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8/17/2019 A Influência de Fatores de Personalidade e de Organização Do Trabalho No Burnout Em Profissionais de Saúde
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PREDITORES DO BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE 37
Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 37-48, janeiro/abril 2002
A INFLUÊNCIA DE FATORES DE PERSONALIDADE E DEORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO BURNOUT EM
PROFISSIONAIS DE SAÚDE
THE INFLUENCE OF PERSONALITY AND JOB FACTORS ON
BURNOUT AMONG HEALTH PROFESSIONALS
Wilm a Cost a SOUZA1 An gela Mar ia Mont ei ro da SILVA 2
RESUMO
O presente estudo investigou a relação de fatores de personalidade e de
fatores ligados à organização do trabalho com a síndrome do burnout.
As características de personalidade examinadas foram padrão tipo A de
personalidade e traço de ansiedade. Os fatores da organização do
trabalho investigados envolveram o significado do trabalho, a percepção
de controle e o suporte da chefia imediata. Participaram do estudo 239profissionais de saúde. Eles responderam a cinco medidas para
avaliação de dados sócio-demográficos, personalidade tipo A, traço de
ansiedade, fatores do trabalho, burnout total e suas dimensões (exaustão
emocional, despersonalização e realização pessoal com o trabalho). As
análises de regressão múltipla (Stepwise) indicaram que as variáveis
traço de ansiedade, suporte da chefia e tipo A de personalidade foram
preditores significativos do burnout total e da exaustão emocional,
enquanto as variáveis traço de ansiedade e tipo A de personalidade
predisseram significativamente a despersonalização. Nenhuma das
variáveis do estudo predisse significativamente a dimensão realização
pessoal com o trabalho.
Palavras chaves: Burnout - Estresse ocupacional - Profissionais de
Saúde - Fatores de personalidade - Fatores de organização do trabalho
(1) Professora do curso de graduação e pós graduação lato sensu em Fisioterapia da Universidade Gama Filho eCoordenadora do curso de pós graduação lato sensu em Fisioterapia neurofuncional da Universidade Gama Filho.
(2) Professora do curso de Mestrado em Psicologia da Universidade Gama Filho e Professora do curso de graduaçãoem Psicologia da Universidade Federal Rural do Rio de JaneiroENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:E-MAIL : [email protected] Rua das Laranjeiras 28 /202, Laranjeiras. Rio de Janeiro. CEP. 22240.000 - Tel: (021) 557 2413 - Cel. 91741824 AUTOR PARA ENVIO DA CORRESPONDÊNCIA : Wilma Costa SouzaINDICAÇÃO ONDE O TRABALHO FOI APRESENTADO: Dissertação submetida e aprovada pelo Programa depós-graduação - Mestrado em Psicologia da Universidade Gama Filho como requisito parcial para obtenção do graude Mestre em Psicologia em 16/09/99.
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ABSTRACT
This study focuses the relationship between personality traits andorganizational environmental factors, on one side, and burnout syndrome,
on the other. The personality traits selected for this study were type A
personality pattern and trait anxiety. Job factors included meaning of
work, perception of control and support from supervisors. Participants
were 239 health professionals. They completed five measures that
assessed socio-demographic data, type A personality, trait anxiety, job
factors, total burnout and its dimensions (emotional exhaustion,
despersonalization and personal accomplishment). Stepwise multiple
regression analyses indicated that trait anxiet, support from supervisors
and type A personality were significant predictors of total burnout and
emotional exhaustion. In addition, trait anxiet and type A personality
significantly predicted despersonalization. However, there were nosignificant predictors of personal accomplishment.
Key words: Burnout - Occupational stress - Health professionals
- Personality traits - Organizational environmental factors
INTRODUÇÃO
O estudo dos fatores que levam aoestresse e a influência do mesmo na gênesedas doenças em geral tem recebido grande
ênfase por parte dos pesquisadores.Entretanto, a investigação do trabalho comofator desencadeante do estresse só maisrecentemente tem recebido atenção.
Dentre os diversos modelos de estresseocupacional, optou - se no presente estudopelo modelo do Burnout, conforme desenvolvidopor Maslach & Jackson (Maslach, 1976).
