MONOGRAFIA – texto sobre uma idéia IDÉIA GERADORA Construção lógica do trabalho Argumentação
A Influência da Idéia de Progresso no Movimento ... · A terceira parte analisa o texto...
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Rafael Lamardo
A Influência da Idéia de Progresso no Movimento
Abolicionista Brasileiro: o Caso Joaquim Nabuco
Mestrado em História da Ciência
PUC/SP São Paulo
2006
Rafael Lamardo
A Influência da Idéia de Progresso no Movimento
Abolicionista Brasileiro: o Caso Joaquim Nabuco
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para obtenção do
título de MESTRE em História da Ciência, sob
orientação do Prof. Dr. José Luiz Goldfarb.
Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência da PUC-SP São Paulo
2006
2
Banca Examinadora
3
Agradecimentos
Existem muitas pessoas que se fazem importantes em uma longa
caminhada como esta.
Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais, Luiz e Célia, por
terem me educado sob a luz do saber. Aquela que mostra perguntas ao invés
de respostas, e que nos faz aprender sempre.
À Marina, agradeço pela eterna inspiração. São raras as pessoas que
nos tocam no fundo do coração e da alma. Ela é uma delas.
Gostaria de agradecer ao meu orientador Prof. Dr. José Luiz Goldfarb,
pela dedicação, paciência e pragmatismo. Aos meus demais professores da
PUC-SP - em especial às professoras Marcia Ferraz e Ana Haddad, que me
deram valiosas contribuições no exame de qualificação - serei também sempre
grato pelos conhecimentos essenciais não apenas para este trabalho, mas
para toda a vida.
Aos meus irmãos e amigos agradeço por darem sentido a tudo que faço.
Vocês me incentivam com seus sorrisos, críticas e idéias. Principalmente
aquelas que salvam o mundo várias vezes. Espero um dia podermos dar muita
risada de tudo isso.
Por fim, em especial, dedico este trabalho à memória do querido amigo
André Luis Chiamarelli, que ainda me ensina, na saudade, sobre a essência do
tempo e da vida.
4
Resumo
Esta dissertação - A Influência da Idéia de Progresso no Movimento
Abolicionista Brasileiro: o Caso Joaquim Nabuco – tem por objetivo analisar as
idéias abolicionistas de Joaquim Nabuco, sob a óptica da influência da idéia de
progresso em seu pensamento. Ao final do século XIX, a idéia de progresso
permeava os pensamentos e correntes filosóficas, não apenas das questões
técnicas e científicas, mas da condição do homem em sociedade. Joaquim
Nabuco, em sua obra “O Abolicionismo”, articula a questão do progresso,
apontando a escravidão como a principal responsável pela estagnação da
sociedade.
5
Abstract
This essay – “A Influência da Idéia de Progresso no Movimento
Abolicionista Brasileiro: o Caso Joaquim Nabuco” (“The Influence of Idea of
Progress on Brazilian Abolicionist Movement: the Case Joaquim Nabuco”) –
analyzes the abolitionist thoughts of Joaquim Nabuco focusing on the
application of idea of progress on his speech. In the end of 19th century, the
idea of progress influenced thoughts and philosophical chains, not only related
to technical or scientific aspects, but also to the men condition in society.
Joaquim Nabuco, on his book “O Abolicionismo” (“The Abolitionism”),
articulates the question of progress, pointing out slavery as the main ground for
the society stagnation.
6
Índice
Introdução 08
Capítulo 1
O Contexto Sócio-Econômico Brasileiro no Século XIX 11
Capítulo 2
Progresso e Escravidão 24
Capítulo 3
O Texto Abolicionista de Joaquim Nabuco 39
Conclusão 55
Bibliografia 60
7
Introdução
8
Introdução
O presente trabalho tem por objetivo analisar o uso da idéia de
progresso na obra “O Abolicionismo”, de Joaquim Nabuco, publicado em 1883
– período em que o autor esteve na Inglaterra.
Retomando em sua obra os principais argumentos da luta abolicionista
que se desenvolve no Brasil a partir, principalmente, da segunda metade do
século XIX, Joaquim Nabuco acrescenta à sua argumentação as influências do
pensamento corrente na Europa em sua época.
Este trabalho está dividido em três partes. A primeira parte descreve o
contexto sócio-econômico do Brasil durante o século XIX, período em que se
desenvolve praticamente toda a história do abolicionismo no País. A
compreensão do momento histórico tem como objetivo levantar os pontos de
influência entre as idéias coexistentes do período analisado.
A segunda parte do trabalho aborda os conceitos de escravidão e
progresso, fundamentos essenciais para o embasamento deste trabalho. Sobre
a escravidão, manteve-se o foco principalmente nas questões da escravidão da
raça negra. Sobre o progresso, a análise foi feita sobre a concepção moderna
de progresso, que surge a partir do final do século XVII e influenciará o
pensamento humano nos séculos seguintes.
A terceira parte analisa o texto abolicionista de Joaquim Nabuco em sua
articulação sobre a idéia de progresso, destancando-se as principais citações
de “O Abolicionismo” onde Joaquim Nabuco expressa – em relação aos
9
diversos setores da sociedade – as mazelas do regime escravocrata, com base
na idéia de progresso.
Para a realização deste trabalho foi utilizada a obra “O Abolicionismo”
como fonte primária. Foram consultadas ainda outras obras do autor, com
destaque para “Minha Formação”, “A Escravidão” e “Discursos e Conferências
Abolicionistas”. Como fontes secundárias, sobre o autor, foram utilizadas, em
especial, as obras “Joaquim Nabuco”, de Paula Bueiguelman, “A Campanha
Abolicionista (1879-1888)”, de Evaristo Morais, e “Da Senzala à Colônia, de
Emília Viotti da Costa.
Para a abordagem da idéia moderna de progresso, destacam-se as
obras “História da Idéia de Progresso”, de Robert Nisbet, “Idea of Progress”, de
John Bury; e principalmente a obra “Naufrágios Sem Espectador”, de Paolo
Rossi, que merece destaque pela atualidade com que aborda a concepção de
progresso.
A composição das fontes porporciona uma análise do alinhamento das
idéias de Joaquim Nabuco às correntes ideológicas e movimentos que foram
determinantes na construção da visão de sociedade de sua época.
Devido à grande habilidade de Joaquim Nabuco em articular as idéias
correntes e tendências de sua época, muitos autores consideram suas idéias
contemporâneas, mesmo após um século de sua publicação. Sua visão de
uma sociedade mais fraterna, ainda hoje, ilumina mentes e corações que
sonham com uma sociedade melhor para todos.
10
Capítulo 1
O Contexto Sócio-Econômico Brasileiro no Século XIX
11
1. O Contexto Sócio-Econômico Brasileiro no Século XIX
O século XIX foi um período de grandes transformações na sociedade
brasileira, incluindo mudanças em sua estrutura política, econômica e social. A
conquista da independência política, obtida no início do século, foi
determinante para a definição do cenário sócio-econômico e para o avanço das
idéias em todas as áreas que, de maneira crescente, passavam a ser
influenciadas pelo pensamento europeu.
“ Foi no século XIX que os argumentos antiescravistas começaram a aparecer com
certa insistência. A geração da Independência, cujos líderes se formaram, na maioria,
em contato com a cultura européia, impregnara-se de um verniz de teorias correntes na
Ilustração, conhecera as primeiras afirmações dos economistas clássicos (...) Os
homens desta geração familiarizaram-se com os argumentos que começavam a ter
livre discurso no parlamento inglês.” 1
Neste cenário, José Bonifácio disseminava as primeiras idéias sobre a
extinção do comércio e abolição gradual da escravidão. Diante de uma
sociedade fortemente influenciada pela cultura escravocrata, apesar do
discurso liberal, acabava sendo na prática um político conservador. Seu
projeto, apresentado à Assembléia Constituinte em 1823, teve pouca
repercurssão no momento, mas foi fundamental para o início da estruturação
de todo o debate abolicionista que ocorria durante o século XIX.
1 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 392.
12
“ Por ocasião da Independência, algumas vozes se tinham feito ouvir, denunciando a
situação: um país que se proclamava livre e onde havia homens escravos parecia um
absurdo a José Bonifácio – muito europeu, muito civilizado, muito instruído, muito
urbanizado – para poder aceitar tal paradoxo. Suas idéias encontraram, porém, pouca
repectividade junto aos grupos sociais dominantes, logicamente habituados a esse
estado de coisas e que julgavam impossível o trânsito para outras formas de trabalho.”2
O sólido modelo de monarquia trazido de Portugal foi o pano de fundo
de praticamente todo o debate abolicionista no Brasil. Esta condição foi
determinante para o desenvolvimento da luta abolicionista no Brasil, uma vez
que a ação política da monarquia portuguesa privilegiava as estruturas e
interesses de poder locais, como forma de garantir a coesão social do Estado
em formação. Desta forma, os interesses escravagistas eram mantidos ou
pouco questionados, ampliando as bases de sustentação da monarquia junto à
aristocracia rural.
Devido ao profundo enraizamento da escravidão em todos os níveis e
setores da sociedade, a articulação para a mudança se dava em movimentos
lentos, extendendo-se por quase todo o século XIX os debates em torno
questão abolicionista. A transição para uma economia baseada na mão-de-
obra assalariada exigiria uma profunda mudança na sociedade, não apenas
nos seus aspectos sócio-econômicos, mas também culturais.
