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A IMPRENSA COMO FONTES PARA PESQUISA EM HISTÓRIA E EDUCAÇÃO
SOUZA, Eliezer Felix de (UEPG)1
[email protected]Área Temática: História, Políticas Públicas e Educação
RESUMOEste trabalho apresenta uma análise sobre a utilização das fontes impressas para a pesquisa em História e Educação. O objetivo do artigo foi apresentar de forma sistemática aspectos relacionados à utilização dos periódicos como fonte de pesquisa. Utilizou-se como referencial de análise três aspectos fundamentais. No primeiro caso, referencio o trabalho de monografia intitulado O Espetáculo da Religião: Padres Cantores e a Renovação Carismática católica através da Mídia. Desse trabalho tiro a experiência de ter utilizado as revistas Veja, Época e Isto É, como fonte de pesquisa. No segundo aspecto, menciono a dissertação que venho desenvolvendo e intitulada Discursos sobre educação nos Jornais o Progresso e Diário dos Campos (1907-1924).2 Nesse trabalho que tem como baliza cronológica o período compreendido entre 1907-1924, analiso os discursos sobre educação através dos intelectuais do referido jornal. Para análise utilizo o conceito de intelectual discutido por Gramsci, que entre outras considerações, compreende os intelectuais como organizadores da cultura. E os jornalistas se inserem como tal. No terceiro aspecto apresento as principais discussões relacionadas à imprensa como fonte de pesquisa, bem como faço uma breve incursão pela história da imprensa. A partir dessas discussões (experiência e teórica), concluo que os meios impressos se constituem em fontes importantíssimas para a pesquisa em História e Educação. Mesmo assim aponto alguns cuidados que devem ser levados em consideração. O primeiro refere-se as pesquisas com periódicos mais antigos, como os jornais citados acima do início do século. Estes além de muitas fragmentações de séries preservadas, geralmente apresentam-se em mal estado de conservação. Já com relação as revistas e os trabalhos com periódicos mais recentes geralmente não existe o problema de preservação. Muitos institutos e as próprias empresas de comunicação preservam coleções e mantêm digitalizadas acervos inclusive na internet. No entanto um fator que deve ser observado é o enorme volume de preservação e variedade dos periódicos que circulam. Mas de certa forma, os meios de comunicação se constituem importantes fontes para a pesquisa em História. Suas múltiplas abordagens permitem que sejam lançadas várias problemáticas de pesquisa, já que geralmente prevalece entre os jornalista um ecletismo amplamente considerável e que deve ser
1 Aluno do programa de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa.2 Orientador Prof. Dr. Névio de Campos. Linha de pesquisa: História e Políticas Educacionais.
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cuidadosamente analisado pelo pesquisador.
Palavras-chave: História. Intelectuais. Educação. Fontes impressas.
INTRODUÇÃO
Em 2002, na monografia intitulada O Espetáculo da Religião: Padres Cantores e a
Renovação Carismática católica através da Mídia, utilizei as revistas Veja, Isto É e Época
como objeto de pesquisa. Neste trabalho defendi a idéia de que o espetáculo da religião
esta presente nos discursos da mídia, que cria polêmicas, que altera a realidade, mas que
apesar de transformar o real, seus discursos partem de algo evidente: no caso especifico da
pesquisa mencionada, a presença de religiosos nos meios de comunicação.
Fiz referência a esta pesquisa apenas como indicativo que venho utilizando a
imprensa e os meios de comunicação nas pesquisas em história e mais recentemente em
Educação. Na segunda opção, estou cursando Mestrado em Educação na Universidade
Estadual de Ponta Grossa. Da mesma forma como na pesquisa anterior, utilizo como fonte
a imprensa. Nesta pesquisa em especifico analiso os jornais O Progresso e Diário dos
Campos. Fundado em 1907 com o primeiro nome, o jornal representa um marco histórico
para a cidade.
Nesta pesquisa partimos do pressuposto de que no Brasil, no início do século XX
estava havendo um debate significativo em relação a educação do povo. Esses debates
eram promovidos por intelectuais que além de variada produção bibliográfica, atuavam nos
meios impressos para a divulgação de seus ideais. O Jornal O Estado de São Paulo, por
exemplo, foi um aliado de intelectuais na exposição de suas ideais. Com base nesses
apontamentos lançamos a hipótese de que nossos intelectuais não ficaram alheios a esses
debates relacionados à educação.
No horizonte teórico da história intelectual um dos debates refere-se ao conceito de
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intelectual discutido por Antônio Gramsci. Em suas análises, esse pensador distingue a
intelectualidade tradicional que se considera uma classe ou comunidade à parte e os grupos
que as classes produzem organicamente, a partir das suas relações. Essas novas classes
exercem funções predominantemente intelectuais e fazem parte de instituições ligadas à
atividade cultural. O elemento fundamental oriundo das reflexões de Gramsci consiste em
reconhecer que os intelectuais não constituem camadas externas às lutas políticas, sociais e
culturais. Ao contrário o intelectual se caracteriza pelo imiscuir-se nas diferentes esferas da
vida societária. E uma dessas esferas é o jornalismo que, no mundo moderno, passou a
exercer um espaço profícuo no processo de constituição de novos modos de pensar, de
agir, de sentir e de ser.
