A Influencia Da Adubacao Organica Nos Mecanismos--- (1)

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COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR INSTITUTO DE RADIOPROTEÇÃO E DOSIMETRIA MESTRADO EM RADIOPROTEÇÃO E DOSIMETRIA TATIANE ROCHA PEREIRA A INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NOS MECANISMOS DE SORÇÃO DO 241 Am EM SOLOS TROPICAIS. ORIENTADORA Dra. Maria Angélica Vergara Wasserman CO-ORIENTADORA: Dra. Elaine R. R. Rochedo RIO DE JANEIRO 2009

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  • COMISSO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR INSTITUTO DE RADIOPROTEO E DOSIMETRIA MESTRADO EM RADIOPROTEO E DOSIMETRIA

    TATIANE ROCHA PEREIRA

    A INFLUNCIA DA ADUBAO ORGNICA NOS MECANISMOS DE SORO DO 241Am EM SOLOS TROPICAIS.

    ORIENTADORA Dra. Maria Anglica Vergara Wasserman

    CO-ORIENTADORA: Dra. Elaine R. R. Rochedo

    RIO DE JANEIRO

    2009

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    TATIANE ROCHA PEREIRA

    A INFLUNCIA DA ADUBAO ORGNICA NOS MECANISMOS DE SORO DO 241Am EM SOLOS TROPICAIS.

    Dissertao submetida ao programa de Ps-

    Graduao em Radioproteo e Dosimetria

    do Instituto de Radioproteo e Dosimetria

    da Comisso Nacional de Energia Nuclear

    como parte dos requisitos necessrios para

    obteno do grau de Mestre em

    Radioproteo e Dosimetria.

    RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL

    Instituto de radioproteo e Dosimetria Comisso Nacional de Energia Nuclear

    Coordenao de Ps-Graduao

    2009

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    Ficha Catalogrfica

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    Tatiane Rocha Pereira

    A INFLUNCIA DA ADUBAO ORGNICA NOS MECANISMOS DE SORO DO 241Am EM SOLOS TROPICAIS.

    Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2009

    _______________________________________________________

    Presidente: Dra. Maria Anglica Vergara Wasserman IRD/CNEN

    _______________________________________________________

    Dr. Ana Cristina de Melo Ferreira IRD/CNEN

    _______________________________________________________

    Dr. Erika Flavia Machado Pinheiro IA/ UFRRJ

    _______________________________________________________

    Dr.Wanderson de Oliveira Sousa IRD/CNEN

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    Dedicatria

    I want one moment in time When I'm more than I thought I could be

    When all of my dreams Are a heart beat away

    And the answers are all up to me

    (Whitney Houston One Moment in Time)

    Dedico este trabalho a Deus, por me conceder a vida, colocar em meu caminho minha famlia e me cercar de pessoas especiais.

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    AGRADECIMENTOS

    CNEN pela concesso da bolsa de estudo.

    Aos meus pais, Antonio e Jandira Pereira, que sempre se ensinaram a lutar com

    dignidade e acima de tudo a respeitar s pessoas. Pelo exemplo de vida, amor, compreenso

    e apoio incondicionais; e aos meus irmos pelo incentivo constante, dedicao e amizade.

    minha orientadora e professora Maria Anglica Vergara Wasserman agradeo a

    oportunidade, a confiana no meu trabalho, o incentivo, amizade, orientao e compreenso

    incondicionais ao longo do curso de mestrado.

    minha co-orientadora Elaine Rochedo pela contribuio para o desenvolvimento

    deste trabalho.

    minha afilhada Gabrielle Gianizelli, minha esperana de um futuro bom, pelos

    momentos de pureza e felicidade que sua presena causa.

    Ao Wanderson e Ana Cristina Ferreira, agradeo por me ajudarem na determinao

    dos meus resultados analticos, pois sem eles este trabalho no seria concludo.

    Erika Pinheiro e aos funcionrios do Departamento de Solos da Universidade

    Federal Rural do Rio de Janeiro, agradeo bastante pelo apoio nas anlises de matria

    orgnica e pelas instrues.

    Agradeo grande arte, chamada msica, e a seus grandes compositores pela

    capacidade de despertar diversas emoes, principalmente, a de acalmar, tranquilizar e

    relaxar uma estudante de mestrado.

    Aos meus tios e tias pelo carinho e incentivo.

    Aos funcionrios do IRD, pela amizade e carinho.

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    Aos bolsistas do SEAIA, Michele, Mrcio, Vitor, Victor, Bruno, Lilian, Diogo,

    Fernanda, Luciana, Isabel, Fernando, Guilherme, Luna, Esa, Guilherme Augusto e de

    maneira bem especial, Flavinha, que me deu apoio no momento que eu mais precisava.

    Muito obrigada!

    Aos meus colegas de turma e de maneira especial s minhas amigas Luana, Mirtha e

    Sane pelo apoio, companheirismo e amizade.

    Aos amigos Alessandra Lima, Mrcia Pereira, Alexandre da Costa Pereira,

    Jamaican Tavares, Fernando Arajo, Livia Paiva, Bruno Cardoso, Patricia Oliveira,

    Michele Silva e famlia, Willian e Eliane Martins e Suzel Arcanjo pelo apoio nos

    momentos alegres e tristes.

    Aos mestres que contriburam para o meu desenvolvimento profissional,

    especialmente ao mestre Luiz Tauhata pelos grandes ensinamentos tanto de Fsica quanto

    de vida, amizade e carinho.

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    RESUMO

    Neste trabalho foram investigados os mecanismos envolvidos na soro do 241Am em

    funo das propriedades fsicoqumicas de alguns tipos de solo brasileiros e das mudanas

    promovidas nestas propriedades pela adubao orgnica. Este estudo experimental foi

    conduzido em rea controlada, onde vasos contendo diferentes tipos de solos (Latossolo

    Vermelho Amarelo, o Nitossolo e o Organossolo) e com diferentes doses de adubo

    orgnico (0; 2 kg m-2 e 4 kg m-2) foram contaminados artificialmente pela rega com soluo

    radioativa contendo 241Am. Nestes solos, com e sem adubo orgnico, foram realizados

    estudos de migrao: o coeficiente de distribuio (Kd), biodisponibilidade e matria

    orgnica . A biodisponibilidade efetiva foi avaliada atravs do cultivo de rabanete

    (Raphanus sativus, L.) nesses vasos e da posterior medida da concentrao dos

    radionucldeos nas razes. Os principais resultados revelaram que o 241Am possui uma

    grande afinidade com a matria orgnica do solo e que a adubao orgnica em solos

    tropicais reduz a dessoro do radionucldeo estudado. Atravs deste estudo foram obtidos

    valores de coeficiente de distribuio (Kd) para 241Am, e estes encontraram-se abaixo que

    os encontrados para solos de clima temperado. Foram encontrados valores abaixo do limite

    mnimo de deteco para 241Am em rabanete, sendo assim, no foi possvel obter valores de

    transferncia solo/planta. Foram feitos os fracionamentos fsico e qumico da matria

    orgnica .

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    ABSTRACT

    In this work the mechanisms involved in the sorption of 241Am were investigated depending

    on the physicochemical properties of some Brazilian soils and on alterations promoted by

    organic amendment. This experimental study was conducted in a controlled area, where

    pots containing different kinds of soils (Histisol, Ferralsol and Nitisol), with different

    organic amendment doses (without amendment; 2 kg m-2 and 4 kg m-2) were artificially

    contaminated by radioactive solution water, which contained 241Am. Migration studies,

    distribution (or partition) coefficient (Kd), bioavailability and organic matter were carried

    out in these soils, with or without organic amendment. In order to evaluate the effective

    bioavailability of radionuclides, radish (Raphanus sativus L.) was cultivated in these pots,

    and later the concentration of 241Am in radishs roots was measured. The main results show

    that 241Am tends to be strongly attached to organic matter and that organic amendment in

    tropical soils minimizes the radionuclide studied desorption. Also, distribution (or partition)

    coefficient (Kd) values for 241Am were generated and these values are smaller than those

    ones determinated for soils from temperate zones. Physical and chemical fractionings of

    organic matter were carried out.

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    SUMRIO

    1. INTRODUO .......................................................................................................... 1 2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 7 3. FUNDAMENTOS TERICOS ................................................................................. 8

    3.1. O Solo .................................................................................................................... 8 3.1.1 Formao e Constituio do Solo ................................................................. 9 3.1.2 Os Componentes dos Solos ........................................................................ 10

    3.2. A Contaminao e o Destino dos Radionucldeos no Sistema Solo Planta....... 17 3.3 Processos Envolvidos na Dinmica de Poluentes em Solos .............................. 21

    3.3.1 Adsoro e Dessoro ................................................................................... 23 3.3.2. Precipitao e Dissoluo ............................................................................. 27 3.3.3. Solubilidade em gua. ................................................................................. 30

    3.4. O Am 241 .............................................................................................................. 30 3.5.O Coeficiente de distribuio - Kd ........................................................................ 37

    4. MATERIAIS E MTODOS .................................................................................... 39 4.1. O Experimento ..................................................................................................... 39 4.2. Descrio dos Solos Usados no Experimento ..................................................... 42 4.3. Contaminao dos vasos ...................................................................................... 46 4.4. Cultura utilizada no experimento ........................................................................ 47 4.5.. Processamento e Abertura de Amostras ............................................................. 48

    4.5.1.. Para o rabanete: ........................................................................................... 48 4.5.2. Para os solos: ................................................................................................ 49

    4.6 Tratamento Estatstico dos Dados ........................................................................ 60 4.7 O Fator de Transferncia solo planta (Ft) .......................................................... 60

    5. RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................. 62 5.1. Propriedades Fsico-qumicas dos Solos ............................................................. 62 5.2. Migrao do 241Am nas Camadas dos Solos ....................................................... 64 5.3.Valores de coeficiente de distribuio (Kd) .......................................................... 69 5.4.Evoluo do Carbono Orgnico do Solo .............................................................. 71 5.5.O Fracionamento Qumico da Matria Orgnica do Solo .................................... 73 5.6. O Fracionamento Fsico da Matria Orgnica do Solo ....................................... 74

    x

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    5.7. Fator de Transferncia ......................................................................................... 75 5.8. Associao matria orgnica ............................................................................ 76 5.9. Biodisponibilidade Potencial do 241Am ............................................................... 77

    6. CONCLUSES ......................................................................................................... 79 7 ANEXOS .................................................................................................................... 81

    7.1. Atividade nos Solos dos Vasos da rea Experimental ....................................... 81 7.2. Planilha de Campo ............................................................................................... 82 7.3 Valores do Kd para cada tipo de Solo ................................................................... 83 7. 4. Fracionamento Qumico da Matria Orgnica ................................................... 84 7.5. Avaliao da associao do 241 Am matria orgnica lbel ............................. 85

    8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................... 86

    xi

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 3.1: Representao dos horizontes dos solos ........................................................ 9 Figura 3.2: Representao das Argilas de Mineral do tipo 2:1 e do tipo 1:1. ................ 13 Figura 3.3. Fatores que afetam a dinmica de radionucldeos no sistema solo-planta. .. 19 Figura 3.4: Interaes qumicas entre as fases slida e lquida do solo. ........................ 23 Figura 4.1: rea experimental IRD/SEAIA ................................................................... 39 Figura 4.2: Montagem dos vasos. ................................................................................... 40 Figura 4.3: Latossolo Vermelho Amarelo ...................................................................... 43

    Figura 4.4: Nitossolo ...................................................................................................... 44

    Figura 4.5: Organossolo ................................................................................................. 45 Figura 4.6: Contaminao dos vasos atravs de rega. .................................................... 46 Figura 4.7: Solo coberto para evitar a deposio foliar. ................................................. 47 Figura 4.8: Plntulas de rabanete .................................................................................... 48 Figura 4.9: Protocolo de Extrao Seqencial proposto por WASSERMAN et al.