“ A escravidão no Brasil não era um acidente, era uma instituição de mais de três
séculos que se enraizara na família e no Estado, não podia, pois, ser arrancada de
2 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, pp. 20-21.
13
improviso. Conviria seguir o exemplo da natureza, que procedia sempre gradualmente
em suas obras de transformação e nunca por saltos violentos.” 3
Desta forma, a estruturação social do País fora dos meios urbanos
caracterizava o cenário político da época, conferindo aos grupos rurais grande
influência sobre o processo político. Sendo estes mesmos grupos os grandes
interessados na manutenção do sistema escravocrata vigente, os interesses
das elites rurais eram determinantes no direcionamento dos processos políticos
e sociais do Brasil. Conforme ilustrado por Sérgio Buarque de Holanda em
Raízes do Brasil:
“ Na Monarquia era ainda os fazendeiros escravocratas e eram filhos de fazendeiros,
educados nas profissões liberais, quem monopolizava a política, elegendo-se ou
fazendo eleger candidatos, dominando os parlamentos, os ministérios, em geral todas
as posições de mando, e fundando a estabilidade das instituições nesse incontestado
domínio.” 4
Sob o ponto de vista do cenário internacional, a partir da segunda
década do século XIX, a Inglaterra aumenta ainda mais a pressão para a
extinção do tráfico de escravos no ocidente, uma vez que o governo inglês
proibira o tráfico negreiro em 1807. Nas colônias inglesas, como na Guaiana e
Caribe, após uma série de leis intermediárias, a abolição completa ocorreria
apenas em 1834.
3 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 419. 4 S. B. de Holanda, Raízes do Brasil, p. 73.
14
Em 1831, diante da pressão inglesa, o governo regencial torna ilegal o
comércio de escravos no território brasileiro. Entretanto, esta medida não
impede a entrada em grande escala de escravos negros no País,
principalmente em função da grande demanda de mão-de-obra para
exploração da cultura cafeeira.
Diante da ineficácia da medida ao combate ao comércio ilegal, em 1845
o parlamento britânico aprova a Lei Aberdeen, que permite à Marinha de
Guerra inglesa aprisionar qualquer embarcação de transporte de escravos no
Oceano Atlântico, o que tornou o tráfico negreiro uma atividade de maior risco
e menor rentabilidade.
Sob a crescente pressão inglesa, o governo imperial apresenta ao
Parlamento - através do então Ministro da Justiça Eusébio de Queirós - um
conjunto de medidas mais eficazes contra o tráfico de escravos. E que, em
1850, tornaria-se uma Lei com o nome de seu autor.
Esta medida gera grande revolta de fazendeiros que não conseguiam se
ajustar a um modelo produtivo viável, gerando um grande acúmulo de dívidas
principalmente com traficantes e comerciantes. Outras leis que se sucederiam
a esta – como a Lei das Terras em 1850 e a Lei Nabuco de Araújo em 1854 -
apertariam ainda mais o cerco às atividades escravocratas.
Os ideais abolicionistas eram vistos com grande receio e resistência por
parte da sociedade, principalmente pelos grupos que dominavam os meios de
produção e que colhiam os frutos imediatos do regime escravocrata. A
mudança proposta pelos ideais abolicionistas representava uma ameaçava ao
status quo da sociedade.
15
“ (...) Não faltou, além disso, o constante argumento dos partidários eternos do status
quo, dos que, temorosos do futuro incerto e insondável, só querem, a qualquer custo, o
repouso permanente das instituições. Estes eram, naturalmente, do parecer que, em
país novo e mal povoado como o Brasil, a importação de negros, por mais algum
tempo, seria, na pior hipótese, um mal inevitável, em todo o caso diminuto, se
comparado à miséria geral que a carência de mão-de-obra poderia produzir.” 5
A partir da década de 50 reforçou-se ainda mais a polarização ideológica
entre os interesses abolicionistas e escravocratas, que passam a se repelir
devido às diferentes propostas e visões.
De um lado, os interesses na mudança e no progresso demandavam
profundas alterações na estruturas econômicas, legais, políticas e sociais, para
a construção de um novo modelo baseado na mão-de-obra assalariada e nos
modelos de progresso vivenciados pelos países na Europa. E de outro estavam
os interesses na não-mudança, na manutenção do sistema vigente,
potencializados pelos interesses políticos e econômicos de grupos beneficiários
do modelo escravocrata.
“ (...) Eram dois mundos distintos que se hostilizavam com rancor crescente, duas
mentalidades que se opunham como ao racional se opõe o tradicional, ao abstrato o
corpóreo e o sensível, o citadino e cosmopolita ao regional ou paroquial. A presença de
tais conflitos já parece denunciar a imaturidade do Brasil escravocrata para alterações
que lhe alterassem profundamente a fisionomia. Com a supressão do tráfico negreiro
dera-se, em verdade, o primeiro passo para a abolição das barreiras ao triunfo decisivo
dos mercadores e especuladores urbanos, mas a obra começada em 1850 só se
5 S. B. de Holanda, Raízes do Brasil, p. 75.
16
completará efetivamente em 1888. Durante este intervalo de quarenta anos, as
resistências hão de partir não só dos elementos mais abertamente retrógrados,
representados pelo escravismo impenitente, mas também das forças que tendem à
restauração do equilíbrio ameaçado. Como esperar transformações em país onde eram
mantidos os fundamentos tradicionais da situação que se pretendia ultrapassar?
Enquanto perdurassem intatos e, apesar de tudo, poderosos os padrões econômicos e
sociais herdados da era colonial e expressos principalmente na grande lavoura servida
pelo braço escravo, as transformações mais ousadas teriam de ser superficiais e
artificiosas. 6
O regime escravocrata passa a sofrer pressão ainda maior para sua
extinção, em função de novos interesses da economia mundial, liderados
principalmente pela Inglaterra. O modelo mercantilista que até então suportava,
impulsionava e potencializava o regime escravocrata – respaldando-lhe nos
aspectos econômicos, políticos e sociais - perde força diante dos novos
interesses da economia mundial baseado no modelo industrial.
Os interesses econômicos que séculos antes institucionalizam o regime
escravocrata agem, neste momento, pela sua supressão.
“ (...) Vista agora como fenômeno vinculado às mudanças econômico-sociais que se
operaram no Brasil, especialmente a partir da segunda metade do século XIX, nela
estará presente também a conexão entre o desenvolvimento do capitalismo industrial e
a superação do cativeiro como sistema de trabalho. Por isso, é importante lembrar a
evolução dos interesses capitalistas que , numa primeira etapa – a mercantil - , exigem
o aparecimento da escravidão nas áreas coloniais e, a partir do momento em que a
6 S. B. de Holanda, Raízes do Brasil, p. 78.
17
esfera da produção industrial passar a comandar as atividades econômicas,
determinam-lhe a extinção.” 7
A partir de 1860, o rápido crescimento da produtividade agrícola no
oeste paulista, principalmente na cultura de café - baseado em modos de
produção mais modernos para a época, e utilizando maquinários e divisão de
trabalho, por exemplo – começou a se mostrar mais atraente aos investimentos
do que o modelo de produção baseado em mão-de-obra escrava.
“ (...) Enquanto o solo do Vale do Paraíba rapidamente se esgota e os sinais de
decadência se revelam mais intensamente, a partir de 1870, no oeste paulista o café
encontra em terras virgens ou nas áreas de terra roxa o seu máximo de produtividade,
remunerando largamente o capital empregado.” 8
Neste cenário, a luta abolicionista evolui gradualmente, uma vez os
interesses pela manutenção do regime escravagista eram grandes e presentes
em os níveis da sociedade. No Parlamento, propostas para mudanças eram
transformadas em leis sem grande efeito prático, como descrito em passagem
de “A Abolição da Escravidão”:
“ (...) Ora, na verdade, (o movimento abolicionista) foi marcado por avanços e recuos,
arremetidas e arrefecimentos, pequenas vitórias e grandes derrotas. Medidas
libertadoras de alto alcance propostas no Parlamento resultavam em leis moderadas e
dilatórias, que reprimiam o impulso revolucionário. Como lembra José Honório
7 S. R. R. de Queiroz, A Abolição da Escravidão, pp. 9-10. 8 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 22.
18
Rodrigues, buscava-se com elas abafar o incorformismo e conjurar o perigo maior, isto
é, a perda da propriedade escrava.” 9
A partir de 1870, o crescimento dos centros urbanos aumenta ainda
mais a disparidade entre as idéias da cidade e do campo. O surgimento de um
movimento intelectual urbano apresenta um novo modo de pensar questões de
política, religião, trabalho, literatura, teorias científicas e demais “ismos”, que
embasavam o modelo ideológico anterior. Neste movimento, a busca do
progresso era impulsionada principalmente pelos progressos técnicos e
científicos advindos da ciência e indústria. Este pensamento, que tem suas
origens na Europa no século XVIII, em decorrência principalmente do
Iluminismo, passa a influenciar as idéias no Brasil a partir de 1850.
Enquanto o abolicionismo se fortalecia nos centros urbanos, parte da
população rural – incluindo trabalhadores livres e pequenos proprietários –
permanecia inerte aos avanços das idéias abolicionistas. Distantes dos centros
urbanos, que propiciavam um maior contato com as novas correntes
ideológicas e com os interesses na nova economia, eram dependentes, sob o
ponto de vista econômico e político, dos grandes produtores locais.
