A Luta de Libertacao Nacional Na Africa

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CÁPÍTULO 5

A luta de libertaçáonacional na Africa e na

Asia de língua portuguesa

história da libertaçáo dós pc,vos africanos das

colônias portuguesas tem raízes mais profundas doque aquelas que se tornaram manifestas na sua fase

contempo;âneâ, a da luta armada de 1961 a 1975 que. condu-ziu à conquista das independências. Essas raízes manifestam-se nas diiersas formas de resistência empregadas desde oséculo X\4 contra a presença dos portugueses. Também fo-ram instrumentos de luta contra o colonialismo português a

produção literária de protesto e denúncia realizada no inícioãeste século por intelectuais autóctones - Principalmente emjornais natiüitas, tanto em Angola como em Moçambique -,greves de trabathadores portuários, em Bissau (Guiné) e

Luanda (Angola), e várias formas de desobediência ciúl, co-

mo o nào-pagamento de impostos.

A resistência onticolonial na $rica portuguesa

Os quatrocentos anus de presenca colonial de Portugal na

África tôram marcados pela luta permanentr dos povos africa-nos. As campanhas de pacificação dos povos afiicanos, assim

denominadai pela história colonial, conslituíram apenas algu-mas batalhas na prolongada guerra de re§istência. Mas se as

diversas formações sociais antigas (reinos do Kongo, Ndongo,Ngola e Matamba, em Angola, nos séculos )§4 a X\4II, e oimpério de Gaza, em Moçambique, no século XIX) se opuse-

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ram heroicamente ao colonialismo, mesmo que de forma dis-pesa devido à diversidade étnica e cultural doi povos afiicanos,nor,as fo_rmas de luta perrnitiriam fo{ar a unidade desses povosdentro das fronteiras impostas pelo colonialismo. primeiramen-te sob a forrna de movimentos culturais, em quejovens intelec-tuais começararn a conscienúzar pane da populaçào dentro dasmínimas possibilidades legais existenres, para mais rzrrde nasce-rem na clandestinidade. sob uma repressào crescente, ospani-dos políticos que iriam conduzir a luta pela independÉncia.Nesse peíodo, décadas de 40 e 50, um debate no seió das notasgerações que participalam das associaçóes cultuáis legais -Liga Nacional Africana, em Angola, e Centro dos Negros, emMoçambique - visara denunciar todas as formas de discrimina-çáo racial e social contra os indígenas e "a^ssimilados" (categoriajuÍdica criada pelo colonialismo portr_rguês pala distinguir osafricanos que, tendo tido acesso í insorrção irrim,irla, pãdiamter carteira de identidade), conüdas nas leis coloniais, impossi-bilitando-os de participar da üda ciúI.

Paralelamente a essa luta política de características locais,tanto em Angola quanto em Moçambique, gmpos de estu-dantes de diversas colônias (também êuiné-Bissau, CaboVerde e_ Sâo-Iomé e Príncipe), que tinham emigrado paraPortugal a fim de realizar estudos uniyersitáriós, daãa aausência de universidades em seus países de origem, tambémse organizavam em tomo de a.,sociaçôes cr_rlturais legais,Uma dessas organizaçóes. a Liga Africana, criada em lgtg.teve um papel importante ao acolher, em 1923, uma delega-çáo da segunda sessão da Têrceira Conferência Paa-Africana,na qual esüveram presenres alguns dos nomes mais significa-üvos do moümenlo pan-africano, como W. E. B. du Bois eGeorge Padmore. Este último descreveu muito bem essemomento ao afirmar:

Os retüesenta,ntes de 71 países assistiram à sessã,o (leLis-boa. Os preparatiaos foram cond,uzid,os .eficazmentepela Liga Africana, desrita no relatório d,ó Congressocorto «uma

aerde,{leira federaçõ,o de tod,as as associaçõesir.td,ígenas es|alhad,as atratés d,as cinm proaíncias daAfrica portuguesa e representand,o aários milhões dE indi-' aíd.uos". Essa Liga Africana que Íuncionaaa em Li.sboa,