Com relação a metodologia da pesquisa, utilizamos as fundamentações do teórico
russo Mikhail Bakhtin. Entre outras considerações este pensador defende a idéia de que
não existe discurso fora de um contexto social de enunciação. Para Bakhtin “discurso, isto
é, a língua como objeto específico da linguística, obtido por meio de uma abstração
totalmente legítima e necessária de vários aspectos da vida concreta da palavra”. (2003, p.
92) Assim o discurso escrito é de certa forma parte integrante de uma discussão ideológica
em grande escala: ele responde a alguma coisa, refuta, confirma, antecipa as respostas e
objeções potenciais, procura apoio, etc. Na concepção Baktiniana o discurso humano é
dialógico, mesmo que seja resultado de uma pesquisa individualizada. Pois de certa forma
o texto é uma produção coletiva, haja visto que sofre a interferência de idéias de muitos
agentes sociais. Da mesma forma o jornal. Um diálogo entre jornalistas (intelectuais),
leitores e o contexto como um todo.
Apresentei de forma resumida passos preliminares onde os meios impressos foram
utilizados como fonte de pesquisa. A finalidade desta apresentação é situar o leitor na
questão central deste artigo. Como tenho utilizado impressos como fontes de pesquisa,
proponho fazer algumas considerações a respeito da imprensa nas pesquisas em história e
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educação. Neste estudo, levo em consideração além da experiência adquirida, um diálogo
com autores que têm se dedicado a este assunto.
BREVE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENSA NO BRASIL
No Brasil, Nelson Werneck Sodré foi um dos primeiros a pleitear um estudo desta
envergadura. É de autoria deste autor o pioneirissímo “História da Imprensa no Brasil”. No
entanto se quisermos alongar este percurso historiográfico, um livro bem convidativo e que
remonta as origens da imprensa é Mídia e Modernidade de John B. Thompson. Este autor
faz uma viagem que insere não só a imprensa, mas os meios de comunicação como um
todo, interferindo na transformação espacial e temporal dos relacionamentos humanos.
Não desmerecendo os autores acima citados, que são importantíssimos para um
entendimento mais amplo da história da imprensa e dos meios de comunicação, neste texto
tomo como principal referência História da Imprensa no Brasil de autoria de Tânia Regina
de Luca e Ana Luíza Martins. (2008)
A viagem histórica das autoras tem como ponto de partida a chegada da família real
ao Brasil em 1808. Nesta época já circula de forma clandestina, o Jornal Correio
Brasiliense. Não era impresso no Brasil e seu público, como os Jornais fundados
subseqüentemente será a elite colonial e depois a imperial. Sobre esta questão assinalam as
autoras:
A nação brasileira nasce e cresce com a imprensa. Uma explica a outra. Amadurecem juntas. Os primeiros periódicos iriam assistir à transformação da colônia em Império e participar intensivamente do processo. A imprensa é a um só tempo, objeto e sujeito da história brasileira. Tem certidão de nascimento lavrada em 1808, mas também é veículo para a construção do passado. (2008, p. 8)
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Relacionado à construção do passado, há apontamentos às dificuldades em
trabalhar com os periódicos impressos. Em primeiro lugar, “os trabalhos sobre imprensa no
Brasil têm se voltado para análises pontuais e fragmentadas, por vezes pensadas em amplo
espectro, mas que acabam interrompidas e inconclusas pela inviabilidade da magnitude
empreitada.” (p. 14) De fato, os periódicos despendem de um volume imenso de material
devido à sua continência. Exatamente por isso, “[...] os tratamentos persistem sob a forma
de recortes isolados, coletânea de textos e aportes variados sobre a temática.” (p. 14)
Na pesquisa que desenvolvemos sentimos a maior parte dos apontamentos feitos
acima. A fragmentação do jornal, resultante da falta de qualidade na preservação, somada
a grande quantidade que não foram guardadas, tornam muitas vezes o uso inadequado das
fontes de forma involuntária. Ou seja, por mais que haja uma boa pretensão do historiador
para usar de boa fé o material, não consegue por impedimentos materiais.
Bom, como relatei acima, o primeiro Jornal surgido no Brasil foi o Correio
Brasiliense. Mas este Jornal não gozava de boa reputação. Afinal de contas tinha o rótulo
de clandestino. A Gazeta do Rio de Janeiro, fundado no mesmo período, representou o
Jornal oficial do Estado brasileiro. Foi uma imprensa cuja circulação se dava sob tutela do
estado.
Subseqüentemente surgiram outros jornais. Não cabe a nós elencarmos neste
espaço. Mas o livro História da imprensa no Brasil traz detalhadamente a relação desses
jornais, muitos deles efêmeros. No entanto um fator importante na era dos jornais
brasileiros e que nos chama a atenção é a questão da opinião publica. Tânia Regina de
Luca e Ana Luiza Martins fazem algumas interrogações a respeito disso. “Mas afinal, o
que significa esta expressão?” (2008, p. 33) A resposta, “há quem a tome de forma literal
como personagem ou agente histórico dotado de vontade, tendência e iniciativa próprias”.
