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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Geografia Grupo de Pesquisa em Inovação, Tecnologia e Território A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes científicas na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS). Allison Bezerra Oliveira Orientadora: Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandes Recife 2014

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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em Geografia

Grupo de Pesquisa em Inovação, Tecnologia e Território

A importância do espaço geográfico na construção e

funcionamento de redes científicas na área de farmácia

em Pernambuco fomentadas pela Política Nacional de

Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS).

Allison Bezerra Oliveira

Orientadora: Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandes

Recife

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS – CFCH

DEPARTAMENTO DE CIENCIAS GEOGRAFICAS – DCG

PROGRAMA DE POS-GRADUÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGEO

A importância do espaço geográfico na construção e

funcionamento de redes científicas na área de farmácia

em Pernambuco fomentadas pela Política Nacional de

Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS).

Tese de doutorado apresentada como requisito

parcial para obtenção do título de Doutor em

Geografia junto ao programa de pós-graduação em

geografia da Universidade Federal de Pernambuco.

Allison Bezerra Oliveira

Orientadora: Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandes

Recife

2014

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Catalogação na fonte

Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567

O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento

de redes científicas na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS) / Allison Bezerra Oliveira. – Recife: O autor, 2014.

346 f. : il. ; 30 cm. Orientadora: Profª. Drª. Ana Cristina de Almeida Fernandes. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH. Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2014. Inclui referências e apêndices.

1. Geografia. 2. Espaço Geográfico. 3. Redes científicas. 4. PNCTIS. 5. Fármacia – Pernambuco I. Ana Cristina de Almeida Fernandes (Orientadora). II. Título.

910 CDD (23.ed.) UFPE (BCFCH2014-50)

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ALLISON BEZERRA OLIVEIRA

A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes científicas na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS).

Tese defendida e APROVADA pela banca examinadora

Orientadora:____________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandades - PPGEO/UFPE

2º Examinador: _________________________________________________________

Prof. Dr. Bertrand Roger Guillaume Cozic - PPGEO/UFPE

3º Examinador: _________________________________________________________

Prof. Dr. Raimundo Nonato Macedo dos Santos - PPGCI/UFPE

4º Examinador: _________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Eugênio Pereira Carvalho - UFCG

4º Examinador: _________________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Aurélio Dornelas da Silva - ITEP

Recife

2014

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Para minha mãe Gilza Bezerra, meu pai Felix Oliveira (sempre lembrado)

Minha avó Dona Nita, meus irmãos (Mabson e Juliana)

e minha Alice. Por tudo. Por serem tudo.

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“Demore o tempo que for para você ver o que você quer

da vida, e depois que decidir, não recue ante nenhum

pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir”

(Zaratrusta)

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MINHA GRATIDÃO

Agradecer é um ato de reconhecimento. Faço-o com a mesma satisfação

com que realizei esta pesquisa. Certamente outras pessoas que contribuiram para a

sua realização e para a manutenção de minha saúde emocional durante este período

de doutorado não são mencionadas. Para elas, peço-lhes compreensão pelo lapso de

uma memória tão congestionada. A todos tenham a certeza de meu mais profundo

agradecimento.

A Deus, pela fé que teima em divergir da racionalidade científica, mas que

sempre esteve presente nos momentos de prosperidade e de frustração.

A professora Ana Cristina de Almeida Fernandes a quem tive o privilégio de

ter como orientadora e incentivadora desde o mestrado até aqui no doutorado. Que

compreendeu e amparou minhas dificuldades, e mais que tudo, ofereceu um belo

exemplo de dignidade, competência e respeito, que admiro bastante. Aprendi muito

com a Senhora.

A minha mãe, minha avó e meus irmãos pelo amor incondicional e

constante apoio. Amo vocês.

A minha Alice, pelo amor, carinho, respeito, incentivo e paciência. Amo

você.

Ao professor Jan Bitoun, exemplo de pessoa e de geógrafo, sempre solícito

e altruísta às necessidades dos estudantes. Não me esqueço de sas palavras ao dizer

que “as crises intelectuais fazem parte da formação do pesquisador”.

Ao professor Breno Fontes, sociólogo, importante nome na pesquisa das

redes sociais, por sempre destinar um tempo para conversarmos sobre meus

questionamentos e pela disciplina de “redes, sociabilidade e poder local” que me foi

extremamente útil na construção deste trabalho.

Ao professor Bertrand Cozic pelas contribuições cotidianas no GRITT, pelas

palavras de incentivo e importantes considerações na qualificação e na defesa do

doutorado. A forma com que você expõe suas considerações não só ajudam mas,

incentivam o espírito do pesquisador.

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Ao professor Raimundo Santos, do departamento de Ciências da

Informação por prontamente me ajudar com meus dados, por suas valorosas palavras

na banca de qualificação e na defesa de doutorado.

Ao amigo e membro da banca, sociólogo Marcos Dornelas, por ter me

apresentado as redes sociais, ao Ucinet, por ter dedicado parte do seu tempo me

ajudando com uma série de questões metodológicas. Obrigado meu caro, suas ajudas

se estendem desde o mestrado, sem elas não poderia ter realizado este trabalho.

Ao amigo e membro da banca Luis Eugênio pelas conversas, pela amizade e

pelas considerações sobre a tese, e pelo apontamento sobre as redes ainda no início

desta pesquisa.

A professora Suely Galdino (In memoriam) por ser um exemplo de

incentivo a pesquisa científica no Brasil. Foi uma grande oportunidade conhecê-la

pessoalmente e tê-la como professora no PPGIT.

Ao professor e amigo Milton Farias de Belém - PA, que ouviu minhas

reclamações e me incentivou, além de me ajudar com a revisão da literatura sobre

redes.

A Universidade Federal de Pernambuco e o programa de Pós Graduação

em Geografia da mesma instituição, onde fiz mestrado e doutorado, pela formação

intelectual e profissional. Espero não me distânciar desta casa.

A Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco

FACEPE, pela bolsa concedida de Doutorado sem a qual não poderia ter realizado esta

pesquisa.

A Olga Lima que gentilmente se dispôs a me ajudar intermediando

entrevistas com gestores do campo da saúde.

Aos professores da área de farmácia que destinaram uma parte do seu

tempo tão prontamente para responderem aos meus questionários.

Ao Sr. Reinaldo Guimaráes pela gentileza em responder ao questionário

sobre a construção da PNCTIS.

Ao amigo Vladimir Homobono Soares, torcedor fanático do Remo, filho de

pais maravilhosos (Sr. Ariosvaldo e Dona Kátia), um irmão que escolhi, pela constante

amizade, parceria, incentivo e partilha de bons momentos.

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Ao amigo José Geraldo Pimentel Neto, torcedor do time com camisa de

abadá, que tenho como irmão, que sempre esteve disposto a me ajudar sem pedir

nada em troca, uma das pessoas mais parecidas comigo que já encontrei na vida, até

nos pensamentos mais absurdos.

Ao amigo Lywistone Galdino, amigo de todas as horas, obrigado pela

contribuição com os mapas, pelos bons momentos, pela amizade e pelas constantes

ajudas. Pelas noites sem sucesso tentando zerar bomberman. Lhe considero muito

cabra.

Ao amigo Paulo Baqueiro Brandão, torcedor fanático do Bahia, e uma das

pessoas mais humanas e gentis que tive o prazer de conhecer. Obrigado pela ajuda e

apoio emocional no meu concurso para professor. E vá tomar sua sopa bem longe de

mim.

Ao amigo Felipe de Castro, pelos valorosos e memoráveis momentos em

Recife, da formação mandala ao kovacic. És um aristocrata nato meu caro.

Ao amigo de longa data José Alenca(dinho), pessoa humana, solícita e

exímio dançarino de forró.

Ao amigo objetivo e direto Willian Magalhães Alcântara. Saudades de

nossas conversas sobre cinema meu caro.

A amiga Natália Raposo, minha conterrânea, pela ajuda com a revisão

ortográfica, e mais importante: pelas conversas, pelo compartilhamento de aflições,

pela torcida e pela empatia.

A amiga Priscila Félix, pela ajuda com o sumário da tese, e o principal: pelas

conversas sempre bem humoradas, pela torcida e o compartilhamento das angústias

do doutorado e da vida.

Para Octavie Paris pela enorme simpatia e empatia. Pelas conversas e

desabafos, pela amizade, pelos constantes incentivos.

A Kleython Monteiro, maior comunista que conheço, pelas anedotas na

internet, os papos sempre engraçados, as partidas de MMA e as idas ao cinema.

A Daniel Lira que me fez contrabandear semestralmente guaraná Jesus do

Maranhão durante seis anos para ele, pessoa solítica e amiga, altruísta em torcer para

a vitória dos demais.

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A Luciana Cruz, pela companhia nas idas ao cinema, pelos papos

engraçados.

Keilha Silveira, pelo jantar de despedida, pelo carinho e consideração. Será

beatificada por tolerar Geraldo, mulher!

Jonas Souza, obrigado pela ajuda com os gráficos camarada.

Aos amigos de muitos anos maranhenses, que sempre se constituíram

verdadeira família e sempre se felicitaram com minhas conquistas.

As minhas tutoras no curso do IFPE (Larissa Trigueiros, Juliana Andrade,

Rosileide Fontenele, Janaína Assis, Admares Marques) por um ambiente de trabalho

sempre profícuo e harmonioso.

A cidade do Recife, a quem tenho como minha segunda casa, e uma fonte

de repouso e inspiração.

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LISTA DE SIGLAS

ANPPS - Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde

ANS - Agência Nacional de Saúde

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ARS - Análise de Redes Sociais

ATS - Atenção de Tecnologias em Saúde

BNDS - Banco Nacional de Desenvolvimento Social

C&T&I - Ciência, Tecnologia e Inovação

C&T&I&S - Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

CISAM - Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros

CNCTIS - Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CNS - Conferências Nacionais de Saúde

CPqAM - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

DECIT - Departamento de Ciência e Tecnologia

FACEPE - Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco

FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos estratégicos

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

FUNDAJ - Fundação Joaquim Nabuco

HEMOBRAS – Empresa Brasileira de Hemoderivados

HEMOPE - Hemocentro de Pernambuco

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ICTI - Institutos de Ciência, Tecnologia e Inovação

IMIP - Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira

INAHTA - International Network of Agencies for Health Technology Assessment

INCT_IF - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inovação Farmacêutica

INCTI - Programa Institutos Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação

INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial

ISI - Institute for Scientific Information

ITEP - Instituto de Tecnologia de Pernambuco

LAFEPE - Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco

LIKA - Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami

MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

ME - Ministério da Educação

MS - Ministério da Saúde

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PACTI - Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação

PDP - Política de Desenvolvimento Produtivo

PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

PNB - Política Nacional de Biotecnologia

PNCTI - Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

PNCTIS – Política Nacional de Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde

PNPMF - Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

PPSUS - Programa Pesquisa para o Sistema Único de Saúde

PROÁFRICA - Apoio Financeiro para Atividades de Cooperação Internacional para a

Formação de Redes de Pesquisa com o Continente Africano

PROFARMA - Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva

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PROSUL - Fomento a cooperação internacional bilateral em rede para a América Latina

PUC-RS - Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul

RBPC - Rede Brasileira de Pesquisa sobre o Câncer

REBRATS - Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde

REDEGENOPORT - Rede de apoio a projetos de pesquisa em Genômica e Proteômica

REDEMA - Rede de Pesquisa sobre a Malária

RMR - Região Metropolitana de Recife

RNPCHE - Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Hospitais de Ensino

RNTC - Rede Nacional de Terapia Celular

RPMMDDCIPN - Rede de Pesquisa em Métodos Moleculares para Diagnóstico de

Doenças Cardiovasculares, Infecciosas, Parasitárias e Neurodegenerativas

SciELO - ScientificElectronic Library Online

SCTIE - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da

Saúde

SIAFI - Ministério da Saúde, Sistema Integrado de Administração Financeira do

Governo Federal

SIBRATEC - Sistema Brasileiro de Tecnologia

SIMEPE - Sindicato de Médicos de Pernambuco

SNCTI - Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

SUS - Sistema Único de Saúde

TIC - Tecnologia da Informação, Processamento e Comunicação

UERJ - Universidade do Rio de Janeiro

UFAL - Universiade Federal de Alagoas

UFC - Universidade Federal do Ceará

UFOP - Universidade de Ouro Preto

UFPB - Universidade Federal da Paraíba

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

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UFPI - Universidade Federal do Piauí

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

UFRS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

UFSCar - Universidade de São Carlos

UNB - Universidade de Brasília

UNICAMP - Universidade de Campinas

UNICAP - Universidade Católica de Pernambuco

UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo

UPE - Universidade de Pernambuco

USP - Universidade de São Paulo

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LISTA DE FIGURAS

Figura nº 1: Um emissor para vários receptores passivos .......................................................... 89

Figura nº 2: Emissor / Receptor: ponto a ponto ......................................................................... 89

Figura nº 3: Vários emissores e receptores ativos na mesma rede ............................................ 90

Figura nº 4: Informação, conhecimento e inovação ................................................................. 124

Figura nº 5: Cadeia de valor na área da saúde .......................................................................... 168

Figura nº 6: Principais acontecimentos na criação da PNCTIS .................................................. 173

Figura nº 7: Atores envolvidos na PNCTIS ................................................................................. 177

Figura nº 8: Principal marco institucional do fomento à pesquisa em rede na PNCTIS............ 189

Figura nº 9: Ator e relação ........................................................................................................ 216

Figura nº 10: Centralidade ........................................................................................................ 217

Figura nº 11: Grau de Centralidade ........................................................................................... 218

Figura nº 12: Densidade forte e densidade fraca ...................................................................... 218

Figura nº 13: Ator-Ponte ........................................................................................................... 219

Figura nº 14: Ator isolado ......................................................................................................... 219

Figura nº 15: Relações unidirecionais e bidirecionais ............................................................... 220

Figura nº 16: Subgrupo ou clique .............................................................................................. 220

Figura nº 17: Subgrupo ou clique .............................................................................................. 221

Figura nº18: Redes centralizadas, descentralizadas e distribuídas ........................................... 221

Figura nº 19: Exemplo de uma rede científica entre Duncan Wattz e Albert-László Barabási 224

Figura nº 20: Exemplo de mapeamento de rede científica com base em artigos publicados .. 229

Figura nº 21: Rede de relações que resultaram em patentes 2000-2010 ................................ 239

Figura nº 22: Rede científica de farmácia em 2000 .................................................................. 242

Figura nº 23: Concentração de pesquisadores na Universidade Federal de Pernambuco 2000

................................................................................................................................................... 247

Figura nº 24: Atores centrais na rede de farmácia em 2000 .................................................... 248

Figura nº 25: Densidade da rede de farmácia em 2000 ............................................................ 249

Figura nº 26: Rede científica de farmácia em 2010 .................................................................. 251

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Figura nº 27: Atores centrais na rede de farmácia em 2010 .................................................... 253

Figura nº 28: Densidade da rede de farmácia em 2010 ............................................................ 255

Figura nº 29: Concentração de pesquisadores na Universidade Federal de Pernambuco 2010

................................................................................................................................................... 260

Figura no 30: Cadeia local de pesquisa em farmácia em rede em Pernambuco. ...................... 289

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico nº 1: Multi autores por artigo de 1998 a 2011 ............................................................. 128

Gráfico nº 2: Artigos publicados na área de farmácia em Pernambuco 2000 – 2010 .............. 233

Gráfico nº 3: Evolução do número de pesquisadores entre 2000-2010 ................................... 235

Gráfico nº 4: Número total de pesquisadores entre 2000-2010 .............................................. 236

Gráfico nº 5: Espacialidade dos pesquisadores atuando em rede 2000-2010 ......................... 237

Gráfico no 6: Respostas sobre a realização de pesquisa científica em rede com pesquisadores

desconhecidos. .......................................................................................................................... 278

Gráfico no 7: Respostas sobre a importância de se conhecer o pesquisador ao se estabelecer

uma rede científica na área de farmácia em Pernambuco. ...................................................... 279

Gráfico no 8: Respostas sobre a importância de se ter experiência de trabalhos passados como

requisito para a construção de uma pesquisa em rede com outros pesquisadores. ............... 281

Gráfico no 9: Respostas sobre a importância da relação orientador x orientando na construção

de redes científicas na área de farmácia em Pernambuco. ...................................................... 282

Gráfico no 10: Respostas sobre a importância de contatos face a face na pesquisa em rede na

área de farmácia em Pernambuco. ........................................................................................... 284

Gráfico no 11: Respostas sobre a comunicação eletrônica como substituto eficaz na

comunicação pessoal. ............................................................................................................... 286

Gráfico no 12: Respostas sobre a importância da proximidade geográfica na pesquisa científica

em rede. .................................................................................................................................... 287

Gráfico no 13: Respostas sobre a importância da proximidade física na pesquisa científica em

rede. .......................................................................................................................................... 288

LISTA DE QUADROS

Quatro nº 1: Exemplo de matriz de relações sociais em rede .................................................. 223

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Quadro nº 2: Grupos de pesquisa na área de farmácia com base no censo CNPq 2010.......... 227

Quadro nº 3: Evolução da quantidade de grupos de pesquisa e pesquisadores da área de

farmácia no Nordeste ................................................................................................................ 234

Quadro nº 4: número de patentes depositadas no INPI por pesquisadores da área de farmácia

em Pernambuco entre os anos de 2000 e 2010 ....................................................................... 238

Quadro nº 5: Registro de patentes e atores envolvidos 2000-2010 ......................................... 238

Quadro nº 6: Interdisciplinaridade de atores trabalhando em rede em 2000 ......................... 244

Quadro nº 7: Instituições que cooperaram em rede em 2000 ................................................. 246

Quadro nº 8: Instituições que cooperaram em rede em 2010 ................................................. 258

Quadro nº 9: Interdisciplinaridade de atores trabalhando em rede em 2000 ......................... 261

LISTA DE TABELAS

Tabela nº 1: Dispêndios do governo federal em ciência e tecnologia (C&T) por órgão, 2000-

2010 (em milhões). ................................................................................................................... 178

Tabela nº 2: Sub-Agendas de Pesquisa na Saúde...................................................................... 180

Tabela nº 3: Vacinas prioritárias ............................................................................................... 181

Tabela nº 4: Número de projetos PACTI 2007-2010 ................................................................. 195

Tabela nº 5: Dispêndios do Ministério da Educação em Ciência & Tecnologia (C&T), 2000-2010.

................................................................................................................................................... 198

Tabela nº 6: Número de projetos de redes de cooperação internacional fomentados pelo CNPq

2000-2010 ................................................................................................................................. 200

Tabela nº 7: Número de editais destinados à construção de redes de cooperação internacional

CAPES 2000 a 2010. ................................................................................................................... 201

Tabela nº 8: Projetos aprovados e valores gastos na modalidade PROSUL e PROÁFRICA no

período de 2000 a 2010. ........................................................................................................... 202

Tabela nº 9: Projetos aprovados e valor gasto no período 2000 a 2010 pelo CNPq na

modalidade de redes científicas diversas. ................................................................................ 204

Tabela nº 10: Relação entre editais lançados para a construção de redes em relação aos editais

diversos pelo CNPq 2006-2010 ................................................................................................. 205

Tabela no 11: Grupos de Pesquisa na área e farmácia no Brasil em 2010 ................................ 269

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Tabela no 12: Principais estados em termos de massa crítica no Brasil na área de farmácia em

2010 ........................................................................................................................................... 270

Tabela no 13: projetos aprovados para a pesquisa em rede no Brasil entre 2005 e 2010 ........ 271

Tabela no 14: Respostas sobre a importância da pesquisa em rede para o desenvolvimento

científico da área de farmácia em Pernambuco. ...................................................................... 277

LISTA DE MAPAS

Mapa no 1: Fluxos das conexões científicas de Pernambuco na área de farmácia em 2000. ... 245

Mapa No 2: Fluxos das conexões científicas de Pernambuco na área de farmácia em 2010. .. 257

Mapa no 3: Editais aprovados para a Pesquisa em Rede no Brasil 2005-2010.......................... 272

Mapa no 4: Evolução da aprovação de editais para a pesquisa em rede no Brasil 2005-2010 . 274

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OIVEIRA, A. B. A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de

redes científicas na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela Política

Nacional de Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde (PNCTIS). Tese (Doutorado em

Geografia), Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2014.

RESUMO

A criação da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Saúde em 2004 proporcionou um novo marco no estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico da saúde no Brasil. Pela primeira vez uma política pública brasileira desta natureza insere em suas diretrizes o estímulo para a criação de redes de pesquisa científica entre pesquisadores localizados no Brasil e fora dele como método para a obtenção de melhores resultados no campo da saúde. Para tal a política admite que o trabalho cooperativo em rede amplifica os resultados a medida em que pesquisadores com conhecimentos complementares trabalham de forma cooperativa, além da compreensão de que os atuais desdobramentos das redes só são permitidos graças aos avanços tecnológicos nas comunicações e transportes. Assim, nossa investigação parte do pressuposto que as relações envoltas na pesquisa em rede possuem forte enraizamento local, exigindo proximidade geográfica entre os membros que cooperam, além de contatos presenciais em determinados momentos da pesquisa. Consideramos também, que o espaço geográfico deve ser compreendido enquanto temporalidades, enquanto contextos históricos e que a relações que envolvem a construção e o funcionamento de redes de pesquisa científica são bem mais complexos que se possa julgar. Desta forma, selecionamos a área de farmácia como recorte para a pesquisa e o período compreendido entre 2000 e 2010, antes e depois da atuação política. Realizamos uma pesquisa baseada no mapeamento das relações em rede entre pesquisadores da área mencionada antes e depois da atuação da PNCTIS, além da análise das redes sociais. Procuramos verificar os desníveis entre projetos aprovados para a pesquisa em Rede no estado de Pernambuco e no restante do país, verificamos os principais impactos da política na produção de conhecimento e aumento de pesquisadores trabalhando em rede, além de verificarmos a importância da proximidade geográfica e dos contatos face a face na pesquisa em rede na área de farmácia. Os resultados sugerem não só pouca compreensão por parte da política sobre o espaço geográfico, como ratificaram a importância espacial do fenômeno.

Palavras-Chave: Espaço geográfico, redes científicas, PNCTIS, Farmácia, Pernambuco.

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OLIVEIRA, A. B. The importance of geographical space in the construction and

operation of scientific networks in the field of pharmacy in Pernambuco promoted by

the National Policy on Science, Technology, Health Innovation (PNCTIS). Thesis (Ph.D.

in Geography), Federal University of Pernambuco. Recife, 2014.

ABSTRACT

The establishment of the National Policy on Science, Technology and Innovation for Health in 2004 provided a new milestone in fostering scientific and technological development of health in Brazil. For the first time a Brazilian public policy of this kind inserts in their guidelines the stimulus for the creation of networks of scientific research among researchers located in Brazil and abroad as a method for obtaining better results in the field of health. For such the policy acknowledges that the cooperative networking amplifies the results the extent to which researchers with complementary expertise work collaboratively, besides the comprehension that the current developments of networks are only allowed thanks to technological advances in communications and transport. Thus, our research assumes that relations shrouded in network research have strong local roots, requiring geographic proximity between members which cooperate, in addition to presential contacts at certain times of the research. We also believe that the geographical space must be understood as time frames, as historical contexts and the relations involving the construction and operation of networks of scientific research are far more complex that one can judge. So, we selected the area of pharmacy as cutout for the research and the period between 2000 and 2010, before and after the policy action. We performed a mapping-based research of networking relations among researchers in the area mentioned, before and after the performance of PNCTIS, and analysis of Social Media. We seek to observe the gaps between approved projects for networked researches in the state of Pernambuco and in the rest of the country, observed the main impacts of the policy in knowledge production and increase of researchers working in network, and verified the importance of geographical proximity and face to face contacts in network research in the field of pharmacy. The results suggested not only little understanding by the policy on the geographic space, but also ratified its importance spatial phenomenon.

Keywords: Geographical Space, scientific networks, PNCTIS, Pharmacy, Pernambuco.

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OIVEIRA, A. B. L’importance de l’espace géographique dans la construction et le

fonctionnement des réseaux scientifiques dans le secteur pharmaceutique dans l’Etat

du Pernambouc, créés par la Politique Nationale de la Science, de la Technologie et de

l’Innovation en Santé (PNCTIS). Thèse (Doctorat de géographie), Université Federale

du Pernambouc. Recife, 2014.

Résumé

La mise en place de la Politique Nationale de la Science, de la Technologie et de l’Innovation en Santé en 2004 constitue une nouvelle étape dans l’incitation au développement scientifique et technologique de la santé au Brésil. Pour la première fois, une politique publique brésilienne de cette nature intègre dans ses lignes directrices l’incitation à la création de réseaux de recherche scientifique entre chercheurs localisés au Brésil et à l’étranger comme méthode pour obtenir de meilleurs résultats dans le secteur de la santé. Pour ce faire, la politique admet que le travail coopératif en réseau amplifie les résultats à mesure que les chercheurs ayant des connaissances complémentaires travaillent de manière coopérative, au delà de prendre en compte le fait que les actuels dédoublements des réseaux sont permis par les avancées technologiques dans la communication et les transports. Ainsi, notre travail de recherche part du présupposé que les relations en jeu dans la recherche en réseaux possèdent un fort enracinement local et exigent une proximité géographique entre les membres qui coopèrent, au delà des contacts présentiels à des moments précis de la recherche. Nous considérons également que l’espace géographique doit être pris en compte selon différentes temporalités et contextes historiques et que les relations qui encadrent la construction et le fonctionnement des réseaux de recherche scientifique sont bien plus complexes que l’on ne pourrait croire. Ainsi, nous avons choisi le secteur pharmaceutique comme cadre de travail de recherche sur la période comprise entre 2000 et 2010, avant et après l’action politique de la PNCTIS. Notre recherche se base sur la cartographie des relations en réseaux entre chercheurs de l’aire mentionnée avant et après la mise en place de la PNCTIS au delà de l’analyse des réseaux sociaux. Nous avons cherché à souligner les écarts entre projets approuvés pour la recherche en réseau dans l’Etat du Pernambouc et dans le reste du pays, en vérifiant les principaux impacts de la politique sur la production de connaissance et sur l’augmentation du nombre de chercheurs travaillant en réseau, venant s’ajouter à l’importance de la proximité géographique et des contacts en face à face pour la recherche en réseau dans le secteur de la pharmacie. Les résultats soulignent non seulement une faible compréhension par la politique de l’espace géographique alors qu’elle ratifie, dans le même temps, l’importance spatiale du phénomène. Mot-clés: Espace géographique, réseaux scientifiques, PNCTIS, Pharmacie, Pernambouc.

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................. 11

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. 15

LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................ 16

LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... 16

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. 17

LISTA DE MAPAS ................................................................................................................ 18

RESUMO ........................................................................................................................... 19

ABSTRACT ......................................................................................................................... 20

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25

1ª CONEXÃO : SOBRE ESPAÇO GEOGRÁFICO, TÉCNICA, CIÊNCIA & INFORMAÇÃO ............... 37

1º NÓ - O ESPAÇO DAS PRÁTICAS E TRANSFORMAÇÕES: O ESPAÇO GEOGRÁFICO .............. 37

Do meio natural à Técnica ................................................................................................... 39

O conceito de espaço na ciência geográfica ....................................................................... 46

O meio Técnico-Científico-Informacional ........................................................................... 60

2º NÓ - UM ESPAÇO DIGITAL E DE FLUXOS: O CIBERESPAÇO ................................................. 69

Da emergência das Tecnologias de Processamento, Informação e Comunicação ............ 71

A construção de um espaço digital e de fluxos ................................................................... 74

As atuais perspectivas de comunicação e conexão mediante o ciberespaço ..................... 82

2ª CONEXÃO: SOBRE REDES, E A PESQUISA CIENTÍFICA EM REDE ........................................ 95

1º NÓ - O ESPAÇO MÓVEL E INTEGRADO: AS REDES .............................................................. 95

A evolução da construção do conceito de rede .................................................................. 97

O estudo das redes na ciência geográfica ......................................................................... 101

As redes sociais ................................................................................................................. 107

2º NÓ - ESPAÇOS DE COOPERAÇÃO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: AS REDES

CIENTÍFICAS ........................................................................................................................... 119

Informação, conhecimento e inovação em rede .............................................................. 120

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A emergência da cooperação internacional em rede ....................................................... 126

A pesquisa científica em rede e suas contribuições na obtenção de resultados e benefícios

........................................................................................................................................... 131

3º NÓ - AS MULTIPLICIDADES GEOGRÁFICAS DO “ESTAR AQUI” ......................................... 140

As multiplicidades geográficas em face dos fluxos tecnológicos ...................................... 141

A importância do “estar aqui” e de comunicar-se face a face na pesquisa científica em

rede ................................................................................................................................... 149

3ª CONEXÃO: A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE

(PNCTIS) E O FOMENTO À PESQUISA EM REDE .................................................................. 163

1º NÓ - A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE ........... 163

A pesquisa em Saúde no Brasil e sua importância no âmbito de um Sistema Único de

Saúde. ................................................................................................................................ 165

A PNCTIS: atores, criação e diretrizes. .............................................................................. 170

2º NÓ - A INDUÇÃO À PESQUISA EM REDE COMO UMA DAS ESTRATÉGIAS PARA ALCANCE

DOS OBJETIVOS DA PNCTIS ................................................................................................... 186

O imperativo da pesquisa em rede na PNCTIS. ................................................................. 187

O fomento à pesquisa em rede. ........................................................................................ 197

4ª CONEXÃO: AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE DA

PNCTIS, E A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO NA CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO DESTAS .... 211

1º NÓ - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A COLETA E TRATAMENTO DE DADOS 211

Referencial Teórico-Metodológico para a Base Analítica sobre a Análise de Redes Sociais

(ARS) .................................................................................................................................. 212

Procedimentos metodológicos utilizados para a coleta e tratamento de dados. ............ 223

2º NÓ - AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE DO

FOMENTO DA PNCTIS. ........................................................................................................... 232

O impacto da PNCTIS no aumento de pesquisadores trabalhando em rede e na produção

de conhecimento científico. .............................................................................................. 232

O mapeamento das redes científicas na área de farmácia em Pernambuco nos anos de

2000 e 2010: Análise da evolução das relações entre os pesquisadores antes e depois da

PNCTIS. .............................................................................................................................. 240

3º NÓ - O ESPAÇO GEOGRÁFICO NA CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO DAS REDES

CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO ..................................................... 263

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O espaço geográfico enquanto temporalidades científicas e técnicas: os desníveis entre

projetos aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em Pernambuco e no

Brasil. ................................................................................................................................. 264

Espaço e tecnologias comunicacionais: Quão importante é “estar aqui” na pesquisa

científica em rede na área de farmácia. ............................................................................ 275

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 294

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 305

ANEXOS........................................................................................................................... 322

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INTRODUÇÃO

O acesso à informação e a produção de conhecimento são elementos-

chave para o desenvolvimento econômico e social de regiões e grupos sociais. A

capacidade de obter informações, além dos contornos restritos da própria

comunidade, é parte do capital relacional dos indivíduos e grupos, o que sugere que as

transformações na sociedade dependem das redes existentes entre os indivíduos de

um determinado grupo e atores localizados em diferentes espaços geográficos, ou

seja, da dimensão da capacidade de cooperação de certa comunidade.

Isto implica que investimentos para a ampliação das redes de trabalhos

cooperativos pressupõem retornos ou benefícios, servindo de base para o

desenvolvimento social, e tornando-se recorrente objeto de pesquisa nas ciências

sociais e humanas em anos recentes.

Tal entendimento tem inspirado o desenvolvimento de enfoques

institucionalistas na sociologia, economia e ciência política, geografia,

consequentemente ampliando o interesse por metodologias de análise de redes

sociais, além de proporcionar contribuições significativas para a compreensão do papel

das redes sociais para o desenvolvimento em suas variadas escalas.

Trata-se, assim, de fenômeno estreitamente relacionado ao

desenvolvimento de nações e regiões. Neste fenômeno se incluem também as redes

científicas. Se informação, conhecimento, ciência e tecnologia são elementos

fundamentais para o desenvolvimento regional, além de serem construções sociais,

pois não resultam da ação isolada dos indivíduos, mas do trabalho coletivo, a

construção de redes científicas construídas em uma dada região deve ser considerada

importante aspecto da análise de desenvolvimento científico e social. Sobretudo, pelo

fato de que estas podem se tornar um veículo eficaz na produção de retornos e

benefícios mútuos para todos os envolvidos.

Visto desta forma, o estudo das redes científicas supera o entendimento

comum, segundo o qual uma rede científica é simplesmente o mapa geográfico das

conexões possíveis entre os usuários de um sistema, e a busca de compreensão de

novos desafios científicos frente a uma nova forma de usar e se relacionar com o

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espaço. Elas, as redes científicas, expressam temporalidades geográficas, contextos

históricos distintos e diferenciações espaciais existentes no país e no mundo, que

possibilitam ou dificultam a superação de limites e dificuldades ao seu

desenvolvimento, se valendo de importantes instrumentos de avanço científico e

social.

Assim, acredita-se que o trabalho cooperativo em rede amplifica os

resultados na medida em que agentes com conhecimentos complementares se

integram na busca de um objetivo comum. E este pode ser potencializado em

empreendimentos estruturados no formato das redes sociais. Em algumas áreas essa é

uma lógica tradicionalmente fundamental no desenvolvimento científico, tecnológico e

inovativo.

Nesta linha de raciocínio, a possibilidade do agrupamento de

pesquisadores em redes torna dinâmica eficaz no que compete a resultados mais

expressivos dos que os produzidos por um único indivíduo trabalhando de modo

isolado. A comunicação, a troca de informações e o trabalho se tornam efetivamente

mais frutíferos quando realizados em rede.

Estas perspectivas são potencializadas e dinamizadas com os atuais

avanços tecnológicos, na medida em que, conseguirmos evoluir na produção técnica e

criação de um espaço geográfico cada vez mais artificializado, híbrido. Avançamos no

deslocamento dos corpos de forma cada vez mais veloz com o avanço tecnológico dos

meios de transportes, e a comunicação simultânea e em tempo real com pessoas

dispostas em diversas partes do globo com o avanço das Tecnologias de Informação e

Comunicação. Em outras palavras, temos atualmente uma série de mecanismos para

nos comunicarmos, conectarmos, movermos, enviarmos arquivos e informações.

A dinâmica das redes, ancoradas no avanço tecnológico, tem se constituído

forte elemento na busca da solução dos diversos problemas, e o enfrentamento de

adversidades comuns. A noção da necessidade e dos retornos ocasionados pela prática

da pesquisa desta forma tem promovido em diversas partes do mundo ações políticas

e sociais para o estímulo a esta dinâmica.

Muito embora a pesquisa científica em rede seja uma prática tão comum e

quase tão antiga quanto à institucionalização do método cientifico ou da ciência

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propriamente dita, os contornos tecnológicos atuais tem estimulados a criação de

redes científicas de proporções globais.

Se valendo deste contexto, só recentemente, mais precisamente em 2004,

fora criada a primeira Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde

(PNCTIS) que tem por objetivo “contribuir para que o desenvolvimento nacional se faça

de modo sustentável, e com apoio na produção de conhecimentos técnicos e científicos

ajustados às necessidades econômicas, sociais, culturais e políticas do País” (BRASIL,

2004, P. 84).

A proposta assim, de acordo com a Política, é a de estimular o

desenvolvimento de competências nacionais, com base nas necessidades do país.

Formar mão de obra qualificada e estabelecer o dinamismo Científico, Tecnológico e

Inovativo na área de saúde, fixar os pesquisadores brasileiros no país, integrar os

laboratórios e instituições de pesquisa, fortalecer a interação entre os setores privados

e as Universidades e Institutos de Pesquisa, promover a produção de conhecimentos

em consonância com as necessidades nacionais, abordando critérios bem

determinados.

Segundo o Ministério da Saúde, a PNCTIS define a Pesquisa em Saúde

como o conjunto de conhecimentos, tecnologias e inovações produzidos que resultam

em melhoria da saúde da população. Assim, a pesquisa em saúde deve superar a

perspectiva disciplinar e caminhar para uma perspectiva setorial, que incluirá a

totalidade das atividades de pesquisa clínica, biomédica e de saúde pública, vinculadas

à grande área das ciências da saúde, assim como as realizadas nas áreas das ciências

humanas, sociais aplicadas, exatas e da terra, agrárias e engenharias e das ciências

biológicas que mantenham esta vinculação.

Essa forma de abordagem, segundo o Ministério da Saúde, procura

modificar a forma tradicional de conceituação da Pesquisa em saúde que limitava

apenas àquelas ditas “tradicionais” negligenciando os conhecimentos complementares

necessários produzidos por outras áreas. A produção de conhecimento a partir de

agora não é tido exclusivamente por aquele produzido pela grande área da saúde e

procura conectar as diversas áreas do conhecimento.

Para tal, dentre várias diretrizes e formas de atuação a PNCTIS procura

desenvolver o estímulo ao desenvolvimento da área de saúde por meio da indução e

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fomento a construção de redes científicas. Isto é, incentivar que pesquisadores

brasileiros estabeleçam redes de pesquisa entre si em suas mais diversas escalas, local,

regional, nacional e global.

Lógica instaurada é a de que, a possibilidade de conexões entre

pesquisadores brasileiros e pesquisadores estrangeiros pode ser alguma das

ferramentas possíveis na resolução de problemas nacionais e mundiais. Além da troca

de experiências, capacitação científica, formação profissional, e transferência de

tecnologias entre centros mais desenvolvidos e menos desenvolvidos.

Assim, por meio de editais de fomento, criaram-se mecanismos para a

construção de redes têm em vista resultados a curto, médio e longo prazo, a

construção de redes científicas na América Latina, África, Europa, a construção destas

internamente entre os estados e entre as regiões do Brasil, além de redes para

problemas comuns do país, problemas regionais ou mesmo projetos de redes

científicas por meio de processo de encomenda. Mesmo com estes e outros

mecanismos, verifica-se que ainda existe pouca compreensão das dinâmicas envoltas

na construção de redes científicas entre os pesquisadores, uma vez qua a maior parte

do fomento é calcado em uma mesma estrutura horizontal de indução.

Esta perspectiva vai à contra mão a compreensão da existência de diversos

espaços geográficos dentro do espaço geográfico brasileiro, estes por sua vez possuem

diferentes contextos históricos, temporalidades distintas e uma diversidade de

particularidades que podem potencializar ou dificultar a criação e o funcionamento das

redes científicas, proporcionando resultados bem diferentes daqueles esperados pelos

formuladores da PNCTIS.

Diante deste contexto apresentado nesta introdução surgem os principais

questionamentos da pesquisa e motivadores para a sua realização, este debate por si

só já justificaria esta pesquisa uma vez que ainda existe grande lacuna na análise do

papel do espaço geográfico, sobre múltiplos olhares e escalas em face da formação de

redes sociais contemporâneas.

Em face do escopo da PNCTIS de abranger toda a área de saúde, e em todo

o país, tomamos enquanto recorte a área de farmácia. A escolha da área se faz

pertinente pelo fato de que a farmácia, tanto enquanto área do conhecimento, ou

atividade protuvida, é fortemente baseada em ciência e depende fundamentalmente

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de pesquisa científica cooperativa para o seu desenvolvimento. Ademas, parte

significativa do tratamento médico necessita da utilização de medicamentos, o que é

imsurável se analisarmos o papel do Sistema Único de Saúde brasileiro no

fornecimento de atendimento médico de qualidade.

Além do que, existe ainda grande gargalo na produção de medicamentos

no país para atender a demanda do SUS além de uma grande dependência das grandes

corporações farmacêuticas. É importante frisar que parte significativa do tratamento

médico é feito por meio da utilização de medicamentos. A compreensão destas

questões levou à mudanças políticas no país que mais que ratificam a escolha da área,

tais como: a criação da ANVISA e lei de genéricos em 1999, da Política Nacional de

Medicamentos em 2001, da criação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos

Estratégicos em 2003, da Política industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior em

2004, da Empresa Brasileira de Hemoderivados em 2004, do Profarma também em

2004, em todas elas a área de farmácia e medicamentos estavam como enfoque

principal.

Como recorte temporal, optamos por selecionar a periodização

compreendida entre 2000 a 2010, período anterior e posterior a criação da política em

questão. Assim podemos vislumbrar as relações de redes e demais particularidades

antes e posteriormente a atuação política. E escolhemos Pernambuco como recorte

espacial.

Portanto, o trabalho parte da seguinte pergunta principal: “Qual a

importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes científicas

na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela PNCTIS?” Para este

questionamento, elaborou-se o seguinte objetivo principal da pesquisa: “Analisar a

importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes científicas

tomando como objeto empírico a área de farmácia em Pernambuco fomentada pela

PNCTIS”.

Para espaço geográfico, consideramos o conceito proporcionado por

Santos (1996) de que este seria “um conjunto indissociável, solidário e também

contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados

isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” e como redes

científicas, as descrevemos como agrupamentos de pesquisadores e suas afiliações e

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grupos, em uma continuidade de pesquisa em rede, onde se tem por finalidade a

construção de laços de cooperação, confiança, reciprocidade e compartilhamento de

experiências, promovendo, assim, o progresso da ciência por meio da produção de

bens, serviços, conhecimentos e inovações.

Para tal, estabeleceu-se a seguinte hipótese de trabalho: Que,

especificamente para a área de farmácia em Pernambuco, as relações envoltas em

todo o contexto da pesquisa em rede, ainda possuam forte enraizamento espacial

local, exigindo proximidade geográfica entre os membros que cooperam, além de

contatos presencias em determinados momentos da pesquisa, mesmo com os

desdobramentos dos fluxos comunicacionais via ciberespaço.

Consideramos também, que o espaço geográfico deve ser compreendido

enquanto temporalidades, enquanto resultados históricos, e que as relações que

envolvem a construção e o funcionamento de redes de pesquisa científica são bem

mais complexas que se possa julgar, elas ultrapassam a mera questão do fomento e

mecanismos tecnológicos de mediação eletrônica. Em outras palavras, as relações são

resultados dos espaços geográficos distintos, o que remetem configurações e impactos

diferentes sobre a atuação política. O espaço geográfico assim é resultado e

impulsionador das dinâmicas que ocorrem em rede.

Mais do que uma hipótese geral de trabalho, esta noção implica em uma

consideração clara e norteadora de que é imprescindível a compreensão das

diferenciações espaciais existentes no país e fora dele. Elas representam uma série de

particularidades que implicam na condução da pesquisa em rede, mesmo com o

fomento a sua construção e o advento tecnológico. A pouca sensibilidade às

Idiossincrasia dos processos espaciais, pode resultar contornos diferentes daqueles

esperados por políticas de indução à esta dinâmica.

Enquanto objetivos específicos foram traçados os seguintes: “Compreender

os argumentos dos formuladores da PNCTIS para o fomento à pesquisa em rede na

saúde” onde buscamos ter uma compreensão mais clara dos argumentos

formuladores da política e da inserção do debate em rede em suas diretrizes e

sobretudo a forma de atuação.

O segundo objetivo específico é o de: “Mapear as redes científicas dos

pesquisadores pernambucanos na área de farmácia antes e depois da PNCTIS, que

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permitam verificar mudanças na estrutura da rede, nos laços, na espacialidade, na

densidade e centralidade” como o próprio objetivo, mapear as relações em redes na

pesquisa científica na área de farmácia com recorte especificado na busca de

apreendermos particularidades (espacialidade de atores, atores centrais, estrutura da

rede, fluxos, densidade) da dinâmica espacial estabelecida por elas antes e depois da

atuação da política em questão.

Consequentemente ao objetivo específico anterior, propôs-se “Verificar se

a PNCTIS tem estimulado o aumento na formação de redes científicas, no número de

pesquisadores trabalhando” analisando o aumento no número de projetos aprovados,

de pesquisadores trabalhando em rede e em produção de conhecimento diante do

estímulo dado pela política.

Em seguida, procurou-se “Verificar os possíveis desníveis entre projetos

aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em Pernambuco em relação a

outros estados no país” para tal, ao considerarmos a importância do espaço

geográfico, é importante conceituarmos ele enquanto temporalidades científicas e

técnicas resultados de contextos históricos particulares, assim, existiriam contornos e

resultados diferentes entre Pernambuco e outros estados no país em relação a

competências e a aprovação de projetos para a área nesta modalidade.

Posteriormente, buscou-se “Investigar quão relevante é a proximidade

geográfica para aqueles que cooperam em rede, tomando como base a área de

farmácia e os pesquisadores pernambucanos em rede, e na produção de conhecimento

na área de farmácia em Pernambuco”, a proximidade geográfica aqui, um dos

componentes do espaço geográfico, é considerada tanto aquela construída

cotidianamente que resulta da proximidade física, quanto aquela proximidade

geográfica da acessibilidade da praticidade em se encontrar o outro.

E por fim, “Pesquisar se mesmo com o advento das tecnologias

informacionais e comunicacionais, o contato face a face ainda é relevante em algum

momento da construção ou funcionamento da pesquisa científica em rede na área de

farmácia em Pernambuco” em outras palavras, diante dos atuais contornos

potencializados pela mediação eletrônica, e o fomento da PNCTIS, o contato face a

face é relevante? Ou todo o processo de construção e funcionamento de uma pesquisa

em rede pode ser realizado sem que os membros se encontrem pessoalmente?

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Albert-László Barabási em seu livro Linked (2009), afirma que tudo estaria

conectado, e apresenta exemplos de como as redes influenciariam nossas vidas e

como estas dizem muito sobre nós. Em sua obra, ele apresenta suas argumentações

sobre as redes por meio de uma de suas principais características: as conexões.

Seguindo uma proposta semelhante, e por considerarmos que esta

pesquisa tem por obrigação de uma harmoniosa conexão entre todos os temas aqui

abordados, seguimos uma estruturação parecida. Desta forma, organizamos este

trabalho em conexões, que expressam de forma mais ampla os desdobramentos que

serão abordados nos “nós”. Assim como nas redes, os nossos “nós” apresentam

amarras conceituais mais detalhadas daquilo que se apresentam nas conexões. Espera-

se que esta estrutura não cause estranheza.

A primeira conexão deste trabalho chama-se “Sobre espaço geográfico,

técnica, ciência e Informação” e está dividida em dois nós, o primeiro deles de nome

“o espaço das práticas e transformações: o espaço geográfico” busca proporcionar

debate conceitual acerca do espaço geográfico, sobretudo considerando este

enquanto reflexo das sociedades, e sua transformação e hibridação em face do avanço

técnico. Em ligação com o anterior, o segundo nó “um espaço digital e de fluxos: o

ciberespaço” busca destacar o avanço técnico, evidenciando a emergência das

Tecnologias de Informação e Comunicação, vislumbrando o debate sobre a construção

do conceito de ciberespaço e as novas perspectivas proporcionadas por ele.

A segunda conexão fala “sobre redes, e a pesquisa científica em rede” e

está dividida em três nós, o primeiro deles “o espaço móvel e integrado: as redes”

busca fazer uma análise da evolução da construção do conceito de rede, aborda sua

utilização dentro da ciência geográfica - em especial as redes de infraestrutura - e

posteriormente, trata das redes sociais, termo originário primeiramente na

antropologia social.

No nó seguinte “espaços de cooperação e produção de conhecimento: as

redes científicas” buscamos tratar de um tipo específica de rede social, aquela

construída para a pesquisa científica e abordar os resultados e benefícios de se

pesquisar nesta estrutura. E por fim, abordamos “o espaço geográfico, fluxos

tecnológicos e a pesquisa científica em rede” ao debatermos sobre a importância do

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espaço geográfico em meio aos fluxos tecnológicos, da importância da materialidade a

virtualidade, da importância dos contatos face a face, do “estar aqui”.

A terceira conexão intitulada de “A política nacional de ciência, tecnologia

e inovação em saúde (PNCTIS) e o fomento à pesquisa em rede” tem por objetivo

promover uma análise das principais questões ou acontecimentos que envolveram a

construção da política e suas diretrizes e para tal, fora dividida em dois nós. O primeiro

deles, de nome “A política nacional de ciência, tecnologia e inovação em saúde” visa

contemplar o debate sobre a importância da pesquisa em saúde no Brasil, sobretudo

amparado na Constituição Federal de 1988 que garante o acesso universal e gratuito

desta a todos. E em seguida, aborda a construção da PNCTIS tomando como foco os

atores envolvidos, a sua criação e suas diretrizes.

O segundo nó desta conexão, “A indução à pesquisa em rede como uma

das estratégias para alcance dos objetivos da PNCTIS” tem por enfoque apresentar os

principais acontecimentos que levaram a política utilizar-se deste mecanismo para o

estímulo ao desenvolvimento da área de saúde, além de apresentar as forma de

fomento utilizado para a indução além de apresentar dados sobre investimentos

financeiros, além de bolsas e editais.

A quarta e última conexão, de nome “As redes científicas na área de

farmácia em Pernambuco em face da PNCTIS, e a importância do espaço na construção

e funcionamento destas” assim como a anterior, vista trazer resultados mais empíricos

da pesquisa, e análise destes diante da literatura construída. Seu primeiro nó está

focado em proporcionar uma revisão literária sobre a questão da Análise de Redes

Sociais e dos procedimentos metodológicos da pesquisa.

O segundo nó “As redes científicas na área de farmácia em Pernambuco em

face do fomento da PNCTIS” visa mapear as relações em rede na área de farmácia em

Pernambuco e a evolução desta após a política, mapear o direcionamento dos fluxos

das relações, verificar o aumento na produção dos pesquisadores atuando em rede e

na produção de conhecimento oriundo dessa modalidade.

O terceiro e último nó, “Espaço geográfico na construção e funcionamento

das redes científicas na área de farmácia e Pernambuco” analise o espaço geográfico

enquanto resultado de temporalidades científicas e técnicas, mostrando os desníveis

entre projetos aprovados em Pernambuco e o restante do país. Aborda também, com

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base nas entrevistas com os pesquisadores da área de farmácia, a importância da

proximidade geográfica para aqueles que cooperam em rede, a importância dos

contatos face a face, em outras palavras a importância espacial do “estar aqui” .

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1ª CONEXÃO

SOBRE ESPAÇO GEOGRÁFICO,

TÉCNICA, CIÊNCIA & INFORMAÇÃO.

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1º Nó

O espaço das práticas e

transformações: o espaço geográfico.

“Espaço. Finito ou infinito, relativo ou absoluto, receptáculo ou,

simplesmente um “invólucro” dos objetos, o uso de tal categoria é,

sem dúvida, e em nossos dias, praticamente obrigatório em qualquer

tipo de debate acadêmico” (Douglas Santos, 2002, pp.15-16).

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1ª CONEXÃO - SOBRE ESPAÇO GEOGRÁFICO, TÉCNICA, CIÊNCIA & INFORMAÇÃO

1º NÓ - O ESPAÇO DAS PRÁTICAS E TRANSFORMAÇÕES: O ESPAÇO GEOGRÁFICO

INTRODUÇÃO

A compreensão da dimensão da vida do ser humano e da sua própria

essência enquanto agente de um mundo, de uma realidade leva-nos a lembrar que a

técnica como capacidade humana de modificar/criar, deliberadamente, materiais,

objetos e eventos - chegando a produzir elementos novos, não existentes na natureza -

define o ser humano como “homo faber”, descrito por Arendt (1958).

O fazer, ou melhor, o saber fazer difere de outras capacidades humanas

como a de contemplar a realidade (literal ou mentalmente), agir (no sentido de adotar

decisões), experimentar sentimentos (influenciado ou não por valores culturais,

simbólicos, educacionais) e expressar-se (sobretudo manifestar a própria identidade,

as próprias ideias, anseios e valores) mediante uma linguagem articulada,

particularmente a enunciativa (ARENDT, 1958).

Esse caráter da técnica deve ser levado em consideração ao se procurar

entender a tecnologia como um fator que interfere no modo de vida dos seres

humanos, sobretudo na medida em que esse fator afeta outros e, principalmente,

como a técnica, a tecnologia, as ações e os objetos, condicionados e condicionantes,

interferem na construção de realidades sociais sobre a natureza, na construção do

espaço geográfico, e nos proporciona dimensões tempo-espaciais que contribuem

para sermos quem somos e vivermos onde/como vivemos.

Isso porque, sobretudo o homem vive - e sempre viveu - uma constante

relação de mutação, de estranheza, de busca e de transformação com a natureza,

dada pela técnica, pelas ações, pelo agir, pelo fazer, pela produção e pelo trabalho.

Desse sistema de interações e intercâmbio ele extraiu as condições para sua

sobrevivência, mudando a natureza à medida que mudava a si mesmo. Desta relação

do homem com o restante da natureza que resulta em novas transformações é que se

materializa o espaço geográfico (SANTOS, 1978; MOREIRA, 2010).

O espaço geográfico surge nesse contexto como a essência da unicidade.

Ele é o plano em que se dão as ações humanas - homens x homens, homens x

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natureza, homens x objetos - onde as existências dissociadas se juntam e vice versa. O

espaço geográfico é o campo de coabitação onde a multiplicidade de fenômenos

possui um sentido comum e concreto em uma forma de organização e conteúdo.

O espaço geográfico é uma totalidade híbrida, diversa, marcada por

multiplicidade. Ele é afetivamente vivido e socialmente construído por um conjunto

cada vez mais indissociável de objetos materiais e ações imateriais que constroem,

impõem resistência, separam, unificam e produzem o seu funcionamento. O espaço

geográfico é assim, o próprio reflexo das sociedades (SANTOS, 1994, 1996; MASSEY,

2008.

Neste contexto, este primeiro nó objetiva discutir justamente isso, a

construção do conceito de espaço geográfico e suas diversas concepções de acordo

com a visão de diferentes autores, principalmente na ciência geográfica.

Principalmente pelo fato de que, a categoria espaço é aqui considerada como principal

componente para análise dos fenômenos que serão estudados.

Para tal, este nó fora dividido em três tópicos, que interligados, têm por

objetivo proporcionar uma concepção mais clara do arcabouço teórico que envolve o

conceito de espaço. Estes por sua vez estão estruturados da seguinte forma: o

primeiro “do meio natural à técnica” pretende destacar o papel das técnicas como

forma de expressão do homem como ente no mundo, e na produção dos vários

espaços geográficos na transformação da natureza.

O segundo tópico “O conceito de espaço na ciência geográfica” pretende

fazer uma leitura de como o conceito foi debatido ao longo dos anos até se tornar o

conceito chave da geografia. O terceiro tópico “o meio técnico-científico-

informacional” conceito criado por Milton Santos (1996) pretende debater a gradativa

inserção de ciência, técnica e informação nos espaços geográficos de forma que

concebemos espaços geográficos cada vez mais artificializados frutos das ações

modificadoras humanas.

O aporte teórico aqui utilizado segue os debates, não exclusivamente, mas

principalmente, propostos por Arendt (1958); Ortega Y Gasset (1963); Lefébvre (1976,

1984); Tuan (1979, 1983); Santos (1978, 1979, 1985, 1994, 1996, 2002); Corrêa (1982,

1995); Foucault (1986); Simondon (1989); George (1989); Harvey (1969, 1989); Moraes

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(1990); Raffestin (1993); Soja (1993); Moreira, (2009, 2010, 2012); Barros (2003);

Massey (2008).

Do meio natural à Técnica

A presença do homem sobre a terra sempre proporcionou à natureza um

caráter de (re)descoberta constante. O meio natural e a criação de uma natureza social

promovida pelos homens criaram uma ordem racional das coisas, dos objetos, das

ações e do mundo. Diante da proporcionalidade cada vez maior de lugar ao artefato

técnico pela natureza, a racionalidade criada e imposta se confunde com o natural e

cria uma natureza instrumentalizada, domesticada e, por diversas vezes, surreal

(ORTEGA Y GASSET, 1963; SIMONDON 1989; GEORGE, 1989).

No início do desenvolvimento da civilização humana, a natureza era

selvagem e sofria pouca ou nenhuma intervenção do homem. Entretanto, no decorrer

dos anos e da evolução das sociedades, os elementos naturais foram sendo

substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, recentemente,

cibernéticos, fazendo com que a natureza tenda a funcionar como uma máquina

artificial (GEORGE, 1989).

Assim, o homem impõe sua mudança à natureza por meio da técnica,

criando uma nova natureza, posta sobre a anterior, uma “sobrenatureza” com

modificações. A operação técnica é o lugar da combinação de elementos técnicos

inventados e elementos naturais. A respeito disso, Simondon (1989, p. 256) diz que

não há de um lado o natural e de outro o artificial, logo, “o artificial é o natural

suscitado”.

Na Grécia Antiga, a ideia de “sobrenatureza” ou “nova natureza” oriunda

das relações do homem com a natureza mediada pela técnica rogava nos discursos

filosóficos de Platão, por exemplo. Porém foi o romano Cícero, no século I A.C. em De

natura Doerum quem melhor definiu a segunda natureza:

À nossa disposição estão montanhas e planícies. Nossos rios e lagos. Colhemos o milho e plantamos árvores. Fertilizamos o solo pela irrigação. Represamos os rios para orientá-los a nosso bel prazer.

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Pode-se dizer que com nossas mãos tentamos criar uma segunda natureza no mundo natural (SMITH, 1984, p. 16).

Para Godoy (2004) passagens como esta, mostram, resumidamente, que os

problemas teóricos que cercam o debate sobre o espaço geográfico remontam a

própria institucionalização da geografia como saber científico. Mesmo que de forma

não tão explícita.

Ou seja, as transformações e produções humanas sempre foram motivos

de reflexão. Afinal, a natureza é um dado permanente, que se modifica a medida que

avançamos no seu conhecimento. “A transformação da natureza em meios de

produção de vida é feita pelos homens numa relação de cooperação e com apoio na

técnica” (MOREIRA, 2010, p. 103).

Assim, a natureza “tecnicizada” acaba por ser abstrata, já que as técnicas

insistem em imitá-la e culminam por consegui-lo (SIMONDON, 1989; SANTOS 1996).

Ou, como aponta Moreira (2010, p. 103) “a transformação da natureza em meios de

produção de vida é feita pelos homens numa relação de cooperação e com apoio na

técnica”.

Essa nova natureza e realidade são resultados da busca constante de

satisfação das necessidades e de melhoria em relação às adversidades impostas pela

natureza. Assim, a técnica tem, no contexto da evolução humana, uma relação de

utopia ou de panaceia na esperança de emancipação e de superação de todos os

problemas e entraves das mais diversas ordens.

A história do homem sobre a Terra é a história de uma rotura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo. A natureza artificializada marca uma grande mudança na história humana da natureza. Hoje, com a tecnociência, alcançamos o estágio supremo dessa evolução (SANTOS, 2008, p. 5).

A técnica é então criada por ações sociais personificadas por meio de atos

humanos que modificam e/ou reformam a circunstância ou a natureza, conseguindo

que nela passe a haver o que anteriormente não havia, incluindo o surgimento de

elementos antes da necessidade da existência deles. Todos estes atos são técnicos, são

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específicos do homem, já que os animais têm que se ajustar ao que encontram na

natureza. Eles seriam assim, de acordo com Ortega Y Gasset (1963) “atécnicos”.

Estes atos técnicos são, em resumo, aqueles em que dedicamos o esforço,

primeiramente para inventar, inovar, modificar, produzir, criar e, depois, para executar

um plano de atividade que nos permita, segundo (ORTEGA Y GASSET, 1963 p. 30):

1) Assegurar a satisfação das necessidades evidentemente elementares;

2) Conseguir satisfação com o mínimo de esforço;

3) Criar-nos novas possibilidades complementares, produzindo objetos que

não existem na natureza do homem.

Ainda segundo Ortega y Gasset (1963, p. 14), “O conjunto destes atos é a

técnica, que podemos, desde logo, definir como a reforma que o homem impõe à

natureza em vista da satisfação de suas necessidades”. Para Santos (2006, p. 16), “As

técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem

realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço”.

Já para Simondon (1989), a técnica é uma designação de um conjunto de

elementos dos gestos ligados à fabricação e à utilização de sistemas, melhorando e

ampliando as performances dos corpos nas suas relações com o meio ambiente. Essas

considerações reafirmam que a principal forma de relação entre o homem e a

natureza, entre o homem e o meio é dada pela técnica.

Mumford (1998), por sua vez, entende por técnica o controle ou a

transformação da natureza pelo homem, o qual faz uso de conhecimentos pré-

científicos. É importante destacar que técnica é diferente de tecnologia, uma vez que

esta seria um avanço daquela.

Sendo assim: a) não existe homem sem técnica – esta está diretamente

ligada ao contexto social humano, independentemente do contexto histórico ou

geográfico, sendo considerada como um dentre os vários aspectos da existência

humana; b) Essa técnica varia em grau máximo ou mínimo, de acordo com o contexto

histórico, o nível de conhecimento e/ou de necessidade; c) Nem toda técnica é

absoluta - na evolução humana e da própria técnica, em dados momentos, algo

extremamente útil e necessário será negligenciado pela humanidade (ORTEGA Y

GASSET, 1963; SIMONDON, 1989; SANTOS 1996).

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Portanto, a ideia de técnica como algo onde o "humano" (pessoas) e o "não

humano" (instrumentos, técnica etc.) são inseparáveis é fundamental. Sem isso seria

impossível pretender superar dicotomias tão tenazes na geografia e nas ciências

sociais quanto as que opõem o natural e o cultural, o objetivo e o subjetivo, o global e

o local etc. (ORTEGA Y GASSET, 1963; SANTOS, 1996).

A própria evolução social do homem se confunde com as técnicas,

tecnologias desenvolvidas e empregadas em cada época. Isto nos diz que a história do

homem coincide com a história da técnica e que sem as ferramentas e o conhecimento

produzido por elas nossa própria existência seria diferente. Nesse sentido, podemos

reiterar que não existe homem sem técnica e vice versa. A técnica seria assim a própria

essência do homem.

À medida que a história vai fazendo-se, a configuração territorial é dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades etc. verdadeiras próteses. Cria-se uma configuração territorial que é cada vez mais o resultado de uma produção histórica e tende a uma negação da natureza natural, substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada (SANTOS, 2006, p. 39).

É importante destacar que a técnica não pode ser concebida apenas como

o aspecto artesanal dos artefatos criados pelo homem a fim de alcançar certos

objetivos. A técnica é, acima de tudo, um conjunto de estratégias operacionais

mobilizadas para realizar objetivos individuais e coletivos. Esse conjunto de estratégias

inclui tanto o pensamento e o imaginário, como as ações sociais voltadas para as

diversas e complexas realizações humanas.

Nesse sentido, Simondon (1989) diz que a técnica é um modo de ser e um

modo de ação do homem no mundo. Mais do que isso, a técnica compreende o de

onde viemos e para onde vamos; e o principal: como vamos. Sendo assim, a técnica

deve ser considerada, assim como a magia, a religião, a ciência, a ética e a estética, um

modo cultural de/do ser no mundo em dadas gerações.

Para Simondon (1989, p. 185), “Todo objeto técnico, móvel ou fixo, pode ter

sua epifania estética, na medida em que ela prolonga o mundo e se insere nele”. A

percepção física do objeto enquanto ente do mundo faz-se necessário não apenas para

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seu uso enquanto ferramenta, ou não, mas também para a compreensão de sua

função cartesiana no mundo.

Em suma, a técnica assim poderia ser definida como toda uma série de

ações que compreende uma pessoa, uma matéria e um instrumento de trabalho ou

meio de ação sobre a matéria, e cuja interação permite a fabricação de um objeto ou

de um produto. Entretanto, para que esta visão faça sentido, é importante

conceituarmos o que são os “objetos” e as “coisas”, pois se relacionam

fundamentalmente com o contexto em questão.

Segundo Santos (2006, p. 40), “os objetos seriam o produto de uma

elaboração social. As coisas seriam um dom da natureza e os objetos um resultado do

trabalho”. Focillon (1981, p. 4) destaca que “as coisas - formas naturais - são obras da

natureza, enquanto os objetos - formas artificiais - são obras dos homens”. Moles

(1971, p. 222) diz que o objeto seria “um elemento do mundo exterior, fabricado pelo

homem e que este deve assumir ou manipular”.

De acordo com Seris (1994, p. 22): "será objeto técnico todo objeto

susceptível de funcionar, como meio ou como resultado, entre os requisitos de uma

atividade técnica". Sua adoção pelas sociedades seria função de uma avaliação dos

valores técnicos em relação aos êxitos ou fracassos prováveis.

Bunge (1985) ao caracterizar o objeto (artefato) o define como toda coisa,

estado ou processo controlado ou feito deliberadamente com ajuda de algum

conhecimento aprendido e utilizável por outros. Para ele, “o resto” (coisas) seriam as

coisas sem utilidade, que abrangeriam até os produtos atuais não recicláveis.

Para Ortega Y Gasset (1963) e Santos (1996), a classificação mais intuitiva

entre objetos e coisas seria aquela segundo a qual no início da existência humana, no

momento em que a natureza era ainda inexplorada, tudo seriam coisas, ao passo que

hoje tudo tende a ter uma finalidade, intencionalidade e utilidade, transformando as

coisas em objetos. Assim, a natureza atualmente se transforma em um verdadeiro

sistema de objetos, e não mais em coisas.

Assim, os objetos técnicos podem ser analisados conforme o seu respectivo

conteúdo, ou, em outras palavras, conforme sua condição técnica; o mesmo pode ser

dito das ações que se distinguem segundo os diversos graus de intencionalidade e

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racionalidade. Estes aspectos são a principal lógica por trás da existência desses

objetos.

Portanto, os objetos técnicos se instalam na superfície da terra por meio da

construção humana e fazem-no para responder a necessidades materiais

fundamentais dos homens: alimentar-se, produzir, residir, deslocar-se, confortar-se

etc.

O objeto técnico, pensado e construído pelo homem, não se limita apenas a criar uma mediação entre o homem e a natureza; ele é um misto estável do humano e do natural, contém o humano e o natural; ele confere a seu conteúdo uma estrutura semelhante à de objetos naturais, e permite a inserção no mundo das causas e efeitos naturais dessa realidade humana (SIMONDON, 1989, p. 245).

A evolução técnica de um objeto não diz respeito apenas ao

funcionamento do próprio objeto, mas aos diversos modos como ele se insere e se

naturaliza na cultura. Por consequência, a evolução técnica não diz respeito apenas ao

aperfeiçoamento dos objetos, mas ao modo como humanamente nos relacionamos e

nos modificamos a partir dele.

A evolução do objeto técnico se confunde com o meio, ao passo que a

evolução social do homem se confunde com as tecnologias desenvolvidas e

empregadas em cada época. Esta é mais uma dentre as características dos períodos

humanos e técnicos. De acordo com Ortega y Gasset (1963, p. 75), os períodos

técnicos poderiam ser divididos em três etapas:

1º - A técnica do acaso: é a técnica primitiva do homem primitivo, seja ele

no contexto da evolução humana, seja como grupos sociais isolados que vivem seus

cotidianos a partir de técnicas desenvolvidas há alguns anos, como tribos indígenas,

por exemplo. Este desconhece por completo o caráter essencial da técnica, que

consiste em ser uma capacidade de mudanças e progresso;

2º - A técnica do artesão: A produção de alguns elementos como arcos,

flechas, vestimentas etc. se dá por meio dos artesões, que sabem fazer determinados

objetos. Em algumas circunstâncias não possuem noção da importância social de seus

atos técnicos;

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3º - A técnica do técnico: Quando o homem descobre os caminhos que

devem ser traçados para que seus atos técnicos resultem em uma técnica que

proporcione o resultado esperado.

Ao longo da história, no decorrer dessas etapas, o homem adquiriu

consciência suficiente sobre suas eventuais capacidades e habilidades para realização

de determinados atos técnicos que gerassem resultados específicos e esperados. Além

disso, percebeu que a técnica não é um acaso da natureza ou da circunstância, como

poderia ser considerado num primeiro estágio. A técnica não seria, portanto, fixa, mas

uma quantidade ilimitada de atividades e possibilidades.

As infinidades de perspectivas permitidas pela técnica possibilitaram um

enorme crescimento de atos e resultados técnicos que integraram toda a vida social.

Enquanto na Idade Média, na época do artesão, a técnica e a naturalidade do homem pareciam compensar-se e a equação de condições em que a existência se apoiava lhe permitia beneficiar-se do dom humano para adaptar o mundo ao homem, mas sem que isso levasse a desnaturalizar-lhe, hoje os supostos técnicos da vida superam gravemente os naturais, de sorte tal que materialmente o homem não pode viver sem a técnica a que chegou (ORTEGA Y GASSET, 1963 p. 87).

Na Idade Média, o inventar não podia constituir um ofício porque o

homem ignorava seu próprio poder de invenção. Hoje, pelo contrário, o técnico se

dedica como à atividade mais normal e preestabelecida à construção, invenção,

inovação, sendo este último, inclusive, um dos aspectos mais marcantes de nossa

atualidade.

Entretanto, Mitcham (1989), quando fala da periodização proposta por

Ortega y Gasset (1963), destaca que na primeira fase (a técnica do acaso) não há um

método para descobrir ou transmitir as técnicas utilizadas; na seguinte (a técnica do

artesão), já há algumas técnicas conscientes transmitidas entre gerações por uma

classe especial: a dos artesãos. Todavia, há apenas "destreza e não ciência".

De acordo com Simondon (1989, p. 46), “O artesanato corresponde ao

estado primitivo de evolução dos objetos técnicos. A indústria corresponde ao estado

concreto”. Sendo assim, seria apenas na terceira fase (a técnica do técnico ou do

engenheiro) que se instala um estudo consciente: a tecnologia como desenvolvimento

de um modo de pensar o homem vinculado à ciência moderna.

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Heidegger (1992) resume esse debate propondo que existem apenas dois

grandes períodos na evolução da técnica: a técnica dos antigos e a técnica dos

modernos. Ainda segundo ele, no começo da história social do planeta, ou no período

da técnica dos antigos, havia tantos sistemas técnicos quantos eram os lugares e os

grupos humanos. Estes, servidos apenas pelas técnicas do corpo, carentes de

mobilidade, eram dependentes de áreas geográficas restritas, onde os recursos de sua

inteligência e os recursos naturais combinados permitiam a emergência de modos de

fazer dependentes do entorno imediato. Cada ponto habitado da superfície terrestre

constituía, então, um conjunto coerente, formado sobre uma dada fração do planeta

por uma população local, pelas técnicas locais, por um sistema político local e um

regime econômico também local.