    (2005). .................................................................................................................... 53 Figura 5.1: Perfil da concentrao do 241Am no Latossolo Vermelho Amarelo. ........... 64 Figura 5.2: Perfil da concentrao do 241Am em Nitossolo. ........................................... 65 Figura 5.3: Perfil da concentrao do 241Am em Organossolo ....................................... 66 Figura 5.4: Perfil da concentrao do 241Am em Latossolo Vermelho Amarelo com

    acrscimo de 2 kg m-2 de composto orgnico......................................................... 67 Figura 5.5: Perfil da concentrao do 241Am em Latossolo Vermelho Amarelo com

    acrscimo de 4 kg m-2 de composto orgnico. ........................................................ 67 Figura 5.6: Perfil da concentrao do 241Am em Nitossolo com acrscimo de .............. 68 2 kg m-2 de composto orgnico. ...................................................................................... 68 Figura 5.8: Valores de Kd para 241Am nos solos. ........................................................... 70 Figura 5.9: Teores de carbono (g kg-1) observado depois da adubao orgnica (2003) e

    aps 5 anos da adubao orgnica (2008). ............................................................. 72 Figura 5.10: Fracionamento qumico observado nos solos 5 anos aps a adubao

    orgnica. ................................................................................................................. 73

    Figura 5.11: Fracionamento fsico da matria orgnica ................................................. 74 Figura 5.12: Biodisponibilidade Potencial do 241Am ..................................................... 78

    xii

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 4.1: Delineamento experimental ......................................................................... 41 Tabela 5.1: Propriedades fsico qumicas do Latossolo Vermelho Amarelo, Nitossolo e

    Organossolo. ........................................................................................................... 62 Tabela 5.2 Valores de Kd para 241Am (L kg-1) encontrados para solos franceses e os

    valores padro de acordo com a IAEA. .................................................................. 71 Tabela 5.3 Coeficientes de correlao entre os valores do fracionamento qumico com

    os valores de Kd. .................................................................................................... 75

    xiii

  • 1

    1. INTRODUO

    Elementos radioativos esto presentes na Terra desde a sua formao. Essa

    radioatividade natural devida principalmente s cadeias radioativas naturais do

    Urnio, do Trio e do Actnio; radiao csmica oriunda do espao; radiao

    cosmognica e outros radionucldeos naturais alm daqueles oriundos das sries

    supracitadas, como por exemplo, o 40K, o 87Rb, o 113Cd e o 138La entre outros

    (FRIEDLANDER et al.,1981). Elementos radioativos produzidos pelo homem

    comearam a ser introduzidos no meio ambiente a partir do sculo XX devido s

    liberaes e posterior disperso de material radioativo originrio dos testes nucleares, de

    acidentes em instalaes nucleares como, por exemplo, o acidente de Chernobyl, em

    1986, na Ucrnia (AARKROG, 2001, DUNSTER et al., 2007) e o acidente de

    Windscale, em 1957, na Inglaterra (UNSCEAR,2000) e, ainda, atravs de liberaes

    rotineiras a partir de alguns tipos de instalaes radioativas e nucleares, por exemplo,

    indstrias de reprocessamento de combustvel nuclear.

    Em mdia, a radiao de origem artificial no chega a contribuir com 1 % da

    radioatividade total a qual o homem exposto (IAEA, 1994); no entanto, prximo s

    reas de testes atmicos ou reas afetadas por liberaes acidentais, esta contribuio

    pode ser significativa, o que justifica o estudo e a avaliao de fluxos de elementos

    radioativos artificiais em ambientes urbanos, agrcolas e florestais.

    Muitos estudos radioecolgicos foram conduzidos na Europa aps o acidente

    nuclear em Chernobyl (SHAW & BELL, 1991; BARCI-FUNEL et al. 1995, HASS &

    MULLER, 1995; MCGEE et al. 2000; FOGH & ANDERSON, 2001, HERRANZ et al.,

    2001). Esses estudos foram utilizados para vrios propsitos, por exemplo, estudar o

    transporte e a distribuio de radionucldeos nas plantas, melhorar a compreenso do

    comportamento dos radionucldeos a longo prazo em ecossistemas agrcolas, e

  • 2

    desenvolver modelos que possam prever as concentraes nas plantas atravs da

    concentrao no solo. Muitos desses estudos se focaram em elementos como o 137Cs e o

    90Sr, que alm de possurem elevada meia-vida fsica, possuem similaridades qumicas

    com macronutrientes (K e Ca, respectivamente) e elevada mobilidade destes elementos

    no ciclo hidrolgico, o que favorece sua absoro por plantas (IAEA, 1989).

    Nos ltimos anos, trabalhos especficos tm sido conduzidos com o objetivo de

    melhorar a compreenso dos mecanismos que governam a mobilidade dos elementos

    transurnicos no ambiente, enfatizando as particularidades associadas ao

    comportamento destes radioelementos no solo. Embora o solo possa atuar como barreira

    fsica e geoqumica na reteno de radionucldeos liberados na atmosfera e

    posteriormente depositados em sua superfcie, mudanas nas condies fsico-qumicas

    dos solos, que podem ocorrer em funo do uso da terra, de prticas agrcolas ou da sua

    evoluo edafo-climtica, podem alterar o destino dos radionucldeos: seja favorecendo

    sua dessoro e liberao para a soluo do solo, possibilitando assim sua migrao para

    camadas mais profundas ou sua assimilao biolgica, seja favorecendo a reteno do

    material radioativo nos vrios componentes dos solos (WASSERMAN et al. 2007).

    Alm das condies fsico-qumicas as quais os solos esto sujeitos (pH, Eh e

    fora inica), algumas propriedades dos solos so bastante relevantes para determinar a

    maior ou menor mobilidade qumica dos radionucldeos nos solo: a capacidade de troca

    catinica (CTC), a quantidade de matria orgnica e a mineralogia predominante.

    Vrios autores tm evidenciado a importante afinidade do 137Cs por argilominerais

    apresentando menor mobilidade em solos ricos em argilas, do que nos demais tipos de

    solos. (LUX et al., 1995, BERGAOUI et al., 2005, EL-TAHAWY & SHAMKY., 1999,

    CHIU et al., 1999),

  • 3

    O acidente de Chernobyl contribuiu com o conhecimento do comportamento de

    radionucldeos artificiais em solos de clima temperado, fornecendo informaes

    consistentes gesto de reas agrcolas contaminadas. Entretanto, estudos

    radioecolgicos realizados em reas tropicais ainda so raros apesar de 20% dos

    reatores nucleares existentes no mundo, em operao ou em construo, se encontrarem

    em reas de clima Tropical ou Subtropical. Em solos de clima temperado com elevado

    teor de matria orgnica, observou-se maior mobilidade dos radionucldeos, tornando-os

    disponveis para a absoro da planta e para ciclagem solo-planta por um perodo mais

    longo do que quando comparado com a reteno efetuada por argilominerais (SALBU

    et al. 1994, COLLE & ROUSSEL-DEBET, 2000). Em solos brasileiros vrios estudos

    tambm relatam a influncia da matria orgnica no comportamento geoqumico do

    137Cs (PORTILHO, 2005; WASSERMAN et al., 2007), s que a matria orgnica

    nestes solos teria um papel efetivo na reteno do 137Cs, a ponto de reduzir, de modo

    significativo, a transferncia deste elemento do solo para as plantas. Os estudos

    realizados em solos brasileiros possibilitaram detectar as classes de solos mais

    vulnerveis contaminao radioativa, alm de fornecer informaes que possibilitam

    otimizar o planejamento de aes de emergncia em reas rurais e a gesto de solos

    contaminados principalmente por 137Cs, 60Co e 90Sr (WASSERMAN et al 2008). No

    entanto, devido complexidade fsica, qumica e biolgica dos diferentes cenrios, o

    estudo do comportamento biogeoqumico de outros radionucldeos nos solos mais

    representativos das reas agrcolas brasileiras permitir avanar ainda mais no

    entendimento do comportamento desses elementos, principalmente aqueles de interesse

    para a gesto de rejeitos radioativos.

    Elementos transurnicos (U, Pu, Am e Np) e produtos de fisso (Sm, Xe, Sr, I,

    Cs) so os mais preocupantes no que se refere gesto de rejeitos, devido elevada

  • 4

    atividade especfica e meia vida relativamente longa destes elementos. O

    comportamento de radionucldeos presentes nos rejeitos radioativos em solos tropicais

    ainda tem sido pouco estudado, principalmente a avaliao do efeito desses nas

    propriedades pedolgicas destes solos. Dentre os elementos presentes nos rejeitos

    radioativos, o 241Am e o 243Am, o 239,240,241Pu, 129I, 238U e o 99Tc encontram-se entre os

    menos estudados em solos brasileiros, enquanto o 90Sr, o 137Cs e o 60Co j foram

    estudados de modo coordenado com outros pases de clima tropical (WASSERMAN et

    al.,2008), permitindo, assim, a validao de comportamentos universais e a

    identificao de aspectos regionais que interferem no comportamento destes

    radionucldeos no sistema solo/planta.

    No Brasil, a adubao orgnica tem sido uma das prticas agrcolas

    recomendadas para culturas de subsistncia, pois melhora, a baixo custo, as

    propriedades fsicas e qumicas dos solos. Esta prtica tem sido incentivada pela

    expanso comercial da agricultura orgnica, indicada como uma das tecnologias mais

    apropriadas para a agricultura sustentvel. Alm disso, a adio de matria orgnica

    uma prtica recomendada como contramedida para solos contaminados com 137Cs

    (IAEA, 1994). Efetivamente, substncias hmicas exercem um papel importante no

    comportamento de transporte de uma larga escala de ctions, e, especialmente,

    actindeos trivalentes podem formar complexos fortes com substancias hmicas (MAES

    et al., 2002). A complexao desses actindeos, com a matria orgnica pode ter dois

    efeitos opostos. Se complexada pela matria orgnica imvel, isto , substncias

    hmicas, sua migrao ser reduzida. Por outro lado, se complexos estveis so

    formados com a matria orgnica mvel (ou lbil ou frao leve), o transporte de

    radionucldeos pode ser aumentado (MAES et al., 2002). A absoro de radionucldeos

    do solo em plantas depender ento da forma qumica do elemento, das propriedades do

  • 5

    solo e seu manejo, alm das caractersticas fisiolgicas e metablicas da espcie vegetal

    (SKARLOU et al., 1996; WASSERMAN & BELM, 1996; PAPASTEFANOU et al.,

    1999).