(p. 33) Mas no geral, e as autoras são muito concisivas nesta resposta: “a expressão opinião
pública é polissêmica – também polêmica.” (p. 33)
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Formação da opinião das pessoas. Fazer com que elas criem polêmicas em
determinadas questões, talvez seja essa uma das principais imposições dos meios de
comunicação impressa. A chamada opinião publica, não é recente no jornalismo e suas
principais características datam das duas primeiras décadas do século XIX. Desse modo os
jornais se expressavam, povoando a mentalidade de seus leitores com a divulgação das
novas idéias de independência dos países americanos.
Antes dessa incursiva no campo político os jornais brasileiros têm um destacado
papel da divulgação da literatura. “Havia uma relação estreita dos livros com os jornais
periódicos, até porque ambos podem ser definidos como imprensa”. (p. 37) Divulgando o
que de mais novo se construía na Europa e nas Américas através das idéias de autores que
publicavam em suas páginas os jornais consolidaram a opinião, acelerando de certa forma,
as independências nas Américas, inclusive no Brasil.
Depois da independência,
Os jornais do período inicial constituíam, em alguns casos, através de várias redes de sociabilidade, dentro das condições da época, formadas no Brasil recém-independente que buscava se construir em nação. Não se deve negligenciar dentro desses laços que se articulavam (criavam, mantinham ou refaziam), com densidades desiguais, uma forma de associação bastante específica em suas características, embora articulada com as demais: as redes das sociabilidades pela imprensa periódica. Essa pode ser considerada um palpável agente histórico, com sua materialidade no papel impresso e efetiva força simbólica das palavras que fazia circular, bem como dos agentes que a produziam e dos leitores/ouvintes que de alguma forma eram receptores e também transmissores de seus conteúdos. (2008, p. 41)
Em termos numéricos, certamente não eram muitos os leitores assíduos dos jornais.
Mas de qualquer forma, através desses leitores se forma um campo de interatividade, que
fazia com que os conteúdos expressos nas páginas dos jornais se configurassem como os
grandes responsáveis pela formação da opinião pública. Assim, aos poucos, o jornal se
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impunha para a comunicação oficial de atos do governo, para a conexão entre as províncias
e o poder central e – a despeito do quadro urbano incipiente – para o consumo de
proprietários rurais que edificavam casa na cidade, visando alguma protagonização no
teatro da política imperial.
Na verdade, o jornal que vai se definindo no final do século XIX, apresenta com
uma riqueza de conteúdo considerável. Nestes jornais, talentosos escritores desfilam com
textos que se inserem nos vários campos, indo da poesia, teatro, ficção, filosofia, história e
naturalmente, no da imprensa. Toda esta transformação pode ser interpretada como a
modernização que dá seus primeiros toques de aparência no Brasil. A inauguração da
ferrovia, em 1854, representa de certa forma agilidade na distribuição da notícia.
Já no final do século XIX, incrementado, sobretudo, pelos ideais republicanos, as
temáticas da imprensa giram em torno de temas recorrentes: “as crises entre igreja e o
Estado (a chamada questão religiosa); a insatisfação dos militares para o Império (a
chamada questão militar e a campanha da abolição.” (2008, p. 73)
Desse modo, no caráter transformista da sociedade, da política, a imprensa
brasileira atua também de forma inovadora. Após a Proclamação da República esse
jornalismo,
...se transformaria em imprensa republicana, agente do projeto civilizador, secularmente acalentado. Nela, estamparam-se à exaustão as idéias e imagens do progresso pretendidas pela nova ordem. Ao lado da política, a urbanização foi um de seus grandes temas, veiculada pela festejada modernização do aparelhamento jornalístico, com novas oportunidades tecnológicas para a produção e reprodução do texto e da imagem, em que desdobrou a estética literária parnasiana emoldurada por guirlandas art-nouveaux. Conglomerados jornalísticos consolidaram-se naqueles anos eufóricos, introduzindo novas relações no mercado do impresso. O debate político, a veiculação do quadro econômico e a exaltação das transformações urbanas foram conduzidas pela propaganda e pela publicidade, que se profissionalizavam, a serviço de grupos estrangeiros e dos primeiros governos republicanos... frase de ordem: o Brasil civiliza-se. (MARTINS, A. L. & DE LUCA, T. R., 2008, p. 79/80)
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O período que se estende da Proclamação da Republica (1889-1930), os discursos
da imprensa se centraram basicamente numa sociedade que busca incisivamente o
progresso. A imprensa torna-se grande imprensa, otimizada por uma conjuntura favorável.
