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A importância da leitura de imagem no ensino de arte Eliane A. Dutra 1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Myrna A. Valente 2 (VIZIVALI) Jurema Chagas (UFSC- Orientadora) 3 Resumo: Uma das três vertentes da Proposta Triangular, base para os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, é a leitura de imagem, contudo existe certa dificuldade dos profissionais da educação em estabelecer parâmetros para seu uso em sala de aula. Este trabalho tem por objetivo ressaltar a importância e as possibilidades geradas pelas imagens no processo de ensino de Arte, apontando situações possíveis de utilização de fragmentos de filmes para auxiliar no entendimento dos conteúdos, estimulando a crítica durante o processo de visualização de imagens estabelecendo a necessidade de uma prática pedagógica que estimule no aluno a construção de um repertório visual. Para caracterizar a importância da alfabetização estética procurou-se embasamento no processo histórico que envolveu o ensino de Arte no Brasil, com o intuito entender o momento atual. Momento este que tem encontrado adeptos em várias áreas profissionais, inclusive na área da educação e da comunicação, que defendem a cultura visual como linguagem passível de aprendizado. Palavras-chave: Leitura de imagem, alfabetização visual, imagem. Abstract: One of the three strands of the Triangular Proposal, based on National Curriculum for Art, is the image reading, however there is some difficulty of education professionals to establish parameters for use in the classroom. This paper aims to highlight the importance and possibilities generated by the images in the teaching of art, pointing to possible situations using fragments of films to help understand the content, stimulating criticism during the process of viewing images establishing the need of a pedagogical practice that encourages the student to build a visual repertoire. To characterize the importance of literacy aimed to aesthetic foundation in the historical process involving the teaching of art in Brazil, in order to understand the present. This time it has found adherents in many professional areas, including in education and communication, defending culture as a visual language capable of learning. Keywords: Reading image, visual literacy, image. 1 Doutoranda em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, na linha de pesquisa: Subjetividade, Memória e História. [email protected] 2 Graduada pela Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu . [email protected] 3 Mestre pela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. [email protected]

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A importância da leitura de imagem no ensino de arte

Eliane A. Dutra1

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Myrna A. Valente2

(VIZIVALI)

Jurema Chagas

(UFSC- Orientadora)3

Resumo: Uma das três vertentes da Proposta Triangular, base para os Parâmetros Curriculares

Nacionais de Arte, é a leitura de imagem, contudo existe certa dificuldade dos profissionais da

educação em estabelecer parâmetros para seu uso em sala de aula. Este trabalho tem por

objetivo ressaltar a importância e as possibilidades geradas pelas imagens no processo de

ensino de Arte, apontando situações possíveis de utilização de fragmentos de filmes para

auxiliar no entendimento dos conteúdos, estimulando a crítica durante o processo de

visualização de imagens estabelecendo a necessidade de uma prática pedagógica que estimule

no aluno a construção de um repertório visual. Para caracterizar a importância da alfabetização

estética procurou-se embasamento no processo histórico que envolveu o ensino de Arte no

Brasil, com o intuito entender o momento atual. Momento este que tem encontrado adeptos em

várias áreas profissionais, inclusive na área da educação e da comunicação, que defendem a

cultura visual como linguagem passível de aprendizado.

Palavras-chave: Leitura de imagem, alfabetização visual, imagem.

Abstract: One of the three strands of the Triangular Proposal, based on National Curriculum

for Art, is the image reading, however there is some difficulty of education professionals to

establish parameters for use in the classroom. This paper aims to highlight the importance and

possibilities generated by the images in the teaching of art, pointing to possible situations using

fragments of films to help understand the content, stimulating criticism during the process of

viewing images establishing the need of a pedagogical practice that encourages the student to

build a visual repertoire. To characterize the importance of literacy aimed to aesthetic

foundation in the historical process involving the teaching of art in Brazil, in order to

understand the present. This time it has found adherents in many professional areas, including

in education and communication, defending culture as a visual language capable of learning.

