A LEITURA DO PONTO DE VISTA DO SUJEITO LEITOR: DESAFIOS E · que caracterizam o texto poético...
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A LEITURA DO PONTO DE VISTA DO SUJEITO LEITOR: DESAFIOS E
PERSPECTIVAS
Sirlene Maria de Oliveira Pinheiro1
Orientadora: Professora Drª. Sueli de J.Monteiro212
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados obtidos na implementação do projeto A leitura do
ponto de vista do sujeito leitor: desafios e perspectivas, no qual se trata da leitura de
texto literário a poesia, além da questão da formação de leitores. O trabalho consiste
na análise de algumas poesias e na produção de textos poéticos utilizando os textos
estudados. O objetivo de tal atividade é mostrar como a aula de leitura de textos
poéticos pode ser feita de uma maneira lúdica quando leva em conta o conteúdo do
texto. Este projeto que busca contribuir para a formação de um leitor proficiente,
capaz de refletir sobre o que leu e de posicionar-se consciente e
argumentativamente diante do texto lido. Dessa forma, pode-se contribuir para o
desenvolvimento de um dos principais papéis da escola na contemporaneidade que
é formar leitores.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Poesias. Textos literários
1. Introdução
Considerando que a principal reclamação dos educadores nas escolas é de
que os alunos não gostam de ler, principalmente, textos literários, gosto pela leitura
1 Professora Estadual da Rede de Ensino
2 Professora da UTFPR
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se constrói por meio de um longo processo, tendo o professor como agente
fundamental na mediação entre aluno e a obra a ser lida.
A leitura tem um papel transformador. Leva o leitor a estabelecer diálogo
com diferentes tipos de textos, contribuindo para que ele se posicione criticamente
quanto à realidade. Já não se pode considerar como bom leitor aquele que apenas
lê corretamente, isto é, a pessoa que tem domínio dos códigos que é a mecânica da
leitura. Leitura e literatura são formas de conhecimento e o gosto se forma na
aprendizagem escolar em que o prazer de ler é construído na medida em que ele
vai superando a si mesmo, criando novas relações entre situações reais e situações
de pensamento.
Segundo Lobato (apud Silva, 1995, p.13), “um grande país se constrói com
homens e livros”. Já está provado que um país, para ser desenvolvido, precisa
investir na educação, valorizando-se o profissional educador, dando ao aluno
condições de um aprendizado condizente, possibilitando-lhe o acesso à leitura, pois
ela desenvolve o conhecimento e conscientiza o homem de seus direitos e deveres
como cidadão.
O tratamento que se dá à poesia na escola frequentemente estimula a
passividade do leitor obediente, o que fica claro observando os questionamentos
propostos a partir de textos que reiteram a compreensão da sequência e dos
significados apenas superficiais do texto. O processo de leitura quase sempre se
limita a um sentido único, aquele que já vem construído, criado ou proposto no livro
didático. Nesse modo de leitura, não há reflexão por parte do leitor – professor e
aluno – para que haja a compreensão dos sentidos do texto; o ler limita-se ao
decodificar.
A poesia, enquanto texto literário, apresenta especificidades relacionadas à
valorização da linguagem sobre outros aspectos. Por isso, quando diante de um
texto poético, o leitor tende a atentar para o desenho sonoro, para a forma de
relação entre as palavras, atividade que geralmente não realiza diante de textos
comuns. Na poesia, a linguagem aparece integrada de um modo que todas as
palavras, estruturas e sons se apresentam em uma relação complexa, sobre a qual
é preciso refletir, a fim de se produzir um sentido para o todo.
Ler poesia é, antes de tudo, apropriar-se de um universo mágico, capaz de
seduzir os alunos, é conhecer estruturas em versos, com rimas ou não, com estrofes
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ou não. É ser capaz de ler nas entrelinhas, enxergar a denúncia, a mensagem de
amor ou de ódio, o encantamento ou desencantamento do eu lírico com a vida e
com o mundo.
A educação vem exigindo de professores e especialistas mudanças, seja
pelo baixo desempenho dos alunos nos exames nacionais como o ENEM – Exame
Nacional do Ensino Médio, seja pelo conflito entre ideais pedagógicas e tendências
educacionais ou ainda pelo histórico descaso com a educação presenciada por
séculos no Brasil. Um dos grandes desafios do educador é estimular o interesse do
aluno pela leitura.