    Neste estudo optou-se por estudar o comportamento do Amercio em solos

    brasileiros sob o efeito da adubao orgnica, devido a importante contaminao deste

    elemento observada em solos que foram contaminados acidentalmente por Plutnio e

    devido importncia de compostos orgnicos para seu transporte.

    A maioria do 241Am presente atualmente no meio ambiente teve sua origem nos

    testes de armas nucleares entre as dcadas de 50 e 60, e em acidentes como os areos

    ocorridos em Palomares na Espanha, e em Thule, na Groenlndia (IAEA 2001) e o

    acidente de Chernobyl. Em todos estes acidentes, a presena de amercio se deve,

    principalmente, ao decaimento radioativo de plutnio disperso no meio ambiente,

    embora traos de amercio costumam estar presentes como contaminao de plutnio,

    utilizado tanto em armas nucleares quanto em fontes de gerao de energia, por

    exemplo, em satlites artificiais. Cabe ainda ressaltar que acidentes como aquele

    ocorrido em Palomares e em Thule, envolvendo a queda de um avio carregando armas

    nucleares, poderia acontecer em qualquer lugar. A formao de amercio em reatores

    ocorre por absoro de nutrons, sendo mais significativa em reatores rpidos, que

    podem ser utilizados tanto para gerao de energia quanto para a obteno de plutnio,

    sendo de menor relevncia em reatores trmicos, como o caso dos reatores PWR em

    uso no Brasil. Devido grande disperso usual em contaminaes atmosfricas,

    somente quantidades muito pequenas de amercio so encontradas nos solos, plantas e

    guas (VARGA et al., 2007, JIMNES-RAMOS et al., 2006; SOKOLIK et al., 2004).

    O amercio tambm pode contaminar o ambiente se as fontes industriais

    (principalmente as portteis) forem perdidas, roubadas e abertas, ou quando detectores

  • 6

    de fumaa so abandonados em aterros, porm estes ltimos so fontes menores de

    contaminao ambiental (ALEXAKHIN & KROUGLOV, 2001). Nas situaes de

    contaminao do meio ambiente, o pblico pode ficar exposto radiao gama atravs

    do contato com o solo contaminado e s radiaes alfa e gama, por inalao de poeira

    contaminada ou por ingesto de gua e alimentos contaminados.

    O baixo contedo de matria orgnica em solos tropicais ocasionado por sua

    rpida mineralizao e lixiviao. No entanto, devido ao seu papel relevante na

    dinmica de nutrientes e poluentes em solos, espera-se que solos tropicais com baixo

    teor de matria orgnica apresentem comportamento de radionucldeos diferenciado do

    observado em solos onde a matria orgnica conservada. Assim, o estudo do

    comportamento do 241Am, em solos tropicais, bem como a avaliao do efeito de

    prticas agrcolas de adubao orgnica, comumente realizada nestes solos poder

    contribuir para a compreenso de processos e para a definio de critrios para o

    gerenciamento de resduos, para o estabelecimento de critrios de proteo radiolgica

    ambiental e para a recuperao de reas contaminadas. Alm disso, estes estudos podem

    otimizar a previso realizada por modelos usados na avaliao de risco radiolgico,

    atravs da substituio de valores de parmetros genricos, obtidos em sua maioria em

    solos de clima temperado, por valores obtidos regionalmente. Esse conhecimento

    permitir avaliar a eficincia regional de contramedidas normalmente recomendadas em

    caso de acidente radiolgico em reas rurais, e propor outras mais adaptadas ao local

    resultando em benefcios para a sociedade brasileira.

  • 7

    2. OBJETIVOS

    Esta dissertao tem como objetivo investigar a mobilidade qumica potencial

    do 241Am em funo de variaes edafolgicas ocorridas em Latossolo Vermelho

    Amarelo e em Nitossolo que receberam diferentes doses de adubo orgnico (sem

    adio; com adio de 2 kg de adubo por m2 de solo e com adio de 4 kg de adubo por

    m2 de solo).

    A influncia do aporte orgnico na mobilidade do 241Am ser avaliada tambm

    pela comparao com o comportamento do 241Am observado em Organossolo. A

    biodisponibilidade potencial destes elementos e a absoro radicular observada em

    condies de equilbrio qumico sero discutidas em funo do contedo de matria

    orgnica e de outras propriedades qumicas dos solos.

    Mais especificamente este trabalho tratar de:

    Determinar a capacidade de adsoro do 241Am em solos tropicais e avaliar a

    influncia da adubao orgnica no processo de adsoro.

    Avaliar a biodisponibilidade 241Am em solos tropicais atravs da aplicao da

    primeira fase do mtodo de extrao qumica seqencial seguindo protocolo especfico

    para solos cidos.

    Avaliar a associao do 241Am fase orgnica dos solos estudados, atravs da

    aplicao da terceira fase do mtodo de extrao qumica seqencial, seguindo protocolo

    especifico para solos cidos.

    Determinar o Coeficiente de distribuio (Kd) para o 241Am em solos tpicos de reas

    agrcolas brasileiras; e,

    Determinar o Fator de transferncia solo/planta (Ft) para 241Am em rabanete cultivado

    em reas experimentais.

  • 8

    3. FUNDAMENTOS TERICOS

    3.1. O Solo

    O solo hoje reconhecido em diversas cincias no apenas como uma superfcie

    inconsolidada que recobre as rochas e mantm a vida animal e vegetal na Terra, mas

    tambm como um corpo dinmico que pode ser compreendido pelo estudo de sua

    natureza fsica, qumica, mineralgica e biolgica. Os solos so constitudos pelas fases

    slidas, lquidas e gasosas sendo tridimensionais e dinmicas. A fase mineral

    constituda por materiais minerais e orgnicos, contendo matria viva e ocupando a

    maior poro do manto superficial das extenses continentais do planeta (EMBRAPA,

    1999). Em seu significado mais simples, o solo atua como um meio natural de suporte

    para as plantas, para a produo de alimentos e de fibras. Um solo com alta qualidade

    aquele que se mostra apto para garantir uma alta produo agrcola e a sustentabilidade.

    O solo no somente um componente, mas sim a base dos ecossistemas, cujas funes

    mais importantes incluem: suportar plantas, animais e o homem; controlar ciclos

    biogeoqumicos dos elementos e da energia nos diferentes compartimentos do ambiente;

    atuar como portador de aqferos subterrneos e de depsitos minerais; atuar como

    recurso base para a produo de alimentos, fibras e biomassa de qualquer natureza; e

    atuar como depsito gentico, na medida em que mantm a biodiversidade

    (ALLOWAY, 1990).

    A humanidade depende de ar puro, gua pura e de solos continuamente produtivos

    para que possa continuar a viver. A perda da produtividade e a eroso dos solos

    causaram a queda de civilizaes; no obstante, os solos continuam sendo utilizados

    como meio para descarte e disposio de materiais considerados poluentes ou

  • 9

    continuam sendo mal gerenciados, o que compromete sua sustentabilidade para futuras

    geraes.

    3.1.1 Formao e Constituio do Solo

    Estudos realizados em vrias regies do globo comprovaram que a existncia de

    diferentes tipos de solos decorrente da ao combinada de cinco principais fatores:

    clima, organismos, material de origem, relevo e tempo (JENNY, 1941; LEPSCH, 2002).

    Em alguns casos, um desses fatores exerce maior influncia sobre a formao do solo

    do que os outros. Assim, sob a ao de agentes biolgicos, fsicos e qumicos, o solo

    comea a formar-se a partir de uma rocha, organizando-se em uma srie de camadas

    sobrepostas de aspecto e constituio diferentes. Essas camadas, denominadas

    horizontes, so paralelas superfcie e possuem caractersticas fsicas e qumicas

    bastante diferenciadas entre si (figura 3.1).

    Figura 3.1: Representao dos horizontes dos solos

  • 10

    Como representado na Figura 3.1, o horizonte mais prximo da superfcie o

    horizonte O1, constitudo pelo material orgnico depositado recentemente. J o

    horizonte orgnico O2 est relacionado matria orgnica em estado de decomposio

    mais avanado. O horizonte A constitudo por uma mistura de material mineral e

    orgnico, o que confere uma colorao escura massa de solo. O horizonte A o

    horizonte mais rico em nutrientes. Por sua vez, o horizonte E se refere ao horizonte

    onde ocorrem perdas de argilas e xidos de ferro e alumnio, alm de apresentar elevada

    concentrao de quartzo. Este horizonte normalmente apresenta cor clara, devido

    mxima eluviao. J o horizonte B o horizonte de acmulo de argilas e xidos de

    ferro e alumnio. Este horizonte possui caractersticas especiais que auxiliam na

    classificao dos solos (horizonte de diagnstico). O horizonte C se refere ao material

    rochoso pouco intemperizado, e o horizonte R, se refere rocha de origem (PRADO,

    2003). importante salientar que os solos no possuem, necessariamente, essa

    seqncia de horizontes,

    3.1.2 Os Componentes dos Solos

    A proporo das fases slida, gasosa e lquida pode variar de um solo para outro,

    podendo tambm variar dentro do mesmo solo, de horizonte para horizonte (JENNY,

    1941; LEPSCH, 2002). Em uma concepo ideal de solo para a produo agrcola, a

    fase slida ocuparia cerca de 50% do volume do solo, sendo constituda por minerais

    (45%) e material orgnico decomposto (5%). Esta fase constituda por partculas de

    diferentes tamanhos: argila, silte e areia. A fase lquida e a fase gasosa ocupam o

    volume restante (~ 50% do volume total do solo). Normalmente sua distribuio em

  • 11

    funo do regime hdrico, relevo e de propriedades como textura, porosidade e contedo

    de matria orgnica. Assim, podem ocorrer situaes nas quais os poros so ocupados

    por gua a maior parte do tempo, em detrimento da fase gasosa, como por exemplo, nos

    solos hidromrficos (BRADY, 1989). A fase lquida do solo constituda por gua

    contendo minerais e compostos orgnicos dissolvidos. Esta fase denominada por

    soluo do solo.

    Os minerais

    As partculas minerais do solo podem ser classificadas tanto pelo seu tamanho,

    como pela sua origem e composio.