A sín dro me atin ge pri nc ip al men teprofissionais que atuam na área de ciênciashumanas tais como enfermeiros,
fisioterapeutas, médicos e assistentes sociais,caracterizando - se por uma reação de estressecrônico (Reinhold, 1996).
A síndrome do burnout talvez possaoferecer uma explicação para as dificuldadespercebidas na relação profissional desaúde - paciente, dificuldades estas que, aomesmo tempo em que não contribuem para arecuperação dos doentes, podem levar aosentimento de grande insatisfação com otrabalho muitas vezes referido pelos
profissionais. Na síndrome do burnout édescrita a dificuldade do profissional em lidar com as emoções de seus pacientes levando -o a tratá - los de forma impessoal edesumanizada (Maslach, 1976). Neste caso,
o profissional de saúde pode utilizar-se deestratégias negativas para enfrentar asituação, distanciando - se de seus pacientese passando a encará - los como algo totalmentedestituído de qualidades humanas.
O burnout parece acometer pessoasa l tamente mot ivadas e ded icadas ,observando -se nos profissionais acometidosuma queda na performance que influi naqualidade dos serviços prestados. A síndromese correlaciona com insônia, aumento do uso
de álcool e drogas, problemas no casamentoe na família ( Maslach & Schaufeli, 1993).
A síndrome do Burnout foi inicialmentedescri ta em 1974 por Frendenberg(França,1987). O termo pode ser traduzidocomo aquilo que deixou de funcionar por exaustão de energia e foi usado pelo autor para designar uma resposta dos indivíduos aoestresse ocupacional. Ainda na década de 70,Maslach & Jackson passaram a investigar asíndrome, desenvolvendo cientificamente um
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modelo de burnout. Os autores tambémelaboraram o Maslach Burnout Inventory para
medir a síndrome, sendo este instrumentoatualmente usado na maioria das pesquisassobre o tema (Maslach & Schaufeli, 1993).
Schaufeli, Maslach & Marek (1993)conceituam o burnout como síndrome deexaustão, despersonal ização e baixarealização pessoal com o trabalho, que podeocorrer com indivíduos que trabalham parapessoas, especialmente para as que têm algumtipo de problema. A exaustão refere-se aosentimento de sobrecarga emocional e deesgotamento e é a dimensão que mais seaproxima de uma variável de estresse. Adespersonalização, por outro lado, constituium novo constructo que não aparecediretamente na literatura sobre o estresse(Cox, Kuk & Leiter, 1993). O profissionalafetado pelo burnout, não é mais capaz delidar com as emoções das pessoas que atendee começa a tratá - las de forma desumanizada
(Maslach ,1976).
A terceira dimensão proposta pela autora,é a da baixa realização pessoal com o trabalho
que se expressa através da tendência doindivíduo a se avaliar negativamente em rela-
ção a seu desempenho.
A síndrome, então, constitui-se em ummodelo multidimensional onde a ocorrência deum componente pode precipi tar odesenvolvimento dos outros dois(Golembiewsky, Scherb & Boudreau, 1993) oupode ocorrer que os componentes se
desenvolvam ao mesmo tempo, vistotratarem-se de reações a diferentes aspectosdo ambiente de trabalho como afirma Leiter (1993).
É característico na síndrome umsentimento de desilusão e frustração que ocorreem pessoas que possuíam grandesexpectativas em relação às suas carreiras. Éresultado, então, de um processo de desilusãoonde o trabalhador percebe que não consegue
retirar de seu trabalho um sentido, umsignificado existencial (Pines, 1993).
Entre as características de personalidadeque favorecem o desenvolvimento do burnoutdestacam-se a motivação, o entusiasmo, adedicação ao trabalho e a tendência aoperfeccionismo (Squires & Livesley, 1984).
Segundo França (1987), os profissionaisatingidos pela síndrome são pessoas quemergulham fundo em seu trabalho, não sabemdizer não, se ocupam com várias coisas aomesmo tempo e têm compulsão para otrabalho, retirando dele grande parte de suasatisfação pessoal. Paradoxalmente, estascaracterísticas são as mais valorizadas pelosdepartamentos de seleção de pessoal. Oprofissional que não mede sacrifícios pelaempresa e tem grande necessidade de vencer e ser reconhecido, dificilmente relaxa e se,além disso, mostra pouca habilidade para lidar
com o estresse em situações interpessoaispode ser levado ao burnout (Reinhold, 1996).