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no coro,çã,o d,e Portry,gal, por assim d,ize\ recebeu mand,atod,e tod,as as outras organizúções irulígenas e soube expri-mir ao goaerno em termos nã,o equíuocos, nxas muitodignamentq tud,o o que d,eae ser d,ito para e itar injustiço,e fazer abrandar as lcis austerat. Eis aqui. por que a LigaAfricana de Lisboa é o d,irigente d,o moaimento d,os negrosda Africa Portuguesa, m.a.s apenas no bom sentido dapalaara, sem contud,o fazer algum apelo à ai,olência e sem

s( oloslar dos limit?s d,a Consliluiçào.

(George Padrnore-- . PanaÍriruinisme

ou nmunisw\ p. 35.)

Mas esse fato não iria modificar .os propósitos do colo-nialismo português no que se referia à exploração de seusteritóúos. Um código indígena, estabelecido em 1928, veioabolir legalmente o trabalho forçado puro e simples, subsú-tuindoo pelo "contrato". O novo sistema de contrato foi postoem prática pelo decreto de 1930 que estabelecia que as popu-laçôes natir,as seriam govemadas por meio de um estatutoespecial, em que "seriam respeitados seus usos e costumessociais, indiúduais e domésticos".

Na verdade, isso significar,z que se utilizaria o poder políti-co tradicional, ao se recrutarem indiúduos para o r-ontrato detrabalho, em vez das auroridades admiiistrarivas coloniais. Seos processos mudaram formalmente, as mentalidades dos gevernantes coloniais não se modificaram em relaçáo aos seuspropósitos de inserir o africano no mundo do trabalho capita-lista. Vejamos a afrrrnação de Vieira Machado, antigo ministrodas colônias, em 1943:

Se pretendenxos c.iaikzar os ind,ígmas, é preciso inatk'ar-lhcs comn preceito moral ebrunlar a id.éia d,e que nãn tând,i,reito a uiuer sem trabalhar Uma socied.adc frodutiaabaseia-se no trabalho d,uro, obrigatório, inclutiae para osuagabund,os, e nao podemos adrnitir exc.epoões a esB princÍ-pios pür razies dc raça.

(Apud Cârlos Iópes, EÍnxtr, Estada e rela-

çõls dé poder ruL Guine-Bist.tu. p. 67 .\

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Se o espírito da sessáo da Terceira Conferência Pa-n-Africa-na era a lutâ dentro dos limites da legalidade contra as injusú-ças sociais, esse conceito dinamizou-se e desenvolveu-se naconsciência dos seus líderes, sobretudo após a Segunda Guer-ra Mundial, no senlido de nào se aler unicamenle a esseslimites da legalidade e se manifestar por um direito dq libera-ção lotal das co}ônias, como fica manifesto na declardçào doQuinto Congresso Pan-Africano de Manchester, em 1945:

Qaernnos o liberdodt c o diràlo d? lodos os p&,os agov(rnor s? Pur si mtsmos. Afrmamos os dir?ilos dp lodos os

poaos r.olnniai.s a controlnr o sru Pó?rio destiào. Tbd,as as

colônias druem übertar-se do i,tnperialisnr,o estrangeiro, seja

elr Político u. econôtnico. Os pouos d,as colônias da.Em tsr od,irein a eleger szus goüsrnantes, a elzger um goasrno, sem

restrições impostos Pur poder estrange.iro.

(GeorBe Padmore, op. cit., p. 35.)

