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ISSN 2176-1396 A LUDICIDADE NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL: O BRINCAR COMO FERRAMENTA E INCENTIVO À LEITURA Lizandra Karen de Oliveira Rodrigues 1 - UFC Marcos Teodorico Pinheiro de Almeida 2 - UFC Rômulo Cunha da Silva Júnior 3 - UFC Luana Caetano de Medeiros Lima 4 - SEDUC/CE Kaio Eduardo Silva Lima 5 - SEDUC/CE Grupo de Trabalho - Educação, Complexidade e Transdisciplinaridade Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo O relato aqui apresentado tem como objetivo principal o de compartilhar a experiência educativa vivida entre adolescentes e jovens de Fortaleza com docentes e alunos da Universidade Federal do Ceará (UFC) através de uma pesquisa realizada por um dos projetos de extensão da Universidade, o Laboratório de Brinquedos e Jogos (LABRINJO). O LABRINJO faz parte do Programa Centro de Estudo sobre Ludicidade e Lazer (CELULA) que envolve diversos projetos com a temática “ludicidade e lazer”. O objetivo do laboratório é consolidar o vinculo entre a teoria e prática e o conhecimento da realidade brasileira na área de brinquedos e materiais pedagógicos. Em agosto de 2014, estivemos no Parque Adahil Barreto em Fortaleza, onde cerca de 300 adolescentes e jovens se reúnem, para diversas atividades lúdicas baseadas em literaturas infanto-juvenis, o “Dia Nacional dos Semideuses 2014”. A iniciativa partiu de uma adolescente, que organiza os eventos visando proporcionar um tempo de lazer em que os jovens possam conhecer outras pessoas com gostos similares, principalmente no que se diz respeito à literatura. A pesquisa se deu da seguinte maneira: primeiramente, foi elaborado um roteiro com seis perguntas e por meio de redes sociais entrevistamos dez jovens e adolescentes participantes do evento. A experiência foi de grande importância, pois, a partir dos relatos ouvidos, confirmar como a literatura é viva, presente e essencial na vida dos jovens por proporcionar diversos benefícios tanto físico como psicológico e de forma prazerosa como o lazer deve ser. Como educadores, pudemos dar ainda mais valor ao incentivo da leitura aos adolescentes e jovens, e entender como essa prática tem o poder de ajudar no desenvolvimento certas habilidades fundamentais, como: a comunicação, o trabalho em equipe, a capacidade de tomar decisões, resolver situações problemas, capacidade moral, capacidade de enfrentar adversidades, dentre outras. 1 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 2 Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 3 Graduando em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 4 Professora Esp. da Escola Adahil Barreto Cavalcante. E-mail: [email protected] 5 Professor da Escola Estadual Professor Francisco Oscar Rodrigues. E-mail: [email protected]

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ISSN 2176-1396

A LUDICIDADE NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL: O BRINCAR

COMO FERRAMENTA E INCENTIVO À LEITURA

Lizandra Karen de Oliveira Rodrigues

1 - UFC

Marcos Teodorico Pinheiro de Almeida2 - UFC

Rômulo Cunha da Silva Júnior3 - UFC

Luana Caetano de Medeiros Lima4 - SEDUC/CE

Kaio Eduardo Silva Lima5- SEDUC/CE

Grupo de Trabalho - Educação, Complexidade e Transdisciplinaridade

Agência Financiadora: Não contou com financiamento

Resumo

O relato aqui apresentado tem como objetivo principal o de compartilhar a experiência

educativa vivida entre adolescentes e jovens de Fortaleza com docentes e alunos da

Universidade Federal do Ceará (UFC) através de uma pesquisa realizada por um dos projetos

de extensão da Universidade, o Laboratório de Brinquedos e Jogos (LABRINJO). O

LABRINJO faz parte do Programa Centro de Estudo sobre Ludicidade e Lazer (CELULA)

que envolve diversos projetos com a temática “ludicidade e lazer”. O objetivo do laboratório é

consolidar o vinculo entre a teoria e prática e o conhecimento da realidade brasileira na área

de brinquedos e materiais pedagógicos. Em agosto de 2014, estivemos no Parque Adahil

Barreto em Fortaleza, onde cerca de 300 adolescentes e jovens se reúnem, para diversas

atividades lúdicas baseadas em literaturas infanto-juvenis, o “Dia Nacional dos Semideuses

