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A INTERVENÇÃO DO ESTADO NO ESPAÇO URBANO E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIAIS: O caso do Jardim Diamante no Município de Maringá - PR

Autora: Sonia Maria de Souza1

Orientador: Elpídio Serra2

Resumo: O artigo aqui apresentado sistematiza o resultado do projeto de implementação pedagógica aplicado na educação básica do Estado do Paraná, cujo principal objetivo era analisar, refletir e interpretar as transformações do espaço urbano e consequentemente suas implicações sociais, tendo o lugar como referência. A proposta foi desenvolvida no Colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf - Ensino Fundamental e Médio localizado na região norte da cidade de Maringá, Estado do Paraná, com alunos do 9º ano. Próximo a esta escola passa um trecho do desvio rodoviário Contorno Norte, ainda em fase de construção que visa aliviar o trânsito de veículos pesados que circulam pelo interior da área urbana da cidade. Este desvio rodoviário atrapalha a mobilidade urbana dos moradores de alguns bairros da periferia da cidade, já que a pista do desvio foi rebaixada, entre esses bairros está o Jardim Diamante, aqui referido. O desenvolvimento da proposta envolveu estudo teórico em sala de aula sobre o processo de urbanização da cidade e as estratégias adotadas, aula de campo através da visita ao trecho do contorno, registro através de fotos sobre os dados levantados e produção de “slaid” no laboratório de informática da escola. Realizou-se também, uma pesquisa por amostragem com os moradores do Jardim Diamante, buscando conhecer melhor a sua realidade em decorrência da construção do desvio rodoviário. A proposta de intervenção pedagógica favoreceu o ensino de geografia, ao tratar da produção do espaço urbano destacando os agentes envolvidos no seu planejamento. Foi possível notar o envolvimento do aluno por se tratar de estudo do seu espaço de vida.

Palavras chave: Espaço urbano; Urbanização; Contorno Norte. Abstract: The article presented here systematizes the results of the project of educational implementation applied in the basic education in the State of Paraná, whose the main objective was to analyze, reflect and interpret the transformations of urban space and consequently its social implications, having the place as reference. The proposal was developed in the Colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf Ensino Fundamental e Médio located in the northern region of Maringá, Paraná with students in the 9th grade. Nearby this school, there is a stretch of the highway detour Contorno Norte, yet in construction period, that aims to alleviate the heavy vehicle traffic that flows through the interior of the urban area. This highway detour disturb the urban mobility of the residents in some neighborhoods on the outskirts of the city since the detour’s track has been downgraded, Jardim Diamante, related here, is one of these neighborhoods. The proposal development involved the theoretical study in the

1 Licenciada em geografia. Professora de geografia da Educação Básica no Estado do Paraná, Colégio Estadual M. Maluf. 2 Doutor em geografia humana. Universidade Estadual de Maringá. Departamento de

geografia/programa de pós graduação em geografia.

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classroom about the process of urbanization of the city and the adopted strategies, field class by visiting the stretch of the detour, record through photos about the exposed problems and production of slides in the laboratory computer. There was also a sample survey with residents of the Diamond Garden, in order to better understand their reality due to the construction of the bypass road. The proposed educational intervention favored the teaching of geography, to address the production of urban space highlighting those involved in its planning. It was noted the involvement of the student because it is a study of their living space. Keywords: Urban space, Urbanization, North Boundary.

1. INTRODUÇÃO:

Este artigo é o resultado do envolvimento e participação nos estudos oferecidos pela

política de formação continuada da SEED e o Programa de Desenvolvimento da

Educação – PDE que foca a valorização dos professores da rede Estadual de

Educação do Paraná.

O projeto de intervenção pedagógica visa possibilitar aos alunos uma análise da

produção do espaço urbano a partir de seu espaço de vivência, pois é nessa

pequena comunidade que se estabelecem relações sociais, econômicas e culturais

e que são reflexos de uma organização maior, como a global.

A proposta de intervenção foi realizada com os alunos da oitava série ou nono ano

do ensino fundamental, do colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf Ensino

Fundamental e Médio, localizado no quadrante norte da cidade de Maringá-Paraná.

.

Atualmente, segundo dados do último censo (2010), mais de 84,4% da população

brasileira vivem em cidades, tornando-as um espaço dinâmico e em constante

transformação e que geram conflitos de interesses distintos. Por predominar a

sociedade capitalista são os interesses da classe dominante que prevalecem e este

fato está presente em todas as cidades brasileiras, inclusive na cidade de Maringá,

desde a sua fundação.

Os alunos do ensino fundamental são capazes de fazer uma leitura sobre o espaço

onde moram, porém não tem maturidade para interpretar as transformações que

ocorrem neste espaço. Este trabalho possibilitou aos alunos uma interpretação das

transformações do espaço onde vivem que é a construção de um desvio rodoviário,

aqui como foco principal, o Contorno Norte. A construção deste desvio tem por

objetivo aliviar o trânsito de veículos pesados que circulam pelo interior da cidade.

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No entanto, a pista deste desvio foi rebaixada, com a construção de poucos

viadutos e passarelas ao longo de seu percurso, dificultando a mobilidade urbana

para vários moradores dos bairros próximos a ele. Encontra-se nesta situação os

moradores do Jardim Diamante, também localizado no quadrante norte da cidade.

