A INFLUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PEDAGOGOS MUSICAIS DA PRIMEIRA GERAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE...

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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA WESLEY EKSTEIN DE CAMARGO A INFLUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PEDAGOGOS MUSICAIS DA PRIMEIRA GERAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE CONTEMPORÂNEA: relato de experiência sobre a aplicação da pedagogia musical na Escola Municipal de Música da cidade de Luiz Antônio (SP). RIBEIRÃO PRETO 2012

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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA

WESLEY EKSTEIN DE CAMARGO

A INFLUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PEDAGOGOS MUSICAIS DA

PRIMEIRA GERAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE CONTEMPORÂNEA:

relato de experiência sobre a aplicação da pedagogia musical na Escola

Municipal de Música da cidade de Luiz Antônio (SP).

RIBEIRÃO PRETO

2012

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WESLEY EKSTEIN DE CAMARGO

A INFLUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PEDAGOGOS MUSICAIS

DA PRIMEIRA GERAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE

CONTEMPORÂNEA: relato de experiência sobre a aplicação

da pedagogia musical na Escola Municipal de Música da

cidade de Luiz Antônio (SP).

Monografia apresentada à Universidade de

Ribeirão Preto UNAERP, como requisito

para a obtenção do titulo de Licenciatura

Plena em Música.

Orientador: Profa. Me. Gisele Laura Hadad.

RIBEIRÃO PRETO

2012

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Ficha catalográfica preparada pelo Centro de Processamento Técnico da Biblioteca Central da UNAERP

- Universidade de Ribeirão Preto -

Camargo, Wesley Ekstein de, 1977 -.

C172i A influência dos principais pedagogos musicais da primeira

geração na prática docente contemporânea : relato de experiência

sobre a aplicação da pedagogia musical na Escola Municipal de

Música na cidade de Luiz Antônio (SP) / Wesley Ekstein de

Camargo. - - Ribeirão Preto, 2012.

43 f. : il. color.

Orientadora: Prof.ª Me. Gisele Laura Haddad.

Monografia (graduação) - Universidade de Ribeirão Preto,

UNAERP, Música. Ribeirão Preto, 2012.

1. Educação musical. 2. Pedagogia - Musical. 3. Prática de

ensino. I. Título.

CDD: 780

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WESLEY EKSTEIN DE CAMARGO

A INFLUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PEDAGOGOS MUSICAIS DA PRIMEIRA

GERAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE CONTEMPORÂNEA: relato de experiência

sobre a aplicação da pedagogia musical na Escola Municipal de música da cidade de

Luiz Antônio (SP).

Monografia apresentada à Universidade de

Ribeirão Preto UNAERP, como requisito

para a obtenção do titulo de Licenciatura

Plena em Música.

Orientador: Profa. Me. Gisele Laura Hadad.

Área de concentração: Educação musical, Educação musical especial e Musicoterapia.

Data da Defesa: 13 de dezembro de 2012.

Resultado:______________________

Banca examinadora:

Profa. Me. Erika de Andrade Silva

Universidade de Ribeirão Preto

Profa. Me. Gisele Laura Haddad

Universidade de Ribeirão Preto

Profa. Esp. Ana Maria Monseff Barreto

Universidade de Ribeirão Preto

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Dedico este trabalho à memória de minha avó paterna Anna Calvo de Camargo, que nos

deixou no dia 18 de setembro de 2011, aos 86 anos. Com carinho e amor acompanhou-me

incondicionalmente por todas as etapas de minha vida, inclusive durante as longas horas

diárias de estudo violinístico, sempre orando, incentivando e orientando no caminho

do bem. A ela meu carinho e amor.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade que tive de colocar Seus planos para mim em

prática. À minha família, em especial tio Osvaldo e tia Neusa que, em momento algum

criticaram minha decisão em escolher esta nobre carreira. À minha irmã Karina, pelos

deliciosos anos em que convivemos em São Caetano do Sul. Ao Sr. Luiz Aguiar Menon,

Coordenador do Departamento de Cultura da cidade de Luiz Antônio, que gentilmente cedeu-

me a documentação que registra a fundação da Banda Municipal “Irineu Santa Catarina” e da

“Banda Marcial de Concerto” e relatou-me sobre antigos grupos de viola caipira e violão,

compostos por moradores da cidade. A todos os amigos e colegas que marcaram de alguma

maneira minha passagem pela Universidade de Ribeirão Preto, em especial aos amigos

Marcelo Cosme dos Santos, Jaderson Luis da Silva, Willian Welson e Isabela Cosenza pelas

horas de compartilhamento, ajuda e abnegação. À Sonara Campanha e Viviane Diab,

secretárias do curso Licenciatura Plena em Música da Universidade de Ribeirão Preto, que em

tudo prestaram auxílio e amizade. Aos mestres, que calçaram meus caminhos com pedras de

sabedoria e conhecimento, para que meus pés vacilantes não se desviassem pelos pântanos da

ignorância: Professora Mestre Erika de Andrade Silva, instrumento de Deus e bússola na

adversidade: obrigado pelas horas maravilhosas que passamos assentados ao piano, cujos

momentos serviram também como terapia nas horas de aflições. Pelos sábios conselhos

sempre equilibrados, e compartilhamento de conhecimento durante as aulas de Pedagogia

Musical. À Professora Ana Maria Monseff Barreto, pelo carinho sempre materno e prontidão

em ajudar sem medir esforços; aos Professores Mestre Lucas da Silva Galon, Doutor Érico

Firmino e João Magioni, pelos conhecimentos compartilhados com generosidade, sem medo

de revelar o segredo do equilíbrio e da sabedoria. Aos queridos Professores Doutora Helena

Capellini e Mestre João Fernando Araújo, cujos conhecimentos são um espetáculo à parte. Ao

Professor Armando Bugalho, sempre nos fazendo descontrair, ao mesmo tempo em que nos

deixava extasiados com seu domínio da tecnologia musical. Às Professoras Doutora Sandra

Picado e Mestre Helena Hashimine, por nos revelar um lado especial e inclusivo da educação

musical; à Professora Mestre Silvana Nieto, pela coragem de dizer a verdade e desvelar o que

antes era-me obscuro no sistema educacional brasileiro. À Professora Cristina Modé, por

mostrar a magia do canto. Aos Professores Doutor Wilson Coelho e Mestre Fernanda Cristina

Sakaemura, pelos princípios da Educação Moderna. Finalmente mas não menos importante, à

Professora Mestre Gisele Laura Haddad, por dividir sua experiência, orientando sempre e

incentivando, mesmo em momentos extra-aula, para que este trabalho pudesse ser

desenvolvido, não obstante meus medos e dúvidas.

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“Tudo o que é sólido, se desmancha no ar”.

Karl Max

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RESUMO

Este estudo consta em relato de experiência em pedagogia musical na Escola Municipal de

Música da cidade de Luiz Antônio/SP e os desdobramentos alcançados através do estudo e

aplicação das influências dos seguintes pedagogos musicais da primeira geração (início do

século XX): Emille Jaques Dalcroze (1865-1950), Edgar Willems (1890-1978), Carl Orff

(1895-1982) e Shinichi Suzuki (1898-1998). Através deste registro da rotina e

desenvolvimento musical dos alunos, no período março de 2009 e novembro de 2012,

evidenciamos a importância do conhecimento da pedagogia musical para os professores desta

área. Para tanto, consideramos as publicações de Fonterrada (2005), Rocha (1990), Suzuki

(1994) e Schafer (1991). Verificamos que a importância dos novos conhecimentos adquiridos

possibilita mudanças positivas na relação professor-aluno: o primeiro, de acordo com a

pedagogia tradicional, detentor do saber; o segundo, receptor passivo de informações,

tranformando-se numa parceria onde existe troca de conhecimentos.

Palavras-chave: Educação Musical; Pedagogia Musical; Prática Docente.

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ABSTRACT

This study consists in reporting experience in musical pedagogy at the Municipal School of

Music City Luiz Antônio/SP and the developments achieved through the study and

application of the influences of the following musical pedagogues of the first generation

(early twentieth century): Emille Jaques Dalcroze (1865-1950), Edgar Willems (1890-1978),

Carl Orff (1895-1982) and Shinichi Suzuki (1898-1998). Through this registration routine and

musical development of students, in the period March 2009 and November 2012, we noted

the importance of knowledge of musical pedagogy for teachers in this area. For this, consider

the publications Fonterrada (2005), Rocha (1990), Suzuki (1994) and Schafer (1991). We

found that the importance of new knowledge enables positive changes in teacher-student

relationship: the first, according to traditional pedagogy, holder of knowledge, the second

passive recipient of information, transforming into a partnership where there is knowledge

exchange.

