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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SIOMARA REGINA CAVALCANTI DE LUCENA A IMIGRAÇÃO E O IMIGRANTE NAS IMPRENSAS BRASILEIRA E ESPANHOLA: Exclusão /Inclusão Social V. 1 Março 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

SIOMARA REGINA CAVALCANTI DE LUCENA

A IMIGRAÇÃO E O IMIGRANTE NAS IMPRENSAS BRASILEIRA E ESPANHOLA: Exclusão /Inclusão Social

V. 1

Março 2008

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SIOMARA REGINA CAVALCANTI DE LUCENA

A IMIGRAÇÃO E O IMIGRANTE NAS IMPRENSAS BRASILEIRA E ESPANHOLA: Exclusão /Inclusão Social

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Social da Universidade Federal da Paraíba, para

a obtenção do título de Mestre em Psicologia

Social.

Orientadora: Profª. Drª. Maria de Fátima

Fernandes Martins Catão

V. 1

Março2008

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Siomara Regina Cavalcanti de Lucena

A Imigração e o Imigrante nas Imprensas

Brasileira e Espanhola: Inclusão / Exclusão Social.

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Social da Universidade Federal da Paraíba

para a obtenção do título de Mestre em

Psicologia Social.

Aprovada em:

Banca Examinadora

Profª. Drª.Maria de Fátima Martins Catão

Instituição: Universidade Federal da Paraíba

Assinatura: _________________________________________________

Profª. Drª. Maria da Penha de Lima Coutinho

Instituição: Universidade Federal da Paraíba

Assinatura: _________________________________________________

Profª. Drª. Maria de Fátima Souza Santos

Instituição: Universidade Federal de Pernambuco

Assinatura: _________________________________________________

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Dedicatória

À minha família, com amor e gratidão, pela compreensão, carinho, presença e

incansável apoio no decorrer da realização deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por permitir esta realização.

À Profª. Drª. Maria de Fátima Martins Catão, que, nos anos de convivência, muito

me ensinou, contribuindo para meu desenvolvimento científico e intelectual.

Aos professores Wellington Pereira, Derval Gomes Golzio, Josinaldo Malaquias,

Luiz Mousinho, Maria da Penha de Lima Coutinho e Ana Alayde Werba Saldanha,

pelo incentivo e ensinamentos.

Á Universidade Federal da Paraíba, pela oportunidade de realização deste curso de

Mestrado.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, responsável

pelo financiamento desta pesquisa.

Ao meu querido pai, em memória, pelos valiosos ensinamentos e pelas

maravilhosas lembranças que me fazem seguir mais feliz.

A Renan, meu filhinho, por existir e dar mais alegria à minha vida.

À minha mãe pela força e apoio incondicionais e atemporais.

À Danielle, irmã, companheira e amiga de todas as horas.

Ao meu marido, Felipe, pela dedicação imensurável e pelas palavras de incentivo.

A Eneida, Raphaele, Alexandra, Camila e Daniele por estarem presentes nas horas

difíceis e felizes com todo o carinho de uma amizade sincera.

A Thyanna, Otto Rodrigo e Danielle, pela viabilização do material da impressa

espanhola.

À Solange, por desempenhar sua função de forma tranqüila e amorosa, dando-me

estabilidade para seguir este trabalho científico.

A todos os professores que contribuíram de forma marcante para o meu

crescimento como estudante e, acima de tudo, como pessoa.

A todos os meus familiares, profissionais de apoio e amigos que participaram

comigo neste caminhada.

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“Nem cidadão nem estrangeiro nem totalmente do lado do Mesmo, nem totalmente

do lado do Outro, o ‘imigrante’ situa-se nesse lugar ‘bastardo’, a fronteira entre o ser

e o não – ser social”.

Pierre Bordieu

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RESUMO

O objetivo deste estudo é identificar e analisar os conteúdos veiculados à imigração

na imprensa brasileira e espanhola, refletir sobre a produção destes, sobre o

movimento histórico dessa produção, o contexto cultural que permeia a elaboração

de tais notícias, e que semelhanças e diferenças há em relação aos conteúdos

veiculados nas duas imprensas estudadas. Tal verificação baseia-se na

identificação e análise dos conteúdos representacionais de publicações dos jornais

brasileiros Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, bem como nos espanhóis

El País e El Mundo. Compreende-se a construção de tais representações sociais

como fenômeno orientador das comunicações e dos comportamentos

representacionais. Para tanto, foi utilizado o método analítico descritivo com

exploração dos aspectos qualitativos e quantitativos. Procedeu-se uma análise

documental dos jornais mencionados, a fim de coletar o material a ser analisado.

Os dados foram submetidos à análise de conteúdo com apoio do programa

ALCESTE, sistema automático de análise de dados textuais. Os resultados obtidos

apontam para a emergência de doze classes temáticas nos dois corpus de análise,

sendo seis no material brasileiro e seis no material espanhol. Tais classes

apresentam significados distintos a respeito da temática estudada por parte dos

dois corpus. Evidencia-se que as Representações Sociais da imigração colocam-se

como possíveis traduções de informações, atitudes e imagens e possíveis

orientações de condutas em relação ao imigrante e o problema social da imigração.

Palavras-chave: Imigração – Exclusão/Inclusão - Imprensa - Representações

Sociais

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ABSTRACT

The purpose of this study is to identify and analyze the contents connected to

immigration in Brazilian and Spanish press, reflect on their production, on the

historical movements of this production, the cultural context behind the making of

these news and what similarities and differences are observed in both studied

presses. All this checking is based on the identification and analysis of the

representational contents of the publications in Brazilian newspapers Folha de São

Paulo and O Estado de São Paulo as well as in the Spanish ones El País and El

Mundo. The construction of these social representations is understood as a

positioning phenomenon of the communications and the representational behaviors.

For this purpose the used method was the analytical descriptive, exploring the

quantitative and qualitative aspects. A documental analysis of the mentioned

newspapers was done in order to gather the desired material. The data were

submitted to content analysis with the support of the software ALCESTE, an

automatic system for textual data analysis. The obtained results points out to the

arising of twelve thematic classes in both analysis groups, six in Brazilian material

and six in Spanish material. Such classes present different meanings about the

studied subject matter in both analysis groups. It’s noticed that the immigration’s

Social Representations pose as possible translations of information, attitudes and

images, besides possible behavioral orientations in relation to the immigrant and the

social problem of immigration.

Keywords: Immigration – exclusion/inclusion – Press – Social Representations

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

RESUMO............................................................................................................. 16ABSTRACT......................................................................................................... 17APRESENTAÇÃO............................................................................................... 24CAPÍTULO IDelimitando a Questão Imigratória.................................................................. 27CAPÍTULO IIPerspectiva Conceitual do Estudo................................................................... 412.1 Imigração e Imigrantes.................................................................................. 412.2 Exclusão e Imigração.................................................................................... 482.3 Representações Sociais 592.3.1 Ancoragem e Objetivação 622.3.2 Tridimensionalidade das Representações Sociais 642.3.3 Taxonomia da Comunicação (Difusão, Propagação, Propaganda) 672.3.4 Psicologia, Representações Sociais e Meios de Comunicação 682.3.5 Meios de Comunicação e Representação do Outro 712.3.6 A Notícia e as Representações Sociais 74CAPÍTULO IIIProcedimentos Metodológicos........................................................................ 803.1 Procedimentos de Coleta de Dados.............................................................. 81

3.1.1 Amostra................................................................ 813.2 Caracterização dos jornais............................................................................ 843.2.1 Folha de São Paulo.............................................................................. 843.2.3 O Estado de São Paulo........................................................................ 873.2.4 El País.................................................................................................. 883.2.5 El Mundo.............................................................................................. 903.3 Procedimento e análise dos dados..................................................... 91

3.3.1 O sistema ALCESTE....................................................................... 943.3.1.1 Fundamentos e estrutura................................................... 943.3.1.2 O corpus............................................................................ 953.3.1.3 A análise do corpus........................................................... 983.3.1.4 Resultados produzidos pelo sistema ALCESTE............... 99

3.4 Plano de análise............................................................................................ 993.4.1 Constituição do corpus e leitura flutuante........................................ 1003.4.2 Preparação dos arquivos para utilização do sistema ALCESTE..... 1003.4.3 Processamento de dados pelo sistema ALCESTE.......................... 1003.4.4 Leitura em profundidade dos dados analisados pelo sistema

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ALCESTE........................................................................................ 1003.4.5 Apresentação e interpretação dos resultados................................. 100

CAPÍTULO IVO Significado da Imigração e do Imigrante nas Imprensas Brasileira e

Espanhola...........................................................................................................

102

4.1 Detalhamento das Classes Apreendidas nas duas Imprensas

Pesquisadas........................................................................................................ 1064.2 Discussão dos Resultados por Classe.......................................................... 1094.3 O significado da imigração e do imigrante e sua relação

interclasses......................................................................................................... 1634.4 Considerações Finais.................................................................................... 173REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 176ANEXOS............................................................................................................. 183

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Proximidade / distância entre as classes da

Imigração / Imigrante apreendidas através dos artigos / notícias

de jornais brasileiros.....................................................................

164

Figura 02 – Proximidade / distância entre as classes da

Imigração / Imigrante apreendidas através dos artigos / notícias

de jornais espanhóis.....................................................................

165

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Dias de maior circulação e tiragem dos jornais da amostra....... 82

Tabela 02 – Artigos / notícias coletados nos jornais por seção (1ª e 2ª

semanas de setembro de 2006 e 3ª e 4ª semanas de novembro de 2006)... 84Tabela 03 – Distribuição das Unidades de Contexto Elementar (UCE) da

imigração / imigrante, apreendidas nos artigos / notícias dos jornais

brasileiros................................................................................................. 104Tabela 04 – Distribuição das Unidades de Contexto Elementar (UCE) da

imigração / imigrante, apreendidas nos artigos / notícias dos jornais

espanhóis................................................................................................. 105Tabela 05 – Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Inclusão / Exclusão social, apreendido mediante os artigos /

notícias de jornais brasileiros.......................................................................... 109Tabela 06 – Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Ações / Reações Contra a Imigração Ilegal, apreendido mediante

os artigos / notícias de jornais brasileiros....................................................... 114Tabela 07 – Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto História e Modos de Vida do Imigrante, apreendido mediante os

artigos / notícias de jornais brasileiros............................................................ 118

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Tabela 08 – Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Multiculturalismo e Violência, apreendido mediante os artigos /

notícias de jornais brasileiros.......................................................................... 123Tabela 09 – Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Institucionalização da Intolerância Étnica, apreendido mediante

os artigos / notícias de jornais brasileiros....................................................... 127Tabela 10 - Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Trabalho / Emprego / Desemprego, apreendido mediante os

artigos / notícias de jornais brasileiros............................................................ 132Tabela 11 - Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Desequilíbrio Social: Impactos Negativos / Desenvolvimento,

apreendido mediante os artigos / notícias de jornais

espanhóis............................................................

137

Tabela 12 - Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Ações Contra a Imigração Ilegal, apreendido mediante os artigos

/ notícias de jornais espanhóis........................................................................ 143Tabela 13 - Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Pacto Imigratório Nacional: Acordo e Desacordos, apreendido

mediante os artigos / notícias de jornais espanhóis....................................... 147Tabela 14 - Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Cooperação / Tensão Internacional, apreendido mediante os

artigos / notícias de jornais espanhóis............................................................ 151Tabela 15 - Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Identidade Falsificada e Trabalho, apreendido mediante os

artigos / notícias de jornais espanhóis............................................................ 155

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Tabela 16 - Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante

enquanto Busca de Melhoria de Vida: crianças e adolescentes como

arrimo de família, apreendido mediante os artigos / notícias de jornais

espanhóis................................................................................................. 159Tabela 17 - Distribuição das Unidades de Contexto Elementar (UCE) da

imigração / imigrante por classe e exposição das subclasses apreendidas

nos artigos / notícias dos jornais brasileiros e espanhóis............................... 166

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APRESENTAÇÃO

O desenvolvimento e a importância dos meios de comunicação na

contemporaneidade alertam para a necessidade da verificação e compreensão de

seus processos. A forma como os acontecimentos são veiculados, bem como o

conteúdo das publicações são hoje alvo de pesquisas em todo o mundo. Dessa

maneira acontecimentos recorrentes e considerados de grande importância se

tornam alvos dos meios de comunicação de massa, notadamente dos meios

impressos, os quais serão investigados neste estudo. A problemática da imigração

está no hall dos acontecimentos de destaque no mundo, tamanha sua capacidade

de afetar os países, as pessoas que vivem nele e também as que chegam. Sua

importância se dá também pelo fato de ser algo que denuncia a desigualdade entre

os povos, assim como a exclusão social dessas pessoas.

Em lugar de importância mundial, a imigração é uma questão-problema

difundida de forma ampla nos meios de comunicação. Em face disso se faz

premente estudar a maneira como o imigrante e a própria imigração estão sendo

abordados na mídia, já que esta é um elo bastante significativo entre os

acontecimentos e as pessoas, fazendo com que estas formem impressões, opiniões

e orientem suas condutas diante de algo. O coletivo imigrante e as imigrações em si

são postos em cheque quase que diariamente em meios de comunicação de todo o

mundo, o que incita indagações a respeito de até que ponto estão sendo afetados

positivamente ou negativamente por isso. Diante desta realidade o presente estudo

mostra sua importância quando aborda a questão da imigração no âmbito

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comunicacional no sentido de suas representações sociais. Jovchelovitch (2000)

sugere, nesta mesma linha de pensamento, que, dadas as formas como a mídia

transforma, e de certa maneira, define a circulação de bens simbólicos em

sociedades contemporâneas, ela se torna uma fonte importante de reflexão para o

estudo das representações sociais. È é neste ensejo que este trabalho busca a

compreensão de seu objeto.

O interesse pela temática tão polêmica veio da convivência com a realidade

da construção de pensamento através da imprensa, tanto exercendo a função de

pesquisadora como também enquanto jornalista. Esta relação deixou clara a

importância do que é noticiado no sentido de institucionalizar verdades, realidades.

Este estudo está divido em quatro Capítulos, os quais serão pormenorizados

em seguida. Contextualizando a questão imigratória é que o primeiro capítulo se

lança, trazendo como introdução a delimitação do problema e toda a sua inserção no

mundo, no Brasil e na Espanha. Mostrando a importância destes dois países dentro

do contexto imigratório, o conteúdo do capítulo chama a atenção o fato de o Brasil

ter um histórico forte de imigração que hoje se encontra em decadência, ao mesmo

tempo em que está na lista dos dez com maior número de idosos, contabilizando 17,

6 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que diminui seu número de pessoas

em idade produtiva. A Espanha também é posta em evidência pelo seu histórico de

aumento abrupto de imigrantes, luta contra essa realidade e um prognóstico

negativo no que diz respeito ao número de idosos: a Espanha se tornará o país com

mais idosos do continente europeu e, provavelmente, um dos líderes em todo o

mundo com 36% dos espanhóis com mais de 65 anos em 2050. Neste ensejo,

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indaga-se, no capítulo, sobre quais os significados dos conteúdos vinculados à

imigração na imprensa brasileira e espanhola, refletindo sobre a produção destes,

No referido capítulo também há a justificativa e relevância do tema junto à academia

e à sociedade.

O segundo capítulo trata da base conceitual usada no presente trabalho,

tratando da concepção de indivíduo, das Representações Sociais e a mídia, da

Exclusão Social e da Imigração. Neste capítulo se observa o olhar contextualizado e

suas características, bem como os fundamentos das Representações Sociais

necessários neste estudo. A exclusão/inclusão social e a imigração com vistas ao

saber erudito também são contempladas como bases fundamentais a esta

investigação.

O Terceiro capítulo traz os objetivos e procedimentos metodológicos desta

investigação. Tais objetivos estão divididos em objetivo geral e objetivos específicos.

O capítulo aborda, a coleta dos dados, a amostra, as notícias nos jornais, a

contextualização destes, bem como funcionamento do sistema ALCESTE.

Em seguida organiza-se o capítulo IV, que se estrutura e função da

identificação e análise da produção do sentido da imigração e do imigrante nos

jornais brasileiros e espanhóis, examinando as diferentes modalidades de

conhecimento, suas construções, simbolizações, ênfases, semelhanças, diferenças,

dimensões e articulações no que tange ou não à produção de subjetividades

relacionadas à inclusão / exclusão social. A reflexão é complementada com algumas

pontuações gerais da representação à ação e contribuições do estudo em

referência.

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CAPÍTULO I

DELIMINTANDO A QUESTÃO IMIGRATÓRIA

Todos os dias, entramos em contato com realidades, contextos, pessoas e

grupos que servem de material para a formação de nossas Representações da

sociedade. A contemporaneidade, a globalização e a desigualdade trazem

mudanças de contexto e contato com novas realidades, os quais são fatores

preponderantes para o início de um novo ciclo de formação de representações

sociais.

A vida nos países subdesenvolvidos pode, por vezes, representar uma

sobrevida, ou seja, viver nos países ditos em desenvolvimento significa, para muitos,

travar lutas diariamente. Em diversos âmbitos se pode validar esta premissa. O

cidadão dos mundos subdesenvolvidos é carente das garantias básicas de sua

condição, sendo isento de educação, saúde e muitas vezes até de alimentação. Tal

realidade, sem previsão de mudança, põe o indivíduo a repensar seu projeto de vida

no sentido de buscar novas perspectivas de viver em uma sociedade da qual seja

participante de fato e na qual tenha mais oportunidades de ascensão. Este impulso

pela melhoria de vida reflete a condição social, econômica e cultural em que vive o

homem (Bock, 2001. p.22).

O desejo de uma vida melhor leva as pessoas a considerarem a emigração

como saída e esperança. A migração para outro país dá margem à configuração de

várias questões sociais passíveis de questionamentos. A exclusão, o desemprego,

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ilegalidade etc. Além dessas questões mais práticas, a imigração também traz danos

subjetivos. De acordo com Lewis & Jungman (1986), em nível individual a

experiência intercultural também produz fenômenos como choque cultural, choque

de transição etc.

De acordo com o relatório do Seminário “Migrações: Exclusão ou

Cidadania?”, realizado em 2003, o contexto mundial contemporâneo atribuiu às

imigrações três adjetivos que definem adequadamente o panorama atual da

questão: intenso, diversificado e complexo. De acordo com o pesquisador, as

imigrações são atualmente intensas, já que a quantidade de migrantes que cruzam

as fronteiras no mundo inteiro tem tido um acréscimo de ano para ano. Isso tem

ocorrido por múltiplos fatores, entre eles podem ser destacadas as transformações

ocasionadas pela economia globalizada, como já entes citado, a qual leva à

exclusão dos povos dos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Guerras e

terrorismo também podem ser citados como fatores contribuintes para a

exacerbação do fenômeno migratório, bem como os movimentos marcados por

questões étnico-religiosas, a urbanização acelerada, especialmente nos países

periféricos.

Os deslocamentos humanos são também cada vez mais diversificados. O

relatório do referido seminário diz ainda que “Mudou o rosto das migrações. Verifica-

se, por exemplo, uma feminilização do fenômeno migratório em quase todos os

movimentos em curso. Dos países pobres para os países ricos, prevalece a

migração de jovens em busca de melhores condições de vida”. Além disso, embora

por motivações distintas, migram pessoas de todas as classes sociais. A viagem

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pode ser para turismo ou a trabalho, no caso de trabalhos especializados, entretanto

a maioria parte por causa da busca pela sobrevivência.

Por fim, as migrações são cada vez mais complexas. Diversas dimensões de

fatores são responsáveis por essa nova característica da mobilidade humana em

âmbito mundial. Pode, ainda, ser sublinhado, entre outros, o fato de os fluxos

migratórios não terem mais origem e destino determinados. O que há muitas vezes é

a busca pela melhor qualidade de vida, e não pelo país em si.

Estimativas recentes da Organização Internacional para as Migrações (OIM),

contabilizam a existência de cerca de 150 milhões de migrantes internacionais em

todo o mundo (OIM, 2000 in Castles, 2005. p. 51). Este número representa entre 2%

e 4% da população mundial. Este volume é bastante significativo e a OIM prevê que

o número de migrantes poderá chegar a 250 milhões em 2050 (Castles, 2005. p.

51).

As migrações estão assumindo visibilidade tão relevante em virtude de sua

concentração em certas áreas onde representam um grande fator de transformações

sociais. Isso já vem acontecendo há algum tempo. Um estudo feito pelas Nações

Unidas em 1990 revela que 90% dos migrantes mundiais residem em apenas 55

países. Em nível absoluto 55% dos migrantes se deslocam entre países menos

desenvolvidos. Todavia, em termos relativos, os países desenvolvidos têm sido

muito mais afetados pela imigração.

À época da pesquisa, 4,6% da população do mundo desenvolvido eram

migrantes, ao passo que nos países em desenvolvimento esse número é de apenas

1,6%. Na Oceania, o índice de imigrantes era o mais elevado com 17,8%, seguida

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pela América do Norte com 8,6% da população total e pela Europa Ocidental com 6,

1%. Na Ásia a parcela de imigrantes no total da população era muito mais baixa com

1,4%, na América Latina e nas Caraíbas era de 1,7% e na África 2,5% (Zlotnik,

1999).

Nesta pesquisa foca-se dois países, um em desenvolvimento e outro

desenvolvido, com vistas a investigar a respeito dos significados produzidos por

suas imprensas a respeito da imigração e do imigrante. Brasil e Espanha se fazem

presentes neste estudo contornando a questão imigratória cada qual com sua

cultura e contexto social, fazendo assim com que a temática seja abordada de forma

diversa em cada um desses mundos.

O mundo está globalmente vivendo a questão migratória, o que faz o tema

ser de interesse também do Brasil. Como dito anteriormente, múltiplos fatores são,

agora, constituintes do fenômeno da imigração/emigração, o que faz com que não

haja fronteiras a serem ultrapassadas. No Brasil o debate sobre imigração não é

novo, embora no passado as características do fenômeno tenham sido bem

diferentes das expostas há pouco, as quais configuram a situação atual de imigração

no mundo. Rever a história do Brasil é referir-se à imigração.

Durante o período colonial nosso país recebeu milhões de portugueses, os

quais chegavam ao Brasil para ocupar o território e colonizá-lo. Com um grande

território, a terra tupiniquim não foi facilmente povoada. Durante o governo de Dom

João VI, houve um grande incentivo à vinda de imigrantes ao Brasil, com o intuito de

criar colônias agrícolas fornecedoras de alimentos para abastecer a população da

cidade do Rio de Janeiro. (IBGE, 2000).

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As primeiras levas de imigrantes chegaram em 1819, formada por suíços,

localizados na região serrana do Rio de Janeiro, fundaram Nova Friburgo. A partir

de então, na segunda metade do século XIX, foram ocorrendo as maiores ondas

migratórias para o Brasil. Era a tentativa de substituir a mão-de-obra escrava no

cultivo de café pela mão-de-obra imigrante. Os imigrantes também contribuíram no

que diz respeito ao desenvolvimento econômico necessário para a industrialização

do país naquele momento. Neste movimento cerca de quatro milhões de imigrantes

vindos da Europa e até do Japão vieram para terras brasileiras.

Após a década de vinte houve um declínio de imigração para o Brasil, isto se

deu por diversos fatores. O crescimento das migrações internas na Europa, a crise

de 1929 e desencorajamento da imigração por parte do governo brasileiro, como no

decreto que disciplinava a vinda de imigrantes em 1930, podem ser relacionados

como algumas das causas da diminuição imigratória para o Brasil.

Atualmente a imigração para o Brasil não possui mais a mesma roupagem

que no final do século XIX e no início do século XX. Os imigrantes já não são de

maioria européia como antes, e também não mais em grande quantidade como na

época colonial e logo após da abolição da escravatura. De acordo com o Ministério

da Justiça, hoje, o total de imigrantes regulares no Brasil chega a 836 mil, o que

configura o menor número nos últimos 25 anos. Já em situação irregular, calcula-se

que haja entre 150 e 200 mil pessoas. Os números relacionados à imigração atual

no Brasil não são muito precisos, já que não há estatística oficial e também existe

uma grande entrada de bolivianos nos últimos anos. As estimativas afirmam que só

em São Paulo há a presença de 60 mil pessoas do país vizinho residindo

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irregularmente no estado, além de 10 mil em Mato Grosso. Diante desse contexto

um novo Estatuto do Estrangeiro foi elaborado a fim de regulamentar investimentos

de estrangeiros no Brasil. A lei foi elaborada pelo Ministério da Justiça em parceria

com outros órgãos da sociedade e será uma das mais modernas do mundo. O texto

deverá ser enviado ainda este ano ao Congresso Nacional.

O contexto espanhol traz novas questões a serem analisadas. O país em

questão foi eleito para fazer parte deste estudo por suas características, não só

relacionadas ao crescimento imigratório, mas por também apresentar dados

relacionados indiretamente à questão, como o envelhecimento da população. De

acordo com o relatório da Comissão Européia, divulgado em 2006, que versa sobre

o impacto do envelhecimento nas contas públicas dos 25 Estados Membros da

União Européia no que tange a gastos com pensões, cuidados em saúde, cuidados

em longo prazo e transferência de empregos, a Espanha será o país com a maior

porcentagem de idosos em toda a Europa no ano de 2050 e, provavelmente, um dos

líderes em todo o mundo. Segundo o documento, os espanhóis acima de 65 anos

somarão 36% da população total, ante 35% na Itália e 32% em Portugal, Grécia e

Alemanha. Luxemburgo, Holanda, Dinamarca e Suécia serão os com mais jovens,

mesmo assim com taxas acima de 20%.

Os fatores acima citados fizeram único este país no sentido de apreender

significados por meio da imprensa a respeito da imigração/imigrante, já que sua

realidade se mostra mundialmente uma das mais contundentes em matéria de

imigração e suas circunstâncias, sendo na Europa o país mais significativo.

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Em virtude do novo contexto configurado pelo fenômeno da imigração as leis

espanholas ficaram rapidamente sem adequação à realidade. Tal fato fez com que o

país precisasse elaborar várias leis em um curto espaço tempo.

Na primeira mudança por esse novo entorno social ocorreu uma reforma na

lei orgânica sobre direitos e liberdades dos estrangeiros e sua integração social na

Espanha que havia sido publicada em 2000. Como relata a explicação na própria

reforma da lei, o contexto social da imigração no país se mostrou de tal forma que

lançou a necessidade de reformar uma lei ainda tão nova. Quatro meses após a

publicação da lei foi divulgada a sua reforma, acrescentando alguns artigos e

modificando outros. A dinâmica voraz da imigração na Espanha fez dessa a primeira

mudança através de leis orgânicas, das quatro que ocorreram ao todo, até,

finalmente, a formulação de um novo regulamento da Lei do Estrangeiro espanhola.

O caso da Espanha é bem diferente do Brasileiro, por exemplo. Em nosso

país, como já foi visto, a imigração é parte da história do país, porém vem

gradativamente decrescendo, já a população de emigrantes é estimada em quatro

milhões de pessoas. No país europeu a discussão da imigração é relativamente

nova. O crescimento de imigrantes na Espanha cresceu bastante rápido a partir dos

anos 90. De acordo com Díaz et all (2001), a Espanha tinha 600.000 imigrantes em

1996, o que perfazia 1,5% da sua população. Em cinco anos este número cresceu

para 1.200.000 imigrantes, é dizer, 3% da população do país. Já nas últimas

pesquisas realizadas em 2005 a Espanha tinha uma população de 43,97 milhões de

habitantes, sendo 3,69 milhões de estrangeiros, ou seja, 8,4% da população.

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Em meio a tanto crescimento em pouco espaço de tempo certamente

problemas advieram juntamente com o fenômeno da imigração na Espanha. Desde

leis inadequadas à nova realidade, até a exclusão dos imigrantes, diversos fatos

foram convertendo tal evento em um problema para a Espanha.

A questão do envelhecimento populacional do país também incita

indagações. Como retrata o relatório da União Européia sobre finanças e economia,

a Espanha possui a maior expectativa de vida para homens (76,6 anos) e mulheres

(83,4 anos), também detêm a maior projeção para dependência dessa população.

Segundo os dados do referido relatório, em 2050 65,4% da população espanhola

dependerá da seguridade social.

A partir de então se configuram realidades que enquanto evento social atípico

passa a ser noticiado nos veículos de comunicação. Esse novo contexto propiciado

pela desigualdade entre países e pela exclusão/inclusão social passa a fazer parte

do nosso repertório social para a construção de textos jornalísticos e também de

representações. É a globalização e a contemporaneidade trazendo suas implicações

em forma de exclusão e representação.

Incitada pelo contexto inovador advindo da imigração em grande escala, a

questão dos direitos humanos dos imigrantes também é posta em cheque. A

Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pela ONU em 1948, no âmbito

da imigração garante ao cidadão, em seu artigo 15, o direito a ter direitos, ou seja,

de ter uma nacionalidade, não perdê-la e de poder trocar de nacionalidade. Já no

artigo 14, ela fala sobre o direito de procurar asilo em casos de perseguição, e no

artigo 13, parágrafo 2, o direito de deixar seu país de origem e voltar quando

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vontade tiver. Esses direitos garantidos pela Declaração acabam, por vezes,

entrando em confronto com os países no que diz respeito a sua soberania e poder

de decisão em relação a quem pode entrar e sair de seu território. Nenhum país é

obrigado a aceitar ninguém, mesmo em caso de asilo político (Reis, 2004, p. 151).

A grande demanda de imigração no mundo e questões ambíguas sem

resolução fizeram com que a Organização das Nações Unidas se manifestasse

sobre a necessidade de maior regulamentação internacional a respeito do assunto.

Em 18 de dezembro de 1990, a ONU aprovou em Assembléia Geral a Convenção

sobre Direitos dos Imigrantes, a qual exige, além do tratamento igualitário dos

imigrantes legais e cidadãos nativos no âmbito laboral, a informação de seus direitos

em uma língua compreensível para eles, que possam recorrer ao judiciário em caso

de deportação, além de estabelecer regras para o recrutamento de estrangeiros

(Reis, 2004, p. 152).

Em sua interpretação mais tradicionalista, a Declaração dos Direitos

Humanos serviria para regulamentar somente a relação entre Estados e seus

cidadãos, todavia o aumento na imigração no mundo a cada dia torna mais comum

sua utilização como parâmetro regulador da relação: estado receptor – imigrantes.