    Em relao origem, existem dois tipos: minerais primrios e minerais

    secundrios. Os minerais primrios existentes na maior parte dos solos so aqueles

    componentes das rochas mais resistentes ao intemperismo qumico e, por isso,

    permanecem mais tempo no solo, mantendo sua composio original, mas podendo

    fragmentar-se pela ao do intemperismo fsico. Os minerais secundrios provm da

    decomposio dos minerais primrios, que so mais suscetveis de se alterarem

    (JENNY, 1941; LEPSCH, 2002)

    medida que ocorre o intemperismo dos minerais primrios e secundrios, ons

    de diversos elementos, tais como: sdio, potssio, alumnio, ferro e silcio so liberados.

    Os ons mais solveis geralmente so lixiviados no solo, enquanto outros podem se

    recristalizar formando minerais insolveis (BRADY, 1989).

    As partculas minerais do solo tambm podem ser classificadas em argila, silte e

    areia, conforme a dimenso de suas partculas. O tamanho das partculas tem influncia

    direta nas propriedades fsicas e qumicas do solo. Normalmente as partculas menores

    so as mais ativas. Por isso, a proporo dos componentes de tamanho menor (argila e

  • 12

    silte) em solo argiloso e maior (areia e cascalho) em solo arenoso, juntamente com seu

    arranjo em agregados ir determinar no solo algumas caractersticas bastante

    importantes, como tamanho e quantidade de poros, permeabilidade gua, grau de

    plasticidade, facilidade de trabalhos com mquinas e resistncia eroso (JENY, 1941;

    LEPSCH, 2002).

    A argila, ao contrrio da areia, bastante ativa quimicamente. A grande atividade

    dessa frao deve-se ao pequeno tamanho de suas partculas, o que faz com que tenham

    propriedades coloidais. A mais importante propriedade coloidal da argila a afinidade

    pela gua e por elementos qumicos nela dissolvidos. Essa afinidade devido,

    principalmente, vasta superfcie especfica e existncia de cargas eltricas nessa

    superfcie (JENY, 1941; LEPSCH, 2002). Sendo assim, a frao argilosa do solo

    responsvel pela reteno de nutrientes, que so ctions metlicos essenciais para as

    plantas, evitando que eles se percam por lixiviao para camadas mais profundas.

    Em relao composio, encontram-se entre os minerais secundrios as argilas

    silicatadas e os xidos e oxi-hidrxidos comumente de ferro e alumnio.

    Os minerais de argila silicatados apresentam em sua estrutura tetraedros de silcio

    e octaedros de alumnio. O mineral de argila que possui uma lmina de tetraedro de

    slica e uma lmina de octaedro de alumnio do tipo 1:1, o que significa que possuem

    apenas a superfcie externa exposta, tornando-as menos ativa (ex.: caulinita, haloisita),

    mas quando ocorrem duas lminas de tetraedro de slica e uma de octaedro de alumnio,

    o mineral do tipo 2:1, o que significa que possuem superfcies interna e externa

    expostas, tornando-as mais ativas (ex.: montmorilonita, ilita, vermiculita) (Figura 3.2).

    Os solos altamente intemperizados, tpicos de clima tropical, so constitudos

    predominantemente por mineralogia oxdica e caulintica, o que pode conferir

    caractersticas distintas daquelas dos solos com argilo-minerais do tipo 2:1, nas reaes

  • 13

    que controlam a disponibilidade de radionucldeos no sistema (ZHU & SHAW, 2000,

    WASSERMAN et al., 2002a).

    Figura 3.2: Representao das Argilas de Mineral do tipo 2:1 e do tipo 1:1.

    Os xidos de ferro, alumnio, mangans e titnio constituem importantes

    componentes dos solos, principalmente dos solos mais intemperizados, como os solos

    tropicais de reas com relevo mais suave e superfcies geomrficas mais antigas

    (BRADY, 1989). Estes xidos possuem importante papel nas propriedades fsico-

    qumicas dos solos, influenciando nas reaes que controlam a disponibilidade de

    elementos trao no sistema. No caso dos xidos, as cargas negativas da superfcie so

    geradas pela complexao do OH- da soluo do solo ou pela dissociao de H+ da

    superfcie, enquanto que as cargas positivas so geradas devido complexao do H+ ou

    dissociao de OH- da superfcie. Estas cargas so chamadas de dependentes, pois

    podem ser alteradas pelo pH, fora inica da soluo e pela valncia do on

    predominante. Em solos cidos, as cargas positivas predominam e aumentam a

    capacidade de adsoro de nions. Os xidos de ferro mais comumente encontrados nos

    solos so a goetita e a hematita. Alguns metais, como Co, Cu, Ni, Zn e Pb, possuem

    grande afinidade com os xidos de Mn (SILVEIRA, 2002).

  • 14

    A atividade das argilas, ou seja, sua capacidade de trocar ctions (CTC), funo

    de sua estrutura e rea especfica, assim a caulinita, de estrutura mais simples (1:1), com

    rea especfica de 10-20m2 g-1 e CTC de 3-15cmol kg-1, apresenta menor atividade do

    que a ilita, de estrutura mais complexa (2:1), com rea especfica de 70-120 m2 g -1 e

    CTC de 10-40 cmol kg -1, a vermiculita (2:1), com rea especfica de 300-500 m2 g -1 e

    CTC de 100-150 cmol kg -1, e a montmorilonita (2:1), com rea especfica de 700-800

    m2 g-1 e CTC de 60-150 cmol kg -1 (REZENDE et al., 2007). Os xidos de Fe, Al so

    ainda menos ativos do que a caulinita, no que se refere sua CTC.

    Os compostos orgnicos

    Apesar de compor menos de 5% na maioria dos solos, a matria orgnica do solo

    um componente chave em qualquer ecossistema terrestre, e a variao em sua

    distribuio, contedo e qualidade tm importante efeito nos processos que ocorrem

    dentro de um sistema (S, 2001).

    A matria orgnica do solo (MOS) se apresenta como um sistema complexo de

    substncias que tem sua dinmica governada pela adio de resduos orgnicos de

    diversas naturezas e por uma transformao continua sob ao de fatores biolgicos,

    qumicos, fsicos, climticos e do uso e manejo da terra. No obstante, os fatores de

    formao dos solos (e.g., clima, vegetao, topografia, material de origem e tempo,

    associados aos processos de decomposio, mineralizao, humificao e estabilizao)

    podem participar na dinmica da matria orgnica do solo (STEVENSON, 2006;

    FONTANA, 2006).

    A compreenso de processos e reaes que envolvem a matria orgnica

    fundamental para a manuteno da qualidade de um solo, tanto porque estes processos e

    reaes influenciam na fertilidade de um solo e no fornecimento de nutrientes para as

  • 15

    plantas, como tambm porque estes afetam a dinmica de poluentes no meio ambiente

    (SILVEIRA, 2002). Desde as civilizaes mais antigas, o hmus do solo utilizado

    como referncia ao solo frtil, sendo chamado tambm de terra gorda, onde a palavra

    gorda tem a conotao de fertilidade e reservas de nutrientes (WASKMAN, 1936).

    Na dinmica da MOS, a estabilidade um dos principais critrios da qualidade da

    MOS, pois detritos de plantas frescas so convertidos gradualmente a formas mais

    estveis e esta estabilizao envolve uma variedade de processos qumicos, fsicos,

    microbianos e a fauna do solo. A MOS pode ser estabilizada pela interao com

    minerais, principalmente com argila, em ons de Ca, formando um complexo de elevada

    estabilidade (OADES, 1988). Os xi-hidrxidos de Fe, Al e Mn tambm exercem papel

    importante na dinmica de MOS de muitos solos de clima tropical, tais como Latossolos

    e Argissolos pela interao entre as cargas positivas destes minerais com os radicais

    orgnicos de carga negativa (ZECH et al., 1997).

    O fracionamento qumico da matria orgnica, utilizando-se cidos e bases,

    permite classific-la em funo de sua solubilidade em trs fraes principais com

    distintas caractersticas fsico-qumicas (GRI, 2000):

    Humina: frao insolvel em qualquer faixa de pH;

    cidos Hmicos: material orgnico que pode ser extrado do solo e

    solvel apenas em meio alcalino; e,

    cidos Flvicos: material orgnico que permanece solvel em qualquer

    pH.

    As substncias hmicas so consideradas como polieletrlitos de cido fraco,

    apresentando capacidade de reagir na soluo do solo dentro de uma ampla faixa de

    pH (STEVENSON, 1994). Os cidos flvicos e hmicos atuam como cidos de

    Lewis devido ocorrncia na sua estrutura de grupos com insuficincia de eltrons,

  • 16

    tais como O-H, N-H e S-H. A presena de carga negativa dependente de pH confere

    s substncias hmicas a capacidade de participarem de inmeras reaes do solo

    (CANELLAS et al., 1999).

    Complexos solveis, em geral, envolvem os cidos flvicos, os quais se ligam

    com os metais em uma larga faixa de pH. Na forma de complexos solveis os metais

    so disponveis s plantas, enquanto que nos complexos insolveis os metais so

    imobilizados (SILVEIRA, 2002).

    AL-OUDAT et al., (2006) observaram que a absoro de 137Cs pelas plantas

    proporcional ao aumento da matria orgnica do solo, enquanto que para o 90Sr, a

    absoro diminui. WASSERMAN et al., (2008) observaram que em solos tropicais a

    adio de compostos orgnicos reduz de modo significativo a transferncia de 137Cs e

    60Co para o rabanete.

    A importncia dos cidos hmicos se deve ao fato de participar da maioria das

    reaes que ocorrem no solo, tais como: agregao e estabilidade dos agregados pela

    formao de complexos organo-minerais; solubilizao de P e diminuio da energia de

    fixao dos xidos; adsoro de metais pesados; tampo do solo e influencia nas cargas

    das partculas, alm de servir como reserva de nutrientes s plantas e microorganismos

    (STEVENSON, 1982; FONTANA, 2006). A formao de agregados pode ser atribuda

    s substncias hmicas, que, devido qualidade de agentes cimentantes persistentes,

    podem, ao se ligarem com ctions polivalentes como Al3+, Fe3+ e Ca2+, promover a

    formao de microagregados, que so pouco influenciados pelas mudanas no contedo

    de matria orgnica e pelo manejo do solo e com isso aumentam a capacidade de

    armazenar gua (STEVENSON, 1982; FONTANA, 2006).

    O baixo contedo de formas mveis observado para os elementos transurnicos

    em solos aparentemente causado pelo fato destes formarem complexos de baixa

  • 17

    solubilidade com componentes moleculares de alto peso molecular da frao hmica e

    complexos organos-minerais com Fe, Al e Ca. (SOKOLIK et al., 2001)

    Para atenuar problemas como degradao do solo, baixa estocagem de carbono e a

    perda de fertilidade dos solos, a adio de fertilizantes orgnicos, tais como esterco,

    compostos orgnicos, vinhaa, resduos urbanos e adubos verdes, minimizam a

    aplicao de produtos qumicos, atenuando, com isso, os problemas ambientais (DE

    POLLI et al., 1988).