Keywords: Music Education; Music Pedagogy; Teaching Practice.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Luiz Antônio/SP ...................................................................................................... 22

Figura 2 - Professores e funcionários do Departamento de Cultura em junho de 2009. .......... 31

Figura 3 - Alunos de violino, apresentando-se em audição, no Sindicato dos Trabalhadores de

Papel e Papelão. Maio de 2009. ................................................................................................ 32

Figura 4 - Alunos de violino, apresentando-se em audição, na Praça Mário Junqueira em

junho de 2009. .......................................................................................................................... 32

Figura 5 - Apresentação da Camerata em comemoração ao Natal de 2009, na Praça Mário

Junqueira ................................................................................................................................... 33

Figura 6 - Apresentação da Camerata em comemoração ao Natal de 2009, na Praça Mário

Junqueira. .................................................................................................................................. 33

Figura 7 - Camerata de Cordas no Natal de 2009, na Praça Mário Junqueira.......................... 34

Figura 8 - Alunos de violino, apresentando-se no Bosque Municipal, em homenagem a Nossa

Senhora Aparecida e dia das crianças, dia 12 de outubro de 2010. .......................................... 34

Figura 9 - Banda do Departamento de Cultura da cidade de Luiz Antônio, em sua participação

na “Festa do Peão Boiadeiro de Barretos” em 2010. ................................................................ 35

Figura 10 - Alunos de violino e canto participando do Musical “Para Sempre... Bela

Adormecida”, no dia 3 de dezembro de 2011, no Anfiteatro Municipal sob a regência da

professora Renata Vetrano........................................................................................................ 36

Figura 11 - Detalhe das alunas de violino participando do musical “Para Sempre... Bela

Adormecida”. ............................................................................................................................ 36

Figura 12 - Orquestra Sinfônica Parcial em Santa Cruz das Palmeiras na Praça Condessa

Monteiro de Barros, 22/12/2011. .............................................................................................. 37

Figura 13 - Orquestra Sinfônica Parcial em Santa Cruz das Palmeiras na Praça Condessa

Monteiro de Barros, 22/12/2011. .............................................................................................. 38

Figura 14 - Orquestra Sinfônica Parcial em Santa Cruz das Palmeiras na Praça Condessa

Monteiro de Barros, 22/12/2011. .............................................................................................. 38

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11

2. DALCROZE, WILLEMS, ORFF E SUZUKI ................................................................. 15

EMILE-JAQUES DALCROZE ........................................................................................................ 15

EDGARD WILLEMS ....................................................................................................................... 16

CARL ORFF ..................................................................................................................................... 18

SHINICHI SUZUKI .......................................................................................................................... 19

ALGUNS PONTOS DISTINTOS OU SEMELHANTES ENTRE AS PROPOSTAS .................... 20

3. CONTEXTO HISTÓRICO E MUSICAL DO MUNICÍPIO ......................................... 22

4. FORMAÇÃO DO GRUPO INSTRUMENTAL .............................................................. 24

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 28

ATUAÇÕES PASSADA E PRESENTE .......................................................................................... 28

REGISTROS DE ATIVIDADES DO GRUPO ................................................................................ 31

- Audições de final de semestre ..................................................................................................... 31

- Apresentações ao ar livre ............................................................................................................ 32

- Participação na Festa do Peão Boiadeiro de Barretos ................................................................. 34

- Musical ........................................................................................................................................ 35

- Experiência com Orquestra Sinfônica Parcial ............................................................................ 36

PERSPECTIVAS FUTURAS ........................................................................................................... 38

REFLEXÕES .................................................................................................................................... 39

6. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 42

BILIOGRAFIA CONSULTADA .......................................................................................... 43

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1. INTRODUÇÃO

Nasci em São Caetano do Sul, estado de São Paulo e iniciei meus estudos na área da

música ainda na infância, com meu tio paterno Osvaldo Calvo de Camargo, que em sua

juventude fora violinista e bandolinista amador. Continuei os estudos por toda a

adolescência, sempre frequentando boas instituições de ensino musical, como a Fundação das

Artes de São Caetano do Sul – SP - referência nacional na profissionalização em artes visuais,

dança, teatro e música há décadas - onde iniciei na Camerata1 de Cordas entre os anos 1996 e

2000. Aos 19 anos já lecionava violino em aulas particulares, aos 21 fui professor no

Conservatório Musical Carlos Gomes de Santo André – SP e comecei a adquirir experiência

na Orquestra de São Caetano do Sul como violinista. Ingressei na Universidade de Ribeirão

Preto – UNAERP no início do ano de 2010: seria necessário instruir-me no conhecimento

pedagógico musical, que possibilitaria desenvolver um processo mais humano do ensino

musical, num projeto que inclui pessoas carentes de conhecimento técnico, mas que também

necessitam de um olhar mais afetivo e compreensivo. Precisava descobrir o “método” que iria

mantê-los motivados.

Mesmo tendo sido orientado por grandes mestres do violino, apenas tive uma visão

mais profunda e panorâmica da educação musical ao ingressar no curso de Licenciatura Plena

em Música da UNAERP, que me proporcionou novos caminhos e forneceu ferramentas que

possibilitaram a realização de um trabalho bem fundamentado com meus alunos na cidade de

Luiz Antônio - SP.

Fui convidado a lecionar violino pelo atual Prefeito e mediante uma proposta

plausível, resolvi deixar São Caetano do Sul e aventurar-me no Interior Paulista. Desde 2009,

sou professor de violino da Prefeitura da cidade de Luiz Antônio – SP, na Escola Municipal

de Música e conto com cerca de 20 alunos, com idades que variam entre 5 e 60 anos. Deparei-

me com um trabalho pioneiro numa cidade carente de instrumentos de cordas com arco. No

momento em que assumi este trabalho, senti que necessitava mais do que técnica

instrumental.

A Escola Municipal de Música foi reaberta no ano 2009, depois de 4 longos anos

fechada por questões políticas da Prefeitura Municipal - por esse motivo, infelizmente, a

aplicação desses projetos educativos/culturais pelos órgãos públicos aparentam ter sobretudo,

1 De acordo com o Dicionário Aulete, camerata é um grupo musical seleto e de poucos integrantes que se

especializa em executar composições de gênero específico, ou a chamada música de câmara (camerata de

violões; camerata de flautas).

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objetivos eleitorais, quando, deveriam na realidade ter como foco principal o apaziguamento

social, desenvolvendo o indivíduo nos aspectos sociais e educacionais, procurando oferecer

uma atividade cultural e artística com o intuito de diminuir os riscos de envolvimento das

crianças e jovens com a violência e uso de drogas.

A escola oferece diversos cursos teóricos e práticos, como violão, teclado, bateria,

violino, entre outros. São ministradas aulas semanais de 50 minutos cada e atividades em

grupo, como a Camerata de Cordas, que conta com minha regência. Ocorrem ensaios

esporádicos de acordo com as datas das apresentações, geralmente com ciclos de 3 ou 4

meses. A escola de música da cidade é responsável, juntamente com o Departamento

Municipal de Cultura, por grande parte dos eventos culturais do município, como audições de

férias, recitais, recepções e apresentações natalinas, por exemplo.

O objetivo deste estudo está em observar a influência da metodologia de Pedagogos da

Primeira Geração2, sua aplicação em minha prática docente atual e seus desdobramentos no

quadro do desenvolvimento dos estudantes mediante os resultados. Os autores cujos métodos

foram utilizados são: Emile Jaques Dalcroze (1865-1950), Edgar Willems (1890-1978), Carl

Orff (1895-1982) e Shinichi Suzuki (1898-1998). Destaco também a importância deste

registro para que outros educadores musicais possam averiguar os resultados e com eles

prosseguir no aprimoramento do ensino.

O Período Histórico compreendido entre a segunda metade do século XIX e a primeira

metade do século XX, tornou-se conhecido por promover grandes avanços tecnológicos,

sociais e históricos, como o advento da energia elétrica, o expansionismo industrial, o pré-

mercantilismo e as épicas duas grandes Guerras Mundiais. Dentro deste contexto histórico-

social, novas idéias e grandes pensadores surgiram em todas as áreas do saber, como os

célebres cientistas Albert Einstein, que assombrou o mundo com sua “Teoria da Relatividade”

(1905), e Alexander Fleming, com a descoberta da penicilina (1928).

No âmbito musical, os mestres não deixaram por menos, revelando-se revolucionários

compositores. Com o desenvolvimento do atonalismo, o nascimento do dodecafonismo3

tornou-se inevitável, e, juntamente com ele, a aparição de uma grande leva de compositores e

ou teóricos modernistas como Schoenberg (1874-1951) e Stravinsky (1882-1971).

2 De acordo com FONTERRADA (2005) foram os nascidos durante a última metade do século XIX e falecidos

durante a primeira do século XX. Dentre eles destacamos Emile-Jauqes Dalcroze, Zoltán Kodaly, Edgard

Willems, Carl Orff, Shinichi Suzuki, entre outros. 3 Segundo GROUT e PALISCA (2008), dodecafonismo é um sistema de organização criada por Arnold

Schoenberg na década de 1920, onde as 12 notas da escala cromática são tratadas como equivalentes, ou seja,

sujeitas a uma relação ordenada e não hierárquica.