Essa transformação, apoia-se basicamente no tão propagado incentivo a alfabetização, a
insurgente indústria do papel e aparecimento do telefone e telégrafo, que se configuraram
como agilizadores do processo de transmissão dos dados que eram elaborados pela
redação. A alfabetização, aliás, pedra de toque para os republicanos, acrescente a formação
do leitor, que encontrou naquele periodismo o suporte preferencial para o exercício da
leitura e das letras.
As transformações no campo da comunicação impressa seguiram indubitavelmente,
as transformações no contexto social, político e econômico da sociedade brasileira. Essas
transformações, sem sombras de dúvida aconteceram em maior proporção nos grandes
centros urbanos brasileiros. Ponta Grossa, na passagem do século XIX para o século XX,
ainda apresentava-se como uma cidade em processo de formação. Os primeiros periódicos
surgiram na cidade já no final do século passado. Todos foram efêmeros. Ou seja, tiveram
uma breve existência.
O jornal por nós pesquisado foi Fundado em 1907. Esse jornal, na realidade é uma
extensão do semanário “O Comércio”. Seu fechamento, neste ano e a conseqüente compra
por Jacob Holzmann, resultariam na fundação do Jornal “O Progresso”. (HOLZMANN,
2004, p. 104) Epaminondas Hozmann, comenta ainda em sua obra, Cinco Histórias
Convergentes, sobre a cidade nessa época: “Ponta Grossa de setenta anos atrás3 era, por
assim dizer, um minúsculo ponto branco, perdido no alto do outeiro dos Campos Gerais,
sem ligação ferroviária com a capital [...] e no terreno da imprensa, seu atraso era
contestado.” (p. 261).
Primeiramente foi instalada uma oficina pertencente ao republicano Albino Silva.
3 A primeira edição de Cinco História Convergentes foi publicada em 1966.
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Dessa resultariam a impressão do “Jubileu Operário”, “Ponta Grossa” e “O Pigmeu”. Mais
tarde em 1894, foi fundado “O Comércio” de Aldo Silva. Este Jornal, como comentado
acima, foi comprado por Jacob Holzmann, em 1907 e transformado em “O Progresso”.
Com relação a monografia utilizei as revistas Veja, Isto É e Época. Na análise feita
não tive preocupação quantitativa, nem individual sobre o conteúdo das revistas. Procurei
sim, aleatoriamente extrair dessas revistas textos que repercutissem a religião: movimento
Carismático, Igreja Universal, Padres Cantores, enfim, discursos inerentes a religiosidade.
A base cronológica dessa pesquisa se deu no período compreendido entre 1990-2000.
Neste momento a grande mídia brasileira estava usando em seus espaços a participação
intensa da religião. Dessa forma estamos aptos, acredito, para fazermos alguns
apontamentos em relação à imprensa como fonte de pesquisa.
A IMPRENSA COMO FONTE DE PESQUISA EM HISTÓRIA E EDUCAÇÃO
Em História dos, nos e por meio de periódicos (In: BASSANEZI, C. 2005), Tânia
Regina de Luca faz um estudo dos periódicos como fontes de pesquisa. Segundo a autora,
“até a década de 70 eram raros os trabalhos que se valiam de jornais e revistas como fonte
para o conhecimento da História no Brasil.” (p. 111) Ainda seguindo a argumentação da
autora “a preocupação era escrever a “História da Imprensa”, mas era preciso mobilizá-los
para a escrita da história por meio da imprensa”. (p. 112).
Porém, para que isso acontecesse seria necessário utilizar os jornais impressos
como fontes documentais. Isso como demonstra a autora era praticamente impossível
segundo os limites impostos á tradição historiográfica do século XIX que tinham como
pressuposto a busca da verdade. Para realizar esta tarefa o historiador “[...] deveria valer-se
de fontes marcadas pela objetividade, neutralidade, fidedignidade, credibilidade, além de
suficientemente distanciadas de seu próprio tempo.” (p 112)
Nestas condições os jornais estariam fora de qualquer possibilidade de servirem
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como fonte de pesquisa para a História. Eles “pareciam pouco adequados para a
recuperação do passado, uma vez que essas “enciclopédias do cotidiano” continham
registros fragmentários do presente, realizados sob o influxo de interesses, compromissos e
Paixões.”(p 112) Essa visão depreciativa em relação aos jornais passaria a ser questionada
a partir da década de 30 quando os adeptos da Escola dos Annales passam a reconhecer a
importância dos meios impressos nas pesquisas históricas.
Apesar de um significativo reconhecimento da imprensa como fonte de pesquisa
por essa Escola, o reconhecimento de fato só ocorreria pela intermediação da terceira
geração4 dos Annales. Estes proponentes lançaram novas perspectivas para as análises
históricas cujas temáticas passavam a incluir “o inconsciente, o mito, as mentalidades, as
práticas culinárias, o corpo, as festas, os filmes, os jovens, as crianças, as mulheres,
aspectos do cotidiano, enfim uma miríade de questões antes ausentes do território da
História”. (p. 113)
Essa renovação temática abre consideravelmente as possibilidades de fontes para as
pesquisas em História. Além da abrangência das fontes para pesquisas, abriram-se também
novas perspectivas analíticas. Os marxistas, sobretudo encabeçados por E. P. Thompson
seguiram na idéia de escrever uma história pela ótica dos vencidos. Assim se sairia daquela
visão positivista que baseada em documentos oficiais escrevia a história dos heróis e das
grandes personalidades.