Porém cada período vê nascer uma nova geração técnica que o caracteriza. Esse novo subsistema, por se mostrar mais eficaz que os demais, emerge como um subsistema hegemônico. No passado, os respectivos sistemas hegemônicos não dispunham de um alcance global, podendo estar ausentes em certos países ou em certas regiões. Hoje estes sistemas técnicos tornam proporções globais, não mais sistemas técnicos locais, e sim globais, se tornam uma “uma unicidade técnica” (SANTOS, 2006, p. 125).

Hoje, as técnicas estão potencializadas no coração da atividade

contemporânea de controle, de reconstrução da matéria e da vida. Acrescentamos que

a fonte das mutações técnicas é ela a própria técnica, afinal, a forma como se

combinam as técnicas de diferentes idades têm consequências sobre as formas de vida

das pessoas de dado momento histórico e na própria composição do espaço

geográfico.

O conceito de espaço na ciência geográfica

As técnicas constroem objetos e ações explicativas do espaço; elas contêm

aspectos empíricos da construção e evolução dele. É por meio delas que a evolução da

lógica social humana e os espaços são construídos, afinal, o espaço geográfico é uma

criação humana, portanto, é no meio natural, na natureza, na terra que ele se revela.

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Elas, as técnicas, sempre estiveram no seio da evolução do debate sobre o

conceito de espaço geográfico, mesmo que nem sempre tenham sido lhe dadas o

devido destaque. Já o espaço geográfico, não se constituía em um conceito chave na

geografia tradicional, mesmo aparecendo de modo implícito nas obras de Ratzel e

Hartshorne, por exemplo.

O espaço proposto por Ratzel (1882) é visto como base indispensável para

a vida do homem, encerrando as condições de trabalho, quer naturais, quer aquelas

socialmente produzidas. Sendo assim, o domínio do espaço transforma-se em

elemento crucial na historia do homem. O espaço assim, mesmo que não sendo o foco

principal era a base de sustentação das teorizações que estavam em voga naquele

período.

Ratzel (1882) desenvolve dois conceitos fundamentais em sua

antropogeografia. O conceito de território e de espaço vital, ambos com fortes raízes

na ecologia. O primeiro vincula-se à apropriação de uma porção do espaço por

determinado grupo, enquanto o segundo expressa às necessidades territoriais de uma

sociedade em função do seu desenvolvimento tecnológico. “Seria assim uma relação

de equilíbrio entre a população e os recursos, mediada pela técnica” (MORAES, 1990,

p. 23). Em suma, espaço seria vital para a sobrevivência e manutenção de qualquer

povo.

A preservação e ampliação do espaço vital constitui-se, na formação

ratzeliana da própria razão de ser do Estado. “O espaço transforma-se, assim, através

da política, em território, em conceito-chave da geografia” (CORRÊA, 1995, p. 18).

Hartshorne (1939), em seu livro The Nature of Geography admite que as questões

espaciais sejam de fundamental importância para a geografia, sendo a tarefa dos

geógrafos descrever e analisar a interação e integração de fenômenos em termos de

espaço.

O espaço na visão hartshorniana, é o espaço absoluto, isto é, um conjunto

de pontos que tem existência em si, sendo independentes de qualquer outra coisa. O

espaço, ainda segundo ele, apareceria como um receptáculo que apenas contém as

coisas. O termo espaço é empregado no sentido de área que

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[...] é somente um quadro intelectual do fenômeno, um conceito abstrato que não existe em realidade [...] a área, em si própria, está relacionada aos fenômenos dentro dela, somente naquilo que ela os contém em tais e tais localizações (HARTSHORNE, 1939, p. 395).

Para Corrêa (1995), existiria uma associação entre essa concepção de

espaço e a visão ideográfica da realidade, na qual em uma dada área estabelece-se

uma combinação única de fenômenos naturais e sociais. Seria como se cada porção do

espaço absoluto fosse o lócus de uma combinação única (unicidade). “Nenhuma (lei)

universal precisa ser considerada senão a lei geral da geografia de que todas as suas

áreas são únicas” (HARTSHORNE, 1939, p. 644).

De acordo ainda com Corrêa (1995) somente em Schaefer (1953), Ullman

(1954), Watson (1955) e Bunge (1966) o espaço aparece pela primeira vez na história

do pensamento geográfico como o conceito chave da ciência. O espaço é considerado

sob duas formas que não são mutuamente excludentes. De um lado por meio da

noção de planície isotrópica e, de outro, de sua representação matricial.

A representação matricial se constituiria nos meios operacionais que nos

permitem extrair um conhecimento sobre localizações e fluxos, hierarquias e

especializações funcionais. A planície isotrópica é uma construção teórica que parte do

princípio de que o espaço seria uma superfície uniforme no que se refere à

geomorfologia, ao clima e à vegetação, assim como à ocupação humana. Existiria

assim uma uniformidade na densidade demográfica, de renda e cultura, por exemplo,

em dado espaço, onde a circulação nesta planície seria possível em todas as direções.

Nessa planície de lugares iguais desenvolvem-se ações e mecanismos

econômicos, por exemplo, que levam à diferenciação do espaço. Assim o ponto de

partida seria a homogeneidade, enquanto o ponto de chegada seria a diferenciação

espacial que é vista como expressando um equilíbrio espacial. Diferenciação e

equilíbrio não são estranhos nessa concepção (CORRÊA, 1995).

Nela, a variável mais importante seria a distância, determinando em um

espaço previamente homogêneo a diferenciação espacial, seja ela expressa em anéis

concêntricos de uso da terra, como em Von Thunen (1826)1 na teorização da

1 A teoria dos anéis de Von Thuner de 1826 fora o primeiro estudo metodológico que incorporou o

espaço na noção econômica. De forma breve, para autor, poderíamos organizar as atividades

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localização industrial de Weber (1909)2, ou densidades demográficas intra-urbanas, ou

ainda, em hierarquias de lugares centrais, como aponta Christaller (1933)3.

Harvey (1969) evidencia a abordagem sobre espaço relativo, que é

importante elemento na concepção do conceito de espaço. A noção de espaço relativo

é compreendida a partir das relações entre os objetos e as relações que estes implicam

em custos – dinheiro, tempo, energia – para vencer a fricção imposta pela distância.

Seria no espaço relativo que se obteriam rendas diferenciais - de localização – e que

determinariam papel fundamental na determinação do uso da terra.

Entretanto, para Corrêa (1995), o privilégio exagerado do componente do

espaço “distância”, visto como variável independente, se colocou como grande

limitação no avanço da estruturação do conceito de espaço geográfico, proposto por

Harvey (1969), visto que outros elementos como as contradições, os agentes sociais, o

tempo, objetos, as ações e as transformações são renegados a um plano secundário.

Lefébvre (1976) em seu livro Espacio y Política entende o espaço como

espaço social, vivido, em estreita correlação com a prática social, não sendo visto

assim como um espaço meramente absoluto, “vazio e puro, lugar por excelência dos

números e das proporções” (LEFEBVRE, 1976, p. 29). Nem como um produto da

sociedade, “ponto de reunião dos objetos produzidos, o conjunto das coisas que

ocupam e de seus subconjuntos, efetuado, objetivado, portando funcional” (LEFEBVRE,

1976, p. 30).

Para este autor, o espaço não seria mais nem o ponto de partida – espaço

absoluto – nem o ponto de chegada – espaço como produto social. Ele vai além: o

espaço “desempenha um papel ou uma função decisiva na estruturação de uma

totalidade, de uma lógica, de um sistema” (LEFÉBVRE, 1976, p. 25).

econômicas de acordo com a localização dos tipos de culturas agropecuárias ou atividades agroindustriais em relação ao centro urbano. 2 A teoria clássica da localização industrial de Afred Weber (1909) destacava a questão espacial

enquanto distância com fator de análise para as melhores disposições geográficas das indústrias, para o autor, a indústria deveria ficar no centro de um "triângulo equilátero" em que as extremidades seriam a distância de matéria prima, mão de obra e mercado consumidor. 3 Com base nos princípios que defendeu, Christaller (1933) explicou o número, a dimensão e a

distribuição dos lugares centrais, considerados como centros fornecedores de bens e serviços a uma população circundante, hierarquizando-os segundo o seu grau de centralidade. Em suma o autor procurou explicar como diferentes lugares se distribuem no espaço.

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Do espaço não se pode dizer que seja um produto como qualquer outro, um objeto ou uma soma de objetos, uma coisa ou uma coleção de coisas, uma mercadoria ou um conjunto de mercadorias. Não se pode dizer que seja simplesmente um instrumento, o mais importante de todos os instrumentos, o pressuposto de toda produção e de todo intercâmbio. Estaria essencialmente vinculado com a reprodução das relações (sociais) de produção (LEFÉBVRE, 1976, p. 34).

Sendo assim, para Lefébvre (1976), o espaço geográfico seria como a

produção da sociedade, fruto da (re)produção das relações sociais de produção em sua

totalidade. Essas relações se dariam, desta forma, em todos os âmbitos da vida

cotidiana do homem. Corroborando com as ideias de Lefébvre (1976), Santos (1985)

em seu livro Espaço e método que sem produção – de qualquer natureza – impossível

existir o espaço.

Assim o espaço é concebido como lócus da reprodução das relações sociais

de produção, isto é, reprodução da sociedade. Quer sejam as relações entre os

homens e a natureza, quer sejam nos movimentos fabris de produção e transformação

seja da produção de relações de socializações etc. O mérito do conceito espaço

geográfico residiria no fato de se explicar teoricamente que uma sociedade só se torna

concreta através do seu espaço que ela produz e, por outro lado, o espaço só seria

inteligível através da sociedade (CORRÊA, 1995; MOREIRA, 2012).

A palavra espaço, então, amplia seu significado em Geografia, abrindo para a disciplina extraordinárias possibilidades de explorações temáticas através de diversos espaços teóricos e relativos, possibilidades antes opacificadas pela concepção do espaço geográfico único. Como corolário, os objetos da Geografia também se multiplicam definidos pelos estudos das diversas relações entre os inumeráveis componentes do espaço geográfico (BARROS, 2003, p. 8).

No seio das relações sociais, das possibilidades de exploração do conceito

de espaço geográfico é que no final dos anos 70 viu-se o surgimento da geografia

humanística, que, na década de 80, fora acompanhada pela retomada da geografia

cultural, baseada na crítica à geografia lógico-positivista e ancorando algumas de suas

observações nas subjetividades humanas, nas experiências e na vivência.

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Contrariamente as geografias crítica e teorético-quantitativa, por outro lado, a geografia humanística está assentada na subjetividade, na intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência, privilegiando o singular e não o particular ou o universal e, ao invés da explicação, tem na compreensão a base de inteligibilidade do mundo real (CORRÊA, 1995, p. 30).

Neste contexto, Tuan (1979) em sua abordagem sobre espaço geográfico

dentro da geografia humanística considera os sentimentos espaciais, as noções de

pertencimento, as ideias de um grupo ou de um poço a partir da experiência. O espaço

seria “... também uma resposta do sentimento e da imaginação às necessidades

humanas fundamentais” (TUAN, 1983, p. 112).

A concepção de espaço vivido também é inserida: “O espaço vivido é uma

experiência contínua, egocêntrica e social, um espaço de movimento e um espaço-

tempo vivido [...] que se refere ao afetivo, ao mágico, ao imaginário” (HOLZER, 1992, p.

440).

A concepção de “espaço vivido” procurou destacar o lado afetivo, mágico e

imaginário das relações que se estabelecem e ajudam a configurar o sentido dos

lugares e das espacialidades cotidianamente vivenciadas, que passam também a se

expressar como um campo de representações simbólicas.

Nasce aí, um projeto vital de sociedade calcada nos sentimentos de

pertencimentos e de afetividade construídos a partir da vivência no lugar. “Em sinais

visíveis não só o projeto vital de toda a sociedade, subsistir, proteger-se, sobreviver,

mas também as suas aspirações, crenças, o mais íntimo de sua cultura” (ISNARD, 1982,

p. 71).

Tal espaço pode ser considerado um mosaico com elementos de diferentes

eras, sintetizando - de um lado - a evolução da sociedade, e explicando - de outro lado

- situações que se apresentam na atualidade.

O espaço geográfico, sendo assim, deve ser entendido como um conjunto,

um processo, um sistema sempre contínuo e nunca fechado. Uma imbricação de

trajetórias, sempre aberto ao inesperado, ao acaso, e que, enquanto lócus da

coexistência contemporânea, é marcado pela diversidade, diferença e multiplicidade

(MASSEY, 2008).

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Além disso, é também uma criação humana e é produzido por si próprio,

assim, o espaço em si (natural, totalitário) pode ser organizado, modificado como

produto e resultado das experiências sociais. Como produto elaborado, o espaço

geográfico é projeção social remodeladora sobre a natureza. Este espaço é resultante

dos objetos intencionais dos atores e ações sociais (RAFFESTIN, 1993).

O espaço não é um reflexo da sociedade, ele é a sociedade [...] Portanto, as formas espaciais, pelo menos no nosso planeta, hão de ser produzidas, como o são todos os outros objetos, pela ação humana. Hão de expressar e executar os interesses da classe dominante, de acordo com um dado modo de produção e com um modo específico de desenvolvimento (SOJA, 1993, p. 89).

O espaço geográfico é um produto da ação e criação humana. Ele é

efetivamente e afetivamente vivido e socialmente produzido. Esse “espaço vivido”, e

socialmente criado é descrito por Lefevre (1976), Foucault (1986), Soja (1993) e

Moreira (2012) como aquele dotado de simultaneidade concreta e abstrata, a

contextura das práticas sociais. É um espaço raramente visto, abstrato, e,

diferentemente do que algumas abordagens no passado já haviam feito, ele não pode

ser obscurecido por uma visão bifocal que o encare como uma construção mental ou

uma forma meramente física. Deve ser entendido também como relacional.

O espaço é a dimensão implícita que molda nossas cosmologias estruturantes. Ele modula nossos entendimentos do mundo, nossas atitudes frente aos outros, nossa política. Afeta o modo como entendemos a globalização, como abordamos as cidades e desenvolvemos e praticamos um sentido de lugar. Se o tempo é a dimensão de mudança, então o espaço é a dimensão do social: da coexistência contemporânea de outros (MASSEY, 2008, p. 15).

Portanto, tempo, espaço e mundo são realidades históricas que devem ser

mutuamente consideradas como interdependentes sob uma perspectiva mais

totalizadora, devem ser pensados também como elementos das transformações

sociais. “Enquanto espaço morada do homem, acreditamos ser necessário pensá-lo em

termos de suas conexões com tempo, pois tempo e espaço reúnem toda a experiência

humana” (CORRÊA, 1982, p. 34).

Assim, a noção de espaço é inseparável da ideia de sistemas de tempo.

Logo podemos buscar compreender as diferenciações temporais dos diversos espaços

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existentes no mundo e as consequentes temporalidades humanas daqueles que os

produzem.

Se o tempo se revela como mudança, então o espaço se revela como interação. Neste sentido, o espaço é a dimensão social não no sentido da sociabilidade exclusivamente humana, mas no sentido do envolvimento dentro de uma multiplicidade. Trata-se da esfera da produção contínua e da reconfiguração da heterogeneidade, sob todas as suas formas – diversidade, subordinação, interesses conflitantes (MASSEY, 2008, pp. 97-98).

Afinal, a sociedade humana em processo é sempre um dos primeiros

enfoques das análises geográficas e das ciências humanas no geral. Esse enfoque se dá

sobre uma base material - o espaço e seu uso, o tempo e seu uso; a materialidade e

suas diversas formas; as ações e suas diversas feições. Santos (2006) frisa a

importância temporal na análise espacial dos fenômenos, destacando este elemento

como fundamental na composição estrutural do espaço.

Assim empiricizamos o tempo, tornando-o material, e desse modo o assimilamos ao espaço, que não existe sem a materialidade. A técnica entra aqui como um traço de união, historicamente e epistemologicamente. As técnicas, de um lado, dão-nos a possibilidade de empiricização do tempo e, de outro lado, a possibilidade de uma qualificação precisa da materialidade sobre a qual as sociedades humanas trabalham (SANTOS, 2006, p. 33).

As técnicas são objetos explicativos do espaço, elas contêm aspectos

empíricos da construção e evolução deste no tempo. O “aqui” deixa de ser tão

somente uma delimitação física para torna-se um espaço histórico (Freire, 1987). É por

meio das técnicas que a evolução da lógica social humana e o espaço são construídos,

afinal, o espaço geográfico é uma criação humana, portanto é no meio natural, na

terra que ele se revela.

O espaço geográfico é a base concreta da vivência terrena do homem. O ato de transformação consciente da natureza em meios de produção e de vida é um ato de construção consciente do espaço. E esse espaço é um fato que se revela na paisagem, em sua evolução de um ambiente dominado pela presença dos elementos primários da natureza (a primeira natureza) pelos de uma natureza

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progressivamente socializada pela ação transformadora do homem (segunda natureza) (MOREIRA, 2010, p. 103).

Para Dollfus (1972), todo espaço geográfico seria organizado. Esta

organização dependeria de múltiplos fatores, alguns dos quais ligados ao meio natural

e outros às necessidades e aspirações das coletividades humanas que seriam refletidas

pelo uso e avanço das técnicas.

A forma da propriedade dos meios de produção dos meios de vida é a

relação determinante. É ela que vai definir o modo de relação do homem com a

natureza, a forma como vai se dar a mediação da técnica e a modalidade da

organização do espaço, definindo, assim, espaço como todo e meio geográfico.

Geneticamente, o espaço é o produto da relação técnica do homem com a natureza. E o seu arranjo é o produto do modo como os homens definem suas relações entre si ao redor de suas relações de apropriação da natureza, uma vez que os homens entram em relação com a natureza através das relações que estabelecem entre si. Dessa dupla dimensão relacional decorre, então, a forma histórica de sociedade que constroem (MOREIRA, 2010, p. 103).

É por intermédio das técnicas que o homem no trabalho (em suas mais

variadas formas) realiza a união entre espaço e tempo. Estas são periodizadas e

incluem tempo, qualitativa e quantitativamente. As técnicas são, portanto, uma

medida do tempo: o tempo do processo direto de trabalho, da circulação, da divisão

territorial do trabalho e da cooperação.

Técnicas e tempo estão, com toda a evidência, fortemente entrelaçados. Ambas são outra coisa que não manifestações físicas ou biológicas de uma função material ou de um ritmo orgânico. Ambos estão fortemente mesclados à modelação de fenômenos e de processos sociais sempre novos. As relações entre a técnica e o tempo estão em geral muito mais emaranhadas do que as análises mais correntes, que as reduzem a relações de causa e efeito, nos querem fazer crer (HORNING, 1992, p. 49).

Portanto, o espaço é formado de objetos técnicos. O espaço do trabalho

contém técnicas que nele permanecem como normas, autoridades, cronogramas,

sentidos para fazer dada tarefa ou uma simples ação, em certas formas, medidas ou

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ritmos. Tudo isso seria tempo, e o espaço enquanto distanciamento é controlado pelas

técnicas que comandam as estruturas e funcionalidades dos deslocamentos.

O trabalho supõe lugar, a distância supõe extensão; o processo produtivo direto é adequado ao lugar, a circulação é adequada à extensão. Essas duas manifestações do espaço geográfico unem-se, assim, através dessas duas manifestações no uso do tempo (SANTOS, 2006, p. 34).

As técnicas participam na produção e na percepção do espaço e do tempo

(tempo vivido, sensações de velocidade etc.). O espaço se destaca nas circunstâncias e

condições que oferece para a produção, circulação, comunicação, cooperação e

trabalho para o exercício do cotidiano da vida social como um meio operacional.

Assim, técnicas são mecanismos operacionais, percebidos e constitutivos do espaço e

do tempo.

O espaço está, assim, sempre no centro da duração existencial, mostrando-se um espaço existencial tanto quanto o tempo existencial, uma vez que o espaço e o tempo são contraditórios, mas coetâneos na Historia. Seja na forma de relação com a natureza, seja na relação com os outros homens (MOREIRA, 2010, p. 104).

Existe uma estreita relação entre a mudança da técnica e a mudança do

espaço geográfico e da vida social. Neste sentido, Santos (2006, p. 21) enfatiza:

A relação, que se deve buscar, entre o espaço e o fenômeno técnico, é abrangente de todas as manifestações da técnica, incluídas as técnicas da própria ação. Não se trata, pois, de apenas considerar as chamadas técnicas da produção, ou como outros preferem as técnicas industriais.

O espaço é formado de objetos, mas estes não determinam aquele. Ao

invés disso, é o espaço que determina os objetos: o espaço visto como um conjunto de

objetos organizados segundo uma lógica e utilizados (acionados) para um determinado

fim. “É o espaço que redefine os objetos técnicos, apesar de suas vocações originais, ao

incluí-los num conjunto coerente onde à contiguidade obriga a agir em conjunto e

solidariamente” (Santos, 2006, p. 24).

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O espaço e o tempo são categorias básicas da existência humana. Na

sociedade moderna, muitos sentidos e percepções para o tempo se entrecruzaram,

conforme Harvey (1989) argumenta:

Os movimentos cíclicos e repetitivos (do café da manhã e da ida ao trabalho a rituais sazonais como festas populares, aniversários, férias, aberturas de temporadas esportivas) oferecem uma sensação de segurança num mundo em que o impulso geral do progresso parece ser sempre para frente e para o alto, na direção do desconhecido (HARVEY, 2008, p. 187).

Neste sentido, as concepções de espaço e de tempo são criadas

necessariamente através de práticas e processos materiais que servem à reprodução

da vida social. A objetividade do espaço e do tempo advém, em ambos os casos, de

práticas materiais de reprodução social e, na medida em que estas podem variar

geográfica e historicamente, verifica-se que o tempo social e o espaço social são

construídos diferentemente. “Em suma, cada modo distinto de produção ou formação

social incorpora um agregado particular de práticas e conceitos do tempo e do espaço”

(HARVEY, 2008 p. 189).

Os indivíduos são considerados agentes movidos por um propósito engajado em projetos que absorvem tempo através do movimento no espaço. As biografias individuais podem ser tomadas como trilhas de vida no tempo-espaço, começando com rotinas cotidianas de movimento (da casa para a fábrica, as lojas, a escola, e de volta para casa) e estendendo-se a movimentos migratórios que alcançam a duração de uma vida (por exemplo, juventude no campo, treinamento profissionais na cidade grande, casamento e mudança para os subúrbios, e aposentadoria passada no campo) (HARVEY, 2008, p. 195).

Soja (1993, p. 34) especifica que “assim como o espaço, o tempo e a

matéria delineiam e abrangem as qualidades essenciais do mundo físico, a

espacialidade, a temporalidade e o ser social podem ser vistos como as dimensões

abstratas que, em conjunto, abarcam todas as facetas da existência humana”. Nesse

sentido, a ordem espacial da existência humana surge da produção social do espaço,

da construção da sociedade, da produção e da reprodução das relações, simbolismos,

instituições e práticas temporais e espaciais.

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Lefevre (1974) menciona três dimensões das práticas espaciais que ele

caracteriza como: “vivido”, “percebido” e “imaginado”. Sendo assim, as práticas

espaciais materiais referem-se aos fluxos, transferências e interações físicas e

materiais que ocorrem no e ao longo do espaço, de maneira a garantir a produção e a

reprodução social. As representações do espaço compreendem todos os signos e

significações, códigos e conhecimentos que permitam falar sobre essas práticas

materiais e compreendê-las (a engenharia, a arquitetura, a geografia, o planejamento,

a ecologia social etc.). Os espaços de representações são invenções mentais (códigos,

signos, planos utópicos, paisagens imaginárias e até construções materiais como

espaços simbólicos, ambientes particulares construídos, pinturas etc.).

Harvey (2008, p. 202) por sua vez, menciona que as práticas espaciais e

temporais de toda sociedade são abundantes às sutilezas e complexidades, ou seja,

estão estreitamente implicadas em processos de reprodução e de transformação das

relações sociais. Para ele, haveria quatro aspectos das práticas sócio espaciais:

1. Acessibilidade e distanciamento referem-se ao papel da “fricção da

distância” nos assuntos humanos; a distância é tanto uma barreira como

uma defesa contra a interação humana; ela impõe custos de transação a

todo sistema de produção e reprodução (àqueles baseados em alguma

divisão social elaborada do trabalho, do comércio e da diferenciação social

de funções reprodutivas). O distanciamento é apenas uma medida do grau

até o qual a fricção do espaço foi superada para acomodar a interação

social.

2. A maneira pela qual o espaço é ocupado por objetos (casas, fábricas, ruas,

ferrovias etc.), atividades (usos e apropriações da terra etc.), indivíduos,

classes ou grupos sociais;

3. O domínio do espaço reflete o modo como indivíduos ou grupos

poderosos dominam a organização e a produção do espaço mediante

recursos legais ou extralegais, a fim de exercerem um maior grau de

controle quer sobre a fricção da distância ou sobre a forma pela qual o

espaço é apropriado por eles mesmos ou por outros.

4. A produção do espaço examina como novos sistemas (reais ou

imaginários) de uso da terra, de transporte e comunicação, de organização

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territorial etc. são produzidos, e como surgem novas modalidades de

representação (por exemplo, tecnologia da informação, mapeamento

computadorizado etc.).

Essas práticas resultam na construção e produção do espaço geográfico,

por meio de atos, objetos, atores e circunstâncias os quais fazem dele um grande

sistema dotado de multiplicidade. Essa multiplicidade é criada pelas infinitas variáveis

que fazem do espaço geográfico dinâmico, rico, híbrido. “Não vivemos numa espécie

de vazio dentro do qual possamos situar indivíduos e coisas. Não vivemos num vazio

passível de ser colorido por matizes variadas de luz, mas num conjunto de relações que

delineia localizações irredutíveis umas às outras” (FOUCAULT, 1986 p. 23).

Santos (1978), em uma primeira abordagem, considerava o espaço

geográfico como um conjunto de forma, estrutura, função e processo.

Forma, estrutura, função e processo são quatro termos disjuntivos associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre sim eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade (SANTOS, 1985, p. 52).

Para ele, a forma é o aspecto visível - as formas espaciais; a função é a

atividade desempenhada pelo objeto criado, a estrutura (social e/ou natural) é

definida historicamente - criadas e instituídas; enquanto o processo significa a ação

que é realizada de modo que resulte em mudança.

Posteriormente Santos (1982), conceituou o espaço geográfico como um

somatório e indissociável de fixos e fluxos, argumentando que

Os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também, se modificam (SANTOS, 1982, p. 53).

A grande questão, ainda segundo esse autor tratava-se de que, dentro do

desenvolvimento histórico da humanidade, os fixos e fluxos permaneceram

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interagindo entre si, aparecendo como objetos da geografia, porém, nos dias atuais,

com as mudanças nos sistemas técnicos e os resultados proporcionados por estas

mudanças, os fixos se tornaram cada vez mais artificiais e mais afixados no solo (e

alguns cada vez mais móveis), e os fluxos, progressivamente mais diversos, mais

amplos, mais rápidos, mais numerosos e mais dinâmicos.

Sendo assim, Santos (1996), em seu livro A Natureza do Espaço, propõe

outra conceituação para o espaço geográfico. Diz ele: “O espaço é formado por um

conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e

sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual

a história se dá” (SANTOS, 2006, p. 39).

Para ele, a natureza é a origem, ela provê as coisas, as quais são

transformadas em objetos pela ação do homem através da técnica, esta

interdependência resultaria no espaço geográfico. E a partir da evolução dessa

interdependência o espaço geográfico tenderia a mudar à medida que as relações

humanas com a natureza, objeto e entre os próprios homens viessem a mudar. O

espaço geográfico assim, para ele, seria também a própria sociedade, reflexo das ações

e coexistências.

A partir disso e, sobretudo, com a intenção de não criar aquilo que Milton

Santos chamou de “colcha de retalhos”, é essa a conceituação de espaço geográfico

que será tomada como norte em toda a pesquisa: “um conjunto indissociável, solidário

e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações” (SANTOS, 2006,

p. 39).

Com base nos principais autores aqui expressos, o espaço geográfico aqui é

pensado como uma totalidade híbrida, marcada por multiplicidade. Afetivamente

vivida e socialmente produzida por um conjunto de objetos materiais (naturais ou

artificiais, articulados ou não, construídos socialmente e historicamente) e ações

imateriais (sociais, políticas, jurídicas, econômicas, culturais) que constroem, impõe

resistência, separam, unificam e produzem seu funcionamento.

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O meio Técnico-Científico-Informacional

O espaço atualmente é um sistema de objetos cada vez mais artificiais,

povoado por sistemas de ações carregadas de artificialidades. Estes sistemas

interagem entre si, uma vez que são interdependentes. Assim, de um lado os sistemas

de objetos estruturam formas e abrigam as ações, e do outro lado os sistemas de

ações proporcionam a criação de objetos novos ou a inovação dos objetos já

existentes, o que desencadeia a dinâmica de transformação do espaço.

A partir do reconhecimento dos objetos no espaço percebemos as relações

existentes entre os lugares; relações estas que são resultado do processo produtivo

em larga escala, incluindo desde a produção de mercadorias, estruturas até a

produção simbólica. Soja (1993, p. 34) pontua que “a experiência da modernidade

capta uma ampla mescla de sensibilidades, que reflete os sentidos específicos e

mutáveis das três dimensões mais básicas e formadoras da existência humana: o

espaço, o tempo e o ser”.

Estes objetos são móveis, fixos, móveis-fixos e imóveis – uma barragem,

uma cidade, uma ferrovia, estruturas de eletricidade, captadores de energia eólica, um

lago, uma plantação, um porto, um servidor, um laboratório, uma indústria etc. – cujos

valores e significados estão em continuidade e sistematicamente interligados

desempenhando um papel social.

As ações são a complementaridade que resulta na construção do espaço

geográfico. Os seres humanos são seres dotados de ações; agem sobre si próprios,

sobre os outros, sobre a terra, as coisas e objetos que nela habitam. Estas ações são os

principais veículos de transformação da natureza e da vida social.

A ação é o próprio homem. Só o homem tem ação, porque só ele tem objetivo, finalidade. A natureza não tem ação porque ela é cega, não tem futuro. As ações humanas não se restringem aos indivíduos, incluindo, também, as empresas, as instituições. Mas os propósitos relativos às ações são realizados por meio dos indivíduos (SANTOS, 2006, p. 53).

As ações resultam de necessidades sejam elas naturais ou criadas, ou

mesmo ações involuntárias ou instintivas. As necessidades podem ser: materiais,

imateriais, políticas, econômicas, sociais, culturais, morais, afetivas, que conduzem os

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homens a agir e a realizarem funções. Estas funções acabam desembocando nos

objetos. “A ação é tanto mais eficaz quanto os objetos são mais adequados. Então, à

intencionalidade da ação se conjuga a intencionalidade dos objetos e ambas são, hoje,

dependentes da respectiva carga de ciência e de técnica presente no território”

(SANTOS, 2006, p. 60).

Todo e qualquer período histórico se afirma como um conjunto

correspondente de técnicas que o caracterizam e, consequentemente, como um

conjunto de objetos. Ao longo do tempo, um novo sistema de objetos responde ao

surgimento de cada novo sistema de técnicas, o que proporciona o surgimento de

novas formas de ação. Esses conjuntos explicam bem a evolução na construção e

produção do espaço geográfico ao longo do tempo.

Como um lugar se define como um ponto onde se reúnem várias relações,

o novo padrão espacial pode dar-se sem que as coisas sejam outras ou mudem de

lugar, quando há mudança morfológica, junto aos novos objetos, criados para atender

a novas funções, velhos objetos permanecem e mudam de função (SANTOS, 2006).

As técnicas atuais puderam unir todos os lugares, fazer com que os

símbolos, ações e diferenças se convergissem, tornando-se mundiais. Ciência,

tecnologia e informação são, portanto, a base técnica da vida social atual. Pela

primeira vez na história humana a divergência de tempo, de momentos dispersos,

desconexos pode ser diminuída, ou talvez, em algumas circunstâncias, até mesmo

superada. Segundo Santos (2008 p. 20), a “história do homem da nossa geração é

aquela onde os momentos convergiram, o acontecer de qualquer lugar podendo ser

imediatamente comunicado a qualquer outro”.

Áreas, regiões, territórios passam a se diferenciar a partir da proporção ou

densidade com que seus meios naturais são substitutos por meios técnicos. “Os

objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua própria razão, uma lógica

instrumental que desafia as lógicas naturais, criando, nos lugares atingidos, mistos ou

híbridos conflitivos” (SANTOS, 2006, p. 158).

O período técnico-científico-informacional se distingue dos anteriores por

abrigar uma profunda interação entre a ciência, a técnica e a informação, a tal ponto

que o termo “tecnociência” é utilizado para destacar a inseparabilidade dos conceitos

e das duas práticas. Todavia, este fenômeno é limitado, pois nem todas as áreas do

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planeta compactuam com as mesmas técnicas e nem todos os lugares as incorporaram

da mesma forma e no mesmo tempo; essa incorporação foi demorada e desigual.

O casamento da técnica e da ciência, longamente preparado desde o século XVIII, veio reforçar a relação que desde então se esboçava entre ciência e produção. Em sua versão atual como tecnociência, está situada a base material e ideológica em que se fundam o discurso e a prática da globalização (SANTOS, 2008, p. 115).

Junto com a unicidade das técnicas e a “convergência dos momentos”, a

mais-valia no nível global contribui para ampliar e aprofundar o processo de

internacionalização, que alcança um novo patamar. Agora, tudo se mundializa: a

produção, o produto, o dinheiro, o crédito, a dívida, o consumo, a política e a cultura.

“Esse conjunto de mundializações, cada qual sustentado, arrastando, ajudando a impor

a outra, merece o nome de globalização” (SANTOS, 2006 p. 134).

A globalização constitui o estágio máximo da internacionalização e

amplificação dos meios técnicos na criação de um sistema mundial de interligação

entre todos os lugares e todos os indivíduos, embora em graus diversos. Nessa

perspectiva de “unificação” do planeta, a terra torna-se um só “mundo”, diminuindo

distâncias do acesso e permitindo novas possibilidades concretas na modificação de

equilíbrios preexistentes (SANTOS, 2008).

O meio técnico-científico-informacional vem se iniciar após a segunda

guerra mundial nos países desenvolvidos. Nos países de terceiro mundo, esse início

data da década de 1970. O avanço cada vez maior no desenvolvimento entre técnica e

ciência encontra na divisão internacional do trabalho e na égide dos mercados globais

seu maior potencializador; na realidade, a divisão internacional do trabalho e a

construção de mercados globais só são permitidos mediante esta estrutura técnico-

científica que já nasce informacional.

A divisão do trabalho se amplia abrangendo muitos mais espaços, e, de outro lado, ela se aprofunda interessando a um número muito maior de pontos, de lugares, de pessoas e de empresas em todos os países. Na medida em que se multiplicam as interdependências e cresce o número de atores envolvidos no processo, podemos dizer que não apenas se alarga a dimensão dos contextos como aumenta a sua espessura (SANTOS, 2006, p. 171).

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Dadas às intencionalidades de sua produção e a localização, eles são

criados como e a partir de informação. A informação é seu principal substrato de

existência e funcionamento. A informação não apenas está presente nas coisas, nos

objetos técnicos que formam o espaço, mas também é necessária à ação realizada

sobre essas coisas. Ela é o vetor fundamental do atual processo social e os territórios

são desse modo, equipados para facilitar a sua circulação.

Assim, todas as mudanças geográficas ocorridas em decorrência de novos

processos são oriundas do período classificado por Santos (2006) como meio técnico-

científico-informacional.

Quanto ao meio técnico-científico-informacional é o meio geográfico do período atual, onde os objetos mais proeminentes são elaborados a partir dos mandamentos da ciência e se servem de uma técnica informacional da qual lhes vem o alto coeficiente de intencionalidade com que servem às diversas modalidades e às diversas etapas da produção (SANTOS, 2006, p. 157).

A partir da crescente inserção de técnicas e objetos técnicos dotados de

ciência, tecnologia e informação criou-se o que Santos (2006) chamou de

“cientificização” e “tecnização” da paisagem, o que, por sua vez, propiciou a criação de

um “tecnocosmo” onde a natureza, embora exista, tende a recuar e se artificializar

cada vez mais; aquilo que Simondon (1989) se referia ao mencionar que o artificial, de

tanto tentar, culmina por conseguir imitar o natural.

O meio técnico-científico-informacional é um meio geográfico onde o território inclui obrigatoriamente ciência, tecnologia e informação impondo assim, um novo sistema artificializado à natureza. “O meio técnico-científico-informacional é a nova cara do espaço e do tempo. É aí que se instalam as atividades hegemónicas, aquelas que têm relações mais longínquas e participam do comércio internacional, fazendo com que determinados lugares se tornem mundiais” (SANTOS, 2008, p. 21).

Agora a natureza, assim como os espaços requalificados, tende a estarem

sob a ótica global, em uma realidade que tende a funcionar como unicidade. Quanto

mais técnicos são os objetos atuais, mais subordinados às lógicas globais eles são.

Santos (1994) aponta a associação cada vez mais clara entre os objetos modernos e os

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atores hegemônicos, destacando ambos como os principais responsáveis pelo atual

processo de globalização.

Os objetos culturais tendem a tornar-se cada vez mais técnicos e

específicos, e são deliberadamente fabricados e localizados para responder melhor a

objetivos previamente estabelecidos. As ações, em consequência, tendem a ser cada

vez mais racionais e ajustadas. Convertidos em objetos geográficos, os objetos técnicos

são tanto mais eficazes quanto melhor se adaptam às ações esperadas, econômicas,

políticas culturais (SANTOS, 1996).

Assim, instala-se o que Santos (1996) chama de “tecnosfera”, que seria

uma atmosfera social estabelecida e cada vez mais dependente da cooperação entre

ciência e tecnologia traduzida em interesses de trabalho à distância, além de também

depender de uma sobreposição da natureza por uma atmosfera em que os ambientes

mais presentes são oriundos da combinação da ciência e técnica. “A tecnosfera é o

resultado da crescente artificializarão do meio ambiente. A esfera natural é

crescentemente substituída por uma esfera técnica, na cidade e no campo” (Santos,

2008, p. 13).

Esta realidade proporciona a criação de uma “psicosfera” que é formada

por um conjunto de ideias, crenças, culturas em volta de todo esse ambiente, ou seja,

ela se constitui como a base social da técnica e a estrutura comportamental da

interação moderna entre tecnologia e valores sociais apoiando cada vez mais a cultura

humana e a expansão do meio técnico-científico-informacional. “A psicoesfera é o

resultado das crenças, desejos, vontades e hábitos que inspiram comportamentos

filosóficos e práticos, as relações interpessoais e a comunhão com o Universo”

(SANTOS, 2008, p. 13).

O meio geográfico atual, graças ao seu conteúdo em técnica e ciência, condiciona os novos comportamentos humanos, e estes, por sua vez, aceleram a necessidade da utilização de recursos técnicos, que constituem a base operacional de novos automatismos sociais. Tecnosfera e psicosfera são os dois pilares com os quais o meio científico–técnico-informacional introduz a racionalidade, a irracionalidade e a contra racionalidade, no próprio conteúdo do território (SANTOS, 2006, p. 172).

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O espaço geográfico globalizado se define justamente entre as várias

presenças indissociáveis da “tecnosfera”, que é o “sistema de objetos”, e da

“psicosfera”, o “sistema de ações”. Os subespaços ou subsistemas irão existir e se

diferenciar pelas características específicas destes elementos.

Os espaços da globalização apresentam cargas diferentes de conteúdo técnico, de conteúdo informacional, de conteúdo comunicacional. Os lugares, pois, se definem pela sua densidade técnica, pela sua densidade informacional, pela sua densidade comunicacional, atributos que se interpenetram e cuja fusão os caracteriza e distingue (SANTOS, 2006, p. 173).

A densidade técnica é dada pelos diversos graus de artifício. As situações

limite seriam, de um lado, uma área natural jamais tocada pelo homem, áreas que na

gestão ambiental são consideradas como zonas primitivas, intangíveis; e, de outro

lado, grandes centros empresariais, grandes cidades dotadas de significativas

infraestruturas. A densidade informacional nos indica o grau de exterioridade do lugar

e a realização de sua propensão a entrar em relação com outro s lugares, privilegiando

setores e atores.

Santos (1994) destaca que do ponto de vista da composição qualitativa e

quantitativa dos subespaços (dotados e construídos por aportes de ciência, tecnologia

e informação) haveria áreas de densidade alta - “zonas luminosas” - e áreas

praticamente vazias - “zonas opacas” - e uma infinidade de situações intermediarias

dependendo da mistura, inserção e funcionamento de ações e objetos. O meio

técnico-científico-informacional está presente em todas as partes, mas sua densidade

varia de acordo com regiões, países, lugares, pontos.

Entretanto, mesmo com essa divergência de densidades, a atualidade

proporcionada pela mistura de técnica, ciência e informação tem possibilitado, além

da modificação da natureza, a compreensão dela própria. Com o avanço de várias

técnicas de detecção, análise, monitoramento, fotografia podemos ter acesso a

fenômenos recorrentes na terra de uma forma nunca antes vista. E mais que isso, boa

parte deste conhecimento é divulgado e “acessível às pessoas”, pelo menos àquelas

que utilizam suportes tecnológicos dos atores hegemônicos.

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O computador, atualmente presente em todos os âmbitos da vida

contemporânea, tem sido, de certa forma, o pilar técnico-científico-informacional das

ações e objetos das pessoas. Ele, em suas múltiplas e diversas formas, está presente

nas diversas conexões, nexos e redes que nos permitem pensar na construção das

atuais racionalidades.

A informacionalização, comunicação e movimentação que vemos hoje, são

produtos de um sistema proporcionado pelo avanço técnico do computador nas mais

variadas escalas. A produção maquinaria, das fábricas, nos controladores de bordo,

nos sensores de movimentação, nos celulares, sistemas de posicionamento globais,

satélites, ferrovias, sistemas de transportes, trabalhos individuais, produtos para a

saúde tem sido resultado dessa imersão gigantesca técnica do computador.

Assim, as Tecnologias da Informação e Comunicação permitem que as

inovações apareçam não apenas juntas e associadas, mas para serem propagadas em

conjunto; elas formam um gigantesco sistema científico-tecnológico-informacional que

representam a realidade do atual espaço geográfico e seus sistemas de ações e

sistemas de objetos.

Considerações finais

Santos (1996) definiu o espaço geográfico como um “um conjunto

indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de

ações” esta definição de modo mais intuitiva aqui é elevada como principal conceito

na concepção das práticas que constroem e produzem o espaço geográfico. Ela de um

lado nos leva a pensar metodologicamente quais seriam o sistema de ações e o

sistema de objetos que constroem os vários espaços, e de outro lado, nos levam a

pensar como esses sistemas evoluem com o tempo e se fazem importantes na

construção de novas práticas, socializações, modificações etc.

Moreira (2012, p. 30) para expressar como se dá todo o contexto da

materialização do espaço geográfico de forma bem didática explica que, o homem vive

em uma relação metabólica com a natureza, uma relação de intercâmbio

intranatureza, realizada pelo e como processo de trabalho. Desse intercâmbio ele

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extrai suas condições de sobrevivência, mudando o conjunto da natureza ao mesmo

tempo em que muda a si mesmo. Dá-se então, um processo de hominização do

homem pelo próprio homem, um processo de historia natural que se desdobra em

historia social e que é a matriz constitutiva do homem e a orientação nova que é dada

à própria evolução total da natureza. Essa relação interna do homem com o restante

do universo da natureza que resulta num homem e numa natureza autotransformados

se externaliza para se materializar na forma do espaço.

Assim, o espaço geográfico é uma criação humana, é, portanto, na terra

que ele se revela. E todas estas transformações são proporcionadas pela inserção e

evolução das técnicas na natureza pelo homem e sobre o homem. Essa lógica cria

novos espaços e novas práticas de se relacionar com ele. Ela influencia nas formas

como o homem vive e como ele enxerga a própria existência.

Para tal, as técnicas atuais puderam unir todos os lugares, fazer com que os

símbolos, ações e diferenças se convergissem, tornando-se mundiais. Ciência,

tecnologia e informação são, portanto, a base técnica da vida social atual. Essa união

deu lugar ao conceito de Meio Técnico-Científico-Informacional criado por Milton

Santos, ele nos permite entender as particularidades do atual meio e espaço

geográfico.

Portanto, a categoria de análise nos leva a procurar vislumbrar os sistemas

de ações e os sistemas de objetos que constroem o espaço geográfico. Eles nos dão

indícios na compreensão de particularidades possivelmente negligenciadas por

abordagens que desprezem esse conceito como importante elemento na composição

de constantes transformações do mundo, nas constantes transformações das

sociedades. Seja no conjunto de objetos materiais (naturais ou artificiais, articulados

ou não, construídos socialmente e historicamente) quer seja no conjunto de ações

(sociais, políticas, jurídicas, econômicas, culturais).

Afinal, o espaço geográfico não é meramente um reflexo da sociedade, ele

é a própria sociedade. E procurar compreender sua importância é relevante

componente no entendimento das transformações e temporalidades em que as

diversas sociedades vivem e viveram. Buscar compreendê-lo é buscar entender como

as sociedades evoluíram e como elas agem, e como alguns fenômenos ocorrem e/ou

podem ocorrer.

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2º Nó

Um espaço digital e de fluxos: o

ciberespaço.

“O ciberespaço é, o suporte da inteligência coletiva” (Pierre Lévy,

1999, p. 29).

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2º NÓ UM ESPAÇO DIGITAL E DE FLUXOS: O CIBERESPAÇO

Introdução

A inserção gradativa de técnica, ciência e informação na natureza

debatidos no nó anterior contribuiu para a construção do meio técnico-científico-

informacional que resultou em um espaço geográfico cada vez mais artificializado e

globalizado, definido pelas presenças indissociáveis da tecnosfera, que é o sistema de

objetos, e da psicosfera, o sistema de ações apontadas por Santos (1996).

Estas mudanças são significativas não só no que se refere às modificações

no meio geográfico atual, mas também do ponto de vista de como elas

proporcionaram novas formas e perspectivas de interação, comunicação e difusão de

informação e conhecimento. E, consequentemente, nas mudanças das concepções

que a sociedade tem acerca do mundo e do que seria perto, longe, rápido ou devagar.

As tecnologias de informação, processamento e comunicação contribuíram

intensamente para tais mudanças. Elas permitiram a instantaneidade comunicacional

em face de uma mobilidade antes nunca experimentada. No seio dessa revolução, o

lançamento de satélites constituiu-se em uma sólida base, afinal, para os satélites as

distâncias são irrelevantes do ponto de vista analítico e transmissional; cada ponto tem

a mesma distância dos outros, o que proporciona convergências comunicacionais de

tempo-espaço simultâneas.

Computadores, celulares, microprocessadores, fax e a internet permitiram

apreendermos informações, transferirmos dados, nos comunicarmos em tempo real

em qualquer parte do mundo. A revolução da informática e do controle tornou

possível a realização de uma maior mobilidade generalizada (dos homens, da energia,

dos usos, de informações, dos produtos, no tempo e no espaço), uma mobilidade

medida, controlada, prevista, que assegura aos centros de decisão um real poder

sobre os outros pontos do espaço.

Consequentemente, a informação que vinha sendo produzida e que

circulava ao longo da história da humanidade por suportes atômicos como o papiro e o

papel, atualmente vem sendo também difundida em formato digital, por meio de

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códigos binários (0 e 1). E a comunicação, que é um marco revolucionário a partir da

invenção do telégrafo e do telefone, passou para uma nova fase de evolução, em que

os vários meios comunicacionais permitem maior praticidade e instantaneidade

comunicacional em qualquer parte do mundo, seja em forma de sons, imagens,

arquivos ou dados.

É em meio a todas essas transformações que surge o espaço cibernético ou

ciberespaço - um ambiente de interatividade que se expandiu globalmente através da

microinformática – resultado da junção de todo o sistema técnico informacional atual.

Desde a primeira vez que o termo “ciberespaço” foi utilizado, em 1984, em um

romance de ficção científica, bem depois do surgimento da internet, em 1969, muitos

debates se propuseram, além de conceituar o que seria o ciberespaço (“não

territorial”, “pós-orgânico”, “imaterial”, “anti-espacial”, “espaço de fluxos”) e qual sua

abrangência, a pensar também as principais implicações de sua construção na

sociedade.

Dando continuidade ao nó anterior em que falamos sobre o espaço

geográfico, este nó se propõe a debater conceitualmente, a partir da revisão da

literatura, sobre um novo espaço, que também pode ser considerado como categoria

de análise espacial da geografia, porém ainda com imprecisões. Um espaço criado à luz

das atuais transformações técnicas, um espaço cibernético, eletrônico, digital, formado

por fluxos dos mais variados tipos fincados, móveis e enraizados no espaço geográfico.

Neste sentido, este nó está dividido da seguinte forma, em primeiro

momento no tópico “da emergência das Tecnologias de Processamento, Informação e

Comunicação” pretende-se falar das emergências das TICs como partes integrantes e

essenciais da construção desse espaço. No segundo momento, no tópico “A

construção de um espaço digital e de fluxos” tratar da trajetória da construção –

sobretudo conceitual - do ciberespaço face às transformações tecnológicas.

Em seguida “as atuais perspectivas de comunicação e conexão mediante o

ciberespaço” abordar as atuais perspectivas de comunicação e conexão

proporcionadas à luz da fluidez e instantaneidade do ciberespaço. E por fim, dando

sequência ao anterior, no tópico “o espaço de fluxos em face do espaço geográfico”

pretende-se destacar o conceito de espaços de fluxos de Castells (1999) e o debate de

fluidez ciberespacial em face das rugosidades do espaço geográfico.

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O aporte teórico aqui utilizado é baseado, não exclusivamente, mas

principalmente, na literatura de Santos (1985, 1994, 1996); Graham (1998); Lévy

(1990, 1999, 2000); Castells (1999, 2001, 2003, 2006); Dodge & Kitchin (2001); Barros

(2003); Frey (2003); Koepsell (2004); Pires (2005, 2007, 2009); Ferrara (2008); Massey

(2008) e Fontes (2012).

Da emergência das Tecnologias de Processamento, Informação

e Comunicação

Embora informação e conhecimento sempre tenham constituído

elementos expressivos de identidade, manutenção e reprodução dos grupos humanos,

estes dois componentes têm se tornado cada vez mais expressivos na caracterização

do atual estágio da sociedade, ou “era da informação e conhecimento”, como define

Castells (1999), sendo principalmente potencializados no seio do desenvolvimento das

“tecnologias da inteligência” conceituadas por Lévy (1990).

Neste contexto, vivemos a era da informação que, em sua forma atual, é a

matéria-prima da revolução tecnológica iniciada na década de 1990 como resultado da

combinação de uma segunda geração de tecnologias da informação (baseadas na

mecânica, na eletromecânica e numa primeira fase da eletrônica) e de uma terceira e

atual geração de tecnologias da informação, com a microeletrônica (LÉVY, 1990;

SANTOS, 1994, 1996; CASTELLS, 1999).

É importante ratificar que quando falamos em tecnologias da informação,

processamento e comunicação (TICs) incluímos,

como todo, o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação (hardware e software), telecomunicações/radiodifusão, e optoeletrônica. Além disso, diferentemente de alguns analistas também incluo nos domínios da tecnologia da informação a engenharia genética e seu crescente conjunto de desenvolvimento e ações (CASTELLS, 1999, p. 67).

Assim, as TICs constituem atualmente a substância de muitas outras

tecnologias e a condição de sua operacionalidade, sendo os elementos tecnológicos os

mais relevantes da atualidade. Essa estrutura só pode ser o que é hoje por intermédio

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da combinação entre a tecnologia digital, a política neoliberal e os mercados globais

(MORGAN, 1992). Todavia, esta mesma estrutura teve mais um elemento na

contribuição do seu desenvolvimento: trata-se do avanço nas tecnologias do

microprocessamento, pelo amadurecimento da ciência e da cibernética (MORIN, 1977;

SANTOS, 1994, 1996; CASTELLS, 1999).

A cibernética surge em meados do século passado para designar novos

tipos de máquinas artificiais. A primeira originalidade da cibernética foi conceber a

comunicação em termos organizacionais; a segunda foi ligar comunicação e comando

informacional. A informação comunicada torna-se um programa que desencadeia

operações simples e complexas.

A comunicação constitui uma ligação organizacional que se efetua por meio de transmissões e de trocas de sinais. Assim, os processos reguladores, produtores e realizadores, podem ser desencadeados controlados e verificados por meio de emissões, recepções e trocas de sinais e informações (MORIN, 1977, p. 220).

Assim, a informação que vinha sendo produzida, circulando ao longo da

história da humanidade por suportes atômicos (madeira, pedra, papiro, papel, corpo

etc.), na atualidade também circula, mas agora o faz pelos bits e códigos digitais

universais (0 e 1). As tecnologias da informática associadas às telecomunicações vêm

provocando mudanças radicais na sociedade por conta do processo de digitalização.

Uma nova revolução emergiu: a revolução digital (LÉVY, 1996; CASTELLS, 1999).

Digitalizada, a informação se reproduz, circula, modifica e se atualiza em

diferentes interfaces. É possível digitalizar sons, imagens, gráficos, textos e outras

tantas informações. Nesse contexto, “a informação representa o principal ingrediente

de nossa organização social, e os fluxos de mensagens e imagens entre as redes

constituem o encadeamento básico de nossa estrutura social” (CASTELLS, 1999, p.

505).

A revolução da informática e do controle tornou possível a realização de

uma maior mobilidade generalizada (dos homens, da energia, da informação dos usos,

dos produtos, no tempo e no espaço), uma mobilidade medida, controlada, prevista,

que assegura aos centros de decisão um real poder sobre os outros pontos do espaço.

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Cada nova técnica não apenas conduz a uma nova percepção do tempo. Ela também obriga a um novo uso do tempo, a uma obediência cada vez mais estrita ao relógio, a um rigor de comportamento adaptado ao novo ritmo. Veja-se o exemplo das estradas de ferro. Na França, antes de sua introdução, cada localidade tinha sua própria hora. Para permitir a operação combinada das linhas, a ferrovia obrigou à instalação de um horário unificado (SANTOS, 2006, p. 121).

O movimento de unificação, que corresponde à própria natureza do

capitalismo, se acelerou para hoje alcançar o seu ápice, com a predominância, em toda

parte, de um único sistema técnico, base material da globalização. Com a emergência

do meio técnico-científico-informacional, o atual sistema técnico se tornou comum a

todas as civilizações, culturas e sistemas políticos, a todos os continentes e lugares,

mesmo que sua difusão e inserção ocorram em escalas desiguais.

Cada período vê nascer uma nova geração técnica que o caracteriza. Esse novo subsistema, por se mostrar mais eficaz que os demais, emerge como um subsistema hegemônico. No passado, os respectivos sistemas hegemônicos não dispunham de um alcance global, podendo estar ausentes em certos países ou em certas regiões. Hoje estes sistemas técnicos tornam proporções globais, não mais sistemas técnicos locais, e sim globais, se tornam “uma unicidade técnica” (SANTOS, 2006, p. 125).

O outro lado de toda esta “unicidade técnica” é a possibilidade que Santos

(2006, p. 128) chamou de “unicidade dos momentos”, proporcionada, como já

mencionado, pelo avanço das TICs que são subsidiadas pelo ganho do espaço e das

potencialidades promovidas pelos satélites. Para os satélites, as distâncias são

irrelevantes do ponto de vista analítico e transmissional, cada ponto tem a mesma

distância dos outros, o que proporciona convergências comunicacionais de tempo-

espaço simultâneas.

A informação ganhou a possibilidade de fluir instantaneamente,

comunicando a todos os lugares, sem nenhuma defasagem. Presentes nos meios de

transportes as TIC contribuíram pela maior velocidade e segurança nos deslocamentos

das pessoas. Sem esta realidade não haveria um sistema técnico universalmente

integrado, nem sistemas produtivos e financeiros transnacionais, nem informação

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geral mundializada, nem trabalho simultâneo à distância, e o processo de globalização

seria impossível.

Através de um sistema de comunicação global vivemos uma situação de

comunicação generalizada e também global, a distância não é mais um fator de

isolamento comunicacional. É desse modo que a noção de tempo real ganha

substância, trazendo à vida social e política, mas, sobretudo, aos negócios, novos

pontos de apoio. O uso adequado e preciso do tempo e do espaço multiplica a eficácia

dos processos e o poder das firmas capazes de utilizar essas novas possibilidades

(SANTOS, 1985; HARVEY, 1989; LÉVY, 1990; CASTELLS, 1999).

A construção de todo esse imenso sistema técnico baseado principalmente

nas TICs - presente em todos os equipamentos tecnológicos atuais - convergiu para um

novo estágio de integração técnica. Essa integração resultou na criação de um novo

espaço, construído dentro do espaço geográfico, instaurado no tecnocosmos e que

têm em sua composição e força vital a instantaneidade e principalmente os fluxos, o

ciberespaço.

A construção de um espaço digital e de fluxos

O conceito de ciberespaço surgiu muito tempo depois de a Internet ter

sido criada, em 1969, nos Estados Unidos. Segundo Dodge & Kitchin (2001), em seu

livro “Atlas of Cyberspace”, o termo ciberespaço significa literalmente "espaço

navegável" e é derivado da palavra grega Kyber (Navegar).

Entretanto, foi em um livro de ficção científica – Neuromancer4em (1984),

de Willian Gibson - que o termo surgiu como relativo ao navegável, o espaço digital das

redes computacionais acessíveis a partir de um computador, e a partir disso começou

a ser apropriado por diversos ramos da ciência, e a Geografia foi um deles.

4 O romance examina os conceitos da inteligência artificial, a realidade virtual, a engenharia genética, as

corporações multinacionais esmagando a tradicional relação de nação-estado, e o ciberespaço muito antes que estas ideias se tornassem alvos de discussões. O ciberespaço de neuromancer (1984) é um espaço de dados, um mundo vasto nos fios conhecido como a matriz, onde existem empresas transnacionais de comércio em informações em um espaço eletrônico de visual cartesiano. Nele, os dados residem nas coloridas formas arquitetônicas, em um espaço da imaginação e interação. O ciberespaço, como Gibson descreve, é um espaço de rede conectando os armazenamento e fluxos de dados digitais que podem ser acessados e interagidos através de um computador conectado a rede.

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Ciberespaço. Uma alucinação consensual experimentada diariamente por bilhões de operadores legítimos, em todas as nações, por crianças que estão sendo ensinados conceitos matemáticos [...]. Uma representação gráfica de bancos de dados abstraídos de todos os computadores do sistema humano. Complexidade impensável. Linhas de luz variam no vácuo do mente, aglomerados e constelações de dados. Como luzes da cidade, se afastando (GIBSON, 1984, p. 67).

A partir do documentário intitulado “Through the Looking Glass: Beyond

User Interfaces”, de 1989, que tinha por intuito propor “porta de entrada para o

ciberespaço”, teve-se um passo inicial para se pensar o tema e propostas para estudos

a respeito das potencialidades que o conceito viesse a permitir (DODGE & KITCHIN,

2001).

Posteriormente, vários debates se propuseram a dialogar sobre o conceito

de ciberespaço e suas implicações: um “universo paralelo”, segundo Benedikt (1991, p.

15); um “novo tipo de espaço, invisível aos nossos sentidos diretos, um espaço que

pode se tornar mais importante que o espaço físico em si [e que] no topo das camadas,

dentro e entre o tecido do espaço geográfico tradicional", nas palavras de Batty, (1993,

pp. 615-616); “um laboratório metafísico, uma ferramenta para investigar nosso

próprio senso de realidade”, conforme nos diz Heim (1993, p. 83); “suporte da

inteligência coletiva”, para Lévy (1999, p. 29); “uma ágora eletrônica global em que a

diversidade da divergência humana explode em uma cacofonia de sotaques”, de

acordo com Castells, (2003, p. 115); e, finalmente, “apenas outro meio de expressão”

para Koepsell (2004, p. 15).

Assim, o ciberespaço, espaço cibernético ou espaços de fluxos5, tornou-se

uma dimensão cada vez mais importante para o entendimento do conceito de

espacialidade dentro da geografia, precisamente pelas novas condições criadas por ele

para as formas e dinâmicas dos espaços humanos criados na superfície do planeta.

O espaço cibernético é apenas uma das redes que se encontram entrançadas entre si; mas ele é, crescentemente, a via vital ou infovia e se tem constituído num privilegiado foco de reflexão para aqueles que procuram problematizar as distâncias e as relações espaciais na superfície do planeta nas duas últimas décadas, especialmente nos

5 Existe uma polissemia e até mesmo redundância para definir no geral o que pode ser considerado a

mesma coisa. Várias ocorrências são encontradas para o conceito: espaços de fluxos, ciberespaço, espaço cibernético, espaço virtual, espaço tecnológico.

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anos 90. Não estamos mais diante das mesmas redes do mercantilismo e da sociedade industrial. Crescentemente as relações financeiras, industriais, agrícolas, comerciais, a produção cultural, a educação, a política, as relações pessoais e privadas, a ciência e tecnologia e muitos outros aspectos da vida passaram a acontecer por meio de um espaço de fluxos e estoques planetários, e de forma tão dominante que se fala num meio ambiente digital, que é uma rede (network), com seus sites (sítios) (BARROS, 2003, p. 12).

A Geografia como ciência possibilita um viés analítico de interpretação e de

profícuo debate do ciberespaço, a partir do conceito de espaço geográfico enquanto

reflexo, e condição das práticas sociais. Nesta perspectiva podemos dizer que o

ciberespaço é uma projeção do espaço geográfico, porém, com uma geografia

diferente do mundo físico que, enquanto escala de análise ainda é impreciso.

Sua construção, projeção e fluidez, é resultado de impactos e necessidades

criadas no espaço geográfico, sobretudo no que compete a conexão e comunicação

das pessoas e da fluidez dos mais variados tipos. Sua existência enquanto dependente

do espaço geográfico destaca-se a cada vez mais indispensável de estrutura

tecnológica fixa, móvel, formada por conjunto de cabos de fibra ótica ou telefone,

pontos de presença, pontos de acesso ebackbones, ligados a várias redes LAN ou a um

único computador, que permite os fluxos de bytes.

Ter acesso ao ciberespaço é afinal, ter acesso a uma infraestrutura que, no

caráter de rede técnica, pouco difere de outras como a viária, de água, esgoto ou

drenagem: é formada também por uma trama de nós e linhas, pela qual é possibilitada

a circulação de algo que se quer distribuir. E que como tal não é acessível a todos, pelo

menos não na mesma intensidade.

Para Stefik (1996) e Graham (1998), o interessante do ponto de vista dos

geógrafos sobre o crescimento recente de discursos sobre o “ciberespaço” é que

mesmo a própria palavra “ciberespaço”, em si, tem sido dominada por metáforas

espaciais e territoriais. O que nos remete o entendimento de que o espaço geográfico

é fundamental na compreensão das dinâmicas apresentadas pelo ciberespaço.

A léxica expansão da Internet, o veículo mais bem conhecido do ciberespaço, não é apenas repleto, mas na verdade, constituído pela utilização de metáforas geográficas. Debates sobre a Internet que usam metáforas espaciais para ajudar a visualizar o que são, efetivamente, não mais do que os fluxos abstratos de sinais

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eletrônicos, codificados como representação, informação e intercâmbio. Um nó de satélite torna-se um teleporte. Um sistema de quadro de avisos torna-se uma comunidade virtual ou um bairro eletrônico. Web sites geridos por municípios tornam-se cidades virtuais (GRAHAM, 1998, p. 166).

Tais metáforas espaciais ajudam a tornar tangíveis os sistemas

extremamente complexos, misteriosos e tecnológicos que sustentam a Internet e

outras redes, e a gama crescente de transações, interações sociais, culturais e

intercâmbios de força de trabalho, dados, serviços, dinheiro e das finanças e de fluxos

ao longo deles.

Estes podem, por implicação, de alguma forma serem imaginados

semelhantemente ao material e espaços sociais e os lugares da vida cotidiana. Na

verdade, tais metáforas espaciais são comumente relacionadas, geralmente através de

oposições binárias simples, para o diretório dos “espaços reais”, materiais e locais em

que a vida diária se limita, o espaço vivido e construído (LEFEVBRE, 1984, SANTOS,

1985).

Sawhney (1996, p. 293), por exemplo, argumenta que a estratégia de

desenvolvimento de metáforas espaciais é “talvez a única ferramenta conceitual que

temos para a compreensão do desenvolvimento de uma nova tecnologia”. Porém, as

metáforas que se tornam associadas às tecnologias de informação, processamento e

comunicação são como as representações em torno da produção material e social do

espaço e do território: ativas construções ideológicas (LEFEBVRE, 1984).

Conceitos como a “sociedade da informação” têm papeis importantes na

formação das maneiras como as tecnologias são socialmente construídas, nos usos que

delas são feitos, e nos efeitos e relações de poder que cercam o seu desenvolvimento.

Metáforas também incorporam conceitos normativos de como as TICs são usadas e

como elas se tornam representantes de expressões e comportamentos das sociedades.

Entretanto, boa parte do referencial teórico que aborda o conceito do

ciberespaço na maior parte do tempo é vago. No geral, acaba-se construindo uma

visão limitada, onde o ciberespaço é exclusivamente sinônimo de internet, ou vem

sendo indevidamente tratado como dimensão virtual ou realidade virtual cuja

natureza é “não territorial”, “pós-orgânico”, “imaterial”, “anti-espacial”, ensejando

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inúmeros equívocos, mitificações e imprecisões. Entretanto, internet e realidade

virtual são apenas uma parte do ciberespaço.

A imaterialidade existente no ciberespaço só existe em face da

materialidade existente no espaço físico, no espaço geográfico; ela depende

exclusivamente dos objetos fixos e móveis para sua própria existência. Servidores que

armazenam dados de virtualidades são fisicamente construídos, verdadeiros sistemas

de objetos de informação estrategicamente montados para atender esta demanda. A

imaterialidade existente no ciberespaço depende fundamentalmente do meio técnico-

científico-informacional.

Uma parte significativa dos fluxos promovidos no ciberespaço, tendem a

seguir a mesma lógica dos fluxos humanos encontrados e realizados no espaço

geográfico, mesmo com as perspectivas das infovias digitais. Ou seja, boa parte da

noção comunicacional e informacional segue uma lógica bem estabelecida no espaço

produzido cotidianamente.

A ideia de “não territorialidade”, muitas vezes destacada, parece-nos um

equívoco, pois – ao contrário do que ela defende - revelam-se, sim, no ciberespaço

diferentes territorialidades, as quais, de acordo com Haesbaert (2004), traduzem-se na

redefinição dos espaços que passam a incorporar dimensões materiais e ou simbólicas.

Desse movimento, resultam territórios físicos, virtuais, políticos e culturais, dentre

outros, possibilitando a vivência de multiterritorialidades, em um contexto em que se

permite

[...] pela comunicação instantânea, contatar e mesmo agir sobre territórios completamente distintos do nosso, sem a necessidade de mobilidade física. Trata-se de uma multiterritorialidade envolvida nos diferentes graus daquilo que poderíamos denominar como sendo a conectividade e/ou vulnerabilidade informacional (ou virtual) dos territórios (HAESBAERT, 2004, p. 345).

Procurando desmitificar o uso consagrado pelo senso comum do termo

ciberespaço, Koepsell (2004, p. 15) afirma que estas incorreções são originárias de

questões ontológicas pertencentes a todos os fenômenos mediados pela tecnologia do

computador, sugerindo que

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O termo “ciberespaço” referir-se-á ao conjunto de transações de informação e comutadores 6 que ocorrem dentro e entre os computadores por meio desses comutadores. O e-mail existe e move-se no ciberespaço. A realidade virtual existe e ocupa o ciberespaço. Transações financeiras ocorrem de forma crescente no ciberespaço (KOEPSELL, 2004, pp. 25-26).

Logo, o ciberespaço não poderia se resumir meramente à internet, ele é

mais do que isso, ele é a junção de todo o sistema tecnológico atual conectado por

ondas, cabeamentos, fluxos, roteadores, hardwares, softwares e plugs que permitem a

criação de um sistema digital dinâmico, interligado, onde atividades, processos,

informações, acessos, contatos e uma infinidade de perspectivas que podem ser

realizadas de múltiplas formas, sob múltiplos objetos, múltiplos olhares e lugares, e

todos ao mesmo tempo.

O ciberespaço não compreende apenas materiais, informações e seres humanos, é também constituído e povoado por seres estranhos, meios textos, meio máquinas, meio atores, meio cenários: os programas. Um programa, o software, é uma lista bastante organizada de instrumentações codificadas, destinadas a fazer com que um ou mais processados executarem uma tarefa. Através dos circuitos que comandam os programas interpretam dados, agem sobre informações, transforma outros programas, fazem funcionar computadores e redes. Acionam máquinas físicas, viajam, reproduzem-se etc (LÉVY, 1999, pp. 41-42).

A construção do ciberespaço é fruto da união de um sistema de objetos

(infraestruturas móveis e/ou fixas) interligados, amparados e operacionalizados pelas

tecnologias de comunicação, processamento e informação que promovem e auxiliam

os fluxos de informações, dados... e a integração e promoção de ações.

Estas infraestruturas são muitas vezes consideradas invisíveis porque, ao

contrário de estradas ou ferrovias, elas são enterradas, serpenteadas através do

oceano, andares, escondidas dentro de condutas de parede, invisíveis ou flutuando em

órbita acima nós. Dada a sua invisibilidade, é fácil supor que a infraestrutura do

ciberespaço é quase tão impalpável e virtual como a informação e comunicação que

ele suporta.

6 Um comutador ou switch é um dispositivo utilizado em redes de computadores para reencaminhar

módulos (frames) entre os diversos nós. A função tecnológica também é utilizada para designar certos comportamentos ou posicionamentos de indivíduos em uma rede.

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No entanto, a infraestrutura tem uma presença física que pode ser

mapeada, visivelmente vista e fixada no espaço geográfico “tecnicizado”,

componentes efetivos do meio técnico-científico-informacional. Cabos de

comunicação submarinos que ligam os continentes têm sido estabelecidos desde 1860.

Na década de 1990, sua capacidade foi aumentada com os avanços na tecnologia de

fibra óptica. Um único fio de cabo7 de fibra óptica pode transportar grandes volumes

de dados8.

A parte física que compõe o ciberespaço aponta para uma distribuição

geográfica desigual em todo o mundo. Assim como uma estrutura desigual. Com

efeito, é importante perceber que a localização, densidade e extensão de toda

infraestrutura nos fornece informações importantes sobre determinantes essenciais

no que diz respeito ao acesso ao ciberespaço, custo, velocidade, capacidade de

conexão, por exemplo.