2014”. A iniciativa partiu de uma adolescente, que organiza os eventos visando proporcionar

um tempo de lazer em que os jovens possam conhecer outras pessoas com gostos similares,

principalmente no que se diz respeito à literatura. A pesquisa se deu da seguinte maneira:

primeiramente, foi elaborado um roteiro com seis perguntas e por meio de redes sociais

entrevistamos dez jovens e adolescentes participantes do evento. A experiência foi de grande

importância, pois, a partir dos relatos ouvidos, confirmar como a literatura é viva, presente e

essencial na vida dos jovens por proporcionar diversos benefícios tanto físico como

psicológico e de forma prazerosa como o lazer deve ser. Como educadores, pudemos dar

ainda mais valor ao incentivo da leitura aos adolescentes e jovens, e entender como essa

prática tem o poder de ajudar no desenvolvimento certas habilidades fundamentais, como: a

comunicação, o trabalho em equipe, a capacidade de tomar decisões, resolver situações

problemas, capacidade moral, capacidade de enfrentar adversidades, dentre outras.

1 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 2 Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected]

3 Graduando em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 4 Professora Esp. da Escola Adahil Barreto Cavalcante. E-mail: [email protected] 5 Professor da Escola Estadual Professor Francisco Oscar Rodrigues. E-mail: [email protected]

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Palavras-chaves: Literatura. Adolescente. Ludicidade.

Introdução

O presente trabalho teve inicio a partir da proposta lançada pelo professor Marcos

Teodorico Pinheiro de Almeida, professor de Educação Física da Universidade Federal do

Ceará (UFC) e coordenador do programa CELULA – Centro de Estudos Sobre Ludicidade e

Lazer, também da UFC. O tema surgiu a partir das nossas experiências no Laboratório de

Brinquedos e Jogos (LABRINJO), um dos projetos do programa CELULA, em que pudemos

realizar uma investigação empírica a partir de atividades lúdicas literárias com adolescentes

da cidade de Fortaleza.

São poucos os adolescentes que têm o hábito de ler em nosso país. A grande maioria

tem o primeiro contato com a literatura apenas quando chega à escola e, de acordo com

Machado (2001), muitas não gostam de ler e o fazem por obrigação. Segundo Zilberman

(1998, p. 14), “[...] a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto

pela leitura, assim como um importante setor para o intercâmbio da cultura literária, não

podendo ser ignorado, muito menos desmentida a sua utilidade”.

Entretanto, o que se percebe é que o hábito de ler não está sendo explorado como

deveria, tanto nas escolas quanto em casa, por meio dos pais. Isso ocorre em grande parte,

pela pouca informação dos professores. Infelizmente, a sua formação acadêmica não dá

ênfase à leitura e essa é uma situação contraditória, pois segundo Machado (2001, p. 45), “[...]

não se contrata um instrutor de natação que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula

brasileira estão repletas de pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar.”.

Para nós o lazer e o lúdico são necessidades básicas para qualquer ser humano seja a

criança, o jovem, o adulto ou idoso. A cidade é uma construção humana, portanto, sua

prosperidade e seu sucesso urbano vão depender de estratégias, inovações, planejamento e de

gestão política eficiente que ofereça possibilidades de apropriação das diferentes

manifestações de lazer. A leitura é uma opção de lazer no tempo livre. Temos que pensar em

um novo tipo de cidade no século XXI que estimulem as crianças e os jovens outras práticas

de lazeres além do esporte, como: a leitura, a arte, a dança entre outras. Uma cidade “boa de

viver”, é uma cidade centrada nas pessoas (no humano), capaz de integrar os aspectos

tangíveis e intangíveis da prosperidade coletiva e atender os desejos e expectativas de todos.

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Uma cidade com uma maior provisão de bens públicos, com mais espaços criativos para a

imaginação, o lazer, interação social e vivências intergeracionais.

Para nós o lugar para ler importa muito. Não podemos mais nos dar o luxo de fazer

planejamentos urbanos como se o lugar não fosse importante para nossas vidas. O nosso

futuro vai depender de como pensamos o futuro de nossas cidades, e em especial, como

planejamos e estruturamos os espaços ou ambientes para que as crianças e jovens vivam suas

interações lúdicas e diferentes manifestações de lazer.

Nesse sentido, lançamos o seguinte questionamento: como incentivar o adolescente a

ler? Nessa perspectiva, no decorrer do trabalho, tornaremos evidente a importância do

“lúdico” e como ele pode contribuir como instrumento significativo no incentivo ao

adolescente a prática da leitura.

