A Importância Da Igreja Na Construção Da Civilização Ocidental-SETEMBRO 2015

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A Importancia da Igreja

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  • A Importncia da Igreja na Construo da

    Civilizao Ocidental

    VALDECI SILVA IZABEL JUNIOR

    Resumo: Este artigo objetiva desenvolver uma anlise da atuao e contribuio da Igreja

    Catlica, na preservao de alguns bons costumes dos romanos, converso dos povos

    germnicos, cristianizao de suas foras e a construo da nova civilizao Ocidental,

    atravs do perodo conturbado do sculo V ao VIII. Afirmar sua atuao em prol dos escravos

    e esclarecer sua forma de ao nas atividades sociais.

    Palavras-chave: Invases Brbaras, Queda do Imprio Romano, Escravos, Igreja, Civilizao

    Ocidental

    Ns, catlicos, temos uma obrigao particular: temos

    que aprender o que pudermos sobre nossa f , e temos

    que espalhar o que aprendemos. Temos de contar s

    pessoas a verdadeira histria da Igreja Catlica, porque

    se ns no nos defendermos, ningum o far por ns.

    Thomas E. Woods, Historiador

    Campos dos Goytacazes

    Setembro/2015

  • A Importncia da Igreja na construo da

    Civilizao Ocidental

    Valdeci Silva Izabel Junior1

    As invases brbaras ou germnicas, no politicamente correto, devem ser

    compreendidas dentro do quadro geral, da maneira, pela qual estes povos comearam a tomar

    espao no Imprio Romano. No foi, simplesmente, um momento de invases violentas e

    sanguinrias, guerras militares, saques e ocupao das cidades no incio do V sculo da era

    crist, como conta a historiografia.

    No fim do sculo II, tribos germnicas, j se deslocavam da Europa Central para o

    ocidente. Por viverem prximos s fronteiras, e essa merece uma ateno especial, muitos

    godos, povos que no eram civilizados, segundos os costumes ocidentais, foram se infiltrando

    lentamente no Imprio Romano.

    Principalmente os que faziam fronteiras, comearam seus primeiros contatos com os

    romanos sem muitos problemas, inicialmente pela via comercial. Como os no -romanos,

    tinham aptides com a metalrgica, eram feitas trocas ente eles. Alguns grupos entraram no

    Imprio e lhes foi concedido, o que se pode caracterizar como, direitos de povos federados,

    estatuto criado pelo prprio Estado Romano.

    No Noroeste Europeu, nas zonas de fronteira se iniciou essa intermediao entre

    esses povos. Onde de influenciavam mutuamente, evidente que mais os brbaros pelos

    romanos, pois eles no tinham uma cultura estruturada, desconheciam a escrita e no nutriam

    interesses convergentes com os dos romanos.

    Com as diversas ameaas de invases, nesse perodo, principalmente dos visigodos,

    com autorizao do Imprio Romano , muitos povos germnicos foram se instalando nele.

    Podemos ver, at ento, que a poltica adotada pelos romanos foi o incio de seu declnio. E

    essa instabilidade de povoao marca esse perodo.

    Como vai dizer o doutor em Histria, Thomas Woods, em seu livro: Como a Igreja

    Catlica construiu a Civilizao Ocidental, diferente dos godos que, por sua aproximao,

    no tinha esse dio pela cultura romana, por sua vez, os vndalos nutriam uma inimizade

    implacvel por tudo o que no fosse germnico: saquearam a cidade de Roma em meados do

    1 Graduando em Histria PUCG/UFF

  • sculo V e depois conquistaram o norte da frica, instaurando ali uma autntica poltica de

    genocdio.(WOODS,2008:13).

    A partir desse perodo comea a decadncia do Imprio Romano. Perde-se a

    unidade entre os reinos, com o desabamento da estrutura fiscal, o comrcio regionalizado,

    suas vias de transporte so rompidas, principalmente os portos, que eram caractersticos dos

    romanos, que tinham habilidades, peculiares, com a prtica d a navegao.

    Com as unies romano-germnicas, esses que dentro do territrio conseguiam

    cargos, principalmente com seus grandes mritos nos servios militares, diante dessas crises,

    aliam-se ao governo. Compreende-se este fato, pois, os germnicos no tinham aptides

    administrativas, diferentemente dos romanos, preocupavam-se com o imediato, questes

    filosficas, administrativas e tratados no faziam parte dos planos germnicos.