O prefixo “ciber” que atua como predicativo do espaço e da cultura que decorrem do suporte digital não os distingue com clareza no sentido de indiciar hierarquia ou relações entre eles. Entretanto, ambos e, sobretudo a cibercultura, parecem ser credores de um capital cognitivo que transforma a tecnologia digital em um meio comunicativo que promove interfaces, interatividades e longínquas e duvidosas, porém possíveis, inclusões sociais, políticas e culturais (FERRARA, 2008, p. 61).

O ciberespaço engloba uma enorme base de fluxos com várias

possibilidades de ações e agregação de pessoas: inúmeros grupos da Usenet, listas de

discussões, sites de publicidade, de empresas, sites especializados, de multiusuários,

web conferências, mensagens instantâneas, redes digitais, intranets corporativas,

comunidades virtuais e fluxos cada vez mais sofisticados de mídia e vídeo, grupos de

trabalho. O ciberespaço é a expressão tecnológica do “espaço de fluxos” mencionado

por Castells (1999).

7 Os cabos de fibra ótica consistem em grandes feixes de fibra ótica alojada dentro de uma proteção

envolta em aço, e podem, assim, realizar grandes volumes de dados na velocidade da luz. Isto levou a um rápido crescimento em capacidade de comunicação total entre os continentes. 8 O cabo TAT-14 inserido no Atlântico Norte em 2000, por exemplo, pode transportar o equivalente a

9,7 milhões de conversas telefônicas simultâneas por segundo.

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Apocalípticos e integrados são nomes que parecem corresponder ou são lembrados para designar a realidade atual vinculada à emergência da cultura que caracteriza o ciberespaço como decorrência da Internet, entendida como meio comunicativo matriz e da qual decorrem redes, blogs, chats, fotologs, sites, e os novos dispositivos móveis. Todos esses nomes constituem meios comunicativos com distintas atuações, mas eclodem no e a partir daquele espaço (FERRARA, 2008, p. 61).

As muitas infraestruturas de telecomunicações concorrentes apoiam os

sistemas globais de máquinas de caixas privados automáticos, redes de cartão de

crédito, sistemas de compensação eletrônica, tele saúde, televendas e tele banco,

logística global, monitoramento remoto, back office e de televendas, os fluxos de

intercâmbio eletrônico de dados, transações financeiras eletrônicas, os fluxos do

mercado de ações, bem como de dados e fluxos de telefonia. A estes, somam-se

sistemas especializados de satélite, banda larga, TV a cabo e radiodifusão, com apoio

crescente às matrizes de fluxo de televisão.

O ciberespaço é definido como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. [...] O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999, p. 17).

Nele, relacionamentos em suas mais variadas facetas, podem ser

multiplicados gerando novas formas dinâmicas organizacionais. Lévy (2000) destaca

que no ciberespaço cada pessoa pode se tornar uma emissora, o que obviamente não

aconteceria nas comunicações feitas em mídias como o rádio ou a televisão.

Nelas, a multiplicidade de receptores se limita ao esquema Um x Todos

(com apenas um dos dois agentes enviando informações em face da passividade do

outro). No telefone convencional ou telégrafo, por exemplo, seria Um x Um (onde

ambos interagem, trocam informações, mas mesmo assim existe uma enorme

limitação). Já o ciberespaço introduz um novo tipo de interação: Todos x Todos (com

múltiplas e infinitas possibilidades simultâneas) (LÉVY, 2000).

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Assim, o ciberespaço como um grande sistema eletrônico da sociedade

atual, é prático, interativo, conectado, instantâneo e se traduz como grande conector

de mundos e momentos por meio de suas redes e nós.

O computador não é mais um centro, e sim um nó, um terminal, um componente da rede universal calculante. Suas funções pulverizadas infiltram cada elemento do tecnocosmos. No limite, há apenas um único computador, mas é impossível traçar seus limites, definir seu contorno. É um computador cujo centro está em toda parte e a circunferência em lugar algum, um computador hipertextual, disperso, vivo, fervilhante, inacabado: o ciberespaço em si (LÉVY, 1999, p. 45).

O ciberespaço é, assim, uma projeção do espaço geográfico, potencializado

no seio do meio técnico-científico-informacional como expressão da atual sociedade

em rede. É nele que são estabelecidas as várias interconexões mundiais espalhadas

pelos vários dispositivos tecnológicos presentes no globo.

Nele permitimos fazer coisas velhas de novas formas, e modificarmos

significativamente nossas dimensões tempo espaciais em relação a quem conectamos

ao que transferimos e como nos comunicamos. Permitindo a construção de inúmeras

redes potencializada, mediadas e possibilitadas pelos aspectos eletrônicos.

As atuais perspectivas de comunicação e conexão mediante o

ciberespaço

A reflexão sobre os atuais contornos das redes (ancorada na estrutura

tecnológica e informacional) aponta diretamente para a concepção da sociedade em

rede de Manuel Castells, segundo a qual a sociedade moderna é caracterizada pela

predominância da forma organizacional da rede em todos os campos da vida social

(CASTELLS, 1999; 2001; 2003).

Conforme a interpretação de Castells (1999; 2006), os grupos sociais mais

poderosos adaptam-se de maneira cada vez melhor às novas condições da sociedade

da informação, utilizando as novas potencialidades abertas pela globalização e pelo

acesso às novas TICs em prol da consolidação de suas identidades grupais e do

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fortalecimento de sua capacidade de agir em um mundo cada vez mais

interdependente e dinâmico.

A sociedade em rede, em termos simples, é uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes (CASTELLS, 2006, p. 20).

Não só atores hegemônicos, mas quase9 toda a sociedade adquire novas

formas de organização social que emergem a partir das redes estabelecidas via

ciberespaço. A internet é sempre destacada como o fator mais expressivo em torno

desse imenso sistema tecnológico como grande facilitadora, embora não seja a única.

Com a internet, a globalização e a consequente massificação dos meios de transportes e comunicações, mais e mais pessoas se conectam, estabelecem laços e se comunicam. Mas também se descobre que as conexões são fenômenos recorrentes e quase “naturais” que existem, portanto desde sempre. O que significa que estão em todo lado, onde existirem pessoas, as redes se fazem presentes (FONTES, 2012, p. 21).

As redes atualmente estão mediadas principalmente e em até certo ponto

no ciberespaço devido ao fato de ela possibilitar aceleração e ampla divulgação das

ideias, além da absorção de novos elementos em busca de algo em comum. As redes

no ciberespaço são as relações entre dois ou mais indivíduos na comunicação mediada

por inúmeros objetos tecnológicos interligados pela internet, ondas, fluxos,

infravermelhos, wi-fi etc.

Portanto, as tecnologias como expressão técnica humana proporcionam

novas formas de ação e interação, mas não são os únicos veículos de conexão; as

próprias redes de vizinhança são um bom exemplo de redes que não dependem

exclusivamente da tecnologia para existirem ou mesmo para funcionarem. Muito

9 Quase toda por que nem todos os espaços e grupos sociais foram incluídos pela Globalização, nem

todos os aspectos tecnológicos derivados da atual realidade são difundidos igualmente pelo mundo e em alguns casos existe significativo controle do seu acesso.

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embora, a tecnologia forneça uma nova dimensão temporal para todos os tipos de

conexões humanas.

Para Castells (1999), Loumieux (2000) e Portugal (2007), as razões do

sucesso da utilização do conceito de rede, fundamentalmente, estariam ligadas ao

desenvolvimento das tecnologias de informação, processamento e comunicação,

possibilitando a existência de conexões onde antes havia isolamento. Para Castells

(2006, p.18), “as redes de comunicação digital são a coluna vertebral da sociedade em

rede, tal como as redes de potência (ou redes energéticas) eram as infraestruturas

sobre as quais a sociedade industrial foi construída”.

Porém, como aponta Castells (2006, p. 17), “a tecnologia é condição

necessária, mas não suficiente para a emergência de uma nova forma de organização

social baseada em redes, ou seja, na difusão de redes em todos os aspectos da

atividade na base das redes de comunicação digital”, a base cultural, econômica e

política emergente são elementos significativos em toda essa realidade.

Neste contexto, o paradigma do ciberespaço é a base material – sistema de

objetos – para a expansão penetrante de redes tecnológicas na estrutura social da

sociedade contemporânea. Embora as redes sejam formas antigas de conexão

humana, como já citado anteriormente, “elas tomaram uma nova forma, nos tempos

atuais, ao transformarem-se em redes informacionais, revigoradas pela internet”

(CASTELLS, 2001, p. 1).

Como expressão do espaço geográfico, o ciberespaço padece de

antagonismos semelhantes aos existentes na vida material, não sendo, assim,

exclusivamente comunicacional. Desta forma, na construção e no acesso de redes não

poderia seria diferente: “As redes constituem a nova morfologia social de nossas

sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de maneira substancial a operação

e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura” (CASTELLS,

1999, p. 497).

As novas redes não apenas distribuem poder, mas também tornam

possível a disseminação de novas e diferentes formas de poder: senhas, servidores,

firewalls, grupos formados apenas por convidados, grupos privados e restritos, redes

de citações, link, redirecionamentos; são todas novas formas de poder criados no

ciberespaço que têm impactos no espaço geográfico e vice versa, afinal, estas

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questões tendem a determinar aspectos da vida social, política, cultural e econômica.

Grupos humanos estabelecidos por elas incorporam e criam estas mesmas práticas

cotidianamente.

Assim, conforme Tinland (2001, p.263), as redes estruturam, à sua

maneira, o campo de forças das relações de cooperação e de antagonismo que estão

presentes na sociedade humana. As redes “são, de fato, instrumentos de poder e de

rivalidades para seu controle. Elas são suscetíveis (...) de funcionar como instrumentos

de integração e de exclusão, na linha direta dos processos de diferenciação”.

No entanto, mesmo com estas questões - que são característica de

qualquer tipo de rede –, no ciberespaço potencializa-se a fluidez, circulação e acessos

imateriais que facilitam relacionamentos transversais e comunicações mais rápidas,

logo, diversas “fronteiras são permeáveis, interações acontecem com diversos outros,

conexões mudam entre múltiplas redes e hierarquias podem ser reduzidas e recursivas”

(WELLMAN, 2001, p. 227).

Ou como aponta Frey (2003, p. 177),

E, de fato, enquanto as instituições territoriais tradicionais são mais hierárquicas e rígidas, a internet tende a privilegiar modos de relacionamento transversais e estruturas mais fluidas, em maior sintonia com as estruturas de redes, que caracterizam os processos sociais e políticos nas sociedades democráticas modernas.

Neste sentido, esperam-se efeitos positivos e significativos das redes

sociais em meio ao ciberespaço, não só aqueles produzidos para os grandes atores

hegemônicos, mas nos campos sociais e políticos. Entretanto, estas devem ser

analisadas com cautelas, os benefícios comunicacionais e informacionais das infovias

tecnológicas servem e contribuem até determinado ponto ou a determinado

propósito.

Isso implica em refletirmos que os impactos proporcionados pelo

ciberespaço na conexão e comunicação devem ser relativizados sobre contextos

específicos. Da mesma forma que as redes não são iguais, os agentes que usam delas

também não, como não são seus objetivos e os espaços distintos a que seus membros

estão inseridos.

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Entretanto, não há como negarmos que as infovias digitais forneceram

novos subsídios na comunicação e transmissão de informações entre várias pessoas

distribuídas em espaços diferentes. Em até dado momento comunicar-se, trabalhar e

transferir informações neste meio se torna significativamente profícuo.

Assim, Castells (2001, p.5) acredita “que a internet é um instrumento

fundamental para o desenvolvimento do Terceiro Mundo” diante das possibilitadas por

ela permitidas:

Alega-se que as redes são capazes de proporcionar resultados que normalmente só o mercado ou as hierarquias são capazes de produzir, apresentando porém vantagens adicionais. Em redes pode ocorrer todo tipo de troca sem os seus membros serem expostos às incertezas e riscos das transações de mercado. As redes facilitam um comportamento coordenado, sem a necessidade de aceitar a rigidez de organizações inflexíveis e burocráticas. A rede mostra-se como a única estrutura de ação capaz de cumprir duas funções básicas: primeiro, a função estratégica de reduzir as incertezas com relação ao comportamento de outros atores, como competidores ou parceiros; segundo, a função instrumental de melhoria do desempenho, isto é, um aumento dos resultados produzidos. Além disso, as redes parecem preservar a autonomia dos parceiros e aumentar sua capacidade de aprendizagem (FREY, 2003, p. 175).

De acordo com o tipo de rede, e o objetivo da atividade a ser desenvolvida,

a instantaneidade e praticidade proporcionada a atuação de vários atores em vários

níveis transversais em uma mediação tecnológica deve ser considerada como

importante suporte tele comunicacional.

Web conferências, suporte para mensagens instantâneas, download,

anexação de arquivos, disponibilidade de tutoriais, fóruns de dúvidas, grupos de

torrentes, formação de grupos10 virtuais para debates e transferência de informações,

contribuem significativamente em determinados momentos do trabalho em rede e o

acesso de informações.

10

Neste contexto, muito tem se falado também na concepção criada por Derek J. Solla Price, em 1963, em seu trabalho Big science, little Science sobre os “colégios invisíveis”, ou mesmo da atual determinação derivada do ciberespaço: os “colégios virtuais”. Entretanto, a presente pesquisa não pretende seguir por esta linha de raciocínio, e esta própria abordagem deixa algumas dúvidas, como as expressas no trabalho Academic communication and internet discussion groups: their spread, use and “survival” within academic communities, de Uwe Matzat, de 2001.

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Não há dúvidas de que as redes eletrônicas transformam as dimensões de tempo e espaço. A informação é transmitida em tempo real e pode-se estabelecer contatos imediatamente, independentemente da distância espacial. A comunicação em rede garante, em princípio, um acesso universal, confortável, não-filtrado e de baixo custo a informações e processos políticos. Entretanto, o potencial democrático específico da internet baseia-se em sua estrutura não-hierárquica e cibernética que, em princípio, favorece a interatividade (FREY, 2003, p. 177).

As redes eletrônicas digitais podem ser simultaneamente, adaptáveis e

hibridas graças à sua capacidade de descentralizar o seu desempenho e conectividade

ao longo de uma rede de componentes autônomos, enquanto se mantêm as

capacidades de coordenar todo o processo de determinada atividade de forma

descentralizada, com a possibilidade de partilhar a tomada de decisões em vários

pontos por uma parcela do grupo ou todo ele, em momentos distintos ou simultâneos,

dinamizando os resultados e procedimentos metodológicos de processos de trabalho.

Em uma web conferência, por exemplo, uma pessoa envia uma mensagem

a dezenas ou centenas de outras. Entre estas, algumas respondem. Depois, outras

respondem àquela resposta e assim por diante. Como todas essas as mensagens são

registradas, sedimenta-se, assim, progressivamente uma memória, um contexto do

grupo de discussão. Esse contexto comum, não hierarquizado, em vez de vir de um

centro emissor central e exclusivo, emerge da interação entre os participantes. Todos

os nós de uma continuidade conectada participam igualmente nessa rede eletrônica.

Ora, o ciberespaço abriga milhares de grupos de discussão (os news groups). O conjunto desses fóruns eletrônicos constitui a paisagem movediça das competências e das paixões, permitindo assim atingir outras pessoas, não com base no nome, no endereço geográfico ou na filiação institucional, mas segundo um mapa semântico ou subjetivo dos centros de interesse. O endereçamento por centro de interesse e a comunicação todos-todos são condições favoráveis ao desenvolvimento de processos de inteligência coletiva (LÉVY, 1998, p. 44).

Atores têm a oportunidade de conectarem as suas redes

instantaneamente, vislumbrando sons, imagens e interagindo todos ao mesmo tempo.

Os membros não são apenas nomes, ou “atores inanimados” em uma teia de contatos.

Ao contrário das conexões estabelecidas pelo telégrafo, por exemplo, onde os nós da

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rede eram apenas pontos em uma continuidade geográfica, as redes no ciberespaço

permitem a construção e transmissão de inúmeras particularidades sociais - os pontos

já não são mais pontos, são pessoas - e até certo ponto a transmissão desses aspectos

ajuda significativamente na manutenção da interatividade por todos os nós.

A comunicação de mão dupla, que se torna possível na internet, contrapõe-se à comunicação de mão única, que prevalece nos meios de comunicação de massa. Enquanto, por exemplo, na televisão os debates públicos são conduzidos em geral pelos líderes de opinião, sem uma participação ativa dos cidadãos comuns, surgem com a internet novas possibilidades de criação de uma esfera pública interativa, um tipo de “ágora eletrônica” (ROESLER, 1997, p. 182).

Consequentemente, com a comunicação de mão dupla, multiplamente

interativa proporcionada pelo ciberespaço, acredita-se que as redes facilitem o acesso

à informação e ao conhecimento codificado, não só ao acesso, como a troca

dependendo das circunstâncias.

A imprensa, a edição, o rádio e a televisão funcionam segundo um

esquema em estrela, ou “um para todos”. Um centro emissor envia mensagens na

direção de receptores passivos e, sobretudo, isolados uns dos outros. Mas não há

reciprocidade nem interação (ao menos no interior do dispositivo) e o contexto é

imposto pelos centros emissores (LÉVY, 2008).

O emissor acaba tendo um papel central na transmissão de informação não

pela capacidade de interação com os vários indivíduos, mas pela incapacidade deles

interagirem, se expressarem e, consequentemente, se transformarem em emissores

também. Como mostrado na figura nº 1 a seguir:

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Figura nº 1: Um emissor para vários receptores passivos

Fonte: Elaboração própria com base em Lévy (2008).

O correio e o telefone desenham um esquema em rede, ponto a ponto,

“um para um”, no qual, ao contrário da mídia tradicional, as mensagens podem ser

endereçadas com precisão e, sobretudo, trocadas com reciprocidade. Entretanto, este

esquema em rede não cria comunidade ou “público”, pois a partilha de um contexto

em escala é significativamente difícil e o tempo de espera entre uma troca e outra, às

vezes, pode ser longo ou pouco difuso. E apenas dois elementos – um em cada ponta -

interagem no mesmo momento, como mostrado na figura nº 2.

Figura nº 2: Emissor / Receptor: ponto a ponto

Fonte: Elaboração própria com base em Lévy (2008).

Já o ciberespaço combina vantagem dos dois sistemas anteriores,

permitindo ao mesmo tempo a reciprocidade na comunicação e a partilha de um

contexto entre os vários membros da rede que o utilizam. Permitindo, assim, bem

mais atores que no formato de rede ponto a ponto, como mostrado na figura nº 3.

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Figura nº 3: Vários emissores e receptores ativos na mesma rede

Fonte: Elaboração própria com base em Lévy (2008).

A troca de informação, o aprendizado em alguns setores pode ser bem

mais produtivo, não só pela quantidade de pessoas conectadas, mas pela velocidade

com que estas informações podem chegar aos vários pontos, desde que estes estejam

bem conectados. O ponto neste caso é que, estas perspectivas mesmo que não

atinjam a todos os tipos de redes e a todos os tipos de circunstâncias ainda se tornam

significativamente construtivas em dados momentos, e não que não existiriam sem as

infovias tecnológicas.

[...] o conhecimento dos canais de comunicação e do posicionamento de um ator em uma rede pode contribuir para um melhor aproveitamento dos fluxos de informação nela contidos, visto serem as redes sociais caracterizadas por um conjunto de interações entre indivíduos e, por meio destas interações, poderem-se distinguir padrões de relacionamentos entre seus membros (RODRIGUES & TOMAÉL, 2008, p. 17).

A quantidade de atores em redes eletrônicas mediadas pelo ciberespaço,

além de poder alcançar um nível de instantaneidade indefinido, estes podem se

conectarem por determinado tempo apenas com aqueles que momentaneamente

sejam importantes, sem que sejam necessariamente excluídos da rede, os canais de

transmissão e trocas: e-mail, servidores, bate papos são enormes.

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91

Considerações Finais

A contínua artificialização do meio geográfico, com a inserção contínua de

técnica, ciência e informação na natureza, promoveu o que podemos considerar a

gradativa produção de um novo espaço, um espaço sobre outro espaço. Produziu-se

um espaço digital e de fluxos dentro do próprio espaço geográfico, em que sua

principal essência é a promoção de maior fluidez e circulação.

O ciberespaço é assim compreendido como grande infovia tecnologia e

comunicacional mundial. É por meio dele que os mais diversos fluxos se encontram e

circulam entre os vários pontos distribuídos e criados no mundo. Os fluxos juntamente

com a tecnologia são além de sua base conceitual sua própria sustentação.

Comumente considerado com sinônimo apenas de internet, o ciberespaço

deve ser visto além desse erro conceitual, uma vez que sua concepção e abrangência

vai, além disso, ele é aqui considerado como a junção de todo o sistema tecnológico

atual conectado por ondas, cabeamentos, fluxos, roteadores, hardwares, softwares e

plugs que permitem a criação de um sistema digital dinâmico, interligado, onde

atividades, processos, informações, acessos, contatos e uma infinidade de perspectivas

que podem ser realizadas de múltiplas formas, sob múltiplos objetos, múltiplos olhares

e lugares, e todos ao mesmo tempo.

Mas e o que é internet, então? Ela é resultado e ao mesmo tempo técnica,

mídia, rede, infraestrutura e conteúdo. E ela por sua vez é importante elemento, não

só do ciberespaço mas enquanto infovia e como o espaço geográfico não é só matéria,

ele é relacional também, devemos compreender que os aspectos virtuais da internet e

do espaço geográfico se conectam e se influenciam, mas nunca se sobrepõem.

Portanto, enquanto grande sistema eletrônico da maior parte das

sociedades atuais, o ciberespaço é prático, interativo, interconectado, instantâneo e se

traduz como grande conector de mundos e momentos por meio de suas redes e nós.

Ele é o principal responsável pelos contornos pelas quais as atuais redes eletrônicas

são concebidas e de parte das novas relações entre as pessoas e o espaço.

Suas contribuições são reais, e suas possibilidades são vastas, sua

influencia nos atuais contornos sociais são de significativa relevância, entretanto, sua

análise deve ser concebida com cautela e reflexão sob alguns pontos. O ciberespaço

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deve ser entendido como projeção do espaço geográfico, potencializado no seio do

meio técnico-científico-informacional e não como um completo substituto, ou espaço

em si, assim como o geográfico.

Da condição de um espaço digital e de fluxos permeado pela junção da

internet e demais tecnologias de informação, processamento e comunicação, destaca-

se a cada vez mais dependente de estrutura tecnológica fixa, formada por conjunto de

cabos de fibra ótica ou telefone, pontos de presença, pontos de acesso de backbones,

ligados a várias redes LAN ou a um único computador que permite os fluxos de bytes.

Ter acesso ao ciberespaço depende, afinal, de uma infraestrutura que, no caráter

de rede técnica, pouco difere de outras como a viária, de água, esgoto ou drenagem: é

formada também por uma trama de nós e linhas, pela qual é possibilitada a circulação

de algo que se quer distribuir.

Ou seja, a imaterialidade e fluidez existente no ciberespaço só existem em

face da materialidade existente no espaço geográfico; ela depende exclusivamente dos

objetos fixos e móveis para sua própria existência. Servidores que armazenam dados

de virtualidades são fisicamente construídos, verdadeiros sistemas de objetos de

informação estrategicamente montados para atender esta demanda.

Uma parte significativa dos fluxos promovidos no ciberespaço,

dependendo do objetivo ou da intencionalidade, tende a seguir a mesma lógica dos

fluxos humanos encontrados e realizados nas rugosidades do espaço geográfico.

Assim, boa parte das perspectivas comunicacionais e informacionais seguem uma

lógica estabelecida no espaço geográfico produzido cotidianamente que não deve ser

negligenciada em face da atual fluidez comunicacional.

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2ª CONEXÃO

SOBRE REDES, E A PESQUISA

CIENTÍFICA EM REDE.

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1º Nó

O espaço móvel e integrado: as redes.

“As redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades,

e a difusão da lógica de redes modifica de maneira substancial a

operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência,

poder e cultura” (Manuel Castells, 1999, p. 497).

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2ª CONEXÃO: SOBRE REDES, E A PESQUISA CIENTÍFICA EM REDE

1º NÓ O ESPAÇO MÓVEL E INTEGRADO: AS REDES

Introdução

O termo rede, como destaca Mercklé (2004), goza atualmente de uma

popularidade crescente. Para Musso (2010) o termo chega a ser até mesmo

onipresente e mesmo onipotente nos debates atuais. O grande fato é que, o conceito

é utilizado na linguagem corrente para a definição de uma série de aspectos, objetos,

ações e fenômenos.

Desde a sua utilização inicial, que tinha como objetivo designar os fios e

tecidos usados para entrelaçar os vários nós e linhas das malhas e texturas feitas pelos

artesões no século XII, até os dias de hoje, o termo fora utilizado como designação de

inúmeras metáforas: extensão, deslocamento, ligação, entrelaçamento, controle e

coesão, circulação, fluxo, intercalação, tráfego, topologia, malha, conexão,

conhecimento e representação topológica.

Entre todas as metáforas e designações, duas principais características

sempre estiveram presentes, denotando as reais possibilidades que o conceito de rede

tem a proporcionar, seja em análises metafóricas às mais teórico-metodológicas, a

saber: a circulação e conexão.

E não poderia ser diferente, pois circulação e conexão são as principais

funcionalidades ou qualidades do conceito de rede em suas diversas formas, das redes

hertzianas, ferroviárias, neurais, redes de fluídos, redes viárias, redes de migração, de

transportes, redes telefônicas até as mais variadas redes de infraestruturas

(geográficas) e as redes imateriais, as redes sociais.

De modo breve, simplificado e até mesmo intuitivo, podemos conceituar as

redes de infraestrutura como “toda infraestrutura, simples ou complexa que permite

conexão e o transporte de matéria, de energia ou de informação”, enquanto que as

redes sociais podem ser conceituadas como “um conjunto de pontos traduzidos em

atores, conectados entre si, estes pontos, denominados são nós e são unidos por laços

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que se estruturam a partir de certas regras e motivações, e tendo sua objetividade

definida pelos seus vários membros.”.

Em ambos os casos, existe, em até certo ponto ou em alguns casos, uma

enorme interdependência para a existência de ambas, isto é, as redes sociais

necessitam das redes de infraestrutura para existirem, sobretudo na forma espaço-

temporal com que são concebidas atualmente; já as redes de infraestruturas são

resultados da necessidade dos homens de se conectarem mais e mais, de

transportarem matéria e informação, traduzidas no resultado de seus esforços

técnicos.

Assim, a evolução técnica teve papel significativo nos desdobramentos

pelos quais as mais variadas redes passaram ao longo dos anos. As redes de

infraestrutura evoluíram para patamares que tornassem os fluxos (materiais e

imateriais) mais fluídos, mais rápidos e eficazes, como consequência da constante

inovação técnica, remarcando e reorganizando novos e velhos recortes espaciais.

Desta forma, as considerações que seguirão neste nó, dando sequência aos

outros dois anteriores, têm por objetivo debater sobre a construção do conceito de

rede e para tal estão divididas em três tópicos: o primeiro deles “a evolução da

construção do conceito de rede” pretende abordar a trajetória da construção do termo

redes em face suas diversas denominações e atribuições. O segundo “O estudo das

redes na ciência geográfica” é uma tentativa de trazer uma abordagem pontual sobre

o debate de redes em face da ciência geografia, destacando assim a influência delas na

análise científica da geografia e vice versa. E por fim, no tópico sobre “as redes sociais”

procura-se debater sobre a construção do conceito de redes sociais em face desta ser

um dos componentes mais importantes do trabalho.

O aporte teórico aqui utilizado é baseado, não exclusivamente, mas

principalmente, na literatura de Santos (1985, 1994, 1996); Barnes, (1987); Raffestin,

(1993); Elias (1994); Dias (1995); Lastres & Ferraz, (1999); Lastres & Albagli (1999); ;

Allen, (2000); Castells (1999, 2006); Buchanan (2002); Barabási (2002); Mercklé (2004);

Molina (2004); Musso (2001, 2003, 2004); Watts (2006; 2009); Portugal (2007); Acioli

(2007); Christakis & Fowler (2010); Matos (2011); Fontes (2012).

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97

A evolução da construção do conceito de rede

Para Mercklé (2004, p. 3), o termo "rede" goza atualmente de uma

“popularidade crescente”, é abundantemente usado em linguagem corrente,

acadêmica ou política para designar uma grande variedade de objetos, ações e

fenômenos. No entanto, o termo estaria longe de ser um neologismo: a palavra, antiga

na história, surgiu no início do século XII e, desde então, seus usos são extremamente

instrutivos, pois permitem distinguir claramente os diferentes registros metafóricos

que o conceito já recebeu e continua recebendo.

A palavra rede (résau) só aparece na língua francesa no século XII, vindo do

latim retolus, diminutivos de retis, e do francês antigo résel: a rede designa então

redes de caça ou pesca e tecidos, uma malha têxtil que envolve o corpo. Como aponta

Musso, (2010, p. 18) “fios entrelaçados para os tecidos, os cordéis ou cestas, as malhas

ou tecidos estão em torno do corpo”. No século XVI, o termo résuil no francês antigo

veio designar também os véus e rendas com que as mulheres cobriam a cabeça e,

ainda também o tecido que elas colocavam sobre suas camisas, o sutiã.

Mercklé (2004) faz referência as ocorrências mais constantes e precisas do

termo rede, ao se referir do livro “Le Thresor de la langue française”, de Nicot (1606),

onde é usado termo résau, que significa “tecelões de malha de fios, incluindo redes,

sacos, bolsas”. O livro considerava o termo - originário do latim – como:

“entrelaçamento de linhas”, portanto, referindo-se a um tecido, mencionado nos

séculos anteriores. O uso do dicionário da academia francesa de 1694 define o

vocábulo como uma obra “de linha ou de seda, feitos por pequenas malhas em forma

de redes”, termologia adotada inclusive para a língua portuguesa.

Neste sentido, Musso (2001), ao fazer uma análise metafórica das redes11 e

seu entrelaçamento nos diversos espaços e territórios, menciona que nas técnicas

manuais de tecelagem, a fiandeira produz o tecido (rede) num ritmo contínuo de vai-e-

vem, um movimento circular e cíclico, um símbolo de continuidade e ruptura. Assim,

11

Musso (2001) define três visões metafóricas diferenciadas de rede de acordo com o contexto social da

inserção de cada uma: A rede biometafisica (do tecido); a rede biopolítica (do organismo), acompanhada da visão lógica e moderna de Saint-Simon; e a rede bioecológica (do cérebro/computador).

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para o autor, desde a origem a simbologia do tecido é abordada na ambivalência da

continuidade do entrelaçamento e da ruptura e do corte do cinzel12.

Nesta linha de raciocínio, pode-se analisar a rede sob a concepção de

pausa, ou seja, enquanto ruptura que se opõe ao fluxo, geralmente atribuída aos

espaços; e também enquanto movimento, que pode representar os fluxos contínuos

evidentes no último século, decorrentes da mundialização do capital, da revolução

técnica, do transporte das pessoas e das mais variadas mobilidades e integrações.

No século XVII a palavra rede acabou por ser definida para designar a

intersecção das fibras, face ao uso de redes têxteis. Consequentemente utilizou-se o

termo, ainda no mesmo século, em prontuários para designar artérias, veias e o

sistema nervoso. A visão anterior do tecido é transferida para o interior do organismo,

a partir das veias que se comunicam no corpo fluindo de um lado a outro alimentando

organismos vivos.

Em especial, pelos trabalhos do naturalista e médico italiano Marcelo

Malpighi que trás para a ciência o vocábulo rede, até então reservado ao tecido, para

descrever o “corpo reticular da pele”. Muito embora, essa noção, já tenha sido

abordada anteriormente pela medicina de Hipócrates que tratava do fluxo invisível da

circulação dos humores e do arranjo de fluxos e malhas que partem do cérebro.

(MUSSO, 2004).

Em Traité de l'homme (1662), Descartes compara o corpo humano a uma

máquina feita de mangueiras, fibras, fios, artérias, redes pequenas, intestinos, tubos,

de forma que o movimento de sangue no corpo produza uma circulação constante e

intermitente. Para ele os fluxos e conexões do corpo humano, principalmente o

cérebro eram como rendas, uma densa rede de fios entrelaçados.

Descartes, analisa uma zona precisa do cérebro, a glândula de pineal,

afirmando ser este o lugar de passagem das mensagens que vinham do coração, o

meio de comunicação da mente para os demais membros do corpo, uma verdadeira

rede de distribuição.

12

Formão (português europeu) ou cinzel (português brasileiro) é um instrumento manual que possui numa extremidade uma lâmina de metal resistente muito aguçada em bisel, usado para entalhar ou cortar (madeira, ferro, pedra etc.), geralmente com auxílio de um martelo. Esse termo vem do latim popular arcaico "císellus": "cortar".

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As artérias e veias do corpo humano estariam estendidas como malhas de

tecidos estendidos e conectados como tapeçarias. É nesse momento que se consolida

a ideia do “fluxo”, correspondente ao fluxo sanguíneo que posteriormente se constitui

como alguns dos principais aspectos das redes: fluir e circular.

Assim, as primeiras formas de representação da rede designam caminhos,

convergências, linhas e nós, seja pelas técnicas de tecelagem, seja pelas conexões

interiores ao corpo. Inicialmente, a rede é externa e envolve o corpo; depois as redes

passam a constituir o próprio corpo, passam a fazer parte de sua composição, dão

sentido ao seu funcionamento como a funcionalidade de uma máquina composta de

engrenagens, fios, tubos e conexões de todos os tipos.

A partir de meados do século XVIII, a noção de rede é enriquecida com o

significado de topografia, com a sua aplicação aos métodos de triangulação do espaço

em rede. Em 1750 aproximadamente, o abade de La Caille, professor de matemática,

chama “rede” uma reunião de fios que permite observar as estrelas com uma luneta

astronômica (retículo óptico) (MERCKLÉ, 2004).

Posteriormente os geógrafos e oficiais militares Achille-Nicolas Isnard e

Pierre Alexandre d’Allent em seu Ensaio de conhecimento militar (1802) empregam o

termo rede no sentido de “redes de comunicação” com o objetivo de representar o

território como um esboço de linhas imaginárias ordenadas em rede de modo que

matematicamente contribuísse na construção de mapas (MUSSO, 2004).

Consequentemente, ainda em meados do século XIX, dando sequência a

conhecimentos técnicos produzidos por engenheiros, militares na construção de

infraestruturas e demarcações dos grandes territórios, existe a grande ruptura no

conceito de rede, em que é observada sua “saída” do corpo e dos fios da tecelagem,

que eram até então as duas grandes metáforas.

É também no século XIX que o conceito de rede tem sua maior expansão

em termos, derivações, metáforas e utilização para análise e designar uma série de

fenômenos. É nesse momento também que ela é utilizada por uma série de ramos da

ciência como objeto de estudo, principal e complementar.

Ela, a rede, foi pensada como cristal e depois como grafo. E, sobretudo,

ancorada na matemática e geometria que forneceram conhecimento técnico para uma

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análise do conceito de rede sobre um aspecto operacional, representada pelas

construções técnicas dos engenheiros sobre o território.

Assim, a rede é objetivada como uma lógica técnica, expansionista,

demarcadora, conectora, promotora do acesso, fluxo e transporte por meio de

infraestruturas itinerárias, estradas de ferro, redes de telegrafia, estradas, caminhos

que atravessavam as regiões, cidades e países modificando a relação com o espaço e

com o tempo.

A rede não é mais apenas observada sobre ou dentro do corpo humano, ela pode ser construída. Distinguida do corpo natural, ela se torna um artefato, uma técnica autônoma. A rede está fora do corpo. O corpo será até mesmo tomado pela rede técnica enquanto se desloca em suas malhas, no seu território. De natural, a rede vira artificial. De dada, ela se torna construída. O engenheiro a concebe e a constrói, enquanto o médico se contentava em observá-la. A rede pode ser construída, porque ela se torna objeto pensado em sua relação com o espaço. Ela se exterioriza como artefato técnico sobre o território para encerrar o grande corpo do Estado-Nação ou do planeta. Para sair de sua relação com o corpo físico, a rede devia primeiramente ser pensada como conceito para torna-se operacional como artefato (MUSSO, 2010, p. 20).

A rede, enquanto grande ruptura no seu conceito incorporou algumas

características chaves, que a nosso ver, abarcam de forma objetiva o sentido real e

funcional que se pressupõe ou espera-se de uma rede (ou de uma estruturação em

rede), seja ela construída pelos artefatos técnicos, ou existentes de relações sociais, ou

mesmo a construção das várias interligações de artérias e veias do corpo humano, que

seriam: conectar, transportar, circular e fluir.

Seu conceito se tornou atualmente fundamental na compreensão de

muitos fenômenos e na potencialização de outros. A rede assim, em sua instituição é

uma estrutura composta por elementos de interação; em sua dinâmica, ela é uma

estrutura de conexão instável, transitória e não linear; e em sua relação com um

sistema complexo, ela é uma estrutura cuja dinâmica supõe-se explicar o

funcionamento de um subsistema visível.

Nos dias de hoje, como mesmo destaca Musso (2010, p. 17) a noção de

rede chega a ser

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Onipresente, e mesmo onipotente, em todas as disciplinas: nas ciências sociais, ela define sistemas de relações (redes sociais, de poder...) ou modos de organização (empresa-rede, por exemplo); na física, ela se identifica como a análise dos cristais e dos sistemas desordenados (percolação); em matemática informática e inteligência artificial, ela define modelos de conexão (teoria dos grafos, cálculos sobre rede, conexionismo...); nas tecnologias, a rede é a estrutura elementar das telecomunicações, dos transportes ou da energia; em economia, ela permite pensar novas relações entre atores na escala internacional (redes financeiras, comerciais...); a biologia é apreciadora dessa noção de rede que, tradicionalmente, se identifica com a análise do corpo humano (redes sanguíneas, nervosas, imunológicas...).

E muito embora o autor não tenha se dedicado nesta citação a mencionar

a geografia, o conceito de rede se mostrou constantemente presente nos estudos

geográficos, denotando os vários recortes espaciais, territorialidades tecnológicas e

sociais. E é justamente quando as redes passam a se tornar objeto pensado em sua

relação com o espaço, por meio da influência técnica (e não apenas ela) no século XIX

que a Geografia passa a se preocupar com sua funcionalidade e transformações.

O estudo das redes na ciência geográfica

Diante das várias e emergentes designações e metáforas do conceito, no

século XIX a Geografia Clássica veio a se preocupar com as redes, entretanto, tendo

como aspecto central os fluxos e movimentos e, por conseguinte, suas transformações

espaciais. Os elementos da mobilidade, comunicação e circulação, estiveram nas

análises e estratégias sobre a dominação de pontos na terra. As infraestruturas

construídas que cortavam e ligavam os territórios e que serviam para demarcar, mas

também transportar, também foram fenômenos estudados.

Contudo, antes do maior interesse pelas redes formadas pelas pessoas em

meio aos fluxos e as circulações, elas, as redes hidrográficas, podem ser consideradas

como as primeiras estruturas desta natureza observadas pelo homem e construídas

pela natureza. Desde os textos da Roma Antiga ou mesmo o Egito, mostraram o

interesse do homem pelas curvas, conexões e fluxos das águas formadas pelos rios.

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O homem ao vericiar e buscar compreender as múltiplas ocorrências da

natureza, notadamente percebia as conexões e emaranhado de canais dos rios e seus

fluxos d`àgua, a concepção do conceito de rede até então, mas a noção de que a

hidrografia permitira a construção de um emaranhado de redes era notado.

A geografia de Ratzel e de La Blache destacou as transformações entre os

homens e a natureza, entre outras formas, por intermédio dos fluxos, como os fluxos

migratórios fundamentais, ao estabelecimento de grupos humanos sobre a terra. Vital

de la Blache (1922) evidenciou em seu trabalho Principes de la géographie humaine a

presença e importância da circulação na grande marcha humana sobre a superfície da

terra, desde os “caminhos de almocreve” ou pelas estradas criadas e frequentadas

pelas frentes do comércio. Ratzel pontuou o caráter do Estado-Nação no consumo de

espaços contínuos e não contínuos, legitimando ações que tiveram não somente a

circulação de pessoas e mercadorias, mas, sobretudo políticas expansionistas.

Já mais recentemente, no século XX, outra importante influência das redes

na geografia aparece na “teoria dos lugares centrais”, focada nos estudos de geografia

urbana em que Walter Christaller (1966) considerou os graus de centralidade de

respectivas regiões da Alemanha meridional, procurando compreender a rede urbana

através da hierarquia de seus centros, em decorrência da oferta de bens e serviços.

Assim, a partir de seus conseguintes sucessos, não só na geografia, mas

também em outras áreas do conhecimento, o conceito de rede foi enriquecido por

várias metáforas de extensão, deslocamento, ligação, entrelaçamento, controle e

coesão, circulação, conhecimento e representação topológica. Na linguagem cotidiana,

o uso da noção de rede é dotado de metáforas desta natureza (intercalação, tráfego,

topologia).

Para Santos (1995), no âmbito da evolução da produção e da vida nas redes

elas podem ser divididas em três momentos:

Primeiro momento – dominado pelos dados naturais, nesse período a

estrutura humana era limitada e em alguns casos subordinada à natureza; as redes

eram criadas a partir da causalidade, espontaneidade. Elas serviam, neste momento, a

uma pequena vida de relações, significativamente limitada em termos de espaço,

tempo e conteúdo. Os itens eram pouco numerosos e as trocas pouco frequentes.

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Segundo momento – proporcionado pouco antes da entrada na

modernidade, caracteriza o momento em que as redes ganham unidade funcional com

as novas formas de energia e tendem a assumir a racionalidade das novas formas

produtivas. O progresso técnico auxilia, mas ainda é limitado; o principal aspecto é o

interesse no fechamento ou na abertura de fronteiras em função do “comércio

mundial”.

Terceiro momento – iniciado no período técnico-científico-informacional,

no qual os suportes das redes encontram-se no território, nas forças dominadas pelos

homens, como a emissão de ondas e rádio, do espectro eletromagnético e nas forças

oriundas do desenvolvimento técnico-científico-informacional, como o computador e a

internet.

É importante lembrar, como falado anteriormente, que o conceito de rede

não pertence exclusivamente a uma única ciência. Devido ao reconhecimento das suas

capacidades descritivas e explicativas, outros campos das ciências humanas o têm

utilizado, em primeiro lugar, separadamente, para, em seguida, proporcionar diálogos

que são sempre mutuamente vantajosos. Algumas ciências que o utilizam: sociologia,

geografia, psicologia, antropologia, história, economia, e outras disciplinas

relacionadas à engenharia e à gestão urbana também utilizada no campo transportes,

telecomunicações, arquitetura e urbanismo. A matemática também aproveitou este

conceito em torno do qual foi particularmente bem desenvolvida a teoria dos grafos13

(MERCKLÉ, 2004).

O estudo das redes nas diversas ciências tem sido trabalhado de acordo

com seus interesses específicos. No caso da ciência geográfica, seu estudo sempre foi

em sua grande maioria focada nas redes de infraestruturas, redes técnicas

provenientes em sua maioria das inovações tecnológicas e suas transformações

espaciais. Como aponta Matos (2011, p. 168),

13

A teoria dos grafos é um ramo da matemática que estuda as relações entre os objetos de um determinado conjunto. Para tal, são empregadas estruturas chamadas de grafos. Atribui-se ao artigo de Leonhard Euler, publicado em 1736, sobre o problema das sete pontes de Königsberg, o primeiro resultado da teoria dos grafos. Grafo é um conjunto de nós, conectados por arestas que, em conjunto, formam uma rede. Na sociologia, a teoria dos grafos é uma das bases do estudo das redes sociais, ancorado num tipo de análise estrutural particularmente veiculado por Barry Wellman proveniente das décadas de 60 e 70.

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As redes despontaram como objeto de estudo [da geografia] desde o século XIX, como parte da necessidade de dimensionamento ténico e regulatório nos processos de normatização de diversas infraestruras econômicas. Eram infraestruturas que participavam da expansão urbano-industrial e evoluíam com as inovações derivadas da chamada segunda revoluçrão industrial, a exemplo das redes de transporte ferroviário cada vez mais complexas, das redes de abastecimento de água e esgoto, das redes de eletricidade, entre outras. As redes urbanas, inclusive, por seu caráter territorialmente abrangente e estratégico, sempre foram uma evidência de força das nações e impérios há bem mais tempo.

A noção de redes na geografia, segundo Santos (1995) ao se referir ao

dicionário da geografia coordenado por George (1970) assume três grandes enfoques

que seriam divididos em: a) polarização de pontos de atração e difusão, que é o caso

das redes urbanas; b) projeção abstrata, que é o caso dos meridianos e paralelos na

cartografia do globo; c) projeção concreta de linhas de relações e ligações, que é o

caso das redes hidrográficas, das redes técnicas territoriais e, também, das redes de

telecomunicações, apesar da ausência de linhas e com uma estrutura física limitada

aos nós; e consideramos uma quarta, só recentemente debatida com mais ênfase: d)

redes “imateriais”, analisadas a partir de uma perspectiva social que se refere às

pessoas, mensagens e valores.

As redes 14 que se configuram atualmente na perspectiva geográfica

possuem características distintas, tais como as redes de infraestrutura, que funcionam

como suporte para o fluxo de materiais e informações no território. Um exemplo disso

são as redes de transporte (rodovias, ferrovias, transportes etc.) e as de comunicação e

informação (infovias, internet, sistemas de comunicação via satélites, etc.).

Estas se apresentam como estruturas resultantes, de uma maior

tecnicização do espaço geográfico visando à boa realização das ações empreendidas

pelos agentes que delas participam sem a qual não seria possível a circulação e a

comunicação necessárias ao estabelecimento das “relações” próprias à composição de

outras redes (políticas, simbólicas, culturais ou, em sentido próprio: “sociais”).

De acordo com Musso (2004) uma estrutura ou diagrama em rede é

constituído, em um dado instante, de uma pluralidade de pontos (picos) ligados entre

14 Outros tipos de aplicação do termo rede surgiram na atualidade: redes de serviços, redes de

prestação e atenção à saúde, redes epidemiológicas...

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si por uma pluralidade de ramificações (caminhos). Um pico é a interseção de vários

caminhos e, reciprocamente, um caminho põe em relação vários picos. Uma rede

sempre oferece uma à possibilidade de vários caminhos.

Assim como na construção do conceito de tessitura do século XVII,

tradicionalmente as redes no âmbito geográfico15 possuem algumas características

bem típicas. No âmbito de sua materialidade

Rede é toda infra-estrutura, que permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, se inscreve sobre um território onde se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de

comunicação (CURIEN & GENSOLLEN, 1985, p. 50-51).

Com relação à sua dimensão, essência e conteúdo, Santos (1996, p. 209)

destaca que a rede “é também social e política, pelas pessoas, mensagens, valores que

a frequentam. Sem isso, e a despeito da materialidade com que se impõe aos nossos

sentidos, a rede é, na verdade, uma mera abstração”.

Tomando emprestadas diversas contribuições, Musso (2010, pp. 31-32) dá

a seguinte definição para o conceito de rede “rede é uma estrutura de interconexão,

instável, composta de elementos em interação, e cuja variabilidade obedece a alguma

regra de funcionamento”. Podemos distinguir três níveis nesta definição:

1. A rede é uma estrutura composta de elementos em interação; estes

elementos são os picos ou nós da rede, ligados entre si por caminhos

ou ligações, sendo o conjunto instável e definido em um espaço de três

dimensões: conexão, circulação e transporte.

2. A rede é uma estrutura de interconexão instável no tempo; a gênese de

uma rede (ou de um elemento de uma rede) e sua transição de uma

rede simples para uma mais complexa são consubstanciais e podem

mudar constantemente.

15

Para Musso (2001) o termo rede possui uma polissemia que pode atrapalhar a sua concepção

enquanto conceito e objeto empírico. Entretanto, para Miranda Neto (2008), a rede possui uma polissemia que enriquece o conjunto de significações agregadas ao conceito e permite uma rica análise epistemológica que para ele a polissemia pode ser vista muito mais como uma vantagem, uma vez que ela conecta múltiplos olhares, sobretudo na ciência geográfica, uma ciência acostumada a lidar com múltiplas significações complexas e, às vezes, antagônicas.

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3. A existência, manutenção ou mudança de uma rede obedece a alguma

regra ou lógica de funcionamento.

As redes são virtuais e ao mesmo tempo são reais. As redes são técnicas,

mas também são sociais. Elas são materiais, mas também são viventes. Elas são um

sistema de ordem dupla e ao mesmo tempo estrutural e funcional.

Animadas por fluxos, que dominam o seu imaginário, as redes não prescindem de fixos – que Constituem suas bases técnicas - mesmo quando esses fixos são pontos. Assim, as redes são estáveis e, ao mesmo tempo, dinâmicas. Fixos e fluxos são intercorrentes, interdependentes. Ativas e não passivas, as redes não têm em si mesmas seu princípio dinâmico, que é o movimento social (SANTOS, 2006, p. 188).

Dias (1995, p. 147) complementa que a rede apresenta a propriedade de

conexidade, isto é, através da conexão de seus nós ela, simultaneamente, tem a

potencialidade de solidarizar ou de excluir, de promover a ordem e a desordem. Além

disso, ela destaca que a rede é uma forma particular de organização, e, no âmbito dos

processos de integração, de desintegração e de exclusão espacial, ela “aparece como

instrumento que viabiliza [...] duas estratégias: circular e comunicar”.

A rede aparece [...] como fios seguros de uma rede flexível que pode se moldar conforme as situações concretas e, por isso mesmo, se deformar para melhor reter. A rede é proteiforme, móvel e inacabada, e é desta falta de acabamento que ela tira sua força no espaço e no tempo: se adapta as variações no espaço e as mudanças que advém do tempo. A rede faz e desfaz as prisões do espaço, tornando território: tanto libera como aprisiona (RAFFESTIN, 1993, p. 204).

Assim, a rede técnica permitiu a comunicação, conexão e democratização

das informações pelas pessoas por meio da circulação e transporte nos territórios dos

homens, reduzindo as distâncias físicas e tempos, interconectando os lugares,

recortando espaços graças as suas vias de comunicação e de interligação.

Elas são ao mesmo tempo locais e globais, as redes são singulares e

múltiplas, ao mesmo tempo concentradoras e dispersoras, condutoras de forças

centrípetas e de formas centrífugas, são estáveis, dinâmicas. Por meio delas há uma

criação paralela e transversal de ordem e desordem no território, já que elas integram,

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107

desintegram, constituem estruturas reveladoras de poder, são móveis e integradas,

constroem e destroem novos e velhos recortes espaciais.

Consequentemente, podemos definir alguns pontos importantes ao nível

dos estudos geográficos das redes: a rede não deve ser tomada simplesmente como

“um conjunto de linhas e pontos”, mas enquanto “relações” que se dão no tempo e no

espaço de forma descontínua, ou seja, sem preenchê-los por completo. Essa definição

permite atenuar os impasses causados pelas redes técnicas do tipo hetzerianas (redes

de satélite, de telefonia celular, etc.) que podem prescindir das linhas (físicas) sem,

contudo, se livrar das conexões.

Assim, toda rede geográfica é imbuída de uma presença técnica (de

engenharia) e por uma ação política (estratégia definida por pessoas ou grupos) que

carrega as contradições imanentes à estrutura socioespacial (diferenciações). A rede

pode ser também definida no âmbito de relações simbólicas de pertencimento,

representadas por laços afetivos que se traduzem em novas formas de representação

espacial. Dependendo da concepção de território que se propõe entender, a rede pode

constituí-lo (por exemplo, as vias de integração nacional), ou fazer-se o próprio

território (redes simbólicas, territorialidades).

Porém, as redes que aqui nos interessam são formadas das relações entre

as pessoas, construídas por circunstâncias simbólicas e múltiplas subjetividades. É um

tipo de rede em cujo conceito se faz uma observação recente: sua construção antes

dos grandes adventos técnicos era lenta, pequena e, sobretudo, de vizinhança; já no

seio da atual sociedade, ganhou outros contornos. Estas redes são “sociais”. E estas, na

nossa visão, se mostram ainda como lacuna no debate da ciência geográfica.

As redes sociais

Para Portugal (2007), o conceito de “rede social” apareceu relativamente

cedo na Sociologia e na Antropologia Social. No entanto, inicialmente, nos anos 30 e

40, o termo era, sobretudo, usado em sentido metafórico: “os autores não

identificavam características morfológicas, úteis para a descrição de situações

específicas, nem estabeleciam relações entre as redes e o comportamento dos

indivíduos que as constituem” (PORTUGAL, 2007, p. 3).

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108

O uso do conceito de rede para designar conjuntos de indivíduos e suas

relações com os demais, descrevendo estruturas, sistemas, círculos, grupos data de

meados do século XX. A primeira aproximação remonta à Claude Lévi-Strauss em sua

análise etnográfica das estruturas elementares de parentesco, na década de 1940. Na

década seguinte, em 1950, Radcliffe-Brown usa o termo "redes", na tentativa de

caracterizar a estrutura social enquanto uma rede de relações institucionalmente

controladas ou definidas.

A primeira utilização do conceito de “rede social” é creditada ao

antropólogo britânico John A. Barnes16 (1954). Para a Antropologia Social, a noção de

redes sociais busca apoiar "a análise e descrição daqueles processos sociais que

envolvem conexões que transpassam os limites de grupos e categorias" (BARNES, 1987,

p. 163). O conceito revelou-se importante não só para a descrição da estrutura da

comunidade, como, também para a compreensão de processos sociais fundamentais,

como o acesso ao emprego ou a cargos políticos (PORTUGAL, 2007).

Pouco tempo depois, foi Elizabeth Bott (1957), em seus estudos sobre

família e as redes de relações sociais, que teve como mérito reconhecer a associação

entre o caráter interno de uma relação e a estrutura de uma rede, mostrando que uma

relação familiar não depende apenas do comportamento dos membros, mas também

das conexões que estes estabelecem com outros, como vizinhos e amigos, e que o

conceito de rede social veio definitivamente chamar a atenção da comunidade

científica.

Durante a segunda metade do século XX, o conceito de rede social tornou-

se importante na teoria sociológica e deu margem para inúmeras discussões sobre a

existência de um novo paradigma nas ciências sociais. No decorrer das últimas

décadas, a sociologia das redes sociais constituiu-se num domínio específico do

conhecimento e institucionalizou-se progressivamente, ao ponto de

consequentemente abranger outras áreas da ciência.

16

O estudo de John A. Barnes sobre Bremmes, uma comunidade de pescadores norueguesa, realizado no início da década de 1950, foi pioneiro nesta área. Ao estudar a importância das interações individuais na definição da estrutura social comunitária, Barnes isolou dois campos (territorial e industrial) com base nos quais se estabelecem as relações entre os indivíduos. No entanto, o autor chega à conclusão de que a maioria das ações individuais não pode ser compreendida com base no pertencimento territorial ou industrial. Assim, ele isola então um terceiro campo, formado pelos laços de parentesco, amizade e conhecimento, que concebe como uma rede: rede de relações, flexível e discreta, em que os diferentes membros se podem ou não conhecer uns aos outros e interagir entre si (BARNES, 1987).

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Desde os finais da década de 1990, diversas obras vêm defendendo a

emergência de uma “nova ciência das redes”, que usa o conceito como forma de

apreender as interconexões do mundo contemporâneo (PORTUGAL, 2007). Autores

como Buchanan (2002), Barabási (2002), Watts (2006; 2009), Christakis (2010) e

Fowler (2010) têm cruzado conhecimentos das ciências sociais, da matemática, da

física, da engenharia, da medicina e da biologia na defesa de uma visão do mundo “em

que tudo está ligado17”.

Visões como estas devem ser encaradas com significativa cautela, uma vez

que em alguns pontos colocam a questão das redes sociais como uma verdadeira

panaceia na compreensão de todas as particularidades sociais. Por outro lado, têm

possibilitado aos cientistas um significativo diálogo interdisciplinar não apenas

metafórico, mas também teórico-metodológico na compreensão de fenômenos até

pouco tempo atrás não mensuráveis sob esta perspectiva da conectividade.

A ciência das redes tem que se tornar, em suma, uma manifestação do seu próprio objeto de estudo, uma rede de cientistas resolvendo coletivamente problemas que não podem ser resolvidos por indivíduos isolados ou mesmo por disciplinas isoladas (WATTS, 2009, p. 2).

Assim, epidemias, redes de difusão de inovação, redes comunitárias, redes

de pesquisa, redes de apoio social, etc. podem ser analisadas sob o contexto de redes

sociais, apontando para a sociedade contemporânea “como uma rede social

complexa”, ao mesmo tempo em que demonstra um “mundo pequeno em que

vivemos” (BARABÁSI, 2002).

Inspirados pelos estudos fundadores do psicólogo americano Stanley

Milgram, na década de 1960, – que ficaram conhecidos como small world studies18 –

17

Como indica o título da obra de divulgação de Albert-László Barabási – Linked. A nova ciência das

networks: como tudo está conectado a tudo e o que isso significa para os negócios, relações sociais e ciências (2002). Para este autor as redes são pré-requisito para descrever qualquer sistema complexo, que resulta no fato de que a teoria da complexidade está por trás de qualquer teoria de redes. 18

Stanley Milgram conduziu uma experiência nos Estados Unidos da América do Norte que consistia em

pedir a diversas pessoas escolhidas ao acaso (habitantes de Boston e do Nebraska) que fizessem chegar um dossiê a um “indivíduo-alvo” (um corretor de Boston), dispondo apenas de informação sobre o seu local de residência e profissão. Os indivíduos podiam usar o correio, o contato pessoal, no caso de conhecerem a pessoa, ou usarem um intermediário que tivesse maiores possibilidades de conhecer o indivíduo em questão. Das 296 pessoas da amostra, 217 aceitaram o desafio e expediram o dossiê a um

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estes autores procuram “padrões e regularidades na arquitetura de diferentes tipos de

redes” (BUCHANAN, 2002, p. 19). Assim, a “ciência das redes”, como aponta Fontes

(2012, p. 75), “pretende ser um instrumento para a compreensão de fenômenos

universais, desde estruturação de complexos arranjos neurais até processos

ecológicos”.

As estruturas sociais podem ser representadas como redes – como conjuntos de nós (ou membros do sistema social) e conjuntos de laços que representam as suas interconexões. Esta é uma ideia maravilhosamente libertadora. Dirige o olhar dos analistas para as relações sociais e liberta-os de pensarem os sistemas sociais como coleções de indivíduos, díades, grupos restritos ou simples categorias. Usualmente, os estruturalistas têm associado “nós” com indivíduos, mas eles podem igualmente representar grupos, corporações, agregados domésticos, ou outras coletividades. Os “laços” são usados para representar fluxos de recursos, relações simétricas de amizade, transferências ou relações estruturais entre “nós” (WELLMAN & BERKOWITZ, 1991, p. 4).

Surge então uma “ciência das redes”, que é baseada na ideia de que o

comportamento humano pode ser mais plenamente explicado por uma compreensão

da estrutura das relações sociais nas quais os atores estão situados. Pesquisadores da

teoria de redes sugerem que estas estruturas têm um impacto mais profundo sobre o

comportamento do que as normas, valores etc. A teoria de redes sociais é diferente da

análise de redes19 sociais, que é um conjunto de técnicas que se aplicam às teorias de

rede.

Ao construir uma linguagem para falar de redes que seja precisa o bastante para descrever não apenas o que é uma rede, mas também que tipos diferentes de redes existem no mundo, a ciência das redes está fornecendo ao conceito uma força analítica real (WATTS, 2009, p. 11).

dos seus contatos, sendo que 64 dossiês chegaram ao seu destino, através de cadeias de tamanho variável, mas cuja média era de 5,5 intermediários. Os estudos levados a cabo por Milgram tiveram inúmeros desenvolvimentos (sobre as implicações teóricas e metodológicas do seu trabalho, ver Degenne & Forsé, 1994; Watts, 2003; e Mercklé, 2004). Apesar de o autor nunca ter usado esse número – como sublinha Barabási (2002) – as conclusões do small world studies levou à generalização da ideia de que todos no mundo estão separados por apenas seis pessoas. Conduto, este estudo caiu em desuso, depois que foi revitalizada por estudos sobre redes sociais eletrônicas, como o Facebook em 2008. 19

A análise de redes sociais tornou-se o estudo dos efeitos dos padrões sociais de relações sobre o comportamento humano. Ela constitui-se, portanto, numa ferramenta conceitual, analítica e metodológica que não pode ser desmembrada do debate sobre redes sociais.

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A teoria das redes é um ramo da sociologia estrutural, ciência na qual a

ação humana é vista como uma função dos constrangimentos e oportunidades

oferecidas pelas forças que existem fora do indivíduo. As raízes da estrutura

sociológica voltam para as obras de Karl Marx, Émile Durkheim e Georg Simmel, mas a

abordagem das redes surgiu na sociologia contemporânea.

A concepção básica de redes – tanto para uso metafórico, quanto para o uso analítico - seria a de que a configuração de vínculos interpessoais entrecruzados são de forma inespecífica conectados às ações dessas pessoas e às instituições da sociedade. A ideia que permeia a metáfora de redes, é a de indivíduos em sociedade, ligados por laços sociais, os quais podem ser reforçados ou entrarem em conflito entre si (ACIOLI, 2007, p. 3.)

Concomitantemente, o termo “rede social”, para as ciências sociais, seria o

conjunto de relações sociais entre um grupo de indivíduos e também entre os próprios

indivíduos isoladamente. O termo rede social, enquanto instrumento de análise,

permite a reconstrução dos processos interativos dos indivíduos e suas afiliações a

grupos.

As conexões entre as pessoas em uma rede de contatos revelaria bem mais

do que simplesmente seus vínculos, elas revelariam: motivações, atributos, regras,

resultados, relações de poder e outros aspectos que não ocorrem meramente ao acaso

poderiam ser vislumbrados.

O fenômeno das redes sociais apresenta dois ingredientes considerados fundamentais desde os clássicos: o fato de que somente poder-se-á ter uma compreensão adequada da sociedade a partir do momento em que se foque a atenção nos complexos processos subjacentes às relações entre as pessoas, de um lado e, por outro, no fato de que, estes fenômenos embora adquiram uma feição aparentemente aleatória, estruturam-se em uma lógica

relativamente invariante (FONTES, 2012, p. 91).

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Assim, uma rede social é, essencialmente, composta por diversos agentes

individuais (os nós, ou atores da rede) ligados por relações sociais (os elos, ou laços:20

fortes ou fracos) e pelos mecanismos de regulação dessas interações (motivações,

normas) estruturados por lógicas e atributos que definem os vários tipos de redes e

seus objetivos e funcionalidades. Existe também a distinção entre os laços diretos

(relação direta entre dois atores) e os laços indiretos (ligação de dois nós por

intermédio de outros nós).

Para Matos (2011, pp. 173-174), “rede social é, basicamente, um conjunto

de relações resultantes da articulação de grupos de pessoas, ou instituições sociais,

segundo motivações específicas mais ou menos duráveis no tempo. Uma rede social

pode se desdobrar por localidades contínuas ou distantes e aglutinar outras redes

sociais”. Ou, como nas palavras de Fontes (2012, p. 178):

Rede, neste sentido, pode ser conceituada como um conjunto de pontos conectados entre si. Estes pontos, denominados nós, são unidos por laços, que se estruturam a partir de certas regras; quer dizer, que apresentam alguma universalidade ou, o que é o mesmo, são passíveis de se extrair proposições de ordem geral sobre suas propriedades.

Para Molina (2004, p. 1), “uma rede é um conjunto de relações (linhas, links

ou empates) entre um conjunto definido de elementos (nós). Cada ligação corresponde

a uma rede diferente”, o que permite múltiplas análises e descrições dos processos

sociais (fluxos, motivações, grupos, números, densidades, informações, resultados,

normas, afiliações etc.).

(a noção de rede social permite) a análise e descrição daqueles processos sociais que envolvem conexões que transpassam os limites de grupos e categorias. As conexões interpessoais que surgem a partir da afiliação a um grupo fazem parte da rede social total tanto

20

Sobre os tipos de laços, em um artigo pioneiro sobre a análise das redes sociais e sua importância

para a compreensão das interações entre os níveis micro e macro, Mark Granovetter (1973) coloca essa unidade de análise – as redes interpessoais – como um elemento fundamental nessa ponte. Ele analisa os laços sociais existentes, classificando-os como fortes (definidos como aqueles nos quais os indivíduos despendem mais tempo, intensidade emocional e trocas; por exemplo, amigos de longa data, família) e fracos (aqueles nos quais o investimento é menor ou nulo, como, por exemplo, conhecidos, colegas). O autor mostrou que no acesso ao emprego, por exemplo, determinado tipo de laços (laços fracos) permite estabelecer pontes entre diferentes grupos sociais, possibilitando acesso aos indivíduos que seriam inacessíveis dentro de suas redes de relações próximas (laços fortes).

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quanto aqueles que vinculam pessoas de grupos diferentes (BARNS, 1987, p. 162).

Para Mercklé (2004, p. 4), uma rede social pode ser definida como “um

conjunto de unidades sociais e de relações, diretas ou indiretas, entre essas unidades

sociais, através de cadeias de dimensão variável”. Essas unidades sociais podem ser

indivíduos ou grupos de indivíduos, informais ou formais, como associações, empresas, países. As relações entre os elementos da rede podem ser transações monetárias, troca de bens e serviços, transmissão de informações, podem envolver interação face a face ou não, podem ser permanentes ou episódicas (PORTUGAL, 2007, pp. 23-24).

Esses indivíduos, grupos de indivíduos, informais ou formais estão inseridos

dentro dos mais diversos tipos de processos de sociabilidades cotidiana, estas por sua

vez implicam nos propósitos com que as relações são iniciadas, continuadas ou

terminadas. Ou como nas palavras de Fontes (2012, p. 78) onde destaca que,

Os processos estruturantes das redes sociais têm por origem as interações sociais estabelecidas quotidianamente pelos indivíduos. Quer dizer, a estrutura de sociabilidade presente em cada uma das pessoas (seres sociais por excelência), que surge com base em “certos impulsos ou função de certos propósitos”; é organizada em campos sociais, elementos de identidade de uma geografia social que permite, por exemplo, a localização dos indivíduos em uma estrutura social e as potencialidades interativas entre eles.

Neste sentido, a estrutura social proposta sob o enfoque de uma ciência

das redes estaria ligada a uma concepção de redes sociais, estabelecidas pelas

múltiplas relações em processo: vínculos, fluxos, conexões, mudanças, informações e

circulação realizada pelos vários indivíduos em meio a uma intermitente

interdependência.

As pessoas sempre se conectaram às outras, de inúmeras formas e por

inúmeros motivos, a exemplo das vizinhanças, redes de apoio familiar, redes

comunitárias, redes na escola etc. Temos pelo menos uma conexão em nossa vida, que

é com o espaço que produzimos e vivemos. Para além desta, várias outras conexões

acabam surgindo, quais sejam as relações cotidianas, as redes de trabalho, redes de

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escola e grupos estudantis etc., ligações que evidenciam a imensidão dos fluxos,

contatos e conexões construídas e terminadas diariamente.

Em sociedade, a quantidade de conexões e a velocidade com que ocorrem

são cada vez maiores. Basta atendermos ao telefone celular para nos conectarmos de

imediato a outra pessoa em qualquer lugar do mundo. Algo similar acontece quando

navegamos via internet por links criados entre páginas na web ou contatos com outras

pessoas.

Para tal, estes aspectos são incorporados à metáfora de redes, que, para

Elias (1994), explicam as várias inter-relações e as várias estruturas sociais existentes

na sociedade.

Para ter uma visão mais detalhada desse tipo de inter-relação, podemos pensar no objeto de que deriva o conceito de rede: a rede de tecido. Nessa rede, muitos fios isolados ligam-se uns aos outros. No entanto, nem a totalidade da rede nem a forma assumida por cada um de seus fios podem ser compreendidas em termos de um único fio, ou mesmo de todos eles, isoladamente considerados; a rede só é compreensível em termos da maneira como eles se ligam, de sua relação recíproca (ELIAS, 1994, p. 35).

Para Fontes (2012), a noção de rede, deste modo, significa muito mais que

um instrumento metodológico de análise dos processos interativos. Este fenômeno

aparece em cima de uma montagem complexa, cujos componentes se localizam na

estrutura social.

Estrutura social que é âncora das práticas dos indivíduos, orientados por razões de qualquer forma idiossincráticas, mas em constante comunicação um com o outro. A análise dos processos de interação social através da investigação dos processos formativos das redes, nos é útil na medida em que nos permite o esclarecimento de suas diversas facetas (FONTES, 2012, p. 79).

As mais variadas faces expressas por meios das conexões estabelecidas

pelas redes sociais acabam por adquirirem novos contornos e multiplicar as

possibilidades de agrupamentos e construções de vínculos sociais e grupos sociais,

sobretudo na contemporaneidade.

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A evidência do meio técnico-científico-informacional e, por consequência,

a construção do ciberespaço, articulados com a necessidade das pessoas de se

conectarem, mas também pelo simples fato de se comunicarem e interagirem, acabam

por potencializar novas formas de conexões, em nível mundial, nas quais os

relacionamentos, o contato e a circulação de informação criam os mais variados

vínculos antes inacessíveis.

Os pontos não são apenas pessoas, são links, hipertextos, servidores e

vários outros esquemas que incorporam as redes sociais e as redes tecnológicas. Tudo

isso se torna um só, mediado por uma imensidão de fluxos comportados pelo

ciberespaço. As conexões e as redes ganham significativa instantaneidade e escalas

antes nunca imaginadas. Estes aspectos foram são destacados na obra de Manuel

Castells A sociedade em rede.

Considerações finais

O termo rede, surgido no século XII em alusão ao entrelaçamento de

malhas e fios utilizados pelos artesões, recebeu significativa atenção nos anos que se

seguiram, servindo como base para se denotar vários objetos, ações e fenômenos.

Inicialmente foi utilizado para designar caminhos, convergências, linhas e nós,

posteriormente, em prontuários, ao mencionar artérias, fios, veias e o sistema

nervoso. No século XVIII, fora utilizado para topografia, na utilização de métodos

cartesianos; já no XIX, para designar tráfego, caminhos, estradas e ferrovias que

atravessavam uma região, cidade ou país; culminando, no século XX, em seu uso para

designar uma das formas mais antigas de agrupamento humano: as redes sociais.