A Ludicidade

Para Almeida, M.T.P. & Gonçalves, L.M. (2014) a sociedade vem se transformando

desde os primórdios até os dias atuais, o brincar também se transforma e se adapta aos novos

contextos. A industrialização e a urbanização modificaram os costumes, a maneira de viver e

até mesmo a estrutura familiar, contribuindo para que muitas atividades lúdicas não só se

transformassem, mas até desaparecessem. Ainda que se considere o lazer e o brincar como

atividades importantes, algumas vezes os próprios pais, não lhes atribuem o devido valor.

Especialistas (educadores, psicólogos, sociólogos, etc.) percebem esta mudança chegando a

afirmar que as crianças têm cada vez menos tempo e espaço para realizar e viver suas

manifestações lúdicas e de lazer. Além disso, as famílias já não dispõem de tempo suficiente

para estarem juntas, avós, pais e filhos, grandes e pequenos, estão deixando de viver o que

antes eram os momentos em família, favorecedores da aprendizagem lúdica.

A falta de espaços, a insegurança nos grandes centros urbanos e o acúmulo de

atividades extracurriculares nas instituições educativas, entre outros fatores, tem

banido gradativamente o lúdico das atividades infantis e juvenis nas escolas. As

atividades de lazer dependem e sempre dependeram do convívio social, são

aprendidas, não são atividades inatas, o lazer é uma aprendizagem social, de

interação e de experimentação (vivência). É importante resgatar os tempos, os

espaços e os companheiros de brincadeiras para se ter pessoas mais felizes, criativas,

solidárias e humanizadas. (ALMEIDA, M.T.P. & GONÇALVES, L.M. , 2014, p.

175)

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Segundo Almeida (2015, p.35) "O lúdico sempre fez parte da vida do ser humano, e,

falar de ludicidade é falar de brinquedos, brincadeiras, jogos, brincar, brinquedoteca e outros

termos relacionados a este universo cheio de encantamento, alegria e prazer."Existem

diversos conceitos para o termo “lúdico” e “ludicidade”. O lúdico é uma palavra que vem do

latim (ludus) e significa brincar, que se referem aos jogos, brinquedos e brincadeiras.

Atividades que podem ser descritas, categorizadas e classificadas. A ludicidade é um

fenômeno intrínseco de cada pessoa, onde os conteúdos lúdicos são absorvidos das

experiências vividas do social.

Se olharmos para experiências próprias, é comum encontrarmos quem diga que o

brincar e a brincadeira são apenas divertimento e sem importância alguma para o

desenvolvimento de uma pessoa. Contudo, é importante entendermos que, as atividades

lúdicas não se restringem ao jogo e a brincadeira, mas incluem atividades lúdicas que

possibilitam momentos de prazer, entrega e integração dos envolvidos.

Estas atividades possibilitam também a quem as vivencia, momentos de encontro

consigo e com o outro, de ressignificação e percepção, de autoconhecimento e conhecimento

do outro, de cuidar de si e olhar para o outro, de vida, de expressividade, de fantasia e de

realidade.

É notável o quão é importante a ludicidade para o desenvolvimento, não só da criança,

devido a grande relevância que o lúdico tem no universo infanto-juvenil uma vez que se

adquire mais aprendizado quando se é estimulado pela curiosidade. Desta forma, não há

nenhum jogo ou brincadeira que não possa trazer algo novo para se aprender.

O lúdico no contexto educativo

Dentro de uma perspectiva histórica e antropológica podemos admitir segundo Duflo

(1990) que existem três grandes apropriações da história do conhecimento em relação ao

lúdico. Em uma primeira apropriação temos a compreensão do jogo dentro de uma estrutura

ética, muito influenciado pelas ideias teológicas (a moralidade religiosa). Nesta perspectiva o

jogo torna-se uma atividade perigosa na vida cristã. O lúdico passar a ser na moralidade cristã

uma atividade capaz de desvirtuar o comportamento do homem comedido e de fé.

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Na segunda forma de apropriação temos o pensamento filosófico, onde o lúdico

enquanto um instrumento e objeto epistemológico, isto é, como um elemento do saber com

sua lógica própria de pensar e de produzir conhecimentos sobre a vida e o mundo.

Na terceira apropriação histórica do lúdico temos grandes influências de diferentes

teóricos que preconizam o jogo dentro de uma perspectiva estética e pedagógica (educativa).