“Se o abolicionismo ganhou adeptos entre as categorias urbanas, esbarrou na
indiferença, se não na oposição organizada das camadas rurais. Pequenos
proprietários e trabalhadores livres das zonas rurais não raro ficaram imunes ao apelo
dos abolicionistas e deram seus votos aos candidatos dos proprietários, de cuja
clientela faziam parte.” 10
9 S. R. R. de Queiroz, A Abolição da Escravidão, p.9 10 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 41.
19
Em 28 de setembro de 1871 é promulgada a Lei do Ventre Livre, que dá
liberdade aos filhos de escravos, mas os deixa sob tutela do “senhor” até os 21
anos, o que resulta em poucos efeitos práticos sobre a escravidão. Diante da
crescente pressão advinda de diversos setores da sociedade, fazendeiros e
grupos interessados na manutenção do regime escravocrata passam a se
organizar para combater o movimento abolicionista.
“ A intensificação da ação abolicionista acarretou uma radicalização do processo, a
partir dos anos 70. Os fazendeiros organizaram centros de lavoura, clubes secretos e
polícia particular, com o intuito de defender pelas armas, se preciso fosse, suas
propriedades; perseguiram líderes abolicionistas e expulsaram de suas comunidades
juízes e advogados que, no escrupuloso exercício de suas funções, davam ganho de
causa a escravos vitimados por seus fazendeiros.” 11
É a partir da última década antes da assinatura da Lei Áurea, em 1888,
que a campanha abolicionista passa a se estruturar, no sentido de permear os
diversos níves da sociedade. A articulação das forças motoras da sociedade
em prol do fim do regime escravocrata incluíam presença no cenário político,
econômico, imprensa e da própria sociedade civil, que se articulava sobre a
idéia da mudança.
“ Com o tempo reduzira-se, entretanto, a base que sustentava o pensamento
escravista. À medida que se desintegrava o ‘sistema servil’ e aumentavam as
possibilidades de transição para o trabalho livre, reduzia-se o número dos que
11 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 45.
20
apresentavam a escravidão como um benefício que se prestava aos negros, e crescia
o daqueles que a consideravam um mal necessário que deveria ser extinto quando as
condições o permitissem (...) Enquanto isso, a argumentação antiescravista, favorecida
pelas novas condições socioeconômicas, encontrava uma aceitação cada vez maior
(...).” 12
Além dos interesses econômicos – que podem ser considerados os
principais direcionadores do processo abolicionista no Brasil – o debate
abolicionista foi influenciado ao longo do século XIX por diversas correntes
ideológicas. O Positivismo, em suas diversas fases, influenciava as idéias da
época na Europa e no Brasil.
“ Nessa época, entretanto, difundia-se uma forma de argumentação relativamente
nova. Aos tradicionais motivos, inspirados no pensamento da Ilustração, no romantismo
e na economia clássica, tantas vezes repetidos por aqueles que condenavam o sistema
escravista, acrescentavam os positivistas outros elementos. Partindo da idéia de
Augusto Comte, de que nenhuma ordem real pode surgir se não for plenamente
compatível com o progresso, e que nenhum progresso se realizaria efetivamente se
não tendesse, finalmente, à consolidação da ordem (...)” 13
Entretanto, o pensamento positivista não influenciava apenas os ideais
abolicionistas. Como nas diversas correntes ideológicas e facções políticas, a
discussão polarizava-se entre abolicionistas e escravistas, fazendo com que
mesmo entre os positivistas existisse a dualidade. As idéias e correntes eram
12 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, pp. 423-424. 13 Ibid., p. 428.
21
articuladas e compostas para sustentar as diferentes visões e propostas de
sociedade.
“ Aqui, como em toda parte, os homens achavam-se divididos. Havia republicanos
escravistas e abolicionistas, conservadores abolicionistas e escravistas, liberais
favoráveis à abolição com indenização, ou contrários a qualquer alteração da ordem, e
até mesmo os que propugnavam a abolição imediata sem qualquer indenização. A
questão dividia os homens em dois grupos. Também entre os positivistas (...)” 14
Neste contexto se destaca a atuação de Joaquim Nabuco. Eleito
deputado por Pernambuco em 1878, apresentou à Câmara em 1880 pedido de
urgência para a abolição imediata da escravidão, no qual foi derrotado por 77
votos a 18. Neste mesmo ano, juntamente a José do Patrocínio, André
Rebouças, João Clapp, entre outros abolicionistas, fundou a Sociedade
Brasileira Contra a Escravidão, no modelo da British and Foreig Society for the
Abolition of Slavery. Entre as atividades de divulgação dos ideais abolicionistas
estavam o jornal “O Abolicionista” e as conferências abolicionistas.
Em 1882, após ser derrotado na Câmara dos Deputados em disputa
para um lugar na corte, como representante abolicionista, partiu para a Europa
no que chamou de “asilo voluntário”. Neste período, escreveu a obra “O
Abolicionismo”, publicada em 1883.
Em 1885 é promulgada a Lei Saraiva-Cotegipe – popularmente
conhecida como Lei dos Sexagenários – que libertava os escravos com mais
de 65 anos mediante a compensação dos proprietários. Esta lei - assim como
14 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 435.
22
os demais avanços legais ocorridos nos últimos anos, como a Lei do Ventre
Livre, por exemplo - resultam também poucos efeitos práticos, uma vez que a
expectativa de vida dos escravos não ultrapassava a faixa dos 40 anos.
Entretanto, as pressões internas e externas aumentam contra o regime
escravocrata. Os escravos passam a fugir do campo para as cidades, que
começam a decretar o fim do cativeiro nas câmaras municipais. Alguns grupos
- como por exemplo o liderado pelo mulato Antonio Bento, no interior de São
Paulo - colaboravam com a fuga de escravos em massa.
O exército solicita publicamente que não seja mais acionado para a
captura de escravos fugitivos, e as campanhas abolicionista e republicanas se
misturam. Neste momento, o regime escravocrata e o governo imperial perdem
sua sustentação.
Em 1888, o governo imperial – representado pela princesa Isabel -
decreta a extinção da escravidão no Brasil, através da Lei Áurea, assinada ao
dia 13 de maio.
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Capítulo 2
Progresso e Escravidão
24
A Idéia Moderna de Progresso
A idéia moderna de progresso tem suas origens no final do século XVII.
Dotada de certa “razão”, que garantia ao homem uma melhor compreensão do
fenômenos ao seu redor, apresentava uma contraposição às idéias medievais
e negação da metafísica. Nela, o progresso era tido como força-motriz ao
desenvolvimento da sociedade em todos os seus sentidos.
Alguns autores, como Robert Nisbet e John Bury, creditam a Fontenelle
a concepção de idéia moderna de progresso, que era reforçada pela disputa
entre antigos e modernos a partir do final do século XVII. Em sua teoria, o
homem tendia a aperfeiçoar de maneira constante e infinita os seus
conhecimentos, encontrando-se desta maneira, inevitavelmente, fadado ao
progresso.15
Entretanto, pensadores como Condorcet e Turgot tiveram grande
influência, durante o século XVIII, na construção da concepção moderna de
progresso.
“ A idéia moderna de progresso encontrou a sua expressão clássica nos textos de
Condorcet e de Turgot e, depois, nos de Saint-Simon e Comte. Afirmou-se
vigorosamente sobretudo na segunda metade do século XIX. (...) A idéia de um
crescimento e de um desenvolvimento do gênero humano, a noção do advancement of
learning, foram se transformando no final do século XVIII numa verdadeira e própria
15 R. Nisbet. História da Idéia de Progresso.
25
teoria na qual entravam em jogo: a noção de perfectibilidade do homem e de sua
natureza alterável e modificável; a idéia de uma história unitária ou ‘universal’ do
gênero humano; os discursos sobre a passagem da ‘barbárie’ à ‘civilização’, sobretudo
a afirmação de constantes ou de ‘leis’ operando no processo histórico. Entre a metade
do século XVIII e a metade do século XIX, a idéia de progresso acabará por coincidir –
no limite – com a de uma ordem providencial, imanente ao devanir da história” 16
Condorcet, em sua obra “O Esboço de Um Quadro Histórico dos
Progressos do Espírito Humano”, apresenta o progresso do espírito humano
como fio condutor do progresso da sociedade, que ocorre através de etapas a
serem superadas.
“ Mas se considerarmos este mesmo desenvolvimento em seus resultados,
relativamente aos indivíduos que existem na mesma época em um dado espaço, e se o
seguimos de gerações em gerações, ele apresenta agora o quadro dos progressos do
espírito humano. Este progresso está submetido às mesmas leis gerais que se
observam no desenvolvimento individual de nossas faculdades, já que ele é o resultado
deste desenvolvimento, considerado ao mesmo tempo em um grande número de
indivíduos reunidos em sociedades. Mas o resultado que cada instante apresenta
depende daquele que os instantes precedentes ofereciam; ele influi naquele dos
instantes que devem segui-lo.” 17
Augusto Comte foi o principal responsável pela divulgação das idéias
positivistas, tornando-se o articulador de maior expressão da corrente
positivista durante o século XIX. Para Comte, as luzes da razão seriam as
16 P. Rossi. Naufrágios Sem Espectador, pp. 94-95. 17 J. A. N. Condorcet, Esboço de um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, p. 20.
26
responsáveis pelo progresso da sociedade nos campos político, social e
econômico.