Além da abordagem marxista, outro aspecto importante foi o desenvolvimento da
chamada “História Cultural”, “História imediata” e “história política”. Essas inovações no
4 A primeira geração é a dos fundadores, Marc Bloch e Lucien Febvre, responsáveis pelo lançamento da revista Annales d' historie économique et sociale (1929). Em 1956, com a morte de Febvre, Fernand Braudel tornou-se o diretor efetivo dos Annales e ocupou lugar dos mais destacados na historiografia e no sistema universitário francês até sua aposentadoria em 1972, tendo ao seu lado nomes como Ernest Labrousse e Emmanuel Le Roy Ladurie. A terceira geração compõe-se de ampla plêiade de historiadores, entre os quais François Furet, Georges Duby, Jacques Le Goff, Jacques Revel, Michèle Perrot, Mona Ozouf e Pierre Nora. (LUCA, T .R, In: BASSANEZI (Org.) 2005)
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campo historiográfico trouxeram perspectivas abrangentes para o estudo da história. Ainda
segundo Luca,
Os debates ultrapassaram as fronteiras dos novos objetos, abordagens e/ou problemas e introduziram outras fissuras no trato documental. Como assinalou o Historiador Antonio Prost, alterou se o modo de inquirir os textos, que interessemos menos pelo que eles dizem do que pela maneira como dizem, pelos termos que utilizam, pelos campos semânticos que traçam e, poderíamos complementar, também pelo interdito, pelas zonas de silêncio que estabelecem. (2005, p. 114)
Após um amplo debate a partir da década de 70 o jornal tornou-se fonte de pesquisa
histórica em longa escala. No artigo intitulado O livro Fontes históricas como fonte, Maria
de Lourdes Janotti, afirma que “o uso das fontes também tem uma história [...] (2005, p.
10) E ainda segundo a autora isto porque [...] os interesses dos historiadores variaram no
tempo e no espaço, em relação direta com as circunstâncias de suas trajetórias pessoais e
com suas identidades sociais. (p.10) Após contextualizar as formas de utilização de fontes
na história a autora chama a atenção para Faire L' Historie de Jacques Le Goff e Pierre
Nora, publicado em 1974. Neste livro os autores se mostram preocupados como os novos
problemas, objetos e abordagens da Nova História.
Essa preocupação resulta de forma significativa na ampliação de novos objetos para
serem utilizados como fonte histórica. Entre a variedade citada, destaque para “[...] livros
pornográficos e clandestinos, estatísticas de publicações diversas, ilustrações, caricaturas,
jornais, manuais de bons hábitos, fotografias, literatura médica [...]” (p. 15) Enfim, a autora
elenca uma variedade de tipologias que ampliaram enormemente as pesquisas no campo da
história.
De fato a variedade de fontes histórica a partir da década de 70 se tornaram
múltiplas. Conforme Tania Regina de Luca, “ ao lado da imprensa e por meio da imprensa
o jornal tornou-se objeto da pesquisa histórica”. (2005, p. 118) A mesma autora, agora
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citando Maria Helena Capelato e Maria Ligia Prado (1974), fala da importância da
imprensa como fonte histórica:
Os estudos históricos no Brasil têm dado pouca importância à imprensa como objeto de investigação, utilizando-se dela apenas como fonte confirmadora de análises apoiadas em outros tipos de documentação. A presente pesquisa ensaia uma nova direção ao instituir o jornal O Estado de São Paulo como fonte única de investigação e análise crítica. A escolha de um jornal como objeto de estudo justifica-se por entender-se a imprensa fundamentalmente como instrumento de manipulação de interesses e de intervenção na vida social; nega-se, pois aqui, aquelas perspectivas que a tomam como mero 'veiculo de informações', transmissor imparcial e neutro dos acontecimentos, nível isolado da realidade político-social na qual se insere. (2005, p. 118)
Nós priorizaremos, nesta texto, os periódicos como fontes. Analisando-os como
documentos, não nos despreocuparemos com o debate teórico da História, pois assim
garantimos o sentido da objetividade na pesquisa histórica. Lembramos ainda, que “o
debate em relação ao uso dos impressos periódicos ganhou especial destaque nas últimas
décadas do século passado.” (MARTINS & LUCA, 2008, p. 13)
Bucholdz, em Diário dos Campos: Memórias de um jornal centenário fala sobre a
imprensa no Brasil:
A passagem do século XIX para o século XX assinalava a transição da pequena à grande imprensa nos principais centros urbanos brasileiros. A consolidação da imprensa era sinônimo da confirmação do desenvolvimento, da instrumentalização da democracia, do culto à liberdade de expressão.” (2007, p. 13)
Além de ressaltar o papel da imprensa, Bucholdz aponta o papel que ela assumiu em termos de conteúdos:
A imprensa passou a traduzir as novas idéias e hábitos gerados pelas transformações vivenciadas pelas população, tornando-se o espaço privilegiado para a discussão dos problemas e rumos da sociedade. Reforçando essa condição, a imprensa do início do século XX era um dos principais canais de informação e de transmissão de valores. (p. 23)
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Outro elemento importante à análise histórica dos periódicos consiste em
considerar que a escritura da imprensa periódica apresenta muitas vezes discursos
enigmáticos. Sua narrativa é construída acima de tudo pelos acontecimentos diários. Por
isso ela deve sempre ser questionada, na medida em que pode criar ao pesquisador dúvidas.