O trabalho com os alunos foi desenvolvido por meio da aula de campo, onde foi

observado o objeto de estudo que é o trecho do desvio próximo ao bairro Jardim

Diamante, e levantados os problemas existentes, como ambientais e os prejuízos

com relação à circulação dos moradores do seu entorno. A visita foi registrada com

fotos, filmes e entrevistas com alguns moradores. Em seguida esses registros foram

discutidos com os alunos em sala de aula.

Sistematizando o conteúdo ainda, foram trabalhados textos didáticos com a

utilização de mapas, fotos e filmes referentes ao crescimento urbano de Maringá e a

sua tendência a segregação espacial e a especulação imobiliária.

No propósito de levantar a problemática da construção do desvio rodoviário, foi feita

também uma pesquisa por amostragem com moradores do Jardim Diamante sobre

as suas condições econômicas e a opinião sobre o desvio rodoviário. Com os dados

levantados na pesquisa, foram elaborados gráficos no laboratório de informática da

escola. Esses dados foram discutidos em sala de aula e levantados possíveis

soluções para sanar os problemas consequentes do desvio rodoviário.

O trabalho desenvolvido procurou discutir os problemas urbanos, enfatizando os

estudos geográficos, com o intuito de demonstrar que a geografia não se preocupa

apenas com conteúdos distantes da realidade, mas está presente no dia a dia das

pessoas da cidade.

2. O Projeto na Escola

Pelo fato do Brasil ser um país urbanizado, faz necessário que os alunos interpretem

as mudanças que ocorrem neste espaço, e a geografia oferece as ferramentas deste

estudo, já que é uma ciência que tem se dedicado à análise da vida urbana e faz

uma leitura do ponto de vista da sua espacialidade. Castelhar e Vilhena afirmam

que:

Ter a cidade como objeto de estudo geográfico é estudar seus sistemas de entradas e saídas, suas vias de acesso em várias pontas, as inter-relações com aglomerações populacionais, a dinâmica econômica e cultural de seus moradores, que geram as características particulares dos bairros, as relações sociais e ambientais que se

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estabelecem, os serviços públicos e os problemas causados pela ausência deles, e os diversos elementos que compõem a paisagem do lugar. (CASTELHAR E VILHENA, 2010, p. 123).

O projeto de intervenção pedagógica, aplicado no Colégio Estadual Alfredo Moisés

Maluf Ensino Fundamental e Médio, localizado no quadrante norte da cidade de

Maringá – PR, objetivou aprofundar estudo sobre a produção do espaço urbano a

partir do lugar de vivência do aluno, assim como afirma o documento AS

DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO DO

PARANÁ, 2008, P. 61, “O lugar é o espaço onde o particular, o histórico e o cultural,

permanecem presente.”

Procurou pesquisar e analisar os problemas gerados pela construção dos

equipamentos urbanos, no caso um desvio rodoviário, ainda em construção próximo

ao Jardim Diamante e que atrapalha a mobilidade urbana de seus moradores.

É importante utilizar os recursos existentes na escola e na comunidade, que auxilia

no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. O projeto de intervenção, foi

realizado através da aula de campo, com visitas ao objeto a ser estudado e

entrevista com os moradores do bairro em questão. Assim, Pontuschka, Paganelli e

Cacete dizem que:

As entrevistas associadas às observações vão permitindo número cada vez maior de nexos que contribuem para o conhecimento da realidade de determinado espaço. Elas ampliam o adentramento na vida da cidade ou da vila por meio da fala dos moradores e dos trabalhadores do local. (PONTUSCHKA, PAGNELLI, CACETE.2009, p. 183)

Além da aula de campo foi utilizado o laboratório de informática e recursos didáticos

diversos ( câmeras fotográficas, filmadoras, internet), que proporcionaram uma boa

discussão sobre o tema em sala de aula.

3-Crescimento urbano da cidade de Maringá

3.1 O desenvolvimento da cidade

A partir de 1930 a Companhia de Terras Norte do Paraná, que pertencia a um grupo

de empresários ingleses, iniciou a ocupação do centro norte do Estado do Paraná,

uma área que compreendia o vale da bacia do Rio Pirapó ao vale da bacia do Rio

Ivaí. No projeto de ocupação da Cia de Terras, constava também um projeto de

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urbanização, que era a fundação de pequenas cidades, com distância de 20Km

entre elas e a fundação de cidades maiores, que se tornariam centros regionais,

com uma distância entre elas de 100Km. As cidades maiores são Maringá, Londrina,

Cianorte e Umuarama.

O município de Maringá recebeu uma atenção especial, pois o lugar escolhido para

sua implantação ficava no centro da área destinada ao projeto de colonização da Cia

de Terras Norte do Paraná.

Inicialmente, no lugar escolhido para implantar a cidade, a Cia de Terras implantou

um pequeno povoado chamado “Maringá Velho” com algumas estruturas urbanas,

como um hotel, armazéns etc. A Cia de Terra esperou pela definição da linha férrea,

onde poderia aproveitar da madeira e água utilizada na construção da ferrovia para

a construção das cidades.

