A IMPORTÂNCIA DA AULA PRÁTICA ASSOCIADA À TEORIA · 2 design of meaningful learning. Thinking of...
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A IMPORTÂNCIA DA AULA PRÁTICA ASSOCIADA À TEORIA: Trabalhando os
agrotóxicos
Autor: Marlete Inês Sturm1
Orientador: Jocicléia Thums Konerat2
Resumo
Os educadores estão em momento de reflexão acerca da importância das atividades práticas associadas à teoria no ensino de Ciências e na sua abordagem dentro da concepção de aprendizagem significativa. Pensando em melhorar o processo ensino-aprendizagem, principalmente no Ensino de Ciências, apresenta uma abordagem metodológica diferenciada. Através do uso da Experimentação e da Investigação Científica, trabalharam-se os conteúdos “Agrotóxico, meio ambiente e saúde”. A aproximação do conteúdo teórico à prática cotidiana do aluno foi fundamental para a aprendizagem, pois deu significado aos conteúdos estudados. O uso de práticas de laboratório, as pesquisas de campo e literárias além do conteúdo voltado a realidade do aluno, tiveram o propósito de tornar as aulas mais interessantes e atrativas. Os resultados mostram que o envolvimento dos alunos e sua motivação, embora não atingisse a todos, é maior quando são utilizadas as atividades práticas. O envolvimento dos alunos com estas atividades facilita a compreensão do fenômeno estudado, embora eles tenham apresentado ainda algumas dificuldades. Todavia, a utilização das aulas práticas e experimentais merece especial atenção na metodologia do ensino de Ciências, pois pode trazer resultados significativamente positivos, proporcionando maiores condições para a promoção da aprendizagem significativa. Trabalhar os agrotóxicos e os malefícios provocados ao meio ambiente e a saúde da população, pelo uso indiscriminado dos mesmos, foi de suma importância para a comunidade escolar; tendo em vista que a maioria dos alunos, sujeitos desse estudo, são filhos de agricultores e desde muito cedo tem contato com os defensivos agrícolas, pois auxiliam seus pais nas atividades da lavoura. Dessa forma, além de melhorar a aprendizagem, este trabalho teve como objetivo desenvolver práticas saudáveis e mudar hábitos equivocados nas atividades laborais.
Palavras-chave: Aprendizagem significativa; Experimentação; Investigação Cientifica; Contextualização; Agrotóxicos.
Abstract
The teachers are in a reflective moment about the importance of the practical activities associated with the theory in science teaching and his approach in the
1 Professora PDE, Pós graduada em Ensino da Matemática Pela UNICENTRO, Formada em Ciências Habilitação
Matemática pela FACEPAL de Palmas, Professora de Ciências e Matemática no Colégio Estadual Bom Jesus – EFM de Bom Jesus do Sul - PR 2 Professora da UNIOESTE, Mestre em Biologia Celular pela Universidade Estadual de Maringá.
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design of meaningful learning. Thinking of improving the teaching-learning process, especially in Science Teaching, presents a different methodological approach. Through the use of Experimentation and Scientific Research, were worked up the contents "Pesticides, environment and health". The approach of the theoretical content to the student's daily practice was fundamental to learning, because it gave meaning to the studied contents. The use of laboratory practices, field research and literature in addition to facing the reality content of the student, had intended to make the lessons more interesting and attractive. The results show that student involvement and motivation, but does not reach everyone, is greater when using practical activities. The involvement of students with these activities facilitates understanding of the phenomenon, although they still presented some difficulties. However, the use of practical and experimental deserves special attention in the methodology of science teaching, it can bring significantly positive results, providing better conditions for the promotion of meaningful learning. Working pesticides and the harm caused to the environment and health of the population by the indiscriminate use of them, was of paramount importance to the school community, considered that most students, the subjects in this study, are children of farmers, and at a very tern age they have contact with pesticides, because they help their parents in farming activities. Thus, in addition to improve learning, this study aimed to develop healthy habits and change wrong habits in work activities.
Keywords: Meaningful Learning; Experimentation; Scientific Research; Contextualization; Pesticides.
1 Introdução
A maioria dos docentes demonstra sinais de frustração por não alcançar os
objetivos propostos na sua prática diária de sala de aula. Uma das grandes
dificuldades encontradas pelos docentes é o desinteresse e a falta de motivação dos
alunos durante as aulas. Isso ocorre pela forma com que os conteúdos são
apresentados aos mesmos. O resultado é a falta de participação, baixa
aprendizagem, bagunça e indisciplina e alto índice de reprovação. Dessa forma, o
artigo tem a intenção de apresentar uma prática pedagógica e metodológica
diferenciada, abordando os conteúdos da Química Básica através dos assuntos:
Agrotóxicos, seus malefícios ao meio ambiente e a saúde humana, através da
Experimentação, da Investigação Científica (utilizando-se da pesquisa de campo e
literária), e a Contextualização tornando assim o conteúdo mais significativo e as
aulas mais atrativas e interessantes. Este trabalho realizou-se com alunos da sétima
série, momento em que os alunos estão numa fase crítica de sua vida, porque não
sabem ao certo o que querem, não são mais crianças, porém também não são
adultos, apesar de quererem ser tratados como tal. Estão na fase da descoberta, da
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novidade e da rebeldia, onde tudo que for muito rígido ou formal não é aceito e deve
ser combatido. Dessa forma o objetivo desse estudo foi procurar alternativas para
manter ou despertar o interesse dos educandos à aula, tendo o intuito de
transformar o que é uma obrigação em algo novo, cheio de descobertas e de
significados.
