A influência das redes sociais no jornalismo de moda: uma análise da revista Elle antes e depois...

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    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE COMUNICAO SOCIAL

    LUSA DAL MAS PEREIRA

    A INFLUNCIA DAS REDES SOCIAIS NO JORNALISMO DE MODA:

    UMA ANLISE DA REVISTA ELLE ANTES E DEPOIS DO INSTAGRAM

    Porto Alegre

    2015

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    LUSA DAL MAS PEREIRA

    A INFLUNCIA DAS REDES SOCIAIS NO JORNALISMO DE MODA:

    UMA ANLISE DA REVISTA ELLE ANTES E DEPOIS DO INSTAGRAM

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    como requisito para obteno de grau deBacharel em Jornalismo na Faculdade deComunicao Social da Pontifcia UniversidadeCatlica do Rio Grande do Sul.

    Aprovada em: ____de __________________de ________.

    BANCA EXAMINADORA:

    ______________________________________________Prof. Me. Ana Ceclia Bisso Nunes - PUCRS

    ______________________________________________Prof. Dr. Andr Fagundes Pase - PUCRS

    ______________________________________________Prof. Me. Karen Sica da Cunha - PUCRS

    Porto Alegre2015

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    AGRADECIMENTOS

    Acho que durante esse ltimo ano de faculdade ningum merece mais

    agradecimentos do que minha me. Obrigada por ter aguentado todos os dramas,choros, ataques de nervos e crises existenciais que aconteciam quase todo dia.

    Agradeo ao meu pai, a toda minha famlia e meus amigos pelo apoio e

    confiana durante toda a faculdade, vocs acreditaram em mim mais do que eu

    mesma.

    Agradeo aos meus professores que conheci durante esses quatro anos na

    Famecos, nos momentos de dvida, vocs me fizeram acreditar nessa profisso.

    Agradeo s minhas colegas que me acompanharam desde o primeiro dia de

    aula e compartilharam altos e baixos comigo.

    Agradeo especialmente Dani, que dividiu comigo alegrias, tristezas, livros,

    resumos e at a orientadora.

    Agradeo minha orientadora, professora Ana Ceclia, que me deu fora

    durante todo o trabalho, confiou na minha pesquisa e algumas vezes cumpriu o

    papel de psicloga.

    Por fim, agradeo ao meu professor de Histria da oitava srie que me fez

    querer ser jornalista.

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    "If you look at any great fashion photograph out of context, it will

    tell you just as much about what's going on in the world as a

    headline in the New York Times"

    Anna Wintour

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    RESUMO

    Mudanas culturais atreladas avanos tecnolgicos transformam a maneira

    como o leitor busca e interage com a informao. Hoje as redes sociais e a

    comunicao mvel so tambm um canal para buscar informao e se relacionar

    com empresas de mdia. O Instagram, lanado em 2010, se tornou uma das

    principais ferramentas de compartilhamento de contedo e, por ter uma forte relao

    com a fotografia, foi apropriado por veculos de moda. Com isso, esta pesquisa se

    prope a entender de que maneira o uso da rede social Instagram como plataforma

    de notcias afetou o contedo de moda publicado nas edies impressas da revista

    Elle Brasil. O estudo foi realizado a partir das coberturas do evento de moda SoPaulo Fashion Week, nos anos de 2011 e 2015, antes e depois da criao do perfil

    @ellebrasil no Instagram. A comparao, realizada a partir do mtodo de estudo de

    caso, busca apontar as diferenas e semelhanas, alm de possveis relaes entre

    as coberturas da revista e do Instagram, afim de compreender como a rede social

    influenciou a cobertura do SPFW. Para alcanar o objetivo da pesquisa, foi realizada

    uma reviso terica dividida em dois momentos. Em um primeiro momento, focou-se

    no jornalismo de moda e a revista, plataforma tradicionalmente utilizada por veculosdeste segmento. Observou-se tambm o papel das fashion weeks na indstria da

    moda. Em um segundo momento, volta-se o olhar para o mbito digital,

    caracterizando o jornalismo mvel e as redes sociais dentro do jornalismo. Toda a

    reviso terica se sustentou na ideia de que foram transformaes culturais que

    provocaram as diversas mudanas e evolues da imprensa e da tecnologia. A partir

    da anlise das revistas e das postagens dentro da plataforma Instagram foi possvel

    observar como as duas mdias se relacionam e se completam em relao cobertura do SPFW pela Elle Brasil. Foi observado que houve uma mudana no

    perfil de cobertura do SPFW na revista, que recebe um olhar mais ligado ao

    consumo, e que o Instagram passa a trabalhar em conjunto com a revista para

    compor a cobertura do evento, trazendo um contedo mais imediato e ao vivo.

    Palavras-chave: Jornalismo de moda. Mobilidade. Redes sociais. Instagram.

    Fashion week.

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    ABSTRACT

    Cultural changes connected to technological advances have changed the way

    people search for and interact with information. Today, social media and mobile

    communication are integrated in the routine of the public that seek information.

    Instagram, launched in 2010, became one of the main content sharing tools,

    especially within the fashion journalism field. This research seeks to understand how

    Instagram, as a news platform, affected the content published in the print editions of

    Elle Brazil magazine. The study was based around the coverage of the event So

    Paulo Fashion Week, in the years of 2011 and 2015, before and after the profile

    @ellebrasil was created. The goal of the comparison, which was done using the casestudy method, was to point out the differences and similarities between the magazine

    content and the Instagram content, in order to understand how social media affected

    the coverage of SPFW. In order to reach that goal, the research needed a theoretical

    foundation, which was divided in two sections. The first section focused on fashion

    journalism and magazines, the media traditionally used by fashion journalism

    companies. This section also highlighted the role played by fashion weeks in the

    fashion industry. The second part of the study was dedicated to characterize mobilejournalism and social media within journalism. The theoretical research stands on the

    idea that cultural changes were responsible for the all the changes and advances in

    technology and communications. With the observation of the magazines and the

    posts on Instagram, it was possible to notice how both medias relate and compliment

    each other in relation to the coverage of SPFW by Elle Brazil. This research was able

    to identify a change in the type of coverage Elle Brazil magazine offers for SPFW, as

    now it has a much more commercial aspect. Also, it showed that Instagram worksalong side the magazine offering a much more immediate and live content.

    Keywords:Fashion journalism. Mobile. Social media. Instagram. Fashion week.

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    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Capa da edio de julho de 2011 da Elle Brasil ....................................... 48

    Figura 2 Pgina Brasilidade de julho de 2011 ........................................................ 50Figura 3 Pgina tendncia (listras) de julho 2014 .................................................. 53

    Figura 4 #EscolhasdeELLE .................................................................................... 54

    Figura 5 #ELLEedit ................................................................................................. 58

    Figura 6 Comparao entre imagens na Elle 2011, Elle 2015 e perfil @ellebrasil 59

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Anlise preliminar das revistas referente edio SPFW 2011.............. 41

    Tabela 2 Anlise preliminar das revistas referente edio SPFW 2015.............. 42

    Tabela 3 Anlise das postagens na conta @ellebrasil (#EscolhasdeELLE) .......... 56

    Tabela 4 Anlise das postagens na conta @ellebrasil (#ELLEedit) ....................... 58

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ...................................................................................................... 10

    2 O JORNALISMO DE MODA E SUAS CARACTERSTICAS ............................... 14

    2.1 IMPRENSAFEMININA,REVISTASDEMODAEOPAPELDAIMAGEM ........ 14

    2.2 ASFASHIONWEEKSEACOBERTURADEEVENTOSDEMODAEM

    REVISTA ................................................................................................................... 21

    3 JORNALISMO, MOBILIDADE E REDES SOCIAIS ............................................. 25

    3.1 OCONSUMODEINFORMAOMVEL ....................................................... 25

    3.2 ASREDESSOCIAISCOMOFONTEDEINFORMAOEOINSTAGRAM .... 31

    4 A ELLE ANTES E DEPOIS DO INSTAGRAM ..................................................... 38

    4.1 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ......................................................... 38

    4.2 A REVISTA ELLE BRASIL, SPFW E O PERFIL DA ELLE NO INSTAGRAM .. 45

    4.3 A COBERTURA DO SPFW PELA ELLE BRASILANTESEDEPOISDO

    INSTAGRAM ............................................................................................................. 47

    4.3.1 Cobertura do SPFW na edio de julho de 2011........................................ 47

    4.3.2 Cobertura do SPFW nas edies de maio e julho de 2015 ....................... 51

    4.4 OSPFWNOINSTAGRAMDAELLEBRASIL ................................................... 53

    5 CONCLUSES ..................................................................................................... 60

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 65

    FONTES DOCUMENTAIS ........................................................................................ 70

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    1 INTRODUO

    Twitter, Facebook, Snapchat, YouTube e tantas outras novas redes sociais

    que surgem diariamente passaram a integrar o dia a dia das pessoas. A evoluo

    tecnolgica despertou um novo padro de consumo de informao, onde o pblico

    demanda contedo constante e em diversas plataformas. a cultura da

    convergncia descrita por Jenkins (2009, p. 29):

    Por convergncia, refiro-me ao fluxo de contedos atravs de mltiplasplataformas de mdia, cooperao entre mltiplos mercados miditicos eao comportamento migratrio dos pblicos dos meios de comunicao, quevo a quase qualquer parte em busca das experincias de entretenimentoque desejam. Convergncia uma palavra que consegue definir

    transformaes tecnolgicas, mercadolgicas, culturais e sociais,dependendo de quem est falando.

    Por conta dessas transformaes culturais, percebe-se que cada vez mais

    veculos adotam as redes sociais como plataforma de compartilhamento de notcias,

    utilizando a comunicao mvel, em especial os smartphones, para aumentar o

    alcance de notcias. Segundo a pesquisa Mobile Report (NIELSEN, 2015), o nmero

    de brasileiros que utilizam a Internet no celular chegou a 68,4 milhes. Deste

    nmero, 40% afirmaram acessar notcias pelo aparelho. A comunicao mvelatravs de smartphonesj faz parte da realidade do pblico, que agora pode e exige

    ter acesso informao onde e quando quiser.