Dentre os critérios diagnósticos do
burnout destacam-se um estado geral de fadigaacompanhado de perda da auto - estimaresultante de um sentimento de incompetência
profissional e insatisfação com o trabalho(Maslach & Schaufeli, 1993). Os mesmos
autores apontam como principal indicador umadiminuição significativa da performance no
trabalho.
O presente estudo não poderia ser abrangente a ponto de investigar todos os
aspectos envolvidos no estresse ocupacional.
Desta forma, optou-se pelo estudo da influênciade fatores intrínsecos à personalidade e deestressores ligados à organização do trabalho
na síndrome de burnout.
Considerando-se os diversos aspectosligados à personalidade, optou-se pelas
variáveis padrão de personalidade tipo A etraço de ansiedade. Em relação aos fatoresl igados à organ ização do t raba lho,selecionou-se, o significado do trabalho, o
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sentimento de controle e o suporte oferecidopela chefia imediata.
O padrão de personalidade tipo A podeser definido como um esti lo de vidacaracterizado por extrema competitividade,luta por realização, agressividade, pressa,impaciência, inquietação, vigilância, falaexplosiva, tensão da musculatura facial esentimento de estar sob pressão do tempo(Cooper, 1987).
O traço de ansiedade refere-se adiferenças individuais relativamente estáveisem propensão à ansiedade, isto é , a diferençana tendência de reagir a situações percebidascomo ameaçadoras com elevações deintensidade no estado de ansiedade (Biaggio,Natalício & Spielberg, 1977).
O significado do trabalho pode ser entendido como a relevância percebida pelosujeito acerca do trabalho que executa,avaliando o seu grau de importância para asociedade. Quanto ao sentimento de controle,ele reflete a percepção do indivíduo acerca dasua autonomia em relação à divisão eorganização das tarefas que ele executa. Por fim, o suporte oferecido pela chefia refere-se àpercepção do sujeito quanto a orientaçãorecebida para a realização das suas tarefas,adequação da supervisão e possibilidade deobter ajuda efetiva em relação às dificuldadesque encontra no desenvolvimento do seutrabalho
O presente estudo visou investigar sefatores de personalidade (traço de ansiedadee padrão tipo A) e fatores da organização do
trabalho ( significado do trabalho, percepçãode controle e suporte da chefia) são preditoresdo Burnout e suas dimensões.
METODOLOGIA
Participantes
A pesquisa foi realizada em uma amostrade 239 profissionais da área de saúde, de nível
superior e de diversas categorias profissionais:médicos, f is ioterapeutas, psicólogos,
assistentes sociais, dentistas e enfermeiros.
Os participantes eram trabalhadores deinstituição pública, privada, autônomos ouempregadores e exerciam suas funções emambulatórios, enfermarias, emergências, ouainda, prestavam atendimento domiciliar.
Foram pesquisados profissionais do sexofeminino (81%) e masculino (19%), na faixaetária de 22 a 72 anos. A média e desviopadrão da idade em anos foram 39,10+ 10,00(média + DP).
A maioria da amostra foi constituída por médicos (32,2%) e fisioterapeutas (29,7%).
Instrumentos
Os níveis de ansiedade traço foramoperacionalizados pela escala de ansiedadetraço do Inventário de Ansiedade Traço - Estado(IDATE), elaborado por Spielberg ecolaboradores e adaptado para a populaçãobrasileira por Biaggio e colaboradores (1977). A escala de ansiedade - traço contém 20afirmativas que descrevem como os sujeitosgeralmente se sentem. Para cada item ossujeitos escolhem uma das quatro opções deresposta, que variam de quase nunca a quasesempre. Os escores totais da escala variamde 20 a 80, considerando-se que quanto maior o escore, maior o grau de ansiedade doindivíduo.
