A introdução das técnicas estadunidenses no jornalismo mineiro

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Segundo Mauro Wolf, o conceito de newsmaking diz respeito ao profissional jornalista que dentro da empresa atua como editor. É aquele que é responsável pela configuração final da página (quando no jornal impresso) ou da sequência das notícias, bem como daquelas que serão manchetes. É um sujeito que fabrica a realidade porque, tendo incorporado os critérios universais de seleção daquilo que distingue fatos de acontecimento, vai selecionar de acordo com a seleção já determinada pelas agências de notícias. O editor - que é um gatekeeper ao selecionar - fabrica o que vai ser notícia. Definida a noticiabilidade como o conjunto de elementos através dos quais o órgão informativo controla e gere a quantidade e o tipo de acontecimentos, de entre os quais há que seleccionar as notícias, podemos definir os valores/notícia (news values) como uma componente da noticiabilidade. Esses valores constituem a resposta à pergunta seguinte: quais os acontecimentos que são considerados suficientemente interessantes, significativos e relevantes para serem transformados em notícias? As mudanças nas rotinas produtivas que o jornalismo mineiro sofreu a partir da incorporação das técnicas estadunidenses,ocorreram de forma gradativa. Arreguy Filho (1995) diz que das transformações,podem ser destacados aspectos bons,como uma maior preocupação com a notícia que antigamente não acontecia,e ruins,como um descuido com a língua e a forma do texto. Antigamente o jornal era mais literário e havia mais atenção com a forma. Nariz de cera Parágrafo introdutório em um texto que retarda a abordagem do assunto enfocado e tende à prolixidade. É o oposto do lead e totalmente desnecessário. Técnica da pirâmide invertida – cortar o texto pelo pé,sem prejuízo.

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As técnicas estadunidenses que foram incorporadas ao jornalismo mineiro na decada de 50 e como essas mudanças provocaram a aceleração das rotinas produtivas.

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Segundo Mauro Wolf, o conceito denewsmakingdiz respeito ao profissional jornalista que dentro da empresa atua como editor. aquele que responsvel pela configurao final da pgina (quando no jornal impresso) ou da sequncia das notcias, bem como daquelas que sero manchetes. um sujeito que fabrica a realidade porque, tendo incorporado os critrios universais de seleo daquilo que distingue fatos de acontecimento, vai selecionar de acordo com a seleo j determinada pelas agncias de notcias. O editor - que um gatekeeper ao selecionar - fabrica o que vai ser notcia.

Definida a noticiabilidade como o conjunto de elementos atravs dos quais o rgo informativo controla egere a quantidade e o tipo de acontecimentos, de entre os quais h que seleccionar as notcias, podemosdefinir os valores/notcia (news values) como uma componente da noticiabilidade. Esses valores constituema resposta pergunta seguinte: quais os acontecimentos que so considerados suficientementeinteressantes, significativos e relevantes para serem transformados em notcias?

As mudanas nas rotinas produtivas que o jornalismo mineiro sofreu a partir da incorporao das tcnicas estadunidenses,ocorreram de forma gradativa.

Arreguy Filho (1995) diz que das transformaes,podem ser destacados aspectos bons,como uma maior preocupao com a notcia que antigamente no acontecia,e ruins,como um descuido com a lngua e a forma do texto. Antigamente o jornal era mais literrio e havia mais ateno com a forma.

Nariz de ceraPargrafo introdutrio em um texto que retarda a abordagem do assunto enfocado e tende prolixidade. o oposto do lead e totalmente desnecessrio.Tcnica da pirmide invertida cortar o texto pelo p,sem prejuzo.

A preocupao de melhorar o texto havia nos em todos os jornais de BH. Em vez de rodeios,iam direto ao ponto.

De acordo com Rabelo, com as mudanas do jornalismo mineiro,houve a exigncia de adotar um texto mais objetivo e no fazer mais uso do nariz-de-cera.

Na objetividade,na apresentao,lgica dos fatos,na eliminao do nariz-de-cera. Os jornalistas tinham que fazer uma triagem parablica pelo mundo para se chegar ao fato principal.Era sempre uma sub-literatura.Uma introduo que muitas vezes no tinha nada a ver com o fato,apenas para dar uma colorao literria na matria.

A incorporao das tcnicas estadunidenses de jornalismo,em Minas Gerais,se deu entre os anos 1950 e 1960.

Essas tcnicas chegaram intermediadas pelos jornais cariocas,que j tinham adotado as prticas estadunidenses. A imprensa mineira j adotou as tcnicas modificadas pelo jornalismo carioca.