    O Instagram, lanado em 2010, possui mais de 400 milhes de contas ativas

    (INSTAGRAM, 2015b). Atravs dele, o usurio pode produzir, editar e compartilhar

    imagens de uma vez s, totalmente mobile e gratuito. Alm de visualizar as

    publicaes dentro da plataforma, as fotos postadas pelos usurios podem ser

    compartilhadas instantaneamente em outros sites, como Facebook e Twitter, o que

    aumenta a visibilidade do contedo publicado ali.

    Dentre as diferentes especializaes do jornalismo, a imprensa de moda se

    apropriou intensamente dessa ferramenta, principalmente por conta da relao

    histrica entre moda e fotografia (SOUZA e CUSTDIO, 2005). Desde o seu

    surgimento, a imprensa feminina e o jornalismo de moda estiveram atrelados s

    revistas, mdias tradicionais cuja linguagem e estilo editorial transmitiam uma

    sensao de intimidade e leveza ao leitor (ALI, 2009). As revistas de moda foram

    parte importante da democratizao da moda e do crescimento da indstria txtil no

    Brasil (BUITONI, 1986). Como descreve Lipovetsky (1989), a moda sempre se

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    sustentou na noo do novo, da novidade, os lanamentos e as renovaes de

    colees sempre foram os principais destaques.

    Levando em conta essa caracterstica efmera da moda, paralela ao dilogo

    da comunicao mvel com o jornalismo, surge a pergunta norteadora desta

    pesquisa: de que maneira as redes sociais, em especial o Instagram, influenciaram o

    jornalismo de moda? Para realizar o estudo, foi escolhido reduzir o olhar para a

    cobertura do So Paulo Fashion Week 1pela revista Elle Brasil. As fashion weeks

    so uma representao concreta dessa efemeridade na indstria da moda

    (MICHETTI, 2012), pois colocam em destaque os lanamentos e as novidades do

    mercado. Por anos, a revista foi a principal fonte de notcia sobre novas colees,

    tendncias e desfiles. Com data fixa de publicao, a cobertura mais completa deuma fashion weekpoderia chegar aos leitores semanas aps seu trmino. Hoje, o

    contedo pode ser compartilhado com o pblico em tempo real, atravs das redes

    sociais na Internet, proporcionando uma experincia de consumo de notcia muito

    mais dinmica.

    O objetivo da pesquisa , ento, avaliar como a cobertura da SPFW nas

    revistas impressas mudou aps a insero do Instagram como plataforma de

    compartilhamento de notcia para a Elle Brasil. Decidiu-se comparar as coberturasdo SPFW pela revista em dois momentos: em 2011, antes da criao da conta de

    Instagram @ellebrasil, e em 2015, ano de realizao da pesquisa, a fim de identificar

    possveis mudanas no contedo. Ao colocar o Instagram como fator principal para

    mudanas na cobertura, fez-se necessrio analisar tambm o material publicado na

    rede sobre o SPFW, buscando semelhanas e diferenas em relao ao contedo

    das revistas e entendendo como a Elle Brasil utiliza a plataforma para informar seus

    leitores sobre o evento.A escolha do tema reflete no somente o interesse da pesquisadora em

    contedo e informao de moda, mas tambm a realidade da nova gerao de

    jornalistas que tm as redes sociais como um fator relevante no dia a dia

    profissional.

    A delimitao do tema com a escolha da revista Elle se deu em razo da

    tradio do veculo na indstria da moda. Fundada na Frana em 1945, a maior

    revista de moda do mundo em circulao, com 46 edies em mais de 60 pases e

    1 Tambm referenciado como SPFW.

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    mais de 21 milhes de leitores. No Brasil, a Elle faz parte da Editora Abril e conta

    com uma tiragem mensal de 92.472 exemplares, segundo informaes da PubliAbril.

    Alm da importncia da edio impressa, a revista tem bastante presena nas redes

    sociais, com 376 mil seguidores no Instagram e mais de 14.700 postagens. A

    escolha do SPFW se deu por se tratar do maior evento de moda da Amrica Latina,

    que rene mais de 100 mil visitantes a cada edio. Por se tratar de um evento to

    relevante, a cobertura por parte de veculos de moda bastante extensa, o que

    torna a anlise mais completa.

    A pesquisa baseou-se no mtodo de estudo de caso, apresentado por Yin

    (2015). Essa metodologia aplicada a estudos que pretendem analisar um

    determinado fenmeno pontual, neste caso a influncia do Instagram nas coberturasde fashion weeks. O autor define que a pesquisa de estudo de caso deve se basear

    em uma reviso de literatura, que auxiliar na construo das concluses do estudo.

    Toda a base terica desta pesquisa se sustentou na noo de que todas as

    mudanas que ocorreram no mbito da imprensa e da tecnologia foram provocadas

    por evolues socioculturais. Essa ideia se traduz principalmente nas falas de

    Jenkins (2009), Castells (2007) e Lipovetsky (1989).

    O primeiro captulo busca caracterizar o jornalismo de moda e a imprensafeminina, a fim de diferenci-los das outras reas do jornalismo. Barnard (2003, p.

    38) coloca a moda e a indumentria como uma forma de comunicao prpria: a

    moda parece ser necessria ou inevitvel, dada a organizao social e econmica

    da maior parte do mundo. Observou-se as caractersticas de linguagem da

    imprensa feminina e principalmente o papel da imagem na moda, que comeou com

    as ilustraes em aquarela no sculo XVI (WEIDLICH, 2014) e hoje aparecem em

    forma de fotografia nas pginas das revistas. Visto que o objeto de estudo acobertura do SPFW, esse captulo tambm busca aprofundar a ideia de uma

    indstria movida pela novidade (LIPOVETSKY, 1989), relacionando com o papel das

    fashion weeks e dos calendrios de moda.

    No segundo captulo, foca-se nas mudanas causadas pelo dilogo da

    sociedade com as tecnologias mveis. Castells et al. (2007) e Jenkins (2009)

    apresentam uma nova relao das pessoas com a tecnologia em uma era de

    mobilidade e convergncia. A partir disso, observam-se as diferentes caractersticas

    de formato e linguagens que surgem dentro desse cenrio. Junto a isso, Santaella

    (2004) apresenta o novo tipo de leitor que dialoga com essas tecnologias, um leitor

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    imersivo que quebra a linearidade, que navega livremente pela informao, que est

    constantemente conectado e que com as tecnologias mveis, se torna um leitor

    ubquo. Ainda neste captulo, feita uma anlise das redes sociais na Internet como

    fonte de informao, a partir das classificaes de Recuero (2009). So

    apresentados os diferentes tipos de relaes presentes dentro das redes a fim de

    identificar e caracterizar o Instagram. Ainda sobre linguagens, nesta seo

    destacado o papel da hipertextualidade e das hashtagsdentro das redes sociais na

    Internet.

    O uso das redes sociais para o compartilhamento de informao uma

    prtica em desenvolvimento e um assunto que merece ateno no meio acadmico.

    importante a realizao de pesquisas dedicadas ao tema a fim de compreendertudo o que as redes oferecem e de que maneira podem ser utilizadas, de modo a

    alcanar seu potencial mximo. Com esta pesquisa, pretende-se contribuir para a

    construo desse conhecimento e para o entendimento do papel das redes sociais

    no jornalismo de moda.

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    2 O JORNALISMO DE MODA E SUAS CARACTERSTICAS

    O objetivo deste captulo caracterizar o jornalismo de moda, buscando

    entender o que torna essa segmentao do jornalismo distinta de outras. Dentre

    suas diversas caractersticas, ser analisado em especial o papel da imagem, da

    fotografia na comunicao de moda, visto que um dos objetos de estudo do trabalho

    o Instagram, aplicativo de compartilhamento de fotos. Assim, este captulo se

    destina a estabelecer os conceitos de imagem no jornalismo de moda para viabilizar

    a anlise do Instagram e estabelecer uma comparao entre o aplicativo e as

    revistas impressas em relao s imagens publicadas. Tambm ser abordada a

    importncia dos eventos de moda, tal como o SPFW, e suas coberturas em revistasde moda brasileiras.

    2.1 IMPRENSA FEMININA, REVISTAS DE MODA E O PAPEL DA IMAGEM

    O conceito de imprensa feminina antigo, presente desde o sculo XVII em

    jornais destinados ao pblico feminino (BUITONI, 1986). As temticas ditas

    femininas tm origem scio-histrica e se relacionam aos estudos de gnero, o quetraz uma ideia de futilidade em relao assuntos que elas abordam. Segundo Buitoni

    (1986, p. 8), essa imprensa abrange tpicos variados:

    Embora frequentemente ligados ao mbito domstico, seus assuntospodem ir da dor de dente no filho de sete anos discusso da poltica decontrole da natalidade, passando pelos quase inevitveis modelos de roupae pelas receitas que prometem delcias. (BUITONI, 1986, p. 8).

    As questes culturais e de estudo de gnero que definem historicamente a

    imprensa feminina no sero o foco desta pesquisa, pois ela ir se ater scaractersticas do produto final dessa imprensa. Assim, para Buitoni (1986, p. 86),

    so trs grandes pilares que sustentam a imprensa feminina: moda, casa e corao,

    o vestir, o morar, o sentir. Por ter uma presena forte, o jornalismo de moda se

    destaca com uma editoria prpria.

    A moda impulsiona a imprensa feminina e por ela impulsionada (BUITONI,

    1985, p. 14). A primeira publicao de moda que se tem registro surge ainda em

    1678, na Frana, com notcias sobre moda e principalmente sobre a vida luxuosa da

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    corte de Lus XIV (ALI, 2009). No Brasil, o crescimento da imprensa feminina e das

    revistas de moda veio na metade do sculo XX:

    Nos anos 50, a vinculao consumo/imprensa feminina estabelecia-se com

    uma intensidade progressiva, devido ao crescimento das indstriasrelacionadas mulher e a casa, ao fortalecimento do mercado interno e relativa ampliao da classe mdia. (BUITONI, 1986, p. 49).

    A indumentria em si uma forma de comunicao, pois est ligada a

    aspectos sociais, representa papel social e status econmico, smbolo poltico e

    religioso, um fenmeno cultural (BARNARD, 2003). Como indica Sousa, Gomes e

    Campos (2013, p. 35), a moda percebida como linguagem e seus produtos como

    signos ou smbolos, que comunicam diversos contedos, especialmente os

    relacionados com aspectos sociolgicos e histrico-culturais.