    3.2. A Contaminao e o Destino dos Radionucldeos no Sistema Solo-Planta

    Os radionucldeos possuem as mesmas propriedades qumicas que seus

    homlogos estveis, exceto pela pequena desigualdade de massa atmica. Desta

    maneira, quando um radionucldeo introduzido no sistema solo-planta ele tende a se

    comportar de maneira similar ao seu homlogo estvel j presente no sistema.

    Existem diversas possibilidades para a entrada de radionucldeos no sistema solo-

    planta. Liberaes atmosfricas ou aquticas rotineiras relacionadas operao normal

    de uma instalao, ou acidentais, previstas ou no em projeto, podem se dispersar no

    meio ambiente e atingir o sistema solo-planta. Na avaliao das conseqncias de

    liberaes atmosfricas para o meio ambiente duas etapas so consideradas. A primeira

    etapa o momento de liberao do material que sofre processos de disperso no meio

    ambiente. A segunda etapa a deposio do material no solo e em outros

    compartimentos do meio ambiente. Tal deposio pode ser seca (quando ocorre em

    ausncia de chuvas) ou mida (em presena de chuvas) (Figura 3.3). As liberaes

    aquticas podem contaminar os solos por ocasio da captao de guas de rios para a

    irrigao de culturas.

  • 18

    A contaminao do vegetal poder ocorrer por processos de absoro radicular

    do material radioativo presente no solo ou atravs da absoro foliar, devido

    deposio de materiais presentes no ar e na gua, sobre a superfcie externa das plantas,

    o que possibilita sua absoro e posterior translocao para outras partes da planta,

    conforme ilustrado na figura 3.3 (NOORDIJK et al., 1992, SABBARESE et al., 2002).

    Alguns fatores climticos como precipitao e vento podem alterar o mecanismo da

    contaminao superficial dos vegetais (ROCHEDO & WASSERMAN, 2003). A

    contaminao das plantas tambm pode ser alterada por mudanas nas condies fsico-

    qumicas dos solos (pH, Eh e fora inica), que podem ocorrer devido prticas

    agrcolas, como adubao, calagem, irrigao ou drenagem, uma vez que tais prticas

    podem modificar os mecanismos de soro dos radionucldeos e metais (EHLKEN &

    KIRCHNER, 2002, WASSERMAN et al., 2002, FRISSEL et al., 2002), favorecendo ou

    no a sua mobilidade na zona radicular ou para fora desta, conforme ilustrado na figura

    3.3.

  • 19

    Figura 3.3. Fatores que afetam a dinmica de radionucldeos no sistema solo-planta.

    Segundo EHLKEN & KIRCHNER (2002), outros fatores esto ainda governando a

    absoro radicular, entre eles o fator tempo, atravs de processos irreversveis de fixao

    que podem ocorrer, deixando o elemento indisponvel para a absoro radicular. A meia-

    vida do radionucldeo tambm pode interferir na concentrao geral do produto no

    momento da colheita, como observado por NOORDIJK et al. (1992), em relao ao 137Cs e 134Cs, que tm meia-vida de 30 anos e 754,2 dias respectivamente.

    A acumulao de radionucldeos pela planta tambm est diretamente relacionada

    com a sua fisiologia (ZHU & SHAW, 2000, ENTRY et al., 1999). Os radionucldeos,

    aps serem absorvidos pelas razes, podem ou no ser distribudos para os frutos e

  • 20

    outros rgos das plantas em funo de sua solubilidade na seiva, da funo do

    elemento no metabolismo da planta e da idade da planta.

    A incorporao de material radioativo presente no solo s plantas,

    microorganismos e animais permite sua remoo do sistema solo-planta por ocasio da

    colheita, movimento ou abate de animais.

    O radionucldeo depositado na superfcie do solo pode tambm migrar para

    camadas mais profundas, por processos de lixiviao ou por infiltrao, transporte de

    partculas coloidais e finas, migrao ao longo do sistema de razes de plantas, entre

    outros, ficando fora do alcance do sistema radicular das plantas, porm tornando-se uma

    fonte inicial de contaminao para guas subterrneas e/ou superficiais (ROCHEDO,

    2003; BUNZL et al., 1992). O arraste de camadas superficiais dos solos em reas

    sujeitas a eroso elica ou hdrica, pode favorecer a contaminao de ecossistemas

    vizinhos, tanto terrestres, como aquticos. Por processos de ressuspenso o material

    radioativo depositado no solo anteriormente, pode voltar para a atmosfera,

    redistribuindo a contaminao inicialmente depositada conforme ilustrado na figura 3.3.

    No estudo feito por SOKOLIK et al. (2001), aps o acidente em Chernobyl, foi

    verificado que 90% do amercio ficou localizado nas camadas superficiais entre 0 5

    cm, mas que, a distncias diferentes, o Am migrou para camadas mais profundas,

    significando uma correlao na sua redistribuio com suas formas fisico-qumicas.

    Segundo BUNZL et al. (1992), a mobilidade de Pu e Am do fallout global em solos

    florestais temperados baixa, sendo inferior a 1 cm por ano.

  • 21

    3.3 Processos Envolvidos na Dinmica de Poluentes em Solos

    Os avanos industriais e urbanos das ltimas dcadas fizeram com que houvesse

    um aumento da preocupao quanto contaminao e poluio de solos e aquferos.

    Isto se deve, principalmente, a no ter havido, no passado, uma preocupao quanto

    quantidade de resduos gerados e seu descarte indiscriminado no ambiente, causando

    muitas vezes danos irreversveis ou de difcil recuperao. A maior parte dos poluentes

    radioativos artificiais liberados na atmosfera se deposita na superfcie do solo e tende a

    permanecer na camada arvel do solo, ficando, portanto, potencialmente disponvel para

    ser assimilado pelas razes das plantas. Assim como outros metais pesados, os

    radionucldeos, quando adicionados aos solos, sofrem inmeras reaes, que produzem

    diferentes espcies qumicas e determinam sua maior ou menor mobilidade qumica. No

    entanto, diferentemente dos metais, ainda que o radionucldeo permanea indisponvel

    para processos qumicos e biolgicos, sua presena no meio ambiente em concentraes

    elevadas pode provocar exposio radioativa ao homem.

    Para avaliar o possvel risco da contaminao de solos por radionucldeos,

    necessrio conhecer a mobilidade e a biodisponibilidade destes no solo, as quais esto

    relacionadas com a forma qumica e a solubilidade dos elementos (GRI, 2000), alm

    dos fatores que interferem na distribuio dos elementos qumicos entre as fases slida e

    lquida deste solo (DESMET et al, 1990; McBRIDE et al. 1997; SALAM & HELMKE,

    1998). Uma vez em soluo, o poluente pode migrar para qualquer compartimento no

    sistema solo-planta, inclusive sair do sistema terrestre e contaminar ambientes aquticos

    vizinhos ou as guas subterrneas.

    Os solos apresentam grande capacidade de reteno de materiais que podem ser

    potencialmente prejudiciais ao ambiente se, ao invs de reter e acumular nutrientes,

    esses solos acumularem resduos e rejeitos txicos (BOLAN et al, 1999). Devido

  • 22

    capacidade de reter alguns elementos e compostos, os solos tambm atuam como um

    filtro para vrios elementos, o que evita, por exemplo, a migrao de poluentes

    inorgnicos e a contaminao de lenis freticos. A eficcia desse filtro est ligada a

    caractersticas do solo, tais como a quantidade de matria orgnica, a biota do solo, e ao

    tipo e quantidades de argila presentes no solo (MANZATTO et al, 2002). Felizmente,

    em muitos casos, os minerais ou os microorganismos do solo funcionam no s como

    agentes capazes de filtrar e imobilizar, mas tambm como agentes capazes de tamponar,

    degradar e desintoxicar os diversos poluentes orgnicos e inorgnicos dos solos

    (SOARES, 2004).

    A presena de matria orgnica e de xidos de ferro, alumnio e mangans

    possibilitam a complexao e reteno de diversos metais e molculas orgnicas,

    impedindo a sua percolao no perfil do solo. Os mais importantes processos qumicos

    que afetam o comportamento e biodisponibilidade de metais em solos so aqueles

    relacionados adsoro de metais da fase lquida pela fase slida conforme

    esquematizado na figura 3.4. Estes processos controlam as concentraes de ons

    metlicos e complexos na soluo do solo e exercem influncia na absoro destes

    metais pelas razes das plantas. As condies do solo que favorecem a precipitao ou a

    adsoro tendem a reduzir a mobilidade de ons metlicos, enquanto aquelas que

    favorecem as reaes de dissoluo ou dessoro aumentam esta mobilidade, conforme

    ilustrado na figura 3.4 (MEURER, 2004).

  • 23

    Figura 3.4: Interaes qumicas entre as fases slida e lquida do solo.

    3.3.1 Adsoro e Dessoro

    SPOSITO (1982) define adsoro como acmulo de uma substncia ou material

    na interface entre uma superfcie slida e uma soluo. um importante fator que

    controla os mecanismos de metais em corpos d'gua e em solos (McBRIDE et al., 1997)

    como tambm o processo qumico mais importante para o comportamento de metais

    em solos (SPARKS, 1995).

    Alguns radionucldeos so predominantemente adsorvidos na argila, enquanto

    outros se ligam preferencialmente matria orgnica, como observou PORTILHO

    (2005).

    A maioria dos principais processos de adsoro ocorre na superfcie das argilas e

    dos materiais hmicos, os quais tm grande superfcie especfica por unidade de rea.

    Estes processos so realizados por mecanismos de reaes de troca inica, ligaes

    qumicas especficas e reteno superficial em stios ativos (FRANKLIN, 2001,

    VANDECASTEELE, 2004). A adsoro controla a concentrao de ons e complexos

  • 24

    na soluo do solo, exercendo grande influncia na sua absoro pelas razes das

    plantas, uma vez que a planta absorve facilmente elementos presentes na soluo do

    solo. Tanto a mobilidade de poluentes quanto a formao de depsitos de minrios so

    influenciados pelo acmulo de elementos de solues insaturadas na superfcie dos

    minerais, ocasionados pelo processo de adsoro (KARASYOVA et al.,1999).

    Vrios fatores influenciam a adsoro de radionucldeos no solo: o tipo e a

    concentrao dos solutos na soluo do solo; o tipo e a quantidade de minerais de argila;

    a quantidade de matria orgnica do solo; o pH; a temperatura; e, o composto especfico

    envolvido. Alm destes, o tipo de ction que est saturando a argila (Fe, Ca ou H), a

    capacidade de troca de ctions (CTC) e a superfcie especfica tambm so importantes

    (CAMARGO et al. 2001). GARCIA (2006) verificou que, em Nitossolo, a dessoro de

    Ca, K e Mn apresentou correlao positiva e significativa com a dessoro de 60Co,

    sugerindo que os mesmos fatores que governam o comportamento do 60Co no Nitossolo

    podem estar controlando os mecanismos de soro destes elementos, principalmente os

    divalentes, como Ca e o Mn.