A síndrome do Burnout fo i
operacionalizada através do Maslach BurnoutInventory (MBI) desenvolvido por Maslach &Jackson (1981) e adaptado para populaçãobrasileira por Carvalho (1995). Esteinstrumento consta de três subescalas queforam elaboradas para abranger as trêsdimensões da síndrome, isto é, exaustãoemocional, despersonalização e realizaçãopessoal. O MBI, adaptado por Carvalho (1995)compõe-se de 22 itens, sendo 9 itens paramedir a exaustão emocional, 8 itens para a
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realização pessoal com o trabalho e 5 itenspara a despersonalização. O cálculo dos
escores dos indivíduos é realizado através daatribuição de valores relativos à freqüência.Para cada item há seis opções de respostasque variam de muitas vezes ao ano a todos osdias. O escore total bruto dos sujeitos éobtido através do somatório dos pontos decada item do inventário. O escore do sujeitoem cada uma das dimensões (exaustão,realização pessoal e despersonalização)também é computado pelo somatório dospontos dos itens relativos a cada uma das
dimensões.O padrão de personalidade tipo A foi
mensurado através de instrumentoanteriormente empregado por Malagris (1992)para amostras brasileiras. O instrumento écomposto de uma escala contendo 10afirmativas. Os sujeitos assinalam cada itemda escala considerando-o verdadeiro ou falso.Os escores variam potencialmente de 0 a 10.Quanto mais elevado o escore total mais oindivíduo apresenta o padrão de personalidade
tipo A.O significado do trabalho, o sentimento
de controle e o suporte oferecido pela chefiaforam avaliados através de itens especialmenteconcebidos para este fim. Em trabalhos prévios,estas variáveis têm sido medidas em escalasde 2 pontos (sim /não), como em Rego (1993)e Carvalho (1995). No presente estudo optou -
se por escalas analógicas visuais que permitemuma medida mais completa das variáveis. Na
escala analógica visual os sujeitos avaliaram
cada variável colocando um “X” numa linha de10 cm que possuía rótulos em cada um dosextremos. Para computar os escores usou-se
uma régua medindo a distância do ponto inicialao ponto assinalado pelo “X” que o sujeito
marcou. Quanto mais elevado o escore, maior o significado do trabalho, a percepção decontrole ou o suporte oferecido pela chefia.
As variáveis sócio - demográficas depossível relevância foram avaliadas através de
um questionário especialmente construído paraesta finalidade.
Procedimento
Os participantes da pesquisa foramcontatados em seus respectivos locais detrabalho, ou seja, hospitais da rede pública eprivada ou clínicas particulares. Foraminformados dos objetivos da pesquisa e dosigilo em relação às respostas. Os queconcordaram em participar receberam osquestionários e foram orientados quanto ao
preenchimento.
Análises Estatíst icas
Empregou-se Análise de Variância
Simples para verificar se homens e mulheresdiferiam significativamente nas variáveis do
estudo, e para examinar se os sub grupos comdiferentes tempo de profissão diferiam
significativamente nessas variáveis.
Por fim, produziu-se análises de regressãomúltipla (método Stepwise) para examinar sea personalidade tipo A, o traço de ansiedade,o significado do trabalho, o controle percebidoe o apoio da chefia, em conjunto, predizemsignificativamente o burnout total e suasdimensões. Em todas as análises usou-seum nível de significância igual a 0,05.
Resultados
Os resultados obtidos a partir da aplicaçãode testes (ANOVA one way), tendo a variávelsexo e tempo de profissão como intervenientese as demais variáveis como básicas do estudo,indicaram que não existem diferençassignificativas ao nível de 5% entre os valoresmédios das variáveis analisadas (Tabelas 1e 2).
Desta forma, foi possível admitir um únicogrupo para o estudo independentemente dosparâmetros sexo e tempo de profissão.
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Tabela 1. Comparações das médias de homens e mulheres nas variáveis do estudo.
Variável
Idade
Significado do Trabalho
Sentimento de Controle
Apoio da Chefia
Padrão Tipo A
Traço de ansiedade
Exaustão emocional
Realização pessoal
Despersonalização
Carga Horária
Tempo de Profissão
F calculado
2.218
0.156
0.449
0.611
1.082
1.098
0.731
0.112
2.998
2.116
2.068
Significado p
0.1377
0.6976
0.5108
0.4434
0.2994
0.2959
0.4025
0.7418
0.0847
0.1471
0.1517
As médias observadas serão diferentes quando p
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A primeira análise de regressão múltiplaproduzida, tendo como variável dependente oburnout total e como variáveis preditoras osfatores de personalidade e de organização dotrabalho, indicou que três preditoresalcançaram significância ao nível de 5% :traço de ansiedade, apoio da chefia epersonalidade tipo A (tabela 3). O coeficientede determinação, R2, foi 0,349, apontandoque 35% da variância do burnout total podeser explicada através de seu relacionamentocom os três preditores.