    Originalmente as roupas serviam apenas para proteger e aquecer o corpo,

    mas logo ganharam valores culturais mais fortes. A vestimenta serve para

    caracterizar um indivduo, definir seu papel, seja por ticas sociais, econmicas ou

    de gnero:

    O que a roupa representa no pode ser dito apenas por palavras, existeuma importncia no vestir, na estruturao do comportamento, como: statuseconmico, distino de sexo, idade e meio social em que o indivduo est

    inserido. (RASLAN e DORNELLES, 2010, p. 54).

    Barnard (2003) apresenta a teoria de que a indumentria atua no desejo de

    pertencimento do ser humano, e simultaneamente no desejo de afastamento ou

    individualizao. Ele explica que as pessoas parecem precisar ser ao mesmo tempo

    sociveis e individualistas, e a moda e a indumentria so formas pelas quais esse

    complexo conjunto de desejos e exigncias pode ser negociado (BARNARD, 2003,

    p. 28). Assim, da mesma maneira como as roupas unem os indivduos enquanto

    sociedade, aqueles que pertencem elite buscavam se distanciar das classes

    populares, buscando mostrar superioridade.

    A moda representada nessas primeiras publicaes era a moda da elite, da

    alta costura. Esse padro mudou nos anos 1950, na poca do ps-guerra, quando

    ocorre a popularizao do prt--porter, ou pronto para usar (LIPOVETSKY, 1989).

    A cultura da industrializao e da produo em massa fez com que as marcas

    apostassem na produo roupas em maior quantidade, buscando um pblico mais

    amplo: diferena da confeco tradicional, oprt--porterengajou-se no caminho

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    novo de produzir industrialmente roupas acessveis a todos, e ainda assim moda,

    inspiradas nas ltimas tendncias do momento (LIPOVETSKY, 1989, p. 109).

    A ascenso do jornalismo de moda se relaciona essa nova fase, pois atuou

    como plataforma de divulgao para as novas produes e acaba participando da

    democratizao da indstria, antes exclusiva para essa elite. Os ttulos

    acompanharam o desenrolar da indstria da moda e a dinmica do sistema, quando

    esta deixa de ser produzida apenas em grandes atelis e comea a despontar nas

    ruas como um produto em larga escala (HINERASKY, 2010, p. 4). As pessoas

    passam a interagir mais com a moda, principalmente atravs de revistas que traziam

    moldes de roupas. Ocorre um estreitamento na relao estilista-consumidor, como

    aponta Weidlich (2014, p. 31):Desde seus primeiros passos, o jornalismo de moda atua como umaponte entre aqueles que produzem moda e aqueles que a consomem,sendo um mediador entre os processos comunicativos e os de consumo,indo muito alm do simples ato de informar: integrando o imaginrio socialcomo o meio responsvel por traduzir os anseios da indstria, a fantasia eos artifcios da moda, a que Lipovetsky (2008) refere-se como objetos deconsumo e estilos de vida.

    Mais pessoas passam a demandar o consumo de informao de moda, o que

    culmina numa segmentao de mercado e fez com que o jornalismo de moda seconsolidasse como uma editoria, dando fora s revistas especializadas em moda

    (WEIDLICH, 2014). Essas publicaes tornam-se porta-vozes das tendncias,

    apresentando as criaes da alta-costura como referncia para o leitor consumidor

    da modaprt--porter:

    Na raiz do prt--porter, h essa democratizao ltima dos gostos damoda trazida pelos ideais individualistas, pela multiplicao das revistasfemininas e pelo cinema, mas tambm pela vontade de viver no presenteestimulada pela nova cultura hedonista de massa. A elevao do nvel de

    vida, a cultura do bem-estar, do lazer e da felicidade imediata acarretaram altima etapa da legitimao e da democratizao das paixes de moda. Ossignos efmeros e estticos da moda deixaram de aparecer, nas classespopulares, como fenmeno inacessvel reservado aos outros; tornaram-seuma exigncia de massa, um cenrio de vida decorrente de uma sociedadeque sacraliza a mudana, o prazer, as novidades. A era do prt--portercoincide com a emergncia de uma sociedade cada vez mais voltada para opresente, euforizada pelo Novo e pelo consumo. (LIPOVETSKY, 1989, p.115).

    Como j foi estabelecido, a moda est diretamente ligada a aspectos sociais,

    dentre eles as definies de gnero. Segundo Strey (2000), alguns autoresapresentam a ideia de que as vestimentas teriam como papel principal distinguir

    homens e mulheres, facilitando a reproduo. Essas distines de gnero podem

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    ser observadas at hoje desde o momento do nascimento, quando as meninas

    ganham roupas rosas e os meninos, azuis. O vestir precede comunicao verbal

    ao estabelecer uma identidade individual de gnero, assim como as expectativas

    para outros tipos de comportamento (papis sociais baseados nessa identidade)

    (STREY, 2000, p. 150).

    Na luta das mulheres pela igualdade, a moda sempre teve papel de destaque,

    dos ternos de tweed de Coco Chanel s minissaias de Mary Quant, as roupas que

    antes representavam a capacidade para a maternidade e os trabalhos do lar,

    passam a representar liberdade e empoderamento (STREY, 2000). Raslan e

    Dornelles (2010, p. 54) ainda acrescentam:

    Strey (2000) compreende que a moda se torna uma arma para a mulher,que, por dcadas, foi vtima de preconceitos. A roupa passa a ser umaaliada em seu meio cultural; a mulher adquire status e respeito de acordocom suas vestes. Como profissional, a mulher passa a focar suaapresentao principalmente na forma de vestir, o que lhe permite seradmirada por outras pessoas ou mesmo auferir confiana. A modaproporciona mulher ter uma roupa para cada momento.

    Visto que a imprensa feminina atua como um registro das movimentaes

    sociais de cada poca, foi atravs da sua expanso que a mulher se estabelece

    como consumidora no Brasil:Nos anos 50, a vinculao consumo/imprensa feminina estabelecia-se comuma intensidade progressiva, devido ao crescimento das indstriasrelacionadas mulher e a casa, ao fortalecimento do mercado interno e relativa ampliao da classe mdia. (BUTONI, 1986, p. 49),

    No incio, o que diferenciava as revistas de moda dos jornais e outras mdias

    no eram ainda as questes grficas e de formato, mas sim a linguagem e a

    maneira como o contedo era apresentado, combinando imagem e texto de maneira

    a tornar o ato da leitura mais agradvel e leve:Imagem/texto: essa, a dupla intimamente ligada dentro da revista, com maisatrao ainda se for feminina. A imagem vira texto, com sries de fotosconstruindo verdadeiras frases visuais; e o texto vira imagem quandorecorre a figuras de estilo que nos fazem visualizar a pessoa ou a cena, ousugerem emoes e sentimentos. O texto imagtico, a imagem textual: umcasamento que deu muito certo nas revistas, principalmente femininas.(BUITONI, 1986, p. 19).

    A linguagem do jornalismo de moda, e da imprensa feminina em geral, mais

    ntima e leve, principalmente no formato de revista. Historicamente as revistas

    femininas apresentavam caractersticas da literatura, at por conta das fotonovelas

    ou outras histrias que faziam parte das publicaes (BUITONI, 1986). Esse aspecto

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    literrio permaneceu no estilo de texto presente nas revistas, que costumam ter mais

    espao para reportagens mais elaboradas, sem tanta nfase na notcia nua e crua

    (SCALZO, 2014). O texto de moda deve ser interessante, como explica Joffily

    (1991), deve apresentar a notcia, a novidade, seja ela um desfile, uma nova

    coleo, mas tambm deve contextualizar, deve captar a ateno do leitor. De

    maneira geral, alm de conter informaes de qualidade, exclusivas e bem

    apuradas, o texto de revista precisa de um tempero a mais (SCALZO, 2014, p. 76).

    Diferente do jornal, a revista tem a proximidade com o leitor na sua essncia:

    Revista tambm um encontro entre um editor e um leitor, um contato quese estabelece, um fio invisvel que une um grupo de pessoas e, nessesentido, ajuda a construir identidade, ou seja, cria identificaes, dsensao de pertencer a um determinado grupo. (SCALZO, 2014, p. 12).

    Revistas so mais do que simples plataformas de informao, so uma

    mistura de jornalismo e entretenimento, uma marca que precisa manter uma relao

    direta com seus leitores, precisa ouvi-los (SCALZO, 2014). Por ter como pano de

    fundo uma editoria especfica, a revista de moda deve ter sempre em mente o seu

    pblico, o seu leitor e o que ele quer encontrar dentro de cada edio. Por conta

    disso, surge uma espcie de lao entre o leitor e a marca, pois ele sabe o que

    esperar, sabe que o contedo que vai encontrar nas pginas pensado para ele:Revista relacionamento. Boas revistas como nenhum outro meio estabelecem um clima de intimidade e amizade, inspiram lealdade e afeto.Quando o relacionamento existe, o leitor inevitavelmente responde, e muitasvezes apaixonadamente. Se, ao contrrio, houver um distanciamento, ele seafasta. Sem vnculo no h revista. (ALI, 2009, p. 32).

    Entende-se que o trabalho e o sucesso de uma revista dependem em grande

    parte da sua relao com os leitores, buscando entender o que eles desejam. Por

    esta tica, importante observar que o leitor muda, o contexto em que est inseridomuda e a sociedade est em constante evoluo. Portanto, as publicaes devem

    estar sempre atentas a essas mudanas, sejam elas comportamentais ou

    tecnolgicas, como destaca Ali (2009, p. 33):

    Finalmente, preciso acompanhar os leitores. Eles mudam, suasnecessidades mudam, a tecnologia muda a comunicao e a vida dosleitores muda cada vez mais rpido. A equipe que vive fechada na redao,olhando para o prprio umbigo, processando informao, fixada nosfechamentos, corre o risco de perder contato com a realidade.

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    Como j foi evidenciado por Buitoni (1986), to importante quanto as palavras

    so as imagens no jornalismo de moda. A palavra imagem bastante abrangente

    e engloba diversos tipos de imagens:

    Compreendemos que ela designa algo que, embora no remetendo semprepara o visvel, toma de emprstimo alguns traos ao visual e, em todo ocaso, depende da produo de um sujeito: imaginria ou concreta, aimagem passa por algum, que a produz ou a reconhece. (JOLY, 1999, p.13.)

