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A iluminação artificial na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seus efeitos sobre os ciclos circadianos dos pacientes Dezembro/2016 ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A iluminação artificial na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seus efeitos sobre os ciclos circadianos dos pacientes Felipe Loposzinski – [email protected] Master em Arquitetura e Iluminação Instituto de Pós-Graduação - IPOG Porto Alegre, RS, 23 de maio de 2016 Resumo O presente estudo buscou identificar de que modo a iluminação artifical utilizada nas Unidades de Terapia Intensivas (UTIs) sem iluminação natural expressiva influencia no quadro clínico dos pacientes. Procurou-se a relação da luminotécnica com o número de internados nessas unidades que acabam sendo vítimas de condições causadas pela perda do ciclo circadiano, como o delirium, um estado agudo de confusão mental que pode prejudicar a recuperação clínica dos pacientes. A Iluminação Circadiana Adaptativa simula as diferentes temperaturas de cor da luz do sol no decorrer do dia e, assim, colabora para diminuir a perda da percepção da luz natural, podendo ser uma alternativa no tratamento e prevenção do agravo de condições patológicas nesses ambientes. Na busca dessa hipótese, foi realizada uma revisão bibliográfica da literatura especializada em Arquitetura, Luminotécnica e Medicina. Os resultados encontrados indicam que a Iluminação Circadiana Adaptativa de fato apresenta o potencial de reajustar o ritmo biológico em pacientes internados em ambientes fechados como as UTIs. Conclui-se que o projeto da luminotécnica voltado para o emprego adequado da luz artificial apresenta benefícios reais no contexto de condições médicas como o delirium, que ocorrem nos pacientes em espaços hospitalares complexos. Palavras-chave: Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Iluminação Circadiana Adaptativa. Ciclo Circadiano. Delirium. 1. Introdução A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma unidade hospitalar para pacientes que necessitam de cuidados intensivos por uma equipe especializada composta por profissionais de diferentes áreas: médicos intensivistas, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos em enfermagem, psicólogos, nutricionistas, secretários e auxiliares de limpeza.

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ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016

A iluminação artificial na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seus efeitos sobre os ciclos circadianos dos pacientes

Felipe Loposzinski – [email protected] Master em Arquitetura e Iluminação Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Porto Alegre, RS, 23 de maio de 2016

Resumo O presente estudo buscou identificar de que modo a iluminação artifical utilizada nas Unidades de Terapia Intensivas (UTIs) sem iluminação natural expressiva influencia no quadro clínico dos pacientes. Procurou-se a relação da luminotécnica com o número de internados nessas unidades que acabam sendo vítimas de condições causadas pela perda do ciclo circadiano, como o delirium, um estado agudo de confusão mental que pode prejudicar a recuperação clínica dos pacientes. A Iluminação Circadiana Adaptativa simula as diferentes temperaturas de cor da luz do sol no decorrer do dia e, assim, colabora para diminuir a perda da percepção da luz natural, podendo ser uma alternativa no tratamento e prevenção do agravo de condições patológicas nesses ambientes. Na busca dessa hipótese, foi realizada uma revisão bibliográfica da literatura especializada em Arquitetura, Luminotécnica e Medicina. Os resultados encontrados indicam que a Iluminação Circadiana Adaptativa de fato apresenta o potencial de reajustar o ritmo biológico em pacientes internados em ambientes fechados como as UTIs. Conclui-se que o projeto da luminotécnica voltado para o emprego adequado da luz artificial apresenta benefícios reais no contexto de condições médicas como o delirium, que ocorrem nos pacientes em espaços hospitalares complexos.

Palavras-chave: Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Iluminação Circadiana Adaptativa. Ciclo Circadiano. Delirium.

1. Introdução

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma unidade hospitalar para pacientes que necessitam de cuidados intensivos por uma equipe especializada composta por profissionais de diferentes áreas: médicos intensivistas, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos em enfermagem, psicólogos, nutricionistas, secretários e auxiliares de limpeza.

