«A ler+ o holocausto» ebook 9.º g

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aLeR+ o HOLOCAUSTO No âmbito do projeto aLeR+ o Holocausto, os alunos do 9.º ano, na disciplina de Português, escreveram textos sobre as atividades realizadas e sobre os livros lidos ou criaram textos narrativos no âmbito desta temática (cartas e/ou páginas de diário). Esta atividade pretendeu incentivar o gosto pela escrita expressiva e lúdica, a partir de factos históricos. Os textos elaborados pela turma F do 9.º ano foram compilados neste ebook. Agrupamento de Escolas Infante D. Henrique, Viseu BE/CRE D. Luís de Loureiro Ano letivo 2014-2015

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HOLO

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Agrupamento de Escolas Infante D. Henrique, Viseu

BE/CRE D. Luís de Loureiro

Ano letivo 2014-2015

No âmbito do projeto aLeR+ o Holocausto, os alunos do 9.º ano, na

disciplina de Português, escreveram textos sobre as atividades

realizadas e sobre os livros lidos ou criaram textos narrativos no âmbito

desta temática (cartas e/ou páginas de diário). Esta atividade pretendeu

incentivar o gosto pela escrita expressiva e lúdica, a partir de factos

históricos. Os textos elaborados pela turma F do 9.º ano foram

compilados neste ebook.

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Quarta-feira,19 de janeiro de 1942

Querido diário,

Hoje foi mais um dia de trabalho forçado no campo de concentração e

parece que, a cada dia que passa, tudo se torna pior.

Em vez de me habituar ao sofrimento, parece que vai piorando.

Não consigo ver o fim disto tudo…. Não tenho culpa de ter nascido judeu.

Porque me tratam como se a culpa fosse minha, como se fosse de uma

raça inferior?

A cada dia que passa, acho que já preferia ter morrido, em vez de estar a

aqui a sofrer o que sofro. E pior que eu sofrer, é ver sofrer a minha família

que é torturada ainda mais que eu, pois todos os membros são mais

velhos que eu.

Dói muito mais ver um membro da minha família a ser torturado do que

se alguém me torturasse a mim.

Ando esfomeado, pois não como praticamente nada desde que vim para

este campo de concentração.

Espero que isto tudo passe depressa para que nem eu nem os meus

familiares soframos mais.

Alexandre Loureiro

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Bergen-Belsen, 23 de setembro de 1944

Querido amigo Robim,

Continuo aqui, nesta enorme “prisão”, passando fome e sede há

dois meses, aproximadamente. A maioria dos meus colegas já morreu, uns

por tifo e outros por fome mesmo. Já devo ter emagrecido uns dez

quilos… costumam dar-me uma única sopa por dia que mais parece água.

O dia-a-dia, neste campo, é horrível: vejo mortes todos os dias, para aí

umas dez por dia, devido ao cansaço dos trabalhos que nos obrigam a

fazer, e isso é só uma das razões, outros morrem também por

desnutrição, etc. .

Tenho saudades da liberdade, e não aguento mais um dia neste

“matadouro”.

Adeus vida e família,

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Áustria, 23 de novembro de 1943

Meu caro,

Escrevo-te para te retratar o horror e a chacina desta guerra cruel e fria.

Ainda esta semana vieram camiões das SS alemãs. Levaram imensos

judeus, tratados como animais ou mercadoria. Embarcavam nos camiões

com medo e com receio do que as esperava. Não tarda e eu serei o

próximo a embarcar num daqueles camiões...

Tenho passado dias de angústia, fome e cada vez me sinto mais fraco. Às

vezes, penso como é possível que o ser humano consiga ser tão cruel.

Uma vez por semana, deixam entrar a Cruz Vermelha que nos traz comida

e roupa.

Todos os dias há bombardeamentos, tiros, gritos, feridos... Estou em casa

e o som das balas faz eco nas paredes. A cada morte sinto que cada vez

está mais próxima a minha hora... Não sei se haverá alguma campa à

minha espera...

Um abraço do teu amigo,

Carlos

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7 de março de 1940

Meu querido diário,

Hoje foi mais um dia péssimo.

Acordámos às 6 h da manhã e, desta vez, ao “pequeno-almoço”, comi

apenas duas bolachas, e tive sorte, porque houve uma pessoa que morreu

antes de começar a comer e eu, como sou o mais novo, fiquei com a

bolacha dela.

Depois levaram-nos para os campos onde estivemos todo o dia a

trabalhar: a cavar na terra.

O meu colega de cama morreu hoje, infelizmente!... Ficou-se nos meus

braços enquanto trabalhávamos!

Cada vez há mais mortos, os fornos já não têm capacidade para cremar

tantos corpos, quase que já não conseguimos andar sem os pisar!

Chegou hoje mais um comboio cheio de pessoas.

Infelizmente, isto está a começar a ficar um hábito.

E como isto é o meu dia-a-dia agora, eu vou começar a escrever de

semana a semana para poupar lápis e caderno.