    Apesar do carter amplo, para esta pesquisa, entende-se imagem como

    representaes concretas e estticas, incluindo fotografias e ilustraes, e usa-se os

    termos imagem e fotografia para se referir aos mesmos elementos visuais

    encontrados nas revistas. Antes mesmo das primeiras publicaes citadas no inciodo captulo, no sculo XVI j surgiam as primeiras ilustraes de moda, elementos

    precursores na informao deste segmento (WEIDLICH, 2014). Os desenhos em

    aquarela eram usados para representar vestimentas da elite, seus diferentes

    sapatos, acessrios e penteados que os distinguiam das outras classes. Como

    destaca Weidlich (2014, p. 27), as ilustraes de moda constituam-se em

    elementos importantes na disseminao de conceitos de estilo de um lugar para o

    outro e revelavam as caractersticas hierrquicas da moda naquela poca.Com a evoluo da tecnologia, as ilustraes deram lugar fotografia de

    moda, que ganha fora principalmente pelo fato de que a plataforma escolhida pelo

    jornalismo de moda foi a revista, quando algum olha para uma pgina de revista, a

    primeira coisa que v so as fotografias. Antes de ler qualquer palavra, a fotografia

    que vai prend-lo quela pgina ou no (SCALZO, 2014, p. 69). Em relao ao

    poder da fotografia na revista, Ali (2009, p. 166) destaca:

    Fotos associadas a palavras so imbatveis em poder de comunicao.

    Mais que um recurso esttico, so um componente bsico do quecaracteriza uma revista e parte do processo de edio com uma importantefuno: fazer o leitor parar e despertar sua curiosidade para o texto.Grandes fotos de revistas espelham o nosso mundo, so memorveis, nosconvidam a olhar novamente, ver novamente e fazer novas descobertas. Oque faz uma foto irresistvel? O interesse do leitor. De alguma forma, a fotochama a sua ateno quando tem relevncia para ele pessoalmente. Umafoto pode falar ou simplesmente ficar muda. Se falar, o leitor vai ouvir.

    A revista americana Vogue foi a primeira a utilizar fotografias para ilustrar as

    reportagens, em 1892. A ligao com a elite e a alta costura influenciou as primeiras

    produes fotogrficas de moda, as imagens remetiam ao luxo e as poses das

    modelos lembravam as pinturas renascentistas (SOUZA e CUSTDIO, 2005). Com

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    as mudanas na sociedade, assim como ocorreu com a moda em si e as

    publicaes especializadas, a fotografia de moda sofreu mudanas:

    As exigncias impostas aos fotgrafos foram se tornando progressivamente

    mais maleveis e a representao fotogrfica de moda foi mudando nomesmo passo das mudanas scio-culturais, tornando-se, indiretamente,seu fiel registro. A fotografia comeou a pr em primeiro plano a descriode comportamentos e de looks da moda. A fotografia avanou nainvestigao de novas tcnicas e novas linguagens, buscando sempre seafastar da esttica clssica. (SOUZA e CUSTDIO, 2005, p. 240).

    Mais do que apenas gravuras com funo ilustrativa, que tornam a publicao

    mais interessante, as fotografias carregam um significado dentro das revistas de

    moda. Elas buscam despertar sentimentos de identificao ou de desejo nos

    leitores:A imprensa feminina desenvolveu uma conduta em relao credibilidadeda foto bastante diferente da imprensa em geral. Nos peridicos para amulher, as fotos de pessoas que possam ser individualizadas, seja a artistafamosa ou a me de famlia, buscam documentar a realidade. Porm, asfotos de moda, beleza e decorao so percebidas antes como fantasia,corporificao de um ideal a ser imitado. (BUITONI, 1986, p. 19).

    Como ferramenta da imprensa, a fotografia acompanhou o processo de

    evoluo da sociedade, se consolidando como documento histrico devido a sua

    objetividade e preciso (SOUZA e CUSTDIO, 2005). Marra (2008) apresenta a

    fotografia de moda como mdia que assume um papel de representao da

    realidade, bem como uma verso da prpria realidade da moda. Partindo dessas

    ideias, o autor faz uma analogia:

    O espelho, como emblema da imagem, faz pensar na fotografia comorepresentao de alguma coisa, enquanto a referncia memria introduzuma tenso conceitual diferente: mais do que representao do real, deixaentrever a hiptese de que, de fato, o real seja conservado e exibidodiretamente, se bem que de maneira virtual. (MARRA, 2008, p. 48).

    Percebe-se que as fotografias na imprensa de moda carregam um simbolismo

    muito forte. A imagem um signo, carrega um significado e, portanto, tm poder de

    persuaso e controle do pblico consumidor (SOUZA e CUSTDIO, 2005, p. 239).

    Visto que a moda e o consumo andam lado a lado, a fotografia ajuda a despertar o

    desejo de consumo no pblico, mais do que documento de moda, torna-se um,

    veculo promocional e espetculo da moda (PIGNOTTI, 1987 apud MARRA, 2008,

    p. 59).

    A partir da caracterizao do jornalismo de moda, entende-se que o que faz

    uma publicao de moda o dilogo entre o texto e a imagem (JOFFILY, 1991). O

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    carter pessoal, ntimo e sedutor da imprensa feminina se destaca nas publicaes

    e o que diferencia da imprensa em geral.

    A partir da caracterizao da imprensa de moda e seu panorama histrico, no

    prximo tpico sero observadas as caractersticas das coberturas de desfiles e

    eventos de moda, parte importante desse segmento do jornalismo. Visto que o

    objeto de estudo do trabalho ir analisar a cobertura de um evento de moda,

    importante entender o que caracteriza essas coberturas.

    2.2 AS FASHION WEEKS E A COBERTURA DE EVENTOS DE MODA EM

    REVISTA

    Uma das fortes caractersticas da indstria da moda a atualidade, a

    renovao, ela gira em torno da novidade. Lipovetsky (1989) aponta a moda como

    parte da indstria cultural, uma cultura de massa baseada na renovao constante e

    acelerada: A uma indstria cultural que se organiza sob o princpio soberano da

    novidade corresponde um consumo excepcionalmente instvel (LIPOVETSKY,

    1989, p. 205). A moda se renova constantemente, as tendncias deste ms podem

    no ser as mesmas do prximo e as produes dos estilistas esto sempre umatemporada a frente. Buitoni (1986, p. 13) aponta que:

    A pedra de toque da imprensa feminina a novidade. A fim de parecersempre atual, usa-se o novo. O atual pressupe uma relao de presenaefetiva no mundo histrico. O atual pode ser descoberto ou estimulado, masno pode ser criado. O atual precisa ter uma relao concreta com osacontecimentos, mesmo que apenas latente.

    Como foi visto no tpico anterior, o crescimento da indstria da moda na

    esfera popular esteve relacionado diretamente com o consumo e o aumento do

    poder aquisitivo da populao. Portanto, a questo da constante atualizao dessa

    indstria um reflexo dessa necessidade de consumo, pois estimula o interesse do

    consumidor:

    A lgica econmica realmente varreu todo ideal de permanncia, a regrado efmero que governa a produo e o consumo dos objetos. Doravante, atemporalidade curta da moda fagocitou o universo da mercadoria,metamorfoseado, desde a Segunda Guerra Mundial, por um processo derenovao e de obsolescncia programada propcio a revigorar sempremais o consumo. (LIPOVETSKY, 1989, p. 160).

    A economia da moda constituda a partir de prospeces de tendncias

    (SOUSA, GOMES e CAMPOS, 2013), e a partir desta lgica da atualizao surgem

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    Borges e na poca levava o nome de Morumbi Fashion Brasil. A proposta do evento

    era proporcionar visibilidade a jovens talentos da moda (PANSARELLA, 2013, p.

    41). Michetti (2012) esclarece, atravs de entrevistas com o prprio Paulo Borges,

    que o objetivo do evento era criar um calendrio oficial da moda brasileira, ou seja,

    unificar o mercado nacional.

    Com esse avano da indstria nacional, a imprensa de moda brasileira passa

    a se pautar pela semana de moda, consolidando ainda mais a editoria de moda em

    revistas e jornais (HINERASKY 2010), trabalhando com o aspecto da novidade.

    Como j foi apresentado, a mdia tradicionalmente usada por veculos de

    moda a revista impressa, normalmente com edies mensais. Considerando essa

    caracterstica, poderia se dizer que o modelo de periodicidade das revistas de modano ideal para uma cobertura somente factual de um evento de moda como o

    SPFW, quando o objetivo apenas reportar o acontecimento. A notcia na revista se

    distancia muito mais do tempo real do que outras mdias como a televiso, o rdio e

    principalmente a internet. Scalzo (2014, p. 41) explica que a informao de uma

    revista deve durar mais nas mos do leitor:

    No d para imaginar uma revista semanal de informaes que se limite aapresentar ao leitor, no domingo, um mero resumo do que ele j viu e reviu

    durante a semana. sempre necessrio explorar novos ngulos, buscarnotcias exclusivas, ajustar o foco para aquilo que se deseja saber,conforme o leitor de cada publicao. Nas redaes de jornais ou detelejornais, quando acontece um terremoto, por exemplo, tudo treme. preciso correr e dar a notcia em cima da hora. Nas revistas, a redao notreme. Ou treme bem menos. Se for para falar do terremoto, sernecessrio descobrir o que ningum sabe sobre ele, explic-lo de formadiferente.

    No caso do jornalismo de moda, provvel que uma revista s consiga

    publicar contedo sobre uma fashion week no ms seguinte ao acontecimento,

    perdendo o fator novidade, to essencial na editoria. Esse questionamento fica ainda

    mais presente com o surgimento das tecnologias digitais e do jornalismo online e

    mvel, que abrem portas para novos tipos de comunicao. Como identifica Weidlich

    (2014, p. 20):

    Tambm, a informao pulverizou-se de maneira nunca antes vista,atravs dos canais inaugurados pelo processo de convergncia dacomunicao via redes (JENKINS, 2011). Assim, muitas das prticas queenvolvem o sistema da moda passaram por mudanas significativas, acomear pelo modo como a informao produzida/divulgada.

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    As novas tecnologias provocam uma mudana na maneira como a informao

    de moda e o jornalismo como um todo divulgado e consumido. O prximo captulo

    buscar entender quais os efeitos do digital na comunicao, observando

    principalmente as caractersticas do jornalismo mvel e das redes sociais.