Ao formalizar as idéias positivistas num corpo teórico sistematizado,
Comte consegue alinhar a visão positivista aos divergentes interesses dos
diferentes grupos sociais de sua época. Desta forma, o Positivismo passou a
ser adotado como doutrina, principalmente pelos grupos dominantes, que
defendiam a conciliação de classes, isto é, a manutenção da ordem, em nome
do progresso social em que todos se beneficiariam.
“ Nenhuma verdadeira ordem pode ser estabelecida e tampouco pode durar se não for
perfeitamente compatível com o progresso; nenhum grande progresso pode ser
realmente realizado se não levar à consolidação da ordem. (...) Assim sendo, a
careacterística principal da ciência social positiva tem de ser a união destas duas
condições, que serão dois aspectos constantes e inseparáveis, do mesmo princípio (...)
As idéias de ordem e progresso são, na física social, tão rigorosamente inseparáveis
quanto as idéias de organização e de vida na biologia.” 18
O cenário dos séculos XVIII e XIX foi determinante para a grande ênfase
dada à idéia de progresso. O rápido crescimento do capitalismo industrial,
acompanhado pelas constantes inovações técnicas e científicas, resultam em
melhorias em segurança e conforto para as elites. Assim como o rápido avanço
das idéias do liberalismo, educação e democracia, enfatizam a importância do
progresso para toda a sociedade. Juntamento à idéia de progresso, o conceito
de civilização é amadurecido durante o século XIX, onde a consolidação das
18 A. Comte apud R. Nisbet, História da Idéia de Progresso, pp. 261-262.
27
civilizações estaria vinculada ao desenvolvimento tecnológico e material das
mesmas.
“ A civilização seria entendida, portanto, como uma decorrência do desenvolvimento
material, que conduziria à dignidade e, conseqüentemente, ao que seria preconizado
como os ‘bons modos’. Esta forma de pensar a civilização ganhou força no século XIX,
sobretudo após 1870, com o advento da Segunda Revolução Industrial, quando o
processo de desenvolvimento técnico acelerou-se sobremaneira. Nesta concepção,
civilização aparece como decorrência do progresso entendido como desenvolvimento
material – técnico e econômico. Embora esta percepção da relação entre civilização e
‘progresso material’ somente viesse a ganhar maior projeção na segunda metade do
século XIX, ela, como se observou, surgiu no setecentos.” 19
Durante o século XIX a idéia de progresso ganha força na Europa,
embalada pela desenvolvimento tecnológico vivenciado no período. Num
momento em que a elite européia – primeira interessada na prosperidade
econômica advinda trazidas pelo desenvolvimento – encanta-se com o
desenvolvimento técnico e progresso da industrialização.
Entretanto, o rápido desenvolvimento de setores como a navegação,
construção civil e das indústrias, difunde a visão do desenvolvimento e do
progresso entre as diversas camadas, como princípio para o desenvolvimento
econômico e social dos países.
19 A. N. Azevedo, “A Gênese e o Desenvolvimento da Idéia de Civilização na Europa”, Revista Intellectus, p. 8.
28
“ Por outro lado, o grande princípio da divisão do trabalho, que pode ser entendido
como o motor da civilização, se está estendendo a todos os ramos da ciência, indústria
e a arte (...) a exposição de 1851 há de ser uma prova e uma plasmação vivente do
ponto de desenvolvimento a que chegou a totalidade da humanidade em sua grande
tarefa, assim como um novo ponto de partida desde o que todas as nações poderiam
dirigir os seus esforços futuros.” 20
No Brasil, a influência da idéia de progresso se acentua a partir da
segunda metade do século XIX. Antes disto, a condição colonial não era
favorável ao influxo de idéias e correntes filosóficas. Ainda impulsionada pelas
idéias do liberalismo econômico, do pensamento positivista e dos avanços
científicos, este movimento iria influenciar fortemente o desenvolvimento das
idéias no período.
Vale ressaltar que os ventos trazidos por esta ordem mundial não
influenciaram apenas as idéias abolicionistas, mas também as idéias contrárias
ao regime escravocrata no Brasil, como ilustra Nisbet:
“Durante o período que vai de 1750 a 1900 a idéia de progresso atingiu seu zênite no
Ocidente, tanto em círculos quanto em acadêmicos. Era “uma” das idéias mais
importantes do Ocidente e transformou-se na idéia dominante, mesmo levando-se em
conta a importância crescente de outras idéias como igualdade, justiça social e
soberania popular – cada uma das quais foi muito importante neste período.
20 Discurso de abertura da exposição internacional de Londres, proferido pelo príncipe consorte, em 1851.
29
Entretanto, o conceito de progresso difere dos demais por sua influência: em torno dele
articulavam-se os outros e ele se torna o ‘contexto’ de desenvolvimento de demais
idéias.” 21
De acordo com Robert Nisbet, em sua obra “História da Idéia de
Progresso”, entre o possível alinhamento de idéias e visões desenvolvidas ao
longo dos séculos sobre o conceito de progresso, podem ser destacadas duas
linhas de pensamento.
Uma primeira vertente, mais “epistemológica”, caracteriza-se pelo
sentido de se referir aos aprimoramentos do conhecimento humano para tratar
dos questões e desafios apresentados pelo ambiente no qual o homem está
inserido.
“ (...) Primeiro, a lenta, acumulativa e gradual melhoria em ‘conhecimento’, o tipo de
conhecimento incorporado nas artes e ciências, nas múltiplas maneiras que o homem
tem para lidar com os problemas apresentados pela natureza ou pelo esforço intenso
do ser humano para conviver em grupos humanos. (...) a própria essência ou natureza
do conhecimento – conhecimento objetivo como aquele da ciênca e da tecnologia -
leva a progredir, melhorar, tornar mais perfeito.” 22
Uma segunda abordagem se refere à concepção da idéia de progresso
no que se refere à condição social, moral e espiritual do ser humano, no
sentido da ampliação de suas virtudes enquanto ser social.
21 R. Nisbet, História da Idéia de Progresso, p. 181. 22 Ibid., p. 17.
30
“ (...) A segunda proposição mais importante ou linha de pensamento que encontramos
na história da idéia de progresso se localiza em torno da condição moral e espiritual do
homem na terra, sua felicidade, sua independência nos tormentos da natureza e da
sociedade e, sobretudo, sua serenidade e tranquilidade. A meta do progresso ou
avanço é o empreendimento da humanidade, na ‘terra’, resultante dessas virtudes
espirituais e morais, levando assim a uma cada vez maior perfeição da natureza
humana.” 23
Durante muito tempo se sustentou a crença de que estas diferentes
visões eram antagônicas em sua essência, onde as questões morais e
espirituais repeliam-se contra o conhecimento científico. Esta questão é
ilustrada ao se analisar o mito da caixa de Pandora, onde todas as mazelas do
mundo e da sociedade eram consequência do desejo incontrolável da
protagonista em saber os segredos proibidos guardados dentro de sua caixa. E
apesar desta concepção não ter sido aceita universalmente pelos intelectuais
ao longo do tempo na história ocidental, durante muito tempo se sustentaram,
na cultura popular, variantes da relação inversa entre felicidade e
conhecimento.
Desta forma, é possível perceber a idéia de progresso no centro das
questões sociais, científicas, econômicas e políticas durante os séculos XVIII e
XIX, o que contribuiu de maneira efetiva na construção das idéias e
idiossincrasias do período.
“ (...) A cultura do tardo-iluminismo e do positivismo, como se viu: 1. tede a conceber o
progresso como uma lei histórica (Condorcet, Saint-Simon, Comte); 2. tende a
23 R. Nisbet, História da Idéia de Progresso, p. 24.
31
identificar o progresso da ciência e da técnica com o progresso moral e político e a
fazer o segundo depender do primeiro; 3. tende enfima ver na luta a capacidade de
provocar ilimitados melhoramentos e interpretá-la como um elemento construtivo do
progresso (Spencer, darwinismo social).” 24
24 P. Rossi, Naufrágios Sem Espectador, p. 98.
32
Escravidão
A escravidão acompanha a história do homem de longa data, assumindo
as mais diversas formas ao longo dos diferentes momentos históricos. Mesmo
não dispondo de documentos que registrassem a origem do cativeiro num
momento anterior ao período Clássico, as evidências apontam para o fato de
que a este regime eram submetidos os povos vencidos.
Entretanto, ao se analisar o período Clássico, é possível encontrar, nas
sociedades grega e romana, características presentes e determinantes nos
modelos sociais da época.
Na Grécia, o instinto de superioridade baseado na idéia de serem o
único povo dotado da evolução do espírito e razão superior respaldavam o
pensamento escravocrata, no sentido de fortalecer a sua aceitação social. A
tensão social gerada pelo sistema era minimizada a partir de uma percepção
da escravidão como um fenômeno inerente à condição humana. Como
ilustrado pelas palavras de Nedilso Brugnera:
“ Na civilização grega (...) a escravidão não era tida como algo abominável e injusto.
Embora a escravidão tenha assumido diferentes formas, através dos tempos, e
apresentado um caráter diferente, nas várias cidades da Grécia, ela era tomada como
algo dado, como um dos fatos da vida, pois os gregos presumiam que os escravos
simplesmente estariam disponíveis.” 25
25 N. L. Brugnera, A Escravidão em Aristóteles, p. 28.
33
Em Roma, após o período de conquistas e expansão do Império, tornou-
se ainda mais intensa a cultura escravocrata. No sistema romano existiam
algumas diferenciações entre categorias de escravos, que eram classificados
em “mineiros” e “lutadores”, no qual estes possuíam alguns direitos após o
cumprimento de algumas exigências legais.
