A Importância dos Museus para a preservação da Cultura
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A Importância dos Museus para a preservação da Cultura
Fernanda G. de Camargo Lopes; Frederico A. Muraca Noremati
MAK - Interpretação Patrimonial 2020
Tema
Os museus exercem um significado extremamente relevante. Muitos
pensam que eles são apenas um caminho em direção ao passado, quando
na verdade são muito mais que isso. É um lugar de conexão entre passado,
presente e futuro, pois olhar o passado, é conhecer o que foi feito para
aprimorar mecanismos que podem influenciar o presente, para que novos
conhecimentos e técnicas sejam disponibilizadas para a sustentabilidade e
informações das futuras gerações.
O Museu, enquanto instituição, pode assumir as mais diversas configurações, e se prestar a diversos temas, como nos exemplos: Museu Britânico, o Catavento Cultural e o Museu de História Natural do Instituto Smithsonian;
- Professor Walter Neves defende, por exemplo, a criação de um Museu de História Natural em São Paulo como forma de divulgação das ciências e do método científico, especialmente de fatos científicos em constante refutação, como a Teoria da Evolução
(http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2018/09/todos-os-museus-do-brasil-sofrem-de-
negligencia-alerta-walter-
neves/;https://www.youtube.com/watch?v=lHL6NpmC57k&list=PLAudUnJeNg4sUpVQaygeyms
a8fVsZjkCb&index=12)
Tema
Aqui, portanto, o Museu é tomado enquanto instituição moderna, voltada ao público
(ou seja, pública), detentora de um passado e, portanto, de uma memória (museus de
arte e históricos), além de ser responsável por uma divulgação pública de
determinados conhecimentos e valores, como os Museus Científicos, bem como
criadora de conhecimento;
Assim, falaremos do Museu enquanto uma instituição em latu sensu, não se definindo
um modelo específico, buscando, inicialmente, as bases sociais e ideológicas da
conservação da cultural;
Num segundo momento, definiremos os atributos atuais de uma tal instituição a
partir da análise do capital cultural que ela representa na atualidade;
Relevância do tema
Com recentes desastres envolvendo a destruição de museus e patrimônios culturais e históricos que eles abrigavam, o conceito de museu enquanto lugar de memória, preservação, pesquisa e exposição é realçada:
- Incêndio do Museu Nacional: - Comoção nacional em plena transição do Governo Temer - cujas primeiras medidas já consistiam
em extinguir o MinC - ao atual governo, marcado por ideologia de guerra cultural
- Incêndio do Museu da Língua Portuguesa: - O museu tinha uma linha do tempo de 33 metros que reconstitui todo o caminho da língua
portuguesa, africana e ameríndia até se encontrar no Brasil, foi perdido, mas grande acervo era
virtual, então sua recuperação se tornou mais fácil.
- Saques no Museu Egípcio durante a Primavera Árabe: - O povo egípcio se mobilizou para proteger a integridade do Museu após os primeiros saques
realizados na Primavera Árabe
O Museu Egípcio, saqueado em 2011: 54 artefatos inestimáveis foram saqueados na ocasião, sendo gradualmente recuperados pelas autoridades e restaurados pelo museu;
(https://www.bbc.com/news/entertainment-arts-24365916)
O Museu Nacional, destruído em incêndio em 2018, tragédia ainda fresca na memória nacional que ameaça se repetir em outras instituições; (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/05/destino-de-regina-
duarte-cinemateca-segue-roteiro-da-tragedia-do-museu-
nacional.shtml)
O Museu Moderno Essa recente destruição e saque de
museus e do patrimônio nos permite
visualizar um dos pilares do surgimento
de tais instituições, que é o nacionalismo
da Revolução Francesa, associado à
conservação frente ao vandalismo
revolucionário (Choay).
Outro dos pilares modernos do Museu
enquanto instituição pública e de
aspirações universais é o Renascimento,
e sua cultura burguesa, caracterizada
pela emergência do mecenato.
