A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de ... de Rosmaninho.pdf · Algarve, tendo sido...

6
A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de Rosmaninho em Portugal Miguel Maia Apismaia [email protected] O mel monofloral de rosmaninho (Lavandula stoechas) é economicamente valorizado e é normalmente obtido em algumas regiões de Portugal, tais como o Alentejo (Gomes Ferreras et al., 1990; Maia et al., 2005 a ), a Terra-Quente Transmontana (Maia et al., 2002; Russo e Paiva, 2001), na Beira Interior e Algarve (Aira et al., 1998). A produção de mel monofloral de rosmaninho tem uma maior expressão nas regiões do sul de Portugal (Alentejo e Algarve) onde se situa grande parte dos apicultores profissionais (> 500 colmeias) e comercializam este tipo de mel para França e Alemanha. Estas regiões são essencialmente caracterizadas por altitudes máximas de 300 metros e por matos do tipo Cisto- Lavanduletea Na mesma altura da floração do L. stoechas (Março Junho) surge a soagem (Echium plantagineum) (Março – Julho) que é uma espécie de interesse apícola (Branco, 2000). A esta condição não é alheio a identificação de ambas as espécies no espectro polínico de méis com origem em climas mediterrânicos, como Portugal, Espanha e Marrocos (Louveaux e Abed, 1984; Gomes Ferreras et al., 1994; Telleria e Devesa, 1995; Aira et al., 1998; Sanz et al., 2004; Maia et al., 2005 a ). Tal como o rosmaninho, também é possível obter méis monoflorais de soagem devido às suas significativas produções de 300 a 500 kg/ha de mel (Bocquet, 2001; Devesa Alcaraz, 1992). O mel monofloral de soagem não é tão valorizado economicamente como o de rosmaninho e, para mais, vulgarmente o Echium pode ser uma espécie secundária (16 - 45%) no espectro polinico o que possibilita mascarar a monofloridade da Lavandula (Bonvehí and Coll, 1993; Maia et al., 2005 a ). A relação polínica Echium / Lavandula deverá ser aprofundada de maneira as amostras de mel serem definidas como monoflorais ou multiflorais. Ao nível polínico, um mel é considerado monofloral de L. stoechas caso a sua frequência relativa (FR) seja superior a 15% (Von Der Ohe et al., 2004; Maia et al., 2005 a ), embora outras FR mínimas de L. stoechas, 8 a 12%, para obter um mel monofloral desta espécie (Bonvehí and Coll, 1993; Rodrigues et al., 2010; Ubera et al, 2010). Para se considerar um mel monofloral de Introdução soagem, alguns autores indicaram uma FR de pólen desta espécie superior a 45% (Devessa Alcaraz, 1995; Aira et al., 1998; Valencia-Barrera et al., 2000; Sanz et al., 2004). Porém, outros autores indicaram uma FR mínima de 70% (Ortiz e Fernandez, 1995; Maia et al., 2005 a ) e de 85% (Rodrigues et al., 2010) para se considerar mel monofloral de Echium. Quando a FR de L. stoechas é significativamente superior a 15% ou a FR de Echium é superior a 70%, a definição de um mel monofloral de uma destas espécies não apresenta dificuldade. No entanto, em análises polínicas de rotina, o problema surge quando simultaneamente a FR do tipo polinico echium é dominante (> 45%) e a FR da L. stoechas é secundária (16 – 45%). Neste caso, a dificuldade é saber em que medida determinadas FR de pólen de Echium podem influenciar a monofloridade do mel de Lavandula. Bonvehí e Coll, (1993) não foram alheios a esta situação e consideraram que um mel monofloral de L. stoechas pode ser caracterizado por uma FR superior a 10% mas o Echium não pode ultrapassar os 30%. A nível quantitativo, os méis de Lavandula pertencem com mais frequência às classes I a III de Maurizio (Gomes Ferreras et al., 1990; Bonvehí e Coll, 1993; Aira et al., 1998; Ubera et al., 2010) enquanto os méis de soagem vulgarmente são incluindo nas classes II a IV de Maurizio (Bonvehí e Coll, 1993; Aira et al, 1998; Rodrigues et al., 2010) o que reforça a sobre-representatividade do Echium no espectro polinico (Von Der Ohe et al., 2004).