As leis de imigração de cada país também tentam agora abarcar as questões

relacionadas aos Direitos Humanos, sendo um dos motivos pelos quais ocorrem as

mudanças e modernizações na legislação.

Porém as leis imigratórias não mudam de forma igualitária em cada país. As

peculiaridades do fenômeno no Brasil e na Espanha fazem com que a regulação da

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imigração seja diferente em cada um deles em termos de aprofundamento,

abordagem de questões e interesses do próprio país.

O que se pode observar, dentre outras questões, nos dois contextos

imigratórios citados, do Brasil e da Espanha, são: a mudança em termos de números

com o passar do tempo e a mudança, conseqüente, em termos de legislação.

Apesar da observância destas questões comuns, qualitativamente elas são bastante

distintas. No Brasil ocorreu um decréscimo na quantidade de imigrantes no que se

relaciona à história da imigração neste país. Já a mudança na legislação brasileira

visa a modernizar seus pressupostos para atender à realidade mundial, bem como

garantir os direitos civis e fundamentais do estrangeiro no Brasil de forma mais ágil,

flexível e democrática. Contemplar a questão dos direitos humanos também é

interesse da nova lei. No que diz respeito à realidade imigratória da Espanha, houve

um acréscimo no número de entradas no país, o que ocorreu abruptamente,

causando uma rápida obsolescência das leis do país, que por sua vez já não eram

antigas. As mudanças na lei espanhola, diferentemente do Brasil, foram mudadas

principalmente pela realidade apresentada em virtude da grande chegada de

imigrantes, e não somente para uma modernização em nível de tendências

mundiais, como no caso brasileiro.

A diferença em números de entrada de imigrantes entre os dois países

apresentados é traduzida em conseqüências da imigração específicas para os

próprios países, para os imigrantes e também em relação à referência feita ao tema

na imprensa em geral, no caso específico deste trabalho, na imprensa escrita. As

conseqüências para o país podem ser interpretadas como conseqüências em termos

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sociais, financeiros, humanitários, político etc. No que se trata das conseqüências

para os imigrantes podem ser elencados a exclusão social, até como resposta pela

má adaptação das políticas públicas à realidade imigratória, o sofrimento psíquico,

inclusão social, etc. E as conseqüências no tocante ao tratamento dado ao tema

pela imprensa são relacionadas ao número e recorrências de notícias, abordagem

política, número de publicações de gênero opinativo, entre outros.

Na mesma proporção do tamanho do fenômeno imigratório em cada país, há

a resposta das referidas conseqüências. Ou seja, quanto maior e mais forte o

fenômeno, maior e mais forte será o que por ele é gerado. No Brasil a imigração

parece trazer conseqüências menos visíveis do que na Espanha, dado a diferença

da magnitude do fenômeno nos referidos países. As políticas públicas brasileiras

não são tão afetadas pela entrada de pessoas de outros países, bem como o tema

da imigração não é tão recorrente na agenda noticiosa do país quanto na da

Espanha.

Observando as questões mencionadas nos parágrafos imediatamente

anteriores pode-se notar como a imprensa é permeada por seu contexto, entretanto

cabe aqui frisar que ela também é parte de todas essas questões discutidas. Ela é

parte do processo de mediação entre o fato, aqui a imigração, e as pessoas,

entretanto há um elo importante desta relação que precisa terminantemente ser

mencionado: o texto jornalístico.

Entre o fato em si, real, e a publicação jornalística existe o indivíduo que é

responsável pela produção do texto. A imparcialidade no jornalismo é um tema de

discussão antigo, entretanto sabe-se que a objetividade completa é uma utopia, já

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que o ser humano carrega consigo suas opiniões, suas representações, suas

vivências e imagens construídas historicamente, o que, por sua vez orienta suas

condutas frente aos temas. Por mais que o jornalista tente se isentar, isso não se dá

completamente. O que não é necessariamente um demérito.

De acordo com Marcondes Filho (2002), profissional jornalista, como todas as

outras pessoas, faz uma seleção dos fatos novos e os classifica de acordo com suas

próprias convicções e estereótipos. “Assim eles (os jornalistas) se tornam atores

privilegiados na manutenção de idéias, verdadeiros agentes conservadores de

cultura, visto que têm acesso a meios de divulgação em massa de suas idéias (e

preconceitos)” (Marcondes Filho, 2002. p. 109).

O próprio Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros fala da verdade como o

compromisso primordial desse profissional. O Art. 7º do código diz “o compromisso

fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela

precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação” (Lage, 2002. p. 92).

Mas nem sempre essa conduta é tomada, o que ocorre por diversos fatores, desde

pressões da empresa jornalística, até pelas próprias convicções do jornalista. Neste

ensejo, cabe indagar-se a respeito de como os textos sobre a imigração e o

imigrante são produzidos, até que ponto estão em acordo com a realidade e que

afetos podem ser despertados a partir dessas produções.

Conhecer o que se diz da imigração e do imigrante a partir da perspectiva dos

meios de comunicação escritos é atentar para uma das importantes ferramentas

dadas aos indivíduos para que eles tenham informações sobre o mundo, construam

suas imagens e orientem suas condutas frente a ele.

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Portanto, será analisado o significado da imigração/imigrante produzido pela

imprensa à luz da inclusão/exclusão social. Não se busca, portanto, uma análise da

imprensa em si, mas da imprensa enquanto mediadora de produção de significados

da vida em sociedade. Nossa análise busca identificar as representações sociais

sobre imigrante/imigração e implicações com a questão da exclusão/inclusão social

que ela produz e põe em circulação.

Acredita-se, aqui, que o sentido da Imigração e do Imigrante na imprensa não

é construído pela subjetividade de quem elabora os textos jornalísticos, nem pelas

circunstâncias que permeiam as condições de tais produções textuais. Não é esse

sentido construído também pelo sistema social e pelas suas determinações, mas

sim, é tecido na interação entre sujeito e sociedade, a qual é produzida por meio da

articulação entre mundo e sujeito, que por sua vez, forma e transforma as visões de

mundo, ou seja, as representações sociais. Apreender o sentido da Imigração e do

Imigrante nos jornais pesquisados, é dizer, no senso comum, é construir a realidade

social do coletivo e dos meios em estudo.

Assim, o presente estudo propôs apreender a organização simbólica das

informações veiculadas nos jornais brasileiros e espanhóis sobre Imigração e

Imigrante, indagando-se sobre: Que informações, sobre Imigração e Imigrante, são

elaboradas pelos jornais do Brasil e da Espanha? Quais as atitudes, os afetos

despertados por tais informações veiculadas por estes jornais? Qual imagem está

sendo produzida a respeito da imigração e do imigrante a partir de tais informações

e tais afetos? Onde estão ancoradas as informações divulgadas nos jornais

brasileiros e espanhóis a respeito da Imigração e do Imigrante? Quais as

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semelhanças e diferenças da organização simbólica dos artigos / notícias sobre

Imigração e Imigrante nesses diferentes jornais de diferentes países? Que tipo de

subjetividade é produzido a respeito da imigração e do imigrante em face do que é

veiculado?

Alguns estudos já abordaram questões semelhantes às que neste estudo são

apresentadas, o que os torna guias para o seguimento desta dissertação. Refere-se

à tese de Moscovici (1961), intitulada, “A Psicanálise, sua imagem e seu público”, ao

estudo de Ordaz & Vala (1997), “Objetivação e ancoragem das representações

sociais do suicídio na imprensa escrita” e à tese de doutorado de Sandra

Jovchelovitch (2000), “Representações Sociais e Esfera Pública: A construção dos

espaços públicos no Brasil”.

O três estudos mostram semelhanças no que diz respeito ao uso da imprensa

como “instrumento”, bem como o uso dos conceitos a respeito do fenômeno das

representações sociais. A mídia impressa foi o alvo dos três pesquisadores em seus

estudos. A análise de conteúdo também foi utilizada nos trabalhos de Moscovici e

Jovchelovitch. A questão do significado e dos sistemas de comunicação esteve

presente no estudo de Vala, assim como no de Moscovici, o qual elaborou a

taxonomia.

O presente trabalho tem metodologia e objetivos semelhantes aos relatados

acima. Proceder-se-á de modo semelhante na análise das notícias por meio de

análise de conteúdo, como também será feito o uso da taxonomia dos sistemas de

comunicação proposta por Moscovici. Os três trabalhos aqui descritos servirão de

expoentes para esta pesquisa em andamento.

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CAPÍTULO II

PERSPECTIVA CONCEITUAL DO ESTUDO

2.1 Imigração e Imigrantes

De acordo com o Instituto de Migrações e Direitos Humanos, a migração

significa movimento de pessoas, grupos ou povos de um lugar para outro. Desde os

países em desenvolvimento, até os países desenvolvidos a preocupação com a

questão das migrações tem se tornado crescente sejam elas nacionais ou

internacionais. Nacionais quando se trata de fenômenos migratórios ocorrentes no

próprio país, e internacionais quando se tem as migrações de um país para outro, ou

seja, imigração e emigração. Vários aspectos podem contribuir para que ocorra a

migração. Crises econômicas, pobreza, desastres naturais, guerras, etc., são alguns

dos fatores contribuintes, os quais serão debatidos a seguir.

Neste trabalho será enfocada a imigração, em face disso tal conceito será

retratado com mais veemência, mesmo sabendo-se, entretanto, que o fenômeno

migratório existe hoje com tanta virulência que é complicado falar apenas sobre um

lado dele. Falar de imigração por um lado é falar de emigração pelo outro, sendo

mais lógico tratar de migrações internacionais.

A imigração ocorre, segundo o Instituto de Migrações e Direitos Humanos,

quando há um movimento de pessoas ou de grupos humanos, provenientes de

outras áreas, que entram em determinado país, com o intuito de permanecer

definitivamente ou por período de tempo relativamente longo. A definição incita a

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pergunta: por que as pessoas o fazem? Afinal, sair de seu lugar de origem não é

algo simples, então o que ocorre na vida de determinados indivíduos para que eles

prefiram viver em outro país que não o seu?

O ato de imigrar é um fenômeno antigo que se repete ao longo dos tempos,

entretanto o contexto social de cada época evoca motivações distintas para que isso

ocorra. Em primeiro lugar, é preciso atentar para a questão complexa que envolve o

ato de imigrar. É dizer, várias dimensões estão envolvidas para desencadear o

processo imigratório. “São transformações econômicas, demográficas, políticas e

sociais que ocorrem no seio da sociedade que fazem com que as pessoas migrem”

(Castles, 2005. p. 7). De acordo com o mesmo autor, a emigração para as colônias,

a partir do século XVI, foi um elemento fundamental para a construção dos impérios

europeus. Já no século XIX, a imigração por motivo de trabalho para a América do

Norte, assim como no continente europeu, teve um importante papel nos processos

de industrialização. Em momentos mais recentes, podem ser citadas também as

migrações em grande escala da Europa do Sul para o norte da Europa Ocidental

como um fator essencial para o crescimento econômico no pós-guerra (Castles,

2005. p. 7).

A partir da década de 80, as migrações assumiram um caráter global, os

fluxos históricos de imigrantes inverteram-se, os antigos países de emigração

transformaram-se em novas áreas de imigração, os fluxos migratórios são agora

mais volumosos, rápidos e complexos do que no passado (Castles, 2005. p. 7).

Ao longo do tempo o processo imigratório passou por várias “fases”. Com

isso, foram surgindo também diversas explicações para as causas da imigração.

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Serão citadas aqui algumas das vertentes explicativas do fenômeno, as quais em

sua maioria, mesmo tendo diferenças conceituais convergem para uma mesma

visão de futuro: o crescimento da imigração.

Existem as explicações demográficas, que destacam as diferenças estruturais

que se observam entre áreas com economias estagnadas e com altas taxas de

fertilidade, de um lado, enquanto que do outro há áreas com economias em rápido

crescimento e com declínio nas taxas de natalidade (Hugo, 1998). Destacam-se

nessa situação o Sul e o Ocidente da Europa, onde as taxas de fertilidade caíram

para 1,2 filhos por mulher, o que está abaixo do fator de reposição da população. O

que resulta dessa realidade são o rápido envelhecimento da população e a escassez

de pessoas em idade produtiva, levando à carência de mão-de-obra, sobretudo para

trabalhos de baixa qualificação.

A economia neoclássica também explica, a seu modo, as causas da

imigração, centrando-se nas expectativas individuais de salários mais altos e de

melhores oportunidades econômicas nas áreas-alvo da imigração em relação aos

lugares de origem. Essa perspectiva sinaliza para a condução, em longo prazo, de

uma convergência salarial entre os países receptores e emissores, o que, por

conseguinte, diminuiria a imigração. Esta explicação é bastante criticada, já que, de

acordo com Castles (2005) as disparidades salariais obviamente não diminuem, pelo

contrário, estão aumentando.

A nova economia das migrações e uma abordagem que dá maior relevância

aos elementos coletivos envolvidos na decisão de migrar. Esta explicação é vista

como parte das estratégias de sobrevivência familiar e de comunidades, sendo

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estabelecida por considerações feitas a longo prazo em relação à segurança e à

sustentabilidade, assim como pelo papel das remessas e das oportunidades de

investimentos (Stark, 1999). Também de acordo com esta teoria a imigração tende a

aumentar, visto que o alto grau de insegurança em muitas áreas de origem torna

bastante lógico o envio de um membro da família para uma economia diferente e

teoricamente mais estável.

Já as abordagens histórico-institucionais falam sobre o papel das grandes

instituições, sobretudo as empresas e os Estados, no desencadeamento e na

modulação dos fluxos migratórios. Os grandes recrutamentos de mão-de-obra,

encorajados pelas autoridades econômicas e pelos agentes dos mercados de

trabalho foram decisivos para o surgimento dos fluxos de imigração rumo à Europa

Ocidental depois de 1945. As contratações também têm sido muito importantes no

que diz respeito às imigrações para os países produtores de petróleo do Golfo

Pérsico e para alguns países da Ásia como Taiwan, Malásia e Singapura (Castles,

2005).

Diante da posição importante dada ao Estado nessa abordagem, há margem

para que se pense que a mudança de rumo nas políticas estatais relacionadas à

imigração por si só já bastaria para diminuir ou acabar com as imigrações.

Entretanto, segundo Castles (2005) depois que é iniciado um processo imigratório,

ainda que seja por supervisão do Estado, ele toma rumos distintos, demonstrando

assim que possui uma dinâmica própria, não sendo facilmente detido.

Há também as explicações sociológicas das migrações, as quais se centram

na importância que os capitais cultural e social do homem assumem. Lê-se aqui por

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capital cultural o conhecimento relativo a outras sociedades, assim como à

informação a respeito do modo concreto de se deslocar e de buscar trabalho em

outro lugar. Neste âmbito, torna-se claro o papel da globalização na aquisição desse

capital cultural aqui explicado, já que ela o disponibiliza com facilidade. Imagens

relativas a estilos de vida ocidentais para as mais distantes aldeias. A prosperidade

na educação das populações também facilita os movimentos. No que se refere ao

capital social entende-se os relacionamentos necessários para migrar de modo

seguro e eficiente no que diz respeito aos custos. De acordo com Castles (2005) os

caminhos dos imigrantes geralmente já foram trilhados por outros, o que facilita o

acesso ao país de destino e dá apoio para superar dificuldades de alojamento e

burocráticas. Este tipo de imigração, segundo o mesmo autor, vem ganhando força,

pois estão sendo potencializados por melhorias ocorridas nas tecnologias das

comunicações e dos transportes na era da globalização.

Em meio às possíveis causas, figura a dimensão da complexidade do

fenômeno imigratório e do quão importante significa a análise contextual dele.

Mesmo sendo de diferentes abordagens a causa da imigração aqui explicitada

percebe-se uma constante: a busca. Em todas as explicações existe uma busca,

seja do país receptor, seja do próprio imigrante. Sempre há a figura do que

possuidor e do despossuído. Neste âmbito, percebe-se que a questão imigratória é

perpassada pela exclusão/inclusão social e suas circunstâncias.

Assistimos freqüentemente às notícias relacionadas a problemas em virtude

da imigração. Entretanto, não há somente um tipo de imigração, existem vários,

cada um relacionado ao seu contexto histórico. Austrália desde 1946, visando ao

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desenvolvimento e povoamento do país (Castles & Miller, 2003. p. 243- 244). A

Alemanha também é um exemplo no qual houve um planejamento para

trabalhadores-hóspedes, com o intuito de reforçar a economia no ano de 1945

(Castles & Miller, 2003. p. 244).

De acordo com Castles (2005), em meio a tantos razões para a imigração, no

século XX foram três os tipos predominantes de migrações primárias: as migrações

de fixação definitiva, as migrações laborais temporárias e os movimentos de

refugiados. Todavia, a tendência é de mescla destes tipos de fluxos e diversificação

deles, sempre tendo em vista a reunificação familiar.

Existem as migrações altamente qualificadas, as quais constituem atualmente

o tipo de migração mais procurada pelos governos dos países receptores. Países

como Estados Unidos, Canadá e Austrália, desde a década de 80, têm estabelecido

sistemas de entradas privilegiadas para atrair empresários, executivos, cientistas,

técnicos especialistas, etc.

Há também as migrações de trabalhadores com fracas qualificações. Este

tipo de migração foi crucial para o crescimento industrial após 1945 na maioria dos

países desenvolvidos, entretanto é comumente rejeitada atualmente, já que é

considerada socialmente perigosa e economicamente desnecessária. Nos países

recém-industrializados esse tipo de migração ainda ocorre para a indústria e

agricultura. O que ocorre, porém, é que há a utilização de pessoas ilegais ou em

busca de asilo nessas funções, o que, pela privação de direitos, facilita a exploração.

Cita-se ainda o termo bem abrangente “migração forçada”, antigamente mais

referida como migração de refugiados. De acordo com as Nações Unidas, no ano de

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2000 havia cerca de 12 milhões de refugiados no mundo, o que supera todos os

números em relação aos outros tipos de migração forçada. Ou seja, pessoas em

busca de asilo, pessoas deslocadas internamente, retornados de situações de

conflito, pessoas deslocadas em virtude de catástrofes naturais e pessoas

deslocadas por causa da execução de projetos de desenvolvimento, como

barragens, etc.

O contexto globalizado trouxe, segundo Castles (2005), novos tipos de

migração, bem como a retomada forte de outros já existentes. O tipo de migração

denominado “fenômeno do astronauta” é um dos novos tipos de migração. Aqui,

famílias inteiras saem de seus países de origem para países como Canadá e

Austrália, em face do estilo de vida e segurança, enquanto o responsável

financeiramente pela família retorna ao país de nascença para trabalhar, o que o faz

viajar enorme distâncias com freqüência.

Figura também a migração de retorno, que mesmo não sendo nova, hoje em

dia toma fôlego, como resultado de tendências de imigração laboral temporária. Os

migrantes retornados mostram-se importantes agentes de mudança econômica,

social e cultural, tendo atraído uma atenção crescente em processos de

desenvolvimento (ONU, 1998; Castles, 2000a apud Castles, 2005).

As melhorias nas comunicações e nos transportes têm elevado o tipo de

imigração chamado “imigração de reformados”. Ele trata da migração de pessoas de

países ricos e clima pouco atraente que buscam aproveitar seus últimos anos em

ambientes mais agradáveis. Este fato traz impactos culturais e serve de base ao

surgimento de novas indústrias e serviços.

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Por fim, deve-se falar da imigração póstuma. Tal fenômeno é reflexo da

complexidade cultural e psicológica da experiência migratória. Muitos migrantes

fazem planos para que seus corpos sejam enviados ao seu solo nativos, para lá

serem enterrados (Tribalat, 1995 apud Castles, 2005). Observa-se assim a

importância da melhoria nos transportes.

2.2 Exclusão e Imigração

A discussão a respeito da exclusão / inclusão social remete ao estudo do

indivíduo e das relações sociais em sua totalidade, assim como a uma reflexão da

realidade onde se encontram as contradições entre os movimentos em defesa da

inclusão social e as práticas exclusivas perpassadas pelas instituições sociais.

As formas de excluir e de comunicar a exclusão são onde residem algumas

mudanças de acordo com as realidades ao longo do tempo. As novas maneiras de

informar a exclusão trazidas pelas novas tecnologias fazem com que a idéia da

exclusão pareça nova, atual, mas não o é. O que ocorre é que a exclusão social

muda seu conceito a cada tempo, cada contexto, se transformando de acordo com a

realidade confrontada. Em face desta característica, não há conceito fechado para a

antiga problemática da exclusão. Em cada tempo há um conceito que mais se

aplica. Diante disso surgem as perguntas: o que realmente é exclusão social? E

como se dá a exclusão social?

O termo “exclusão social” pode referir-se à desigualdade social, à miséria e à

pobreza, à privação em geral, ao fato de estar à margem, enfim todos têm algo a

dizer, cientificamente ou não, sobre este tema. Para Catão (2005), a exclusão social

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é negação da coesão social, é a degradação da identidade de cada indivíduo e

também dos grupos, é, por fim, a desintegração e desorganização das relações

sociais. E acrescenta “Trata-se de um atentado à dignidade humana, pois comporta

uma ofensa ao eu do excluído, produz significados nos indivíduos e grupos

implicados, traduz um pensamento e um sentimento de abandono. Orienta condutas

e ações no mundo, produz marginalização e delinqüência.” (Catão, 2005).

A mesma autora vê a exclusão social como um produto do sistema social,

político, econômico e cultural, portanto, não deve ser explicada pelas

características do indivíduo excluído ou das instituições sociais. Há uma relação

intrínseca entre os indivíduos e as instituições sociais que são constituídas por

normas e práticas com o intuito de preservar o instituído e/ou criar novas

instituições, no qual determina o processo de exclusão (Lourau; Catão, apud Catão,

2005). Percebe-se que o excluído está sempre ligado à realidade que o constrói e

para identificá-lo é necessário recorrer às seguintes indagações: Excluído por

quem? Excluído de quê? Excluído de onde? A questão excluído / incluído implica

uma relação dialética de afirmação / superação, na qual o sujeito excluído é o

afastado, o desviado, o retirado, enquanto o sujeito incluído é o envolvido, o

assimilado, o abrangido.

De acordo com Xiberras (1993), excluídas são todas as pessoas que não

participam dos mercados de bens materiais ou culturais. Já Castel (1997) lê a

exclusão como uma desafiliação, a qual representa uma ruptura de pertencimento e

de vínculos societais. Em face disso, o desafiliado é um sujeito que em cuja

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trajetória é feita uma série de rupturas relacionadas a estados de equilíbrio

anteriores, que são estáveis ou instáveis.

Como analisa Sawaia (1999, p. 8) “a sociedade exclui para incluir e esta

transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório

da inclusão”. Pode-se observar que todos os indivíduos estão incluídos de alguma

forma, mesmo que não seja de forma digna, apenas no sentido da insuficiência e

da privação destinada às minorias sociais. Ao invés de pensar a exclusão como

fato único, isolado, a autora compreende a dialética exclusão / inclusão, na análise

da desigualdade social, a partir de princípios éticos e da subjetividade humana e

nas interpretações legalistas da inclusão através da justiça social e do papel do

Estado nos mecanismos excludentes e no sofrimento do outro (Sawaia, 1999).

Mesmo tendo como cenário diferentes realidades sociais ao longo do tempo

e, por conseguinte, diferentes conceitos, na mesma linha de pensamento de Sawaia

(1999), de acordo com Catão (2005), a exclusão é fruto da interação entre dois

elementos constitutivos do sistema de exclusão, os indivíduos e as instituições

sociais. As diferentes sociedades através dos tempos produziram seus excluídos

dentro de suas características peculiares. (Catão, 2005).

Desde a época colonial já se podia verificar exemplos de exclusão social.

Mesmo em leis e declarações de direitos, em várias partes do mundo, não havia a

igualdade entre os indivíduos, dessa forma a exclusão era institucionalizada. Em sua

fase escravista o Brasil, ao mesmo tempo em que excluía o escravo, dependia dele,

em grande parte, para sustento de sua produção. Os escravos, as mulheres, os

pobres em geral foram durante muito tempo privados do direito de votar e da própria

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liberdade (Tosi, 2004). As benesses da evolução e riqueza humanas não eram, e

não são, do direito de todos, só os homens adultos e ricos tiveram esse privilégio

durante alguns séculos.

Mesmo tendo a existência remontada há anos atrás, a exclusão nem sempre

teve sua noção amplamente difundida como atualmente é. Antes da década de 80

não se pensava a exclusão social fora da responsabilidade das instituições e da

própria política. A partir da década de 80 a noção de exclusão volta à cena com

outra roupagem. O contexto do momento contribuiu para isso. Várias pesquisas

relacionadas ao tema foram realizadas à época, além de a União Européia está

sendo estruturada, levantando a questão de exclusão e integração (Catão, 2005). O

termo passou a ser visto de outra forma, levando a crer, em última análise, que os

indivíduos excluídos são barrados de lugares sociais como resultado da crise

econômica, portanto, passa-se a pensar a exclusão social como um processo

subjetivo/objetivo em que a auto e hétero exclusão na vida pública e privada são

confundidas e re-alimentadas (Arent; Jovchelivitch, apud Catão, 2005).

A partir dos anos 90 a exclusão é retomada com enfoque não no conceito de

exclusão social em si, mas sim nos grupos que são vitimizados por ela e nos

próprios processos que poderiam levar à situação de exclusão. Atualmente existem

milhares de formas de exclusão, e novas formas surgem a cada dia a partir da

interação indivíduo sociedade.

Para Catão (2005) a problemática da exclusão precisa ser analisada como

processo social objetivo/subjetivo presente no cotidiano da população,

considerando-se as políticas públicas ineficazes e o papel da sociedade em mudar

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esse quadro de exclusão e sofrimento. As marcas deixadas pelas práticas

exclusivas, que ainda manifestam-se em muitas esferas sociais, indicam a ausência

de compromisso ético com a Declaração Universal dos Direitos Humanos votado

pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1948. Esta declaração divulgou o

princípio de que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com

espírito de fraternidade”.

Entre outras normas internacionais de proteção dos direitos humanos

destaca-se a Conferência Mundial de Direitos Humanos (1993), realizada em Viena

e, em nível nacional pode-se destacar o Programa Nacional dos Direitos Humanos

(1995), em que o Brasil assume o compromisso com a proteção dos direitos

humanos de mulheres, crianças, idosos, minorias e excluídos (Catão, 2005).

Segundo Moscovici (2003) os indivíduos não são apenas construídos pelas

características do contexto social, mas especificamente mediante a forma como

apreendem este contexto, suas significações e significados. As representações

sociais auxiliam o ser humano no modo de ver o mundo a partir de questões da

sociedade, da história e processos psíquicos. “Uma representação funciona como

um suporte do saber que vai agir diretamente sobre as práticas e a forma de

relação do indivíduo com o outro e com o mundo” (Catão, 2005, p. 334). Neste

sentido, entende-se que através do sentido das representações sociais pode-se

compreender o quanto o sujeito internaliza o seu comportamento, em outras

palavras, o quanto o problema social da exclusão esta produzindo o “ser” e o

quanto esse problema da exclusão tem do “ser” humano (Catão, 2005).

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Sawaia (1999) analisa o processo de exclusão a partir da afetividade e em

especial pelo sofrimento. Compreender a exclusão como sofrimento de diversas

formas recupera o indivíduo perdido nas análises econômicas e políticas sem

perder o coletivo, bem como conduz a uma reflexão da função do Estado para com

os cidadãos. A referida autora optou pelo sofrimento em sua qualificação ético-

político como categoria de análise da exclusão, bem como buscou uma unidade de

análise do comportamento humano que se incluem todas as manifestações

psicológicas. Para Vigotski, apud Sawaia (1999) essa unidade analítica é o

significado, capaz de interligar as diferentes funções psicológicas e destas com o

corpo e a sociedade. O significado é um fenômeno intersubjetivo, portanto, social e

histórico, que se traduz em ideologia e funções psicológicas distintas, porém com

raiz biológica.

O sofrimento ético-político abrange as múltiplas afecções do corpo e da alma

que se manifestam de diferentes formas na vida do sujeito. Este sofrimento

qualifica-se no modo como alguém é tratado, como se trata o outro na

intersubjetividade, cuja dinâmica e conteúdo são determinados pela organização

social. Sawaia (1999) esclarece ainda que as questões sociais dominantes em

cada momento histórico reproduzem o sofrimento ético-político, principalmente a

dor que surge da situação social de ser tratado como inferior, sem valor para a

sociedade. A análise do sofrimento ético-político revela uma falsa aparência de

integração social e as duas faces da exclusão/inclusão marcadas pelo problema da

desigualdade social, a injustiça e a exploração.

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Ao optar-se pela expressão dialética exclusão / inclusão faz-se a distinção de

que ambas não são categorias em si, cujo significado é dado por suas qualidades

específicas, mas que são da mesma substância, formando um par indissociável,

constituído na própria relação. Trata-se de um processo no qual as duas, inclusão e

exclusão, coexistem (Sawaia, 1999).

Segundo Sawaia (1999), as pesquisas têm revelado que o sofrimento gerado

pelo estado de inferioridade do sujeito, sem valor social e pelo impedimento de

desenvolver, mesmo que seja apenas uma parte, do seu potencial, é um dos

sofrimentos mais verbalizados. No entanto, o mais relevante na origem desse

sofrimento está na consciência do sentimento de desvalor social, de

deslegitimidade e do desejo de ser reconhecido como cidadão e gozar de seus

direitos. Percebe-se que não basta definir as emoções humanas, é preciso também

conhecer o motivo que as originam e as direcionam e que determinam a relação do

sujeito com a situação que lhe emociona.

Sawaia (1999) crê que a maioria das análises sobre a exclusão baseia-se

em valores éticos universais, elegendo a humanidade como princípio regulador

capaz de minimizar os seus efeitos na sociedade. Espinosa, apud Sawaia (1999)

denominou este princípio de “potência de ação” e o contrapôs à “potência de

padecer”. O conceito de potência de ação é entendido como o direito que cada

indivíduo tem de ser, de se afirmar e se expandir, sendo o desenvolvimento a

condição necessária para se alcançar a liberdade. Por outro lado, a potência de

padecer (paixões tristes e alegrias passivas) gera a servidão ao outro, situação na

qual se coloca nas mãos de outro sujeito as idéias sobre as afecções do próprio

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corpo. Enquanto a potência de ação impulsiona o indivíduo a agir, a superar os

problemas, a potência de padecer leva o indivíduo à passividade, não há estímulo

para que este enfrente a própria realidade.