Segundo as DCEs de Ciências:
A aprendizagem significativa no Ensino de ciências implica no entendimento de que o estudante aprende conteúdos científicos escolares, quando lhes atribui significados. Isso põe o processo de construção de significados como o elemento central do processo de ensino aprendizagem. (DCEs, 2008, p.62)
2 Desenvolvimento
2.1 O ensino de Ciências
Um dos grandes desafios atuais do ensino de Ciências é a necessidade de
vinculação entre o conteúdo científico e o contexto no qual o aluno está inserido.
Assim, uma alternativa de encaminhamento metodológico, que aos olhos dos alunos
pode tornar mais significativa a aprendizagem é a investigação científica focada em
assuntos relacionados ao seu dia a dia. Como vemos nas diretrizes Curriculares da
Educação Básica do Estado do Paraná (2008) nem sempre o conhecimento do dia a
dia ou mesmo o variado pode ser julgado como desconexos do conhecimento
científico, uma vez que podem ser utilizados no exercício das tarefas do cotidiano e
no desenvolvimento de novas concepções. Ao dar-lhes valor e utilizando-os como
base teremos a formação de saberes científicos, em tempos variados, para cada
aluno.
Dar ênfase ao trabalho com atividades que estimulem e instiguem a procura
de respostas, o reforço positivo, estabeleçam relações, resulta numa aprendizagem
mais efetiva e significativa, segundo as DCEs (2008): Atualmente, os alunos têm
acesso a esclarecimentos sobre os saberes científicos, porém, continuamente
formam suas opiniões a partir do conhecimento do dia a dia, tomando como base os
conhecimentos que tem utilidade a sua vida para a formulação de novos
conhecimentos.
Quando essa relação não é estabelecida gera o desinteresse dos alunos
pelas Ciências e reduz o ensino a mera transmissão de informações. O professor
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que age dessa forma conduz o educando a memorização, promovendo uma
aprendizagem científica na qual o aluno não desenvolverá capacidades que são
necessárias a um cidadão crítico e participativo. O modelo de ensino vigente na
maioria das escolas públicas ainda é o ensino tradicional, embora seja incontestável
que esse modelo já não atende mais as exigências necessárias para se formar
cidadãos atuantes na sociedade, pois está pautada no desenvolvimento científico e
tecnológico. Vemos a importância da postura do Professor como um mediador,
orientador e direcionador do processo de construção de significados pelo estudante:
Assim, a construção de significados pelo estudante é o resultado de uma complexa rede de interações composta de no mínimo três elementos: o estudante, os conteúdos científicos escolares e o professor de Ciências como mediador do processo de ensino-aprendizagem. O estudante é o responsável final pela aprendizagem ao atribuir sentido e significado aos conteúdos científicos escolares. O professor é quem determina as estratégias que possibilitam maior ou menor grau de generalização e especificidade dos significados construídos. É do professor, também, a responsabilidade por orientar e direcionar tal processo de construção. (DCEs, 2008, p.62-63).
Diante disso a experimentação pode auxiliar o docente, quando adequada a
realidade dos alunos e ao conteúdo trabalhado em aula. A experimentação facilita a
aprendizagem dos conceitos científicos, uma vez que motiva os alunos, e essa
motivação é uma condição primordial para a aprendizagem. Vemos nas diretrizes
Curriculares do Paraná (2008, p. 72) as atividades experimentais possibilitam ao
professor gerar dúvidas, problematizar o conteúdo que pretende ensinar e
contribuem para que o estudante construa suas hipóteses.
De acordo com Manacorda (2001) apud Albuquerque (2008), a mais de
trezentos anos John Locke (1632-1704) apontou a necessidade do uso de atividades
práticas para o desenvolvimento das faculdades mentais dos estudantes. O
reconhecimento da importância das atividades práticas na educação dos jovens
também pode ser encontrado em Rousseau (1712-1778), Pestalozzi (1746-1827),
Montessori (1870-1952), Dewey (1859-1952), e outros. Ainda segundo Albuquerque
(2008), elas são vistas por estes teóricos sob diferentes enfoques, ora como
suportes para o desenvolvimento dos conhecimentos dos aprendizes, ora como
indutoras de conhecimentos existentes
Apesar de ser uma ferramenta curricular que facilita a aprendizagem dos
alunos a maioria dos professores não utilizam a experimentação, alegando falta de
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tempo por trabalharem em mais de uma escola, superlotação das salas de aula, falta
de condições para a realização de experimentos. A falta de laboratório é outra
alegação comum, porém a existência deste em uma escola não garante, na maioria
das vezes, a realização de atividades experimentais. Os experimentos com materiais
simples podem ser utilizados em qualquer escola, com ou sem laboratório. Daí se
percebe que uma das maiores dificuldades que se apresentam aos processos de
inovação nas práticas pedagógicas dos professores nas salas de aula, é a
resistência destes as mudanças (Carvalho, 2006). Ainda segundo Carvalho e Gil
(2000), apud Carvalho (2006), na nova proposta de ensino não basta ao professor
saber, ele deve também saber fazer.
Não basta o professor saber que aprender é também apoderar-se de um novo gênero discursivo, o gênero científico escolar, ele também precisa saber fazer com que seus alunos aprendam a argumentar, isto é, que eles sejam capazes de reconhecer às afirmações contraditórias, as evidências que dão ou não suporte às afirmações, além da capacidade de integração dos méritos de uma afirmação. Eles precisam saber criar um ambiente propício para que os alunos passem a refletir sobre seus pensamentos, aprendendo a reformulá-los por meio de contribuição de colegas, mediando conflitos por diálogo e tomando decisões coletivas. (CARVALHO, 2006, p. 9)
Segundo Azevedo (2006) é fundamental o professor oportunizar aos seus
alunos um ambiente encorajador, para a prática da fala, onde os mesmos exponham
suas idéias sobre um conteúdo estudado, adquiram segurança e se envolvam com
as práticas científicas. Isso também proporcionará ao aluno mudar sua linguagem
cotidiana para a linguagem científica.