De maneira diferente ao regime escravocrata da raça negra dois mil
anos mais tarde, a escravidão na Idade Antiga era mais presente no tecido
social da época, onde a relação entre “senhor” e escravo se presenciava nas
relações cotidianas. Apesar de em algumas vezes se constituir uma relação de
cooperação entre os personagens, na sociedade romana era comum o abuso
nos tratos dos escravos, conforme decrito na obra “História da Escravidão”:
“ (...) costumes de serem os cativos enforcados, queimados vivos em fogo lento,
arrojados em abismos, afogados em lama, cricificados, castrados, fechados ainda com
vida em sarcófagos e atirados aos pântanos, depois de seus corpos retalhados a
açoite, onde rapidamente putrefavam.” 26
Enquanto na Idade Média os escravos eram advindos principalmente de
regiões do extremo nordeste da África e do Egito, é no continente africano, em
especial na região atualmente ocupada pelos países Senegal, Gâmbia, Nigéria,
Congo e Angola, que o regime escravocrata busca sua fonte de recursos para
o comércio a partir do século XVI.
26 M. de Gouveia, História da Escravidão, p. 20.
34
As condições sociais e demográficas do continente africano foram
determinantes na consolidação do processo escravocrata. As guerras tribais
favoreciam o comércio, uma vez que as tribos inimigas, quando derrotadas,
eram mantidas em cativeiro. Com a intensificação da demanda por mão-de-
obra escrava, decorrrente do processo de colonização das Américas a partir do
século XVI, rapidamente o comércio negreiro se transformou num fator
determinante no desenvolvimento da história nos séculos seguintes.
“ A Escravidão moderna, aquela que se inaugurou no século XVI, após os
descobrimentos, é uma instituição diretamente relacionada com o sistema colonial. A
escravidão do negro foi a fórmula encontrada pelo colonizadores para explorar as
terras descobertas. Durante mais de três séculos utilizaram eles o trabalho escravo
com maior ou menor intensidade, em quase toda a faixa colonial. (...) Nas zonas de
mineração, nas plantações, nos portos, o escravo representou, em muitas regiões, a
principal força de trabalho.” 27
O novo cenário econômico determinado pelas novas rotas marítimas,
juntamente à grande necessidade de mão-de-obra para exploração dos novos
continentes, despertaram os interesses mercantis de países como Inglaterra,
França, Holanda, Portugal e Espanha.
Através da ação estruturadas de empresas privadas, responsáveis pela
captura, transporte e entrega da mercadoria humana nos portos - apoiadas e
garantidas pelos Governos - a escravidão rapidamente se tornou-se uma
instituição que contaminaria todas as camadas da sociedade em diversos
27 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 17.
35
países – incluindo questões econômicas, sociais e culturais - e que no Brasil
perduraria por mais de três séculos.
Com o aumento da demanda por escravos e a intensificação do
comércio, os traficantes europeus se associavam a sobas e régulos locais,
fornecendo-lhes armamentos e demais condições para assegurarem a sua
autoridade. Desta forma, a escravidão era instituída dentro de um modelo
sócio-econômico respaldado pelas principais nações no ocidente.
Neste contexto, o continente africano colaborava com a então
“economia” como fornecedora de mão-de-obra escrava, que tinham por destino
principalmente as colônias nas Américas, dentre elas, o Brasil. Desta forma, os
países poderiam importar os produtos de suas colônias sem dispender de seus
metais preciosos e riquezas, pagando com a mão-de-obra escrava.
A partir do século XVIII a escravidão passa a perder sustentação diante
dos novos interesses econômicos mundiais. Influenciado pelo novo
pensamento liberal, respaldado pela publicação de obras de Adam Smith,
Benjamin Franklin, o modelo sócio-econômico baseado no regime escravocrata
se apresenta desalinhado aos interesses de uma nova economia baseada na
industrialização e produção de bens em massa, visão que se fortalece durante
o século seguinte.
“ As modificações que se operaram na economia, no século XIX, em decorrência da
Revolução Industrial e do aparecimento de novas formas de capitalismo, a princípio na
Inglaterra e, em seguida, em outros países da Europa ocidental, determinam profundas
alterações no mecanismo do sistema colonial.” 28
28 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 17.
36
Além disso, movimentos políticos e religiosos obtinham avanços nas
esferas políticas e legais. Na Inglaterra, destacam-se os movimentos Quakers
– seita formada por protestantes radicais – que enviaram em 1768 pedido ao
parlamento Inglês solicitando o fim do tráfico de escravos. Outro grupo com
forte atuação abolicionista foram The Saints, que em 1787, sob a liderança de
William Wilbeforce, fundaram a sociedade anti-escravista inglesa. Sua atuação,
junto ao parlamento britânico e à sociedade, colaborou para o processo de
proibição do tráfico no País em 1807.
“ O primeiro erro em que muitos têm caído é a suposição de que os abolicionistas,
desde o começo, jamais esconderam sua intenção de trabalhar para a emancipação
completa. Os abolicionistas, por longo tempo, evitaram e desmentiram qualquer idéia
de emancipação. Seu interesse era exclusivamente no tráfico de escravos, cuja
abolição, pensavam eles, levaria finalmente, sem interferência legislativa, à libertação.
Em três ocasiões, o Comitê da Abolição negou explicitamente qualquer intenção de
emancipação dos escravos. Wilbeforce em 1807 desmentiu publicamente tais
intenções.” 29
A Inglaterra, após a criação de uma série de leis intermediárias, declarou
a abolição completa da escravidão em suas colônias em 1834. Neste ínterim,
declarou guerra aberta ao tráfico de escravos, e passou a atuar fortemente na
extinção do tráfico, repaldada nos novos direcionadores da economia industrial
e correntes ideólogicas que influenciariam o pensamento da época.
29 E. Williams. Capitalismo e Escravidão, p. 203.
37
“ Ao iniciar-se o século XIX, o movimento antiescravista ganhou força. Na Inglaterra
desenvolveu-se uma violenta ação contra o tráfico de escravos, o que determinou a
sua interdição. Nos Congressos Internacionais, a diplomacia britânica interveio a favor
da extinção do tráfico e os navios ingleses perseguiram duramente os negreiros.” 30
Com isto, ao se analisar a escravidão da raça negra entre os séculos
XVI e XIX, é possível se perceber que os interesses econômicos foram os
principais determinantes na consolidação e manutenção do regime
escravocrata.
“ A razão foi econômica, não racial; não teve relação com a cor do trabalhador, mas
com o baixo preço do trabalho. Em comparação com a mão-de-obra indígena ou
branca, a escravidão negra era eminentemente superior. (...) As feições do homem,
seu cabelo, cor e dentadura, suas características subumanas tão amplamente
alegadas, foram apenas as últimas racionalizações para justificar um simples fato
econômico: as colônias precisavam de mão-de-obra e recorriam à mão-de-obra negra
porque era mais barata e melhor. Isso não era uma teoria, mas uma conclusão prática
deduzida da experiência do plantador.” 31
No Brasil, ao longo do século XIX, decorrente das pressões sociais,
políticas e econômicas, a escravidão da raça negra foi cedendo lugar a uma
economia baseada no trabalho assalariado, principalmente de imigrantes
europeus, culminando com a sua extinção em 1888.
30 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 18. 31 E. Williams. Capitalismo e Escravidão, pp. 24-25.
38
Capítulo 3
O Texto Abolicionista de Joaquim Nabuco
39
O Texto Abolicionista de Joaquim Nabuco
Joaquim Nabuco é considerado um dos principais articuladores do
processo de abolição do regime escravocrata no Brasil, devido à sua ativa
participação no movimento abolicionista. Com uma visão apurada – no sentido
da compreensão dos processos sócio-econômicos envolvidos numa sociedade
escravocrata – apresentou à sociedade, na sua obra “O Abolicionismo”, uma
visão sólida e respaldada sobre a importância preemente da mudança.
A obra, publicada em 1883, foi escrita durante o período que esteve na
Europa entre 1882 e 1883. A influência das correntes ideológicas vigentes na
época foi fundamental para a consolidação de sua visão abolicionista, que -
retomando alguns dos principais pontos das idéias anteriores de José Bonifácio
e outros abolicionistas - baseava sua argumentação não apenas em questões
raciais ou regionais, mas aos novos direcionadores da economia e da
sociedade.
“ Emília Viotti da Costa o vê como o mais famoso de todos os abolicionistas. Seu mérito
consistiria em acrescentar as idéias anteriores, de José Bonifácio e Burlamarque uma
nova ênfase, por assumir a perspectiva do escravo e acentuar o caráter espoliador do
sistema e os danos que acarretava aos escravos sem, contudo, libertar-se totalmente
da ‘visão senhorial’.“ 32
32 M. H. Granjo. Joaquim Nabuco: um político liberal?, p. 4.
40
Sua vivência fora do País, em composição aos seu profundo
envolvimento com a sociedade em sua época, proporcionou-lhe uma visão
mais ampla do que aquelas que embasavam as questões e discussões sociais
locais. É possível perceber nas idéias de Joaquim Nabuco, com o próprio autor
coloca em “Minha Formação”, uma visão “cosmopolita” da sociedade. Visão
esta que balizará toda a sua atuação no debate abolicionista brasileiro, através
de um olhar estrangeiro sobre o Brasil, através da constante crítica, julgamento
e comparação com países como Inglaterra e França.