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O paciente assistido em uma UTI perde seu contato direto com familiares e pessoas próximas, sendo destituído, mesmo que temporariamente, da sociedade, de suas atividades e rotinas e do seu ambiente habitual. Áreas como as UTIs, onde a eficiência dos profissionais é a prioridade, devem oferecer a maior quantidade de luz possível. Esse setor precisa ser iluminado satisfatoriamente para que médicos e enfermeiros trabalhem e, com isso, acaba por interferir no conforto dos pacientes que precisariam de um ambiente o mais acolhedor possível para se recuperar.

Algumas condições de saúde que surgem em pacientes internados nesse espaço hospitalar complexo são decorrentes da inserção e permanência desse indivíduo em um ambiente, na maior parte das vezes, não humanizado. Sabe-se que ambientes agradáveis diminuem a ansiedade e a dor, interferindo diretamente na cura. Inclusive a literatura médica já refere que ambientes frios e impessoais têm sido associados a um maior tempo de internação e a uma maior dosagem de medicação contra a dor (FRANCK 1998:434). Um dos mais prevalentes e graves transtornos em pacientes nessas condições é conhecido como delirium. O delirium é comum nas UTIs, principalmente em idosos. È uma síndrome clínica caracterizada por distúrbio agudo da consciência, perda da atenção e disfunção cognitiva. Essa condição pode estar presente em até 80% dos pacientes em terapia intensiva e mostra-se como um fator independente de efeitos adversos nesse ambiente hospitalar, incluindo risco de morte, permanência alongada no hospital e aumento de custos (WEINHOUSE 2009:234).

No delirium, o paciente pode apresentar sintomas como agitação excessiva ou hipoatividade, confusão mental, agressividade, perda da consciência de si mesmo apresentando comportamentos inadequados, alterações do sono e emocionais e perda de memória.

Acredita-se que o delirium é causado pela perda de funções cerebrais ocorridas, em grande parte, por alterações dos ciclos circadianos do indivíduo. Os ciclos circadianos são ciclos biológicos internos necessários para regular o organismo com a alternância entre dia e noite e com as mudanças de estações durante o ano, preparando o organismo para as diferentes necessidades metabólicas. Essas alterações nos ciclos circadianos podem ser decorrentes de condições próprias do paciente - como doenças e medicações em uso - ou do ambiente, incluindo nesse item, as questões relacionadas à falta de iluminação natural.

Com base no exposto acima, quais os procedimentos em arquitetura, mais precisamente no campo da luminotécnica, poderiam ser adotados para promover a melhoria dos ambientes hospitalares críticos mantendo as condições naturais que auxiliem o tratamento dos pacientes internados e evitem condições médicas que possam agravar sua situação de saúde, especialmente causadas pelo delirium?

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Este trabalho tem como objetivo revisar na literatura tópicos sobre luminotécnica nos ambientes hospitalares de alta complexidade, como as UTIs, e agravos de saúde associados aos espaços não humanizados, buscando a relação desses temas entre si e procurando perspectivas de melhoria para a redução desses problemas.

2. Metodologia Foi realizada uma revisão bibliográfica da literatura especializada em Arquitetura, Luminotécnica e Medicina para a busca de conceitos a respeito da construção de espaços hospitalares complexos - especialmente as UTIs -, relação desses espaços não humanizados com a alteração das condições de saúde e a importância da aplicação desses conceitos na arquitetura hospitalar.

