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A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ESCOLARES COMO AMPLIAÇÃO DA PERSPECTIVA DO BULLYING

Autora: Antonia Glaci Chemin¹ Orientador: Nei Alberto Salles Filho²

Resumo:

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O fenômeno do Bullying é uma das violências desafiadoras nos dias de hoje para o processo educacional. Este artigo apresenta um estudo desenvolvido durante a Intervenção Pedagógica na Escola, atividade inserida dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE-SEED/PR, que teve como objetivo refletir sobre a problemática das violências na Escola aproximando a discussão sobre o fenômeno Bullying com relação às questões teóricas sobre a mediação de conflitos escolares. O artigo inicia com uma abordagem teórica sobre o histórico do Bullying ampliando o tema sobre conflito, mediação de conflito, o Bullying e a Cultura da Paz. Relata como seu deu o estudo durante a Intervenção Pedagógica do Projeto na Escola e a discussão com o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), realizado através da plataforma MOODLE, via Internet. Conclui-se que sendo a escola um local de aprendizagem não se deve tolerar qualquer tipo de violência, preconceito e desrespeito ao próximo. É evidente a necessidade de mudanças nas práticas pedagógicas e o envolvimento de todos os segmentos da escola em ações educativas que contribuam para a mediação de conflitos, principalmente do fenômeno Bullying O regaste de valores humanos para à construção da paz é um dos caminhos apontados no decorrer dos estudos.

Palavras-chave: bullying; mediação escolar; conflitos; violências; paz.

¹ Professora PDE 2010. Pedagoga no Colégio Estadual “D. Alberto Gonçalves” do Município de Palmeira-Pr, Especializada em Orientação Educacional, Educação Especial/DM e Psicopedagogia.² Professor Ms. do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da UEPG e Coordenador do Núcleo de

Estudos e Formação de Professores em Educação Es´pecial Para a Paz e Convivências, o NEP/UEPG.

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Abstract:

The phenomenon of Bullying is a challenging violence of these days for the educational process. This article presents a study developed for Pedagogical intervention at school, inserted within the program activity of educational development - SEED/PDE-PR, which had an objective to reflect about the problem of violence at school approaching the discussion about the Bullying phenomenon withrelation to theoretical questions about the mediation of school conflicts. The article begins with a theoretical approach on the history of Bullying extending the theme about conflict, conflict mediation, the Bullying and the culture of peace. It relates how its gave the study for Pedagogical intervention project at school and the discussion with the Working Group on network (GTR), conducted through the MOODLE platform, by Internet. It is concluded that being the school a place of learning should not tolerate any kind of violence, prejudice and disregard for others. Clearly the need for change in teaching practices and the involvement of all segments of the school in educational activities that contribute to the mediation of conflicts, especially the phenomenon Bullying. The values for human rescue, for peace-building is one of the ways mentioned in the course of studies.

Keywords: bullying; school mediation; conflicts; violence; peace.

1 Introdução

A mediação de conflitos escolares em relação à violência caracterizada por

Bullying, é um dos desafios contemporâneos mais problemático para o processo

educacional. Acredita-se que a falta de conhecimentos sobre as manifestações e

consequências desta agressividade, o despreparo dos profissionais em mediar

situações de Bullying e a carência da escola em contemplar ações contínuas que

pacifiquem as agressões, são fatores propícios para instalações desta violência

entre os pares de alunos.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei

Federal nº 9394/96, no Artigo 3º, Inciso I, ao abordar os Princípios e Fins da

Educação Nacional, estabelece a igualdade de condições para o acesso e

permanência do aluno na escola.

Entende-se que para cumprir com este princípio, o ambiente de

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aprendizagem escolar deverá ser adequado, seguro, de boas convivências , livre

de qualquer tipo de violência ou fragilidade que afetem as relações humanas

interpessoais nela existentes e coloquem em risco o direito do aluno sentir-se bem

para aprender, conviver e permanecer no processo educativo até a conclusão de

seus estudos.

Pesquisadores afirmam que o Bullying é um tipo de agressividade que

desarmoniza as relações de convivência entre as crianças e adolescentes e como

consequências influencia a evasão do aluno do convívio escolar, além de outros

transtornos pessoais que podem perdurar para a vida toda do indivíduo vitimizado

pela violência. O ideal seria a escola analisar os casos registrados em seu

cotidiano e mediar os conflitos entre os alunos antes que chegassem à uma

violência maior. Mas, concebe-se que a realidade ainda é a polêmica em torno do

tema, a falta de envolvimento e despreparo de seus profissionais na solução dos

casos que ficam geralmente na função da direção e pedagogas resolvê-los.