A cidade de Maringá foi planejada pelo urbanista paulista, Jorge de Macedo Vieira

(1884 – 1978) em meados dos anos de 1940 a pedido da companhia colonizadora.

Para elaborar o projeto da cidade, o engenheiro utilizou o conceito de “Cidade

Jardim”, muito usado na época, principalmente na Europa. Através deste conceito

procurava uma integração entre os elementos urbanos e os elementos naturais da

região.

O conceito de cidade Jardim desenvolvido pelo urbanista Ebenezer Howard foi com fidelidade, utilizado pelo seu discípulo Jorge Macedo vieira, no traçado de Maringá, no qual se buscava uma organicidade, a adequação do urbano às características da paisagem local, a presença de extensos parques e lugares públicos amplos e abertos (MENDES, 2006, p. 14).

O local escolhido para a implantação da cidade pela Companhia oferecia as

melhores condições. Em decorrência das estratégias de planejamento regional,

situaram a cidade no divisor de águas entre as bacias do rio Ivaí e rio Pirapó. Com

relevo suave e vários cursos d água afluentes dos dois principais rios que servem a

região. Clima subtropical úmido mesotérmico, com verão quente e inverno frio com

chuvas bem distribuídas o ano todo.

No plano inicial da cidade constavam largas avenidas atravessando de ponta a

ponta e com canteiros centrais ajardinados, com duas áreas de preservação da

mata nativa e grandes praças na área central. O povoado inicial chamado de

“Maringá Velho”, foi incorporado ao projeto da cidade.

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Em 1944 a Companhia de Terras Norte do Paraná foi comprada por um grupo de

capitalistas paulistas e passou a se chamar Companhia Melhoramentos Norte do

Paraná. Este grupo, porém, continuou a colonização da região nos mesmos moldes

da companhia inglesa.

A pedra fundamental para a construção da cidade foi lançada no dia 10 de maio de

1947 e emancipada para a condição de município no ano de 1951. A cidade foi

planejada para ser um pólo regional e foi assumindo diferentes papeis urbanos e

assim atraindo um contingente populacional cada vez maior. Até a década de 1970,

Maringá teve um grande crescimento urbano. Novos loteamentos foram abertos e a

população vinha para a cidade atraída pelo seu planejamento, que eram explorados

com empenho pelas incorporadoras imobiliárias.

A partir do ano de 1970, a modernização da agricultura e a criação do Estatuto do

Trabalhador Rural, que proporcionava aos trabalhadores rurais os mesmos direitos

trabalhistas dos trabalhadores urbanos, foram alguns dos fatores que provocaram

um intenso êxodo rural e intensificou a urbanização em todo o Brasil. No Paraná não

foi diferente. Aliados aos fatores já citados com a crise do café, provocada pelas

fortes geadas e a introdução de novas culturas como a soja e o trigo acelerou a

urbanização.

Nesta época, Maringá tem um ritmo acelerado de crescimento, principalmente em

direção ao quadrante norte da cidade, já que no quadrante sul existia dois

frigoríficos, a lagoa de tratamento de esgoto e uma zona de prostituição que impedia

a valorização imobiliária da área. Neste período o crescimento urbano da cidade se

caracteriza pela horizontalidade.

Na década de 1980, a cidade passa por um processo de verticalização,

principalmente no centro e no bairro Zona Sete, e na década de 1990 intensifica o

crescimento horizontal com a construção dos condomínios horizontais para os

moradores da classe alta.

Atualmente não existem mais os empecilhos que impediam o crescimento da cidade

no quadrante sul e ela cresce em todas as direções. Perdeu um pouco as suas

características originais, mas ainda mantém o status de cidade planejada.

3.2 Os planos diretores e diretrizes viárias

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O plano diretor é um documento que sintetiza e torna claros os objetivos decididos

em consenso para o município e estabelece princípios, diretrizes e normas a serem

utilizadas para atingir esses objetivos.

Em 1968, foi instituído o primeiro Plano Diretor da cidade de Maringá. A cidade teve

um grande crescimento urbano, até então, provocando algumas alterações no seu

planejamento inicial, onde um dos objetivos do Plano Diretor era controlar ou

organizar esse crescimento como apresenta Rodrigues:

A lei nº 621/68 instituiu o plano diretor fixando as suas diretrizes fundamentais em 09/10/1968, em acordo com os objetivos do Estado. Alguns princípios orientadores básicos foram estabelecido pelo plano: a) prioritariamente a busca da consolidação de Maringá como pólo da região noroeste do Paraná; b) a necessidade de diversificar a economia, eliminando a dependência do café; c) a busca da promoção de uma eficaz organização de suas comunidades e do comportamento das populações urbanas, não ocorrido devido a acelerada ocupação social da região; d) a implementação de um desenvolvimento local alicerçada em estruturas de equipamentos urbanos racionalmente implantados.(RODRIGUES, 20100, P.69)

O Plano diretor de 1968 conseguiu com certa eficiência, controlar o crescimento

urbano, como uma tentativa de não interferir com tanta intensidade no projeto

original da cidade, No entanto, a partir da década de 1970, novos loteamentos foram

autorizados pelas autoridades administrativas que não respeitavam o projeto, como

ruas sem saídas, por exemplo. Para evitar que loteamentos nestes formatos fossem

autorizados é que em 1977 foram implantadas as Diretrizes Viárias. Essa nova Lei

dava continuidade às grandes vias do projeto inicial. Os novos loteamentos

deveriam se submeter ao traçado viário, para evitar que a cidade perdesse as suas

características originais. Através desta lei, foi definido um novo zoneamento urbano

e estabelecido o limite para o crescimento da cidade, como pode ser observado na

figura a seguir.