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3. O ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) A UTI é o local destinado à internação de pacientes com instabilidade clínica e com potencial de gravidade, ou seja, que precisam ter seus sinais vitais monitorados constantemente. Por ser um ambiente de alta complexidade, é um local reservado e único no ambiente hospitalar, já que exige monitorização completa e vigilância 24 horas. Em grande parte das vezes não possui janelas para a rua, sendo a iluminação totalmente artificial. Pode ser dividida em Unidade Adulta, Pediátrica e Neonatal. Possui uma equipe de atendimento multiprofissional e interdisciplinar. O objetivo básico das UTIs é dar suporte ou recuperar as funções vitais dos pacientes enquanto eles se recuperam, sendo equipadas com aparelhos como respiradores artificiais, aparelhos de hemodiálise e diversos outros, que reproduzem as funções vitais dos internados. Cada leito contém monitores cardíacos, cama elétrica, oximetria de pulso e rede de gases (Figuras 1 e 2). Na UTI busca-se dar conforto e ausência de dor aos pacientes internados. Em casos mais graves, principalmente quando há necessidade da ventilação mecânica no paciente, é iniciada a sedação (tranquilizante e indutor de sono) e a analgesia (abolição da dor) contínuas, que podem levar à inconsciência total e sonolência profunda. Neste estágio, chamado de coma induzido, não há dor, não há frio e a percepção do paciente é interrompida. O tempo e o espaço são suprimidos, sendo que pacientes que permanecem meses na Unidade percebem apenas como se fossem horas.

O paciente da UTI perde o contato direto com familiares e pessoas próximas e é retirado, ainda que temporariamente, da sociedade e das suas atividades e rotinas, sendo obrigado a relacionar-se com desconhecidos e a expor-se a situações constrangedoras em um ambiente diferente e inóspito, deparando-se com outros pacientes, muitas vezes em condições piores que a sua. O paciente precisa ter preservadas algumas de suas necessidades como individualidade, privacidade, presença da família, respeito às suas crenças, culturas e opiniões acerca de seu tratamento.

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Figura 1 – Layout Área de Internação de Unidade de Terapia Intensiva

Fonte: SOMASUS (2015)

Figura 2 – Equipamentos Área de Internação de Unidade de Terapia Intensiva

Fonte: SOMASUS (2015)

O Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde (SOMASUS) é uma ferramenta para auxiliar gestores e técnicos de instituições de saúde a planejar, avaliar e elaborar projetos de investimentos em infraestrutura. O SOMASUS foi criado pelo Ministério da Saúde, permitindo a realização de consultas acerca de aspectos relacionados à estrutura física dos estabelecimentos assistenciais de saúde, além de possibilitar a classificação desses por ambientes e serviços, objetivando a elaboração de projetos mais condizentes com as atividades a serem desenvolvidas e, portanto, mais efetivos e eficientes com a rede assistencial adotada. Esse Sistema oferece informações como: lista de serviços de saúde e seus respectivos ambientes físicos, layouts dos ambientes físicos, esquema de relação funcional entre os

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ambientes, tipos e quantidades de equipamentos, mobiliário e materiais permanentes, referências bibliográficas de normas relativas à infraestrutura dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (Anexo 1). O conteúdo do Sistema está baseado na normativa vigente, como portarias ministeriais e resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Visando a uma mudança a nível nacional, o Ministério da Saúde cria, em 2001, o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), com o objetivo de humanizar a assistência hospitalar prestada aos pacientes atendidos nos hospitais públicos, e, em 2003, juntamente com os demais programas de humanização preexistentes, o PNHAH transforma-se em uma Política Nacional de Humanização, o Humaniza-SUS, abrangendo a saúde pública como um todo, na tentativa de melhorar a qualidade e eficácia dos serviços prestados pelas instituições de saúde (Tabela 1). Importante observar que as diretrizes do Humaiza-SUS não se referem em momento algum à arquitetura, mas somente aos recursos humanos.