O principal objetivo das ciências é levar o aluno a pensar, debater, justificar
suas idéias e aplicar seus conhecimentos em situações novas, usando os
conhecimentos teóricos e matemáticos (Azevedo, 2006). O ensino deve interferir no
cotidiano do aluno, levando-o a pensar e repensar a sua prática no meio em que
vive. As atividades investigativas levam o aluno a procurar respostas a questões,
não apenas a manipulação de materiais e a observação de uma experiência.
2.2 Agrotóxicos e os seus malefícios ao meio ambiente e a saúde humana
O que são agrotóxicos? Segundo Carraro (1997), são substâncias químicas
(venenos), utilizadas para facilitar as atividades do ramo agropecuário. Esses
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produtos são usados para controlar pragas, como insetos ou ervas daninhas, bem
como para dessecar, desfolhar, estimular ou inibir o crescimento, podendo ser:
pesticidas, praguicidas ou defensivos agrícolas. Os defensivos agrícolas são
classificados em: bactericidas, responsáveis pelo controle de bactérias; nematicidas,
controladores dos vermes; herbicidas, responsáveis pelo controle de ervas
daninhas; fungicidas, controladores das doenças causadas por fungos; inseticidas,
responsáveis pela eliminação de insetos que atacam as lavouras ou os rebanhos;
acaricidas, defensivos responsáveis pelo controle de ácaros.
Podemos ainda acrescentar a esta lista de Carraro, os raticidas, produtos
comumente usados nas propriedades rurais no combate aos ratos, mas que para
muitos não são considerados agrotóxicos ou defensivos agrícolas, e por esse
motivo, muitos acidentes acontecem envolvendo principalmente crianças. Como
exemplo, citamos as intoxicações pelo famoso “chumbinho”, veneno usado para
ratos e que é altamente letal e vem sendo comercializado de forma clandestina e por
valores irrisórios.
Ainda segundo Carraro (1997), os agrotóxicos, também são classificados de
acordo com o grau de toxicidade e as restrições de uso, para isso as classes são
identificadas com faixas coloridas nos rótulos, a saber:
Classe I: Vermelho vivo; são produtos extremamente tóxicos, que devem ser
manuseados somente por profissionais autorizados, que conheçam a química e os
perigos, além das precauções de uso;
Classe II: Amarelo Intenso; são produtos altamente tóxicos, que devem ser
aplicados por operadores que sigam as instruções de uso a risca supervisionadas
por agentes treinados;
Classe III: Azul Intenso; são produtos de toxidade média, devem ser observadas as
normas de aplicação de rotina, e seu uso descontrolado pode provocar efeitos
indesejados no ambiente.
Classe IV: Verde Intenso; são produtos pouco tóxicos, exigindo a observância das
normas de segurança, são livremente comercializados, porém excluídos ao uso do
público em geral.
Existe ainda a Classe “0”, que são produtos sem identificação de cor e que
estão disponíveis ao público em geral, pois não apresentam comprovação de danos
em uso normal.
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O uso de agrotóxicos nas lavouras, em busca de melhoria e facilidade nas
produções agrícolas, acaba desencadeando uma série de problemas ambientais
como também, de saúde pública. Conforme ressalta Faria et al., (2007) dentre os
vários riscos ocupacionais, destacam-se os agrotóxicos que são relacionados a
intoxicações agudas, doenças crônicas, problemas reprodutivos e danos ambientais.
Podemos perceber que muitas doenças não são associadas ao uso desses
produtos, pois a maioria dos médicos não está preparada para fazer um diagnóstico
e na maioria das vezes os pacientes ocultam fatos e práticas dos mesmos. Dessa
forma trabalhos científicos são desenvolvidos, porém ainda pouco, ou quase nada,
tem-se de concreto nesse sentido, mas, de acordo com Jobim et al., ( 2006):
Em termos populacionais, os efeitos crônicos podem ser tão prejudiciais quanto os agudos, uma vez que existem sugestões fortemente apoiadas por evidências que apontam consequências deletérias na fertilidade, na etiologia de danos neurológicos e possivelmente no aumento da suscetibilidade a neoplasias (JOBIM, 2006, p. 278).
De acordo com Faria et al., (2007) a gravidade das intoxicações varia
de acordo com o agrotóxico utilizado e a quantidade de manuseios ou contatos com
o produto. Os efeitos nocivos destas substâncias podem ser sentidos imediatamente
após o contato, o que facilita o diagnóstico, ou após dias, meses ou anos,
dificultando assim a relação entre a causa e a doença.
As intoxicações podem acontecer durante o manuseio dos produtos
pelos agricultores, as donas de casa podem se contaminar no momento da lavagem
das roupas e equipamentos utilizados, e ainda, a população em geral, pode ser
contaminado pela ingestão de alimentos e água contaminados pelos venenos. Essas
contaminações podem ser agudas, crônicas ou recônditas. (OPAS/OMS, 1996)
De acordo com Faria et al (2004), Jobim (2006), OPAS/OMS (1996) e
Silva et al (2001) na intoxicação aguda o organismo reage apresentando sintomas
nas primeiras horas após a contaminação. Os sintomas dependem do produto e da
dosagem utilizada. Muitas vezes náuseas, vômitos, dor de cabeça e queda de
pressão são os primeiros sintomas que aparecem. São facilmente tratados, pois logo
são associados ao contato com o tóxico.