Está-se ciente de que o quadro educacional é lamentável. Diante disso,
justifica-se esta proposta para o ensino de textos poéticos na escola, a fim de
subsidiar a sua prática de leitura. Além disso, busca-se resgatar a leitura de poesia e
também explicitar as convenções da teoria literária que subsidiam a leitura de textos
literários. Atualmente o principal desafio no sistema de ensino público é formar
leitores e assegurar a formação de bons professores.
Destaca-se que as Diretrizes Curriculares da Língua Portuguesa do Estado
do Paraná, documento que norteia as práticas pedagógicas, está em consonância
com a ideia defendida acima quando postula que “a leitura de textos poéticos não
deve se prestar exclusivamente a uma prática utilitarista de leitura didatizada, a
literatura é um excelente meio de contato com a pluralidade de significações que a
língua assume em seu grau máximo de efeito estético” (2006, p. 20).
Tendo em vista que os alunos não têm o hábito de lerem obras literárias,
surgiu a necessidade se fazer este projeto que se preocupa em pensar os
problemas e desenvolver as metodologias diferenciadas para incentivar o gosto pela
leitura de textos literários, principalmente, poesia. A prática de leitura do texto
poético na escola tem sido abordada de forma superficial ou tem ficado em segundo
plano.
Este artigo propõe-se apresentar a relação dos alunos com a poesia e como
esta pode atuar na formação do aluno-cidadão. E propõe ainda a leitura de texto
poético como objeto de entretenimento e de arte, que se distingue pela forma que
utiliza a linguagem, valendo-se de diferentes recursos e estratégias. Os aspectos
que caracterizam o texto poético (rima, ritmo e sonoridade) precisam ser
evidenciados, a fim de que os leitores se sintam motivados a conhecê-los e a
admirá-los por suas especificidades.
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A ideia inicial do projeto nasceu da observação e do empírico de que pouco
se trabalha com texto poético no Ensino Médio.
O Grupo de Trabalho em Rede – GTR - possibilitou várias discussões sobre
o tema, os professores que participaram do curso conheceram o projeto
acrescentaram sugestões e críticas para a melhoria deste.
A implementação do projeto de deu em duas turmas de 1º ano do Ensino
Médio do Colégio Estadual Professora Ottília Homero da Silva, localizado no Jardim
Amélia no município de Pinhais, região metropolitana da grande Curitiba, no período
de agosto a dezembro de 2011.
2. DESENVOLVIMENTO
O corpo do artigo mostra uma fundamentação teórica sobre o tema estudado
para a aplicação do projeto na escola, a metodologia, os resultados alcançados e as
conclusões finais.
2.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A poesia tem um papel fundamental no desenvolvimento da personalidade
do ser humano. A criança tem o seu primeiro contato com o ritmo por meio das
cantigas de ninar, seguindo-se com as de roda, com atividades corporais, a
entonação e floreios de voz, portanto a poesia torna-se um importante elemento que
desperta a sensibilidade e o gosto pelo texto poético, pela beleza, pelo ritmo.
Conhecendo o próprio “eu”, sente-se livre, vivenciando a linguagem lúdica.
Antes de tudo é a isso que se propunha este trabalho, formarmos leitores
que gostem de ler, que saibam apreciar o belo, enxergar a poesia e os poemas
como uma arma de que dispõem para registrar seus sentimentos. Os alunos
puderam perceber que escrever poesias não é coisa apenas para grandes
escritores, que eles também podem escrever quando se apropriam dos mecanismos
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básicos. Entraram em contato com poemas, lendo-os de maneira mais profunda,
interagindo, trocando ideias, sem dúvida, uma forma apropriada para aprender a ler.
As aulas de leitura devem com certeza ter este papel, trazer aos nossos
alunos um universo de leituras diversificadas em que eles possam se encontrar se
retratar, construir e reconstruir sentidos.
Segundo Fantinati (1996), as instituições de ensino, desde o nível da pré-
escola até os cursos de graduação, restringem o ato de ler à leitura de livros e esta é
uma realidade que precisa ser revista. Ele argumenta que:
Se pegarmos a leitura ligada a livro, talvez o jovem esteja se afastando, mas, se pegarmos a leitura como capacidade de compreender o verbal e o não-verbal, os múltiplos códigos que estão na sociedade, talvez nunca se tenha lido como hoje(FANTINATI, 1996, p. 5).