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No campo pedagógico também nasceram novas correntes, em que a humanização no

ensino musical passou a ter uma especial atenção. Foi nessa época que surgiram educadores

que desenvolveram metodologias voltadas para o humano, sem, contudo, desprezar a técnica.

Podemos enfatizar nomes como os já citados Dalcroze, Willems, Orff e Suzuki, cujas ideias

forneceram o embasamento teórico para o desenvolvimento deste trabalho.

Este estudo tem uma investigação de caráter qualitativo, tendo na sua essência cinco

características:

1. a fonte direta dos dados é o ambiente natural e o investigador é o

principal agente na recolha desses mesmos dados; [...] 2. os dados que o

investigador recolhe são essencialmente de carácter descritivo; [...] 3. os

investigadores que utilizam metodologias qualitativas interessam-se

mais pelo processo em si do que propriamente pelos resultados; [...] 4. a

análise dos dados é feita de forma indutiva; [...] 5. o investigador

interessa-se, acima de tudo, por tentar compreender o significado que os

participantes atribuem às suas experiências. (BOGDAN; BIKLEN, 1994,

p. 47)

Ainda segundo os mesmos autores, na investigação qualitativa em educação, o

investigador comporta-se mais de acordo com o viajante que não planeja do que com aquele

que o faz meticulosamente. Enquanto que a investigação quantitativa utiliza dados de natureza

numérica que lhe permitem provar relações entre variáveis, a investigação qualitativa utiliza

principalmente metodologias que possam criar dados descritivos que lhe permitirá observar o

modo de pensar dos participantes numa investigação.

Na primeira fase deste estudo, colhemos informações obtidas durante o decorrer do

curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP,

fundamentadas nestes grandes pedagogos musicais, além de outros, como Kodály (1882-

1967) e Schafer (1933). Foram registradas técnicas de ensino musical ministradas e

direcionadas pelas Professoras Mestre Erika de Andrade Silva, Coordenadora deste Curso de

Licenciatura Plena em Música da Universidade de Ribeirão Preto, durante as aulas de

Pedagogia Musical e Sara Cesca, durante o estágio em docência coletiva do violino na Escola

”Waldorf” João Guimarães Rosa, de Ribeirão Preto. Na segunda fase, baseamo-nos em obras

consagradas de grandes mestres brasileiros atuais, como a de Marisa Trench de Oliveira

Fonterrada (2005), que traça um perfil histórico da Educação Musical desde a Grécia Antiga

até os dias atuais e a de Carmem Maria Mettig Rocha (1990), especialista na Pedagogia

Willems. Finalmente, realizamos algumas pesquisas em sites eletrônicos para obtenção de

informações sobre o município de Luiz Antônio, e, sobretudo no Google Acadêmico, onde

coletamos valiosas informações em importantes artigos relacionados à educação musical,

como a monografia de pós-graduação em Educação Musical de Diana Goulart (2000).

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Este trabalho foi elaborado e contextualizado nas esferas sociais, econômicas e

culturais do ambiente em que se encontra. Nosso objetivo foi destacar o desenvolvimento

técnico e humano dos alunos à luz dos métodos de acordo com as propostas dos autores da

Segunda Geração, tendo como eixo central o processo em si, e não os resultados propriamente

ditos. Somente a partir de então deu-se início à redação deste texto.

Gostaríamos de destacar a importância dos novos conhecimentos adquiridos, que

possibilitam uma grande mudança na relação professor – aluno. Segundo Schafer (1991), o

primeiro, de acordo com os mais tradicionais, detentor do saber; o segundo, receptor passivo

de conhecimentos, e que nos moldes modernistas, transforma-se em uma grande comunidade

de aprendizes. Finalmente, a grande lição: aliar técnica e amor.

A pedagogia musical contemporânea é desconhecida pela quase totalidade dos

professores da escola e a velha prática de ensino musical é aplicada em quase todos os

lugares.

Apresentaremos no próximo capítulo, a biografia e a metodologia dos principais

pedagogos cujas influências me levaram a escrever este registro, e que tanto me ensinaram a

desenvolver uma educação musical mais humana, aprimorando meus conhecimentos e

potencializando os resultados obtidos. No capítulo seguinte, falaremos sobre a história do

município de Luiz Antônio, sua tradição musical e a reativação da Escola Municipal de

Música. Após citaremos como e para que foi criada a Camerata de Cordas da escola. No

próximo capítulo abordaremos minha atuação enquanto professor antes e depois da minha

passagem pela UNAERP, perspectivas futuras, atividades realizadas pelo grupo de alunos de

violino da Escola Municipal de Luiz Antônio no período 2009 e 2012, e, finalmente

refletiremos sobre o legado do trabalho realizado na Escola Municipal de Música e seu

registro.

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2. DALCROZE, WILLEMS, ORFF E SUZUKI

Apresentamos a seguir as propostas pedagógicas de alguns pedagogos da Primeira

Geração de forma a trazer a conhecimento os aspectos didático-metodológicos de cada um

deles para uma melhor compreensão da influência dos mesmos na Escola Municipal de

Música da cidade de Luiz Antônio. Não utilizamos os autores da Segunda Geração - inseridos

no contexto histórico na segunda metade do século XX - pois ao contrário dos da Primeira,

que estão de acordo com a proposta deste trabalho trazendo um repertório pré-determinado,

partem da cultura local para posteriormente ampliar o repertório.

EMILE-JAQUES DALCROZE4

Emile-Jaques Dalcroze (1865-1950), suíço, foi quem desenvolveu o método que

propicia o treinamento rítmico musical através de movimentos corporais. De acordo com

quem o conheceu, afirmam que o mesmo foi uma pessoa extremamente humana.

Dalcroze foi professor do Conservatório de Genebra, instituição a qual foi obrigado a

deixar em 1902, por ter sido desprezada sua metodologia de ensino.

Segundo Fonterrada (2005), o desenvolvimento de sua metodologia iniciou-se quando

notou dificuldades rítmicas em alguns de seus alunos, que, não obstante a este fato,

conseguiam caminhar no ritmo musical.

De acordo com Fonterrada (2005), um grupo de empresários alemães financiou uma

escola com excelente infra-estrutura para que Dalcroze pudesse difundir seu novo trabalho.

Ficou na Alemanha até o desencadeamento da Primeira Guerra Mundial, quando retornou à

Suíça, sendo finalmente reconhecido em sua pátria. Hoje existem professores treinados em

sua metodologia em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, sendo aplicada também com

dançarinos e atores.

Segundo Fonterrada (2005), o pilar do método, a euritmia (bom ritmo), utiliza o corpo

para o desenvolvimento rítmico: nesse processo, música e movimento estão intrinsecamente

ligados. Além desse propósito mais amplo, atua como atividade educativa, desenvolvendo a

escuta ativa, a voz cantada, o movimento corporal e o uso do espaço. Os movimentos usados

na euritmia são improvisados pelos próprios alunos, não propostos pelo professor. A dança é

uma arte em si mesma; a euritmia é um meio para se atingir a plena musicalidade. O professor

4 De acordo com Valiengo (2005), a palavra-chave para Emile-Jaques Dalcroze é: RÍTMICA.

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que usa a metodologia de Dalcroze costuma pedir aos alunos: “Mostrem-me o que vocês estão

ouvindo”, em vez de “Digam-me o que vocês estão ouvindo”. Há muita atividade física,

muito movimento enquanto se ouve a música tocada pelo professor.

Solfejo é o estudo da melodia e da harmonia, que utiliza como instrumento a voz

humana, desenvolvendo um “bom ouvido”; desse modo, os alunos aprendem a ler música.

Improviso é o resultado final da combinação entre rítmica e solfejo.

De acordo com Fonterrada (2005), os alunos são incentivados a criar as próprias

composições; segundo essa técnica, pessoas que são capazes de auto expressar-se, podem

também entender o que os grandes mestres compositores queriam dizer.

No processo, experiências com os elementos analisados são fundamentais,

utilizando para isso, movimentos básicos como andar, correr, saltar, arrastar-

se, deslocar-se em diferentes direções, utilizando-se de diferentes saltos,

livremente, ou seguindo um determinado rítmo. Os exercícios corporais

visam especificamente, combinar e/ou alternar movimentos, dissociá-los,

estimular a concentração, a memória e a audição interior, promover a rápida

reação corporal a um estímulo sonoro ou explorar o espaço em diferentes

direções, planos e trajetórias, objetivos que continuam atuais, ainda mais se

se pensar na expressão e na estrutura corporais como maneiras de suplantar

as estereotipias postas hoje ao alcance da população. (FONTERRADA,

2005, p. 135)

EDGARD WILLEMS5

Edgar Willems nasceu na Bélgica em 1890 e posteriormente radicou-se na Suíça.