Essas dúvidas só serão suprimidas quando se levar em consideração todos os fatores
analíticos. Essa observação compreende, além da contextualização, um sólido
preendimento aos debates empreendidos pela própria história.
No Brasil, apesar de um significativo avanço, os historiadores têm enfrentado
enormes dificuldades em relação aos arquivos e fontes. Não é diferente a nossa
experiência, pois a Casa da Memória, onde realizamos a pesquisa de campo está com boa
parte do seu acervo fechado para pesquisas. Nesse sentido, resta ao historiador seguir
pistas que o levem até a problemática pesquisada.
Isso significa dizer que por mais que seja uma ferramenta útil para estudar a
história do Brasil, nós historiadores temos que fazer malabarismos ante a má preservação
de fontes impressas, principalmente as mais antigas. No entanto em tempos mais recentes,
era das grandes revistas e também dos grandes jornais, como mencionamos na introdução,
tem algumas vantagens. Estas além de estarem espalhadas em vários espaços públicos,
contam com arquivos digitalizados que podem ser acessadas pela internet.
De qualquer forma é preciso salientar, que além de paciência o historiador tem
que forjar estratégias para que possa suprir as falhas de preservação, quando se trata de
material impresso antigo. Ou também, os materiais mais recentes e com boa qualidade de
preservação, exigem do pesquisador muita sensibilidade para a seleção do material.
Com relação a pesquisa atual que estamos desenvolvendo encontramos vários
obstáculos. O principal deles é a pécima condição de preservação dos jornais. Além de
muitos números não terem sido arquivados, boa parte do material encontra-se fechado para
pesquisa. Apesar de todas as dificuldades é gratificante quando se consegue chegar a
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algum resultado.
Na nossa pesquisa não priorizemos o valor quantitativo do material. Isso se tornou
impossível devido as falhas já apontadas a cima. De certa forma, preenchemos esta lacuna
olhando para o lado qualitativo do jornal. Isso só foi possível a partir do momento em que
selecionamentos do jornal documentos que tratavam sobre educação. Feito isso os
resultados surgiram a partir de duas perspectivas significantes.
A primeira delas foi analisar os jornalistas como intelectuais organizadores da
cultura e visões de mundo. Os apontamento teóricos de Gramsci nos levaram a esta
direção. O segundo apontamento foi entender o texto jornalistico como um conjunto de
interação social.
Nesse universo interativo, Bakhtin nos chama a atenção, a duas direções
temáticas. A primeira refere-se ao estágio superior, ou o tema. Nesse caso, tratar-se ia da
investigação contextual de uma palavra nas condições de uma enunciação concreta; A
outra direção pode tender para o estágio inferior, o da significação: nesse caso, será a
investigação da significação da palavra no sistema da língua, ou em outros termos a
investigação da palavra dicionarizada.
Nesta analise valorizaremos a primeira direção de Bakhtin. Ou seja, a temática,
como universo de interação social, onde os discursos não se produzem de modo isolado,
será importantíssimo estar atento a todo o contexto de produção da fala.
Os discursos relacionados à educação, muitas vezes aparece atrelado a outros
problemas sociais. Por exemplo, o exemplar nº 243 de 04/01/1910, numa matéria “O
Policiamento da Cidade”, assinala “[...] as conseqüências de factos, registrados
diariamente, no commissariado da policia desta cidade não viríamos reclamar, em nome da
civilização da moralidade de um povo contra o que se pratica...” É a criminalidade que
começa se tornar rotina na cidade e faz com que o discurso seja este: “Há momentos em
que o foro de cidade civilisada, de que gosa a fulgurante Estrella dos Campos Geraes deixa
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de ser o privilégio de um povo adiantado e culto”.
A criminalidade é apresentada no discurso do jornal como atos de povos
incivilizados e cuja única solução seria a educação que aparece na condição de salvadora
da sociedade. A posição discursiva apresentada é que,
[...] não deixaremos de reclamar a droga salvadora para combater a enfermidade, já que nos falta o principal – o completo saneamento moral da sociedade, pela educação do homem. Apllique-se, outro remédio – o lembrado pela cirurgia moral – a neutralisação do mal na parte affectada, pela amputação do membro.
Então fica claro que existem problemas na sociedade pontagrossense, e o autor do
texto ao mesmo tempo aponta a solução para o mal, a saber, a educação do povo. A partir
dessa asseveração supomos que a educação da cidade na época ainda apresentava-se um
tanto quanto deficitária.