Neste contexto, o conceito de rede passou por várias incorporações que

abrangeram desde os aspectos mais metafóricos até os teóricos metodológicos. Dos

fios e malhas dos tecelões, perpassando pelas artérias de Hipócrates, aos fluxos de

Rene Descartes, das redes urbanas de Walter Christaller às recentes redes sociais de

John A. Barnes. Em todas estas incorporações os aspectos de “circular e conectar”,

características principais de uma rede, sempre estiveram presentes nas mais diversas

observações.

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116

E assim, a partir dos consequentes sucessos e tendo como principal

característica a circulação e conexão entre vários pontos numa continuidade, o termo

rede foi utilizado para a designação de inúmeros fenômenos que acabaram se

permeando por vários segmentos da sociedade: redes de saúde, redes de transporte,

redes hertzelianas, redes urbanas, redes ferroviárias, redes rodoviárias, redes sociais e

inúmeras outras ramificações.

Somente no século XX é que o termo rede foi utilizado para designar

conjuntos de indivíduos e suas relações com os demais, descrevendo estruturas,

sistemas, círculos e grupos. Antes disso, porém, Claude Lévi-Strauss, na década de

1940, e Radcliffe-Brown, na década de 1950 já tratavam do tema. Contudo foi em 1954

que o conceito redes sociais nasceu, na antropologia social, por meio do antropólogo

britânico John A. Barnes.

Percebeu-se então que as estruturas sociais podem ser representadas

como redes, como conjuntos de nós. E o conjunto de laços que representam estas

interconexões e as significativas particularidades existentes neste sistema, uma vez

que os padrões de conexão entre as pessoas não ocorrem ao acaso, partilham de

inúmeros aspectos que influenciam em maior ou menor intensidade certos

agrupamentos e/ou comportamentos.

Esta visão se tornou extremamente libertadora, uma vez que contribuiu

para uma concepção que vai além de ver os sistemas sociais apenas como coleções de

indidívuos, diádes, grupos restritos ou simples categorias. Os nós nas redes sociais

seriam não somente atores, mas podem representar também grupos, corporações,

instituições e outros tipos de coletividade e os laços são usados para representar

apenas meramente os contatos, mas os fluxos de recursos (materiais ou imateriais),

compartilhados e transferidos entre os nós.

Assim o conceito rede social, enquanto instrumento de análise, permite a

reconstrução dos processos interativos dos indivíduos e suas afiliações a grupos.

Revelando, consequentemente, bem mais do que os vínculos e conexões entre os

vários pontos, evidenciaria as mais variadas intenções, atributos ou motivações

elevadas a mais importantes por determinados agentes dentro de uma rede, regras,

punições dentro de uma estrutura, resultados individuais e coletivos, jogos de poder,

agentes centrais e sua importância dentro de um grupo etc.

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Essa lógica se mostra bastante promissora na análise de uma série de

fenomenos, sobretudo pelo fato de que a atual sociedade tende a se agrupar em rede,

face os recentes desdobramentos tecnológicos. As redes, tomadas sobre a lógica da

coletividade podem efetivamente proporcionar ganhos e nos mostrar uma série de

particulares eventualmentes opacificadas por olhares que fujam a este lógica, que

veremos a seguir.

Desta forma, desde a construição de um conceito e sua atual polissemia,

as redes podem ser vistas, concebidas e analisadas sobre várias formas e em várias

circunstâncias: desde as redes hidrográficas dos caminhos feitos pela natureza para

circular e conectar os rios, às redes de infraestrutura, construções técnicas dos

homens na busca da circulação e transportede pessoas e produtos as redes sociais

construídas pelas relações cotidianas ou não, pelas conexões e pelo compartilhamento

de signos e objetivos, em que se circulam ideias, sons, informações.

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2º Nó

Espaços de cooperação e produção de

conhecimento: as redes científicas.

“A ciência das redes tem que se tornar, em suma, uma manifestação

do seu próprio objeto de estudo, uma rede de cientistas resolvendo

coletivamente problemas que não podem ser resolvidos por

indivíduos isolados ou mesmo por disciplinas isoladas” (Ducan J.

Watts, 2009, p. 2).

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119

2º NÓ ESPAÇOS DE COOPERAÇÃO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: AS REDES CIENTÍFICAS

Introdução

O acesso à informação é um elemento-chave para o desenvolvimento

econômico e social de regiões e grupos sociais. A capacidade de obter informações,

além dos contornos restritos da própria comunidade, é parte do capital relacional dos

indivíduos e grupos, o que sugere que as transformações na sociedade dependem das

redes existentes entre os indivíduos de um determinado grupo e atores localizados em

outros espaços geográficos, ou seja, da dimensão do capital social da comunidade.

Tal entendimento tem inspirado o desenvolvimento de enfoques

institucionalistas na sociologia, economia e ciência política, consequentemente

ampliando o interesse por metodologias de análise de redes sociais, e trazendo

contribuições significativas para a compreensão do papel do capital social para o

desenvolvimento em suas variadas escalas.

Neste fenômeno se incluem também as redes científicas. Se informação,

conhecimento, ciência e tecnologia são elementos fundamentais para o

desenvolvimento regional, além de serem construções sociais, pois não resultam da

ação isolada dos indivíduos, mas do trabalho coletivo, a construção de redes científicas

construídas em uma dada região deve ser considerada importante aspecto da análise

de desenvolvimento científico e social. Sobretudo pelo fato de que estas podem se

tornar um veículo eficaz na produção de retornos e benefícios mútuos para todos os

envolvidos.

Visto desta forma, o estudo das redes científicas supera o entendimento

comum, segundo o qual uma rede científica é simplesmente o mapa geográfico das

conexões possíveis entre os usuários de um sistema e a busca de compreensão de

novos desafios científicos frente a uma nova forma de usar e se relacionar com o

espaço. Elas expressam valores culturais e competências existentes numa dada região

que possibilitam ou dificultam a superação de limites e dificuldades ao seu

desenvolvimento, se valendo de importantes instrumentos de avanço científico e

social.

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Desta forma, este nó, objetiva principalmente abordar conceitualmente

dos retornos e benefícios para a ciência por meio da pesquisa em rede, das redes

científicas. Para tal, a abordagem que segue, fora dividida em três tópicos, o primeiro

deles, intitulado de “Informação, conhecimento e inovação em rede” busca destacar a

importância destes elementos para a criação de janelas de oportunidades relativas ao

desenvolvimento da capacidade de aprender, trabalhar coletivamente, produzir

conhecimento e concretizar inovações, sobretudo ancoradas pelas possibilidades da

coletividade em rede.

Em seguida este nó visa abordar a “emergência da cooperação

internacional em rede” destacando recentes trabalhos e atuações de diversos

cientíscas localizados no mundo com objetivos comuns de retorno a ciência,

mostrando os novos desdobramentos de cooperação científica no mundo

contemporâneo.

Por fim, busca-se evidenciar as redes científicas, importante veículo na

construção de conhecimento, otimização de recursos e produção de resultados

comuns, uma vez que elas proporcionam a ampliação do repertório de abordagens e

ferramentas que advém do intercâmbio de informações e da fertilização cruzada que

se verifica quando grupos distintos juntam esforços no sentido de atingir determinada

meta.

O aporte teórico aqui utilizado é baseado, não exclusivamente, mas

principalmente, na literatura de Medows & O’Connor (1971); Nohria & Eccles (1992);

Putnam (1993); Weisz & Roco (1996); Castells (1999); Lin (2001); Newman (2001);

Fontes, (2004), Fontes & Eichner (2004); Cassiolato & Lastres (2005); Balancieri (2005);

Morgan (2006); Portugal (2007); Massey (2008); Fujino et. al. (2009); Carvalho (2009);

Barabási (2009); LARA & LIMA (2009); Witter (2009); Christakis & Fowler (2010); Maciel

& Albagli (2010); Funaro (2010); e Adams (2012).

Informação, conhecimento e inovação em rede

Informação e conhecimento sempre foram fatores fundamentais na

manutenção e sobrevivência de quaisquer grupos humanos. Consequentemente, uma

parte significativa na tomada dos rumos que as várias sociedades seguiram, podemos

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sugerir que são frutos da forma com que a informação foi apropriada e conhecimento

gerado. Estes dois aspectos também são expressivos se os usarmos para analisar as

diferenças técnico-científicas-informacionais existentes entre os vários espaços

existentes na terra.

A produção, aquisição, absorção, reprodução e difusão do conhecimento

são vistos por muitos como a características fundamentais da dinâmica competitiva

contemporânea. Muito antes desse debate se tornar popular, os estudiosos haviam

manifestado um profundo interesse em distinguir entre diferentes tipos de

conhecimento (GERTLER, 2003).

Autores como Ryle (1949) e Polanyi (1958; 1966) desenvolveram debates

que enunciaram para eles a distinção crucial entre conhecimento que poderia ser

efetivamente expressado usando formas simbólicas de representação - explícitas ou

codificadas - e outras formas de conhecimento que desafiaram tal representação - o

conhecimento tácito21.

Embora Informação e conhecimento estejam correlacionados, não são sinônimos. Também é necessário distinguir dois tipos de conhecimentos: os conhecimentos codificáveis — que, transformados em informações, podem ser reproduzidos, estocados, transferidos, adquiridos, comercializados etc. — e os conhecimentos tácitos. Para estes a transformação em sinais ou códigos é extremamente difícil já que sua natureza está associada a processos de aprendizado, totalmente dependentes de contextos e formas de interação sociais específicas (LASTRES & FERRAZ, 1999, p. 30).

O conhecimento tácito tem sido reconhecido como um componente

central da economia da aprendizagem, e uma chave para a inovação e criação de valor.

Além disso, o conhecimento tácito também é reconhecido como um determinante

principal da geografia da atividade produtora de conhecimento e inovação, uma vez

que o seu papel central no processo de aprendizagem através de interação e

consequente acesso à informação e conhecimento tende a reforçar em muitas

circunstâncias o papel do local sobre o global.

21

De acordo com Gertler (2003) talvez a maneira mais fácil de definir o conhecimento tácito é especificando o que não é. O desempenho de habilidades, tais como a natação, o desembarque de um avião, identificar o rosto de uma pessoa, andar de bicicleta, ou fazer pão. Em cada caso, o bom desempenho de uma habilidade depende da observância de um conjunto de regras que não são claramente conhecidas.

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Para um número crescente de estudiosos, isso explica a perpetuação e

aprofundamento da concentração geográfica em um mundo de mercados em

expansão, fronteiras, enfraquecendo em alguns momentos as tecnologias de

informação e comunicação cada vez mais baratas e mais difundidas (POLANYI, 1966,

1987; GERTELER, 2003, 2005).

Já a Informação pode ser entendida do ponto de vista funcional como um

recurso redutor de incertezas. Ela faz parte dos vários símbolos, dados e signos

compartilhados diariamente nas socializações e comunicações humanas, sendo

também entendida como componente fundamental e anterior na produção de

qualquer conhecimento.

É o acesso às informações o primeiro passo para a comunicação que propiciará o compartilhamento e intercâmbio de resultados de pesquisas e que confere às comunidades a oportunidade efetiva de participação na sociedade da informação (FUJINO, A. et. al., 2009, p. 215).

Ter acesso mais rapidamente à informação e fazer com que ela circule

entre os vários nós de uma continuidade em rede com vários agentes conectados,

contribui significativamente para a produção de conhecimento e a solução dos mais

diversos problemas. Estes aspectos são destacados por Castells (1999) como alguns

dos mais expressivos do atual estágio da sociedade, que, para ele é atualmente mais

do que nunca, informacional e conectada em rede.

Informacional porque a produtividade e a competividade de unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos. [...] É em rede porque, nas novas condições históricas, a produtividade é gerada, e a concorrência é feita em uma rede global de interação entre redes... (CASTELLS, 2008, p. 119).

Neste sentido, existe uma série de mudanças sociais, institucionais,

tecnológicas, organizacionais, econômicas, culturais e políticas as quais, a informação e

o conhecimento passaram a desempenhar um novo e estratégico papel não apenas no

desenvolvimento científico, tecnológico.

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Verificam-se novas práticas de produção, comercialização e intensidade no uso de informação e conhecimento. Tais práticas apoiam-se, por sua vez, em novos saberes e competências, em novos aparatos e instrumentais tecnológicos, tanto como em novas formas de inovar e de organizar o processo produtivo (LASTRES & ALBAGLI, 1999, p. 8).

As contribuições já mencionadas proporcionadas pelas TICs dão à chamada

economia baseada na informação e no conhecimento uma diferente base tecnológica,

que, radicalmente, amplia as condições de produção e distribuição de conhecimentos.

Assim, emergência do ciberespaço implica em maiores possibilidades de acesso à

informação, de codificação de conhecimentos e a transferência destes conhecimentos

codificados.

A produção e a competitividade na produção informacional baseiam-se na geração de conhecimentos e no processamento de dados. A geração de conhecimentos e a capacidade tecnológica são as ferramentas fundamentais para a concorrência entre empresas, organizações de todos os tipos e, por fim, países. Assim, a geografia da ciência e da tecnologia deve surtir grande impacto sobre as redes e as redes da economia global (CASTELLS, 2008, p. 165).

Para as autoras Lastres & Albagli (1999), o novo papel da informação e do

conhecimento no mundo contemporâneo vem provocando modificações significativas

nas relações, na forma e no conteúdo do trabalho, o qual assume um caráter cada vez

mais “informacional”. Logo, a capacidade de transporte, transferência, produção e

aquisição de informação e conhecimento se tornam aspectos centrais na produção de

recursos materiais e imateriais necessários à manutenção de uma série de

necessidades sociais.

Em uma sequência simples e sucinta, podemos dizer que informação

contribuiria para a construção de conhecimento, que, por sua vez, é peça fundamental

para a produção da inovação.

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Figura nº 4: Informação, conhecimento e inovação

Fonte: Elaboração própria a partir de Lastres & Albagli (1999).

A inovação é entendida como resultado de uma ação coletiva e sistêmica

na qual interagem diversos panoramas (o científico, o educacional, o tecnológico, o

técnico, o econômico, o social e o institucional - formalizado ou não) e a qual permite a

empresas, organizações e pessoas aprenderem, usarem e acumularem capacidades e

competências, além de desenvolverem novos produtos, bens e processos. Para tal, ela

depende fortemente da capacidade de se trocar informação, produzir e absorver

conhecimento, sobretudo conhecimento científico.

Fernandes & Lima (2006) afirmam que a inovação é um processo: (1)

coletivo; (2) interativo; (3) cumulativo; (4) não linear; e (5) sistêmico. É coletivo, visto

que, na atualidade, são muitos os agentes – e não um inventor isolado; interativo,

porque a troca de conhecimento entre diferentes agentes envolvidos no

desenvolvimento da inovação é fundamentalmente indispensável para este último

acontecer, em vista da impossibilidade de um único agente deter todo o conhecimento

e todas as informações necessárias ao processo; cumulativo, pois o conhecimento

acumulado propicia a base para o desenvolvimento de novo conhecimento ao longo

do tempo; é não linear, porque se processa em várias etapas, e não necessariamente

em sequência do laboratório à fábrica; é sistêmico, denotando que o processo de

inovação resulta da ação de vários agentes e das relações entre eles.

Cassiolato & Lastres (2005) argumentam que os principais pressupostos da

inovação seriam, portanto: (A) o conhecimento é base do processo inovador, e sua

criação, uso e difusão alimentam a mudança econômica, constituindo-se em

importante fonte de competitividade sustentável, associando-se às transformações de

longo prazo na economia e na sociedade; (B) o aprendizado é o mecanismo chave no

processo de acumulação de conhecimentos; (C) a empresa é considerada o ponto mais

importante neste processo. Porém, o processo de inovação é geralmente interativo,

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contando com a contribuição de vários atores, detentores de diferentes tipos de

informações e conhecimentos, dentro e fora da empresa; (D) os processos de

aprendizado, capacitação e inovação são influenciados e influenciam os ambientes

socioeconômicos e políticos onde se realizam.

Existe uma ampla gama de informações e conhecimentos essenciais favorecendo a geração e incorporação de novidades (inovação), processos estes caracterizados por mecanismos de tentativa e erro e de feedbacks. As inovações passaram a ser entendidas como resultantes do conjunto de atividades interligadas, compreendendo principalmente sua assimilação, uso e difusão. A análise do processo inovativo passa a se concentrar nas estruturas subjacentes a tais

conexões, sobretudo aquelas em rede (CASSIOLATO & LASTRES, 2007, p. 154).

Assim, a coletividade e a cooperação são importantes práticas para a

criação, fortalecimento e consequente consolidação do processo inovador. É a partir

destas dinâmicas que os vários agentes atuarão de forma sistêmica, configurando-se

melhores condições de produção e aquisição de conhecimento.

Para Castells (1999), parte considerável do desnível entre indivíduos,

organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao

desenvolvimento da capacidade de aprender, trabalhar coletivamente, produzir

conhecimento e concretizar inovações. De forma semelhante, Abdalla (2004) ratifica

que uma proposta de racionalidade baseada no princípio da cooperação pode ter

como resultado o equacionamento de uma série de problemas e crises da sociedade.

Estas capacidades proporcionam novos processos políticos de

independência, concorrência e poder. O acesso material e imaterial ao conhecimento

se torna um trunfo momento em que trabalhar coletivamente, compartilhar

informações, produzir conhecimento e gerar inovações pode resultar na resolução de

problemas sociais dos mais diversos tipos.

Poder que não mais se restringe ao domínio dos meios materiais e dos aparatos políticos e institucionais, mas que, cada vez mais, define-se a partir do controle sobre o imaterial e o intangível — seja das informações e conhecimentos, seja das ideias, dos gostos e dos desejos de indivíduos e coletivos. Estabelecem-se assim novas hierarquias geopolíticas, definidas com base em novos diferenciais sócio-espaciais, refletindo fundamentalmente desiguais

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disponibilidades de informações e conhecimentos estratégicos, bem como desiguais posições no âmbito dos fluxos e dos fixos que compõem as redes de informação e comunicação em escala planetária (LASTRES & ALBAGLI, 1999, p. 8).

Contudo, é fundamental contar com uma base de conhecimentos

sustentada por um processo de aprendizado contínuo. Neste contexto, o caráter

interativo do aprendizado e da inovação - potencializado pelas possibilidades abertas

pelas TICs de intensificar as mais variadas conexões entre diferentes agentes - se faz

imprescindível. De forma semelhante, considera-se a importância de se focalizar a

coletividade em face de tais processos, e, em consequência, a construção de

ambientes articulados e conectados, propensos a estimular a geração, aquisição e

difusão de conhecimentos, como o caso das redes científicas.

As circunstâncias acima mencionadas contribuíram juntamente com uma

série de fatores para um novo patamar de cooperação internacional em rede que

busca a solução de problemas e a busca e produção de conhecimentos que venham a

atender as mais diversas necessidades.

A emergência da cooperação internacional em rede

Mais do que estarmos na era da sociedade da informação e conhecimento,

e mesmo de uma própria sociedade em rede, estamos no momento da cooperação

internacional em rede. Cooperação esta que é possibilitada – em até certo ponto - pelo

avanço técnico traduzido pelos meios de transportes e principalmente pelas

tecnologias de informação e comunicação. Para além de outras possibilidades de

cooperação internacional em rede, esta modalidade se faz pertinente enquanto sólida

e necessária na produção e transmissão de conhecimento científico e na superação de

desigualdades e problemas comuns enfrentados.

A produção de conhecimento novo requer, cada vez mais, o esforço compartilhado entre pares, inclusive aqueles situados em contextos nacionais e institucionais diversos, em torno de ações colaborativas e iniciativas conjuntas para o encontro de soluções a questões e problemas comuns no mundo globalizado. A cooperação internacional deverá levar em conta essa tensão entre o acirramento

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da competitividade e a necessária produção colaborativa de conhecimento (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

Para Adams (2012) as novas redes regionais estão reforçando a

competência e a capacidade das economias emergentes de investigação, e alterando o

equilíbrio global de atividade de pesquisa científica que por sua vez podem revelar

diferentes formas de abordar os problemas das grandes instituições mundiais. Ainda

segundo o autor se as superpotências não quiserem serem deixadas para trás, elas

terão que sair de suas zonas de conforto para acompanhar o dinamismo das novas

mudanças que estão acontecendo.

Essas transformações podem representar o aprofundamento das assimetrias nas relações internacionais e os riscos daí decorrentes, sobretudo para os países em desenvolvimento; mas, também, abrem-se novas oportunidades de uma possível democratização do acesso à informação e ao conhecimento e sua apropriação social em favor de um desenvolvimento em novas bases, sob diferentes pontos de vista. No plano da geopolítica, coloca-se o desafio da desconcentração do conhecimento, tanto entre países quanto entre regiões (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

A colaboração é normalmente uma coisa boa do ponto de vista público. O

conhecimento é melhor transferido e combinado por colaboração entre vários

autores. Os artigos destes autores por sua vez tendem a ser citados com mais

frequência e ter mais impacto na comunidade científica mundial, pois, normalmente

possuem uma profundidade e consistência mais razoável, eles também permitem

cobrir muitos países e disciplinas de investigação ao mesmo tempo (ADAMS, 2012).

A quantidade de trabalhos publicados em conjunto em comparação a

isolada tem, ao longo dos anos têm aumentado exponencialmente. Em artigo recente,

King (2012) faz um retrospecto da quantidade de autores por trabalho científico com

base de dados da Nature. No início de 1980, os artigos com mais de 100 autores eram

raros, em 1990, o registro anual com esse número ultrapassou 500. O primeiro

trabalho com 1.000 autores foi publicado em 2004, uma pesquisa com 3.000 autores

em 2008. No ano passado, um total de 120 artigos de física teve mais de 1.000 autores

e 44 tinham mais de 3000. Muitos deles são de colaborações no Large Hadron Collider

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(LHC) do CERN, na Europa no laboratório de aceleração de partículas, perto de

Genebra, na Suíça.

Gráfico nº 1: Multi autores por artigo de 1998 a 2011

Fonte: King (2012). Disponível em: http://go.nature.com/w3f2jt

O gráfico nº 1 pertencente ao trabalho de King (2012) em que o autor

destaca os artigos indexados pela base de dados da Thomson Reuters no período

concebido entre 1998 e 2011, mostrando o número de trabalhos com mais de 50, 100,

200, 500 e 1000 autores. A partir do final dos anos de 1990 a meados dos anos 2000,

as linhas são relativamente planas, subindo a partir do ano de 2001. Com exceção da

queda no ano de 2006, a tendência é claramente de subida, em 2010 mais de 1000

trabalhos superaram o número de 50 autores. Claro que é importante lembrar que em

algumas áreas como as ciências humanas essa prática ainda é muito incomum.

A cooperação internacional em ciência e tecnologia tem crescido a uma taxa significativa. Partindo de uma base inexpressiva em meados do século XX, a cooperação internacional representa hoje uma parcela considerável da pesquisa científica. Quando medida, por exemplo, através da contagem de artigos publicados em co-autoria por pesquisadores trabalhando em, pelo menos, dois países diferentes, a cooperação internacional mais do que duplicou entre 1988 e 2001 – passou de 8 para 18% do total de artigos publicados e indexados pelo Science Citation Index (NSF, 2004, Science and Engineering Indicators, pp. 54-55).

Essa tendência de crescimento em “multi autoria” continuará seguindo as

prioridades globais como aquelas voltadas para a saúde, energia, clima e estruturas

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sociais, impulsionado em parte por organismos internacionais como a Organização

Mundial da Saúde (OMS). “Parte desse crescimento não virá de verdadeira

colaboração, mas sim de contribuições independentes, de esforços conjuntos,

geralmente na forma de dados, que envolvem apenas fraca interação intelectual”

(ADAMS, 2012, p. 335).

Artigos com vários autores vêm a contribuir para a difusão da cooperação

entre os países. Por exemplo, a União Europeia possui extenso tratado de redes de

cooperação científica entre os países membros. Alemanha e Reino Unido possuem

uma rede de pesquisa significativamente intensa, o que representa conexões de

inúmeros pesquisadores.

De acordo com dados da Web Of Science (2011) os dois países tinham

cerca de 10.000 publicações conjuntas em sua base de dados para períodos, que por

sua vez eram o dobro do total de artigos indexados em 2003 e que significavam 10%

da produção total de cada país. Os Estados Unidos tem cooperado significativamente

nos últimos anos com a China e essa tendência tem aumentado, em 2011 ambos

publicaram 19.141 artigos juntos.

Para Barabási (2009) o mundo se tornou bem menor que os seis graus de

separação do ponto de vista científico, a busca pela cooperação tem proporcionado

contribuições significativas na ciência e promissoras estruturas de pesquisa em rede

pelo mundo que por sua vez tem aproximado nações distantes geograficamente e as

vizinhas. Além do que para o autor, estas redes, são fortes veículos diplomáticos.

A quantidade de artigos publicados em parceira tem aumentado nos

números anos à medida que as nações e grupos de cientistas vêm compreendendo a

importância do networking no mundo acadêmico atual. A geopolítica mundial tem se

mostrado também direcionada para uma geopolítica em rede em que as forças de

muitos países têm emergido como grandes blocos de pesquisa comum (CHRISTAKIS &

FOWLER, 2010).

Essas transformações podem representar o aprofundamento das assimetrias nas relações internacionais e os riscos daí decorrentes, sobretudo para os países em desenvolvimento; mas, também, abrem-se novas oportunidades de uma possível democratização do acesso à informação e ao conhecimento e sua apropriação social em favor de um desenvolvimento em novas bases, sob diferentes pontos

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de vista. No plano da geopolítica, coloca-se o desafio da desconcentração do conhecimento, tanto entre países quanto entre regiões (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

De acordo com Adams (2012) antes da década de 90 nenhum país havia

compartilhado mais de 1.000 artigos em conjunto em um ano. Para o autor o rápido

crescimento da China desde 2000 está levando a um nível de cooperação acadêmica

mais estreita com Japão (até quatro vezes desde 1999), Taiwan (até oito vezes), Coreia

do Sul (até dez vezes), Austrália (mais de dez vezes) e com todos os outros países na

região da Ásia-Pacífico região.

A Índia tem construído ao longo dos anos uma rede de pesquisa, com

Japão, Coréia do Sul e Taiwan, no Oriente Médio, Egito e Arábia Saudita tem forte

parceria de pesquisas científicas também em rede que por sua vez tem atraído os

vizinhos Tunísia e Argélia. Na América Latina existe uma rede de pesquisas emergente

focada em torno do Brasil, que por sua vez dobrou a cooperação com Argentina, Chile

e México. O continente africano tem duas redes distintas uma no sul da África, em

países de língua francesa e outro na África Oriental em países de língua inglesa

(ADAMS, 2012).

Hoje, já não há dúvida de que a cooperação entre os países e outros atores

internacionais – em plena época da sociedade e da economia do conhecimento –

converteu-se, de mera opção, em necessidade imprescindível. Basta pensarmos em

como a comunidade científica internacional poderá conquistar um desenvolvimento

científico e tecnológico e ter amplo acesso às novíssimas áreas do conhecimento e

assegurar sua aplicação em benefício geral, enfrentar os graves problemas globais do

nosso tempo e até sobreviver a eles, sem um sistemático esforço de cooperação, em

escala jamais vista antes (MONSERRAT FILHO, 2010).

Para Morel et. al. (2007), mais do que iniciativas de promoção da

cooperação internacional, estas devem ser estabelecidas em redes que ao longo do

tempo possam se tornar fortes e estáveis veículos de circulação de informação, ideia e

conexão de pesquisadores, como o caso da rede internacional de doenças

negligenciáveis da qual o Brasil faz parte.

A cooperação internacional por sua vez se faz veículo estimulante na

construção de redes sociais voltadas para a pesquisa científica, uma vez que estas

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estruturas se comportam como verdadeiras facilitadoras na circulação de informações

e ajuda na conexão entre os vários membros, facilitando o aprendizado social

conjunto.

A pesquisa científica em rede e suas contribuições na obtenção

de resultados e benefícios

Da mesma forma em que a conexão por meio de redes é prática antiga na

organização dos grupos humanos, a pesquisa em rede também é uma atividade antiga,

quase tão antiga quanto à instauração de métodos científicos com o objetivo de

abordar e pesquisar fenômenos existentes na terra. Logo, a comunidade científica,

como manifestação social, sempre atuou em rede, por meio dos vários recursos que

foram estabelecendo-se ao longo de sua história.

O fato mais significativo neste contexto, é que, da forma com que as redes

são concebidas atualmente, a ciência tem de maneira bastante significativa um novo

suporte para potencializar o seu avanço: justamente a possibilidade de maior conexão

entre os seus pesquisadores localizados em espaços geográficos distintos por meio das

tecnologias de informação e comunicação.

Para Castells (1999), as redes se constituem na nova morfologia social da

atual sociedade, e a difusão de sua lógica modifica de forma substancial a operação de

resultados dos processos produtivos, de experiência, poder e cultura. Assim, surge nos

últimos anos uma significativa atenção a três grandes abordagens: a) os resultados de

comunicação e circulação oportunizados pelo ciberespaço; b) as possibilidades de

conexão humana; e c) as perspectivas de trabalho coletivo, amplificadas a partir da

junção destes dois componentes, principalmente ancoradas na construção de redes

sociais.

Nesse sentido, as redes sociais podem ser compreendidas como formas independentes de coordenação de interações. A marca central da rede é a cooperação, baseada em confiança entre atores autônomos e interdependentes. Estes trabalham em conjunto por um período limitado de tempo e levam em consideração os interesses dos parceiros envolvidos, que estão conscientes de que essa forma de coordenação é o melhor caminho de alcançar seus objetivos particulares. É em função dessa capacidade de agregação que as redes têm um grande potencial para instigar processos de

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aprendizagem e são defendidas para a implementação de projetos de inovação, nos casos em que os riscos envolvidos apresentarem-se altos demais para cada um dos parceiros individualmente (FREY, 2003, p. 175).

Para tal, parte-se da seguinte premissa: o trabalho cooperativo amplifica os

resultados na medida em que agentes com conhecimentos complementares se

integram na busca de um objetivo comum. E este pode ser potencializado em

empreendimentos estruturados no formato das redes sociais. Em algumas áreas essa é

uma lógica tradicionalmente fundamental no desenvolvimento científico, tecnológico e

inovativo.

Portanto, podemos reafirmar que, o acesso ao conhecimento é uma

ferramenta chave no desenvolvimento de regiões e grupos sociais, orientado não

somente para o incremento econômico, mas entendido, sobretudo, como elemento

indispensável ao desenvolvimento humano.

Nesta linha de raciocínio, a possibilidade do agrupamento de

pesquisadores em redes se torna dinâmica eficaz no que compete a resultados mais

expressivos do que os produzidos por um único indivíduo trabalhando de modo

isolado. A comunicação, a troca de informações e o trabalho se tornam efetivamente

mais frutíferos quando realizados em rede.

Barabási (2009) e Christakis & Fowler (2010), em seus trabalhos, destacam

“o poder das conexões”, ratificando a importância do networking, o seu poder de

moldar nossas vidas e, consecutivamente, de produzir mudanças significativas, por

exemplo, no âmbito da pesquisa. Para eles, um dos fatores que auxilia

significativamente na melhoria de resultados empreendidos pelas pessoas está nas

suas conexões com outros indivíduos que, obrigatoriamente, tem alguma experiência

ou informação para acrescentar.

Assim como defendem Christakis & Fowler (2010), da mesma forma com

que os ricos ficam mais ricos se conectando a outros ricos, e pessoas felizes se

conectam a outras pessoas felizes, para a ciência de um modo geral, o seu progresso

está atrelado à capacidade de pesquisadores se conectarem a mais e mais

pesquisadores, de maneira que a informação e as mais diversas competências sejam

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utilizadas em problemas comuns, e que conhecimentos e resultados sejam produzidos

com mais intensidade por todos os membros da rede.

Em uma rede formada por pesquisadores - como em qualquer rede social -

vários atores se estruturam como hubs, ou seja, atores que servem para o

fornecimento e envio de informações, estes são os principais agregadores dos demais

e outros como conectores na transmissão compartilhamento de informação e

aprendizado. Os conectores são os membros que se conectam aos hubs para que daí

se disperse mais informações. Cria-se, assim, em uma rede, a possibilidade de

instauração de um contexto de solidariedade e multiplicidade de resultados e trocas

de experiências, o que ratificando o que dito anteriormente, dificilmente ocorreria em

projetos organizados isoladamente ou com indivíduos pouco conectados.

Os conectores são um componente extremamente importante da nossa rede social. Eles criam tendências e modas, fazem contatos importantes, espalham novidades ou ajudam a abrir um restaurante. São a tessitura da sociedade juntando facilmente diferentes raças, níveis de instrução e linguagens. [...] Os conectores são nós que contêm um número anomalamente grande de links (BARABÁSI, 2009, pp. 50-51).

Deste ponto de vista, a inserção em novos grupos, com novos hubs e

conectores, permite a possibilidade de interação e cooperação entre novos membros

com conhecimento em áreas muito específicas, diferentes, restritas. Permite-se

também a conexão com agentes com maior reputação ou experiência, com maior

poder de conexão, agregação de outros grupos, instituições e outros recursos

materiais ou imateriais.

A inclusão/exclusão em redes e arquitetura das relações entre redes, possibilitadas por tecnologias rapidíssimas da informação, configuram os processos e funções predominantes em nossas sociedades. Redes são estruturas abertas que tendem a se expandir, gerando novos nós, que compartilham os mesmos códigos de comunicação (valores ou objetivos de desempenhos) (FUJINO, A. et. al., 2009, p. 212).

A interdisciplinaridade encontrada nas redes entre pesquisadores propõe

ascender o universo muitas vezes fechado da ciência e trazer à tona a multiplicidade

dos modos de conhecimentos, reconhecendo assim as variedades de indivíduos e dos

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conhecimentos destes indivíduos, principalmente como produtores de novos e velhos

modos de produzir ciência.

Kodama (1992) afirma que alguns dos mais significativos avanços

científicos surgiram da integração ou fusão de campos científicos anteriores separados

ou onde havia pouco diálogo entre seus pesquisadores. Porém, como aponta Fujino,

et. al. (2009, pp. 215-216),

A ciência é uma atividade eminentemente coletiva e social, construída por meio de relações sociais entre os pares. Seus resultados (avanços ou retrocessos) são resultantes da interação entre os pesquisadores, seja de maneira direta (por meio de desenvolvimento de projetos e publicações em coautoria) ou indireta (por meio da citação de trabalhos da comunidade científica). De certo modo, existe uma relação entre todos os membros de uma comunidade científica de determinada área, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, e, em consequência ao desenvolvimento da atividade científica como um todo.

Para LARA & LIMA (2009), a cooperação científica é um processo social

intrínseco às formas de interação humana para efetivar a comunicação e o

compartilhamento de competências e recursos. Para as autoras, a cooperação

científica em rede é um meio para otimizar recursos, dividir trabalho, aliviar o

isolamento próprio da atividade acadêmica e criar sinergia entre os membros dessa

atividade.

Para Balancieri (2005), uma rede científica pode ser então, definida como

uma organização de coesão tênue, consistindo em diferentes indivíduos ou grupos

ligados entre si por vínculos de naturezas diversas. Essas redes são tipicamente centros

“não físicos” que contam com meios de comunicação avançados, a fim de promover a

interação de participantes com qualificações complementares. O grau de participação

de cada unidade participante é flexível.

A divulgação dos resultados das pesquisas, quando também publicados em

cooperação, e a conexão entre os vários agentes que contribuíram para a realização do

trabalho formam o que aqui é considerado como redes científicas, que, segundo

Newman (2001), é um termo derivado da linguagem social, que adota a nomenclatura

redes sociais.

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Para Medows & O’Connor (1971), uma rede científica pode ser definida

como um conjunto de trabalhos cooperativos desenvolvidos entre dois ou mais

pesquisadores e identificados por meio de artigos co-assinados, identificando suas

instituições e localidades de origem. Para os autores, os artigos como resultado da

produção de quaisquer tipos de conhecimento representa a comprovação social de um

trabalho estabelecido por uma rede com enfoque na ciência.

Na tentativa de também conceituar o que é, aqui, considerado como uma

rede científica22 acredita-se que esta possa ser descrita como agrupamentos de

pesquisadores e suas afiliações e grupos, em uma continuidade de pesquisa em rede,

com vários níveis hierárquicos ou não, em espaços geográficos distintos ou não, onde

se tem por finalidade a construção de laços de cooperação, confiança, reciprocidade e

compartilhamento de experiências, promovendo, assim, o progresso da ciência por

meio da produção de bens, serviços, conhecimentos e inovações.

Nelas se reflete a horizontalidade, voluntariedade, interdisciplinaridade,

cooperação, flexibilidade, solidariedade, objetivos e metas comuns. Elas podem ser

estruturadas nos âmbito das mais variadas escalas: local, regional, nacional,

internacional; em vários níveis diferentes: intra, inter ou mista, considerando-se a

conexão entre grupos, departamentos, instituições, setores; também pode se

estruturar de acordo com suas motivações: culturais, sociais, econômicos, simbólicas,

políticos, científicos e tecnológicos.

Em uma rede científica, Newman (2001) chama os grupos ou as pessoas de

“atores” e a conexão entre elas de “vínculo”. Os atores, assim como o vínculo, podem

ser definidos de várias maneiras, dependendo das questões de interesse. O ator pode

ser uma pessoa, um grupo, instituição, laboratório ou uma empresa.

Para Funaro (2010, p. 53), “na pesquisa científica os atores são cientistas, e

o vínculo entre eles é a colaboração, que posteriormente resultará em uma publicação

em forma de colaboração ou coautoria”. A publicação, ou registro de uma patente, por

exemplo, é a expressão dos resultados e objetivos aspirados por uma rede científica. A

promoção da construção de um vínculo em uma rede que resulte no avanço da ciência

22

Existe uma polissemia de termos e definições com relação a este tipo de rede, na maior parte dos casos usam-se várias nomenclaturas para denotar o mesmo objeto: redes de coautoria, redes de colaboração acadêmica, redes de colaboração científica, redes de cooperação científica, redes de conhecimento, redes sociais cooperativas, redes acadêmicas de pesquisa etc.

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136

ou na solução de um problema por sua vez pode ser considerada como o objetivo

primário de qualquer rede científica.

De acordo com Witter (2009), desde os anos 60 do século passado observa-

se o crescimento das redes sociais cooperativas no âmbito da pesquisa científica,

possibilitando a solidificação de grupos formados por pesquisadores geograficamente

distantes, ou mesmo aqueles não distantes. Este tipo de pesquisa em rede, no

passado, dependia em grande parte das debilidades espaço-temporais do correio, fax,

telégrafo e telefone (mostrados anteriormente), principalmente no transporte de

arquivos.

Ainda segundo Witter (2009), a rede social merece a adjetivação de

colaborativa ou cooperativa quando todos os que a integram, não apenas os que são

nós, ou membros com maior centralidade (aqueles com maior número de contatos ou

maior poder na rede), mas todos contribuem significativamente para o grupo,

empenhando-se em disseminar via rede o que for de interesse comum e partilham as

informações com todos.

Nesse tipo de rede social23, todos cooperam para melhorar: o desempenho

de cada um, o produto que estejam elaborando, o conhecimento a ser produzido, ou

para atingir os objetivos gerais ou específicos estabelecidos. Contudo, se pressupõe

que em uma rede de pesquisa, a ação cooperativa esteja implícita em sua

estruturação, caso contrário, a rede perderia sua estrutura básica, por isso neste

trabalho é utilizado apenas o termo “rede científica”.

Para Weisz & Roco (1996), uma rede científica pode ser um

empreendimento cooperativo que envolve metas comuns, esforço coordenado e

resultados ou produtos (trabalhos científicos) com responsabilidade e mérito

compartilhados. Assim, a cooperação científica oferece uma fonte de apoio para

melhorar o resultado e maximizar o potencial da produção científica.

Ainda segundo Weisz & Roco (1996), em uma ótica social, importante

ganho resultante da formação de redes científicas quando comparada a pesquisadores

isolados é a ampliação do repertório de abordagens e ferramentas que advém do

23

Admite-se também que uma rede científica, assim como as demais estruturas sociais, não esteja livre de disputas por poder, territorialidades, e a construção de grupos rivais dentro de uma estrutura maior, sobretudo por que estas particularidades compõe organizacionalmente qualquer agrupamento desta natureza.

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intercâmbio de informações e da fertilização cruzada que se verifica quando grupos

distintos juntam esforços no sentido de alcançar determinada meta.

Para Carvalho (2009), as redes sociais, se movimentam em diferentes

direções e se articulam e usufruem de forma positiva do que oferecem os sistemas de

informação. Na realidade brasileira interessam, prioritariamente, o fortalecimento

significativo da pesquisa, do ensino-aprendizagem e de iniciativas voltadas para a

cidadania. Sendo assim, as redes científicas podem contribuir para o crescimento do

País, principalmente em regiões periféricas como é o caso do Nordeste.

No caso brasileiro, essas redes surgem como uma alternativa concreta para agregar grupos de pesquisadores distribuídos geograficamente e embora atuem em temas conexos, nem sempre têm a oportunidade de encontros presenciais, em virtude de questões econômicas, de tempo e espaço. A interatividade abre infinitas possibilidades de interatuação em tempo real e em múltiplos espaços (FUJINO, et. al., 2009, p. 217).

As redes representam o mundo em movimento, e, mediante as relações

entre as pessoas, vão de modo contínuo reconstruindo a estrutura social, sendo a

informação, o conhecimento e a possibilidade de transmissão e construção destes o

elemento aglutinador em uma estrutura em rede, sobretudo na ciência. A rede

enquanto espaço plural de conexões potencializa ações coletivas e de solidariedade

entre pessoas que são de grande relevância nas mais variadas áreas.

Para Fujino et. al. (2009), uma rede científica é um dos mecanismos mais

eficazes no compartilhamento das experiências e atividades indispensáveis para a

alimentação do fluxo que leva ao desenvolvimento da ciência. As redes permitiriam,

assim, ao indivíduo uma condição de contiguidade e continuidade, trazendo mudanças

no fluxo de informações e nas relações entres os indivíduos.

Tais redes representam, nesse contexto, não só um elemento competitivo

significativamente vantajoso, mas também estruturas potencializadoras de

aprendizado social, independência científica e tecnológica, que por sua vez, podem

também “capacitar” os indivíduos a se valerem das mudanças técnicas em prol de

perspectivas em favor de uma convivência solidária, recíproca, cooperativa e

comunitária.

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Considerações Finais A premissa que se procurou defender neste nó foi a seguinte: o trabalho

cooperativo em rede amplifica os resultados na medida em que agentes com

conhecimentos complementares se integram na busca de um objetivo comum. Assim,

o importante ganho resultante da formação de redes científicas quando comparada a

pesquisadores isolados é a ampliação do repertório de abordagens e ferramentas que

advém do intercâmbio de informações e da fertilização cruzada que se verifica quando

grupos distintos juntam esforços no sentido de determinada meta.

Mais do que simplesmente obter acesso à informação, a construção deste

tipo de rede se torna elemento-chave na produção de conhecimento, que, por sua vez,

sempre foi à base para a manutenção e o desenvolvimento de nações e grupos sociais.

É na produção de conhecimento que se tem elemento básico no desenvolvimento de

qualquer área científica.

Esta dinâmica por sua vez tem aumentado cada vez mais e influenciado a

cooperação internacional em rede com países que antes mantinham pouca ou

nenhuma relação deste tipo. A busca pelo enfrentamento de problemas comuns tem

mudado a geopolítica mundial gradativamente, indicando novas tendências de

articulações em rede.

Para além dos retornos científicos produzidos pela pesquisa científica em

rede, os tipos de redes em que os atores se inserem condicionam principalmente suas

práticas políticas, que por sua vez pode proporcionar ideologicamente uma estrutura

de cooperação em rede constante para a solução de problemas comuns existentes em

um único país ou em vários.

Especificamente, os novos contornos e desafios aos problemas comuns e

as especificidades, está a cada vez mais crescente cooperação internacional, que busca

por meio de redes de pesquisadores satisfazer a necessidade de todos em busca da

compreensão de problemas e retornos para todos os envolvidos. Do ponto de vista

social e científico a construção de redes é importante veículo no alcance dos mais

diversos objetivos e possibilidade de solução dos mais diversos problemas.

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3º Nó

As multiplicidades geográficas do

“estar aqui”.

“Contatos face a face, sensíveis-afetivos, que fazem do espaço – e das

contingências simultâneas, enquanto veículos da multiplicidade – o

lócus do aparecimento do efetivamente novo” (Rogério Haesbaert no

prefácio de Pelo Espaço, p. 09, de Dorey Massey, 2005)

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3º NÓ - AS MULTIPLICIDADES GEOGRÁFICAS DO “ESTAR AQUI”

Introdução

Se a cooperação em rede permite vislumbrarmos novos níveis de

contribuição, retornos e benefícios para os que interagem, sobretudo para a pesquisa

científica, temos que compreender a importância de alguns elementos em toda essa

dinâmica. Desta forma, além das já tratadas potencialidades permitidas pelo

ciberespaço, traduzido por meio de suas tecnologias informacionais e

comunicacionais, e do próprio contexto de retorno em termos de resultados e

benefícios promovidos da pesquisa científica em redes, procura-se destacar que o

simples fato do avanço das tecnologias de informação, processamento e comunicação

por si só, não refletem elementos suficientes para a construção e o funcionamento da

pesquisa científica em rede com parceiros distantes.

Portanto, a análise dos fluxos tecnológicos em face das redes estabelecidas

às longas distâncias deve ser feita com cautela, neste sentido acredita-se que novas e

complexas relações estão surgindo em face do espaço geográfico e os ambientes

eletrônicos acessíveis, e que para cada tipo de contexto analisado, encontraremos

dinâmicas e resultados diferentes. Desta forma, este nó visa abordar a diversidade de

elementos existentes na presencialidade dos contatos em rede.

Para tal, a abordagem que segue, fora dividida em dois tópicos, o primeiro

deles, primeiro deles intitulado de “as multiplicidades geográficas em face dos fluxos

tecnológicos” procura debater a fundamental importância do espaço geográfico

enquanto produtor de inúmeras temporalidades e multiplicidades. E

fundamentalmente sua relevância enquanto fundamental palco de cooperação e

interação, mesmo com os adventos tecnológicos.

Para tal busca-se analisar o debate sobre o “espaço de fluxos” de Castells

(1999) ancorado em debates de autores tais como Pascal (1987); Benedikt (1991);

Heim (1993); Batty (1993); Virilio (1993); Schroeder (1994); Negroponte (1995); Ianni

(1996); Baldwin et. al. (1996) e Musso (2003). O ponto defendido é que a consideração

dos autores mencionados é pouco sensível à geograficidade dos processos sociais. E

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que a negação do espaço é puro reducionismo e mostra pouca sensibilidade para com

as noções de distância e idiossincrasias do espaço geográfico.

Por fim, o tópico “a importância do ‘estar aqui’ e de comunicar-se face a

face na pesquisa científica em rede” visa defender o argumento que, estar

presencialmente em determinados momentos com os membros – construção, término

e atuação da pesquisa - de uma rede não só facilita à interação, a coordenação e a

comunicação entre os membros, como potencializa os níveis de proximidade social e a

consequente maior troca e compreensão de códigos e signos e estabelecimento de

confiança.

O que por sua vez, nos leva a considerar que as ferramentas tecnológicas

no que diz respeito à comunicação e trabalho à distância só fornecem subsídios até

certo ponto, exigindo assim contatos face a face em determinados momentos da

pesquisa científica em rede. Os contatos presenciais neste caso, são considerados

como veículos de multiplicidades pois carregam as diversas linguagens e bagagens

pessoais das pessoas que cooperam.

O aporte teórico aqui utilizado como fonte de revisão e ponto de vista,

baseia-se principalmente, mas não exclusivamente, nos seguintes autores: Polanyi

(1958, 1966, 1987); Nohria & Eccles (1992); Santos (1994, 1996); Robbins (1995,

1997); Graham (1997, 1998); Kitchin (1998); Lastres & Ferraz, (1999); Lastres & Albagli

(1999); Allen, (2000); Storper & Venables (2001); Gertler (2001a, 2001b, 2003, 2005);

Massey (2005); Torre & Rallet (2005); Morgan (2006); Lagendijk & Lorentzen (2007).

As multiplicidades geográficas em face dos fluxos tecnológicos

Como já mencionado anteriormente, Castells (1999) destaca que as redes,

influenciaram e influenciam fortemente na construção de uma nova morfologia social.

Para o autor, estaríamos vivendo na “sociedade em rede” que reiterando em termos

simples, seria uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de

comunicação e informação, fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de

computadores que geram, processam e distribuem informação a partir do

conhecimento acumulado nos nós dessas redes.

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Através dessa análise Castells (1999) abre espaço para abordar o debate

em torno do fato de que a atual sociedade em rede esta instaurada em meio aos

fluxos: fluxos de capital, fluxos da informação, fluxos de tecnologia, fluxos de interação

organizacional, fluxos de pessoas, fluxos de diálogos, fluxos de imagens, sons e

símbolos. Os fluxos assim para o autor não representariam apenas um elemento da

organização social: eles seriam a expressão dos processos que dominam nossa vida

econômica, política e até simbólica.

Nesse caso, o suporte material dos processos dominantes em nossas sociedades será o conjunto de elementos que sustentam esses fluxos e propiciam a possibilidade material de sua articulação em tempo simultâneo. Assim, proponho a ideia de que há uma nova forma espacial característica das práticas sociais que dominam e moldam a sociedade em rede: o espaço de fluxos. O espaço de fluxos é a organização das práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxos (CASTELLS, 2008, p. 501).

A tendência dominante de acordo com o autor aponta para um horizonte

de espaços de fluxos e históricos em redes, visando impor sua lógica nos lugares

segmentados e espalhados, que estariam cada vez menos relacionados uns com os

outros, cada vez menos capazes de compartilhar códigos culturais.

Para Castells (2005, p. 500) do ponto de vista da teoria social, “o espaço é o

suporte material de práticas sociais de tempo compartilhado”. Por tempo

compartilhado o autor se refere ao fato de que o espaço reúne as práticas que são

simultâneas no tempo. Nesse sentido, o autor destaca uma possível existência de

suportes materiais de simultaneidades que não dependam de continuidade física, visto

que para ele seja exatamente este o caso das práticas sociais predominantes na era

por ele considerada da informação.

Para tal, o autor acredita, entre outras coisas, que as pessoas cada vez mais

estariam propensas ao estabelecimento de redes sociais duradoras sem necessitarem

de contatos físicos ou de contatos face a face. De acordo com ele, a atual morfologia

tecnológica da sociedade em rede tenderia a suprir em determinados segmentos a

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necessidade de comunicações presenciais, diante dos fluxos estabelecidos no que ele

conceitua de “espaços de fluxos24”.

As colocações de Castells (1999) apoiam-se nas dinâmicas recentes da

produção dadas pela chamada nova economia da informação e do conhecimento, na

cultura e poder disseminados pelas redes enquanto morfologia social e técnica,

apontando assim para a instauração de um paradigma tecnológico informacional que

dá a lógica e o sentido a boa parte da base material das sociedades atuais.

Para o autor, a lógica viária de uma sociedade em rede baseada nos fluxos,

proporcionaria gradativamente a diminuição da rigidez física da distância, do tempo e

das impossibilidades que as rugosidades e a materialidade nos proporcionam. A

conexão e comunicação mediada pelo “espaço de fluxos” ou “ciberespaço” permitiria

ascendermos á uma nova instantaneidade relacional.

A argumentação de Castells (1999) é justamente uma das principais

vertentes que se propõem a debater sobre a dinâmica dos fluxos atuais e a perda

gradativa da necessidade de contatos presenciais, elas estão ancoradas no debate em

torno das redes medidas pelos suportes tecnológicos.

As colocações do autor são ancoradas em debates semelhantes como os de

Pascal (1987); Benedikt (1991); Heim (1993); Batty (1993); Virilio (1993); Schroeder

(1994); Negroponte (1995); Ianni (1996); Baldwin et. al. (1996) e Musso (2003) em que

procuram debater sobre a unicidade de tempos e a convergência de momentos

proporcionada pelo ciberespaço em face de suas transformações espaço-temporais.

Para os autores estas rupturas proporcionariam a criação espaços sociais em meio aos

fluxos que substituiriam as qualidades formais do espaço geográfico.

A lógica das telecomunicações e da mediação eletrônica é assim

interpretada como inevitável apoio à dispersão geográfica de grandes regiões

metropolitanas, das cidades, dos compartilhamentos cotidianos e das interações

presenciais entre as pessoas. Nela, uma vez que o tempo tornou-se instantâneo, o

espaço se tornaria desnecessário (GRAHAM, 1997).

24

Ao conceito de ciberespaço, Castells (1999) se reporta enquanto “espaço de fluxos”. Lévy (2000) conceitua como “um imenso espaço digital permeado por fluxos”. Em ambos os casos a polissemia de termos aponta para um mesmo objeto.

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Autores como Musso (2003, p. 332), consideram que o ciberespaço possa

ser visto como “espaço ilimitado de redes informacionais pode circular em um espaço

puro, sem fricção, etéreo e virtual”. Para ele, as rugosidades da vida cotidiana se

apagariam ao instituir-se um espaço eletrônico liso, livre de controle e de barreiras:

“No ciberespaço, o território áspero e resistente é excluído, restando um espaço liso,

fluido, feito para o tráfego” (MUSSO, 2003, p. 334).

Com a mesma concepção, Negroponte (1995, p. 165) fala que para ele a

“vida digital inclui cada vez menos a dependência de estar em um local específico em

um momento específico, e a transmissão do lugar em si vai começar a se tornar

possível”. De forma semelhante, aponta Virilio (1993, pp. 8-9),

Tudo chega tão rapidamente que a partida se torna desnecessária. [...] Crise na noção de dimensão física de espaço, lugar, região e cidade. Na arcaica tirania das distâncias entre as pessoas que foram dispersas geograficamente.

Para estas concepções, uma vez que o tempo tornou-se instantâneo, o

espaço se tornaria desnecessário. Autores como Benedikt (1991, p. 10), passam a

questionar “a importância da localização geográfica em todas as escalas”. Eles

colocam as tecnologias como solução para uma parte significativa dos problemas

espaciais, sobretudo aqueles referentes à comunicação, o que acabam por gerar

imprecisões e equívocos, tais como o de não relativizar o que é de fato o espaço

geográfico, e, por conseguinte a geograficidade dos processos sociais. Inclusive aqueles

mediados pelas redes eletrônicas.

Robbins (1997, p. 198) sugere que tem havido um “desejo, há muito

existente, de transcendência, dessa ligação com a terra, desses constrangimentos do

espaço geográfico, do lugar” que por sua vez tem implicado na promoção de visões

equivocadas em que, é sugerida gradativa diminuição da importância da

geograficidade dos processos sociais cotidianos, das rugosidades, das proximidades.

Da mesma forma, Massey (2008, p. 142) reforça a “importância da

materialidade em oposição à virtualidade” e sugere também cautela com “versões

idealizadas, nostálgicas e sem atrito, imaginadas pelos otimistas digitais”. Ainda sob

este ponto de vista Robins (1997) destaca,

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A política do otimismo quer livrar-se da carga da geografia (e, junto com ela, da bagagem histórica), pois considera a determinação geográfica e a situação como tendo sido fontes fundamentais de frustação e limitação na vida humana e social (ROBINS, 1997, p. 197).

Robins (1997) ao falar da “política do otimismo” destaca que por trás de

algumas correntes ideológicos constrói-se uma análise equivocada e ainda imprecisa

das relações complexas surgidas entre o ciberespaço e o espaço geográfico. Ainda de

acordo com o autor, temos que ter cautela com as rupturas promovidas pelo

deslocamento promovido pelos meios de transporte e as tecnologias comunicacionais.

Ademais, é importante frisar assim como afirma Massey (2008, p. 9) que “o espaço não

é redutível à distância de qualquer maneira”.

Massey (2008, p. 138) faz uma reflexão usando como ponto de análise as

comunicações a longa distância como o telefone, a web conferência etc. Ao afirmar

que “isto seria como dizer que, por que uma chamada telefônica seja instantânea, os

participantes dela, estejam fundidos em uma única entidade”. Seria o mesmo que

acreditarmos que a instantaneidade da ligação permita a instantaneidade da presença

dos corpos e todas as particularidades que acompanham. Mesmo uma web

conferência, está limitada por debilidades.

A confiança generalizada em tais perspectivas espaciais e tecnológicas, na

verdade, pode servir para ofuscar as complexas relações entre comunicação, o

ciberespaço, tempo, e o espaço geográfico. Onde pouco se coloca a pensar

conceitualmente sobre como as relações no ciberespaço realmente se conectam aos

espaços geográficos e aos lugares ligados à vida humana territorial (GRAHAM, 1998).

Sem uma análise cautelosa sobre as implicações os fluxos tecnológicos, do

espaço geográfico e sobre como as novas formas de se relacionar são incorporadas por

eles (e neles), algumas reflexões podem ser reducionistas e determinísticas. Estas

podem apontar para inconsistências destacadas, por exemplo, por Thu Nguyen &

Alexander (1996, p. 117), as quais destacam que se tem aumentado cada vez mais os

debates que consideram que a vida cotidiana estaria cada vez mais dominada pela

“participação na ilusão de uma eterna e imaterial eletrônica mundial, o mundo

material do espaço e lugar se tornariam gradualmente eviscerados”.

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A implicação é que de acordo com essas perspectivas, os próprios

conceitos materiais de espaço geográfico, de tempo, e do corpo, serão problemáticos

ou mesmo obsoletos, cria-se outro erro apontando por Kitchin (1998, p. 394) em que

se acredita que o “espaço no ciberespaço é totalmente produzido socialmente sem

contrapartida física”.

A visão comum de um futuro que será diferente do presente, de um espaço ou de uma realidade que é mais desejável do que o mundo que atualmente rodeia e nos contém [...]. Tudo isso é impulsionado por uma crença febril na transcendência, uma fé que, desta vez, uma nova tecnologia vai finalmente e verdadeiramente livra-nos das limitações e frustrações deste mundo imperfeito. Desta geografia imperfeita. (ROBINS, 1995, p. 135).

A proposta de Castells (1999), assim como as de Pascal (1987); Benedikt

(1991); Heim (1993); Batty (1993); Schroeder (1994); Negroponte (1995); Virilo (1993;

1996); Rheingold (1994); Ianni (1996), para nós, assim como para Matos (2011, p. 171)

“é pouco sensível à geograficidade dos processos sociais [...] A negação do espaço é

puro reducionismo e mostra pouca sensibilidade para com as noções de distância e

idiossincrasias do espaço geográfico”. Boa parte destas considerações acaba por tratar

a geografia como simplesmente espaço físico, quando na realidade este precisa ser

entendido também, e, além de tudo, como espaço relacional (MORGAM, 2006).

O espaço revela no conteúdo de suas formas as mesmas contradições que o produziram. Essas, por sua vez, geravam também as condições de reprodução das relações sociais. Nesse sentido, o espaço é resultado e, ao mesmo tempo, condição da reprodução social. Em outras palavras, o espaço consiste em um “efeito” que se transforma em “causa”, ou, um resultado que se transforma em processo (GODOY, 2004, p. 31).

Embora Castells (1999, p. 43) debata que “o dilema do determinismo

tecnológico é, provavelmente, um problema infundado, dado que a tecnologia é a

sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas

ferramentas tecnológicas”, a lógica que se tenta estabelecer aqui se direciona para o

fato de que, as conexões eletrônicas fornecem profícuo ambiente de cooperação e

interação, mas que só servem até certo ponto, ou para determinadas atividades ou

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funções específicas, que por sua vez não incorporam todas as multiplicidades que

envolvem o espaço geográfico (TORRE & RALLET, 2005; LAGENDIJK & LORENTZEN,

2007).

Embora a percepção de grupos sociais mais favorecidos em grandes áreas

metropolitanas, em países “desenvolvidos”, pode ser que o mundo em que estamos

vivendo represente um "espaço de fluxos" cada vez mais integrado e cosmopolita,

como para os acadêmicos com sede em Paris ou Londres, grande parte da população

mundial ainda experimenta suas vidas tão fortemente e territorialmente enraizadas.

(JONES, 2005).

Lidar com as multiplicidades do espaço, portanto, requer muito mais do

que meramente a "conquista da distância ou instantaneidade". E enquanto as novas

tecnologias de informação e comunicação, por sua vez, podem induzir o rearranjo de

configurações espaciais e a reordenação das multiplicidades, elas não podem

prejudicar o caráter fundamentalmente múltiplo de espaço (MASSEY, 2005).

Portanto, assim como para Lagendijk & Lorentzen (2007) e para nós,

podemos, sim, ter entrado numa época em que se tornou substancialmente mais fácil

para os grandes agentes hegemônicos produzirem situações de “estar ao mesmo

tempo aqui e ali” e se mobilizarem em grandes regiões “centrais”, mas, ao contrário

do que os defensores da “morte da distância, morte da geografia” sugerem, isso não

provocou um colapso das relações presenciais cotidianas.

Massey (2008 p. 93) destaca a importância do “conteúdo relacional das

formas espaciais, e, em especial, a natureza embutida nas relações de poder”.

Principais mecanismos de poder e controle, por exemplo, da concessão e acesso a

locais e recursos continuam fortemente fundamentados sobe as práticas de base

territorial, como o acesso a determinado objetos técnicos.

Em um sentido mais material, a imagem de mobilidade pessoal sem limites, de longe, supera a capacidade real para mover grande número de pessoas, resultando em novas formas de seletividade espacial e controle. Além disso, a infraestrutura necessária para sustentar o "espaço de fluxos" tem um custo enorme em termos de investimentos localizados. Os custos de funcionamento, manutenção, consumo de energia, medidas de segurança, e os custos para lidar com os danos ambientais e congestionamento de custos e benefícios

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são suportados de formas muito diferentes por diferentes lugares (LAGENDIJK & LORENTZEN, 2007, p. 462).

A facilidade de viagens e comunicação tem realmente aumentado à

necessidade e possibilidade de articulação, criando a circulação de novas imagens e

narrativas espaciais, produzindo e reforçando hierarquias simbólicas no espaço.

Porém, em vez de modificar radicalmente as relações espaciais, estas várias forças

parecem replicar, ou mesmo reforçar os padrões existentes de polarização espacial e

centralização (SIMMIE, 2005).

Logo, não acreditamos ser possível um mundo criado apenas por fluxos,

nem um espaço formado somente por fluxos, sem estabilizações, sem fronteiras

físicas, sem rugosidades, sem estruturas físicas. Mobilidade e fixidez, fluir e assentar,

um pressupõe o outro. As cidades e empresas globais, os grandes atores hegemônicos,

com suas enormes capacidades de gerar e controlar fluxos, são construídos por vários

recursos físicos ou não, espacialmente fincados, móveis e distribuídos no espaço

geográfico (SANTOS, 1996; ROBINS, 1997; GRAHAM, 1998; MASSEY, 2005).

O movimento e a mobilidade para um espaço de fluxos de Castells (1999)

só pode ser alcançado por meio da construção técnica e material de estabilizações. O

digital só é permitido e existe em face da existência do palpável. Os fluxos tecnológicos

dependem das configurações múltiplas do espaço geográfico.

Ademais, é importante destacar que o mundo não é totalmente

globalizado. O próprio fato de que alguns estão se empenhando tanto em fazê-lo é a

prova de que o projeto está incompleto. Mas isso é mais uma questão de

incompletude, que uma questão de esperar os retardatários, seria uma questão de

temporalidades, multiplicidades e espacialidades diferentes em territórios com

contextos históricos distintos.

Estas questões nos fazem refletir que, sendo o espaço geográfico múltiplo

e reflexo da sociedade, sua importância em face dos fluxos tecnológicos estaria mais

do que cotidianamente renovada. O palpável, o relacional, o presencial e todos os

aspectos contidos nestes aspectos estariam tão importantes quanto antes, mesmo

com os adventos tecnológicos.

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A importância do “estar aqui” e de comunicar-se face a face na

pesquisa científica em rede

Trabalhos recentes sobre a importância do espaço geográfico em face dos

novos fluxos tecnológicos e as formas de se agrupar e produzir conhecimento em rede

sugerem a necessidade da proximidade e contatos face a face entre as partes que

colaboram para o bom desenvolvimento de alguns aspectos, tais como: a) construção

de bons grupos de trabalho, e de boas relações; b) o bom a construção e

funcionamento de um projeto; c) otimização da comunicação e organização de

atividades; e) adoção de novas tecnologias e medidas de atuação (ALLEN, 2000;

STORPER & VENABLES, 2001; GERTLER, 2003, 2005; TORRE & RALLET 2005; LAGENDIJK

& LORENTZEN, 2007).

Os autores também concordam em três questões importantes: a) a

importância das novas tecnologias comunicacionais para o fornecimento de profícuos

canais de comunicação para os agentes que cooperam, e b) o fato de que para cada

contexto analisado as tecnologias por sua vez atuam de forma distinta, e c) do papel

ainda relevante da “proximidade25” e da comunicação face a face entre os agentes que

cooperam.

Para eles, a possibilidade dos pesquisadores “estarem aqui” e se

comunicarem face a face em dados momentos, não só é necessário, como reduz uma

série de incertezas, e dinamiza o trabalho cooperativo. Em outras palavras, ter os

demais membros “próximos” na hora de se formar uma equipe ou durante a realização

do projeto, facilita a realização do trabalho em si, além da inserção de novos membros

no grupo.

O contato face a face alimenta da historia comum do conjunto de atores.

Esta especificidade da proximidade recai sobre certas modalidades do exercício de

confiança que repousa não só sobre a reputação do outro (que poderia se realizar até

certo ponto à distância), mas de uma prática mais complexa e mais efetivada em longo 25

Gertler (2003, 2005) fala da importância do “estar aqui” para tratar das multiplicidades encontradas nos diversos espaços distintos. Para o autor, a possibilidade de se estar presente, aperfeiçoa os resultados, diminui incertezas e facilita a comunicação. Ainda segundo ele, estas questões são tão importantes atualmente quanto ter acesso à tecnólogas comunicacionais e de transporte.

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prazo. Esta prática constitutiva da confiança que se apoia, das relações que só podem

ser realizadas pessoalmente (STORPER & VENABLES, 2001).

A “proximidade” aqui mencionada é usada, tanto no sentido literal, como

permitir que mais frequente e eficaz, muitas vezes, a interação e cooperação não

planejada, e mais ampla, quanto a mais abrangente, como o compartilhamento de

língua comum, modos de comunicação, estrutura de trabalho, costumes, convenções,

simbolismos e normas sociais. Ou seja, a proximidade enquanto continuidade social,

dentro de um contexto histórico geográfico constante de (re)produção das relações

sociais cotidianas.

Do ponto de vista das construções e produções acessíveis e cotidianas,

Lagendijk & Lorentzen (2007, p. 460) destacam que fundamentalmente a proximidade

geográfica não deve ser equacionada apenas com a proximidade meramente física

pura e simplesmente.

Pelo contrário, é um conceito dinâmico, intimamente associado com a noção de estruturação espacial. Por um lado, a proximidade geográfica é um produto de uma construção histórica, de um acumulado de infraestruturas de transporte e de locais de encontro, tanto de uma forma e sentido mais material e virtual, bem como, gostaríamos de acrescentar, a formação de espaços territorialmente delimitados, dimensões sociais, institucionais, políticas e econômicas

(LAGENDIJK & LORENTZEN, 2007, p. 460).

Para Lagendijk & Lorentzen (2007) a proximidade geográfica promove e

potencializa também efeitos casuais não esperados, além de sustentar a conectividade

e posicionalidade dos agentes. Da mesma forma, Gertler (2005) destaca a importância

espacial como componente na facilitação do processo de compartilhado de códigos de

comunicação, cooperação bem como na construção de um legado comum de práticas

e instituições sociais. Ainda segundo o autor, a proximidade parece facilitar a formação

e manutenção em alta qualidade de relacionamentos que necessitem de intensiva

interação e proporciona maior e mais livre fluxo de informações entre os atores.

Para ele, no caso em que grandes distâncias venham a intervir, problemas

podem decorrer, mesmo com a funcionalidade eletrônica. A “falta de proximidade”

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tenderia a tornar o processo de cooperação oneroso 26 . E que mesmo

(in)voluntariamente os membros ainda tendem a procurar o estabelecimento de

conexões com outros que estão próximos.

As colocações de Gertler (2003, 2005) são reforçadas por Lagendijk &

Lorentzen (2007, p. 462) ao destacarem que “os lugares continuam sujeitos a formas

mais simbólicas de posicionalidade”. Na mesma linha de raciocínio, Allen (2000)

evidencia que as rotinas organizacionais em curso e as práticas sociais de trabalhos

coletivos envolvidos em empreendimentos comuns são mais facilmente fortalecidas

pelas interações cotidianas. Para tal, as práticas espaciais produzem perspectivas que

em alguns casos – ou momentos – sejam permitidas à distância, mas que mantem

significativa importância presencial.

Mais do que simplesmente “estar perto”, é importante que rotinas

organizacionais em curso e as práticas sociais de trabalhos coletivos envolvidos em

empreendimentos comuns sejam fortalecidas cotidianamente. Para tal as práticas

espaciais produzem perspectivas que em alguns casos – ou momentos – sejam

permitidas à distância, mas que mantem significativa importância presencial cotidiana.

(ALLEN, 2000)

Portanto, estar presencialmente em determinados momentos com os

membros de uma rede não só facilita à interação, a coordenação e a comunicação

entre os membros, como potencializa os níveis de proximidade social e a consequente

maior troca e compreensão de códigos e signos e estabelecimento de confiança. A

necessidade de contatos face a face é tanto mais importante quanto maior for o

caráter tácito do conhecimento, por exemplo.

[...] com relação à troca eletronicamente mediada, a estrutura do contato face a face oferece possibilidade incomum de interrupção, reparo, feedback e aprendizagem. Contrariamente a interações grandemente sequenciais, a interação face a face possibilita a duas pessoas emitir e receber mensagens simultaneamente. O ciclo de interrupção, feedback e reparo, possível na interação face a face é tão rápido que é praticamente instantâneo (NOHRIA & ECCLES, 1992, p. 292).

26

O autor indica alguns problemas tais como: fuso horário, postos de fronteiras, distâncias físicas de deslocamento, diferenças entre infraestruturas técnicas, problemas de comunicação relacionados às diferentes linguagens, idiomas, regionalismos, diferenças contextuais das práticas no local de trabalho, as culturas de formação etc.