Na segunda análise de regressão múltiplaconsiderou - se como variável dependente a
exaustão emocional e como preditores osfatores de personalidade e de organização dotrabalho, e três preditores alcançaramsignificância ao nível de 5% : traço deansiedade, apoio da chefia imediata epersonalidade tipo A (tabela 4). O coeficientede determinação, R2, foi 0,33, indicando que33% da variância da exaustão pode ser explicada através do seu relacionamento comos três preditores.
Tabela 3. Resultado significativos da primeira análise de repressão múltipla, tendo o burnout totalcomo VD
Preditor
Traço Ansiedade
Apoio Chef ia
Tipo A
Coeficiente de Regressão
-1,01
-1,64
-1,56
t
-7,27
-3,95
-2,11
Significância
-P = 0,000
P = 0,000
P = 0,036
Tabela 4. Resultado significativos da segunda análise de repressão múltipla, em que a exaustãofoi a VD
Preditor
Traço Ansiedade
Apoio Chef ia
Tipo A
Coeficiente de Regressão
-0,71
-0,98
-1,11
t
-7,43
-3,41
-2,18
Significância
-P = 0,000
P = 0,001
P = 0,031
Uma terceira análise de regressão múltiplafoi produzida. A variável dependente foi a
despersonalização, e os preditores forampadrão tipo A, traço de ansiedade, significado
do trabalho, controle e apoio da chefia imediata.Os resultados mostraram que dois preditoresforam significativos: traço de ansiedade epadrão de personalidade tipo A (tabela 5). Ocoeficiente de determinação, R2, foi 0,13mostrando que 13% da variância da
despersonalização pode ser explicada atravésde seu relacionamento com os dois preditores.
A quarta análise de regressão múltiplateve como variável dependente a realizaçãopessoal e como preditores os fatores depersonalidade e de organização do trabalho.Os resultados indicaram que nenhum preditor alcançou significância ao nível de 5%.Umaanálise de regressão múltipla padrão confirmouestes resultados (tabela 6).
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DISCUSSÃO
A amostra foi composta de 239 sujeitossendo a maioria (80,8%) do sexo femininosugerindo uma nítida preferência deste sexopor profissões da área de saúde.
A aplicação de testes (ANOVA one way),indicou que as variáveis sexo e tempo deprofissão não interferiram significativamentenas variáveis do estudo. No entanto, as variáveis
idade e tempo de profissão se correlacionaramsignificativamente, o que já era esperado, ouseja, quanto maior a faixa etária, maior otempo de profissão.
Os resultados aqui obtidos foramdiferentes dos encontrados por Maslach &Jackson (1981) em relação ao sexo. Os autoresapontam que mulheres apresentam escoresmais elevados que homens para exaustãoemocional enquanto estes últimos apresentammaior tendência a despersonalização. A dupla
Tabela 5. Resultado significativos da terceira análise de repressão múltipla, cuja a VD foi adespersonalização.
Preditor
Traço Ansiedade
Tipo A
Coeficiente de Regressão
0,13
0,39
t
4,18
2,27
Significância
-P = 0,000
P = 0,024
Tabela 6. Resultado significativos da quarta análise de repressão múltipla, que teve como VD arealização pessoal.
Preditor
Traço Ansiedade
Tipo A
Significado
Controle
Apoio Chefia
Coeficiente de Regressão
-0,15
-0,24
-1,04
-0,67
-0,43
t
-1,72
-0,54
-1,61
-1,80
-1,69
Significância
-P = 0,08
P = 0,59
P = 0,11
P = 0,07
P = 0,09
jornada de trabalho a que as mulheresgeralmente são submetidas é apontada por Cushway & Tyler (1996) como fator quecontribuiria para maiores níveis de exaustãoemocional. Diferenças culturais talvezexpliquem a discrepância entre os resultadosobtidos no presente estudo e aqueles relatadospor Maslach & Jackson (1981). A maior possibilidade de delegar a execução de tarefasdomésticas a outras mulheres, como ocorrena classe média brasileira, provavelmentediminui o impacto da dupla jornada. Nainvestigação da síndrome de burnout emprofessores do ensino médio paulista, Rego(1993) também não encontrou diferençassignificativas entre homens e mulheres quantoao burnout.