A consciência política e nacionalista dos povos das colôniasportuguesas atingiu também, após a Segunda Guerra Mundial, omesmo nível e se fez explicitar ainda por associações legais, masnesse momento rnais agressilas nos seus objetivos. Em 1951 surgiuem Lisboa o Centro de Estudos Afiicanos, que conta\â, entre seusfirndadores, comjovens estudartes que se torrrariam a.lguns dosmais expressivos líderes dos moümentos de libertaçáo nacional:Amitcar Cabral (GuinéBissau e Cabo Verde), Agostinho Neto(Angola), Francisco Tenreiro (poeta natuml de Sáo Tomé e Prín-cipe, falecido em 1963) e Mário Pinto de Ardrade (Angota). Esteúltimo assim expressala os objetivos daquele cenro:

Rncionakzar os smtimentos d,e se Pcrte?xc,er ao mundlt d,e

o|ressã,o e despcrtar a consdSncia nacional atraaés dc umaanálise dos furulamcntos ctr,lturuis d,o ctrntinmte.

r ln: Mário Pinro de Andrade, org. Ántalagia te,ruática di Poesia aÍn*na" p. 9.)

As autoridades metropolitanas do regime ditarorial enráoügente em Porhrgal terminaram com as atiüdades do centro,mas náo com as dos eshrdantes nele atuantes, nem com as de

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outros que deram continuidade à luta política artticolonial naCasa dos Estudantes do Império. Essa entidade, criada em Lisboacomo associação de estudantes das colônias, teve um papel iln-porlante nos anos 60. Nela foi produáda uma noÉ revista,Mmsagrm butraatlterior haüa sido proibjda em Angola). e umacoleção de auroreÊ ulumarinos. quc iniciamm o processo de

, constituir expressões intelectuais autônomas, contrariando a assi-milação cultural preconüada pela política colonial úgente.

Essa nova geração de intelectuais, conhecida como "gera-ção de 50", que veio a ter grande influência na mobilizaçáo ena formação política militante das nor,as geraçôes, usava aexpressão literária para denunciar as injustiças e defenderuma tomada de consciência de seus problemas. O poema"Monangamba", de Antonio Jacinto, expressa muito bemesse momenlo:

Naquela roça. grand,e nã.o tun chuaaé o suor d,o mnt, rosto que rega a,s Plnntaúes.Naquela roça grande tun café mad,uroe aquel,e a ermelho-cff4 asao gotas do mzu sangue fdtas seiaa.O café uai ser tonado,pisad.o, türh.Lrad.o,uai f rar ncgro, wg'ro da rcr do conlrolo(lo.Ncgro da cm dotiontrata.do. !... I

(In: Mário Pinto de Andrade, org.,op. cit., p. 194.)

Com o início da luta armada nas diversas colônias, aprisáo de militantes e a fuga para o exterior de outros, e ofechamento, em 1964, da Casa dos Estudantes do Império,os intelectuais dedicaram-se sobretudo às atiúdades políti-co-militares de seus partidos na l_uta pelas independências.Se o colonialismo português na Africa teve lormas diferen-tes conforme o espaço ocupado no confronto com as popu-lações locais, também as respostas na luta pela independên-cia das diversas colônias foram diferentes. Mas a luta co-mum criou projetos unitários, como em Casablanca, Marro-cos, em l8 de abril de 1961, que:

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Proclama a unid.adc de açáo das Organizafies Nado-nalistas no luta Por todos os mtios, em aista dú kquid,açã,oimerliata do colonialismo portugt1ps e d,a Liberta@o dc toda o.

forma dc opressã,o.

(Coúferênciâ dàs Organizaçôes Nacic>neúistas das Colônias Portuguesas, reali-zada em Casablanca, abril, 1961.)

A independência das colônias portuguesas

Os moümentos unitários das colônias portugaresâs forzmum exemplo de eficácia na ação contra o colonialismo portu-guês duraDte o momento de luta, tentando uma unidade quesuperasse as diversidades étnicas naqueles pâíses, o que nemsempre se conseguiu após as independências. Os projetosrevolucionários dos moúmentos nacionalistas que agiam nasdiversas colônias portugaresas, apesar dâs suas especificida-des, tinham diversos pontos comuns, sobretudo aqueles tra-

Amilcar Cabral, un clos maiorcs lídêres ahicanos e dÍigente do Paniclo Aticano paÉ alndependência da GuinéBissau e Cabo Verde (PAIGC), duante a luta amada pelaIibeÍlaçáo de seu país. (Le Couíiêr dê l'lJnêsco, Pa is, novenbro de 1973.)