Transcript of A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de ... de Rosmaninho.pdf · Algarve, tendo sido...

Page 1: A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de ... de Rosmaninho.pdf · Algarve, tendo sido obtidas através de apicultores profissionais que embalam o mel em bidons. Foram analisadas

A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de Rosmaninho em Portugal

Miguel MaiaApismaia

[email protected]

O mel monofloral de rosmaninho (Lavandula stoechas) é economicamente valorizado e é normalmente obtido em algumas regiões de Portugal, tais como o Alentejo (Gomes Ferreras et al., 1990; Maia et al., 2005a), a Terra-Quente Transmontana (Maia et al., 2002; Russo e Paiva, 2001), na Beira Interior e Algarve (Aira et al., 1998). A produção de mel monofloral de rosmaninho tem uma maior expressão nas regiões do sul de Portugal (Alentejo e Algarve) onde se situa grande parte dos apicultores profissionais (> 500 colmeias) e comercializam este tipo de mel para França e Alemanha. Estas regiões são essencialmente caracterizadas por altitudes máximas de 300 metros e por matos do tipo Cisto-Lavanduletea

Na mesma altura da floração do L. stoechas (Março – Junho) surge a soagem (Echium plantagineum) (Março – Julho) que é uma espécie de interesse apícola (Branco, 2000). A esta condição não é alheio a identificação de ambas as espécies no espectro polínico de méis com origem em climas mediterrânicos, como Portugal, Espanha e Marrocos (Louveaux e Abed, 1984; Gomes Ferreras et al., 1994; Telleria e Devesa, 1995; Aira et al., 1998; Sanz et al., 2004; Maia et al., 2005a). Tal como o rosmaninho, também é possível obter méis monoflorais de soagem devido às suas significativas produções de 300 a 500 kg/ha de mel (Bocquet, 2001; Devesa Alcaraz, 1992). O mel monofloral de soagem não é tão valorizado economicamente como o de rosmaninho e, para mais, vulgarmente o Echium pode ser uma espécie secundária (16 - 45%) no espectro polinico o que possibilita mascarar a monofloridade da Lavandula (Bonvehí and Coll, 1993; Maia et al., 2005a).

A relação polínica Echium / Lavandula deverá ser aprofundada de maneira as amostras de mel serem definidas como monoflorais ou multiflorais. Ao nível polínico, um mel é considerado monofloral de L. stoechas caso a sua frequência relativa (FR) seja superior a 15% (Von Der Ohe et al., 2004; Maia et al., 2005a), embora outras FR mínimas de L. stoechas, 8 a 12%, para obter um mel monofloral desta espécie (Bonvehí and Coll, 1993; Rodrigues et al., 2010; Ubera et al, 2010). Para se considerar um mel monofloral de

Introdução

soagem, alguns autores indicaram uma FR de pólen desta espécie superior a 45% (Devessa Alcaraz, 1995; Aira et al., 1998; Valencia-Barrera et al., 2000; Sanz et al., 2004). Porém, outros autores indicaram uma FR mínima de 70% (Ortiz e Fernandez, 1995; Maia et al., 2005a) e de 85% (Rodrigues et al., 2010) para se considerar mel monofloral de Echium. Quando a FR de L. stoechas é significativamente superior a 15% ou a FR de Echium é superior a 70%, a definição de um mel monofloral de uma destas espécies não apresenta dificuldade. No entanto, em análises polínicas de rotina, o problema surge quando simultaneamente a FR do tipo polinico echium é dominante (> 45%) e a FR da L. stoechas é secundária (16 – 45%). Neste caso, a dificuldade é saber em que medida determinadas FR de pólen de Echium podem influenciar a monofloridade do mel de Lavandula. Bonvehí e Coll, (1993) não foram alheios a esta situação e consideraram que um mel monofloral de L. stoechas pode ser caracterizado por uma FR superior a 10% mas o Echium não pode ultrapassar os 30%. A nível quantitativo, os méis de Lavandula pertencem com mais frequência às classes I a III de Maurizio (Gomes Ferreras et al., 1990; Bonvehí e Coll, 1993; Aira et al., 1998; Ubera et al., 2010) enquanto os méis de soagem vulgarmente são incluindo nas classes II a IV de Maurizio (Bonvehí e Coll, 1993; Aira et al, 1998; Rodrigues et al., 2010) o que reforça a sobre-representatividade do Echium no espectro polinico (Von Der Ohe et al., 2004).