A idade e o tempo de profissão sãorelacionadas aos níveis de burnout total esuas dimensões em diversos estudos(Maslasch & Jackson, 1981; Ullrich &
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Fitzgerald, 1990; Cushway & Tyler, 1996;Moore & Cooper 1996). De modo geral,
observou-se que o burnout é mais acentuadonos primeiros anos de profissão já que osprofissionais tendem a se sentir mais insegurosem relação a seus conhecimentos, são maisafetados pelas reações de seus pacientes e,muitas vezes, nutrem falsas expectativas sobresuas carreiras. Profissionais com mais tempode profissão, provavelmente já desenvolveramestratégias de coping que lhes permitem lidar melhor com as situações estressantes advindasdo trabalho. Segundo Moore & Cooper (1996),
os profissionais com maior tempo de carreiratêm menor carga horária semanal, trabalhammais em tarefas administrativas e gerenciais ededicam-se menos ao atendimento direto depacientes, o que poderia contribuir paramenores níveis de burnout .
Os resultados encontrados no presenteestudo apontaram que os grupos comdiferentes tempos de profissão não diferiramsignificativamente quanto ao burnout total ousuas dimensões, contradizendo, portanto, os
resultados de Moore & Cooper (1996). Osprofissionais de saúde que integram a amostrada presente pesquisa, provavelmente devido aaspectos sócio - culturais, diferem dosparticipantes americanos descritos no estudode Moore & Cooper (1996). No presente estudo,apesar da média de idade (39 anos) apontar para um tempo de profissão razoável, a médiada carga horária traba lhada semanalmente(46 h) encontra-se acima da preconizada pelaConstituição Federal Brasileira (44 horas
semanais). Possivelmente, os baixos saláriose a precarização das relações trabalhistastêm levado os profissionais com mais tempode profissão a jornadas mais longas e diversosvínculos empregatícios. Quanto aos mais jovens, as oportunidades oferecidas pelomercado de trabalho apontam para jornadaslongas, extenuantes física e mentalmente esem vínculo formal. Uma pesquisa realizadasobre o perf i l do médico no Brasi l(Machado,1996) demonstra esta realidade.
Essas condições desfavoráveis restringematividades fora do trabalho sejam elas sociais,
culturais ou desportivas. A atual situaçãosócio - econômica do país pode estar levandoos profissionais de saúde a um excesso detrabalho e, consequentemente, afetando asatividades de lazer. O lazer é consideradoimportante mediador do estresse, podendopromover a satisfação das necessidadespsicológicas individuais, favorecer o bem estar físico e mental e gerar crescimento pessoal(Catalbianco, 1995). Neste sentido, aconscientização dos trabalhadores sobre a
necessidade de se dedicarem, sempre quepossível, a atividades de lazer poderia contribuir para menores níveis de estresse e maior satisfação com o trabalho.
O padrão de personalidade tipo Amostrou-se um preditor significativo do burnouttotal , da exaustão emocional e dadespersonalização.
A relação entre aspectos dapersonalidade e a síndrome de burnout nãotem sido muito investigada. Schaufeli e cols.
recomendam que “seja desenvolvido um modeloconceitual que hipotetize quais variáveis depersonal idade ser iam relevantes nodesenvolvimento da síndrome do burnout “(Schaufeli, Maslasch & Marek, 1993, p. 30).
De modo geral, considera-se que osindivíduos tipo A possuem um forte senso deurgência, o que os leva a tentar realizar maise mais tarefas em cada vez menos tempo. Apresentam grande sentimento de hostilidadeque se traduz por raiva e irritação e demonstram
grande ambição e competitividade. Dentre osdiversos aspectos que integram o padrão tipo A, a hostilidade é considerada o fator maissignificativo no desenvolvimento do estresse(Hockenbury & Hockenbury, 1997).
No presente estudo constatou-se que otraço de ansiedade é um preditor significativodo burnout e todas as suas dimensões, excetoa realização pessoal com o trabalho.