Faleceu em 1978, deixando-nos um imenso legado musical na área pedagógica. Seus grandes

mestres, segundo ele, foram Émile-Jaques Dalcroze e Mme. Lydia Malan; a eles, de acordo

com Fonterrada (2005), atribuiu alto grau de relevância durante seu processo de formação

musical.

Willems solicitara a Dalcroze que elaborasse o prefácio do primeiro volume de seu

livro L’oreille Musicale, linhas essas, em que enfatiza a coletivização do conhecimento

musical, ou seja, torná-lo acessível à todas as pessoas, porquanto era essa uma preocupação

recente entre os mestres da época.

A necessidade de ensinar música a toda a população surgiu com o ideal democrático, a

partir da Revolução Francesa, e foi uma conseqüência natural, no século XX, que os músicos

interessados em educação dedicassem algum tempo à descoberta de métodos e estratégias

adequados à preparação auditiva das camadas populares. “No entanto, lembra Dalcroze, nada

5 De acordo com Valiengo (2005), a palavra-chave para Edgar Willems é: AFETIVIDADE.

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se faz nesse sentido, a não ser insistir em exercícios técnicos sem interesse musical”

(FONTERRADA, 2005, p. 137)

Estabelecida a necessidade da educação musical, o objetivo de Willems foi fazer com

que ela ganhasse status científico. Colabora nesse aspecto, abordando em sua obra musical

dois tópicos: o teórico (elementos fundamentais da audição e da natureza humana) e o prático

(o material didático utilizado como ferramenta transmissora de suas idéias), expondo a relação

entre a música e o ser humano. Eleva a audição a tal grau de importância, que recomenda que

esta seja aplicada antes da prática instrumental. Enaltece também, de acordo com Fonterrada

(2005), três aspectos no tocante à audição: sensorial, afetivo e mental.

● Aspecto sensorial

A compreensão do som como entidade física é de suma importância para

Willems. Por isso promove a abordagem dos elementos sonoros: altura, duração,

intensidade e timbre (dos quais considera a altura como elemento mais

importante). A sensorialidade auditiva é a base material sobre a qual se assenta a

música; assim, pretendia que o aluno ficasse livre de preconceitos futuros

concernentes às organizações sonoras.

● Aspecto afetivo

De acordo com Willems, a afetividade é o alicerce da escuta, da mesma forma que

o elemento central da música manifesta-se na melodia, enfatizando a emoção

como forma de expressão.

● Aspecto mental

Permite processar conscientemente o universo sonoro, utilizando-o como

elemento artístico, seja criando, seja interpretando. O ouvido tem a propriedade de

identificar os sons isoladamente, enquanto o cérebro exerce a função de captá-los

simultaneamente.

Muito inspirado por Dalcroze, propôs método baseado nos aspectos da fisiologia do

ouvido humano e apontava para a importância do preparo auditivo antes do instrumental.

Visava o ensino coletivo e o ideal de que a música pudesse ser feita por todos,

independentemente de talentos. Buscava sempre encontrar relações entre o ser humano e a

música.

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CARL ORFF6

Carl Orff (1895-1982) elaborou uma pedagogia musical que aborda a combinação de

linguagens artísticas e o ensino baseado no ritmo, no movimento e na improvisação. Foi uma

pessoa extremamente discreta em relação ao seu passado; não obstante, sabe-se que estudou

na Academia de Música de Munique até 1914. Foi o compositor preferido do “III Reich”,

época em que se popularizou sua mais conhecida obra “Carmina Burana”.

Em 1925, juntamente com sua amiga Dorothea Ghunter, fundou a “Guntherschule”,

instituição de ensino musical onde desenvolveu os princípios de sua técnica pedagógica com

artistas e professores de educação física. Após a I Guerra Mundial, passou a utilizar esses

princípios e a aprimorá-los com crianças.

Seus princípios sustentam-se sobre os pilares da linguagem artística, ensino baseado

no ritmo, no movimento e na improvisação. Sua ideologia foi amplamente aceita em vários

países da Europa e América.

Segundo Fonterrada (2005), com o auxílio de seu amigo Karl Maendler, Orff

desenvolveu vários instrumentos de percussão, que levam hoje seu nome; a eles, juntaram-se

outros (flautas doce e violas da gamba), incentivando cedo o gosto e o aprendizado utilizando

vários timbres e uma massa sonora significante. Além destes, os poemas, rimas, provérbios,

jogos, ostinatos (padrões rítmicos, falados ou cantados, que se repetem), canções e danças

usados como exemplos e como material básico, podendo ser tradicionais, folclóricos ou

composições originais. Falado ou cantado, tal material pode ser acompanhado por palmas,

batidas de pés, baquetas e sinos.

Os ritmos e as melodias propostas por Orff são simples e facilmente assimiláveis pelas

crianças: utilizava cantilenas, rimas e parlendas, somadas aos jogos infantis que faziam parte

do cotidiano delas, fazendo música e somente depois partindo para e ler e escrever.

De acordo com Fonterrada (2005), são importantíssimas as improvisações, presentes

desde o início do processo até sua maturidade baseando-se no ostinato e na escala pentatônica,

de fácil combinação rítmica e melódica.

Para Orff, a vivência deveria ocorrer primeiro, depois passaria a existir a preocupação

com a teoria e com a técnica, por isso as aulas têm um ambiente não competitivo, onde uma

das maiores recompensas é o prazer de fazer boa música com os colegas. Somente quando as

6 De acordo com Valiengo (2005), a palavra-chave para Carl Orff é: IMPROVISAÇÃO.

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crianças sentem necessidade de anotar é que se introduz a escrita e a leitura. Sua metodologia

destina-se a todas as crianças, não buscando talentos privilegiados.

Segundo Fonterrada (2005), hoje sua pedagogia é difundida pelo mundo todo,

inclusive seus instrumentos, que ainda hoje são fabricados pela mesma empresa da época, a

“Studio 49”.

SHINICHI SUZUKI7

Suzuki nasceu em Nagoya, Japão, em 1898, e faleceu em Matsumoto em 1998. Era

filho do proprietário da maior fábrica de instrumentos de cordas daquele país na época.

Quando criança, brincava nesse espaço, e mais tarde, passou a trabalhar lá. Certa feita, seu

pai, munido de um gramofone, exibiu gravações de violinistas a Shinichi e seus irmãos,

despertando-lhe o interesse pelo instrumento.

De acordo com Fonterrada (2005), Inicialmente, atuou de forma autodidata; algum

tempo depois foi à Alemanha aperfeiçoar-se. Nesse novo e desconhecido país, enfrentou

dificuldades com o idioma alemão; percebeu que crianças alemãs falavam o idioma do país

sem dificuldades. Estudou violino em Berlim com Karl Klinger, do famoso Quarteto Klinger,

e conheceu grandes personalidades como Albert Einstein (que tocava violino) e Pablo Casals,

bem como sua esposa Wartraud. Surgiam então, os germes de seu longo e profícuo trabalho.

Segundo Suzuki (1994), retornou à sua terra natal em 1928. Nesta época, um pai

trouxe seu filho de quatro anos a Shinichi e pediu-lhe que lhe ensinasse a tocar violino;

começou então a refletir sobre o modo mais seguro e prático de ensinar uma criança de tão

tenra idade, quando na realidade, começava-se a aprender geralmente a partir dos sete ou oito

anos. Iniciava-se então sua grande jornada rumo à elaboração de seu famoso Método, baseado

na aprendizagem através da “Linguagem Materna”.

Observando a facilidade com que as crianças aprendiam, fundou em Matsumoto o

Talent Education Institute (Instituto de Educação do Talento), onde iniciou seu trabalho.

Suzuki (1994) afirma que talento não é hereditário, por isso sua metodologia apoia-se

na educação do talento, tendo como cenário um ambiente favoravelmente concebido, numa

parceria entre pais e mestres. As aulas são individuais; entretanto, coletivas são igualmente

relevantes, por promoverem estímulo e desenvolvimento mútuos entre alunos experientes e

iniciantes.

7 De acordo com Valiengo (2005), a palavra-chave para Shinichi Suzuki é: INSTRUMENTO COLETIVO.

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De acordo com Suzuki (1994), o procedimento básico consiste em ensinar à criança

uma coisa de cada vez. Devem ouvir as gravações que acompanham o caderno de exercícios,

até conhecerem muito bem a canção antes de executá-la. A observação também é um

importante fator: Os pais executam as peças em casa e o mestre em aula.

Os procedimentos utilizados no processo são: repetição constante; utilização dos

discos de gravações; contato positivo com a criança; oferecimento de oportunidades para a

criança tocar em público; formação de repertório; estímulo à memória e estímulo à execução

de “ouvido”.