Ainda segundo os mesmos autores na intoxicação crônica, esta relação
já não ocorre o que dificulta o tratamento, uma vez que alguns sintomas só se
manifestam meses ou mesmo anos após o contato com os venenos. Geralmente
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esse tipo de intoxicação ocorre por uma contaminação continuada e freqüente, por
um ou mais tipos de agrotóxicos. Nesse caso aparecem problemas renais, gástricos,
hormonais e do sistema nervoso, bem como as neoplasias. De acordo com Faria
(2007) muitos casos de suicídios foram registrados nas regiões do Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso onde a agricultura é bem desenvolvida e
o uso de agrotóxicos é bem difundido. Nada se tem comprovado, porém existem
estudos apontando nesse sentido. Também em pesquisa realizada por Palma et al.
(2011), na cidade de Lucas do Rio Verde, MS, onde as culturas de soja, algodão e
milho são o carro chefe da economia e o uso de agrotóxicos ocorre em grande
escala, foi comprovada a existência de resíduos de agrotóxicos em leite materno em
todas as mães pesquisadas.
Segundo Andrioli (2005) a falta de informação dos agricultores, aliada
ao preparo (propaganda) dos vendedores, faz com que o uso de agrotóxicos seja
banalizado.
O uso indiscriminado e cada vez maior provocou e continua
provocando grandes danos ao meio ambiente. Entre os mais comuns e mais
frequentes temos:
Contaminação de alimentos;
Poluição de rios, do ar e do solo;
Erosão de solos e formação de desertos;
Intoxicação e morte de animais;
Extinção de várias espécies de animais.
Segundo Santos (2005) os agrotóxicos começaram a ser produzidos e
a ser usados maciçamente na segunda guerra mundial como arma química para
disseminar os campos de batalhas dos inimigos, ou seja, foram usados para
desfolhar a vegetação usada como esconderijo nos campos de batalha. Após a
guerra esses produtos começaram a ser usados como defensivos agrícolas e na
década de 70 na época chamada de “revolução verde”, começaram a ser usados em
grande escala, pois a preocupação passou a ser a produção em grande escala e
com tecnologia de ponta. Além dos resultados (produtividade) que nem sempre são
alcançados, o uso constante de defensivos agrícolas trouxe a instabilidade dos
sistemas agrícolas, a contaminação dos recursos naturais (água, solo e ar) e
prejudicou a qualidade dos alimentos.
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O equilíbrio ambiental sofreu um grande abalo, visto que muitas
espécies da cadeia alimentar desapareceram, foram extintos. Outra consequência
do uso de forma indiscriminada desses produtos é que algumas pragas se tornaram
resistentes, devido às mutações genéticas. Alguns desses produtos ficam
armazenados no solo e na água e nos organismos dos animais por muitos anos, e
seus efeitos podem ser sentidos por várias gerações. Isso é conhecido como efeito
cumulativo.
Vamos fazer uma reflexão... Até quando isso irá continuar?
Os rios estão mortos... Os peixes sumiram... Muitas aves deixaram de
existir... E a humanidade esta doente... Quando nos daremos conta de que
precisamos mudar nossos hábitos e condutas? O planeta esta dando sinais, onde
antes havia lindos e férteis campos, hoje temos um enorme deserto... Onde havia
florestas, animais de todas as espécies, hoje só vemos buracos, valas,
desmoronamentos e destruição! Onde antes viviam famílias felizes, hoje vemos
pessoas se suicidando, morrendo com câncer, nascendo crianças debilitadas e com
má formação...
3 Metodologia
O desenvolvimento desse trabalho ocorreu utilizando-se os seguintes
métodos: Pesquisa literária em livros, jornais, revistas e internet. Pesquisa de campo
através de entrevistas. Práticas de laboratório e de sala de aula com materiais
alternativos, seminário e palestras.
Este trabalho foi realizado com um grupo de 20 alunos da 7ª série do Ensino
Fundamental do Colégio Estadual Bom Jesus do Município de Bom Jesus do
Sul/PR, que apesar de ser uma turma pouca numerosa, apresenta grandes
dificuldades, pois quatro alunos são alunos portadores de necessidades especiais
(um caso de Distúrbio de Aprendizagem, um caso de Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade, um caso de Deficiência Intelectual, um caso de Transtorno
Bipolar de Humor mais Deficiência de Aprendizagem).
Para que os alunos possam fazer a relação dos conteúdos abordados na
disciplina de Ciências com seu cotidiano e, assim despertar o interesse pela
disciplina e gosto pela pesquisa, desenvolveu-se os conteúdos da química básica
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como átomo, elemento químico, substâncias e misturas, com enfoque nos assuntos
“Agrotóxico, meio ambiente e saúde”.
De forma expositiva iniciou-se o trabalho, apresentou-se as normas de
conduta para o uso do laboratório de Ciências, em seguida mostrou-se o laboratório
aos alunos, seus equipamentos e instrumentos, identificando-os e falou-se sobre a
sua função. Ao final solicitou-se que os alunos redigissem um relatório
descrevendo o que aprenderam, bem como desenhando alguns instrumentos e
nomeando-os.
Na seqüência trabalhou-se o átomo, o elemento químico, classificação,
distribuição de elétrons, valência e a tabela periódica. Após a aula expositiva, para
aprofundar a aprendizagem levou-se os alunos ao laboratório de informática, para
exercitar a aprendizagem através de jogos. Esta prática foi de fundamental
importância no desenvolvimento das atividades e do aprendizado de química em
sala de aula sobre ligações químicas, misturas e substâncias.
Em sala de aula, explicou-se as diferenças entre substâncias puras,
compostas e misturas. Demonstrou-se o processo de separação de misturas. Ainda,
mostrou-se através da produção de sabão de álcool que juntando algumas
substâncias podemos formar novas substâncias. Nesse procedimento utilizou-se o
óleo de cozinha usado, (trabalhou-se a reciclagem de produtos). Esta atividade
prática realizou-se no saguão da escola, devido à liberação de gás e de calor.