Potencializar significa atuar construtivamente, pró - ativamente, realçando o

papel positivo das emoções na educação e conscientização, no modo de pensar e

agir racionalmente. A idéia de potência pressupõe o desenvolvimento de valores

éticos que são expressos através dos sentimentos, desejos e necessidades com o

intuito de superar o sofrimento ético-político (Sawaia, 1999).

A preocupação com a potencialização pessoal e coletiva rompe a barreira

artificial entre a universalidade ética e o desejo individual de cada um. Entende-se

que somente será possível desenvolver ao máximo a potência de ação quando o

objetivo pessoal implica a presença de outros, ninguém consegue realizar-se

plenamente sozinho, os benefícios de uma união organizada são relevantes a

todos. A ética só emerge no ser humano quando ele se conscientiza de que o maior

bem para si, está no fazer bem ao próximo (Sawaia, 1999).

Nesta perspectiva, pode-se pensar na sociedade moderna enquanto

ambiente de aproximação entre os povos, anulando as fronteiras geográficas e

raciais e estimulando a autotransformação e a transformação das coisas (Marshall,

1986). Uma sociedade formada por diferentes povos deveria estar preparada para

acolher a todos, independentemente de raça, religião e/ou condição social.

Segundo Werneck, apud Domingos (2000) na sociedade inclusiva os cidadãos são

responsáveis pelo bem-estar do próximo, por mais diferente que ele seja ou nos

pareça ser; a inclusão é primordialmente uma questão ética.

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É neste ensejo que se pensa, como questão pertinente da atualidade em

termos de exclusão/inclusão, a temática da imigração. A própria imigração já

pressupõe uma forma de exclusão. A decisão de ausentar-se do seu ambiente tem

subjacente, na maioria das vezes, fatores de exclusão social e esperança de

inclusão. Efetivada a imigração novas formas de exclusão vêm à tona, já que o

indivíduo encontra-se em ambiente novo, estranho às suas peculiaridades. Tal

exemplo mostra claramente o movimento social constante que ocorre na relação

indivíduo-sociedade. Os dois se completam e se põe lacunas concomitantemente,

gerando relações contraditórias, rumo à transformação. Nesse cenário é que

“nascem” e jazem modalidades de exclusão/inclusão social.

Segundo Catão (2005), o paradigma individualista atualmente ainda permeia

o sentido da noção de exclusão social, ou seja, é atribuída ao excluído social essa

característica como se lhe fosse peculiar. Essa concepção vai de encontro à

perspectiva sócio-histórica, já que esta entende os fenômenos como produto da

história e contexto humanos. A exclusão social é uma produção sócio-histórica de

um grande número de elementos constitutivos da relação entre indivíduos e

instituições sociais (Catão, 2005). Nessa perspectiva, entende-se a imigração, na

maioria das vezes, como sendo encorajada por uma situação de desconforto e

infelicidade em sua terra de origem. Fazendo essa leitura o contexto social é

contemplado na discussão sobre a exclusão.

No cerne de várias pesquisas empreendidas no mundo e de diversas notícias

amplamente divulgadas na imprensa a problemática da imigração mostra sua

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importância e seu viés de exclusão social. Toda essa atenção em direção ao tema

faz com que seja feito um exercício em busca de respostas relacionadas a ele.

A partir do momento em que se depara com uma realidade alheia à sua

conjuntura de costume, o imigrante sofre um choque cultural. Tal choque é produto

da chamada experiência intercultural. A assimilação de outra cultura é um processo

lento e nem sempre prazeroso, o que pode trazer frustrações e estresse (Lewis &

Jungman, 1986).

A França, por exemplo, nos anos 70 tentou conciliar esta diferença cultural

entre os imigrantes e os nativos franceses com a política de promoção da cultura

imigrante (Cuche, 1999). Segundo o mesmo autor, “gerir a diferença é, de certa

maneira, recusar a assimilação total dos imigrantes à nação francesa.”. Ou seja, é

não aceitar a diferença, é afirmar que as particularidades culturais dos imigrantes

são inassimiláveis. Cuche acrescenta ainda que vários países adotaram a “moda” da

política de promover a cultura dos imigrantes como forma de fazê-los regressar a

seus países. Esta seria uma forma de fechá-los em uma identidade imutável. Seria

uma tentativa de caricaturar as diferenças culturais.

Ademais dessas questões individuais e culturais que permeiam o ser humano

ao deparar-se com uma nova cultura, as questões sociais como um todo são

também bastante pertinentes. O imigrante é confrontado com o preconceito, às

vezes a ilegalidade e, por conseqüência, com a exclusão social. O imigrante chega

freqüentemente já com o estigma da própria imigração. É dizer, os fatos que o

fizeram migrar o marcam como necessitado, diminuído e até humilhado diante de

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seu novo lar. Os subempregos, geralmente são os reservados aos coletivos

imigrantes.

“Os governos dos países de origem os estimulam a abandonar o país, já que

isso significará o envio de remessas ao exterior e um alívio da pressão social

interna. Os governos dos países receptores são cada vez mais radicais quanto a

admitir trabalhadores imigrantes não qualificados, se bem que fazem vista

grossa diante das permanências ilegais quando têm necessidade de mão-de-

obra.” (Castles, 1997).

Inseridos em uma realidade de exclusão social em sua nova casa o imigrante

passa ser um indivíduo excluído duas vezes. Ou seja, por tentar melhoria de vida e

de inclusão social em outro país confronta-se com um contexto social que acaba por

não comportá-lo como ele esperava, configurando assim uma nova forma de

exclusão, não mais em seu país de origem, mas sim em uma terra estranha às suas

representações.

Com tantas problemáticas relacionadas, a imigração se torna uma pauta

incansável de pesquisas científicas e jornalísticas. Não é em vão o fato de a

imigração ser alvo constante tanto da imprensa como da comunidade científica. Tal

feito mostra sua complexidade, a qual é bastante convidativa à curiosidade e ao

interesse dos pesquisadores. Isso ocorre pela pluralidade de fatores que é inerente

ao fenômeno.

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Diante desse contexto há lugar para perguntas sobre a abordagem da

questão pela imprensa, especialmente aqui, brasileira e espanhola. A história e a

intensidade da imigração nos dois países influenciam a perspectiva dos conteúdos

veiculados? Esta é mais uma questão que surge das múltiplas faces do fenômeno

migratório.

Em face dessa conjuntura social não só o fenômeno migratório é importante,

mas sim como se fala dele, o que é associado a ele e como se faz as pessoas o

perceberem. O papel da mídia nessa questão é de fundamental importância, já que

ela é um elo potente entre a realidade e as pessoas, entre o fato e a opinião sobre

ele. Opinião esta que influencia comportamentos e orienta condutas. Entretanto, isto

não significa dizer que o conteúdo transmitido pela imprensa demonstra claramente

a realidade como ela é. Ou seja, o que é passado pela mídia pode influenciar

negativamente ou positivamente o indivíduo sobre um determinado assunto, fazendo

com que, dependendo do conteúdo, a certos coletivos, como o imigrante, sejam

associadas imagens, estereótipos, etc.

2.3 Representações Sociais

Falar de Representações Sociais (RS) é falar de um processo dinâmico, um

fenômeno psico-social que envolve cognição e práticas sociais. Dentro de um grupo

de pertença há compartilhamento de relações através da comunicação, as quais

permitem a “produção” das Representações Sociais.

A Teoria das Representações Sociais emerge em 1961 com vigor quando

Moscovici lança sua tese “La psychanalyse: son image et son public” tomando como

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objeto de pesquisa a apropriação da psicanálise pelo público francês dos anos 50 e

observando como esse saber penetrou na vida cotidiana dos franceses. À época,

um longo debate em torno da Psicanálise mobilizou Paris, intelectuais e estudantes

universitários. A polêmica que nasceu a portas fechadas repercutiu na imprensa e

revistas não especializadas publicaram artigos sobre a psicanálise. Moscovici

encontra então nesta temática o objeto para observar como ocorreu a apropriação

desse novo saber na vida da sociedade francesa pós-guerra.

Moscovici (1961) em seu trabalho traz uma análise detalhada da imprensa

francesa, a partir desta, por meio da análise da relação entre diferentes setores da

imprensa da França e a psicanálise, que ele propôs uma taxonomia para os

sistemas de comunicação, notadamente da comunicação social, são eles: difusão,

propagação e propaganda, os quais serão explicados posteriormente.

Em sua tese Moscovici lança duas problemáticas. A problemática específica

diz respeito a como é consumida, transformada e utilizada pelo senso comum uma

teoria específica, ou seja, o homem como cientista. Já a questão geral faz referência

à analise do homem em interação social e como ele constrói teorias sobre os objetos

sociais, que determinam a comunicação e a organização do comportamento.

De acordo com Moscovici (1961) as Representações Sociais são um conjunto

de conceitos, proposições e explicações criado na vida cotidiana e no discurso da

comunicação interindividual. A clássica definição de Jodelet abrange uma produção

de sentido comum a todos os grupos sociais. Ela se refere às representações

sociais como uma modalidade de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada,

possuindo um objetivo prático ao contribuir para a construção de uma realidade

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comum a um grupo social (Jodelet, 1989). A representação da sociedade exprime a

relação de um sujeito que é estabelecida com um objeto envolvendo atividade de

construção, modelação e simbolização (Vala, 2000).

Moscovici não separa o mundo interno do mundo externo. É importante

ressaltar aqui que uma representação é social na medida em que é compartilhada

por um conjunto de indivíduos; ela é produzida socialmente pela interação social;

tem seu critério genético, no sentido em que é coletivamente produzida e seu critério

da funcionalidade, quando oferece programas formadores e condutores da

comunicação e da conduta (Vala, 2000).

Sendo assim, Moscovici propõe que o comportamento dos grupos e

indivíduos seja enfocado em uma nova perspectiva, que em lugar de localizar o

“social” no comportamento, localize o comportamento no “social”. Deste modo, as

principais funções das RS são, segundo Moscovici (1961), a orientação dos

comportamentos e a comunicação entre os indivíduos. A estas, Abric (1994)

acrescenta outras duas funções: a identitária, referente à identidade social; e a

justificadora, referente à pertença grupal.

A primeira orienta modelos desejáveis de condutas, a segunda é onde estão

imersa as Representações Sociais, onde há circulação delas e seu processo

constante de renovação. A função identitária resguarda a imagem positiva do grupo

e sua especificidade, enquanto a justificadora permite aos atores manter ou reforçar

os comportamentos de diferenciação.

A Teoria das representações sociais encontra-se bastante desenvolvida e

usada e diversas áreas do conhecimento, entretanto, quando Moscovici construiu

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sua teoria deixou livre a questão do indivíduo, ou seja, não deixou claro quem é o

sujeito que forma representações sociais. Neste âmbito, faz-se importante

contextualizar esse indivíduo, lê-lo historicamente. Sendo assim as questões

psicológica individual, sociológica e histórica precisam ser levadas em conta quando

se trata de estudar o indivíduo. Tal sujeito possui sua história, suas idiossincrasias,

seu contexto sócio-cultural e a partir daí forma suas representações sociais, é dizer,

ele faz suas objetivações e ancoragens, conceitos tais que serão descritos a seguir

como processos de formação das Representações Sociais.

Os processos sócio-cognitivos de ancoragem e objetivação compreendem a

imbricação e a articulação entre atividades cognitivas e condições sociais nas quais

são formadas as Representações Sociais.

2.3.1 Ancoragem e Objetivação

A ancoragem consiste, segundo Moscovici (2003), em tornar familiar o que

não é familiar. É a assimilação de um objeto novo através de objetos já antes

categorizados no sistema cognitivo. Tal processo precede ou não a objetivação. Na

verdade os dois processos ocorrem em um ciclo contínuo no qual não há ordem.

Segundo Catão e Coutinho (2003) entende-se que as representações sociais

não são simples reflexos da realidade, elas são uma organização sócio cognitiva,

que integram as características objetivas do objeto, as experiências anteriores do

grupo, seu contexto macro e micro-social, sua história e seu sistema de atitudes, de

normas e valores.”.

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Nessa dinâmica constante ocorre a circulação das Representações e assim

há terreno fértil para indagações acerca de como se dão os processos de

objetivação e ancoragem, sendo estes responsáveis apreensão e simbolização das

informações que lhes são ofertadas pela imprensa. Nesse hall de informações está a

questão imigração. Tal problemática vem sendo amplamente divulgada em todos os

gêneros jornalísticos, seja ele opinativo ou investigativo. O conteúdo dessas

matérias veiculadas pelo jornalismo, com efeito, servem de material para a formação

das Representações Sociais dos indivíduos acerca do tema. Tendo como uma de

suas funções a orientação de conduta, as Representações Sociais, tornam-se ainda

mais imprescindíveis de serem investigadas.

A representação Social trabalha com o âmbito do coletivo e do individual,

considerando a mediação dos sujeitos (indivíduo e/ou grupo) com o mundo através

do contexto em que ocorre, utilizando como canal a linguagem e a comunicação.

Desta maneira, buscar a compreensão do fenômeno das representações sociais

dentro do jornalismo é contribuir para o aprimoramento dos conhecimentos acerca

dos mecanismos formadores de Representações Sociais e acerca do poder que

possui o jornalismo nesse sentido dentro do âmbito da temática Imigração.

Já a objetivação desenvolve-se em três momentos constituintes da

representação. No primeiro momento ocorre a construção seletiva, a qual se trata da

descontextualização e seleção que o objeto sofre no meio social. Depois ocorre a

esquematização, a qual dá significado próprio ao objeto e certos elementos são

esquecidos e outros desenvolvidos, então o objeto é organizado. Na última fase do

processo, a naturalização, o objeto se torna concreto (Catão & Coutinho, 2003).

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O ato de objetivar significa dar qualidade icônica a uma idéia, ou seja, “é

reproduzir um conceito em uma imagem” (Moscovici, 2003). A objetivação é a

ligação de uma idéia a uma imagem concreta, ou seja, é a concretização do que

está no campo das idéias, na esfera abstrata. Quando se compara alguma idéia ou

conceito, por exemplo, a algo palpável, já é configurada uma representação por

meio de objetivação. Este processo, segundo Moscovici (2003), é mais ou menos

direcionado para o mundo exterior, formando imagens a partir do que já é

conhecido, diferentemente da ancoragem, a qual é direcionada para o interior do

indivíduo, impulsionando-o a refletir sobre alguma coisa que rotula de acordo com o

que já está presente em sua memória.

2.3.2 Tridimensionalidade das Representações Sociais

Com vistas a compreender qual a relação das representações com a

coletividade que as produz, como elas se refletem no sujeito social que as porta e

como ela se prevalece dele, Moscovici (1978), sinaliza que as representações

sociais se mostram como um conjunto de proposições, reações e avaliações. Estas

estão relacionadas a determinados pontos e emitidas em conversações, pesquisas

de opinião ou pela opinião pública, da qual, segundo ele, todos fazem parte.

O que se percebe é que essas proposições, reações ou avaliações estão

organizadas de forma muito diferente de acordo com as classes, grupos ou culturas

e constituem tantos universos de opinião quanto existem culturas, grupos etc. Sendo

assim Moscovici (1961) trata de observar conteúdo das representações sociais sob

três dimensões: Informação, Campo de representação ou Imagem e Atitude.

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A tridimensionalidade das representações varia de grupo para grupo não só

no tocante ao grau de assimilação das dimensões relativas ao objeto de estudo,

mas também se pode dizer que sobre o mesmo objeto social, os grupos podem ter

diferentes organizações dos seus conhecimentos (informação), apresentar

diferentes orientações de comportamento (atitude) e incluir diferentes conteúdos no

modelo que representa o objeto (imagem) (Moscovici, 1961).

A dimensão informação - ou conceito - diz respeito à organização dos

conhecimentos que um grupo possui a respeito de um dado objeto social, em nosso

caso a imigração e o imigrante. Ou seja, o conhecimento que os jornais pesquisados

das imprensas brasileira e espanhola possuem sobre a imigração e o imigrante.

Alguns jornais podem conter mais informações relacionadas a imigração e

imigrantes que outros. Não havendo informações a esse respeito, pode-se afirmar

que não representação existente.

A dimensão Campo de representação ou Imagem relaciona-se ao conteúdo

concreto de um modelo social, ao conteúdo limitado das proposições que se referem

a um aspecto preciso do que se representa. Difere do que se tem por opinião no

momento em que esta possui elementos relacionados ao objeto de representação,

entretanto eles não são necessariamente estruturados, ordenados. Já quando se

trata da Imagem enquanto dimensão de representação tem-se obrigatoriamente a

idéia de organização, de unidade hierarquizada de elementos. Por exemplo: a

imagem da imigração como inclusão social: oportunidades e acolhimento. É

importante dizer também que o conceito de imagem ou campo de representação

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está relacionado ao processo sócio-cognitivo de objetivação já explicado

anteriormente.

Tratando-se da dimensão Atitude, pode-se dizer que ela é a orientação global

em relação ao objeto que é representado socialmente, ou seja, afetos e sentimentos

positivos ou negativos, havendo também atitudes intermediárias (Moscovici, 1961).

Esta dimensão engloba as aproximações e afastamentos relacionadas ao objeto

social, aqui a imigração e o imigrante. Ela pode ser exemplificada como as menções

positivas, negativas e intermediárias relacionadas à imigração e ao imigrante

presentes nos textos jornalísticos pesquisados.

Observa-se que essas três dimensões fazem da representação social uma

noção complexa, a partir da qual nota-se que não é a vontade que constrói os

significados de mundo para os indivíduos e coletivos, e nem as circunstâncias, não

é o individuo com suas características individuais, nem a sociedade com suas

determinações, mas a relação indivíduo/sociedade produzida pelas construções

sócio-cognitivas-afetivas dos indivíduos com e no mundo, formando e

transformando assim suas representações sociais (Catão, 2001a).

Notadamente, neste estudo, a tridimensionalidade possui uma importância

peculiar. Trabalhando com a imprensa, é importante detectar qual informação que o

jornal veicula sobre determinado tema, entretanto a atitude que ele adota diante

desta informação faz toda a diferença. O veículo de comunicação pode divulgar um

conteúdo negativo sobre a imigração e o imigrante, por exemplo, e ao mesmo

tempo posicionar-se contra aquela informação, ou seja, mostrar que não

compartilha daquelas concepções negativas a respeito do tema. E é em face deste

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posicionamento, ou seja, desta atitude do jornal, que as pessoas vão formar suas

imagens a respeito do tema imigração, ou qualquer outro. A posição do jornal sobre

determinada temática, o enfoque dado à informação, é que será importante para a

formação das imagens relacionadas a ela.

2.3.3 Taxonomia da comunicação (Difusão, Propagação, Propaganda)

Em sua tese, “La psychanalyse: son image et son public”, Moscovici traz uma

análise detalhada da imprensa francesa, e foi a partir desta, por meio da análise da

relação entre diferentes setores da imprensa da França e a psicanálise, que

Moscovici propôs uma taxonomia para os sistemas de comunicação, notadamente

da comunicação social, são eles: difusão, propagação e propaganda (Jovchelovitch,

2000).

Para Moscovici (1961) as Representações Sociais acontecem sob um

conjunto de mensagens que é organizado cognitivamente conforme diferentes

modalidades de comunicação. São as modalidades de deslocamento das

Representações Sociais. Como anteriormente citado, o autor classifica três sistemas

indutores de representações. Existem a difusão, a propagação e a propaganda.

Cada forma indutora tem como efeito a produção de Representações Sociais

específicas. Correspondem respectivamente à edificação de condutas de opinião,

atitudes e estereótipos.

O sistema de difusão tem a característica de direcionar-se não a um público

somente, mas sim a uma pluralidade desses. “As mensagens sobre um objeto

organizam-se com base numa multiplicidade de quadros de referencia, na medida

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em que ignoram as diferenciações sociais e se dirigem a indivíduos intermutáveis.”

(Ordaz & Vala, 1997). Já no que diz respeito ao sistema de propagação pode-se

afirmar que é uma modalidade de comunicação que remete a um público específico,

dessa forma tem uma leitura mais bem organizada do mundo. Nesse tipo de sistema

está intrínseco um quadro de referência familiar ao grupo para o qual se destina.

Quando se trata do sistema de comunicação denominado propaganda se tem uma

perspectiva claramente direcionada do mundo. As relações de conflito são

encorajadas. Em tal sistema o objetivo mais claro é a persuasão. (Ordaz & Vala,

1997).

Diante das noções dos sistemas de comunicação de difusão, propagação e

propaganda e do poder e entrelaçamento sobre e com a vida social cabe

indagações a respeito de qual seriam os sistemas mais amplamente difundidos entre

os meios de comunicação de massa, notadamente, os meios impressos de

comunicação. A “vigilância” dos meios nesse sentido é de importância preciosa, já

que cada sistema de comunicação pressupõe uma dada intenção do veículo e

também nos faz pensar em que tipo de representações sociais cada dito sistema

geraria nos indivíduos.

2.3.4 Psicologia, representação social e meios de comunicação

Serge Moscovici desenvolveu seus trabalhos em psicologia social tendo como

um de seus mais importantes estudos a supracitada teoria. Ela por sua vez está

inserida em um projeto maior do investigador, no qual tinha o intuito de construir

uma psicologia social do conhecimento.

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A psicologia social do conhecimento procura explorar como os seres

humanos, suas representações e como suas idéias se transformam em prática,

como frisa Moscovici:

Há numerosas ciências que estudam a maneira como as pessoas tratem,

distribuem e representam o conhecimento. Mas o estudo de como, e por que, as

pessoas partilham o conhecimento e desse modo constituem suas realidade

comum, de como eles transformam idéias em prática – numa palavra, o poder

das idéias – é o problema específico da psicologia social. (Moscovici, 2003, p.

164).

As investigações em psicologia social a esse respeito tratam de senso comum

o produto do que é transmitido pela mídia, ou seja, tamanha é a força do que é

veiculado que passa a ser senso comum. Como retrata Moscovici, as imagens do

mundo são passadas pelos meios de comunicação de forma veemente, já que o

último participa da vida do ser humano e o faz perceber o que ali é visto, lido ou

ouvido como parte da realidade.

Elas (as representações) entram para o mundo comum e cotidiano em que nós

habitamos e discutimos com nossos amigos e colegas e circulam na mídia que

lemos e olhamos. Em síntese, as representações sustentadas pelas influências

sociais da comunicação constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e

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servem como o principal meio para estabelecer as associações com as quais

nós nos ligamos uns aos outros. (Moscovici, 2003, p. 8).

Os meios de comunicação proliferam seu modo de representar a sociedade e

suas problemáticas o qual é absorvido na mente da maioria como legítimo. O senso

comum é, dessa forma, moldado pela mídia, ou seja, os meios de comunicação

interpretam o mundo para os indivíduos, os quais adotam tal forma de ver os fatos.

Moscovici (2003, p. 96) trata da questão tendo esse senso comum como

pensamento que domina: “[...] estudamos o problema dos meios de comunicação de

massa e seu papel no estabelecimento do senso comum. Nesse caso, o senso

comum pôde ser elevado à função de uma ideologia dominante”.

A mídia tem importante papel na formação desse senso comum que é

combustível para a sociedade comunicar-se.

Seu conteúdo (do senso comum), as imagens simbólicas derivadas da ciência

em que ele está baseado e que, enraizadas no olho da mente, conformam a

linguagem e o comportamento usual, estão constantemente sendo retocadas. No

processo, estocagem de representações sociais, sem a qual a sociedade não

pode se comunicar ou se relacionar e definir a realidade, é realimentada.

(Moscovici, 2003, p. 95).

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Através da mediação de mais material para as representações elas vão

adquirindo mais importância e autoridade. Pode-se ter essa “mediação” como sendo

explicações de fenômenos, personalidades, analogias etc.

Levando em consideração que o que é veiculado pelos meios de

comunicação de massa é objeto de conversações informais e sendo estas

conversações informais, dentre outros fatores, materiais para a formação de um

pensamento social, pode-se afirmar a importância dos meios no processo de

representação social. Segundo Tarde (1910 citado em Moscovici, 2003, p.89),

“opiniões e representações são criadas no curso de conversações”.

2.3.5 Meios de comunicação e a representação do outro

Rossana Reguillo também observa a importância dos meios de comunicação

nas representações sociais. Para a autora os meios contribuem para a proliferação

da imagem inferiorizada, no caso específico estudado por ela, dos países da

América Latina. A autora afirma que os meios de comunicações são lugar de

interação na qual é mostrada a autorização, ou desautorização do outro.

Se é aceito que a comunicação midiática é fundamentalmente um espaço social

que autoriza o outro, as políticas de representação da crise latinoamericana

através desse espaço social chamado ‘meios de comunicação’, contribuiram

para fortalecer a idéia de perigo que constituem para cada país, os problemas

que afetam o outro. (Reguillo, 1996, p. 3).

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Reguillo aponta ainda para a questão da visibilidade disponibilizada pelos

meios de comunicação, a qual oferece a reconfiguração de paradigmas e

configuração do que ainda não se conhece. Para a autora o que é mostrado produz

mecanismos “classificatórios” em relação aos acontecimentos na sociedade, o que

provoca a referida reconfiguração do outro.

Se os meios de comunicação podem ser pensados principalmente como

dispositivos sofisticados de produção de visibilidade, isso nos levaría a aceitar que

estamos diante de um mecanismo emergente de produção, acumulação e

distribuição de um ‘novo’ saber clasificatorio que se traduz em um poder capaz de

reconfigurar o pensamento do outro. O outro sempre fica interceptado pela força de

um imaginário global midiatizado que reedita e reelabora a produção da diferença.

(Reguillo, 1996, p. 7)

O poder dos meios de comunicação é comparado ao do poder político

institucionalizado, às vezes até maior, quando se trata de confiabilidade,

legitimidade etc. É dizer, o que é visto, lido ou ouvido é tomado como legítimo,

pela maioria, quase inquestionavelmente. “Lo importante aquí es argumentar que

verosimilitud, confiabilidad y legitimidad, tres elementos sustantivos para un

espacio público vigoroso y democrático, son hoy atributos de los medios y no de

la institucionalidad política.” (Reguillo, 1996, p. 10).

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O avanço tecnológico da comunicação também é visto como forma de

expandir a representação sobre o outro. Tal evolução transmite para o mundo as

culturas diversas, os acontecimentos diversos etc. Isso faz com que o diferente, o

outro e sua cultura, tenham tratamento de desvio. É dizer, o que é diferente é tratado

como desvio e, portanto negativo. Esses fatos tornam-se verdade principalmente

quando se trata da comunicação em relação à cultura e acontecimentos do outro

proveniente de países “subdesenvolvidos”, pobres. Tal ação se caracteriza como

forma de repressão diante da diferença. Assim explica Reguillo (1996):

A paisagem midiática está cheia de exemplos que mostram que uma das

estratégias centrais para reprimir a diferença é mostrá-la em uma representação

caricaturada, processo que hoje adquire dimensões planetárias com as

tecnologias da comunicação. (p. 74).

Os meios de comunicação são transmissores das representações sociais,

porém também são produtores de representações sociais. Para Rossana Reguillo os

meios têm poder de criar classificação e com isso criam representações sociais. O

referido poder se dá, para a autora, pelo fato de os meios serem detentores de

grandes aparatos tecnológicos para divulgação das representações dominantes.

A “paisagem midiática” é criadora de um imaginário global, o qual tem o poder

de configurar e reconfigurar a produção de sentidos. Dessa maneira a interpretação

do outro passa pelo crivo desse universo midiático. “E assim na ‘paisagem midiática’

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o OUTRO fica interceptado pela força de um imaginário global que reedita a

promoção da diferenta” (Reguillo, 1996, p. 77).

O que é transmitido através dos meios de comunicação não deve ser visto

como verdade absoluta, o que Reguillo chama de “fantasmas sociais”. Os últimos

são fatores que dificultam o livre pensamento e a livre interpretação.

[...] verdades irrefutáveis e nunca questionadas que, como ‘fantasmas sociais’,

estão aí sem serem vistas e são o principal obstáculo para o pensamento livre (e

complexo). No fundo a complexidade implica que tratar de compreender o poder

das representações a partir de uma lógica não disciplinar (e disciplinada) exige

compreender nossas próprias representações de poder. (Reguillo, 1996, p. 78).

2.3.6 A notícia e as representações sociais

Os recortes da realidade com os quais trabalha o jornalismo são peças para a

formação das Representações Sociais, neste caso acerca da questão da imigração

e da figura do imigrante. Segundo Pena (2005), o que é veiculado em um jornal

passa muitas vezes a ser considerado espelho da realidade, o que pode gerar nos

receptores opiniões, imagens do real, atitudes em relação a esse real e chegando às

vezes a configurar uma representação social. O jornalismo impresso, também

fazendo parte do contexto comunicacional citado, dá sua contribuição para a forma

de categorização do tema da imigração aqui em questão.

Como veículo e sistema de representações e atendendo à sua função social

de informar, o que de fato ocorre é que nem sempre os meios de comunicação

assumem com firmeza e rigor sua responsabilidade. Tal fato pode trazer

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interpretações e representações das mais variadas a respeito de determinado

coletivo, aqui os imigrantes. Isso se dá pela importante fonte de representação sobre

a imigração que são os meios de comunicação em geral e particularmente o

jornalismo impresso.

Investigar como se dão os processos de formação das representações sociais

dentro do jornalismo impresso torna-se essencial para este estudo, pois através

deles têm-se a noção de como ocorre a apreensão das informações acerca da

temática aqui abordada e quais são essas informações e/ou representações, já que

“(...) considera-se Representação Social como o sentido atribuído a um dado objeto,

a partir das informações que, continuamente, lhe vêm de sua prática, de suas

relações” (Madeira, 2001).