Segundo Delia Lerner, (2002) a escola vive tensionada entre dois polos
contraditórios: a rotina repetitiva e as novidades da moda. “Ao mesmo tempo em que
a tradição opera como um ator suficiente
Acerca da leitura de poema, AVERBUCK analisa que :
Ler a poesia é ler, e tudo o que é dito da leitura em geral vale, evidentemente, para a leitura da poesia. .A diferença essencial é que o texto poético não é um texto como os outros, e as diferenças existentes entre os textos poético e os outros textos não são normais,mas diferenças de natureza. A poesia é um discurso que mostra de alguma maneira o trabalho da linguagem sobre si mesma (...). Na verdade, não é a existência ou não de rimas, de ritmo, ou de certa cadência que assegura ao texto sua natureza poética, mas ao nível de sua organização global, de seu universo e de sua relação com o leitor.( AVERBUCK, 1984, p.70)
O conceito de poesia é amplo, no entanto, podemos reconhecer um poema
pela maneira como ele é registrado: pela forma, por meio de versos de seus versos
e de estrofes. O sentimento é a matéria-prima fundamental na composição poética.
Trabalhar a poesia e, a partir dela, abrir as portas para as várias leituras que
se apresentam em nosso dia a dia, faz sentido quando a proposta é educar para o
mundo. O leitor se identifica com o texto e o interpreta de acordo com experiência
pessoal e lê aquilo que se faz a real expressão do que pensa e do que sente.
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Marisa Lajolo comenta:
O finalmente é que a obra literária é uma obra social. Para que ela exista, é preciso que alguém a leia. Ela só existe enquanto obra nesse intercâmbio social. (LAJOLO,1982,p.16)
Pinheiro (2002, p.23) afirma que.. ”a leitura do texto poético tem
peculiaridades e carece, portanto, de mais cuidados do que o texto em prosa.”
Assim a poesia não é de difícil interpretação, apenas necessita de mais cuidado e
atenção para que ocorra um entendimento dela.
A leitura de um poema é uma experiência mais complexa do que a de textos
comuns, não-literários. Nestes, há uma preocupação do autor em selecionar e
combinar as palavras pela sua significação, conferindo-lhes clareza por meio da
obediência às normas da língua. No texto poético, a criação estética autoriza
qualquer transgressão nesse sentido; se fazem não só pela significação, mas pela
sonoridade e simbologia que carrega consigo, conferindo-lhe a plussignificação por
intermédio de uma linguagem cuja norma a ser obedecida é antes a liberdade de
criação.
A poesia na sala de aula pode também representar uma poderosa
estratégia para desenvolver a sensibilidade, a criatividade, a autonomia, a
autoestima. O trabalho com texto poético abre espaço para que o aluno se expresse
com maior liberdade, contribuindo, de modo significativo para melhorar-se enquanto
leitor e enquanto escritor. Além disso, o uso do poema graças ao caráter “aberto”
abre espaço para a expressão da subjetividade, para possibilidades de significação
durante o processo interativo, favorecendo uma prática interativa e colaborativa,
motivadora e estimulante na construção de sentido.
Segundo Silva e Barbosa:
A poesia popular prescinde, e muito, o surgimento da escola. [...] porém, formam os brasileiros que herdaram e a transformaram em linguagem popular, tal qual a conhecemos hoje; aqui surgiram novas modalidades, regras, técnicas e estilos. Por volta de 1960-1970 surgiram os primeiros poetas, repentistas e declamadores no interior do nordeste [...] (SILVA & BARBOSA, 2007. p. 01)
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A poesia perdeu-se no tempo e no espaço escolar. Não se trata, porém, da
escola assumir a responsabilidade de fazer poetas: sua responsabilidade é a de
proporcionar o acesso ao conhecimento e ao prazer de conhecer textos
Adorno (1983) acredita que a poesia pode funcionar como antídoto à
hostilidade e à desumanização.
Embora a poesia esteja ligada à subjetividade, ela trabalha a dialogia entre
autor leitor e entre textos. Isso se evidencia pela pluralidade de vozes, ao que
chamamos polifonia. Na poesia, é possível o sujeito interativo e dialógico porque na
ação e no diálogo, ele está interagindo a sua subjetividade com a objetividade.
