A Lógica Estuda a Razão Como INSTRUMENTO Da Ciência Ou Meio de Adquirir e Possuir a Verdade

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A lógica estuda a razão como INSTRUMENTO da ciência ou meio de adquirir e possuir a verdade. Pode-se defini-la: a arte que dirige o próprio ato da razão. Síntese: a lógica é um instrumento do homem para que o ato da razão possa ser conduzido de maneira correta, sem erros ou desvios. Instrumento: O que é? É um objeto que serve a outro fim; através do qual, portanto, uma ação (fim, objetivo, escopo) pode ser atingida, isto é, praticada. Sem o instrumento adequado para a ação que se busca, a ação ainda poderá ser praticada, no entanto, sem a mesma eficiência do que se o instrumento certo fosse empregado adequadamente. Se a lógica é um instrumento, a lógica é um objeto. A ação que pode ser levada a efeito mediante a utilização correta desse instrumento é o ato da razão. Como a lógica é um instrumento do ato da razão, isto significa que o ato da razão pode ser obtido de outras maneiras, sem a utilização da lógica. Entretanto, se a lógica for utilizada, o ato da razão pode ser obtido mais facilmente, sem erros e com ordem. TODO OBJETO QUE PODE SER UTILIZADO PARA LEVAR A EFEITO UMA AÇÃO QUALQUER. Isto é, que nos permite chegar com ordem, facilmente e sem erro ao próprio ato da razão. Ato próprio da razão: o que é? José Ferrater Mora, em seu dicionário de filosofia, identifica três possíveis significados para o termo razão. No entanto, apenas dois deles podem ser considerados predominantes, são eles: 1. Diferença específica atribuível ao homem, distinguindo-o dos outros animais. Nesse sentido, é definida como a faculdade que dispõem os homens de partir

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A lógica estuda a razão como INSTRUMENTO da ciência ou meio de adquirir e possuir a verdade. Pode-se defini-la: a arte que dirige o próprio ato da razão.

Síntese: a lógica é um instrumento do homem para que o ato da razão possa ser conduzido de maneira correta, sem erros ou desvios.

Instrumento: O que é?

É um objeto que serve a outro fim; através do qual, portanto, uma ação (fim, objetivo, escopo) pode ser atingida, isto é, praticada. Sem o instrumento adequado para a ação que se busca, a ação ainda poderá ser praticada, no entanto, sem a mesma eficiência do que se o instrumento certo fosse empregado adequadamente.

Se a lógica é um instrumento, a lógica é um objeto. A ação que pode ser levada a efeito mediante a utilização correta desse instrumento é o ato da razão.

Como a lógica é um instrumento do ato da razão, isto significa que o ato da razão pode ser obtido de outras maneiras, sem a utilização da lógica. Entretanto, se a lógica for utilizada, o ato da razão pode ser obtido mais facilmente, sem erros e com ordem.

TODO OBJETO QUE PODE SER UTILIZADO PARA LEVAR A EFEITO UMA AÇÃO QUALQUER.

Isto é, que nos permite chegar com ordem, facilmente e sem erro ao próprio ato da razão.

Ato próprio da razão: o que é?

José Ferrater Mora, em seu dicionário de filosofia, identifica três possíveis significados para o termo razão. No entanto, apenas dois deles podem ser considerados predominantes, são eles:

1. Diferença específica atribuível ao homem, distinguindo-o dos outros animais. Nesse sentido, é definida como a faculdade que dispõem os homens de partir do conhecimento individual e singular para atingir o conhecimento universal, ou o universal e necessário, ascendendo até o reino das ideias.

2. A razão pode ser definida ainda como o fundamento, isto é, como a razão de ser de algo. Assim, neste segundo sentido, a razão, então, é como uma coisa é de um modo e não pode ser de outro modo.

Ex. A razão do direito é promover a adaptação social.

Nesse sentido, o direito não pode ser um fator de desagregação social, pois isto vai contra a sua razão.

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Entendo que na proporção: a lógica é o instrumento ou a arte que dirige o próprio ato da razão; o vocábulo razão significa pensar e o seu produto ou consequente é o pensamento. Logo, a palavra razão está empregada no primeiro sentido.