FANTE (2005, p.15), diz que o Bullying é um assunto que não pode

passar despercebido pelos educadores, uma vez que causa graves transtornos

psicológicos e deixa marcas ao longo da vida das vítimas se não for identificado e

tratado a tempo. PEDRA (2005, p.9), psicólogo clínico e também pesquisador do

fenômeno Bullying, afirma, a importância do tema para a erradicação da

violência entre escolares em nosso país.

Assim, se afirma a necessidade da escola dentro de sua função social,

reestruturar suas intervenções pedagógicas, criando formas de todos seus

profissionais refletirem e mediarem os conflitos escolares evitando que estes

culminem em outras agressões mais violentas que interfiram na vida de seus alunos

e consequentemente de suas aprendizagens.

Este artigo, atividade integrante do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE, da SEED/PR., relata um estudo desenvolvido durante a

implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, cujo objetivo de

estudo foi refletir sobre a problemática das violências na escola aproximando a

discussão sobre o fenômeno Bullying com relação às questões teóricas sobre a

mediação de conflitos escolares.

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Participaram do estudo um grupo de 09 Professores e 01 Agente Educacional

do Colégio Estadual “D. Alberto Gonçalves” - Ensino Fundamental, Médio,

Profissional e Normal do Município de Palmeira – Paraná.

Adotou-se como metodologia de trabalho uma abordagem qualitativa em

forma de diálogo em todas as reflexões e discussões desenvolvidas durante a

intervenção do projeto, efetivando ampla interação entre todos os participantes do

grupo durante os 08 encontros realizados. “A abordagem qualitativa busca

compreender como as pessoas constroem as realidades sociais na qual estão

inseridas, os significados de suas ações nas relaçoes interpessoais” (BEZERRA e

PORTO, 2010, p.54). As leituras bibliográficas que fundamentaram a Produção Didático-

Pedagógica, permitiram estender o tema sobre o Bullying desde as suas

concepções quanto à caracterização e consequências à ampliação para novos

assuntos relacionados à conflitos, mediações escolares e educação para a paz.

Utilizou-se materiais pedagógicos e dinâmicas diversificadas para tornar o estudo

mais reflexivo e prático.

Em paralelo com a implementação no projeto na escola, desenvolveu-se as

discussões do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), com um grupo de participantes

constituído por 08 pedagogas e 01 professora da disciplina de História, residentes

em diferentes cidades do Estado do Paraná.

2 Breve Histórico do Fenômeno Bullying

O Bullying é um fenômeno presente em todos os segmentos da sociedade.

No âmbito escolar apresenta repercussão ainda nos dias de hoje devido

ocorrências que não são vistas, relatadas ou banalizdas com outras violências.

De origem inglesa, a palavra Bullying implica em comportamentos cruéis

que ferem as relações interpessoais entre os pares de alunos, causando-lhes

traumas de ordem física, social e psicoeducacional. O mundo inteiro vê este

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fenômeno como uma violência agressiva praticada por um ou mais alunos e que

se repete sem motivo aparente, transformando-se em angústia e aflição para aquele

que se torna vítima. No Brasil é adotado o mesmo vocábulo para designar as

agressividades praticadas por um indivíduo valentão, brigão, mandão, que se julga

ter maior poder sobre os mais fracos.

De acordo com FANTE (2005, p. 20), no mundo inteiro há o empenho de

combater as violências explícitas (discussões e brigas entre alunos, invasão de

gangues à escola, drogas, depredação do patrimônio), com medidas de segurança

para prevenir e intervir (câmeras de vídeo, detector de metal etc.). Porém, aliada à

violência explícita, diz autora:

Uma outra forma de violência deve despertar a atenção dos profissionais da educação: aquela que se apresenta de forma velada, por meio de um conjunto de comportamentos cruéis, intimidadores e repetitivos, prolongadamente contra uma mesma vítima, e cujo poder destrutivo é perigoso à comunidade escolar e à sociedade como um todo, pelos danos causados ao psiquismo dos envolvidos. Referimo-nos à fenomenologia bullying, aquela que gera e alimenta a violência explícita e que vem se disseminando nos últimos anos, tendo como resultado os nefastos massacres em escolas localizadas nas mais diversas partes do mundo e, ultimamente, no Brasil (2005, p. 20-21).

