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Este resumo é parte integrante das Comunicações Científicas apresentadas na 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia – São Paulo, 2017 – ISSN 2176-5243 Sessão Coordenada: A inclusão da criança com Transtorno do Espectro do Autismo: história e atualidade. A inclusão escolar na educação profissional: impacto das estratégias educativas no processo de escolarização de alunos com transtorno do espectro autista de alto funcionamento. Mônica Maria Farid Rahme (UFMG), Simone Pinto Vasconcellos (UFMG) A proposta da Educação Profissional originou-se no século XIX objetivando a qualificação do trabalhador urbano associada à formação moral. Em 1909, foram criadas as escolas de aprendizes e artífices que deram origem aos Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica. A maioria dessas instituições foi transformada, em 2008, em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Atualmente, a Rede Profissional de Educação Profissional, Científica e Tecnológica possui como missão a qualificação profissional para os setores produtivos, o desenvolvimento de pesquisas, processos, produtos e serviços. Com esse propósito, as instituições de ensino federais oferecem, dentre outras modalidades, o ensino técnico de forma articulada ao médio. Em Belo Horizonte, estas instituições registraram recentemente o ingresso de alunos com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), condição que se refere a um continuum de transtornos do neurodesenvolvimento caracterizados por limitações na comunicação, na interação social, além de comportamentos, interesses ou atividades restritos e repetitivos. Esta pesquisa trata do estudo de caso de um aluno autista matriculado em uma escola técnica federal do referido município. O objetivo consistiu na análise do impacto das estratégias educativas, adotadas em 2016 e no primeiro trimestre de 2017, no desempenho escolar do aluno com TEA. A metodologia utilizada fundamentou-se na análise documental relativa ao aluno participante. O material pesquisado consistiu em laudos psicológico, neuropsicológico, psicopedagógico, fonoaudiológico e terapêutico ocupacional, relatórios escolares anteriores e posteriores ao ingresso na escola técnica, boletim escolar com dados de frequência, desempenho parcial e resultados finais. No ano em que o estudante ingressou para o curso técnico, foram realizadas monitorias individualizadas, acompanhamento psicossocial e comunicação frequente com a família. Os resultados apontam que, em 2016, o aluno era frequente às aulas e obteve um desempenho abaixo da média em quatro disciplinas do ensino médio em alguma das etapas letivas, e também nas disciplinas técnicas. Ao final de 2016, o aluno foi aprovado nas disciplinas relativas ao ensino médio mas foi reprovado nas disciplinas técnicas. Em 2017, a instituição adotou adequações curriculares relativas à temporalidade e à avaliação, monitorias individualizadas, continuidade do acompanhamento psicossocial e da comunicação com a família. No primeiro trimestre deste ano, o aluno permaneceu frequente e alcançou desempenho médio ou acima da média em todas as disciplinas. A partir dessa análise, conclui-se que a implementação de estratégias de apoio extraclasse e de adequações curriculares favoreceram a escolarização do aluno na educação profissional. No entanto, as dificuldades de adequações didáticas quanto a objetivos, conteúdos e metodologia de ensino podem ter limitado a aprendizagem que poderia ser potencializada com a adoção dessas medidas. Palavras chave:Autismo alto funcionamento Educação profissional Mestrado - M Apoio Financeiro: PPG FaE/UFMG ESC - Psicologia Escolar e da Educação

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  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A incluso da criana com Transtorno do Espectro do

    Autismo: histria e atualidade.

    A incluso escolar na educao profissional: impacto das estratgias educativas no

    processo de escolarizao de alunos com transtorno do espectro autista de alto

    funcionamento. Mnica Maria Farid Rahme (UFMG), Simone Pinto Vasconcellos

    (UFMG)

    A proposta da Educao Profissional originou-se no sculo XIX objetivando a

    qualificao do trabalhador urbano associada formao moral. Em 1909, foram

    criadas as escolas de aprendizes e artfices que deram origem aos Centros Federais de

    Educao Profissional e Tecnolgica. A maioria dessas instituies foi transformada,

    em 2008, em Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia. Atualmente, a

    Rede Profissional de Educao Profissional, Cientfica e Tecnolgica possui como

    misso a qualificao profissional para os setores produtivos, o desenvolvimento de

    pesquisas, processos, produtos e servios. Com esse propsito, as instituies de ensino

    federais oferecem, dentre outras modalidades, o ensino tcnico de forma articulada ao

    mdio. Em Belo Horizonte, estas instituies registraram recentemente o ingresso de

    alunos com diagnstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), condio que se

    refere a um continuum de transtornos do neurodesenvolvimento caracterizados por

    limitaes na comunicao, na interao social, alm de comportamentos, interesses ou

    atividades restritos e repetitivos. Esta pesquisa trata do estudo de caso de um aluno

    autista matriculado em uma escola tcnica federal do referido municpio. O objetivo

    consistiu na anlise do impacto das estratgias educativas, adotadas em 2016 e no

    primeiro trimestre de 2017, no desempenho escolar do aluno com TEA. A metodologia

    utilizada fundamentou-se na anlise documental relativa ao aluno participante. O

    material pesquisado consistiu em laudos psicolgico, neuropsicolgico,

    psicopedaggico, fonoaudiolgico e teraputico ocupacional, relatrios escolares

    anteriores e posteriores ao ingresso na escola tcnica, boletim escolar com dados de

    frequncia, desempenho parcial e resultados finais. No ano em que o estudante

    ingressou para o curso tcnico, foram realizadas monitorias individualizadas,

    acompanhamento psicossocial e comunicao frequente com a famlia. Os resultados

    apontam que, em 2016, o aluno era frequente s aulas e obteve um desempenho abaixo

    da mdia em quatro disciplinas do ensino mdio em alguma das etapas letivas, e

    tambm nas disciplinas tcnicas. Ao final de 2016, o aluno foi aprovado nas disciplinas

    relativas ao ensino mdio mas foi reprovado nas disciplinas tcnicas. Em 2017, a

    instituio adotou adequaes curriculares relativas temporalidade e avaliao,

    monitorias individualizadas, continuidade do acompanhamento psicossocial e da

    comunicao com a famlia. No primeiro trimestre deste ano, o aluno permaneceu

    frequente e alcanou desempenho mdio ou acima da mdia em todas as disciplinas. A

    partir dessa anlise, conclui-se que a implementao de estratgias de apoio extraclasse

    e de adequaes curriculares favoreceram a escolarizao do aluno na educao

    profissional. No entanto, as dificuldades de adequaes didticas quanto a objetivos,

    contedos e metodologia de ensino podem ter limitado a aprendizagem que poderia ser

    potencializada com a adoo dessas medidas.

    Palavras chave:Autismo alto funcionamento Educao profissional

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    Sesso Coordenada: A incluso da criana com Transtorno do Espectro do

    Autismo: histria e atualidade.

    Anlise da situao de incluso escolar de alunos com autismo a partir de registro

    dirio. Adriana Arajo Pereira Borges (UFMG), Mariana Viana Gonzaga (UFMG)

    O transtorno do espectro do autismo (TEA) atinge at 1% da populao e compromete,

    principalmente, trs reas do desenvolvimento: comportamento, comunicao e

    socializao. Antes de Kanner ter descrito a sndrome no ano de 1943, estas crianas

    estavam institucionalizadas e sem acesso a escolarizao. Atualmente, os alunos com

    TEA frequentam as escolas regulares. Seguindo a tendncia da educao inclusiva, tem-

    se observado o aumento de matrculas dessa populao nas escolas comuns, mas ainda

    so insuficientes os dados que tratam do processo de incluso desses alunos em uma

    perspectiva situacional. Ou seja, que desloca o olhar do aluno e de seu atraso no

    desenvolvimento, para uma anlise ampliada que leva em considerao o aluno, a

    turma, a escola e o aprendizado. Acredita-se que a incluso de alunos com TEA se faz

    de maneira diferenciada dos demais alunos pblico alvo da educao especial, por se

    tratar de um espectro sintomatolgico. Os alunos com autismo possuem um estilo

    cognitivo diferenciado e apresentam alteraes comportamentais e sensoriais. O

    objetivo desta pesquisa foi avaliar a situao de incluso de 15 crianas atendidas no

    ano de 2017 em escolas da rede particular da cidade de Belo Horizonte. O material

    utilizado foi o Registro Escolar Dirio (RED), um protocolo desenvolvido para coletar

    informaes sobre a situao de incluso escolar de alunos com autismo. O diferencial

    do instrumento que ele leva em considerao o sujeito e o ambiente, junto com um

    terceiro elemento: o tempo. Ou seja, atravs do instrumento foi possvel avaliar a

    situao de incluso das crianas em momentos especficos na sala de aula. A

    metodologia utilizada foi a anlise documental. Os protocolos das crianas foram

    analisados a partir das categorias que o registro sistematiza: semelhana em relao s

    atividades realizada pelos colegas; o planejamento da escola atravs da oferta de

    atividades diferenciadas; o tipo de tarefa realizada, pedaggica ou social; o desempenho

    da criana ao executar as tarefas propostas em relao a ajuda necessria e o nvel de

    compreenso; a presena de problemas comportamentais. Como resultado, o Registro

    Dirio permitiu traar os perfis dos alunos estudados, obtendo informaes, como, por

    exemplo, o percentual de atividades realizadas iguais as da turma e seu respectivo

    desempenho em relao ajuda e compreenso. Concluiu-se que o instrumento

    utilizado contribuiu para o processo de incluso dos alunos estudados, permitindo a

    construo de um PDI (Plano de Desenvolvimento Individual) condizente com as

    caractersticas individuais de cada um dos alunos. - -

    Palavras chave:Autismo Incluso escolar Registro dirio

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    Sesso Coordenada: A incluso da criana com Transtorno do Espectro do

    Autismo: histria e atualidade.

    Contra a teoria da me-geladeira: a emergncia da participao de mes na

    construo do entendimento do autismo no Brasil a partir da dcada de 1980.