Os resultados encontrados sugerem queos indivíduos com alto traço de ansiedade são
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mais vulneráveis ao estresse ocupacional e aoburnout e, portanto, poderiam ser beneficiados
por um programa de manejo do estresse.
Diversos programas de manejo deestresse surgiram nos últimos anos com oobjetivo de ensinar aos indivíduos comoapreender eventos estressantes e comodesenvolver estratégias adequadas de coping.O treinamento de técnicas de relaxamento emeditação tem sido empregado por diversasempresas com o objetivo de diminuir o estressede seus empregados. A meditação podediminuir o consumo de oxigênio e os batimentos
cardíacos reduzindo a ativação fisiológica doorganismo e a ansiedade (Hockenbury &Hockenbury, 1997).
Lipp, Romano,Covolan & Nery (1990, p.149) propõem um tratamento comportamentalpara o estresse composto de quatro pilares: “i)alimentação anti - estresse buscando suprir oorganismo com nutr ientes gastos emmomentos em que uma adaptação maior lhe éexigida, ii) relaxamento para restaurar o estadode homeostase quebrado em momentos de
estresse, iii) exercícios físicos capazes delevar o organismo a produzir endorfinas com opropósito de promover uma sensação detranqüilidade e bem estar, iv) tratamentocomportamental que inclui a reestruturação decrenças irracionais, treino em assertividade eem controle da ansiedade, aquisição detécnicas de resolução de problemas e manejodo tempo, além de prática na percepção e nocontrole do padrão tipo A de comportamento “.
Vários pesquisadores e teóricos como
por exemplo Auerbach & Gramlig (1998)declaram que fatores de personalidade comotraço de ansiedade e padrão tipo A podem ser reduzidos, mas seriam necessários váriosanos de psicoterapia. No entanto, a médioprazo, o emprego do relaxamento, dameditação e da auto - sugestão poderiamajudar a minimizar a influência destes fatores.
Em relação às medidas acima descritaspara a redução do estresse, é importanteressaltar que estas são centradas no próprio
sujeito sem a intenção de influir diretamenteno ambiente estressor. Desta forma, corre-se
o risco de atribuir ao trabalhador a inteiraresponsabilidade no manejo de seu estresse,limitando-se assim a ação de cunho maispolítico e social que envolva a mudança doambiente e condições do trabalho.
No presente estudo o apoio da chefia foipreditor do burnout total e da exaustãoemocional. O apoio ou suporte da chefiafoi relacionado ao burnout em diversos outroses tudos . H i l lhouse & Ad ler (1997)demonstraram menores níveis de burnout
em enfermeiras que percebiam maior suportede suas chefias. Para os autores, osuporte promove o senso de competência, aauto - eficácia e a auto - estima.
Conclui-se que o baixo apoio da chefiatende a favorecer o desenvolvimento do burnout.Por outro lado, o oferecimento de apoio pelachefia parece diminuir a chance do profissionalapresentar burnout.
Medidas de moderado impacto naestrutura organizacional tais como: instalaçõespara realização de exercícios, delegação deresponsabilidades que fortaleçam o controle,e suporte adequado oferecido pela chefia sãodescritas como capazes de contribuir paramenores níveis de estresse (Härtl, 1999).
Em relação ao apoio da chefia, preditor da burnout total e da exaustão, aconscientização e treinamento dos chefes,poderiam levá-los ao oferecimento de suporteadequado aos profissionais de saúde.
Por fim, futuros estudos podem esclarecer a natureza do suporte social melhor indicadopara as diversas categorias de profissionaisde saúde, considerando-se suas diferentesfunções.
Uma importante função da pesquisa empsicologia social envolve avaliar cientificamenteos fenômenos possibilitando, assim, suaveiculação na sociedade. Desta forma,contribui-se para a formulação de propostasque possam alterar a realidade descrita.
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Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 37-48, janeiro/abril 2002
Em relação aos profissionais de saúde, adiscussão dos diferentes aspectos do burnout
(causas, conseqüências e meios para aprevenção) deveria permear nos cursos degraduação, nas associações e nos sindicatosde classe permitindo aos profissionais maior compreensão, identificação e prevenção doproblema. Empenhados na arte de prevenir ecurar doenças, estes profissionais nem sempretêm a noção de seu próprio adoecer no trabalho.
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