Page 2: A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de ... de Rosmaninho.pdf · Algarve, tendo sido obtidas através de apicultores profissionais que embalam o mel em bidons. Foram analisadas

Mel de Rosmaninho

É nosso intuito tentar compreender qual a influencia do néctar de Echium sobre os possíveis méis monoflorais de L. stoechas. Além de haver a preocupação de definir um mel monofloral com FR polínicas mínimas também é importante verificar qual a influência que outras espécies podem contribuir para a continuidade, ou não, da monofloridade de um mel.

Metodologias

As amostras têm origem da região do Alentejo e Algarve, tendo sido obtidas através de apicultores profissionais que embalam o mel em bidons. Foram analisadas 33 amostras de mel que foram produzidas e recolhidas no ano de 2010. Foram escolhidas 16 amostras de consideradas monoflorais de L. stoechas e 7 amostras monoflorais de Echium e 9 amostras de mel multifloral. Nas amostras de méis multiflora foram consideradas aquelas em que o Echium > 45% mesmo que a Lavandula apresente uma FR > 15%. As amostras foram analisadas por acetólise (Von Der Ohe et al., 2004) e foram identificados e contados pelo menos 500 grãos de pólen por amostra. Os grãos de pólen foram identificados como tipos polínicos de acordo com Váldes et al.(1987). Os taxons das plantas poliníferas (Acacia, Chenopodium, Cistus, Olea, Papaver, Pistacia, Plantago, Pinus, Quercus and Rumex) foram excluídas e a FR das amostras foi recalculada para determinar a nível polínico a origem botânica da amostra (dados não apresentados neste trabalho).

A análise melissopanológica das 33 amostras apresentou um espectro tipicamente mediterrâneo. A média dos tipos polínicos foi de 20±4 (SD) com um máximo de 31 e um mínimo de 13 por amostra. Os tipos polinicos Cistaceae (Cistus ladanifer, Cistus monspeliensis), Lavandula stoechas e Echium plantagineum foram identificados em 100 % das amostras (gráfico 1). No espectro polinico das 33 amostras, algumas famílias botânicas e/ou tipos polinicos apresentaram a sua regularidade e a sua importância para a indicação da origem geográfica, tais como as Astereceae (Calendula arvensis, Crepis capillaris e Senecio vulgaris); Rapnhanus raphanistrum, Campanula spp., Cytisus scoparius, Trifolium arvense, Crataegus monogyna, Eucalyptus spp. (gráfico 1).

Resultados e Discussão

Gráfico 1 - Indicação dos principais tipos polínicos (em percentagem) em 33 amostras

Page 3: A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de ... de Rosmaninho.pdf · Algarve, tendo sido obtidas através de apicultores profissionais que embalam o mel em bidons. Foram analisadas

Mel de Rosmaninho

Tabela 1. Percentagens de tipos polinicos em 33 amostras. (*) Familia (**) a FR a 0 indicam percentagens inferiores a 1