O Bullying é um problema antigo e ocorre com maior frequência dentro da

escola por ser um local em que as crianças e adolescentes permanecem por algum

tempo de suas vidas. Nem sempre são observadas ou relatadas a presença deste

fenômeno que segundo pesquisadores, inicia nos primeiros anos da escolaridade da

criança e permanece sendo praticada por alunos adolescentes até mesmo no

ensino médio. Geralmente envolve colegas da mesma sala de aula e se manifesta

de maneira direta com atos violentos entre os meninos: xingamentos, apelidos

ofensivos repetidos, tapas, empurrões, murros, e chutes, e de forma indireta

entre as meninas: difamações, boatos cruéis, intrigas e fofocas, rumores

degradantes sobre a vítima e familiares e outros (CHALITA 2008, p.82-83).

Uma atitude agressiva para ser caracterizada como Bullying deve apresentar

características específicas ou critérios estabelecidos pelo Professor Dan Olwes,

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pesquisador da Universidade de Bergen na Noruega. São ações repetitivas contra a

mesma vítima num período prolongado de tempo; desequilíbrio de poder, o que

dificulta a defesa da vítima; ausência de motivos que justifiquem os ataques

(FANTE; PEDRA, 2008 p. 39). Estes critérios auxiliam profissionais da educação,

autoridades e familias discernirem o Bullying de outras violências que acontecem

entre os pares discentes.

Geralmente numa situação de Bullying existem o envolvimento de três

elementos: as vítimas ou alvos, os autores (agressores ou bullies) e os espectadores

(GUARESCHI e SILVA (2008 p.54-55)

As vítimas ou alvos são escolhidos sem motivo aparente e sofrem

ameaças, humilhações, intimidações. Os motivos da escolha recaem no

comportamento, nos hábitos, na raça, no modo de se vestir, na dificuldade de

praticar esportes, na gagueira, no aspecto físico mais frágil, na timidez, nos padrões

de beleza. “Os alvos preferidos são os negros, os homossexuais, os que

apresentam características fora dos padrões convencionais de beleza e os

portadores de necessidades especiais” (MALDONADO, 2011, p.18). Com o

sofrimento da ação do Bullying, tornam-se inseguros, calados, pouco sociáveis, de

baixa autoestima. Ainda podem sofrer de gastrite, ansiedade, raiva, tristeza,

desejo de vingança, pensamento suícida, desinteresse pelos estudos e pela

escola, baixo rendimento escolar e evasão, (FANTE e PEDRA, 2008, p.84-85),

Alguns casos permitem ilustrar como o Bullying é praticado e como as

vítimas reagem.

A . , se lembra, ainda emocionada, da época em que foi vitimizada na escola. Os coleguinhas diariamente caçoavam da sua cor, já que era a única menina negra da classe. Chamavam-na de vários apelidos pejorativos e discrimnatórios, excluindo-a das brincadeiras, o que a tornava cada dia mais infeliz. Com tristeza nos olhos relembra que certo dia, pela manhã, tomou a decisão de entrar numa bacia com água e sabão e esfregar-se com muita força, desjando que a “sujeira” saísse de sua pele, conforme dela caçoavam os seus colegas. (Caso citado por FANTE, 2005, p.34).

No segundo caso constata-se o suicídio de uma vítima do Bullying.

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Eu poderia pegar uma arma e atirar em todos os meninos, mas não sou uma pessoa má. Também não vou dizer quem são os bullies. Você sabe quem eles são. Eu ria por fora e chorava por dentro. Mãe, depois da minha morte, vá até a escola e fale com os meninos. Diga para que parem com o bullying uns sobre os outros, pois isso machuca profundamente. Estou tirando minha vida para mostrar o quanto machuca. ( M., 14 anos, citado por MIDDELTON-MOZ e ZAWADSKI, 2007, p.19).

Em outro, observa-se o silêncio e o sofrimento da vítima:

C., 17 anos, sofreu bullying em silêncio durante alguns anos; não tinha coragem de contar para os pais por medo de que eles resolvessem ir pessoalmente à escola, nem ousava entrar na sala da psicóloga por medo de alguém a ver e imaginar que ela iria falar sobre os colegas que a atormentavam. O medo de ser ridicularizada e de ser vista ainda como mais fraca do que se sentia a fazia guardar segredo. Mas a dor silenciosa cobrou seu preço: começaram os sintomas dos ataques de angústia. O coração acelerado, o suor frio, dores abdominais, dor no peito, como se houvessem mãos de ferro apertando e dificultando sua respiração, dificultavam enormemente a concentração nos estudos e a faziam sentir-se mal a cada dia em que entrava na sala de aula. (MALDONADO, 2011, p. 11-12).