Alguns princípios da metodologia, segundo Suzuki, (1994) são:

Motivação;

Alegria e autoconfiança;

Aprendizagem dentro do ritmo de cada um, respeitando as dificuldades;

Imitação dos modelos, que estão sempre disponíveis (os professores não se

cansam de repetir, jamais demonstrando cansaço ou irritação);

Identificação com os mestres, que estão sempre encorajando o aprendiz e

elogiando as novas conquistas;

O aluno aprende com o objetivo de usar no dia-a-dia estes conhecimentos e

habilidades; e

Afeto envolvido em todas as etapas.

O repertório é formado de peças ocidentais barrocas e clássicas, por oferecerem

padrões claros de tonalidade e forma, excluindo os compositores contemporâneos. Pode-se

incluir, de acordo com a necessidade, o folclore nacional de cada país. Falaremos mais

detalhadamente sobre este assunto no capítulo 5.

ALGUNS PONTOS DISTINTOS OU SEMELHANTES ENTRE AS PROPOSTAS8

Integração das linguagens artísticas: Dalcroze e Orff.

Exclusividade Musical: Willems e Kodaly.

Habilidade Instrumental: Willems e Suzuki.

Habilidade Vocal: Dalcroze, Orff e Kodaly.

Repetição: Suzuki.

8 De acordo com a análise realizada na obra: VALIENGO. C. Algumas propostas músico-pedagógicas do

século XX. 2005. Disponível em: <http://www.pesquisaemdebate.net/docs/pesquisaEmDebate_2/PesquisaEm

Debate_2.pdf>. Acesso em: 10 out. 2012.

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Improvisação: Orff.

Democratização da Música: Dalcroze, Willems, Orff e Kodaly.

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3. CONTEXTO HISTÓRICO E MUSICAL DO MUNICÍPIO

Figura 1 - Luiz Antônio/SP

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística9, Luiz Antônio localiza-se na

região sudeste do Brasil, estado de São Paulo, mesorregião de Ribeirão Preto e distante da

Capital Paulista 276 km. Tem como municípios limítrofes São Simão, Cravinhos, Guatapará,

Descalvado, São Carlos, Rincão e Santa Rita do Passa Quatro. Sua população estimada em

2010 era de 11.286 habitantes.

De acordo com o site oficial da cidade10

, inexistem dados precisos sobre a data de

fundação do município. As informações que dispomos são de alguns moradores mais antigos

afirmando que a cidade originou-se a partir de um povoado surgido nas imediações de onde

hoje se localiza a praça central da Cidade - Praça Mário Junqueira. Segundo os relatos de

origem popular, no dia 13 de dezembro de 1892, o viajante Carlos Loyola (morador de São

Simão) passava pelo local transportando café para o porto do Jataí, tendo sido acometido por

uma cegueira repentina. Como era dia 13 dezembro, ou seja, data consagrada ao culto de

Santa Luzia, ele teria feito uma promessa à santa protetora dos olhos, tendo sido curado

prontamente. Para pagar a promessa, Carlos Loyola montou no local uma Botica (espécie de

farmácia) para vender medicamentos aos viajantes e moradores da região. A Botica, logo

após, foi transformada em armazém que vendia desde alimentos até ferramentas. Carlos

Loyola foi, portanto, o primeiro habitante do lugarejo que passou a ser chamado de Vila Jataí

a partir de 1887. Desde 1937, a localidade passou a ser conhecida como Luiz Antônio em

homenagem ao Coronel Luiz Antônio Junqueira - importante fazendeiro e desbravador da

região - que possuía uma fazenda com o mesmo nome Luiz Antônio obteve sua emancipação

política no dia 18 de fevereiro de 1959, quando entrou em vigor a lei nº 5.285 que substituiu a

9 IPEADATA. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>.

Acesso em: 20 set. 2012. 10

Luíz Antônio. Disponível em: < http:/ http://www.luizantonio.sp.gov.br/ />. Acesso em: 14 nov. 2012.

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lei nº 5.121 de 31 de dezembro de 1958, que tratava da nova delimitação territorial do estado

de São Paulo.

Quanto aos registros musicais, os únicos documentados são o da Corporação

Municipal “Irineu Santa Catarina” fundado em 18 de maio de 1982, sob a Lei Municipal

número 373 e o da Banda Marcial Municipal de Luiz Antônio, fundada em 27 de setembro de

2001 sob a Lei Municipal número 97311

. Existiam outros antigos grupos instrumentais e

vocais na cidade, contudo, são relatos antigos de moradores. Esses grupos eram formados por

violonistas e violistas amadores, cantores e instrumentos de percussão. Ainda hoje, alguns

grupos oriundos dessa época executam informalmente sua música em bares e praças. O

repertório baseia-se na música sertaneja, característica cultural da cidade e região.

Na gestão municipal 2001/2004, foi criada a Escola Municipal de Música, agregada ao

Departamento de Cultura; de acordo com o mesmo departamento, não há registros oficiais

sobre a fundação da escola. Eram oferecidos cursos de violão, viola caipira, teclado,

cavaquinho, guitarra, baixo elétrico e bateria, todos populares e livres. A partir da gestão

2009/2012, foram inseridos o piano e o violino como representantes da música erudita e a

musicalização infantil. Não há planos pedagógicos de ensino na escola, exceto o de violino e

musicalização infantil.

A escola é dirigida pelo Sr. Luis Aguiar Menon, Coordenador do Departamento de

Cultura da cidade e possui aproximadamente 400 alunos, cujo público alvo são os habitantes

da cidade, independente de idade ou grau de instrução. Nessa ocasião, começamos o trabalho

de ensino do violino, cujo processo abordamos neste estudo.

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Informações retiradas de cópias das Atas Oficiais.

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4. FORMAÇÃO DO GRUPO INSTRUMENTAL

Quando cheguei à cidade de Luiz Antônio pela primeira vez, em junho de 2007 a

convite de amigos, encontrei algumas pessoas que tocavam violino em igrejas evangélicas e

que começaram a aprender o instrumento com uma violinista amadora que viera da cidade de

São Paulo; eram carentes de um instrutor técnico que pudesse levá-los mais adiante. Numa

dessas visitas à cidade, fui convidado pelo então futuro prefeito, para lecionar em sua

administração caso fosse eleito. Após o mesmo assumir o cargo, me foi feita a proposta

financeira, que mediante alguns ajustes, aceitei. Deixei então meus trabalhos no ABC

Paulista, e migrei para o interior do estado.

A escola funciona desde 2008 no Departamento Municipal de Cultura, que não possui

prédio próprio, mas conta com boa infra-estrutura, incluindo-se instrumentos como teclados,

violões, cavaquinhos, uma bateria e instrumentos de percussão.

Antes do início das aulas, a Prefeitura Municipal promoveu ampla divulgação dos

cursos que seriam oferecidos na escola através de carros de som que percorreram toda a

cidade. Foram feitas muitas inscrições, centenas. Para violino tivemos dezenas delas, o que

nos obrigou a fazer uma triagem através de entrevistas. Um dos pré-requisitos era que o aluno

tivesse instrumento próprio, pois a prefeitura não os possuía

Feita a triagem, foram selecionados por mim 20 alunos, baseado no tempo que

dispunham para estudos diários, com idades entre 5 e 60 anos, independente do nível técnico

instrumental. Deste grupo, 12 alunos permanecem até o presente momento, e o restante das

vagas têm sido preenchidas com alunos itinerantes, que estudam alguns meses, às vezes 1 ano,

depois mudam de curso ou evadem. Consideramos, porém, que 12 alunos fixos e permanentes

são o resultado de um trabalho árduo de incentivo e motivação encontrados nos novos

conhecimentos pedagógicos adquiridos. Antes da aplicação dos mesmos, sempre me pareceu

muito difícil manter o mesmo grupo por 4 ou 5 anos ininterruptos estudando e dedicando-se

ao instrumento: baseamo-nos em experiências obtidas em outras instituições onde

lecionamos, como o Projeto Musical da Primeira Igreja Presbiteriana de São Bernardo do

Campo, no qual atuei por cerca de 8 anos, e onde aplicava uma técnica de estudo mais

tradicional, adquirida com meus antigos professores. Tal técnica incluía estudos rotineiros,

que em nada nos dava prazer em estudar. A solução encontrada foi mesclar o estudo

tradicional e o contemporâneo, principalmente do Professor Doutor Shinichi Suzuki, cujas

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metodologias, ao contrário do que ocorria antes, procuramos aplicar na íntegra, na medida do

possível, abordamos mais detalhadamente no capítulo 5.