Keywords: Reading image, visual literacy, image.

1Doutoranda em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, na linha de pesquisa:

Subjetividade, Memória e História. [email protected] 2Graduada pela Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu . [email protected] 3Mestre pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. [email protected]

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Introdução

O mundo passou pela a Revolução Industrial, Revolução Automobilística e agora, no

século XXI, a Revolução Tecnológica e, pode-se afirmar que, juntamente com a Revolução

Tecnológica, estamos também submetidos à Revolução da Imagem. Portanto, é possível

afirmar que, nossos documentos escritos não são mais a única fonte de informação e pesquisa.

Sendo assim, faz-se necessário a aprendizagem da interpretação de signos visuais.

As invenções da Revolução Tecnológica provocam muito encantamento, atinge de

forma surpreendente adolescentes e crianças, não há resquícios de resistência alguma.

Videogame, computador, celular, cinema, internet são seus aparatos principais. Porém, vale

ressaltar que, junto com todas essas novas invenções amplia-se o número de códigos e

linguagens.

Diante disso, segundo Ana Mae Barbosa (2007) no Brasil, atualmente, há entre

professores a discussão da importância da imagem (tanta impressa como em movimento), em

sala de aula, pois apontam que as imagens quando bem encaminhadas e contextualizadas

podem despertar, a criatividade, a reflexão de forma superior e também manter alunos

interessados por mais tempo em determinados conteúdos.

“As imagens produzem um regime de significação” nos diz Raul Antelo (2004, p.9).

Quando bem mediadas tem a capacidade de despertar a criatividade, reflexão, diminuir espaços

e distância, porém, se não houver certa mediação, cuidados na seleção de imagens, não ocorrerá

aprendizado, apenas servirá de entretenimento, pois, vale lembrar que imagens são formas de

comunicações aprendidas (pois não é inata), cabe ao mediador, sistematizar esse conhecimento,

estar atento ao ensino de uma sintaxe visual, nos diz Ana Mae Barbosa (2011).

A proposta de desenvolvimento de leitura de imagem em sala de aula, a necessidade do

ensino de uma sintaxe visual, vem sendo discutida desde 1980, no Brasil, juntamente, com a

contextualização histórica e com a produção com a Proposta Triangular, segundo Claudia

Zamboni de Almeida (2011, p. 61). Contudo, este trabalho tem por objetivo ressaltar a

importância e as possibilidades geradas pelas imagens no processo de ensino de Arte,

apontando situações possíveis de utilização de fragmentos de filmes para auxiliar no

entendimento dos conteúdos, estimulando a crítica durante o processo de visualização de

imagens estabelecendo a necessidade de uma prática pedagógica que estimule no aluno a

construção de um repertório visual.

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1.

As imagens foram os primeiros meios de comunicação utilizados pelo homem para

comunicar-se, representar a vida, registrar sua existência. A principal característica dos

desenhos da Idade da Pedra Lascada é o naturalismo. O “artista” pintava os animais de forma

chapada, sem perspectiva, reproduzindo a natureza tal quais seus olhos captavam.

Essa arte era realizada por caçadores, e que fazia parte do processo de magia por meio

do qual procurava-se interferir na captura de animais, ou seja, o pintor-caçador do Paleolítico

teria poder sobre o animal desde que, primeiramente, possuísse a sua imagem. Acreditavam

que só conseguiriam matar o animal desde que o representasse ferido mortalmente num

desenho. Utilizavam as pinturas rupestres, isto é, feitas em rochedos e paredes de cavernas.

Segundo Feist (2003), os egípcios se utilizavam das imagens para registrar sua história

nas paredes dos palácios e das pirâmides. Os hieróglifos eram compostos por imagens (figuras)

que podiam representar palavras ou frases inteiras. Os desenhos de figuras humanas seguiam

rígidos parâmetros, não deixando espaços para improvisações ou detalhes pessoais.

