizadas na Europa expedies militares conhecidas como cruzadas (esses missionrios assim se chamavam pela cruz de pano que levavam na veste), cujo objetivo oficial era conquistar os lugares sagrados do cristianismo (Jerusalm, por exemplo) que estavam em poder dos muulmanos e turcos. Entretanto, alm da questo religiosa, outras causas motivaram as cruzadas: a mentalidade guerreira da nobreza feudal, canalizada pela Igreja contra inimigos externos do cristianismo (os muulmanos); e o interesse econmico de dominar importantes cidades comerciais do Oriente. Os cristos eram estimulados pelas indulgncias que lhes prometiam o perdo dos pecados e a posse do cu. De 1095 a 1270, a cristandade europia organizou oito cruzadas, tendo como bandeira promover guerra santa contra os infiis. Era a guerra santa, justa, pois eles estavam difamando o santo sepulcro, a terra santa. Foram, ao todo, oito grandes incurses. Vemos a Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096), Primeira Cruzada (1096-1099), Segunda Cruzada (1147-1149), Terceira Cruzada (1189-1192), Quarta Cruzada (1202-1204), Cruzada Albigense, Quinta Cruzada (1217-1221), Sexta Cruzada (1228-1229), Stima Cruzada (1248-1250), em maro de 1270, o rei Lus IX, So Lus, decide organizar uma nova cruzada - Oitava Cruzada (1270), a qual fracassa e ele morre em combate.

-Querela das InvestidurasA Questo das Investiduras refere-se ao problema de a quem caberia o direito de nomear sacerdotes para os cargos eclesisticos, ao papa ou ao imperador. No sculo X, o imperadorOto I, do Sacro Imprio Romano Germnico, iniciou um processo de interveno poltica nos assuntos da Igreja a fim de fortalecer seus poderes. Fundou bispados e abadias; nomeou seus titulares (abades leigos) e, em troca da proteo que concedia ao Estado da Igreja, passou a exercer total controle sobre as aes do papa. Durante esse perodo, a Igreja foi contaminada por um clima crescente de corrupo, afastando-se de sua misso religiosa e, com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras (nomeaes) feitas pelo imperador s visavam os interesses locais. Os bispos e os padres nomeados colocavam o compromisso assumindo com o soberano acima da fidelidade ao papa. No sculo XI surgiu um movimento reformista, visando recuperar a autoridade moral da Igreja, liderado pela Ordem Religiosa de do mosteiro de Cluny (Frana). Esses ideais foram ganhando fora dentro da Igreja, culminando com a eleio, em 1073, do papa Gregrio VII, antigo monge daquela ordem reformista.

-A Reforma Gregoriana (Sculo XI)Os papas escolhidos passam a ser de origem germnica (monges), logo os papas romanos saem de cena, pois os primeiros no teriam parte com a poltica local. Com isso as reformas tm inicio com esses papas de origem monstica, com amplas mudanas decima para baixo, hierarquizada, uma reforma das instituies. Hildebrando, reformador ligado ao movimento de Cluny, tinha acesso ao papa e, sob sua influncia,Nicolau IIcriou em 1059 o Colgio dos Cardeais, com finalidade de eleger o papa, limitado o cesaropapismo. Primeiro, h uma reforma do clero, contra os abusos existentes, das instituies (reformadaIgreja). Tambm havia a necessidade da mudana dos coraes, dos pensamentos (reformanaIgreja). A reforma viria do papado, passaria pelos bispos, presbteros e monges at chegar aos leigos. Esse esprito de reforma foi lento e progressivo, aos poucos, vemos os abusos sendo retirados. Em 1073, Hildebrando foi eleito papa, com o nome deGregrio VII. Instituiu totalmente o celibato dos sacerdotes, em 1074, e proibiu que o imperador investisse sacerdotes em cargos eclesisticos, em 1075. O Imperador alemo Henrique IV reagiu dando o papa como deposto. Desenvolveu-se, ento, um conflito aberto entre o poder temporal do imperador e o poder espiritual do papa. O papa considerou o imperador igualmente deposto, excomungando-o, e proibindo os vassalos de lhe prestar servio, sob pena de excomunho. H uma interdio (sem batismos, sem eucaristia, sem extrema uno). Henrique foi ao Castelo de Canossa em 1077 e pediu perdo ao papa, que o concedeu. Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata de Worms, assinada pelopapa Calixto IIIe pelo imperador Henrique V. Adotou-se uma soluo de meio termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos (representada pelo bculo), isto , antes de assumir a posse da terra de um bispado, o bispo deveria jurar fidelidade ao imperador.