Num texto, intitulado “O Analphabestismo”, de 02 /08/1910, nº 203, o autor incia
fazendo questionamentos sobre a felicidade: “A felicidade! Em que consiste essa illusão?
No amor? Na saudade? Na riqueza? De que serve que um homem encontre todas essas
fortunas invejadas se para cada homem que as possue há um milhão de homens que as não
tem?!”
Enquanto pessoas dormem no conforto do lar, muitas outras mendigam nas praças
da cidade, à porta da igreja, nas esquinas. Mas de onde veio esse individuo? De onde
surgiu? Nessas interrogações o autor suponha alguns possíveis fatores que determinaram
esta posição social negativa.
[...] Na época em que as creanças roubam ninhos, elle roubava relogios. Precodiade.Quando os outros eram anjos, já elle era gatuno. Na edade em que se aprende a ler, ele aprende a assobiar.Os preconceitos e os crimes buscam os cerebros analphabetos, como os morcegos e os chacaes buscam os subterraneos às escuras.
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Não teve mãe, não teve pae, não teve berço, não teve escola. Germinou como um tortulho venenoso. A alma ensaguentada da miséria tem dessas gerações espontaneas.
Depois de apontar as possíveis consequencias destes males, o autor diz:
“Philantropos sociaes, respondei-me a isso: as vossas estatiscas dizem: a instrucção dimiue
a perversão, quer dizer – o alphabeto diminue o crime. O crime é uma doença da alma,
com a pneumonia é uma doença dos pulmões.” Analisando o problema como uma doença
a possível solução seria: “Para a doença há um remédio, e para o envenenamento há um
antidoto. Acotovelando o com uma escola. O professor há de eliminar o carcereiro.” E
prosseguindo, “ Mas considerando que se a socidade tivesse fornecido um ABC ao
ignorante e um offício ao mendigo, a somma da ignorância com a miséria não produziria –
o crime.” E para concluir o texto, “Condemnamos a sociedade a que dê instrucção a todas
as creanças e dê trabalho a todos os famintos applicando se mais a evitar os assassinato do
que a regenerar os assassinos.5
No nº 252, de 25/01/1910 eles se demonstram defensores instrução pública:
Falta de instrucção publica, que tem idéias amplamente desenvolvidas sobre o assumpto.Os governos entre nós reformam os mecanismos e nenhum busca reformar os costumes.Temos tido códigos de ensino cheios muitos respeitos de excellentes disposições, mas quasi que unicamente para dar pasto ao arbitrio da administração.A instrucção publica entre nós carece continuidade na observância da lei, effectividade na distribuição do ensino; realidade no exercicio da fiscalização, especialmente no que diz respeito aos colégios equiparados, livres e faculdades livres.São trivialidades cada uma das quaes denuncia uma lacuna factal na educação do paiz e que se não se mantiver em letra morta se reabilitará.
Neste debate fica claro que o ensino brasileiro esta cheio de lacunas. Essas
5 Texto assinado por Guerra Junqueiro.
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lacunas por sua vez não serão preenchidas a não ser se houver consistência na observância
e incisiva formulação de um código civil. No mesmo texto, ainda são trazidos alguns
pontos relacionados ao melhoramento da educação.
Indica: 1º o melhor método do ensino secundário nos estabelecimentos federaes; 2º a remodelação do ensino jurídico, obedecendo as normas que lhe dem a um tempo extensão pratica e mais espirito scientifico; 3º o desenvolvimento dos gabinetes, laboratórios, clínicos e estudos práticos nas escolas de medicina; 4º a mantença rigorosa da frequencia escolar; 5º obrigação de uma Universidade no Rio de Janeiro, aproveitando as universidades alli já existentes segundo o typo universitário da Allemanha.
Toscano de Brito, no artigo publicado em 24/01/1922, edição nº 2.964, fala sobre
o Centenário e a Instrucção. De modo geral o autor inicia o texto alegando que faltam bons
motivos para comemorar o centenário da emancipação. Referenciado-se as belezas da
cidade, o autor se diz insatisfeito com a ausência de praças ajardinadas na cidade. Além
das deficiências estruturais apontados, Brito assevera que para uma merecida
comemoração seria necessário pelo menos, “[...] era festejar o centenário com a fundação
de mais um, dois ou três grupos escolares que seriam baptizados com os nomes de D.
Pedro I, José Bonifàcio e D. Pedro II.” Estes sim, nomes que compuseram o quadro
administrativo da nação emancipada.
Assim, o jornal participou do debate educativo em todos os seus aspectos. Em
nível nacional defendendo uma instrução universal. Em nível do Paraná, exaltando a
atuação de Caetano Munhoz da Rocha como um dos principais dissimuladores da educação
no Estado. Apesar dessa defesa não fica explicito a participação individual dos
inteletctuais. Isto porque muitos dos artigos não foram assinados, ou foram em outros
casos, transcrições de jornais fora da cidade.