Na Idade Média as imagens eram usadas para contar as passagens da Bíblia ou

comunicar valores religiosos aos fiéis. No Renascimento, imagem foi utilizada para despertar

a ilusão e, suas principais características eram: perspectiva apurada, segundo os princípios da

matemática e da geometria; uso do claro-escuro - pintar algumas áreas iluminadas e outras na

sombra, esse jogo de contrastes reforça a sugestão de volume dos corpos.

Hoje, continuamos a utilizar imagens para nos comunicar, registrar, informar, educar,

comercializar, vender produtos etc.. Neste século, XXI, temos as tecnologias e as mídias a

serviço das imagens, da arte. Apenas ouvir ou ver não é mais o suficiente. Os dias atuais

possibilitam inúmeros recursos multimídia, videogames com realidade virtual chegam a

simular sons, imagens e até sensações táteis.

Anualmente, são arquitetadas novas formas de reprodução de imagens e de sons. As

técnicas transformaram, inovaram o cinema, há um jogo de imagem capaz de hipnotizar,

seduzir com muita rapidez. O que antigamente era ficção científica, hoje é realidade. É a Arte

Digital. As possibilidades artísticas são imensuráveis e, tudo isso está a serviço da educação.

Na esteira da educação, verificamos que na Escola Nova, imagens no desenvolvimento

do ensino da Arte, não eram necessárias serem estudas, apenas incentivava-se a produção

espontânea dos alunos. Já a Pedagogia Tradicional trabalhava a partir da cópia e da técnica

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repetitiva. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o ensino da Arte deve

envolver a prática do fazer, da apreciação e da reflexão sobre obras.

Intermediando o processo de produção e apreciação de arte encontram-se,

entre outros, os meios de comunicação (as mídias), que podem ser

informatizados, ou não. Os modos de praticar e pensar a comunicação

sociocultural em arte mediados pelos meios de comunicação (mais

tradicionais, novos e novíssimos), incluindo os informatizados, são por vezes

contraditórios, o que implica encontrar maneiras de compreendê-los e superá-

los. Nas aulas, alunos e professores podem vivenciar e refletir sobre situações

comunicacionais em arte e suas propagações nas mídias (PCNs-1996).

Temos a nossa disposição mais opções, ferramentas para o desenvolvimento do ensino

da arte (as mídias, as tecnologias etc.), no entanto, nem sempre profissionais, professores estão

preparados para mediar, decifrar as ferramentas que podem ajudar na busca da atenção de

nossos alunos e levá-los a desenvolver a criatividade, a reflexão. E, é certo, que aparatos

tecnológicos têm proporcionado um dialogo maior através da imagem, mas é importante ater-

se para que alunos sejam “alfabetizados“ para ler as imagens, tanto na sala de aula como em

seu cotidiano.

Alfabetizar alunos, em sentido amplo é ensinar a decodificar, ler. No entanto, ler, é

compreender e entender o mundo ao qual estamos inseridos. Ler um uma peça de teatro, texto,

uma música, imagem, também é alfabetizar. O ensino da Arte nos propicia a fruição dessas

linguagens e nos integra ao nosso contexto, à nossa cultura.

2.

A arte, no Brasil, teve início com fins pedagógico, pois os indígenas eram catequizados

através das artes (esculturas, coral, etc.). Vale lembrar que foi a Missão Francesa que contribuiu

para as transformações da arte no Brasil, que era pautada no Barroco Europeu, mas com

características muito particulares, era o Barroco Colonial. “A proposta pedagógica dos mestres

franceses era inspirada no modelo das grandes academias de arte europeias. Defendiam o

ensino do desenho nos anos iniciais da formação do artista, para que, então, mais preparado e

seguro, pudesse realizar suas obras” (CORTELAZZO, 2008, p.111).

No decorrer da história, podemos verificar que foi no século XIX que surgiram

preocupações voltadas para arte-educação, no Brasil, em função de importantes mudanças no

quadro político-social do país. A preocupação era de organizar e “sanear” a educação, a saúde

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e a moral brasileira. Neste mesmo século, ocorreu o movimento da Escola Nova, que tinha

como propósito a expressão do indivíduo como um dado subjetivo e individual nas atividades

que passam dos aspectos intelectuais para os afetivos.