“ Politicamente, receio ter nascido cosmopolita. Não me seria possível reduzir as
minhas faculdades ao serviço de uma religião local, renunciar a qualidade que elas têm
de voltar-se espontaneamente para fora.” 33
Diante das condições sociais que acompanham a formação de Joaquim
Nabuco – origem aristocrática, vivência política em função de seu pai, Senador
Nabuco de Araújo, somado a uma ampla vivência internacional para sua
época, além de uma sólida formação - é possível encontrar no pensamento de
Joaquim Nabuco influências de diversas correntes ideológicas vigentes em sua
época, tanto no Brasil quanto na Europa. Esta pluralidade é determinante para
se analisar o olhar de Joaquim Nabuco sobre a sociedade do século XIX,
principalmente com relação aos conceitos liberais e ao progresso social.
Os valores do liberalismo econômico, que se opunham diretamente a
uma economia baseada em mão-de-obra escrava, são pontos amplamente
explorados por Joaquim Nabuco. A geração de riqueza baseada em mão-de-
33 J. Nabuco, Minha Formação, p. 42.
41
obra assalariada era um pressuposto fundamental para a construção de um
modelo sócio-econômico liberal.
“Se, por um lado, a escravidão devesse forçosamente ser prolongada por todo o seu
prazer atual, os brasileiros educados nos princípios liberais do século deveriam logo
resignar-se a mudar de pátria. Mas, e esta é a firme crença de todos nós que a
combatemos, a escravidão em vez de impelir-nos, retém-nos: em vez de uma causa de
progresso e expansão impede o crescimento natural do país.”34
As idéias apresentadas por Joaquim Nabuco ganham força por estarem
alinhadas ao liberalismo triunfante na Europa. Também na Europa, em especial
na Inglaterra, Nabuco fortalece sua crença na monarquia um modelo viável.
Mesmo dirigindo críticas ao governo monarca durante os últimos anos da
campanha abolicionista, enxergava nos meios políticos as vias de avanço da
luta abolicionista.
“De qualquer forma, Nabuco aceita o poder do Imperador como única força nacional,
pairando muito acima das Câmaras, que jamais ousaria rebelar-se. Para ele, a ação do
movimento abolicionista está profundamente ligada ao poder da Coroa, tem o papel
acelerador do processo, pela mobilizacão da opinião pública, ainda não formada,
levando-a a pressionar o governo.”35
Os ideais positivistas também influenciariam o pensamento de Joaquim
Nabuco. O encontro entre as correntes e visões compunham um cenário fértil
34 J. Nabuco, O Abolicionismo, p. 207-208. 35 M. H. Granjo. Joaquim Nabuco: um político liberal?, p. 71.
42
para o desenvolvimento das idéias de progresso, fazendo com que estas idéias
emergentes fossem apropriadas não apenas pelo grupos abolicionistas, mas
por emancipadores e outros grupos.
“ O que é muito interessante observar, no Brasil da década de 80 do século passado, é
o fato de as correntes positivistas e evolucionistas vindas da Inglaterra e da França
aqui se chocarem, se mesclarem, se conjulgarem no interior das graves discussões da
época, entre abolicionistas e emancipadores.” 36
Apesar da consideração que tinha pelas idéias positivistas, nunca
chegou a aderir à corrente positivista. Tinha em seu discurso a simpatia pelo
idéias ligadas à evolução e ao progresso da sociedade.
“ Não se concretizou essa aspiração de Nabuco, em 1865, de alistar-se à fileira dos
apóstolos do positivismo. Revelou sempre, porém, simpatia e até entusiasmo pela ação
de Miguel Lemos e Teixeira Mendes, principalmente na série de quatro artigos em que,
de julho a novembro de 1888, se referiu ao movimento positivista em sua famosa seção
de O País – Campo Neutro.” 37
Esta característica - de utilizar das idéias para compor sua visão política
e abolicionista - é marcante em toda a obra de Joaquim Nabuco. Na obra
“Minha Formação”, o autor exprime seu interesse pelas idéias livres, e não por
correntes exclusivistas, que influenciarão seu olhar ao longo de sua carreira.
36 L. Couty, A Escravidão no Brasil, p. 17. 37 I. Lins, Positivismo no Brasil, p. 492.
43
“ Eu, porém, não tinha (nem tenho), sistematizado, unificado sequer o meu lirismo. Lia
de tudo igualmente. O ano de 1866 foi para mim o ano da Revolução Francesa:
Lamartine, Thiers, Mignet, Louis Blanc, Quinet, Mirabeau, Vergniaud e os Girondinos,
tudo passa sucessivamente pelo meu espírito; a Convenção está nele em sessão
permanente. Apesar disso, eu lia também Donoso Cortez e Joseph de Maitre, e até
escrevi um pequeno ensaio, com a infalibilidade dos dezessete anos, sobre a
Infalibilidade do Papa. Posso dizer que não tinha idéia alguma, porque tinha todas.” 38
Servindo de referência aos malefícios do regime escravocrata, o autor
apresenta a escravidão não apenas na sua concepção de modelo econômico e
produtivo, mas em todos os aspectos e reflexos negativos a toda a sociedade,
impedindo o seu progresso:
“ Estudem-se as diversas fôrças, ou que mantêm a hereditariedade nacional ou que lhe
dirigem a evolução, e ver-se-á que as conhecidas se estão todas enfraquecendo, e que
tanto a conservação, como o progresso do país são problemas atualmente insolúveis,
dos quais a escravidão, e só ela, é a incógnita.” 39
Um ponto de destaque ao se analisar a argumentação de Joaquim
Nabuco é que o autor tem como foco o sistema escravocrata em si, e não os
indivíduos envolvidos na relação, fossem eles escravos ou senhores. Desta
forma, a discussão se dava com foco na Escravidão enquanto “Instituição” que
corrompia a sociedade em suas esferas sociais, econômicas, políticas e
culturais:
38 J. Nabuco, Minha Formação, pp. 28-29. 39 J. Nabuco, O Abolicionismo, p. 153.
44
“ A propaganda abolicionista, com efeito, não se dirige ao escravos. Seria uma
cobardia, inepta e criminosa, e, além disso, um suicídio político para o partido
abolicionista, incitar à inssurreição, ou ao crime, homens sem defesa (...). A escravidão
não há de ser suprimida no Brasil por uma guerra servil, muito menos por inssurreições
ou atentados locais (...). A emancipação há de ser feita, entre nós, por uma lei que
tenha os registros, externos e internos, de todas as outras (...). A propaganda
abolicionista é dirigida contra uma instituição e não contra pessoas. Não atacamos os
proprietários como indivíduos, atacamos o domínio que exercem e o estado de atraso
em que a instituição que representam mantém o país todo.” 40
Por dirigir seu discurso à escravidão enquanto instituição que impregna
a sociedade e não às pessoas envolvidas no regime escravocrata – sejam
senhores, escravos e trabalhadores - Fernando Henrique Cardoso credita a
Joaquim Nabuco o conceito de abolicionismo autêntico.
“ O abolicionismo autêntico, se não podia basear-se na perspectiva dos escravos,
como ponto de partida, para exprimir a consciência crítica da sociedade escravista, não
deixou de refletir o ponto de vista teoricamente imputável aos escravos; o desejo de
generalização da liberdade e de igualização jurídica entre os homens.” 41
Joaquim Nabuco ressalta o reflexo negativo da escravidão e suas
conseqüências em todos os setores da sociedade, incluindo o comércio,
indústria e educação. E reforça ao longo de sua narrativa que o progresso e
40 J. Nabuco, O Abolicionismo, pp. 29-30 41 F. H. Cardoso apud M. H. Granjo. Joaquim Nabuco: um político liberal?, p. 5.
45
desenvolvimento do país eram inibidos pelo regime escravocrata,
desmoralizando toda a sociedade, desde suas instituições até os seus
indivíduos:
“ (...) Por isso, também, no Brasil êle (comércio) não se desenvolve, não abre
horizontes ao país; mas é uma força inativa, sem estímulos, e a cônscia de que é,
apenas, um prolongamento da escravidão ou antes o mecanismo pelo qual a carne
humana é convertida em ouro e circula, dentro e fora do país, sob a forma de letras de
câmbio. Êle sabe que, se a escravidão o receia, como receia todos os condutores do
progresso, seja êste a loja do negociante, a estação da estrada de ferro, ou a escola
primária, também precisa dêle, como por certo não precisa, nem quer saber, desta
última, e trata de viver com êle nos melhores termos possíveis.” 42
As críticas de Joaquim Nabuco ao regime escravocrata não se limitavam
apenas às questões dos grandes processos sociais. A escravidão era
responsável pela desagregação social em todos os níveis, incluindo as
questões morais do indivíduo e da sociedade.
“(…) Nós não queremos acabar com a escravidão somente porque ela é ilegítima em
face do progresso das idéias morais de cooperação e solidariedade; porque é ilegal em
face da nossa legislação do período do tráfico; porque é uma violação da fé pública (…)
Queremos acabar com a escravidão por esses motivos seguramente, e mais pelos
seguintes: (…) Porque a escravidão arruina economicamente o país, impossibilita o seu
progresso material, corrompe-lhe o caráter, desmoraliza-lhe os elementos constitutivos,
tira-lhe a energia e a resolução, rebaixa a política; habitua-o ao servilismo, impede a
imigração, desonra o trabalho manual, retarda a aparição das indústrias, promove a
42 J. Nabuco, O Abolicionismo, pp. 157-158.
46
bancarrota, desvia os capitães do seu curso natural, afasta as máquinas, excita o ódio
entre classes, produz uma aparência ilusória de ordem, bem estar e riqueza, a qual
encobre os abismos de anarquia moral, de miséria e destituição, que do Norte ao Sul
margeiam todo o nosso futuro.” 43
O desenvolvimento de uma estrutura sócio-econômica frágil e ineficiente
é consequência direta do regime escravocrata, uma vez que não permite a
renovação e circulação de capitais e recursos entre a sociedade, responsáveis
pelo desenvolvimento da indústria e o progresso. Para Joaquim Nabuco, as
propriedades – incluindo senhores e trabalhadores - estavam inertes ao
desenvolvimento e progresso trazidos pela prosperidade econômica liberal,
uma vez que criava uma riqueza frágil e insustentável.