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duzidos em alguns aspectos organizacionais, na linha políti-ca e na açãb comum contra o mesmo inimigo.

A unidade 'era o fundamento principal, mesmo no seio dosmoúmentos de libertaçáo. Vejamos, por exemplo, o PAIGC(Partido Afúcano para a Independência da Guiné e CaboVerde), fundado por Amilcar Cabral, que enuncia esse prin-

, cípio em seu programa mínimo:

União urgâ,nica de tod.as as forças naciona.Astus e pa-trióticas d,as àlhas dÊ Cabo Verdc e todas as furças patrúíücase nacionalistas d.a Guiné paia tiquidar i dontiáaçao nkrnialista e inllerialista nesses d,ois países aírica.nos.

(Programa Político do PAIGC.)

Especifrcaremos agora alguns pontos relativos ao programamaior do Movimento Popular de Libeftaçao de Angola (MPI-A),no que se refere à unidade de ação em seu projeto político.Afn.rnala esse programa diversos itens relativos à unidade danaÇão após a independência completa. Eram eles:

Pintiro, gdtanlii a iguadadr dt todas as etnias dpAngola e relarçar o uniào ( o ajuda Íratffna ?ntrc ?los:

Segundo, inwdifio absohtta dc tod,as as tentaüaasd,e d.iaisã.o d.o pcruo angolano; [...]

(Pmgrama N/taior do N4oümenro Popular de LibeÍaçào de Angola - MPI"A-)

Paralelamente ao desenvolvimento da luta anticolonialconduzida pelo Moúmento Popular de Libertaçáo de Ango-la (MPIÁ), outro moúmento nacionalista, a Frente Nacionalde Libertação de Angola (FNI-A), dirigida por Holden Ro-ber-to e identificada emicamente com a população bacongo donorte de Angola e a sua diáspora na República do Za1Íe, tÀm-bém desencadeala a lLrta arrnada, sem contudo conseguir ultra-passar os ümites geográficos e étnicos a que estala confinada.

Ainda em Angola, em 1968, a criação de outro partido, aUnita (Uniáo Nacional para a Independência Total de Angela), de Jonas Savimbi, náo conseguiu transpor a fronteiratribal de seu grrpo, os oümbundos, no sul de Angola. Aliás,

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Canão-postal de Angola após aíndependência, rcpresentandosimbolicamente a construçaoda identidade e unidade de unsó povo acina das origens étni-cas- (Ediçáo do Departamentode Onenbçáo BevolúcionáiaIDOB] _ MPLA.PT-)

esse é ainda um dos fatores que opõem,esse parüdo ao gover-no de Angolâ dirigido pelo MPI-A desdê a independência. Aguerra ciúl continua mesmo depois dos múltiplos acordos depaz e das primeiras eleições democráticas em 1992 (sob ocontrole da ONU), que deram útória ao partido do governo,mas nem por isso conúveram os desejos da Unita pelo poder

Savimbi diz estar pronto para mais l0 anos de luta

O presid,mte do mouimento d,e oposiç.ao Unita, JonasSauimbi, disse que adm.ite aoltar a negociafies mmo goaerno d,e Angola Para int^erromper a retoru,ad,a daguerra ciail no país. Sauinbi ü2, no sntanto, quetem Íorças sufici,entes "para lutar mais d,ez anos" en't

guerra ciail.

(Folha dz S. Pauk, 13 / 11 / 1992.)

A independência de Angola (novembro de 1975) foi mar-cada por uma luta entre três partidos nacionalistas com linhas

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idpológicas diferentes: o MPI-A, de orientaçáo socialista, e aF§IÁ e a Unita, com um alinhamento pró-ocidental. O Brasilfoi o primeiro país a reconhecer o governo de Algola com oMPI-A no poder O primeiro presidente foi o também Iíder doMPI-A, Agostinho Neto.