Ampliar o diálogo entre os trabalhadores, entre trabalhadores e a população e entre os trabalhadores e a administração, promovendo a gestão participativa, colegiada e compartilhada dos cuidados/atenção; Implantar, estimular e fortalecer Grupos de Trabalho e Câmaras Técnicas de Humanização com plano de trabalho definido; Estimular práticas de atenção compartilhadas e resolutivas, racionalizar e adequar o uso dos recursos e insumos, em especial o uso de medicamentos, eliminando ações intervencionistas desnecessárias;

Reforçar o conceito de clínica ampliada: compromisso com o sujeito e seu coletivo, estímulo a diferentes práticas terapêuticas e co-responsabilidade de gestores, trabalhadores e usuários no processo de produção de saúde; Sensibilizar as equipes de saúde ao problema da violência em todos os seus âmbitos de manifestação, especialmente a violência intrafamiliar (criança, mulher, idoso), a violência realizada por agentes do Estado (populações pobres e marginalizadas), a violência urbana e para a questão dos preconceitos (racial, religioso, sexual, de origem e outros) nos processos de recepção/acolhida e encaminhamentos; Adequar os serviços ao ambiente e à cultura dos usuários, respeitando a privacidade e promovendo a ambiência acolhedora e confortável; Viabilizar participação ativa dos trabalhadores nas unidades de saúde por meio de colegiados gestores e processos interativos de planejamento e de tomada de decisão;

Implementar sistemas e mecanismos de comunicação e informação que

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promovam o desenvolvimento, a autonomia e o protagonismo das equipes e da população, ampliando o compromisso social e a co-responsabilização de todos os envolvidos no processo de produção da saúde; Promover ações de incentivo e valorização da jornada de trabalho integral no SUS, do trabalho em equipe e da participação do trabalhador em processos de educação permanente em saúde que qualifiquem sua ação e sua inserção na rede SUS; Promover atividades de valorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações voltadas para a promoção da saúde e qualidade de vida no trabalho.

Tabela 1 – Diretrizes Humaniza-SUS Fonte: Humaniza-SUS (2010)

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4. Iluminação em UTI A internação intensiva caracteriza-se por ser um setor servido de altos recursos técnicos e humanos, no intuito de abrigar pacientes graves, prestando assistência médica e monitoramento durante 24 horas. A iluminação das tarefas visuais desenvolvidas pela equipe médica é a prioridade neste setor, já que pode influenciar na manutenção da vida dos pacientes. Contudo, o conforto visual dos pacientes também precisa ser garantido (AS/NZS, 1997). A iluminação dos quartos da unidade de internação deve conciliar as necessidades visuais dos diversos usuários, considerando que o campo visual dos pacientes é predominantemente o teto (IESNA, 1995; AS/NZS, 1997). Assim, o sistema lumínico artificial deve ser composto por iluminação geral e iluminação localizada para leitura, exames e vigília, as quais destinam-se a atender tarefas visuais específicas.

A iluminação geral fica normalmente nas áreas de corredores e postos de enfermagem e participa do campo visual dos pacientes nos leitos ou boxes. Desta forma, as luminárias destes espaços devem ser protegidas da visão direta, evitando o ofuscamento dos acamados (IESNA,1995). Os visores dos aparelhos devem estar protegidos do ofuscamento da iluminação, já que a sua leitura não pode ser comprometida. A iluminação localizada para leitura, instalada na cabeceira do leito, destina-se às atividades individuais do paciente, podendo servir também à enfermagem para a execução de procedimentos corriqueiros, como a administração de medicamentos. Esta iluminação considera a posição do paciente reclinado no leito, assumindo uma linha de visão a cerca de 1,20m de altura acima do piso (IESNA, 1995). É importante que a iluminação não fique atrás de sua cabeça quando a cama for inclinada. Além disso, a iluminação localizada para leitura deve ser individual nas enfermarias, de modo a não perturbar o paciente do leito ao lado. A iluminação localizada para exames destina-se a atender as tarefas visuais da equipe médica na realização de procedimentos de precisão. Caracteriza-se por uma distribuição luminosa concentrada, podendo focalizar o centro da tarefa. Essas luminárias são, em geral, portáteis, e conduzidas ao quarto quando necessário. São recomendadas lâmpadas com alta capacidade de reprodução das cores para a correta identificação das cores azul da cianose e amarelo da icterícia na pele dos pacientes (IESNA, 1995). A iluminação localizada de vigília auxilia na orientação e locomoção dos acompanhantes e equipe de enfermagem quando as outras luminárias estão apagadas. As luminárias, localizadas a 50 cm do piso (BRASIL, Port. 1884/94) podem ser distribuídas nas paredes, considerando as dimensões do quarto. No que diz respeito à iluminação natural, as aberturas, quando existentes, geralmente encontram-se na cabeceira dos leitos, não permitindo aos pacientes a vista ao exterior. A luz natural está presente, porém limitada e apenas para iluminar as tarefas visuais e outras atividades executadas nestes espaços. Isso ocorre pela necessidade de instalar os pontos elétricos na parede da fachada e pela facilitação do atendimento imediato em