    Bruna Alves Lopes (Universidade Estadual de Ponta Grossa)

    O termo autismo foi utilizado pela primeira vez por Eugene Bleuler para apresentar um

    dos sintomas da esquizofrenia no adulto. Em 1943, o psiquiatra austraco Leo Kanner

    apropriou-se do conceito para referir-se a um novo quadro nosolgico, por ele

    denominado distrbio autstico do contato afetivo. Apesar de Kanner defender a tese

    de que a sndrome por ele analisada era inata, no descartou que fatores ambientais

    pudessem colaborar para a manifestao dos sintomas, embora no fossem seu agente

    propiciador. Um dos elementos que contribuiu para que Kanner levantasse a hiptese

    ambiental como um dos desencadeadores do autismo est relacionado com o perfil

    familiar por ele observado: as crianas analisadas eram oriundas de famlias

    denominadas por ele como inteligentes e obsessivas. Kanner observou que pais,

    mes e demais parentes (avs, por exemplo) eram pessoas graduadas e, no seu entender,

    pouco amorosas; em outras palavras o psiquiatra defendia que tais famlias eram mais

    interessadas em questes que envolviam cincia, literatura, artes etc. ou seja,

    questes de ordem intelectual e menos dedicadas ao convvio com as pessoas. Vrias

    foram as tentativas, nos anos que seguiram, para explicar a etiologia do autismo; entre

    elas, as teorias psicognicas (que predominaram ao longo das dcadas de 1940 a meados

    de 1970) que, em linhas gerais, argumentavam que o autismo seria uma patologia de

    carter emocional. O principal representante de tais teses foi o psicanalista Bruno

    Bettelheim. Em seu livro A Fortaleza Vazia, publicado pela primeira vez em 1967 nos

    Estados Unidos, defendeu a ideia de que autismo seria uma patologia psicolgica em

    que, na base, estava uma famlia doente; o estado autstico seria um mecanismo

    elaborado pela criana como forma de se defender de um ambiente hostil e ameaador.

    Tendo em vista a repercusso das ideias de Bruno Bettelheim, que se popularizaram na

    chamada teoria da me-geladeira, esta proposta de comunicao possui trs objetivos:

    inicialmente, buscou-se demonstrar que desde a obra inicial de Kanner j se esboavam

    indcios de culpabilizao das mes na questo do autismo; que a A Fortaleza Vazia

    corresponde a um contexto de elaborao de agendas anti-femininas e anti-feministas

    que visavam reduzir a feminilidade experincia da maternidade compulsria regida

    pelo saber mdico; e especialmente buscou-se apontar que no Brasil a participao de

    mes numa agenda pr-ativa de assistncia para seus filhos autistas, iniciada a partir da

    dcada de 1980, est vinculada construo do entendimento do autismo afastado das

    ideias da culpabilidade materna vaticinadas por Bettelheim. Seja de maneira individual,

    utilizando a imprensa escrita como mecanismo de divulgao e conscientizao sobre o

    tema, ou por meio de aes coletivas (tal qual as associaes de mes e pais de autistas),

    essas mes ao exercerem sua cidadania denunciavam a invisibilidade do autismo na

    esfera pblica, ao mesmo tempo em que construram para si uma nova identidade

    enquanto mulheres que lutavam pelos direitos dos seus filhos.

    Palavras chave:Autismo Mes-geladeira Bettelheim Ativismo materno

    Doutorado - D

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    Sesso Coordenada: A incluso da criana com Transtorno do Espectro do

    Autismo: histria e atualidade.

    O desafio da incluso escolar de autistas em Belo Horizonte. Mnica Maria Farid

    Rahme (UFMG), Luiza Pinheiro Leo Vicari (Universidade Federal de Minas Gerais)

    O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) um transtorno do desenvolvimento que

    compromete a qualidade do desenvolvimento, gerando maiores prejuzos em trs reas,

    comportamento, comunicao e interao social, alm do repertrio restrito de

    interesses e atividades, padres de comportamento repetitivos e estereotipados. Os

    ltimos dados epidemiolgicos, em 2013 nos Estados Unidos estimam que a

    prevalncia de TEA de uma a cada 68 crianas. No Brasil, h uma estimativa de que

    1,9 milhes de pessoas estejam dentro do espectro. Diante deste cenrio de aumento no

    nmero de diagnsticos, os desafios com o ensino e aprendizagem no cotidiano escolar,

    tambm se fazem cada vez mais presentes. O objetivo desta pesquisa foi analisar o

    nmero de matrculas de alunos com Autismo e Sndrome de Asperger na cidade de

    Belo Horizonte, Minas Gerais. Junto a isso, foi realizada uma anlise qualitativa de

    questionrios aplicados a um grupo de professores da rede pblica de Belo Horizonte,

    participantes de um curso a distncia sobre o TEA. O material utilizado foram os dados

    da Sinopse Estatstica da Educao Bsica, provenientes do Instituto Nacional de

    Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP), nos ltimos cinco anos e os

    questionrios respondidos pelos professores. A metodologia utilizada foi uma anlise

    quantitativa dos dados do INEP e qualitativa dos questionrios a partir de categorias

    previamente construdas. Os resultados das anlises mostram que em Belo Horizonte, o

    nmero de matrculas destes alunos aumentou significativamente. Enquanto o aumento

    de matrculas dos alunos com autismo foi de 176% no Brasil, em Belo Horizonte foi de

    284%. Com relao aos questionrios respondidos, todos os professores apontaram

    desconhecimento em relao ao transtorno e os recursos para incluso escolar.

    Conclumos que apesar do acesso dos alunos com TEA ter aumentado nos ltimos anos,

    os professores ainda necessitam de uma formao mais consistente e de capacitaes

    continuadas, para proporcionar a estes estudantes, oportunidades de aprendizagem e

    estratgias que facilitem sua participao nas atividades escolares.

    Palavras chave:Autismo Incluso escolar Prticas educativas.

    Mestrado - M

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    Sesso Coordenada: A incluso da criana com Transtorno do Espectro do

    Autismo: histria e atualidade.

    O faz de conta da criana com autismo: focalizando aspectos cenogrficos. Daniele

    Nunes Henrique Silva (UnB), Maria Angelica da Silva (Secretaria de Estado de

    Educao do Distrito Federal)

    A presente pesquisa, fundamentada nos aportes tericos da perspectiva histrico-

    cultural, tendo em Vigotski seu principal representante, objetiva analisar o brincar da

    criana com autismo, focalizando os recursos simblicos emergentes no faz de conta:

    uso de objeto piv e configurao dos jogos de papis. Este estudo foi desenvolvido em

    uma escola pblica de Educao infantil do Distrito Federal (Brasil), em uma Classe

    Especial com seis alunos com transtorno do espectro autista (TEA) na faixa etria dos 4

    aos 6 anos. Os dados foram construdos a partir de uma anlise microgentica; se

    pautaram em observaes registradas em dirio de campo e videogravaes (uso de

    filmadora), com analise e posterior transcrio das situaes de faz de conta da criana

    com autismo. Destarte, problematizamos: o que caracteriza o brincar da criana com

    autismo? Num desdobramento, quais so os recursos simblicos que ela utiliza para

    significar as aes ldicas no uso dos brinquedos e assuno de papis? Neste sentido,

    propomos uma interveno diferenciada: a criao de trs oficinas cenogrficas

    (mediao instrumental e simblica) objetivando a assuno de papis pelas crianas, a

    saber: a) A Cesta Mgica: esta oficina foi criada com o intuito de ampliar as situaes

    simblicas, que eram muito pontuais. Deste modo decidimos levar para a sala de aula

    uma cesta composta por bonecas, carrinhos, kit mdico, utenslios domsticos em

    miniatura, entre outros; b) Piratas: nesta oficina, criamos um cenrio imagtico com o

    tema Piratas. O objetivo era analisar se as crianas se impactavam com a cenografia,

    explorando de forma mais evidente o jogo de papis. Criamos um barco de pirata

    usando uma caixa grande de papelo com: bandeira, papagaio, caveira, ncora e gotas

    de gua na proa. Foram distribudos entre as crianas acessrios que compunham o

    figurino de um pirata: tapa-olho, gancho, bandana, chapu e outros ; e c) Oficina de

    Personagens: nesta ltima oficina, foi oportunizado s crianas contato com diversas

    fantasias (roupas) de personagens: Homem-Aranha; Super-Homem; Batman; Frozen;

    Rapunzel e outros. Foram analisadas situaes ldicas que ocorreram durante todo o

    perodo investigativo, com ateno minuciosa para os gestos, as expresses corporais,

    os recursos expressivos. Os dados foram tratados e se aglutinaram em dois grandes

    eixos de anlise com subeixos: a) Eixo A: Variaes na flexibilizao do brinquedo nas

    situaes ldicas; e b) Eixo B: A emergncia da assuno de papis nas brincadeiras de

    faz de conta. Na anlise e discusso dos dados, evidenciamos processos complexos de

    simbolizao durante o faz de conta da criana com autismo, contrariando a literatura

    tradicional. Conclumos que a criana com autismo, de uma maneira qualitativamente

    distinta, no somente brinca, como cria, imagina e assume papis.

    Palavras chave:Faz-de-conta Autismo Perspectiva histrico cultural

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  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A maternidade em condies adversas: mes deprimidas,

    acusadas de negligencia, com familiares e o prprio filho internado em UTI.

    A Depresso Materna Crnica e seus efeitos na Interao Me /criana. Flavia Helena

    Pereira Padovani (Faculdade de Medicina de Botucatu- Unesp), Gimol Benzaquen perosa

    (Faculdade de Medicina de Botucatu- Unesp), Eloisa Pelizzon Dib (CAPS 1 de Botucatu)

    Algum evidnascias na literatura mostram que depresso materna crnica tem reflexos nas

    relaes da dade me-criana, que podem afetar a interao entre eles. H dados mostrando

    que os comportamentos intrusivos e/ou retrados, a pouca responsividade e pobre expresso

    de afeto positivo de mes deprimidas, prejudicam a qualidade de interao me/beb,

    afetando negativamente o desenvolvimento infantil. Entretanto, as pesquisas ainda no so

    conclusivas quanto s consequncias adversas dos sintomas de depresso na interao

    me/filho. Em alguns estudos, a baixa responsividade materna no acompanhou o quadro

    depressivo e pouco se conhece o papel da criana na interao. Frente ao exposto, neste

    estudo, pretendeu-se identificar as caractersticas da interao de crianas com 14 meses e

    suas mes, portadoras de sintomas de depresso crnica, comparando-as com as

    caractersticas interativas de dades em que a me no apresentou problemas de sade

    mental. A amostra foi composta por 30 dades mes/ criana, selecionadas de um estudo de

    coorte prospectivo anterior, em que as mes pontuaram para depresso pelo Inventrio de

    Depresso de Beck (BDI), em trs momentos: na gestao, aos 6 e 14 meses de vida do

    beb. Formaram-se dois grupos: 8 mes com sintomas de depresso crnica e 22 mes sem

    problemas de sade mental, nas trs avaliaes. As mes responderam a um questionrio

    socioeconmico e em seguida foi gravado um episdio interativo da dade, de 7 minutos.