Os Museus Capitolinos (acima) e do Vaticano
(ao lado) estão entre os primeiros exemplos de
Museus modernos;
Fundados no Séc. XIV, seu conteúdo abrange
obras de arte, documentos, objetos históricos
etc. de diversas culturas, especialmente da
Civilização Helênica;
Renascimento e o Museu
Outras origens do museu se encontram na tradição católica, com museus na
Península Itálica, especialmente o Vaticano e o Museu Capitolino.
Contexto:
- Humanismo
- Acumulação primitiva do capital: mercantilismo - surgimento de novas classes sociais e econômicas (a burguesia), que leva a uma disputa por
hegemonia cultural, através do mecenato, do qual passa a fazer parte a Igreja Católica, enquanto
forma de consagração de seu poder universal;
- Primeiras experiências republicanas na Península Itálica
Papas essenciais na consolidação do Museu do Vaticano: Nicolau V, Alexandre VI e Julio
II;
Considerando-se descendente da civilização romana, a Igreja Católica acumulou em sua
sede os espólios da civilização clássica
A Revolução Burguesa e o Museu Moderno
Contexto:
- Surgimento do nacionalismo: a identidade nacional passa a ser a ideologia que
funda o Estado burguês; - Soberania popular de Rousseau;
- Necessidade de conjugar o interesse da Nação à ação do Estado
- Proposições universalizantes do Iluminismo - Direitos do homem e do cidadão,
- igualdade formal;
- Desenvolvimento e consolidação de repúblicas modernas (Respublica), a partir
das proposições anteriores de Teoria Política (Quentin Skinner);
- A nação enquanto sujeito de direito detentor de direitos inalienáveis, incluindo
aí seu patrimônio;
Alexandre Lenoir, à esquerda, responsável pelo Museu de Monumentos Franceses;
Museu do Louvre (imagem do séc. XIX), aberto ao público em 1793, após período
de estudos, para comemorar a Queda da Monarquia em 1792.
Revolução Burguesa e conservação
Houve uma reação à sacralização do patrimônio e da conservação de um certo
sentido da história:
A Revolução Burguesa serviu de base para discussões sobre a necessidade de
conservação do patrimônio, que agora era nacional, tendo antes sido propriedade
real, bem como se debateu a expropriação da propriedade clerical e nobiliárquica,
- conforme Jean Paul-Marat, Jacques Roux, Graco Babeuf e outros radicais, a
propriedade deveria ser distribuída aos cidadãos;
- discussões estas que remetem aos ataques de camponeses às propriedades da
Igreja na Reforma Protestante.
A destruição de monumentos
enquanto símbolos de poder de
classe continuou como questão a
ser debatida na França do séc.
XIX, conforme a imagem da
Comuna de Paris;
A questão social passa a ser
debatida com o nacionalismo de
forma mais marcante;
No centro da fotografia, a estátua,
destruída e deitada, contrastando
com os revolucionários ao redor;
Tudo isto em detrimento de proposições revolucionárias que
não viam a necessidade de sacralização de monumentos, ou
seja, havendo uma escolha entre dois modelos de relação
com o museu e com monumento histórico, e especialmente o
patrimônio religioso;
O culto cívico e universalista da Revolução acabou por
conciliar manifestações culturais anteriores e contraditórias
em seu meio, aceitando assim a existência de uma história
nacional representada em um patrimônio comum a ser
conservado pelos museus, ânimo este que vai ganha novo
fôlego com o espírito passadista Romântico do séc XIX.
Assim, as questões modernas concernentes ao patrimônio, ao museu e à conservação surgem
como respostas de publicização das “artes e ciências”, das coleções antes privadas num mundo
pós-revolução francesa, bem como num nacionalismo que logo se mistura ao jogo imperialista
das nações capitalistas, já exemplificado nas Campanhas Napoleônicas;
2ª Parte da exposição: Problematização
O museu é ainda uma instituição burguesa?
O museu é ainda uma instituição imperialista?
Quais valores ele se propõe a preservar?
Estrutura e funcionamento - Administração geral: Dada a complexidade das atividades museológicas, um museu geralmente se divide em vários
setores, atendidos, conforme exige a regulamentação recente, por profissionais plenamente qualificados para as suas funções.