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    3 JORNALISMO, MOBILIDADE E REDES SOCIAIS

    Aps analisar as caractersticas do jornalismo de moda no captulo anterior,

    este captulo ir abordar as mudanas causadas pela introduo do digital no

    jornalismo. Ser realizada uma breve apresentao da evoluo do webjornalismo,

    de maneira a introduzir a fase atual do jornalismo mvel, observando suas

    caractersticas de formato e linguagem. Sero analisadas as caractersticas e o

    papel das redes sociais no consumo de informao, em especial o Instagram.

    necessria essa reviso do papel do jornalismo mvel e das redes sociais para

    compreender como essas inovaes podem influenciar o contedo jornalstico de

    uma publicao impressa, neste caso a Elle Brasil.

    3.1 O CONSUMO DE INFORMAO MVEL

    Foi no incio da dcada de 90 que os meios digitais passam a integrar o

    cotidiano da sociedade, pois com o desenvolvimento da web, as tecnologias que

    envolvem a Internet passam a ser acessveis tanto econmica quanto tecnicamente

    para a sociedade em geral (MIELNICZUK, 2003, p. 20). Essa integrao com asociedade tambm provoca mudanas no jornalismo. Mielniczuk define que na

    primeira gerao do webjornalismo no existia um aproveitamento dos atributos da

    web e os contedos publicados eram cpias quase idnticas dos contedos

    impressos, no caso de jornais. Na segunda gerao, denominada pela autora de

    fase da metfora, as publicaes para a web comeam a explorar as

    potencialidades do novo ambiente (MIELNICZUK, 2003, p. 34). Na terceira fase,

    possvel observar tentativas de, efetivamente, explorar e aplicar as potencialidadesoferecidas pela web para fins jornalsticos (MIELNICZUK, 2003, p. 36).

    Ainda sobre a terceira fase, a autora destaca:

    Este terceiro e atual momento corresponde a um estgio mais avanado detoda uma infra-estrutura tcnica relativa s redes telemticas, bem comocorresponde a um momento de expanso da base instalada e ao aumentodo nmero de usurios. Houve alm uma evoluo tcnica que permite atransmisso mais rpida de sons e imagens, o crescimento do nmero deusurios, o que justifica investimentos no setor. (Mielniczuk, 2003, p. 39).

    Barbosa (2013) j fala de uma quarta e quinta fase do webjornalismo. Para aquarta fase, a autora aponta as bases de dados como elementos estruturantes do

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    jornalismo, criando um padro dinmico que contrasta com os padres estticos das

    fases anteriores. J no contexto da quinta fase, Barbosa (2013, p. 42) afirma que as

    mdias mveis, especialmente smartphones e tablets, so os novos agentes que

    reconfiguram a produo, a publicao, a distribuio, a circulao, a recirculao, o

    consumo e a recepo de contedos jornalsticos em multiplataformas.

    Esse novo acesso da sociedade a tecnologia e a informao em grande

    escala exigiu que os meios de comunicao repensassem a maneira como

    produzem contedo, de maneira a acompanhar as mudanas sociais. A notcia

    deixou de estar apenas no papel ou apenas no digital, para estar simultaneamente

    em diversas plataformas. Conforme Jenkins, (2009, p. 30): a convergncia no

    ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. Aconvergncia ocorre dentro dos crebros de consumidores individuais e em suas

    interaes sociais com outros. O autor afirma ainda que a convergncia representa

    uma transformao cultural, medida que consumidores so incentivados a

    procurar novas informaes e fazer conexes em meio a contedos de mdia

    dispersos (JENKINS, 2009, p. 29).

    A partir das ideias de Jenkins (2009), Barbosa (2013, p. 34) define que

    A cultura contempornea em si a da convergncia. Ela modifica asrelaes no apenas entre tecnologias existentes, mas entre indstrias,mercados, gneros, audincias e consumo dos meios. E, para o que nosimporta diretamente, a convergncia promove a reconfigurao dos meios,o redesenho da sua esttica e da sua economia.

    Todas essas mudanas culturais que influenciaram a maneira como a

    sociedade busca informao, aliadas s evolues na tecnologia e popularizao

    dos smartphones, tablets e outros dispositivos mveis conectados Internet,

    proporcionaram a ascenso do jornalismo mvel. Segundo a pesquisa Mobile

    Report, realizada pela Nielsen Ibope, 68,4 milhes de brasileiros acessam a Internet

    pelos seus smartphones. Deste nmero, 40% afirmaram usar o aparelho para

    acessar notcias. Como elementos da rotina diria, tecnologias sem fio,

    especialmente o telefone mvel, so percebidas como instrumentos essenciais da

    vida contempornea (CASTELLS et al., 2007, p.77, traduo nossa).

    Os dispositivos mveis como smartphones e tabletssubstituem o desktop e

    os usurios desses aparelhos acabam por preferir o consumo de informao em

    movimento a outras plataformas (SILVA, 2015). De uma maneira geral, o

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    crescimento da comunicao mvel gerou uma nova relao do consumidor com a

    notcia:

    A mobilidade do consumidor de informaes passa a ser um aspecto a

    considerar porque este demanda atualizaes mais constantes,pressionando a produo do local ou sistemas de alerta instantneos comoos de redes sociais mveis a exemplo do Twitter, Facebook e Instagram.(SILVA, 2015, p. 13)

    Como foi apontado por Jenkins (2009), o processo de transio da

    comunicao para a mobilidade foi causada por pessoas, por mudanas sociais que

    exigiram essa adaptao. A partir disso, importante identificar que existe um novo

    tipo de leitor que consome jornalismo mvel, um leitor mvel e imersivo

    (SANTAELLA, 2004). Antes do digital, o leitor era contemplativo, seguia uma leiturasequencial e pr-definida, era uma atividade de leitores sentados e imveis, em

    abandono, desprendidos das circunstncias externas (SANTAELLA, 2004, p. 23).

    Agora o leitor imersivo, est em movimento e se relaciona diretamente com a

    informao, o leitor da hipermdia. A autora explica que:

    No mais tampouco um leitor contemplativo que segue as sequencias deum texto, virando pginas, manuseando volumes, percorrendo com passoslentos a biblioteca, mas um leitor em estado de prontido, conectando-seentre ns e nexos, num roteiro multilinear, multissequencial e labirntico que

    ele prprio ajudou a construir ao interagir com os ns entre palavras,imagens, documentao, msicas, vdeo, etc. (SANTAELLA, 2004, p 33).

    A hipermdia, apontada pela autora, se caracteriza por uma rede de

    informaes dentro do meio digital, formada por imagens, textos, sons e qualquer

    outro tipo de dado, por onde o leitor navega livremente, sem nenhum tipo de roteiro.

    Pela viso da autora, a hipermdia no feita para ser lida do comeo ao fim, mas

    sim atravs de buscas, descobertas e escolhas (SANTAELLA, 2004, p. 50).

    O leitor da hipermdia precisou se adaptar a essa nova maneira de acessarinformao que rene infinitos contedos em um s local. Para Ferrari (2014, p. 91):

    O que pretendemos acatar, sem questionamento, a mudana decomportamento, sem precedentes, que a mdia digital, nascida graas aosavanos tecnolgicos e solidificao da sociedade miditica, atingiu oindivduo digital um nico ser com suas preferncias editoriais e vontadesconsumistas. Este receptor de contedo informativo, um cidado quecresceu jogando videogame e interagindo com o mundo eletrnico,consegue consumir o que lhe cabe na montanha de textos, imagens, sons evdeos que poluem e s vezes at atrapalham a leitura.

    Diferente do leitor contemplativo, que ia at a informao em uma biblioteca

    ou algum outro local, hoje a informao e a rede envolve o leitor de forma

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    onipresente e constante (LEMOS, 2005). Para Pellanda (2005) essa caracterstica

    always on intensifica a necessidade do ser humano de estar conectado

    constantemente a rede e a outras pessoas. No mais necessrio se locomover

    para um local especfico, pois a informao est em todo lugar. Pode-se dizer que o

    leitor imersivo ganhou maior autonomia e liberdade ao consumir informao,

    escolhendo o caminho que prefere percorrer e qual o momento e local mais propcio

    para esse consumo. Para Lemos (2005, p. 15):

    A internet fixa mostrou o potencial agregador das tecnologias decomunicao. Agora a internet mvel est aproximando o homem do desejode ubiqidade fazendo emergir uma nova cultura telemtica, com novasformas de consumo de informao e com novas prticas de sociabilidade.

    Existe ainda um leitor ubquo, que deriva do leitor imersivo. Esse leitor ubquo

    surge com o desenvolvimento das tecnologias mveis. um leitor que se desloca e

    que est sempre presente no espao fsico e no digital:

    A ateno irremediavelmente uma ateno parcial contnua. Quer dizer, aateno responde ao mesmo tempo a distintos focos sem se demorarreflexivamente em nenhum deles. Ela continuamente parcial. Esse operfil cognitivo do leitor ubquo. (SANTAELLA, 2013, p. 22)

    O leitor ubquo se fortalece dentro das redes sociais, plataformas baseadas

    na conectividade e na sociabilidade, caractersticas que sero exploradas no

    prximo tpico. Santaella (2013, p. 220) afirma que o fervilhamento das redes deve-

    se grandemente aos equipamentos mveis, pois a consulta, postagem e

    participao do usurio podem ser feitas a partir deles, e nesse contexto de

    mobilidade e onipresena que o leitor imersivo se transforma no leitor ubquo.

    importante ressaltar, porm, que todos os quatro leitores apresentados por Santaella

    (2013) no existem isoladamente, e sim combinam suas caractersticas dentro de

    um mesmo leitor. Assim, o leitor ubquo nada mais do que a evoluo de todos os

    leitores: o que estou chamando de leitor ubquo no outra coisa a no ser uma

    expanso inclusiva dos perfis cognitivos dos leitores que o precederam e que ele

    tem por tarefa manter vivos e ativos (SANTAELLA, 2013, p. 227).

    So os leitores que definem como a informao ser consumida e os seus

    desejos e preferncias afetam tanto a maneira como ela distribuda, como a

    maneira como ela produzida. Em relao a essa demanda, Castells et al. (2007, p.

    246, traduo nossa) define que: Isso significa que os usos da comunicao sem fio

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    so fundamentalmente modelados e modificados por pessoas e organizaes, de

    acordo com seus interesses, valores, hbitos e projetos.