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O conhecimento tácito caracteriza-se pela dificuldade de transmissão à

distância, pois por maior que seja a habilidade de um indivíduo em alguma função, ele

pode não ter completa consciência de tudo que realmente sabe e de tudo que é

realmente necessário para a execução dessa tarefa aparentemente simples para o

próprio ou para os demais membros da rede, além de não conseguir explicitar seu

conhecimento apenas com palavras (POLANYI, 1987).

Para aquisição de tal conhecimento necessitam-se experiências,

observações pessoais dos agentes na rede e interações sociais, tornando-se, portanto,

dificilmente transbordável pela telemediação no ciberespaço ou por diferentes

contextos geográficos. Esse não é estabelecido de forma explícita, requerendo

experiência de trabalho cooperativo através de contatos face a face, ainda que tais

conexões não sejam exigidas durante todas as fases de uma pesquisa científica em

rede (GERTLER, 2003).

Ou seja, o componente tácito do conhecimento necessário para o bom

desempenho de uma habilidade é o que desafia a codificação ou articulação - ou

porque a pessoa não é totalmente consciente de todos os “segredos” do bom

desempenho ou porque os códigos de linguagem são não suficientemente bem

desenvolvida para permitir explicação, como o caso de idiomas, regionalismos,

comportamentos. Nesses casos, a melhor maneira de transmitir esse conhecimento é

através da demonstração, experiência e cooperação, como no caso entre professor e

aluno, orientador e orientando.

Ainda nas palavras de Polanyi (1987, p. 4), em que o autor afirma que

“sabemos mais do que somos capazes de comunicar”. A comunicação face a face extrai

sua riqueza e poder não apenas por nos permitir estarmos presencialmente e

detectarmos mensagens intencionais, mas também mensagens não intencionais que

podem ser carregadas apenas por esse contato visual.

O contato FaF, elimina o anonimato, faz aumentar a probabilidade de boas escolhas, graduais e interativas, sobre as habilidades dos outros, quando não se pode saber, de início, a respeito de sua capacidade de operosidade; também pode fazer com que os indivíduos se tornem mais capazes de sinalizar para os outros suas habilidades e níveis de operosidade. É uma maneira de tornar transparente e de baixo custo

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este tipo de informação, embora também permita, nos primeiros contatos FaF, que certas pessoas se juntem e permaneçam no grupo. (STORPER & VENABLES, 2001, p. 41)

Neste contexto, é importante se relativizar a relação entre o conhecimento

tácito e o espaço, já que ele tanto define quanto é definido pelo contexto geográfico.

Por um lado, o conhecimento tácito é um complemento essencial para o

conhecimento explícito, no sentido de que ele suporta a aquisição e transmissão de

conhecimento explícito através de construções tacitamente mantidas como as regras

que permitem a fala, leitura e escrita. Ao mesmo tempo, o conhecimento tácito só

pode ser compartilhado de forma mais eficaz entre duas ou mais pessoas, quando eles

também compartilham o mesmo espaço geográfico comum, e isso implica em

compreender as variáveis como valores, simbolismos, língua, cultura etc ou seja, as

diferenciações espaciais.

A lógica na importância do conhecimento tácito na produção de

conhecimento científico em rede é fundamentalmente espacial: a de que o

conhecimento tácito é um fator importante da geografia da atividade científica e

inovadora. Há dois elementos intimamente relacionados com este argumento de

acordo com Gertler (2003). O primeiro diz respeito ao fato de que o conhecimento

tácito é difícil de trocar a longas distâncias. Portanto, a sua natureza específica do

contexto o torna espacialmente importante. A segunda relaciona-se com a natureza

mutável do processo de produção de conhecimento e inovação em si e, em particular,

a importância crescente dos processos de aprendizagem estarem cada vez mais

socialmente organizados.

Da mesma forma Polanyi (1966, 1987) argumenta que conhecimento

científico é produzido por indivíduos que impregnam sua busca por novos

conhecimentos com conteúdo profundamente pessoais, que são resultado de uma

série de interações e particularidades. Em outras palavras, o conhecimento científico

não seria apenas um conjunto claramente articulado de axiomas, regras, algoritmos e

declarações. Estes por sua vez, em alguns casos, são incompreensíveis, por

telefonemas, chats, web conferências, e-mails, servidores e demais tecnologias.

Ou seja, mesmo com os meios eletrônicos, o conhecimento tácito não flui

tão facilmente. Isto porque a sua transmissão é mais comum por meio da interação

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face a face entre os parceiros que já compartilham questões espaciais “básicas”: a

mesma língua, "códigos" comuns de comunicação, convenções e normas

compartilhadas, o conhecimento pessoal de cada um baseado em uma história do

passado colaboração de sucesso ou interação informal. Estas semelhanças são ditas

para servir o propósito vital de construção de confiança entre os parceiros, que por sua

vez facilita o fluxo local de conhecimento tácito entre os parceiros (LUNDVALL, 1988;

MORGAN, 1997; GERTLER, 2003).

A geograficidde do conhecimento tácito está associada a uma perspectiva

que de acordo com Gertler (2003) seria clara e inequívoca: uma vez que a proximidade

é fundamental para a efetiva produção e transmissão/compartilhamento do

conhecimento tácito, isso reforçaria a importância de clusters, distritos, e

adensamentos de pesquisadores.

Entretanto, mais do que simplesmente “estar perto”, é importante que

rotinas organizacionais em curso e as práticas sociais de trabalhos coletivos envolvidos

em empreendimentos comuns sejam fortalecidas constantemente. Para tal as práticas

espaciais produzem perspectivas para as duas situações: a) àquelas que podem ser

realizadas à distância e b) àquelas que necessitam significativa presença cotidiana

(ALLEN, 2000).

Com o desenvolvimento de novas tecnologias, estamos, na verdade, mais e mais abertos a experiências de (des)realização e de (des)localização. Mas continuamos a ter existência física e localizada. Devemos considerar o nosso estado de suspensão entre essas duas condições (ROBINS, 1995, p. 153).

As tecnologias, através do ciberespaço para Morley & Robins (1995) são

vistas como fornecedoras de um novo espaço social, um espaço onde as pessoas

podem se encontrar e interagir, um espaço com uma geografia nova e virtual que tem

pouca semelhança com a geografia fora dos fios. Que por sua vez, nos fornece

subsídios diferentes - e em alguns casos ainda imprecisos - para cada tipo de contexto

analisado.

Ao contrário da visão viriliana, a localização geográfica torna-se portadora de um valor estratégico ainda mais seletivo. As vantagens

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locacionais são fortalecidas e os lugares passam a ser cada vez mais diferenciados pelo seu conteúdo (DIAS, 1995, p. 157).

Torre & Rallet de (2005, p. 53) também discutem que mesmo com a atual

explosão comunicacional, ou “a onipresença promovida pela comunicação e

mobilidade – física e virtual” certos recursos e relações permanecem espacialmente

enraizados. Que a proporção de enraizamento, da presencialidade, de contatos face a

face variara de acordo com a atividade, “mas que em todas, ainda encontraríamos

faísca da necessidade da produção espacial presencial cotidiana”.

[...] com relação à troca eletronicamente mediada, a estrutura do contato face a face oferece possibilidade incomum de interrupção, reparo, feedback e aprendizagem. Contrariamente a interações grandemente sequenciais, a interação face a face possibilita a duas pessoas emitir e receber mensagens simultaneamente. O ciclo de interrupção, feedback e reparo, possível na interação face a face é tão rápido que é praticamente instantâneo (NOHRIA & ECCLES, 1992, p. 292).

Portanto, a proximidade virtual proporcionada pelos fluxos tecnológicos

não pode substituir a proximidade geográfica nas transações de alta complexidade e

ambiguidade, por exemplo, não só no âmbito do próprio funcionamento da pesquisa

científica, mas na própria construção e consolidação de relações que necessitem de

circunstâncias presenciais.

Como os ciber-evangelistas são ingenuamente obcecados com as capacidades abstratas e transmissionais das tecnologias de informação, os debates tecnologicamente deterministas normalmente negligenciam a riqueza e a inserção da vida humana cotidiana no espaço (GRAHAM, 1998, p. 172).

Por mais que tenhamos acesso aos recursos tecnológicos da

“telemediação27”, ainda necessitamos do contato físico. Ou como nas palavras de

Graham (1998, p. 169): “Em uma cidade sem limites, toda a população pode exigir

27

É a mediação por meio de tecnologias de informação e comunicação. Pode ser descrita, por exemplo, como uma web conferência em tempo real.

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mais do que 30 vezes o diâmetro de um átomo28 do feixe de luz de um sistema de

computadores óticos” para pesquisarem juntas.

A presença mútua – estar suficientemente próximo, a ponto de tocar-se um no outro – permite o “contato” visual e a “proximidade emocional”, a base para a construção das relações humanas. A comunicação FaF, mais que apenas uma troca, é um desempenho pelo qual o discurso e outros tipos de ações e contextos se juntam para exercitar a comunicação, de uma maneira muito complexa, em muitos e diferentes níveis ao mesmo tempo (STORPER & VENABLES, 2001, p. 32).

Morgan (2006), em seu trabalho sobre “a exagerada morte da geografia”,

destaca que existem nuanças da comunicação pessoal que requerem proximidade

entre as pessoas, como regionalismos, contextos históricos e linguagens corporais

promovidas apenas pelo contato face a face. Para o autor, é imprescindível não

confundir o alcance espacial e a profundidade das relações sociais, assim como os

contextos geográficos distintos, uma vez que o entendimento de linguagens regionais

e difusão de conhecimento tácito em rede – via infovia- podem não ser facilmente

compreendidos.

Uma pessoa falante pode entender como outros respondem a sua

mensagem, mesmo antes de emiti-la, e altera-la durante o seu curso, de modo a

propiciar uma resposta diferente. Os regionalismos, signos e códigos geográficos locais

permitem as ações cotidianas de comunicação, coordenação, reunião propiciar um

ambiente mais propenso para a compreensão de mensagens subliminares expressas

nas ideias e diálogos dos membros.

O que importa, em tais situações não é apenas o fato de enraizamento local, mas a existência de relações em que as pessoas são capazes de internalizar entendimentos compartilhados ou são capazes de traduzir performances e linguagens particulares, com base em seus próprios entendimentos tácitos e codificados (ALLEN, 2000, p. 28).

28

Faz referência ao diâmetro de um cabo de fibra ótica, a medida mencionada “30 vezes o diâmetro de um átomo”, que é entre 0.1 e 0.5 nanometros.

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Nestes termos, as performances e linguagens particulares se traduziriam

nas perspectivas e necessidades que se criariam no momento em que se opta pela

criação de uma rede de pesquisa científica, e na forma com que os membros desta

estrutura se comunicarão e realizarão o trabalho. Para determinados tipos de

atividades, ou área, a localização dos membros a possibilidade deles “estarem aqui” ou

poderem se comunicar face a face em determinados momentos pode vir a determinar

os agentes que farão parte da pesquisa.

O aspecto geográfico não se destina apenas meramente ao caso do

conhecimento tácito, ou mesmo o codificado, ele direciona-se para o simples

manuseio ou construção de relações cotidianas na produção da pesquisa. Para

terminados objetos a tomada de decisões, a realização de reuniões, firmamento de

projetos, assinatura de tratados, divisão de benefícios, tarefas, acesso à equipamentos,

relações de orientação, e coordenação podem exigir com mais ou menos intensidade

que os membros estejam próximos, mesmo com a comunicação virtual cotidiana.

O contato FaF é um meio particularmente eficiente de comunicação em certas circunstâncias, como, por exemplo, quando necessitamos estabelecer relações com outras pessoas capazes e trabalhadoras, mas não temos como verificar inteiramente tais atributos previamente, nem observa-los diretamente. Isso nos leva a buscar a seleção dos que estão no grupo, o conjunto de prováveis parceiros com quem decidiremos trabalhar, em que o contato FaF (seja, de modo geral, por “estar lá”, ou burburinho, seja por meio de reuniões) constitui-se a tecnologia-chave de comunicação para assim agirmos. (STORPER & VENABLES, 2001, p. 35)

Igualmente, o contato face a face enquanto componente das

multiplicidades geográficas de interação não constitui, tão somente, uma eficiente

tecnologia de comunicação imediata. Ele extrai sua riqueza e poder não apenas por

nos permitir estarmos presencialmente e podermos detectar mensagens intencionais,

mas também mensagens não intencionais que podem ser carregadas apenas com um

contado visual em face do compartilhamento de ações e objetos geograficizados.

Ele prevê efeitos em longo prazo sobre a capacidade de nos

comunicarmos, promove a interação dos indivíduos e oferece-lhes instrumentos para

sinalizar verificações mais eficazes da possível conveniência da construção de

determinada pesquisa em rede, de encontros em determinados momentos para a

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solução de problemas comuns, ainda permite maior reprodução das relações sociais

entre o sistema de ações e sistema de objetos locais.

Se o tempo se revela como mudança, então o espaço se revela como interação. Neste sentido, o espaço é a dimensão social não no sentido da sociabilidade exclusivamente humana, mas no sentido do envolvimento dentro de uma multiplicidade. Trata-se da esfera da produção contínua e da reconfiguração da heterogeneidade, sob todas as suas formas – diversidade, subordinação, interesses conflitantes (MASSEY, 2008, pp. 97-98).

Portanto, por mais que tenhamos todas as ferramentas disponíveis diante

do avanço técnico, e todas as possibilidades comunicacionais permitidas pelo

ciberespaço, acredita-se que estas não forneçam elementos suficientes para suprir

todos os aspectos que envolvem a formação e a comunicação dentro de uma pesquisa

em rede.

Afinal, uma rede científica é palco de convergências e divergências de

relações sociais que vão para muito além da pesquisa acadêmica e das competências

complementares dos vários agentes envolvidos, elas refletem territorialidades,

contextos históricos, fortalecimento de vínculos, estabelecimento de grupos,

necessidades locais, trocas eficazes e confiáveis de informações, busca por

conhecimento e qualificação profissional que são próprias da produção das relações

sócio espaciais.

Considerações Finais

O movimento e a mobilidade para um espaço de fluxos de Castells (1999)

só pode ser alcançado por meio da construção técnica e material de estabilizações. O

digital só é permitido e existe em face da existência do palpável. Os fluxos tecnológicos

dependem das configurações múltiplas do espaço geográfico. Das rugosidades que são

(re)produzidas cotidianamente.

Reitera-se que, as colocações que desprezem as multiplicidades

geográficas em face dos fluxos tecnológicos, são pouco sensíveis à geograficidade dos

processos sociais. E que a negação do espaço é puro reducionismo e mostra pouca

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sensibilidade para com as noções de distância, tempo e idiossincrasias do espaço

geográfico.

Logo, não acreditamos ser possível um mundo criado apenas por fluxos,

nem um espaço formado somente por fluxos, sem estabilizações, sem fronteiras

físicas, sem rugosidades, sem estruturas físicas. Mobilidade e fixidez, fluir e assentar,

um pressupõe o outro. As cidades e empresas globais, os grandes atores hegemônicos,

com suas enormes capacidades de gerar e controlar fluxos, são construídos por vários

recursos físicos ou não, espacialmente fincados, móveis e distribuídos no espaço

geográfico.

Ademais, é importante destacar que claramente que o mundo não possui a

mesma distribuição técnica. Ou mesmo não é totalmente globalizado. O próprio fato

de que alguns estão se empenhando tanto em fazê-lo é a prova de que o projeto está

incompleto. Mas isso é mais uma questão de incompletude do que uma questão de

esperar os retardatários, seria uma questão de temporalidades, espacialidades

diferentes em territórios com contextos histórico-geográficos distintos.

Em específico, do ponto de vista das redes científicas, enquanto

construções sociais, estas se mostram subsidiadas pelos fluxos tecnológicos até certo

ponto, neste sentido, acredita-se que para o trabalho acadêmico com membros

distantes, as tecnologias comunicacionais só fornecem um ambiente satisfatório até

certo ponto, necessitando assim, que os pesquisadores se encontrem pessoalmente.

Mais do que se encontrarem face a face, a proximidade traduzida no “estar

aqui” promove e potencializa efeitos casuais não esperados, além de sustentar a

conectividade e posicionalidade dos agentes. Para tal a importância espacial é

importante componente na facilitação do processo de compartilhado de códigos de

comunicação, cooperação bem como na construção de um legado comum de práticas

e instituições sociais.

A proximidade parece facilitar a formação e manutenção em alta qualidade

de relacionamentos que necessitem de intensiva interação e proporciona maior e mais

livre fluxo de informações entre os atores. Mais do que isso, a proximidade facilita o

intercâmbio cultural, linguísticos, simbólico, político, diminui as barreiras de tempo e

aproxima os membros. Compartilhar o mesmo espaço geográfico, facilita a maior

compreensão e troca entre todos os seus membros, além de favorecer o

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fortalecimento de vínculos, a criação de melhores relações, a redução de incerteza, a

delegação de atividades e a própria realização da pesquisa científica

Para tal, o contato Face a face elimina o anonimato, faz aumentar a

probabilidade de boas escolhas, graduais e interativas, sobre as habilidades dos

outros, quando não se pode saber, de início, a respeito de sua capacidade de

operosidade; também pode fazer com que os indivíduos se tornem mais capazes de

sinalizar para os outros suas habilidades e níveis de operosidade. É uma maneira de

tornar transparente e de baixo custo este tipo de informação, embora também

permita, nos primeiros contatos Face a face, que certas pessoas se juntem e

permaneçam na rede.

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3ª CONEXÃO

A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA,

TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM

SAÚDE (PNCTIS) E O FOMENTO À

PESQUISA EM REDE.

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1º Nó

A Política Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação em Saúde.

“A desigualdade é o calcanhar-de-aquiles da civilização brasileira. Todo o progresso conquistado por gerações, em todos os campos em que isso foi observado, esbarra na marca infame – muitas vezes crescente – da desigualdade. Não é diferente no campo da saúde” (Reinaldo Guimarães, 2004, p. 378).

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3ª CONEXÃO: A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE (PNCTIS) E O FOMENTO À PESQUISA EM REDE

1º NÓ A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE

Introdução

A institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da

promulgação da Constituição Federal brasileira de 1988, proporcionou uma nova

dimensão na estrutura de atendimento e assistência médica no país, quando pela

primeira vez, afirmou-se que a “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido

mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de

outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 2004, p. 84).

É de responsabilidade do Estado, também, a formulação e execução de

políticas científicas, econômicas e sociais que visem, entre outros aspectos,

estabelecer condições que assegurem acesso universal às ações e serviços para

promoção, proteção e recuperação da saúde, como formação de profissionais, criação

de procedimentos, aparelhos, medicamentos, que devem chegar a todas as camadas

sociais com custos baixos para que todo cidadão possa ter acesso.

Nestes termos, deter conhecimento científico e tecnológico sobre uma

área é a melhor forma de uma nação proporcionar a sua população a dignidade no

acesso à saúde. Isso implica em compreender o papel do Estado em proporcionar

medidas que possibilitem a produção de conhecimentos em consonância com as

realidades e necessidades internas.

Assim, conjugar a saúde pública ao vasto campo da ciência, tecnologia e

inovação é avançar no caminho do desenvolvimento econômico e do progresso social

de uma nação. Para que o Brasil alcance esse horizonte, voltado às reais necessidades

da população, é fundamental abreviar o hiato entre os diversos redutos de pesquisa

acadêmica e institucional e os de gestão pública. Assim, aproximar as atividades

científicas às ações de prevenção e controle dos problemas de saúde que mais

acometem a sociedade, como as recorrentes doenças emergentes e negligenciadas

que abatem os países em desenvolvimento.

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Em meio a estes aspectos, no segundo semestre de 2004, fora criada a

Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS) que é uma

entre tantas medidas propostas pelo Governo Brasileiro com o objetivo em linhas

gerais de promover o desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo da área da

saúde no país atendendo as especificidades locais, de forma que os conhecimentos

gerados sejam incorporados pelo Sistema Único de Saúde e que também forneçam

fortes subsídios para o mercado interno e externo.

Este nó se propõe a tratar dos aspectos envoltos na PNCTIS e para tal está

dividido em dois tópicos: o primeiro deles “A pesquisa em Saúde no Brasil e sua

importância no âmbito de um Sistema Único de Saúde” pretende introduzir ao debate

reiterando os aspectos aqui falados nessa introdução envoltos no papel do Estado na

promoção da pesquisa em saúde, e o papel também desta no âmbito de um Sistema

Único de Saúde.

O segundo deles, “A PNCTIS: atores, criação e diretrizes” pretende fazer

um retrospecto de sua criação, destacando os principais atores envolvidos, agendas de

trabalho, eventos realizados que proporcionaram debates na construção e publicação

desta, bem como as diretrizes, e objetivos. Esse tópico pretende também destacar

alguns elementos que, juntamente com a PNCTIS, fazem parte do fomento para o

desenvolvimento da área da saúde.

Portanto, este nó, em consonância com o próximo, pretende responder ao

seguinte objetivo específico “compreender os argumentos dos formuladores da PNCTIS

para o fomento à pesquisa em rede na saúde”. E isso implica para além da

compreensão dos argumentos formuladores da referida política, compreendermos os

atores envolvidos em sua criação, suas diretrizes, enfoques e demais particularidades

que compõem o contexto de formação e atuação da mesma.

O objetivo final é fazer um detalhamento dos principais aspectos que

envolvem o campo da saúde em face da construção e atuação da política, para tal,

foram utilizadas informações coletadas dos Ministérios de Ciência, Tecnologia e

Inovação, Ministério da Saúde, Sistema Integrado de Administração Financeira do

Governo Federal (Siafi), dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE),

Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação – PACTI, Departamento de Ciência e

Tecnologia (Decit), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE),

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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos

e Projeto estratégicos (Finep), nos documentos da XI e XII Conferências Nacionais de

Saúde (CNS), da 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde

(CNCTIS), de Guimarães (2004), Guimarães et. al. (2006) além do próprio texto da

PNCTIS divulgado pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2004).

A pesquisa em Saúde no Brasil e sua importância no âmbito de

um Sistema Único de Saúde.

A Constituição Federal de 1988 definiu ainda que cabe ao poder público

regulamentar e fiscalizar medidas e serviços que ampliem o acesso da população à

saúde, bem como a divisão de trabalho entre três escalas de governo – federal,

estadual e municipal. A saúde tem definição ampla, na Constituição brasileira de 1988,

em seu artigo 196, a qual é retificada na Lei 8.080, de 1990 que, em seu artigo 2º

registra que, “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado

prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.

É de responsabilidade do Estado, também, a formulação e execução de

políticas econômicas e sociais que visem, entre outros aspectos, estabelecer condições

que assegurem acesso universal às ações e serviços para promoção, proteção e

recuperação da saúde, como formação de profissionais, criação de procedimentos,

aparelhos, medicamentos, que devem chegar a todas as camadas sociais com custos

baixos para que todo cidadão possa ter acesso.

Assim, a saúde constitui um valor humano associado à própria cidadania,

havendo interesses sanitários legítimos voltados para a garantia das condições de

saúde. Isto requer uma ação política e social para a ampliação do acesso aos bens e

serviços e, simultaneamente, para o estabelecimento de constrangimentos que

limitem a ação econômica dos agentes e, em particular, a estratégias empresariais das

organizações públicas e privadas.

Do ponto de vista da política social, essa dimensão da saúde se expressa na

preservação dos gastos em saúde, uma vez que, a despeito dos esforços generalizados

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em termos internacionais para a contenção do gasto público, a partir dos anos de

1980, a área da saúde tem preservado tanto sua participação nas despesas nacionais

financiadas pelo setor público quanto na magnitude da intervenção estatal na

regulação e nas ações de assistência e de promoção, mesmo quando ocorreram

transformações na forma de ação do Estado no âmbito dos governos que tiveram a

marca das políticas referidas como neoliberais (GADELHA, 2003).

Cordeiro (2001) aponta que é nesse espaço de diversidade, complexidade e

conflito que o Estado precisa atuar para regular e gerir as práticas em saúde. As

características, os espaços de intervenção e as limitações apontadas precisam,

contudo, ser compreendidas e consideradas em quaisquer tentativas de melhor gerir a

tecnologia em saúde, seja no que se refere ao processo de desenvolvimento, no

controle da incorporação de tecnologias ao Sistema de Saúde, na regulação da

utilização ou ainda na busca de um uso mais racional e eficiente dos recursos

disponíveis.

Se há um direito à saúde que deve ser garantido pelo Estado, este não

significa apenas, como somos induzidos a pensar, “acesso a serviços assistenciais”, ou

seja, oportunidade a todos de cuidar de sua “doença”. O direito à saúde começa pelo

direito a não ficar doente em decorrência de causas que competem ao Estado

enfrentar, mediante intervenção nas suas mais diversas bases geradoras.

É de responsabilidade do Estado, também, a formulação e execução de

políticas econômicas e sociais que visem, entre outros aspectos, estabelecer condições

que assegurem acesso universal às ações e serviços para promoção, proteção e

recuperação da saúde, como a geração de conhecimento e produtos que tendem a ser

inseridos e aplicáveis no Sistema Único de Saúde.

Neste sentido, o Estado assume papel central, muitas vezes complexo na

dinâmica dos setores de atividade na promoção da regulação, na aquisição de bens e

serviços, na disponibilização para prestações de serviços, em investimentos em

políticas direcionadas, investimentos em estatais que atuem no setor na assistência

social e no sistema econômico como um todo.

Portanto, compete ao Estado brasileiro a formulação de políticas de

Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde em várias bases suprir as demandas por

serviços de saúde no país. Sendo assim, o artigo 200 (inciso V) da Constituição Federal

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estabelece as competências do SUS e entre elas inclui o incremento do

desenvolvimento científico e tecnológico em sua área de atuação.

O SUS pauta-se por três princípios constitucionais: universalidade,

integralidade e equidade. E nos três casos, frutos da nossa Constituição. Do ponto de

vista da ciência e da tecnologia, a aplicação desses princípios deve corresponder ao

compromisso político e ético com a produção e apropriação de conhecimentos e

tecnologias que contribuam para redução das desigualdades sociais em saúde.

A produção de conhecimentos científicos e tecnológicos reveste-se de

características que são diferentes daquelas da produção de serviços e ações de saúde.

Por este motivo, os princípios organizacionais que regem o SUS – municipalização,

regionalização e hierarquização - nem sempre poderão ser adotados mecanicamente

no desenho do sistema de ciência, tecnologia e inovação em saúde (CT&I/S).

Para garantir a autossuficiência do SUS é necessário o fortalecimento da

formação dos pesquisadores brasileiros e da produção de conhecimento científico e

tecnológico em consonância com as necessidades do Estado, Sociedade e Mercado. A

capacidade de colaborar para o desenvolvimento econômico e social, coloca a

pesquisa em saúde como estratégica para a soberania do país.

Gadelha (2005) expõe que o fomento à pesquisa em saúde pode

corroborar para o crescimento da economia, devido à relação entre ciência e a

inovação. Nos países em desenvolvimento como o caso do Brasil, a interseção e a

articulação entre os componentes: ciência, tecnologia e inovação em saúde, ainda são

insipientes e os esforços recentes.

As decisões baseadas em evidências científicas podem promover a

equidade em saúde, reduzir custos sociais ou econômicos e proporcionar maior

impacto à saúde de um maior número possível de pessoas. Ao adotar essa estratégia,

o Estado se posiciona como crescente demandante e consumidor de resultados de

investigações, assim como a sociedade. Nessa perspectiva a pesquisa em saúde busca

por estratégias e soluções capazes de minimizar os problemas sanitários, podendo

romper o círculo vicioso da pobreza, doença e sobretudo a dependência científica do

país em face de grandes corporações que atuam na saúde.

Estes aspectos ficam mais evidentes quando pensamos em quão longa é a

cadeia de valor na área de saúde. A gama de variáveis que interferem no atendimento

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do paciente no SUS, e interferem diretamente na emancipação científica e tecnológica

do País é enorme. A figura nº 5 destaca que o conhecimento gerado por meio da

pesquisa na saúde é importante elemento no desenvolvimento de serviços,

procedimento da pesquisa clínica, das indústrias química e biotecnológica, da indústria

de materiais etc.

Figura nº 5: Cadeia de valor na área da saúde

Fonte: Elaboração própria.

Recentemente, as perspectivas para a área de C&T&I tornaram-se mais

promissoras no Brasil com a aprovação da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e

Inovação em Saúde (PNCTIS) de responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia

e Inovação (MCTI). Trata-se de um conjunto de alternativas e soluções políticas que

tem como finalidade construir um novo projeto nacional nesse campo a partir da

criação de um ambiente nacional favorável para o desenvolvimento científico e

tecnológico do país.

De acordo com Guimarães (2004), o novo projeto político nacional para o

setor de C&T&I pode ser capaz de considerar as contradições existentes nessa área e

reverter esse quadro. A saúde representa cerca de 30% do esforço nacional de

investigação, devido a sua relevante capacidade e necessidade nacional de pesquisa, o

que faz com que ela ocupe a posição de maior destaque na produção de conhecimento

científico no país, afirma o autor.

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Pesquisa em saúde humana é o maior componente do esforço brasileiro em pesquisa. Por outro lado, a saúde é um setor de atividade que possui, desde 1990, uma política de Estado expressa pelo SUS. A despeito dessas duas evidências, as diretrizes gerais da pesquisa em saúde no país estavam afastadas das diretrizes da política de Estado. A construção da PNCTIS objetivava, em última instância, aproximar as prioridades da pesquisa em saúde das prioridades da política de saúde (Reinaldo Guimarães um dos principais responsáveis pela formulação da PNCTIS em entrevista).

A pesquisa em saúde no Brasil é uma das mais antigas e quem detém

ampla e consolidada comunidade científica, cuja atuação é reconhecida no âmbito

internacional. Entretanto, as atividades de fomento nesse campo, tradicionalmente,

estiveram desvinculadas das concepções e prioridades da Política Nacional de Saúde –

o Sistema Único de Saúde, das necessidades e demandas da população, assim como,

dos interesses do mercado nacional (XII CNS, 2004).

Para Guimarães (2004), Ciência, Tecnologia, inovação em Saúde (C&T&I&S)

destacam-se como essenciais e estratégicas para a sustentabilidade e consolidação do

SUS, por contribuir para a implementação dos princípios29, diretrizes30 e prioridades

em suas três esferas. Para ele, C&T&I&S demanda a obrigatoriedade de formulação de

políticas públicas específicas para a saúde.

O que por sua vez, implica nas palavras de Andrade (2007, p. 148) que “a

pesquisa em saúde precisa ocupar um outro patamar político, orçamentário e

financeiro, o que pode ser alcançado mediante o fortalecimento desse tema na agenda

da autoridade sanitária nacional e na formulação de uma política pública setorial”.

Esforços nessa direção foram iniciados com a reorganização institucional

do Ministério da Saúde (MS), a partir do ano de 2000 (XII CNS, 2004). A criação de

instâncias dentro da estrutura ministerial com a responsabilidade de discutir essa

temática, a construção de marcos institucionais: a Agenda Nacional de Prioridades de

Pesquisa em Saúde (ANPPS) e a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em

Saúde (PCNTIS) e o termo de cooperação técnica com o MCTI, foram iniciativas do MS

com o propósito de aproximar as ideias e interesses do SUS com a PNCTIS.

29

Dentre os princípios do SUS destacam-se a Universalidade, a Integridade, e a Equidade. 30

A intersetorialidade, a participação social, a humanização da saúde, a hierarquização dos níveis de atenção e o orçamento participativo entre as três esferas são diretrizes do SUS.

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Em especial, cabe destacar a criação recente Política Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS), que de acordo com as recomendações da 1ª

Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde, é parte integrante da Política

Nacional de Saúde, formulada no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), e tem

como objetivo estimular o desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo da área

de saúde com base no desenvolvimento de competências locais em consonância com

as necessidades sociais locais que falaremos a seguir.

A PNCTIS: atores, criação e diretrizes.

Em dezembro de 2000, a XI Conferência Nacional de Saúde deliberou pela

necessidade da realização da II Conferência31 Nacional de Ciência &Tecnologia (C&T)

em Saúde. Em 2001 foi criado o Fundo Setorial de Saúde32, que contemplou duas áreas

estratégicas em especial: a saúde e a biotecnologia. Este por sua vez foi vinculado ao

Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e passou a financiar infraestrutura,

desenvolvimento e pesquisa científica e tecnológica para estas duas áreas.

Em 2000 foi realizada a implantação do Departamento de Ciência e

Tecnologia (Decit) com a elaboração de seus marcos normativos, que por sua vez

deram início ao processo de institucionalização da área de Avaliação em Saúde no

Ministério da Saúde (MS). Em 2002, mais precisamente em 10 de junho, foi publicada a

Portaria nº. 16 do MS que instituiu o Grupo de Trabalho encarregado de elaborar o

31

A 1ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde foi realizada em 1994, na ocasião, sugeriu-se, no caso da criação de uma política voltada para Ciência, Tecnologia e Saúde que esta deveria adotar como diretriz principal a necessidade de aumentar a capacidade indutora do sistema de fomento científico e tecnológico no país para o campo da saúde. 32

O Fundo Setorial da Saúde (CT-Saúde) foi criado pela Lei Nº 10.332, de 19 de dezembro de 2001, para

subsidiar e fomentar o Programa de Fomento à Pesquisa em Saúde. As principias prioridades do Fundo são: 1) capacitação tecnológica e inovação tecnológica nas áreas de interesse do Sistema Único de Saúde; 2) difusão e incorporação de novas tecnologias visando ampliação do acesso aos bens e serviços em saúde, tendo por base a equidade, a integralidade e a elevação dos atuais patamares de qualidade. O objetivo geral do CT-Saúde é contribuir – por meio do fomento de atividades de Ciência, Tecnologia e Inovação – C&T&I – para o melhoramento das condições gerais de saúde, com base nos princípios constitucionais da justiça social e da equidade no acesso a bens e serviços de qualidade em saúde. Os objetivos específicos são: 1) contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde ofertados à população brasileira, por meio das ações de C&T&I; 2) contribuir para ampliar o acesso da população aos bens e serviços de saúde, por meio das ações de C&T&I; 3) estimular o aumento dos investimentos públicos e privados em C&T&I aplicados à saúde; 4) estimular a atualização tecnológica da “indústria” brasileira de bens e serviços de saúde; 5) estimular a formação e a capacitação de Recursos Humanos para a Pesquisa em Saúde; 6) difundir o conhecimento científico e tecnológico.

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documento preliminar de uma Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em

Saúde (PNCTIS), que viria a ser criada mesmo, só no segundo semestre de 2004.

No processo de trabalho referente à construção do documento técnico da

PNCTIS, Guimarães (2008, p. 5) destaca que,

no processo de discussão para elaboração da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS) foram apontados como alguns de seus principais objetivos: o reforço à capacidade de indução à produção de conhecimentos essenciais, a maior articulação entre as ações de fomento científico-tecnológico e a política de saúde e a implementação de mecanismos de coordenação, acompanhamento e avaliação adequados entre as múltiplas instâncias de fomento.

Os objetivos debatidos no processo de discussão, já eram resultados de

uma mudança política e institucional que tinha por objetivo promover a emancipação

científica e tecnológica do país em algumas áreas. Principalmente na saúde pelo seu

caráter social, e pelos enormes gastos e dependência do país em face do SUS. Para,

além disso, foi pensado também na possibilidade de promoção de conhecimento que

atingisse o mercado interno e externo a partir de conhecimento que fosse gerado

internamente. E essa ideia não era tão recente, já vinha sendo debatida desde 1994

conforme destaca Guimarães em entrevista:

A necessidade da construção de uma PNCTIS vinha amadurecendo desde 1994, quando foi realizada a I Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde. Como foi realizada no final do curto governo Itamar Franco, suas propostas, entre as quais estava a da construção da PNCTS, não prosperaram muito durante os anos seguintes. Entretanto, a chama continuou acesa e em 2000 o DECIT/MS foi criado. Essa portaria, que desdobrou-se num seminário em BsB, foi mais um passo nessa caminhada que, no entanto, teve maior impulso com a criação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos e o fortalecimento do DECIT, ambos em 2003.

A partir da reestruturação do Decit, em 2003, foi incluída a missão de

definir normas e estratégias para controle e avaliação da incorporação de tecnologias,

promovendo, também, a difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos em

saúde. Ainda em 2003, criou-se a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos

Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE) e, em paralelo, contemplou-se, através do

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Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a inserção da

área de fármacos e medicamentos entre os prioritários para Política Industrial,

Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) e da Política Nacional de Saúde, como uma

das medidas para fortalecimento da saúde no país, onde, inicialmente, houve certa

resistência, como destaca Guimarães em entrevista:

Inicialmente houve resistência, tanto de componentes do MS quanto da comunidade científica e tecnológica. Aos poucos essa resistência foi sendo superada e a política foi pactuada entre esses dois atores principais (comunidade da saúde e comunidade da C&T) na II Conferência Nacional, em 2004.

A XII Conferência Nacional de Saúde fora realizada somente no primeiro

semestre de 2004. Ela mobilizou diversos atores envolvidos com o tema da pesquisa

em saúde e várias organizações, que produziram propostas de políticas nacionais

orientadoras da pesquisa em saúde, em paralelo, no início do segundo semestre de

2004 fora realizada a 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em

saúde (2ª CNCTIS) que produziu ao seu final a Agenda Nacional de Prioridades de

Pesquisa em Saúde (ANPPS).

O marco institucional mais importante desse movimento foi a realização da 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (2ª CNCTIS), ocorrida em julho de 2004. Desenhada nos moldes tradicionais das conferências do setor saúde, a 2ª CNCTIS ampliou a discussão da pesquisa em saúde, com a realização de mais de 300 conferências regionais e municipais e 24 conferências estaduais, democratizando o debate da ciência e tecnologia em saúde, antes restrito à comunidade acadêmica. (Coleção Progestores/Para entender a Gestão do SUS. Livro 4, 2007, p. 09).

Após a realização da XII Conferência Nacional de Saúde e a 2ª Conferência

Tecnologia e Inovação em Saúde, fora apresentado um texto, indicando que, a então

Política Nacional de Ciência Tecnologia e inovação (PNCTI) que como o próprio nome

sugere, tinha como enfoque estimular o desenvolvimento científico, tecnológico e

inovativo, atuando em setores prioritários, incorporasse em sua formulação a grande

área de saúde e todos os segmentos, subáreas e conhecimentos complementares que

viessem a contribuir para o fortalecimento da saúde no país.

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Assim, em 2004 criou-se Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em

Saúde (ANPPS), e em especial a Política Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação em

Saúde (PNCTIS), que é também um componente da Política Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação (PNCTI) e, como tal, subordina-se aos mesmos princípios que a

regem. Ambas criadas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

A Política Industrial e de Educação também fazem parte do contexto gestor

da PNCTIS, assim como fazem parte do contexto de políticas para o desenvolvimento

da saúde a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a Política Nacional de

Biotecnologia, e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.

A linha do tempo a seguir (figura nº 6), procura destacar os principais

acontecimentos mencionados anteriormente, que foram importantes não só para a

construção da PNCTIS, mas para o estabelecimento de diretrizes e metodologias

adotadas para o fomento e desenvolvimento da pesquisa em saúde no Brasil.

Figura nº 6: Principais acontecimentos na criação da PNCTIS

Fonte: Elaboração própria

No final de 2004, a PNCTIS, a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa

em Saúde e a Oficina de Elaboração da Proposta para ATS no âmbito do SUS ajudaram

a estabelecer prioridades e linhas de ação. Ainda no mesmo ano, foi criado o Conselho

de Ciência, Tecnologia e Inovação do MS que, entre outras atribuições, é responsável

pela definição de diretrizes para avaliação tecnológica e pela incorporação de produtos

e processos pelos gestores e profissionais de saúde do SUS.

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Foi criado, ainda, um Grupo de Trabalho Permanente de Atenção de

Tecnologias em Saúde (ATS), composto por técnicos do Decit, de órgãos de

administração direta e de agências de vigilância sanitária e de saúde suplementar.

Após o reconhecimento da ATS como instrumento estratégico para subsidiar a gestão

de tecnologias de saúde, durante a XII Conferência Nacional de Saúde ainda no

segundo semestre de 2004, foi criada a Coordenação Geral de Avaliação de

Tecnologias em Saúde, vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos

Estratégicos (SCTIE).

Assim, objetivo geral da PNCTIS, seria de “contribuir para que o

desenvolvimento nacional se faça de modo sustentável, e com apoio na produção de

conhecimentos técnicos e científicos ajustados às necessidades econômicas, sociais,

culturais e políticas do País” voltadas para a saúde (BRASIL, 2008 p. 5).

A proposta, assim de acordo com a Política, é a de estimular o

desenvolvimento de competências nacionais, com base nas necessidades do país.

Formar mão de obra qualificada e estabelecer o dinamismo Científico, Tecnológico e

Inovativo na área de saúde, fixar os pesquisadores brasileiros no país, integrar os

laboratórios e instituições de pesquisa, fortalecer a interação entre os setores privados

e as Universidades e Institutos de Pesquisa, promover a produção de conhecimentos

em consonância com as necessidades nacionais, abordando critérios bem

determinados.

Diante disto, importante questão a ser considerada na PNCTIS é a utilização

da pesquisa científica e tecnológica como importante subsídio para a elaboração de

instrumentos de regulação e operacionalização, nas três esferas de governo. Por suas

competências legais, cabe às três esferas, a produção de leis e normas que, apoiadas

em conhecimentos, permitam garantir de forma ampliada, a adequada promoção,

proteção e recuperação da saúde dos cidadãos (BRASIL, 2008).

Entre as diretrizes que orientam a PNCTIS destacam- se:

• o desenvolvimento da capacidade de intervir na cadeia de conhecimento

da pesquisa, com aplicação imediata até a pesquisa orientada ao desenvolvimento

tecnológico e inovação;

• a convocação à participação dos produtores, agências de financiamento e

usuários da produção técnico-científica;

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175

• a orientação do fomento segundo prioridades;

• a consideração da relevância social e econômica relacionada com o

avanço do conhecimento ou da aplicação dos resultados à solução de problemas

prioritários de saúde.

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008) para que as diretrizes

fossem alcançadas a PNCTIS criou as seguintes estratégias:

Sustentação e fortalecimento do esforço nacional em Ciência,

Tecnologia e Inovação em Saúde;

Criação de um Sistema Nacional de Inovação em Saúde;

Construção da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde;

Superação de desigualdades regionais;

Aprimoramento da capacidade regulatória do Estado e criação da rede

nacional de avaliação tecnológica;

Difusão de avanços tecnológicos e científicos;

Formação e capacitação de recursos humanos;

Participação e fortalecimento da responsabilidade social.

O desafio, portanto, seria de, ao mesmo tempo, fomentar o avanço do

conhecimento científico na área da saúde, orientar os vetores de desenvolvimento

tecnológico e de inovação da indústria de equipamentos, medicamentos, imunizantes

e outros insumos básicos à saúde, sempre sem perder de vista os mecanismos de

apropriação societária dos resultados alcançados no conjunto de suas ações.

Uma PNCTIS voltada para as necessidades de saúde da população deveria ter como objetivo principal desenvolver e otimizar os processos de absorção de conhecimento científico e tecnológico pelas indústrias, pelos serviços de saúde e pela sociedade. O acatamento desta assertiva implica analisar o esforço nacional de C&T em saúde como um componente setorial do sistema de inovação brasileiro. Por outro lado, essa perspectiva não deve sugerir uma visão reducionista ou utilitarista da política. Pelo contrário, reconhecendo a complexidade dos processos de produção de conhecimento científico e tecnológico neste setor, a PNCT&I/S deve dar conta de todas as dimensões da cadeia do conhecimento envolvida na pesquisa em saúde (GUIMARÃES, 2004, p. 378).

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176

Sua missão seria, segundo a lógica da Política Nacional de Saúde,

desenvolver a área da saúde em suas mais variadas esferas de modo que esta possa

atender as necessidades sociais das populações, à conquista de padrões mais elevados

de equidade em saúde e a própria autonomia brasileira no que compete à produção

de tecnologias e conhecimentos para a área.

Segundo o Ministério da Saúde, a PNCTIS define a Pesquisa em Saúde

como o conjunto de conhecimentos, tecnologias e inovações produzidos que resultam

em melhoria da saúde da população. Assim, a pesquisa em saúde deve superar a

perspectiva disciplinar e caminhar para uma perspectiva setorial, que incluirá a

totalidade das atividades de pesquisa clínica, biomédica e de saúde pública, vinculadas

à grande área das ciências da saúde, assim como as realizadas nas áreas das ciências

humanas, sociais aplicadas, exatas e da terra, agrárias e engenharias e das ciências

biológicas que mantenham esta vinculação (GUIMARÃES, et. al., 2006).

Essa forma de abordagem, segundo o Ministério da Saúde, procura

modificar a forma tradicional de conceituação da Pesquisa em saúde que limitava

apenas àquelas ditas “tradicionais” negligenciando os conhecimentos complementares

necessários produzidos por outras áreas. A produção de conhecimento a partir de

agora não é tido exclusivamente por aquele produzido pela grande área da saúde.

O Sistema de Ciência e Tecnologia em Saúde é composto por diversos

atores e instituições públicas e privadas. Na gestão pública federal estão incluídas as

ações desenvolvidas por três ministérios e suas instituições ou agências vinculadas aos

mesmos, que interligam compondo a PCNTIS ou propiciando meios para que ela atue

de forma mais eficaz, como exposto na figura nº 7 a seguir:

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177

Figura nº 7: Atores envolvidos na PNCTIS

Fonte: Elaboração própria a partir da PNCTIS (Ministério da Saúde, 2008) e CGEE (2010).

O Ministério da Saúde é responsável pela implementação, monitoramento

e avaliação da PNCTIS e da Agenda Nacional de Prioridades da Pesquisa em Saúde.

Como partes da coordenação da política fazem parte a Agência Nacional de Saúde

(ANS); a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); FIOCRUZ; Fundação

Nacional de Saúde (FUNASA); e a Empresa Brasileira de Hemoderivados (HEMOBRAS).

Cabe ao Ministério da Saúde conjuntamente com o Ministério da Educação

monitorarem e prepararen a integração entre os Hospitais cadastrados nas redes de

pesquisa em C&T. Até 2010, nos últimos dados fornecidos pelo MS e pelo CGEE

existiam 29 hospitais conectados nesse contexto, dentre eles, dois no estado de

Pernambuco: o Hospital Universitário Oswaldo Cruz e Pronto Socorro Cardiológico de

Pernambuco da Universidade de Pernambuco –UNIPECLIN/HUOC-PROCAPE/UPE.

Já o Ministério da Educação, especialmente através da Capes, coordena e

avalia os planos e políticas do sistema nacional de pós-graduação, formação de

recursos humanos (bolsas, auxílios e etc.), o acesso à produção científica mundial e

gestão dos hospitais universitários (Pesquisa clínica, por exemplo).

O Ministério da Ciência e Tecnologia, por sua vez, através do CNPq e a

FINEP, atua financiando estudos, sobretudo voltados para a consolidação de um

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178

“Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação” e no desenvolvimento da

infraestrutura e fomento da pesquisa científica e tecnológica, e promoção da inovação

tecnológica nas empresas, Universidades, laboratórios e Institutos.

Estes três componentes – MCTI, MS e ME – são a base principal de gestão e

fomento dos meios para que a política atinja seus objetivos. É por meio deles e suas

linhas de investimento que a produção de conhecimento em saúde é fomentada. Os

dados a seguir, mostram os dispêndios do governo federal no período de (2000 a

2010) pelos três órgãos envolvidos: Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação;

Ministério da Saúde e Ministério da Educação.

Tabela nº 1: Dispêndios do governo federal em ciência e tecnologia (C&T) por órgão, 2000-2010 (em milhões).

Ano

MCTI MS ME

C&T C&T C&T

2000 321,7 1.255,6 2.087,2

2001 444,7 1.613,4 2.270,1

2002 482,5 1.514,1 2.613,3

2003 546,3 2.000,9 2.901,8

2004 720,8 2.228,6 3.347,1

2005 767,7 2.690,5 3.631,5

2006 964 3.193,1 4.401,6

2007 1.156,00 3.645,8 5.641,7

2008 1.175,00 4.396,8 6.576,7

2009 1.367,80 5.251,8 6.996,6

2010 1.423,00 6.445,4 8.508,8 Fonte: Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) (2013).

No período registrado, no tocante a evolução do aumento de verbas, o

Ministério da Saúde aumentou em pouco mais de 500% os gastos no período, seguido

pelo Ministério da Educação com pouco mais de 400% e o Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação com proporção semelhante.

A financiadora de estudos e projetos FINEP, por meio de novas exigências,

teve em 2011, segundo o MCTI, a avaliação do Banco do Brasil apoiado aos Ministérios

da Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia para tornar-se um banco público para

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179

financiar empresas e instituições de pesquisa que desenvolvam projetos de inovação.

A mudança deverá demorar de dois a três anos.

Com a alteração de status, a financiadora funcionará como o BNDES (Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) e poderá levantar mais recursos para

empréstimos e captar mais verbas do que as que são destinadas hoje à área pelo

FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). As prioridades

são para projetos de energia, saúde, tecnologia da informação e comunicação,

tecnologia aeroespacial, defesa, produção de novos materiais, sustentabilidade

ambiental e biodiversidade.

Na gestão pública estadual estão às secretarias estaduais de saúde, de

ciência e tecnologia e as fundações de amparo à pesquisa, como a Fundação de

Amparo a Ciência e Tecnologia de Pernambuco (FACEPE), no estado de Pernambuco,

responsáveis pela implementação das políticas estaduais de pesquisa em saúde.

Incluem-se também os setores produtivos público e privado atuantes nas

áreas farmacêuticas, farmoquímica, biotecnológica e de equipamentos e materiais; a

comunidade científica, representada pelas universidades e institutos de pesquisa,

associações científicas e profissionais, assim como a representação da sociedade civil.

Como complementariedade fora criado o Plano Nacional de Ciência

Tecnologia e Inovação – PACTI, dividido em duas etapas 2007-2010(1ª) e 2011-

2015(2ª), que estabeleceram em suas áreas estratégicas o Programa de Insumos para

Saúde, planejado, coordenado e executado pelo MCTI, suas agências (CNPq e Finep) e

outros parceiros do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI).

Neste contexto foram ainda criadas 24 sub-agendas (tabela nº 2) de

atuação dentro de uma Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, em

consonância com a atuação da PNCTIS, para aumentar a indução seletiva para a

produção de conhecimentos e bens materiais nas áreas prioritárias para o

desenvolvimento das políticas sociais.

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180

Tabela nº 2: Sub-Agendas de Pesquisa na Saúde

SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS COMPLEXO PRODUTIVO DA SAÚDE

SAÚDE MENTAL AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS E ECONOMIA DA SAÚDE

VIOLÊNCIA, ACIDENTES E TRAUMA EPIDEMIOLOGIA

SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA DEMOGRAFIA E SAÚDE

DOENÇAS NÃO-TRANSMISSÍVEIS SAÚDE BUCAL

SAÚDE DO IDOSO PROMOÇÃO DA SAÚDE

SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

SAÚDE DA MULHER COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDE SAÚDE DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE

ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO SISTEMAS E POLÍTICAS DE SAÚDE

BIOÉTICA E ÉTICA NA PESQUISA SAÚDE, AMBIENTE, TRABALHO E BIOSSEGURANÇA

PESQUISA CLÍNICA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Fonte: Elaboração própria a partir de Ministério da Saúde (BRASIL, 2008).

Dentre as sub-agendas a destacar, primeiro o Complexo Produtivo da

Saúde, que tem por objetivo fomentar o desenvolvimento de ensaios clínicos de

vacinas (Fases I, II, III e IV), de novas vacinas utilizando as atuais e a transferência de

tecnologia como plataforma, Pesquisa de novos adjuvantes e formas de aplicação,

hemoderivados, e principalmente vacinas diversas.

A ANPPS em conjunto com a PNCTIS estabeleceram neste contexto um

tabela nº 3 com as vacinas prioritárias do fomento para a pesquisa em saúde.

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Tabela nº 3: Vacinas prioritárias

VACINA INTERESSE INTERESSE REAÇÕES

ESTRATÉGICO EPIDEMIOLÓGICO ADVERSAS

DENGUE X

DPT/ HBV/ Hib (nova combinação)

DTPa X

ESQUISTOSSOMOSE

X

FEBRE AMARELA X

HEPATITE A

X

HEPATITE C X

HIV

X

HPV X

INFLUENZA (nova tecnologia de produção) X

LEISHMANIOSE X

LEPTOSPIROSE

X

MALÁRIA X

MENINGITE A conjugada

X

MENINGITE B/C conjugada X X

MENINGITE C conjugada

X

PNEUMOCOCOS conjugada 7 valente X

RAIVA (diminuir o número de doses)

X

ROTAVIRUS X

TB

X

TOXOPLASMOSE X

TRÍPLICE VIRAL (caxumba Jeryl-Lynn)

X

TRÍPLICE VIRAL + VARICELA

VARÍOLA X

Fonte: Elaboração própria a partir da ANPPS/PNCTIS Ministério da Saúde (BRASIL, 2008).

E em segundo, a assistência farmacêutica que se dispõe a fomentar

estudos dos fármacos e medicamentos, considerando todo o seu ciclo: da pesquisa à

utilização segura dos medicamentos. A exploração, produção e controle de qualidade

de fitoterápicos, de acordo com as potencialidades regionais, para o tratamento de

doenças de maior prevalência. Pesquisas de princípios ativos, desenvolvimento em

química fina e produção de insumos para produção pública de medicamentos para o

SUS, e pesquisa e desenvolvimento de medicamentos homeopáticos e da flora

brasileira.

Como também componente integrador de fomento ao desenvolvimento

científico e tecnológico da saúde, tendo como destaque o setor de fármacos &

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medicamentos33 foi criado já recentemente – em abril de 2013 – o programa Inova

Saúde, que é uma iniciativa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e da FINEP

em cooperação com o Ministério da Saúde, o BNDES e o CNPq para apoiar atividades

de P&D&I em consonância com os objetivos propostos pela PNCTIS. Esse programa,

assim como o PACTI é divido em blocos, o primeiro estabelecido no período 2013-

2015.

Por fim, destacamos que a delimitação adotada para o campo da pesquisa

em saúde pela PNCTIS é a sua finalidade, ou seja, os conhecimentos, tecnologias e

inovações cuja aplicação resultem melhoras na saúde da população. Entre as várias

estratégias criadas para obtenção de resultados pela PNCTIS, destaca-se uma em

particular, trata-se da orientação para a indução da pesquisa em rede como uma das

perspectivas plausíveis na de resultados e benefícios, que falaremos no próximo nó.

Considerações Finais

As informações coletadas por meio do material já mencionado nos

evidenciam que os debates para a criação de uma política destinada para a ciência,

tecnologia e inovação em saúde não são recentes, eles se se iniciaram em 1994 com a

realização da 1ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde, como uma

exigência já há muito debatida desde a criação da Constituição de 1988, na ocasião,

sugeriu-se, a criação de uma política voltada para Ciência, Tecnologia e Saúde que por

sua vez, esta deveria adotar como diretriz principal a necessidade de aumentar a

capacidade indutora do sistema de fomento científico e tecnológico no país para o

campo da saúde.

33

Segundo a FINEP (20013) o inova saúde pretende apoiar projetos de Pesquisa Desenvolvimento e Inovação em farmoquímicos obtidos por processos de síntese química, biotecnológicos e extrativos, para desenvolvimento de medicamentos, novos ou genéricos, tanto para atendimento às demandas do Sistema Único de Saúde - SUS, quanto para o atendimento ao mercado nacional e internacional. Será apoiado também o desenvolvimento de intermediários químicos para a indústria farmacêutica. Nesta linha temática devem também ser fomentados projetos que envolvam a busca de competências tecnológicas para ampliar e consolidar a produção doméstica de biofármacos - como anticorpos monoclonais e proteínas terapêuticas – no sentido de incorporar a rota biotecnológica na base produtiva de saúde no País. O apoio a esta linha deve incluir os processos de aprendizagem tecnológica e exploração de inovações, bem como a infraestrutura necessária ao desenvolvimento pretendido, notadamente quanto à capacitação para escalonamento, estudos e pesquisas pré-clínica e clínica e para o atendimento às exigências de certificação nacional e internacional.

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183

Porém, foi preciso uma década, após a realização da 1ª CNCTS para que

uma Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde fosse realmente

criada em 2004. Durante cinco anos, entre 1994 e 1999 os debates permaneceram em

passos lentos, para só então no ano de 2000 se iniciarem em direção a criação não só

da PNCTIS, mas de uma agenda especial de fomento à saúde.

No ano de 2000 se iniciaram os debates a partir da XI Conferência Nacional

de Saúde, no ano seguinte, a criação do Fundo Setorial de Saúde em 2001,

posteriormente em 2002, a implantação do Departamento de Ciência e Tecnologia

(Decit) que permitiram a institucionalização da Avalição em Saúde no Ministério da

Saúde, como resultado foi estabelecido naquele mesmo ano à criação do grupo de

trabalho retomar as atividades em prol da construção da política, deste grupo de

trabalho foi elaborado o documento técnico que apontou o reforço à capacidade de

indução a produção de conhecimentos essenciais e maior articulação entre as ações de

fomento uma noção essencial.

Isso, entre outros motivos, levou a criação no ano seguinte, em 2003 da

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde

(SCTIE). Consequentemente, no primeiro semestre de 2004, fora realizada a XII

Conferência Nacional de Saúde, que serviu como base para os debates da 2ª

Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em saúde, realizada no

segundo semestre do mesmo ano, retomando antigas e novas propostas.

O marco institucional mais importante desse movimento pode-se definir

como a realização da 2ª CNCTIS, que ampliou a discussão da pesquisa em saúde, com a

realização de mais de 300 conferências regionais e municipais e 24 conferências

estaduais, democratizando o debate da ciência e tecnologia em saúde, antes restrito à

comunidade acadêmica. O texto final dessa conferência proporcionou a elaboração da

PNCTIS no final de 2004 com atuação já no ano de 2005.

Para além dos fatos marcantes que levaram a construção e a própria noção

estabelecida na política, deve-se destacar que outras ações foram tomadas em prol da

criação de circunstâncias que proporcionassem a efetividade da atuação política, como

a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, uma maior integração de

Ministérios de ações de fomento – como próprio resultado dos grupos de estudos em

2002 – a atenção especial dada para a formação nas pós-graduações, a compreensão

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184

do conhecimento complementar dado por outras áreas do conhecimento para a

saúde, o Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação (PACTI), e a atenção especial

para o setor de fármacos e medicamentos, diante da vulnerabilidade social do país

nesta questão.

Diante desse cenário, deu-se a criação da PNCTIS que teve como objetivo

principal o de “contribuir para que o desenvolvimento nacional se faça de modo

sustentável, e com apoio na produção de conhecimentos técnicos e científicos

ajustados às necessidades econômicas, sociais, culturais e políticas do País” voltadas

para a saúde (BRASIL, 2008 p. 5).

Assim a delimitação adotada para o campo da pesquisa em saúde pela

PNCTIS é a sua finalidade, ou seja, formação profissional, os conhecimentos,

tecnologias e inovações de cuja aplicação resulte em melhorias na saúde da

população.

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185

2º Nó

A indução à pesquisa em rede como

uma das estratégias para alcance

dos objetivos da PNCTIS.

“O incentivo e apoio à formação de redes de pesquisa é extremamente eficaz para a indução ao desenvolvimento de uma dada área do conhecimento, o fortalecimento da capacidade instalada nas instituições de pesquisa e da realização de pesquisa colaborativa e interdisciplinar com integração entre as várias ciências, possibilitando a troca de metodologias, promoção do intercâmbio de dados, bem como a produção conjunta e a divulgação científica dos resultados” (Edital CNPq de fomento à construção de redes científicas de 2009).

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186

2º NÓ A INDUÇÃO À PESQUISA EM REDE COMO UMA DAS ESTRATÉGIAS PARA ALCANCE DOS OBJETIVOS DA PNCTIS

Introdução

Podemos sugerir dois principais aspectos que levaram a criação de

uma Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, o primeiro

deles a instauração e abrangência de um Sistema Único de Saúde, o segundo,

acaba existindo em face do primeiro, que é a necessidade de emancipação

tecnológica do país nessa área diante desse mesmo Sistema.

Autores como Albuquerque & Cassiolato (2000), Cordeiro (2001),

Gadelha et. al. 2003, Gadelha (2003), Oliveira et. al. (2006), Carvalho et. al. (2005),

MOREL et. al.(2007), já destacaram a estreita relação entre emancipação

tecnológica e o desenvolvimento científico e tecnológico na saúde.

Os autores ratificam a enorme dependência e consequentemente os

enormes gastos do Brasil com as grandes corporações que atuam na saúde para

atender a demanda do SUS. Para eles, a forma de obter melhores índices

econômicos e de saúde é investir em produção de conhecimento local em

consonância com as necessidades locais.

As diretrizes que fundamentam a PNCTIS têm por objetivo atuar

justamente nesta questão, que é a de proporcionar avanços na saúde com base na

produção brasileira. Diante disso inúmeras estratégias foram adotadas, entre uma

delas, a se destacar que é a proposta da pesquisa em rede.

A PNCTIS admite que um dos veículos fundamentais na obtenção de

resultados e benefícios e assim atingir o seu objetivo é fomentar a construção de

redes científicas, em outras palavras, induzir os pesquisadores brasileiros a

trabalharem em rede, não só internamente, mas internacionalmente também,

lança-se aí, um grande desafio.

Este nó, dando sequência ao anterior, em vista do objetivo específico

de “compreender os argumentos dos formuladores da PNCTIS para o fomento à

pesquisa em rede na saúde” divide-se em dois tópicos. O primeiro deles, “O

imperativo da pesquisa em rede na PNCTIS”, objetiva abordar os debates que

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187

promoveram a inserção da pesquisa em rede dentro do texto final da PNCTIS,

determinar o marco legal para a inserção desta proposta de pesquisa na

composição da política, e evidenciar de que forma a questão da pesquisa em rede

se apresenta no texto final da PNCTIS.

O segundo, “O fomento à pesquisa em rede”, tem por finalidade, como

o próprio nome indica, evidenciar dados sobre o estímulo a pesquisa em rede por

parte das agências de fomento que fazem parte da PNCTIS. Para tal foi

estabelecida a linha temporal compreendida entre os anos de 2000 à 2010,

acredita-se que este período possa nos mostrar uma reflexão sobre essa linha de

fomento antes e depois da ação política.

As fontes de informações utilizadas na composição deste nó são as

mesmas utilizadas no anterior, com a diferença que aqui são expressos dados

quantitativos com relação a valores fomentados, números de editais lançados, e

projetos aprovados. Em especial com dados fornecidos pelo CNPq, Capes, Finep,

PACTI (2007-2010), e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inovação

Farmacêutica (INCT_if) e entrevista com Sr. Reinaldo Guimarães, principal

formulador e divulgador da PNCTIS até o ano de 2008.

O imperativo da pesquisa em rede na PNCTIS.

O imperativo do debate sobre a pesquisa em rede como parte integrante

da política de Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde deu início em 2000, após a

implantação do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit), que teve como marco

normativo a avaliação da saúde, e da pesquisa em saúde. Um dos principais objetivos

do departamento, e de sua própria criação, fora o da responsabilidade pelo incentivo a

pesquisa em saúde em redes, inicialmente institucionais.

No segundo semestre de 2002, foi publicada a Portaria nº. 16 do MS que

instituiu o Grupo de Trabalho encarregado de elaborar o documento preliminar de

Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS). Esse grupo de

trabalho já havia sido orientado, com base nos debates proporcionados no Decit sobre

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188

a necessidade da inserção da pesquisa em rede. O próprio grupo de trabalho

responsável possuía perspectivas que estavam em consonância com esta orientação.

Essa orientação se estendeu de tal forma que o Decit proporcionou a

criação de uma série de redes institucionais - da Rede Nacional de Terapia Celular

(RNTC), Rede Brasileira de Pesquisa sobre o Câncer, Rede Malária, Rede de Pesquisa

em Métodos Moleculares para Diagnóstico de Doenças Cardiovasculares, Infecciosas,

Parasitárias e Neurodegenerativas e a Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Hospitais

de Ensino – que devido aos resultados positivos, forneceram subsídios normativos

para servirem como base para os diálogos que foram realizados no seguinte ano, de

2003.

No ano seguinte, em 2004, foram realizadas inúmeras as conferências

mencionadas anteriormente – em especial a 2ª Conferência Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação em Saúde e a 12ª Conferência Nacional de Saúde - em que a

proposta da pesquisa em rede foi levada como destaque, orientada pelos

pesquisadores estrangeiros participantes, que por sua vez, na elaboração do

documento final, como mecanismo para a superação das desigualdades regionais, fora

decidido que as iniciativas em implementação pelo MCTIS e o MS em parceria com as

fundações estaduais de amparo e fomento à pesquisa, atenderiam, como estratégia

para as demandas de C&T&I& em saúde a formação da pesquisa em rede.

Tal estratégia, da pesquisa em rede, visa ampliar a capacidade de produzir conhecimentos para qualificar as decisões no âmbito da gestão pública. Desta forma, será possível suprir uma das maiores necessidades nas sociedades modernas, que é dispor de informações técnicas e científicas indispensáveis para fundamentar o processo de tomada de decisão, que têm forte impacto sobre diversos campos científicos e contribui para o estabelecimento de um novo patamar nas relações entre ciência, Estado e sociedade (2ª CNCTIS – documento base, 2004, p. 21).

Estas sugestões foram incorporadas ao final, como uma das estratégias na

composição da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde criada no

segundo semestre do mesmo ano. A linha do tempo a seguir (figura nº 8), destaca o

marco institucional principal na inclusão da pesquisa em rede para a área da saúde.

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189

Figura nº 8: Principal marco institucional do fomento à pesquisa em rede na PNCTIS.

Fonte: Elaboração própria.

Entretanto, no início de 2005, já com a agenda de fomento em vigor da

PNCTIS, com o intuito de realizar articulações intersetoriais, foi realizado o I Seminário

Internacional de Gestão de Tecnologias em Saúde, com a presença de representantes

de países europeus e americanos. O estabelecimento de cooperação interinstitucional,

em âmbito internacional – como já resultado da recente orientação da pesquisa em

rede - foi uma das consequências do evento, por meio da associação do Decit/SCTIE à

Rede Internacional de Agências de Avaliação de Tecnologias em saúde - International

Network of Agencies for Health Technology Assessment (INAHTA) - um marco para a

ATS no Brasil. Sobre a importância do Decit no estímulo à construção de redes

científicas Guimarães em entrevista destaca,

O Decit foi o principal ator executivo na construção da política. Igualmente, o Decit acabou por eleger a forma de atuação em rede como uma de suas grandes prioridades. Existem hoje a Rede Nacional de Terapia Celular, a Rede Nacional de Pesquisa Clínica, a Rede Brasileira de Avaliação Tecnológica em Saúde, a Rede de Pesquisa em Câncer, entre outras.

Com relação à gestão de tecnologias no SUS, foi instituída Comissão para

Elaboração de Proposta para a Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde

(2005), composta por atores sociais com experiência e influência no tema. Após alguns

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190

trabalhos a proposta foi validada mediante apreciação em consulta pública e em

fóruns do SUS e da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

A constituição de redes de pesquisa para realização de estudos

estratégicos foi então uma das recomendações da proposta, em consonância com o

Decit e a PNCTIS já em vigor o que foi trabalhado em Oficinas de Prioridades de

Pesquisa em Saúde desde 2004, e foi inicialmente validado no 2º Seminário

Internacional de Gestão de Tecnologias, que por sua vez induziu os órgãos de fomento

a aumentar a verba destinada para esta modalidade.

Como resultado, os órgãos de fomento por meio de seus editais, passaram

a inserir a temática em rede como metodologia para a pesquisa em C&T&I em Saúde

até para aqueles que inicialmente não tinham esta como objetivo, os tratados de

acordos internacionais, por exemplo, foram incorporados à temática. Parte

significativa do fomento à pesquisa em saúde dado pela PNCTIS tinha a normativa rede

nos editais lançados nos anos de 2005/2006 em diante.

A atuação geral da PNCTIS no que se refere à pesquisa, gestão e produção

de conhecimentos na saúde de modo geral é feita das seguintes formas:

Fomento à produção de conhecimentos nos marcos da agenda nacional de

prioridades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com lançamento

de editais nacionais temáticos, para estudos e projetos estratégicos e

editais descentralizados nos estados, por intermédio do Programa Pesquisa

para o Sistema Único de Saúde: Gestão Compartilhada (PPSUS).

Fomento ao desenvolvimento da pesquisa clínica e de avaliação de

tecnologias em saúde, com lançamento de editais nacionais para estudos e

revisões sistemáticas e para a formação de redes temáticas e estudos

multicêntricos.

Fomento ao desenvolvimento do Complexo Produtivo da Saúde, com

lançamento de editais e estabelecimento de mecanismos de contratação

institucional para a inovação em saúde.

Informação para a tomada de decisão em saúde, implicando a participação

dos gestores, tanto nas etapas do fomento (da definição de prioridades à

utilização dos resultados da pesquisa na gestão do sistema e serviços de

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191

saúde) como no desenvolvimento de instrumentos para selecionar, validar

e promover a utilização do conhecimento gerado no sistema de saúde.

Promoção da produção de conhecimento por meio dos grupos de pesquisa

brasileiros na área da saúde ou em áreas que atuem interdisciplinarmente

com pesquisas para a área.

Em suma, o principal fio condutor da Política para desenvolver a área da

saúde é a publicação de fomento por meio da abertura de editais e fundos de

financiamento para a pesquisa pelos componentes que dela fazem parte. Esses

financiamentos são feitos sobre vários enfoques, modalidades, escalas, atendendo

vários tipos de prioridades e suas subdivisões, voltados para a produção de Ciência &

Tecnologia & Inovação para a área de saúde.

Dentre as estratégias elaboradas pela PNCTIS, duas podem ser

consideradas como primordiais: a) a difusão de avanços tecnológicos e científicos; b) a

formação e capacitação de recursos humanos. E para que estas duas estratégias sejam

atingidas, fora adotada pela Política e consequentemente pelas agências de fomento34

que a construção de redes de pesquisa seria prática eficaz na produção de

conhecimentos científicos para a saúde.

Ou seja, os objetivos da PNCTIS olhados sobre as perspectivas da

construção de redes de pesquisa, podem ser resumidos em três: a) o aumento da

produção de conhecimento; b) o aumento no número de redes e de pesquisas em

redes no país; c) o maior adensamento das relações de cooperação em rede dentro e

fora dos âmbitos locais, em resumo, que os pesquisadores passam a cooperar com

outros estabelecidos em outras localidades.