Visto ser o texto poético extremamente importante para o despertar da
sensibilidade e o gosto literário pelos alunos, torna-se relevante para nós,
educadores, conhecermos algumas características fundamentais da poesia, a fim de
transmitirmos esse conhecimento aos nossos alunos.
A poesia, enquanto texto literário, apresenta especificidades relacionadas à
valorização da linguagem sobre outros aspectos. Por isso, quando diante de um
texto poético, o leitor tende a atentar para o desenho sonoro, para a forma de
relação entre as palavras, atividade que geralmente não realiza diante de textos
comuns. Na poesia, a linguagem aparece integrada de um modo que todas as
palavras, estruturas e sons se apresentam em uma relação complexa, sobre a qual
é preciso refletir, a fim de se produzir um sentido para o todo.
“Se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da
vida, mas a poesia (inexplicável) da vida.” (Drummond,1988).
Segundo Averbuck:
A poesia permite o encontro do leitor consigo mesmo e com os outros, posicionando-se de maneira reflexiva, confrontando, debatendo, descobrindo algo a sua volta experimentando novas vivências que se incorporarão em seu desenvolvimento, contribuindo para formar no leitor (aluno) futuro cidadão de bons sentimentos. “Na verdade a poesia não pode ser ensinada, mas vivida”. (AVERBUCK, 1991, p.70).
Outra especificidade da poesia é que ela também pode fazer uso da
chamada licença poética, que, de acordo com Ceia (2005), é a licença para se
expressar com criatividade sem obediência rígida a um modelo convencional da
escrita, ou seja, é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua,
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tomando a liberdade necessária para recorrer a recursos com desvios da norma
gramatical, que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras
de estilo como a hipérbole ou outras que assumem o caráter "fingidor" da poesia, de
acordo com a conhecida fórmula de Fernando Pessoa "O poeta é um fingidor.”
Para o economista, poeta e cronista Lula Miranda, (2007) ”a poesia serve
para educar a alma humana”, ensina as pessoas a pensarem no transcendente e
proporciona um tipo de raciocínio que nos permite ver além das aparências. Sem
falar que a poesia funciona como um importante exercício para se trabalhar a
linguagem, a língua e os sentimentos.
Segundo PAIXÃO (1984,p.13 ) o que mais distingue a linguagem de uso
prático da linguagem poética é “ a maneira como as palavras se organizam e a
energia que elas carregam” , sendo uma característica marcante da poesia a
possibilidade de recriar o significado das palavras colocando-as num contexto
diferente do normal: essa capacidade de revelar nova substância dentro de palavras
já gastas e surradas é que constitui a maior riqueza da poesia.
Da mesma forma, acreditando na força que a poesia tem de humanizar,
Alfredo Bosi, em O ser e o tempo da poesia, ao analisar as relações do poema com
os tempos da sociedade, afirma que:
a poesia aparece, ao longo da obra, não como um objeto fabricado pelas combinações da langue, seu suporte, ou por uma onipotente máquina ideológica, mas como um processo singular e inventivo de significação que em vez de ópio de literatos alienados, almejava e às vezes consegue ser a “alma de um mundo sem alma”. (BOSI, 2000)
A cerca do amplo sentido da poesia, o escritor Moriconi afirma:
Um filme pode ter poesia. Um gesto, comum ou excepcional pode ter poesia. A poesia está no ar. A poesia é popular. Se mulher é flor, a poesia está na boca do povo, vem da boca do povo. Espera-se que a poesia enquanto arte específica das palavras de algum modo revele ou esteja articulada com a poesia além-livro, essa poesia da vida. (MORICONI, 2002,p.9)
O ensinar poesia exige por parte do professor o ensino dos saberes
necessários para que realmente ocorra a leitura dos textos poéticos por parte dos
alunos, na perspectiva apresentada, o esclarecimento dos pressupostos teóricos
advindos da teoria literária acerca da poesia, que nem sempre estão presentes no
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processo da aprendizagem na leitura de textos poéticos, mas essências para a
leitura da poesia.