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ambos os lados do leito, permitindo o acesso de carrinho de emergência e qualquer outro equipamento móvel sem obstruções, além de localizar-se no centro de visão do posto de enfermagem. É importante assinalar que essa tática não se deve a imposições da legislação, mas a um critério totalmente de projeto.

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5. Percepção da luz no olho humano Os receptores visuais localizam-se na retina, revestimento interno do olho, posterior à íris. Os impulsos nervosos chegam à retina após passar pelo cristalino (a lente do olho) e, através do nervo óptico, devem atingir a parte posterior do cérebro, conhecida como lobo occipital: essa é a via óptica. (Figura 3) Na parte posterior da retina, em linha com o centro da pupila, ou seja, com o eixo visual de cada olho, existe a mácula, no centro da qual se nota uma depressão, a fóvea central. A mácula corresponde à área da retina onde a visão é mais distinta. A visão nas partes periféricas não maculares da retina é pouco nítida e a percepção das cores se faz precariamente.

Os prolongamentos periféricos das células fotossensíveis são os receptores da visão, cones ou bastonetes. (Figura 3)

Figura 3 – Anatomia do olho humano

Fonte: elaboração própria (2016)

Os raios luminosos que incidem sobre a retina devem atravessar suas camadas internas para atingir os fotorreceptores, cones ou bastonetes. Os bastonetes são adaptados para a visão com pouca luz. Nos animais de hábitos noturnos, a retina é constituída predominantemente por bastonetes. Os cones são adaptados para a visão com luz de maior intensidade e para a visão de cores. Nos animais de hábitos diurnos, o predomínio é quase total de cones. No homem, o número de bastonetes é cerca de 20 vezes maior que o de cones. Contudo, a distribuição dos dois tipos de receptores não é uniforme. Assim, enquanto nas partes periféricas da retina predominam os bastonetes, o número de cones aumenta progressivamente à medida que se aproxima da mácula, até que ao nível da fóvea central existem exclusivamente cones (MACHADO, 2003:302).

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Embora nossos olhos sejam responsáveis por trazer a maior parte das informações do mundo externo, eles não são capazes de revelar tudo. É possível ver apenas objetos que emitam ou sejam iluminados por ondas de luz em nosso alcance de percepção, que representa somente 1/70 de todo o espectro eletromagnético.

Quando os raios de luz provenientes de um objeto atravessam o olho, formam uma imagem real e invertida localizada exatamente sobre a retina para que ela seja nítida. A retina transmite as informações ao cérebro, através do nervo óptico, que processa uma inversão da imagem fazendo com que vejamos o objeto na sua posição normal. O olho humano enxerga radiações luminosas entre 4.000 e 8.000 Angströns (unidade de comprimento de onda). O homem e o macaco são os únicos mamíferos capazes de enxergar cores (TORMANN, 2006:54).

6. Características da cor da luz Um dos principais atributos da luz é a sua temperatura de cor, que não se refere ao calor físico da fonte luminosa, mas sim ao tom de cor que ela dá ao ambiente. A temperatura de cor é medida em Kelvin (K) e, em geral, em lâmpadas, varia de 2.700 a 7.000 K, sendo a de 2.700K com tom mais avermelhado (quente) e a de 7.000K com tom mais azulado (frio).