Solicitou-se aos alunos que observassem as reações químicas que aconteciam
durante a mistura dos ingredientes da receita. Os alunos observaram as reações
visíveis e térmicas (aumento da temperatura, ebulição, liberação de gás, mudança
de cor e de textura da mistura, formação de espuma).
Os materiais necessários para a experiência foram adquiridos pela escola e
contamos com o auxilio de uma agente de execução que ajudou a mexer a mistura.
A participação dos alunos nessa etapa foi de observação, devido ao perigo de
intoxicação e queimaduras. No final elaborou-se um relatório, descrevendo os
materiais utilizados, as reações que aconteceram. Os alunos permaneceram atentos
e demonstraram interesse durante a experiência e os relatórios produzidos pelos
mesmos foram muito bons, o que comprova que a atividade prática é mais eficaz
quando se trata de aprendizagem. Todos ficaram entusiasmados ao saber que cada
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um receberia um pedaço do sabão para levar para casa, inclusive solicitaram o
protocolo para reproduzir em suas residências.
Figura 1: Alunos acompanhando o processo de
produção de sabão.
Fonte: Arquivo pessoal Marlete Inês Sturm
Figura 2: Pedaços de sabão de álcool
produzidos durante a aula
Fonte: Arquivo pessoal Marlete Inês Sturm
Outra aula interessante foi sobre as ligações químicas. Explicou-se como
ocorrem as ligações químicas, a construção das fórmulas estruturais e as fórmulas
moleculares ou químicas.
Na sequência os alunos foram divididos em grupos de 3 ou 4 integrantes. Os
mesmos foram levados ao Laboratório de Informática onde pesquisaram na internet
modelos de fórmulas estruturais de algumas substâncias. Com antecedência
solicitou-se a direção da escola a aquisição de gomas de mascar de diversas cores
e de palitos de dente e canudinhos de plástico. No Laboratório de Ciências, de
posse com os materiais acima descritos, cada grupo construiu o modelo de fórmula
estrutural da substância pesquisada.
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Figura 3. Alunos confeccionando a formula estrutural de
compostos químicos.
Fonte: Arquivo pessoal Marlete Inês Sturm
Figura 4: Alunos explicando a atividade realizada ao Diretor e
membros da Equipe Pedagógica.
Fonte: Arquivo pessoal Marlete Inês Sturm
Os alunos acharam o trabalho extremamente interessante e quando do
término do mesmo, receberam o diretor, duas pedagogas e mais alguns
funcionários. Cada grupo fez questão de apresentar seu trabalho, descrevendo seus
componentes e as formas de ligação. Responderam aos questionamentos e quando
não sabiam recorriam a professora. Para encerramento da atividade foi elaborado o
relatório do trabalho.
Após os alunos terem o conhecimento básico de química, abordou-se o
assunto dos agrotóxicos, pois era necessário conhecer os elementos químicos para
analisar a fórmula do defensivo agrícola, ou seja, o estudo dos componentes que o
compõe.
Na sequência, aferiu-se os conhecimentos prévios dos alunos sobre o
assunto, em seguida efetuou-se a leitura do texto “Agrotóxico: de mocinho a
bandido” e ao final da mesma, foi promovido um debate sobre o texto.
De forma expositiva abordou-se a classificação dos agrotóxicos quanto a
sua finalidade e quanto ao grau de toxicidade. De posse de umas embalagens de
agrotóxicos solicitou-se que os alunos observassem os rótulos, e os classificassem
quanto ao grau de toxicidade (para isso tinham que observar a cor da faixa colorida
do rótulo). Na sequência foi realizado um estudo detalhado do rótulo do glifosato:
composição química, agente ativo, classificação toxológica, classe, fórmula bruta e
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estrutural (elementos químicos que compõe sua fórmula), grupo químico, forma de
aplicação, dosagem e utilização.
A seguir instigou-se os alunos a efetuarem uma entrevista com seus pais e
familiares. Para tanto foi elaborado o seguinte questionário:
1- Na propriedade de sua família, é utilizado algum tipo de agrotóxico?
2 - Quais são os defensivos agrícolas mais utilizados em sua propriedade?
3 - Como é feita a aplicação dos mesmos, e por quem?
4 - Qual é o destino dado às embalagens após a utilização dos produtos?
5 – De que maneira é feita a lavagem das roupas e utensílios após a aplicação dos
produtos e por quem?
6 – A prescrição foi feita por um engenheiro agrônomo? ( ) sim ( ) não
7 – Se na resposta anterior a resposta foi sim, ele prescreveu a forma correta de
uso? Se for não, quem indicou o produto e como foi adquirido?
Dando continuidade aos trabalhos explanou-se sobre as intoxicações e a
necessidade de uso dos EPIs. Apresentou-se em data-show um fluxograma
explicativo do caminho percorrido pelo veneno em nosso organismo e como ele
chega aos diversos órgãos, quando se discorreu sobre os principais tipos de
intoxicação e as consequências a curto e longo prazo.
Para aprofundar esses conhecimentos promoveu-se uma palestra onde a
ministrante era enfermeira. Esta salientou pontos sobre os danos a saúde motivados
por intoxicações tanto por agrotóxicos como por medicamentos ou outros produtos.
Para enfatizar mais ainda, realizou-se uma pesquisa de campo na Unidade
Básica de Saúde. Para tanto a turma de alunos foi dividida em quatro grupos, sendo
que cada equipe procurou um(a) enfermeiro(a) para fazer o levantamento dos dados
solicitados.
Equipe 1: Levantamento dos casos de registros de intoxicações nos últimos cinco
anos, sejam acidentais ou provocados, casos de óbitos por intoxicação.
Equipe 2: Levantamento dos registros de casos câncer nos últimos cinco anos,
casos em tratamento e óbitos. Qual tipo de câncer é o mais frequente e qual é o que
mais leva ao óbito.