2.2. METODOLOGIA
Visando à implementação do projeto de intervenção, foi elaborado um
material didático para ser aplicado com alunos “A leitura do ponto de vista social na
formação do sujeito leitor: desafios e perspectivas” estratégias que possibilitassem o
alcance das metas.
O material pedagógico apresenta uma abordagem de poesia que propõe a
leitura do texto literário como objeto de entretenimento e de arte, que se distingue
pela forma que utiliza a linguagem, valendo-se de diferentes recursos e estratégias.
É sabido de que a poesia é um dos gêneros literários mais distantes da sala
de aula, é preciso descobrir formas de familiarizar e de aproximar as crianças e os
jovens da poesia. E essa forma de familiarização e aproximação deve ser feita com
parcimônia e através de um planejamento para evitar as várias afirmações de que os
poemas são de difíceis interpretações e entendimento. Pinheiro (2002, p.23) afirma
que “... a leitura do texto poético tem peculiaridades e carece, portanto, de mais
cuidados do que o texto me prosa.”
Uma forma para melhorar a aprendizagem é a aproximação constante da
poesia, como também a utilização do conhecimento prévio. O conhecimento prévio
engloba o conhecimento linguístico, que abrange desde o conhecimento sobre
pronunciar o português, passando pelo conhecimento de vocabulário e regras da
língua, chegando até o conhecimento sobre o uso da língua. O conhecimento do
texto que se refere às noções e aos conceitos sobre o texto, e, por último, o
conhecimento de mundo, que é adquirido informalmente por meio das experiências,
do convívio numa sociedade, cuja ativação, no momento oportuno, é também
essencial à compreensão de um poema.
Se esses conhecimentos não forem respeitados, o entendimento e a
compreensão do poema podem ficar prejudicados, e assim, como foi dito
anteriormente, de difícil interpretação.
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Sendo assim, optou-se pelo desenvolvimento do projeto dividido em
etapas, as quais contemplariam, cada uma delas, a poesia e seriam desenvolvidas
com um propósito definido, no 1º ano do Ensino Médio.
O Grupo de Trabalho em Rede- GTR, uma atividade do Plano Integrado de
Formação Continuada de professores da Rede Estadual de Ensino do Estado do
Paraná, desenvolvido na terceira fase do programa PDE e suas atividades
realizadas via Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. O trabalho com o GTR
possibilitou que houvesse discussões com outros professores da rede publica sobre
o projeto de intervenção, sobre o material didático-pedagógico e a implementação,
onde o apresentaram suas considerações a respeito do projeto, material didático-
pedagógico e da implementação. Foi de extrema importância a contribuição dadas
pelos professores participantes do GTR, muitas ideias e sugestões foram enviadas
visando tornar o material mais prático possível para reprodução e aplicação em sala
de aula.
A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio foi
desenvolvida no período de agosto a dezembro de 2011, no Colégio Estadual
Professora Ottília Homero da Silva no Jardim Amélia, cidade de Pinhais, região
metropolitana de Curitiba, estado do Paraná. O publico alvo foram os alunos das
duas turmas do primeiro ano do ensino médio do período noturno. Durante a
semana pedagógica do colégio foi apresentado o projeto para a direção, equipe
pedagógica, professores e funcionários.
de slides na TV multimídia, o projeto foi apresentado para os alunos. Foram
explicados os objetivos, as atividades e a forma de avaliação. Os alunos
demonstraram bastante interesse pelo assunto e pelo projeto.
Para alcançar um dos objetivos proposto no projeto, que era estimular no
aluno o interesse pela leitura, em um primeiro momento, usando vídeos educativos e
Power point sobre a diferença de textos literários e não literários. O vídeo trabalhado
foi o seguinte:
Textos literários e textos não - literários disponível em
(http://www.youtube.com/watch?v=vvzVWxfv85s&feature=related) que mostra a
linguagem literária é caracterizada por sua plurissignificação, cuja base é a
conotação, é utilizada muitas vezes com um sentido diferente daquele que lhe é
comum. Pode citar como exemplos de textos literários o conto, o poema, o romance,
peças de teatro, novelas, crônicas. A linguagem não literária é a utilizada com o seu
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sentido comum, empregada denotativamente, é a linguagem dos textos informativos,
jornalísticos, científicos, receitas culinárias, manuais de instrução etc.