    Diferente de outras inovaes da comunicao, como a imprensa ou a

    fotografia, essa revoluo da nova mdia2, termo usado por Manovich (2001), afeta

    quase todos os estgios da comunicao produo, consumo, manipulao,

    distribuio e armazenamento. Houve uma troca de papis na mdia, como destaca

    Canavilhas (2012), que fez com que os meios procurassem e atrassem os

    consumidores, chamado pelo autor de sistemapush, e no o contrrio, denominado

    sistema pull. A comunicao passa a ser individualizada e personalizvel, o

    ecossistema meditico entrou numa nova era caracterizada pelo consumo individual

    e mvel onde o consumidor e a plataforma de recepo tomam esse lugar dedestaque (CANAVILHAS, 2012, p. 7). Por conta dessas mudanas no perfil do leitor

    e na maneira como ele consome notcias, surgiram novas linguagens e formatos que

    acompanham essas mudanas e tornam o jornalismo mvel mais atraente e

    funcional:

    Verificou-se o aparecimento de contedos hipermultimediticos e imersivos(infografias interativas, as reportagens multimdia, serious games etc),registrando-se ainda uma acelerao geral na velocidade da informao emcirculao: as notcias de ltima hora, muitas vezes distribudas por SMS ou

    alertas, permitem que o leitor esteja permanentemente ligado suarealidade prxima pela possibilidade de receber quase de imediato relatosnoticiosos pouco elaborados e que, por isso mesmo, podem ser distribudosquase em simultneo com a ocorrncia do acontecimento. (CANAVILHAS,2012, p. 7).

    As plataformas mveis dialogam com a convergncia miditica, e essa

    relao permite maior liberdade no uso de recursos de linguagem jornalstica. Alm

    da caracterstica porttil e ubqua, os smartphones oferecem multimedialidade, a

    hipertextualidade e a interatividade facilitada por altos nveis de usabilidade(CANAVILHAS, 2012, p. 9). Hipertextualidade e interatividade so caractersticas

    fundamentais do jornalismo para plataformas mveis, pois permitem que esse novo

    tipo de leitor imersivo ou ubquo navegue livremente pela web em busca de

    informao:

    A possibilidade de ligar blocos de informao atravs de links permite aoutilizador fazer um consumo noticioso personalizado com um simples toqueno monitor do dispositivo. Este poder que o utilizador tem para desencadearuma determinada ao na plataforma a interatividade outra

    caracterstica fundamental. (CANAVILHAS, 2012, p. 10)

    2 Manovich (2001) entende que a nova mdia engloba no somente a informao distribuda porcomputador, mas tambm informao produzida ou armazenada em computador.

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    Ferrari (2014, p. 78) afirma que as novas formas de narrativas jornalsticas

    feitas para Internet, todas baseadas em diferentes tipos de leitura, geram um novo

    olhar para o jornalismo do sculo XXI. A autora explica que a recente indstria da

    internet comeou a preencher seus espaos em branco com imagens, dispostas em

    telas, com contedo, servios, comunidades, blogs e muitos outros petiscos para o

    leitor (FERRARI, 2014, p. 40).

    Uma das grandes mudanas que a comunicao mvel digital trouxe foi o

    desprendimento da plataforma. Deixa de existir uma obrigao na maneira de

    transmitir informao devido ao tipo de mdia utilizado, por exemplo, a limitao de

    texto e foto para mdias impressas como jornais e revistas. Por esta tica, identifica-se que a forma de distribuio e de armazenamento so independentes,

    multimodais, onde a escolha em obter uma informao sob a forma textual,

    imagtica ou sonora independente do modo pelo qual ela transmitida (LEMOS,

    2002, p. 69).

    A mdia deve pensar o contedo jornalstico especificamente para dispositivos

    mveis e adaptando esse contedo, tornando-o mais atraente e funcional para os

    consumidores (NATANSOHN e CUNHA, 2010; NUNES e SILVA, 2012).Comparando com o modelo narrativo das mdias impressas, Ferrari (2014, P. 23)

    aponta que:

    O fazer jornalstico virou de cabea para baixo com a edio multimdiaaliada interao com o usurio, que hoje virou protagonista. A narrativa

    jornalstica no ambiente digital tem a seu favor os elementos hipermiditicos(udio, vdeo, interao) que garantem uma imerso ldica no fato narrado.No caso do impresso estamos em desvantagem em relao s plataformasmultiformes, por isso necessitamos de uma boa histria, de elementos noficcionais cobertos de vestimenta literria. No tem outra forma de sucessopara os jornais.

    Percebe-se que a conquista da ateno do leitor se tornou mais complexa

    com a predominncia das mdias mveis, da interatividade e da ubiquidade. No

    basta apenas entrar um texto com uma foto para o leitor, preciso engajar e tornar a

    experincia interessante e dinmica.

    Para Castells et al. (2007), o que ocorreu foi o surgimento de uma nova

    linguagem da comunicao mvel, visto que ela est inserida na realidade da

    sociedade e se espalha diariamente. Segundo ele:Essa a principal maneira como a evoluo tecnolgica age como um fatorde mudana cultural e comportamental na sociedade mvel. Nesse sentido,

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    a linguagem oral e escrita usada em comunicao mvel, alm de outrasformas de expresso, como os smiley, refletem essa transformao. Porlinguagem, nesse contexto, nos referimos no somente a linguagem textualou verbal, mas todos os cdigos e formas de expresso que so utilizadasem um sistema sem fio multimodal. exatamente a natureza multimodal da

    comunicao sem fio, incluindo sua habilidade de recombinar modos em ummesmo processo de comunicao, que cria a nova linguagem alinguagem do hipertexto mvel. (CASTELLS et al., 2007, p. 179, traduonossa).

    Como foi identificado atravs das ideias de Castells (2007), Jenkins (2009) e

    Santaella (2004), as pessoas desenvolveram uma nova relao com a tecnologia e

    por isso a lgica do consumo de informaes na era do digital e da mobilidade

    mudou. O leitor demanda informao mais ubqua e multimdia, fazendo com que os

    jornalistas procurem usufruir de todos os recursos das plataformas mveis digitais.As redes sociais dialogam com esse contexto de mudanas no cenrio do jornalismo

    mvel e o foco deste trabalho est principalmente nesta relao das redes sociais na

    internet com a mobilidade. As redes sociais so plataformas distintas e apresentam

    peculiaridades e caractersticas prprias que sero analisadas no prximo tpico,

    em especial o Instagram, visto que ele compe o objeto de estudo da pesquisa.

    3.2 AS REDES SOCIAIS COMO FONTE DE INFORMAO E O INSTAGRAM

    Desde seu surgimento, a Internet representou a possibilidade de interaes e

    relaes entre indivduos prximos ou distantes geograficamente. As redes sociais

    intensificaram ainda mais essas relaes, pois se caracterizam pela interao entre

    pessoas dentro da plataforma, compartilhando informaes em seus perfis pessoais.

    No mbito do jornalismo mvel, as redes sociais tm se tornado cada vez mais

    relevantes. Segundo o Mobile Report (NIELSEN, 2015), 42% dos usurios desmartphonesno Brasil utilizam redes sociais para acessar notcias.

    Conceitualmente, uma rede social formada por dois elementos: os atores

    (ns) e suas conexes (laos sociais) (RECUERO, 2009). Os atores so as

    pessoas, indivduos ou grupos, que formam os ns da rede. No meio digital, esses

    atores so representados por perfis dentro das redes, suas identidades no

    ciberespao. As conexes de uma rede so estabelecidas atravs das interaes

    entre atores. Por interao, entende-se qualquer ao que tenha um reflexo

    comunicativo (RECUERO, 2009). Esse ser o conceito de redes sociais adotado

    para o desenvolvimento deste trabalho.

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    O objeto de pesquisa escolhido foi o Instagram, rede social criada em outubro

    de 2010 com a proposta de ser uma plataforma de compartilhamento de imagens.

    Ele j surge como uma rede social mvel, ou seja, disponvel somente para

    smarthphones iOS e Android, permitindo que os usurios capturem imagens com as

    cmeras embutidas nos aparelhos, adicionem filtros que reproduzem efeitos de

    cmeras analgicas, e ento as compartilhem na rede. Cada usurio possui um

    perfil pessoal (ns), onde todas as suas imagens so exibidas, bem como suas

    informaes pessoais. Uma vez cadastrado no aplicativo, o usurio pode seguir

    outros perfis (conexes), criando uma linha do tempo pessoal de imagens prprias

    ou de suas conexes, as quais podem receber curtidas ou comentrios. O Instagram

    tambm permite que usurios troquem mensagens privadas entre si em forma detexto ou de imagens. Alm disso, o aplicativo faz sugestes de fotos ou perfis

    populares que podem ser de interesse do usurio.

    A partir da definio de Recuero (2009), entende-se que a base das redes

    sociais so as interaes, que podem apresentar caractersticas distintas em

    diferentes situaes. Partindo das ideias de Primo (2000), dois tipos de interaes

    podem ser encontrados nas redes: interao de natureza reativa ou de natureza

    mtua. O autor prope que a interao mtua se caracteriza como um sistemaaberto, enquanto a interao reativa se caracteriza como um sistema fechado

    (PRIMO, 2000, p. 7). Ele argumenta que uma interao mtua oferece total

    liberdade para todas as partes envolvidas, ocorre uma troca direta, um ator pode

    influenciar o comportamento do outro e ter seu comportamento influenciado

    simultaneamente. J a interao reativa se baseia em uma srie de aes pr-

    definidas que afetam apenas um dos atores, se baseia no sistema de ao e reao.

    Por essa definio, a interao reativa aquela que ocorre quando o atorinterage com um hiperlink ou uma hashtag3, visto que um tipo de interao entre o

    ator e o sistema fechado da rede social que j foi pr-programado. Recuero (2009,

    p. 33) explica que:

    Ao agente permitida, de um modo geral, apenas a deciso entre clicar ouno o link. Ele no pode definir a URL para onde este link aponta, tampoucopode escolher para onde deseja ir a partir daquele link. Trata-se de umvetor unidirecional, criado por algum, que permite ao usurio unicamenteir ou no ao site para onde ele aponta.

    3As hashtags surgiram dentro da rede Twitter e se caracterizam por palavras ou abreviaesantecedidas pelo smbolo #, e so usadas para identificar o contedo de uma publicao ou paraalcanar seu pblico-alvo (EFRON, 2010).