O sol, nossa fonte de luz natural, varia sua temperatura de cor no decorrer do dia: amanhece com tom mais avermelhado, torna-se mais azulado no meio do dia, voltando ao tom mais quente no pôr-do-sol (Figura 4). Esse fenômeno regula as atividades diárias dos seres humanos em uma cascata biológica conhecida como ciclo circadiano.

Figura 4 – Variação da temperatura de cor da luz do sol ao longo do dia

Fonte: elaboração própria (2016)

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Sendo assim, fontes de luz artificial devem reproduzir as temperaturas de cor ideais para cada atividade conforme o período em que é executada: atividades de maior relaxamento pedem luz de temperatura de cor mais baixa, enquanto a luz de temperatuta de cor mais alta é ideal para ações que exijam maior vigor.

Para medir a qualidade da reprodução de cor de uma luz artificial, é usado o Índice de Reprodução de Cor (IRC). O IRC serve para medir o quanto a luz artificial consegue imitar a luz natural, portanto é medido a partir da comparação com a luz do sol, a qual foi atribuído o IRC 100. Sendo assim, quanto mais próximo do índice 100, mais fielmente as cores são vistas. Aquilo que conseguimos enxergar é o reflexo da luz sobre os objetos. Sabendo-se que os pigmentos contidos nos objetos absorvem determinadas cores e refletem outras, o IRC da lâmpada utilizada vai influenciar diretamente na qualidade da percepção real da cor. Adicionalmente, cabe ressaltar que o IRC independe da temperatura de cor da lâmpada.

7. O ciclo circadiano O ritmo biológico de cada indivíduo é regulado por um relógio interno, inerente aos seres vivos, que controla as diversas funções do organismo respeitando um ciclo sono/vigília, que se repete aproximadamente a cada 24 horas e compreende o controle da temperatura, da pressão arterial, a produção de hormônios, a sensação de fome e a atividade de vários órgãos. No final dos anos 90, a descoberta da proteína que converte o sinal luminoso em impulso elétrico, ampliou as pesquisas e experiências científicas a respeito dos efeitos da luz sobre os ciclos biológicos conhecidos como ciclos circadianos. Uma área da ciência - a cronobiologia - surgiu para se ocupar do estudo da organização temporal dos seres vivos.

Os ciclos circadianos são, primariamente, sincronizados com a variação da luz ambiente. A mudança da intensidade luminosa natural e a redução do componente azul na radiação do sol, coloca o organismo em sintonia com a passagem do dia para a noite provocando a produção de um hormônio - a melatonina - que favorece o sono. Decorridas cerca de 12 horas, o ritmo circadiano antecipa as necessidades do dia, produzindo um outro hormônio - o cortisol - que aumenta o ritmo do metabolismo e prepara o corpo para as atividades de maior vigor (Figura 5).

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Figura 5 – Ciclo circadiano com a variação da luz e alterações correspondentes no organismo humano

Fonte: adaptado de NUPEHA (2015)

Uma iluminação artificial intensa, por exemplo, rompe a informação fornecida pela iluminação natural e desregula o ciclo circadiano do indivíduo. Segundo a cronobiologia, além dos aspectos relativos ao sono (que desde o início são associados ao ciclo circadiano), atualmente existem diversas doenças relacionadas ao rompimento do balanço desses ciclos biológicos.

Conforme assinalado pelo NUPEHA (2015), a iluminação artificial por si só não apresenta efeitos negativos sobre a saúde. O que se constata é que a distribuição dos comprimentos de onda da iluminação artificial é que necessita regulação durante o dia e a noite para proporcionar ao organismo o sinal correto e colocar o corpo em sintonia com a natureza.