Equipe 3: Levantamento dos casos de suicídios dos últimos cinco anos e qual foi o
meio empregado para o suicídio.
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Equipe 4: Levantamento dos casos de depressão dos últimos cinco anos. Qual é a
faixa etária em que mais ocorrem casos. As possíveis causas e se houve óbitos
causados pela doença (provocadas ou não).
Nesta pesquisa foram obtidos os seguintes dados:
Câncer: Em 2011, foram tratados 16 casos e os óbitos dos últimos 5 anos
estão registrados no gráfico abaixo.
Intoxicações por agrotóxicos nos últimos 5 anos: foram notificados 7 casos,
dos quais duas ocorrências com o “Chumbinho”, sendo que uma resultou em óbito
(suicídio) e outra em que a ingestão foi acidental o bebê foi salvo. Total de óbitos
por intoxicação 2.
Depressão: Em 2011 estavam sendo tratados 161 casos. Segundo a
informante da Secretaria de Saúde este número vem aumentado a cada ano. Em
2007 foram tratados 92 casos.
Os casos de suicídios nos últimos cinco anos foram 8, sendo 5 por asfixia
mecânica, 2 por intoxicação por agrotóxico e um por arma de fogo.
Gráfico 1: Óbitos de Bom Jesus do Sul
Fonte: Secretaria de Saúde de Bom Jesus do Sul – PR
Outra pesquisa de campo realizada pelos alunos foi sobre as
transformações ocorridas no meio ambiente nas últimas décadas. Cada aluno
0
2
4
6
8
10
12
2007 2008 2009 2010 2011
NÚ
MER
O D
E C
ASO
S
ANOS
Câncer
Suicídio
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entrevistou um vizinho ou um pioneiro do nosso município, fazendo-lhe as seguintes
perguntas:
1. Quais foram as principais mudanças ocorridas nas últimas décadas?
2. O que foi que ocasionou essas mudanças?
3. As mudanças, transformações que aconteceram foram benéficas ou não?
4. Que tipo de consequências as transformações no ambiente trouxeram para a
saúde das pessoas?
De posse de todos os resultados da pesquisa realizou-se um seminário,
momento em que os alunos puderam apresentar e explanar aos outros educandos
do Colégio o que aprenderam com este trabalho.
Numa tentativa de mostrar que existem formas alternativas de controle de
pragas e doenças foi feito a atividade prática da preparação da Calda Bordalesa,
que substitui fungicidas. Preparou-se a Calda e depois de pronta a mesma foi
aplicada sobre plantas do pátio da escola.
E como última atividade foi realizada a palestra com um engenheiro
agrônomo para pais e alunos, que apresentou estatísticas do nosso município, falou
da problemática ambiental e apresentou algumas receitas de formas alternativas aos
agrotóxicos.
4 Resultados e discussão
Durante o desenvolvimento das atividades experimentais o diálogo com os
alunos esteve muito presente, no sentido de auxiliá-los na construção e
reconstrução do conhecimento, ou seja, para sanar dúvidas e esclarecer pontos de
difícil entendimento ou não assimilidados. Além do diálogo e explicações, utilizou-se
as pesquisas de campo bem como em livros, revistas, rótulos de agrotóxicos e
internet, leituras e discussão de textos e vídeos documentários que viessem
favorecer e facilitar o entendimento do conteúdo abordado.
A apresentação do laboratório aos alunos ocorreu de forma tranquila, pois os
mesmos tinham muita curiosidade sobre o local e os equipamentos. A maioria
demonstrou interesse e questionaram muito sobre a utilidade das vidrarias, sobre o
funcionamento do microscópio, questionaram sobre a tubulação de gás e os vários
pontos de saída do mesmo sobre as bancadas. No relatório entregue pelos mesmos
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ao final da aula, 85% deles descreveram com clareza que entenderam porque o
laboratório é um lugar perigoso se mal utilizado. Também na atividade de desenhar
e nomear objetos que lhes foram apresentados, 70% o fizeram corretamente e os
outros 30% conseguiram acertar parcialmente a atividade.
Através da produção do sabão de álcool os alunos puderam comprovar a
mistura de substâncias e a formação de novas substâncias. Uma observação
interessante feita por um aluno foi que, se misturando gordura (animal ou vegetal),
produto que mancha e suja roupa, com soda cáustica (Hidróxido de Sódio), álcool e
água, ocorre à formação de glicerol ou sabão, transformando-se num agente de
limpeza. Observaram também que quando se mistura a soda com a água e o álcool,
ocorre à liberação de gás e energia térmica (calor). Foi-lhes explicado que estas são
resultado das reações químicas que ocorrem durante a mistura dos produtos
químicos. A turma como um todo compreendeu o processo, mas 15% apresentaram
dificuldades de descrever a prática no relatório.
A aula realizada no laboratório de informática trouxe resultados positivos,
pois os jogos estimulam os alunos a querer ganhar e, para ganhar é necessário
saber as respostas corretas. Nesse sentido, percebeu-se uma grande parceria entre
os alunos, sendo que estes iam auxiliando o colega em suas dificuldades e quando
perceberam que as perguntas, a partir de um dado momento, se repetiam, passaram
a anotar perguntas e respostas. A iniciativa partiu dos mesmos e considerando a
turma podemos considerar como um resultado positivo. Pode-se ressaltar que a aula
foi descontraída e divertida, porém a aprendizagem foi muito melhor do que a que se
obtém na sala de aula normal. Nesta aula a estatística de aprendizagem ficou
dividida dessa forma: 65% demonstraram habilidade e facilidade de compreensão do
jogo e 35% dependeram de ajuda de colegas para conseguir avançar no jogo.