    Avaliaram-se os comportamentos interativos da me e da criana a partir das categorias

    sugeridas pelo Protocolo de Avaliao de Interao Didica .Calculou- se o ndice

    concordncia de dois observadores que foi superior a 0,70 em todas as categorias. Aps

    analise descritiva dos dados, procedeu-se a anlise estatstica inferencial. Pesquisou-se o

    carter interativo entre os comportamentos da me e da criana e compararam-se os

    comportamentos interativos dos grupos de mes com e sem depresso crnica. Observou-

    se que quanto mais sensveis, estimuladoras e positivamente afetivas eram as mes, as

    crianas se mostravam mais envolvidas, integradas e demonstravam mais afeto positivo. Por

    outro lado, mes que demonstravam mais afeto negativo tinham crianas que se envolviam

    menos e apresentavam, tambm, mais afeto negativo. Na comparao dos dois grupos, as

    mes com sintomas de depresso crnica foram significativamente menos sensveis,

    demonstraram menos afeto positivo tinham menor engajamento na interao, quando

    comparadas com as mes do grupo controle. Os filhos de mes deprimidas crnicas se

    envolveram, significativamente, menos na interao que crianas do grupo controle. Desta

    forma, pode-se considerar a depresso materna crnica como um fator de risco para

    interao com o filho, que compromete a disponibilidade emocional da me e a persistncia

    necessria para estabelecer uma interao responsiva com a criana. Como os sintomas

    eram crnicos e j estavam presentes durante a gestao, os profissionais de sade

    precisariam estar alerta para diagnosticar, orientar e encaminhar essas mulheres a servios

    especializados, desde as consultas de pr-natal. Parece que o desenvolvimento de programas

    de preveno e tratamento da depresso materna na ateno primria, poderia minimizar os

    riscos e as consequncias da depresso materna para a interao me/bebe, desde os

    primeiros tempos de vida.

    Palavras chave:Depresso materna crnica; Interao; observao

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    SADE - Psicologia da Sade

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    Sesso Coordenada: A maternidade em condies adversas: mes deprimidas,

    acusadas de negligencia, com familiares e o prprio filho internado em UTI.

    Experincias de mes e outros familiares quando da visita de crianas e adolescentes

    Unidade de Terapia Intensiva Adulto. Maria Emilia Pereira Nunes (Hospital

    Universitrio da Universidade Federal de Santa Cata), Leticia Macedo Gabarra (Hospital

    Universitrio UFSC)

    As Unidades de Terapia Intensiva Adulto, geralmente, possuem normativas que vetam a

    entrada de crianas e adolescentes, mas, por ser um campo de mitos e controvrsias, essas

    visitas desencadeiam diferentes opinies entre familiares e membros da equipe de sade.

    Por um lado, h evidencias que a criana tem o desejo de visitar seus entes hospitalizados,

    e, por outro, como o contexto da UTI est relacionado com o medo da morte, gera

    sofrimento nos familiares que, com o intuito de proteger a criana, costumam preserva-la

    dessa vivncia. Entretanto, h indcios que mostram que, se bem conduzidas por

    profissionais da equipe de sade e familiares, as visitas podem proporcionar crescimento e

    desenvolvimento emocional s crianas. Quanto aos pacientes internados, h relatos que

    referem que a visita dificulta o descanso mas , tambm, traz alegria e esperana

    ,representando um elo com o mundo externo. Frente a um assunto ainda controverso, esta

    pesquisa objetivou identificar a vivncia de familiares em relao comunicao, tomada

    de deciso e manejo da entrada de crianas e adolescentes para visitar os pacientes

    internados em UTI adulto. A abordagem deste estudo foi qualitativa. Foram realizadas

    entrevistas com dez familiares, em sua maioria mes,que tinham um membro da famlia

    muito ligado criana, internados em UTI. Os dados foram analisados a partir da anlise

    de contedo de Bardin, emergindo quatro categorias: 1) Comunicao com a criana e

    adolescente; 2) tomada de deciso sobre a visita; 3) manejo e 4) repercusses da visita. A

    comunicao com os menores foi aberta, expressando de forma clara e honesta a condio

    de sade do familiar. Os participantes identificaram a capacidade que as crianas e

    adolescentes tinham em perceber as mudanas que ocorriam na famlia com a

    hospitalizao, e a curiosidade por mais informaes. Observou-se o cuidado e as

    dificuldades dos familiares ao repassar as informaes, para transmitirem esperana e

    segurana na comunicao, com o intuito de minimizar os danos emocionais. A tomada de

    deciso para a visita das crianas ponderou a inter-relao entre o desejo de visitar, o estado

    clnico do paciente, o imaginrio de que a visita de crianas no permitida; e o

    posicionamento da equipe. Percebeu-se, que os familiares sofriam o impacto emocional

    negativo associado visita em UTI, e acreditavam que os menores no teriam condio de

    lidar com a situao. Em relao ao manejo, todos os responsveis destacaram o benefcio

    da preparao psicolgica pr-visita, assim como o acompanhamento durante e aps. Os

    participantes expressaram a satisfao da criana ao visitar, sentindo-se pertencente aos

    eventos familiares. Ressalta-se a necessidade dos profissionais terem ferramentas para a

    avaliao e flexibilizao da visita de crianas e adolescentes aos seus familiares internados

    em UTI. Estudos relativos psicologia do desenvolvimento podem contribuir com a

    compreenso dos recursos que as crianas e adolescentes tem para lidar com esse tipo de

    situao, e auxiliar na comunicao entre os envolvidos. Nesse sentido, destaca-se que a

    capacitao dos profissionais acerca da visita de crianas poderiam contribuir para a prtica

    em sade e o desenvolvimento emocional dos familiares atendidos.

    Palavras chave:Criana; morte;Visitar pacientes; UTI-adulto

    Mestrado - M

    SADE - Psicologia da Sade

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A maternidade em condies adversas: mes deprimidas,

    acusadas de negligencia, com familiares e o prprio filho internado em UTI.

    Mes acusadas por negligncia: concepes sobre maternidade, famlia e prticas

    parentais.Regina Pagotto Bossolan (Tribunal de Justia do Estado do Estado de So

    Paulo), Gimol Benzaquen Perosa (FMB-UNESP)

    O tipo de violncia com maiores ndices de incidncia na infncia a negligencia,

    quando pais deixam de suprir necessidades bsicas e vitais da criana, tanto fsicas

    quanto emocionais, podendo ocasionar efeitos profundamente negativos ao

    desenvolvimento e comportamento da criana, na rea da cognio, linguagem e

    afetivo/social. A literatura destaca como possveis fatores de risco para negligncia

    materna, sua sade mental, em especial uso abusivo de lcool e outras drogas, ter

    sofrido violncia na infncia, falta de autocontrole e variveis do contexto mais amplo,

    como condio socioeconmica, no contar com suporte social para se manter e para

    cuidar do filho. Estudos mais recentes tm mostrado que valores e crenas parentais,

    tambm, esto diretamente associados responsabilidade como se assume o papel

    parental e aos diferentes estilos de cuidado. Este trabalho, de abordagem qualitativa,

    teve por objetivo conhecer as concepes de mes de crianas de 0 a 5 anos, requeridas

    no Judicirio em processos por negligncia, sobre o papel materno e sua relao com

    cuidados e prticas parentais. Para tanto, 20 mes responderam a uma entrevista

    semiestruturada e a uma escala para avaliar crenas e prticas de cuidado na primeira

    infncia (ECPPC). Os resultados mostraram que as mes tinham pouca escolaridade,

    80% no havia concludo o ensino fundamental, a grande maioria no possua qualquer

    atividade remunerada ou exercia ocupao no qualificada e sua renda era baixa.

    Mostraram uma concepo idealizada sobre famlia, maternidade e cuidados que no

    correspondia sua prtica, quando reconheciam a omisso e dificuldades frente ao

    atendimento das necessidades dos filhos. Atribuam seu comportamento ao efeito das

    drogas e lcool, sua inexperincia, falta de companheiro e de auto-controle . Tinham

    conscincia de que a negligncia e violncia eram prejudiciais ao desenvolvimento das

    crianas. A inconsistncia entre suas crenas e suas aes gerava conflitos sofrimento e

    culpa, especialmente porque atribuam a si total responsabilidade pelas suas aes,

    levando pouco em conta outros determinantes do contexto ambiental, como o

    comportamento da criana e a falta de apoio social e institucional. A inconsistncia

    pode ser atribuda ao vis que a avaliao por escalas pode ocasionar devido ao carter

    estruturado do instrumento em sua abordagem direta do tema maternidade, ocasionando

    a emisso de respostas culturalmente esperadas ao invs do real julgamento materno.

    Mas pareceu, tambm, no haver uma relao direta entre crenas e comportamentos.

    Diferentemente das crenas, as aes maternas sofriam a influncia de outros fatores,

    como contexto ambiental ,a dinmica das relaes e o comportamento da criana Assim,

    os dados reforam a ideia de que para compreender a negligncia materna preciso

    abandonar uma viso linear e perceber que caractersticas pessoais esto entrelaadas a

    aspectos soscioeconomicos, culturais, ideolgicos, que resultam na forma como

    assumem suas funes parentais, sendo fundamental o desenvolvimento de polticas

    pblicas baseadas neste pressuposto.

    Palavras chave:negligncia intrafamiliar, praticas parentais, maternidade

    Doutorado - D

    FAMI - Psicologia da Famlia e da Comunidade

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A maternidade em condies adversas: mes deprimidas,

    acusadas de negligencia, com familiares e o prprio filho internado em UTI.

    Vivencias e relaes de mes com bebs prematuros em incubadora. Gimol

    Benzaquen Perosa (Faculdade de Medicina de Botutu- Universidade Estadual Pau), Ana

    Dourado (UNESP-Botucatu)

    H evidncias na literatura de que a permanncia dos prematuros em incubadora, com o

    propsito de garantir sua sobrevida, pode gerar um impacto negativo para o vnculo

    me/filho. Na maioria das vezes a criana est sedada e as mes impossibilitadas do

    contato ttil e de oferecer cuidados. H vrios estudos de como as mes vivenciam

    essa situao, mas poucos centram-se no papel da voz materna que, nessas condies,

    uma via disponvel para o estabelecimento do vnculo com o beb , fundamental para

    sua constituio subjetiva. Este estudo teve por objetivo compreender a percepo das

    mes sobre seu papel quando da permanncia do filho na incubadora e a interao com

    o mesmo. Foram realizadas entrevistas abertas com sete mes de prematuros que

    permaneciam na incubadora. As entrevistas foram realizadas em at sete dias aps a

    internao da criana na UTIN. Observou-se, tambm, o que as mes diziam aos bebs

    e os comportamentos destes quando as mes se aproximavam da incubadora e falavam

    com eles. Os dados foram analisados qualitativamente, luz da teoria psicanaltica. A

    caracterstica mais presente nos relatos foi a necessidade de reconstruir a histria do

    nascimento prematuro, de forma minuciosa. Frente perplexidade da situao,

    encadeavam os acontecimentos, referindo datas e recordando detalhes, organizando sua

    histria e tentando preencher com palavras e nmeros o vazio e a angstia do no-

    saber. Ao falar a criana foi frequente recorrer a termos tcnicos e ao uso de

    significantes que evidenciavam sua condio de fragilidade, marcando a distncia com a

    criana idealizada. As caractersticas fsicas se sobrepunham a outras peculiaridades

    subjetivas denotando dificuldade de simbolizao diante do real do corpo da criana.