8. O Delirium Delirium é uma disfunção cerebral comum e grave com diversos efeitos adversos e alto risco de mortalidade. É uma condição muito prevalente no contexto dos pacientes

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internados em UTIs. A consciência de que o delirium requer a instituição de terapia específica imediata e medidas efetivas de prevenção vem aumentando nos últimos anos.

Essa condição atinge de 30% a 50% dos pacientes de UTI não intubados e pode estar presente em até 80% dos pacientes com necessidade de ventilação mecânica, ou seja, em condições clínicas mais graves (WEINHOUSE, 2009:234; SCHIEMANN, 2011:131).

A literatura médica enfatiza que essa condição ainda é pouco reconhecida e tardiamente detectada nos pacientes, o que acarreta prolongamento das internações hospitalares, atraso no início do tratamento específico, aumentos dos custos e, em última análise, dificuldade na tomada de medidas preventivas efetivas.

Define-se delirium como uma disfunção cerebral aguda com alterações na consciência, atenção, percepção e cognição. Os pacientes com esse distúrbio podem ser classificados na forma hiperativa (que inclui agitação), hipoativa (na qual podem apresentar ansiedade e alucinações, mas sem a expressão adequada dos sintomas, sendo, por isso, menos diagnosticado) e mista (inclui os dois tipos de apresentação clínica). A Tabela 2 mostra os sinais e sintomas que podem estar presentes no paciente com delirium:

Agitação Hipoatividade Confusão mental Agressividade Uso de palavras inadequadas Desatenção Não consegue saber a hora do dia Alucinações visuais Comportamentos diferentes dos habituais Distúrbios do sono Alterações emocionais Movimentos anormais (como tremores) Alterações de memória

Tabela 2 – Sinais e sintomas de delirium Fonte: elaboração própria (2016)

Atualmente, a teoria mais aceita para a origem do delirium é o distúrbio dos neurotransmissores envolvidos no ritmo do ciclo circadiano (SCHIEMANN, 2011:131). Essas alterações ocorrem especialmente no contexto da perda de referenciais de dia e noite baseados na luz ambiental.

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Segundo Van Rompaey (2009), podemos determinar quatro domínios de fatores de risco para delirium no contexto de UTI: características do paciente, doença crônica prévia, doença aguda e ambiente. Esses domínios estão apresentados na Figura 6.

Figura 6 – Quatro domínios de fatores de risco para delirium na UTI

Fonte: adapatado de Schiemann (2011)

Após o diagnóstico de delirium em um paciente internado na UTI, diversas medidas farmacológicas devem ser adotadas para o tratamento dessa condição. A maioria desses fármacos interagem de forma negativa com as outras possíveis condições clínicas do paciente e, dessa forma, causam piora dos sintomas, aumento do tempo de permanência no hospital e elevado risco de mortalidade. Em vista disso, a literatura médica é unânime em recomendar medidas não-farmacológicas para a prevenção e mesmo para o tratamento do delirium. Essas recomendações passam diretamente pela arquitetura hospitalar humanizada e projeto luminotécnico adequado.

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A iluminação artificial na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seus efeitos sobre os ciclos circadianos dos pacientes Dezembro/2016

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9. Iluminação Circadiana Adaptativa Com o advento e a flexibilidade dos LEDs (Light Emitting Diodes), cada vez mais lâmpadas e sistemas vem sendo desenvolvidos com o intuito de não só minimizar o efeito nocivo da luz artificial sobre os ciclos circadianos, como também ajudá-los com o uso modulado da intensidade e do comprimento de onda da iluminação, desta forma permitindo ao organismo a restauração dos ciclos naturais.