Na Escola Municipal de Música de Luiz Antônio não existem regras que

regulamentem a faixa etária e sua relação com o nível técnico do aluno; sendo assim, o

planejamento foi desenvolvido e elaborado por mim com base em 1 pré-nível e outros 10

níveis de desenvolvimento. Todos os iniciantes passam primeiramente pelo pré-nível, que é o

estágio de conhecimento e adaptação ao violino (podemos chamar este nível de

musicalização, podendo estender-se enquanto durarem as necessidades da criança ou adulto).

Do nível 1 ao 6, são os chamados ciclos básicos, e do 7 ao 10, avançados: cada módulo dura

aproximadamente 6 meses, podendo ser alterado para mais ou menos, de acordo com o

desenvolvimento de cada aluno. Os iniciados seguem os estudos a partir do nível

correspondente em que se encontram.

Todos os alunos portam discos com gravações de referência das canções que estudam

e participam da Camerata de Cordas (prática de conjunto), em consonância com o Método do

Professor Doutor Suzuki. Nas aulas, as canções são executadas com o acompanhamento de

Play Back ou pianista quando possível.

Visamos o desenvolvimento artístico, expressivo, técnico e a construção de repertório

violinístico baseado, sobretudo no Período Barroco. Podemos incluir aí também peças do

Período Clássico e música folclórica brasileira.

Em consonância com Método Suzuki de ensino, deveríamos formar um grupo de

cordas, para prática conjunta. Em seu início, o grupo executava peças muito simples, como

temas de Walt Disney. Com a evolução técnica, passamos a executar obras mais complexas, e

hoje, é possível executarmos concertos barrocos como os de Antônio Vivaldi e Johann

Sebastian Bach. Nascia assim a Camerata de Cordas da cidade. Os ensaios ocorrem de acordo

com a necessidade e proximidade das apresentações, ou seja, 2 ou 3 vezes a cada bimestre.

Ainda não é o suficiente. De acordo com Suzuki, as aulas coletivas devem acontecer

semanalmente, o que ainda não tornou-se possível, devido a questões técnicas do

departamento e pessoais dos estudantes e do professor, como local disponível para ensaios e

um horário em que todos possam estar sem impedimentos de outros compromissos.

Além de ministrar as aulas práticas de violino a mais de 20 alunos, acumulamos ainda,

a função de Regente da Camerata de Cordas da cidade. As atividades são realizadas nas

dependências do Departamento, em salas de aula, ou espaços específicos destinados a

atividades musicais. Contamos também com as instalações do Anfiteatro Municipal, com

capacidade para 400 pessoas assentadas, onde apresentamos os resultados semestrais dos

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trabalhos musicais sob a forma de audições coletivas ou solo. As obras caracterizadas como

solo são estudadas durante aproximadamente 2 meses, e são lapidadas durante as aulas.

As peças destinadas à execução coletiva são fornecidas aos alunos 1 mês antes do

início dos ensaios e são verificadas durantes as aulas práticas semanais e o repertório é

escolhido em conjunto, depois de dadas as opções pelo professor-regente.

Os mesmos são realizados nas dependências da escola, começando sempre com a

organização do espaço, como posição de cadeiras e audições individuais. Em seguida as obras

são apresentadas por naipes – primeiros e segundos violinos, violas e violoncelos. Os naipes

das violas e dos violoncelos são compostos por músicos convidados, visto que a escola não

oferece tais cursos. Finalmente o grupo, agora completo, executa a obra, equalizando o som,

ajustando a afinação e a dinâmica. Tais ensaios duram entre 1 hora e meia e 2 horas,

aproximadamente.

Durante esses encontros, praticamos exercícios que utilizam movimentos rítmicos para

percepção e cognição, baseados nos métodos e princípios de Emile Jaques Dalcroze. Esses

jogos proporcionam, além da melhora rítmica, a integração do grupo. De acordo com Carmen

Rocha12

, especialista na Metodologia Willems:

Exercícios rítmicos servem para despertar e desenvolver o sentido rítmico

(instinto e consciência) enriquecendo a imaginação motriz, dinâmica. O

ritmo deve ser considerado como um movimento ordenado e desempenhará

um papel importante no trabalho musical. Para desenvolver o sentido do

tempo, do compasso, utilizar-se-á o movimento corporal, a marcha [...] A

marcação dos compassos concorrerá para a tomada de consciência do ritmo.

(ROCHA, 1990)

Dessa maneira, os ensaios iniciam-se descontraídos e os resultados são obtidos mais

rapidamente do que quando começavam com o foco direcionado para a afinação a das peças.

A escola não oferece aulas teóricas direcionadas, e os professores aplicam a mesma

durante as aulas práticas, quando necessário. Segundo Suzuki e Willems, a primeira etapa do

desenvolvimento instrumental é essencialmente prática, por esse motivo a leitura é aplicada

algum tempo depois, dependendo do desenvolvimento de cada aluno. Procuramos aplicar

metodologias de outros pedagogos, como Orff, fazendo uso de xilofones existentes na escola

e utilizados nas aulas de musicalização para fins de improvisação ou execução de obras que

utilizem o mesmo.

O grupo foi criado, para, além do objetivo pedagógico, realizar apresentações em

diversos locais da cidade como o Anfiteatro Municipal e a Praça Mário Junqueira, em

12

ROCHA, C. M. M. Educação musical Willems: síntese. Disponível em: <http://www.musicaiem.com.br/

textos/carmen.asp>. Acesso em: 15 nov. 2012.

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audições e festividades, valendo-se dos repertórios erudito e popular, composto por obras de

compositores como Johann Sebastian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart, Luiz Gonzaga e

Pixinguinha. A Camerata de cordas começou a apresentar-se com 12 alunos. Posteriormente

esse número subiu para 20 componentes devido à evolução técnica dos mais iniciantes e

músicos convidados que passaram a compor a mesma.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

ATUAÇÕES PASSADA E PRESENTE

Antes de toda informação pedagógica que recebi na universidade, as aulas baseavam-

se na maneira como fui instruído: a tradicional. Isso explica-se pelo fato de que meu antigo

professor fora orientado por sua mestra da mesma maneira e assim tem sido por gerações. Isso

implicava em aulas que seguiam um cronograma a ser cumprido sem levar em consideração

as aptidões e as opiniões do aluno. O objetivo era cumprir o programa estipulado, sob a pena

de reprovação, o que obrigava o aluno a refazer todo o processo novamente, geralmente

dividido em semestres: visava-se a formação de intérpretes e solistas, onde o aprendizado não

era visto com objetivos humanísticos, e sim profissionais. O aluno que não cumprisse a

programação estipulada seria então rotulado como fracassado, sendo encorajado e convidado

a retirar-se da instituição. Enquanto formadora de profissionais, essa instituição é tida como

uma das referências nacionais.

As aulas seguiam sempre o mesmo padrão, iniciando-se por escalas e exercícios de

afinação e técnica, executando-se em seguida a peça de repertório escolhida pelo professor.

Geralmente não tolerava-se erros, que eram duramente criticados pelo professor. Não havia

interação professor/aluno e as regras deveriam ser cumpridas com afinco.

Havia apresentações e concertos semestrais em grupo ou recitais/solo acompanhados

pela Camerata, formada pelos alunos mais avançados ou piano. No derradeiro 5º ano, fazia-se

necessário um recital mais elaborado, com obras do período Romântico e Contemporâneo,

ocasião em que, ou era-se ovacionado ou criticado cruelmente. Lecionei a uma aluna

particular que ingressou em tal instituição e deixou de concluir o curso por um recital que não

saiu exatamente de acordo com a crítica presente.

Um dos pré-requisitos fundamentais para obter-se uma das disputadíssimas vagas

como aluno era ser jovem, isto é, de acordo com as regras da escola, possuir entre 12 e no

máximo 16 ou 17 anos, e ter em seu tempo algumas horas diárias para dedicar-se aos estudos.

Quanto à idade havia algumas exceções, como por exemplo, quando o aluno fosse indicado

por algum mestre que já o conhecesse, como foi meu caso, especificamente. Meu objetivo era

então, criar um espaço no Departamento de Cultura, onde todos, sem exceção, pudessem

aprender a tocar e conhecer a música, gradualmente e, acima de tudo de forma natural, sem a

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obrigatoriedade de profissionalizar-se. Nesse ponto foi que percebi que necessitava buscar

novos conhecimentos.

Quando iniciei o Curso de Licenciatura Plena em Música na UNAERP, já lecionava

violino no Departamento Municipal de Cultura da Cidade de Luiz Antônio pelo período de

um ano; pude aliar então, meu trabalho como professor desta Instituição Pública ao estágio do

curso de Licenciatura, onde aplico com sucesso os recursos pedagógicos que tenho adquirido.

Diferentemente da antiga forma de selecionar os candidatos, tais atividades abrangem todas as

faixas etárias.

Os objetivos além de despertar no aluno o interesse musical, percepção, gosto musical,

senso crítico e o estudo técnico do violino, são:

Primeiramente a vivência prática da música, consistindo em tocar e cantar, em

consonância com os pedagogos da primeira metade do século XX.