    Com o desaparecimento do grande comrcio, quem perdeu muito, como sempre,

    foram os pequenos camponeses, os livres mais pobres, faltava-lhes o essencial, os cereais

    necessrios para sua alimentao, como dito antes, isso comeou a regionalizar as produes.

    A queda se torna, ainda mais, perceptvel quando se analisa os nmeros. A

    enormidade dos danos em Roma, que possua um milho de habitantes e no fim do sculo VI

    se encontra com cinquenta mil. Tantos outros exemplos da devastao brbara eram

    constatadas, no somente nas cidades, que eles odiavam, assim como, nos campos, era notvel

    a destruio.

    A estrutura poltica, social, econmica e cultural dos romanos, propriamente,

    encontra-se desprezada e em runas. Os germnicos instauram um reino com o que eles

    ditavam ser bom na cultura romana, mas pelo que foi apresentado at agora, fica claro que se

    admiravam alguns aspectos dos romanos, esses eram mnimos.

    Dentro desse contexto surge as discusses sobre o desaparecimento da escravido.

    Essas questes quando tomam carter extremista se tornam insustentveis, segundo Jerme

    Baschet quando afirma que:

    A maior parte dos historiadores marxistas, obnubilados pelos

    escritos dos clssicos do materialismo histrico, associa o fim do

    escravagismo crise do Imprio Romano (...). Mas as pesquisadas realizadas

    (...) demonstram a manuteno macia, durante a Alta Idade Mdia, de uma

    escravido essencialmente idntica aquela da Antiguidade. (BASCHET,

    2006:59)

  • preciso olh-la dentro do contexto cultural da poca, para que nossa anlise no

    seja tendenciosa e parcial da realidade. Havia questes filosfico-aristotlicas em que os que

    detinham fora fsica, no entanto, no dotavam de conhecimento fossem escravos e a

    metafsica, do destino.

    Baschet, por sua vez, acusa a Igreja Catlica de no condenar a escravido e ser

    conivente com ela. Pois bem, Paulo de Tarso, j no primeiro sculo da era crist defendia a

    igualdade de natureza entre todos os homens judeus ou gentios, livres ou escravos, porm,

    neste perodo ela no tinha autoridade para influenciar as leis do Imprio, mas recomendava

    aos escravos submisso aos seus senhores e que, estes ltimos, tratassem com caridade seus

    escravos.

    Santo Agostinho, bispo de Hipona, no sc. IV, em A Cidade de Deus, fala sobre a

    escravido:

    A causa primeira da servido, , pois, o pecado, que submete um homem a

    outro pelo vnculo da posio social. o efeito do juzo de Deus, que

    incapaz de injustia e sabe impor penas segundo o merecimento dos

    delinqentes. O Senhor supremo diz: Todo aquele que comete pecado

    escravo do pecado. Por isso muitos homens piedosos servem patres inquos,

    mas no livres, porque quem vencido por outro fica escravo de quem o

    venceu. (Santo Agostinho de Hipona. A Cidade de Deus. So Paulo: Vozes,

    2001, parte II. p. 406.)

    Percebe-se que a Igreja, tendo como principio a salvao da alma de seus fieis,

    preocupava-se primeiramente com a escravido dos vcios e pecados, nesta linha, a

    escravido, como tal, poderia ser uma forma de castigo para que ele se arrependesse dos seus

    erros e se convertesse desta forma, mesmo se continuasse na condio de escravo, no mais o

    seria.

    Sua atuao, entretanto, no se limitava ao espiritual somente, os padres da Igreja

    empreendiam suas foras em prol dos mais necessitados, como fez o bispo de Roma, o papa

    Joo VIII, no ano de 873 ao escrever a um prncipe de Sardenha dizendo para que se

    emendasse num firme propsito de comprarem os homens feitos escravos pelos pagos e

    fizesse um ato piedoso e santo de porem esses em liberdade, pois desta forma seriam

    recompensados, no pelos homens, mas por Deus.

  • Diante disso como crer na acusao de que a Igreja afirma que o escravo no tem

    alma. O Deus dos cristos no poderia castigar um escravo se no fosse para que ele se

    convertesse. Se este castigado, para que se converta, evidente que tem uma alma humana,

    se no direito ele poderia ser trocado por um bem material e em caso de perda, esta poderia ser

    ressarcida dando um bem material no culpa da Igreja, mas dos pagos.

    A ao da Igreja Catlica primordialmente para que o seu fiel no se perca, ao

    contrrio, para que ele se converta e seja salvo, at mesmo sua atuao no social

    impregnado por esse vis evanglico, quem no compreende isso, mesmo que no concorde,

    jamais entender porque tantas vezes ela dirige suas palavras ao corao do homem, para que

    ele seja o agente transformador das injustias sociais.