-Hospitalrios (Ordem dos)O ideal cavalheiresco da Idade Mdia levou criao de vrias instituies de apoio aos doentes internados, ordem leiga de carter assistencialista (1113), hospital para os peregrinos que vinham feridos e cansados.

-Os TemplriosOrdem fundada em Frana (1119) para lutar contra os infiis. O nome veio-lhes da casa que tiveram em Jerusalm sobre as runas de uma mesquita (cavaleiros da Ordem doTemplo). Fazem votos dados pelo patriarca de Jerusalm. Em 1129, v-se a implantao militar. Prestaram notveis servios na Terra Santa e no Sul da Europa, chegando a ter 5 provncias e 4000 membros. oficializada em 1199. As benesses recebidas de reis e papas deram-lhes grande poder financeiro, o que levouFilipe o Belo, rei de Frana, a acus-los, com a conivncia da Inquisio, de crimes graves, obrigando o Papa (Clemente V) a suprimi-los. Muitos foram mortos. Os seus bens, em Frana, foram confiscados pelo rei; em Portugal, passaram para a Ordem de Cristo, fundada por D. Dinis.- OCisma do Ocidente (1378-1417)Resultante da coexistncia de papas e antipapas foi fruto de rivalidades dentro e fora da Igreja. No h um cisma de fato, pois o que se dividiu a obedincia a dois papas e no obedincia eclesial.

Aps a morte do papa Gregrio XI, h um conclave com 16 cardeais e depois de muitas dificuldades elegem um italiano, Urbano VI. Ele era intransigente, rude, indelicado e os cardeais assinalam que querem rever a deciso e pedem a sua renncia. Ele rejeita. Grande parte dos cardeais vo para Npoles e realizam novo Conclave, elegendo Clemente VII. A Igreja passa a ter dois papas. Eles ficam emAvinho(Frana). A obedincia fica dividida, ambos governando. Estados que apoiavam Urbano VI (Escandinvia, Flandres, Inglaterra, o Imperador e a maioria dos prncipes) usam a fora para destituir Clemente VII (apoiado pelos parentes do rei da Frana Carlos V, Esccia, Castela), como uma cruzada. Essa seria a Via Facti. Os reis, os prelados, os procos, as ordens religiosas tomam partido e ajudam nessa adeso de obedincias. Em 1394, morre Clemente VII e eleito Bento XIII. Tambm morre Urbano VI e eleito Gregrio XII. Continuam dois papas a governar. Em 1409, os dois grupos buscam uma via conciliar para resolver a situao, com o Conclio de Pisa, destituem os dois papas e elegem Alexandre V (com a maior parte das Ordens Religiosas decididas a fazer uma inteira reforma na Igreja). Os dois papas no aceitam e a igreja passa a ser governada por 3 papas. Alexandre V morre e eleito Joo XXIII (nome depois cancelado e renascido somente no sculo XX - e j no ano seguinte tomou posse da catedra romana). Apenas em 1417, vemos uma soluo: Joo XXIII se demite, Gregrio XII abdica e Bento XIII deposto e se isola na Catalunha, sem apoio. Martinho V (1417-1431) eleito e traz a unicidade novamente. Retorna para Roma. Em 1439, ainda teramos o antipapa Flix V, contudo, no avana tal fato.

-A InquisioTribunal eclesistico para averiguar e julgar os acusados de heresia. A sua instituio jurdica data de 1232 (Inquisio Medieval); pelo papa Gregrio IX, para disciplinar as freqentes prticas persecutrias da parte do povo e dos prncipes, muitas vezes sob a forma de linchamentos. A desmoralizao pblica era a maior pena para os hereges condenados pelos inquisidores (bispos).