Fig.1 Mapa das diretrizes viárias de Maringá, 1979. Fonte prefeitura do Município de

Maringá. Modificado por Jaime Luis L. Pereira.

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Em 1991, o Plano Diretor foi reformulado e acoplado a ele a expressão

metropolitana. Também foi elaborada a Lei de Zoneamento 03/91 que visava

minimizar a especulação imobiliária, porém não conseguiu seu objetivo como relata

Beloto:

[...] Se o objetivo da lei era minimizar a diferença dos preços dos imóveis pela diminuição da especulação sobre o potencial construtivo, centrada no princípio de homogeneização do espaço urbano através dos parâmetros urbanísticos, ela não surtiu o efeito esperado. (BELOTO, 2009, p. 187).

Segundo o Estatuto da Cidade, criado sob Lei Federal 10.257, de 10 de julho de

2001, o objetivo principal do Plano Diretor é definir o conteúdo da função social da

cidade e da propriedade urbana, de forma a garantir o acesso à terra urbanizada e

regulamentada, o direito à moradia, ao saneamento básico, aos serviços urbanos a

todos os cidadãos e implementar a gestão democrática e participativa.

Segundo o mesmo Estatuto, o Plano Diretor deve ser elaborado em todas as

cidades com população acima de 20 mil habitantes e com a participação do setor

público e da sociedade organizada.

Seguindo orientações do Estatuto das cidades, no ano de 2004, iniciou o processo

de reformulação do Plano Diretor de 1991, com a participação de membros da

administração pública e da sociedade organizada. Um dos objetivos da reformulação

era tornar a cidade um espaço social, onde os interesses de todos os cidadãos

estariam garantidos através de leis, principalmente com relação à aquisição de lotes

urbanos para a construção de moradias para a camada mais pobre da população e

a oneração dos terrenos vazios através da elevação das taxas urbanas, visando

conter a especulação imobiliária, tão presente, desde a fundação da cidade.

Não foi possível regulamentar o Plano Diretor ainda na gestão anterior (2001 á

2004), deixando para a atual (2005 à 2012), que deu uma nova orientação para a

construção do documento. Criou alguns empecilhos visando impedir a participação

dos membros da sociedade organizada nas discussões do novo documento e

alterou algumas leis estabelecidas no Plano Diretor, principalmente com relação à

exploração do solo urbano, beneficiando mais uma vez as incorporadoras

imobiliárias. O Plano Diretor foi aprovado no ano de 2006, no entanto ainda não foi

totalmente implementado.

3.3. A segregação do espaço urbano

Por ser um processo recente, a urbanização brasileira, assim como as dos países

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pobres apresenta particularidades com relação a sua estrutura, entre elas, a

segregação espacial como expõe Cavalcante:

Cidades latino-americanas, cidades brasileira, como processo relativamente recente de urbanização, com uma relação social de desigualdade, têm assim um arranjo espacial possível de ser tomado em sua recorrência, sem desconsiderar as particularidades existentes. É por isso que se podem analisar os processos semelhantes de estruturação intra-urbana que ocorrem na maioria das grandes cidades brasileiras, como centralização, centralidade, expansão, valorização, segregação, formação de periferias, mesmo que tal análise não permita fazer generalizações excessivas, com base em um modelo preestabelecido. (CAVALCANTE,2008, p.107).

Em Maringá não foi diferente, Desde o planejamento inicial, a cidade mostra um

padrão de urbanização excludente e desigual. No projeto inicial elaborado pelo

engenheiro Jorge de Macedo Vieira aparece um zoneamento definido, onde a área

central sendo ocupada pelo comércio e o administrativo, a zona industrial e zonas

residenciais de alto, médio e baixo padrão. Araújo discorre sobre esse planejamento

inicial:

O projeto da cidade definiu dez zonas iniciais, delas faziam parte o centro e nove zonas em sua proximidade. Cada uma dessas zonas tinha definido no projeto a forma como deveria ser ocupada e a sua função na cidade. Assim temos, por exemplo, a zona 1 como o centro onde estão localizados o comércio e prédio administrativos do município, contigua a zona central, a zona dois com lotes de alto valor e destinados a construção de residências, zona 3 (vila operária) área também residencial, porém voltada para a população de baixo poder aquisitivo: os operários. Tem-se uma cidade cujas as áreas foram previamente divididas e determinadas. As zonas têm diferentes atribuições, como a zona 1 destinada ao comércio e a zona 10 definida para abrigar a indústria e próximo a ela está a zona 3, onde residiriam os operários. (ARAÚJO, 2010, p.170).