Os resultados esperados sob a ótica desta estratégia em suma seriam de

que: a) existisse maior capacitação dos pesquisadores ativos no país; b) mais

pesquisadores fossem formados; c) as pesquisas ativas trabalhassem em face das

necessidades locais, com conhecimentos gerados por pesquisadores nacionais; d) o

adensamento e aumento das relações em rede que permitissem maior número de

produção de conhecimento traduzido em publicações e patentes; e) maior

34

Embora o conceito de rede social seja recente, e o próprio contexto tecnológico que tem propiciado as possibilidades destas também seja algo relativamente recente, em países da Europa, políticas indutoras de trabalhos cooperativos em rede já fazem duas décadas, como nos casos mostrados por CASTELLS (2005); KANTZ, et. al. (2005); MULGAN (2005); COLE (2005); HIMANEN (2005); LIIKANEN (2005).

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192

proximidade entre o conhecimento local produzido e sua inserção dentro do Sistema

Único de Saúde.

Assim sobre o trabalho científico em rede, Guimarães ratifica em

entrevista, “O trabalho em rede potencializa a força do trabalho em pesquisa, na

medida em que abre canais de comunicação entre os pesquisadores e racionaliza os

recursos financeiros mediante a divisão de tarefas”.

A construção de redes científicas35 é incorporada assim como importante

veículo metodológico na obtenção de resultados satisfatórios em vários níveis da

ciência e tecnologia brasileira para a área da saúde. A proposta apresentada é que os

pesquisadores brasileiros trabalhem em conjunto com pesquisadores de outras

localidades dentro do país, e, principalmente de outros países.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),

como um dos veículos de fomento da política define a importância da pesquisa em

rede no país da seguinte forma,

O incentivo e apoio à formação de redes de pesquisa é extremamente eficaz para a indução ao desenvolvimento de uma dada área do conhecimento, o fortalecimento da capacidade instalada nas instituições de pesquisa e da realização de pesquisa colaborativa e interdisciplinar com integração entre as várias ciências, possibilitando a troca de metodologias, promoção do intercâmbio de dados, bem como a produção conjunta e a divulgação científica dos resultados. A articulação de redes científicas inter-regionais e interdisciplinares de pesquisa estimulará o intercâmbio entre instituições que concentram competências, a interação entre pesquisadores, o uso otimizado de recursos, o compartilhamento de infraestrutura para a pesquisa, com a perspectiva de convergência dos resultados (CNPq, em sua linha do fomento à pesquisa em rede).

Neste sentido, um dos mecanismos da PNCTIS para promover o

desenvolvimento científico e tecnológico da saúde é por meio do aumento das

conexões entre os pesquisadores através da construção de várias redes de pesquisa.

Para a lógica assumida por ela, além dos próprios ganhos do trabalho em rede, a

35

Assim como o próprio conceito de rede, existe uma polissemia nos vários termos utilizados pelas diversas agências de fomento envolvidas e pela própria PNCTIS para designar o que em suma é o mesmo objeto: redes de pesquisa, redes de cooperação, redes científicas, redes de pesquisa científica, redes de cooperação acadêmica, redes de cooperação internacional de pesquisa... são algumas das termologias encontradas.

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193

tentativa de proporcionar uma política de cooperação acadêmica mútua entre

membros em diversas localidades é outra possibilidade.

Assim o fluxo de conexões e informações entre as várias competências e

centros/pesquisadores com conhecimentos complementares no Brasil e no mundo

aumentaria significativamente uma vez que temos as possibilidades já mencionadas do

ciberespaço. O enfoque na construção de redes entre os pesquisadores está assim

presente em toda a composição das diretrizes da Política Nacional de Ciência,

Tecnologia, Inovação em Saúde:

Para a Sustentação e o Fortalecimento do Esforço Nacional em Ciência,

Tecnologia e Inovação em Saúde entre outras, as principais estratégias são:

§ 63. J) Esforços para criação de parcerias e redes de pesquisas nos países da América Latina, África e Ásia, visando a enfrentar problemas de saúde comuns; § 64. É necessário, ainda, incentivar a articulação interinstitucional entre centros mais desenvolvidos e menos desenvolvidos e estimular a cooperação técnica horizontal entre países. Em âmbito nacional, essa articulação interinstitucional deve incluir a formação de redes entre as diversas instituições de CTI/S, visando à elaboração de programas e de projetos de pesquisa que priorizem as necessidades regionais, sem sobreposição ou duplicação de ações ou pesquisas e garantindo a aplicabilidade de seus resultados (BRASIL, 2004, p. 22).

Para a criação do Sistema Nacional de Inovação em Saúde:

§ 65. A criação desse sistema é importante para fortalecer a autonomia nacional e a superação do atraso tecnológico. Requer a mobilização da totalidade da capacidade instalada de pesquisa, ensino, iniciativas de desenvolvimento tecnológico e inovação em saúde, numa perspectiva metodológica específica e Inter setorial, incluindo redes de cooperação interinstitucional. § 66. Dentre as ações, destacam-se a implementação de projetos de pesquisa e produção de conhecimentos cooperativos em rede e interinstitucionais (BRASIL, 2004, pp. 22-23).

Para o setor da indústria farmacêutica, as estratégias propostas são:

a) Em curto prazo: implantação de uma rede nacional de informação de plantas medicinais b) Em médio prazo: estímulo ao desenvolvimento de redes de cooperação técnico-científica.

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c) Em longo prazo: a produção de conhecimentos por meio de redes de cooperação que resultem em novos princípios ativos a serem inseridos no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2004, pp. 24-26).

Para a Superação das Desigualdades Regionais:

§ 91. As iniciativas de formação de núcleos e de redes de pesquisa, de elaboração das demandas para o sistema de CTI/S e de implantação de programas de incentivo à produção do conhecimento científico, em desenvolvimento pelos ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia e pelas fundações estaduais de amparo à pesquisa, em parceria com as secretarias de saúde, são exemplos de programas mobilizadores importantes que devem ser fortalecidos; § 94. H) Estimular a criação de redes de cooperação (BRASIL, 2004, pp. 29-30).

Na Agenda Nacional de Prioridades: “Desenvolvimento de redes

sociotécnicas em saúde – subjetividades e sociabilidades para a produção de

conhecimento” (Brasil, 2004, p. 27). E no modelo de gestão da Política Nacional de

Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde uma das propostas são o: “incentivo à

criação de cooperativas de pesquisa em saúde para o desenvolvimento

regional”(BRASIL, 2004, p. 37).

Dentro do âmbito do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e inovação

(PACTI 2007-2010, 2011-2015), fora criado o programa “Institutos do Milênio” em

2004, com o objetivo de promover a formação de redes de pesquisa em todo o

território nacional e o fortalecimento de grupos de pesquisa nas mais diversas áreas,

onde mais tarde em 2008 evoluiu para o Programa Institutos Nacionais de Ciência e

Tecnologia (INCTI) que entre seus objetivos estão:

i. Promover a formação de redes de pesquisa em todo território nacional;

ii. Mobilizar e agregar, de forma articulada, os melhores grupos de

pesquisa em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicas

para o desenvolvimento sustentável do país;

iii. Impulsionar a pesquisa científica básica e fundamental competitiva

internacionalmente.

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Atualmente no país existem 123 INCTIs em diversas áreas, 37 só para a

área da saúde, segundo o MCTI (2013). O estado de Pernambuco36 possui o maior

número de INCTIs no nordeste, cinco ao todo, destes, um atua na área de farmácia

com 479 pesquisadores cadastrados, segundo do próprio Instituto em 2013, divididos

entre vinte estados, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inovação

Farmacêutica (INCT_if), tem por objetivo

Desenvolver, internalizar e difundir práticas científicas e tecnológicas capazes de superar as fragilidades e lacunas da cadeia inovativa e produtiva farmacêutica, propondo mecanismos operacionais capazes de viabilizar a transformação de resultados científicos promissores

em resultados econômicos efetivos com impactos sociais (INCT_if em sua página).

Outro componente a se destacar dentro desse cenário de fomento,

sobretudo à pesquisa em rede, o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e inovação, no

período de 2007 a 2010 fomentou 439 projetos de várias áreas – inclusive saúde -

dentro da modalidade de ampliação e consolidação de redes de cooperação

internacional, com um total gasto de 86,36 milhões. Só para o setor de fármacos e

medicamentos nesse mesmo período financiou-se 207 projetos em um total de R$

170,03 milhões, como mostra a tabela nº 4 a seguir:

Tabela nº 4: Número de projetos PACTI 2007-2010

Centro Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Total

Ampliação e consolidação de redes de cooperação internacional diversas 33 69 6 228 102 439

Valor gasto (milhões) 5,23 13,73 2,32 50,34 14,74 86,36 Para o setor de fármacos e medicamentos * 20 24 21 103 39 207 Valor gasto (milhões) 10,98 12,68 6,97 112,01 27,39 170,03

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Finep e CNPq (2013) *Em fármacos e medicamentos estão inclusos: fármacos, medicamentos, produtos médicos e biomateriais, kits diagnósticos, hemoderivados e vacinas.

36

Os outros INCTis existentes em Pernambuco são: Instituto Nacional de C&T para Engenharia de Software, Instituto Nacional de C&T de fotônica, Instituto Nacional de C&T Virtual da flora e dos fungos.

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196

Como parte integrante do PACTI, e da proposta de integração dos

institutos de pesquisa brasileiros em rede, a partir do ano de 2004/2005 foram

implementados com recursos do MCTI, CNPq, FINEP e ME uma série de redes

institucionais para a área da saúde, segundo dados do MCTI (2013), podemos destacar:

Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia; Sistema Brasileiro de Tecnologia

(SIBRATEC): 3 redes em Saúde do total de 14 redes setoriais; Rede Brasileira de

Avaliação de Tecnologias em Saúde-REBRATS; Rede Genoprot37 – Apoio a projetos de

pesquisa em Genômica e Proteômica; Rede Brasileira de Pesquisa Sobre o Câncer;

Rede Brasileira de Pesquisa sobre o Câncer II; Rede Nacional de Pesquisa Clínica em

Hospitais de Ensino; Rede Nacional de Terapia Celular (RNTC); Rede Estudo

Longitudinal de Saúde do Adulto – ELSA Brasil.

Neste mesmo contexto, fora montada a Rede de Centros de Inovação em

Insumos para a Saúde Humana – que também nos proporciona uma visão de como o

enfoque na formação de redes está em vigor pelos Ministérios - que conta com um dos

centros em Pernambuco, que tem como objetivos:

Executar projetos cooperativos de inovação tecnológica em parceria com

empresas, visando proporcionar um impulso ao desenvolvimento

tecnológico e econômico do setor empresarial de Insumos para a Saúde

Humana;

Proporcionar complementaridade na atuação e suporte às empresas na

geração de inovação de produtos e processos, visando ampliar as

possibilidades das empresas em atender as reais demandas dos mercados

público e privado;

Desenvolver e transferir tecnologia em insumos para a saúde humana,

abrangendo fármacos, biofármacos, vacinas, imunobiológicos e reativos

para diagnóstico, por meio de projetos cooperativos delimitados visando

concluir etapas precisas do desenvolvimento tecnológico e inovação.

37

Só em 2010 a rede Genoprot recebeu 34 bolsas de pesquisas nacionais, e obteve aprovação de 24 projetos para estudos do genoma em rede.

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O objetivo dos Ministérios é a partir do estabelecimento de redes

institucionais 38 promoverem um ambiente que facilite a cooperação entre os

pesquisadores que deles fazem parte. Cabe ressaltar que estas redes são institucionais,

montadas por pactos estabelecidos pelo próprio Ministério da Saúde e Ministério da

Ciência, Tecnologia e Inovação, elas não foram construídas a partir da autonomia39 dos

pesquisadores que delas fazem parte por meio de editais e financiamentos de

pesquisa.

O fomento à pesquisa em rede.

Parte significativa dos editais e auxílios destinados para a pesquisa em rede

podem ser analisados do ponto de vista do atendimento do princípio da

“extensividade” abordado como um dos eixos condutores40 da PNCTIS, este por sua

vez é o enfoque dado para a produção de conhecimento41, sobretudo àquele realizado

nas Universidades, hospitais e Institutos de pesquisa, mesmo que este não seja

aplicável de imediato,

A extensividade inclui toda pesquisa que visa ao avanço do conhecimento, seja aquele de aplicação imediata ou não. Inclui, portanto, além da produção de conhecimentos, as pesquisas voltadas para o desenvolvimento tecnológico e a inovação (BRASIL, 2006, p. 19).

Este tipo de pesquisa é importante por ser capaz de mobilizar o maior

número de pesquisadores ativos no país, sobretudo nas pós-graduações. Existe uma

38

Para esta questão pode-se mencionar também o projeto do MCTI “redes cooperativas entre as

Universidades brasileiras em C&T” segundo o qual 28 Universidades brasileiras estão incluídas. Inclusive a Universidade Federal de Pernambuco. 39

Ao contrário do que acontece com o programa RENORBIO39

que segue proposta de estimular a formação de parcerias para realização de projetos cooperativos organizados na forma de redes, que articulem diversas instituições e pesquisadores disponíveis na Região Nordeste com experiência e competência em Biotecnologia. E para este caso as redes são determinadas pelos próprios pesquisadores por meio dos editais e auxílios lançados pelas agências de fomento, e não por pactos ministeriais. 40

Demais eixos condutores da PNCTIS são: inclusividade, seletividade, complementaridade, competitividade, mérito científico e tecnológico, e a relevância social e econômica. 41

A PNCTIS considera todos os tipos de pesquisas os respectivos conhecimentos produzidos em resultado, da pesquisa básica até a operacional (BRASIL, 2008).

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significativa relação entre a quantidade de bolsas e auxílios fomentados e o número de

trabalhos cooperativos em rede e a publicação de artigos científicos.

A formação e capacitação de recursos humanos, por meio de cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, visam aprimorar a capacidade regulatória das instituições; implementar a avaliação de tecnologias em saúde; desenvolver a produção e o uso do conhecimento científico e tecnológico nos programas, ações e serviços de saúde; aperfeiçoar a gestão de CT&I/S e outras demandas decorrentes do encaminhamento desta política (2ª CNCTIS – documento base, 2004, p. 21).

Se analisarmos os dados fornecidos pelo Ministério da Educação em

relação ao destino dos gastos com as pós-graduações, veremos que, no período

compreendido entre os anos de 2000 a 2010, mais da metade dos valores investidos

foram destinados para as pós-graduações.

Tabela nº 5: Dispêndios do Ministério da Educação em Ciência & Tecnologia (C&T), 2000-2010.

Ano

Total Total

C&T Pós-Graduação

2000 2.087,2 1.523,40

2001 2.270,1 1.590,40

2002 2.613,3 1.861,40

2003 2.901,8 2.159,30

2004 3.347,1 2.542,90

2005 3.631,5 2.616,10

2006 4.401,6 3.319,50

2007 5.641,7 4.391,90

2008 6.576,7 5.033,10

2009 6.996,6 5.050,70

2010 8.508,8 6.069,80 Fonte: Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) (2013).

O aumento no investimento nas pós-graduações no tocante da própria

melhoria na educação, qualidade do ensino e demais benefícios proporciona

significativos retornos em C&T&I, sobretudo porque permite meios para que os

pesquisadores realizem seus trabalhos. Isto sob o ponto de vista da extensividade da

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PNCTIS pode ser analisado sob o fato de que, o conhecimento produzido nas pós-

graduações mesmo que não aplicado imediatamente é fonte básica para subsidiar

outras pesquisas futuras, interações e trocas de experiências.

Dentre as várias possibilidades que o conceito de rede científica possa

alcançar, ainda é nas pós-graduações em que se tem o maior número de pesquisas em

rede e onde ainda se agrega o maior número de pesquisadores ativos no país. É a

partir dos grupos de pesquisa, dos líderes, dos coordenadores de projetos, das

relações de orientação que se pode estabelecer o maior número de conexões possíveis

entre Universidades, Instituições, hospitais, laboratórios, empresas.

Estes tipos de conexões e os conhecimentos resultantes delas são peças

fundamentais na produção de conhecimento e na realização de inovações que, por sua

vez, geram bens e serviços que possam ser utilizados pela sociedade. Diante da lógica

assumida pela PNCTIS, além dos próprios ganhos da pesquisa em rede em termos de

conhecimento, podemos considerar o estabelecimento de uma cultura de trabalho

cooperativo em rede a longo prazo em outro ganho.

A indução à pesquisa em rede é feita em consonância com as necessidades

estratégicas de pesquisa em saúde e leva em consideração a troca de competências

locais e internacionais no processo de aprendizado e produção do conhecimento. O

primeiro tipo de fomento é o destinado para o lançamento de editais de cooperação

internacional, que visa estabelecer a pesquisa cooperativa em rede com instituições

com parcerias já firmadas com os órgãos brasileiros. Eles procuram além das pesquisas

de interesses comuns, a capacitação, formação em conjunto de pesquisadores, e a

produção de conhecimento em Ciência & Tecnologia & Inovação.

Esta modalidade só é realizada com instituições que possuem acordos já

firmados com o Brasil. A tabela nº 6 mostra a evolução no fomento entre os anos de

2000 a 2010 em face da quantidade de projetos aprovados nesse mesmo período para

a modalidade e o valor gasto.

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200

Tabela nº 6: Número de projetos de redes de cooperação internacional fomentados pelo CNPq 2000-2010

Número de chamadas aprovadas

Chamada Fomento à Pesquisa

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

CNPq/Alemanha 8 7 13 17 1

CNPq/Argentina

5 4 3 5 CNPq/Bélgica 2 5 3 2 16

CNPq/Canadá

2 1 CNPq/Cuba 7 4 1 4 14 5

CNPq/Itália

4

3

CNPq/França 20 16 10 12 12 5

CNPq/Colômbia

7 7 5 7 8 6

CNPq/México 3 4 3 10

CNPq/Costa Rica

1

1 1 CNPq/Chile 6 4 4 1

CNPq/Uruguai

4 5 4

2 6

CNPq/Portugal 11 11 8 1

CNPq/ Eslovênia

5

CNPq/EUA 8 9 8 7 13 10

CNPq/Espanha

9

7 CNPq/Suíça 8

CNPq/Venezuela

1 2 Total: 67 78 55 67 84 77

Valor pago (Milhões)

1.888 2.664 1.483 2.227 4.246 3.890 Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CNPq/AEI (2013).

A quantidade de projetos aprovados permaneceu em média muito

próxima, ano após ano, com exceção do ano de 2007 que tem a menor quantidade dos

anos em destaque. É importante destacar também, que antes esta linha de fomento

não existia no país, até o ano de 2004 nenhum edital de financiamento para a

construção de pesquisas em redes seja na modalidade de cooperação internacional ou

para qualquer outro para o CNPq.

Na escala estadual, em Pernambuco a Fundação de Amparo a Ciência e

Tecnologia de Pernambuco (FACEPE), passou a partir de 2006 a fomentar projetos de

pesquisa para redes de cooperação internacional. No período de 2006 a 2010 foram

lançados 11 editais nesta modalidade com 9 projetos aprovados.

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201

A CAPES como um dos órgãos integrantes inseriu também a modalidade de

cooperação internacional como parte integrante de sua política de fomento, a tabela

nº 7 a seguir, revela além da quantidade de editais lançados no período de 2000 a

2010, que a data de início de financiamento converge para a mesma data que a do

CNPq e da atuação da PNCTIS em 2005.

Tabela nº 7: Número de editais42 destinados à construção de redes de cooperação internacional CAPES 2000 a 2010.

Chamada Fomento à Pesquisa

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

CAPES/Alemanha

3 2 5 CAPES/Argentina 1 3 3 3 CAPES/Bélgica

1

CAPES/Cuba 2 2 2 CAPES/Espanha

1 1 2

CAPES/Estados Unidos 1 1 1 5 4 7 CAPES/França

2

5 6 6

CAPES/Holanda 1 1 1 1 2 CAPES/Itália

1

CAPES/Japão 2 CAPES/México

2

CAPES/Portugal 1 1 2 CAPES/Reino Unido

2

CAPES/Uruguai 1 1 2

TOTAL 3 3 6 19 23 36 Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CAPES (2013).

Se olharmos para a mesma linha de fomento da CAPES, mas desta vez pela

quantidade de editais lançados e não projetos no mesmo período 2000 a 2010,

percebemos ocorrer a mesma lógica: antes de 2005 não existia a linha de fomento na

instituição e o número de editais aumentaram significamente no período 2005 a 2010

de 3 editais ao ano em 2005 para 36 editais em 2010. A proposta é ter um número

cada vez maior de parcerias, como é o caso da China que ainda está em fase de

negociação.

42

Os dados destacam a quantidade de editais lançados anualmente e não o número de projetos aprovados ou de bolsas. Sendo assim, um único edital pode fomentar significativo número de bolsas ou projetos distintos.

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202

Existem também, nos mesmos moldes da cooperação internacional,

mostrada nos quadros anteriores, duas modalidades: a) cooperação43 em redes

bilaterais internacionais; b) cooperação44 em redes internacionais trilaterais entre

países ou continentes envolvidos. Estes por sua vez, assumem projetos de parcerias

em áreas temáticas com acordos assinados com países, e não propriamente

instituições.

A tabela nº 8 a seguir, destaca projetos aprovados e valores gastos no

período de 2000 a 2010 com dois dos maiores grupos de cooperação bilateral

continental: o PROSUL, que de acordo com o CNPq destina “Apoio Financeiro para

Atividades de Cooperação Internacional para a Formação de Redes de Pesquisa

voltado para pesquisas na América Latina” e o PROÁFRICA, que da mesma forma,

objetiva “Apoio Financeiro para Atividades de Cooperação Internacional para a

Formação de Redes de Pesquisa com o Continente Africano”.

Tabela nº 8: Projetos aprovados e valores gastos na modalidade PROSUL e PROÁFRICA no período de 2000 a 2010.

Número de Projetos

Chamada Fomento à Pesquisa

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

PROSUL 10 21 86 77 63 20 Valor Total (em milhões):

306 730 2.065 1.164 1.639 568

PROÁFRICA 4 56 60 62 4 Valor Total (em milhões):

839 3.488 1.989 1.685 1.147

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CNPq/AEI (2013).

Estas duas modalidades se juntam com outras que atuam em escala

menor, como o programa de cooperação bilateral entre Brasil e Índia ou o programa

43

Ver por exemplo os editais do CNPq nº 027/2006; CNPq nº 004/2007; CNPq Nº 061/2008; CNPq Nº 015/2009; CNPq Nº 053/2010 que tem como objetivo apoiar, de forma complementar, o desenvolvimento de projetos conjuntos em rede de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, por meio do financiamento a atividades de cooperação internacional, no âmbito dos convênios bilaterais entre o CNPq e instituições financiadoras estrangeiras (CNPq, 2006). 44

Ver também, o Edital MCT/CNPq Nº 045/2009 Programa de Apoio à Cooperação Científica e

Tecnológica Trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul que tem por finalidade apoiar áreas identificadas como prioritárias para a cooperação trilateral, o desenvolvimento de atividades de cooperação internacional em Ciência, Tecnologia e Inovação (C&T&I) entre pesquisadores brasileiros, indianos e sul-africanos, que contribuam de forma sustentada, para o desenvolvimento científico e tecnológico dos países envolvidos.

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203

de cooperação trilateral entre Brasil, Índia e África do Sul. Para além da consolidação

das relações destas modalidades, as chamadas preveem até visitas exploratórias para

contatos presenciais com intuito de facilitar os diálogos entre os pesquisadores

brasileiros e estrangeiros.

Outro grupo de fomento pode ser definido pelos Editais na modalidade

encomenda, onde os projetos são selecionados como o próprio nome diz por

“encomendas” do CNPq, estabelecidos por meio de termos de cooperação, redes ou

convênios do CNPq com Ministérios. Eles tendem a atender planos de ações para áreas

estratégicas ou segmentos específicos de pesquisa, por meio da aprovação de projetos

e bolsas para os pesquisadores inseridos nas propostas de pesquisa em rede. De

acordo com dados do CNPq (2013), especificamente para a saúde, só no ano de 2010

foram fomentados 97 projetos sob esta modalidade, com 210 bolsas para o mesmo

ano.

O grupo para redes diversas - o maior deles em número de projetos e

fomento - é o que engloba a construção de redes diversas em C&T&I. Essa modalidade,

os pesquisadores e suas pesquisas podem se conectarem sem a exigência de um

indivíduo específico, região, país45 ou instituição, ficando a critério dos pesquisadores

os delineamentos pelos quais a sua rede irá tomar.

Envolve as linhas de: a) Apoio para a construção de atividades de

cooperação internacional para a formação de redes de projetos temáticos; b) Apoio

para a construção de atividades de cooperação internacional para a execução de

projetos conjuntos em redes de C&T&I; c) redes cooperativas de pesquisa; d) Redes de

cooperação em Projetos Conjuntos de P&D&I; e) formação de redes de pesquisa

diversas; f) formação de redes de pesquisa interdisciplinares; g) formação de redes

temáticas. A tabela nº 9 a seguir, mostra a evolução do fomento à pesquisa em

número de projetos aprovados no período de 2000 a 2010 e o valor gasto pelo CNPq

para a modalidade de redes científicas diversas.

45

Muito embora, seja importante destacar, que mesmo para esta modalidade, a construção de redes com pesquisadores de outros países ainda é o maior interesse por parte da PNCTIS e das agências de fomento.

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204

Tabela nº 9: Projetos aprovados e valor gasto no período 2000 a 2010 pelo CNPq na modalidade de redes científicas diversas.

Fomento a pesquisa

Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Nº Projetos 66 28 107 131 133 200 Valor pago (milhões)

4.654 926 5.369 3.138 4.667 9.218

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CNPq/AEI (2013).

Do ano de 2005 o primeiro para o fomento a este tipo de pesquisa, até o

de 2010, o último analisado, o número de projetos aprovados passou de 66 para 200

mais que triplicando a quantidade, os valores gastos também dobraram entre o

período inicial e o final. Como nos segmentos anteriores, essa linha também não

existia antes do ano de 2005. É importante destacar também que, na tabela

apresentada estão inseridas apenas informações referentes às redes científicas

diversas exemplificadas.

Existe ainda um último grupo de redes científicas, fomentadas a partir das

novas orientações do MS, MCTIS, ME e a PNCTIS que embora não apareçam tão

claramente nos editais de fomento, no que se refere ao objeto principal, elas estão

presentes e são responsáveis por grandes agrupamentos de pesquisadores

trabalhando assim.

Trata-se das redes que são formadas por grandes investimentos em

grandes projetos. Estes projetos são aprovados e dadas a complexidade do objeto de

estudo, necessitam de grande quantidade de pesquisadores e instituições conectadas

trabalhando juntos. Embora editais desta natureza não sejam publicados com este

objetivo em especial, o fato do projeto permitir a construção de redes é fator

importante de julgamento de mérito científico. Estes tipos de rede portanto são

organizadas a partir dos seus projetos aprovados e são construídas exclusivamente a

partir dos interesses dos agentes centrais da rede, na maioria dos casos líderes de

grupos de pesquisa.

A tabela nº 10 a seguir procura fazer uma relação entre os editais lançados

pelo CNPq que tinham por objetivo principal ou secundário a pesquisa em rede e os

editais diversos nos anos de 2006 a 2010.

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205

Tabela nº 10: Relação entre editais lançados para a construção de redes em relação aos editais diversos pelo CNPq 2006-2010

Ano Pesquisas em rede Pesquisas diversas Total

2006 28 Editais 30 Editais 58

2007 19 Editais 26 Editais 35

2008 20 Editais 44 Editais 64

2009 22 Editais 39 Editais 61

2010 32 Editais 38 Editais 70 Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CNPq (2013).

No destaque, percebe-se que durante o período de 2006 a 2010 os editais

que possuem a temática da pesquisa em rede, chegaram a quase metade dos editais

diversos. Essa proporção é bem significativa se levarmos em conta que o segundo

grupo incorpora todos os outros tipos de fomento da instituição.

Essa quantidade também pode ser explicada pelo fato de que, não só a

saúde, mas também outras áreas por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (FNDCT) e seus fundos setoriais46 como é o caso do CT-Agro,

CT-Petro, CT-Biotec, CT-Hidro, passaram a incorporar a pesquisa em rede como

componente de fomento.

É importante ressaltar por último que, até para os editais em que a

pesquisa em rede não é o foco da chamada, a formação de redes científicas foi

incorporada como um dos elementos de avaliação do mérito técnico-científico47 dos

projetos submetidos. Todas essas informações nos sugerem a dimensão no qual as

redes foram inseridas nas agências de fomento brasileiras e como estas entram em

consonância com a atuação da PNCTIS.

Considerações Finais

A criação da PNCTIS em 2004 trouxe consigo um desafio: o de promover

desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo para a área saúde, de modo a 46

Alguns exemplos de chamadas lançadas pelo CNPq que destacam também a pesquisa em rede: 45/2006 – CT-Hidro; MCT/CNPq/CT-AGRO Nº 24/2009;MCT/FINEP/CT-Petro nº 01/2009; MCT/CNPq/CT-BIOTEC nº 27/2010. 47

Alguns exemplos podem ser observados nos editais: MCT/CNPq/CT-Saúde – Nº 18/2006; MCT/CNPq - nº 026/2007; MCT/CNPq - nº 51/2008; MCT/CNPq - Nº 020/2009.

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206

atender consequentemente as demandas sociais existentes no país. E mais,

proporcionar que os conhecimentos gerados sejam oriundos de pesquisadores

brasileiros e com isso uma possível emancipação tecnológica que nos faria diminuir o

gargalo tecnológico da área. E consigo, a política trouxe uma série de metas, propostas

e diretrizes a fim de atingir os seus objetivos.

É nesse contexto que uma das propostas assumidas pela PNCTIS para

promover o desenvolvimento na saúde em curto, médio e longo prazo é a

incorporação do debate de redes. Elas são entendidas assim como veículo eficaz na

produção de conhecimento e na integração dos pesquisadores brasileiros dentro e

fora do país. Esses argumentos ficam claros e evidentes ao observarmos a composição

da política na íntegra e a própria formulação das linhas de ação por meio dos órgãos

de fomento.

Em outras palavras, existe significativa consonância entre os argumentos

destacados na construção da PNCTIS no que se refere ao fomento à pesquisa em rede,

os dados de fomento, e as informações prestadas em entrevista pelo Sr. Reinaldo

Guimarães, principal articulador da política. A noção de que o trabalho cooperativo em

rede proporciona benefícios para além daqueles trazidos por pesquisadores isolados,

tem proporcionado não só para a área da saúde ou especificamente da farmácia o

incentivo nesta modalidade, mas outras áreas têm sido inseridas nessa forma de

fomento. Esta concepção, nos direciona também para os retornos sociais resultantes

do capital social gerado à medida que mais e mais relações são construídas por meio

da pesquisa científica em rede

É a partir do ano de 2005 que a PNCTIS passa a vigorar, e como tal a

proposta de fomentar a pesquisa em rede também se inicia nesse ano. Os dados nos

mostraram não só o aumento significativo na quantidade de editais, bolsas, e valores

pagos nos últimos anos, como também mostrou que anteriormente ao ano de 2004,

não existia nenhuma linha de fomento nos principais órgãos envolvidos: CNPq, CAPES,

FACEPE e FINEP para a pesquisa em rede existir.

Embora não fosse possível o acesso a informações mais precisas de outras

áreas de conhecimento, os dados sugerem que a proposta da pesquisa em rede tenha

sido incorporada por outras áreas de atuação, como o caso do CT-Hidro, CT-Amazônia,

CT-Biotec e CT-Agro em que aparecem com editais lançados especialmente para

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207

projetos nesta modalidade, além dos próprios editais de encomenda destinados para a

pesquisa em rede nesta e em outras áreas.

Aparentemente, este tipo de orientação não tenha influenciado apenas a

composição da PNCTIS, mas outras linhas de ação também, uma mostra disso é que no

último ano estudado, o de 2010, do total geral de editais lançados pelo CNPq 32 editais

(56%) tinham como objetivo principal ou secundário o fomento à pesquisa em rede.

Em alguns casos, até para aqueles editais lançados que não objetivavam a modalidade,

possuíam como metodologia no julgamento de mérito científico pesquisas que se

predispusessem a construírem redes de pesquisa. O PACTI, por exemplo, no período

de 2007-2010 fomentou 439 projetos modalidade de ampliação e consolidação de

redes de cooperação além da construção dos vários INCTI`S em que o próprio objetivo

é a construção de institutos conectados em rede com pesquisadores articulados pelo

país.

Devido a forma integrada na construção da PNCTIS com os Ministérios

(Educação, Saúde, e Ciência, Tecnologia & Inovação) o enfoque na atuação de redes

não se dá exclusivamente de forma objetiva com editais e processos direcionados para

a pesquisa em rede. A atuação é dada por meio do aumento de verbas destinadas para

a pesquisa nas Universidades, Institutos e centros de pesquisa para que sejam

viabilizados mecanismos de atuação voluntárias em conjunto iniciadas pelos próprios

pesquisadores.

Por fim, como resultado da busca de compreender outro importante

argumento por parte da PNCTIS, sugerimos que, existe uma compreensão ainda

equivocada das dificuldades de se construir uma pesquisa científica em rede, dos

desdobramentos acadêmicos em termos de relações em rede, de formas de se manter

e monitorar a pesquisa, e as relações nelas inseridas em longas distâncias.

Assim consideramos que a política está construída como um único

arcabouço analítico, mesmo com as inúmeras agências de fomento e as

particularidades dos editais, sua composição negligencia as inúmeras particularidades

espaciais do país. Negligencia as temporalidades científicas, técnicas, culturais,

simbólicas, políticas e econômicas existentes nos diversos espaços brasileiros e no

cotidiano dos pesquisadores.

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208

Também é possível observar que para a PNCTIS e seus formuladores, a

revolução massiva das TICs, dos transportes, aliados aos editais de fomento para a

construção desta modalidade de pesquisa, são elementos suficientes para estimular o

crescimento de redes no país e fora dele. Além de prover meios para manutenção

destas relações a curto, médio e longo prazo.

É importante destacar também, que não existe uma clara distinção entre as

escalas preteridas para a formação de redes com base na política, fala-se em redes de

cooperação com vários níveis na América Latina, Ásia, África, Europa, e internamente

entre os centros mais desenvolvidos e os menos desenvolvidos, porém é dado pouco

destaque às redes impulsionadas localmente. Assim, acreditamos que o global seja

mais prioritário que o local. Os INCTs aparentemente são os mecanismos principais na

aproximação de pesquisadores dentro do país.

Sobre a aproximação entre os pesquisadores, com exceção dos editais

voltados para “visitas exploratórias” não foram encontrados indícios de editais de

fomento, ou na composição da política de mecanismos que viessem a tratar das

dificuldades de se pesquisar em rede à longas distâncias ou da necessidade dos

contatos presenciais.

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209

4ª CONEXÃO

AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE

FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE

DA PNCTIS, E A IMPORTÂNCIA DO

ESPAÇO NA CONSTRUÇÃO E

FUNCIONAMENTO DESTAS.

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1º Nó

Procedimentos metodológicos para

a coleta e tratamento de dados.

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211

4ª CONEXÃO AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE DA PNCTIS, E A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO NA CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO DESTAS

1º NÓ PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A COLETA E TRATAMENTO DE DADOS

Introdução

Edgar Morin em seu livro “A natureza da natureza” de 1977 evidencia a

existência do todo e a impossibilidade de compreensão e recorte do mesmo. O todo

assim seria tudo e por ser tudo é dinâmico, e de proporções intermiváveis, para tal,

toda pesquisa deve se fazer de um recorte, seja este temporal, espacial ou

metodológico.

Carl Sagan em seu livro “Cosmos” de 1980, considera que o recorte - ao

mesmo tempo que defende a nececessidade de uma visão mais abrangente de mundo

- além de facilitar a atuação e o papel do pesquisador, é resultado da nossa limitação

enquanto ser, e o primeiro caminho na compreensão da imensão que é o

conhecimento científico, o mundo, o universo, o humano, o todo.

Desta forma, na compreensão destes aspectos este primeiro nó desta

quarta e última conexão vista apresentar o referêncial teórico metodológico pra a base

analítica do debate sobre redes sociais além dos procedimentos metodológicos da

pesquisa, não que em cada nó anterior não já tivéssemos apresentado em suas

introduções o recorte, a fonte de informações e a forma metodológica, sobretudo a

baseada na literatura, que foram utilizada para suas construções.

Mas especificamente neste, destinamos estes campos especialmente para

isso. O primeiro deles de nome “Referencial Teórico-Metodológico para a Base

Analítica sobre a Análise de Redes Sociais (ARS)” visa proporcionar revisão da literatura

sobre o debate da Análise de Redes Sociais (ARS) ferramenta metodológica construída

para auxiliar os estudos das redes sociais. Além de, apresentar alguns

questionamentos norteadores da pesquisa em redes sociais e esquemas estruturantes

que fazem destas estruturas visualizáveis e analisáveis, os sociogramas.

O segundo, “Procedimentos metodológicos utilizados para a coleta e

tratamento de dados” busca destacar o recorte espacial e temporal utilizado na

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212

pesquisa, bem como seguido de sua justificativa. Além de procedimentos

metodológicos detalhados não só para a busca de dados mas para a sua construção.

Nele é destacado também os motivadores para a utilização das bases de dados e

apresentado

Referencial Teórico-Metodológico para a Base Analítica sobre a

Análise de Redes Sociais (ARS)

A Análise de Redes Sociais48 – ARS (Social Network Analysis – SNA) surge

também, como uma forma de estudar as relações sociais entre indivíduos por meio de

uma estrutura em forma de rede de relacionamentos. Busca estudar sistemas

interativos e os tipos de relações, verificando o posicionamento estrutural de cada ator

(pessoa ou entidade) dentro de um contexto relacional específico.

Nos principais trabalhos sobre o tema, a origem é atribuída aos estudos

pioneiros de Moreno (1934), que desenvolveu sociogramas como forma de

demonstrar a estrutura dos relacionamentos emotivos interpessoais dentro de um

grupo. Outros autores são apontados como importantes no estudo do método, como

Simmel (1993), Claude Lévi Strauss, nos anos 1940. John Barnes, nos anos de 1950,

como já mencionado, foi o responsável, formalmente, pelo termo “rede social” (social

network). Ao estudar as características estruturais de uma determinada sociedade,

abriu-se caminho para a controvérsia em torno da origem dos estudos sistemáticos

com uso de redes sociais, assim como estudos de psicologia social dos anos de 1920

nos Estados Unidos são apontados como seminais na metodologia (GUIMARÃES &

MELO, 2005; PENNA et. al., 2007; ACIOLI, 2007; ZANCAN, 2008).

48

A Análise de Redes Sociais – ARS (Social Networks Analysis – NSA) teve expansão no mundo quando a partir, de 1978, foi criada, por Barry Wellman, uma associação, a International Netwokrs for Social Network Analysis (INSNA), e, em 1979, inicia-se a primeira conferência anual (International Network for Social Network Analysis). Conta com revistas especializadas, como a Social Networks (editada desde 1979), a Connections, que é o boletim oficial da INSNA, o Journal of Social Structure (revista eletrônica), REDES – Revista Hispana para elanálisis de redes sociales. Também há vários programas que buscam mostrar graficamente as redes estudadas. Os mais utilizados são: UCINET/NetDraw, Pajek, STRUCTURE, StOCNET, GRADAP, NetMinter, Krackplot. A ARS compreende os seguintes campos do conhecimento: matemática (teoria dos grafos, teoria dos grupos e álgebra de matrizes), antropologia, sociologia, psicologia, ecologia, estudos organizacionais, epidemiologia, linguistica e ciência política (BORGATTI, 2003; PENNA et. al., 2007).

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213

Dando continuidade aos primeiros trabalhos antropológicos, pesquisadores

de Harvard construíram modelos de relações interpessoais nos estudos sobre a

formação de grupos executivos. Lewis, nos anos 1950, focou seu estudo nas

propriedades estruturais do espaço social. Há autores que defendem que a noção de

rede abrange tanto aspectos de ausência de relação como de intensidade, status e

papel social e que tais características são capazes de analisar o uso metafórico e o

analítico (ACIOLI, 2007). Nos anos de 1960 e 1970, outros antropólogos ligados à

Universidade de Manchester desenvolveram pesquisas sobre os processos de relações

comunitárias em países africanos quando buscaram identificar as redes sociais no

processo migratório, aliando os modelos matemáticos da teoria dos grafos às teorias

sociais (GUIMARÃES; MELO, 2005; PENNA et. al., 2007).

O fundamento dos estudos de ARS são os vínculos relacionais

(relationaltie) entre atores (pessoas, organizações, grupos ou outra unidade de análise)

que são ligados uns aos outros. Esses vínculos podem ser: a) do tipo social (por laço de

amizade); b) por associação, afiliação (laços existentes nos clubes, associações etc.); c)

por interação profissional (laços de trabalho); d) por relação física (bairro, cidade); e)

relação virtual (via internet); e, f) por laços biológicos (família). Tais vínculos podem ser

analisados com diversos objetivos, mas, ao final, todos buscam perceber formas,

padrões, estruturas e constâncias de relacionamentos sociais (GRANOVETTER, 1973;

FREEMAN, 1979; WELLMAN, 1983; CARLEY, 1991; HANNEMAN, 1998; BORGATTI,

2003).

A densidade é retirada pela diferença do total das relações esperadas entre

participantes de um grupo e o total de relações realmente existentes em uma rede de

relações (BATAGELJ & MRVAR, 1999; BORGATTI, 2002; EVERETT, 2002; FREEMAN,

2002; HATALA, 2006). Quanto maior o número de relações existentes entre atores de

um grupo, maior é a densidade da rede e melhor para a transmissão de informações.

A metodologia da ARS tem propriedades importantes a serem

consideradas, entre elas estão os laços direcionais, os não direcionais, os simétricos e

os assimétricos. A ARS têm formas de verificação (ou medição) da dimensão estrutural

e relacional da rede. Para isso é fundamental na análise de rede: a) tamanho, que diz

respeito ao número de atores (pontos, nós, etc.) pertencente à rede; b) abrangência,

que identifica o número total de atores (pontos, nós), apontando o número de atores

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isolados; c) conectividade dos atores que se refere à quantidade de ligações entre os

atores (direcional e não direcional); d) simetria, que verifica a média entre as ligações

simétricas e assimétricas entre os atores (FREEMAN, 1979; HANNEMAN, 1998;

BATAGELJ & MRVAR, 1999; BORGATTI et. al. 2002).

Há basicamente duas formas de se fazer análise de redes sociais: por meio

da análise do perfil de relacionamento, sem qualquer restrição de fonte de

relacionamento. Nesta forma, parte-se de um determinado ponto para “rastrear” as

suas relações; por meio da análise dos relacionamentos de um grupo. Nesta forma, os

relacionamentos devem ser restritos ao grupo definido, previamente, para o estudo. A

primeira é chamada de rede de relacionamento pessoal, pois parte-se de um indivíduo

para os demais de sua “rede” de relacionamentos. A segunda é denominada rede de

relacionamentos estruturais. O procedimento para o estudo é baseado em um

conjunto de questões feitas para uma determinada pessoa ou ainda nos fundamentos

dos motivos das relações (MARSDEN, 1990; BORGATTI, 2002; EVERETT, 2002;

FREEMAN, 2002, KADUSHIN, 2002).

Para operacionalização da pesquisa objetivando a construção de redes

sociais, tanto estrutural como pessoal, normalmente se utiliza o questionário

semiaberto para que o respondente indique, livremente, seus principais

relacionamentos, além de outras indicações, que podem apontar para uma

determinada tendência e/ou características das pessoas com as quais existem os

vínculos. Esse tipo de pesquisa é usado quando se pretende conhecer todos os

relacionamentos importantes de uma pessoa, independentemente do grupo dos quais

são provenientes tais relacionamentos. Parte-se do nodo para as demais relações que

ela mantém (BORGATTI, 2002, 2003, 2005; EVERETT, 2002; FREEMAN, 2002; MOLINA,

2005; ACIOLI, 2007).

A segunda 49 forma consiste na identificação prévia do grupo a ser

estudado. Na coleta de informações, é necessário definir, antecipadamente, o tipo de

relacionamento que se deseja identificar, desta forma é possível analisar o

relacionamento dentro de um grupo muito bem delimitado, possibilitando a

49

Separamos três formas de pesquisa para o mapeamento de redes sociais, não que existam apenas estas. O caráter particular de cada pesquisa pode revelar diferentes formas de apreender e estrutura os dados.

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215

compreensão da sua dinâmica. Pode-se usar questionário ou entrevista (BORGATTI,

2002, 2003, 2005; EVERETT, 2002; FREEMAN, 2002; ACIOLI, 2005; MOLINA, 2005).

Existe uma terceira forma, cada vez mais difundida pelas ciências da

informação, que para este trabalho é considerada mais relevante, que é a análise de

redes sociais colaborativas em determinadas áreas de atuação usando como forma a

utilização de bases de dados secundárias, publicações, e demais formas que permitam

visualizar as relações sem que haja necessariamente entrevistas50 com os atores

(POBLACIÓN, et. al.,2009).

Os estudos de Borgatti (2003) e Guimarães & Melo (2005) demonstram

que a ARS é útil quando se busca mapear redes de confiança (quem confia em quem?)

e de rede de aquisição de informação (com quem você busca informação sobre

determinado assunto?). No entanto, outras informações sobre a rede podem ser

buscadas em um estudo de ARS; são elas: a) rede de conhecimento (quem conhece

quem?); b) rede de comunicação regular (quem se comunica regularmente com

quem?); c) rede de acesso entre pessoas (quem tem acesso a quem?); d) rede de

pessoas com potencial de conhecimento para ajudar (quem tem conhecimento para

me ajudar?); e) rede de reconhecimento das competências entre as pessoas (quem

tem consciência da competência de quem?); e f) redes de pesquisa científica (quem

pesquisa com quem? Onde estão os pesquisadores?).

A ARS pode ser usada para encontrar respostas simples e diretas,

reformulação de problemas, relações entre pessoas (sociocêntricas ou egocêntricas)

ou entre empresas, projetos de colaboração, identificação de redes sociotécnicas. A

estrutura de rede é a forma de estudo cuja ênfase está nos motivos da conexão entre

os pontos da rede e busca identificar: quem fala com quem sobre o que? Quem dá,

recebe ou compartilha que tipo de recurso com quem? Também analisa os resultados:

como a estrutura de rede afeta o fluxo de recursos entre os membros do grupo? Como

a informação circula na rede? Que tipo de “capital social” é adquirido pelos membros

da rede? O que os indivíduos (atores) obtêm das suas redes? Quem são os atores

50

Nesta fase de mapeamento da relações não se utilizou de entrevista e sim de fontes documentais para o mapeamento das relações. Entretante, as entrevistas se fazem relevantes e foram aplicadas em um segundo momento da pesquisa.

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216

centrais da rede? Onde estão localizados os atores conectados? (BORGATTI, 2003;

MOLINA, 2005; GUIMARÃES; MELO, 2005).

Para se estudar uma rede, pode-se partir de duas estratégias: uma que se

limita ao tamanho dela, por meio da identificação prévia de seu tamanho ou estrutura.

Neste caso a coleta de dados, pode ser feita de várias formas (com foco na análise

quantitativa ou qualitativa); a segunda forma é quando se parte da coleta de dados de

um determinado ponto da rede (nó ou ator) posicionado em qualquer lugar, e por

meio dele se faz a seleção dos grupos usando seleção amostral, sendo a mais usada a

técnica “bola-de-neve” (ou snowball), que acontece quando um ator indica mais atores

da rede com quem tem relação, ou ainda para a geração de nomes por meio da

indicação dos participantes da rede. Na técnica bola-de-neve, há limites para seleção

das pessoas, que podem ser a quantidade de pessoas, tempo disponível para se

desenvolver o estudo ou outros. Para a coleta de informações, a partir dos

participantes, o limite é definido quando os nomes de um determinado grupo começar

a se repetir, deixando claro o tamanho do grupo indireto.

A metodologia da ARS tem formas de verificação (ou medição) da

dimensão estrutural e relacional da rede. Isso é possível pelos conceitos utilizados.

Uma rede social é um grupo de indivíduos que, de forma grupada ou individual, se

relacionam uns com os outros, com um fim específico, caracterizando-se pela

existência de fluxos de informação. Uma rede é formada basicamente por indivíduos,

relações e fluxos. A metodologia de ARS é a configuração geral entre esses indivíduos

(atores, nós) e suas relações (linhas); e o sociograma é uma representação gráfica (o

mapa) que demonstra isso.

Figura nº 9: Ator e relação

Fonte: elaboração própria

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217

Para verificar se alguns atores são mais ou menos importantes ou

acionados pelos demais, o conceito usado é o de centralidade. A centralidade é

detectada pelo número de ligações que um ator recebe (BORGATTI, 1999; EVERETT,

2002). Quanto mais ligações (linhas com as setas a ele direcionadas) ele recebe, mais

importância ele tem na rede (ver Figura nº 10). Atores que têm mais laços que outros

podem ter posições mais vantajosas, pois eles têm mais alternativas para satisfazer

suas necessidades, de obter informações e acesso à outros agentes,

consequentemente, diminuindo sua dependência em relação ao grupo.

Figura nº 10: Centralidade

Fonte: elaboração própria

Sobre o grau de centralidade dos agentes, Hanneman & Riddle (2005)

propõem mais três categorizações, além da acima mencionada: A) Grau de

intermediação (betweenness centrality) onde dois nodos que não têm ligação direta

entre si dependem dos laços que fazem a intermediação. O grau depende de quantas

vezes um laço é usado como caminho para a ligação entre dois outros não adjacentes.

B) Centralidade de proximidade (closeness centrality) que indica o quanto um nodo

está próximo dos outros, permitindo acesso rápido a recursos disponíveis na rede. O

cálculo desta centralidade é feito basicamente levando em conta a soma dos

comprimentos das distâncias geodésicas em relação aos outros vértices. C)

Centralidade de aproximação (Eigenvector centrality) que evidencia os membros mais

centrais em termos globais, não se preocupando com os laços mais próximos, como é

característica da centralidade de proximidade.

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Figura nº 11: Grau de Centralidade

Fonte: Hanneman & Riddle (2005)

A figura demonstra o agente central, ou seja, aquele que possui o maior

número de laços na rede, assim nesta base de análise o ator central fica com tamanho

maior. O ator circulado possui 7 vezes mais centralidade que o ator com menor

centralidade na rede, que pode ser verificado pelo tamanho dos pontos ou o número

de laços que ele possui. Neste trabalho em especial utilizaremos o grau o betweenness

centrality.

Já a densidade de uma rede vari de 0 a 1. Ser forte ou fraca, depende do

contexto. À medida que as relações entre os atores aumentam, a densidade também

aumenta, pois ela é medida verificando o número de relações existentes e dividindo

pelo número de relações possíveis de existir (ver Figura nº 12).

Figura nº 12: Densidade forte e densidade fraca

Fonte: elaboração própria

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219

Quanto maiores as relações entre os membros de uma rede maior é a sua

densidade e mais coeso é o grupo. A forma de se obter a densidade é a seguinte:

A formação de subgrupos pode ter um ator-ponte, que é o ator que

permite a conexão entre dois ou mais grupos atores de grupos diferentes (Figura nº

13).

Figura nº 13: Ator-Ponte

Fonte: elaboração própria

Uma rede pode ter diversos tipos de atores, dependendo de ser essa sua

função. Uma rede pode ter um ou vários atores isolados, que são aqueles que não têm

conexão com outros atores (ver Figura nº 14). Quando uma rede tem muitos atores

isolados e baixa densidade nas relações entre os atores, indica que é uma rede fraca,

com frágeis relações entre os atores.

Figura nº 14: Ator isolado

Fonte: elaboração própria

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220

As relações entre os atores podem ser do tipo díade, tríade, grupo... que é

uma relação apenas entre dois atores. Ela pode ser de duas formas: unidirecional ou

bidirecional (Figura nº 15); acontece quando dois atores estão ligados.

Figura nº 15: Relações unidirecionais e bidirecionais

Fonte: elaboração própria

A seta na direção de um ator indica que este ator é acionado para se

relacionar com outro, seja porque tem o recurso que o outro deseja (informação,

conhecimento, recursos variados etc.), seja quando um pequeno número de atores se

relaciona tendo maior número de relações, eles formam subgrupos dentro de uma

rede (rede densa). Neste caso, chamamos de subgrupo ou clique (ver Figura nº 16).

Figura nº 16: Subgrupo ou clique

Fonte: elaboração própria

No entanto, uma rede ou um subgrupo pode contar como um tipo de ator

que não faz conexão com outros; a este ator chamamos de ator unilateralmente

conectado (ver Figura nº 17), que embora receba muitas relações (conexões) elas são

do tipo unidirecional - significa que não há reciprocidade na relação, iu mesmi que

demonstra hierarquização ou falta de confiança no grupo. Essa característica é

percebida a partir do conceito de fluxo, que indica a direção do vínculo (relação) e é

representado por uma seta mostrando o sentido do fluxo (unidirecional ou

bidirecional).

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221

Figura nº 17: Subgrupo ou clique

Fonte: elaboração própria

Reciprocidade de uma relação é a troca de recursos (de todos os tipos)

entre os atores. Quando isso ocorre, há certa tendência para que o ator que recebe as

ligações seja mais importante porque detém recursos e/ou pode, ainda, ser ou é um

líder que já esteja se constituindo como centro de um clique ou no futuro possa vir a

ter maior centralidade numa rede.

Quanto ao nível de (des)centralidade das relações as redes podem ser

verificadas de três maneiras, expressas pela figura a seguir:

Figura nº18: Redes centralizadas, descentralizadas e distribuídas

Fonte: Tipologia criada por Paul Baran.

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222

Nas situações em que existam redes sociais centralizadas, toda a

informação passa por um dos nós rede (o centro) para, então, poder ser distribuída

para os demais nós. Esse é o modelo clássico de broadcasting, no qual o poder de

controle e distribuição da informação é concentrado na fonte emissora.

Já as redes descentralizadas funcionam como várias redes centralizadas

conectadas entre si, na qual vários nós centralizam e distribuem a informação. Dessa

forma, trata-se de uma rede com vários centros, sendo que a maior parte das

organizações hierárquicas que conhecemos (como os vários grupos de pesquisas)

funcionam nesse modelo – departamentos, que são centros localizados na rede,

conectando-se a outros departamentos e com a informação controlada e disseminada

por esses centrinhos.

Nas redes distribuídas não existem centros e qualquer nó da rede pode

receber e disseminar a informação para qualquer outro nó. Nesse tipo de organização,

o poder e o controle são distribuídos pelos nós e sua principal característica é que

ninguém é dono da rede.

Os três tipos de redes sociais existem em conjunto e as mesmas pessoas

que formam uma rede podem se organizar dessas três formas, dependendo de como

se conectam. Os nós, nas três configurações de rede, estão exatamente no mesmo

lugar e são as mesmas pessoas.Deste modo, o que determina se uma rede social,

grupo ou organização é centralizada, descentralizada ou distribuída não são os nós e

suas posições e sim a dinâmica das conexões entre os nós e a estrutura que

proporciona essa dinâmicas. Em suma, é o que acontece entre os nós da rede.

A construção destas relações para que uma rede seja mapeada é dada por

meio de um quadro relacional, em que o ator que se conecta com outro é dado por 1,

e atores na mesma rede que não se conectam lhe é atribuído o valor 0. Existem outras

circunstâncias em que o número varia de acordo com o número de conexões, atores

que se conectam 5 vezes, em vez de apenas uma, no quadro matricial de relações

tradicional. O quadro a seguir nº 1 mostra como é construída a matriz de uma rede em

que estão envolvidos 9 atores:

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Quatro nº 1: Exemplo de matriz de relações sociais em rede

João Ana José Maria Rosa Manuel Antônio Pedro Carla

João 0 1 0 1 0 1 0 1 0

Ana 1 0 1 1 1 0 0 0 0

José 1 0 0 1 0 0 1 0 1

Maria 1 1 1 0 0 0 0 0 0

Rosa 0 0 1 0 0 1 1 0 0

Manuel 0 0 0 1 1 0 0 1 1

Antônio 1 1 0 1 0 0 0 0 0

Pedro 1 1 1 0 1 0 1 0 0

Carla 0 1 0 0 0 1 1 1 0

Fonte: Elaboração própria

Esta matriz é a sistematização matemática das relações em rede. Ela nos

aponta informação de quem interagem com quem dentro de um recorte. Os trabalhos

publicados sobre análise de redes sociais no Brasil ainda são poucos. No entanto, a

produção acadêmica internacional evidencia uma preocupação de décadas de estudos,

Freeman (1996), e em ascendência, como mostra o estudo de Molina et. al. (2005). Os

poucos estudos publicados no Brasil utilizando a ARS estão focados na Sociologia,

Biblioteconomia e nos estudos da ciência da informação.

Procedimentos metodológicos utilizados para a coleta e

tratamento de dados.

Na linguagem das análises de redes sociais, as pessoas ou os grupos,

instituições, afiliações são chamados de “atores”, e as conexões, de “ligações”. Ambos

podem ser definidos em diferentes caminhos, dependendo da questão de interesse.

Um ator pode ser uma única pessoa, um grupo ou uma empresa. Uma ligação pode ser

uma amizade entre duas pessoas, uma colaboração ou um membro comum entre dois

grupos, ou ainda um relacionamento de negócios entre duas empresas (NEWMAN,

2000).

A abordagem de Newman amplia o conjunto de possibilidades para a

análise de redes, pois acrescenta-lhes propriedades estatísticas, como número de

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224

artigos escritos por autor, número de autores por artigo, número de colaboradores dos

cientistas da rede, a distância entre a rede de um pesquisador e a outra rede. Também

permite produzir uma variedade de medidas de conexidade dentro da rede, tais como

proximidade e intermediação. A figura nº 18 mostra uma rede científica com base na

produção de conhecimento com base em artigos científicos entre Duncan Wattz e

Albert-László Barabási.

Figura nº 19: Exemplo de uma rede científica entre Duncan Wattz e Albert-László

Barabási

Fonte: elaboração própria com base em Newman (2000)

As contribuições do autor acabam por ter impactos em áreas como ciências

da informação, biblioteconomia, cienciometria, que procuram vislumbrar por meio de

dados quantitativos como estão às relações de pesquisa sobre determinadas escalas.

Nestas considerações, não se usaria o método da entrevista – ou apenas ele - se utiliza

base de dados para fornecer subsídios para mensurar empiricamente a quantidade e

tipo de relacionamentos, sobretudo aqueles acadêmicos.

Os métodos desenvolvidos pela Cienciometria foram concebidos para

identificar e tratar as informações contidas nas publicações científicas e técnicas,

“envolvendo essencialmente artigos, livros ou patentes” (CALLON et. al., 1995, p. 15).

Ainda de acordo com os autores, estes métodos estariam divididos em duas categorias

“os indicadores de atividades e os indicadores de relação”.

No primeiro caso, ela gera informação sobre o volume e o impacto das

atividades de pesquisa, enquanto que o segundo possibilita rastrear os laços e as

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interações entre atores em rede e os campos de pesquisa. Ou seja, no “primeiro

modelo se concentra nos volumes e o segundo nas interações e na evolução dos

conteúdos” (CALLON et. al., 1995, p. 42).

Assim surgiram diversos debates sobre formas metodológicas de se

mapear a cooperação científica em rede com base em fontes de dados quantitativas.

Boa parte destes debates destaca como importante fonte documental, os artigos

indexados em períodos nas diversas áreas. Os artigos ou registros de patentes por sua

vez, é o resultado final e documentado de um esforço cooperativo entre um grupo de

cientistas, além das informações contidas neles, ele tende a revelar particularidades

dos tipos de relações que foram construídas em face daquele trabalho, como

formação ou a localização dos membros.

Katz e Martin (1997) mostram que, em geral, os trabalhos teóricos

produzem conhecimento com poucos parceiros, em comparação a trabalhos

experimentais, ou seja, experimentalistas tendem a cooperar mais que teóricos em

face da particularidade que muitas vezes exige de várias ciências a necessidade de

conhecimentos complementares.

Em específico, a área de farmácia, é considerada na literatura evolucionária

sobre conhecimento e inovação tecnológica, como uma das áreas mais intensivas em

ciência. Sua dinâmica concorrencial é baseada em ciência, e não apenas em tecnologia,

o que o leva a manter estreita interação com a pesquisa básica desenvolvida nas

universidades. Mais do que isso, a particularidade da área exige que esta se conecte

com outras áreas do conhecimento para que ao final um problema seja resolvido, o

que por sua vez resulta um número grande de pesquisadores envolvidos. Na produção

de conhecimento na área de farmácia, além dos próprios pesquisadores da área, se

exige a estreita conexão com biólogos, químicos, físicos, biomédicos, médicos,

engenheiros, biotecnólogos, dentre outras áreas.

Foram utilizados como fonte documental artigos publicados que tenham

pelo menos um pesquisador de Pernambuco – ou pesquisador que esteja no estado ou

filiado a uma instituição pernambucana - entre os membros. O recorte temporal para a

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pesquisa foram os anos51 de 2000 e o de 2010, ou seja, antes e depois da criação e

atuação da PNCTIS. Este recorte servirá para podermos comparar o cenário da

pesquisa científica antes da atuação da PNCTIS e o posterior.

Inicialmente foram utilizadas três indexadoras de artigos como base de

dados bibliográficos: Isi web of knowledge52, SciVerse Scopus53 e Scientific Electronic

Library Online - SciELO54. A escolha destas três bases55 de dados se dá pela importância

e abrangência delas para a área em especial. A maioria dos autores tende a publicar os

seus melhores trabalhos em revistas de maior impacto acadêmico.

Posteriormente, com o intuito de se obter maior abrangência das relações

e publicações dos pesquisadores de Pernambuco, foi feita uma nova busca das

publicações com base nos currículos dos líderes dos grupos de Pesquisa na área de

farmácia cadastrados na base de dados do CNPq do cde 2010, apresentados no quadro

nº 2 a seguir:

51

Muito embora apenas os anos 2000 e 2010 sejam utilizados para o mapeamento das redes, toda a produção no intervalo destes anos também será pesquisada a fim de se verificar o aumento na produção de conhecimento, no número de pesquisadores trabalhando em rede neste período. 52

Web of Science é uma base de dados do Institute for Scientific Information (ISI), que permite a busca de trabalhos publicados nos mais importantes periódicos internacionais, apresentando as referências bibliográficas contidas nos mesmos, informando ainda, sobre os trabalhos que os citaram, com referências a outros trabalhos. O período de abrangência estende-se de 1900 até o presente, incluindo o conteúdo da base "Century of Science". 53

SciVerseScopus é uma banco de dados de resumos, artigos e citações de artigos para jornais/revistas acadêmicos. Abrange cerca de 18 mil títulos de mais de 5.000 editoras internacionais, incluindo a cobertura de 16.500 revistas peer-reviewed nos campos científico, técnico, e de ciências médicas e sociais (incluindo as artes e humanidades). 54

A ScientificElectronic Library Online - SciELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, em parceria com a Bireme - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. A partir de 2002, o Projeto conta com o apoio do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. 55

Cabe ressaltar que estudos desta natureza no país poderiam prover melhores resultados se tivéssemos revistas especializadas com sistemas de indexação e busca semelhante. A falta delas se torna uma clara debilidade metodológica.

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227

Quadro nº 2: Grupos de pesquisa na área de farmácia com base no censo CNPq 2010

Grupo 1: Desenvolvimento Farmacotécnico Industrial de Produtos Farmacêuticos

Grupo 2: Desenvolvimento Galênico e Biofarmácia

Grupo 3: Doenças Infecciosas e Resistência Antimicrobiana

Grupo 4: Farmacologia e Toxicologia Pré-Clínica de Produtos Bioativos

Grupo 5: Grupo de Estudo Multidisciplinar em Plantas Medicinais

Grupo 6: Grupo de Pesquisa em Inovação Terapêutica – GPIT

Grupo 7: Laboratório de Planejamento, Avaliação e Síntese de Fármacos - LABSINFA

Grupo 8: Modelagem para Inovação Molecular – MODiMOL Grupo 9: Núcleo de Estudos Avançados em Caracterização de Alimentos, Medicamentos e Suplementos Nutricionais

Grupo 10: Núcleo de Pesquisas em Nutrição Parenteral

Grupo 11: Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos

Grupo 12: Planejamento e Síntese de Fármacos – LPSF

Grupo 13: Principios Bioativos e Neuroproteção

Grupo 14: Síntese e Química de Produtos Naturais

Grupo 15: Sistemas de liberação controlada de fármacos e vacinas: Nanotecnologia Farmacêutica Fonte: Censo CNPp (2010)

O censo do CNPQ de 2010 indicou a existência de 15 grupos pesquisando

na área de farmácia no estado de Pernambuco, com um total de 24 líderes e 15656

cadastrados. Após a retirada de artigos duplicados, chegou-se ao final do número de

publicações57 que apareciam, ou nas bases de dados mencionadas ou no currículum

lattes dos pesquisadores líderes de grupos de pesquisas da área de farmácia de acordo

com o censo.

Os artigos selecionados poderão demonstrar a evolução quantitativa no

volume de publicação, de redes montadas, e de pesquisadores atuando nesta

modalidade antes e depois da política. Estes resultados serão fortalecidos ao se unirem

posteriormente com o número de registros de patentes cadastradas no Instituto

56

É importante se destacar que uma parte significativa dos pesquisadores cadastrados não atuam mais em Pernambuco ou não se inseriam em nenhum trabalho cooperativo em rede com base nas publicações nos anos estudados. 57

Acredita-se que a metodologia possa oferecer algum subdimensionamento das relações, por exemplo, não foram incluídos artigos publicados em anais de eventos brasileiros. Entretanto, como já demonstrado, o volume de informações é significativo, foram utilizadas três grandes bases de dados mais os curricúluns lattes dos pesquisadores cadastrados no CNPq. Na impossibilidade de abraçar o todo, optou-se por esse recorde.

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228

Nacional de Propriedade Industrial – INPI58 - por pesquisadores de Pernambuco na

referida área no mesmo período que resultaram da pesquisa em rede.

Para mensurar os desníveis entre os projetos aprovados para a pesquisa

em rede em Pernambuco e o restante do país, somou-se estes resultados com a

seleção dos editais voltados para esta modalidade fornecido pela base de dados do

Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit), que como já apontado é o um dos

principais órgãos de construção e fomento desta prática de pesquisa científica.

O mapeamento das redes científicas nos anos estudados com base nos

artigos e patentes publicadas, pode ser explicado com base na metodologia trabalhada

por Newman (2001) e Strogatz & Watts (2001), que podem ser visualizadas com base

na figura nº 19.

Nela, os números de 1 a 4 são os artigos publicados, e os pesquisadores

são as letras compreendidas entre A e K, a partir das várias conexões entre os vários

autores por meio de suas relações na pesquisa científica, gera-se uma matriz

relacional, onde 1 significa que existe conexão entre dois atores, e 0 que não existe

conexão. A matriz é o reflexo numérico das relações expostas nos artigos científicos,

esta por sua vez, serve como modelo para que a rede seja ao final mapeada. São

utilizados no procedimento os softwares Ucinet59 e Netdraw.

58

Criado em 1970, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é atualmente vinculado ao

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), esta autarquia federal é responsável pelo aperfeiçoamento, disseminação e gestão do sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos de propriedade intelectual para a indústria. Entre os serviços do INPI, estão os registros de marcas, desenhos industriais, indicações geográficas, programas de computador e topografias de circuitos, as concessões de patentes e as averbações de contratos de franquia e das distintas modalidades de transferência de tecnologia. Na economia do conhecimento, estes direitos se transformam em diferenciais competitivos, estimulando o surgimento constante de novas identidades e soluções técnicas. 59

O Ucinet é um pacote de software para a análise de dados de redes sociais. Foi desenvolvido por Lin Freeman, Everett Martin e Steve Borgatti e inclui a ferramenta de visualização da rede NetDraw.

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Figura nº 20: Exemplo de mapeamento de rede científica com base em artigos

publicados

Fonte: Elaboração própria a partir de Newman (2001), Strogatz & Watts (2001), e Balancieriet. al. (2005).

Desta forma, o mapeamento das redes permitirá responder a uma série de

questionamentos, que são característicos da reprodução das relações em rede,

sobretudo em face do fomento da PNCTIS, tais como: Quem são e onde estão os

pesquisadores que interagem na malha pernambucana? Quais as instituições de

origem dos pesquisadores que aparecem na rede na área de farmácia em

Pernambuco? Quais possíveis mudanças podem ser visíveis na estrutura e na

densidade da rede científica pernambucana antes e depois da atuação da PNCTIS?

Quem são os atores centrais da rede? E por quê? Qual foi o avanço na produção de

conhecimento em termos de artigos científicos e patentes? Houve aumento no

número de pesquisadores trabalhando em rede? O local é importante?

A partir do reconhecimento de parte das particularidades em volta da

construção de laços para a pesquisa em rede na área, e a inevitável multiplicidade

geográfica que as acompanha, foram selecionados os atores centrais da rede para que

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juntamente com os demais dados se pudesse verificar a espacialidade dos membros, a

importância da proximidade geográfica para aqueles que cooperam em rede e a

relevância do contato face a face na pesquisa científica em rede na área de farmácia

mesmo com o advento das tecnologias comunicacionais.

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2º Nó

As redes científicas na área de

farmácia em Pernambuco em face

do fomento da PNCTIS.

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2º NÓ AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE DO FOMENTO DA PNCTIS.

O impacto da PNCTIS no aumento de pesquisadores

trabalhando em rede e na produção de conhecimento científico.

Dentre os vários tipos de redes, e os vários subtipos de redes que o

conceito de rede científica possa abranger, o tipo de rede científica que aqui interessa

é a rede científica voltada para a produção de conhecimento, desde o básico ao

aplicado. Este conhecimento gerado por este tipo de rede é fundamental no

desenvolvimento científico e tecnológico da saúde, mesmo que não seja direta ou

imediatamente. Ele é a base material para a criação da inovação tecnológica.

Este tipo de rede científica é basicamente criada nas Universidades do país,

seguida dos institutos de pesquisa, laboratórios e hospitais (Brasil, 2006). Elas estão

pautadas sobre a lógica da PNCTIS com base na concepção da “extensividade

científica”. “A extensividade inclui toda pesquisa que visa ao avanço do conhecimento,

seja aquele de aplicação imediata ou não. Inclui, portanto, além da produção de

conhecimentos, as pesquisas voltadas para o desenvolvimento tecnológico e a

inovação” (BRASIL, 2006, p. 19).