O método de ensino caracterizava uma pedagogia baseada nos estudos da psicologia e

da biologia. Nesse método apontava-se que a criança deveria ser estimulada a trabalhar sobre

ela mesma e reconhecendo a importância da sua produção através da observação, esse

movimento também é conhecido como espontaneísta. Assim sendo, Educação Artística, era

baseada na preocupação com o desenvolvimento da criatividade, porém, numa interpretação

errônea da liberdade de criação cujo princípio era contrariar os modelos estereotipados

difundidos nas aulas de arte.

Quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 56924, de 1971, tornou a arte

uma disciplina obrigatória da escola do ensino fundamental e, em alguns cursos, do ensino

médio, professores sem possibilidade de um curso de formação de educadores na área,

procuraram orientação nas Escolinhas de Arte, o que novamente levou a uma distorção

metodológica no ensino de artes, era o período das reproduções e dos desenhos estereotipados.

Os cursos de graduação surgiram no Brasil em 1973, recebendo a nomenclatura de

Licenciatura em Educação Artística, com a duração mínima de dois anos, referente à

Licenciatura Curta. Com a atual lei federal 9394, de 1996, a nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, os cursos de licenciatura passam a ser desenvolvidos no período mínimo

de três anos, superando a aceitação da Licenciatura Curta dos dois anos, compondo a formação

de Licenciatura Plena com uma habilitação definida nas áreas de Desenho, Plástica ou Música,

porém ainda insuficiente para dar conta de uma prática pedagógica proposta pela atual LDB,

visando à articulação de quatro linguagens artísticas: Artes Visuais, Teatro, Música e Dança.

3.

As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná apontam que a escola é um espaço de

socialização do conhecimento, onde deve ocorrer o debate, a reflexão da crítica às contradições

sociais, políticas e econômicas presentes nas estruturas da sociedade contemporânea. Também

4 A 2 ª LDB implantada no país foi a Lei n º 5692/71fixava Diretrizes e Bases do ensino de 1 º e 2 º graus e trouxe

alterações no sentido de conter os aspectos liberais constantes na lei anterior, estabelecendo um ensino tecnicista.

A lei n º 5.692/71 permaneceu em vigor até 1996 quando da aprovação da nova LDB.

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precisa ocorrer o entendimento, a compreensão da produção científica, a reflexão filosófica, a

criação artística, nos contextos em que elas se constituem.

Cita também que o entendimento domínio dos códigos da leitura e da escrita são

princípios básicos da educação. No caso da Arte, mais especificamente as Artes Visuais, tem

uma contribuição importante a oferecer que é a inserção da leitura da imagem no contexto

escolar. Para Barbosa (2011) é fundamental a inclusão da leitura de imagem, pois:

Há uma pesquisa na França mostrando que 82% da nossa aprendizagem

informal se faz através da imagem a 55% desta aprendizagem é feita

inconscientemente. Temos que alfabetizar para a leitura de imagem. Através

da leitura das obras de artes plásticas estaremos preparando as crianças para

decodificação da gramática visual, da imagem fixa e, através da leitura do

cinema e da televisão, a prepararemos para aprender a gramática da imagem

em movimento (BARBOSA, 2008, pp. 34-35).

Alfabetizar alunos para ler imagens, estaremos também preparando para melhor

decodificar, interpretar as imagens que nos rodeiam. Devemos estar atentos que, a simples

apresentação de obra de arte, de imagens estáticas, fragmentos de filmes não constituem

efetivamente aprendizado da leitura de imagem, pois o que aprendemos de maneira inata é ver

as imagens e não a interpretá-las.

No processo de produção de arte, vale apontar também que, o aluno é levado a pensar,

refletir no desenvolvimento da criação de imagens visuais, porém, devemos levar em

consideração que somente a produção não é suficiente para ler, julgar, qualificar imagens de

determinados artistas ou imagens do cotidiano, segundo Barbosa (2011).