Este estudo parte do pressuposto que “a comunicação social é hoje umas das

principais formas de construção de sentido e produção de realidades públicas,

objetivas e legitimadas” (Ordaz & Vala, 1997). Entretanto é importante deixar claro

que não se busca neste estudo uma análise da imprensa em si, mas da imprensa

enquanto mediadora de produção de significados da vida em sociedade. Nossa

análise busca identificar as representações sociais sobre imigrante/imigração e

implicações com a questão da exclusão/inclusão social que ela produz e põe em

circulação. Assim surgem indagações acerca da linha de direcionamento noticioso

na cobertura da temática da imigração, do significado da imigração e do imigrante

que é construído pela imprensa, notadamente a imprensa brasileira e a espanhola,

da contribuição da imprensa escrita para as representações sociais da imigração e

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do imigrante bem como da relação dos significados produzidos pelos jornais

impressos com a exclusão do imigrante e seus direitos humanos.

A evolução da tecnologia da comunicação é uma das características mais

peculiares da contemporaneidade. As mudanças de hábitos e da percepção da

realidade estão quase sempre ligadas às novas tecnologias, notadamente à mídia. A

democratização da informação, a facilidade para obtê-la e para gerá-la fez com que

o conteúdo dos meios de comunicação e seus sistemas se transformassem em

alvos da atenção de vários segmentos da sociedade. Como acredita Jovchelovitch

(2000) quando afirma que

A emergência e desenvolvimento dos meios de comunicação de massa

constituem-se em uma das mais importantes características das sociedades

modernas. A intensidade de sua penetração, nos mais variados seguimentos, em

praticamente todos os domínios da vida social, associados a seu profundo

impacto nas sociedades contemporâneas, fez com que cientistas sociais das

mais variadas disciplinas se dedicasse a pesquisá-los sistematicamente e hoje,

estudos sobre a mídia constituem um campo próprio praticamente

institucionalizado na vida acadêmica européia e norte-americana. (p. 89)

O nível de envolvimento da vida cotidiana com a mídia é tão grande que não

se pode hoje conceber a realidade sem ela. Os jornais sejam eles impressos,

televisivos ou na internet, se converteram nos olhos das pessoas em todos os

lugares do mundo. Essa mediação dá aos meios de comunicação o poder de

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interpretar o mundo em lugar dos indivíduos. A partir desta leitura do mundo

populações inteiras firmam conceitos de vida.

Os meios de comunicação se tornaram constitutivos da vida social, já que

alteraram modos de interação, transformaram o acesso a e o consumo de bens

simbólicos, reestruturaram a política institucional e mudaram as fronteiras entre

espaço público e privado. (Jovchelovitch, 2000).

A maneira contundente com a qual os meios de comunicação estão

intrincados na vida social e individual os faz ser instrumento importante para o

entendimento das formas que são elaborados os conceitos na mente dos indivíduos.

Segundo Jovchelovitch (2000), a mídia se torna uma fonte importante de reflexão

acerca do estudo das representações sociais, já que possui formas de definir e

transformar as maneiras como circulam os bens simbólicos. “De fato, o vínculo entre

a formação e a transformação das representações sociais e os meios de

comunicação de massa merecem atenção cuidadosa, e como Farr (1993) assinalou

é preciso estudar o conteúdo da mídia.” (Jovchelovitch, 2000).

Embora os meios de comunicação estejam em grande evidencia hoje eles já

eram entendidos como valiosas ferramentas de pesquisa no passado. Moscovici em

sua tese doutoral (1961/1976) fez um estudo aprofundado sobre as representações

sociais da psicanálise na imprensa francesa, no qual desenvolveu os conceitos dos

sistemas de comunicação de difusão, propaganda e propagação. Tal estudo mostra

a importância dessas noções para o desenvolvimento das representações sociais.

(Jovchelovitch, 2000).

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Além dos próprios meios de comunicação e seu inegável poder de alcance

por conta da tecnologia, a notícia por si só também se mostra responsável pelas

representações na sociedade. Antes de observar o valor da notícia para as referidas

representações é preciso conceituá-la. Para Van Dijk (1990) no uso diário, o

conceito da notícia nos meios implica os seguintes conceitos:

1. Nova informação sobre fatos, objetos ou pessoas. 2. Um programa tipo (de

televisão ou de rádio) no qual se apresentam ítens jornalísticos. 3. Um ítem ou

informe jornalístico, como por exemplo um texto ou discurso na radio, na tevisão

ou no jornal impresso, no qual se ofrece uma nova informação sobre fatos

recentes. (p. 17).

No que diz respeito à importância da notícia nas representações sociais, o

conceito número três é o mais adequado.

Os grandes meios são notadamente responsáveis por tais representações,

como aqui já foi mostrado, em virtude da grandiosidade em relação ao potencial de

globalidade de seu conteúdo. Já o estudo da notícia nesse processo se dá em

relação ao próprio cunho cognitivo dela. Os processos de cognição e apreensão da

notícia são chaves no conhecimento e construção de crenças em geral. “Isto nos

permita fazer explícito o bem conhecido rol dos valores da noticia e as ideologías na

produção e entendimento de noticias.” (Van Dijk, 1990, p. 15).

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A noticia é capaz de provocar a manutenção do pensamento dominante a

partir do momento em que parte de “fabricantes” suscetíveis a criar uma ilusão em

relação à sociedade e suas circunstancias. Os que produzem a notícia possuem,

de acordo com Van Dijk, uma espécie de rede que compartilha do pensamento

dominante que por sua vez é proliferado através dos meios.

Aprofundando mais sobre o possível produto destas práticas de fabricação

da notícia, Tuchman presta finalmente atenção à ‘rede de faticidade’ que se tece

entre os que elaboram as notícias com o fim de criar uma ilusão de credibilidade,

mas que em última instância legitima o status quo. (Van Dijk, 1990, p. 23)

Isso é demonstrado através das narrações feitas, as quais oferecem

representações diferentes sobre desastres, rebeliões e manifestações, por um lado,

e de líderes legitimados, por outro. Neste estudo, o discurso jornalístico é visto como

um ato social já que a notícia é usada em situações sociais, sendo assim uma

integração entre texto e contexto social. A notícia é também lugar de interação.

Partindo desse ponto de vista, se pode afirmar a participação do texto jornalístico na

formação do pensamento social e suas representações.

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CAPÍTULO III

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa trata de um estudo descritivo, o qual se executa por meio da

exploração de aspectos quantitativos e qualitativos no discurso dos artigos/notícias

dos jornais abordados. Tais aspectos serão analisados sob o olhar dos conceitos

relacionados ao fenômeno das representações sociais, bem como da concepção

contextualizada de indivíduo.

Aqui se entende que a linguagem é socialmente construída (Berger &

Luckman, 1973), que é lugar de interação, espaço este encontrado nos textos

jornalísticos aqui pesquisados, que por sua vez têm posição importante na

configuração de um dado objeto (Moscovici 1979), neste estudo a imigração e o

imigrante. Sendo assim a análise por meio do programa ALCESTE (Reinert, 1987) e

a interpretação do que foi processado procederão a suas funções no sentido de

tratar quantitativamente dados qualitativos, os quais serão lidos a partir do

supracitado referencial conceitual.

Nesta linha de pensamento é que se concorda com direcionamento dado por

Gondim e Lima (2002), para o qual a natureza do objeto é que guia a escolha da

metodologia. A partir desse posicionamento mostra-se coerente neste estudo o uso

de dados qualitativos e quantitativos com a finalidade de apreender a complexidade

configurada no material coletado. Minayo (1993) também destaca que dados

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qualitativos e quantitativos podem ser usados em uma pesquisa conforme as

exigências do objeto que se pretende estudar.

Na presente pesquisa, em face do objeto de estudo, pretende-se, enquanto

objetivo geral, verificar os significados da imigração/imigrante que as imprensas

brasileira e espanhola têm produzido e sua relação com a questão da

exclusão/inclusão social sobre o processo de imigração. Como objetivos específicos,

visa-se a Identificar os significados de imigração produzidos pelas imprensas

brasileira e espanhola, identificar os significados de imigrante produzidos pelas

imprensas brasileira e espanhola, identificar o tipo de sistema de comunicação,

propagação ou difusão, realizado pelas imprensas brasileira e espanhola na

produção de noticias sobre o imigrante/ imigração, verificar nos significados

produzidos sobre imigrante/ imigração pelas imprensas brasileira e espanhola a

presença /ausência de conteúdos sobre exclusão /inclusão social.

3.1 Procedimentos de Coleta de Dados

3.1.1 Amostra

A amostra foi constituída por artigos/notícias sobre imigração/imigrante,

veiculados nos dois dias de maior circulação semanal dos jornais diários brasileiros,

Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo e dos espanhóis El País e El Mundo.

A coleta se deu em dois períodos: da última semana de setembro/2006 à primeira

semana de outubro/2006, correspondendo ao primeiro período, e as duas últimas

semanas de novembro/2006, correspondendo ao segundo.

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Tabela 01: Dias de maior circulação e tiragem dos jornais

Jornais Dias de maior circulação Tiragem

Folha de São Paulo Quinta-feira e domingo 350.000 e 400.000

Estado de São Paulo Sábado e domingo 263.366 e 340.381

El País Sábado e domingo 374.391 (média)

El Mundo Sábado e domingo 303.479 (média)

Fonte: Instituto Verificador de Circulação IVC / Oficina Para la Justificación

A seleção de artigos/notícias foi guiada pela presença da discussão temática

do fenômeno da imigração/imigrante. Foi identificado o artigo/noticia por seção

compreendida como a divisão editorial do jornal.

O conteúdo editorial dos jornais é dividido em seções de acordo com a

temática das notícias veiculadas. Como mostra Barbosa & Rabaça (2001) a seção é

parte de uma publicação, jornal ou revista, por exemplo, ou de um programa de TV,

rádio, etc., na qual se agrupam informações do mesmo gênero ou a respeito da

mesma temática. Pode-se também chamar as seções temáticas de caderno

temático, como faz a Folha de São Paulo, por exemplo (Manual da Redação, 2001).

Em alguns jornais os nomes que caracterizam as seções temáticas coincidem,

entretanto nem sempre isso acontece. Por essa razão, a nomenclatura das seções

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dos jornais usados nesta pesquisa foi padronizada com vistas à uniformidade do

material, não afetando, entretanto, o conteúdo do mesmo.

Neste estudo optou-se por nomear as seções como “nacional”,

“internacional”, “cidades”, “cultura”, “economia”, “opinião” e “saúde” de acordo com

seu conteúdo temático. Os artigos/notícias a respeito do país de origem do jornal

foram enquadrados na seção “nacional”. Geralmente o conteúdo desta seção

engloba a política do país. Já as referentes a acontecimentos internacionais foram

postas sob a nomenclatura “internacional”. Os artigos/notícias relacionados a

acontecimentos locais (cidade onde é produzido o jornal) foram enquadradas na

seção “cidades”. A seção “cultura” foi reservada aos artigos/notícias relacionados ao

tema, como livros, filmes, peças de teatro e cultura em geral. Já os que tratavam de

economia e dinheiro foram enquadrados na seção “economia”. Os artigos/notícias

de gênero opinativo foram postas na rubrica “opinião”. Por fim, a seção “saúde” trata

de notícias a respeito de enfermidades, medicina e temas afins. A tabela seguinte

mostra a distribuição das notícias coletadas de acordo com as referidas seções.

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Tabela 02: Artigos/notícias coletados nos jornais por seção (1ª e 2ª semana de setembro/2006 e 3ª e 4ª semana de novembro/2006)

Seções

Folha de São Paulo

Estado de São Paulo El País

El Mundo Total

Internacional 6 5 4 5 20

Nacional ----- ----- 12 12 24

Opinião ----- ----- ------ 1 1

Cultura ----- 3 ----- ----- 3

Economia ----- ----- ----- 2 2

Saúde ----- ----- ------ 1 1

Total 6 9 16 22 53

Fonte: Verificação da amostra

3.2 Caracterização dos Jornais

3.2.1 Jornal Folha de São Paulo

Desde seus primórdios o jornal Folha de São Paulo se propõe a ser “Um

jornal a serviço do Brasil” (Souza, 2003). A partir de 1962 o jornal dá inicio a

processos contínuos de transformações administrativas, tecnológicas e editoriais.

Alcançando o título de maior jornal em circulação no país em 1987, o que ocorre até

os dias atuais, a Folha delineia seu perfil como um jornal preocupado com os direitos

do cidadão e com os direitos que os grupos sociais têm de se organizar, preocupado

também em democratizar o Estado e em introduzir reformas sociais frente ao

capitalismo. O jornal coloca em prática essas premissas quando participa ativamente

na campanha das diretas já (Frias Filho, 1984).

A Folha de São Paulo, na visão de seus estrategistas, deveria adotar as

referidas posições para estar em sintonia com os desejos de seus leitores. Uma

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posição mais doutrinária, que interferisse nos rumos dos acontecimentos, era o que

o público esperava do jornal. Desse modo, o diretor de redação justifica as opções

político-editoriais do jornal por uma sondagem “impressionística” da opinião de seus

leitores. A crença corrente no jornal, que consta de seu Manual de Redação (2001),

é de que cumpre um mandato concedido pelo leitor, o qual referenda as atitudes do

jornal a cada ato de compra.

Pelo que se lê no referido Manual, é o mercado do periódico que define a

“importância da notícia”. Diz-se que “(...) a Folha fala para o conjunto de seus

leitores, não para o conjunto da população” (Abramo, 1991). A mensagem depende

assim de uma percepção antecipada do consumidor padrão da Folha de São Paulo,

que deve ser absorvida por seus repórteres e redatores. O esclarecimento desse

aspecto é parte do treinamento dos iniciantes na redação. João Torres, antropólogo

e ex-aprendiz de jornalista na Folha de São Paulo, recorda-se das palavras do

diretor de redação ao receber os novatos, participantes de um teste de seleção no

início dos anos 90. Conta ele que Otávio Frias Filho:

...admitiu resolutamente que a Folha de São Paulo se destinava quase que

exclusivamente ao público-leitor paulistano, o que me deixou bastante perplexo,

pois contava que o horizonte do jornal alcançaria centros mais distantes como

tática de atração de consumo. Além de paulistano, a composição do conjunto de

seus leitores privilegiava os estratos sociais mais altos, os profissionais liberais,

estudantes universitários, e intelectuais; classes médias urbanas (Torres, 1994.

p. 32).

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Junto com a delimitação dos consumidores da Folha de São Paulo em

termos de estratos sociais e de abrangência regional, a instituição de um formato

próprio de produção e apresentação da mensagem também comporia a identidade

do jornal. A norma é escrever no “padrão Folha”, ensinado tanto pelo manual

quanto pelos superiores da redação. Em síntese, a ordem é a seguinte: “numa

linguagem direta, objetiva e concisa, as frases, as orações, os parágrafos teriam

que ser elaborados com a maior neutralidade possível, aliados a uma necessária

apreciação crítica do assunto” (Frias Filho, 1984).

Opções jornalísticas feitas para obter determinados resultados na formação

da opinião pública e na transformação de formas sociais indesejáveis segundo os

parâmetros do próprio jornal. A “linguagem Folha” assim o é para gerar certos

resultados. Pelo projeto editorial que se instala a partir de 1984, “(...) a ideologia do

jornal se prestaria a melhor se adequar aos princípios da informação mais lúcida,

impessoal, honesta e democrática em favor da opinião pública” (Frias Filho, p. 32).

Apesar dessa posição que o jornal toma, faz-se necessário lançar um olhar

crítico rumo ao que nele é publicado, já que a impessoalidade total pregada pela

Folha é algo que vai de encontro à própria condição de ser humano, de estar no

mundo e estar implicado nele. Por outro lado o ideal de neutralidade até pode ser

perseguido, sabendo-se de antemão que não será atingido por completo, o que

necessariamente não significa perda de qualidade da informação.

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3.2.2 Jornal O Estado de São Paulo

O jornal O Estado de São Paulo (OESP), além de questões atinentes à

imprensa em si, participou de embates dos mais importantes da vida nacional,

posicionando-se dentro de seu reconhecido liberalismo político, matizado, em boa

medida, pelas circunstâncias que desafiassem a ordem social.

Esta base liberal devidamente adaptada tanto à manutenção da ordem social

quanto à defesa de São Paulo no âmbito da Federação nacional, não impediu que

o jornal se posicionasse por um ideário marcado pela modernização da sociedade e

economia brasileiras. Como bem observam Capelato e Prado “o modelo político

defendido pelo periódico norteia-se pelos princípios liberais e consubstancia-se na

prática da democracia. Neste sentido é na teoria política exposta por Locke e no

Iluminismo francês que devemos buscar os fundamentos sobre os quais se assenta

o pensamento político de OES” (Capelato & Prado, 1979).

Colocada desta forma tão ampla, há que se qualificar que ser liberal tem

suas características quando exercido e aplicado no Brasil. Como lembra Faoro: “A

sociedade luso-brasileira contraiu, a partir da Revolução Portuguesa de 1820, o

achaque liberal. Contraiu é o termo: o liberalismo não seria mais que uma doença

importada, com a qual deveria conviver sem a ela ceder”.

Segundo Saretta (2004), a despeito da qualificação de liberal, não se pode

descurar que no caso de um jornal há as idiossincrasias de seus proprietários e

acionistas que, evidentemente incidem de maneira importante na formulação de

seu ideário e interesses. Não obstante, também deve ser considerado que estas

particularidades não podem ser superestimadas a ponto de não se focar o papel

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político que teria a manifestação destes mesmos ideários e interesses. Apenas

como lembrança, para além de sua longa existência, o diário paulista, teve um

papel fundamental na criação da Universidade de São Paulo.

Cláudio Abramo, que foi secretário de redação do jornal na segunda metade

da década de 1950, observou que as posições políticas de OESP, expressas nos

seus editoriais eram “... medievais e defendiam os interesses da classe dominante

paulista em primeiro lugar e os interesses brasileiros em segundo. O Estado era

(como é) antiestatal, antigetulista, antitrabalhista, anticomunista e anticlerical”. Em

outras palavras, “na verdade, o conservadorismo, o elitismo e a postura de classe

dominante são a tônica das propostas do jornal” (Passeti, 2006).

3.2.3 Jornal El País

O Jornal El País foi fundado em quatro de maio de 1976, em meio a um

contexto de mudança social e política, na transição para a democracia. De acordo

com Molina (2007), trata-se do jornal espanhol de maior influência e circulação.

Mesmo não tendo iniciado sua trajetória com esse intuito, está no hall dos negócios

rentáveis da Europa e de acordo com seus dirigentes é o jornal mais lucrativo da

União Européia. (Molina, 2007).

O sucesso do jornal El País se dá por várias circunstâncias favoráveis que,

segundo Molina (2007), dificilmente se repetirão. Como o jornal foi considerado o

periódico da transição na Espanha, ele nasceu e cresceu junto com a democracia

espanhola. Foi fundado por José Ortega Spottorno, filho do maior filósofo Espanhol

no século XX, autor de La Rebelión de las Masas, e mentor intelectual de El Sol, o

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mais sério e importante jornal de toda a imprensa espanhola, mas de vida curta.

(Molina, 2007). Quando o El País foi fundado, seus idealizadores tinham o objetivo

de resgatar o espírito do El Sol.

Desde seu início, o jornal El País mostrou-se liberal, assumindo a

responsabilidade de apresentar à população espanhola o que era viver em

democracia. Este posicionamento do jornal se refletiu em todos os aspectos dentro

da organização, tanto na parte gerencial, passando pelo projeto gráfico e chegando

até à linha editorial. El País possuía acionista de vários setores da sociedade, uns

eram políticos conservadores, já outros militantes comunistas. Como havia um

grande número de acionistas, nenhum chegava a possuir 10% do todo de ações.

Isso deu mais liberdade aos editores para colocarem em prática o que julgavam

mais apropriado, independentemente da linha de pensamento que seguia o tema

(Molina, 2007).

Seus primeiros diretores, como Jesús Polanco, afirmavam que o jornal El País

não era elitista nem popular, mas um jornal de qualidade e de grande circulação. A

direção prezava pelo ecletismo para atrair vários tipos de públicos. Dava atenção a

temas como ecologia, minorias, divórcio, aborto e chegou a ser definido como

liberal, levemente orientado para a esquerda, anticlerical e com certo ranço

antiamericanista. Molina (2007), coloca ainda que ele refletia ainda um terceiro-

mundismo romântico e algo ingênuo e tinha uma simpatia inicial mal-escondida em

relação à Cuba e à Nicarágua. Defendia o feminismo e, em economia, era a favor do

livro-mercado.

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Quando o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) chegou ao poder em

1982, a imagem do jornal foi atrelada ao El País, o que foi prejudicial não só aos

profissionais, mas também para o próprio jornal, que ficou mal-visto na Espanha e

no Exterior. Entretanto seguiram crescendo suas vendas. A associação entre

Governo e El País se deu por que o PSOE colocou em prática em sua administração

muitos princípios que eram defendidos pelo jornal desde sua fundação, o que

tornava natural uma afinidade entre os dois.

Todos que esperavam uma postura complacente do jornal ficaram admirados,

já que El País chegou a criticar duramente e repetidamente o Governo Socialista,

mostrando-se decepcionado com ele. As críticas levaram Cebrian, o diretor do

jornal, aos tribunais, mandado pelo então ministro do interior.

Todas as ações do jornal El País fazem com que ele seja definido pelos

especialistas como um periódico com tendência a publicar opiniões de vários

colaboradores de várias orientações ideológicas, porém é considerado um jornal de

centro-esquerda em questões políticas, conservador na cobertura econômica e

radical em questões sociais.

3.2.4 Jornal El Mundo

Foi publicado pela primeira vez em 23 de outubro de 1989 e fundado por

Alfonso de Salas, Pedro J. Ramírez, Balbino Fraga y Juan González. Seguindo a

linha do antigo jornal dirigido por Ramírez, Diario 16, El Mundo se dedicou a

importantes esforços na investigação jornalística. Neste sentido, descobriram

escândalos de corrupção no governo de Felipe González, entre outras reportagens.

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Hoje é o segundo maior jornal espanhol, perdendo apenas para o El País na versão

imprensa, já que na versão on line é o primeiro colocado.

O jornal El Mundo define sua linha editorial como liberal. É habitualmente

crítico do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e dos nacionalismos

periféricos e é próximo (sobretudo na política espanhola) ao Partido Popular (PP).

Ou seja, tem opiniões contrárias a seu concorrente, o jornal El País (Fuertes, 1989).

O jornal se coloca como tendo uma postura crítica, que se acentuou durante

o governo de José Luis Rodríguez Zapatero. Baseando-se em suas próprias

investigações jornalísticas, o jornal é o maior partidário das teorias de conspiração

sobre os atentados de 11 de março de 2005. Em certas questões de política

exterior e assuntos sociais, se mostra como mais próximo de posições de centro

esquerda. Não apoiou a guerra do Iraque e concordou, em partes, com medidas

como o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Entretanto, a opinião pública o

percebe como veiculo de direita (Fuertes, 1989).

Segundo Fuertes (1989), entre seus colunistas existe heterogeneidade e

ecletismo. Inclusive há profissionais que são discordantes entre si. Segundo a

jornalista Elena de Regoyos, o jornal El Mundo quer transformar-se no meio escrito

de referência da direita espanhola, desbancando assim o jornal de orientação

conservadora ABC.

3.3 Procedimento e Análise dos Dados

Para o estabelecimento do plano de análise dos dados coletados neste

estudo, tomou-se como referência a análise de conteúdo manual, no modelo de

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Bardin (2002). Esta análise, contudo, foi feita por meio do software estatístico

ALCESTE- Analyse de lexémes coocurrent dans lês ennoncés simples d’un texte, de

Max Reinert (1987, 1993, 1997, 1998) citado em Catão (2001b).

A análise de conteúdo proporciona a freqüência com que certos objetos são

caracterizados de um modo particular, ou seja, equivale aproximadamente a uma

análise temática, dependendo do objetivo do trabalho (Krippendorff, 1997). A técnica

de Análise de Conteúdo é bastante utilizada em pesquisas quantitativas e

qualitativas. Seus princípios são baseados na própria essência humana, a qual traz

inerentemente questões relacionadas à inferência e significado de mensagens. Essa

inquietação é bem mais antiga que as próprias reflexões científicas acerca da

Análise de Conteúdo (A.C.). Tal técnica veio auxiliar os pesquisadores no sentido de

descrever conteúdos de mensagens e fazer inferências sobre elas. As condições de

produção e recepção da mensagem também são pontuadas.

Há autores que definem a Análise de Conteúdo de forma mais voltada à

quantificação, já outros dão às suas definições um trato mais qualitativo. A definição

de Berelson (1952) traz a A.C. como permitindo a “descrição objetiva, sistemática e

quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”. Já Cartwright (1953) estende o

conceito a todo comportamento simbólico, enquanto Krippendorf (1997) dá à Análise

de Conteúdo o substantivo da inferência. Para ele a técnica nos permite fazê-la e

torná-la válida e replicável.

A Análise de Conteúdo é dita por alguns autores como exclusiva para tratar

objetivamente materiais tendo a finalidade apenas descritiva e classificatória.

Entretanto a prática da técnica não confirma esta ação. O que não desmerece a

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orientação, já que pode “prevenir” o analista de fazer interpretações demasiadas e

infundadas teórico-metodologicamente. De acordo com Bardin (2002) é a inferência

que dá respaldo para que se passe do nível da descrição para o da interpretação.

Assim a análise de conteúdo propicia inferências a respeito da fonte, condições de

produção do material de análise e até sobre receptor de tal mensagem.

A análise de conteúdo da mídia se mostra uma poderosa ferramenta para o

estudo de representações sociais. De acordo com Jovchelovicth (2000), a mídia faz

uma conexão entre vidas individuais a partir do momento em que constrói uma

cadeia de códigos que são compartilhados e reconhecidos, os quais constituem as

representações sociais. Em face disso, pode-se perceber a importância de se

estudar o conteúdo da mídia, mostrando o seu valor enquanto fonte de pesquisa. O

estudo clássico de Moscovici sobre as representações sociais da psicanálise na

França (1961- 1976) é uma amostra do uso da análise de conteúdo da mídia no que

toca às representações sociais.

O diálogo de conceitos é de grande valia pelo fato de que mostra as

possibilidades trazidas pela técnica de Análise de Conteúdo, de acordo com o

trabalho no qual é aplicada. Além disso, Vala (1986) mostra os pontos positivos da

quantificação e da orientação qualitativa, mostrando que o rigor não é próprio da

primeira. A quantificação tem grande objetividade e sistematização, enquanto a

validade e replicabilidade, expressas por Krippendorf, fazem equivalência às

características primeiro citadas.

De acordo com Vala (1986), no que diz respeito à quantificação a análise de

conteúdo pode seguir três direções. Pode ser feita a análise de ocorrências, a

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análise avaliativa e, por fim, a análise estrutural. “A análise de ocorrências pretende

revelar a atenção que o sujeito do discurso confere aos diferentes conteúdos, a

análise avaliativa põe em evidencia a valência de que são objeto estes mesmos

conteúdos, a análise estrutural, como o próprio nome indica, visa permitir inferências

sobre a organização do sistema de pensamento da fonte implicado no discurso que

se pretende estudar” (Vala, 1986).

3.3.1 O Sistema Alceste

3.3.1.1 Fundamentos e estrutura

O sistema ALCESTE é um instrumento informático para análise de dados

textuais, que foi criado por Max Reinert ao fim dos anos 70. Este programa utiliza a

análise das co-ocorrências das palavras nos enunciados que constituem um texto

para organizar e sumariar informações consideradas mais relevantes. A base

metodológica do sistema ALCESTE tem como referência o conceito de “mundos

lexicais e sua lógica” desenvolvido por Max Reinert (1993) citado em Catão (2001b).

A palavra “mundo” faz referência a uma organização psíquica coerente dentro

da multiplicidade de experiências sensoriais e motoras (Reinert, 1990) citado em

Catão (2001b). A noção de “mundo lexical” trazida por Reinert (1987) citado em

Catão (2001b) refere-se a instanciações, no discurso, de universos mentais nos

quais o expositor transita. Ainda acerca desses mundos lexicais, Lahlou (1998)

acrescenta que estes são lugares particulares da representação total do mundo.

Segundo a última autora a abordagem do ALCESTE está claramente no nível

semântico. Assim sendo, ele considera as bases lexicais das palavras plenas,

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portadoras de sentido (substantivos, adjetivos, verbos), operando uma redução do

vocabulário por eliminação dos marcadores de sintaxe, das desinências de

conjugação, e alguns sufixos. Reduz também as palavras ferramentas (artigos,

preposições, pronomes, advérbios, conjunções) guardando somente as suas raízes

significantes.

Outro fundamento da lógica do programa é o procedimento estatístico de

Classificação Hierárquica Descendente (CDH), no qual, a partir do corpus de base,

um número de classes são definidas uma a uma com suas características de base,

apresentando o máximo de homogeneidade, tanto intraclasse como de oposição

entre classes. Obtêm-se, assim, uma ordem de classificação (dendograma), que é

constituída das divisões sucessivas e mais significantes do corpus (Reinert, 1997).

O corpus geral desta investigação divide-se em dois corpus analisados pelo

ALCESTE: corpus I (artigos/notícias coletados nos jornais brasileiros) e corpus II

(artigos/notícias coletados nos jornais espanhóis). Os respectivos corpus estão

sendo analisados individualmente, gerando um grupo de classes por corpus.

3.3.1.2 O corpus

O instrumento informático ALCESTE tem como finalidade classificar os

enunciados do texto em função das palavras contidas nesses enunciados. Ele tem

por objeto de análise o corpus, que pode ser composto por textos, discursos,

entrevistas, reportagens gerais, ou seja, relatos que façam sentido para um

investigador.

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Serão apresentados a seguir os segmentos do método ALCESTE, tendo

como referência exemplos do presente estudo, como o que vem a seguir, um trecho

do corpus organizado no formato que requer o supracitado programa:

**** *elpa_es *art_03 *pub_sab *not_prin *seç_inter *ass_ext

“Nossos pais nos mandam para que lhes enviemos dinheiro.” “Meu pai me

disse: ‘Vá para a Espanha e mande dinheiro.’, Logo me levou para ver morabito

[líder religioso muçulmano], que me deu um gri_gri [amuleto] e adverteu:

‘Quando chegar a Espanha, não se esqueça sua religião e, sobretudo, lembre se

da pobreza que deixou aqui’. Eu não vim estudar, vim para trabalhar. Vim ganhar

dinheiro para mandar para meu pai e para o morabito”.