    Todas as mes relataram falar com a criana desde a gestao. Apesar do contato ser

    mediado por aparelhos e do toque estar praticamente excludo, as mes permaneciam

    prximas incubadora, apostavam na importncia de sua presena, falando em manhs

    com seus filhos, falas carregadas de afeto. Para elas, os comportamentos das crianas,

    assim como as mudanas cardacas e respiratrias observadas nos aparelhos de

    monitorao, tinham um propsito e eram interpretados como reao sua presena e

    sua voz. As respostas as alimentavam narcisicamente, retroalimentando um dilogo e

    devolvendo o lugar roubado pelo nascimento prematuro. Os dados apontam para a

    importncia que as mes do sua voz no estabelecimento e manuteno do vnculo da

    dade, durante um perodo fundamental da constituio do sujeito. Ainda que o

    ambiente da UTIN no tenha sido projetado para favorecer a maternagem, e isso tenha

    consequncias, observou-se um esforo das mes de pressupor ali um sujeito, para alm

    da prematuridade, e manter o vnculo com os filhos prematuros, quando ainda

    permanecem na incubadora.

    Palavras chave:voz materna; vnculo, prematururidade; psicanlise

    Mestrado - M

    SADE - Psicologia da Sade

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A psicologia em suas diversas expresses culturais: um tema

    fecundo para pesquisas histricas.

    A psicanlise, seus leitores e sua histria: notas sobre a chegada das ideias

    freudianas em Minas Gerais.Rodrigo Afonso Nogueira Santos** (Universidade de

    So Paulo, So Paulo, SP), Rodrigo Afonso Nogueira Santos (Universidade de So

    Paulo)

    Com o presente trabalho, apresento uma pesquisa que se situa, em termos gerais, no

    campo da histria dos saberes psicolgicos no Brasil, e, especificamente, no debate em

    torno da chegada das ideias freudianas em Minas Gerais. Partindo de uma metodologia

    historiogrfica, tal pesquisa teve como fonte de informaes o conjunto de documentos

    e enunciados produzidos poca da chegada das ideias psicanalticas em Minas Gerais,

    a saber, os anos 1920. O trabalho de anlise e interpretao das fontes foi conduzido na

    direo de uma articulao entre os enunciados e as condies histricas nas quais eles

    se tornaram possveis. Dessa forma, torna-se fundamental apresentar o debate a partir do

    qual a psicanlise se inseriu na intelectualidade mineira. Aqui, nos referimos ao amplo

    debate organizado, sobretudo, na dcada de 1920, e relacionado ao levantamento de

    diagnsticos sociais referentes identidade do brasileiro. Foi no interior dessa discusso

    que as ideias freudianas encontraram solo frtil para florescer no Brasil e em Minas

    Gerais, sendo que isso ocorreu por duas vias distintas: a medicina e o modernismo. Por

    um lado, a medicina, marcada por teses higienistas e, por vezes, eugenistas, buscava em

    Freud um conjunto de referncias tcnicas que servissem de fundamento para suas

    prticas de sade mental, sobretudo no tocante ao tratamento dos desvios sexuais. Nessa

    vertente, textos usualmente considerados como sendo mais orientados para a clnica,

    tais como os Trs ensaios sobre a teoria da sexualidade, ou A interpretao dos sonhos,

    se tornaram a tnica. Por outro lado, os modernistas buscaram em Freud os

    fundamentos da construo de uma referncia que se sustentasse na afirmao da

    brasilidade - e mesmo de uma mineiridade - como uma marca identitria prpria do

    pas, sem que a miscigenao fosse um problema. Aqui, textos como Totem e tabu e

    Moral sexual civilizada e doena nervosa moderna se constituram como referncias

    fundamentais. Assinalamos que, diferente do que ocorreu em outros estados - a exemplo

    de So Paulo e do Rio de Janeiro -, em Minas Gerais, tais vias no entraram em rota de

    coliso, tendo mesmo habitado os mesmos espaos. Vale destacar que, se tanto os

    mdicos quanto os modernistas buscavam na psicanlise um campo que teorizava a

    sexualidade - mesmo que sob perspectivas distintas -, essa marca tambm rendeu a

    Freud um grupo de ferrenhos opositores: os intelectuais catlicos. Intensamente

    criticado por autores de grande circulao no meio catlico, a psicanlise passou a ser

    alvo de uma srie de desqualificaes, por tocar em assuntos considerados proibidos,

    chegando a ser definida como uma teoria repugnante e pueril. A tenso entre leitores

    interessados em Freud para um projeto prprio, e entre intelectuais que visavam

    desqualific-lo, serviu ainda de base para a construo de um conjunto de enunciados de

    particular interesse para a histria da psicanlise em Minas Gerais, a saber, aqueles nos

    quais narrativas bblicas passaram a conviver em harmonia com os conceitos

    psicanalticos.

    Palavras chave:Saberes psicolgicos Psicanlise Sigmund Freud

    Doutorado - D

    Apoio Financeiro: CAPES

    HIST - Histria em Psicologia

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A psicologia em suas diversas expresses culturais: um tema

    fecundo para pesquisas histricas.

    A rainha cega e o imperador: dinmica psquica entre vontade e intelecto na

    psicologia conimbricense. Sandro Rodrigues Gontijo (UNOESTE)

    No sculo XVI os Jesutas de Coimbra elaboram um conjunto de manuais escolares com

    o objetivo de comentar a obra de Aristteles. O conjunto de alguns dos tomos que

    compe a produo dos inacianos prope descries e anlises da alma, aqui

    considerada em seu aspecto psicolgico, gerando assim uma psicologia com bases

    filosficas e empricas, segundo o conhecimento da poca. Ao realizar a discrio das

    instncias da alma e suas faculdades os Conimbricenses apresentam duas destas

    faculdades como fundamentos do psiquismo propriamente humano, a saber, vontade e

    intelecto. Pretendeu-se descrever as relaes destas duas potncias da alma com as

    demais faculdades e entre si, indicando como, na altura, se entendiam os processos

    decisrios e os fundamentos do modo de operar da mente. Para tal, foi analisado o

    comentrio conimbricense sobre os trs livros do tratado De Anima (Sobre a Alma)

    aristotlico em sua verso em portugus. Foi consultada a literatura especializada a

    respeito da produo conimbricense em seus aspectos histricos e tericos. Tambm

    foram utilizadas como fontes secundrias as obras de Aristteles, traduzida para o

    portugus, De Anima e Parva Naturalia (Pequenos tratados sobre a natureza). Observou-

    se que nas descries das faculdades da alma, conforme a conceituao da poca, a

    vontade uma substncia imaterial que assenta na substncia da alma, a qual

    considerada menos nobre do que o intelecto, levando-se em conta seus hbitos, atos e

    objeto. Diferindo-se realmente dele; mesmo porque o intelecto se orienta em funo da

    busca da Verdade, j a vontade tem como finalidade a deliberao sobre o Bem. Alm

    disso, pode-se dizer que a vontade move o intelecto, enquanto o intelecto dirige a

    vontade. No mais, a vontade pode mover e fundar atos do intelecto. Ela move o

    intelecto no que diz respeito ao exerccio do ato de inteligir, embora o intelecto mova a

    vontade no que concerne espcie propondo o objeto vontade, j que o objeto deve j

    ser conhecido (ter sido apropriado pelo intelecto) antes da vontade atuar frente ao

    objeto. Conforme o Comentrio, as aes do intelecto so mais sublimes, porque,

    embora a vontade mova outras potncias, como a imaginao e a memria, e a prpria

    potncia intelectiva quanto ao exerccio do ato, move ordenando, regendo, mandando,

    como a vontade numa rainha, embora cega, por carecer da luz intelectual, mas o

    prprio intelecto o imperador que fixa e anula as leis vontade. Acrescente-se que a

    vontade no pode ser levada para coisa nenhuma, a no ser que seja movida pelo

    intelecto, porque nada pode ser querido se no for conhecido, embora o intelecto, para o

    seu primeiro ato, no exija previamente o movimento da vontade. Assim, neste modelo

    a vontade apresentada como um processo que o fundamento da deliberao,

    mobilizando outros processos psicolgicos, no entanto, idealmente, podendo ser

    dirigido pelos atos intelectivos.

    Palavras chave:saberes psicolgicos filosofia Conimbricense

    Doutorado - D

    Apoio Financeiro: Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo - FAPESP

    HIST - Histria em Psicologia

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A psicologia em suas diversas expresses culturais: um tema

    fecundo para pesquisas histricas.

    As relaes entre a psicologia da Gestalt e a arte abstrata: o caso de Mario Pedrosa

    na Argentina.Mara Cecilia Grassi** (Universidad Nacional de La Plata, Buenos

    Aires/AR)

    O objetivo principal deste trabalho demonstrar, a partir de uma perspectiva histrica,

    as relaes entre dois campos diferentes: psicologia e arte. A relao entre esses campos

    constitui um tpico ainda pouco investigado pelos historiadores argentinos, razo pela

    qual consideramos relevante construir pontes existentes entre ambos. Concretamente,

    nos centraremos nas operaes de recepo e de traduo no acadmicas que se

    estabeleceram entre a psicologia da Gestalt e a arte abstrata argentina durante as

    dcadas de 1940 e 1950. Nessa perspectiva, abordaremos os vnculos dos artistas

    concretos argentinos, durante os anos de 1950, com Mario Pedrosa, intelectual

    brasileiro que defendeu sua tese Da natureza afetiva da forma na obra de arte no

    concurso da ctedra de Histria da Arte e Esttica na Faculdade Nacional de Arquitetura

    do Rio de Janeiro. A tese articulava as leis da percepo com a experincia esttica

    atravs do estudo da forma e foi uma contribuio fundamental para artistas brasileiros

    inclinados para a abstrao. Em 1951, Toms Maldonado e Lidy Prati, ambos artistas

    abstratos argentinos, viajaram ao Brasil e estiveram em contato com Pedrosa e com

    artistas cariocas como Geraldo de Barros e Waldemar Cordeiro. Nesse encontro e em

    sucessivos intercmbios, que incluram cartas e publicaes cruzadas, que situamos a

    contribuio de Pedrosa, sobre a teoria da forma, para artistas como Lidy Prati, Alfredo

    Hlito e Raul Lozza. O material analisado, a partir do referencial histrico-crtico,

    consiste em escritos de Pedrosa sobre o tema aqui abordado, obras dos artistas

    mencionados e publicaes posteriores aos encontros entre eles tais como artigos de

    Maldonado, Hlito e Lozza. A anlise desses documentos evidenciou a maneira pela qual

    foram utilizadas as leis da percepo como um dos fundamentos epistmicos de

    programas artsticos e como fonte de experimentao plstica. Como resultado das

    tradues por parte dos artistas a respeito das ideias da Gestalt, identificamos dois

    modos de apropriaco criativa dessa teoria no campo da arte argentina e brasileira. O

    primeiro, um uso terico, se reflete nos manifestos e reflexes publicadas em diversos

    meios como livros, revistas de arte e folhetos; e outro, ligado ao uso plstico que inclui

    tanto a representao em linguagem visual da linguagem cientfica, isto , a aplicao

    das leis da Gestalt para a composio de obras, como propostas de recreao por meio

    dos desdobramentos da teoria. Conclumos que os intercmbios entre Argentina e Brasil

    foram significativos e demonstram confluncia de interesses. Entretanto, consideramos

    que as contribuies advindas da teoria da Gestalt diferem nos casos abordados.