Fomenta-se portando, a criação de redes científicas voltadas para a

produção de conhecimento, e pode-se avaliar a atuação da política de acordo com o

Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT), sobre cinco lógicas distintas: a)

formação de profissionais, b) aprovação de projetos, c) produção de artigos científicos,

d) tecnologias ou conhecimentos aplicados imediatamente no Sistema Único de Saúde,

e) registro de patentes.

Diante disso, este tópico, conjuntamente com o próximo, tem como meta,

alcançar o objetivo específico da pesquisa de “verificar se a PNCTIS tem estimulado o

aumento na formação de redes científicas, no número de pesquisadores trabalhando

em rede, e na produção de conhecimento na área de farmácia em Pernambuco”.

As principais perguntas a serem respondidas neste tópico são: Qual o

impacto da PNCTIS no aumento de pesquisadores trabalhando em rede, dentro e fora

do estado de Pernambuco, na área de farmácia? Qual o impacto da referida política na

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233

produção de conhecimento científico? Qual o impacto da mesma, na produção de

patentes na farmácia em Pernambuco? O alcance dos objetivos se dará por meio de

metodologia já exposta anteriormente.

Sobre o impacto na produção de artigos científicos, a figura nº 2 destaca a

evolução da publicação nas bases estudadas, na área de farmácia em Pernambuco.

Gráfico nº 2: Artigos publicados na área de farmácia em Pernambuco 2000 – 2010

Fonte: Elaboração própria a partir de:Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

A saber, o volume de trabalhos publicados entre os anos de 2000 e 2004

teve um crescimento de uma média de 20% aproximadamente, exceto o ano de 2001

que regrediu em relação ao anterior. É pertinente observar que a quantidade de

publicação até 2004 é bem inferior ao número que passa a surgir a partir do ano de

2005, primeiro ano de atuação da PNCTIS. De 2004 para 2005 mais que triplica a

quantidade de artigos publicados.

Do ponto de partida, o ano de 2000 e o final do ano de 2010, a publicação

de artigos cresceu 7 vezes e meia. Com exceção de 200960 a produção aumentou

razoavelmente. Claro que é importante ratificar que este tipo de aumento não se deve 60

Embora não se tenha dados precisos sobre possíveis motivações da baixa publicação em 2009 em relação ao crescimento exponencial desde 2005, percebeu-se que no ano anterior em 2008, foram fomentados 67 projetos para redes de cooperação pelo CNPq, bem menos do que nos anos de 2009 onde foram fomentados 84 e 2010 em que foram 77. Diminuição semelhante acontece com a CAPES. Levanta-se duas hipótese para a diminuição em 2009: a primeira delas o término do primeiro bloco de fomento formado de quatro anos de atuação da política em 2008 e o segundo a crise econômica mundial de 2008.

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234

exclusivamente a PNCTIS em si, o próprio investimento no geral dado pelo MS, ME e

MCTI em parceria, contribuiu para o aumento das taxas de produção de crescimento.

A ação da PNCTIS como já mencionado, não é isolada, existe uma série de atores

envolvidos. O aumento na criação dos Grupos de Pesquisa na área de farmácia

representado no quadro nº 3, é um deles.

Quadro nº 3: Evolução da quantidade de grupos de pesquisa e pesquisadores da área

de farmácia no Nordeste

UF 2000 2002 2004 2006 2008 2010

PE 9 11 14 11 13 15

BA 2 5 11 8 11 17

CE 10 7 8 6 9 13

PB 3 4 5 5 11 13

RN

2 3 2 4 5

SE 1

1 1 1 1

MA 1 3 1 2 1 1

PI

1 2

AL

1

4 6 Fonte: Elaboração própria a partir do censo CNPq (2012).

É importante destacar que o aumento no investimento por parte do MS,

ME e MCTI incentivou também o aumento na quantidade de grupos de pesquisa e da

quantidade de pesquisadores envolvidos. O CT-Proinfra61 que aumentou sua atuação

em face das novas diretrizes dadas pelo MS para a produção de conhecimento nas

universidades contribuiu para a modernização e consolidação de infraestrutura para a

pesquisa na área de farmácia.

Entretanto, o aumento por si só de conhecimento produzido não

significaria necessariamente o aumento no número de pesquisadores envolvidos. Uma

mesma rede pode produzir vários trabalhos resultantes de ações cooperativas sem a

necessidade do aumento do número de agentes.

61

Apoio financeiro à execução de projetos institucionais de implantação, modernização e recuperação

de infraestrutura física de pesquisa nas Instituições Públicas de Ensino Superior e/ou Pesquisa.

Page 235: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

235

Gráfico nº 3: Evolução do número de pesquisadores entre 2000-2010

Fonte: Elaboração própria a partir de:Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

O gráfico da evolução do número de pesquisadores atuando em rede segue

padrão semelhante ao dos artigos publicados. Entretanto, com algumas pequenas

diferenças, o número de pesquisadores ao final em 2010 é maior do que 3 vezes mais a

quantidade no ano de 2000. Se estabelecermos uma média ponderada pela

quantidade de pesquisadores atuando em rede nos anos entre o período de 2000 a

2004, e 2005 a 2010, teremos a média de 67,4 e 155 pesquisadores atuando em rede

por ano, respectivamente. A média dos últimos 6 anos mais que dobra em relação aos

5 primeiros.

É importante frisar que o volume de atores pesquisando em rede por ano,

não é o total absoluto, ou seja, muitos pesquisadores se repetem aparecendo em

várias publicações, sobretudo aqueles com maior densidade de relações na área de

farmácia. O cálculo para o valor anual final retira as repetições, neste caso um ator só

aparece uma vez por ano nos dados destacados anteriormente. Ou seja, os valores

mostrados anteriormente excluem as repetições anuais, a evolução da quantidade

detalhada pode ser vista a seguir:

Page 236: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

236

Gráfico nº 4: Número total de pesquisadores entre 2000-2010

Fonte: Elaboração própria a partir de:Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

O volume de pesquisadores é bem maior que o anterior, entretanto, o

número de participação de pesquisadores (ou repetição) em artigos também é bem

superior após o ano de 2005. Enquanto existe uma margem de aproximadamente 15%

de pesquisadores que aparecem no mesmo ano e mais de um trabalho cooperativo em

rede antes de 2005, após esse ano esta margem sobe para pouco mais de 20%.

Antes de 2005 a maior participação em mais de um trabalho era quase que

totalmente dos líderes de grupos de pesquisa ou professores das instituições em

Pernambuco, após 2005 esse número teve uma maior participação de outros

pesquisadores que não estivessem nesse grupo – a maioria orientandos de programas

de pós-graduações - e de pesquisadores de fora do estado (aumento no número de

conexões fora de Pernambuco) mesmo que em menor número.

Quanto ao impacto no aumento de redes estabelecidas com pesquisadores

de outros estados, e, sobretudo fora do país, os resultados sugerem que pouco se

conseguiu em termos de criação de vínculos com atores de outros países 62 ,

principalmente se levarmos em consideração àqueles vínculos duradouros em que os

pesquisadores cooperam em rede em mais de uma vez resultando em produção de

conhecimento. O gráfico a seguir evidencia a evolução dos pesquisadores atuando em

rede com base em três escalas: Pernambuco, Brasil e fora do Brasil.

62

Muito embora seja pertinente destacar que em 2010 teve-se o maior número de pesquisadores de outros países conectado com os Pernambucanos no período pesquisado, em um total de 22 pesquisadores de outros país (8% de todos os nós da rede).

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237

Gráfico nº 5: Espacialidade dos pesquisadores atuando em rede 2000-2010

Fonte: Elaboração própria a partir de: Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

As informações trazidas pelo gráfico destacam que sob o ponto de vista da

espacialidade dos pesquisadores, destaca que assim a grande concentração de

pesquisadores no estado de Pernambuco em 2000 (70%) aumenta significativamente

até o ano de 2010, em que, 72% dos atores estão no estado, mais precisamente na

Região Metropolitana de Recife em detrimento de poucas interações em rede que

resultaram em produção de conhecimento.

O estado que mais cooperou com Pernambuco foi o vizinho a Paraíba. Fora

da região Nordeste a maior parte das interações direcionaram-se para o Sudeste do

país, em especial São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Houve ainda pequeno

aumento na colaboração internacional com base nos resultados colhidos, o ano de

2010 foi o que mais concentrou este tipo de relação entre o período estudado.

Sobre o número de patentes depositadas no INPI nos mesmos anos, estas

por sua vez, permaneceram no geral ainda em pequeno número. Os depósitos e

registros para Pernambuco oriundos de pesquisadores da farmácia permanecem com

um padrão semelhante de quantidade neste período como aponta o quadro nº 4:

Page 238: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

238

Quadro nº 4: número de patentes depositadas no INPI por pesquisadores da área de

farmácia em Pernambuco entre os anos de 2000 e 2010

Ano Nº de

Patentes

2000 -

2001 -

2002 2

2003 3

2004 -

2005 1

2006 2

2007 1

2008 2

2009 2

2010 2 Fonte: Elaboração própria a partir de:Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

O número ainda é pequeno, se comparado ao volume de pesquisadores da

área e de outras áreas da saúde que atuam juntos no estado. A quantidade anual

permaneceu muito próxima ano após ano, exceto 2000, 2001 e 2004 que não foram

identificados registros de patentes na área. O quadro nº 5 a seguir destaca os registros

encontrados e a quantidade de atores envolvidos em cada projeto.

Quadro nº 5: Registro de patentes e atores envolvidos 2000-2010

Ano Nº Registro Nº envolvidos

2002 PI 0203153-1 1

2003 PI 0301912-8 5

2003 PI 0301912-8 5

2005 PI 0503991-6 8

2006 PI 0601826-2 A2 3

2006 PI 0601827-0 3

2007 PI 0701016-8 6

2008 PCT/BR

2008/0001 5

2009 PI 0906399-4 A2 3

2009 PI 000087 4

2010 PI 1006319-6 6

2010 PI 09063994 5 Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados do INPI e plataforma lattes

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239

Por meio das patentes, possibilitou-se o mapeamento das relações que

resultaram nos registros. O mapeamento pode ser visto com mais detalhe na o

sociograma (figura nº 20) a seguir:

Figura nº 21: Rede de relações que resultaram em patentes 2000-2010

Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados do INPI (2014) e plataforma lattes

No tocante aos trabalhos cooperativos em rede que resultaram em

registros de patentes, cabe destacar que todos eles foram coordenados por líderes de

grupos de pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco. Em todos os casos havia

pelo menos um líder de grupo de pesquisa da UFPE envolvido. Nenhum pesquisador

em qualquer tipo de instituição (hospital, laboratório, instituto de pesquisa, e

Universidade) coordenou ou participou de nenhum tipo de trabalho em grupo ou em

rede que resultasse em patente. As únicas presenças de pesquisadores fora de Recife

são destacadas pelos círculos pretos e correspondem a membros vinculados à

Universidade Federal do Rio de Janeiro, também pesquisadores da área de farmácia.

Além da concentração de Líderes de Pesquisa da Universidade Federal de

Pernambuco, com exceção do ano de 2003 em que houve participação de

pesquisadores da medicina, todos os trabalhos que resultaram em patentes são

Page 240: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

240

exclusivamente oriundos de pesquisadores da farmácia. Muito embora os dados do

IPNI (2013) indiquem que existam ainda 21 pedidos de patentes entre os anos de 2011

a 2013 de trabalhos realizados entre 2005 e 2010, podemos sugerir que a PNCTIS

pouco impactou no aumento de registros de patentes na área de farmácia nos últimos

anos, os resultados são bem menores se compararmos à inserção de pesquisadores de

outras localidades em redes locais que resultaram em patentes.

Por fim outro aspecto expressivo é quanto à interdisciplinaridade, os

registros de patentes cadastrados no INPI, na área em questão em Pernambuco, foram

feitos exclusivamente por pesquisadores da área de farmácia, não havendo interação

com qualquer área complementar.

O mapeamento das redes científicas na área de farmácia em Pernambuco nos anos de 2000 e 2010: Análise da evolução das relações entre os pesquisadores antes e depois da PNCTIS.

Este tópico, seguindo o anterior, destina-se a atender o objetivo específico

de “mapear as redes científicas dos pesquisadores pernambucanos na área de

farmácia antes e depois da PNCTIS, que permitam verificar mudanças na estrutura da

rede, nos laços, na espacialidade, na densidade e centralidade”.

O mapeamento nos permitirá visualizar em dois momentos distintos, 2000

e 2010, mudanças nos seguintes aspectos: a) o número de pesquisadores trabalhando

entre os dois anos, b) a densidade das relações em rede, c) a localização geográfica dos

pesquisadores, d) as instituições que aparecem conectadas por meio de seus agentes

dentro e fora de Pernambuco, e) os atores centrais da rede nestes anos, f) mudanças

na quantidade e nos padrões de conexões entre os pesquisadores e os grupos de

pesquisa.

Com relação à elaboração e manipulação da rede, os números de artigos

publicados e o número dos trabalhadores que cooperaram neles, serviram para a

elaboração de duas matrizes, uma de 70 x 70 (2000) refere-se a 10 redes, e outra de

259 x 259 (2000) no Excel, que posteriormente foram plotadas para o UCINET 6.109 e,

consequentemente, o mapeamento dos grafos com o auxílio do NETDRAW 2.28.

Page 241: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

241

Como já falado, o trabalho em rede é tão antigo quanto à própria produção

científica, quanto o fazer ciência, o grande diferencial de antes e agora, é o novo

patamar de possibilidades de conexões, trabalho e comunicação entre os pares. Assim

sendo, não há porque pensarmos que antes da atuação da PNCTIS os pesquisadores da

área de farmácia não se utilizassem desta abordagem para multiplicar os ganhos e

atingir os objetivos. Afinal, a contribuição de pesquisadores de diversas áreas é

tradicionalmente pré-requisito para o bom funcionamento da pesquisa nesta área.

Para facilitar a distinção dos autores, os círculos que representam cada um

foram categorizados de forma diferente para que se ficasse mais visível possível à

rede, dado o número de informações. Líderes de grupo de pesquisa, na área de

farmácia no estado de Pernambuco, estão categorizados com círculo vermelho;

pesquisadores no estado de Pernambuco, independente da instituição, com o círculo

azul; pesquisadores compreendidos dentro do nordeste, com o círculo laranja;

pesquisadores no sudeste, com o círculo verde; e pesquisadores fora do Brasil, com o

círculo amarelo. Os nomes dos autores foram expressos por números de acordo com a

quantidade de agentes, a relação de autores x números encontra-se em anexo ao final

deste trabalho.

No período apreço, especificamente o de 2000, foram encontradas dez

redes científicas que resultaram na produção de conhecimento, ou seja, de pelo

menos um artigo científico ou patente. O recorte permitiu localizar 10 trabalhos

publicados, e 14 redes existentes. Cabe lembrar que uma única rede pode produzir

vários trabalhos ou um único trabalho ser resultado da junção de várias redes. Quanto

ao número de pesquisadores, 81 foram mapeados, retirando as repetições, que são

pesquisadores que aparecem em mais de uma rede, temos um valor total de 70

pesquisadores ativos com base no recorte metodológico apresentado.

Wasserman & Faust (1999) definem que qualquer tipo de rede possui uma

estrutura e determinadas relações entre os atores. Para os autores, é por meio da

presença de certas regularidades ou padrões nas relações que definem a estrutura de

uma rede. A estrutura por sua vez, contém os canais pelos quais os atores trocam

bens, serviços, compartilham recursos e informações. O mapeamento da rede permite

entre outras coisas, identificar certos padrões que seriam a estrutura da rede.

Page 242: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

242

As relações em rede 63 em 2000 mapeadas, apresentam a seguinte

configuração, destacada pelo sociograma (figura nº 21) exposta a seguir:

Figura nº 22: Rede científica de farmácia em 2000

Fonte: Elaboração própria.

Quanto à estrutura da básica da rede64 (sociograma nº 1) no ano de 2000,

os dados sugerem que existe uma hierarquia e ao mesmo tempo segmentação das

relações, em outras palavras, de um lado encontramos em todas as ocorrências a

presença de um líder de grupo de pesquisa, não havendo nenhuma rede na base de

dados que não seguisse este padrão.

Por fim, as interações ficam limitadas internamente, que é onde existe a

mínima densidade na rede, não existe cooperação em rede que fuja além das criadas

dentro dos grupos de pesquisa. Estes por sua vez, são os principais agregadores,

juntamente com os líderes na construção de relações.

63

Para facilitar o acompanhamento do debate esta versão menor da rede foi inserida durante o texto, mas, a versão em uma escala maior com mais detalhes encontra-se nos anexos deste trabalho. 64

Sabe-se que na literatura de Análise de Redes Sociais a distância entre atores ou as redes é passível de análise. Entretanto, em nossa sistematização este viés não foi considerado, a proximidade dos atores na rede foi proporcionada pelo UCINET de forma que a visualização das conexões ficasse melhor.

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243

Neste ano a taxa de centralidade da rede é de 4,19% que aponta para

pouca centralidade das informações em atores específicos, esta característica poderia

apontar uma rede mais descentralizada, em que o fluxo de informação circulasse de

forma mais efetiva entre os nós o que não ocorre diante da pouca articulação entre os

vários grupos existentes nela.

As redes, mesmo aquelas que possuem pesquisadores de outras

localidades, são fruto da formação dos grupos de pesquisa, em virtude disso, a

presença dos líderes dos grupos. Os grupos de pesquisa são também os responsáveis

pelas únicas duas ocorrências de cooperação entre os líderes de pesquisa, neste caso

os nº 12 e 16, e os líderes nº 23, 26 e 33. É importante destacar que os grupos por sua

vez são exclusivamente oriundos da Universidade Federal de Pernambuco, não se

encontrando assim atores de nenhuma outra instituição no estado.

Em suma, o fluxo de informação sobre a ótica de produção de

conhecimento cooperativo em rede aparece limitado a estas pequenas formações, às

redes formadas pelos grupos de pesquisa, pelos laboratórios. A mesma ocorrência nas

relações se repete nos anos de 2001 a 2003.

A área de farmácia é fortemente dependente de interações, da troca de

informações e da divisões de atividades na produção de um novo conhecimento e/ou

medicamento, no tocante a rede do ano de 2000 é surpreendente não se verificar

nenhuma interação que fuja aos grupos de pesquisa. Embora esta informação não

tenha sido comprovada em campo, considera-se enquanto hipótese que existam

relações em rede nestes anos, mas que não resultaram em produção de conhecimento

ou eram parcerias que não tinham este objetivo.

Quando pensamos na interdisciplinaridade bem característica e necessária

para o desenvolvimento da farmácia, tanto em área acadêmica, quanto atividade

produtiva, o quadro nº 6 exposto a seguir mostra a interação com pesquisadores de

outras áreas.

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244

Quadro nº 6: Interdisciplinaridade de atores trabalhando em rede em 2000

Área Quantidade Percentual Farmácia 59 84% Química 6 8% Biologia 3 4% Física 1 2% Medicina 1 2%

Fonte: Elaboração própria

O quadro demonstra que assim como nos grupos de pesquisa, existe uma

concentração de pesquisadores exclusivamente da área de farmácia, a interação com

pesquisadores de outras áreas é pequena se considerarmos os números apresentados,

tanto de interações quanto de áreas envolvidas. O fato da maior parte das relações em

rede se concentrarem nos grupos de pesquisa, sobretudo voltados para a formação de

profissionais em níveis de graduação e pós-graduação, pode ser um dos fatores que

proporcionam tal concentração.

Quanto ao fluxo das conexões, e a espacialização dos pesquisadores, estas

por sua vez, são majoritariamente concentradas em Recife, em especial na

Universidade Federal de Pernambuco; o único estado do Nordeste que possui

interações, é o estado vizinho da Paraíba, que também é concentrada na capital João

Pessoa distante 120km de Recife.

E neste caso, todos os pesquisadores localizados na Paraíba já atuaram em

Recife (normalmente estudantes em níveis de graduação e pós-graduação) ou em

outros tipos de trabalhos antes de se mudarem definitivamente para a capital

paraibana. O mapa no 1 apresenta os fluxos das redes existentes em Pernambuco na

área de farmácia no ano de 2000, nele podemos compreender um pouco da dinâmica

das conexões no período em questão.

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245

Mapa no 1: Fluxos das conexões científicas de Pernambuco na área de farmácia em

2000.

Fonte: Elaboração própria.

O mesmo ocorre com os pesquisadores que aparecem fora do país, em

ambos os casos, França e Canadá, os pesquisadores que interagiram no ano de 2000 já

haviam interagido com os pesquisadores de Pernambuco por meio de programas de

pós-graduação. Internamente, a maior parte dos fluxos de conexões fora de

Pernambuco destina-se para o sudeste do Brasil, em específico São Paulo, Rio de

Janeiro, Minas Gerais.

O mapa nos mostra que as relações que se externalizam para fora do

estado, acabam seguindo a mesma lógica65 que outros fluxos: instituições menos

desenvolvidas tecnologicamente procurando se conectar com instituições mais

65

Quando mencionamos “a lógica” de outros fluxos no país, podemos utilizar o exemplo dos fluxos migratórios norte do país para o sudeste em face dos ciclos econômicos. Este é um ótimo exemplo pra explicar como outras dinâmicas acabam sendo reproduzidas também para a pesquisa científica em rede.

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246

desenvolvidas tecnologicamente localizadas nas regiões mais desenvolvidas do país,

como o caso dos estados do Sudeste, em especial MG, SP e RJ.

As redes estabelecidas com outros países ainda são poucas, havendo

poucas instituições conectadas. Sobre estas e as demais, o quadro nº 7, evidencia a

quantidade e as instituições que aparecem na pesquisa no ano de 2000 cooperando

com os pesquisadores de Pernambuco.

Quadro nº 7: Instituições que cooperaram em rede em 2000

Localização Número de

pesquisadores Instituição

Pernambuco 47 UFPE

Nordeste 4 UFPB

2 UFSCar

2 UNIFESP

1 USP

Sudeste 4 UFRJ

1 UFOP

2 UNICAMP

2 Uni. of Windsor – Canadá

Fora do país 3 Uni. Paris – França

2 Université Joseph-Fourier - França Fonte: Elaboração própria

Temos uma concentração de aproximadamente 67% de pesquisadores em

Pernambuco, 6% na Paraíba, 17% no Sudeste do país e 10% fora do país. A

concentração em Recife é tamanha, que mapeando as relações pesquisador-

instituição, vemos a criação de um cluster (sociograma nº 2). A maior parte dos

pesquisadores se conecta à UFPE e às instituições de fora também, todo o canal de

informações é coordenado pela referida instituição.

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247

Figura nº 23: Concentração de pesquisadores na Universidade Federal de

Pernambuco 2000

Fonte: Elaboração própria

No sociograma, os pesquisadores são representados pelos círculos e as

instituições pelos quadrados, as cores são as mesmas da legenda da figura anterior,

representam a localização das instituições envolvidas, e a UFPE ao centro. Assim

sendo, ela nos mostra a grande concentração geográfica de pesquisadores no estado

de Pernambuco, especialmente na UFPE, o que sugere que os maiores canais de

comunicação, informação e recursos estão na instituição, mesmo que não totalmente

articulados.

Qualquer ator que apareça produzindo conhecimento científico neste

período, por meio dos dados, tem se conectado direta ou indiretamente à UFPE ou a

um membro vinculado à esta, por isso a presença tão central dos líderes do grupo de

pesquisa destacados na figura anterior. É importante ratificar que essa concentração

se dá na cidade de Recife, não aparecem membros da instituição de outras localidades

do estado.

Quanto a identificação dos atores centrais, embora os líderes de pesquisa

concentrem as maiores relações de poder dentro da rede, pois além de coordenarem

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248

as redes de pesquisa, eles concentram a maior parte dos recursos traduzido na

responsabilidade dos laboratórios dos grupos de pesquisa, em termos de conexão. A

rede indica certo nível de similaridade nas relações de centralidade uma vez que existe

um número muito próximo de conexão entre todos os membros. Categorizando a rede

pelo cálculo de centralidade (betweenness centrality) com base na proposta de

Hanneman & Ridle (2006), temos o seguinte sociograma (figura nº 23) expressa a

seguir:

Figura nº 24: Atores centrais na rede de farmácia em 2000

Temos em primeiro nível o pesquisador 23 como ator central, em segundo

nível os pesquisadores 12, 17, 26, 33 como centrais. Os pesquisadores 23, 12 e 17 além

de centrais na rede atuam também como atores ponte como acesso a outras

estruturas da rede. Em todos os casos, como já destacado, os maiores níveis de

centralidade são concentrados nos líderes dos grupos de pesquisa. Quanto ao cálculo

da densidade da rede, este fora obtido por meio da fórmula L/(N(N-1)/2) já

apresentada na metodologia do trabalho.

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249

O resultado obtido é de uma densidade de 2,8% de laços possíveis na rede,

onde, para Hatala (2006), e Hanneman & Ridle (2006), o ideal66 para esse tipo de

estrutura é igual ou superior a 50%. Contudo a densidade como próxima do ideal

proposta pelos autores trata de comunidades com número de agentes bem maiores e

não grupos acadêmicos. Mesmo com estas considerações é importante relativizar que

estamos falando de Pernambuco, uma região periférica.Neste caso, a densidade

pernambucana é muito pequena por que ela se restringe essencialmente aos grupos

de pesquisa e não se externalizando para outros agentes no estado e fora dele. O

sociograma (figura nº 24) demonstra a baixa densidade da rede em 2000.

Figura nº 25: Densidade da rede de farmácia em 2000

Fonte: Elaboração própria

Estes resultados demonstram a baixa concentração dos laços entre os

participantes independendo da direção que o laço ocorra. Os laços se direcionam

apenas para seus pares do outro lado da rede formado pelos membros dos grupos, os

66

Porém, é importante relativizar estas informações. O volume de densidade mínimo ideal para uma maior democratização do conhecimento, maior fluxo e maior possibilidade de criação de laços para este tipo de estrutura é de um valor igual ou superior a 50% de acordo os autores. Entretanto, estamos falando de uma região retardatária, Pernambuco, de um país periférico, Brasil. As perspectivas que tem impulsionado o aumento nessa dinâmica são recentes, e esbarram em contextos geográficos distintos. Como o próprio acesso a fomento de Políticas Públicas ou mesmo a própria difusão tecnológica. O aumento na densidade das relações ainda é um grande obstáculo para esta modalidade.

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250

seus vizinhos, sobretudo aqueles que atuam na mesma instituição não interagem. Isso

ocorre pelo fato de que existem pequenos e poucos grupos existentes no estado, além

da pouca conexão entre eles. Segundo Hatala (2006), uma baixa densidade da rede

indica uma conexão pobre da rede entre os membros do grupo e podem impactar no

fluxo de informações requeridas para um nível aceitável.

Isso impacta não só na construção de relações duradouras, mas também

na de capital social e traduzido em redes de confianças com retornos para todos. A

informação fica segmentada e seu fluxo debilitado, se concentrando exclusivamente

nos pequenos núcleos que pouco potencializam suas informações e suas capacidades

produtivas em face de sua pequena capacidade de interagir e cooperar.

Após o cenário apresentado em 2000 com a criação da PNCTIS em 2004 e

seu estímulo já no mesmo ano, selecionamos o ano de 2010 para analisarmos a rede

científica pernambucana, agora com novos incentivos e a possível inserção de novos

agentes. No ano em questão, teve-se um salto para 259 pesquisadores ativos

mapeados, retirando-se as repetições, o que levaria a um total de 311 atuações. A

respeito do número de trabalhos publicados já apresentados anteriormente, foram

encontradas 84 formações de redes científicas em 2010. Esse recorte permitiu a

construção do sociograma67 exposto (figura nº 5) a seguir:

67

Uma versão em qualidade superior encontra-se em anexo neste trabalho.

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251

Figura nº 26: Rede científica de farmácia em 2010

Fonte: Elaboração própria

Em 2010, de forma semelhante ao padrão das relações ocorridas em 2000,

a maioria das redes construídas são oriundas de grupos de pesquisas, de

pesquisadores que colaboram na maioria dos casos nas mesmas instituições, estas por

sua vez essencialmente são sempre coordenadas por um líder destes grupos. Em

outras palavras, em todas as redes mapeadas no ano em questão houve a participação

de um líder dos grupos.

O agrupamento das redes estabelecidas, pode ser dividido em dois

aspectos: o primeiro deles a parte mais densa, com um volume maior de conexões,

pesquisadores e redes, em que há maior nível de conectividade entre os membros

diminuindo a distância entre todos na formação. O segundo formado pelos

agrupamentos de pequenas redes dispersas da parte mais densa sem nenhum tipo de

interação coordenadas pelos líderes 219, 239 e 247. Estas redes apresentam o mesmo

padrão nos anos de 2009 e 2011 quanto a conectividade, ou seja, não possuem

qualquer vínculo com a parte mais densa da rede pernambucana.

Page 252: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

252

Embora este tipo de “vazio” entre as redes no estado tenham diminuído

significativamente, a exemplo do ano de 2000 em que todas as estruturas se limitavam

exclusivamente aos grupos de pesquisa, é importante destacar que todas estas são

estruturadas a partir da Universidade Federal de Pernambuco, isso implica dizer que,

mesmo habitando a mesma instituição, o estabelecimento de cooperação em rede

entre os pesquisadores não é algo simples de se potencializar.

Además, durante o período após a atuação da PNCTIS o estabelecimento

de pesquisa científica em rede seguiu fluxo semelhante ao período antecessor, de

certa instabilidade, os pesquisadores pouco se inserem em estruturas de pesquisa

mais duradouras, a maior parte das conexões são ocasionais e por períodos limitados.

A maior continuidade das relações ainda está localizada naquelas redes oriundas dos

grupos de pesquisa, em especial em três casos: pesquisadores líderes do mesmo

grupo, compartilhamento de temas correlatos, pesquisadores em formação

(graduação e pós-graduação).

Contudo, como mostrado no sociograma, houve maior adensamento das

relações de um modo geral em toda a rede no estado de Pernambuco, a maior parte

dos pesquisadores pode ter acesso ao outro por meio dos seus laços. Para tal, por

meio do aumento de nós e pontes na rede, os atores podem chegar facilmente até

outros, o que diminui a distância entre os membros de uma rede e facilita a

transmissão de conhecimento e a troca. A oportunidade para a criação de novos laços

fracos aumenta significativamente com estas particularidades.

Os principais agentes responsáveis pela conexão da rede são os líderes de

pesquisa, eles possuem não só a maior centralidade e maior número de conexões nas

redes coordenadas por eles, mas são os maiores responsáveis por funcionarem como

ponte entre as redes. Em específico encontramos a existência de 22 líderes de

pesquisa servindo como atores pontes na rede.

A relevância dos líderes enquanto atores ponte na rede, é tamanha que,

sem suas conexões, a rede mais densa seria dividida em 18 redes menores, sem

nenhuma conexão. Isso implica em compreendermos que, a grande maioria das redes

só se conecta mediante a força política dos líderes.

Esse maior adensamento das relações, contrariamente em 2000

proporcionou o mapeamento de novos “atores ponte” que não exclusivamente os

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líderes, atuando como “hubs” no fornecimento, acesso e troca de informações,

participando de mais de uma rede científica e atuando com vários agentes, não

meramente os líderes e aqueles dos grupos de pesquisa ao qual fazem parte.

Nesta circunstância, foram mapeados 11 atores que atuam também como

ponte, com menos centralidade na rede, mas que possuem significativa relevância de

conexão, mesmo que subordinados à centralidade dos líderes. A formação, em nível de

graduação e pós-graduação, nas instituições Pernambucanas permitiu a existência

destes membros. Em outras palavras, todos eles se formaram em Pernambuco e

fizeram mestrado e doutorado no estado sob a orientação de um dos líderes

mencionados.

O papel central e concentrador de relações na rede por parte dos grupos

de pesquisa é apresentado pelo sociograma (figura nº 26). Nele podemos reiterar o

papel de importância e centralizador de laços por parte dos pesquisadores

estabelecidos na Universidade federal de Pernambuco. Até mesmo para as três

ocorrências em que existem atores com relevante importância estes estão associados

essencialmente aos líderes.

Figura nº 27: Atores centrais na rede de farmácia em 2010

Fonte: Elaboração própria

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254

O sociograma acima evidencia os principais atores no ano em questão, no

tocante, é importante ratificar o que já vem sendo destacado: os líderes dos grupos de

pesquisa são os principais agentes centrais da rede com os maiores números de

contatos e relevância dentro da rede. Os poucos atores que se mostram expressivos,

que não são líderes de grupos de pesquisa estão diretamente associados a estes.

Ser ator central, requer compreendermos o impacto nas relações de poder

existentes no estado, na concentração dos nodos e mecanismos para a produção de

conhecimento e acesso a pessoas e objetos, a relações, a grupos, a editais e a pesquisa

científica propriamente dita. Mesmo as três ocorrências com centralidade

intermediária (113, 144 e 204) estão hierarquicamente subordinados aos líderes de

seus grupos, e consequente seus orientadores na formação profissional (graduação e

pós-graduação).

Assim, a centralidade de relações, implica não exclusivamente maior

acesso a um maior número de vínculos, mas significa considerar também enquanto

resultado temporal de pesquisas, acesso a bens, editais, recursos e materiais, que são

fundamentais para o avanço acadêmico tanto quanto para o avanço social dos nós.

Para termos uma noção mais exata da centralidade da rede, enquanto no

ano de 2000 tínhamos uma taxa de 4.19% em 2010 este valor sobe 10.53%. É claro que

o último ano da pesquisa aponta para uma rede mais centralizada em relação a 2000,

contudo este maior volume é resultado do aumento dos grupos de pesquisa e das

pessoas trabalhando em conjunto. Como é uma característica particular das redes

pernambucanas as informações passarem pelos líderes, é que verifica este percentual

de concentração de poder destes pontos.

Nestes termos, estas particularidades permitem vislumbrar que certas

centralidade e poderes podem ser reproduzidos e fortalecidos, em detrimento de

outros. Assim, alguns grupos ou atores estabelecem poder por meio de seus nós e seus

acessos a bens materiais o que dificulta a polarização do conhecimento, inserção de

novos agentes e aumento na densidade sobre o ponto de vista de uma rede mais

ampla com mais vínculos e atores inseridos.

Quanto a densidade da rede científica pernambucana, o sociograma (figura

nº 7) nos mostra em termos de conexões a densidade das relações estabelecidas em

2010.

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Figura nº 28: Densidade da rede de farmácia em 2010

Fonte: Elaboração própria

O sociograma apresentado acima destaca que os valores resultantes das

relações continuam significativamente baixos, muito embora tenha havido significativo

aumento no período em questão. Enquanto em 2000 havia 2,8% de laços possíveis

entre os pesquisadores mapeados no estado, dez anos depois, a mesma rede, com

novos membros, e novos estímulos por meio das agências de fomento coordenadas

pela PNCTIS, teve-se um salto em termos de contatos entre os membros resultando

em 14,7% de laços possíveis .

Estes valores podem parecer pequenos em termos absolutos, entretanto,

pensando no crescimento de relações possíveis dentro da rede, é salutar tal resultado,

sobretudo do ponto de vista da criação de pontes e conexões entre os grupos. Para

este tipo de rede – a rede científica – que tem como foco principal a produção de

conhecimento o aumento na densidade significa mais contatos entre os membros,

mais possibilidade para a criação de novos laços e fortalecimento de velhos.

Porém, os resultados ainda se mostram bem aquém dos necessários para

este tipo de estrutura, principalmente porque, como já destacado, a maior

porcentagem da densidade se encontra dentro de redes fechadas, formadas por

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256

grupos de pesquisa, neste caso, como apresentado, os contatos tendem a

aumentarem o fluxo de informação mais com os seus “vizinhos” do que com aqueles

que estão “longe68”.

Quanto a espacialidade dos atores que interagem em 2010, pelo que já

abordamos até agora podemos ter uma noção que destes, a grande maioria está

concentrada no estado de Pernambuco, e em particular na Região Metropolitana de

Recife (RMR). Desta forma, 195 pesquisadores (75%) de todos os mapeados estão em

Pernambuco, 19 (8%) estão na região Nordeste, 3 (1%) estão na região Centro Oeste,

12 (5%) no Sudeste, 8 (3%) no Sul do Brasil, e 22 (8%) estão em outros países.

É pertinente ressaltar que com relação aos fluxos das conexões houve

significativo aumento em relação as redes estabelecidas com pesquisadores de outros

estados do país, e outros países principalmente. O mapa No 2 apresenta algumas

mudanças no estabelecimento de redes científicas e consequemente no fluxo das

relações no ano de 2010 após a atuação da PNCTIS.

68

Quando falamos em “longe” é tanto no sentido de distanciamento geográfico em termos de distância, quanto distância em termos de possibilidade de estabelecimento de conexões. Como os pesquisadores que atuam na mesma área e na mesma instituição mas que não estabelecem qualquer tipo de vinculo que resulte em pesquisa científica cooperativa.

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Mapa No 2: Fluxos das conexões científicas de Pernambuco na área de farmácia em

2010.

Fonte: Elaboração própria.

Além do aumento nos fluxos no próprio nordeste com estados vizinhos, a

PNCTIS, conseguiu estimular, o crescimento nas conexões fora do país, sobretudo, a

construção de uma rede científica de maior densidade estabelecida por pesquisadores

de vários países que incluiu pesquisadores pernambucanos, a rede pode ser observada

a direita do mapa mostrando as conexões entre India, Paquistão, França, Marrocos e

Pernambuco.

Mais do que “apenas” promover a consolidação de uma rede científica

entre um pesquisador pernambucano e pesquisadores de um país específico, a rede

em questão passa para o patamar do estabelecimento de conexões entre uma rede

mais densa com vários atores de países distintos. Isso seria o segundo estágio da

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consolidação do trabalho cooperativo em rede que permite que insira membros de

várias nacionalidades trabalhando em equipe e não “somente duas”.

Por outro lado, os fluxos fora do nordeste reforçam a trajetória em direção

ao sudeste e ao sul do país. Nada se vê em termos de aumento nas relações entre

todos os estados do Nordeste ou mesmo entre estados de outras regiões como o caso

do Norte e do Centro Oeste. Assim como a urbanização brasileira, a densidade das

relações em rede do ponto de vista acadêmico são focadas no litoral do país, em

detrimento da parte mais ocidental, ainda existem vários “vazios” a serem preenchidos

nesta concepção.

Quanto às instituições que aparecem em cooperação, o quadro nº 8

exposto a seguir destaca as mesmas e a quantidade de atores que as representaram.

Quadro nº 8: Instituições que cooperaram em rede em 2010

Localização Número de

pesquisadores Instituição

180 UFPE

11 UFRPE

Pernambuco 3 Aggeu Magalhães/FIOCRUZ

1 IMIP

4 UFPB

4 UFRN

Nordeste 7 UFC

1 UFPI

1 UFAL

2 Oswaldo Cruz – BA

Centro Oeste 3 UNB

2 UNICAMP

Sudeste 2 UENF-RJ

7 USP

1 UFOP

1 UFSC

Sul 3 UFRJ

3 UFRS

1 PUC-RS

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259

2 Universit of California-USA

3 Jamia Millia Islamia - Índia

2 Faculté des Sciences Dhar Mehraz - Marrocos

4 Université de Rennes - França

Fora do Brasil 2 Bahauddin Zakariya University - Paquistão

2 Universidad de Valencia - Espanha

2 Unisidade de Porto - Portugal

4 University de Dundee - Escócia

1 Universidad Santiago de Compostela - Espanha Fonte: Elaboração própria

Nos últimos anos, sobre a metodologia apresentada, 2010 foi o ano que

teve o maior número de pesquisadores estrangeiros atuando em rede, embora em

pequeno número e com uma quantidade pequena de instituições e atores de outros

países atuando em rede se considerarmos a quantidade de países e editais lançados

para o estabelecimento de cooperação em rede expostos anteriormente. Outro

aspecto pertinente é que ao contrário do que havia nos anos anteriores a 2005 outras

instituições apareceram como o caso da UFRPE, IMIP, FIOCRUZ embora em números

pequenos se contextualizarmos com a quantidade fornecida pela UFPE.

Todos os pesquisadores estrangeiros se conectam obrigatoriamente com

pesquisadores oriundos da UFPE. A grande concentração de pesquisadores nesta

instituição não só permanece como se acentua, em outras palavras, a quantidade de

pesquisadores cresceu em 2010, mas também cresceu o aglomerado destes na

instituição. Para termos uma visão mais clara do que se está falando, o sociograma a

seguir (figura nº 28), destaca o cluster de pesquisadores que se forma em torno da

UPFE.

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Figura nº 29: Concentração de pesquisadores na Universidade Federal de

Pernambuco 2010

Fonte: Elaboração própria

Pode-se visualizar pelo sociograma a grande concentração na UFPE e a

particularidade de que, todo fluxo de informação ou cooperação tem que

obrigatoriamente passar por ela, qualquer tipo de pesquisador que tente acessar a

outro sobre esta lógica, terá que necessariamente ter uma conexão com algum

membro existente na UFPE, assim todas as demais instituições ficam subordinadas

hierarquicamente a Universidade Federal de Pernambuco.

Enquanto o aumento de pesquisadores é claramente algo positivo, a

concentração em uma única instituição no estado, revela pouca diversificação de

recursos e até pouca democratização de conhecimento sobre a pesquisa na área uma

vez que a maior parte dos membros se reportam a UFPE obtendo maior acesso a

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fundos e a equipamentos enquanto outras instituições permanecem em situação de

dependência.

Claro que a maior parte dos grupos de pesquisa na área de farmácia do

estado de Pernambuco se concentram na UFPE, contudo, nem todos os pesquisadores

ativos no estado se encontram nesta, tanto aqueles da área em específico quanto os

de áreas complementares, sem mencionarmos as outras instituições importantes

existentes como o Laboratório Farmaceutico de Pernambuco (LAFEPE), o

HEMOCENTRO DE PERNAMBUCO (HEMOPE) e os diversos laboratórios, hospitais e

outras universidades públicas e privadas. O próprio fato de que todas as redes

mapeadas possuem obrigatoriamente um líder de grupo de pesquisa da UFPE aponta

este problema.

Estas questõs podem influenciar resultar também em uma maior

concentração de pesquisadores da própria área, dificultando a interdisciplinaridade

tão importante para o desenvolvimento científico da área da saúde, e parte integrante

da atuação da PNCTIS. O quadro nº a seguir, evidencia os áreas de formação dos

pesquisadores que aparecem em 2010.

Quadro nº 9: Interdisciplinaridade de atores trabalhando em rede em 2000

Área Quantidade Percentual

Farmácia 206 80%

Biologia 23 9%

Química 21 8%

Medicina 6 2%

Física 3 1% Fonte: Elaboração própria

Nenhuma outra área da ciência foi encontrada em 2010 que diferenciasse

das já apresentadas anteriormente dispostas no quadro. A maior mudança esteve no

quantitativo de pesquisadores atuando, embora a grande maioria esteja concentrada

essencialmente na grande área da farmácia. Do ponto de vista da

Interdisciplinariedade a PNCTIS pouco impactou na inserção de pesquisadores de

outras áreas com competências complementares.

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262

3º Nó

O ESPAÇO GEOGRÁFICO NA

CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO

DAS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA

DE FARMÁCIA E PERNAMBUCO .

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263

3º NÓ O ESPAÇO GEOGRÁFICO NA CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO DAS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO

Introdução

O olhar e análise do espaço geográfico, para nós, deve seguir a mesma

compreensão da impossibilidade de abordagem do todo, isto se justifica pelo fato dele

ser a conjução de uma série de sistemas de sistemas, e possuir uma infinidade de

multiplicidades que inviavelmente poderiam ser abordadas em sua plenitude. Da

mesma forma que utilizamos um recorte temporal, espacial e metodológico para a

pesquisa, utilizamos um recorte para analisar a importância dele na construçã e

funcionamento das redes fomentadas pela PNCTIS.

Assim, utilizamos, além das informações já apresentadas nas conexões

anteriores, três principais pontos, ou recortes para analisar a importância do espaço

geográfico na construção e funcionamento das redes, além dos próprios contornos

proporcionados pelas conexões em redes apresentadas nos mapeamentos anteriores.

Em outras palavras, ao mesmo tempo que são recortes, eles são enfoques

e objetivos específicos. Para tal para este último nó desta útima conexão pretendemos

abordar os seguintes objetivos específicos da tese: “Verificar os possíveis desníveis

entre projetos aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em

Pernambuco em relação a outros estados no país”, “Investigar quão relevante é a

proximidade geográfica para aqueles que cooperam em rede, tomando como base a

área de farmácia e os pesquisadores pernambucanos em rede, e na produção de

conhecimento na área de farmácia em Pernambuco”, e “Pesquisar se mesmo com o

advento das tecnologias informacionais e comunicacionais, o contato face a face ainda

é relevante em algum momento da construção ou funcionamento da pesquisa

científica em rede na área de farmácia em Pernambuco”.

Desta forma, dividimos esta seção em dois tópicos: o primeiro deles, “O

espaço geográfico enquanto temporalidades científicas e técnicas: os desníveis entre

projetos aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em Pernambuco e no

Brasil” visa apresentar a compreensão já destacada, do espaço geográfico enquanto

contexto histórico e temporalidades, mostrando as divergências entre editais

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aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em Pernambuco com o

restante do país.

O segundo, “Espaço e tecnologias comunicacionais: Quão importante é

“estar aqui” na pesquisa científica em rede na área de farmácia” pretende evidenciar

por base nas redes e nas entrevistas quão é importante a proximidade geográfica e os

contatos face a face para aqueles que cooperam por meio da pesquisa em rede na

área de farmácia em Pernambuco.

O espaço geográfico enquanto temporalidades científicas e

técnicas: os desníveis entre projetos aprovados para a pesquisa em rede

na área de farmácia em Pernambuco e no Brasil.

Ao se tratar do espaço geográfico, Massey (2005) destaca como já falado,

que este por sua vez é resultado de um conjunto de multiplicidades, e estas por sua

vez explicariam os diversos delineares sociais, sobretudo se olharmos os contextos

histórico-geográficos em que estes são contruídos ou produzidos. Para a autora,

compreender as multiplicidades geográficas e os seus respectivos contextos, é

compreender as diversas adversidades e potencialidades que acompanham os diversos

espaços produzidos cotidianamente e historicamente.

Isso implica em consideramos que, para a lógica da construção e

funcionamento das redes científicas sob o ponto de vista do fomento da PNCTIS, é

importante relativizarmos e analisamos os diversos espaços geográficos regionais

produzidos dentro do espaço geográfico brasileiro. Ou seja, compreendermos os

diversos sistemas de sistemas que compõem as diversas escalas, os diversos olhares,

as diversas sociedades, enfim, as diversas particularidades existentes em nosso país.

Ora, se existe um Brasil, este por sua vez não é homogêneo, e não é, pois

ele é resultado de geograficidades distintas ocorridas ao longo de anos. Trata-lo como

igual é remetê-lo a um invólucro único, onde as temporalidades ocorreram e ocorrem

da mesma forma, e consequentemente proporcionariam mesmos resultados.

Compreender estas questões é fundamental na estruturação de uma política de

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265

atuação eficaz voltada para as diferenças regionais, preparada para atingir resultados

diferentes em espaços geográficos distintos.

Contudo, ao se observar a lógica estabelecida na construção das formas de

atuação, das linhas de pesquisa, e de fomento, os resultados em termos de editais,

projetos e verbas aprovadas nestes primeiros anos da PNCTIS, o que se observa é

pouca compreensão destas particularidades no que compete a uma construção mais

heterogênea em termos do incentivo a construção de redes, e principalmente da

própria compreensão dos agentes que atuam no país.

Primeiramente, a própria construção da política enquanto resultado de

uma série de convenções - como já apresentado em nossa linha do tempo -

concentrou-se no sudeste do país e no Distrito Federal. Embora tenha havido

participação de pesquisadores brasileiros de diversos estados e estrangeiros, o debate

pouco foi estendido a instituições e pesquisadores de outras regiões.

Consequentemente, a formulação do texto final e de suas ações de

fomento foi feito em uma estrutura “horizontal e homogênea69” com um único viés

principal de fomento para todos os estados – mesmo que com diversos editais – o que

consequentemente pouco proporcionou a dinamização da construção de laços a longo

prazo internamente no país.

Ou seja, os editais, em sua grande maioria, exceto aqueles voltados para

particularidades regionais – e mesmo estes alguns possuem abrangência nacional –

são lançados por igual, atendendo ao país como um todo. O que se observa é uma

lógica que considera que todos os centros do país estão em capacidade semelhante

para concorrer.

Em outras palavras, existe uma grande diferença entre o número de

instituições existentes no país, o número de pesquisadores e o próprio know-how

acumulado. Isso resulta em uma enorme concentração de pesquisas aprovadas em

determinados estados ou regiões e outras com pouquíssimas aprovações ou mesmo

69

Consideramos este olhar em virtude da grande massa de fomento para a pesquisa em Rede. E consideramos também a existência dos editais de encomenda, ou editais direcionados para determinadas regiões ou para problemas específicos. Porém, mesmo com os editais mais “específicos” as regiões focadas concorrem de igual para igual com os maiores centros em termos de aprovação para editais, o que provoca em curto prazo significativa discrepância entre a quantidade de editais aprovados e verba destinada para esta modalidade de pesquisa no país.

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nenhuma. A democratização do conhecimento, a maior integração dos fluxos de

informações e pessoas no país tende também a ficar concentrado em poucos centros.

Por exemplo, mesmo para os editais de encomenda, ou para editais

específicos para determinadas regiões ou condicionantes de saúde local, a grande

parcela das chamadas é de ordem nacional, isso acarreta que, em algumas

circunstâncias, instituições com maior número de pesquisadores, equipamentos de

pesquisa acabam por aprovar um número maior de projetos de pesquisa em

detrimento das instituições locais com menor capacidade “competitiva”.

Isso faz com que, instituições locais pouco agreguem em termos de

conhecimento ou construção de infraestrutura sobre necessidades suas locais,

cotidianas. O fluxo de informação e as relações de cooperação em rede, em vez de

serem coordenados pelas instituições de regiões mais pobres, passam a serem

coordenadas pelas instituições ou regiões mais avançadas cientificamente. Isso pode

acarretar que, as instituições locais adquiriam pouco know-how sobre necessidades

cotidianas e pouco possam intervir no direcionamento das suas redes de cooperação.

Para entendermos um pouco do que está sendo falado, é importante que

consideremos que, a construção de instituições de ensino e pesquisa no Brasil se deu

de forma desigual por todo o seu território, neste ponto de vista o país possui

significativas temporalidades. Em especifico, temos o caso de Pernambuco.

Pimentel Neto (2008) destaca as diferenças brasileiras em Ciência,

Tecnologia e Inovação tomando como ponto de partida o espaço geográfico

pernambucano, para o autor o atraso na construção de instituições de ensino e

pesquisa no estado, em relação a outras regiões como a de São Paulo, Minas Gerais e

Rio de Janeiro promoveu significativas disparidades se comparamos Pernambuco a

outros estados.

Sendo o espaço geográfico resultado de temporalidades distintas na sua

produção, ao observamos a evolução dos processos tecnológicos, de criação de

infraestrutura, e de Instituições de Ensino e Pesquisa, vemos Pernambuco enquanto

estado retardatário se compararmos aos estados do Sudeste agora mencionados.

Somente em 1902 iniciou-se a construção da primeira faculdade de Saúde

do estado de Pernambuco, localizada em Recife que é justamente a faculdade de

farmácia, esta por sua vez foi impulsionada, sobretudo pela Constituição de 1895 e

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resultante também dos esforços de Alfredo Arnóbio Marques, Alcides Codeceira e João

Baptista Regueira Costa (PIMENTEL NETO, 2008).

Ou seja, somente no início do século tem-se a criação da primeira

instituição de ensino superior do estado no campo da saúde. Somente uma década

depois, em 1912 é fundada a Escola Politécnica (atual Universidade de Pernambuco)

que impulsionou posteriormente a criação da segunda Faculdade do Recife que é a de

Odontologia. E em 1920 fora criada a primeira Faculdade de Medicina do Recife.

Somente 22 anos depois é iniciada a criação do Instituto de Tecnologia de

Pernambuco (ITEP) e, “é especialmente neste momento que Pernambuco não consegue

mais acompanhar o nível nacional, tendo um processo mais lento que os do Sudeste.

No Brasil que já está criando Universidades desde pouco antes de 1932” (PIMENTEL

NETO, 2008, p. 57-58). Mais detalhadamente o autor evidencia que,

Porém devido ao atraso na criação das infraestruturas, é somente neste período [1940] quando está começando o processo de criação das universidades em Pernambuco. Antes disso, a única coisa que aparece de destaque é a criação do Sindicato de Médicos de Pernambuco (SIMEPE) e mesmo assim não é uma instituição de pesquisa ou/e ensino. Vale ressaltar que até esse momento, Pernambuco não apresenta iniciativas que incluam instituições de pesquisa científica. Desde o início da criação das instituições de ensino para a área de saúde a preocupação é a formação de profissionais na área (PIMENTEL NETO, 2008, p.58).

A primeira Universidade de Pernambuco é a Universidade Federal de

Pernambuco, criada somente em 1946, catorze anos do marco brasileiro de

impulsionar a construção de instituições voltadas para o ensino e pesquisa. E mesmo

assim, nela ainda não existia o curso de medicina que só foi incorporado no ano de

1958.

Em 1947, é criado o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros

(CISAM) da UPE, que tem o foco principal na formação de profissionais, ou seja, no

ensino. Também é criada no mesmo ano, a Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), que

junto com o ITEP para Pimentel Neto (2008) são as principais instituições de pesquisa

deste período. E em 1949 é criada a Secretaria de Saúde de Pernambuco.

Em 1945 é criada a faculdade de ciências médicas da Universidade de

Pernambuco (UPE) e, somente em 1951 é criada a segunda Universidade de

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Pernambuco a UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco). Já bem recentemente

em 1960 que é criado o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP) que

atualmente é uma das principais instituições referências em pesquisa médica de

Pernambuco.

Em 1966 é fundado do Laboratório Farmacêutico do Estado de

Pernambuco (LAFEPE) principal referência em produção de medicamentos do estado,

e somente em 1970 é criado um dos principais institutos de pesquisa de Pernambuco,

o Centro de Pesquisas Aggeu Magallhães/FioCruz (CPqAM), que contrasta, por

exemplo, com a criação do Instituto Manguinhos/FioCruz do Rio de Janeiro que já

havia sido criado em 1900, ou do Centro de Pesquisa René Rachou/FioCruz criado em

1955 em Minas Gerais.

Em 1977 fora criada a Fundação de Hematologia e Hemoterapia de

Pernambuco (HEMOPE) e em 1986 o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami

(LIKA). Em toda essa trajetória de criação de instituições no estado de Pernambuco,

além do próprio caráter tardio de suas criações e a o enfoque mais voltado para a

questão do ensino é importante destacar que todas foram instituídas na Região

Metropolitana de Recife, pouco ou nada agregando ao interior do estado em termos

de Pesquisa.

Isso não só concentrou no estado a esmagadora parcela dos pesquisadores

ativos no estado na RMR como a construção de infraestrutura técnica, em especial o

sistema de objetos necessário à realização da pesquisa (laboratórios, Universidades,

Salas, equipamentos...). Somente no ano de 2000 criou-se o plano de interiorização

das Instituições de Pesquisa, Ensino e Extensão no estado.

Estes aspectos proporcionaram não só atraso de Pernambuco em relação a

outros estados, como proporcionou a instauração de temporalidades distintas – como

haveria de ser – entre Pernambuco e outras regiões. Se olharmos sob o ponto de vista

do censo do CNPq (2010) dos grupos de pesquisa na área de farmácia exposto na

tabela no 11, tomando como ênfase a quantidade de grupos de pesquisa, de linhas, de

pesquisadores envolvidos e de estudantes observamos o grande desnível em termos

de massa crítica no país.

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Tabela no 11: Grupos de Pesquisa na área e farmácia no Brasil em 2010

Área do conhecimento / UF Grupos Linhas de Pesquisa Pesquisadores Estudantes

Alagoas 6 34 39 97

Amapá 2 11 25 13

Amazonas 5 20 40 58

Bahia 17 62 121 123

Ceará 13 75 123 184

Distrito Federal 6 53 48 77

Espírito Santo 3 5 22 27

Goiás 10 41 72 173

Maranhão 1 3 10 15

Mato Grosso 1 5 6 3

Mato Grosso do Sul 2 9 11 28

Minas Gerais 35 159 300 300

Paraná 43 188 316 377

Paraíba 13 79 132 163

Pará 6 25 60 58

Pernambuco 15 72 156 230

Piauí 2 5 19 33

Rio Grande do Norte 5 37 135 227

Rio Grande do Sul 42 175 353 475

Rio de Janeiro 33 107 285 214

Santa Catarina 27 121 174 299

Sergipe 1 3 16 79

São Paulo 97 357 624 662 Fonte: Diretório dos grupos de Pesquisa do CNPq, censo de 2010.

Os dados apresentados pela tabela no 11 acima, destacam as diferenças em

termos de quantidade volume de atores envolvidos promovendo a pesquisa científica

na área da farmácia, estados do Nordeste, Norte e alguns do centro oeste possuem um

número bem aquém dos demais estados do país. Sintetizando a planilha destacando os

sete estados com maior volume de pesquisadores e grupos de pesquisa, temos os

seguintes resultados.

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270

Tabela no 12: Principais estados em termos de massa crítica no Brasil na área de farmácia em 2010

Área do conhecimento / UF Grupos Linhas de Pesquisa Pesquisadores Estudantes

São Paulo 97 357 624 662

Paraná 43 188 316 377

Rio Grande do Sul 42 175 353 475

Rio de Janeiro 33 107 285 214

Minas Gerais 35 159 300 300

Bahia 17 62 121 123

Pernambuco 15 72 156 230 Fonte: Diretório dos grupos de Pesquisa do CNPq, censo de 2010.

No tocante as diferenciações entre o volume de pesquisadores ativos e

grupos de pesquisa de acordo o cadastro nacional do CNPq, censo de 2010, vemos

que, dos sete estados com maior número de grupos de pesquisa e pesquisadores

ativos, três estão no sudeste e dois no sul no país.

As diferenças ficam maiores se observamos que, enquanto Pernambuco

possui 15 grupos de pesquisa cadastrados, São Paulo possui 97 grupos (seis vezes e

meio mais). Mesmo os demais estados que apresentam um percentual inferior,

possuem quase três vezes a quantidade de PE, como Paraná, Rio Grande do Sul. Rio de

Janeiro e Minas gerais vem com o dobro de grupos de pesquisa.

Para o total de pesquisadores ativos cadastrados, PE possui 156 de acordo

com o censo, e São Paulo, por exemplo, possui 624 (quatro vezes mais). Paraná, Rio

Grande do Sul e Rio de Janeiro aproximadamente o dobro cada um dos estados. O

volume de estudantes que participam, que se formam, e proporcionam o maior

número de conexões e troca de informações também possui enorme discrepância

entre os estados.

A tabela no 13 exposta a seguir vislumbra a aprovação da pesquisa em rede

na área de farmácia no Brasil durante o período de 2005 a 2010. Ela nos apresenta de

forma mais quantitativa a distribuição de editais aprovados sob esta modalidade entre

os estados do país.

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271

Tabela no 13: projetos aprovados para a pesquisa em rede no Brasil entre 2005 e 2010

Ano Nordeste Sudeste Sul Norte Centro Oeste

PE BA CE RN PB AL MA PI SE SP RJ MG ES RS PR SC AM PA RO DF GO MT MS

2005 10 12 8 9 2 1 1 38 7 11 1 17 8 5 6 2 1 1

2006 10 10 11 5 3 2

1 23 60 17 3 9 4 1 1 1 1 2 3 2007 4 1 3 1 5 5 13 2 2 1 1

2008 3 4 3

1

1 14 19 12

5 3

8

1 1 1

2009 12 13 4 6 3 2 1 37 24 14 1 6 1 2 4 2 6 1

2010 4 6

1 2

10 10 12

1 Total: 43 46 22 18 10 8 5 4 4 127 125 79 5 40 18 9 5 17 1 10 6 2 2

Fonte: Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT)

Se compararmos, enquanto Pernambuco no período aprovou 43 projetos

para a modalidade de redes científicas em farmácia, estados como São Paulo e Rio de

Janeiro aprovaram 127 e 125 respectivamente, três vezes mais aproximadamente. No

Nordeste o estado da Bahia apresenta a maior aprovação de editais, seguida de PE, o

volume de dados dos demais estados é significativamente pequeno, se agrava ainda

mais ao analisarmos o Norte e Centro Oeste do país.

O mapa no 3 evidencia de forma mais clara, estes desníveis entre a

quantidade de projetos aprovados no território nacional, neles a intensidade das cores

reflete a proporção de projetos apresentados na tabela anterior, enquanto estados

não aprovaram nenhum edital para a pesquisa em rede no período 2005 – 2010 só o

estado de São Paulo aprovou 127 e Rio de Janeiro 125. Ele vem a ratificar mais ainda as

informações apontadas nos mapas 1 e 2 onde observamos os estados onde se

reportam a maior parte dos fluxos de conexões, mesmo tomando como foco o estado

de Pernambuco.

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272

Mapa no 3: Editais aprovados para a Pesquisa em Rede no Brasil 2005-2010

Fonte: Elaboração própria com base nos dados fornecidos pelo Decit (2014)

As diferenças de intensidade representam as diferenças de editais

aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia dentro do Brasil, de acordo

com a legenda exposta no próprio mapa. Da mesma forma que percebemos uma

maior intensidade na faixa litorânea brasileira em relação a continuental em relação a

outras questões, aqui no volume de aprovação dos editais vemos a mesma ocorrência.

Entre a região Norte quatro estados, Acre, Amapá, Tocantins, e Rondônia

não aprovaram um único projeto no total de anos pesquisados. A indensidade mais

clara em relação ao volume cobre a grande parcela ocidental do país enquanto a parte

oriental litorânea se concentra a maior taxa de editais de aprovação. Os estados de

São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais somados ultrapassam todos os estados das

regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste juntos.

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273

Mais importante, não se trata simplesmente da diferença em termos de

editais aprovados, se trata dos desníveis resultantes da construção e atuação de uma

política que não incorpora de forma mais eficaz a compreensão das diversidadades

geográficas brasileiras. Velhas dinâmicas que impulsionaram antes os fluxos humanos,

a exemplo das próprias migrações internas no Brasil, oriundas das diferenciações

econômicas regionais, acabam sendo reproduzidas para os fluxos de cooperação na

pesquisa científica em rede na área de farmácia também.

Alguns estados e regiões pouco podem incorporar e controlar o

direcionamento da construção de seus laços uma vez que pouco lhe é permitido para

tal. O fluxo acadêmico e as redes são concentradas nos grandes centros e acabam por

atrair os pontos de outros estados. A malha da rede científica brasileira acaba por

reproduzir a malha anteriormente criada das redes de infraestrutura ténica,

concentradas e controladas pelos grandes centros em detrimentos de outros.

Assim, centros menos desenvolvidos tecnologicamente ficam fortemente

dependente das conexões em rede estabelecidas pelos centros mais desenvolvidos, o

que não lhe permite que eles mesmos possam estabelecer de forma eficaz a curto,

médio e longo prazo suas próprias redes uma vez que a maior parte do fomento é

destinado para os estados de maior densidade apresentados nos mapas. Nestes

aspectos é claro que não há como negar que a conexão entre centros menos

desenvolvidos e mais desenvolvidos possa resultar de trocas afortunadas para ambos.

Estas questões associadas as diferenciações espaciais e ao próprio

distanciamento geográfico, dificultam a dinamização e maior adensamento das redes

dentro do próprio país. Além da dificuldade em proporcionar que regiões mais

periféricas estabeleçam know-how e certa autonomia acadêmica diante de grantes

instituições por meio dos editais em que existe o mesmo parâmetro concorrencial.

A autonomia proporcionada pelos mecanismos que proporcionam a

pesquisa, permite que os pesquisadores estabeleçam com mais facilidade suas

conexões tomando como base critérios subjetivos e particulares de proximidade.

Assim, o compartilhamento de certas características pré acordadas, permitiram que

grupos com mais afinidade estabelecessem suas conexões promovendo a construção

de laços mais duradouros a longo prazo.

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274

Na ausência de mecanismos para pesquisar, ou estabelecer uma pesquisa

de forma independente, ou seja, escolher suas próprias redes, as conexões seguem em

direção exclusivamente aos centros mais desenvolvidos, dimuindo o adensamento da

relações, no país como um todo. O mapa no 4 apresenta de forma mais clara estas

questões.

Mapa no 4: Evolução da aprovação de editais para a pesquisa em rede no Brasil 2005-

2010

Fonte: Elaboração própria

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Os mapas apresentados acima mostram de forma mais ampla do que

estamos falando, desmembrarmos o mapa anterior do valor total dos editais

aprovados para a pesquisa em rede em seis mapas demonstrando a quantidade

aprovada por cada estado brasileiro ano ao ano, no período de 2005 a 2010 vemos

ainda mais os desníveis entre Pernambuco e os estados mais desenvolvidos

tecnologicamente ou mesmo os desníveis em nível nacional entre os estados mais

desenvolvidos cientificamente e os menos desenvolvidos.

Assim, os resultados apontados pelos mapas sugerem de forma mais clara

anualmente as disparidades na aprovação de projetos de pesquisa em rede, existem

estados que não aprovam nem mesmo um único edital nos períodos destacados. Norte

e Centro Oeste ficam bem aquém dos demais estados do Brasil. No Nordeste somente

Pernambuco e Bahia aprovam editais em todos os anos estudados, juntamente com

SP, MG, RJ e RS, e mesmo assim, em número bem inferior que os estados do Sudeste e

do Sul mencionados. Existe um claro descompasso deste ponto de vista por não

considerar projetos especiais e mais específicos para cada realidade regional por parte

da atuação da PNCTIS.

Espaço e tecnologias comunicacionais: Quão importante é

“estar aqui” na pesquisa científica em rede na área de farmácia.

Aqui, assim como para Gertler (2003, 2005) a forma mais direta de

tentarmos determinar a importância do espaço geográfico70 do ponto de vista do

“estar aqui” no trabalho científico em rede, além da própria construção de uma

literatura pertinente sobre a temática, é perguntarmos diretamente para os agentes

em questão. Neste caso, perguntar diretamente aos pesquisadores que atuam na área

de farmácia em Pernambuco.

Neste caso, verificar qual a importância atribuída aos pesquisadores em ter

outros membros “próximos” na hora de se estabelecer uma pesquisa científica em

70

É importante ratificar o que já fora dito antes: o espaço geográfico enquanto reflexo das sociedades pode ser analisado, sob múltiplos olhares, múltiplas escalas e múltiplas óticas, na impossibilidade de “abarcar o toco” escolhemos o enfoque do “estar aqui” já tão discutido em estudos de geografia econômica que tratam da proximidade.

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276

rede ou mesmo realizar a própria pesquisa. A proximidade em questão, como já

mencionada, nos diz respeito tanto da perspectiva de ter acesso contínuo e talvez

cotidiano ao outro membro, permitir que se tenha acesso a este de maneira mais

rápida e fácil, além do estabelecimento de proximidade física estabelecida

cotidianamente pela construção de convívios espaciais contínuos.

Outro ponto importante que se conecta com as questões acima

mencionadas, é verificar a opinião dos pesquisadores da área de farmácia, se para a

pesquisa científica em rede com membros distantes geograficamente, as Tecnologias

de Informação e Comunicação forneceriam substitutos eficazes para a comunicação

pessoal ao ponto de não ser necessário à realização de encontros Face a Face entre os

membros.

A escolha dos pesquisadores para a pesquisa levou em consideração a

metodologia já destacada, ou seja, os agentes com maior densidade de relação na rede

mapeada pernambucana seriam selecionados para a entrevista (em especial os líderes

de grupos de pesquisa), a lista incluiu também outros atores que se mostraram

relevantes na rede.

Os pesquisadores foram selecionados por duas categorias: a) Principais

atores centrais da rede, tendo três membros neste grupo; b) grandes atores da rede,

tendo doze atores nesse grupo; e por fim, c) atores intermediários e atores pontes

relevantes totalizando 15 pesquisadores nesse grupo.

Diante a dificuldade do agendamento de entrevistas pessoais com os

pesquisadores 71 em virtude de suas atribuições profissionais foram enviados

questionários por e-mail informando a motivação do convite e contextualizando a

pesquisa. Fora informado que em cada pergunta o pesquisador ficara livre para

escrever comentários e justificar suas respostas, o questionário72 contou com onze

perguntas objetivas (com as opções: sim, não e irrelevante) e uma pergunta subjetiva.

Foram enviados em um total 30 questionários, obtivemos retorno de 20 (67%).

Em acordo com o que já fora falado, não há como negar as eventuais

diferenças nas visões, experiências e compreensões da pesquisa científica em rede

71

Deixamos aqui nossos agradecimentos a todos os pesquisadores da área de farmácia em Pernambuco que destinaram gentilmente parte de seu tempo em colaborar com nossa pesquisa. 72

Questionário encontra-se nos anexos deste trabalho. O número de perguntas fora reduzido devido a relutância de parte dos pesquisadores em responder questionários mais extensos.

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277

pelos pesquisadores da área em Pernambuco, mesmo para aqueles que habitam a

mesma instituição. Os resultados de tal investigação são apresentados nos dados a

seguir, que avalia a importância atribuída pelos pesquisadores à pesquisa em rede e

questões importantes da pesquisa científica em rede. Há um padrão óbvio e

consistente para as respostas.

Para tal, as considerações que seguem, são resultados de análise literária

somada às observações da área de farmácia e retorno dos questionários respondidos.

Não há dimensionamento do “todo”, há apenas, uma análise com um recorte sobre

informações e percepções apreendidas.

A primeira pergunta procurou conectar o que a literatura trás sobre o

debate sobre a pesquisa científica em rede com a opinião dos pesquisadores que

atuam na área de farmácia, assim duas perguntas foram feitas: a) se o pesquisador

acreditava que pesquisar em rede realmente potencializaria a produção de resultados

na área de farmácia e b) se para a área da farmácia, pesquisar de forma cooperativa

em rede seria melhor.

Para estas duas perguntas, o quadro no 14 apresenta o total das respostas,

neste caso, todos os pesquisadores que retornaram os questionários (no total de 20

questionários) foram enfáticos e responderam sim, sobre a importância da pesquisa

em rede para potencializar os resultados acadêmicos, e, sobretudo, para o

desenvolvimento da área de farmácia. Há uma clara consonância entre a literatura

sobre o debate os pesquisadores que vem atuando na modalidade. Mesmo aqueles

que pouco atuam desta forma possuem a concepção de sua importância para o avanço

da ciência.