Foram identificados tipos polinicos poliníferos Cistus, Olea, Quercus, Plantago que são típicos de climas mediterrânicos. Nas 33 amostras verificamos a baixa representatividade de alguns tipos polinicos como é o caso de Erica spp. e de Castanea sativa que são comuns em méis de montanha. Estes resultados estão de acordo com outros estudos do espectro polínico do mel de regiões relacionados com o sul da Peninsula Ibérica (Gomes Ferreras et al., 1990; Fernández et al., 1992; Ortiz e Fernández, 1995; Viera e Branco, 1996; Maia et al., 2005a). Para o tipo polinico Echium plantagineum obtivemos FR que variaram de 1 a 84% e para a L. stoechas obtivemos FR que variaram de 2 a 42% (tabela 1), embora estas FR sejam superiores quando são retiradas os taxons poliníferos. As elevadas FR de Echium planatgineum são comuns nos espectros polínicos nos méis com

origem no sul da Península Ibérica (Fernández et al., 1992; Bonvehí e Coll, 1993; Ortiz e Fernández, 1995; Maia et al., 2005a). Alguns autores também verificaram que valores significativos da FR do echium estão relacionados com mel de melada (Mateo and Bosch-Reig, 1998; Serra Bonheví et al., 1987; Sanz et al., 2004). Este facto poderá não ser estranho na região do Alentejo visto que os “montados” apresentam extensas áreas de Quercus suber e Echium em consociação, embora esta associação no espectro polínico dos méis dependa muito da data da cresta e de factores climáticos. As FR de outros tipos polinicos também apresentaram valores importantes, tais como a da Calendula arvensis (21%) e do Helianthus annus (19%) que podem interferir nas características químicas e sensoriais da monofloridade do mel de L. stoechas.

Page 4: A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de ... de Rosmaninho.pdf · Algarve, tendo sido obtidas através de apicultores profissionais que embalam o mel em bidons. Foram analisadas

Mel de Rosmaninho

Uma das grandes questões na melissopanologia é definir qual a FR mínima de um tipo polinico para definir um mel monofloral de respectiva espécie. Geralmente, a L. stoechas é considerada um pólen subrepresentado no mel, sendo necessário 10 – 15% desta espécie para se considerar um mel monofloral de rosmaninho. Porém, a bibliografia é contraditória para definir méis monoflorais Echium plantagineum ao nível polinico, desde uma FR mínima de 45% (Devessa Alcaraz, 1995; Aira et al., 1998; Valencia-Barrera et al., 2000; Sanz et al., 2004) até 85% (Rodrigues et al., 2010), passando por 70% (Ortiz e Fernandez, 1995; Maia et al., 2005a). O pólen de echium normalmente é sobrerepresentado e, esta condição, pode ser explicada pelas contaminações polinicas desde a floração até ao apicultor. As produções de néctar são bastante dependentes de factores abióticos (temperatura, humidade, luminosidade, etc) que condicionam a concentração do néctar e do número de visitas da abelha. Corbet and Delfosse, (1984) verificaram que o E. plantagineum pode ser visitado pelas abelhas com diferentes interesses conforme a concentração de néctar: se a concentração dos solutos no néctar fosse superior a 40% as abelhas recolhiam néctar, se a concentração fosse inferior a 35% as abelhas recolhiam pólen. A biologia da abelha também pode ser uma variável que pode contribuir para que o pólen de Echium seja sobre-representado no mel.

O aparelho digestivo das abelhas, nomeadamente o proventrículo, selecciona os grãos de pólen. Nesta selecção, a morfologia do pólen tem a sua importância e o pólen de E. plantagineum apresenta uma exina lisa e de pequenas dimensões, o que faz com que este grão de pólen seja pouco retido no proventrículo da abelha e surja facilmente no néctar que a abelha regurgita (Ricardelli d’Albore, 1992). A procura de pólen está relacionada com as necessidades em proteína para alimentar a criação. Em alguns estudos é referido uma significativa entrada de pólen de echium na colmeia (Branco, 2000; Nansem e Holst, 2002) o que poderá provocar a contaminação do mel por grãos de pólen que foram transportados para o interior da colmeia e transformados em “pão-de-abelha” com intuito de alimentar a criação (Ricardelli d’Albore, 1992).