    Enquanto na Argentina os usos terico e plstico permaneceram em uma dimenso

    latente ou escassamente enunciada, no Brasil os usos, a referncia e a investigao

    sistemtica sobre a Gestalt podem ser claramente identificados.

    Palavras chave:Psicologia Gestalt-arte Mario Pedrosa

    Doutorado - D

    Apoio Financeiro: Secretara de Ciencia y Tcnica UNLP

    HIST - Histria em Psicologia

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A psicologia em suas diversas expresses culturais: um tema

    fecundo para pesquisas histricas.

    Psicologia da educao em instituies salesianas: a circulao de um projeto de

    educao da juventude entre Turim e So Joo del Rei.Rodolfo Lus Leite Batista**

    (Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG), Rodolfo Lus Leite

    Batista (Universidade Presidente Antnio Carlos)

    Nesta comunicao, apresenta-se recorte de pesquisa em andamento cujo objetivo

    descrever o processo de circulao de um projeto de psicologia da educao da

    juventude entre o Instituto de Psicologia Experimental do Pontifcio Ateneu Salesiano,

    em Turim, Itlia, e o Centro de Estudos Pedaggicos, da Faculdade Dom Bosco de

    Filosofia, Cincias e Letras, em So Joo del-Rei, Minas Gerais, durante as dcadas de

    1930 e 1950. Essas instituies foram fundadas pela Congregao Salesiana, uma

    sociedade religiosa catlica ligada formao de jovens e fundada por dom Bosco

    (1815-1888). Na cidade mineira, a ao de padres salesianos iniciou-se em 1939, com a

    criao de um colgio para formao de novios e realizao de oratrios festivos. Ao

    final da dcada de 1940, viu-se a necessidade de fundao de um Instituto de Filosofia e

    Pedagogia, onde fossem ensinadas disciplinas universitrias para seminaristas. Esse

    instituto foi transformado por decreto presidencial na Faculdade Dom Bosco de

    Filosofia, Cincias e Letras em 1953, ano em que iniciaram tratativas para a aquisio

    de um laboratrio de psicologia nos moldes do existente no Instituto de Psicologia

    Experimental do Pontifcio Ateneu Salesiano. Esse laboratrio compreendido como

    uma zona de contato entre um projeto de psicologia construdo em instituies catlicas

    europeias especialmente, italianas e o contexto local. Pressupe-se que, a partir

    desse laboratrio e do centro pedaggico ao qual ele deu origem, tenham ocorrido

    repercusses da filosofia neotomista como fundamentao epistemolgica para as

    cincias praticadas em instituies catlicas e apropriaes em funo de demandas

    locais ligadas educao. Ressalta-se que a reviso de literatura mostra que o perodo

    em que se deu a circulao desse projeto de psicologia persistia a oposio de grupos

    catlicos, nascida no sculo XIX, em relao constituio de uma psicologia

    experimental em detrimento da psicologia filosfica. Tal oposio se fundava no

    argumento de que seriam deixados de lado o estudo de caractersticas da alma, caso

    fosse adotado o modelo experimental fisiolgico. Dessa forma, havia um esforo dos

    salesianos em atender determinaes pontifcias para que fossem ensinadas disciplinas

    cientficas orientadas pelo neotomismo em suas instituies. Esta comunicao orienta-

    se pelo debate historiogrfico acerca das apropriaes de conhecimentos e prticas

    psicolgicos em contextos diferentes daqueles que foram produzidos. As fontes

    documentais investigadas esto disponveis no Centro Salesiano de Documentao e

    Pesquisa, no Centro de Documentao e Pesquisa em Histria da Psicologia, da

    Universidade Federal de So Joo del-Rei, e em bases digitais. Espera-se, a partir da

    construo dessa rede de circulao do conhecimento psicolgico, contribuir para a

    historiografia da psicologia em suas relaes com a educao e com o pensamento

    catlico.

    Palavras chave:Psicologia educao filosofia neotomista salesianos

    Doutorado - D

    HIST - Histria em Psicologia

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A psicologia em suas diversas expresses culturais: um tema

    fecundo para pesquisas histricas.

    Psicologia fenomenolgica e inconsciente na obra de Machado de Assis.Savio

    Passafaro Peres (USP)

    O objetivo deste trabalho mostrar que Machado de Assis, antes de Freud, defendia

    uma elaborada concepo de inconsciente, a qual pode ser validada

    fenomenologicamente pela relao entre os conceitos fenomenolgicos de conscincia

    pr-reflexiva, conscincia intencional e reflexo. Para isso, analisamos o romance

    Helena, escrito por Machado de Assis em 1876. Nesta obra, Machado de Assis explora

    como a personagem central do romance, Estcio, vai se apaixonando por sua suposta

    irm bastarda, Helena, sem que se d conta disso. O seu amor, embora no nomeado,

    no notado e no refletido, manifesta-se de modo a influenciar o seu comportamento e

    sua interpretao de mundo. Assim, Machado de Assis deixa transparecer, em suas

    descries da subjetividade, uma sofisticada noo de inconsciente, a qual pode ser

    interpretada fenomenologicamente. Para a fenomenologia husserliana, a alma sempre

    dotada de autoconscincia tcita pr-reflexiva, a qual, apenas por meio da reflexo,

    pode se manifestar em nvel verbal. Essa passagem da vivncia pr-reflexiva para a sua

    expresso verbal pode ser motivada no apenas por elementos intrnsecos prpria

    subjetividade, mas tambm por fatores extrnsecos. No romance Helena, o padre da

    famlia, Melchior, que percebe o amor inconsciente de Estcio e o revela ao rapaz no

    momento de clmax da trama, quando afirma a este ltimo que o corao um grande

    inconsciente. Ao informar o rapaz de seu amor, que at ento permanecia no nvel pr-

    reflexivo, o amor passa ao nvel reflexivo, exigindo que o rapaz rearticule e

    ressignifique o campo hermenutico de suas experincias. Essa relao entre o nvel

    pr-reflexivo e reflexivo da conscincia foi amplamente explorada tradio

    fenomenolgica. Husserl entendia que, quando estamos em viglia, estamos pr-

    reflexivamente conscientes de todas as nossas vivncias. Mas essa autoconscincia pr-

    reflexiva, entendida como elemento intrnseco de todas as vivncias, no coincide com

    sua elucidao conceitual. Tal elucidao exige no s a tematizao reflexiva das

    vivncias, mas tambm um exame lingustico-conceitual das mesmas, articulando-as

    com outras vivncias pertencentes ao fluxo de conscincia. Para Husserl, a reflexo

    pode ser definida como uma vivncia de percepo dirigida imanncia, a qual ocorre

    apenas ocasionalmente, e que possibilita a tematizao das vivncias. A reflexo, neste

    sentido, uma atitude espiritual particular, que s ocorre em virtude de uma motivao

    que leve ao ato reflexivo. Toda forma de autoconhecimento exige atos reflexivos, que

    explicitam a vida pr-reflexiva da conscincia. Neste sentido, podemos dizer que a

    personagem Estcio, do romance Helena, toma conscincia da vivncia pr-reflexiva de

    amor por Helena no momento em que estimulado, pelo padre da famlia, a perceber

    internamente o amor que j estava presente, mas permanecia no notado e, neste

    sentido, era inconsciente.

    Palavras chave:Fenomenologia inconsciente Machado de Assis

    Ps-Doutorado - PD

    HIST - Histria em Psicologia

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A psicologia em suas diversas expresses culturais: um tema

    fecundo para pesquisas histricas.

    Psicologia pedaggica e a recomendao de livros para pais e professores: a

    educao entre a filosofia e a cincia.Raquel Martins de Assis (Universidade Federal

    de Minas Gerais)

    O resumo apresenta uma pesquisa ainda em andamento que analisa a obra Psychologie

    Pedagogique (1916/1938) no mbito da divulgao da psicologia educacional por meio

    da recomendao de leituras para professores e pais na primeira metade do sculo XX.

    Desde o sculo XIX, com a liberao das tipografias e imprensas no Brasil, se acentua a

    produo, comercializao e circulao de livros no pas. Ao mesmo tempo, a

    psicologia vai se tornando um saber cada vez mais presente no campo da educao,

    oferecendo, principalmente, subsdios para o estudo das crianas e dos escolares. Na

    dcada de 1920, as reformas educacionais, realizadas em diversas regies brasileiras,

    recomendam a organizao de bibliotecas escolares especficas para a formao de

    professores e a leitura de diversas obras capazes de fomentar a renovao do trabalho

    pedaggico. Em Minas Gerais, o livro Psychologie Pedagogique. Lenfant

    ladolescent le jeune homme de J. de La Vaissire - jesuta francs e professor de

    psicologia na Inglaterra - foi recomendado como um manual catlico que poderia

    compor a formao dos professores, sendo tambm indicado aos leigos e aos pais. La

    Vaissire afirmava que as questes educacionais e as aptides dos alunos, em diferentes

    idades, vinham sendo submetidas ao controle cientfico. Por um lado, conclua o autor,

    as pesquisas cientficas davam importantes subsdios para a compreenso do

    desenvolvimento da criana, trazendo inmeras contribuies aos educadores. Por outro

    lado, o jesuta considerava absurdo que o edifcio pedaggico fosse sustentando

    apenas pela experincia cientfica. Desse modo, no se atendo apenas aos resultados das

    cincias e, mais especificamente, da psicologia experimental, a obra aqui analisada

    propunha uma psicologia pedaggica e um conjunto de saberes sobre a criana, o

    adolescente e o jovem fundamentados em referncias oriundas tambm da filosofia, da

    psicologia filosfica e da tradio catlica e jesutica em geral. Essa sntese, entre

    psicologia experimental e saberes advindos de outros campos pode ser observada em

    uma bibliografia final que acompanhava o livro. A bibliografia era composta por uma

    lista de obras que permitiriam, ao leitor, consultar os documentos e reconhecer a

    variedade de posies tericas sobre psicologia e a diversidade de interpretaes sobre

    educao das crianas. Havia, entretanto, a ressalva de que os livros arrolados

    continham doutrinas que no coincidiam, necessariamente, com a posio adotada pelo

    autor. Apesar disso, a lista de obras recomendadas era dividida em sees que permitem

    observar os fundamentos a partir dos quais seria possvel construir uma psicologia

    pedaggica que no se restringisse aos limites do controle cientfico, embora no

    descurasse dos modelos experimentais. Consideramos que Jules de La Vaissire, a partir

    da estratgia de oferecer uma bibliografia ao final de seu livro, convoca o leitor a

    conhecer e analisar pessoalmente a literatura psicolgica e pedaggica disponvel em

    sua poca.