A construção da fórmula estrutural de compostos químicos também foi muito
rica em aprendizagem e os alunos sentiram-se muito valorizados pela presença do
diretor e das pedagogas ao final da aula. Fizeram questão de explicar a fórmula que
haviam montado, explicaram os tipos de ligação que estavam presentes na fórmula.
Quando não sabiam explicar o que lhes era indagado, pediam ajuda a professora.
Para tal atividade cada grupo procurou na internet a fórmula do composto químico
que lhes foi pedido. Neste trabalho ficaram claros para os alunos, as valências, os
tipos de ligação e quando ocorre alguma reação ou liberação de energia. Deve-se
17
ter claro que nenhum conteúdo foi muito aprofundado, pois se trata de alunos de
sétima série. A atividade aconteceu em grupos de três elementos, ficando um grupo
com dois alunos. Dos sete grupos formados, apenas um não conseguiu efetuar a
construção sem ajuda da professora, o mesmo grupo também teve dificuldades de
apresentar seu trabalho aos colegas e a direção, recorrendo ao auxílio da
professora. No relatório os alunos colocaram frases com o seguinte teor:
“Adorei, foi a aula melhor que já tive”
“Gostei muito, além de aprender a fazer fórmula estrutural, aproveitamos nos
divertimos e ainda ganhamos doce.”
“Nossa, se todas as aulas fosse assim, eu iria gostar de vir na aula”
“Achei um pouco difícil, porque não sabia ao certo como colocar os palitos
para ligar as gomas, mas foi legal.”
A palestra com a enfermeira foi muito interessante e inclusive extrapolou o
tempo programado para a atividade. Isso ocorreu porque durante a explanação da
mesma sobre casos de intoxicação, ela indagou se alguém sabia de algum caso,
quando os alunos começaram a questionar sobre os sintomas e puxar casos aos
quais ela foi respondendo. Foram citados dois casos de intoxicação ocorridos no
município, ambos gravíssimos, sendo que a intoxicação ocorreu pelo famoso
“chumbinho”. Este composto possui em sua composição o carbamato, um potente
inibidor da enzima de acetilcolinesterase. Um desses casos foi acidental e ocorreu
com uma criança de apenas um ano de idade, a qual foi salva. O outro caso foi
provocado pela vítima e ocasionou a sua morte. Foi muito importante o debate, já
que resultou em esclarecimentos e apontou os perigos que a população corre na
manipulação e armanezamento errôneos do produto.
Quanto ao seminário de apresentação dos dados coletados nas pesquisas
mais uma vez percebeu-se o quanto os alunos se sentiram valorizados. Estes, no
papel de “fornecedores de informações” coletados pelos mesmos sentiram-se “o
máximo”, ou seja, muito importantes. Até os alunos que apresentem “déficit de
aprendizagem” e que dificilmente participam ou contribuem nos debates, falaram e
colocaram suas considerações. Explanaram com conhecimento de causa e riqueza
de detalhes os resultados das pesquisas, tanto das informações coletadas na suas
propriedades, com os pioneiros do município bem como as informações obtidas no
Centro de Saúde Municipal. Um comentário que chamou a atenção de todos no final,
18
foi de um aluno que disse: “Nossa não é fácil ser professor, tem que estudar muito
para poder falar e explicar um conteúdo.”
Outro ponto alto do nosso trabalho foi a palestra realizada pelo engenheiro
agrônomo para os pais e alunos. Os alunos interagiram o tempo todo fazendo
perguntas ao palestrante e a participação dos pais também foi efetiva. Percebeu-se
que muitos adultos não conheciam os riscos e os malefícios que os venenos podem
provocar a saúde e ao meio ambiente. Muitos ao final da palestra demonstraram
interesse pelas receitas de alternativos ao uso de agrotóxicos e solicitaram cópia.
Com os alunos foi produzida a Calda Bordalesa, que pode substituir fungicidas com
grande toxicidade, fazendo o mesmo efeito sobre os fungos que atacam as culturas.
Ao final das atividades do projeto, aplicamos o seguinte questionário de
avaliação:
Questionário Avaliativo
1 - Como você avalia a metodologia aplicada durante o projeto?
( ) Excelente ( ) Bom ( ) Satisfatório ( ) Insatisfatório
2 – O projeto aplicado condiz com sua realidade cotidiana?
( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco (As vezes)
3 – As práticas realizadas complementam a parte teórica?
( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco (As vezes)
4 – Em relação à aprendizagem do conteúdo abordado, contribuiu para que você?
( ) aprendesse um pouco mais ( ) Não interferiu ( ) Interferiu um pouco
5 – Você consegue relacionar o que aprendeu com o que você vive em seu
cotidiano?
( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco (As vezes)
6 - Avalie a parceria aula prática/aula teórica:
( ) Excelente ( ) Bom ( ) Satisfatório ( ) Insatisfatório
7 - Você acha importante que a escola ofereça projetos de ensino para os alunos?
Por quê?
___________________________________________________________________
8 – Que outros conteúdos você gostaria que fossem trabalhados dessa mesma
forma?
___________________________________________________________________
9 – Qual momento do projeto chamou mais sua atenção?
19
___________________________________________________________________
10 - Em qual momento do projeto você conseguiu aprender melhor?
__________________________________________________________________
Os resultados da avaliação feita pelos alunos são mostrados a seguir.
Na avaliação feita pelos alunos quanto à forma de ensino utilizada do total,
60% acharam excelente, 25% considerou bom e 15% satisfatório. Dessa forma,
comprovou-se que os alunos sentem-se estimulados e realizados por se sentirem
parte atuante no processo ensino-aprendizagem.