Na constituição do corpus deve-se utilizar como critério a homogeneidade na

sua apresentação e nas condições de produção dos textos. As unidades que os

constituem são denominadas Unidades de Contexto Elementar (UCE), as quais se

situam entre a frase e o parágrafo. Neste estudo emergiu um total de 895 UCEs nos

dois grupos, correspondentes a 430 UCEs no corpus de artigos/notícias brasileiros e

465 no corpus de artigos/notícias espanhóis.

Durante o processamento do texto, o programa transforma as formas

originais, mediante a utilização de dicionários apropriados, em formas reduzidas à

sua raiz. Assim, as flexões de um mesmo verbo reduzem-se ao modo infinitivo, por

exemplo: “estuda”, “estudar”, “estudou” reduzem-se todas à forma “estud+”, e as

flexões resultantes do verbo “começar” reduzem-se à forma “comec+”.

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Também é possível distinguir no corpus, as palavras-plenas, palavras-

auxiliares e palavras-estrela. As palavras-plenas são as palavras que constituem o

vocabulário propriamente dito, podem ser substantivos, verbos e adjetivos. São elas

as palavras que vão dar sentido ao texto, e é sobre este vocabulário que o

ALCESTE baseará a análise do corpus. As palavras auxiliares são as palavras

necessárias à sintaxe. E as palavras-estrela são aquelas com as quais o usuário

pretende distinguir características nos elementos do corpus. Embora não interfiram

na análise efetuada, elas podem ser muito importantes na interpretação dos

resultados. Isto ocorre porque as palavras-estrela representam variáveis com

diferentes modalidades, constituídas por uma raiz que descreve a natureza e um

número que descreve a modalidade, conforme demonstrado no exemplo a seguir:

**** *elpa_es *art_03 *pub_sab *not_prin *seç_inter *ass_ext

No presente estudo foram consideradas como palavras-estrela as variáveis

relacionadas às características dos artigos/notícias, ou seja, nome e nacionalidade

do jornal, número atribuído ao artigo/notícia, dia da semana da publicação, se o

artigo/notícia foi principal (em posição de destaque na página do jornal) ou

secundário (em posição secundária na página do jornal), seção em que foi publicado

o artigo/notícia e se foi assinado por pessoa interna ou externa ao jornal.

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3.3.1.3 A análise do corpus

A análise planificada do ALCESTE é composta por quatro etapas, cada qual

se divide em diferentes súbitas, que são reguladas por uma série de parâmetros.

As etapas são: Etapa A: Leitura do Texto e Cálculo dos Dicionários; Etapa B:

Cálculo das Matrizes de Dados e Classificação das UCE’s; Etapa C: Descrição das

Classes de UCE’s; Etapa D: Cálculos Complementares.

O plano de análise do corpus é o que define os parâmetros dessas etapas. É

possível adaptar este plano às necessidades específicas do utilizador, entretanto,

existe um plano de análise padrão, simplificado e mais adequado à maior parte dos

usos. Neste estudo foi utilizado o plano de análise padrão.

Acerca das etapas de análise mencionadas anteriormente, serão

apresentadas aqui de forma breve as características de cada uma delas.

A primeira etapa consiste no reconhecimento das UCI (unidades de contexto

inicial) e das palavras-estrela; preparação do corpus e reconhecimento das UCE;

produção do dicionário de formas originais e reduzidas; produção da lista de

palavras-chave e caracterização lexical do corpus.

A segunda etapa é uma etapa de cálculos; em que se procede a divisão do

corpus em unidades de contexto (UC) e a sua classificação descendente hierárquica

em função da distribuição de palavras por UC.

A terceira etapa permite diferentes cálculos auxiliares para interpretação e

descrição das classes, uma vez que já foi definida a divisão do texto em classes.

Efetua-se então a análise fatorial de correspondências, a qual fornece uma

representação global do campo semântico situando a posição das respectivas

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classes e palavras nesse campo. Na quarta etapa são realizados cálculos

complementares no interior de cada classe.

A análise do ALCESTE tem duração variável, entre poucos minutos até

diversas horas, dependendo do volume do corpus e da velocidade do processador.

O tempo de análise de cada corpus componente do corpus geral deste estudo variou

entre dois e quatro minutos.

3.3.1.4 Resultados produzidos pelo sistema ALCESTE

O instrumento ALCESTE gera diversos arquivos com objetivos diferenciados,

como o arquivo de processamento do programa e os arquivos de resultado, que dão

informações detalhadas sobre cada subetapa da análise.

O arquivo de resultados que está sendo utilizado para efeito de análise deste

estudo é o arquivo Rapport d’analyse, síntese geral do resultado, arquivo que

contém, entre outras orientações, informações sobre o número de classes

analisadas, as classes, o vocabulário, as formas reduzidas, as formas associadas.

Para investigação desses dados é executado um plano de análise, o qual vem a

seguir.

3.4 Plano de Análise

3.4.1 Constituição do corpus e leitura flutuante

Como já foi dito anteriormente, o corpus foi construído pelos segmentos I (15

artigos/notícias dos jornais brasileiros) e II (38 artigos/notícias dos jornais

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espanhóis), perfazendo dois corpus, analisados pelo ALCESTE e componentes do

corpus geral deste estudo.

A divisão do corpus do presente estudo está relacionada ao objetivo de obter-

se, na análise dos dados, resultados mais definidos dos dois grupos de

artigos/notícias.

3.4.2 Preparação dos arquivos para utilização do sistema ALCESTE

Foram abertos dois arquivos com terminação “txt” para que neles fossem

salvos os corpus. Estes foram colocados numa pasta aberta no diretório do

ALCESTE, prontos para serem analisados.

3.4.3 Processamento de dados pelo sistema ALCESTE

Foi efetuada a análise do corpus pelo ALCESTE, de acordo com o plano de

análise padrão do referido programa.

3.4.4 Leitura em profundidade dos dados analisados pelo ALCESTE

Os resultados principais foram colocados num arquivo de nome Rapport

d’anályse, gravado pelo ALCESTE, o qual passou por uma leitura em profundidade

para nomeação e interpretação das classes emergidas com apoio do programa.

3.4.5 Apresentação e interpretação dos resultados

Os resultados principais foram organizados para apresentação, sendo

realizada em seguida a interpretação dos mesmos à luz da base conceitual do

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trabalho. Buscou-se identificar e analisar os campos contextuais, interpretando os

significados das classes e denominando os seus respectivos sentidos.

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CAPÍTULO IV

SIGNIFICADOS DA IMIGRAÇÃO E DO IMIGRANTE NAS IMPRENSAS

BRASILEIRA E ESPANHOLA

Apresenta-se neste estudo a construção dos significados de imigração e

imigrante produzidos pelas imprensas brasileira e espanhola, entendendo que esta é

fruto das interações vivenciadas pelos veículos de comunicação estudados em seus

próprios contextos. As classes inter-relacionadas emergidas das duas imprensas

apresentam características de suas conjunturas sociais, mostrando a construção de

cada significado produzido.

A compreensão do sentido da Imigração e do Imigrante, neste trabalho,

embasa-se no modelo teórico construído na perspectiva do senso comum. Deste

modo, é importante evidenciar que a produção do significado de Imigração e

Imigrante, tem nos artigos notícias dos jornais brasileiros e espanhóis todo o

material de referência deste estudo.

Quanto aos resultados apreendidos e análises realizadas, buscou-se ao

longo deste estudo, numa relação dialética, refletir sobre as condições de produção

e circulação das Representações Sociais da Imigração e do Imigrante nos referidos

jornais.

Neste capítulo evidencia-se o que realmente significa, para a imprensa

estudada, a Imigração e o Imigrante. Em seguida apresenta-se as classes que

emergiram dos artigos / notícias coletados, sempre tendo a compreensão delas a

partir da interação entre indivíduo e sociedade. A análise realizada aponta para um

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conjunto de classes relacionadas entre si, das quais emerge a construção do

significado da imigração e do imigrante nas duas imprensas estudadas.

No corpus de artigos / notícias dos jornais brasileiros foram apreendidas seis

classes temáticas: Inclusão / Exclusão Social; Ações / Reações Contra a Imigração

Ilegal; História e Modos de Vida do Imigrante; Multiculturalismo e Violência;

Institucionalização da Intolerância Étnica; Trabalho / Emprego / Desemprego.

No corpus de artigos / notícias dos jornais espanhóis foram apreendidas

também seis classes: Impactos Negativos / Desenvolvimento; Legislação

imigratória Nacional: Acordos e Desacordos; Imigração Ilegal e Contenção;

Cooperação / Tensão Internacional; Falsa Legalidade / Ilegalidade e Trabalho;

Busca de Melhoria de Vida: Crianças e Adolescentes Como Arrimo de Família.

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Dos artigos / notícias brasileiros emergiram as seguintes classes:

Tabela 03 – Distribuição das Unidades de Contexto Elementar (UCE) da imigração / imigrante, apreendidas nos artigos / notícias do jornais brasileiros.

CLASSESJORNAIS BRASILEIROS

UCE(f) %

I Inclusão / Exclusão Social 44 11,86

II Ações / Reações contra a imigração Ilegal 66 17,79

III História e Modos de Vida do Imigrante 77 20,75

IV Multiculturalismo e Violência

38 10,24

V Institucionalização da Intolerância Étnica

72 19,41

VI Trabalho / Emprego / Desemprego 74 19,95

TOTAL 371 100

Percebe-se nos dados apresentados na Tabela 01 que os jornais brasileiros

pesquisados revelam um maior percentual na Classe III, História e Modos de Vida

do Imigrante, com 20, 75%, seguida da Classe VI, Trabalho / Emprego /

Desemprego com 19,95%. A próxima Classe de maior percentual é a V,

Institucionalização da Intolerância Étnica, com 19, 41%, seguida da Classe II,

Ações / Reações contra a Imigração Ilegal, percentual de 17, 79%. Em seguida

observa-se a Classe I, Inclusão / Exclusão Social, com 11,86%, acompanhada da

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Classe IV, Multiculturalismo e Violência, com 10, 24% das UCE. Obteve-se da

análise do material brasileiro o total de 371 UCE.

De acordo com os dados mostrados, observa-se que a classe mais

significativa na construção do significado de imigração / imigrante para os jornais

Brasileiros estudados foi a referente à História e Modos de Vida do Imigrante, já

que esta possui o maior percentual de UCE. Em seguida, observa-se a distribuição

de UCE por classe dos jornais espanhóis.

Tabela 04 – Distribuição das Unidades de Contexto Elementar (UCE) da imigração / imigrante, apreendidas nos artigos / notícias dos jornais espanhóis.

CLASSESJORNAIS ESPANHÕIS

UCE(f) %

I Desequilíbrio Social: Impactos Negativos /

Desenvolvimento

63 15, 48

II Pacto Imigratório Nacional: Acordos e Desacordos 41 10, 07

III Ações Contra a Imigração Ilegal

50 12, 29

IV Cooperação / Tensão Internacional 137 33, 66

V Identidade Falsificada e Trabalho

26 6, 39

VI Busca de Melhoria de vida: Crianças e

Adolescentes Como Arrimo de Família

90 22, 11

TOTAL 407 100

104

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Junto ao material espanhol analisado obteve-se um maior percentual de

UCE na classe IV, Cooperação / Tensão Internacional (33, 66%). Em seguida figura

a classe VI, Busca de Melhoria de Vida: Crianças e Adolescentes Como Arrimo de

família, com 22, 11% das UCE. O terceiro maior percentual de UCE dentre as

classes referentes aos jornais espanhóis é o da classe Desequilíbrio Social:

Impactos Negativos / Desenvolvimento com 15, 48%. Esta classe vem seguida da

classe III, Ações Contra a Imigração Ilegal, que comportou 12, 29% das UCE

apreendidas no estudo. Já a classe II, Pacto Imigratório Nacional: Acordos e

Desacordos obteve 10, 07% do total de UCE. O menor percentual de UCE

apreendido localizou-se na classe V, Falsa Identidade e Trabalho, com 6, 29%.

Obteve-se da análise do material deste grupo de jornais o total de 407 UCE.

Somando-se todas as UCE obtidas entre os jornais brasileiros e espanhóis deste

estudo, portanto, constata-se um total de 778 UCE analisadas.

4.1 Detalhamento das Classes Apreendidas nas Imprensas Pesquisadas

A análise realizada aponta para um conjunto de classes relacionadas entre si,

das quais emerge a construção do significado da imigração e do imigrante nas duas

imprensas estudadas. Como verificado anteriormente, no corpus de artigos /notícias

dos jornais brasileiros foram apreendidas seis classes temáticas. As classes

evocadas neste grupo são: Inclusão / Exclusão Social, Ações / Reações Contra a

Imigração Ilegal, História e Modos de Vida do Imigrante, Multiculturalismo e

Violência, Institucionalização da Intolerância Étnica e Trabalho / Emprego /

Desemprego.

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No corpus de artigos / notícias dos jornais espanhóis foram apreendidas

também seis classes: Desequilíbrio Social: Impactos / Desenvolvimento, Pacto

imigratório Nacional: Acordos e Desacordos, Ações Contra a Imigração Ilegal,

Cooperação / Tensão Internacional, Identidade Falsificada e Trabalho e Busca de

Melhoria de Vida: crianças e adolescentes como arrimo de família.

Dos artigos / notícias brasileiros emergiram as seguintes classes:

Classe I – Inclusão / Exclusão Social : Esta classe refere-se à formas de inclusão

e exclusão social em países de imigração, relatada enquanto premência de uma

sociedade multicultural a fim de trazer mais coesão social frente ao fenômeno

imigratório, ao mesmo tempo em que a exclusão é retratada como dificuldade de

integração social e laboral e polarização da sociedade.

Classe II – Ações / Reações Contra a Imigração Ilegal: Refere-se a ações postas

em prática contra a imigração e também à reação a elas. São abordadas ações de

controle fronteiriço, exigência de visto e deportação automática.

Classe III – História e Modos de Vida do Imigrante: Relata a trajetória de vida do

imigrante, processo de chegada, cotidiano e sofrimento ético-político vivenciado.

Classe IV - Multiculturalismo e Violência: Diz respeito à questão do

multiculturalismo relacionada à tensão vivenciada e a violência nas relações de

convivência.

Classe V – Institucionalização da Intolerância Étnica: A intolerância étnica

institucionalizada por segmentos da sociedade em um país europeu.

Classe VI – Trabalho / Emprego / Desemprego: O trabalho em evidência na

relação com escassez de trabalhadores provocada pelo envelhecimento

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populacional dos países receptores e pela busca de melhoria de vida dos

imigrantes na saída de seus países de origem.

Dos artigos / notícias retirados dos jornais espanhóis emergiram as

seguintes classes:

Classe I – Desequilíbrio social: Impactos Negativos / Desenvolvimento:A

presente classe retrata a imigração como desequilíbrio social em termos de impacto

negativo no campo social e financeiro, ao mesmo tempo em que a relaciona com o

desenvolvimento econômico.

Classe II – Pacto Imigratório Nacional: Acordos e Desacordos:

Observa-se que esta classe mostra o debate político sobre a legislação

imigratória entre membros do governo espanhol e partidos opostos, observando as

concordâncias e discordâncias entre eles.

Classe III – Ações Contra a Imigração Ilegal: Faz referência a ações postas em

prática contra a imigração, as quais são perpassadas por questões não só de

segurança, mas também político-eleitorais.

Classe IV – Cooperação/Tensão Internacional: Diz respeito às relações de

cooperação e tensão entre os países da União Européia (UE) sobre imigração na

busca de concordância de posições acerca de uma política comum de imigração na

União.

Classe V – ldentidade Falsificada e Trabalho Processo de chegada e estada na

Espanha na condição ilegal de imigrante, relacionados à busca pelo trabalho e

várias formas de legalização.

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Classe VI – Busca de Melhoria de vida: crianças e adolescentes como arrimo

de família: A presente classe busca da melhoria de vida por povos do continente

africano com foco nas crianças e adolescentes como arrimo de família via processo

imigratório, evidenciando a influência dos líderes religiosos e da família neste

encaminhamento.

4.2 Discussão dos Resultados por classe

Inclusão / Exclusão Social

Tabela 05 – Distribuição do vocabulário específico da Imigração e do Imigrante enquanto Inclusão / Exclusão Social, apreendido mediante artigos / notícias de jornais brasileiros.

Vocabulário Específico sobre Inclusão / Exclusão Social*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS18 30 60.00 72.36 cultur+ cultura16 18 88.89 107.39 Muçulmanos muçulmanos22 32 68.75 108.43 Sociedade+ sociedade08 08 100.00 60.76 Universidade universidade08 10 80.00 45.65 Argument+ Argumentar, argumento12 20 60.00 46.87 Britan+ Britânica, britânicos06 06 100.00 45.32 Coesa+ Coesa, coesas06 06 100.00 45.32 Diferenças Diferenças06 06 100.00 45.32 Polariz+ Polarizada, polarizam06 06 100.00 45.32 Raça Raça06 06 100.00 45.32 Racial Racial08 12 66.67 35.64 Multiculturalismo Multiculturalismo06 08 75.00 31.18 Racismo Racismo04 04 100.00 30.05 Radicaliz+ Radicalização,radicalizando02 04 100.00 5.31 Conservador+ conservadores

Podem-se observar na tabela 05 algumas palavras características da classe

Inclusão / Exclusão Social. Na primeira coluna verifica-se o número de ocorrências

das palavras nas classes. Na segunda, observa-se a freqüência em que essas

palavras ocorrem no corpus total. Na terceira coluna estão os percentuais de

ocorrência das palavras nas classes. Na quarta, o X2 das palavras. Na quinta e

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sexta colunas encontram-se, respectivamente, a palavra ou sua raiz e as formas

associadas a ela. Pode-se citar como exemplo o vocábulo cultur+, o qual ocorre

dezoito vezes na classe, e trinta vezes no corpus total, sendo 60% de suas

ocorrências no interior da classe. Considerou-se esta a palavra mais típica da

classe.

Observa-se a ocorrência das palavras racismo (75%) e multiculturalismo

(66.67%) como algumas das mais significativas da classe. Os vocábulos

polarização, raça e radicaliz+ apresentam porcentagem de 100% nesta classe.

A imigração / imigrante enquanto Inclusão / Exclusão Social, conforme dados

obtidos, configura um campo contextual construído em torno de três subclasses:

Falta de Oportunidade, Multiculturalismo e Polarização Social, conforme

anteriormente exposto no quadro 01.

De acordo com dados obtidos, pode-se caracterizá-la como sendo uma

classe construída predominantemente por artigos / notícias da Folha de São

Paulo, publicados no domingo como artigos / notícias secundários na seção

Internacional e escritos por jornalistas externos. Os textos jornalísticos mais

representativos na construção desta classe, no que diz respeito aos sistemas de

comunicação, se assemelham à propagação, o que significa que utilizam

linguagem mais direcionada a públicos específicos (Ordaz & Vala, 1997).

Esta classe reflete o movimento dialético da exclusão / inclusão social do

imigrante. Em termos de informação, a classe mostra a busca pela inclusão em um

sistema mais organizado, ou seja, a emigração possibilita ao sujeito o

compartilhamento de outro contexto social que, embora seja mais organizado,

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parece não ser projetado para o “estranho”, o “de fora”, leia-se o imigrante.

Observa-se nestas passagens que os jornais brasileiros contemplam o lugar

reservado ao imigrante na sociedade:

“Os imigrantes não têm a oportunidade de se integrar (...) eles ocupam

posição se subordinação na sociedade (...) ficam com os piores empregos (...)”

(FSP, artigo/notícia 05).

Enquanto informação, outra questão emergente nesta classe é a polarização

social, significando a separação, não-aceitação provocada por motivos religiosos,

que se traduz em passagens de texto como:

“Todas as evidências mostram que estamos nos tornando uma sociedade cada

vez mais polarizada pela identidade religiosa e de raça (...) É possível integrar

muçulmanos à cultura ocidental? (...) Os imigrantes, especialmente os

muçulmanos, são cada vez menos bem vindos no continente.” (FSP,

artigo/notícia 05).

Emerge também como informação exclusão / inclusão como debate a

respeito da necessidade de aceitação dos imigrantes, não só por parte do

próprio imigrante, mas também sendo uma demanda do país de acolhida. Os

textos jornalísticos formadores da classe trazem, como informação a respeito da

imigração e do imigrante, a premência da acolhida de novas culturas de forma

que estas não sejam esmagadas por outras, mas sim aceitas como são, visando

assim à não-polarização das sociedades.

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Em outras palavras, pode-se verificar nesta classe a presença de uma

organização de conhecimento (informação) relacionada aos modos de incorporação

do imigrante na sociedade de acolhimento descritos em Castles (2005). Cada país

tem uma maneira particular de regular a situação dos imigrantes, entretanto pode-

se sintetizá-la em três formas principais de incorporação de imigrantes à sociedade.

A primeira forma seria a assimilação, que significa induzir os imigrantes a

aprender a língua nacional e a adotar as práticas sociais e culturais do país destino

(Castles, 2005). Espera-se do imigrante que ele abdique de sua cultura de origem e

que acabe por se diluir na população do país de acolhimento, ao menos na altura

da segunda geração. Observa-se a referência a este tipo de incorporação em

passagens de texto como: “em vez de serem forçados a largarem suas culturas,

línguas e identidades. (...) Como formar sociedades coesas a partir de culturas

distintas?” (Artigo/Notícia 05).

De acordo com Castles (2005), esse tipo de incorporação de imigrantes tem

sido utilizado em países tradicionalmente receptores, como os Estados Unidos,

Canadá e Austrália, sendo reforçada, neste último, com a facilitação da obtenção

de nacionalidade. Alguns países da Europa também usam esta prática para

incorporar imigrantes.

Percebe-se nos artigos / notícias que formaram a classe que esse tipo de

incorporação é posto em cheque, é visto como inviável. Este tipo de informação

alimenta o afastamento (atitude) dessa tomada de posição, já que, sobre ela, não

se tece algo aplicável ao problema da imigração.

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Outro tipo de incorporação de imigrantes mencionado nos textos jornalísticos

é o multiculturalismo. Neste tipo de incorporação é abandonado o mito da

homogeneidade cultural e o direito à manutenção da cultura de origem e à

formação de comunidades é reconhecido, associando esses direitos à equidade

social e à proteção contra a discriminação. Nos textos jornalísticos formadores da

classe, este tipo de incorporação é encorajado, dando margem a atitudes e afetos

neste sentido. A seguinte passagem de texto contempla a questão:

“precisamos integrar essa sociedade multiétnica (...) O multiculturalismo

oferece a melhor solução para uma sociedade coesa em que as pessoas podem

escolher ser como quiserem em vez de serem forçados a largarem suas culturas,

línguas e identidades.”. (FSP, artigo/notícia 05).

De acordo com Moscovici (2003) para as Representações Sociais existem

suas questões que são fios condutores, são elas: a comunicação e a ideologia, do

ponto de vista da sua estrutura, da sua gênese e da sua função. Neste sentido, os

componentes ideológicos intrínsecos aos textos atinentes a esta classe temática

dão margem a um discurso que mostra as dificuldades do imigrante em âmbito

social, cultural e laboral, bem como as possíveis soluções à dificuldade de inclusão

dos imigrantes. As passagens de texto que formaram esta classe observaram

questões estruturais da imigração, não necessariamente perfazendo sua imagem

como positiva ou negativa, mas sim oferecendo um campo representacional que

alerta pra a situação real do imigrante e sua relação com a sociedade de

acolhimento, que nem sempre acolhe.

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Em face do tipo de informação, atitude e imagem transmitidas a respeito da

imigração e do imigrante observa-se que, os artigos / notícias brasileiros

formadores da classe, tendem a produzir subjetividades relacionadas à estrutura do

fenômeno imigratório no que tange à resolução, ou amenização do sofrimento

ético-político do imigrante causado pela exclusão. Acredita-se nisto, já que este

sofrimento é explicitado e possíveis soluções são mostradas no discurso dos

jornais em forma de proposição de políticas neste sentido, como pôde ser visto nas

passagens de texto.

Classe II – Ações / Reações Contra a Imigração Ilegal:

Tabela 06 – Distribuição do vocabulário específico da Imigração e do Imigrante enquanto Ações / Reações Contra a Imigração Ilegal, apreendido mediante artigos / notícias de jornais brasileiros.

Vocabulário Específico sobre Ações / Reações Contra a Imigração Ilegal*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS12 12 100.00 57.31 American+ Americana, americanas (o)l16 20 80.00 55.94 Deport+ Deportação, deportar32 34 94.12 149.11 Fronteira+ Fronteira, fronteiras20 20 100.00 97.69 muro muro10 10 100.00 47.49 Alternativa+ Alternativa, alternativas10 10 100.00 47.49 Exigência+ Exigência, exigências14 18 77.78 46.55 Ilegal+ Ilegal, Ilegalmente22 38 57.89 46.56 Imigração Imigração12 18 66.67 30.90 Contru+ Construção, construir12 16 75.00 37.42 Ilegais ilegais08 12 66.67 20.26 Medida+ Medida, medidas08 12 66.67 20.26 Segurança Segurança06 08 75.00 18.30 Combat+ Combate, combater04 04 100.00 18.69 Detenção Detenção24 71 33.80 15.39 Imigrant+ Imigrante, imigrantes

Na distribuição do vocabulário da imigração e do imigrante enquanto Ações /

Reações Contra a Imigração Ilegal (tabela 06), destacam-se tanto pelo sentido

quanto pelo seu posicionamento estatístico na classe as seguintes palavras

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características: fronteira (94,12%), muro (100%), ilegal (77, 78%), imigração (57,

89%), segurança (66.67%) e combate (75%).

A imigração e o imigrante são, nesta classe, apreendidos enquanto ações

políticas e sociais de contenção e reações políticas e sociais à contenção.

Esta classe, de acordo com as variáveis descritivas na linha – estrela, pode

ser caracterizada como construída principalmente por artigos / notícias da Folha de

São Paulo, publicados na quinta – feira como notícia secundária na seção

Internacional e redigidos por jornalistas internos ao periódico. Os artigos / notícias

como maior participação na construção desta classe aproximam-se do sistema de

comunicação denominado Difusão, ou seja, usam uma linguagem acessível à

maioria dos públicos, adotando quadros de referências mais comuns (Ordaz &

Vala, 1997).

A partir da apreensão destes conteúdos, a imigração e o imigrante

constituem-se na relação entre ações e reações de contenção à imigração ilegal.

Nesta classe, os textos dos jornais referem-se a várias formas de frear as formas

ilegais de imigração, seja por meio de leis específicas ou de grandes projetos de

engenharia, como é o caso de muro fronteiriço entre Estados Unidos e México.

Estes meios de contenção relacionam-se com reações a eles, ora favoráveis, ora

desfavoráveis.

Evidencia-se nesta classe, como informação sobre a imigração, a

ilegalidade, o que é feito diante dela pelos governos e a reação a essas políticas.

Tais informações estão ancoradas no conceito de imigração irregular e imigração

de trabalhadores com fracas qualificações. Como retrata Arango (2000) a

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imigração irregular é um tipo relativamente novo de fluxo imigratório e que está em

crescimento. Embora o tipo de imigração mais procurado hoje pelos governos dos

países de acolhimento seja as migrações altamente qualificadas, que também

estão crescendo, a imigração de trabalhadores com fracas qualificações parece

crescer em maior velocidade (Castles, 2005). Este tipo de imigração vem, de

acordo com o autor, assumindo a forma de imigração ilegal ou de pessoas em

busca de asilo, cuja privação de direitos facilita sua exploração.

A opção pela construção de um muro divisório na fronteira com o México

denota a demarcação de território em detrimento das pessoas que habitam a

região, ou seja, essa separação também aparta pessoas, demarca pessoas como

pertencentes a um ou outro lugar. O que abre indagações a respeito do direito

internacional e os direitos humanos.

Os textos formadores da classe colocam as ditas informações a respeito da

imigração, entretanto se posicionam dando ênfase à busca de neutralizar ações

radicais, como a construção do muro fronteiriço entre México e Estados Unidos:

“Calderón busca apoio contra muro. (...) presidente eleito do México quer barrar

obra dos EUA na fronteira. (...)”.

Os artigos / notícias referentes à classe mostram ainda atitudes

relacionadas a alternativas às medidas radicais, dando ênfase a ações legislativas,

como se pode perceber na passagem: (...) para ativista, as medidas para coibir

entrada de brasileiros salvaram muitas vidas e mostram que há alternativas ao

muro. (...) brasileiros deixam de emigrar via México. (...) detenção de imigrantes

ilegais na fronteira com EUA caiu 95, 3 por cento, por causa de deportação

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automática e exigência de visto. (...)”. Acredita-se que tais informações e atitudes

contribuam para a formação de um campo representacional sobre o imigrante

relacionado ao seu sofrimento, ao mesmo tempo em que mostra a imigração como

sendo algo difícil de ser realizado, além de perigoso.

Contraditoriamente, observa-se também na presente classe atitudes

relacionadas à concepção de que há ligação entre terrorismo, imigração e

segurança nacional, o que acaba por representar socialmente a imigração

enquanto foco de medo e insegurança. Como pode ser percebido na passagem:

“(...) Blair anuncia projetos contra imigração ilegal e terrorismo. (...) confirmando

seu foco na segurança e no combate ao crime.” Evidencia-se, nesta construção, a

imigração enquanto perigo neste sentido, mostrando em alguns momentos o

enrijecimento das leis como positivo para os imigrantes e para os países. Tais

atitudes em relação à imigração e ao imigrante acabam por contribuir para a

formação de uma imagem negativa a seu respeito, já que o associa ao medo, à

diminuição da paz. Tal associação pode produzir subjetividades que vão de

encontro ao imigrante e à imigração, contribuindo para o processo de exclusão

deste coletivo.

O texto dá voz também aos segmentos sociais que são contra ações radicais

contra a imigração, como a construção de um muro fronteiriço. O que mostra um

discurso contraditório, mas ao mesmo tempo, por se tratar de textos jornalísticos,

comum, já que a veiculação de todos os lados presentes na questão abordada é

um princípio básico de reportagem. Em relação a isto, esperava-se, então, alguma

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posição de um dos mais envolvidos no tema: o imigrante. Porém, este não foi

contemplado.