    Palavras chave:Psicologia filosfica psicologia experimental educao

    Pesquisador - P

    HIST - Histria em Psicologia

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A utilizao do Desenho-Estria (D-E) e derivados na

    contemporaneidade: contribuies para a pesquisa e para avaliao psicolgica em

    diferentes contextos.

    Filho nico na famlia contempornea: o uso do Desenho-Estria com Tema com

    uma anlise sistmica. Monique Marques da Costa Godoy** (Universidade de

    Taubat/ Taubat,SP), Adriana Leonidas de Oliveira (Universidade de Taubat)

    O Desenho-Estria com Tema uma derivao do procedimento de investigao

    psicolgica chamado Desenho-Estria, criado por Walter Trinca, que se utiliza de

    apercepo temtica a partir do desenho criado pelo participante sobre um tema

    determinado pelo aplicador. Apesar de suas origens psicanalticas, o procedimento de

    Desenho-Estria com Tema passvel de ser analisado por outras abordagens como, por

    exemplo, da Anlise do Comportamento e da Psicologia Analtica. Este trabalho tem

    como objetivo apresentar uma proposta de um referencial de Anlise Sistmica do

    Desenho-Estria quando os temas esto ligados s temticas da famlia. Baseando-se

    nos referenciais clssicos para anlise do Desenho-Estria e nos referenciais tericos

    sobre estrutura e dinmica familiar, o presente referencial de anlise sistmica do

    Desenho-Estria com tema apresenta oito categorias: Atitudes Bsicas, Figuras

    Significativas, Sentimentos Expressos, Necessidades e Desejos, Contexto Familiar,

    Estrutura Familiar, Dinmica Familiar e Valores Familiares. Outra base terica utilizada

    nesse trabalho foi a doCiclo Vital da Famlia, no qual se divide em Fase de Aquisio,

    Fase Adolescente, Fase Madura e Fase ltima. Com o objetivo de analisar a

    representao simblica do filho nico ao longo do Ciclo Vital Familiar, o

    procedimento do Desenho-Estria com Tema foi aplicado em oito participantes, sendo

    um representante masculino e um feminino de cada Fase do Ciclo Vital Familiar com a

    instruo desenhe um filho nico em seu contexto familiar. Nas fases de Aquisio,

    Adolescente e Madura os pais aparecem como figuras mais significativas, seguidas dos

    pares como cnjuges e amigos; na Fase ltima os amigos aparecem em maior

    evidncia, formando uma famlia credenciada e com valor afetivo maior que a famlia

    de origem. Tambm se encontram Atitudes Bsicas positivas em todas as fases, alm da

    prevalncia de Necessidades e Desejos de aquisio, construo e realizao e

    Sentimentos de amor e proteo. Prevalece tambm nos participantes um sentimento de

    medo pela perda dos pais e culpa por no serem os filhos idealizados pelos pais, seja

    pelo gnero ou por causa de suas decises e conquistas. Quanto estrutura, dinmica e

    aos valores familiares, os participantes desenharam famlias de origem compostas por

    pai, me e filho; famlias credenciadas formadas por amigos; e famlias nucleares

    compostas por cnjuges e seu filho tambm nico. Em especial na unidade elaborada

    pelo representante da Fase de Aquisio, h o destaque para as mudanas nos membros

    da famlia, que demarcam o processo dinmico da evoluo da famlia. Os valores de

    unio, amor e cuidado, alm dos rituais importantes para unidade familiar, como

    almoos de domingo e passeios ao shopping, foram abordados pelos participantes.

    Conclui-se que para os participantes a unidade familiar algo de sua responsabilidade,

    assim como satisfazer os desejos dos pais. Para eles o mais importante em uma famlia

    seria a unio, o amor e o apoio familiar, enquanto que cnjuges e amigos so

    fundamentais para enfrentar dificuldades familiares, como a perda dos pais.

    Palavras chave:Avaliao Psicolgica. Psicologia Familiar. Desenho.

    Pesquisador - P

    AVAL - Avaliao Psicolgica

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A utilizao do Desenho-Estria (D-E) e derivados na

    contemporaneidade: contribuies para a pesquisa e para avaliao psicolgica em

    diferentes contextos.

    O procedimento de Desenhos-Estrias na vivncia de tornar-se irmo de um beb

    prematuro.Jssika Rodrigues Alves** (Universidade Federal do Triangulo

    Mineiro),Conceio Aparecida Serralha (Universidade Federal do Triangulo

    Mineiro),Isabela Silva Rocha (Universidade Federal do Tringulo Mineiro)

    O relacionamento fraterno possivelmente o mais longo na vida de um indivduo e os

    irmos causam grande impacto uns nos outros. Nesse contexto, uma nova organizao

    da estrutura familiar desencadeada com o nascimento de um novo filho, que provoca

    mudanas familiares nos papis e tarefas de cada membro. Porm quando esse filho

    nasce prematuramente, ou seja, com idade gestacional inferior a 37 semanas, e, por

    ainda no encontrar-se apto para a vida extrauterina, necessita ficar na Unidade de

    Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) para desenvolver-se de forma saudvel, a dinmica

    familiar inesperadamente alterada. A famlia necessita, ento, elaborar o

    acontecimento, lidar com a hospitalizao do beb, alm de mudar a rotina diria para

    acompanhar a internao. Com todas essas alteraesas consequncias dessa inesperada

    situao podem ser traumticas inclusive para o irmo do prematuro, que passa a

    conviver com pais carentes em termos emocionais, aflitos e preocupados. O objetivo

    desse trabalho, que parte de uma pesquisa mais ampla, foi o de investigar os

    sentimentos e as relaes que as crianas vivenciaram e estabeleceram com os pais e

    com o recm-nascido, na situao de prematuridade. Foram utilizados para a coleta de

    dados a hora ldica diagnstica e o procedimento de Desenhos-Estrias com a criana,

    alm de uma entrevista semiestruturada com a me. Os dados foram analisados por

    meio da tcnica de Anlise de Contedo, nas vertentes temtica e da enunciao, a partir

    da teoria do amadurecimento de Winnicott e do referencial sobre desenhos-estrias de

    Walter Trinca. A criana, desse estudo de caso, tem nove anos de idade, a terceira

    filha do primeiro casamento da me; sendo que a me teve um quarto filho fruto de

    seu relacionamento com o segundo marido que nasceu prematuramente e estava

    internado na UTIN no momento da coleta. Os desenhos e estrias da criana

    evidenciaram o quanto o nascimento do irmo foi um momento significativo na sua

    vida, alm de sentimentos de solido e medo com todas as mudanas ocorridas na rotina

    familiar, visto que a me, antes presente fisicamente em casa, agora passava o dia todo

    afastada cuidando do irmo prematuro. Constatou-se um processo depressivo na

    participante, expresso por meio de defesa manaca, permitindo inferir que, a aparente

    tranquilidade manifesta pela criana ao longo da coleta de dados refletia o oposto de sua

    realidade interna. Ademais, foi observado comportamentos de cuidado da criana para

    com o irmo prematuro, sugerindo reparao dos sentimentos agressivos em relao a

    ele, interpretados em seus desenhos. O procedimento de Desenhos-Estrias mostrou-se

    sensvel e permitiu identificar sentimentos e emoes ligados a nova dinmica familiar e

    ao momento da chegada prematura de um novo irmo; dessa forma o estudo remete

    importncia de um olhar mais aprofundado das famlias e profissionais para as reaes

    das crianas ao nascimento de irmos prematuros, visando ajud-las e acolhe-las na

    vivncia desse momento.

    Palavras chave:Avaliao psicolgica. Relaes familiares. Desenho-Estria.

    Pesquisador - P

    AVAL - Avaliao Psicolgica

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A utilizao do Desenho-Estria (D-E) e derivados na

    contemporaneidade: contribuies para a pesquisa e para avaliao psicolgica em

    diferentes contextos.

    Procedimento de Desenhos-Estrias na anorexia: um estudo de caso. Cristina

    Mensato Rebello da Silva* (Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo),

    Helena Rinaldi Rosa (USP)

    A incidncia dos transtornos alimentares cada vez maiorna populao e, em especial,

    junto aos jovens, o que torna a anorexia e a bulimia nervosas um problema de sade

    pblica na atualidade, justificando a presente pesquisa.O objetivo deste trabalho, parte

    de pesquisa mais ampla, foi avaliaruma paciente com anorexia nervosa, empregando o

    procedimento de Desenhos-Estria (D-E). A paciente, de 18 anos,vinda de Cabo Frio,

    usuria do Ambulatrio de Transtornos Alimentares da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo, onde estava internada na ocasio da avaliao. Concluiu o

    Ensino Mdio e pretendia fazer nutrio. A doena teve incio em sua cidade, com a

    alterao nos exames de rotina, o que a levou a comer cada ver menos, chegando a ser

    internada em Cabo Frio e a se alimentar por sonda. Foi em seguida transferida para o

    Ambulatrio onde a pesquisa foi realizada, e sua me a visitava em So Paulo toda

    semana.O Procedimento foi aplicado no hospital, porm sem prejuzo das atividades

    realizadas no mesmo, em horrio agendado pela paciente. Foram utilizados papel, lpis

    preto n2 e lpis colorido. O projeto teve aprovao do Comit de tica em Pesquisa

    com Seres Humanos do IPUSP. Com dificuldade de falar de si mesma no contato com a

    pesquisadora, revelou no gostar de frequentar as atividades do ambulatrio, pois

    considera seus participantes como viciados, no param de falar em emagrecer, em

    comida, etc. Seus desenhos e estrias evidenciaram, alm de sentimentos de abandono e

    de depresso, seus desejos de progredir, de curar-se, pois sente-se deslocada, sem

    pertencimento. O uso de cores mostra sua esperana de melhorar, porm ilustra

    tambm, em desenhos no coloridos, seus pensamentos que a impedem de progredir,

    dizem: Pare! Prendendo-a do lado da doena, sem poder estudar e trabalhar. Mais do

    que isso, sente-se refm de algo que no consegue controlar, o que pode estar

    relacionado com uma agressividade autodirigida e impulsos sdicos que, muitas vezes,

    volta para si mesma, levando-a doena. O desenho de um corao partido em diversas

    peas e com apenas algumas coloridas, revela como a paciente se sente cindida,

    esperanosa e impotente.O procedimento de D-E mostrou-se assim sensvel e permitiu

    aprofundar sua psicodinmica de funcionamento, podendo identificar suas dificuldades

    emocionais; a partir disso, possvel sugerir os pontos nodais a serem trabalhados com

    ela. Estudos com mais casos, mais amplos e que permitam maior generalizao podem

    contribuir na reflexo acerca de maneiras de interveno de psiclogos no tratamento de

    pessoas que tm transtornos alimentares a fim de que sejam mais efetivos e eficazes no

    tratamento dos doentes.