Segundo Chagas(1992) atribui ao Correio de Minas o pioneirismo na utilizao das tcnicas em Minas. A redao era formada por profissionais novos,que no tinham vcios de jornalistas antigos.

- Um primeiro pargrafo de cinco linhas com itens fortes,um interttulo atraente e s ento o corpo da matria ou o restante da histria.Agarrar o leitor desde as primeiras linhas,com o o lead e sublead capazes de responder s cinco questes principais de toda notcia : que (ou quem),como ,onde quando e porque.

TcnicasLead no segue uma ordem cronolgicaImparcialidade No h presena de adjetivos,frases curtas e diretas sem traos literriosVerbo no tempo presenteSem a presena de opinio no textoOs ideais da objetividade e da neutralidade superaram os da opinio e do julgamento crtico.

Objetividade no jornalismo segundo Sponholz (2003) deve ser entendida como a relao e conexo entre realidade social e realidade miditica,como a busca e a aproximao da realidade atravs do jornalismo.

a clareza da linguagem (tendo em conta que impossvel para o telespectador voltar ao que no compreendeu ou ao que no claro); 2. os standards tcnicos mnimos.

Os jornalistas tm sua disposio dados e pesquisas sobre a composio, os hbitos e as capacidades do pblico a quem se dirigem, mas o conjunto desses conhecimentos no parece, de facto, incidir muito nos procedimentos produtivos nem ser muito apreciado. Os dados considerados mais significativos relacionam-se, provavelmente, com a compreenso, com a capacidade do pblico de fazer frente s dificuldades em compreender os termos usados nos noticirios: isso refora, efetivamente, no s a necessidade de se ser claro e simples, mas tambm a imagem de pedagogo e de tutor que se atribui profisso, o que representa, portanto, uma reafirmao da sua utilidade social.

Objetividade

A linguagem foi se tornando mais objetiva,mais direta,com menos adjetivos e os textos continham cada vez menos opinies explcitas.Frases curtas

Jornalismo literrio

Apesar da falta de feed-back, a incerteza em relao ao pblico no cria problemas: quando o jornalistatem de pensar no tipo de notcias que mais importante para o pblico, serve-se mais da sua opinioacerca das notcias do que de dados especficos sobre a composio, o gosto e os desejos daqueles comquem est a comunicar. Neste contexto, fazer uma avaliao da notcia pensar no pblico porque sepressupe que as seleces efectuadas por profissionais so aquelas que vo de encontro aos desejos dosdestinatrios (Schlesinger, 1978a, 117)23.

O julgamento da noticiabilidade de um facto decide-se, perguntando em que medida o pblico teve conhecimento dele e quando; mas isso apenas refere o tipo de avaliao que feita e no em que se baseia. Dado que os jornalistas no podem saber, dia aps dia, aquilo que o pblico conhece, a resposta que eles do deve ser extrada do seu "faro" ou de avaliaes profissionais.

A questo da importncia que tm os pressupostos - mais implcitos do que explcitos - acerca do pblico est relacionada de perto com a recontextualizao do contedo informativo dentro do quadro definido pelo formato. Pode dizer-se que tais pressupostos representam a parte do formato mais directamente vinculada exigncia de manter aberta a ligao comunicativa, isto , representam os elementos de composio, estilsticos e formais, voltados para a necessidade de respeitar, dentro do formato, as supostas exigncias do pblico enquanto destinatrio

As teorias do jornalismo, especialmente aquelas que dizem respeito s rotinas produtivas dos jornalistas, so importantes para se compreender o processo de produo diria do material jornalstico que chega s bancas. Essas rotinas produtivas tambm passaram por transformaes, aps a adoo das tcnicas de jornalismo estadunidense na construo do texto.

O processo de construo da notcia est diretamente relacionado ao produto final,que a prpria notcia.

No senso comum, notcia qualquer acontecimento novo.Nas redaes de jornais,notcia o extraordinrio.No basta ser novo.O acontecimento deve conter caractersticas jamais previstas.

O estudo que identifica a notcia como uma mera reproduo de um acontecimento pelo jornalista define o jornalismo como o espelho da realidade.

Sc XIX Teoria do espelho

A teoria do espelho aponta que nos jornais a realidade retratada tal como o ocorrido na vida cotidiana. Jornalista visto como um mediador neutro e imparcial que observa a realidade e produz um relato com objetividade.

Dcada de 1950 Teoria OrganizacionalIdentifica o jornalista como um ser dependente das normas da poltica editorial do jornal.A notcia entendida como uma representao social da realidade produzida institucionalmente.A construo de uma notcia passa por diversas negociaes. ( Negociao entre reprteres e editores e instituies sociais).