Desenvolver a leitura de partituras com as diversas variações de grafia, associadas à

técnica do instrumento.

Postura Corporal.

Posições básicas da mão direita (arco).

Posição básica da mão esquerda (manutenção da forma).

Trabalho sincronizado entre os dois braços.

Desenvolver o domínio na digitação das notas, formação de arpejos e acordes,

associados a exercícios, músicas eruditas (repertório violinístico) e populares.

Propiciar o conhecimento teórico de escalas e suas digitações diversas.

Trabalhar ritmos diversos, através de músicas e exercícios.

Desenvolver a atenção, concentração, memórias musical e auditiva.

Promover o bom convívio coletivo no âmbito social.

Não impomos a nenhum aluno, em hipótese alguma, a execução de exercícios técnicos

antes que o mesmo esteja bem preparado para que o exerça com naturalidade.

As aulas iniciam-se com aquecimento baseado em algumas escalas pertinentes aos

exercícios que estão sendo estudados pelo aluno naquele momento. Geralmente, fazemos

improvisações rítmicas ou melódicas, utilizando tais escalas, incentivando a criatividade. De

acordo com Suziki (1994), a audição da peça a ser tocada é o próximo passo, para que, logo

em seguida o aluno execute a mesma. O processo baseia-se na repetição de movimentos e

memorização das melodias. As técnicas de dedilhado são extraídas dos livros de Nicolas

Laoureux (livros 1 e 2), J. Lambert Ribeiro (2ª parte) e Sistema de Escalas do Professor

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Laércio Sinhoreli Diniz. Utilizam-se também a criação e a improvisação na criação de letras

para as melodias, melhorando a capacidade de memorização do aluno. De acordo com a

metodologia de Suzuki, o repertório é composto principalmente por peças do Período Barroco

(sobretudo Bach), mas também são inclusas composições clássicas e românticas, como as de

Mozart (1756-1791), Schubert (1797-1828) e Dvorák (1891-1904), folclóricas e música

popular brasileira. Segundo Suzuki (1994), a predileção por composições barrocas explica-se

pelo fato de serem peças basicamente tonais, estruturadas de maneira que fique muito clara a

escala e a forma utilizada na construção da mesma; canções folclóricas são domínio público

e, com raras exceções, são de conhecimento de todos: esse procedimento favorece a

memorização e a afinação do ouvido.

A participação dos pais, na metodologia de Suzuki (1994) é um dos pilares, e que,

infelizmente, devido ao tempo disponível pelos mesmos, não foi possível aplicar. O

responsável deve participar das aulas juntamente com a criança, e em sua maioria, não

dispõem de tempo para acompanhar seus filhos, seja na escola, ou em casa.

A leitura de partituras e anotações só são aplicadas depois de uma vivência musical

prática, ouvindo, executando as canções e fazendo exercícios corporais que desenvolvam uma

boa rítmica e coordenação motora, por exemplo.

Os alunos são avaliados no decorrer das aulas, de acordo com a participação,

memorização dos conteúdos, assiduidade, empenho na organização dos estudos em casa,

comportamento adequado em sala de aula e conservação do instrumento musical. No final de

cada módulo (6 meses), é feito um recital, apresentando os conhecimentos e a capacidade

técnica desenvolvida durante as aulas, através de músicas tocadas em grupo (Camerata), duos,

trios ou solos.

A grande diferença entre a prática contemporânea e a tradicional é o olhar mais

humano que a primeira procura direcionar aos aprendizes, levando-se sempre em conta suas

limitações, encorajando-os a continuar mesmo tendo em frente dificuldades técnicas ou

pessoais, estimulando sempre e procurando manter o mesmo focado em seus estudos, ainda

que deficiente, seja por falta de tempo ou dificuldade na realização dos exercícos. Em nossa

experiência, notamos que discípulos encorajados na dificuldade, com algumas poucas

exceções, mostraram-se excelentes alunos posteriormente.

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REGISTROS DE ATIVIDADES DO GRUPO

Importa-nos lembrar que alguns alunos que não possuíam o instrumento foram

agraciados com o mesmo através das igrejas as quais pertenciam. Contudo, a utilização desses

instrumentos estava prioritariamente condicionada aos cultos, e por esse motivo, as datas das

apresentações da Camerata sempre foram subordinadas aos eventos dessas igrejas.

A seguir exporemos alguns trabalhos realizados pelo grupo:

Figura 2 - Professores e funcionários do Departamento de Cultura em junho de 2009.13

- Audições de final de semestre

Ao final de cada semestre, foram realizadas audições individuais ou não,

demonstrativas dos trabalhos realizados durante o período. O repertório poderia ser escolhido

pelo aluno, dentre as obras estudadas em aula, ou pelo professor. Tais obras deveriam ser

populares, folclóricas ou eruditas. Compositores como Pixinguinha, Mozart e John Williams

comprovam o esforço em levarmos os diversos estilos de música à população, procurando

atender a todos os gostos.

13

As figuras de número 2 a 11 foram retiradas do arquivo pessoal de Wesley Ekstein de Camargo.

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Figura 3 - Alunos de violino, apresentando-se em audição, no Sindicato dos Trabalhadores de Papel e Papelão. Maio

de 2009.

Figura 4 - Alunos de violino, apresentando-se em audição, na Praça Mário Junqueira em junho de 2009.

- Apresentações ao ar livre

Algumas apresentações foram feitas ao ar livre, como em praças ou palanques

estruturados em lugares estratégicos pela Prefeitura Municipal, com a finalidade de enriquecer

algumas festas da cidade, como Dia de Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças

concomitantemente e Natal. No primeiro caso, o repertório baseava-se em música popular

brasileira como “Aquarela” de Toquinho, e eruditas, como Ave Maria de Gounoud, sempre

com apresentações individuais acompanhadas ao piano. No segundo caso, música natalina,

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com a participação de toda a Camerata de Cordas, formada por 16 violinos, sendo 6

primeiros, 5 segundos e 5 terceiros violinos e violoncelistas convidados num total de

aproximadamente de 20 integrantes.

Figura 5 - Apresentação da Camerata em comemoração ao Natal de 2009, na Praça Mário Junqueira

Figura 6 - Apresentação da Camerata em comemoração ao Natal de 2009, na Praça Mário Junqueira.

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Figura 7 - Camerata de Cordas no Natal de 2009, na Praça Mário Junqueira.

Figura 8 - Alunos de violino, apresentando-se no Bosque Municipal, em homenagem a Nossa Senhora Aparecida e dia

das crianças, dia 12 de outubro de 2010.

- Participação na Festa do Peão Boiadeiro de Barretos

Os alunos de violino da Escola Municipal de Música de Luiz Antônio foram

convidados a participar da “Festa do Peão Boiadeiro de Barretos” de 2010, através do Espaço

Culturando da AGCIP (Associação Gestão Cultural no Interior Paulista). Juntamente com

alguns professores do Departamento de Cultura, preparamos uma banda que apresentou-se em

um dos palcos no local do evento. Os alunos tocaram movimentando-se por todos os locais de

circulação do público presente, e o repertório mesclou música popular brasileira como “Asa

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Branca” de Luiz Gonzaga e alguns clássicos como obras de Beethoven ou Mozart, solicitadas

pelos transeuntes. Todas as canções executadas em movimento foram memorizadas durante

os estudos ou por conta própria.

Música erudita e popular uniram-se numa apresentação que muito agradou às pessoas

que se propuseram a apreciá-las.

Figura 9 - Banda do Departamento de Cultura da cidade de Luiz Antônio, em sua participação na “Festa do Peão

Boiadeiro de Barretos” em 2010.

- Musical

Realizamos o Musical “Para Sempre... Bela Adormecida”, com o apoio da Prefeitura

Municipal no dia 3 de Dezembro de 2011, no Anfiteatro da Cidade, onde fizemos uma

parceria o grupo de violinos e Coral, ambos órgãos da Escola Municipal de Música e a

Escola Municipal de Dança (Ballet e Jazz). O instrumental contou, além dos violinos, com um

piano elétrico. O repertório foi composto pelas canções originais da obra de Walt Disney,

contando com cenário, dançarinos, músicos e cantores. O espetáculo dividiu-se em 3 atos:

I – O Batizado

II – O Feitiço

III – A Visão

Foi uma experiência singular para todos os alunos, devido à grandiosidade do evento,

que necessitou uma diversidade de artistas e demais profissionais e técnicos envolvidos. Os

ensaios exigiram um envolvimento maior com outras artes como dança e artes cênicas.

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Figura 10 - Alunos de violino e canto participando do Musical “Para Sempre... Bela Adormecida”, no dia 3 de

dezembro de 2011, no Anfiteatro Municipal sob a regência da professora Renata Vetrano.