Gráfico 2: Grau de satisfação quanto à forma de ensino utilizada
Fonte: Pesquisa em sala de aula, 7ª série, C. E. Bom Jesus - EFM
Questionou-se quanto ao projeto ter a ver com a realidade cotidiana dos
mesmos e, 75% responderam que sim, 15% responderam um pouco e 10%
responderam que não. Dessa forma pressupõe-se que 90% dos alunos já tiveram
contato ou têm contato e conhecem algum tipo de agrotóxico.
Na avaliação foi questionado se as práticas realizadas enriquecem a parte
teórica envolvida e 80% dos alunos responderam que sim, demonstrando desta
forma que conseguem perceber a importância de ambas, 20% responderam “um
pouco”. Percebe-se com isso que alguns alunos não conseguiram associar
totalmente a teoria à prática, provavelmente porque na aula teórica estavam
distraídos, pois nas aulas práticas a participação foi efetiva.
Quando aferidos a respeito do conteúdo estudado ter interferido de alguma
forma na sua aprendizagem, 100% dos alunos responderam que sim, que
aprenderam um pouco mais. Na sequência pediu-se para que os alunos avaliassem
a parceria teoria/prática e 60% dos alunos consideraram excelente, 25%
0
5
10
15
execelente bom satisfatório ruim
nº
de
alu
no
s
Forma de avaliação
20
consideraram bom e 15% consideraram satisfatório. Já as questões descritivas
apresentaram os seguintes resultados: Nas questões a respeito da escola oferecer
projetos e utilizar metodologias de ensino diferenciadas, a resposta foi 100% positiva
em ambas, ou seja, todos os alunos que participaram do projeto disseram sim.
Destacamos abaixo algumas delas:
- Sim, porque saímos da rotina;
- Sim, porque as aulas são mais interessantes;
- Sim, porque é uma forma de incentivo aos alunos;
- Sim, porque aprendemos de forma diferente;
- Sim, porque vemos onde podemos usar o que aprendemos;
- Sim, porque os alunos não cansam tanto;
- Sim, porque os alunos não ficam só sentados escutando;
- Sim, porque aprendemos mais.
Para saber qual o momento mais atraente e que mais chamou a atenção dos
estudantes durante a realização das atividades, 25% responderam que foi produção
de sabão e da Calda Bordalesa, 20% responderam que foi a construção das
fórmulas estruturais das substâncias, 35% consideraram todas as atividades
importantes, 10% ponderaram que a aula de laboratório de informática com os jogos
de química foi a mais interessante e os outros 10% julgaram as palestras e
entrevistas como o ponto alto do projeto. Dessa forma percebe-se que todas as
práticas foram importantes para o sucesso do projeto.
Gráfico 3: Grau de aceitabilidade das diferentes atividades
Fonte: Pesquisa em sala de aula, 7ª série, C. E. Bom Jesus - EFM
0 1 2 3 4 5 6 7 8
confecção de sabão/ calda bordalesa
construção fórmula estrutural
jogos/ laboratório Informática
entrevistas/palestras/seminário
todas as atividades
nº alunos
21
Para finalizar a avaliação foi questionado sobre o momento do projeto em
que o aluno conseguiu aprender melhor e 30% responderam que houve maior
aprendizagem durante as atividades práticas, 35 % afirmaram que aprenderam mais
durante as pesquisas de campo, palestras e seminário e, 35% julgaram que em
todas as práticas houve aprendizado.
Assim sendo, verificou-se que de alguma forma todas as atividades práticas
foram importantes na aprendizagem dos alunos e que o professor de Ciências deve
usar de diferentes ferramentas para tornar as aulas atrativas e motivadoras para os
alunos, para que os mesmos se sintam parte integrante do processo e vejam
significado naquilo que estão estudando.
5. Conclusão
Segundo Carraro (1997), todo ser vivo busca a perpetuação de sua espécie
e a sua sobrevivência, utilizando-se dos recursos que lhe são básicos e essenciais
no meio em que vive. O ser humano leva certa vantagem sobre os demais animais,
por ser o único ser vivo dotado de inteligência, capaz de pensar, raciocinar e refletir
sobre seus atos. Por ser um ser pensante, é capaz de decidir sobre a forma como
interage com o meio ambiente, sendo responsável pelas consequências causadas.
Dessa forma é necessário pensar a educação para a formação do ser
humano capaz de construir sua vida desfrutando racionalmente do que o meio que
tem a sua disposição. Mostrar que é possível: Produzir sem destruir e matar...
Aprender sem ter que memorizar ou decorar...
Para tanto, percebe-se a importância da utilização de práticas para explicar
teorias e tornar a aprendizagem significativa, ou seja, que esta faça sentido para o
aluno, pois ele poderá relacionar fatos vividos em seu cotidiano. Fazendo com que
ele formule conceitos e estabeleça relações, que o farão compreender as teorias e
utilizá-las em diferentes situações concretizando assim a sua aprendizagem.
Por meio das atividades realizadas, foi possível comprovar que a teoria da
aprendizagem significativa pode trazer resultados positivos, desde que sejam
utilizadas metodologias diferenciadas que incentivem o aluno a querer aprender.
Isso vem ao encontro ao objetivo deste trabalho que foi demonstrar que a utilização
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da Experimentação, da Investigação Científica e a Contextualização são
metodologias interessantes para tornar as aulas de Ciências mais significativas,
dinâmicas e prazerosas.
A mudança de postura em relação a práticas realizadas nas propriedades
rurais, a ruptura de conceitos pré estabelecidos, a construção de hábitos saudáveis
no dia a dia dos nossos jovens e principalmente a atitude crítica demonstra que a
semente foi plantada.
Concluí-se dessa forma, que da mesma forma que o mundo evoluiu em
todos os sentidos, o professor também precisa se reciclar. Já não cabe nos moldes
atuais da educação, um professor que ainda acredita que a aula tradicional, quadro
negro, livro texto e exposição oral do professor irão atingir os objetivos da educação.
6 Bibliografia
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