Jornalistas como parte de uma cadeia organizacional em que os superiores possuem instrumentos de controle ( nfase na cultura organizacional e na burocracia e no na cultura profissional).

1970 Teoria do Newsmaking

- Contesta o jornalismo como o reflexo do real e define-o como forma de construo da realidade.Essa abordagem no se refere cobertura de um caso especfico,mas rotina produtiva de um jornal.- O principio dessa viso terica , como h uma infinidade de fenmenos ocorrendo simultaneamente e os jornais ( com espao e tempo delimitados) no conseguem abordar tudo,cabe ao jornalista selecionar aqueles acontecimentos que tenham potencialidade de serem retratados pelos jornais.

A partir dessa necessidade,so estabelecidas prticas produtivas que definem critrios de noticiabilidade ( valores- notcia) de um fato. Wolf( 1994) aponta que a noticiabilidade pode ser entendida como:

Teoria do Newsmaking

A teoria do newsmaking pressupe que as notcias so como so porque a rotina industrial de produo assim as determina.H superabundncia de fatos no cotidiano. Sem organizao do trabalho jornalstico impossvel produzir notcias.O PROCESSO DE PRODUO DA NOTCIA PLANEJADO COMO UMA ROTINA INDUSTRIAL.Os veculos de informao devem cumprir algumas tarefas neste processo:Reconhecer, entre os fatos, aqueles que podem ser notcia (seleo);Elaborar formas de relatar os assuntos (abordagem/angulao);ORGANIZAR, temporal e espacialmente, o trabalho para que os acontecimentos noticiveis possam ser trabalhados de maneira organizada."Embora o jornalista seja participante ativo na construo da realidade, no h uma autonomia incondicional em sua prtica profissional, mas sim a submisso a um planejamento produtivo. As normas ocupacionais teriam maior importncia do que as preferncias pessoais na seleo das notcias."Diante da IMPREVISIBILIDADE dos acontecimentos, as empresas jornalsticas precisam colocar ordem no tempo e no espao. Para isso, estabelecem determinadas prticas unificadas na produo das notcias. dessas prticas que se ocupa a teoria do newsmaking.Dentre as prticas apresentadas por essa teoria, destacam-se as seguintes:Noticiabilidade: Critrios que escolhem, entre inmeros fatos, uma quantidade limitada de notcias.Sistematizao: rotina de diviso das aes que envolvem a pauta, a reportagem e a edio.Valores-notcia: senso comum das redaes. Qualquer jornalista sabe dizer o que notcia e o que no de acordo com o senso comum.

O conceito de gatekeeper (selecionador) foi elaborado por Kurt Lewin, num estudo de 1947 sobre as dinmicas que agem no interior dos grupos sociais, em especial no que se refere aos problemas ligados modificao dos hbitos alimentares. Identificando os canais por onde flui a sequncia de comportamentos relativos a um determinado tema, Lewin nota que existem neles zonas que podem funcionar como cancela, como porteiro: o conjunto das foras, antes e depois da zona filtro, decididamente diferente de tal forma que a passagem, ou o bloqueio, da unidade atravs de todo o canal, depende, em grande medida, do que acontece na zona filtro. Isso sucede no s com os canais de alimentao, mas tambm com a sequncia de uma informao, dada atravs dos canais comunicativos, num grupo (Lewin, 1947, 145).

As zonas filtro so controladas por sistemas objetivos de regras ou por gatekeepers. Neste ltimo caso, h um indivduo, ou um grupo, que tem o poder de decidir se deixa passar a informao ou se a bloqueia (ibid.).

O mrito destes primeiros estudos foi o de individualizarem onde, em que ponto do aparelho, a ao de filtro exercida explcita e institucionalmente. White analisa a atividade de gatekeeping no sentido especfico de seleo; posteriormente, este tipo de pesquisa vem a conhecer duas fases, centradas no papel do aparelho como instituio social e numa abordagem sistemtica. Por outras palavras, o carcter individual da atividade do gatekeeper ultrapassado, acentuando-se, em particular, a ideia da seleo como processo hierarquicamente ordenado e ligado a uma rede complexa de feedback

As decises do gatekeeper so tomadas, menos a partir de uma avaliao individual da noticiabilidade do que em relao a um conjunto de valores que incluem critrios, quer profissionais, quer organizativos, tais como a eficincia, a produo de notcias, a rapidez (Robinson, 1981, 97).