Tema que será apresentado no decorrer deste tópico.

Para Almeida (2013) os modelos atuais predominantes do ensino formal e não formal

oscilam entre o diretivismo técnico (saber fazer) e o laissez-fare (exprimir livremente sem

interferência do professor). Ambas as abordagens, uma por considerar a criança como tábua

rasa e a outra por considerá-la como portadora de potencialidades expressivo-criativas natas,

esvaziava o sentido da aprendizagem lúdica. Pois não ofereciam o conhecimento sobre a

própria ludicidade, sobre a linguagem motriz, corporal, cognitiva, estética, sobre os produtos

e materiais lúdicos (jogos, brinquedos e brincadeiras) e não possibilitava o desenvolvimento

do simbolismo infantil.

Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, aquele

caminho que o professor considera o mais correto, mas é ajudar a pessoa a tomar consciência

de si mesma, dos outros e da sociedade. É aceitar-se como pessoa e saber aceitar os outros. É

oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher entre muitos caminhos, aquele

que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas

que cada um irá encontrar. Educar é preparar para a vida. Com comenta Maturana (2004)

“Saber é fazer e fazer é saber”, significa dizer que um organismo se desenvolve de fato ao

longo de sua história individual, dependerá de como ele vive essa história. Uma criança só

chegará a ser, em seu desenvolvimento, o ser humano que sua história de interações com sua

mãe, seu pai, sua família e os outros seres que a rodeiam permitir.

Qualquer bebê mamífero que não encontre, no brincar, uma mãe que o confirme

como bebê, terá dificuldades para crescer como um adulto normal, capaz de viver a

vida solitária ou comunitária de sua classe. (MATURANA & VERDEN-ZOLLER, 2004, p.147).

Nesta abordagem do processo educativo a afetividade ganha destaque, pois

acreditamos que a interação afetiva ajuda mais a compreender e modificar as pessoas do que

um raciocínio brilhante, repassado mecanicamente. Esta ideia ganha adeptos ao enfocar o

brincar no processo do desenvolvimento humano.

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De acordo com Almeida (2012) o lúdico é um processo no caminho da aprendizagem,

mas um processo vital e influenciável, e observamos que são nos espaços lúdicos públicos

como: a praça, a rua, a avenida, os parques, etc., onde o brincar espontâneo e o jogo livre

mantém sua posição de importância, pois é no desenvolvimento de muitos aspectos

intangíveis que o brincar se sobressai dentro destes espaços. Atitudes como: a cooperação, a

motivação, a perseverança, a concentração, a reflexão, a autonomia e o divertimento como

aprendizagens são alguns dos eixos que não podem ser quantificados dentro de determinados

aspectos tangíveis.

A literatura infanto-juvenil

Um dos segmentos relativamente novo dentro dos estudos literários é a Literatura

Infantil. Esse tipo de segmento começou a ser produzido na Europa em meados do século

XVIII, a partir do momento em que a criança deixou de ser considerada como um adulto em

miniatura e passou a ganhar o seu espaço na sociedade.

A literatura infantil, mesmo não abrangendo a faixa etária juvenil, ainda é bastante

sugerida ao público misto. Contudo, é necessário que haja um limite entre Literatura para

crianças e Literatura para jovens para que todos os leitores estejam satisfeitos com o que leem

e, em especial aqueles que ainda estão em processo de formação de leitura. Deste modo, ao

passar dos anos, outra classe social também passou a ser reconhecida: os adolescentes, que

são diferentes das crianças em diversos aspectos e interesses, buscando uma nova literatura.

O então gênero literário titulado “infanto-juvenil” está entre um dos mais recentes.

Surgiu entre o final do século XVII e início do século XVIII justamente devido à importância

de uma literatura voltada ao jovem para suprir a vontade de leitura que o sujeito que não mais

se interessa pelas histórias infantis e ainda não se sente capacitado às leituras adultas. Deste

modo, para atrair a atenção dos adolescentes e jovens:

A linguagem utilizada nesse tipo de literatura é coloquial. Gírias e marcas de

oralidade estão presentes nas páginas dos livros juvenis e esses são considerados

bons, porque se aproximam da língua falada pelos jovens. O autor deve conseguir se

travestir de jovem; o leitor não é hipócrita, ele não irá até o final do livro se não

perceber um personagem verossímil. O escritor, pois, deve atentar para a linguagem

utilizada pelos sujeitos inseridos nesta determinada estratificação etária e social, reproduzindo-a nos livros. (BUCKOWSKI & AGUIAR, 2010. 914 p.)