“ Enquanto monopólio da terra, a escravidão deu origem à grande propriedade
territorial com ‘trabalhadores enclausurados’ e ‘proletários em um pedaço de terra’,
dependentes e miseráveis, verdadeiros ‘servos da gleba’. Além disso, esgotou o solo,
criou uma população de ‘nômadas’, aviltou o trabalho, estiolou as vilas do interior, criou
uma riqueza estéril (porque reaplicava em escravos e no luxo) e efêmera, e impediu o
desenvolvimento da indústria e do progresso.” 44
Joaquim Nabuco enfatiza também o papel negativo do regime
escravocrata na limitação da ação política no Brasil. Devido à forte influência
de grupos rurais na política – favoráveis à manutenção da escravidão – o autor
destaca as mazelas que contaminam o desenvolvimento político do País.
43 J. Nabuco, O Abolicionismo, pp. 115-116. 44 I. A. Marson, “Liberalismo e Escravidão no Brasil”, Revista USP, p. 105.
47
“ Foi a isso que a escravidão, como causa infalível de corrupção social, e pelo seu
terrível contágio, reduziu a nossa política. O povo como que sente um prazer cruel em
escolher o pior, isto é, em rebaixar-se a si mesmo, por ter consciência de que é uma
multidão heterogênea, sem disciplina a que se sujeite, sem fim que se proponha.” 45
Em sua proposta política, Joaquim Nabuco enfatiza a importância da
opinião pública na construção de uma Nação. O papel fiscalizador da
sociedade junto aos governos era fundamental para direcionar o seu
crescimento, conforme passagem sobre a importância da opinião pública na
sociedade norte-americana:
“ (...) aliado à circunstância de que o norte-americano tolerava facilmente a corrupção,
porque preocupava-se mais em desenvolver o lado material da vida, o tornava
medíocre politicamente. Porém, esse desenvolvimento criava uma estrutura onde a
opinião pública, organizada através do associacionismo, era central para manter sob
controle os encaminhamentos do governo, pois a sociedade norte-americana como um
todo, sabia de sua potência e importância.” 46
Em “O Abolicionismo”, Joaquim Nabuco destaca a importância do
despertar da opinião pública contra o silêncio do sistema servil, que cala os
pensamentos, as idéias e o debate que levará ao progresso social em todos os
seus aspectos.
45 J. Nabuco, O Abolicionismo, p. 22. 46 A. J. Rover, Abolicionismo e Americanismo e Joaquim Nabuco: uma Estética Política da Emancipação Humana, p. 54.
48
“ (…) Não há, com a escravidão, essa força poderosa chamada opinião pública, ao
mesmo tempo alavanca e o ponto de apoio das individualidades que representam o
que há de mais adiantado no país. A escravidão, como é incompatível com a imigração
espontânea, também não consente o influxo das idéias novas. Incapaz de invenção,
ela é, igualmente, refratária ao progresso (…)” 47
Os papéis da educação e da imprensa – enquanto base fundamental
para o progresso - também são ressaltados pelo autor. Para Joaquim Nabuco,
a escravidão sistematicamente impede o desenvolvimento da imprensa e da
educação, uma vez que as novas idéias e pensamentos emergentes do
período apontavam para o fim do regime escravocrata.
“ Entre as forças em torno de cujo centro de ação o escravagismo fez o vácuo, por lhe
serem contrárias, forças de progresso e transformação, está novamente a imprensa,
não só o jornal, mas também o livro, tudo que diz respeito à educação. Por honra do
nosso jornalismo, a imprensa tem sido a grande arma de combate contra a escravidão
e o instrumento da propagação das idéias novas; os esforços tentados para a criação
de um órgão negro naufragaram sempre (…) Mas, para fazer o vácuo em torno do
jornal e do livro, e de tudo que pudesse amadurecer antes do tempo a consciência do
abolicionista, a escravidão por instinto procedeu repelindo a escola, a instrução pública,
e mantendo o país na ignorância e escuridão, que é o meio em que ela pode prosperar.
A senzala e a escola são pólos que se repelem.” 48
Ao identificar em todos os setores da sociedade as forças que
fortaleciam e garantiam a manutenção do sistema escravocrata, Joaquim
47 J. Nabuco, O Abolicionismo, pp. 189-190. 48 Ibid., pp. 188-189.
49
Nabuco não deixa de dirigir suas críticas à abstenção da Igreja no debate
abolicionista. Nesta questão, compara o papel da Igreja no processo
abolicionista no Brasil e em demais países, como França e Inglaterra, países
que estarão constantemente em seu espectro de comparação.
“Se o que dá força ao abolicionismo não é principalmente o sentimento religioso, o qual
não é a alavanca de progresso que poderia ser, por ter sido desnaturado pelo próprio
clero, também não é o espírito de caridade ou filantropia. A guerra contra a escravidão
foi, na Inglaterra, um movimento religioso e filantrópico, determinado por sentimentos
que nada tinham de político, senão no sentido em que se pode chamar política à moral
social do Evangelho. No Brasil, porém, o abolicionismo é antes de tudo um movimento
político, para o qual, sem dúvida, poderosamente concorre o interesse pelos escravos
e a compaixão pela sua sorte, mas que nasce de um pensamento diverso: o de
reconstruir o Brasil sobre o trabalho livre e a união das raças na liberdade.” 49
Para Joaquim Nabuco, o regime escravocrata estagnava o
desenvolvimento econômico e suas atividades, criando uma cultura de
privilégios e não-concorrência, características adversas ao pensamento liberal
na época. Diante das manifestações populares contra a participação de
estrangeiros no comércio, enfatiza que a origem do problema está no sistema
escravocrata, e não na nacionalização do comércio.
“ Mas, tal grito caracteriza o espirito de exclusivismo e ódio à concorrência, por mais
legítima que sejam em que a escravidão educou o nosso povo, e, em mais de um
lugar, foi acompanhado de sublevações do mesmo espírito atuando em outra direção,
49 J. Nabuco, O Abolicionismo, p. 171.
50
isto é, do fanatismo religioso. Não sabiam os que sustentavam aquele programa do
fechamento dos portos do Brasil, e da anulação de todo o progresso que temos feito
desde 1808, que, se tirassem o comércio a retalho aos estrangeiros, não o passariam
para os nacionais, mas simplesmente o reduziriam a uma carestia de gêneros
permanente - porque é a escravidão, e não a nacionalidade, que impede o comércio a
retalho de ser em grande parte brasileiro.” 50
Para Joaquim Nabuco, dentro das grandes propriedades – onde
imperam exclusivamente as vontades dos senhores - não existe nenhum tipo
de progresso do qual a comunidade se beneficie, onde os processos resultam
apenas na degradação de sua estrutura social. Contrapõe o grande
desenvolvimento dos centros urbanos – alicerçados sobre os princípios liberais
de livre economia – contra a estagnação e atraso das propriedades rurais
cunhadas sobre os preceitos escravocratas.
“ Como se sabe, o regime da terra sob a escravidão consiste na divisão de todo o solo
explorado em certo número de grades propriedades. (…) A divisão de uma vasta
província em verdadeiras colônias penais, refratárias ao progresso, pequenos ashantis
em que impera uma só vontade (…) Por isso também, os progressos do interior são
nulos em trezentos anos de vida nacional. As cidades, a que a presença dos governos
provinciais não dá uma animação artificial, são por assim dizer mortas. Quase todas
são decadentes. (…) A vida provincial está concentrada nas capitais, e a existência que
essas levam, o pouco progresso que fazem, o lento crescimento que têm, mostram que
essa centralização, longe de derramar vida pela província, fá-la definhar.” 51
50 J. Nabuco, O Abolicionismo, p. 174. 51 Ibid., p. 153.
51
Diante do caráter principalmente urbano do movimento abolicionista,
Joaquim Nabuco incorpora às suas idéias os benefícios resultantes do
desenvolvimento das cidades e centros urbanos. Enquanto o modelo
escravocrata gera a decadência do interior, o progresso das cidades é
impulsionado pelo modelo liberal, sendo o trabalho assalariado um dos
principais direcionadores desta mudança:
“ (…) O progresso e crescimento da capital contrasta com a decadência do interior. É o
mesmo em toda a parte. Com a escravidão não há centros locais, vida de distrito,
espírito municipal (…) A terra não é fertilizada pelas economias do pobre, nem pela
generosidade do rico; a pequena propriedade não existe senão por tolerância, não há
as classes médias que fazem a força das nações. Há o opulento senhor de escravos, e
proletários. A nação, de fato, é formada de proletários, porque os descendentes dos
senhores logo chegam a sê-lo.” 52
Para Joaquim Nabuco, o regime escravocrata impunha à sociedade uma
cultura de exploração, não permitindo à sociedade se desenvolver e acumular
para si os benefícios do desenvolvimento. Ao invés disso, o resultado é uma
sociedade que se desgasta e desagrega em todos os seus sentidos.