Philips, GE e Osram já disponibilizam sistemas especializados de iluminação circadiana adaptativa, e a California Lighting Technology Center (CLTC) inaugurou recentemente a Honda Smart Home como modelo real. A iluminação de LED usada em toda a Honda Smart Home é projetada para dar suporte à saúde e ao bem-estar dos ocupantes da casa. A Honda trabalhou com pesquisadores da CLTC para explorar uma nova lógica de controle de cor circadiano. Imitando as mudanças naturais na luz do dia que acontecem da manhã à noite, o projeto de iluminação circadiano-friendly permite que os ocupantes selecionem cenas de iluminação que complementam os seus ritmos circadianos e ajudam na visão noturna. As luzes da noite cor âmbar no corredor, por exemplo, fornecem luz suficiente para se deslocar pela casa na escuridão sem esgotar o fotopigmento no olho humano chamado rodopsina que ajuda os seres humanos a enxergar em condições de pouca luz. Isto permite que as pessoas movimentem-se de forma segura e voltem a dormir de forma rápida e fácil.

A iluminação circadiano-friendly da Honda Smart Home respeita o relógio natural do corpo e o seu ritmo. Tons de azul são projetados durante o dia e âmbar durante a noite. O resultado é um ambiente confortável, que não vai perturbar os padrões de sono. (Figura 7)

Figura 7 – Iluminação da Honda Smart Home – diurna e noturna

Fonte: adaptado de www.hondasmarthome.com (2016)

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No exterior, alguns hospitais já começam a instalar a iluminação circadiana adaptativa em quartos nos quais os pacientes permanecem em ambientes fechados. A ideia é usar a luz de forma efetiva em um espaço de saúde para melhorar o ambiente de cura e promover o bem-estar dos pacientes e colaboradores.

NUPEHA (2015) destaca que em um importante estudo denominado "O impacto da luz sobre os resultados nos serviços de saúde" - Center for Health Design, 2006 - os pesquisadores observam em suas principais conclusões que, ao controlar sistemas circadianos do corpo, diminui-se a depressão de pacientes e o tempo de permanência em internação, ameniza a agitação em pacientes com demência, alivia a dor e melhora o sono, bem como otimiza a adaptação ao trabalho noturno dos funcionários.

10. Conclusão Após revisão bibliográfica realizada acerca do tema proposto, observa-se que determinadas condições de saúde em pacientes internados em unidades complexas como as UTIs são decorrentes da inserção e permanência desse indivíduo em um ambiente com pouca ou nenhuma iluminação natural e não humanizado. O delirium, um agravo de saúde comum nesses pacientes, é um distúrbio agudo da consciência que inclui perda de funções cerebrais, apresentando como um dos principais agentes causais as alterações dos ciclos circadianos do indivíduo. Ambientes sem a presença da luz natural perdem os efeitos biológicos que ocorrem desde a entrada do feixe luminoso pelo olho humano até a cascata hormonal que regula nosso organismo ao longo de um dia. Sendo assim, encontra-se na literatura especializada exemplos de como a Iluminação Circadiana Adaptativa apresenta o potencial de reajustar o ciclo circadiano em pacientes internados em ambientes como as UTIs.

Conclui-se que o projeto da luminotécnica objetivando o uso correto e adequado da luz artificial apresenta excelentes resultados no contexto de condições médicas como o delirium, que ocorrem em pacientes de grande vulnerabilidade como aqueles internados em espaços hospitalares complexos.

Novos estudos a respeito do emprego da luminotécnica visando melhorias terapêuticas em ambientes hospitalares específicos são necessários para aumentar o poder dos dados e incluir condutas e perspectivas relevantes nessa área.

Referências

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SOMASUS, Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde. SOMASUS versão 1.0.18. www.aplicacao.saude.gov.br/somasus acessado em 13 de maio de 2016. TORMANN, Jamile. Caderno de Iluminação: arte e ciência. Rio de Janeiro: Música Tecnologia, 2006. VAN ROMPAEY, Bart, ELSEVIERS Monique, SCHUURMANS Marieke, et al. Risk factors for delirium in intensive care patients: a prospective cohort study. Critical Care. V. 13, p. R77, 2009.

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Anexo 1

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Anexo 1 - INT26 - Área coletiva de tratamento (exceto neonatologia) - Internação Intensiva

Fonte: SOMASUS (2015)