Classe III – História e Modos de Vida do Imigrante:

Tabela 07 – Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante enquanto História e Modos de Vida, apreendida mediante artigos / notícias de jornais brasileiros

Vocabulário Específico sobre História e Modos de Vida do Imigrante*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS11 21 52.38 13.54 Cheg+ Chega, chegada, chegado06 08 75.00 14.63 Condições Condições 04 04 100.00 15.44 Derrot+ Derrota, 04 04 100.00 15.44 Dificuldade+ Dificuldade, dificuldades06 06 100.00 23.29 Distante+ Distante, distantes22 26 84.62 69.33 Família Família, familiar, famílias14 20 70.00 31.17 Histor+ História, Histórias 10 12 83.33 29.53 Japão Japão04 04 100.00 15.44 Lembranças Lembranças29 29 100.00 120.12 Massateru Massateru14 14 100.00 55.55 Okinaw+ Okinawa, okinawano06 06 100.00 23.29 Sobreviv+ Sobrevivência, sobreviver06 08 75.00 14.63 Sonho+ Sonho, sonhos14 14 100.00 55.55 Súdito+ Súdito, súditos 12 18 66.67 24.25 Vida+ vida

Pode-se observar na tabela 07 que o vocábulo histor+ ocorre nesta classe

14 vezes, com percentual de 70%. A palavra Japão, com freqüência de 10 e

percentual de 83.33%. Já o vocábulo vida+ ocorre 12 vezes com percentual de

66.67%. O vocábulo sobreviv+ ocorre 06 vezes com percentual de 100%, e o

vocábulo cheg+ ocorre 11 vezes na classe, o que equivale a um percentual de

52.38% das suas ocorrências nesta classe. Todos esses, portanto, são

representativos da mesma.

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A imigração e o imigrante são configurados, na presente classe, na chegada

e trajetória de vida do imigrante. Segundo as variáveis descritivas postas na linha-

estrela pode-se dizer que a classe III foi predominantemente formada por artigos /

notícias do O Estado de São Paulo, veiculados no sábado, na seção de Cultura

como notícia principal, por profissionais internos ao jornal. Os artigos / notícias mais

significativos na construção da classe assemelham-se ao sistema de propagação,

ou seja, usam linguagem específica de determinados públicos (Ordaz & Vala,

1997).

Tem-se, nesta classe, a informação a respeito da Imigração / Imigrante como

chegada e trajetória de vida do imigrante, sempre relacionadas ao sofrimento ético-

político vivenciado. Sawaia (1999) analisa a exclusão social a partir do âmbito

afetivo, notadamente, do sofrimento. O sofrimento ético-político abrange as

múltiplas afecções do corpo e da alma que se manifestam de diferentes formas na

vida do sujeito. Este sofrimento qualifica-se no modo como alguém é tratado, como

se trata o outro na intersubjetividade, cuja dinâmica e conteúdo são determinados

pela organização social. Sawaia (1999) esclarece que as questões sociais

dominantes em cada momento histórico reproduzem o sofrimento ético-político,

principalmente a dor que surge da situação social de ser tratado como inferior, sem

valor para a sociedade. Pode-se perceber esse sentimento nas seguintes

passagens de texto da classe:

Tinha 13 anos quando foi mandado para o Brasil, acompanhando um jovem

casal de tios. Massateru partiu do porto de Kobe em 25 de abril de 1918,

espremido no compartimento de carga do navio Wasaka Maru, só chegou a

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santos 49 dias depois, ao fim de uma viagem em que morreram 60 dos 1597

imigrantes a bordo. (OESP, artigo / notícia 13)

A análise do sofrimento ético-político revela ainda uma falsa aparência de

integração social e as duas faces da exclusão/inclusão marcadas pelo problema da

desigualdade social, a injustiça e a exploração. O que, no caso do imigrante, é

bastante visível na presente classe. Os conteúdos veiculados, os quais formaram

esta classe, representam um campo contextual composto pela sub-classe

denominada Sofrimento ético-político, já que este conceito abrange todas as formas

de sofrimento expostas na classe, como a tentativa de estar no mundo de forma

melhor, de manter a família e exercer de fato a cidadania. A idéia de imigração

figura como busca de melhoria que não deu certo, que trouxe o insucesso desde o

início e, por conseguinte, o sofrimento ético político do imigrante, como se percebe

a seguir:

“Um navio, um imigrante e seu sonho. (...) uma trajetória de percalços em todas

as profissões que experimentou depois de fugir, literalmente, da fazenda de

café no interior de são Paulo onde trabalhava, em condições medievais,”

(Artigo/Notícia 12, OESP).

Apesar de este relato fazer referência a uma época passada, segue atual, já

que as condições de vida retratam, até os dias de hoje, a situação de vários

imigrante no mundo, como é o caso dos imigrantes africanos que viajam rumo à

Espanha em condições subumanas, por exemplo.

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A diferença entre a história da imigração japonesa no Brasil e o contexto

atual reside no fato de que àquela época, esse tipo de imigração era vista de forma

positiva, já que se tratava da imigração de trabalhadores com intuito de preencher

postos de trabalho e assim desenvolver o país de acolhimento (Arango, 2000).

Atualmente, o Brasil está em outro patamar de desenvolvimento ao passo que esse

tipo de imigração não se faz necessária.

Figura-se que na maioria das UCE da classe há a referência ao trabalho e à

família. Esse binômio aparece como importante na vida do imigrante retratado na

classe: “Nunca voltou ao Japão e nunca juntou dinheiro. Ao contrario, sempre teve

enormes dificuldades para sustentar a família que constituiu aqui, depois de casar

com a imigrante Fussako Asato” (OESP, artigo/ notícia 13).

Essa passagem de texto demonstra, em sua forma de colocar as

informações, a contradição entre o objetivo do imigrante, quando da saída de seu

país, e sua realidade no país de destino. Percebe-se pela expressão “ao contrário”

que esta relação é adversa, contraditória. Este confrontamento de informações

transmite o interesse do autor em explorar essa questão dual, o que sinaliza para

uma atitude crítica rumo ao que está sendo exposto, ou seja, rumo à situação do

imigrante. Acredita-se que tal posicionamento auxilia a construção da imagem do

imigrante enquanto ser que busca, mas ao mesmo tempo é um ser oprimido e

permeado de insucessos. Em face deste posicionamento, subjetividades neste

sentido são construídas.

Outra questão que precisa ser evidenciada é o choque cultural sofrido pelo

imigrante relatado na classe. A diferença entre a cultura ocidental e oriental, a qual

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pertence, acaba por contribuir para a frustração e a dificuldade de adaptação do

imigrante.

“(...) as incríveis dificuldades de adaptação à língua estranha e à comida

desconhecida. (...) Entre os japoneses de Okinawa, as relações com os mortos e

antepassados estão ainda muito distantes dos hábitos ocidentais, quase sempre

limitados ao ritualístico feriado de finados. (...)” (OESP, artigo / notícia 12)

Tal texto, mais uma vez demonstra que a presente classe contribui para

formação de subjetividades em nível de informação da realidade do imigrante no

passado, perpassando a imagem do imigrante enquanto um ser oprimido pelas

frustrações e pelo sistema, tendo a imigração como fonte de sofrimento ético-

político. Sofrimento este que tem no contexto vivido sua fonte, o qual envolve os

imigrantes de modo a não mais permitir a escolha por algo, fazendo com que eles

cheguem a crer que “simplesmente se adaptaram para sobreviver”. (OESP, artigo /

notícia 12).

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Classe IV - Multiculturalismo e Violência:

Tabela 08 – Distribuição do vocabulário específico da imigração / imigrante enquanto Multiculturalismo e Violência, apreendido mediante artigos / notícias de jornais brasileiros

Vocabulário Específico sobre Multiculturalismo e Violência*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS14 18 77.78 93.85 Holanda Holanda12 12 100.00 108.67 Tolerância Tolerância10 18 55.56 42.25 Assassin+ Assassinar, assassinato,10 16 62.50 49.67 Islam+ Islâmica, islamismo08 12 66.67 42.94 Mort+ Morte, morto04 04 100.00 35.43 Limites Limites04 04 100.00 35.43 Mohammed Mohammed04 04 100.00 35.43 Rigid+ Rígida, rigidez04 04 100.00 35.43 Toler+ Tolerar, tolerava04 06 66.67 21.12 Amsterd+ Amsterdam02 04 50.00 6.95 Fundamental+ Fundamentalista02 04 50.00 6.95 Hostil Hostil02 04 50.00 6.95 Liberdade Liberdade04 10 40.00 9.90 Muçulman+ Muçulmano02 04 50.00 6.95 Multiculturar+ Multicultural

A distribuição do vocabulário específico da imigração e do imigrante

ancorados no Multiculturalismo e Violência, que se apresenta na tabela 08,

evidencia nos jornais brasileiros a presença de palavras típicas desta classe, que a

representam: tolerância (100%), assassin+ (55.56%), fundamental+ (50.00%)

liberdade (50.00%), entre outras.

Dentro desta classe, os artigos / notícias formadores, apresentaram a

imigração e o imigrante como envoltos no questionamento acerca do

multiculturalismo como provocar de tensão em um caso específico.

Observando-se as variáveis de análise encontradas na linha – estrela,

afirma-se que esta classe teve predominância na construção de seu significado de

artigos / notícias de O Estado de São Paulo, publicados no domingo na seção de

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Cultura como notícia principal, sendo redigidas por jornalistas externos ao

periódico. O sistema de comunicação mais associado à linguagem usada na

redação do texto é a propagação, sendo assim utilizada forma de escrita mais

homogênea e accessível a públicos mais restritos (Ordaz & Vala, 1997). O que

mostra compatibilidade com a seção de Cultura dos jornais.

Contempla-se nesta classe, em nível de informação, a discussão sobre

quais seriam os limites da tolerância nas sociedades multiculturais, ou seja,

sobre a forma de integrar os imigrantes. Ao mesmo tempo em que os grupos de

defesas de direitos humanos, grupos políticos e estudiosos defendem o

multiculturalismo como melhor forma de integrar imigrantes ao país de

acolhimento, abre-se o debate em relação a até que ponto a aceitação de uma

cultura diversa pode ser coerente, quando esta mesma cultura não tolera

nenhuma outra. Como afirma uma das UCE dos jornais, “como ser tolerante com

os intolerantes?” (OESP, artigo / notícia 10).

Destaca-se que da própria modernidade que nasce o multiculturalismo pode

vir também o que pode feri-lo, ou seja, “fatores inerentes à globalização, vêm a

enfraquecer os modos tradicionais de controle dos fluxos migratórios e das

mudanças socioculturais associadas” (Castles, 2005). O referido autor elucida que

à medida que os grupos imigrantes se instalam, as sociedades de acolhimento são

solicitadas por novas experiências de diversidade social e cultural. O que também

ocorre por parte do imigrante, que nem sempre está preparado para assimilar

costumes tão liberais, como mostra as seguintes UCE:

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“(...) Mohammed Bouyeri, um jovem de 26 anos, muçulmano fervoroso,

holandês, sim, holandês, de origem marroquina,(...) chegou de bicicleta para

assassinar o cineasta, agitador cultural e critica profano do islamismo Theo van

Gogh.(...) Mohammed Bouyeri explicou que a lei divina não permitia que ele

vivesse em um país com liberdade de expressão.(...) nem ele nem aqueles que

usam e abusam desse direito, como era o caso de Theo van Gogh.(...)” (OESP,

artigo / notícia 10).

O sentido da não adaptação ao país de destino, e do avanço tecnológico

como papel-chave na busca da preservação da cultura de origem se completa na

seguinte passagem:

“Bouyeri, condenado à prisão perpétua pelo assassinato de Theo van Gogh,

habitava uma dish city, um subúrbio conectado à terra dos seus pais via

televisão por satélite, internet e telefone celular.” (Artigo/Notícia 10, OESP).

Nesta passagem observa-se a presença da ligação do descendente

imigrante com sua cultura primária, ou seja, ele cultivava os valores, de acordo com

o observado, intolerantes de sua cultura, não conseguindo, portanto, adaptar-se a

valores multiculturais vivendo em um país cosmopolita. Castles (2005), explica que

a globalização possui fatores que contribuem para ligar os imigrantes com seus

países de origem, fazendo com que sua cultura-materna seja fortalecida.

Percebe-se no conteúdo exposto nos textos formadores da classe a

presença de descrições acerca de acontecimentos que ilustram a problemática da

integração de imigrantes. Não se detecta, entretanto, posicionamentos contra ou a

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favor do multiculturalismo ou da negação dos imigrantes, mas sim elementos

necessários à discussão a respeito da questão: até que ponto é possível integrar

imigrantes a partir de políticas multiculturais? O artigo / notícia não chega a

responder a questão, mostrando-se neutro, mas incita a polêmica sobre isto

quando coloca ao final do texto: “Pelas projeções, 52% da população de Amsterdã

em 2015 será de origem estrangeira, em sua maioria muçulmana. (...) afinal, quais

são os limites da tolerância?” (OESP, artigo / notícia 10).

No tocante à imagem do imigrante, figura-se um ser de adaptação difícil,

tendo arraigados na mente valores religiosos fundamentalistas, os quais pautam

suas ações frente à sociedade. Estas são as características descritivas do

imigrante na classe, entretanto o texto mais uma vez não sinaliza para o

posicionamento a favor ou contra essa concepção. Apesar disso, a análise isolada

do leitor sobre o assunto pode resultar em uma imagem negativa do imigrante,

embora não aja indução clara a isso por parte do posicionamento do jornal, pois a

informação em si mesma traz algo negativo sobre o imigrante, relatando um caso

específico. Castles (2005) elucida que apesar de a preocupação com segurança

está sendo associada aos imigrantes e aos muçulmanos, a maioria deles não tem

relação com extremistas. O autor afirma ainda que “O medo dos muçulmanos e das

diferenças culturais é resultado da falha em conseguir igualdade para os

imigrantes”.

Na presente classe, observa-se a contribuição para a discussão sobre as

políticas de integração de imigrante. O artigo / notícia formador da classe induz a

sociedade a pensar se há uma maneira ideal para integrar imigrantes. De acordo

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com Buyum (2006) a melhor maneira de integrar imigrantes é o multiculturalismo.

Entretanto, diante do debate cultivado nesta classe, cabe a dúvida se as políticas

de integração embasadas em preceitos multiculturais devem realmente ser

aplicadas para todos os tipos de imigrantes. Na prática, não só o país de

acolhimento deve conceber a diversidade étnica, mas também o próprio imigrante,

já que se trata da sua própria integração.

Classe V – Institucionalização da Intolerância Étnica:

Tabela 09 – Distribuição do vocabulário específico da Institucionalização da Intolerância étnica, apreendida nos jornais brasileiros.

Vocabulário Específico sobre Institucionalização da Intolerância Étnica*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS14 14 100.00 60.42 Caucasianos Caucasianos12 12 100.00 51.50 Georgi+ Georgias, georgianos16 16 100.00 69.44 Russos Russos10 10 100.00 42.68 Neonazista+ Neonazista, neonazistas08 08 100.00 33.95 Ódio Ódio08 08 100.00 33.95 Ultranacionalista

+Ultranacionalista (s)

08 08 100.00 33.95 Xenófobo+ Xenófobo, xenófobos06 06 100.00. 25.33 Ataque+ Ataque, ataques04 04 100.00 16.79 Azerbaijano+ Azerbaijano, azerbainanos04 04 100.00 16.79 Choques Choques04 04 100.00 16.79 Ciganos Ciganos04 04 100.00 16.79 Eslava Eslava04 04 100.00 16.79 Não-eslavo Não-eslavo04 06 66.67 8.71 Viol+ Violência, violentos04 04 100.00 16.79 Intolerância Intolerância

A distribuição do vocabulário sobre Institucionalização da Intolerância Étnica,

apresentado na tabela 09, evidencia várias etnias e expressão de sentimentos

negativos frente à diversidade, o que pode ser observado em vocábulos como:

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caucasianos (100%), georg+ (100%), russos (100%), eslava (100%), não-eslavo

(100%), ódio (100%), choques (100%), ataque+ (100%).

A presente classe compreende a imigração e o imigrante no processo de

violência física e social organizada. Recorrendo às variáveis descritivas pode-se

caracterizar esta classe como sendo mais fortemente construída a partir de

artigos / notícias da Folha de São Paulo, publicados no domingo, inseridos na

página Internacional como principais e redigidos por jornalistas externos à

redação da Folha. O tipo de sistema de comunicação dos referidos textos

assemelha-se à difusão, uma vez que usam linguagem acessível a uma

pluralidade de públicos (Ordaz & Vala, 1997).

A presente classe retrata informações sobre o mais alto grau de

intolerância étnica para com a diferença: a violência. Figura-se aqui o

enfretamento entre grupos sociais distintos, cujo motivo principal reside na

diferente pertença grupal. Como se verifica na seguinte passagem:

“(...) em maio, na cidade de Kharagun região de tchita, os choques étnicos

opuseram russos e azerbaijanos, com saldo de um morto (...) sua proposta

consiste em limpar a Rússia dos tchiornye,(...) dar prioridade aos russos étnicos

e expulsar os ilegais em 24 horas (...) (FSP, artigo / notícia 01).

A perpetuação dos antigos valores de Estado-Nação fica clara quando se

percebe informações sobre a busca de manutenção de homogeneidade cultural e

racial e também o fechamento a outros Estados. Assim sendo a sociedade

retratada na classe parece querer eliminar tudo o que diverge dessa premissa que,

de acordo com Castles (2005), é incompatível e ilusória no mundo dos fluxos em

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todos os níveis. Para Castells (1996) a própria globalização está envolvida nesta

questão, visto que, segundo a explicação do autor, ela corrói muitas características

centrais do Estado-nação, significando assim, uma alteração na organização

espacial do mundo, de um espaço de locais para um espaço de fluxos. Em face

disto, as ações violentas em relação aos imigrantes e minorias étnicas descritas

nesta classe estão na contra-mão das tendências mundiais no tocante à imigração,

pois, como alerta Castles (2005), as migrações tendem a aumentar de volume e os

migrantes apresentam características sociais e culturais cada vez mais diversas.

Arango (2000) completa também sobre a questão que uma das maiores fraturas

sociais de uma sociedade é a que distingue estrangeiros de nacionais, já que, para

ele, as conquistas da democracia são negadas quando isso ocorre.

Enquanto atitudes, afetos descritos nos artigos / notícias da classe

destaca-se também o apoio institucional à intolerância, o que confirma as

questões relacionadas no parágrafo anterior. A imigração termina por ser

ancorada como abalo de antigos paradigmas relacionados ao conceito de

pertença e identidade, indo de encontro às mais modernas formas de

incorporação e até das leis mais recentes sobre imigração (Vertovec, 1999). A

xenofobia chega a ser colocada enquanto ação normal, tanto por organizações

da sociedade, como pela própria imprensa e por partidos políticos, como se

observa a seguir:

O clima da multidão foi atiçado por uma organização ultranacionalista, (...) o

movimento contra a imigração ilegal DPNI. (...) A imprensa, os políticos e os

ultranacionalistas em pouco tempo passaram a fazer a mesma análise dos

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acontecimentos, se a situação saiu do controle em kondopoga, não foi devido a

intolerância étnica (...) A imprensa nacional atiçou o ódio. "A verdadeira razão de

tudo isso é que os lobisomens de uniforme permitiram que os recém chegados

se comportassem como ocupantes, sem nenhum respeito pela população local",

denunciou o "Izvestia” (FSP, artigo / notícia 01).

Cabe relembrar que, na discussão dos dados, se está analisando tanto a

informação transmitida pelo jornal como também a sua postura, seu

posicionamento referente à informação dada, e tanto o conteúdo, quanto a forma

que é passada esta informação produzem a imagem da imigração e do imigrante. É

neste ensejo que observamos nesta classe a diferença entre o conteúdo da

informação e o posicionamento do jornal. Mesmo sendo as informações veiculadas,

de teor xenófobo, como pôde ser visto, o jornal não apresenta características de

que compartilha desta posição. Ao contrário, descreve com detalhes os

enfrentamentos étnicos ocorridos, chamando a atenção para a violência, a

voracidade dos participantes dos ataques e as mortes, usando no texto falas

infladas proferidas nos ataques, o que confere realidade à notícia e provoca

reações em que a lê. Deixa claro também o apoio das organizações sociais e

políticas e da própria imprensa, o que denota o interesse de dar publicidade a

esses acontecimentos.

A revelação dos acontecimentos, a decisão de publicar a notícia, já

configura, neste caso, a não-concordância com o que foi veiculado, já que na

sociedade brasileira os acontecimentos descritos no artigo / notícia formador da

classe não são comumente aceitos pela população. Em face disto, acredita-se que

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o conteúdo desta classe contribui para a formação de uma imagem do imigrante

como excluído da sociedade, percebido como sujeito não aceito e sem direitos,

inferiorizado. Sayad (1998) elucida que os emigrantes (que é a mesma pessoa que

é imigrante) se exclui ou é excluído pela sua ausência, pela sua deserção do

político do qual são provenientes, ao mesmo tempo em que quando imigrante se

exclui no país de acolhida, pois já sabe instintivamente do que será excluído, do

que não poderá desfrutar, e assim o faz para evitar a exclusão por parte dos outros.

Esta situação contraditória faz com que o imigrante se torne uma presença

ilegítima, visto que ele, como explica Sayad (1998),

foge às categorias de nosso entendimento político que repousa por inteiro na

distinção entre nacional e não-nacional, a presença do imigrante (que,

idealmente e para a realização completa da categoria de nação, não deveria

existir) traduz uma espécie de limite à perfeição esperada da ordem nacional, a

ordem da imigração alterada pela presença de não-nacionais e a ordem da

emigração que também sofre, por sua vez, pela ausência de seus nacionais –

ausência tão fundamentalmente ilegítima e da mesma ordem da ilegitimidade

que a presença do imigrante; (. p 269).

Desta maneira, a produção de subjetividade a respeito da imigração e do

imigrante, diante da configuração desta classe, tende a ser relacionada às questões

acima enumeradas.

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Classe VI – Trabalho / Emprego / Desemprego:

Tabela 10 – Distribuição do vocabulário específico de Trabalho / Emprego / Desemprego, apreendido mediante artigos / notícias de jornais brasileiros.

Vocabulário Específico sobre Trabalho / Emprego / Desemprego*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS16 18 88.89 56.31 Européia+ Européia, européias12 12 100.00 49.77 Idosos Idosos12 12 100.00 49.77 Mão-de-obra Mão-de-obra08 08 100.00 32.82 Idade Idade08 08 100.00 32.82 Polonês+ Polonês, poloneses,

polonesa08 10 80.00 23.21 Trabalhadores Trabalhadores04 04 100.00 16.23 Desempregados Desempregados04 04 100.00 16.23 Desemprego Desemprego08 14 57.14 12.61 Estrang+ Estrangeira, estrangeiros16 36 44.44 14.99 Europ+ Europa, europeus04 04 100.00 16.23 Exterior Exterior12 22 83.33 31.20 Trabalh+ Trabalhando, trabalhar...04 04 100.00 16.23 Salários Salários04 08 50.00 4.63 Domestic+ Doméstica, domésticas08 20 40.00 5.32 Econom+ Economia, economias...

A distribuição do vocabulário sobre Trabalho / Emprego / Desemprego,

apresentado na tabela 10, evidencia a questão do trabalho relacionada a idade,

emigração de trabalhadores, desemprego, o que pode ser observado e palavras

como:: trabalh+ (83.83%), desemprego (100%), salários (100%), econom+ (40%),

trabalhadores (80%), mão-de-obra (100%) e idosos (100%).

Esta classe apreende o imigrante e a imigração na relação entre déficit de

trabalhadores e envelhecimento populacional, e entre déficit de trabalhadores e

busca de melhoria de vida. Levando em consideração as variáveis descritivas

inseridas na linha - estrela, figura-se na construção desta classe a predominância

de artigos / notícias pertencentes a O Estado de São Paulo, publicados no sábado

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nas seções Internacional e Nacional, sendo produzidos por jornalistas externos ao

periódico.

Observa-se nesta classe a organização de conhecimentos (informação)

sobre a incoerência entre os prognósticos sobre déficit de trabalhadores na Europa

e as novas leis de imigração da maioria de seus países. Percebe-se que haverá

necessidade de trabalhadores, entretanto os governos travam verdadeiras lutas

contra a imigração, tendo seu significado como nocivo. Isto se comprova nos textos

a seguir:

(...) atualmente, 17 por cento da população européia tem mais de 65 anos, (...) o

que já é uma das taxas mais altas do mundo. (...) O impacto econômico dessa

tendência deverá ser significativo (...) A Europa poderá ter déficit de mão-de-

obra (...) Os dados surgem justamente no momento em que os governos

europeus incrementam leis contra imigração (OESP, artigo / notícias 07).

De acordo com esses dados, percebe-se o quão paradoxal é a discussão

acerca da temática imigratória. Ao mesmo tempo em que seria necessário um

planejamento populacional no sentido de evitar um déficit de trabalhadores no

futuro, a polêmica sobre a imigração é infinita e a legalização é permeada de

dificuldades. Hugo (1998), explica as migrações sob a ótica demográfica que nesta

classe se apresenta. Para o autor as disparidades estruturais que se observam

entre áreas com economias estagnadas e com elevadas taxas de fertilidade, por

um lado, e áreas com economias em rápido crescimento e com declínio de

fertilidade, por outro. Castles (2005) completa esse raciocínio quando afirma que a

situação mais dramática é a do sul e do ocidente da Europa, justamente a descrita

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nesta classe, lugares onde as taxas de fertilidade caíram para 1,2 filhos por mulher,

valor esse abaixo do valor de reposição da população. O mesmo autor alerta ainda

que

O resultado é o rápido envelhecimento da população e a escassez de pessoas

em idade activa, o que conduz a graves carências de mão-de-obra, sobre tudo

para trabalhos de fracas qualificações. Na vizinhança imediata ao sul, cruzando

o Mediterrâneo, encontram-se os países do Norte de África, com os seus

elevados níveis de fertilidade, as suas altas taxas de crescimento de mão-de-

obra e escassez de empregos para os novos candidatos ao mercado de

trabalho (Castles, 2005).

De acordo com Hirano, Castles et al. (2000), com a necessidade de

trabalhadores estrangeiros para a prestação de cuidados à terceira idade pode ser

possível uma mudança a curto prazo no que tange às restrições à entrada de

imigrantes.

Alude-se também, no que toca à informação, ao fenômeno provocado pelos

imigrantes laborais poloneses, que por buscarem melhores empregos em outros

países da União Européia, estão causando um falta genuína de trabalhadores em

seu país de origem. Isto ocorre ao mesmo tempo em que a Polônia mostra um alto

número de desempregados. Como se verifica nas seguintes passagens:

Após entrada na união européia, em 2004, 800 mil poloneses deixaram país em

busca de melhores salários (...) mas se registram como desempregados para

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receber benefícios. (...) A igreja católica na Irlanda vive um renascimento com o

forte comparecimento de poloneses aos domingos... (OESP, artigo / notícia 15).

Estes fatos demonstram o componente sistêmico do fenômeno imigratório e

destaca também a questão do transnacionalismo. Em relação a isto são abordadas

mudanças advindas desse movimento, tais como: déficit de trabalhadores na

Polônia e formação de espaços transnacionais nos países de acolhida. As

passagens de texto mostram que ao mesmo tempo em que os trabalhadores

poloneses buscam trabalho em outros países da EU, eles seguem tendo relação

com seu país de origem até para receber benefícios sociais, o que configura uma

experiência de transnacionalismo. Este se dá quando determinadas pessoas têm

sua existência crivada em dois ou mais países, mantendo assim relações

concomitantes fronteiriças, recorrentes, duradouras e de cunho comercial, cultural,

política, desportiva ou social (Portes, et al. 1999).

Enquanto atitude frente à imigração destaca-se a descrição do

endurecimento das leis por parte dos países europeus, no sentido de entrada de

estrangeiros, entretanto o posicionamento dos artigos / notícias formadores da

classe não demonstra estar favorecendo esta questão. Sobre isso se pode colocar

que nos textos observa-se a colocação da referida informação em contraposição ao

envelhecimento populacional, como se colocasse em cheque a decisão dos países

da Europa de evitar a entrada de imigrantes, é o que se pode ver a seguir:

Tiro no pé. Reformas em vários países já foram iniciadas, assim como estudos

sobre a necessidade de que certas economias contem com mão_de_obra

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estrangeira. A Suíça, por exemplo, tem déficit de 5 mil engenheiros. As

empresas locais precisam contratar funcionários na Ásia e América Latina para

trabalhos especializados. Os dados ainda são um recado aos governos que

endurecem suas leis contra a imigração diante do crescente sentimento de

insegurança em algumas cidades. (OESP, artigo / notícia 07).

Segundo o que se pode verificar na passagem acima, o jornal demonstra

posicionar-se em favor da imigração, quando coloca que não aceita-la é um “tiro no

pé”, além de afirmar que os dados sobre o déficit de trabalhadores são “um recado

aos governos que endurecem suas leis”. Acredita-se que esse posicionamento

contribui para uma formação sobre a imigração e o imigrante relacionada à sua

necessidade, ao imigrante enquanto útil para a sociedade de acolhimento, e à

imigração como importante e saudável, sistemicamente, para os países que a

aceitam.

Infere-se então que os conteúdos representacionais sobre a imigração e o

imigrante nesta classe produzem subjetividades relacionadas à imigração como

solução, quando se pensa sobre déficit de trabalhadores, também ancorando a

imigração como fator sistêmico no qual o trabalho mostra-se como centro de

gravidade.

Em seguida observam-se as análises a respeito dos significados da

imigração na imprensa espanhola. Abaixo segue a distribuição das UCE por classe

emergida na imprensa espanhola.

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Classe I – Desequilíbrio social: Impactos Negativos / Desenvolvimento:

Tabela 11 – Distribuição do vocabulário específico de Desequilíbrio Social: Impactos Negativos / Desenvolvimento, apreendido mediante artigos / notícias de jornais espanhóis.