    Palavras chave:Avaliao psicolgica. Anorexia. Procedimento Desenhos-Estrias

    Pesquisador - P

    AVAL - Avaliao Psicolgica

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: A utilizao do Desenho-Estria (D-E) e derivados na

    contemporaneidade: contribuies para a pesquisa e para avaliao psicolgica em

    diferentes contextos.

    Repercusses do abuso sexual intrafamiliar na adolescncia observados atravs do

    Desenho-Estria com Tema. Roberta Rodrigues de Almeida, Martha Franco Diniz Hueb

    (Universidade Federal do Triangulo Mineiro)

    O abuso sexual contra adolescentes tem sido considerado um relevante problema de sade

    pblica, sendo que na maioria dos casos, tal prtica ocorre no contexto familiar com pessoas

    com quem a vtima tem uma relao de carinho, confiana e amor. Trata-se de situao na

    qual uma criana ou adolescente usado para gratificao de um adulto ou mesmo de um

    adolescente mais velho, baseado em uma relao de poder, incluindo desde manipulao da

    genitlia, mama ou nus, explorao sexual, voyeurismo, pornografia, exibicionismo, at o

    ato sexual com ou sem penetrao, com ou sem violncia fsica. Observa-se uma sub

    notificao dos casos, provavelmente em funo de sentimentos de culpa, vergonha, medo

    e tolerncia da vtima e das pessoas conhecedoras do abuso, fato que aponta a necessidade

    de divulgao de pesquisas para o grande publico. Objetivou-se com esse estudo, investigar

    as manifestaes do sentimento de culpa em adolescentes vtimas de abuso sexual

    intrafamiliar, bem como verificar as demais consequncias decorrentes desse sentimento.

    Participaram da pesquisa qualitativa, cinco adolescentes do sexo feminino de 12 a 15 anos,

    vtimas de abuso sexual intrafamiliar que procuraram o Conselho Tutelar para realizar a

    denuncia. Utilizou-se de entrevista individual semiestruturada e do Procedimento

    Desenho-Estria Temtico (DE-T) com a consigna: Desenhe como imagina uma

    adolescente vtima de abuso sexual. As entrevistas e as histrias do DE-T foram

    audiogravadas e transcritas na ntegra, sendo que as primeiras foram compreendidas pela

    analise de contedo e o DE-T pela livre inspeo do material, sustentados no referencial da

    psicanlise. Os dados foram agrupados em cinco categorias: (1)Manifestao de culpa; (2)

    Omisso do abuso,(3) Impulsos Destrutivos, (4)Mecanismos de Defesa do Ego e (5)

    Interferncia no Desempenho Escolar. Identificou-se que o sentimento de culpa estava

    vinculado manipulao dessa pelos agressores e em especial ao receio de que as pessoas

    as julgassem como se tivessem consentido com o abuso; a omisso do abuso manifestou-se

    intimamente relacionada ao receio de que o agressor ferisse membros da famlia; os

    impulsos destrutivos, foram observados pela inteno suicida, automutilao e

    comportamento agressivo com as pessoas prximas. A projeo e represso, foram os

    mecanismos de defesa mais observados; e a queda no rendimento escolar, associado

    dificuldade de concentrao, foi outro ponto bastante identificado nas participantes.

    Conclui-se que o DE-T mostrou-se sensvel para avaliar as manifestaes da culpa e as

    conseqncias do abuso sexual em vtimas adolescentes, favorecendo a expresso dos

    sentimentos com maior facilidade. Destaca-se que a escola um lugar possvel para a

    identificao e interveno de casos de abuso sexual intrafamiliar, o que denota a

    necessidade de capacitao de seus membros para que ao identificar e denunciar tal pratica

    abusiva possa garantir a qualidade de vida e os direitos da criana e do adolescente.

    Ressalta-se, entretanto, que h necessidade de novas pesquisas e estudos para que sejam

    produzidos novos conhecimentos e para que mais pessoas tenham acesso informao, a

    fim de que crianas e adolescentes tenham direito a uma vida protegida de qualquer

    violncia.

    Palavras chave:Abuso Sexual. Abuso Intrafamiliar. Psicanlise

    Pesquisador - P

    AVAL - Avaliao Psicolgica

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: Amplitude e pluralidade de temticas, instrumentos e contextos

    da Avaliao Psicolgica.

    A influncia das variveis sexo, idade e escolaridade no Teste Hooper de

    organizao visual. Roseli Almeida da Costa Ameni (Instituto de Psicologia da

    Universidade de So Paulo - SP), Ira Cristina Boccato Alves (Universidade de So

    Paulo)

    O Teste Hooper de Organizao Visual (Visual Organization Test - VOT) foi publicado

    em 1958 e revisado em 1983. um teste para avaliar a capacidade de organizao

    visual dos estmulos, sendo sensvel aos danos neurolgicos. O teste composto por 30

    figuras de objetos comuns, fragmentadas em duas a quatro partes, como quebra-cabeas,

    impressas em cartes com fundo branco. Os itens so apresentados um a um para que o

    examinando diga o nome da figura que seria formada, se as partes do desenho fossem

    juntadas corretamente. O objetivo desta pesquisa foi investigar a existncia de

    diferenas em relao s variveis idade, sexo e escolaridade. A amostra foi composta

    por 969 adultos de ambos os sexos, com idades entre 18 e 82 anos, sendo 53,5%

    mulheres, subdivididos em seis faixas etrias, e a escolaridade variou de ensino

    fundamental a superior. Em relao distribuio da faixa etria, a maior concentrao

    de participantes ficou na faixa de 21 a 30 anos (26,4%). Essa caracterstica tambm foi

    observada na amostra total, bem como em cada grupo de gnero. Alm disso, a

    distribuio das idades ficou bastante balanceada em cada faixa quando considerada a

    amostra total. A aplicao dos testes foi individual de acordo com as instrues do

    manual original, mas sem interrupo em funo do nmero de erros consecutivos. Para

    a pesquisa foi acrescentado um item como exemplo, que no consta do teste original. As

    respostas so pontuadas em 1, 0,5 ou 0 pontos para cada item. Para verificar a influncia

    das variveis estudadas foi realizada uma anlise de varincia, que indicou diferenas

    entre as mdias em relao ao sexo, idade, escolaridade e tambm entre todas as

    interaes entre as trs variveis. Os testes Post Hoc de Tukey mostraram diferenas

    entre os trs nveis de escolaridade e um agrupamento das faixas etrias em quatro

    conjuntos. Foram encontradas diferenas entre os sexos apenas para a faixa de 61 anos

    ou mais, com escolaridade superior, com pontuaes mais altas para o sexo masculino.

    Em relao escolaridade os dados indicaram um aumento das mdias com o aumento

    da escolaridade. Este resultado provavelmente se deve ao fato de que provvel que

    tenha havido influncia da varivel escolaridade, porque na poca em que essas pessoas

    eram mais jovens provavelmente os homens tinham mais oportunidades para continuar

    os seus estudos do que as mulheres, o que no acontece nas outras faixas etrias, porque

    atualmente o acesso das mulheres ao ensino superior aumentou muito. Em relao

    idade ocorre o inverso, h uma tendncia de aumento das mdias conforme diminui a

    idade, mostrando maiores pontuaes para os mais jovens. Em funo desses resultados

    foram estabelecidas normas em percentis, considerando essas divises.

    Palavras chave:Organizao visual. Teste Hooper. Avaliao.

    Pesquisador - P

    AVAL - Avaliao Psicolgica

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: Amplitude e pluralidade de temticas, instrumentos e contextos

    da Avaliao Psicolgica.

    Avaliao da criatividade em indivduos com habilidades artsticas: comparao

    entre artes plsticas, dana e msica. Amanda da Costa Monte Nero (Universidade de

    Taubat - SP), Paulo Francisco de Castro (Universidade de Taubat e Universidade

    Cruzeiro do Sul)

    O presente trabalho possui como objetivo apresentar dados sobre a avaliao da

    criatividade em um grupo de indivduos com habilidades artsticas, comparando os

    resultados a partir de trs modalidades de arte: plsticas, dana e msica. A criatividade

    pode ser considerada um dos traos caractersticos do homem e um dos aspectos que o

    diferencia dos demais seres vivos. Porm, seu estudo e definio tm se mostrado

    complexos em razo da diversidade de suas caractersticas e da variedade de expresses

    e formas nas quais a criatividade pode se manifestar. Participaram do estudo 30

    indivduos adultos (mdia em 34,2 anos), divididos igualmente quanto ao sexo e quanto

    modalidade artstica. Todos foram submetidos ao Teste de Torrance - verso

    brasileira: Pensando criativamente com figuras. O referido instrumento composto por

    trs atividades para expresso criativa por meio da elaborao de desenhos e

    proporciona a avaliao de 13 fatores que compem a capacidade criativa que se

    articulam em dois ndices criativos. Aps a correo dos testes, os resultados foram

    comparados aos dados normativos brasileiros e aplicados testes estatsticos para

    descrio e comparao das variveis, obtendo-se, em sntese, o que segue: A maior

    parte dos fatores avaliados indicaram predomnio de valores considerados mdios para a

    populao brasileira, exceto dois fatores com classificaes acima da mdia, a saber:

    Perspectiva Incomum (50%) que revela capacidade para analisar situaes sob novos

    pontos de vista, com postura inovadora e crtica que subsidiam novas alternativas e

    possibilidades, alm de Combinao (100%) que indica praticidade e capacidade de

    planejamento para associar ideias aparentemente fragmentadas, por meio de uma sntese

    criativa. Quando os resultados so comparados em relao modalidade artstica, tem-

    se dois fatores com indicao de diferenas estatisticamente significantes: Flexibilidade

    com resultados elevados para msica (p=0.018), significando maior habilidade nos

    msicos para solucionar problemas, analisando-os sob diversos pontos de vista, alm

    disso so capazes de se adaptar com facilidade e valorizam aspectos positivos dos

    acontecimentos e dos relacionamentos, at mesmo nas adversidades; Fantasia com

    escores elevados para artes plsticas (p=0.031), que pode ser interpretado que os artistas

    apresentaram grande abertura e receptividade para os prprios contedos imaginrios e

    inconscientes, utilizando-os na construo de obras, alm de possurem bom

    discernimento de suas metas e atuam com o objetivo de alcanar seus sonhos. No estudo

    de correlao entre as variveis do teste, observou-se 20 associaes positivas,

    indicando relaes significativas entre essas variveis do instrumento, tambm se

    observou correlao positiva entre os fatores avaliados e os ndices criativos, o que

    confirma a validade do instrumento. O estudo demonstra a importncia da investigao

    sobre o tema da criatividade para o campo da Psicologia e demais reas do

    conhecimento, e confere a essa expresso humana posio de valor na constituio e no

    desenvolvimento dos indivduos.