Cumprimentos do teu amigo

João

João Francisco Sousa Figueiredo

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30 de maio de 1943

Querido diário,

O dia de hoje foi mesmo assustador! Fomos acordados aos gritos às 04h00 da manhã e, em seguida, tivemos de responder à habitual chamada. Depois recebemos a dose diária de comida, nunca chega para alimentar uma pessoa; deixaram-nos, em poucos minutos, ir à casa de banho e, às 05h30, tivemos de ir trabalhar, eu, a minha irmã e o resto dos prisioneiros que nos acompanhavam. Trabalhamos 12h seguidas e depois voltamos ao campo. O nosso trabalho é muito difícil e alguns prisioneiros morrem.

No campo, vivemos num prédio infestado de ratos e sem água, quer dizer, nós e mais de duzentos prisioneiros - polacos, mendigos, pessoas deficientes e até ex-políticos. Cada um tem de dormir de lado para cabermos nas camas coletivas de madeira que só dão para dez pessoas, e, às vezes, temos de dormir no chão.

Hoje morreram mais de mil pessoas nas câmaras de gás. Vi a fumaça e senti aquele cheiro de carne queimada e, como não vi a minha família, temi o pior, mas, quando ia à procura dela, apareceram os soldados oficiais das SS, por volta das 19h00, e começaram a recontar as fileiras e anotaram nos seus blocos de notas o número de pessoas restantes, e foi aí que percebi que os meus parentes estavam todos vivos, pois consegui vê-los ao longe.

Foi a coisa mais sinistra que vi e sei que nada é seguro e que tenho de continuar a cuidar da minha irmã mais nova, pois à minha mãe já não lhe resta muito tempo. Irá morrer de tifo, tenho de ter coragem e esperança por elas, pois um dia ainda sairemos deste campo de extermínio, deste sítio devastador.

Da tua amiga sobrevivente,

Inês

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Auschwitz, maio de 1941

Olá, Dobry!

As coisas aqui em Auschwitz estão a piorar. Imploro-te para que saias do

país e leves a minha filha contigo. Ainda ontem foram mortos trinta e

cinco mil Judeus nas câmaras de gás. Tenho a certeza que vamos morrer

todos aqui. Os guardas já me andam a ameaçar, só por me terem visto a

escrever esta carta. Aqui, já vi coisas que pensava que nunca iria ver na

minha vida: pessoas a serem mortas a sangue frio, pessoas a serem

espancadas e torturadas. Por isso, a única coisa que te peço, Dobry, é que

fujas para outro país para não acontecer nada à minha querida filha, nem

que tenhas de te converter à religião cristã. Faz esse sacrifício por nós.

Boa sorte e um abraço, Dobry.

Da tua amiga

Basia

Rafael Grilo

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Hamburgo, setembro de 1940

Querida família,

Espero que por aí esteja tudo bem com vocês. Aqui, a guerra é horrível;

está a ser muito violenta.

Estou com muito medo ao ver o que está a acontecer. Os alemães estão a

matar muita gente e a tratar as pessoas como se fossem pedras. Estamos

a tentar escapar a esta confusão toda, para que não partam mais deste

mundo.

Neste momento, estou numa casa com uns amigos que aqui encontrei.

Não se preocupem comigo! Por enquanto, está tudo bem. Quando puder,

eu voltarei a dar notícias. Só estamos à espera que isto acabe, pois tudo

isto é horrível. Não se preocupem, eu hei de escapar.

Até daqui a uns dias.

Despeço-me com saudades,

Vosso filho

Ricardo

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Auschwitz, 22 de fevereiro de 1944

Queridos pais,

Fico contente por estarem a ler esta carta que vos escrevo com tanto

carinho. É sinal que os portos ainda não estão fechados. Espero que esteja

tudo bem com vocês. Eu, por enquanto, estou bem, mas os alemães estão

cada vez a aterrorizar-nos mais e não temos qualquer ajuda.

Todos os dias, vejo amigos meus morrerem devido a ataques feitos contra

nós; outros matam-se, pois não aguentam o desespero e a dor.

Eu, com alguns ferimentos e arranhões, cá vou indo. Cada vez que me

acontece alguma coisa, penso em vocês e é esse pensamento que me dá

muita força. Parece que as dores até aliviam, mas quem me ajuda a tentar

sarar estas feridas são médicos judeus, que, por vezes, nem sabem o que

estão a fazer.

Não sei se vos vou poder escrever mais alguma carta, mas irei tentar.

Fiquem bem e nunca se esqueçam deste filho que tanto vos adora e está

sempre com vocês no coração.

Um abraço

Rui Filipe

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3 de maio de 1942

Querido diário,

Mais uma tentativa falhada de fugir do campo de concentração.

Parece que, a cada dia que passa, se torna mais difícil, pois os guardas

estão mais atentos à minha pessoa, por causa das minhas outras

tentativas.

Cada vez que sou apanhado sou torturada, e, todas as vezes que isso me

aconteceu, fui torturadas de maneiras diferentes.

Não tanho família, pois todos os meus familiares já morreram, mas acho

que isso é melhor para eles.

Preferia ter morrido com eles, em vez de estar aqui, a ser obrigado a fazer

trabalho árduo e a ser torturado e maltratado.

Não percebo os nazis… que mal é que eu lhes fiz?

Francisco Santos

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