As incorporadoras imobiliárias sempre se aproveitaram do planejamento da cidade

para incorporar valor aos lotes residenciais, tornando-os muito caro para a

população de baixa renda. Até a década de 1970, segundo informou alguns

pioneiros, esta população era obrigada a fixarem residências em bairros distantes do

centro e que não contavam com estruturas urbanas, como asfalto, água, luz elétrica,

etc., ou eram obrigados a se deslocarem para municípios vizinhos como Paiçandu e

Sarandi que na época era distrito do município de Marialva.

A partir da década de 1980, iniciou a construção dos conjuntos habitacionais

unifamiliares e horizontais, financiados pelo BNH (Banco de Desenvolvimento da

Habitação) e destinadas à população mais pobre. Neste mesmo período foi

construído o bairro Jardim Santa Felicidade para abrigar as populações carentes de

Maringá. Esses bairros contavam com poucas estruturas urbanas e foram

construídos longe da área urbanizada e do centro da cidade.

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Desde que foi fundada, a cidade de Maringá perdeu um pouco as suas

características originais, mas a essência continua a mesma, como uma cidade

segregadora, que esconde os seus pobres em bairros periféricos ou os expulsam

para cidades vizinhas. Um exemplo, são os moradores do Jardim Santa Felicidade,

que foram transferidos para outros bairros da cidade, pois no seu entorno surgiram

novos loteamentos e condomínios horizontais de alto padrão. Essa segregação do

espaço aparece na afirmação de Schimidt:

[...]A concentração de investimentos imobiliários em determinadas zonas residenciais, caracterizam as diferenças no espaço urbano, ou seja, zonas verticalizadas para classe média e alta, como encontradas nas zonas 1, 2, 4, 5 e 7 ao passo que aparecem zonas residenciais verticalizadas para classe média como nas zonas 17 e 27. Outras zonas periféricas como 29, 31, 36, 38 e 48 e, a partir do ano 2000, as zonas 16 e 32 aparecem como uso horizontal para a classe média. (SCHIMIDT, 2006, p. 67 a 68).

3.4. Especulação Imobiliária

Desde a fundação da cidade de Maringá são visíveis em seu espaço as relações

capitalistas de produção e a especulação imobiliária. A cidade teve um crescimento

urbano extraordinário, realizado através das ações dos agentes imobiliários aliado

ao poder administrativo, como afirma Araújo:

[…] O Estado não é neutro, ele está sujeito a pressões de grupos e segmentos. Em muitos casos, a ação do poder público acaba por privilegiar o capital e sua concepção da terra, como propriedade privada, como mais um elemento capaz de render lucro, deixando para segundo plano o direito a habitação, que deveria ser de todos os indivíduos da sociedade, independente de sua classe social da qual faz parte. (ARAÚJO, 2010, P. 176).

No início da ocupação urbana, era a própria Companhia Melhoramentos Norte do

Paraná que comercializava os terrenos da cidade. Beneficiando-se do projeto de

segregação do espaço apresentada no projeto inicial da cidade, ela podia

comercializar os lotes por preços muito maiores no decorrer do tempo. Desde a

emancipação do município, representantes da Companhia faziam parte do governo

Municipal através do Legislativo, onde elaboravam leis que sempre os beneficiava.

Até a década de 1970, Maringá teve um grande crescimento urbano. Novos

loteamentos foram abertos e a população vinha para a cidade atraída pelo seu

planejamento, que era explorado com empenho pelas incorporadoras imobiliárias. A

cidade passa a ser vista como uma mercadoria. A construção dos grandes conjuntos habitacionais, também contribui para a

especulação imobiliária. Esses conjuntos foram construídos com financiamento do

BNH (Banco Nacional da Habitação), e contavam com algumas melhorias (água

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encanada e luz elétrica), além da via asfaltada ligando o conjunto até a área urbana.

Construídos longe das áreas urbanas ocupadas, abriu-se grandes espaços que

passaram a ser explorada pelas incorporadoras imobiliárias através do lançamento

de novos loteamentos e aproveitando-se da infraestrutura construída pelo Estado. O

poder público sempre presente nas ações dos agentes imobiliários, assim como

afirma Beloto:

A produção do espaço urbano de Maringá não é diferente de outras cidades brasileiras capitalistas: caracteriza-se pela prevalência da conveniência política e privada sobre o interesse coletivo. Fruto de um projeto urbano e regional, a cidade apresenta uma grande fragilidade na sustentação do planejamento técnico e urbanísticos, que é modificado conforme conveniência políticas e econômicas. Possui um segmento social que ostenta o planejamento urbano como uma forma de agregar valor ao espaço como um todo automaticamente revertendo-o em renda da terra urbana.(BELOTO, 2009, p. 182).

Na década de 1980, Maringá passa por um processo de verticalização,

principalmente nas áreas centrais da cidade e zona 7, tendo a Universidade

Estadual de Maringá como agente de valorização. O mercado imobiliário se

aproveitou do capital proveniente da cultura cafeeira nas mãos de médios e grandes

fazendeiros para vender os novos apartamentos construídos. (Figueiredo, p. 29).