Assim sendo, a lógica é a arte que dirige o próprio ato do pensar e, consequentemente, do pensamento, já que o pensamento é consequência do ato de pensar ou do ato de razão.

As três operações do espírito:- qual é o ato próprio da razão como tal?RACIOCINAR.Raciocinamos quando pensamos por exemplo:

O que é espiritual é incorruptível;Ora, a alma humana é espiritual;Logo, ela é incorruptível.

Diferente do autor, eu entendo que o ato próprio da razão (pensar) é o pensamento e não o raciocínio. O pensamento é que pode tomar a forma de um raciocínio, mas não exclusivamente. O pensamento pode ser um simples conceito (=ideia ou noção), uma proposição e um raciocínio, que consiste no pensamento mais complexo, já que envolve tanto conceitos como proposições.

O raciocínio é a operação mais complexa do nosso espírito; é raciocinando que vamos das coisas que já conhecemos às que ainda não conhecemos, que descobrimos, que demonstramos, que fazemos progredir a nossa ciência. A lógica, que estuda a razão como meio de adquirir a ciência, deve portanto considerar, entre as operações do espírito, antes de tudo o raciocínio. Todavia, há outras operações do espírito que ela precisa considerar. Considera-as, porém, em relação ao raciocínio, em função do raciocínio.

O raciocínio é o ato próprio da razão porque dentre os atos da razão ele é o mais complexo e é o único por meio do qual das coisas conhecidas podemos chegar até as coisas desconhecidas, realizar demonstrações encontrar a verdade. Existem mais duas operações do espírito, são elas: o conceito/ideia/noção ou simples apreensão e a proposição ou juízo. Tanto um como o outro existem em função do raciocínio e tem como função permitir que raciocinemos. Por isso, o raciocínio é considerado o ato próprio da razão.

O ato de raciocinar é uno e indiviso, no sentido de que, por meio de um raciocínio, concluímos algo ou enunciamos uma verdade evidente. Não há como fragmentar um

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raciocínio em partes, tipo, parte inicial, final etc., todavia, o raciocínio é um ato complexo, vez que é formado por outras operações do espírito. O raciocínio consiste num encadeamento de atos do espírito ordenados para um objetivo, que pode ser a demonstração de uma verdade, ou o conhecimento de algo. Cada um desses atos contém uma afirmação ou uma negação, é algo que se afirma ou que se nega e outra coisa: chamam-se, por isso, de juízos ou proposições.

O juízo ou proposição é outra operação do espírito que antecede o raciocínio e é por ele suposta.

PROPOSIÇÃO – OPERAÇÃO DO ESPÍRITO PELA QUAL SE DIZ UMA COISA DE OUTRA, AFIRMANDO OU NEGANDO.

PR. EX. A CASA DE DAVID É BRANCA.

OU

PR. EX. A CASA DE DAVID NÃO É BRANCA.

O que caracteriza a proposição é o ato de julgar, isto é, de afirmar ou negar uma coisa de outra. Sem isso, não teremos uma proposição, mas tão somente uma disposição aleatória e sem sentido de conceitos (ideias).

Ex. casa David branca.

A proposição também é um ato uno e indiviso. Por ela afirmamos ou negamos uma coisa de outra. Quando unimos e coordenamos proposições, criamos um raciocínio, que, para ser verdadeiro e concluir algo evidente, deve obedecer a certas regras lógicas. No entanto, assim como o raciocínio é formado por proposições, a proposição é formada por conceitos, ou ideias, vez que, cada elemento da proposição expressa uma noção ou apreensão que temos sobre determinados objetos. Assim, a proposição possui um objeto complexo, vez que cada palavra –sujeito ou predicado- - que o compõem indicam apreensões de objetos distintos.

Assim, temos: Raciocínio: ato uno e indiviso, mas complexo.Proposição: ato uno e indivisível, mas com o seu objeto complexo.

A proposição, como dissemos, é formada por palavras que designam ideias, conceitos, isto é, simples apreensões do espírito.Por exemplo: casa/David/branca.