Vocabulário Específico sobre Desequilíbrio Social: Impactos Negativos / Desenvolvimento

*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS10 10 100.00 55.98 Gasto+ Gasto, gastos07 08 87.50 32.35 Coletivo+ Coletivo, coletivos07 07 100.00 38.89 Crescimento Crescimento14 24 58.33 35.80 Serv+ Serviços, serviram, serviu04 04 100.00 22.06 Impostos Impostos10 16 62.50 28.15 Sociais Sociais04 04 100.00 22.06 Verba+ Verba, verbas06 11 54.55 13.19 Aument+ Aumentar, aumento,

aumentou04 06 66.67 12.20 Demand+ Demanda (s), demandar04 05 80.00 16.11 Ganhos Ganhos04 05 80.00 16.11 Impact+ Impactará, impacto04 10 40.00 4.71 Responsabilidad

eresponsabilidade

03 06 50.00 5.55 Acolhida acolhida06 13 46.15 9.66 Fenômeno+ Fenômeno, fenômenos21 86 24.42 6.66 Imigrante+ Imigrante, imigrantes

A distribuição do vocabulário de Impactos Negativos / Desenvolvimento,

apresentado na tabela 11, contempla vocábulos que expressam a ligação entre

imigração e finanças do país do acolhida, bem como questões sociais: fenômeno

(46. 15%), imigrante (24. 42%), acolhida (50%), gasto (100%), ganhos (80%),

crescimento (100%).

Esta classe retrata as conseqüências trazidas pela imigração em termos

de impacto negativo no campo social e financeiro, assim como em relação ao

desenvolvimento econômico advindo da imigração. Considerando as variáveis

inseridas na linha - estrela, observa-se na construção desta classe a predominância

de artigos / notícias pertencentes ao jornal El Mundo, publicados no domingo nas

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seções Economia, Cidades e Saúde, sendo produzidos por jornalistas internos à

redação do periódico. O sistema de comunicação que mais se assemelha à forma

de escrita dos artigos / notícias formadores da classe é a difusão, posto que usam

linguagem simples e acessível a uma gama de públicos (Ordaz & Vala, 1997).

Com respeito à informação, a presente classe contempla questões

relacionadas aos impactos e desenvolvimentos trazidos pela imigração, sempre

permeadas por temas atinentes aos ganhos econômicos advindos do referido

coletivo, pela prostituição enquanto atividade laboral do imigrante, desequilíbrio

econômico e responsabilidade social para com o imigrante.

A essência das informações desta classe está nas contradições trazidas pela

imigração, que talvez já seja fruto de paradoxos também. Ao mesmo tempo em que

se afirma que a chegada do imigrante traz benefícios para as contas públicas, já

que este paga impostos. Coloca-se também que a imigração provoca gastos

demasiados em setores como saúde, educação, e com a responsabilidade social

como um todo que demanda o imigrante. Isto pode ser verificado em passagens de

texto como esta:

O saldo resultante do que traz e consome esta nova população, manifesta que

em 2005 os imigrantes geraram ganhos em matéria de impostos e de

seguridade social de 23... E suponho que aprenderá os problemas que a

pressão imigratória esta causando nos serviços sociais da capital... Uma enorme

escalada de gastos para integrar o incrível aumento de população que esta

ocorrendo... alcançarão os 6, 5 milhões, o que representa 14 por cento da

população da Espanha. ... (ELM, artigo / notícia 35).

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O curioso nesta contradição é que surge uma dúvida em relação aos gastos a

que se referem os artigos / notícias formadores da classe. Os imigrantes são

“acusados” de demandarem mais gastos aos serviços sociais, ao mesmo tempo em

que pagam os impostos. Então, por que não podem usá-los? Os nacionais também

pagam seus impostos e usam os serviços públicos, entretanto não é remetido a

eles o peso de serem responsáveis por colocar pressão sobre tais serviços. O

lógico seria que, recebendo mais contribuições, de mais pessoas, os serviços

fossem realmente mais utilizados, todavia, o fato de este uso não ser feito por

“nacionais” parece fazer diferença, de acordo com o que visto no conteúdo da

classe.

Nesta classe não se evoca o imigrante ilegal, refere-se ao imigrante que cumpre

com suas obrigações de produzir para o país e de pagar seus impostos. Porém

mesmo assim ele parece incomodar. Encontramos em Sócrates citado em Sayad

(1998), elucidação sobre este olhar em direção ao imigrante, quando o autor coloca

que o imigrante é o atopos , sem lugar, deslocado, inclassificável. Tal gradação é

provocativa, no sentido de incitar a reflexão a respeita do ser complexo que é o

imigrante. Sayad (1998) também mostra este ser que nem é cidadão nem

estrangeiro, nem totalmente do lado do Mesmo, nem totalmente do lado do Outro,

para o autor, o imigrante situa-se nesse lugar “bastardo” do qual Platão falava, ele

está entre a fronteira do ser e o não–ser social. Verificam-se nas seguintes

passagens de texto, amostras desse contexto de indefinição sobre o imigrante,

afinal ele é útil ou não à sociedade de acolhimento? Ele é aceito ou não?

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Sem dúvida, é certo que este fenômeno é vital para o crescimento da economia

do país, também é verdade que há mais pessoas que contribuem para a

seguridade social... 10% dos contribuintes são estrangeiros e pagam impostos.

Desequilíbrio entre gastos e ganhos em nível territorial pode terminar afogando

algumas regiões ou deteriorando severamente o nível de seus serviços... É certo

que existe maior demanda de serviços públicos por regiões... a Catalunha

recebeu 40, 2 milhões e os municípios da comunidade autônoma valenciana 22,

5 milhões, quantidades, de qualquer forma, insuficientes... serviços que têm uma

poderosa tendência expansiva no gasto e que são muito sensíveis ao

crescimento populacional... entretanto, os impostos que recebemos para

financiar a saúde, a educação e os serviços sociais são, sejam divididos ou não

com o estado... não evoluem de maneira tão favorável como as quantias

estáveis diretamente associadas a imigração, cotações sociais e

impostos....(ELM, artigo /notícia 35).

Em relação à atitude descrita na classe com respeito à imigração e ao

imigrante, figuram-se também contradições. Percebe-se que há ora o

favorecimento, ora desfavorecimento do coletivo. Como pode ser verificado em

seguida:

Prestamos aos imigrantes serviços públicos ao estarem transferindo as

competências dos serviços básicos que mais precisa o coletivo imigrante: saúde,

educação e serviços sociais... existe uma quantia de mais de 12. 000 milhões

dividida entre ambas as administrações... será quando este coletivo, hoje jovem

e trabalhador, comece a demandar massivamente assistência de saúde e

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educação, o que impactara ainda mais nas contas autônomas e municipais....

575 milhões nem sequer supera o gasto nas políticas de integração que são de

605 milhões.... (ELM, artigo / notícia 35).

Em alguns momentos são colocadas as benesses trazidas pelos imigrantes,

em outros estes são vistos como fonte de desequilíbrio. São colocados em pauta

serviços prestados aos imigrantes e também o gasto que tais serviços geram para

as comunidades autônomas na Espanha, mesmo que o imigrante pague pelos

serviços prestados. Ao mesmo tempo em que essa Responsabilidade Social é

descrita como forma de posicionamento positivo frente ao imigrante, o desequilíbrio

visto como causado pelo imigrante demonstra um afastamento diante dele e a

desvantagem de ter-lo presente.

De acordo com a questão relatada na classe, ocorre um desequilíbrio

financeiro entre a administração estadual e municipal no tocante ao que se recebe

dos imigrantes. Segundo os artigos / notícias formadores da classe, 90% do que

pagam os estrangeiros em matéria de impostos fica com o estado, entretanto quem

fica com a maioria dos gastos com saúde, educação, etc. é o município, o que

termina provocando um verdadeiro colapso. A manchete de um dos artigos /

notícias envolvidos na formação da classe afirma: “Os imigrantes enriquecem o

estado e empobrecem os municípios”. Colocada desta forma a responsabilidade

sobre a questão é posta para o coletivo imigrante e não para o próprio Estado

espanhol. Ocorre que os imigrantes relatados na classe pagam seus impostos,

cumprindo assim com o seu dever, mas mesmo assim causam impactos nos

serviços. Observa-se então que o problema encontra-se na organização da

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transferência do que é pago pelos imigrantes, e não no número imigrantes. De

acordo com Castles (2005), vários argumentos que colocam a imigração como

nociva, acabam por culpar a vítima, ou seja, o próprio imigrante. Percebe-se aqui

esta relação de transferência de responsabilidade para o imigrante, quando esta é

do próprio Estado, que deveria organizar de forma adequada suas finanças de

modo a não distribuir de maneira equivocada os numerários dos quais se apropria,

causando ele, o Estado, o desequilíbrio.

Face ao posicionamento do jornal sobre o imigrante, ancorando-o como

fonte de desequilíbrio em detrimento de seu fator positivo, acredita-se que a

imagem formada a seu respeito e a respeito da imigração como um todo seja

negativa. Isto é potencializado quando tal forma de posicionar-se sobre a imigração

é veiculada no contexto imigratório da Espanha, já que tal país atravessa um

momento muito intenso neste sentido, como pôde ser visto na fundamentação

teórica deste estudo. A formação de subjetividades sobre o coletivo imigrante e

sobre a imigração diante do posicionamento negativo do jornal acaba sendo

influenciada neste sentido, notadamente quando o contexto social vivenciado por

quem absorverá tais informações é perpassado de polêmicas e experiências em

todos os níveis envolvendo a imigração.

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Classe II – Pacto Imigratório Nacional: Acordos e Desacordos:

Tabela 12 – Distribuição do vocabulário específico do Pacto Imigratório Nacional: Acordos e Desacordos

Vocabulário Específico sobre Pacto Imigratório Nacional: Acordos e Desacordos*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS11 14 78.57 75.09 Acord+ Acordado, acordo08 10 80.00 55.34 Executivo Executivo09 12 75.00 57.54 Fernandez fernandez10 12 83.33 73.25 Grupo+ Grupo, grupos11 13 84.62 82.37 Pacto+ Pactos, pacto12 24 50.00 44.88 Propost+ Propostas, proposta10 14 71.43 60.25 Vice-presidente Vice-presidente03 06 50.00 10.72 Fal+ Falar, falou02 05 40.00 5.00 Discurso+ Discurso, discursos03 03 100.00 26.98 Consenso+ Consenso, consensos02 04 50.00 7.11 Alternativa+ Alternativa03 06 50.00 10.72 Conferência+ Conferência06 09 66.67 32.52 Reform+ Reforma, reformas17 84 20.24 12.07 Imigração Imigração02 06 33.33 3.64 Plano+ Plano, planos06 18 33.33 11.25 Medida+ Medida, medidas05 07 71.43 29.60 Rejeit+ Rejeitou, rejeitar

A distribuição do vocabulário Legislação Imigratória Nacional: Acordos e

desacordos, apresentado na tabela 12, evidencia questões contraditórias em

relação à legislação Imigratória em vocábulos como: rejeit+ (71.43%), consenso+

(100%), acord+ (78.57%), pacto+ (84.62%).

A presente classe Mostra o debate político sobre a legislação imigratória

entre membros do governo espanhol e partidos opostos, observando as

concordâncias e discordâncias entre eles. Atentando para as variáveis descritivas

presentes na linha – estrela, observa-se na construção desta classe a maior

participação de artigos / notícias pertencentes ao jornal El Mundo, publicados no

sábado na seção Nacional, sendo produzidos por jornalistas internos à redação do

periódico. O sistema de comunicação que mais se assemelha a forma de escrita

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dos artigos / notícias formadores da classe é a difusão, já que usam linguagem

simples e acessível a uma pluralidade de públicos (Ordaz & Vala, 1997).

Figura nesta classe, como informação sobre a imigração e o imigrante, a

busca de um pacto entre os segmentos políticos com vistas a diminuir a imigração

ilegal na Espanha. O que se informa é que o governo espanhol quer um “pacto de

todos” para uma reforma moderada da lei de imigração e outras medidas, sempre

com o objetivo de diminuir a imigração irregular. O que chama a atenção nesta

classe, em relação ao posicionamento (atitude) do jornal é o viés político que

adquire a temática em grande parte dos textos. Por vezes até parece que o tema

principal não é a discussão da imigração, a busca de soluções, mas sim a disputa

política entre os partidos e grupos. Isto pode ser verificado na seguinte passagem

de texto:

O PP não firmará o pacto de estado pela imigração que quer o governo até que

este assuma a responsabilidade pelo seu erro de sua política e a corrija.

Desconfia do interesse de entendimento de quem rejeitou no congresso suas

primeiras propostas. Na realidade, quase nenhum dirigente popular fez menção

expressa em seus discursos a esta operação política do executivo que

consideram mais propagandista do que real. (ELM, artigo / notícia 32)

Percebe-se no texto acima o forte espírito político com o qual é tratada a

questão. O foco de atenção parece está mais voltado para a discordância entre os

grupos políticos, neste caso o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), partido

do Governo, e o Partido Popular (PP). No artigo / notícias em questão o PP remete-

se a “propostas”, “operações políticas”, mas não se diz quais são essas propostas,

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só é especificada a discordância, desconfiança, mostrando que o interesse não

está no conteúdo de tais operações políticas e em seus objetivos.

Cabe aqui resgatar que esta classe foi formada, em sua maior parte, por

artigos / notícias do jornal El Mundo. Fuertes (2006) coloca que o periódico é

habitualmente crítico do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e dos

nacionalismos periféricos e é próximo (sobretudo na política espanhola) ao Partido

Popular (PP). Ou seja, tem opiniões contrárias a seu concorrente, o jornal El País.

Em face desta informação pode-se compreender o motivo pelo qual, na passagem

de texto acima, tanta ênfase é dada à visão do Partido Popular.

Ainda no que se refere à atitude, observa-se a menção de propostas no

sentido de diminuir a imigração ilegal, tendo como meio para esse fim a reunião de

diversos grupos e opiniões. Como se percebe em seguida:

O governo convoca os partidos para pactuar uma reforma moderada da lei de

imigração. O executivo propõe o aumento máximo de dias de internamento e só

a IU ICV rejeita. A vice-presidente primeira vai falar com os grupos de forma

discreta sobre este assunto nas próximas semanas... de fato, já sondou alguns

nas ultimas semanas, dentro de uma serie de contatos que tinham como objetivo

fundamental a imigração ilegal. ... (ELP, artigo / notícia 09).

Neste trecho advindo do jornal El País, referente às atitudes diante da

imigração, percebe-se um maior detalhamento do que propõe o pacto sobre

imigração. Aqui, a parte política é, sim, contemplada, mas não parece perder o foco

real que é a resolução dos problemas da imigração ilegal. Tal problemática, nesta

classe, é também provocadora de esforços, por parte do governo espanhol e de

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grupos parlamentares, no sentido de elucidar questões, mudar leis antigas e criar

novas e debater a respeito da imigração. Como se pode verificar nesta passagem:

Essa reunião está precedida de uma primeira reunião de contatos e de troca de

propostas entre governo e grupos parlamentares... já nesse encontro, a vice-

presidente reafirmou diretamente a Eduardo Zpana o interesse em alcançar um

pacto de estado.... (ELM, artigo / notícia 31).

A tentativa do governo de travar um pacto sobre imigração mostra a

importância do tema, tanto politicamente quanto socialmente. Além de mostrar o

quão multifacetada é a imigração, visto que afeta não só quem é protagonista dela

enquanto imigrante, mas também atinge as relações políticas como um todo, neste

caso a política nacional. Castles (1997) explica que a imigração é uma força

poderosa de mudanças posteriores e “seus impactos imediatos se manifestam em

nível econômico, embora também afetam as relações sociais, a cultura, a política

nacional e as relações internacionais.

As informações e atitudes descritas acima demonstram estar ancoradas no

conceito de imigração e imigrante irregular, também conhecidos com ilegais ou, em

espanhol, sin papeles. Sobre estes Castles (2005) explica que “são pessoas que

entram num país, normalmente à procura de emprego, sem os documentos ou as

autorizações necessárias. Muitos fluxos de imigração laboral são constituídos

predominantemente sem papéis” (p. 18).

A importância dada à imigração enquanto ilegal, enquanto premência de um

acordo entre todos, transmite a imagem de imigração como um problema para a

sociedade receptora. Acredita-se que tal imagem a respeito da imigração fornece

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material para a produção de subjetividades relacionadas à não-aceitação do

imigrante, pois este é aqui colocado como fonte de problemáticas a serem

resolvidas.

Classe III – Ações Contra a Imigração Ilegal:

Tabela 13 – Distribuição do vocabulário específico Distribuição do vocabulário específico da Imigração / Imigrante como Ações Contra a Imigração Ilegal.

Vocabulário Específico sobre Ações Contra a Imigração Ilegal*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS11 18 61.11 41.67 Aprov+ Aprovou, aprovada09 09 100.00 65.71 Câmara+ Câmara, câmaras10 15 66.67 42.74 Constru+ Construir, construção08 10 80.00 43.62 Eleições Eleições15 19 78.95 82.19 Estados Estados22 22 100.00 166.06 Muro+ Muro, muros11 11 100.00 80.72 Republic+ Republicano, republicanos13 13 100.00 95.88 Senado senado08 08 100.00 58.27 Votos votos15 18 83.33 88.22 Unido+ unidos02 04 50.00 5.33 Possiblidade+ Possibilidade,

possibilidades05 06 83.33 28.53 Legislativ+ Legislativas, legislativo16 35 45.71 39.71 Fronteir+ Fronteira, fronteiriço,

fronteiras04 05 80.00 21.54 Frear Frear17 84 20.24 6.21 Imigração Imigração03 07 42.86 6.18 Nacion+ nacional12 30 40.00 23.09 Ilegal+ Ilegal

Na distribuição do vocabulário da Imigração e do Imigrante enquanto

Imigração Ilegal e Contenção (tabela 13) destacam-se tanto pelo sentido quanto

pelo seu posicionamento estatístico na classe as seguintes palavras

características: frear (80%), ilegal (40%), nacional (42.86%), muro (100%) e

eleições (80%). Os vocábulos aprov+ (61. 11%) e contru+ (66.67%) também

demonstram sua importância no sentido da classe.

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Faz referência a ações postas em prática contra a imigração, as quais são

perpassadas por questões não só de segurança, mas também eleitorais.

Recuperando as variáveis descritivas inseridas na linha-estrela, verifica-se na

construção desta classe a maior participação de artigos / notícias pertencentes ao

jornal El Mundo, publicados no domingo na seção Internacional e de Opinião,

sendo produzidos por jornalistas externos à redação do periódico. O sistema de

comunicação que mais se adéqua à forma de escrita dos artigos / notícias

formadores da classe é a difusão, já que usam linguagem simples e acessível a

vários de públicos (Ordaz & Vala, 1997).

No tocante à informação, figura-se nesta classe a ligação entre segurança e

imigração. Esta relação se mostra coerente no texto, quando é colocada de modo a

conceber ações radicais contra a imigração. Isto se mostra no texto seguinte:

... a câmara de representantes aprovou em dezembro passado a polêmica lei

que criminaliza a imigração e só incluía medidas repressivas... A construção do

muro foi aplaudida pelo secretario de segurança nacional, Michao Chertof. ...

(ELM, artigo / notícia 27).

Na imprensa brasileira atitudes relacionadas às ações contra a imigração

ilegal também emergiram dos artigos / notícias, entretanto, concomitantemente

também eram expostas as reações às políticas radicais de contenção da imigração

também, fazendo-se um contraponto. Nos jornais espanhóis isso ocorre de forma

bastante tímida, sendo colocada, na maioria das vezes, apenas a posição do país

que admite a execução de ações severas contra a imigração.

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A associação entre a segurança pública e as ações contra a imigração, está

ancorada na concepção de que há elo entre terrorismo e imigração. De Lucas

(2002), mostra que essa ligação nasceu quando o governo britânico aprovou, em

14 de dezembro de 2001, sua nova e dura lei antiterrorista. Esta lei permite a

detenção indefinida de estrangeiros suspeitos de terrorismo, sem que a polícia seja

obrigada a colocá-los à disposição do juiz antes de 72 horas, ou seja, rompe os

princípios do hábeas corpus que existe na Inglaterra desde 1679. Coloca ainda De

Lucas (2002) que para aprovação desta lei exigiu a suspensão do artigo 5º do

Convênio Europeu de Direitos Humanos, artigo este há apenas 13 meses

incorporado à legislação do país. Para o referido autor, esta lei de exceção será

destinada aos imigrantes que têm vínculo com o mundo árabe ou são

confessadamente islâmicos. O que nos Estados Unidos é ainda pior, pois esta

postura se estende a todos os estrangeiros residentes, inclusive os que têm a

condição de cidadãos. Na leitura de De Lucas (2002), estas pessoas, após esses

acontecimentos, passaram a estar na mira da estratégia da guerra antiterrorista,

que faz do ato de migrar uma condição suspeita.

Ainda no que se refere à atitude sobre imigração e imigrante, tem-se

novamente o envolvimento da temática imigratória com a questão eleitoral,

entretanto, desta vez a análise por parte do jornal neste sentido vem muito mais

direta, já que se trata dos Estados Unidos e não da própria Espanha, como no caso

da classe anterior. Nesta classe, a questão política e eleitoral relacionada à

imigração é analisada de forma mais impessoal, pois se trata de outro país

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diferente do país de origem do jornal. Percebe-se a forma mais clara desta questão

no seguinte trecho:

As eleições para o congresso no dia 7 de novembro, nas quais os democratas

podiam exercer o controle de uma ou talvez duas câmaras do legislativo dos

Estados Unidos pesaram fortemente na decisão para ganhar votos. A luta contra

a imigração ilegal constitui um dos temas principais da campanha eleitoral... os

republicanos contavam com a aprovação do muro para manter sua maioria nas

duas câmaras do congresso....(ELM, artigo / notícia 27)

O posicionamento em relação à imigração visto acima, demonstra a falta de

compromisso da classe política para com a temática em si, com a resolução de

problemas relacionados a ela. O que ocorre é que a imigração torna-se um meio e

não um fim em si mesma. Ela transforma-se em ferramenta em poder dos políticos,

para que estes a usem a seu favor, sabendo que, por ser atualmente a imigração

associada à segurança pública, sensibilizará os eleitores, como pode ser verificado

a seguir:

Isto e algo que o povo americano leva muito tempo querendo que falemos, disse

o senador pelo Arizona John Kel depois da votação. Seu ponto de vista reflete o

de grande parte de seus colegas, tanto os democratas como os republicanos,

que são conscientes de que a imigração ilegal é um dos principais fatores de

preocupação dos estadunidenses.... (ELM, artigo / notícia 27).

Apreende-se também nesta classe a informação ancorada na imigração

irregular. Aqui é noticiado enquanto ato de imigrar, este tipo de imigração, todavia,

diferentemente da classe anterior, o enfoque são as medidas radicais, como a

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construção de muros e valas, por exemplo, não sendo contemplado o debate

político a respeito disso.

Em face das informações e atitudes referidas nesta classe, acredita-se que a

formação da imagem do imigrante é possivelmente direcionada à idéia de ligação

entre esse e o terrorista, bem como de imigração irregular como instrumento

político eleitoral. Diante deste tipo de imagem coloca-se a produção de

subjetividades negativas direcionadas ao imigrante, o que contribui diretamente

para os processos de exclusão deste coletivo.

Classe IV – Cooperação / Tensão Internacional:

Tabela 14 – Distribuição do vocabulário específico da Imigração / Imigrante enquanto Cooperação / Tensão Internacional

Vocabulário Específico sobre Cooperação / Tensão Internacional*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS04 05 80.00 4.87 Advert+ Adverte, advertiu03 04 75.00 3.09 Asilo asilo14 20 70.00 12.44 Econom+ Economia, economicas26 26 100.00 54.74 Européia+ Européia, européias09 09 100.00 18.14 Exterior+ Exterior, exteriores16 35 45.71 2.49 Fronteir+ fronteira04 04 100.00 7.96 Frontex Frontex07 09 77.78 8.02 Cooperação cooperação12 21 57.14 5.47 Ilegais Ilegais06 09 66.67 4.49 Integr+ Integração, integral03 03 100.00 5.96 Legislação Legislação06 10 60.00 3.18 Sociedade+ Sociedade, sociedades04 04 100.00 7.96 Solidariedade Solidariedade19 20 95.00 35.44 União União10 11 90.91 16.59 Critic+ Criticada, criticou, criticas

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Como pode ser observado na tabela 14, o campo lexical desta classe se

constitui de um vasto vocabulário. Mediante o que foi apreendido nos artigos /

notícias, destacam-se algumas das palavras típicas da classe, como cooperação

(77.78%), fronteira (45.71%), frontex (100%), sociedade (60%), solidariedade

(100%) e críticas (90.91%)

A presente classe traz o debate sobre a legislação imigratória entre os

países da União Européia, abordando as relações de cooperação e tensão entre

eles neste sentido. Vislumbra a busca de concordância de posições acerca de uma

política comum de imigração na UE, formas legais não-físicas para diminuição da

imigração e o debate sobre a pertinência de leis e ações em alguns países desse

mercado comum.

Recorrendo às variáveis presentes na linha-estrela, esta classe pode ser

caracterizada como classe construída predominantemente por artigos / notícias do

jornal El Mundo, publicados no sábado como matéria principal nas seções

Internacional, Nacional e de Opinião, sendo escritos por jornalistas internos à

redação do periódico. Os textos jornalísticos mais representativos na construção

desta classe, no que diz respeito aos sistemas de comunicação, se assemelham

sistema de difusão, o que significa que utilizam linguagem mais acessível a uma

diversidade de públicos (Ordaz & Vala, 1997).

Nesta classe, a dimensão informação, sobre o a imigração e o imigrante,

aparece relacionada às relações internacionais, pois chama a atenção para

necessidade de união política entre países que a imigração demanda. A

organização dos conhecimentos está em torno das tensões diplomáticas causadas

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por algumas divergências entre os países, bem como relacionada à uma política

imigratória comum na União Européia. As referidas tensões podem ser observadas

a seguir:

Em relação à política de imigração, afirmou no congresso que não aceitará

lições da França neste assunto. E Sarkozy, duro entre os duros frente aos sem

documentos na campanha eleitoral, reagiu sem demora, afirmando que ele não

pretende dar lições a ninguém, entre outras coisas porque também não gosta de

recebê-las.... (ELM, artigo / notícia 22).

Embora o trecho acima cite os imigrantes indocumentados, etc., percebe-se

pelo contexto do parágrafo, que o foco está na tensão relacional entre os governos

dos países. Castles (2005) elucida que as migrações, o desenvolvimento e as

relações internacionais encontram-se intimamente ligados. Já as informações sobre

a busca de uma política imigratória comum verifcam-se na seguinte passagem de

texto:

... promoveria uma política européia comum e condicionaria as ajudas à

cooperação na luta contra as máfias... este fenômeno é novo em nosso pais e

da nossa sociedade, com a ajuda de todos que fazem parte dela, devem surgir

as respostas às perguntas feitas.... (ELM, artigo / notícia 22).

A organização de conhecimentos aqui demonstra a união dos países

europeus promovida pela busca de soluções acerca do “problema da imigração”.

Nestas informações, percebe-se atitudes negativas com relação à imigração, pois

ela é colocada como um problema ser resolvido, assim sendo exposta: ...disse que

a Franca tem experiência com o mesmo problema...(ELM, artigo/notícia 26). A

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reunião dos países debate questões como regularizações em massa e efeito –

chamada de imigrantes e até a possibilidade de aceitação da imigração. Para tais

países, regularizar muitos imigrantes é algo perigoso, não só pelo número de

pessoas estrangeiras no país, mas também pelo efeito que pode ser ocasionado: a

vinda de mais e mais imigrantes, já que estes, para os países europeus, se

influenciam quando percebem que há regularizações periodicamente. A essa

suposta vinda de mais imigrantes por intermédio da influência das regularizações é

dado o nome de efecto llamada, para os espanhóis.

Percebe-se nesta classe a presença de conteúdos também relacionados a

efeitos positivos da imigração, tal posicionamento mostra-se como positivo em

relação à imigração, como pode ser visto neste trecho:

... é boa para o país a que vão e contribui para romper o equilíbrio de pobreza do

pais do qual vêm. O que foi um prestigioso economista se perguntava em

seguida: qual e a perversidade da alma humana que faz que o povo resista a um

bem tão óbvio?... (ELP, artigo / notícia 16).

Esta passagem de texto é a única de toda a classe que se posiciona

positivamente sobre a imigração. Em face da não-linearidade das atitudes expostas

nesta classe, percebe-se um discurso dúbio, variando entre a imigração ora como

positiva, ora como negativa. Porém é clara a predominância de conteúdos

descrevendo atitudes que formam uma imagem ancorada em aspectos negativos

da imigração. Tal posicionamento por parte do periódico, influencia a formação de

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subjetividades negativas rumo ao imigrante e à imigração. Isto pode ser percebido

no contexto da classe exposto ao longo desta análise.

Classe V – ldentidade Falsificada e Trabalho:

Tabela 15 – Distribuição do vocabulário específico da Imigração / Imigrante enquanto Identidade Falsificada e Trabalho

Vocabulário Específico sobre Identidade Falsificada e Trabalho*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS03 08 37.50 13.21 Advog+ advogado08 09 88.89 104.75 Cobr+ Cobra, cobrado, combram04 05 80.00 45.87 Contratos contratos06 08 75.00 64.24 Documentação documentação07 10 70.00 69.37 Documentos Documentos05 05 100.00 74.18 Domestic+ Doméstica, doméstico03 06 50.00 19.37 Empresários empresários08 49 16.33 9.20 Espanha Espanha02 05 40.00 9.56 Fals+ falso02 04 50.00 12.85 Intermediários Intermediários12 31 38.71 58.62 Trabalh+ Trabalho, trabalhar,

trabalham02 05 40.00 9.56 Negoci+ negocio05 07 71.43 50.38 Permiss+ Permissão, permissões04 20 20.00 6.52 Regulariz+ Regularizar, regularizam03 04 75.00 31.80 Turista+ turista

Pode-se observar na tabela 15 que o vocábulo casa+ ocorre nesta classe 11

vezes, com percentual de 100%. A palavra documentos, com freqüência de 7 e

percentual de 70%. A palavra documentação ocorre 6 vezes com percentual de

75%, e a palavra contratos ocorre 4 vezes na classe, o que equivale a um

percentual de 80% das suas ocorrências no corpus. Todas essas, portanto, são

representativas da mesma.