    Sendo assim, o impacto dos radionucldeos no ambiente resultante da interao

    entre a molcula (regida por suas propriedades fsico-qumicas) com as propriedades

    fsico-qumicas do meio onde eles so introduzidos.

    Adsoro no especfica

    A adsoro no-especfica ou de esfera-externa ocorre como resultado da ao

    de foras eletrostticas entre ctions metlicos presentes na soluo do solo e a

    superfcie carregada, com as cargas negativas dos colides. Estas interaes

    eletrostticas ocorrem quando um on carregado entra no campo de influncia de uma

    superfcie slida com carga lquida superficial de sinal contrrio. Esse tipo de adsoro

  • 25

    de baixa energia, ou seja, os metais encontram-se em equilbrio dinmico com a

    soluo do solo. Nos complexos de esfera externa a valncia do ction considerada

    como o principal fator determinante da seletividade de imobilizao na superfcie dos

    colides (BOLT, 1991). A adsoro no-especfica altamente dependente do balano

    de cargas eltricas na superfcie coloidal, uma vez que se fundamenta na ao

    eletrosttica.

    Adsoro especfica

    A ocorrncia de adsoro especfica ou de esfera interna se deve a elevada

    afinidade existente entre a superfcie adsorvente e os ctions livres em soluo. Neste

    tipo de adsoro, os ons atingem a estrutura do tomo e ligam-se por meio de ligaes

    covalentes ou inicas com os grupos O e OH da superfcie do solo. Este mecanismo de

    adsoro explica a razo pela qual o solo adsorve determinados ons em concentraes

    superiores sua capacidade de troca catinica. Os principais fatores que interferem

    nessa afinidade so a relao entre a valncia e o raio inico do ction e a polaridade do

    ction. Os principais tipos de ligaes qumicas envolvidas entre os tomos na adsoro

    especfica so: ligao covalente, onde ocorre o compartilhamento de eltrons de ambas

    as espcies inicas envolvidas; e, ligao covalente-coodernada, onde o

    compartilhamento ocorre somente por uma das espcies envolvidas. A adsoro

    especfica mostra-se pouco dependente da carga superficial do colide, embora o

    aumento das cargas negativas dos colides facilite a aproximao e a reao entre os

    ctions metlicos e os grupos funcionais dos colides (MELLIS, 2006).

    Em solos de regies tropicais altamente intemperizados, com predominncia de

    cargas variveis, o pH o principal fator determinante do balano de cargas no solo e a

    sua elevao determina aumento de cargas negativas por meios de desprotonao de H+

  • 26

    ou ligao de OH- superfcie coloidal. A reduo de pH, por outro lado, leva ao

    aumento das cargas positivas por meio de protonao de H+ ou remoo do on OH- do

    colide. A maioria dos elementos estveis ou radioativos tem a sua disponibilidade s

    plantas acentuada em meio cido e reduzida pela elevao do pH (RAIJ, 1991).

    Os cidos hmicos podem retardar a mineralizao de alguns compostos com o

    aumento da adsoro. A adsoro pode reduzir a velocidade e a extenso da degradao,

    mas no impede que esta ocorra. Molculas adsorvidas podem ser utilizadas como

    fontes de energia pela microbiota do solo e os compostos serem transformados

    lentamente (LEE, 2000).

    Dessoro

    O processo de dessoro o inverso do processo de adsoro, ou seja, a liberao

    de um elemento qumico retido na interface slido-lquido. A liberao inica da

    superfcie do solo para a soluo to importante quanto o acmulo. Assim, a

    velocidade de dessoro tem um papel to significativo quanto velocidade de

    adsoro, apesar de ser menos estudada. A dessoro de metais depende do teor livre do

    elemento na soluo do solo, do pH do solo, da temperatura, da quantidade do elemento

    adicionado e do tempo de contato entre o solo e a soluo. O abaixamento do pH

    favorece a dessoro de metais, pois os ons H+ podem remover para a soluo parte dos

    metais adsorvidos. Devido histerese (tendncia de um material ou sistema conservar

    suas propriedades na ausncia de um estmulo que as gerou), a liberao por dessoro

    ocorre de modo mais lento (SPOSITO, 1984).

    O processo de dessoro revela informaes importantes para que sejam

    implantadas tcnicas de remediao dos solos contaminados, bem como para a

    avaliao sobre a possibilidade de contaminao de ambientes aquticos.

  • 27

    Complexao

    Quando um on ou molcula presente na soluo do solo reage com um grupo

    funcional de superfcie (orgnico ou inorgnico), forma-se um complexo de superfcie.

    Conforme a energia de ligao do on com a superfcie da partcula, os complexos

    formados podem ser classificados como de esfera-externa ou de esfera-interna

    (MEURER, 2004). Os complexos de esfera-externa so formados com a interposio de

    uma ou mais molculas de gua entre o grupo funcional de superfcie e o on, formando

    apenas uma atrao eletrosttica entre eles (MEURER, 2004). Os ons adsorvidos desta

    forma so trocveis, porque podem ser deslocados dos stios de adsoro por outros ons

    presentes na soluo do solo (MEURER, 2004). Nos complexos de esfera-interna os

    ons ligam-se diretamente ao grupo funcional de superfcie, sem a presena de

    molculas de gua, formando ligaes inicas ou covalentes (MEURER, 2004).

    Normalmente este processo de complexao mais lento e irreversvel, sendo desejvel

    para poluentes presentes nos solos, pois uma forma de reduzir a sua mobilidade no

    meio ambiente (MEURER, 2004).

    3.3.2. Precipitao e Dissoluo

    As reaes de precipitao e dissoluo so importantes componentes para guiar a

    atividade dos elementos na soluo do solo. Quando certas solues de eletrlitos so

    misturadas, o on positivo de uma soluo combina-se com o on negativo da outra

    soluo podendo formar um slido insolvel (MASTERTON & SLOWINSKI, 1978).

    Assim, muitos elementos metlicos formam xidos no solo. A formao e a estabilidade

    dos xidos de ferro e de mangans podem ser citadas como exemplo. Essa precipitao

    pode ocorrer com outros minerais, como os minerais de argila, e tm papel importante

  • 28

    na solubilidade no s do ferro e mangans, bem como de outros elementos que se co-

    precipitam com eles, ficando ocludos.

    As reaes de hidrlise, o pH e as condies de oxi-reduo so fatores que

    tendem a alterar, s vezes sensivelmente, o equilbrio das reaes de

    dissoluo/precipitao.

    Gases dissolvidos na soluo tambm tm efeito marcante na

    dissoluo/precipitao de muitos elementos. Diversos ons como fosfato, sulfato,

    sulfito e carbonato podem interferir nas relaes de solubilidade dos elementos

    metlicos, formando, muitas vezes, precipitados muito pouco solveis, diminuindo a

    concentrao de ons na soluo do solo e conseqentemente, a reduo da absoro

    destes ons por plantas (FERREIRA et al., 2001).

    Oxidao e reduo

    O estado redox de um solo um importante parmetro ambiental no destino de

    radionucldeos. O potencial redox determina a relao entre a atividade dos compostos

    oxidados e reduzidos no equilbrio. As variaes que ocorrem na composio qumica

    do ar do solo modificam as reaes qumicas e processos biolgicos que ocorrem neste

    ambiente (LUCHESE, 2001). Numa concentrao maior de oxignio criam-se as

    condies de um ambiente mais oxidante, onde se desenvolvem os processos aerbicos

    e consequentemente as espcies qumicas tendem a encontrar-se em suas formas

    oxidadas (LUCHESE, 2001). No entanto se ocorrer uma reduo do teor de oxignio

    criam-se condies de um ambiente anaerbico, com propriedades redutoras, em que as

    espcies qumicas tendem a encontrar-se em suas formas reduzidas (LUCHESE, 2001).

    O estado de maior ou menor reduo do solo pode ser medido atravs do potencial

    redox (Eh). Quanto mais baixo for o seu valor, maior ser o estado de reduo do solo

  • 29

    (MEURER, 2004). Os valores tpicos de Eh em solos bem aerados esto entre 0,8 a 0,4

    V; em solos moderadamente reduzidos os valores se encontram entre 0,4 e 0,1 V; em

    solos reduzidos, estes valores se encontram em torno de 0,1 V. Os solos altamente

    reduzidos tm Eh entre 0,1 e 0,3 V e esta situao pode ser observada, por exemplo,

    em solos inundados (MANZATTO et al. 2002).

    O tipo e a concentrao dos compostos passveis de reduo so importantes

    fatores na determinao da seqncia da reduo. Como as reaes de oxi-reduo

    acompanham uma sequncia termodinmica relacionada facilidade em receber

    eltrons, um composto de menor afinidade ser reduzido apenas depois que a

    concentrao do composto de maior afinidade for baixa (MEURER, 2004). Assim,

    como a seqncia de reduo nitrato, xidos de mangans, xidos de ferro e sulfato,

    ocorrer reduo de quantidades significativas de mangans apenas depois que o nitrato

    for reduzido quase que totalmente (MEURER, 2004).

    Alguns ctions como potssio, clcio e magnsio, tm a solubilidade aumentada

    nestas reaes de oxi-reduo, pois so deslocados para a soluo do solo pelo

    mangans e, principalmente, pelo ferro, que ocupa proporo considervel dos stios de

    troca em funo de sua alta concentrao (MEURER, 2004). COLLE et al., (1996)

    afirmam que o cobalto presente no solo tem muita afinidade aos xidos, principalmente

    ao de mangans, o que explica a sua grande mobilidade em ambiente redutor.

    Estas interaes influenciam a partio de poluentes na fase lquida e slida do

    solo e so responsveis pela sua mobilidade e biodisponibilidade no sistema.

  • 30

    3.3.3. Solubilidade em gua.

    A solubilidade em gua a quantidade mxima do produto que se dissolve em

    gua sob uma determinada temperatura e pH. Esta caracterstica tambm determina a

    mobilidade e o destino do produto no ambiente. dada em funo da temperatura, pH,

    fora inica e matria orgnica do solo. A presena de matria orgnica dissolvida,

    como cidos flvicos, pode aumentar a solubilidade de vrios radionucldeos associados

    a estes compostos.

    3.3.4. Meia-vida

    A meia-vida de um radioistopo o intervalo de tempo, contado a partir de certo

    instante, necessrio para que metade dos tomos radioativos decaiam (TAUHATA et

    al. 2001). Os valores de meia-vida so importantes para o entendimento do potencial

    de impacto do ambiente. Por exemplo, se um elemento altamente txico tem meia-vida

    grande, a permanncia deste no solo ser longa e o impacto deste no ambiente poder

    ser aumentado por alteraes a longo prazo que afetem sua mobilidade e

    disponibilidade no ambiente.