Moçambique obteve sua independência com a Frelimo(Frente de Libertaçáo de Moçambique) no poder e sob aliderança de Samora Machel, tendo contudo de sustentar umaluta armada com a Renamo (partido de Reconstrução Nacio-nal de Moçambique) , gmpo apoiado pela República da Africado Sul a fim de desestabilizar o regime de orientação socialistade seu úzinho.

As lutas de libertação nas diversas colônias portuguesasobrigaram o govemo de Portugal a mobilizar um exército demilhares de homens que, de 1961 a 1974, sustentando umaguerra sem solução, conduzia o próprio país a uma dependên-cia crescente. Basta dizer que cerca de 43% do seu orçamentonacional era consagrado ao esforço de guetra. Assim um

Guerrilheiro angolano duantea luta de libeftaÇáo nacional. Alula armada paía a obtençáo claindependêncía Íoi uma das ca-iactetísticas da descoloniza-çâo nâs ex-colônias poílugue-sas- íLo nouvêau dossie AÍíique,p.4s.)

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moümento das Forçàs Armadas portuguesas, composto deoficiais que lutarzm nbs diversos territórios coloniais, mobili-zou-se par-zr depor o governo ditatorial português em 25 deabril de 1974. Esse episódio ficou conhecido como a Revolu-ção dos Cravos. Um texto proveniente desse moümento refe-re+e a tal contexto:

[... ] antes dc 1961, as Forças Armad,as nã,o sram abErtamen-tc atingid,a; no scu:llrestígio, [...] A polth porên, d,g qued,a

da lrulia, e sobretud,o à m.edid,a que as guerras erJt Afrita se

i,am prolongarulo, as E A. descobriarn, não seru esPanto pürporle dr mu itos mililares que pela pi mtira uez uiam claro. o

sat d,iaúrcio real d,a Naçã,o. As E A. são mtão humilhadas,dcsprntigiad.as, aPresentad.as ao país como resPonsá,ucis ruá-xi,rnos do desastre.

(Texto clandestino intitulado "O ml>ümento das ForÇas Armadas e a na-ç^o" , apnd 25 de Abil, p. 4l .\

A Guiné-Bissau proclamcu b sua independência em 24 desetembro de 1973, finalmente confirmada em 1975 pelo novogoverno democrático portiguês. Seu primeiro presidente foiVasco Cabral, irmão do grande líder e teórico a.fiicano Amil-car Cabral, assassinado durante a luta de libertação nacional.

As Ilhas de Cabo Verde, que tinham conduzido a mesma lutasob o comando do Partido Africano para a Independência daGuiné e Cabo Verde (PAIGC) , obtiveram sua independência emseparado, emjunho de 1975. Seu primeiro presidente foi tam-bém um dos fundadores daquele partido, Aristides Pereira.

O arquipélago de Sáo Tomé e Píncipe ascendeu à inde-pendência em 12 dejunho de 1975, sotr o comando do Moü-mento de LibertaÇáo de São Tomé e Príncipe (MLSTP), lide-rado por Manuel Pinto da Costa.

Ergue-te e caminha,. f,lho de África, ergue-te, negro, escutao clamor d.o Poao: AÍrica, Justiça, Liberd,ad,e [ . . . ]

(Poema "Chegou â hora'. do poeta caboveríliano Kr.'t'êríliâno Damha# in Má-rio Pinto de An&ade, op . at, p- ZS7 .1

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Dirs colônias portuguesas ,,u Ái4 os er.laves de Goa, Damãoe Diu. situados na costâ oriÍlentâl da India, foram anexados poreste país em 1961, início da guerra colonial na AÍiica.

Na Oceania, Portugal retirou-se de Timor sem reconhecera autoridade que se formara com a liderança da Fretilin(Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente) e de

' seu dirigente Xanana Gusmão, que proclamou a independên-cia em 28 de novembro de 1975. A Indonésia invadiu Timor-Leste em 7 de dezembro, iniciando uma repressão genocida àresistência do povo maubere, os timorenses.