Após o vídeo e o Power point, foi feito um debate e realizado diversas
atividades como produção de textos e questionários sobre a diferença entre textos
não literários e textos literários: Você conhecia a diferença entre os textos literários e
não literários? Agora você sabe que a poesia é um texto literário, há alguma poesia
que marcou a sua vida? Por quê? Você lê poesia fora da escola, o que gosta de ler?
Por quê? Você já leu livros de poesias? Quais? Ler poesia em casa é diferente de
ler na escola? Por quê? Que assuntos você acha que podem aparecer na poesia
pela forma? Por quê? Quando ouve músicas você presta atenção nas letras ou
apenas no ritmo? Você considera a leitura de poesia uma diversão ou uma
chateação? Por quê? Foi comentando a importância da poesia na literatura, depois
cada aluno deu a sua opinião sobre o que pensavam sobre poesia e em seguida
produziram suas poesias com temas escolhido por eles.
Em seguida, foi feito um trabalho com os alunos sobre a poesia de Paulo
Leminski Razão de Ser, onde os alunos pode ter ideia que a poesia faz parte do
gênero lírico. Sua estrutura é formada por verso, estrofes, rimas, ritmo e métrica. É
uma manifestação artística bela e comovente, que transmite ao leitor fatos, imagens,
situação existencial sentimentos etc.
No pátio foi realizada a poesia maluca, cada aluno retirava do ambiente e de
seus pensamentos uma série de palavras, transcrevia-as no papel, brincava com o
ritmo, com a sonoridade desses termos, procurando associá-los e organizá-los da
forma mais maluca possível e criavam rimas sem se preocupar se há sentido entre
os termos da frase poética. O importante era construir a beleza dos versos por meio
do som das palavras e se divertir com o resultado, essa foi uma das atividades que
mais gostaram e declamaram a poesia maluca para os colegas.
Foi feito um trabalho com a poesia de Elias José resgatando a experiências
dos alunos com poemas para reconhecer o repertório da turma. Lemos a poesia
juntos. Leram de formas diversas: leitura oral, leitura silenciosa, leitura em grupos,
leitura individual. Em seguida observaram os seguintes aspectos para um
entendimento global do texto. Do que o EU poético fala? QUEM fala no texto? Quais
as vozes que se escutam? Qual a sua condição, como se coloca no momento da
interlocução? Como o” eu lírico se situa, se coloca ou se posiciona em relação ao
que fala? (referente/tema).Para escapar dessa associação (biografia/poema) é
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utilizado o termo “eu lírico” (ou eu poético) – que corresponde, de certa forma, ao
narrador de um romance – para designar a voz que conduz o poema. No texto
poético, não é o autor que fala, mas cede a palavra a voz que enuncia o poema.
Como o eu lírico manifesta sua fala no poema ? Verifiquem o aspecto gráfico,
observando a construção das estrofes para discutir essa questão. Os alunos saber
que o poema “Tem tudo a ver”, de Elias José, tem 24 versos e quatro estrofes ,eles
em duplas conversaram e tentaram chegar a uma conclusão.Esse poema tem
rimas? Podem se compõem um poema sem rima? Resgate as experiências dos
alunos com poemas para reconhecer o repertório da turma. Em seguida observaram
os aspecto sonoro da poesia, grifando as repetições e se ela apresenta figuras de
linguagem?
Na sala de aula foi ouvida a música Eduardo e Mônica da Banda Legião, e
foi proposto aos alunos que produzissem uma poesia sobre a letra da música.
Para encerrar o projeto, foi elaborado um portfólio, com as poesias
produzidas pelos alunos.