- Plano Diretor: a diretriz principal sobre vários aspectos, entre eles: Que tipo de museu se vai constituir? É um museu temático? É um museu histórico, artístico, etnológico? Que tipo de peça vai ser aceita? Há condições de conservar e exibir adequadamente a coleção? Qual o propósito da coleção? Como se pretende expandi-la? Que público se deseja atingir, e como se poderá fazer isso? Como o museu vai se apresentar e inserir na vida de sua comunidade?
- Acervo: O acervo representa o núcleo vital de todo museu, é em torno do qual giram todas as suas outras atividades. Para o acervo existir precisa de um curador. O curador é o responsável pela gestão do acervo segundo o que foi definido no Plano Diretor do museu.
- Aquisição e documentação: Cada peça proposta para incorporação ao acervo é então avaliada por um curador competente, que faz suas escolhas em sintonia com a direção do museu, e de acordo com a política em vigor na instituição e com as normas e parâmetros internacionais que regem sua atuação.
- Conservação e restauro: A Reserva Técnica (RT), ou Depósito, é a área onde a coleção permanece quando não está sendo exibida ao público. Mais uma vez, as condições deste local variam conforme o tipo de objeto preservado no museu, sendo que cada tipo de material tem exigências específicas de conservação.
Modernidade x Tradição
-Na era moderna, a partir do século XVII, com a criação de instituições voltadas para o ato de
colecionar, museus e bibliotecas, a prática de coletar, reunir e organizar está intimamente conectada
com a valorização da cultura humanista e o desenvolvimento da ciência. Ao mesmo tempo, as coleções
indicam sinais de poder.
Patrimônio Histórico
Através do patrimônio histórico podemos, portanto, conhecer a história e tudo que a envolve. Por exemplo, a arte, as tradições,
os saberes e a cultura de determinado povo.
Por esse motivo, existem atualmente diversos órgãos que objetivam a conservação e preservação desses bens.
Sendo assim, o patrimônio histórico reúne o conjunto de manifestações que foram desenvolvidas ao longo do tempo e que
carrega aspectos simbólicos.
Segundo o Decreto Lei n.º 25 de 1937:
“Art. 1.º - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja
conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu
excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico."
Patrimônio Cultural
➔ A palavra patrimônio vem de pater, que significa pai e tem origem no latim.
➔ Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, o patrimônio cultural de um povo é formado
pelo conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, à memória e à
identidade desse povo.
➔ Visitar exposições, museus, lugares históricos, galerias de arte ou lugares da cidade fomenta descobertas sobre o homem
e sua relação com diferentes povos, culturas e valores.
➔ Em todo o caso, os museus consagram-se à investigação, à conservação e à exposição de coleções que tenham um valor
cultural.
➔ A existência dos museus se deu do hábito do ser humano em guardar objetos que lhe são de valor. E esse hábito existe
desde os tempos remotos, com os seres humanos atribuindo valor material, emocional ou mesmo cultural aos objetos e,
com isso, querendo preservar esses objetos.
Referências BREFE, Ana Cláudia Fonseca. Museus Históricos na frança: entre a reflexão histórica e a identidade nacional. Anais do
Museu Paulista, São Paulo, N.Sérv. v. 5 p.175-203 - jan./dez. 1997
CHOAY, Françoise. A alegoria do Patrimônio. 5. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2014.
STARA, Alexandra. National History as Biography:: alexandre lenoir⠹s museum of french monuments. In: HILL, Kate (org.).
Museums and Biographies: stories, objects, identities. Stories, Objects, Identities. Woodbridge: Boydell & Brewer; Boydell
Press, 2012. p. 266-277.
Real, M. P. C. (2016). BOURDIEU, P.; DARBEL, A. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. Trad.
Guilherme João de Freitas Teixeira. São Paulo: Zouk, 2003. Revista Polyphonía, 27(2), 283-288. Recuperado de
https://www.revistas.ufg.br/sv/article/view/44730
Sites dos Museus:
https://www.louvre.fr/en/histoirelouvres/history-louvre/periode-4#tabs
http://www.museivaticani.va/content/museivaticani/en/musei-del-papa/storia.html#niccolo-v--1447-1455--e-alessandro-vi--1492-
1503-