    Palavras chave:Avaliao Psicolgica. Criatividade. Habilidades Artsticas.

    Pesquisador - P

    AVAL - Avaliao Psicolgica

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: Amplitude e pluralidade de temticas, instrumentos e contextos

    da Avaliao Psicolgica.

    Desafios na avaliao de traos socialmente indesejveis da personalidade. Nelson

    Hauck Filho, Ariela Raissa Lima Costa,Natlia Costa Simes (Universidade So Francisco -

    Campinas / SP)

    O presente trabalho possui como objetivo avaliar caractersticas de traos socialmente

    indesejveis da personalidade em universitrios e apresentar possveis solues para

    diminuio do vis da Desejabilidade Social. Entendem-se os traos socialmente

    indesejveis como aqueles vistos de forma negativa pela sociedade. Exemplos dessas

    caractersticas so a psicopatia, que pode ser caracterizada por comportamentos antissociais,

    impulsividade e mentira patolgica; o narcisismo, relacionado a caractersticas como a

    grandiosidade e superioridade e o maquiavelismo, o qual envolve comportamentos

    estratgicos e a manipulao. Tais traos podem ser entendidos como uma variao extrema

    de dimenses gerais da personalidade. Na presente investigao a amostra foi composta por

    449 alunos de universidades pblicas e privadas de trs estados brasileiros: So Paulo,

    Santa Catarina e Minas Gerais. Todos os universitrios responderam a um questionrio

    sociodemogrfico e aos instrumentos Big Five Inventory (BFI), instrumento de autorrelato

    com 44 itens que avalia a personalidade, Short Dark Triad (SDT), instrumento de

    autorrelato com 27 itens que avalia a Trade Sombria (psicopatia, narcisismo e

    maquiavelismo) e Dirty Dozen (DD), instrumento de autorrelato com 12 itens que tambm

    avalia a Trade. Alm disso, como tentativas de diminuir o vis da desejabilidade social foi

    construdo um ndice de psicopatia, um perfil prototpico, que consiste em uma medida de

    similaridade (correlao intraclasse) entre os escores de um determinado indivduo e um

    perfil de respostas prototpicas de psicopatia elaboradas por especialistas para o instrumento

    BFI. Os resultados obtidos nos instrumentos foram comparados ao ndice de Psicopatia e

    foi realizado o controle de aquiescncia nos instrumentos, tambm como tentativas de

    diminuir o vis da desejabilidade social. Em sntese, tem-se os seguintes resultados: foram

    observadas correlaes positivas, moderadas e significativas entre o ndice e os escores nos

    dois instrumentos SDT e DD; notavelmente, essas correlaes foram mais altas para os

    fatores de psicopatia de cada instrumento, e tambm mais expressivas ao controlar o efeito

    da aquiescncia. Ainda em relao ao SDT e DD, as mdias dos universitrios foram abaixo

    da mdia, sugerindo que os mesmos tem pouca presena dos traos da Trade Sombria. Em

    relao ao ndice e outras variveis externas, como as relativas ao uso de substncias,

    embora todas as correlaes tenham sido positivas, elas foram de reduzida magnitude.

    Foram apresentadas comparao de mdias entre o ndice e a varivel sexo, os resultados

    demonstram que mulheres, em mdia, esto mais distantes do perfil prototpico da

    psicopatia do que os homens (a correlao para mulheres mais negativa do que para

    homens). No foram identificadas diferenas significativas entre os estados nesse estudo,

    contudo o estado de Minas Gerais foi o que ficou mais distante do perfil prototpico da

    psicopatia e o estado de Santa Catarina o mais prximo do perfil. Conclui-se que o ndice

    possibilita uma avaliao encoberta da psicopatia, sendo sugeridos novos estudos para

    explorar as potencialidades do mesmo e ainda nota-se que estudo ilustra a necessidade de

    atentar para vieses de resposta ao utilizar inventrios de autorrelato, principalmente na

    avaliao de traos socialmente indesejveis da personalidade.

    Palavras chave:Avaliao Psicolgica. Psicometria. Trade Sombria.

    Doutorado - D

    Apoio Financeiro: CAPES.

    AVAL - Avaliao Psicolgica

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: Amplitude e pluralidade de temticas, instrumentos e contextos

    da Avaliao Psicolgica.

    O Teste de Torrance do pensamento criativo na avaliao do impacto na

    criatividade de estudantes do ensino fundamental a partir da aplicao de

    abordagem tinkering. Cassia de Oliveira Fernandez (Universidade de So Paulo - SP),

    Roseli de Deus Lopes (Universidade de So Paulo - SP),Helena Rinaldi Rosa (USP)

    A abordagem tinkering, ou exploratria, corresponde a uma abordagem pedaggica que

    incentiva modos exploratrios de interao com o mundo, na qual as atividades podem

    ser enfrentadas e conduzidas por caminhos diversos e complexificadas em nveis que

    dependem de objetivos e interesses pessoais, sem a busca por um fim previamente

    definido. Dadas suas caractersticas ldicas e exploratrias, a adoo da abordagem

    tinkering pode contribuir para a diminuio das barreiras para participao em

    atividades de programao e programao fsica, e para o desenvolvimento da

    criatividade. Este trabalho investigou se a aplicao dessa abordagem em aulas de

    programao e programao fsica para alunos de stimo ano do Ensino Fundamental

    proporcionou maior desenvolvimento de seu potencial criativo. O currculo de

    programao fsica proposto teve durao de 12 semanas, com aulas semanais de 1h30.

    Para avaliao da criatividade, utilizou-se o Teste de Torrance do Pensamento Criativo,

    considerando-se o total do ndice Criativo Figural 1 - composto pela somatria dos

    escores das categorias de fluncia, flexibilidade, originalidade e elaborao. O teste foi

    aplicado coletivamente, na sala de aula, antes do incio da realizao das atividades e

    aps o seu trmino (intervalo de X semanas), utilizando-se tambm um grupo controle,

    com caractersticas similares ao grupo experimental, mas que assistiu a aulas regulares

    durante o perodo das atividades. A amostra foi composta por 51 estudantes do 7 ano

    do Ensino Fundamental, sendo 17 do grupo controle (7 meninas e 10 meninos) e 34 do

    grupo experimental (10 meninas e 18 meninos). A mdia de idade dos participantes foi

    de 12,2 anos. Os resultados do Teste T que comparou os totais do ndice Criativo

    Figural 1 no pr e ps teste para os grupos controle e experimental, indicam que no

    houve diferenas estatisticamente significantes entre os grupos controle e experimental

    no pr-teste (T= -0,570; p = 0,572). Isso indica que os grupos eram equivalentes quanto

    ao aspecto criatividade antes do incio da interveno. Aps a interveno realizada

    durante as doze semanas, foram observadas diferenas significantes entre os grupos no

    ps-teste (T =-2,684; p = 0,010). Enquanto o grupo controle manteve-se estvel (T =

    0,203; p = 0,840), foi observada uma evoluo positiva no ndice Criativo Figural 1

    grupo experimental (T = -2,045 ; p = 0,046). Tais resultados indicam que o teste

    utilizado se mostrou sensvel para identificar o impacto da interveno na criatividade

    dos estudantes, e mostrou-se estvel para o grupo controle. Alm disso, no foram

    observadas diferenas significativas entre os ndices Criativos de meninos e meninas

    tanto para o pr-teste quanto no ps-teste.

    Palavras chave:Criatividade. Teste de Torrance. Avaliao.

    Mestrado - M

    Apoio Financeiro: Bolsa de Mestrado concedida pela CAPES

    AVAL - Avaliao Psicolgica

  • Este resumo parte integrante das Comunicaes Cientficas apresentadas na 47 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia So Paulo, 2017 ISSN 2176-5243

    Sesso Coordenada: Amplitude e pluralidade de temticas, instrumentos e contextos

    da Avaliao Psicolgica.

    Repensando os momentos iniciais da entrevista psicolgica: consideraes acerca

    da importncia dos primeiros minutos para o diagnstico clnico. Fbio Donini

    Conti (Universidade Cruzeiro do Sul)

    O presente trabalho teve como objetivo demonstrar quo significativos so, para a

    construo do diagnstico, os momentos iniciais de uma entrevista psicolgica. A

    premissa foi a de que os primeiros minutos do encontro revelam, por si s, a(s) rea(s)

    da vida em que os conflitos se encontram alocados. Esta ideia se fundamentou na

    concepo de que os motivos inconscientes no so informados, inicialmente, na

    ocasio em que o paciente convocado a falar de si. Estes, por sua vez, acabam sendo

    protelados, na ordem do discurso, por conta das prprias leis que regem o

    funcionamento psquico dos seres humanos. Para verificar tal hiptese foram estudados

    24 casos oriundos de uma clnica da grande So Paulo, no sendo controladas as

    variveis: sexo, idade, etnia, nvel socioeconmico, escolaridade e religio em funo

    de se considerar o fenmeno como sendo de ordem filogentica e, portanto, universal.

    Os instrumentos utilizados foram a entrevista clnica, o Teste HTP e o TAT. Os critrios

    utilizados para indicar quais reas seriam aquelas em que o conflito nuclear estaria

    alocado foram os seguintes. Na entrevista, utilizou-se como pauta os setores j

    caracterizados na construo da EDAO (Afetivo-relacional, Sociocultural,

    Produtividade e Orgnico). Aqueles no apresentados inicialmente pelo paciente foram

    considerados como conflitivos. Para avaliar o HTP e o TAT, considerou-se as reas em

    que o conflito era mais evidente, visto ser possvel observar, nos testes, informaes

    acerca das quatro reas. Cada rea recebeu uma varivel categrica. Caso o conflito

    fosse observado na rea Afetivo-relacional, o valor atribudo seria 1, enquanto que, na

    rea da Produtividade, 2. Nas reas Sociocultural e Orgnico, as atr