Figura 11 - Detalhe das alunas de violino participando do musical “Para Sempre... Bela Adormecida”.

- Experiência com Orquestra Sinfônica Parcial

No dia 22 de dezembro de 2011, aconteceu o concerto natalino na Praça

Condessa Monteiro de Barros na cidade de Santa Cruz das Palmeiras, onde

houve o intercâmbio entre a Banda Musical de Concerto Escola Viva junto

com a Camerata de Cordas da Escola Municipal de Música da cidade de

Luiz Antônio. Por se tratar de uma apresentação onde a formação

instrumental é diferente da tradicional (não havendo contrabaixo, oboé e

fagote), a experiência como Orquestra Sinfônica Parcial trouxe um grande

aprendizado para os músicos da banda e da Camerata. (SANTOS, 2011, p.

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Os ensaios foram realizados com os dois grupos separados: as cordas em Luiz

Antonio, conduzidos por mim e o restante em Santa Cruz das Palmeiras, conduzidos pelo

Maestro Marcelo. O ensaio geral aconteceu no dia da apresentação, poucas horas antes do

espetáculo, o que não comprometeu a qualidade do mesmo, visto que já sabíamos de antemão

da necessidade do controle sonoro dos sopros e percussão frente às cordas, que possuem

densidade sonora menor. Essa questão foi estudada, portanto, antecipadamente.

Reconhecemos que houve um desequilíbrio quantitativo entre os instrumentos da

Banda, composta por sopros e percussão, e o som da Camerata, formada pelas cordas. O

Maestro Marcelo, responsável pela regência do grupo, soube equilibrar muito bem a massa

sonora do grupo, e privilegiou as cordas nos momentos adequados. Tive a oportunidade de

conduzir algumas obras, o que serviu-me como uma experiência excepcional, exigindo da

liderança do regente uma técnica mais apurada e firme devido à nova equalização sonora,

necessária àquela apresentação. A amálgama entre os dois grupos foi a realização de um

sonho nascido na Universidade de Ribeirão Preto, durante o período em que o Marcelo

concretizava sua graduação.

Pude sentir muito de perto a emoção do público, ao apreciar o desempenho do grupo,

que em sua grande maioria nunca havia presenciado um espetáculo como aquele. Fiquei

surpreso com esse fato e ficou claro que ainda há muito que fazer em relação à educação, à

cultura e à música em nosso país.

Figura 12 - Orquestra Sinfônica Parcial em Santa Cruz das Palmeiras na Praça Condessa Monteiro de Barros,

22/12/2011.14

14

As figuras de número 12 a 14 foram retiradas do arquivo pessoal de Stela Marta Mendes Ramos Lucatelli.

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Figura 13 - Orquestra Sinfônica Parcial em Santa Cruz das Palmeiras na Praça Condessa Monteiro de Barros,

22/12/2011.

Figura 14 - Orquestra Sinfônica Parcial em Santa Cruz das Palmeiras na Praça Condessa Monteiro de Barros,

22/12/2011.

PERSPECTIVAS FUTURAS

A Escola Municipal de Música, sendo um projeto público, depende do respaldo

político para prosseguir. A escola permanecerá fechada até segunda ordem dos novos poderes

executivo e legislativo que assumirão seus respectivos mandatos em 2013.

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Contudo, os resultados obtidos até o presente momento nos possibilitam pensar em

frutos doravante colhidos, baseados na solidez em que procuramos aplicar tão preciosas

técnicas.

Muitos desses estudantes já consideram a possibilidade de prosseguir os estudos em

nível superior.

Acreditamos também no incentivo aos professores e músicos do município, a doarem-

se ao ensino e à educação musical de forma coerente e consciente.

Esses professores deveriam ser formados de acordo com os princípios mais

atualizados, embora não tenham recebido até o momento uma adequada

preparação pedagógica e musical. Não se trata de fazer com que percorram

caminhos já transitados, nem de repetir histórias já superadas por outros

povos. Se estamos atrasados e decidimos atualizar-nos, o que fazer?

(GAINZA, 1988, p. 98)

Ao que a própria Violeta nos responde alertando-nos sobre a existência de muitos bons

professores de educação musical, espalhados por toda a América Latina.

REFLEXÕES

A partir do século XVIII apareceram as primeiras sistematizações em Educação

Musical antecipando os “métodos ativos” surgidos no século XX.

Os métodos ativos, isto é, sistematizações que priorizam a experimentação

antes do aprendizado da teoria, surgiram no início do século XX, inspirados

em educadores do século anterior, como Jean Jacques Rousseau (1712-

1778), Pestalozzi (1746-1827), Herbart (1776-1841) e Froebel (1782-1852).

(VALIENGO, 2005, p. 75)

Basicamente, esse foi o pilar de nosso trabalho. Esses autores foram pioneiros nessa

prática; foram, contudo, muito além: buscaram humanizar a educação, tranformando-a numa

poderosa ferramenta na formação de bons cidadãos.

Refletindo o período abordado entre 2009 e 2012, observei a carência da população

Luizantoniense de uma abordagem mais técnica, e, sobretudo, mais humana do aprendizado

musical. A variedade de estilos musicais, também foi uma questão a ser implantada, já que a

cultura da cidade é basicamente sertaneja. A inserção de indivíduos de diversas faixas etárias

nos cursos oferecidos pela escola, seguindo as propostas de Dalcroze, Willems e Orff,

democratizou o ensino, levando boa música às diversas camadas sociais, lembrando que o

curso foi oferecido gratuitamente e que alunos protestantes que não possuíam o instrumento,

foram agraciados através de igrejas da cidade, que doaram os mesmos, ainda que para uso em

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seus cultos. Poucas pessoas, já que a maioria era composta por evangélicos, deixaram de

participar dos estudos por falta de recursos. A aplicação da prática antecedendo a teoria

também foi um marco importante em nosso trabalho. Podemos afirmar que o objetivo

primeiro deste trabalho foi cumprido, deixando um importante legado à sociedade, como a

formação de instrumentistas ecléticos, técnicos, e, principalmente mais humanos. Muito

aprendemos com os autores das obras utilizadas como embasamento teórico, que indicaram o

caminho correto a seguir. Os resultados já se fazem transparecer com alunos que, se assim o

desejarem, poderão dar prosseguimento aos estudos, visando seguir carreira artística e ou

docente.

Espera-se que estas reflexões possam auxiliar professores a buscar aperfeiçoamento e

conhecimento no âmbito metodológico e pedagógico, objetivando a humanização do ensino

musical, utilizando esta arte como importante ferramenta na formação humana.

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6. CONCLUSÃO

Durante o decorrer deste trabalho, não pudemos deixar de evidenciar a importância

cultural, social e pedagógica que beneficiou toda a população Luizantoniense, direta ou

indiretamente. Diretamente através de todos os alunos que envolveram-se neste projeto,

aprendendo e levando ao público os resultados de suas conquistas. Indiretamente levando

música e arte a todas as pessoas que tiveram a oportunidade de apreciar, ineditamente ou não,

todos os trabalhos concretizados e exibidos graciosamente. Frisamos ainda, que as opiniões e

gostos dos aprendizes sempre foram levados em alta consideração.

O objetivo deste trabalho, contudo, atingimos com dedicação: à luz de metodologias

mais modernas, advindas de grandes mestres da pedagogia musical, esforçamo-nos por levar

não conhecimento pelo conhecimento, mas a contribuição no desenvolvimento da

sensibilidade de todos às mudanças do mundo contemporâneo.

Destacamos também, a possibilidade no prosseguimento dos estudos dos aprendizes

envolvidos, fazendo florescer perspectivas de profissionalização em outras instituições,

através deste projeto que tanto enriqueceu a comunidade de Luiz Antônio.

Que o legado deste trabalho seja um incentivo a todos os professores desta arte, que

buscam enriquecer seus conhecimentos, não apenas técnicos, mas, sobretudo didático-

pedagógicos, utilizando como ferramentas, técnicas desenvolvidas e experimentadas por

grandes mestres, que, não obstante o talento que lhes era peculiar empenharam-se por levar e

elevar a música ao status de ciência e elemento transformador e impulsionador na qualidade

de vida das pessoas.

A música deve ser vista por todos, sobretudo pelos educadores, como uma prazerosa

arte que enriquecerá o modo de viver, amenizando os efeitos nocivos da violência e da

injustiça do mundo em que vivemos.

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Licenciatura Plena em Música) - Universidade de Ribeirão Preto.

SCHAFER, M. O ouvido pensante. São Paulo: Editora UNESP, 1986.

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em: <http://www.pesquisaemdebate.net/docs/pesquisaEmDebate_2/PesquisaEmDebate_

2.pdf>. Acesso em: 10 out. 2012.

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BILIOGRAFIA CONSULTADA

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PENNA, M. Revendo Orff: por uma reapropriação de suas contribuições. In: PIMENTEL, L..

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