A partir da década de 1990, diminuiu a verticalização da cidade e intensificou o

crescimento horizontal. O alto custo e a indisponibilidade de planos de

financiamentos atraentes acabaram dificultando a comercialização dos

apartamentos. As incorporadoras passaram a investir nos loteamentos com planos

de pagamentos maiores e prestações que variam de loteamento para loteamento.

Maringá apresenta uma dinâmica no mercado imobiliário característica e ligado a sua própria história, desde a formação da cidade, nela foi definidas as zonas residenciais, comerciais, industriais. Consequentemente foram sendo compilados formas de materialização em cima de um zoneamento definido. O que mudou ao longo do tempo foram as estratégias de ações definidas pelos agentes produtores. (SCHIMIDT, 2006, p. 67)

A grande incorporadora imobiliária através do apoio do poder público mantém os

preços dos solos elevados, mesmo em loteamentos nas periferias da cidade e a

especulação imobiliária. Esses procedimentos foram adotados para manter o

“status” de cidade planejada, verde que respeita o meio ambiente e oferece aos

seus habitantes, excelente qualidade de vida, como é amplamente explorada pelos

meios de comunicação, valorizando ainda mais o solo urbano da cidade.

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3.6. Jardim Diamante

A partir do ano 2000, a área urbana da cidade de Maringá sofreu uma expansão,

com a definição de novos zoneamentos e, para atender aos interesses do mercado

imobiliário, a prefeitura Municipal autorizou a abertura de novos loteamentos, entre

eles o Jardim Diamante.

O Jardim diamante localiza-se nos lotes 145 e 146 da gleba Ribeirão Maringá e na

zona 16 do Município. Limita-se ao norte com Avenida Kakogawa, ao sul Ribeirão

Mandacaru, a leste Jardim Kakogawa e a oeste com uma área agrícola, como pode

ser observado na figura a seguir.

Fig.2. Mapa área urbana e arruamento de Maringá. Fonte: Prefeitura do Município de Maringá.

Modificado por Jaime Luis L. Pereira.

O bairro tem uma área total de 471.900m2, divididos em 36 quadras e 742 lotes

urbanos de aproximadamente 300m2. A área para equipamentos públicos é de

23.583,36m2, ocupado por um centro municipal de educação infantil e residências

construídas para abrigar ex-moradores do Jardim Santa Felicidade. O bairro conta

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com mais uma área de uso público de 40.242,98m2 para edificação de praças e

outros equipamentos urbanos. Este bairro conta ainda com infraestrutura básica

como: rede de água, rede de luz, rede de esgoto, coleta de lixo e asfalto, porém o

bairro não conta com outros equipamentos como posto de saúde, escolas, áreas de

comércio e cobertura com transporte coletivo.

4.O desenvolvimento do projeto

4.1. Situação problema

A cidade de Maringá está localizada na região norte do Estado do Paraná e, em uma

área de entroncamento de rodovias, BR 376 (Maringá – Curitiba), BR 369(Maringá –

São Paulo), BR 317 (Maringá – Foz do Iguaçu) e BR 323 (Maringá – Guaíra).Veja

fig. Este fato proporciona um intenso tráfico de veículos pesado no interior da zona

urbana, que juntando-se ao tráfego de carros de passeios existentes na cidade

provoca muitos congestionamentos nas vias urbanas.

Fig. 3. Mapa sobre a localização do Município de Maringá. Fonte: Prefeitura do Município de Maringá.

Modificado por Jaime Luis L. Pereira.

Para resolver este problema foi construído o contorno sul e ainda em fase de

construção, o contorno norte. Este último desvio foi planejado há muitos anos onde a

área destinada a sua construção localizava-se na zona rural do município. No

projeto original, que foi aplicado sem nenhuma alteração, constava o rebaixamento

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da pista, com apenas três acessos à área urbana e a construção de viadutos com

pista simples apenas nas avenidas consideradas mais importantes. A abertura de

novos loteamentos acabou ultrapassando a área destinada à construção do

contorno norte. Vários bairros ficaram isolados ou com dificuldades de circulação,

tanto para pedestre como para veículos motorizados. É a situação em que se

encontram os moradores do Jardim Diamante, objeto de estudo da implementação

pedagógica.

4.2. A Proposta de Intervenção Pedagógica

O principal objetivo da proposta era analisar os prejuízos e benefícios que a

construção do contorno norte trouxe para os moradores do Jardim Diamante,

tomando como referência a produção do espaço em que prevalece as

características do sistema capitalista e o crescimento urbano da cidade.

A proposta de intervenção pedagógica foi aplicada em uma turma de 8º série ou 9º

ano o ensino fundamental. No primeiro momento, foi apresentado o tema e a

proposta de trabalho para os alunos. Com a utilização de mapas e fotos, foi

trabalhado todo o histórico e a necessidade da construção do contorno, época do

seu planejamento e sua aplicação sem nenhuma adequação à nova realidade da

cidade. A grande maioria dos alunos se mostrou interessadas, participando das

discussões, acrescentando informações e fazendo questionamento sobre o PAC

(Plano de Aceleração do Crescimento) programa responsável pelo financiamento da

construção do desvio rodoviário, principalmente por se tratar de uma realidade

presente em seu dia a dia, já que alguns dos alunos moram no bairro citado.