Tabela no 14: Respostas sobre a importância da pesquisa em rede para o desenvolvimento científico da área de farmácia em Pernambuco.

Pergunta 1 Pergunta 2

Sim Não Irrelevante Sim Não Irrelevante

TOTAL 20 0 0 20 0 0 Fonte: Elaboração própria

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Fora perguntando aos pesquisadores se eles já haviam iniciado alguma

pesquisa científica em rede com outros que não haviam conhecido pessoalmente, o

intuito foi tentar avaliar quão disposto o pesquisador em Pernambuco está a cooperar

com outros sem que exista mínimo contato pessoal entre ambos. Dos entrevistados,

11 deles (55%) responderam que sim, que já haviam iniciado uma pesquisa científica

em rede sem conhecer os demais membros (nem pessoalmente nem por outras

formas de contato como e-mail, telefone, comunidades) e 9 pesquisadores (45%)

responderam que não, que nunca tinham iniciado uma pesquisa em rede sem

conhecer pelo menos um dos membros pessoalmente. Os resultados são expostos no

gráfico a seguir.

Gráfico no 6: Respostas sobre a realização de pesquisa científica em rede com

pesquisadores desconhecidos.

Fonte: Elaboração própria

Mais do que uma questão meramente de “disposição” os resultados

apontam os novos contornos da necessidade da busca de novos parceiros na pesquisa

acadêmica mundial, já que as respostas em termos quantitativos foram bem similares,

além do que estas práticas são em até certo pondo subsidiadas pelas Tecnologias de

Informação e Comunicação, afinal, mesmo sem conhecer o membro pode-se

estabelecer um contato a distância após a construção da equipe. Entretanto, quase

metade dos pesquisadores considera importante conhecer pessoalmente os demais

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membros com que se estabelece uma pesquisa científica, é parte do exercício de

confiança e diminuição de incertezas no que compete ao comprometimento na

pesquisa a ser realizada e nas formas de trabalho73 em grupo.

Mesmo a maioria tendo respondido sim, sobre a pergunta anterior, ao se

perguntar para os pesquisadores se eles consideram já ter conhecido pessoalmente o

pesquisador com que se estabelece uma rede a grande maioria, 65% (13

pesquisadores) consideram sim, importante esta particularidade, enquanto 30% (6

pesquisadores) não consideram importante, e apenas um pesquisador 5% considerou

irrelevante esta questão, os dados são apresentados no gráfico no 7 a seguir.

Gráfico no 7: Respostas sobre a importância de se conhecer o pesquisador ao se

estabelecer uma rede científica na área de farmácia em Pernambuco.

Fonte: Elaboração própria

Conhecer o pesquisador anteriormente remete entre outras questões ao

conhecimento das formas de trabalho (liderança, cooperação, empenho,

comprometimento, conhecimento) e também laços mais próximos entre ambos.

73

Gertler (2003, 2005) considera estas estruturas de trabalho dentro de uma equipe, como a sincronia entre os membros, as normas estabelecidas e o conhecimento de formas de atuação no geral como proximidade institucional que faz parte da proximidade geográfica no geral enquanto componente do espaço e que só pode ser construída no exercício de socialização cotidiano que exige proximidade física e de distância entre os membros.

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280

Conhecer o pesquisador só não é mais relevante que ter experiência de trabalhos

passados.

Conhecer previamente o pesquisador com quem se pretende trabalhar,

principalmente em casos oriundos de trabalhos passados que tiveram resultados

produtivos, fazem parte de alguns dos fatores sociais apontados por Lin (2001a e

2001b) tais como: Laços construídos em relações anteriores específicas influenciam os

agentes que têm um papel importante nas decisões, na contratação de serviços,

construção de novas parcerias institucionais, inserção de novos membros em uma

rede de pesquisa científica, em que não só o membro com maior centralidade e uma

maior relação de poder na rede toma decisões, mas os demais também.

Em segundo lugar, os laços sociais podem ser concebidos como credenciais

que garantem as possibilidades individuais de ascender a recursos disponíveis através

das suas redes, como relações de confianças estabelecidas por pesquisas anteriores

bem sucedidas onde todo o trabalho científico em rede fora satisfatório para todos os

membros (o prestígio e a reputação criada anteriormente se torna importante elo no

acesso a uma nova rede ou equipamentos).

Em terceiro lugar, as relações sociais reforçam a identidade o e

reconhecimento; ser reconhecido como indivíduo e membro de um determinado

grupo, além de garantir suporte emocional, possibilita reconhecimento público no que

compete ao direito a determinados recursos, relações de poder, editais de fomento

etc.

Mesmo para autores que indicaram que conhecer o pesquisador

anteriormente não ser tão relevante, indicaram que já experiência de trabalhos

passados com o pesquisador a que se irá iniciar um trabalho em rede importante,

estas informações podem ser visualizadas no gráfico no 8 abaixo. A experiência de

trabalhos passados faz parte do que Segundo Lin (2001a e 2001b) considera como

“credenciais” que conferem as redes a capacidade de gerarem capital social e

dinamizarem circunstâncias que desencadeiam benefícios a outras formas de capitais.

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Gráfico no 8: Respostas sobre a importância de se ter experiência de trabalhos

passados como requisito para a construção de uma pesquisa em rede com outros

pesquisadores.

Fonte: Elaboração própria

Dos pesquisadores que responderam, 17 deles (85%) destacaram que é

importante na construção de uma pesquisa em rede já ter trabalhado anteriormente

com os membros, em contrapartida 3 pesquisadores (15%) responderam que esta não

é uma circunstância tão importante. Notadamente a maioria das respostas está

entrelaçada, e dizem muito sobre o perfil do espaço científico em rede formado pelos

pesquisadores em Pernambuco.

Por exemplo, o porquê muitos autores localizados na Região Metropolitana

de Recife e atuantes na Universidade Federal de Pernambuco aparecem sucessivas

vezes trabalhando em vários trabalhos em rede, nos dados já apresentados,

apontamos a quantidade de repetições de pesquisadores. Sugeriria também o

aumento da quantidade de laços de pesquisadores que tinham poucas conexões no

início da análise (ano de 2000) e muitas conexões no final (ano de 2010).

Apontaria para uma relação extremamente importante que é a relação dos

orientandos de graduação em todo o contexto da pesquisa científica em rede no

estado na área de farmácia e na construção dos espaços em redes de pesquisa

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acadêmica montados. Se não vejamos, no mapeamento das redes científicas, foram

encontrados uma quantidade expressiva de pesquisadores atuantes que estão nos

níveis de formação (graduação, mestrado e doutorado), ou seja, orientandos em

formação.

Ao serem perguntados sobre a importância da construção de um elo de

proximidade física entre orientador e orientando na construção de nova e futuras

pesquisas em redes, 19 pesquisadores (95%) foram enfáticos em ratificar esta

importância, enquanto apenas um pesquisador (5%) destacou como irrelevante. Estes

dados podem ser vistos no gráfico em seguida.

Gráfico no 9: Respostas sobre a importância da relação orientador x orientando na

construção de redes científicas na área de farmácia em Pernambuco.

Fonte: Elaboração própria

Para termos uma noção da importância desta relação, 68% de todos os

pesquisadores que apareceram cooperando em rede no ano de 2010 eram de

orientandos ou de ex orientandos. Um bom exemplo de exercício de proximidade física

é aquele construído cotidianamente pelas relações de orientação na formação

individual dos pesquisadores, o “estar aqui” do orientando e orientador potencializa as

relações de socialização, facilita a interação, apreende particulares do conhecimento

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tácito, e potencializa a criação de uma proximidade organizacional, além da construção

de confiança.

Para Fukuyama (1996, p. 26), o reconhecimento da confiança como

“virtude” da cultura de determinados território, como resultado das relações criadas

ao longo do tempo, deve ser entendida como forte elemento para a construção de

capital social e consequente retornos e benefícios. Na pesquisa científica em rede não

seria diferente. “A confiança representa as expectativas que se desenvolvem no interior

de uma comunidade, regida por um comportamento regular, honesto e cooperativo.

Fundamentada em normas habitualmente partilhadas com os outros membros desta

comunidade”. As quatro perguntas anteriores, fazem parte dos elementos que compõe

a construção da confiança.

Também destacando a confiança como elemento importante de uma rede

na construção de capital social D`Araújo (2010) ratifica que

Uma sociedade cuja cultura pratica e valoriza a confiança interpessoal é mais propícia a produzir o bem comum, a prosperar. A cooperação voluntária, assentada na confiança, por sua vez, só é possível em sociedades que convivem com regras de reciprocidade [...]. Em sociedades que tenham capital social, que, a exemplo de outras formas de capital, é produtivo e possibilita a realização de certos objetivos que sem ele seriam inatingíveis. O capital social facilita a cooperação espontânea e minimiza custos de transação (D`ARAÚJO, 2010, p. 17).

Tanto para Putnam (1993) quanto para Fukuyama (1996), confiança74 é a

base para a construção do capital social. Confiança é a expectativa de reciprocidade

que pessoas de uma determinada comunidade ou rede, baseada em normas

partilhadas, têm acerca do comportamento dos outros. Quem sente e sabe que pode

confiar75 recebe mais colaboração e aproveita mais as oportunidades que aparecem.

74

Embora Putnam e Fukuyama não quantifiquem a confiança de forma empírica em seus trabalhos, eles destacam de forma qualitativa como este aspecto influenciou positivamente no avanço cívico e econômico em países. A quantificação do capital social ainda se mostra um desafio. 75

Suzana Lundåsen (2002) realizou um levantamento detalhado dos múltiplos significados que o termo confiança comporta. Em seu trabalho, se identificam pelo menos 15 significados distintos para confiança interpessoal, que Couch & Jones (apud Lundåsen, 2002, p. 310) sintetizaram em três níveis fundamentais: “confiança generalizada” (voltada para a “natureza humana”, a humanidade como um todo), “confiança relacional” (voltada para pessoas específicas, “conhecidos”) e “confiança na rede” (nível intermediário, voltado para redes sociais ou familiares). Para a autora, os componentes fundamentais da confiança seriam risco, informação, expectativas em relação ao comportamento da

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284

Por isso, poder confiar76 nos demais é um importante fato de desenvolvimento

econômico.

Para Bourdie (1080) existem dois elementos que potencializam a

construção de confiança, de capital social: as relações que permitem aos indivíduos

aceder aos recursos e a qualidade e quantidade desses recursos. A PNCTIS é um bom

exemplo de uma ferramenta de incentivo destes componentes. Ela prevê que os

pesquisadores possam não só estabelecerem redes com outros dispostos em

localidades distintas, mas que a própria pesquisa possa ser realizada a distância, de

forma que esta seja otimizada para os casos em que não se possa estar presente. Essa

lógica é claramente amparada nos avanços tecnológicos atuais já destacados.

Diante disto, perguntamos aos pesquisadores se eles consideram que a

pesquisa científica em rede na área de farmácia possa ser realizada sem que existam

contatos presenciais entre os membros. Ou seja, se todo o processo de pesquisa pode

ser conduzido sem a realização de encontros face a face.

Gráfico no 10: Respostas sobre a importância de contatos face a face na pesquisa em

rede na área de farmácia em Pernambuco.

Fonte: Elaboração própria

contraparte, a possibilidade de obter confiança dos outros e a possibilidade de ter um retorno maior se confiar. 76

Para Bruno Reis (2003), o conceito de confiança comporta matizes tão relevantes quanto aqueles respectivos ao capital social, e que deve ser vista de forma cautelosa, já que, para o autor, confiança apresenta-se como uma caixa-preta conceitual, passível de variadas interpretações.

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No gráfico no 10 mostra que dos questionários respondidos 6

pesquisadores (30%) afirmaram que sim, que a pesquisa científica em rede na área de

farmácia pode ser realizada sem que existam encontros presenciais entre os membros,

enquanto 14 pesquisadores 70% do total afirmaram que não, que não é possível ou

mesmo viável. A maioria destacou que, embora o pesquisador eventualmente não

esteja presente na realização do experimento, este necessita de contatos presenciais

para definir assuntos importantes da pesquisa que em grande parte só podem ser

realizados pessoalmente.

Como exemplo, podemos mencionar as tomadas de decisões mais

relevantes como destinação de verba, compra de equipamento ou impacto em outras

comunidades científicas que às vezes necessitam de apresentações e reuniões

presenciais. Entretanto, é claro que para muitas situações esta perspectiva possa ser

realizada, muito embora uma das particularidades da área de farmácia é a pesquisa

laboratorial.

Estas considerações são ratificadas ao se perguntar para os pesquisadores

se eles consideram importante a realização de pelo menos um encontro presencial em

algum momento da pesquisa científica em rede. Neste caso todos os 20 pesquisadores

foram enfáticos em destacar que é sim importante a realização de pelo menos um

encontro presencial na pesquisa científica em rede na área de farmácia.

Esta linha de raciocínio segue outro padrão bem consistente, que trada da

opinião dos pesquisadores sobre a perspectiva da comunicação eletrônica e todas as

perspectivas por ela proporcionadas (e-mail, telefone, web conferências etc) serem

substitutos eficazes para a comunicação presencial na pesquisa científica em rede, que

serão apresentados a seguir.

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Gráfico no 11: Respostas sobre a comunicação eletrônica como substituto eficaz na

comunicação pessoal.

Fonte: Elaboração própria

O gráfico no 11 mostra que, do total de respostas obtidas, 14

pesquisadores (70%) não consideram a comunicação eletrônica como plenamente

eficaz na comunicação presencial, enquanto 6 pesquisadores (30%) consideram que

sim, que esta seja. No tocante às respostas, mesmo aqueles que consideraram a

comunicação eletrônica como um substituto eficaz para a comunicação pessoal,

ratificam a importância da realização de contatos presenciais durante a realização da

pesquisa.

Sobre a importância da proximidade geográfica na realização da pesquisa

em rede na área de farmácia, 10 pesquisadores, metade do total considerou-a

importante enquanto 10 pesquisadores consideraram irrelevante. Os dados são

apresentados no gráfico a seguir.

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287

Gráfico no 12: Respostas sobre a importância da proximidade geográfica na pesquisa

científica em rede.

02468

101214161820

Na Pesquisa científica em rede na área de farmácia,cooperar com que está próximo geograficamente é

melhor para otimização do trabalho em conjunto econsequentemente dos resultados?

Sim

Não

Irrelevante

Fonte: Elaboração própria

A grande maoria dos pesquisadores77, 80% deles, destaca a importância da

proximidade geográfica para a otimização dos resultados e melhor desempenho da

pesquisa cooperativa, neste caso, mesmo com as tecnologias comunicacionais

pesquisar com quem está perto geograficamente é significativamente melhor. Apenas

dois pesquisadores (10%) consideram irrelevante a proximidade geográfica neste tipos

de pesquisa, mas enfatizam que caso oportuno, ela ainda é a melhor forma.

Porém ao se perguntar sobre a importância da proximidade física entre os

membros para a construção de uma rede de pesquisa, as respostas foram mais

enfáticas e se conectaram mais ainda com as respostas de outros questionamentos

anteriores. Dos entrevistados 19 pesquisadores (95%) foram enfáticos que sim,

enquanto apenas 1 pesquisador (5%) mencionou que esta seria irrelevante para esta

situação. Os dados destes questionamentos são apresentados nos gráfico a seguir.

77

A primeira versão deste questionário não incorporava na pergunta a frase “[...]Para otimização do trabalho em conjunto e consequentemente dos resultados?” O que promoveu resultados diferentes dos aqui apresentados. Foi feito nova pesquisa que é apresentada no gráfico em destaque.

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Gráfico no 13: Respostas sobre a importância da proximidade física na pesquisa

científica em rede.

Fonte: Elaboração própria

Para os pesquisadores, proximidade física é fundamentalmente mais

importante até mesmo que a proximidade geográfica, para eles estar próximo

geograficamente só se torna mais vantajoso quando se pode construir um maior nível

de comunicação e intimidade com o outro. A proximidade física por outro lado, é mais

fortemente construída com a convivência cotidiana, que é resultado da (re)produção

do espaço geográfico local, ela é portanto, a responsável pelos principais laços

duradouros e bons trabalhos em conjunto realizados.

Assim como os laços de vizinhança, as relações familiares cotidianas, as

relações na escola, as convivências nos parques, nos bairros, nas Universidades só

podem ser mais facilmente fortalecidas pela proximidade geográfica tanto do ponto de

vista da facilidade e rapidez de acesso ao outro, quanto pela construção de um nível de

intimidade pessoal, as informações sugerem que o fortalecimento das redes de

pesquisa na área de farmácia em Pernambuco possuem no geral forte enraizamento

local.

Não apenas pelo caráter da pesquisa que em alguns momentos necessita

de encontros presenciais, ou nas tomadas de decisões e nas comunicações relevantes

que se fazem pertinentes pessoalmente, pelas trocas de olhares, pelos gestos,

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sotaques, pelas experiências afortunadas de pesquisa, mas também pela consolidação

de uma estrutura de trabalho comum que só pode ser feita cotidianamente e de certa

forma pessoalmente.

A figura no 29 a seguir, apresenta um esquema simples do que seria parte

da estrutura de trabalho na área de farmácia em Pernambuco, e consequentemente

parte da estrutura de pesquisa em rede na referida área, ela nos demonstra algumas

particularidades que são apresentadas nos resultados anteriormente mencionados.

Figura no 30: Cadeia local de pesquisa em farmácia em rede em Pernambuco.

Fonte: Elaboração própria

Foi notadamente claro que as redes no estado seguem fortemente os

grupos de pesquisa, tendo como resultado os líderes e uma grande quantidade de

estudantes e pesquisadores locais. Os quadrados azuis referem-se aos grupos, e os

círculos vermelhos de um lado aos líderes e de outros os demais pesquisadores

envolvidos.

Diante disso, percebe-se que, os grupos de pesquisa da área no estado em

questão atuam em diversas áreas, como também atuam em segmentos específicos da

pesquisa científica na farmácia, mesmo que alguns deles eventualmente não

colaborem ou tenham pouca colaboração. No processo da produção de um novo

medicamento, por exemplo, deste a pesquisa inicial até sua chegada ao mercado

existe um longo caminho assim como longas etapas que são divididas.

O grupo A formado por seus líderes se conecta a vários pesquisadores

dentro e fora do estado, entretanto, este é especializado, por exemplo, na síntese de

um único tipo de molécula, depois de feito o trabalho de síntese, esta molécula precisa

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de um tipo especifico de trabalho realizado apenas pelo grupo B formado pelos demais

agentes que o compõe, após esta etapa é repassado para o grupo C para que seja

verificado a eficácia no tratamento de determinadas enfermidades, que por ventura

após esta etapa será repassada para o Grupo D para que este possa verificar a

potencialidade de que esta tem a se agregar a outros princípios ativos para a formação

de um potencial novo fármaco, após esta etapa se segue para o Grupo E, e assim por

diante até que se tenha a possibilidade de inserção no mercado do produto ou que

seja verificada a viabilidade de inserção.

Da mesma forma, existe outra estrutura de trabalho que pode

compreendido pela figura, nele o pesquisador do Grupo A precisa de que o

pesquisador B e C realizem um processo da pesquisa, para que o processo final retorne

e ele possa realizar a parte restante da pesquisa e vice versa. Neste caso, a lógica

apresentada deve ser compreendida como multidimensional.

Neste caso, existe uma cadeia típica da produção de um novo

medicamento que se assemelha muito a boa parte dos tipos de rede que são

montadas, e que em muitos casos, a proximidade tanto do ponto de vista físico quanto

geográfico são fundamentais para que exista uma significativa conexão entre os

diversos agentes para que este pesquisa e dividam os bônus da pesquisa. Neste caso

“estar aqui” é fundamental. Essa dinâmica explicaria também o porque da maioria

esmagadora dos pesquisadores mapeados serem da área de farmácia.

Não que em alguns casos este tipo de processo não seja necessário e

possível ser realizado a distância, entretanto com as restrições anteriores já

mencionadas de contatos presenciais, experiências passadas, proximidade física etc.

Mas o estar aqui potencializa todo o processo e viabiliza maior dinamismo na emissão

e incorporação de feedbacks tanto quanto tomadas de decisões importantes.

Na circunstância apresentada, o fluxo da informação é facilitado: os laços

sociais colocados em posições estratégicas fornecem aos atores informações úteis

sobre oportunidades e escolhas, que, de outra maneira, não estariam disponíveis -

cooperação mútua em uma rede de pesquisa em que os conhecimentos individuais se

unem para somar na construção de competência de todos os demais -

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Estas relações descritas, da cadeia de trabalho em conjunto que é

tipicamente da área de farmácia e de grade parte da pesquisa em rede em

Pernambuco, faz parte da construção cotidiana de capital social entre estes

pesquisadores que por sua vez emerge emerge como facilitador da cooperação

voluntária: “o capital social diz respeito a características da organização social, como

confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da

sociedade, facilitando as ações coordenadas” (PUTNAM, 1993, p. 177). “Assim como

outras formas de capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de

certos objetivos que seriam inalcançáveis se ele não existisse” (COLEMAN, 1990, p.

302).

Desta forma, para Putnam (1993), a dimensão normativa do capital social

emerge das relações sociais; para ele, o capital social refere-se às conexões entre

indivíduos – redes sociais e normas de reciprocidade e confiança que delas emergem –

e surgiria em formas, tamanhos e usos diferentes como: pesquisadores que atuam em

rede devido a proximidade geográfica estabelecida os grupos de pesquisa que fazem

parte.

Mas afinal, quando “estar aqui” mais importa? Quando não se conhece

pessoalmente os demais pesquisadores, suas reputações nem estruturas de trabalho.

Quando se necessita de tomar decisões importantes, delegação de tarefas relevantes.

Quando se está em processo de formação de atuais ou futuros parceiros de pesquisa

(processos de orientação dos mais diversos tipos). Quando se está criando uma

estrutura de trabalho em conjunto por meio de grupos de pesquisas, acesso a

laboratórios e demais sistemas de objetos necessários à pesquisa. Quando se precisa

ou se quer ter acesso rápido, cotidiano, e contínuo aos demais membros ou á própria

pesquisa em si. Quando se necessita de supervisão e/ou orientação nos processo de

trabalho e pesquisa. Quando é necessário “ver o processo de pesquisa” pessoalmente

mais do que “ler sobre o processo de pesquisa”. Quando existem diferenças culturais

nas formas de estrutura de pesquisa que dificultam os processos de trabalho em

conjunto, dadas às particularidades de cada um. Quando se precisa de uma

observação mais contínua para a apreensão de conhecimento tácito. Quando se

precisa de trocas de feedbacks mais rápidos e pontuais com base em erros e acertos

experimentais cotidianos.

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E quando o “estar aqui” menos importa? Quando já se conhece

pessoalmente o outro pesquisador, já existem experiências de trabalhos passados e

principalmente quando existe sinergia na estrutura de trabalho em comum. Quando já

existe confiança entre ambos e o reconhecimento de retornos profícuos de trabalhos

anteriores para todos. Quando o sotaque, o idioma, fuso horário, as convenções

sociais de trabalho não são tão diferentes. Quando o processo de pesquisa ou a etapa

do processo não necessita da presença do pesquisador, apenas de coordenação

simples e/ou orientação básica. Quando as decisões relevantes são (des)centralizadas

ao ponto de que não exista significativa importância para os demais. Nestes casos, a

mediação eletrônica é possivelmente capaz de substituir os contatos presenciais em

até certo ponto, pois já existe relativa proximidade física entre todos, criada quase que

sempre por meio de longa ou pequena proximidade geográfica cotidiana.

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Considerações finais

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal da pesquisa girou em torno da perspectiva de analisar

a importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes

científicas diante do fomento proporcionado pela Política Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação em Saúde. As considerações a seguir serão abordadas por meio

de tópicos em reflexo aos objetivos específicos deste trabalho.

Com relação ao objetivo específico de “compreender os argumentos dos

formuladores da PNCTIS para o fomento à pesquisa em rede na saúde”, para que este

campo não fique exaustivo, não trataremos da trajetória política para a construção da

própria PNCTIS, uma vez que já destinamos outras considerações detalhadas a respeito

no docorrer do trabalho. Nos atearemos à lógica aqui considerada mais relevante que

trata da inserção do debate sobre a indução da pesquisa em rede.

A primeira consideração refere-se à percepção de que existe significativa

consonância entre os argumentos destacados na construção da PNCTIS sobre fomento

à pesquisa em rede e a sua indução para a construção destas práticas. Os dados

fornecidos por entrevistas, Ministérios (da saúde, da educação e da ciência, tecnologia

e inovação) e órgãos de fomento, destacam que existe uma clara e inequívoca

concepção de que o trabalho cooperativo em rede proporciona benefícios para além

daqueles trazidos por pesquisadores isolados, uma vez que amplifica as possibilidades

apartir das trocas de experiência entre pesquisadores. Isto foi perceptível, sobretudo

em agências como CAPES, CNPq, e FINEP.

Os dados apresentados mostraram não só o aumento significativo na

quantidade de editais, bolsas e valores pagos nos últimos anos para a pesquisa

científica em rede, como a diversidade de enfoques de atuação para a modalidade. Um

fato importante levantado foi o de que, anteriormente ao ano de 2004, ano e criação

da PNCTIS, não existia nenhuma linha de fomento para esta modalidade no CNPq,

CAPES, FACEPE e FINEP.

A modalidade de pesquisa em rede se estendeu de tal forma, que mesmo

boa parte daqueles editais fomentados que não visavam prioritariamente à pesquisa

científica em rede, passaram a considerar como critério no julgamento de mérito

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técnico-científico pesquisas que propusessem direta ou indiretamente a construção de

qualquer tipo de parceria para a pesquisa científica em rede.

Embora não tenha sido possível o acesso a informações mais precisas de

outras áreas de conhecimento, uma vez que este não era foco de trabalho, os dados

coletados no CNPq e CAPES sugerem que a proposta da pesquisa em rede tenha sido

incorporada por outras áreas de atuação, a exemplo do CT-Hidro, CT-Amazônia, CT-

Biotec e CT-Agro que aparecem com editais lançados especialmente para projetos

nesta modalidade, além dos próprios editais de encomenda.

O PACTI, por exemplo, no período de 2007-2010 fomentou 439 projetos

modalidade de ampliação e consolidação de redes de cooperação além da construção

dos vários INCTIs em que o próprio objetivo é a construção de institutos conectados

em rede com pesquisadores articulados pelo país. Para termos uma noção mais

expressiva do impacto que a dinâmica do fomento à pesquisa em rede tem

proporcionado no país, no ano de 2010, 56% dos editais lançados no CNPq tinham

como foco principal ou secundário a pesquisa nesta modalidade.

Da mesma forma que há uma relação clara e inequívoca por parte da

PNCTIS quanto aos benefícios da pesquisa em rede e suas ações de fomento, o mesmo

não ocorre quando se trata da compreensão de toda a dinâmica que envolve as redes

em sua totalidade. Mesmo que existam em suas diretrizes perspectivas para a

consideração de diferenciações, na prática o que se observa é pouca compreensão da

imensidão de multiplicidades que envolvem as relações sociais que envolvem a

dinâmica da pesquisa em rede no país. Para colocar estas questões com mais clareza

seguem dois pontos principais a seguir.

O primeiro deles se refere à compreensão ainda equivocada das

dificuldades de se construir uma pesquisa científica em rede, dos desdobramentos

acadêmicos em termos de relações nesta estrutura, das formas de monitorar os

diferentes tipos de pesquisa das diversas áreas da saúde, das particularidades dos

diversos grupos acadêmicos existentes no país, e principalmente das relações nelas

inseridas em longas distâncias. Em outras palavras, das dinâmicas espaciais. O marco

conceitual da política fora construído principalmente com base na noção de que o

simples fomento aliado às mudanças sociais nas comunicações e transportes seria

suficiente na consolidação de redes de pesquisa dos mais diversos tipos que

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proporcionariam retornos e benefícios para o campo da saúde. Uma concepção

claramente ainda equivocada.

O segundo ponto trata do fato de que a política desconsidera em seu viés

horizontal de fomento, calcado em um único arcabouço analítico, as diferenças

espaciais e as temporalidades existentes nos vários espaços geográficos produzidos

dentro do espaço geográfico brasileiro. Em suma, as informações sugerem que,

mesmo com as poucas exceções dos editais de encomenda, a PNCTIS proporciona a

concepção, mesmo que de forma indireta, de que todos os estados e instituições

possam concorrer como iguais para a aprovação das chamadas. As próprias

conferências que contribuíram para a construção do texto final da PNCTIS ocorreram

predominantemente no Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul

e pouco incorporaram aos debates as necessidades e dificuldades de outras regiões do

país, mesmo a superação das desigualdades regionais no campo da pesquisa em saúde

entre outros aspectos a serem contemplados pelas diretrizes da política.

Estes dois pontos foram ratificados quando buscamos “verificar os

possíveis desníveis entre projetos aprovados para a pesquisa em rede na área de

farmácia em Pernambuco em relação a outros estados no país”. Neste aspecto,

percebemos um ainda claro atraso científico e tecnológico do estado de Pernambuco

em relação aos grandes centros, muito embora o estado possua significativo lugar de

destaque dentro da região norte e nordeste.

A análise dos resultados deste objetivo pode ser dividida em três pontos

principais: o primeiro deles diz respeito ao fato de que, só recentemente -

diferentemente de estados como São Paulo e Rio de Janeiro - mais precisamente no

ano de 2000, criou-se o plano de interiorização das instituições de ensino e pesquisa

no estado, proposta para diminuir a enorme concentração de agentes na RMR.

O segundo ponto se diz respeito ao fato de que Pernambuco é somente o

8º estado em quantidade de grupos de pesquisa na área de farmácia no país, o estado

de São Paulo, por exemplo, possui 650% mais grupos de pesquisa que Pernambuco.

Estes dados aumentam significativamente ao consideramos linhas de pesquisa,

pesquisadores e estudantes envolvidos.

O terceiro, e principal ponto em relação aos demais, se dá enquanto

resultado da pesquisa empírica dos dados de fomento para a pesquisa em rede: se o

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espaço geográfico deve ser considerado enquanto contextos históricos e

temporalidades científicas e técnicas, e ao desconsiderar isto, a PNCTIS proporciona a

mesma estrutura de fomento para todo o país, nada provável que tenhamos

resultados diferentes para um país tão diferente.

Desta forma, estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, no

período de 2005 a 2010 aprovaram em torno de 127, 125 e 79 projetos para a

pesquisa em rede respectivamente, enquanto Pernambuco aprovou 43 no mesmo

período. Estes dados ficam mais discrepantes se olharmos outras regiões do país.

Os desníveis de projetos aprovados proporcionam a reprodução de velhas

dinâmicas também para o âmbito da construção de redes de pesquisa, tais como: a)

concentração de maior capital humano articulado nos grandes centros, b)

concentração da maior parte dos fluxos das redes em direção a alguns estados da

região sudeste e sul, c )pouca polarização, possibilidade de articulação e adensamento

das redes e fluos entre todos os estados do país. A tradicional concentração de redes

de infraestrutura em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande

desta forma tende a ser reproduzida para a concentração de redes científicas.

Contudo, a política em si, promoveu significatios avanços na maior

articulação da pesquisa em rede em Pernambuco. O mapeamento das redes

proporcionou vislumbrar particularidades importantes: a primeira delas se diz respeito

à pouca comunicação existente entre os grupos/redes existentes no estado antes da

atuação política, as relações concentravam0se quase que totalmente dentro dos

grupos e pouco havia comunicação entre os grupos do ponto de vista de produção de

pesquisas de forma cooperativa.

Após a atuação da PNCTIS o nível de articulação aumentou

significativamente ao ponto de existir poucos grupos com nenhuma articulação

resultante de trabalhos cooperativos. Para termos uma ideia mais precisa do que

estamos falando, a densidade da rede pernambucana que em 2000 era de 2,8% passou

para 14,7% no ano de 2010, embora sejam densidades baixíssimas não há como negar

o aumento do adensamento das relações e redes e consequentemente aumento na

possibilidade de laços criados.

A principal característica da rede pernambucana está no fato de que os

grupos de pesquisa são vitais na construção das relações, aprovação de editais, e

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orientação das conexões criadas entre os pesquisadores. Desta forma, a maior parte

das relações estão centradas em estruturas que tem os grupos de pesquisa como o

ponto principal. Não é estranho termos observado que os líderes de pesquisa os atores

principais e centrais da rede em ambas as periodizações. Mesmo aqueles atores que

mudaram de posição e conseguiram maior número de laços no decorrer dos anos,

estavam obrigariamente vinculados aos grupos e conectados aos líderes.

Não foram encontradas nenhumas estruturas que fugissem ao “padrão”

acima mencionado. Esta particularidade era esperada devido a maior capacidade dos

grupos de aprovar projetos de pesquisa, deterem objetos necessários à pesquisa, e

servirem como hubs na captação e distribuição de conexões. Existe assim uma lógica

envolta nos grupos de poder e composição de uma proximidade organizacional de

cooperação entre os grupos, e entre os membros dentros dos grupos.

Nas duas periodizações, a rede é maioritariamente composta por

pesquisadores da área de farmácia e é extremamente concentrada na Região

Metropolitana de Recife, só no ano de 2010, 72% os pesquisadores mapeados destes

estavam na cidade, sobre a principal instituição, quase que totalmente concentram-se

na Universidade Federal de Pernambuco, com poucas participações de outras

universidades e/ou pesquisadores de outras cidades no estado. Os fluxos das conexões

internas do país seguem a lógica maioritária Pernambuco para a região Sudeste. Após

a política deve-se ressaltar houve ampliação, mesmo que pequeno na construção de

redes internacionais.

Ainda sobre os avanços proporcionados pela PNCTIS, ao verificarmos se “a

PNCTIS tem estimulado o aumento na formação de redes científicas, no número de

pesquisadores trabalhando em rede, e na produção de conhecimento na área de

farmácia em Pernambuco” percebeu-se que houve significativo aumento no número

de trabalhos publicados em base de dados, 10% aproximadamente ao ano. De forma

semelhante, houve também aumento no número de pesquisadores trabalhando em

rede, em torno de 15% ao ano.

A concentração na RMR não se dá de forma ocasional, ela é resultado da

concentração das instituições de ensino e pesquisa na capital do estado, além da

necessidade de ainda se trabalhar com pesquisadores que estão próximos

geograficamente com o intuito de melhorar as relações e otimizar os resultados. Ao

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investigarmos “quão relevante é a proximidade geográfica para aqueles que cooperam

em rede, tomando como base a área de farmácia e os pesquisadores pernambucanos”

percebemos que, a proximidade geográfica, tanto do ponto de vista de acesso

cotidiano em termos de distância, quanto do ponto de vista de proximidade física

construída cotidianamente pelo compartilhamento de signos, códigos, linguagens e

experiências, é considerada ainda relevante para os pesquisadores que atuam na área

de farmácia.

Embora alguns pesquisadores considerem que trabalhar a distância possa

ser uma possibilidade até certo ponto, é inegável a preferência por trabalhar com

quem está próximo. Neste caso, a maioria dos pesquisadores considera que, com

pesquisadores conhecidos, em que já existe experiência de trabalhos cooperativos

positivos anteriores, é mais profícuo do ponto de vista de atuação em rede. Desta

forma, o “estar aqui” faz parte do exercício de confiança, da potencialização do

trabalho, da criação de uma sinergia de atuação cooperativa, que resulta na

construção de uma proximidade ou estrutura organizacional de atuação acadêmica

que proporciona maior dinamismo e retorno para todos.

Mais do que uma questão proximidade em termos de distância ou física, a

pesquisa em farmácia exige significativa cooperação e concordância para aqueles que

atuam. Em outras palavras, a pesquisa característica necessita de que os agentes

estejam atuando cotidianamente, isso proporciona maior aprendizado, maior

existência de feedbacks e maios capacidade de trocas e capacitação profissional que é

difícil, em alguns casos a longas distâncias. Mesmo que em determinados momentos

de experimentos não exijam a presença de todos os membros, a supervisão, a tomada

de decisões é mais propensa a ser facilitada face a face.

Ao pesquisarmos “se mesmo com o advento das tecnologias informacionais

e comunicacionais, o contato face a face ainda é relevante em algum momento da

construção ou funcionamento da pesquisa científica em rede na área de farmácia em

Pernambuco” verificamos que a grande maioria dos pesquisadores acha relevante a

comunicação presencial face a face, sobretudo em momentos de tomada de decisões.

Sobretudo em situações em que não se conhece pessoalmente nem a reputação do

outro pesquisador, ou mesmo a forma de trabalho.

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Para eles a mediação eletrônica, facilita, potencializa, mas de maneira

alguma substitui a presencialiade. E para tal o contato presencial face a face seria

importante em pelo menos um momento da pesquisa científica em rede. Para os

autores o contato face a face é mais importante até do que conhecer o pesquisador

pessoalmente com que se coopera. Para eles, todo o contexto da pesquisa na área de

farmácia é melhor quando realizado de forma próxima e presencial.

Dentro desse universo, os pesquisadores consideram a presencialidade, o

contato face a face, a experiência de trabalhos anteriores significativamente

importantes para se construir e de se tralhar em rede. A valorização de experiências

conjuntas e o compartilhamento de ações e estruturas de trabalho comum se mostra

presente quando os pesquisadores consideram a proximidade física importante até

mais que a geográfica. Muito embora um alto número destes coloca esta como ainda

fundamental.

Para concluir, as redes, assim como assinala Moreira (2010) permitem

recortar, reorganizar, produzir e conectar os diversos espaços geográficos existentes.

Daí sua colocação em que considera as redes o espaço móvel e integrado. Claro que

para o caso do autor, ele se refere mais as redes de infraestrutura, do que as redes

sociais propriamente ditas, muito embora, a finalidade, como destacado no trabalho

sejam as mesmas: circular, conectar, comunicar, transportar.

Mas as redes, em suas mais diversas denotações, tipos, metáforas e

caracterizações devem ser pensadas, enquanto meios, enquanto mecanismos, e não

como fim. O fim é, e sempre será o espaço geográfico. O palco fundamental e principal

das práticas e transformações. É no espaço geográfico que elas, as redes, estão e são

construídas. Elas são produto e ao mesmo tempo produtoras dele. E neste caso, o

espaço geográfico importa, sim.

O advento tecnológico e toda sua interconexão que resulta no que é

considerado ciberespaço, é a base material para a constituição da nova estrutura e

perspectiva das redes, e como tal ele é o veículo para que se conectem vários espaços,

e não para que se crie um. Pelo menos não um que seja o lócus principal e

fundamental de reprodução das relações sociais e existência humana. Ele é assim, mais

um dos componentes que promovem o atual meio técnico-científico-informacional.

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301

Da condição de um espaço digital e de fluxos permeado pela junção da

internet e demais tecnologias de informação, processamento e comunicação, destaca-

se a cada vez mais dependente de estrutura tecnológica fixa, formada por conjunto de

cabos de fibra ótica ou telefone, pontos de presença, pontos de acesso de backbones,

ligados a várias redes LAN ou a um único computador que permite os fluxos de bytes.

Ter acesso ao ciberespaço depende, afinal, de uma infraestrutura que, no caráter

de rede técnica, pouco difere de outras como a viária, de água, esgoto ou drenagem: é

formada também por uma trama de nós e linhas, pela qual é possibilitada a circulação

de algo que se quer distribuir.

Ou seja, a imaterialidade e fluidez existente no ciberespaço só existem em

face da materialidade existente no espaço geográfico; ela depende exclusivamente dos

objetos fixos e móveis para sua própria existência. Servidores que armazenam dados

de virtualidades são fisicamente construídos, verdadeiros sistemas de objetos de

informação estrategicamente montados para atender esta demanda.

Uma parte significativa dos fluxos promovidos no ciberespaço,

dependendo do objetivo ou da intencionalidade, tende a seguir a mesma lógica dos

fluxos humanos encontrados e realizados nas rugosidades do espaço geográfico.

Assim, boa parte das perspectivas comunicacionais e informacionais seguem uma

lógica estabelecida no espaço geográfico produzido cotidianamente que não deve ser

negligenciada em face da atual fluidez comunicacional.

Mas então, há um espaço digital e de fluxos, assim como há um espaço

geográfico? Consisderamos que não. Assim como aponta Santos (1994, 1996),

devemos nos lembrar de que a realidade do espaço geográfico supõe trabalho, ou

produção, por isso ele não é apenas material ou físico ele é também relacional, e está

sempre ganhando novas definições substantivas com as mudanças sociais, que são

nada mais, nada menos que os desdobramentos espaciais.

O trabalho que o espaço supõe deve ser encarado, portanto, como sempre

multidimensional, o ciberespaço assim, em si não seria trabalho, nem seria habitado e

produzido por aqueles que o constroem. Ele é assim, apenas a condição de trabalho, a

perspectiva, a possibilidade, um mecanismo. Ele permite comunicar, conectar, enviar,

circular o resultado de um trabalho ou parte de seu processo de um trabalho real,

palpável sobre múltiplas formas. Contudo, ele apenas autoriza o trabalho, o permite, o

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viabiliza, mas não o constitui. Portanto, ele não pode exclusivamente ser o condutor

principal da questão em torno das redes científicas, e não deve ser considerado de

nenhuma forma como o principal elemento dinamizador destas.

Elas, as redes científicas, redes sociais por excelência, potencializadas no

seio da revolução tecnológica, não só permitem a conexão entre pessoas, mas também

entre espaços. Nas contingências simultâneas, enquanto veículos de multiplicidade

elas sim, produzem espaço. Para tal, existe sim, um espaço das redes, ou pelo menos

produzido por elas. Este espaço é real e vital, e é resultado e ao mesmo tempo

mecanismo para a produção de trabalho.

A PNCTIS ao incentivar a construção de redes em si não produz ou constitui

espaço, nem o define. Ela é um mecanismo de incentivo, potencialização, facilitação,

um veículo facilitador na formação de relações que produzem trabalho e produzem o

espaço. Se ela o definisse teríamos espaços construídos em acordo com o que a

política espera, o que na prátia não temos. Aqueles que produzem o espaço, direta ou

indiretamente são os agentes que se integram, e se conectam, que trabalham, que

produzem. A PNCTIS se constitui neste caso em um elemento dentro deste sistema de

sistemas, um elemento de multiplicidade, extremamente relevante, não há dúvidas.

Mas então que tipo de espaço as redes científicas formam, ou que tipo de

espaço a PNCTIS contribuiu para a criação em Pernambuco? Um espaço geográfico

voltado para a produção de conhecimento, o burburinho da pesquisa científica

articulada, estabelecido pela vizinhança das redes, pela proximidade física e grupos de

pesquisa. Um espaço calcado nestas definições e dinâmicas em que os objetos e as

ações como tal, seguem esta lógica.

Que tipo de espaço então, é criado no ciberespaço? Neste caso,

consideramos que o espaço criado em meio aos fluxos via ciberespaço é um reflexo do

espaço cotidiano, do espaço produzido em muitas vezes presencialmente. A tecnologia

permite assim uma projeção do espaço geográfico “físico”, “palpável” apenas com

dinâmicas e temporalidades novas. Os contatos presenciais, por exemplo, são

meramente agilizados, potencializados, tornados mais rápidos nesta dinâmica.

Se existe um espaço geográfico Pernambuco, existe sim, dentro deste

espaço outro espaço ou outro sistema, o espaço da pesquisa e produção de

conhecimento na área de farmácia. Produzido e concentrado na Região Metropolitana

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de Recife, e na Universidade Federal de Pernambuco. Dentro deste sistema de

sistemas, temos os laboratórios, equipamentos, salas, infraestrutura diversas,

centrífugas, tubos de ensaio, refrigeradores, seringas, programas enquanto sistemas

de objetos e, socializações cotidianas, delegações de tarefas, transferência de

conhecimentos, trocas, orientações, cooperação, análises, sínteses, a troca enquanto

sistemas de ações.

Um espaço em que o local é extremamente relevante, determinante e até

mesmo concentrador. Nele, o contato face a face alimenta a possibilidade de trocas,

aprendizagens, proximidade, maior possibilidade de compreensão, entendimento, e

retorno de feedbacks entre os agentes. Sua construção é um exercício diário de

trabalho, linguagens, confiança e cooperação mútua. A construção de proximidade da

mesma forma que a formação profissional, é lenta e cotidiana exigindo exercícios

diários de socialização.

A proximidade cotidiana e as experiências de trabalhos proporcionados por

pesquisas realizadas são em muitos casos pré-requisito para a inserção em novas redes

ou a permanência em antigas, sejam aquelas perto geograficamente ou mesmo

aquelas distantes. Os principais agentes coordenadores e estruturas de apoio são os

líderes de pesquisa e os grupos de pesquisas da área, estes elementos são os

responsáveis pelo maior fluxo de dinamização de contatos, informação, infraestrutura

e recursos.

Um espaço que, assim como todos os outros, aponta para o fato de que a

história importa, sim. Importa enquanto temporalidades, enquanto desníveis,

enquanto contextos, enquanto trocas, enquanto necessidades, enquanto práticas.

Estas multiplicidades é que resultam na maior valorização de contatos presenciais em

detrimento dos virtuais. Que permitem que os pesquisadores prefiram trabalhar com

quem está próximo geograficamente em detrimento quem está longe sob as diversas

formas. E se o espaço é o reflexo das sociedades, ele – enquanto proximidade

geográfica, física, contextos históricos, contatos face a face, construção de relações de

confiança... - importa sim. E deve ser sempre considerado, passível de análise e

reflexão.

Devemos considerar enquanto primeira limitação de nosso trabalho, o

grande universo de debates conceituais que envolvem todos os aspectos que

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envolvem a dinâmica aqui pesquisada. Pela sua dimensão, reconhecemos que este

instrumento científico sempre será incompleto, imperfeito.

Outra questão relevante se diz respeito à falta de uma base de dados

consolidada brasileira que possa proporcionar um recorte mais próximo do real. Sua

falta sempre proporcionará pesquisas baseadas em pequenos recortes que sempre

proporcionarão uma visão, ainda que importante, mas subdimensionada dos fatos

existentes.

Por fim, a relutância de parte dos pesquisadores brasileiros em responder a

questionários. A relutância torna-se maior quando o questionário procura apreender

mais informações, mais detalhes. Neste caso, optamos por um questionário mais

sucinto e direto para que facilitasse a proximação com os pesquisadores, e nesta

particularidade, pode ter havido perda de informações significativamente relevantes.

É imprescindível como sugestão para melhorias na PNCTIS a realização de

uma análise de como é a dinâmica da cooperação em rede realizada por cada área do

conhecimento contemplada pela política em cada estado e região do país. A divisão da

análise por escalas de atuação, da mesma forma que a divisão do fomento por esta

mesma metodologia.

A partir do reconhecimento da dinâmica da pesquisa em rede, por área e

região, se permitirá criar editais específicos, direcionados para atender a demandas

diferenciadas no país, ou mesmo cotas regionais para a pesquisa científica em rede. E

este reconhecimento e análise local só pode ser feita com base na reconstrução

histórica do espaço geográfico local. Afinal, se existe uma realidade hoje, ela não

surgiu como uma abiogênese, ela é fruto de temporalidades, de contextos que são

construídos historicamente e que explicam muito do que encontramos hoje.

Para encerramos, sugerimos como pesquisas futuras, estudos q

considerem a dinâmica espacial na construção da confiança e de capital social entre

pesquisadores que atuam em rede na área de farmácia. Consideramos relevante

também a verificação de como ocorre a questão da proximidade e do contato face a

face na pesquisa em rede em outras áreas do conhecimento, em especial as áreas da

saúde.

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322

ANEXOS

Anexo nº 1: Questionário A

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Ciências Geográficas

Programa de Pós-Graduação em Geografia

Questionário

Título da pesquisa:

A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes

científicas fomentadas pela PNCTIS na área de farmácia em Pernambuco.

Allison Bezerra Oliveira

Doutorando em Geografia – UFPE

e-mail: [email protected]

Ana Cristina de Almeida Fernandes

Orientadora

Professora do Departamento de Ciências Geográfica – UFPE

IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO

Nome:

Cargo:

Instituição e cargo que ocupa:

E-mail:

As perguntas tratam da criação da Política Nacional de Ciência, Tecnologia, Inovação

em Saúde (PNCTIS) e o seu fomento à pesquisa em rede.

1ª - Em 10 de junho de 2002, foi publicada a Portaria nº 16 do Ministério da Saúde que

instituiu um Grupo de Trabalho encarregado de elaborar o documento preliminar da

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323

PNCTIS. Qual foi importância da criação desse grupo? Quais foram os resultados

advindos dele?

2ª – Quais as motivações para a construção da PNCTIS?

3ª – Quais as dificuldades para se implementar a PNCTIS de forma que esta alcance os

objetivos esperados?

4ª – Qual a importância do DECIT para a formulação da PNCTIS, e o fomento à pesquisa

em rede no país?

5ª – Em sua opinião, qual a importância da pesquisa em rede para o desenvolvimento

da área de saúde no Brasil?

6ª – No parágrafo 63 do texto da PNCTIS, destaca-se a necessidade de esforços no

sentido da ampliação na formação de redes de pesquisa nos países da América Latina,

África, Europa, Ásia, além do próprio Brasil internamente. Como é pensada a

construção, a manutenção e a própria pesquisa científica em uma estrutura em rede

por parte da política em questão, quando se tem pesquisadores dispostos tão

distantes geograficamente?

7ª – No parágrafo 64 do texto da PNCTIS, destaca-se a necessidade de se incentivar a

articulação interinstitucional em rede entre centros mais desenvolvidos e menos

desenvolvidos. Como pensar a construção e o fortalecimento de redes de pesquisa

quando o Brasil possui enormes diferenças regionais, por exemplo, em termos de

distribuição de massa crítica, de infraestrutura dos centros de pesquisas?

8ª – Em sua opinião quais principais obstáculos na criação e consolidação de redes de

pesquisa no país em face do fomento da PNCTIS?

9ª – Como você observa a importância dos INCTs na articulação de redes de pesquisa

científica pelo país?

10ª – Quais resultados até agora alcançados pela PNCTIS? Em sua opinião, a Política

tem atingido os objetivos esperados?

11ª – Existem mecanismos de monitoramento dos resultados da PNCTIS? Quais?

12ª – Que ajustes na política poderiam ser feitos considerando a pesquisa em rede?

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324

Anexo 2: Questionário B

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Ciências Geográficas

Programa de Pós-Graduação em Geografia

Questionário

Título da pesquisa:

A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes

científicas fomentadas pela PNCTIS na área de farmácia em Pernambuco.

Allison Bezerra Oliveira

Doutorando em Geografia – UFPE

[email protected]

Ana Cristina de Almeida Fernandes

Orientadora

Professora do Departamento de Ciências Geográfica – UFPE

IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO

Nome: Cargo:

Instituição e cargo que ocupa:

E-mail:

1. Em sua opinião, pesquisar em rede realmente potencializa a produção de

resultados na área de farmácia?

( ) Sim

( ) Não

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325

[Espaço para Comentários]

2. De modo geral, para a área da farmácia, pesquisar de forma cooperativa é

melhor?

( ) Sim

( ) Não

[Espaço para Comentários]

3. A cooperação internacional entre pernambucanos e pesquisadores estrangeiros

na área de farmácia ainda é pequena. Em sua opinião a que se deve isso? Quais

os maiores obstáculos para o aumento nestas relações?

[Espaço para Comentários]

4. Você já iniciou alguma pesquisa científica em rede em que não conhecia

pessoalmente o(s) outro(s) membros(s)?

( ) Sim

( ) Não

[Espaço para Comentários]

5. Para você, conhecer o pesquisador pessoalmente é importante etapa na

construção de uma parceria cooperativa em rede?

( ) Sim

( ) Não

[Espaço para Comentários]

6. Já ter trabalhado anteriormente com outro pesquisador é fator relevante na

hora de se montar uma nova parceria para pesquisa científica?

( ) Sim

( ) Não

[Espaço para Comentários]

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326

7. A relação orientador(a) & (ex)orientando é importante elo na construção de

parcerias para a pesquisa em rede?

( ) Sim

( ) Não

( ) Irrelevante

[Espaço para Comentários]

8. a pesquisa científica em rede na área de farmácia, é possivel realizar todo o

processo de pesquisa sem que haja encontros presenciais entre os membros?

( ) Sim

( ) Não

[Espaço para Comentários]

9. Para os casos em que os pesquisadores encontram-se distantes

geograficamente. Você considera importante a existência de pelo menos um

encontro presencial em algum momento de uma pesquisa cooperativa?

( ) Sim

( ) Não

[Espaço para Comentários]

10. Você considera que a comunicação eletrônica e todas as perspectiva por ela

proporicionadas (e-mail, telefone, web conferências etc) possam ser um

substituto eficaz para a comunicação presencial em uma pesquisa científica em

rede na área de farmácia?

( ) Sim

( ) Não

[Espaço para Comentários]

11. Na pesquisa científica em rede na área de farmácia, cooperar com quem está

próximo geográficamente é melhor para otimização do trabalho em conjunto e

consequentemente dos resultados?

( ) Sim

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327

( ) Não

( ) Irrelevante

[Espaço para Comentários]

12. Você considera a proximidade física como importante facilitadora na

construção e realização de uma pesquisa científica em rede na área de

farmácia?

( ) Sim

( ) Não

( ) Irrelevante

[Espaço para Comentários]

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328

Anexo nº 3: Lista de pesquisadores mapeados e sua numeração na rede

em 2000

Líder Instituição Pesquisador Nº

Sim UFPE ROLIM NETO, P.J. 1

UFPE NUNES, R.S. 2

Sim UFPE ALBUQUERQUE, U.P. 3

UFPE XAVIER, H.S. 4

Sim UFPE SANTANA, D.P. 5

Sim UFPE PISCIOTTANO, M.N.C. 6

Sim UFPE MAGALHÃES, N. S. 7

UFPE PONTES, A. 8

UFPE PEREIRA, V. W. 9

UFPE PEREIRA, S. 10

UFPE SILVA, A. 11

Sim UFPE GALDINO, S.L. 12

Sim UFPE LEITE, L.F.C. da C. 13

UFRJ BARREIRO, E.J.L. 14

UFPE RAMOS, M.N. 15

UFPE SILVA, J.B.P. 16

Sim UFPE PITTA, I. da R. 17

UFOP GUARDA, V.L. de M. 18

Université Joseph-Fourier - França PERRISSIN, M. 19

Université Joseph-Fourier - França THOMASSON, F. 20

UFPE XIMENES, E.C.P.A. 21

Université Joseph-Fourier - França LUU-DUC, C. 22

Sim UFPE BRONDANI, D. J. 23

UFPE VIEIRA, R.F.F. 24

UFPE FARIA, A.R. 25

Sim UFPE WANDERLEY, A.G. 26

UFPE AFIATPOUR, P. 27

UFPE SRIVASTAVA, R.M. 28

UFPE XIMENES, E.C.P.A. 29

UNICAMP OLIVEIRA, C.F. 30

UNICAMP MEDEIROS, M.V. 31

UNICAMP ANTUNES, E. 32

Sim UFPE LEITE, A.C. 33

UFPE SOUZA, J.M. 34

UFPE MAIOR, R.M.S. 35

UFPE AZEVEDO, W.M. 36

Sim UFPE HERNANDES, M.Z. 37

UFPB FELIX, L.A. 38

UFPB OLIVEIRA, C.A.F. 39

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329

UFPB KROSS, R.K. 40

UFPB PEPPE, C. 41

Uni. of Windsor - Canadá BROWN, M.A. 42

Uni. of Windsor - Canadá TUCK, D.G. 43

UFSCar LONGO, E. 44

UFSCar SENSATO, F.R. 45

Sim UFPE PAIM, A.P.S. 46

USP REIS, B. F 47

Sim UFPE SANTOS, B.S. 48

UFPE DONEGÁ, C.M. 49

UFPE PEREIRA, G.A.L. 50

UFPE PETROV, D.V. 51

Sim UFPE ALVES, A.J. 52

UFPE PEREZ, E.P. 53

UFPE TEODÓSIO, N.R. 54

UFPE ALVES, A. 55

UFPE DIMENSTEIN, W. 56

UFPE GUEDES, R.C.A. 57

UFPE LAFAYETTE, S.S.L. 58

UFRJ QUINTAS, L.E. 59

UNIFESP CARICATI NETO, A. 60

UNIFESP JURKIEWICZ, A. 61

UFRJ NOEL, F. 62

Sim UFPE SANTOS-MAGALHÃES, N.S. 63

UFPE LARSSON, P.O. 64

UFPE ANDERSON, A. 65

Uni. Paris BASZKIN, A. 66

Uni. Paris BOISSONNADE, M.M. 67

UFPE CARVALHO JÚNIOR, L.B. 68

UFPE CORREIA, M.T.S. 69

UFPE COELHO, L.C.B.B. 70

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330

Anexo nº 4: Lista de pesquisadores mapeados e sua numeração na rede

em 2010

Líder Instituição Pesquisador Nº

Sim UFPE ROLIM NETO, P.J. 1

UFPE SOARES-SOBRINHO, J.L. 2

UFPE LA ROCA SOARES, M.F. 3

Uni. Santiago de Compostela - Espanha TORRES-LABANDEIRA, J. J. 4

UFPE LOPES, P.Q. 5

UFPE CORREIA, L.P. 6

UFPB SOUZA, F.S. 7

UFPB MACÊDO, R.O. 8

UFPE LYRA, M.M.A. 9

UFPE ALVES, L.D.S. 10

UFPE FONTES, D.A.F. 11

UFPE PRESMICH, G.M.A. 12

UFPE ROLIM, L.A. 13

UFPE CAVALCANTI, O.R.B.R. 14

UFPE SILVA, K.E.R. 15

UFPE SOARES, M.F.L.R. 16

UFPE GRANJEIRO JUNIOR, S. 17

UFPE ALVES, L.D.S. 18

UFPE MEDEIROS, F.P.M. 19

sim UFPE ALBUQUERQUE, M. M. 20

UFPE CÂMARA, A.C. 21

UFPE AGUIAR, C.M. 22

UFPE PIMENTEL, M.F. 23

UFPE SILVA, R.H. 24

UFPE SIMOES, S.S. 25

Sim UFPE SANTANA, D.P. 26

UFPE SILVA, J. A. 27

UFPE BEDOR, D.C.G. 28

UFRN DAMASCENO, B.P.G. 29

UFPE OLIVEIRA, A.G. 30

UFRN EGITO, E.S.T. 31

UFPE SOUZA FILHO, J.H. 32

UFPE BONIFACIO, F.N. 33

UFPE RAMOS, V.L. 34

UFPE SOUZA, C. E. M. 35

UFPE SARDON, L.L.F. 36

UFPE MOTA, T. G. 37

UFPE MOREIRA R.C.D. 38

UFPE LEAL, L.B. 39

Sim UFPE PISCIOTTANO, M.N.C. 40

UFPE SARAIVA, A.M. 41

UFPE CASTRO, R.H.A. 42

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331

UFPE CORDEIRO, R.P. 43

UFPE PEIXOTO SOBRINHO, T.J. 44

UFPE CASTRO, V.T.N.A. 45

UFPE XAVIER, H.S. 46

Sim UFPE AMORIM, E.L.C. 47

sim UFPE WANDERLEY, A.G. 48

UFPE VASCONCELOS, C.F.B. 49

UFPE MARANHÃO, H.M.L. 50

UFPE BATISTA, T.M. 51

UFPE FERREIRA, F. 52

UFPE COSTA, J. 53

UFPE SOARES, L.A.L. 54

UFPE SÁ,M.D.C. 55

UFPE SOUZA,T.P. 56

UFPE CALDAS, G.F.R 57

UFPE COSTA, I.M.A. 58

UFPE SILVA, J.B.R. 59

UFPE NÓBREGA, R.F. 60

UFC RODRIGUES, F.F.G 61

UFC COSTA, J.G.M. 62

UFPE SILVA, M.G.B. 63

UFPE ARAGÃO, T.P. 64

UFPE FERREIRA, P.A. 65

UFPE ANDRADE, B.A. 66

UFPE COSTA-SILVA, J.H. 67

Sim UFPE LAFAYETTE, S.S. 68

Sim UFPE MAIA, M.B.S. 69

UFPE PEREIRA, E.C.G. 70

UFPE SILVA, N.H. 71

UFPE SANTOS, R.A. 72

UFPE SUDARIO, A.P.P. 73

UFPE SILVA, A.A.R. 74

Sim UFPE ALBUQUERQUE, U. P. 75

UFPE MELO, J.G. 76

UFPE ARAÚJO, T.A. de S. 77

UFPE CABRAL, D.L.V. 78

UFPE RODRIGUES, M.D. 79

UFPE NASCIMENTO, S. 80

UFRPE MONTEIRO, J.M. 81

UFRPE LIMA, E.A. 82

UFRPE ALENCAR, N.L. 83

UFPE GOMES, T. 84

UFPE CARDOSO, K. 85

UFPE ALMEIDA, C. de F.C.B.R. 86

UFPE RAMOS, M.A. 87

UFRPE FERREIRA JUNIOR, W.S. 88

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332

UFPE CRUZ, M.P. 89

UFPI VIEIRA, F.J. 90

UFPE SOLDATI, G.T. 91

UFC CARTAXO, S.L. 92

UFPE SOUZA, M.M.A. 93

UFRPE LINS NETO, E.M.de F. 94

UFSC PERONI, N 95

UFPE SILVA, T.C. 96

UFRPE MEDEIROS, P.M. de 97

Sim UFPE GALDINO, S.L. 98

Sim UFPE PITTA, I. da R. 99

Sim UFPE LIMA, M. do C. A. de 100

UFPE MENDONÇA-JUNIOR, F.J.B. 101

UFPE SOUZA, A.M.A. de 102

UFPE WALFRIDO, S.T.P. 103

Sim UFPE LEITE, A.C.L. 104

UFPB BARBOSA FILHO, J.M. 105

UFAL SIMONE, C.A. de 106

UFPE BARROS, C.D. 107

UnB AMATO, A.A. 108

UFPE OLIVEIRA, T.B. de 109

UnB IANNINI, K.B.R. 110

UFPE SILVA, A.L. da 111

UFPE SILVA, T.G. da 112

UFPE LEITE, E.S. 113

Sim UFPE HERNANDES, M.Z. 114

UnB ROCHA-NEVES, F.de A. 115

UFPE NEVES, J.K.A.L. 116

UFPE BOTELHO, S.P.S. 117

UFPE MELO, C.M.L. de 118

UFPE ALBUQUERQUE, M.C.P. de A. 119

UFPE PITTA, M.G. da R. 120

UFPE ROCHA-PITTA, M.G. da 121

UFPE BENKO-ISEPPON, A.M. 122

UFPE CALSA-JÚNIOR, T. 123

UFPE KIDO, E.A. 124

UFPE TOSSI, A. 125

UFPE BELARMINO, L.C. 126

UFPE CROVELLA, S. 127

UFPE COUTO, J.A. 128

Aggeu Magalhãoes/FIOCRUZ SARAIVA, K.L.A. 129

UFPE UDRISAR, D.P. 130

UFPE PEIXOTO, C.A. 131

UFPE VIEIRA, J.S.B.C. 132

UFPE LIMAR, M.C. 133

UFPE WANDERLEY, M.I. 134

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333

UFRJ TAKASHI-SUDO, R. 135

UFRJ CALAZANS-MAIA, J. de A. 136

UFRJ ZAPATA-SUDO, G. 137

UFPE UCHÔA, F. de T. 138

UFRS PALMA, E.C. 139

UFRS SOUZA, N.F. 140

UFRS DALLA COSTA, T.C.T. 141

UFPE RABELLO, M.M. 142

UFPE CARDOSO, M.V.O. 143

UFPE MOREIRA, D.R.M. 144

Aggeu Magalhãoes/FIOCRUZ REIS, L.C. 145

Aggeu Magalhãoes/FIOCRUZ SOUZA, M.A. 146

Aggeu Magalhãoes/FIOCRUZ PEREIRA, V.R.A. 147

Uni.of California-USA FERREIRA, R.S. 148

Uni.of California-USA MCKERROW, J.H. 149

Sim UFPE BRONDANI 150

Jamia Millia Islamia – Índia BAHL, D. 151

Jamia Millia Islamia – Índia ATHAR, F. 152

Oswaldo Cruz – BA SOARES, M.B.P 153

Oswaldo Cruz – BA DE SÁ, M.S. 154

UFPE SRIVASTAVA, R.M. 155

Jamia Millia Islamia – Índia AZAM, A. 156

UFPE PONTES, F.J.S. 157

UFPE COELHO, L.C.D. 158

UFC PESSOA, C. 159

UFC FERREIRA, P.M.P. 160

UFC LOTUFO, L.V.C 161

UFC De MORAES, M.O 162

UFPE CAVALCANTI, S.M.T. 163

UFPE COSTA, V.M.A. 164

UFPE SOUZA, V.M.O 165

Faculté des Sciences Dhar Mehraz - Marrocos MESKINI, I. 166

Université de Rennes – França TOUPET, L. 167

Université de Rennes – França DAOUDI, M. 168

Université de Rennes – França KERBAL, A. 169

Faculté des Sciences Dhar Mehraz - Marrocos BENNANI, B. 170

Université de Rennes – França DIXNEUF, P.H. 171

Bahauddin Zakariya University - Paquistão CHOHAN, Z.H. 172

Bahauddin Zakariya University - Paquistão HADDA, T.B. 173

PUC-RS DE AZEVEDO JUNIOR, W.F. 174

Sim UFPE PAIXÃO, J.A. 175

UFPE LIMA, M.S. 176

UFPE PAIXA, E.P. 177

UFPE ANDRADE, S.A.C. 178

Sim UFPE PAIM, A.P.S. 179

UFPE SILVA, F.S.V.C.B. 180

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334

UFRPE LAVORANTE, A.F. 181

UFPE SILVA, M.J. 182

Uni. de Valencia-Espanha CERVERA, M.L. 183

Uni. de Valencia-Espanha GUARDIA, M.L. 184

UFPE SILVA, J.J. 185

UFPE ANDRADE, M.F. 186

UFPE SILVA, V.L. 187

Uni. de Porto - Portugal MONTENEGRO, M.C.B. 188

Uni. de Porto - Portugal ARAUJO, A.N. 189

UFPE LIRA, LF.B. 190

UFPE VASCONCELOS, F.V.C. 191

UFPB PEREIRA, C.F. 192

UFPE STRAGEVITCH, L. 193

Sim UFPE SANTOS, B.S. 194

UFPE SILVA, D.C.N 195

UFPE FERNANDES, H.P. 196

UFPE JOVINO, C.N 197

UFPE MARCELINO FILHO, M. 198

UFPE MARTINS FILHO, A.F. 199

UFPE OLIVEIRA, A.D.P.R. 200

UFPE FARIAS, P.M.A. de 201

UNICAMP CESAR, C.L 202

UFPE BARJAS-CASTRO, M.L. 203

UFPE FONTES, A. 204

UFPE CHAVES, C.R. 205

UNICAMP ALMEIDA, D.B. 206

UFPE ANDRADE, J.J 207

UFPE BRASIL JÚNIOR, A.G. 208

UFPE BARBOSA, B.J.A.P. 209

UFPE AZEVEDO FILHO, C.A. de 210

UFPE LIRA, R.B. 211

UFPE SALES NETO, A.T. 212

UFPE CARVALHO, K.H.G. 213

UFPE TENORIO, D.P.L.A. 214

UFPE CABRAL FILHO, P.E. 215

UFPE CAVALCANTI, M.B. 216

UFPE AMARAL, A. 217

Sim UFPE ALVES, A.J. 218

UFRPE LIESEN, A. P 219

UFPE AQUINO, T. M. 220

UENF-RJ CARVALHO, C.S. 221

UFPE LIMA, V.T. 222

UFPE ARAUJO, J.M. 223

UFPE LIMA, J.G. 224

UFPE FARIA, A.R. 225

UENF-RJ MELO, E.J.T. 226

Page 335: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

335

UFPE GOÉS, A.J.S. 227

IMIP ALVES, A.Q. 228

USP POSTIGO, M.P. 229

USP GUIDO, R.V.C. 230

USP OLIVA, G. 231

USP CASTILHO, M.S. 232

UFPE DE ALBUQUERQUE, J.F.C. 233

UFPE ANDRICOPULO, A.D. 234

UFPE ORTEGA, LF. 235

UFPE DA SILVA, J.C.P. 236

UFPE DA SILVA, S.S. 237

UFPE FRAGA, M.C.C.A. 238

Sim UFPE RODRIGUES, M.C.A 239

USP ROSSETTI, F. 240

USP DE OLIVEIRA, J.A.C. 241

USP GARCIA-CAIRASCO,N. 242

UFPE LUNA. D.M.N 243

UFPE FALCÃO, E.P.S. 244

Sim UFPE MELO, S.L 245

UFPE ANRADE, C.A.S 246

Sim UFPE SANTOS-MAGALHÃES, N.S. 247

Uni. de Dundee – Escócia O'NEILL, M.A. 248

UFRPE/Uni. de Dundee - Escócia MEYER, M. 249

Uni. de Dundee – Escócia MURRAY, K.E. 250

UFPE ROLIM-SANTOS, H.M.L. 251

Uni. de Dundee – Escócia THOMPSON, A.M. 252

Uni. de Dundee – Escócia APPLEYARD, V.C.L. 253

UFPE NASCIMENTO FILHO, J.M. 254

UFPE MELO, C. P. de 255

UFPE ROSILIO, V. 256

UFRN MACIEL, M.A.M. 257

UFPE ANDRADE, C.A.S. 258

UFOP MOSQUEIRA, V. C. F. 259

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1

Anexo nº 5: Rede científica da área de farmácia em Pernambuco em 2000

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2

Anexo nº 6: Rede científica da área de farmácia em Pernambuco em 2010

Page 338: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

3

Anexo nº 7: Fluxos de pesquisadores no ano de 2000 antes da atuação da PNCTIS

Page 339: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

4

Anexo nº 8: Fluxos de pesquisadores no ano de 2010 após a atuação da PNCTIS

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5

Anexo nº 9: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2005

Page 341: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

6

Anexo nº 10: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2005

Page 342: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

7

Anexo nº 11: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2006

Page 343: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

8

Anexo nº 12: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2007

Page 344: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

9

Anexo nº 13: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2008

Page 345: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

10

Anexo nº 14: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2009

Page 346: A importância do espaço geográfico na construção e ... · 3 Catalogação na fonte Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567 O48i Oliveira, Allison Bezerra. A importância

11

Anexo nº 15: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2010