    3.4. O Am 241

    O amercio pertence srie dos actindeos, no possui istopos estveis e um

    metal artificial de nmero atmico 95. Foi descoberto por Glen Seaborg, Ralph James,

    Albert Ghioso e Ieon Morgan em 1944, e isolado em 1945, por B.B. Cunningham com

    241Am no Am (OH)3, tendo recebido esse nome em homenagem ao continente

    americano (SCHULZ,1976; ATSDR, 2004). Possui meia-vida de 432,7 anos e foi

    obtido pela primeira vez por meio de bombardeamento por nutrons do 239Pu, de acordo

  • 31

    com as seguintes reaes (SCHULZ,1976; CLAIN, AQUINO & DOMINGUES, 1999;

    MIRANDA & VICENTE, 1999).

    O Amercio-241 obtido em reatores de potencia como produto de decaimento do

    241Pu. Como a meia-vida do 241Pu de 14 anos, o 241Am se forma durante o perodo de

    resfriamento do combustvel. As reaes envolvidas na produo so descritas a seguir:

    O amercio um metal radioativo, pertence ao grupo III da tabela peridica.

    Possui diferentes istopos, e todos so radioativos, sendo o 241Am o mais importante,

    com meia vida de 432,7 anos. O 241Am sofre decaimento alfa com subseqente emisso

    de raios X e gama de baixa energia, convertendo-se em 237Np. A radiao gama mais

    freqente possui energia de 59,54 keV.

    Como o urnio empregado no elemento combustvel dos reatores est na forma de

    xido, UO2, h a formao do xido de amercio (AmO2). Este xido de cor preta

    solvel em cidos, possui densidade de 11,68 g cm3 e estrutura cbica. (SCHULZ,

    1976; ATSDR, 2004).

    As partculas alfas resultantes do processo de decaimento oferecem pouco risco de

    exposio por irradiao externa, pois tm alcance mximo no ar de 4 cm e, no tecido

    do corpo humano, apenas alguns milsimos de milmetro. Quanto radiao gama

  • 32

    emitida no decaimento do amercio, por ser de baixa energia, 2 a 3 cm de tecido do

    corpo humano, so suficientes para reduzir metade o nmero de ftons (MIRANDA &

    VICENTE, 1999). No entanto, o 241Am classificado como de radiotoxicidade muito

    alta (CNEN, 1984) quando ingerido ou inalado. A classificao leva em considerao,

    alm do tipo de emisso, a meia-vida e os rgos crticos, que, para o caso do amercio

    so o pulmo, o fgado, os ossos e os ndulos linfticos. Alm disso, os efeitos do

    amercio sobre o sistema reprodutor e no desenvolvimento da placenta, so mais

    danosos que os efeitos do 239Pu (WANG & MERRY-LIBBY, 1986).

    A distribuio do amercio pelo corpo humano pode ocorrer das seguintes formas:

    Exposio por inalao: O pulmo o local de exposio inicial, havendo

    redistribuio para o fgado e, posteriormente, para os ossos e msculos

    esquelticos. Os dois ltimos iro conter a maior frao da carga de amercio

    sistmico aps longa exposio (ATSDR, 2004; MIRANDA & VICENTE,

    1999).

    Exposio por ingesto: embora tenha sido demonstrada a absoro pelo

    trato gastrointestinal, a distribuio sistmica por essa via foi moderadamente

    caracterizada. No entanto, sugerido que a distribuio do amercio absorvido

    pela circulao a partir do trato gastrointestinal semelhante da inalao

    (ATSDR, 2004).

    Exposio por absoro cutnea: informaes sobre a absoro de amercio

    pela pele em humanos e animais so extremamente limitadas. No entanto, sua

    distribuio pelo corpo deve ser semelhante exposio por inalao e

    ingesto. (ATSDR, 2004).

  • 33

    Ocorrncia do amercio no meio ambiente

    O amercio foi largamente empregado em pra-raios, pois se acreditava que a

    ionizao do ar causada pela radiao aumentava a eficcia do artefato. No Brasil, os

    dispositivos foram comercializados a partir da dcada de 70, mas em 80, um parecer

    tcnico emitido pelo Instituto de Eletrotcnica da Universidade de So Paulo,

    desaconselhou a utilizao de pra-raios radioativos para proteo de uma rea superior

    quela especificada para captores convencionais. Assim, em 1989, a Comisso Nacional

    de Energia Nuclear (CNEN), por meio de uma resoluo publicada no Dirio Oficial da

    Unio (CNEN, 1989), proibiu a fabricao e determinou o recolhimento, dos pra-raios

    radioativos aos Institutos da CNEN. Devido baixa taxa de recolhimento deste material

    desde a publicao da resoluo (cerca de 20%), supe-se que grande parte esteja sendo

    descartada em aterros sanitrios. No entanto, o risco de exposio nestes casos baixo e

    localizado, embora permanea uma questo relacionada sua permanncia a longo

    prazo no meio ambiente, devido elevada meia-vida do amercio e incertezas

    associadas ao uso futuro do local.

    Os dados sobre formas fisico-qumicas e migrao de radionucldeos apontam um

    baixo grau de descontaminao natural do material depositado no solo. Na maioria dos

    casos, os radionucldeos permanecem localizados no horizonte sub-superficial (B).

    Devido presena, a longo prazo, de radionucldeos no horizonte B, o risco de

    contaminao da planta permanecer por um longo perodo de tempo. O coeficiente de

    acumulao (taxa de concentrao das atividades do radionucldeo na planta e no solo)

    de diferentes espcies de plantas se localizam em escalas amplas 241Am (0,01-0,09).

    Desta forma, no caso de uma contaminao, a baixa intensidade de descontaminao

    natural de solos sugere uma necessidade por uma remediao antropognica ativa dos

    solos e pela elaborao de novos mtodos de gerenciamento no tradicionais.

  • 34

    Os seguintes acidentes e testes com artefatos nucleares contendo Plutnio levaram

    contaminao do meio ambiente por amercio:

    Palomares

    Durante uma operao de reabastecimento em vo, um bombardeiro americano

    B-52 e um avio-tanque de reabastecimento KC-135 colidiram no ar sobre a aldeia de

    Palomares na Espanha no dia 17 de janeiro de 1966. O B-52, que carregava 4 msseis

    nucleares, caiu na costa da Espanha. Das quatro armas termonucleares, duas foram

    recuperadas intactas e duas foram destrudas no impacto. A destruio da arma liberou

    aerossis contaminados com istopos de plutnio sobre os arredores da aldeia de

    Palomares. Embora a rea afetada (aproximadamente 226 ha) tenha passado por uma

    operao de limpeza total, ainda permanece a contaminao das camadas superiores da

    superfcie do solo com plutnio. Uma camada de 10 cm do topo do solo foi removida

    aps o acidente, mas algumas reas permaneceram parcialmente contaminadas por

    plutnio e amercio. Segundo ESPINOSA et al (2001) a redistribuio da contaminao

    ainda continua por ressuspenso de partculas contaminadas como resultado de

    atividades agrcolas

    Estudos de migrao vertical em solos de clima temperado indicaram a presena

    do 241Am e sua localizao em horizontes superficiais mesmo 42 anos aps o acidente

    areo em Palomares e 22 anos aps o acidente em Chernobyl (BUNZL et al 1992 e

    JIMNES-RAMOS et al, 2006), enaltecendo a importncia do estudo da migrao do

    radionucldeo em relao do tempo de contaminao.

    O comportamento do plutnio no solo foi observado ser diferente em reas sem

    cultivo, onde 99% dos traos de plutnio permanecem na camada de 5 cm do topo do

  • 35

    solo, em relao s terras cultivadas, onde ocorreu uma migrao mais acentuada para

    camadas mais profundas. reas da vizinhana exibem concentraes variadas de

    atividade de plutnio devido heterogeneidade na disperso do poluente (MONTERO

    & SNCHEZ, 2001). Alguns estudos concluram que a concentrao de atividade de

    Amercio continuaria aumentando at 2032, i.e. 73 anos depois do acidente; calcula-se

    que o Amercio ir contribuir com at 93% da exposio externa total devido ao

    acidente (ARAGN et al 2001). Chuvas pesadas na regio seguida por inundaes

    lavaram uma poro da terra contaminada no continente. Anlise de sedimento no

    perodo 1985 a 1991 na rea marinha perto de Palomares tambm mostrou nveis

    aumentados de transurnicos derivados do acidente (IAEA 2001).

    Thule

    No dia 21 de janeiro de 1968, um bombardeiro de B-52 se chocou com o gelo

    perto da base area de Thule na Groenlndia. O bombardeiro carregava quatro armas

    nucleares, que foram destrudas, esparramando plutnio sobre uma rea grande do gelo.

    A contaminao foi principalmente limitada ao ambiente marinho. Aproximadamente

    10 TBq de plutnio foi recuperado na camada de superfcie da neve (UNSCEAR, 2000).

    Monitoramentos durante quatro expedies entre 1968 e 1979 mostraram que a maioria

    da atividade liberada, incluindo 241Am, ficou limitada a sedimentos e ambiente de

    bentos, dentro de um raio de 50 km em torno do local da queda do avio (ERIKSSON et

    al., 2004).

    Testes nucleares

    Os locais utilizados em testes atmicos apresentam contaminao por Plutnio e

    Amercio. As concentraes residuais que permanecem no solo e outros meios

  • 36

    ambientais variam muito, refletindo as diferenas no tipo e quantidade de dispositivos

    nucleares detonados. Alguns dos locais foram contaminados por plutnio por testes de

    segurana, onde os dispositivos foram explodidos por bombas convencionais. Apesar

    destes testes no gerarem energia nem produtos de fisso, levaram disperso do

    material da bomba (urnio e/ou plutnio) no local dos testes. No Atol de Bikini as

    atividades de 239+240Pu e 241Am so baixas. Os resultados de estudos de ressuspenso

    determinam valores muito baixos para os fatores de ressuspenso, na faixa de 10-10 a 10-

    11 m

    -1. Por conseguinte a contribuio esperada para doses devido a exposio

    radiao pela via de inalao insignificante (IAEA, 1998a). Nas ilhas Johnston, os

    EUA lanaram 12 testes a alta altitude, no comeo de testes nucleares, em 1958. Todos

    os testes foram planejados como atmosfricos, mas trs resultaram em destruio no-

    nuclear no intencional dos artefatos, o que conduziu a contaminao do atol com

    resduos radioativos, incluindo quantidades considerveis de urnio e/ou de plutnio

    fissionvel (SIMON &. BOUVILLE, 2002).

    Em Semipalatinsk, no Cazaquisto, foram realizados 456 testes nucleares,

    incluindo 86 atmosfricos e 30 testes de superfcie. Cinco dos testes de superfcie no

    tiveram xito e resultaram em disperso de plutnio no ambiente (IAEA 1998c). Em In-

    Ecker, Arglia, foram realizados 13 testes subterrneos. Quantidades pequenas de

    plutnio foram espalhadas neste local em testes de segurana que s envolveram

    explosivos convencionais (IAEA 2005).