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Cada uma dessas palavras corresponde a um conceito.

O ato pelo qual o espírito capta alguma coisa, formando um conceito, uma ideia, uma apreensão do objeto captado está EVIDENTEMENTE no início de todo conhecimento intelectual do homem.

Este ato é de uma importância capital, como dito, ele é o início do conhecimento intelectual do homem. Por ele, a mente humana forma entes do pensamento ou entes da razão.

O ato pelo qual nós formamos nossos conceitos, ideias além de ser de importância capital, é extremamente IMPERFEITO .Com ele, nós percebemos ou apreendemos determinado objetos do pensamento. Este ato é imperfeito porque nós apreendemos determinado objeto e fomamos dele um conceito, uma ideia, que corresponde a uma imagem intelectual dele, sem, contudo, discernir na coisa os outros objetos do pensamento que estão unidas a ela – numa existência atual ou possível.

Por exemplo: casa. A noção de casa implica diversas notas, ou características. Das quais, conhecemos apenas algumas das características atuais e, quiçá, algumas das características possíveis.

Por isso que, ao formar um conceito, uma ideia, o homem ainda não tem nada o que afirmar ou engar da coisa. Ou seja, ele não pode formar juízos ainda sobre determinada coisa. Antes de afirmar ou negar, é preciso algo a mais, como, por exemplo, definir, que significa limitar o conceito, determinando o que ele abarca e o que ele não abarca, o que lhe é próprio e o que não é; em suma: o lhe torna o que é, sem a qual deixaria de ser ele mesmo e se tornaria outra coisa.

Com o conceito nós só temos no espírito uma verdade começada, isto é, o início da verdade. A verdade só se aperfeiçoa quando formamos um juízo e afirmamos uma coisa de outra. Mas o ato do conceito em si precisa ser verdadeiro para que, consequentemente, as proposições também o sejam.

Em síntese, o ato de apreensão ocorre quando o nosso espírito se contenta em perceber, captar o apreender uma coisa, afirmar ou negar coisa alguma.

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O conceito é ato uno e indiviso e também ato simples e indivisível. Ou seja, diferente do raciocínio, não há atos diversos que o compõe.

Além disso, o seu objeto é simples, pois apreendemos tão somente um objeto, ao contrário da proposição que, por sua natureza, implica objetos do pensamento diferentes, ou seja, conceitos diferentes.

Vale acrescentar, ainda, que o to de simples apreensão não é o primeiro ato de conhecimento do homem. Na verdade, o primeiro ato de conhecimento se dá com a captação da coisa pelos sentidos. Só depois, de posse desses dados, há a formulação do conceito ou da idea do objeto extraído dos sentidos. Forma-se um novo objeto, que existe apenas na nossa mente e que é por isso denominado de objeto do pensamento, que deve possuir razão in re, isto é, na própria coisa percebida pelos sentidos e, ao mesmo tempo mostra-se um objeto diverso da coisa percebida. O conceito é a primeira operação do espírito, mas não a primeira operação de conhecimento do homem.

ASSIM, AS TRÊS OPERAÇÕES DO ESPÍRITO SÃO: A SIMPLES APREENSÃO, O JUÍZO/PROPOSIÇÃO E O RACIOCÍNIO.

É importantíssimo distinguir as operações do espírito, que são atos do espírito, e as obras do espírito, que surgem em si mesmo em decorrência das operações do espírito.

CAP. 1.

Ato de simples apreensão: o que é?

É o ato pelo qual a inteligência percebe, capta e apreender alguma coisa, sem nada afirmar ou negar.

Por exemplo: a ideia de homem é um resultado da operação de simples apreensão. A ideia de copo, de bolo, de casa, de carro. São também obras do ato de simples apreensão do espírito.

Este ato do espírito, a simples apreensão, possui dois objetos: o objeto material e o objeto formal. O objeto formal é a coisa, qualquer que seja, que apreendemos pelo pensamento.

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O objeto formal é aquilo que é imediatamente apreendido pela inteligência como objeto da razão ou ente da razão.