Conjuntamente, o projeto de intervenção pedagógica e o material didático foram

discutidos com outros professores da rede Estadual através do sistema EAD, no

formato e-escola. A maioria das críticas recebidas foram positivas e alguns

professores contribuíram com sugestões de atividades além das propostas no

material didático.

Os alunos foram reunidos no contra turno para uma visita às obras do contorno

norte, trecho próximo ao Jardim Diamante, com o objetivo de reconhecer a área de

estudo. Foram levantados vários problemas em decorrência da construção, como

erosão, acúmulo de lixo próximo ao acostamento, riacho sem proteção, passarela

considerada inadequada para a passagem dos moradores dos bairros próximos.

Esses problemas foram registrados em fotos como pode ser observado a seguir:

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Fig.4. Passarela provisória sobre o Contorno Norte. Arquivo: Sônia Maria de Souza.

Fig. 5. Sinais de erosão próxima à pista do Contorno Norte. Arquivo: Sônia Maria de Souza

Fig. 6. Riacho sem proteção sob a ponte do Contorno Norte. Arquivo Sônia Maria de Souza

Foram também realizadas entrevistas com moradores do entorno da obra a respeito

da construção onde todos a consideraram inadequados, pois atrapalha a circulação

em alguns trechos e em outros há um muro alto em frente de suas residências. No

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laboratório de informática foi produzido “slaids” e em seguida apresentado em sala

de aula. A turma toda discutiu os problemas encontrados no local e possíveis

soluções para resolvê-los como a plantação de gramado no declive da obra, para

evitar a erosão, canalização do riacho, a construção de várias passarelas mais

seguras para os moradores e mais um viaduto.

Para fundamentar o tema em sala de aula foi feita uma discussão, com a utilização

de fotos, mapas e textos didáticos sobre o crescimento urbano da cidade de

Maringá, levantando questionamentos sobre a especulação imobiliária e a

segregação do espaço urbano, fatos presentes na cidade desde a sua fundação. O

objetivo era proporcionar um maior entendimento do porquê a cidade ter crescido

além da área destinada à construção do contorno norte. Foram interessantes os

questionamentos levantados, pois se tratava de parte da história de vida dos alunos.

Discutiu-se também, a propaganda feita nos meios de comunicação sobre o fato da

cidade ser bela, planejada, e que mantém uma boa qualidade de vida de seus

moradores, fato que contribui para aumentar ainda mais os preços dos terrenos.

Neste momento ficou claro o quanto é difícil desconstruir uma idéia já estabelecida.

Muitos alunos concordam com as estratégias de planejamento adotadas pelos

órgãos públicos, mesmo vivendo na periferia da cidade e sentindo na pele a questão

da segregação urbana.

A construção dos planos diretores da cidade também foi discutido em sala de aula,

destacando a importância da participação de todos os moradores na construção

desses documentos que vão definir as estratégias que o poder público deverá

adotar com relação ao crescimento urbano, defendido pelo Estatuto das Cidades.

Destacando também, que os Planos Diretores da cidade, devem privilegiar os

interesses de todos os moradores e não apenas de um grupo, e os Planos

Diretores da cidade de Maringá sempre privilegiaram uma pequena classe de

moradores. Ficou claro mais uma vez um fato que acontece em toda a sociedade, a

falta de compromisso com as questões públicas, que é de todos. O desinteresse por

parte dos alunos neste conteúdo foi considerável..

Foi questionado se na região em que residem existem indícios da especulação

imobiliária e a segregação do espaço urbano. Alguns disseram que não, outros no

entanto, afirmaram e citaram exemplos, como a existências e áreas desocupadas

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entre os bairros e o conjunto de casas populares, construídas no Jardim Diamante,

com verbas do PAC para ex-moradores do Jardim Santa Felicidade.

Reunidos em grupos no laboratório de informática, os alunos realizaram uma

pesquisa no site do IBGE/cidades, sobre o número de moradores na área urbana e

rural do município e as condições sócio econômica de alguns bairros da periferia da

cidade no seu quadrante norte, onde ficou constatado 98% da população do

município residem na área urbana em que a maioria dos moradores pertence à

classe média baixa.

Visando conhecer melhor a realidade dos moradores do Jardim Diamante e o quanto

a sua rotina diária foi alterada com a construção do Contorno Norte, foi aplicada uma

pesquisa por amostragem. As questões foram elaboradas pelos alunos junto ao

professor. A realização da pesquisa foi um pouco demorada, isto pelo fato de não ser

uma prática comum na escola, pela timidez que é característico da faixa etária em

que se encontram os alunos do 9º ano e a resistência de alguns moradores em

responder os questionários. Foram elaborados 50 questionários e apenas 25

retornaram. Os resultados foram tabulados e elaborados gráficos. As questões

estavam relacionadas com o tipo de residência, tempo em que mora no bairro,

rendimento familiar, se precisa dos serviços públicos como posto de saúde,

escolas, creches, meios de transporte utilizado e porque escolheu o bairro para

morar. O resultado da pesquisa pode ser observado através dos gráficos a seguir:

Gráfico1: tipo de moradia.

própria Alugada

0%20%40%60%80%

100%

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Gráfico 2: números de moradores na residências

Gráfico 3: tempo residente no bairro.