Fernandéz and Ortiz, (1994) verificaram que um crescimento da criação determina o aumento da procura de pólen e, consequentemente o mel que é produzido durante os períodos de aumento da criação são ricos em pólen. Na região do Alentejo, o mês de Maio é aquele onde a criação e a recolha de pólen atinge os valores máximos, e o pólen de echium plantagineum tem a sua importância (Viera e Branco, 1996). Neste trabalho verificamos uma correlação negativa no mel entre o tipo polínico Echium e os Cistus que é uma espécie polínifera de referência do sul de Portugal (gráfico 2). Embora parte da floração dos Cistus spp. sejam em simultâneo com o Echium e em determinadas regiões geográficas os Cistus são dominantes como espécies políniferas, este resultado pode indicar que os Echium spp. podem ser uma importante espécie de recurso proteico em consiação, ou não, com a família das Cistaceae.

O maneio do apicultor também pode influenciar as FR dos tipos polinicos no mel. No Alentejo os apicultores utilizam vulgarmente o modelo de colmeia Reversível (Maia et al., 2005b). Esta colmeia vertical permite que os quadros do ninho possam ser trocados pelos quadros das alças. Se os quadros do ninho forem ricos em pólen (pão-de-abelha) de echium, este facilmente poderá contaminar os alvéolos abertos com mel (Fernandez and Ortiz, 1994). Também verificamos que em alguns estudos não existe uma concordância na fixação de uma FR para alguns méis serem considerados monoflorais. Por exemplo, Gomez-Ferreras (1990) considera uma FR de 70% suficiente para ser considerado mel monofloral de Castanea sativa quando vulgarmente é indicado a FR mínima de 90%. Von Der Ohe et al., (2004) também indicam algumas amplitudes de valores de FR para determinados méis monoflorais.

Gráfico 2 - Relação entre o Echium e Cistaceae

Page 5: A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de ... de Rosmaninho.pdf · Algarve, tendo sido obtidas através de apicultores profissionais que embalam o mel em bidons. Foram analisadas

Mel de Rosmaninho

— BOIÕES - TODAS AS CAPACIDADES,— TAMPAS DE PLÁSTICOS,— CAIXAS DE CARTÃO.

Rua do Açucar, 27 • 1900 LISBOA • PORTUGALTELF.: 218 681 093 - 218 682 417 - 218 682 776 • Fax: 218 686 787

É de nossa opinião, que as amostras com uma FR superior a 70% de Echium sejam consideradas monoflorais de soagem. Porém, caso as amostras sejam acompanhadas com uma FR superior a 15 a 30% de Lavandula stoechas, deverão ser consideradas multiflorais. Quando a FR de soagem seja inferior a 60 a 70% e as FR de L. stoechas seja superior a 15% é bem provável que estamos em presença de um mel monofloral de rosmaninho, a nível polínico.

Como é compreensível, a origem botânica de uma amostra só é confirmada quando simultaneamente são realizadas análises físico-químicas. No entanto, é de todo o interesse aprofundar o estudo químico de amostras onde a “fronteira” do que é monofloral / multifloral em amostras com significativas percentagens de rosmaninho e soagem. Por exemplo, os méis de Echium podem apresentar uma condutividade eléctrica média superior ao mel de Lavandula (Serra-Bonvehí et al., 1987; Mateo e Bosch-Reig, 1998), em que este facto pode ser explicado com a procura simultânea de meladas. Bonvehí and Coll, (1993) também indicam que os parâmetros de condutividade eléctrica e índice diastásico são superiores para os méis de soagem. Em relação aos açúcares, os méis monoflorais de Echium apresentam uma elevada relação F/G e uma baixa percentagem de sacarose (Bonvehí and Coll, 1993; Sanz et al., 2004) enquanto os méis de rosmaninho poderão ter uma elevada sacarose aparente (Russo-Almeida, 1997).