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Percy Jackson e os Olimpianos

O hábito da leitura é fundamental na formação do indivíduo. Uma das fórmulas que

mais dão certo na literatura infanto-juvenil são obras que contenham um mundo de fantasia,

repleto de criaturas surreais, superpoderes e cenários inventados como, por exemplo, as sagas:

Harry Potter, Jogos Vorazes, Divergente e Percy Jackson. Percy Jackson & os Olimpianos é

uma série literária composta por cinco livros de aventura e fantasia, escritos pelo americano

Rick Riordan, sendo que o primeiro livro foi lançado em 2005.

A série retrata a mitologia grega no século XXI e tem como personagem principal

Percy Jackson, em que um garoto hiperativo e disléxico que descobre ser um meio-sangue

filho de Poseidon, deus do mar e é levado para um acampamento onde há vários outros

semideuses como ele. Mais de 50 milhões de cópias dos livros já foram vendidas em mais de

trinta e cinco países, sendo também considerada umas das séries de livros mais vendidas da

história.

Estratégias lúdicas para o incentivo a leitura

Uma das estratégias de incentivo a leitura são os eventos relacionados a sagas

literárias. Os milhões de fãs no mundo inteiro formam um elo tão forte com os best-sellers do

gênero, que quando decidem se reunir no plano real, surgem fenômenos de proporções

igualmente impressionantes. Um desses eventos é o “Dia Nacional dos Semideuses”.

Em Fortaleza, o primeiro aconteceu em 2012 e foi organizado por uma adolescente

Vitória Pinheiro Siebra, hoje, com 17 anos e tendo como objetivo principal proporcionar um

tempo de lazer em que os jovens possam conhecer outras pessoas com gostos similares,

principalmente no que se diz respeito à literatura.

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Figura 1 - Organizadora do evento, Vitória Siebra, juntamente com a equipe.

Fonte: Vitória Siebra

Com a intenção de entendermos melhor como se dá a junção da literatura infanto-

juvenil com a ludicidade, investigamos no dia 09 de agosto de 2014, no período da tarde,

estivemos no Parque Adahil Barreto em Fortaleza, onde cerca de 300 adolescentes e jovens se

reuniram, para atividades lúdicas relacionadas diretamente a série de livros citadas

anteriormente.

Cada adolescente participante do evento se denomina filho de algum deus grego.

Chegando ao local, grupo inteiro foi dividido em “chalés”, que são as “casas” e “famílias” de

cada deus, e a partir daí competiram entre si em uma arena de jogos montada por eles. A

competição se dava por meio de: caça a bandeira, gincanas, concursos, cosplay dentre outros.

É importante destacar que os adolescentes e jovens representam o papel de

personagem do livro, utilizam o momento do evento para reviverem as cenas dos seus

protagonistas preferidos e sentem como se fossem parte do enredo.

Figura 2 - Grupo de adolescentes participantes do “Dia Nacional dos Semideuses” em Fortaleza/Ce.

Fonte: Vitória Siebra.

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Figura 3 - Concurso de Cosplay do evento.

Fonte: Iara Pereira

Além dessas atividades, cada chalé arrecadou, por meio das gincanas e por meio das

outras atividades, alimentos e doaram a CASA DE NAZARÉ (casa de 60 idosas). No último

evento, foram doados 170 quilos de alimentos (feijão, arroz, açúcar, macarrão e leite em pó),

bem como livros, roupas, tampinhas, notas fiscais foram doadas e distribuídas para diversas

instituições em Fortaleza.

A pesquisa empírica se deu da seguinte maneira: primeiramente, foi elaborado um

roteiro com seis perguntas e por meio de redes sociais (Facebook e Whatsapp), adolescentes e

jovens entre 13 e 19 anos que participaram do evento, responderam ao questionário.

Como resposta à primeira pergunta: “Você acha o LAZER uma necessidade

importante?”, todos marcaram a opção ‘SIM’. Como justificativa: descontração,

“desestressar”, quebrar a rotina, descansar o cérebro, interação social, distância dos perigos da

sociedade e desligar dos afazeres do dia-a-dia.

Para a pergunta de número “2”: “No seu dia a dia, que tipo atividades você costuma

praticar em seu tempo de lazer?”, as respostas foram:

Figura 4 - Respostas referentes à segunda questão do questionário.