Na China, Macau é a última colônia portuguesa que, emnegociações recentes com o governo chinês, deve regressar aodomínio daquele país no ano 2000, pondo fim ao Impériocolonial portuguê\.

Divisão políIica atuat dâ Áhica (Ministéno da Educaçao da República poputar de Angota,

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CAPITT]I,O 6

Conclusões

s independências das anligas colônias fra-nce_sas, in-glesas. portuguesas, belgaie holandesas na lÚrica ena Asia representam um momento importante na

história das nações que delas nasceram. Simtrolizam um mo-mento de separação entre um passado de humilhação, dedesumanização, de exploração e um futuro diferente a serconstmído. Elas significam o fim das barreiras sociais e raciais,a desmitificação da inferioridade natural dos africanos e dosasiáticos, o desmantelamento do velho espectro da superiori-dade natural do brancb.

A questão que hoje se coloca é saber se as independênciasafroasiáticas alcança-ram realmente essas lantagens. Há quemdiga que as independências na maioria desses países foram umfracasso, pois a üda material e espiritual de seus povos regre-diu múto; a fome, a miséria e a pobreza atingiram níveis maisaltos que os conhecidos durante a época colonial. Aproveitan-do-se da situação, os racistas voltarzm a reafirmar o velho mitoda incapacidade naturzl desses povos em autogovemar-se.

Apesar das diÍiculdades pelas quais está passando a maioriados países africanos e asiáticos, dificuldades essas historica-ment€ explicáveis, acreditamos que as \,antagens das indepen-dências são reais e numerosas, imprimindo à história umanor'a üda e um novo conteúdo.

Náo deveríamos esquecer que esses países sáo resultadoda herança colonial e que muitos deles adotaram os mode-los políticos das antigas metrópoles. A aplicaçào dessesmodelos hcrdados [oi um fracasso. pois essa herança enlrouem confronto com a herança pré-colonial abafada durantea épóca colonial.

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Hoje, coloca-se a esses países a seguinte questao concre-ta: como construir um modelo político diferente que náoseja nem colonial, nem pré-colonial? Como forjar uma uni-dade real de pensamento e de ação? Como curar as antigasferidas e eyitar as novas, no mesmo momento em que essespaíses estão sendo envolvidos com agressividade pelos inte-

,resses internacionais?O fim da dominaçáo colonial não signihca o Íim da influên-

cia dos antigos colonizadores. Para salvaguardar seus interes-ses, eles continuaram a orientar as eyoluções políticas e econô-micas de suas antigas colônias. ESse fenômeno tem um nome:neocolonialismo-Ele se manifesta de diyersas maneiras: relaçõespriülegiadas entre os antigos colonizadores e as elites dirigen-tes das no\zs nações progressilamente colocadas por eles nopoder, manutenÇáo de quadros e técnicos europeus em algunspostos-chaves, dependência econômica (transferência de tec-nologia, invesúmentos de capitais, etc.), acordos militares e decooperação científico-cultural, etc. Muitas vezes, a altiga potência colonial interfere para eliminarhomens polÍticos consi-

, derzdos nacionalistas e pouco compreensivos aos interesses

. r do Ocidente - os que sáo contra a ordem neocolonial. Essa' eliminaçào pode ser por assassinato ou por afastamento de

cargo políúco através de golpes de Estado. Dessa fonna,foram assassinados, entre outros, Patrice Emery Lumumba,que foi primeiro-ministro do primeiro governo independen-te do atual Zaire, Amilcar Cabral e Eduardo Mondlane,líderes das independências da Guiné-Bissau e de Moçam-bique. Foram derrubados o presidente Kuame Nkrumah,líder da independência de Gana, e Milton Obote, primeiro-ministro de Uganda.