O objeto formal é sempre alguma essência, natureza ou quididade. O termo essência, natureza ou quididade é tomado aqui em sentido genérico, assim representando o que uma coisa é; noutros termos, pode-se dizer que a essência é aquilo que é colocado diante de mim por esta ideia e por este nome.

O termo homem representa uma ideia/conceito que é uma obra (=resultado) de uma simples apreensão (= 1º operação do espírito).

Da simples apreensão da coisa homem, exsurge no intelecto um objeto formal, que é sempre uma essência, ou seja, o que a coisa apreendida é, ou seja, aquilo que a ideia da coisa e o termo encerram em mim.

OBJETOS COMPLEXOS E OBJETOS INCOMPLEXOS.

Existem, dentre os objetos do pensamento (entes da razão, objetos formais), objetos simples e indivisíveis ou incomplexos e os complexos. Os primeiros encerram uma só essência, uma só quididade. Estes são indivisíveis em si mesmo, pois constituem uma só essência. Por exemplo: homem, animal racional, Pedro.

São objetos incomplexos ou simples porque constituem uma só essência, de tal modo que se acrescentarmos ou retirarmos alguma coisa do que a constituem intrinsecamente, ou seja, da quididade que captamos, o objeto será destruído ou se tornará uma nova essência.

Os objetos complexos ou divisíveis em si mesmo são aqueles que são formados por duas ou mais quididade, naturezas ou essências. Por exemplo: a graça de bico torto suntuoso; a casa grande; a imensa torcida; a grande casa branca.

Esses são objetos formais complexos.

Resumo: o ato (=operação) de simples apreensão do espírito pode ser definido como o ato pelo qual a inteligência capta, percebe ou apreende uma coisa, sem nada afirmar ou negar. A obra do ato de simples apreensão é o conceito, que será objeto de estudo no próximo tópico. Por ora, cabe estudar apenas a simples apreensão. Continuo: o objeto da simples apreensão pode ser material ou formal. O objeto material é a coisa que é percebida. O objeto formal é o que imediatamente captamos da coisa na

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inteligência pelos sentidos. É o novo objeto que surge da coisa. O objeto formal, também chamado de objeto do pensamento ou ente da razão lógica, é o objeto da lógica. Consiste sempre numa natureza, quididade ou essência, aqui definida como o que a coisa é ou aquilo que é colocado diante de mim por este ideia e este nome.

A partir disto, percebe-se que há objetos incomplexos e objetos formais complexos, conforme o número de essências nele representadas. Um objeto será simples ou incomplexo quando for indivisível em si mesmo, posto que represente uma única essência. De tal modo que, se retirarmos ou acrescentarmos algo o objeto deixará de ser ele mesmo, sendo destruído ou constituindo uma nova essência e, conseguintemente, um novo objeto. O objeto formal complexo é aquele divisível em si mesmo, pois é aquele que é formada por duas ou mais quididade, essências ou naturezas. Por exemplo? A árvore grande. O estádio do Vasco. A gazela magra.

Termo:

O termo é um sinal que significa convencionalmente um conceito. O termo oral, por sua vez, é uma articulação de som (ou som articulado) que significa convencionalmente um conceito.

Os termos são sinais convencionais porque são criados arbitrariamente pelo homem para representar uma ideia, um conceito. Os sinais podem ser naturais ou convencionais, também denominados de arbitrários. Os termos são sempre sinais convencionais, pois são sempre criados pelos homens para representar uma ideia (=conceito).

Um sinal natural, por exemplo, é a fumaça, que indica o fogo. Daí porque: onde há fumaça, há fogo. No entanto, os termos escritos fumaça e fogo, são termos, isto é, sinais que representam convencionalmente conceitos.

Os termos mentais ou conceitos são representados por termos orais e os termos orais são representados por temos escritos. Estes representam os termos orais de maneira material, e, os termos orais representam o próprio conceito, enquanto que os conceitos se referem às próprias coisas, que são apreendidas pelo espírito, dando origem aos conceitos. Daí, temos: os conceitos representam as coisas; os termos orais representam os conceitos; os termos escritos representam os termos orais.