Para realização da leitura de imagem, devemos, primeiramente, estarmos atentos,

conforme Aumont (2002, p.78), que produção de imagem nunca é gratuita, são sempre

produzidas com usos pré-determinados (propaganda, informações e ideologias etc.), o que

determina uma vinculação da imagem com o domínio do simbólico, fazendo com que a imagem

esteja em situação de mediação entre o espectador e a realidade.

O espectador é um parceiro ativo da imagem, tanto emocional quanto cognitivo, a

imagem opera no psicológico deste espectador, alerta Aumont (2002, p.78). E segundo ele, as

imagens servem a duas funções psicológicas, ao reconhecimento e a rememoração, além de

sua relação mimética, estabelecendo uma relação dialética, onde a imagem reproduz o real e o

real reproduz a imagem. Sendo por isso muito utilizada para fins pedagógicos desde sempre.

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A autora, Santaella (2008), ressalta que imagens não são neutras e da mesma forma que

no discurso verbal existe a possibilidade da manipulação, também na linguagem visual existe

a probabilidade de tal manipulação, através da pluralidade de modos de transmitir significados.

E, também, uma imagem falará o tanto quanto nos estivermos disposto a lê-la, da mesma forma

os discursos verbais.

Vale salientar também, segundo Pietroforte (2007), que existe certa ambiguidade

quanto à palavra imagem no discurso cientifico, porque quando se fala de imagens pensa-se

em fotografias, pinturas, ou seja, algo relacionado à semiótica plástica. Em semiótica aplicada,

a palavra imagem está relacionada a tudo o que se pode ver. E, que ao mesmo tempo em que

os registros da língua escrita são antes de tudo imagens, qualquer palavra escrita antes de ser

ouvida é vista, o que faz desse registro linguístico uma semiótica sincrética em que se

combinam palavra e imagem escrita. Cita ainda que:

Saussure fala de imagem acústica ao referir-se ao significante verbal e a teoria

da literatura fala em construção de belas imagens por meio da palavra. No

caso de Saussure, “imagem” diz respeito aos planos de expressão de ordem

fonológica; concerne à semiótica verbal, antes audível que visível. A teoria

da literatura, por sua vez, refere-se ao plano do conceito, portanto, aos

domínios do texto em que o plano de expressão verbal pode ser

desconsiderado, pois essas belas imagens são conceituais, não são vistas nem

ouvidas, mas imaginadas. (PIETROFORTE 2007, p. 33, 34).

A imagem pode ser perceptível antes mesmo de visível, visuais quando vistas ou

mentais quando imaginadas. Perceber as imagens é um processo próprio dos seres humanos,

pois a parte do olho é a mesma para todos, no entanto, o aprimoramento deste processo é que

varia de cultura para cultura. Ler, decodificar imagens, portanto, não se trata apenas de enxergar

uma imagem (processo inato), mas trata-se de compreendê-la, interpretá-la, e para isso é

necessário conhecimento dos códigos expressivos, nos diz Aumont (2002).

A educação, a alfabetização do olhar é fundamental, porque o olhar seleciona, associa,

organiza, analisa, constrói. Professores devem oportunizar aos alunos o caminho para a

alfabetização visual, levando-os ao domínio dos códigos visuais através da sensibilização, da

familiarização e do contato frequente com as obras de arte e cultura visual, salienta Pillar (1995,

p. 36).

O conceito de leitura de imagem pode ser ampliado para um processo de decodificação

e compreensão de expressões formais e simbólicas, que envolvem tanto componentes:

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sensoriais, emocionais, intelectuais, neurológicos, quanto culturais e econômicos. Ler,

portanto, não é tentar decifrar ou adivinhar de forma isenta o sentido de um texto, mas é a partir

do texto, atribuir-lhe mais significados relacionando-o com outros textos na procura da sua

compreensão, dos seus sentidos e de outras possíveis leituras.