No sc. XI apareceu uma heresia fantica e revolucionria, como no houvera at ento: o Catarismo (do grego kathars, puro) ou o movimento dos Albigenses (de Albi, cidade da Frana meridional, onde os hereges tinham seu foco principal). Em geral, a Inquisio quando condenava um herege entregava-o aobrao secular, para lhe aplicar o castigo previsto nasrespectivas leis e costumes,incluindoa morte na fogueira. A Igreja aplicava a condenao espiritual, no outro mundo. O seu funcionamento dependia muito dos inquisidores, que eram normalmente dominicanos, alguns deles elevados s honras dos altares (como S. Pedro de Verona, morto s mos dos Ctaros). Devem reconhecer-se, alm da crueza prpria dos costumes de ento, verdadeiros abusos e injustias (como a condenao dos Templrios e de Sta. Joana de Arc). Ficou tambm clebre a condenao (sem execuo) de Galileu.

Nos sculos. XV e XVI, a Inquisio foi reorganizada para enfrentar a heresia protestante, em geral, a pedido dos prncipes catlicos. Em Espanha foi autorizada em 1478, em moldes que a fazia depender muito do poder civil. Em Portugal teve acuao moderada desde o sc. XIV, mas s se tornou particularmente rigorosa com D. Manuel I e D. Joo III, pelas medidas discriminatrias contra judeus e cristos-novos.AInquisio inconcebvel para a atual mentalidade, mas a sua correta apreciao deve ter em conta os tempos em que vigorou, em que a heresia era sentida comoperigo grave para a unidade da Igreja e do Estado, e em que as penas aplicadas eram comuns no direito corrente dos povos. A Igreja aplicava as penas espirituais (na outra vida), tais como a excomunho. Os condenados pela inquisio eram entregues s autoridades administrativas do Estado, que se encarregavam da execuo das sentenas seculares. As penas aplicadas a cada caso iam desde a confiscao de bens at a morte em fogueiras.

A interveno do poder secular exerceu profunda influncia no desenvolvimento da inquisio. As autoridades civis anteciparam-se na aplicao da forma fsica e da pena de morte aos hereges; instigaram a autoridade eclesistica para que agisse energicamente; provocaram certos abusos motivados pela cobia de vantagens polticas ou materiais.OBS.: De resto, o poder espiritual e o temporal na Idade Mdia estavam, ao menos em tese, to unidos entre si, que lhes parecia normal recorrer um ao outro em tudo que dissesse respeito ao bem comum. Quanto a Inquisio Romana instituda no sc. XVI era herdeira das leis e da mentalidade da lnquisio medieval.Em nossos tempos, o Papa Joo Paulo II pediu perdo repetidamente por falhas dos filhos da Igreja. de notar que no mencionou falhas da igreja, mas falhas dos filhos da Igreja. Implicitamente retomou a distino entre pessoa e pessoal da Igreja: pessoa seria a Igreja Esposa de Cristo, que o Senhor vivifica e qual garante a fidelidade ao Evangelho; pessoal seriam os fiis, que nem sempre obedece s normas da Santa Me Igreja. O pecado est na Igreja, mas no da Igreja; resqucio da velha criatura dentro da novidade da criatura oriunda do Batismo e da insero em Cristo.(in: BETTENCOURT, E. in:Na Histria da Igreja luzes e sombras)

Mesmo contando com tamanho poder e influncia, a Igreja tambm sofreu com manifestaes dissidentes. Por um lado, as heresias, seitas e ritos pagos interpretavam o texto bblico de forma independente ou no reconheciam o papel sagrado da Igreja. Em 1054, a Cisma do Oriente marcou uma grande ruptura interna da Igreja, que deu origem Igreja Bizantina.

No cabe a ns querer criminalizar ou repudiar a Igreja dos dias de hoje, com base nas suas aes passadas. As questes e prticas dessa instituio no so exatamente iguais quelas encontradas entre os sculos V e XV. Dessa maneira, ao darmos conta do papel desempenhado por essa instituio religiosa, durante a Idade Mdia, obtemos uma grande fonte de reflexo sob tal perodo histrico.