    O amercio e a matria orgnica

    conhecido que a frao orgnica do solo influencia o estado de reteno e

    mobilidade de elementos transurnicos de vrias maneiras, dependendo da razo entre a

    frao de cidos hmicos, flvicos e humina. Por um lado, no resultado de formao de

  • 37

    complexos flvicos solveis, a soro de 241Am pelos solos decresce. Por outro lado, a

    formao de huminas de alto peso molecular e seus outros complexos qumicos

    promovem a transformao de radionucldeos em formas pouco mveis. (SOLOLIK et

    al., 2001)

    A baixa solubilizao que ocorre provavelmente devido formao de

    complexos e/ou a formao de colides. Dois outros fatores parecem limitar a

    solubilizao desses elementos: somente uma pequena frao de plutnio e amercio

    parece ser realmente solvel e h, aparentemente, um baixo valor de saturao desses

    elementos em gua e em cidos flvicos (CLEVELAND & RESS, 1976).

    3.5. O Coeficiente de distribuio - Kd

    Quanto concentrao de radionucldeos em solos, a maioria dos valores

    encontrados em literatura referem-se a seus teores totais, mas a avaliao do potencial

    de risco e da toxicidade requer a avaliao da proporo que mvel e, possivelmente,

    disponvel. Alguns parmetros numricos tm sido utilizados para tomadas de decises

    e para direcionar estratgias de preveno ou de remediao de reas contaminadas. O

    Coeficiente de distribuio slido-soluo (Kd), definido como a relao entre as

    concentraes adsorvida e em soluo, permite a comparao de elementos em

    diferentes sistemas. Devido adsoro de radionucldeos ser dependente de muitas

    propriedades do solo, a modelagem do destino destes elementos no ambiente requer

    determinaes experimentais do coeficiente Kd (SOARES, 2004). No entanto, o uso de

    valores genricos de Kd encontrados em referncias bibliogrficas que, por terem sido

    gerados a partir de condies distintas daquelas existentes em uma determinada rea,

    por exemplo, da regio tropical, podem levar a estimativas de risco incorretas. A

  • 38

    obteno de valores de Kd valida estas estimativas de contaminao e possibilita

    estratgias de interveno para reas j contaminadas. (KNOX et al., 2000).

  • 39

    4. MATERIAIS E MTODOS

    4.1. O Experimento

    O trabalho experimental desta dissertao foi desenvolvido no campo e no

    laboratrio. O experimento de campo foi desenvolvido na rea experimental do Instituto

    de Radioproteo e Dosimetria (IRD/CNEN) (Figura 4.1) e os experimentos em

    laboratrio foram desenvolvidos no Laboratrio de Radioecologia Experimental ambos

    localizados no Servio de Avaliao de Impacto Ambiental (SEAIA/IRD/CNEN).

    O experimento foi realizado em vasos de 0,25 m2 contendo Latossolo Vermelho

    Amarelo, Organossolo e Nitossolo provenientes de um experimento em vasos preparados

    em 2003 para se avaliar o efeito da adubao orgnica na mobilidade de radionucldeos,

    dispostos em suportes de concreto da rea experimental controlada do Instituto de

    Radioproteo e Dosimetria (IRD/CNEN) conforme ilustrado na Figura 4.1.

    Figura 4.1: rea experimental IRD/SEAIA

  • 40

    Os vasos foram preparados colocando-se no fundo uma camada de brita e areia

    com cerca de 5 cm de altura para facilitar a drenagem da gua de irrigao. Cerca de 40

    cm da mistura de solo foi adicionada aos vasos. Este solo foi fisicamente isolado do

    material de drenagem com tela plstica com malha de 0,5 cm (ver Figura 4.2). Na base

    dos vasos foi colocado um prato equipado com um dreno para facilitar a coleta da gua

    de drenagem.

    Figura 4.2: Montagem dos vasos.

    Em seguida, vaso por vaso, foram feitas as misturas das amostras de solo com diferentes doses de composto orgnico. Assim, o Latossolo e o Nitossolo receberam os seguintes tratamentos: composto orgnico na dose recomendada para o rabanete (2 kg m-2, segundo DE POLLI et al., 1988), o dobro da dose recomendada (4 kg m-2), e sem adio de composto, conforme apresentado na Tabela 4.1. O Organossolo foi selecionado como referncia para solos sem adio de composto orgnico, por ser naturalmente rico na matria orgnica. A matria orgnica presente no Organossolo

    diferente da adicionada no Latossolo Vermelho Amarelo e Nitossolo.

  • 41

    Aps a mistura dos solos com o adubo orgnico estes solos foram ento

    contaminados com 241Am.

    Tabela 4.1: Delineamento experimental

    Tipo de solo Dosagem do composto orgnico

    adicionado (kg m-2) Latossolo Vermelho Amarelo 0 Latossolo Vermelho Amarelo 2 Latossolo Vermelho Amarelo 4

    Nitossolo 0 Nitossolo 2 Nitossolo 4

    Organossolo 0

    Neste estudo foi utilizado o composto orgnico resultante da varredura de folhas

    das ruas do municpio de Pinheiral, realizada pela Unidade de Compostagem do

    Material Orgnico de Pinheiral (UCEMOP) e em convnio com o Colgio Agrcola

    Nilo Peanha. Este material foi incorporado aos vasos em Maro de 2003.

    Durante os perodos sem cultivo, os vasos foram cobertos com saco plstico para

    proteg-los de possveis perdas de solos contaminados (respingos e ressuspenso)

    devido a intempries.

  • 42

    4.2. Descrio dos Solos Usados no Experimento

    A coleta de amostras de Latossolo e Nitossolo ocorreu em fevereiro de 2003 no

    municpio de Pinheiral, localizado no Estado do Rio de Janeiro, na regio do Mdio Vale

    do Paraba Fluminense entre as latitudes 222903 N e 223527 S e as longitudes

    435449 L e 440405 W, com uma altitude mdia de 421 metros.

    Os Latossolos foram formados pelo processo de latolizao, anteriormente

    denominado de laterizao e tem como principal agente de formao o clima e o relevo.

    A latolizao um processo pedogentico tpico de regies quentes e midas,

    localizadas nos trpicos e subtrpicos, onde a slica e os ctions (Ca+2, Mg+2, K+ etc.)

    so lixiviados, ocasionando concentraes de xidos de ferro e alumnio. A constante

    ocorrncia de chuvas possibilita o processo de hidrlise dos minerais silicatados,

    formando os argilo-minerais e os sesquixidos de ferro e alumnio. As altas

    temperaturas aceleram tais processos possibilitando a ocorrncia de profundas camadas

    de solos com horizonte B evoludo (Latossolos).

    Com isso, mais de 95% dos Latossolos so cidos e distrficos, com pouco

    minerais primrios e pouca reserva de nutrientes para as plantas (DE-POLLI et

    al.,1988).

    Os Latossolos so solos resultantes de enrgicas transformaes do material

    originrio ou oriundos de sedimentos pr-intemperizados onde predominam, na frao

    argila, minerais nos ltimos estgios de intemperismo (caulinitas e xido de ferro e

    alumnio), sendo a frao areia dominada por minerais altamente resistentes ao

    intemperismo. So de textura varivel, de mdia a muito argilosa, geralmente muito

    profundos, porosos, macios e permeveis, apresentando pequena diferena no teor de

    argila em profundidade e, comumente possui baixa fertilidade natural. Os xidos de

  • 43

    ferro mais abundantes na frao argila dos Latossolos so a goetita que proporciona

    uma colorao amarelada devido presena de ferro reduzido e a hematita que

    proporciona uma colorao avermelhada devido presena de Fe na forma oxidada (ver

    Figura 4.3). So os solos mais representativos do Brasil, ocupando 38,7% da rea total

    do pas e distribuem-se em todo o territrio nacional (EMBRAPA, 1999).

    Figura 4.3: Latossolo Vermelho Amarelo

  • 44

    Os Nitossolos so solos de textura argilosa ou mais fina que apresentam pouco ou

    nenhum incremento de argila em profundidade. Anteriormente eram conhecidos como

    Terra Roxa Estruturada e so originados de rochas vulcnicas (NBREGA et. al.,

    2003). Este solo normalmente ocupa setores com declividade forte, so geralmente

    profundos, com espessura de aproximadamente 200 cm e sua ocorrncia est associada

    ao Latossolo Roxo. Por este motivo, sua colorao arroxeada (ver Figura 4.4). Os

    Nitossolos so bem drenados, apresentam uma estrutura prismtica, teores de argila

    maiores que 60% e porosidade do tipo fissural (NBREGA et al., 2003).

    Na frao argila dos Nitossolos encontra-se, em maior quantidade, a caulinita e

    altos teores de xido de ferro. Na frao areia aparece o quartzo, a magnetita e a

    ilmenita (EMBRAPA, 2004).

    Em geral, so moderadamente cidos, com saturao por bases de baixa a alta,

    argila de atividade baixa e s vezes contendo elevados contedos de alumnio extravel

    (EMBRAPA,1999).

    Figura 4.4: Nitossolo

  • 45

    Os Organossolos so solos pouco evoludos, constitudos por material orgnico

    proveniente da acumulao de restos vegetais com grau varivel de decomposio, em

    ambientes mal drenados, ou em ambientes midos de elevada altitude, saturados com

    gua durante os poucos dias do perodo de alta pluviosidade (EMBRAPA, 1999).

    Apresentam coloraes pretas, cinzentas muito escuras ou marrons, e elevados teores de

    carbono orgnico (superior a 20%), enquanto que os demais solos possuem cerca de

    5%). Comumente apresentam horizonte H ou O hstico, com grande proporo de

    resduos vegetais em decomposio. Normalmente so solos bastante cidos,

    apresentando alta capacidade de troca de ctions e baixa saturao por bases, com

    espordicas ocorrncias de saturao mdia ou alta (EMBRAPA, 1999). Estes solos

    normalmente se encontram em reas baixas de vrzeas, depresses e locais ressurgentes

    (EMBRAPA, 1999). A distribuio dos Organossolos no contexto dos solos brasileiros

    pequena se comparada com a distribuio dos Latossolos e dos Nitossolos, mas de

    fundamental importncia quando se considera como parmetros tanto o potencial

    agrcola quanto o econmico para algumas regies do pas. As amostras de Organossolo

    foram coletadas em Santa Cruz, zona oeste do municpio do Rio de Janeiro, tambm em

    fevereiro de 2003 (ver Figura 4.5).

    Figura 4.5: Organossolo

  • 46

    4.3. Contaminao dos vasos

    Em Junho de 2006 fez-se a contaminao via rega por Amercio em cido ntrico

    nos vasos (Figura 4.6). Cada vaso recebeu cerca de aproximadamente 640 Bq L-1 de 241Am, atravs da rega com um litro da soluo radioativa.

    importante salientar que os valores referentes dose, equivalentes de dose, dose

    equivalente efetiva se encontram dentro de limites aceitveis.

    Figura 4.6: Contaminao dos vasos atrav