Fonte: Os autores.

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Na terceira questão do questionário, perguntamos: “Quais eventos para juventude que

você gostaria que fossem realizados na cidade de Fortaleza?”. Tivemos como respostas:

Figura 5: Respostas referentes à terceira questão do questionário.

Fonte: Os autores.

Como quarto questionamento, desejávamos saber sobre “O que você acha de eventos

que estimulam o jovem a leitura?”. Algumas das respostas obtidas foram as seguintes: "são de

grande importância, pois em um país que é a 5º economia se ler uma média de 1 livro por ano

é algo que chega a ser triste de se pensar."; "ajuda a conhecer novas coisas, adquirir

conhecimentos, dentre outros, além de aumentar a interação social."; "Acho muito importante,

estimular qualquer homo sapiens a ler, isso tira ele das drogas, da prostituição e

principalmente do funk!".

A quinta pergunta, “Quais espaços em Fortaleza que você costuma se encontrar com

seus amigos para se divertir?”, continha sete itens como opções a serem marcados, que eram:

cinema, shopping, praia, eventos, livrarias, parques e outros. Como resposta: todos os itens

foram marcados, sendo que os mais escolhidos foram cinemas 30%, shoppings 30%, livrarias

18% e parques 11%. Além desses, também foram citados espaços como igrejas e teatros.

Gráfico 1 - Respostas referentes à quinta questão do questionário.

Fonte: Os autores.

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Na sexta e última questão do questionário, perguntamos: “Qual a importância desses

Encontros (de Semideuses) para você?”. E, algumas das respostas foram as seguintes:

Figura 6 - Respostas referentes à sexta questão do questionário.

Fonte: Os autores.

Considerações Finais

De acordo com dados da UNESCO, pesquisas mostram que um leitor se forma até os

doze anos de idade. Amarilha (1997, p. 50) afirma que “[...] a linguagem é o momento por

excelência da brincadeira [...]”, torando-se fundamental o contato da criança com os livros em

seus primeiros anos de vida. Acreditamos que o lúdico é uma ferramenta importante de

mediação para formar novos leitores, sabemos também, do pouco uso das metodologias

ludiformes (ALMEIDA, 2012, 2014 e 2015) como conteúdo na formação de leitor, que tal

atitude deve-se pelo desconhecimento sobre a importância e o potencial da ludicidade como

recurso que estimula o hábito da leitura infanto-juvenil.

Partindo disto, podemos afirmar que a cultura lúdica pode ser usada como uma

ferramenta pedagógica por meio de atividades dinâmicas e desafiadoras que despertem na

criança e no adolescente o gosto e a curiosidade pelo conhecimento e, no caso, pela literatura

infanto-juvenil, pois, quando se ensina com prazer, se aprende com prazer e brincando.

Assim, tanto os educadores como os pais, têm um papel importante na formação de novos

leitores.

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Para nós o ser humano é o único animal com capacidade de construir cultura. A nossa

forma de brincar estará intimamente ligada e influenciada pela cultura onde vivemos. O

lúdico é uma expressão da cultura. Cada sociedade tem sua herança e história cultural. Cada

sociedade, cada local, cada comunidade constrói sua própria cultura. O lúdico é uma

patrimônio cultural da humanidade. A demanda lúdica gerada pelo próprio brincar (jogo, o

brinquedo e a brincadeira) possibilita o surgimento da cultura lúdica. Concluindo, a cultura

lúdica é o resultado das manifestações lúdicas da própria cultura do brincar. (BROUGÈRE,

1997 e 1998)

Como educadores, devemos dar ainda mais valor ao incentivo da leitura aos

adolescentes e jovens, e entender como essa prática tem o poder de ajudar no

desenvolvimento certas habilidades fundamentais, como: a comunicação, o trabalho em

equipe, a capacidade de tomar decisões, resolver situações problemas, capacidade moral,

capacidade de enfrentar adversidades, dentre outras.

Na guisa de conclusão, esperamos que as nossas reflexões possam chamar atenção dos

professores e pais sobre a importância da ludicidade como uma aliada no trabalho com a

literatura infanto-juvenil. O hábito da leitura é uma construção cultural e uma demanda

gerada pela própria cultura, neste sentido, a literatura quando estimulada apropriadamente

pode ser um conteúdo da demanda lúdica.

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M.T.P. (Org.). Educação física em diferentes contextos. 1ª Ed. Assis, SP: Storbem Gráfica e

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