Pillar (2011) caracteriza a leitura de imagens como:

Há uma construção de conhecimentos visuais. O olhar de cada um está

impregnado com experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias,

interpretações etc. O que se vê não é o dado real, mas aquilo que se consegue

captar e interpretar acerca do visto, o que nos é significativo. Desse modo,

podemos lançar diferentes olhares e fazer uma pluralidade de leituras do

mundo (PILLAR, 2011p. 10).

Contudo, são também as coisas que vivenciamos, experimentamos, tais como: os

lugares que estivemos, os livros que lemos, os filmes vimos, as músicas que ouvimos, o lugar

onde moramos, também aqueles que gostaríamos de estar que contribuem no processo do

desenvolvimento do olhar, da leitura de imagens.

4.

Quanto uso de fragmentos de filmes para auxiliar no entendimento dos conteúdos,

estimulando a crítica durante o processo de visualização de imagens, cabe ressaltar que muitos

são os filmes, brasileiros e estrangeiros, que professores podem utilizar em sala de aula, pois

há muitas temáticas que nos levam a refletir sobre assuntos como arte, literatura, sociedade

contemporânea, questões filosóficas e históricas, problemas sociais etc..

O cinema é uma manifestação artística que transmite som, imagem, história numa

imaginação infinita. Um meio de comunicação de massa, uma arte coletiva, concebida como

espetáculo que tem o poder de incitar à reflexão, imaginação. A utilização da sétima arte em

sala de aula deve e pode ser usado quando, aponta Fresquet (2005, p.56).

Fresquet (2005) nos diz que o cinema pode ajudar a despertar sentimentos, ativar a

curiosidade e, quem sabe, até mobilizando novas buscas e significação para a própria vida, quer

dizer o cinema pode ir muito além de proporcionar informação. O autor fala salienta ainda que

seres humanos sentem necessidade de se ler e reler o mundo em sua volta e, com o cinema, fica

fácil, pois a partir das diversas linguagens possibilitadas pelo cinema, amplia-se o acesso à

cultura e favorecendo reflexões acerca de questões filosóficas, históricas e sociais.

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Na mesma ala de defesa, do uso do cinema em sala de aula, Duarte (2002, p. 17), afirma

que ver filmes, é uma prática social tão importante do ponto de vista da formação cultural e

educacional das pessoas, quanto à leitura das obras literárias, filosóficas, sociológicas. E,

também, certamente, as aulas poderão ser mais atrativas e prazerosas com o uso do cinema.

Um exemplo, a ser citado, sobre o uso de fragmentos de filmes para ministrar um

conteúdo, seria sobre a artista, Tarsila do Amaral, pois o professor além de utilizar referenciais

teóricos e imagens das obras da artista, pode ainda utilizar o vídeo “Traçando Arte”. O vídeo

conta de um jeito especial e criativo a história da renomada pintora e desenhista brasileira.

Certamente, o uso do vídeo quebrará o ritmo da aula e contribuirá no desenvolvimento do

entendimento do conteúdo.

Portanto, professores podem usar filmes, documentários para auxiliar no entendimento

dos conteúdos, estimulando seus a alunos a análise, a reflexão, a crítica durante o processo de

visualização de imagens. Podem também proporcionar aos seus alunos visitas a exposições,

museus, através das novas tecnologias, da internet, basta apertar no “Enter” e um mundo de

imagens, informações estarão na sala de aula, porém, conforme nos diz Barbosa (2007, p. 34)

“O pensamento/linguagem presentacional das artes plásticas capta e processa a informação

através da imagem”, mas professores precisam estar capacitados para que junto com seus

alunos construam novas formas de pensar, refletir, criar, pois somente a observação não é

suficiente para o aprendizado da leitura e do julgamento de qualidade das produções artísticas.