    Retornando as questes do Imprio, nas invases brbaras (essas entendidas como o

    perodo de ataque com veemncia da parte dos germnicos) as destruies, o empobrecimento

    das cidades que dificultavam a permanncia nelas, por isso se percebe um retrocesso,

    acontece o xito urbano, diante desta situao, a dificuldade para os estudos e

    desenvolvimento da cincia seria muito pior se a Igreja Catlica no intervisse neste processo,

    segundo afirmar o Historiador Will Durant, a runa talvez fosse muito maior se a Igreja no

    tivesse mantido uma certa ordem em uma civilizao que se desintegrava (DURANT,

    1950:79).

    notvel e importantssimo para a reestruturao da Civilizao Ocidental, o fato

    dela ter passado a ser regida pela disciplina das virtudes e como dissera o Papa Leo XIII,

    pela Filosofia dos Evangelhos. Os reis germnicos foram se convertendo ao Cristianismo,

    graas insistncia de sua esposa o rei Franco, Clvis converteu-se ao catolicismo, os papas

    passaram a legitimar o poder de do monarca, principalmente quando o Bispo de Roma, rompe

    com Constantinopla no incio do sculo IX.

    Sob grande influncia da filosofia crist, dos mosteiros que vivem sua primavera

    nessa poca e se tornam pilares para sustentao e reflorescimento do conhecimento, os povos

    carolngios, que eram brbaros, foram grandes construtores da nova Civilizao Ocidental.

    Carlos Magno, imperador franco do final do sculo VIII ao incio do IX, mesmo sem

    o dom da escrita e da leitura solicitou aos bispos e monges que trabalhassem para o

    desenvolvimento da cultura, das escolas que eram erigidas ao redor de suas catedrais.

    Segundo o historiador Joseph Lynch, essa atuao dos bispos e monges na escrita,

    arquitetura e nos trabalhos artsticos incentivaram uma mudana na qualidade e na

    intensidade da vida intelectual (Joseph H., 1992:89). Aquilo que foi perdido no perodo das

    guerras e invases como a unidade romana, o enfraquecimento do comrcio, as cidades que

  • perdem espao para as populaes rurais a regionalizao, o desaparecimento do Estado, volta

    com um grande vigor , quando esses brbaros que tomaram o territrio Romano, comeam a

    pedir o batismo, renunciarem o paganismo e encontram unidade na Igreja Catlica.

    A Europa torna-se o centro da Civilizao Ocidental, discordando da teoria de

    Jerme Baschet, quando afirma que se perde a autoridade e que tenha sido o fracasso

    carolngio sua unio com a Igreja, com as objees colocadas neste texto e tantas outras que

    aqui no caberiam, como por exemplo, as obras de caridade, o incentivo pesquisa e

    cincia, garantindo a autonomia das universidades, o direito cannico, que foi base para o

    direito romano e, por muito tempo, o nico existente, posso afirmar em alto e bom som, sem

    medo de estar sendo imparcial ou intolerante que a Igreja Catlica, atravs dos seus papas,

    reis, bispos e monges, construiu a nova Civilizao Ocidental, que teria seu fim naqueles

    tempos, se no fosse sua interveno e sua coragem.

    Referncias Bibliogrficas:

    BASCHET, Jerme. A Civilizao Feudal Do ano mil colonizao da Amrica. So Paulo:

    Globo, 2006.

    DENZINGER-Sch'nmetzer.Enquirdio dos Smbolos e Definies n 668 citado em:

    BETTENCOURT, Dom Estevo Tavares, OSB. O Trfico Negro no Brasil e a Igreja. Artigo

    digitalizado, disponvel em URL:

    http://www.presbiteros.com.br/Hist%F3ria%20da%20Igreja/Trafico.htm. Online, 16/12/2012.

    DURANT, Will. Caesar and Christ. New York: MJF Books, 1950.

    LYNCH, Joseph H., The Medieval Church: A Brief History. Londres: Longman, 1992.

    WOODS JR., Thomas E. Como a Igreja Catlica construiu a civilizao Ocidental / Thomas E.

    Woods Jr; traduo de lcio Carillo; reviso de Emrico da Gama. So Paulo: Quadrante,

    2008.

    AGOSTINHO, S. A Cidade de Deus. So Paulo: Vozes, 2001, parte II. p. 406.