Mesmo assim, defendemos a idéia centralizada no trabalho dos intelectuais
enquanto organizadores da cultura. Hugo Reis participou discursivamente escrevendo
textos. Quando aos demais, defendemos a influência e poder de decisão enquanto chefe
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dos referidos jornais pesquisados. Se olharmos por esse ângulo de visão os jornalistas
pontagrossenses não estiveram alheio aos debates educativos nacionais através de seus
periódicos.
CONCLUSÃO
Neste artigo procurei fazer algumas considerações a respeito da utilização da fonte
imprensa em pesquisas de História e Educação. Para cumprir com essa finalidade fiz uma
analise direcionada em três aspectos: O primeiro refere-se a monografia O Espetáculo da
Religião: Padres Cantores e a Renovação Carismática Católica através da mídia. Nesta
pesquisa utilizei como fonte os periódicos impressos Veja, Isto É e Época.
No segundo ponto referenciei a pesquisa que desenvolvo atualmente no Mestrado
em Educação da Universidade estadual de Ponta Grossa: Discursos sobre educação nos
Jornais o Progresso e Diário dos Campos (1907-1924) . Neste trabalho adoto como fonte
os jornais O Progresso e Diário dos Campos. A base cronológica desta pesquisa
compreende o ano de 1907, fundação do jornal a 1924, período até o qual exemplares do
periódico foram preservados na casa da Memória.
Tratam se por tanto de dois períodos distintos. Na primeira pesquisa, o momento
recente da História e onde os meios de comunicação tem um presença múltipla e cujo
volume de circulação é imensurável. Conta-se neste primeiro aspecto, além da facilidade
da fonte a ser pesquisada, com uma dificuldade imensa no que se refere ao volume de
preservação. Não apenas a periodicidade de circulação desses veículos de comunicação,
mas a variedade de assuntos tratados exigem do pesquisador muita sensibilidade e boa
definição de seu objeto de pesquisa. Caso ao contrário o pesquisador fica perdido na
imensidão da vasta produção.
Já com relação aos jornais mais antigos, ou centenários, como no caso especifico
da pesquisa que desenvolvemos atualmente a situação é mais complicada. Em primeiro
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plano conta-se a falta de uma cultura de preservação das fontes históricas. Em segundo
lugar, quando essas fontes foram preservadas, faltaram condições adequadas para que seu
estado de conservação permanecesse com boa qualidade. No jornal por nós pesquisado,
além do material disponível encontrar em pécimas condições de preservação, boa parte do
acervo esta fechada para pesquisa, em virtude da digitalização que esta para ser feita.
No terceiro aspecto tomei como objeto de análise os principais intelectuais que
têm se dedicado ao estudo da imprensa como fonte de suas pesquisa e que procuram
sistematizar teoricamente a utilização da imprensa como fonte. Entre esses intelectuais
mereceu destaque Tania Regina de Luca. Esta autora além de História dos, nos e por meio
dos periódicos, conjuntamente com Ana Luiza Martins lançaram o Livro sobre História da
Imprensa no Brasil. Os Debates feitos por estas autoras foram de importância capital para
entendermos a utilização da imprensa como fonte de pesquisa.
De modo geral concluímos a partir desse estudo que os impressos enquanto fonte
para a pesquisa tanto em História ou Educação apresentam variadas possibilidades de
pesquisa. Hoje no Brasil, guardadas as deficiências de preservação existem acervos
espalhados por todos os cantos do país. Universidades, Institutos Históricos, centros de
documentação, instituições de pesquisa e enfim, as próprias empresas de jornalismo que
além de guardarem exemplares impressos, a grande maioria disponibilizam on line seus
acervos culturais.
Com relação a metodologia de pesquisa não tem um referencial padrão que possa
ser referenciado. Vários autores dão subsídios ou possibilidades analíticas. Na primeira
pesquisa citada utilizei como referencial teórico o conceito de poder tanto em Foucault
como Burdieu. Já na pesquisa atual, adoto o conceito de intelectual em Antonio Gramsci.
Gramsci entre as suas várias categorias de intelectuais esta aquela em que insere os
intelectuais enquanto organizadores da cultura. Além de Gramsci, utilizo-se das
concepções teóricas metodológicas de Bakhtin, que entre outras considerações, esta aquela
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que considera a produção do texto enquanto um conjunto de interação social. Neste sentido
mesmo os textos produzidos individualmente fazem parte do coletivo.
Assim, os periódicos são riquíssimas fontes para a pesquisa em História e
Educação. Seu encaminhamento metodológico e teórico cabe a cada pesquisador. No
entanto o alerta que deixamos se relaciona aos periódicos mais antigos. Estes além de
séries incompletas, apresentam em geral, mal estado de conservação. Mas enfim, uma boa
discussão teórica poderá preencher essas lacunas. Desse modo destaco neste texto a
importância da utilização das fontes impressas nas pesquisas em História e Educação.
FONTES
− Na Monografia: Revistas Veja, Isto É e Época (1990-2000)
− Na Dissertação: Jornal O Progresso e Diário dos Campos (1907-1924)
REFERÊNCIAS
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