2.3 RESULTADOS
Os resultados obtidos com a aplicação da proposta de pesquisa com o tema:
A leitura do ponto de vista do sujeito leitor: desafios e perspectivas foram
apresentados pelas professoras no ambiente virtual do curso on-line, conforme já
descrito anteriormente. Abaixo, encontram-se alguns trechos dos relatos:
“A ideia de desenvolver um projeto em leituras de poesias é brilhante,
sabemos que desenvolver o gosto pela leitura em nossos alunos é um pouco difícil
e conseguir que todos se envolvam é ainda mais. Mas é preciso arregaçar as
mangas e ir a luta com vontade e a competência de profissionais como você que é
muito maior e certamente irá alterar e melhorar o comportamento de alguns
alunos que se mostram desinteressados em ler. Então em outras interações eu já
coloquei algumas ideias para contribuir com sua implementação, como sugestão
caso considere pertinente, que tal você trabalhar com estes textos de autores que
tratam do mesmo tema? A letra da música MONTE CASTELO de Renato Russo
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onde adaptou fragmentos da primeira carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios, falando
do amor combinando com um trecho do soneto "Amor é fogo que arde sem se ver"
de Camões, é bastante interessante e os alunos vão se interessar por ser de autor
contemporâneo. Os três textos tratam do amor, porém de modos bem
diferentes.Você poderia ler juntamente com eles/as os três textos, e depois pedir
que analisem como o Renato Russo tratou o amor, que diferenças são notáveis
entre seu texto e os outros dois? De que forma ele dialoga com o Apóstolo Paulo e
com Camões? Preste atenção que Paulo diz que sem amor "nada serei" prossegue
dando características de quem ama, numa construção bem negativa: "o amor não
arde em ciúmes, não se ufana não se envaidece.." Camões, por sua vez construiu
seu texto com base numa figura chamada OXÍMORO, ele não diz o que o amor é
ou não é como Paulo, mas procura definir o amor pelo que é e não é ao mesmo
tempo (ferida que dói e não se sente, contentamento descontente, dor que desatina
sem doer,..... a assim por diante, com este jogo de contradições, o poeta mostra que
é difícil definir o amor e encerra seu poema deixando no ar a pergunta de como
pode o amor funcionar nos corações humanos se é tão contrário a si? Mesmo
sendo uma leitura lúdica eles vão se interar de que às vezes a literatura dá voz aos
anseios às expressões de sentimentos, ideias e concepções de diferentes autores.”
Aluna 1
“A poesia é uma comunicação especial, própria de cada um, com seus
encantos e desencantos. Ela pode ser trabalhada nas séries iniciais e se estender a
todas as turmas. Pode ser trabalhada das mais diversas formas possíveis,
utilizando-se de vídeos, textos informativos, músicas, entre outros.Uma sugestão é
convidar um escritor para ir à escola e assim poder mostrar o trabalho dos alunos e
os alunos também o conhecerem e verem de perto as obras daquele que em outro
momento serviu de inspiração para que os alunos escrevessem suas poesias.Levar
os alunos num parque onde tenham contato com a natureza e assim possam
escrever também pode ser bastante prazeroso.” Aluna 2
Essa busca em levar nossos alunos a gostarem de ler utilizando a poesia
como um dos recursos é muito importante. Espero que alcance os resultados
almejados. Lecionamos no mesmo colégio. Vejo que a maioria dos professores
estão preocupados em formar cidadãos leitores. A tarefa é árdua, mas com projetos
como o seu, é possível sim colher os frutos. Trabalhar poesias é sempre muito bom.
Nossos alunos tem muita criatividade e eles adoram ler suas poesias ou narrativas,
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principalmente a 7ª Série na qual leciono.Trabalho alguns temas em sala de aula
utilizando-se vídeos, depois discutimos o assunto e algumas vezes finalizo pedindo
para que os alunos produzam poesias, histórias em quadrinhos, fábulas, entre
outros. Já com alunos do Ensino Médio trabalho poesias com o objetivo de levá-los
a reflexão e interpretação. É importante trabalhar com a biografia do autor, situando-
o em determinado contexto histórico e suas características” Aluna 3
Apreciei sua intervenção. Após a leitura da sua proposta, senti-me motivada
a incluir a poesia nas aulas de leitura, o trabalho com esse gênero ficava restrito as
poesias presentes no livro didático. Não trabalho com o ensino médio, mas posso
adequar sua proposta para o ensino fundamental. E, como sugeri no diário, trabalhar
com os poemas visuais de Arnaldo Antunes é uma boa opção para os dois níveis de
ensino (fundamental/médio).” Aluna 4
“Percebo que as poesias ficam restritas ao livro didático. Atualmente e
infelizmente, a prática da leitura de poesias está um pouco esquecida nas escolas.
Isso ocorre devido ao pouco contato que as crianças têm desde pequenas. Se o
professor não tiver um hábito de ler poemas e não se sensibilizar com a leitura de
uma poesia, dificilmente conseguirá despertar esse interesse em seus alunos.”