Gráfico 4: renda mensal.

Gráfico 5: quantidade de filhos em idade escolar

Gráfico 6: a escola dos filhos localiza-se no bairro.

3 pessoas 4 pessoas acima de 4 pessoas

0%10%20%30%40%

1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 a 6anos

7 anos

0%10%20%30%

1 a 2 sal 2 a 3 sal 4 sal acima 5 sal

0%

20%

40%

1 filho 2 filhos 4 filhos

0%

10%

20%

30%

sim não

0%

50%

100%

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Gráfico 7: meios utilizados para chegar até a escola

Gráfico 8: utiliza serviços público de saúde.

Gráfico 9: há serviços públicos de saúde no bairro.

Gráfico 10: conhecia o projeto de construção do Contorno Norte.

Gráfico 11: utiliza a passarela provisória para cruzar o contorno.

caminhando bicicleta carro paticular

ônibus

00,10,20,30,4

sim não

0%

50%

100%

sim não

0%

50%

100%

sim não

0%

50%

100%

sim não

0%

20%

40%

60%

80%

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Gráfico 12: considera a passarela segura.

Gráfico 13. A construção do Contorno Norte causa alteração na rotina diária.

Ao analisar os gráficos, percebe-se que os moradores do Jardim Diamante

classificam-se economicamente como classe média baixa e necessita dos serviços

que são oferecidos pelo poder público. Já que esses serviços não existem no bairro,

como postos de saúde, escolas, creches, isso faz com que eles busquem em bairros

próximos. Durante a realização da pesquisa, muitos moradores afirmaram que

necessitam caminhar até 1 Km a mais para chegar ao supermercado, posto de

saúde, escolas, igrejas. Quando questionados sobre o porquê de ter escolhido o

bairro para morar, surgiram vários respostas com o predomínio do baixo custo do

terreno.

Após as discussões sobre os resultados da pesquisa chegou-se à conclusão que a

transformação do espaço urbano feita pela administração pública nem sempre

beneficia todos os moradores e quem acaba pagando o maior ônus, são as classes

mais desfavorecidas.

Ao término das discussões, alunos registraram as suas opiniões a respeito do tema

trabalhado como pode ser observado através de alguns relatos:

Sujeito 1 (...)o Jardim Diamante mudou muito e para nós que moramos no bairro, os estabelecimentos eram longe e agora ficaram mais longe ainda. Sujeito 2 (...)o Contorno Norte foi construído ao lado do Jardim Diamante trazendo muito problemas para seus moradores que foram obrigados a se adaptarem. Sujeito 3 (...)quando terminar o contorno haverá seus pontos positivos, o movimento de caminhões vai diminuir na Avenida Colombo e não terá tanto transito de caminhões dentro da cidade.

5. Considerações finais

sim não

0%

50%

100%

sim não ñ informou

0%

20%

40%

60%

80%

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A proposta de intervenção pedagógica realizada foi relevante para o ensino de

geografia no contexto do ensino fundamental por se tratar da análise da

transformação do espaço urbano, tendo o local de vivência dos alunos da escola

onde foi aplicado, como referência.

Os alunos tiveram oportunidades de estudar conteúdos e realizar atividades que não

são comuns no dia a dia da escola, como o trabalho de campo que foi desenvolvido

através de visita e pesquisa. Puderam registrar esses trabalhos através do uso das

tecnologias disponíveis na escola e discutir em sala de aula. Sair do espaço escolar

e conhecer a realidade que o cerca é de fundamental importância para a

aprendizagem de geografia além de melhorar o relacionamento professor aluno.

Foi possível perceber a motivação de alguns alunos em participar das atividades em

seu bairro e tiveram a oportunidade de fazer uma leitura crítica do espaço onde

residem compreendendo que os problemas encontrados nos bairros faz parte de

uma estratégia maior que é a própria organização da cidade.

6. Referências Bibliográficas: ARAÚJO, Marivânia Conceição. O Município de Maringá: a Constituição de um Es-paço Urbano Planejado e Segregado. In: Retratos da Região Metropolitana de Maringá: Subsídios para a Elaboração de Políticas Públicas Participativas. RODRIGUES, Ana L. e TONELLA, Celene. Maringá: Eduem, 2010. BELOTO, Gislaine Elizete. Indexadores urbanísticos e o retrato da exclusão territori-al. In: Geografia urbana e temas transversais. MENDES, Cesar M. e TOWS, Ri-cardo L. (org.), Maringá: Eduem, 2009. CASTELLAR, Sônia. VILHENA, Jerusa. Ensino de Geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2010. CAVALCANTE, Lana de Souza. A Geografia Escolar e as Cidades. Ensaios so-bre o ensino de geografia para a vida urbana cotidiana. Campinas: Papirus, 2008. COMPANHIA Melhoramentos do Norte do Paraná. Colonização e Desenvolvimen-to do Norte do Paraná. CONSELHO de Desenvolvimento Econômico de Maringá, CODEM.

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