Em termos sensoriais o mel de soagem é caracterizado por não ser muito aromático e possuir um leve gosto salgado (Aira et al., 1998) com uma baixa – média persistência e uma fina cristalização (Valencia- Barrera et al., 2000; Rodrigues et al., 2010) enquanto os méis de L. stoechas podem ser caracterizados por um leve cheiro a lavandula e um gosto aromático de média duração (Aira et al., 1998). A cor destas duas monofloridades pode variar de clara a âmbar e as amplitudes das cores do mel são muito semelhantes em ambas as monofloridades (Bonvehí e Coll, 1993; Aira et al., 1998; Rodrigues et al., 2010; Ubera et al, 2010). Dias et al., (2008) através da língua electrónica distinguiram méis monoflorais de soagem e de rosmaninho, sendo indicada uma FR de 78% para indicar mel monofloral de soagem e 56% para o mel monofloral de roamaninho. Costa-Silva et al., (2011) em méis portugueses indicaram que os méis de Echium possuem uma maior concentração média de selénio relativamente aos méis de Lavandula. Paralelamente, os méis de soagem podem conter alcalóides pirrólicos, porém a quantidade de alcalóides não é proporcional à sua FR (Kempf et al., 2010).

Existem poucos estudos de análises sensoriais e físico-químicas sobre o mel monofloral de soagem, provavelmente em consequência deste mel ser pouco valorizado no mercado. No entanto, é de todo o interesse o seu estudo mesmo para ajudar a discriminar os méis moinoflorais de rosmaninho. Para mais, a definição de méis monoflorais de Echium spp. pode ter interesse na perspectiva da sua acção microbiológica (Allen et al., 1991).

Bibliografia

Aira, M. J.; Horn, H. and Seijo, M. C., 1998. Palynological analysis of honeys from Portugal. Jour. Apicultural Research 37 (4): 247 – 254.

Bocquet, M. 2001. La miel de Vipérine. Nature et composition, principales caractéristiques organoleptiques. Bull. Tech. Apic. 28 (2): 97-98.

Page 6: A Importância da Soagem na Monofloridade do Mel de ... de Rosmaninho.pdf · Algarve, tendo sido obtidas através de apicultores profissionais que embalam o mel em bidons. Foram analisadas

Mel de Rosmaninho

Bonheví, J. e Coll, V., 1993. Physico-chemical properities, composition and pollen spectrum of French lavender (Lavandula stoechas L.) honey produced in Spain. Z. Lebensm Unters Farsch, 196: 511-517.

Branco, M. R., 2000. A apicultura nos ecossistemas florestais mediterrânicos. Silva Lusitana. 8 (1): 75- 89.

Corbet, S. A. and Delfosse, E., 1984. Honeybees and the nectar of Echium plantagineum L. in south-eastern Australia. Australian Journal of Ecology 9: 125-139.

Costa-Silva, F., Maia, M., Matos, C. C., Calçada, E., Barros, A.; Nunes, F. M., 2011. Selenium content of Portuguese unifloral honeys J. Food Compos. Anal.Vol. 24 (3): 351-355

Devesa Alcaraz, J.A., 1995. Flora apícola, su interés y productos derivados: miel e polen. In: Actas de las Jornadas técnicas sobre obtencion de productos ganaderos naturales en el ecosistema de la Dehesa. Badajoz, pp. 151-161.

Dias, L. A., Peres, M. A, Vilas-Boas, M., Maria A. Rocha, M. A., Estevinho, L., Machado, A: S:C:, 2008. An electronic tongue for honey classification Microchim Acta (2008) 163: 97–102

Fernandez, I. and Ortiz, P. L., 1994. Pollen contamination of honey by bees inside hives. Grana 33: 282 – 285.

Fernandez, I. Cacao, M. M. and Ortiz, P. L., 1992. Contribución al conocimiento melitopalinológico de Sierra Morena. Lazaroa 13: 41-48.

Gomez Ferreras, C., Paiva, J., Leitão, M.T., 1994. Espectro polinico de mieles del Baixo Alentejo I, Region de Almodovar (Portugal). In Polen e Esporas: Contribucion a su conocimiento, VIII Simposio de Palinologia (A.P.L.E.), Tenerife, pp. 253-258.

Kempf, M. Reinhard, A. and Beuerle, T. 2010. Pyrrolizidine alkaloids (PAs) in honey and pollen-legal regulation of PA levels in food and animal feed required. Mol. Nutr. Food Res. 54: 158–168.