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    J a interao mtua pode ser representada pela troca de comentrios em

    uma postagem ou um chat. importante ressaltar que uma mesma rede social pode

    apresentar simultaneamente interaes mtuas e reativas, em diferentes nveis. No

    caso no Instagram, o ato de seguir um usurio, dentro das configuraes padres da

    rede 4 , representa uma interao reativa, enquanto a troca de comentrios ou

    mensagens se caracteriza como uma interao mtua.

    Sabendo os tipos de interao, Recuero (2009) aponta dois tipos de redes

    sociais na Internet: as redes emergentes, menores e caracterizadas principalmente

    por relaes mtuas, e as redes de filiao ou associativas, maiores e formadas por

    interaes reativas. Para este trabalho, nos interessa explorar as caractersticas darede de filiao. Pela definio da autora:

    As redes sociais de filiao ou associativas na Internet so aquelasderivadas das conexes estticas entre os atores, ou seja, das interaesreativas (Primo, 2003), que possuem um impacto na rede social. So redescujas conexes so forjadas atravs dos mecanismos de associao ou defiliao dos sites de redes sociais. o caso, por exemplo, das listasde amigos no Orkut, da lista de pessoas que algum segue no Twitter, etc.(RECUERO, 2009, p. 98)

    Grande parte das redes sociais populares atualmente se classificam comoredes de filiao, como Twitter, Facebook e prprio Instagram. O ato de seguir ou

    adicionar algum sua rede comum entre quase todas as redes atuais. Esse tipo

    de interao no querer uma ao direta de ambos os atores. No Instagram, quando

    um ator segue o outro, no h garantia de que esse outro o seguir de volta, uma

    vez adicionado um indivduo, ele ali permanece independentemente da interao

    para manter o lao social (RECUERO, 2009, p. 98). Por no exigir uma grande

    atuao de cada indivduo, esse tipo de rede tende a crescer rapidamente e agregar

    mais atores. Em setembro de 2015, o Instagram atingiu a marca de 400 milhes de

    usurios no mundo todo (INSTAGRAM, 2015b). Segundo a empresa, os pases que

    mais contriburam para o crescimento da rede foram Brasil, Japo e Indonsia. Mais

    de 40 bilhes de fotos so compartilhadas diariamente no aplicativo e o perfil mais

    popular dentro da rede possui mais de 545milhes de seguidores (INSTAGRAM,

    2015c).

    4Dentro da rede Instagram, possvel alterar as configuraes bsicas para que as solicitaes deseguidores passem pela aprovao do perfil.

    5Observado pela autora em 10 nov. 2015.

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    As redes sociais na Internet so como softwares sociais (RECUERO, 2009, p.

    102), espaos que recriam as relaes sociais a partir de perfis e exposio pblica.

    Segundo a autora:

    A grande diferena entre sites de redes sociais e outras formas decomunicao mediada pelo computador o modo como permitem avisibilidade e a articulao das redes sociais, a manuteno dos laosestabelecidos no espao off-line. (RECUERO, 2009, p. 102).

    Essas relaes podem caracterizar tambm as chamadas comunidades

    virtuais, apresentadas por Rheingold (1993). Pela definio do autor:

    Comunidades virtuais so agregados sociais que surgem na Internetquando um nmero suficiente de pessoas leva adiante discusses pblicas,por um tempo suficiente e com sentimento humano suficiente, para que se

    formem redes de relaes pessoais no ciberespao. (RHEINGOLD, 1993, p.XX, traduo nossa).

    Existem quatro valores principais que se formam a partir dessas relaes nas

    redes: visibilidade, reputao, popularidade e autoridade (RECUERO, 2009). Como

    j foi citado, as redes de filiao so grandes, apresentam diversos ns e quanto

    mais laos um ator estabelecer, maior ser sua visibilidade na rede como um todo.

    J a popularidade pode ser vista como uma consequncia da visibilidade e uma

    percepo quantitativa, um n mais centralizado na rede mais popular, porque hmais pessoas conectadas a ele e, por conseguinte, esse n poder ter uma

    capacidade de influncia mais forte que os outros ns na mesma rede (RECUERO,

    2009, p. 111). Nmero de comentrios ou compartilhamentos de um contedo

    tambm servem como parmetro para medir a popularidade de um n na rede.

    De maneira geral, a interao entre indivduos que alimenta as redes sociais

    na Internet, facilitando e promovendo relaes entre diversos atores. Em relao

    informao nas redes sociais, se antes a notcia era distribuda (atravs de jornais,revistas ou rdios), com as redes sociais o contedo passa a ser compartilhado,

    posto em circulao (JENKINS, GREEN e FORD, 2014). O pblico passa a interagir

    com a informao e propag-la:

    Essa mudana de distribuio para circulao sinaliza um movimento nadireo de um modelo mais participativo de cultura, em que o pblico no mais visto como simplesmente um grupo de consumidores de mensagenspr-construdas, mas como pessoas que esto moldando, compartilhando,reconfigurando e remixando contedos de mdia de maneiras que nopoderiam ter sido imaginadas antes. (JENKINS, GREEN e FORD, 2014, p.

    24)

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    Essencialmente, as redes sociais na Internet incitaram a quebra do padro

    jornalstico emissor-receptor. Com elas, o consumidor se sente parte da ao,

    mesmo que no seja necessariamente ele quem est produzindo os contedos, os

    leitores deixaram de ser apenas espectadores e passaram a contribuir, mesmo que

    de maneira indireta, na produo de contedo, opinando, concordando ou

    discordando, com o que est sendo divulgado (SANTOS, GOMES e PELLEGRINI,

    2015, p. 2). A interatividade, tanto com o veculo como com outras pessoas que

    consomem a mesma notcia, contribui para uma a sensao de pertencimento. Sob

    esta viso, Ferrari (2014, p. 34) aponta:

    John Browning e Spencer Reiss ressaltam o carter coletivo das novastecnologias quando dizem, em referncias a Dizard, que a velha mdiadivide o mundo entre produtores e consumidores: ns somos autores ouleitores, emissoras ou telespectadores, animadores ou audincia; como sediz tecnicamente, essa a comunicao um-todos. A nova mdia, pelocontrrio, d a todos a oportunidade de falar assim como de escutar. Muitosfalam com muitos e muitos respondem de volta.

    J foi ressaltado que a hipertextualidade uma forte caracterstica das novas

    mdias e nas redes sociais ela especialmente explorada, principalmente atravs do

    uso das hashtags. Como Manovich (2001) ressalta, com a ascenso das novas

    mdias, encontrar um objeto tornou-se um problema, principalmente dentro de redesto densas e repletas de contedos. Portanto, essa nova estratgia de tagueamento

    surge para facilitar a visibilidade de notcias em rede.

    As hashtags atuam como hiperlinks dentro das redes sociais na Internet e

    funcionam como mecanismo de fichamento. Uma hashtag pode unir diversas

    postagens sobre um mesmo assunto e ao clicar no link, o leitor levado a um lista

    de notcias.

    No Instagram, ao adicionar uma hashtag a uma publicao, exibido o

    nmero de posts que j utilizaram essa tag6, alm de sugestes de outras tags

    similares. Dessa maneira possvel gerar mais visualizaes para a publicao,

    facilitando o contato com o pblico desejado. Para Ferrari (2014, p. 54), o uso das

    palavras-chave est mudando a forma de se fazer comunicao. Alm disso, os

    prprios leitores podem participar criando contedos prprios e adicionando as

    hashtags, novamente destacando o carter participativo das redes. Combinado ao

    uso delas, cada perfil de usurio representado por um smbolo @ seguido por um

    6Etiqueta ou palavra-chave em portugs.

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    nome. Essa identificao pode ser adicionada na legenda da foto ou diretamente na

    imagem atravs da funo marcar pessoas, para atuar como um hiperlink que

    redireciona o leitor para o perfil deste usurio.

    Ferrari (2014, p. 35) destaca que samos do mundo da sequencialidade para

    o mundo da associao, onde o ato de ler e clicar a pea-chave para o sucesso ou

    fracasso de um produto na Internet, seja ela um romance ou uma manchete de

    jornal. As narrativas hipertextuais dividem o poder com a audincia, o foco passa a

    ser o leitor e este tem a habilidade de espalhar a notcia e decidir como ela ser

    consumida.

    Neste mbito de compartilhamento e engajamento do pblico com a notcia,

    Jenkins, Green e Ford (2014) destacam a importncia da propagabilidade docontedo na web. Dentre as caractersticas principais de um contedo

    compartilhvel, os autores apontam a portabilidade e a possibilidade de estar

    disponvel onde e quando o pblico quiser, alm de um fluxo regular de publicaes.

    Percebe-se que essas caractersticas se traduzem muito bem para as redes sociais

    na Internet, principalmente no caso do Instagram, que, como j foi apontado, j

    surge como uma rede mvel.

    A natureza ubqua das redes se constri a partir da velocidade de acesso eatualizao, que facilitam tanto o consumo da notcia, quanto a produo em tempo

    real. Esse aspecto se destaca principalmente nas coberturas de eventos, pois a

    notcia pode ser compartilhada e consumida facilmente em tempo real, possibilitando

    que o jornalista receba feedback instantneo do pblico. Sobre a mobilidade e a

    instantaneidade, Zago (2008, p. 11) comenta:

    A possibilidade que as empresas jornalsticas tm de produzir contedos apartir de dispositivos mveis, como no caso de coberturas de eventos

    realizadas a partir de mensagens de texto ou web mvel, em tempo real, apartir do prprio local do acontecimento, fazendo com que a informaopossa ser disponibilizada ao mesmo tempo em que ocorre.

    Com as definies de Recuero (2009) e Primo (2015), entende-se que as

    redes sociais na Internet estimulam interaes entre usurios, trazendo as relaes

    j existentes para o mundo digital, bem como cultivando novas relaes que surgem

    e permanecem apenas no digital. Isso se relaciona grande popularizao das

    redes como Facebook, Twitter e Instagram entre usurios. A partir das ideias

    apresentadas no captulo, percebe-se que a mobilidade e a sociabilidade se

    encontram das redes sociais da Internet, em especial no Instagram, criando uma

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    plataforma ideal para o leitor imersivo ou ubquo que demanda informao rpida,

    constante e interativa. No prximo captulo ser realizada a comparao entre o

    digital e o impresso no caso da revista Elle Brasil, avaliando como a rede social

    Instagram afetou o contedo divulgado na revista sobre o evento de moda SPFW.