Considerações finais

A sociedade é grande produtora de imagens, seja na moda, na comunicação, na indústria

cinematográfica. E como já falado acima, as imagens estão sempre querendo nos vender

produtos, ideologias, conceitos, comportamentos, ilusões. E, neste século, XXI, as imagens se

multiplicaram, estão na televisão, no computador, nas redes sociais, nos celulares etc.. Nós

falamos por imagens e isso nos convoca a pensar diferentemente o modo como às pessoas

pensam e produzem conhecimento.

Contudo, a leitura de imagens é uma fundamental para a compreensão e decodificação

desses signos tão difundidos na nossa vida cotidiana, conforme Ana Mae Barbosa:

A educação deveria prestar atenção ao discurso visual. Ensinar a

gramática visual e sua sintaxe através da arte e tornar as crianças

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conscientes da produção humana de alta qualidade é uma forma de

prepará-las para compreender e avaliar todo o tipo de imagem,

conscientizando-as de que estão aprendendo com estas imagens(

BARBOSA, 1998, p.17 ).

Interpretar, ler imagens é uma exigência da sociedade, a qual vivemos, tendo em vista

a grande quantidade de informações que nos são transmitidas por meio dessa linguagem.

Ensinar a gramática visual é conscientizar, preparar, crianças, seres humanos para ler, julgar

imagens. A imagem é homologa a linguagem, e como a linguagem é um processo cultural

precisa necessariamente ser aprendida/ensinada. A arte-educadora Ana Mae Barbosa em suas

pesquisas sobre o ensino de arte nas escolas, sempre defendeu o uso da gramática visual no

contexto escolar, ressaltando a importância da educação formal para a alfabetização visual

(BARBOSA, 1998).

O mundo das Artes Visuais é bastante abrangente e rico em conhecimentos, os

professores devem aprender a explorar esse universo, construir estratégias para disseminar

esses conhecimentos entre os principiantes, para que eles sejam capazes de analisa, refletir

criticamente sobre as imagens ou obra de arte. E, da mesma forma que os discursos verbais

estão carregados de ideologias os discursos visuais também.

A linguagem, tanto escrita como cinematográfica, serve para comunicar e para não

comunicar, conforme Orlandi (1990). “E, os sentidos muitas vezes não estão nas palavras elas

mesmas. Estão aquém e além delas”, (ORLANDI, 1990, p.27). Ela diz ainda: “diante de toda

plasticidade como analisar, interpretar a linguagem. Que escuta o analista deve proceder para

ouvir para lá das evidências e compreender, acolhendo, a opacidade da linguagem, a

determinação dos sentidos distribuídos”, (ORLANDI, 1999, p.36).

Deste modo, professores, antes de manipular fragmentos de filmes, como um apêndice

ou simples ilustração de suas aulas ou discussões, devem entender o filme dentro de alguns

parâmetros, tais como: a não transparência da linguagem, as posições de quem as formula e

daquelas a quem os discursos se destinam, além de onde e quando foi formulado, o não dito

que pode significar a ausência e que foi necessário e talvez principalmente, levar em

consideração a perspectiva de que, na formulação dos discursos, os indivíduos responsáveis

pela sua materialidade são sujeitos em formações discursivas e ideológicas, segundo Almeida

(2004).

Portanto, o professor precisa dar alguns passos, quando não saltos, para inovar seus

conhecimentos e proporcionar aos alunos uma visão mais crítica e não como nos fala Cristina

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Buzzo: “O professor vê o cinema como material didático em forma de imagens, confiando na

realidade aparente dos acontecimentos filmados; ou o filme ilustra aquilo que foi longamente

falado em sala de aula, ou permite ao professor suprimir sua fala”, (BUZZO, 1995, p.101).

Por fim, para que alunos sejam capazes de interpretar, decodificar, as imagens é

necessário que os professores estejam atentos e também capacitados para construção do

conhecimento com ajuda de imagens, sejam elas: imagens fílmicas, imagens estáticas etc.

Sendo a pesquisa imagética de extrema importância para a construção de um repertório visual

próprio, cabendo ao professor encaminhar a pesquisa estabelecendo parâmetros para que esta

se transforme em conhecimento.

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