Louveaux , J. and Abed, L., 1984. Les miels d’afrique du nord et leur spectre pollinique. Apidologie 15 (2): 145-170.

Maia, M., Russo-Almeida, P. and Pereira, J. O. B., 2002. Pollen spectra of honeys from archaeological Park of Fôz Côa (Portugal). Rev. Portuguesa de Zootecina IX (1): 79 – 89. (avaiable in: http://amigosdechas.no.sapo.pt/FLORA/Flora.pdf)

Maia, M., Russo-Almeida, P. and Pereira, J. O. B., 2005a. Caracterização do Espectro Polínico dos Méis do Alentejo (Portugal), Silva Lusitana 13 (1): 95-103. (avaiable in: http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/slu/v13n1/v13n1a05.pdf)

Maia, M.; Pereira, O.; Pires, S.; Murilhas, A., 2005b. Beekeeping in Portugal. An updated overview

focused on coping with Varroa. 39th Apimondia International Apicultural Congress, pp.172. Dublin, Irlanda.

Mateo, R. and Bosch-Reig, F., 1998. Classification of Spanish unifloral honeys by discriminant analysis of electrical conductivity, color, water content, sugars and pH. J. Agric. Food Chem. 46: 393-400.

Nansen, C. e Holst, N., 2002. Dynamics of short-term variation in pollen foraging by honey bees. Portugaliae Acta Biol. 20: 249 – 264.

Ortiz, P. L. and Fernández, I., 1995. Contribucíon al conocimiento melitopalinológico de Huelva e Sevilla. Acta Botanica Malacitana, 20: 97-105.

Ricardelli d’Albore, G., 1992. Considerazion e problemi inerenti alle analisi del miele in Italia com particolare riferimento alla melissopalinologia. L’Ape Nostra Amica (Set.-Out.): 5-7.

Rodríguez, I., Serrano, S., Jodral, M., Galán, H., Ubera, J. L., Vicente, M and Carmona, R. 2010. Characterization of Sierra Morena (south Spain) Echium honey. Journal of ApiProduct and ApiMedical Science 2 (3): 125.

Russo-Almeida, P., 1997. Mel da Terra Quente transmontana. Caracterização de alguns parâmetros químicos do mel da Terra Quente transmontana. O’Apicultor; 5: 16, 29-35.

Sanz, M. L., M González, M., Lorenzo, C., Sanz, J. and Martínez-Castro, I., 2004. Carbohydrate composition and physic chemical properties of artisanal honeys from Madrid (Spain): occurrence of Echium sp honey. J Sci Food Agric 84:1577–1584.

Serra Bonvehí, J.; Gómez Pajuelo, A.; Galindo, J. G., 1987. Composición, propiedades físico-químicas y espectro polinico de algunas mieles monoflorales de España. Alimentaria, 185: 61-84.

Telleria , M. C. and Devesa, J. A., 1995. Contribución al estudio de las mieles de extremadura (España). Acta Botanica Malacitana, 20: 107-113

Ubera, J. L.; Granados, C.; Royo, M.; Rodriguez, I.; Serrano, S.; Jodral, M. and Galán, H., 2010. Spanish lavander (Lavandula stoechas) honey features in south Spain. Journal of Apiproduct and Apimedical Science 2 (3): 125.

Valdés, B., Diez, M.J., Fernandez, I., 1987. Atlas polinico de Andalucia Occidental. Instituto de Desarrolo Regional Nº 43. Universidad de Sevilla. EXCMA Diputation de Cadiz, 450 pp.

Valencia-Barrera, R.S., Herrero, B., Molnár, T., 2000. Pollen and organoleptic analysis of honeys in León province (Spain). Grana 39: 133-140.

Viera, G. and Branco, M., 1996. Caracterização e potencialidades da produção apícola na região. Silva Lusitana, Nº especial: 117 – 142.

Von Der Ohe W, Oddo L P, Piana M L, Morlot M, Martin P., 2004. Harmonized methods of melissopalynology. Apidologie 35: S18.