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    4 A ELLE ANTES E DEPOIS DO INSTAGRAM

    4.1 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    O objetivo geral deste trabalho investigar a influncia das redes sociais no

    jornalismo de moda. Para isso, foi adotado o mtodo de estudo de caso, descrito por

    Yin (2015). O autor define que essa metodologia guiada por questes de como

    ou porqu, perguntas elaboradas em cima de um acontecimento contemporneo

    afim de enriquecer o conhecimento sobre determinado fenmeno:

    Em resumo, um estudo de caso permite que os investigadores foquem umcaso e retenham uma perspectiva holstica e do mundo real como noestudo dos ciclos individuais da vida, o comportamento dos pequenosgrupos, os processos organizacionais e administrativos, a mudana devizinhana, o desempenho escolar, as relaes internacionais e amaturao das industrias (YIN, 2015, p. 4).

    A definio do autor tem relao com esta monografia, visto que esta busca

    analisar um fenmeno, a presena do Instagram no jornalismo de moda, e entender

    como ele se manifesta dentro de um contexto cultural. Yin (2015) tambm destaca a

    importncia da reviso de literatura para auxiliar a busca das respostas na pesquisa.

    Neste estudo, toda a reviso terica se sustentou na ideia de que as mudanas e

    evolues da imprensa e das tecnologias foram provocadas por mudanas culturais

    mais amplas, e no o contrrio. Como Jenkins (2009, p. 47) aponta, a convergncia

    um fenmeno cultural que exige que as empresas de mdia repensem antigas

    suposies sobre o que significa consumir mdias.

    A revista Elle Brasil foi escolhida como objeto de pesquisa por conta da sua

    relevncia no cenrio da imprensa feminina nacional, bem como mundial. A Elle

    surge na Frana em 1945, logo aps o trmino da Segunda Guerra Mundial. Scalzo(2014, p. 24) explica que:

    Com a inteno de restituir mulher francesa o gosto pela vida, HlneGordon-Lazareff cria Elle, uma revista feminina semanal. Depois de tantosanos de privao e sofrimento, a leitora encontrou nas pginas da Elleideias para se redescobrir, redescobrir seu pas e, principalmente, recuperarsua feminilidade com pouco dinheiro.

    Atualmente a Elle possu 46 edies presentes em mais de 60 pases e mais

    de 21 milhes de leitores no mundo todo, de acordo com o Elle International Network(ELLE MAGAZINE, 2015). A publicao chegou no Brasil em 1988, sexto pas a

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    ganhar uma edio internacional. H 27 anos no pas, hoje a Elle conta com uma

    tiragem mensal de 92.472 (PUBLIABRIL, 2015c).

    Seguindo o estilo de publicao das revistas femininas, a Elle construiu uma

    relao prxima com as suas leitoras. Diferente de outras revistas mais tradicionais,

    Hlne no criou uma revista para a elite, mas sim uma revista para a mulher jovem

    de classe mdia em um pas afetado pela guerra:

    Com uma frmula original, desenvolveu um jeito especial de transpor asideias da alta-costura francesa para roupas de preo acessvel, umaespcie de ponte entre o que havia de mais caro, bonito e elegante namoda francesa e o modesto oramento da jovem que trabalhava nosescritrios, lojas e restaurantes. Seu lema: pouco dinheiro, muito charme ebom gosto (ALI, 2009, p. 361).

    Outro fator que influenciou a escolha da revista Elle Brasil como objeto de

    estudo foi sua forte presena no ambiente digital, indo alm do impresso. Ela foi a

    primeira revista de moda brasileira a oferecer uma verso para tablet, contabiliza

    mais de 900 mil visitas no site oficial e est presente em diversas redes sociais

    como Facebook, Twitter, YouTube e Instagram (PUBLIABRIL, 2015b).

    A partir dessas constataes, entende-se que a revista Elle uma publicao

    relevante e com presena significativa no Brasil e que sempre se mostrou em

    grande sintonia com seus leitores, portanto, possvel identificar as mudanas

    editoriais na revista, causadas pela evoluo cultural do pblico.

    Para a realizao da anlise, foi determinado um recorte dentro do objeto Elle

    Brasil, uma unidade de anlise, como denomina Yin (2015). Essa unidade foi a

    cobertura feita pela Elle durante a semana de moda SPFW primavera/vero 2015. A

    limitao da amostra foi definida a partir do significado que o SPFW carrega dentro

    da indstria da moda, representando as noes de atualidade e efemeridade

    apresentadas no primeiro captulo, atravs das ideias de Lipovetsky (1989). Por sero maior evento de moda do Brasil, as coberturas de SPFW costumam ganhar maior

    espao dentro de publicaes de moda. Alm disso, como identifica Hinerasky

    (2010), foi a partir da definio de um calendrio de moda oficial, que inclui tanto o

    SPFW como outras semanas de moda espalhadas pelo pas, que especialidade de

    moda dentro do jornalismo ganhou fora no Brasil.

    Como foi visto no segundo captulo, com as falas de Jenkins (2009), Santaella

    (2004) e Ferrari (2014), a mobilidade e o surgimento de um novo leitor imersivo ou,ainda, ubquo, que utiliza a internet e as redes sociais como fonte de informao

  • 7/24/2019 A influncia das redes sociais no jornalismo de moda: uma anlise da revista Elle antes e depois do Instagram

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    fizeram com que os veculos repensassem a maneira como produzem e distribuem

    notcia. A escolha de um evento pontual como a semana de moda torna a

    observao do fenmeno mais especfica e contribui para atingir o objetivo entender

    como a presena das redes sociais afeta a cobertura nas mdias impressas.

    A definio da rede social Instagram como fator principal para as possveis

    influncias na cobertura se deu a partir da sua relao direta com a imagem,

    elemento importante no jornalismo de moda. Aliando esse aspecto s caractersticas

    sociais, de aproximao dos usurios e de linguagem diferenciada, apontadas por

    Recuero (2009) e Ferrari (2014), possvel identificar a relevncia do aplicativo, o

    que levou a autora a apont-lo como um possvel fator de influncia para mudanas

    na comunicao de moda em mdias impressas. Outro fator que contribuiu para aescolha do Instagram como objeto de pesquisa foi a questo da instantaneidade,

    caracterstica da comunicao mvel e das redes sociais que permite o

    compartilhamento de informao ao vivo. Alm disso, levando em conta nmero de

    seguidores e curtidas, o Instagram mostrou ter uma visibilidade maior em relao s

    outras redes, aspecto que ser aprofundado na anlise dos objetos.

    a partir desse contraste das revistas de moda, mdias analgicas, e as

    redes sociais (plataformas mveis e interativas) que a autora prope a comparao,buscando entender como o veculo Elle Brasil trabalha com essas duas mdias e

    qual a influncia do Instagram na cobertura de moda.

    A anlise que embasa os problemas de pesquisa aqui descritos se d atravs

    da comparao entre as edies da revista Elle Brasil de 2011, antes da presena

    do Instagram, e de 2015, ano em que a pesquisa foi realizada. Em um primeiro

    momento, foi realizada uma anlise preliminar de seis edies da Elle: junho e julho

    de 2011 e abril, maio, junho e julho de 2015. A diferena entre os meses escolhidasse deve ao fato da mudana da data do SPFW em cada edio. Em 2011, o SPFW

    aconteceu entre os dias 13 e 18 de junho, enquanto que em 2015 ele aconteceu de

    13 a 17 de abril. Partindo dessas datas, a autora buscou as edies de junho de

    2011 e abril de 2015, publicadas antes do incio do evento, e as edies dos meses

    seguintes, at que surgissem pautas sobre o SPFW. No ano de 2011, a pauta sobre

    o SPFW surgiu logo no exemplar de julho de 2011. J em 2015, mesmo com o

    evento tendo acontecido em abril, a cobertura da fashion week s apareceu na

    revista no ms de julho, trs meses aps o acontecimento, por isso foram analisadas

    todas as edies entre a data do evento e a edio de julho. As observaes

  • 7/24/2019 A influncia das redes sociais no jornalismo de moda: uma anlise da revista Elle antes e depois do Instagram

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    preliminares foram dispostas em tabelas, Tabela 1 para as edies de 2011 e

    Tabela 2 para 2015, permitindo ento a realizao do recorte do objeto. Nesta

    anlise preliminar, foram observadas as edies na ntegra, destacando os

    elementos que apresentavam relao com o SPFW. Foram consideradas as capas

    de cada edio, buscando manchetes sobre o evento, bem como as cartas da

    editora, destacando o tpico principal dentro da fala da editora. Olhou-se tambm

    para as reportagens relacionadas ao SPFW, transcrevendo os ttulos, contabilizando

    as pginas dedicadas ao contedo e destacando o tipo de texto e imagem

    presentes.

    Tabela 1 Anlise preliminar das revistas referente edio SPFW 2011

    JUNHO 2011 (ms do evento)JULHO 2011 (primeira edio que

    tratou da cobertura do SPFW)

    - Capa:preview SPFW

    - Carta: fala sobre aspreviews

    - Reportagempreview> 22 pginas

    - Traz as referncias dos designers paraos desfiles que acontecero no SPFW,apostas para o vero

    - Muitas fotos

    - Declaraes dos estilistas

    - Descries dos materiais das colees

    - Arte com uma espcie de mood board

    para cada estilista

    - Capa: especial de moda, coberturacompleta

    - Carta: fala sobre como a moda estsempre frente do presente / o melhordas passarelas de vero de todo o pas

    - Especial colees > 104 pginas

    - Resgate das principais tendncias daspassarelas (brasilidades, esporte),pginas duplas separadas por tendncia,com os destaques das marcas edescrio do estilo

    - Reportagem sobre exposiofotogrfica que aconteceu no SPFW

    - Reportagem sobre os 15 anos doSPFW > Histria em desfile - O SPFW,maior evento de moda do pas, completa15 anos, mas a histria das passarelasmade in brazil tem pilares bem maisantigos"

    - Matria sobre o dia a dia de umamodelo, dividida em horas com imagensda rotina > "Dia de modelo - Seguimos

    7Prvia, em portugus. Na indstria da moda, a preview uma amostra das colees das marcas,antes de se