“(…) O caráter da sua cultura é a improvidência, a rotina, a indiferença pela máquina, o
mais completo desprezo pelos interesses do futuro, a ambição de tirar o maior lucro
imediato com o menor trabalho próprio possível, qualquer que seja o prejuízo das
gerações seguintes. (…) Em todos os sentidos foi ela, e é, um obstáculo ao
desenvolvimento material dos municípios; explorou a terra sem atenção à localidade,
52 J. Nabuco, O Abolicionismo, p. 159.
52
sem reconhecer deveres para com o povo de fora das suas porteiras, queimou, plantou
e abandonou; consumiu os lucros na compra de escravos e no luxo da cidade; não
edificou escolas, nem igrejas, não construiu pontes, nem melhorou rios, não canalizou
a água nem fundou asilos, não fez estradas, não construiu casas, sequer para os seus
escravos, não fomentou nenhuma indústria, não deu valor venal à terra, não fez
benfeitorias, não granjeou o solo, não empregou máquinas, não concorreu para
progresso algum da zona circunvizinha. O que fez foi esterilizar o solo pela sua cultura
extenuativa, embrutecer os escravos, impedir o desenvolvimento dos municípios, e
espalhar em torno dos feudos senhoriais o aspecto das regiões miasmáticas, ou
devastadas pelas instituições que suportou, aspecto que o homem livre instintivamente
reconhece (…)” 53
Perante a polarização das discussões abolicionistas no Parlamento -
onde a sociedade passa a ser dividida em escravocratas e abolicionistas - os
setores favoráveis à manutenção do regime escravocrata classificam as ações
abolicionistas como revolucionárias, apresentando-os como grupos favoráveis
à desordem e desalinhados também aos interesses de progresso do País.
"Senhores, combatendo a idéia da emancipação direta perante o Parlamento, devo
repelir uma pecha que os mais intolerantes promotores da propaganda costumam
lançar sobre aqueles que, como eu, têm levantado a voz para protestar energicamente
contra a imprudência e precipitação com que se iniciou esta reforma. Chamam-nos de
escravocratas, de retrógrados, de espíritos tacanhos e ferrenhos, que não recebem os
influxos da civilização. Procuram assim atemorizar-nos com a odiosidade que de
ordinário suscitam as idéias condenadas, os sentimentos egoísticos. (...) Vós, os
propagandistas, os emancipadores a todo transe, não passais de emissários da
53 J. Nabuco, O Abolicionismo, pp. 163-164.
53
revolução, de apóstolos da anarquia. Os retrógrados sois vós, que pretendeis recuar o
progresso do país, ferindo-o no coração, matando a sua primeira indústria, a lavoura.”54
Através de uma abordagem integrada de toda a sociedade, Joaquim
Nabuco aponta as mazelas do regime escravocrata como forças refratárias ao
progresso em todos os seus aspectos.
“ (…) Vejam-se as diversas classes sociais. Todas elas apresentam sintomas de
desenvolvimento ou retardado ou impedido, ou, o que é ainda pior, de crescimento
prematuro artificial. Estudem-se as diversas forças, ou que mantêm a hereditariedade
nacional ou que lhe dirigem a evolução, e ver-se-á que as conhecidas se estão todas
enfraquecendo, e que tanto a conservação, como o progresso do país são problemas
atualmente insolúveis, dos quais a escravidão, e só ela, é a incógnita. Isso tudo, tenho
apenas espaço para apontar, não para demonstrar.” 55
Com base nestas proposições, nota-se o discurso de Joaquim Nabuco
respaldado na idéia de progresso, apontando a escravidão como uma das
principais causas contrárias ao desenvolvimento do País.
54 J. de Alencar, Discursos Parlamentares, p. 228. 55 J. Nabuco, O Abolicionismo, p. 175.
54
Conclusão
55
Conclusão
A mudança estrutural defendida pelos abolicionistas exigia uma atuação
em todos os níveis da sociedade, uma vez que a escravidão estava totalmente
inserida nos âmbitos econômico, político, cultural e social do País. Para que
fosse vencida a inércia contra o regime escravocrata, era fundamental se
apropriar de movimentos e tendências que fortalecessem a visão da mudança
para um novo sistema sócio-econômico, baseado na mão-de-obra assalariada
e alinhado aos novos direcionadores da economia mundial.
Vale ressaltar que os esforços abolicionistas eram desenvolvidos sob a
influência do cenário político e econômico do século XIX, onde o surgimento de
um novo modelo sócio-econômico foi determinante na extinção do regime
escravocrata.
“ A ação abolicionista foi vital para a criação de uma opinião pública favorável à
abolição. Faltasse a pressão que os abolicionistas exerceram no parlamento, forçando
a passagem de leis emancipadoras (...); faltasse seu trabalho de educação da opinião
pública, ora apelando para o sentimentalismo do povo, ora falando aos interesses dos
fazendeiros ao argumentar em favor da superioridade do trabalho livre; faltasse o
trabalho dos grupos mais radicais que instigaram os escravos a fugirem e lhes deram
cobertura, a abolição não teria ocorrido em maio de 1888. Por isso, têm razão os que
valorizam a ação abolicionista. Mas seria ingênuo pensar que os abolicionistas
poderiam ter se organizado e ser bem-sucedidos não tivessem as condições
econômicas internas e internacionais se alterado de modo a tornar mais viável a
adoção do trabalho livre.” 56
56 E.V. da Costa, Da Senzala à Colônia, p. 45.
56
A busca de toda a sociedade pelo progresso – econômico, social e
material – vinha se fortalecendo ao longo dos séculos XVIII e XIX, e era um
pensamento corrente em sua época. Joaquim Nabuco utilizou de maneira
assertiva esta tendência para estruturar a sua visão. Retomando os
argumentos abolicionistas que evoluiram lentamente durante o século XIX,
adicionou novas questões ao debate abolicionista que se desenvolveu nos
últimos do regime escravocrata no Brasil.
A visão abolicionista apresentada por Joaquim Nabuco analisava a
escravidão sob o espectro de toda a sociedade, onde as mazelas do regime
escravocrata resultavam na sua deteriorização moral e estrutural. Ao mesmo
tempo que aponta os problemas do cativeiro, durante todo o seu discurso,
dirige suas críticas ao regime em si, e não diretamente aos indivíduos agentes
do sistema.
Joaquim Nabuco, através de uma argumentação fortemente embasada
nestas correntes ideológicas que influenciavam as mudanças de sua época -
sobre as questões sócio-econômicas, tanto na Europa como no Brasil - foi
parte fundamental do processo de abolição da escravidão no País. Sua
vivência internacional, resultante de viagens a outros países – e que serão
utilizados como elemento de comparação social em seu discurso - permitiu
desenvolver uma visão mais ampla sobre o regime escravocrata, que
extrapolava as questões das discussões locais. Dentre as principais influências
em suas idéias pode ser destacado o pensamento liberal, que continha em sua
essência a noção de progresso, como resultante do desenvolvimento
57
econômico. Esta visão era o principal direcionador do pensamento urbano que
se consolidava naquele momento.
A idéia de progresso, presente em toda a sua narrativa, é utilizada por
Joaquim Nabuco em contraposição ao regime escravocrata. Diferentemente de
outros abolicionistas, sua proposta de abolição visa o fim do regime
escravocrata através dos meios pacíficos e políticos, pois somente através da
manutenção da ordem seria possível se obter o progresso.
“ Toda a atuação de Nabuco é marcada pelos interesses das camadas médias urbanas
da população. Querendo, por exemplo, a abolição pelos meios pacíficos e legais,
pretende atingir a oligarquia, sem subverter a ordem social, a ponto de prejudicar os
interesses da população urbana.” 57
Constantemente vemos o discurso abolicionista de Joaquim Nabuco
desvinculado de interesses e facções políticas, regionais ou locais. Ao longo de
sua narrativa, é possível se perceber seu engajamento à causa abolicionista
em si mesma, não restringindo sua atuação e reflexão a grupos imediatos de
interesses ou afinidades. Esta pluralidade acompanha o desenvolvimento das
idéias de Joaquim Nabuco, fazendo com que suas idéias tivessem grande
projeção à época. Conforme descreve em “Minha Formação”:
“ Em minha vida vivi muito da Política com P grande, isto é, da política que é história, e
ainda hoje vivo, é certo que muito menos. Mas, para a política propriamente dita, que é
a local, a do país, dos partidos, tenho uma dupla incapacidade: não só um mundo de
57 M. H. Granjo. Joaquim Nabuco: um político liberal?, p. 109.
58
coisas me parece superior a ela, como também minha curiosidade, o meu interesse, vai
sempre para onde a ação do drama contemporâneo universal é mais complicada ou
mais intensa. Sou antes um espectador do meu século que do meu país.” 58
Dirigindo sua crítica ao regime escravocrata - no sentido de minar a
sociedade em todos os seus níveis e esferas - foi peça fundamental na
articulação do processo abolicionista brasileiro. Utilizando dos movimentos
mundiais para respaldar e reforçar as idéias abolicionistas – sendo o progresso
uma destas principais vertentes - certamente contribuiu para o êxito e
catalização do processo abolicionista no Brasil, que teve seu desfecho formal
ao dia 13 de maio de 1888.
58 J. Nabuco, Minha Formação, p. 41.
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