Através das independênciasjurídicas ou formais, os antigoscolonizadores fizeram tudo parz ceder apenas na aparência econsen?r a substância. Isso se deu, comojá foi frisado, atzvésdas relações econômicas, científicas, culturais e militares. Oscolonizados de ontem se tornzuann os subdesenvolvidos dehoje. Da categoria de selvagens e de primitivos a serem ciüliza-dos, eles ganharam, depois das independências, a condiçáo desubdesenvolúdos a serem desenvolvidos. O desenvolümentolhes seú trazido pela máo do mesmo mestre ocidental que ocolonizou para civilizá-lo. De fato, o que mudou? O que signifi-

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coú a fàmosa "missão civilizadora"? Ciúlizaçáo ou exploração?Desenvolyimento ou subdêsenvolümento*? Sucesso oü fracas-so? Verdade ou menúra?

Do ponto de üsta dos ex-colonizados, as independênciasjurídicas foram grandes conquistas, que custaram muitas üdase deixaram muitos traumas. Mas elas representam apenas aprimeira fase da independência total, que se fará, entre outrasfornas, pela invênÇãô de modelos políticos adequados à suasestruturas sociais e à suas realidades nacionais e regionais epela conquista de igualdade no estabelecimento dos mecanis-mos que regulam as relaçôes intemacionais, ou sejal no esta-belecimento daquilo que os políticos e especialistas' de rela-ções internacionais costümam chamar de "no\,? ordem inter-nacional",

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A REVOLTA DOSCOLONIZADOS

O processo de descolonimfio e ashdependhcias itaSiu e da Ásia

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KÁBENGEIÂ MT]NANGA

Coordenação:. Marly Rodrigues, Maria Helena Simões Paes

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Page 17: A Luta de Libertacao Nacional Na Africa

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;"f,1'ili""'T;ni:":;Todos os direitos r€servâdos.

Dâdo6 Internâciomis de Câtâlo8rsáo nâ Publicâção (CIP)

, (CâmaE Brâsileirà do LiYm, SB BÍásil)

A revotta dos colonizados : o processo de descolonização e as irdê_

pêÍlêrcias da África e dá Ásia / Carlos Serdo, Kâbengelc Munanga :

c@rdênâção Múly RodrigEs. Múia H€lená Simões Paes. São,Paulo

: Atual, 1995. (Históna Seral em documenro,

Suplemenlâdo por rc1eiÍo de leituÍà.Bibliogmfia.t5BN 85 7056702 2

1 . Aihcà - Hislríâ Movimêntos de autonomia e indêpendência

2. Ásiâ HistóÍiá Movimêntos de autoíomia e indelendênciâ 3'

Descotonr/àçào Alncá 4. Desculônr/açdo - A\ia l. lÚúnú8a

Kabengele. II Ro.lri8les, Marly. lIL Paes, Múia Helena Simões ry' Tí

95-t027 cDD-325.309

Índi.es parâ câtálogo sistêmáti@:1. Descolônização : Hislória : Ciênciâ poutica 325.309

Série Hisúóriâ Geràl m Doaumentos

6di,ar Heúrique FélixÀss6r.zÍ, zdrolial Shirley Gomes

Prcparação .le t rto: Noé G. Riboirc/ReMto NicolaiG.rê te dx prodtçao e.lilotial, Cláudio Espósito Godov

Asirtentu de prcdu,ão editorúli Ro§ângela F de MeloRz,iraor Mdiâ Luiza X. SoutoVera Lúciâ Pereira DeIa Rosa

Eilitoração eletônid: Sil\in RegiÍa E. Almeidàvirsítria S. AÍaujo

CldÊ d? aÍ.j Bâldüino Fcrena IriteDiosrzmçôoi Iulià Natâo

Prodwão qnirtca: r'.ntono Cab€llo Q. PilhoJosé Ro8erio L. ale Simone

Mauício T. de MoraosPmjeto qnirtco: Erhel Sútella

Pmjptü BtdJko dp , dpr: Çl^udta S.ârmcchjcCapar Relrodução da "Batalha de Amba Alagi", Eriópiâ, 1895

.,íB capar Viettrã, C. t€Íoy/Sigla/CmâMapasr Sônià Vaz

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