Mostra as circunstâncias de chegada e estada na Espanha na condição

ilegal de imigrante, enfatizando a busca pelo trabalho e legalização e a existência

de máfias atuantes neste sentido. Esta classe, de acordo com as variáveis

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descritivas inseridas na linha – estrela pode ser considerada como mais fortemente

formada por artigos / notícias do jornal El País, publicados no domingo como

matéria principal na seção Nacional, sendo escritos por jornalistas internos à

redação do periódico. Os textos jornalísticos mais representativos na construção

desta classe, no que diz respeito aos sistemas de comunicação, se assemelham

sistema de difusão, o que significa que utilizam linguagem mais acessível a uma

diversidade de públicos (Ordaz & Vala, 1997).

As informações veiculadas nesta classe a respeito da imigração e do

imigrante estão em torno da entrada ilegal e da atividade econômica e

regularização. A entrada do imigrante é aqui mostrada enquanto entrada ilegal de

diversas formas. São relatadas chegadas em embarcações clandestinas,

entradas com vistos falsos de turista e entradas legalizadas como turistas, mas

que depois expiram, deixando o imigrante em situação irregular. Esta realidade

pode ser percebida no trecho:

... quando chegou à Espanha em uma balsa vinda de El aaiun./ Emilia veio há

seis anos. Seu negócio na Romênia não saiu bem e decidiu experimentar na

Espanha. O falso visto de turista lhe custou uns 800 euros. Quando chegou,

ligou para seu contato, uma vizinha de seu irmão. Conseguiu-me uma cama em

uma casa com outras oito pessoas... Tenho um contato em uma construção....

(ELP, artigo / notícia 02).

Percebe-se nas informações a descrição de algumas formas de entrada na

Espanha. O que chama a atenção é a presença importante da rede de contatos,

pois esta ajuda o imigrante a efetivar seu projeto de permanecer no novo país. Esta

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questão é interessante, pois traz que um imigrante pode significar outros, pois, no

texto acima, percebe-se que o papel do “contato” é fundamental quando da

chegada do imigrante. Ele é responsável pela estabilização do indivíduo que chega

ao país receptor.

A organização de conhecimentos nesta classe coloca de forma contundente

a imigração laboral, irregular e de fracas qualificações. Como é exposto na

passagem:

... quase todos começam com o serviço doméstico e a construção. Ninguém vai

inspecionar as casas e as construções. Sempre lhes dão postos de trabalho

pouco visíveis ou à noite, que não há inspeções, explica Dora Aguirre, de

Rumiiiahui, associacao de equatorianos. ... (ELP, artigo / notícia 02).

Castles (2002), afirma que as imigrações de trabalhadores com fracas

qualificações já foram bastante úteis no passado, pois a maioria dos países ricos,

após 1945, estava em fase de crescimento industrial, fazendo necessário o

aumento de trabalhadores. Todavia, “(...) hoje em dia, é normalmente rejeitada por

ser considerada economicamente desnecessária e socialmente perigosa” (Castles,

2002).

A busca por uma atividade remunerada e pela regularização de sua situação

faz o imigrante vulnerável a todo o tipo de pressões. Isto pode ser verificado na

passagem de texto que segue:

A operação começou em 13 de janeiro, quando os agentes souberam que a

assessoria cobrava até 9. 000 euros aos estrangeiros em troca de um trabalho

que nunca chegavam a exercer. Os falsos contratos só serviam para obter uma

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permissão de trabalho e residência, tudo pago pelos estrangeiros. ... que

inclusive convenceram suas vitimas a vender ou hipotecar as casas de suas

famílias para conseguir um contrato para cumprir o sonho de entrar legalmente

na Espanha. Cobram-lhe e lhe dão esperanças quando não há. (ELP, artigo /

notícia 13).

Tais informações colocam atitudes negativas com relação à imigração, pois

denota sua forma irregular. Do ponto de vista mostrado, o imigrante tem a imagem

de vítima do sistema, vulnerável em face de sua situação de necessidade. O

coletivo imigrante é compreendido pela imagem de ofendido pelas máfias que

fazem da falsa regularização uma atividade lucrativa, ou seja, ele é oprimido de

todos os lados, pelo sistema institucionalizado, já que está em situação ilegal, e

pelo sistema não – oficial, que são as máfias. A formação de tal campo

representacional acerca da imigração mostra-se favorável à construção de

subjetividades negativas, pois é feita uma associação com o sofrimento, vitimização

e vulnerabilidade, sendo estes fatores sempre ligados a trabalho e legalização.

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Classe VI – Busca de Melhoria de vida: crianças e adolescentes como arrimo

de família:

Tabela 16 – Distribuição do vocabulário específico da Imigração / Imigrante enquanto Busca de Melhoria de vida: crianças e adolescentes como arrimo de família

Vocabulário Específico sobre Busca de Melhoria de vida: crianças e adolescentes como arrimo de família

*OCC *OCCT % X2 VOCABULÁRIO FORMAS ASSOCIADAS02 03 66.67 3.48 Africana+ Africana, africanas04 06 66.67 7.02 Balsa+ Balsa, balsas11 14 78.57 26.83 Canoa+ Canoa, canoas04 05 80.00 9.85 Chegados Chegados 07 07 100.00 25.09 Embarcac+ Embarcação, embarcações12 25 48.00 10.36 Estrangeiro+ Estrangeiro, estrangeiros03 06 50.00 2.75 Expulso+ Expulso, expulsos04 06 66.67 7.02 Familiares familiares06 07 85.71 16.73 Repatriados repatriados06 06 100.00 21.45 Garoto+ Garoto, garotos04 04 100.00 14.23 Travessia travessia04 05 80.00 9.85 Idade+ idade18 19 97.74 61.03 Menores Menores10 10 100.00 36.11 Morabito+ Morabito, morabitos06 10 60.00 8.54 Religi+ Religião,religioso, religiões

A distribuição do vocabulário específico da Imigração e do Imigrante

ancorado na Busca de Melhoria de Vida: crianças e adolescentes como arrimo de

família, que se apresenta na tabela 16, evidencia nos jornais espanhóis a presença

de vocábulos típicos desta classe, que a representam: africana+ (66.67%), balsa+

(66.67%), embarcac+ (100%) menores (97.74%), repatriados (85.71), entre outros.

A classe em questão mostra especificamente a grande demanda de

imigrantes vindos do continente africano de forma ilegal, dando ênfase à imigração

de crianças e adolescentes, às más condições da viagem pelo mar, à influência dos

líderes religiosos e da família para a efetivação da imigração, como também à

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sobrecarga sofrida pelos órgãos responsáveis pela repressão a este tipo de

imigração.

Recorrendo às variáveis descritivas postas na linha – estrela, esta classe

pode ser caracterizada como mais fortemente formada por artigos / notícias do

jornal El País, publicados no sábado como matéria principal na seção Nacional,

sendo escritos por jornalistas externos à redação do periódico. Os textos

jornalísticos mais representativos na construção desta classe, no que diz respeito

aos sistemas de comunicação, se assemelham sistema de difusão, o que

significa que utilizam linguagem mais acessível a uma diversidade de públicos

(Ordaz & Vala, 1997).

A informação sobre imigração / imigrante a que se tem acesso nesta classe

versa principalmente sobre questões relacionadas à influência religiosa e familiar

no que tange à imigração de crianças e adolescentes e ao percurso imigratório

dessas pessoas e a repressão a este tipo de imigração. Sendo assim, o imigrante

do qual se tem notícia nesta classe é a criança e o adolescente que é enviado por

seus familiares ou líderes religiosos para outro país com intuito de torná-los os

provedores das famílias ou das instituições religiosas. Observa-se no processo de

“convencimento” destes menores de idade, a presença muito forte do componente

afetivo, posto que é colocada sobre esse imigrante a responsabilidade de sustento

familiar. Isto pode ser verificado em seguida:

... nossos pais nos mandam para que lhes enviemos dinheiro. ... meu pai me

disse: vá para a Espanha e mande dinheiro, logo me levou para ver morabito -

líder religioso muçulmano -, que me deu um gri-gri ( amuleto ) e advertiu: quando

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chegar a Espanha, não se esqueça sua religião e, sobretudo, lembre- se da

pobreza que deixou aqui. ... eu não vim estudar, vim para trabalhar.... (ELP,

artigo / notícia 03).

Observa-se nestas informações a obstinação que possui o imigrante, da qual

se torna refém, mostrando quão forte é a influência dos líderes religiosos e da

família. Mais uma vez ancora-se a imigração na idéia de imigração irregular vista

igualmente em outras classes, entretanto, nesta o foco é destinado à imigração

irregular de crianças e adolescentes, tendo também como peculiaridade o objetivo

desta imigração e a influência para sua efetivação. Importante também nesta

questão é o desenvolvimento de relações transnacionais estabelecidas entre o

imigrante e sua família ou grupo religioso, que de acordo com Castles (2002)

ocorrem quando há relações transfronteiriças que ligam os indivíduos, os grupos ou

famílias por questões econômicas, sociais ou culturais. O autor elucida sobre isto

que “os indivíduos ou grupos desenvolvem ligações transnacionais quando estas

são o melhor modo de lidar com as situações sociais e as estruturas de

oportunidades com que se deparam” (p. 88).

As informações sobre o percurso que fazem os referidos imigrantes, refletem

as condições subumanas numa viagem arriscada que eles enfrentam em nome do

ideal de prover a família e por outras vezes grupos religiosos. Como é percebido

neste trecho:

... também ontem, um barco mercante resgatou sete ilegais que viajavam em

uma balsa a 40 milhas ao sul de cabo de gata Almeria. ... outra canoa com 88

imigrantes irregulares a bordo, quatro deles previsivelmente, menores, chegou

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as Canárias há uma semana, depois de uma acidentada travessia de 12 dias em

uma canoa vinda da região de casamance, ao sul do Senegal. ... foi resgatada

por uma embarcação de salvamento marítimo ata o porto de Los Cristianos, em

Tenerife.(ELM, artigo / notícia 17).

O aumento deste tipo de imigração mostra-se tão acentuado que é relatado,

à título de organização dos conhecimentos (informações), o colapso nos serviços

que atendem este tipo de ocorrência.

... a delegacia sofre um colapso tão grande que os agentes não podem deter

estrangeiros na rua por estada ilegal na Espanha. A autoridade de coordenação

das atuações para fazer frente à imigração ilegal nas Canárias será

desempenhada pelo general da guarda civil Cândido Cárdio, esta função já

existia, mas o conselho lhe deu ontem respaldo não-normativo e terá à sua

disposição guardas civis, policiais, sanitaristas, agentes do cadastro nacional de

identificação e de salvamento marítimo, entre outros. (ELM, artigo / notícia 23).

O trecho acima se refere não só à sobrecarga dos serviços relacionados ao

combate da imigração ilegal vinda da áfrica na espanha, mas também que serviços

são esses, tendo como objetivo a proteção da fronteira contra os imigrantes. Tais

informações mostram-se ancoradas no conceito de Estado- Nação por meio do

qual se faz uma ligação entre Estado, enquanto comunidade política territorial, e

Nação, enquanto comunidade cultural. Desta forma a cidadania corresponde ä

nacionalidade, tendo a pertença à nação como dependência para possuir a

cidadania (Catles, 2005).

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As informações aqui elencadas sobre a imigração e o imigrante tomam

posicionamentos (atitudes) desfavoráveis à temática, já que ela é associada à

dificuldade, ao sofrimento e à falta de acesso, mostrando também o insucesso da

empreitada imigratória chamando atenção para o combate e o perigo de imigrar. O

imigrante aqui possui a imagem de desfavorecido e combatido pela sociedade

receptora. Tais informações, atitudes e imagem do imigrante acabam por contribuir

para a produção de subjetividades ligadas ao afastamento e negatividade da

questão imigratória.

4.3 O Significado da imigração e do imigrante e a relação interclasses

Dando continuidade à construção dos significados da imigração e do

imigrante, observa-se a Classificação Descendente Hierárquica (CDH) realizada

através do sistema ALCESTE, que evidencia a associação e dissociação entre as

classes nos níveis de proximidade e distância. A análise estatística das classes,

efetuada pelo já citado sistema, conforme consiste numa Classificação

descendente hierárquica (CDH) destinada a organizar as classes sob a forma de

uma figura (dendograma), estruturada a partir do corpus de base, que é

transformado em classes definidas com suas características próprias, que

apresentam um máximo de homogeneidade intra-classe e um máximo de oposição

inter-classes, obtendo-se desta forma uma ordem de classificação constituída de

divisões sucessivas do corpus.

Para a aglomeração de classes por proximidade, primeiramente,

constitui-se um grupo inicial com as duas classes mais próximas. Em seguida é

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verificada qual a classe seguinte que se localiza o mais próximo possível do

primeiro grupo constituído. Forma-se então um novo grupo, e assim

sucessivamente, até que as classes sejam reunidas num grupo que comporte a

todas, conforme pode ser observado nos dendogramas apresentados a seguir (fig.

01 e 02), os quais evidenciam a relação proximidade/ distância entre as classes

que darão sentido ao presente objeto de estudo.

Distância Euclidiana 0----|----|----|----|----|----|----|----|----|---|25 Incl/Exc Social Cl. 1 ( 44uce) |--------------+ 15 Trab/Emp/ Dese|---------+ Cl. 6 ( 74uce) |--------------+ | 16 Hist. Modos d V. do Imi.|---------+ Cl. 3 ( 77uce) |------------------------+ | 17 Inst. da Intolerância Étnica |-------+ Cl. 5 ( 72uce) |----------------------------------+ | 18 Ações/Reações contra a Imigração Ilegal |--+ Cl. 2 ( 66uce) |------------------------------------------+ | 19 Multiculturalismo e Violência + Cl. 4 ( 38uce) |---------------------------------------------+

Figura 01 - Proximidade/ distância entre as classes da imigração/imigrante apreendidas através da análise de artigos/notícias de jornais brasileiros.

Observa-se na figura 01 a seguinte associação das classes: Inclusão /

Exclusão Social numa relação de maior proximidade com a classe Trabalho /

Emprego / Desemprego. Ligada a este aglomerado encontra-se a classe História e

Modos de Vida do Imigrante, que por sua vez liga-se à classe Institucionalização da

Intolerância Étnica. Situando-se numa posição de maior distanciamento, figura um

outro aglomerado, Ações / Reações Contra a Imigração Ilegal numa relação um

pouco mais a próxima a Multiculturalismo e Violência.

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Distância Euclidiana 0----|----|----|----|----|----|----|----|----|--|25 Impactos/Desenvolvimento Cl. 1 ( 63uce) |----------------------------+ 17 Pac.Imi.Acordos e Desacordos|------------+ Cl. 2 ( 41uce) |--------------------+ | | 16 Coop./Tens. Internac|-------+ | Cl. 4 ( 137uce) |--------------------+ | 18 Falsa identidade e Trabalho |---+ Cl. 5 ( 26uce) |------------+ | | 13 |----------------------------+ | 19 Cri/Ado:A.Fa| | Cl. 6 ( 90uce) |------------+ Im. Ilegal e Contenção | Cl. 3 ( 50uce) |---------------------------------------------+

Figura 02 - Proximidade/ distância entre as classes da imigração/imigrante apreendidas através da análise de artigos/notícias de jornais espanhóis.

Conforme a figura 02 observa-se uma maior proximidade entre a classe

Desequilíbrio Social: Impactos Negativos / Desenvolvimento e o aglomerado

formado pelas classes Pacto Imigratório Nacional: Acordos e desacordos e

Cooperação / Tensão Internacional. Estas classes citadas estão, por sua vez,

ligadas a outras duas que formam outro aglomerado, são elas Identidade

Falsificada e Trabalho ligada a Busca de Melhoria de Vida: Crianças e

Adolescentes Como Arrimo de família. Em maior distanciamento encontra-se a

classe Ações Contra a Imigração Ilegal.

A partir do processo de interpretação dos dados oferecidos pelo ALCESTE,

realizado pela pesquisadora, constatou-se o caráter multidimensional do sentido do

objeto em estudo para os dois corpus de análise (Brasil e Espanha), nas seis

classes da imprensa brasileira e outras seis da imprensa espanhola, o que pode ser

observado na tabela a seguir.

Tabela 17 – Distribuição das UCE por classe e exposição das subclasses das imprensas Br. E Esp.

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BRASIL ESPANHAClasse uce (f) uce % Classe uce (f) uce %Inclusão / Exclusão Social*Falta de Oportunidade*MulticulturalismoPolarização Social

44 11,86

Desequilíbrio Social:Impactos / Desenvolvimento*Ganhos Econômicos*Prostituição e Imigração*Desequilíbrio Econômico*Responsabilidade Social

63 15, 48

Ações/Reações Contra a Imigração Ilegal*Ações Políticas e Sociais de contenção*Reações Políticas e Sociais à Conteção

66 17,79

Pacto Imigratório Nacional: Acordos e Desacordos*Discordância política*Conciliação política

41 10, 07

História e Modos de Vida do Imigrante*Sofrimento ético político

77 20,75

Ações Contra a Imigração Ilegal*Ações políticas e sociais de Contenção

50 12, 29

Multiculturalismo e Violência

38 10,24

Cooperação / Tensão Internacional*Tensões Diplomáticas*Política Imigratória Comum

137 33, 66

Institucionalização da Intolerância étnica*Violência Física e Social Organizada

72 19,41

Identidade Falsificada e Trabalho*Entrada Ilegal*Atividade Econômica e Regularização

26 6, 39

Trabalho / Emprego / Desemprego*Déficit de trabalhadores e envelhecimento populacional*Déficit de trabalhadores e Busca por melhoria de Vida

74 19,95

Busca de Melhoria de Vida: Crianças e Adolescentes Como Arrimo de Família*Influência Familiar e Religiosa*Percurso Migratório e Repressão

90 22, 11

TOTAL 371 100 TOTAL 407 100

165

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Considera-se na tabela 17 a multidimensionalidade do sentido da imigração

e do imigrante, enquanto construção e fenômeno social, adotando-se a perspectiva

de Carvalho (1999), ao admitir que a definição de um maior número de dimensões

teórico-substantivas pode contribuir para a redução de algumas das insuficiências

registradas nas análises, referindo-se particularmente às dificuldades que se

apresentam quando se pretende apreender a complexidade característica da

estrutura dos fenômenos sociais de modo geral.

Observa-se na referida tabela, na primeira e quarta colunas, as classes

respectivamente da imprensa brasileira e da imprensa espanhola, com suas

respectivas sub-classes. Na segunda e quinta colunas figuram a quantidade de

UCE de cada classe. Já na terceira e sexta colunas observa-se o percentual das

UCES por classe. Apresenta-se em seguida a multidimensionalidade da imprensa

brasileira e espanhola, nesta ordem.

Na imprensa brasileira percebe-se a emergência da Inclusão / Exclusão

Social configurada sob a ótica da Falta de Oportunidade, do Multiculturalismo e da

Polarização Social. Dois artigos / notícias fizeram parte da formação desta classe,

sendo todos pertencentes ao jornal Folha de São Paulo. O número de UCE da

presente classe representa o segundo menor do corpus de jornais brasileiros.

As Ações / Reações Contra a Imigração Ilegal emergidas dos jornais são

apresentadas como: Reação Política e Social à Contenção e Ações Políticas e

Sociais de Contenção. Parte dessa classe emergiu nas duas imprensas

pesquisadas. Tanto os jornais brasileiros quanto os espanhóis contemplaram a

questão das Ações de Contenção da Imigração Ilegal, embora cada um aborde a

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questão de forma distinta, já que se trata de contextos diferentes de produção de

informação. Esta classe foi formada pela contribuição de cinco artigos / notícias,

sendo três deles da Folha de São Paulo e dois de O Estado de São Paulo. Ela foi a

terceira classe em número de UCE.

A História e Modos de Vida do Imigrante são construídos a partir do

sofrimento ético-político do imigrante. Tal concepção coloca as dificuldades de

quem emigra, tanto no processo de vinda ao país como na permanência nele,

sempre enfocando a questão da busca de trabalho e renda como alavancadores do

processo emigratório. De acordo com a quantidade de UCE apresentadas por esta

classe, observa-se sua maior contribuição na formação do significado da imigração

e do imigrante. Salienta-se a esse respeito que apesar de a presente classe possuir

o maior número de Unidades de Contexto Elementar, ela apenas dois artigos /

notícias contribuíram para sua formação, são eles o doze e o treze, oriundos do

jornal O Estado de São Paulo.

O Multiculturalismo e a Violência, tema da imprensa brasileira, embasam sua

construção sobre questões a respeito dos limites da tolerância. A concepção de

multiculturalismo e violência, neste estudo, coloca a dúvida sobre até que ponto os

preceitos de incorporação de imigrantes embasados no multiculturalismo podem

ser postos em práticas quando esses imigrantes (e seus descendentes) são

radicais, inflexíveis. Sobre a formação da classe, figura-se que ela foi composta de

apenas um artigo / notícia do jornal O Estado de São Paulo, o que coincide também

com seu número de UCE, que foi o menor do corpus brasileiro, com 10,24%.

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A concepção de Institucionalização da Intolerância Étnica, obtida na

imprensa brasileira, é configurada a partir da Violência Física, Social e Organizada,

da intolerância tanto na esfera social como na esfera institucional. Essas

subclasses atentam para o ponto culminante a que chegou a intolerância em nível

étnico, ou seja, a violência física, criminosa, também mostrando o apoio de

instituições nesse sentido. A presente classe contou, para sua formação, com dois

artigos / notícias, um do jornal Folha de São Paulo e outro de O Estado de São

Paulo. Seu número de UCE representou o terceiro maior do corpus do Brasil.

Trabalho / Emprego / Desemprego configura-se sobre a relação da escassez

com a fulga de trabalhadores que buscam melhores condições de vida em outros

países, e com o envelhecimento populacional. Sendo também uma classe da

imprensa brasileira. Esta classe teve a participação de cinco artigos / notícias na

sua formação, sendo um pertencente ao jornal Folha de São Paulo e quatro

oriundos de O Estado de São Paulo. A referida classe representou o segundo lugar

em número de Unidades de Contexto Elementar, diante da classe III, História e

Modos de Vida do Imigrante, que, mesmo formada por apenas dois artigos /

notícias, obteve o maior percentual de UCE.

A diferença entre o número de UCE e o número de artigos participantes na

formação da classe chama a atenção, já que é natural que se associe que a classe

que obteve, em sua formação, a presença do maior número de artigos /notícias

será a de maior percentual de Unidades de Contexto Elementar. A classe de maior

percentual no corpus brasileiro foi a que teve participação de apenas duas matérias

(Classe III), enquanto que as classes II e VI foram formadas, cada uma, por cinco

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artigos / notícias e não a alcançaram. O dado apresentado faz com que se observe

que apenas dois, ou até um artigo / notícia - como na Classe IV - pode contribuir,

sim, fortemente para a formação e circulação de uma representação conforme suas

características. È importante observar que os textos participantes da classe III,

foram veiculados na página de cultura, cuja característica trivial é a presença de

detalhes, notadamente opinativos e descritivos, sendo, neste caso mais longos que

o observado em outras páginas dos jornais, como a Nacional, por exemplo, que

opta por textos mais diretos e mais informativos.

Na imprensa espanhola emergiu o Desequilíbrio social associado aos

Impactos Negativos / Desenvolvimento causados pela imigração configurados

como Ganhos Econômicos, Prostituição e Imigração, Desequilíbrio Econômico e

Responsabilidade Social. A referida classe teve a participação de seis artigos /

notícias em sua formação, sendo um do jornal El País e o restante advindos do El

Mundo. Esta classe foi a terceira em número de UCE.

A concepção de Legislação Imigratória Nacional: Acordos e Desacordos

aparece enquanto Discordância e Conciliação na imprensa da espanhola,

mostrando sempre o embate a esse respeito dentro da esfera político – partidária.

Tal fato aponta para a vivência real do contexto imigratório, indica aproximação

com as questões atinentes ao tema. A presente classe apresentou, em sua

formação, quatro artigos / notícias, sendo um do El País e três do jornal El Mundo.

A classe figura como a quarta em número de Unidades de Contexto Elementar.

A idéia de Ações Contra a Imigração Ilegal mostra-se nas duas imprensas,

entretanto na imprensa brasileira essa concepção vem acompanhada das reações

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políticas e sociais a essas ações de contenção, o que não ocorre nos jornais

espanhóis. Nesta imprensa é mostrado apenas o lado da Ação Contra a Imigração

Ilegal, sem vislumbrar outras questões também relacionadas, como faz a imprensa

brasileira. Esta classe teve a participação de cinco artigos / notícias em sua

configuração, sendo dois do El País e três do El Mundo. Observou-se também que

ela representa a quarta maior em número de UCE.

O conceito de Cooperação / Tensão Internacional emerge como Tensão

Diplomática e Política Imigratória Comum. Observa-se que esta classe teve a

maior participação de artigos / notícias em sua formação, foram treze matérias

configurando o sentido da imigração e do imigrante, sendo seis referentes ao jornal

El País, e sete referentes ao El Mundo. A presente classe mostrou também ser a

mais forte em número de Unidades de Contexto Elementar.

Já a Identidade Falsificada e Trabalho mostra-se como Entrada Ilegal e

Atividade Econômica e Regularização. Houve a participação de dois artigos /

notícias, um do El País e outro do El Mundo, na formação da classe, sendo ela

também a apresentar o menor percentual de UCE.

Busca de Melhoria de Vida: Crianças e Adolescentes Como Arrimo de

Família tem sua significação baseada na Influência Familiar e Religiosa e no

Percurso Migratório e Repressão. Apesar de tratar-se de uma classe que emergiu

somente dos jornais da Espanha, é possível fazer um paralelo entre sua subclasse

Percurso Migratório e Repressão e a sublclasse Sofrimento ético-político, da classe

História e Modos de Vida do Imigrante, que emergiu da imprensa brasileira.

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A subclasse Percurso Migratório e Repressão descreve a forma de entrada

dos imigrantes na Espanha de forma ilegal e altamente perigosa, por meio de

travessias marítimas em embarcações de péssimo estado, assim como a repressão

a esse tipo de entrada. Já na subclasse brasileira Sofrimento ético-político, entre

outras questões, é abordada a maneira sôfrega que os imigrantes japoneses

atravessavam o oceano para chegar a seu destino, dessa vez não de forma ilegal,

entretanto não menos desumana. Embora os textos formadores das classes se

refiram a épocas e locais distintos, uns relacionados aos dias atuais na Espanha e

outro relacionado ao início do século XX no Brasil, mostram-se bastante

semelhantes em seu conteúdo. Essa comparação mostra o referencial que se tem

da imigração e do imigrante em cada país (Brasil e Espanha). Na Espanha

concebe-se o imigrante da atualidade, como figura pertencente ao contexto social

do país. Já no Brasil, trata-se, neste caso, de um imigrante do passado, que se

encontra em outro espaço cronológico, distante.

Observa-se na classe VI a presença de sete artigos / notícias em sua

formação de sentido, sendo quatro do jornal El País e três do jornal El Mundo. A

presente classe foi a segunda maior em número de UCE e em número de

participação de artigos / notícias.

O corpus da imprensa espanhola comportou-se de maneira diferente do

corpus da imprensa brasileira, visto que apresentou correspondência perfeita entre

o número de artigos / noticias participantes na formação das classes e o percentual

de Unidades de Contexto Elementar, quando na imprensa brasileira ocorreu o

contrário, como pôde ser visto anteriormente.

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4.4 Considerações Finais

Evidencia-se que sobre o objeto social Imigração / Imigrante, os jornais

apresentam semelhanças e diferenças referentes às organizações dos seus

conhecimentos (informação) no que diz respeito à uniformização do nível de

informação. Ao mesmo tempo podem-se identificar informações comuns

relacionadas à exclusão / inclusão social do imigrante e às suas circunstâncias de

modo geral.

Quanto à atitude, destaca-se a orientação global dos jornais no que se refere

à Representação Social da imigração e do imigrante, tendo sido possível observar

uma atitude negativa / positiva / neutra, nos conteúdos emergentes na classe

Ações / Reações à Imigração Irregular. Observa-se uma atitude crítica positiva em

relação ao significado de imigração / imigrante nas classes da imprensa brasileira:

Inclusão / Exclusão Social, Multiculturalismo e Violência, Intolerância Étnica e

Trabalho / Emprego / Desemprego. Na imprensa brasileira, cada jornal contribui

igualmente para a formação de três classes temáticas, sendo a Folha de São Paulo

responsável pelas classes I, II e V, e o Estado de São Paulo pela III, IV e VI. Pelos

conteúdos referendados nas referidas classes pode-se inferir que ambos os

periódicos contribuíram de forma próxima para a construção de significados acerca

da imigração / imigrante.

Na imprensa espanhola, evidencia-se que houve uma predominância da

contribuição do jornal El Mundo para a formação da maioria das classes.

Quanto ao campo representacional ou imagem, objetiva-se a imigração e o

imigrante em classes como Inclusão / Exclusão Social (Folha de São Paulo) e

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História e Modos de Vida do Imigrante (Estado de São Paulo) que convergem em

relação ao imigrante como privado das benesses sociais construídas pelo homem

nas sociedades organizadas receptoras de imigrantes. Objetiva-se, entretanto,

como uma construção difícil e complexa, de acordo com ao que remete o texto da

Classe I (Inclusão / Exclusão Social). Tais objetivações perpassam também outras

classes que emergiram neste estudo.

Quanto ao sistemas de comunicação observou-se que houve a produção de

mais notícias semelhantes à difusão, posto que utilizaram linguagem com um quadro

de referência amplo, sendo assim mais acessível a uma diversidade de públicos.

Segundo Moscovici (1969) os sistemas de comunicação são indutores de

representações e cada forma indutora tem como efeito a produção de

Representações Sociais específicas. Difusão, propagação e propaganda

correspondem respectivamente à edificação de condutas de opinião, atitudes e

estereótipos. De acordo com esses conceitos, a maioria dos artigos / notícias

produzidos sobre imigração / imigrante, os quais foram coletados neste estudo, são

responsáveis pela formação de opinião acerca do fenômeno e do coletivo estudado,

já que foram semelhantes ao sistema de comunicação denominado difusão.

Sugere-se que este estudo possa, além de encorajar a leitura crítica dos

meios impressos de comunicação, subsidiar o conhecimento das teorias e

realidade a respeito da imigração e do imigrante. Podendo também auxiliar a

elaboração de políticas públicas e práticas sociais em direção a este coletivo, no

que diz respeito às informações específicas não só sobre o contexto imigratório,

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seus meandros e seus atores, mas também a respeito da importância dos meios

impressos na formação de subjetividades.

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ANEXOS

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