Aluna 5
No início da implementação, percebeu-se que os alunos não tinham
interesse pela leitura de poesias a busca por alternativas para facilitar o trabalho e
tornar as atividades de leitura mais interessantes e eficientes é um dos desafios
encontrados pelos professores de Língua Portuguesa. A fase inicial, foi muito
importante, com discussões geradas pelo vídeos e pelo power point , onde houve
bastante receptividade por parte dos alunos para os matéria preparado.
Durante todo o processo a presença das mídias tecnológicas foram
fundamentais no registro das atividades através de fotos e vídeos, seja no uso da Tv
multimídia para a abordagem dos assuntos atravde vídeo e apresentação de slides,
bem como no uso de computadores para pesquisa na internet.
Nas oficinas de leitura, os alunos refletiram e desenvolveram a
aprendizagem quanto a conceitos e características específicas do universo da
poesia que possibilitou compreender e analisar a linguagem poética na criação de
suas poesias e perceberam a importância dos escritores consagrados na formação
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de leitores/escritores, ou seja, na sua própria formação. Contudo, procuraram
promover momentos de lazer por meio da leitura e da escrita.
A seguir partes de textos produzidos pelo alunos sobre a leitura de poesias:
“Tudo o que aprendemos nos deu um amplo conhecimento sobre Poesia e
uma melhor compreensão texto literário”
“Foi a melhor experiência que um aluno poderia ter, isso não é bagagem
cultural, é um órgão fixo em nós até a morte, um órgão vital: a compreensão textual”.
“A turma está mais preparada para, pois houve um grande desenvolvimento
na sala de aula”.
“Sinto-me mais preparada para leitura e escrita de poesias, pois agora avalio
tudo de forma mais crítica e compreendo mais os textos abordados, agora parecem
ser mais fáceis a compreensão de qualquer texto”. “
“O projeto ajudou-me muito, pois hoje percebo as coisas com uma mente
mais aberta e também me ajudou na produção de poesia e atividades feitas em sala
de aula em outras disciplinas”.
“Sinto-me mais preparada para as leituras, para entender e aprofundar-me
na literatura.”
“Fiquei mais crítica a ponto de selecionar os conhecimentos que pretendo
adquirir ao longo da minha vida, compreendo agora que nem tudo é o que parece, e
pretendo aprimorar meus conhecimentos a fim de utilizar bem mais o que aprendi”.
“Ampliei meus conhecimentos, tornei-me um pouco mais crítica em relação
aos textos literários e interessei-me bem mais por poesias”.
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2.4.CONCLUSÃO
O trabalho com texto poético é muito desvalorizado na sociedade capitalista
em que a lógica que impera é muito egoísta, objetiva, prática e calculista.
Retomando os objetivos propostos fica claro que trabalhar com poesias demanda
tempo e esforço por parte dos professores e escola. Nessa realidade, não há espaço
para o coletivo, para o respeito ao próximo, para a cidadania, para o sentimento.
È, contudo, justamente dentro desse contexto que se tornam imprescindíveis
trabalhos que mobilizem os sentimentos dos jovens, que canalizem essa energia
positiva, humanizado mais o espaço escolar. A arte tem esse poder. Foi o que se
pode constatar na implementação desse projeto.
Os resultados dos trabalhos dos alunos superaram as expectativas. Muitos
resultados positivos foram obtidos, tais como: o reconhecimento da importância da
leitura, o compromisso com as atividades propostas e, principalmente, com as
oficinas de leitura, os alunos puderam refletir e desenvolver a aprendizagem quanto
a conceitos e às características específicas do universo da poesia escrita) a
construção pelo educando de sua própria identidade social. Evidenciou-se, neste
estudo, que o trabalho com a poesia rompe barreiras de interação verbal, gerando
situações de aprendizagem, trazendo o aluno mais próximo ao professor,
valorizando os textos poéticos, num trabalho consciente, bem elaborado, facilitando
a competência comunicativa do aluno.Todo texto lido é um platô de agenciamento a
outros textos, envolvendo a mesma temática entendida sob vários pontos de vista.
Ao final do trabalho em questão, é prudente esclarecer que as discussões
acerca do objeto continuam, pois novas interpretações serão possibilitadas pelos
leitores que nele se debruçarem com um outro olhar, certamente, também inovador.
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3. REFERÊNCIAS
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