Os autores (agressores ou bullies), frequentemente pertencem à famílias

desestruturadas, as quais não demonstram haver afetividade e bom relacionamento

entre ambos e se mostram agressivas para solucionarem conflitos. Caracterizam-se

pela impulsividade, falta de sentimentos, prazer em humilhar, intimidar, ameaçar,

desmoralizar a vítima e colocá-la em situações constrangedoras. Podem apresentar

desempenho escolar normal ou até acima da média, como também podem decair

no decorrer dos anos. Há probabilidade de se tornarem violentos quando adultos.

Exemplos de casos relatados pela autora:

T., o garoto mais alto da turma, passava a mão pela cabeça de G., o mais baixinho, sem dizer uma só palavra. Achava divertido ver como ele se encolhia de medo, com o olhar faiscando de raiva, mas sem coragem de emitir qualquer som. Um dia ficou surpreso ao se deparar com o pai de G., querendo tomar satisfações com ele por estar humilhando e atormentando o menino. ( MALDONADO, 2011. p. 14).

O primeiro caso além de mostrar como o Bullying ocorre, chama atenção

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para outra questão muito delicada que pode acontecer na escola quando não se

percebe ou não se dá atenção necessária para a violência. Os pais entram no

ambiente escolar para tirar satisfações diretamente com os agressores. É válido

ressaltar, como o olhar da escola deve estar atento para não ser tomada de

surpresa nestas situações.

Para encobrir suas dificuldades de aprendizagem e a falta de motivação para os estudos, P.G., 15 anos, vale-se de ser “fortão” para coagir, por meio de ameaças, dois colegas nerds a fazer os trabalhos escolares por ele e a “dar cola” nas provas. ( caso citado por MALDONADO, 2011, p. 14).

Já o segundo caso evidencia dois fatores que contribuem para a conduta da

violência.

Os espectadores testemunham as ações dos agressores para com as suas

vítimas e não tomam nenhuma iniciativa de intervenção para auxiliar o outro e

também não se juntam com os agressores.

SILVA (2010, p. 45,46), divide os espectadores em três grupos distintos:

Espectadores passivos ( assumem postura de medo de serem a próxima

vítima; recebem ameaças; não concordam e até repelem as atitudes dos bullies,

mas ficam de mãos atadas para tomar qualquer atitude em favor das vítimas.

Espectadores ativos: não participam das agressões, apoiam moralmente

os agressores, através de risos e palavras de incentivo. Não se envolvem

diretamente. Podem ser os verdadeiros articuladores dos ataques e estarem

disfarçados de bons moços. Tramam tudo e ficam apenas observando e se

divertindo com as situações de violências.

Espectadores neutros: entre eles, percebe-se os alunos advindos de lares

desestruturados ou de comunidades onde se presencia a violência no dia-a-dia. As

situações de bullying não os sensibiliza em função do contexto social em que estão

inseridos.

Em geral, os espectadores se omitem de denunciar as agressões de Bullying.

Seja por medo ou ameaças. Sentem-se inseguros angustiados pelo sofrimento do

outro. “Alguns reagem negativamente diante do bullying, por querer que sua escola

seja um ambiente seguro, solidário e sem temores” (GUARESCHI e SILVA, 2008, p.

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55). Muitos por inibição não tiram suas dúvidas junto aos professores e faltam

aulas para não participarem de atividades em equipes. Assim, as faltas, dúvidas, a

não cooperação, a insegurança, a tensão são fatores influentes no déficit de suas

aprendizagens e prejuízos nos seus desempenhos escolares (FANTE e PEDRA

( 2008, p. 94),

Socialmente os espectadores se tornam retraídos, isolando-se, para não

serem notados na sala de aula. A passividade ou apatia interferem no fazer amigos

e integrar grupos. Na vida adulta tornam-se tímidos com dificuldades de falar em

público e aumentar a rede de relacionamentos.

Há espectadores que não sabem o que fazer nos casos de Bullying. É

necessário orientá-los de como encaminhar uma denúncia sem se exporem à

riscos. Outra sugestão é de que os espectadores incluam colegas que apresentem

dificuldades de socialização nas atividades de grupos e esportivas, na recreação,

nos relacionamentos (FANTE e PEDRA, 2008, p. 95).

STEPHENSON e SMITH, e ELLIOT(apud BEANE, 2010, p.54-55), fazendo

uma abordagem à respeito do Bullying argumentam que há uma variedade de

fatores no ambiente escolar que podem contribuir para a prática do Bullying:

[…] alta rotatividade de professores, métodos de disciplina incoerentes, supervisão inadequada em pátios, corredores, banheiros e cantinas, crianças não são tratadas como indivíduos de valor, professores que se atrasam, funcionários ausentes nas salas durante o horário de aula, intolerância a diferenças, professores apontando e gritando, inexistência de política antibullying, agressões ignoradas por funcionários da escola, funcionários que fazem uso de sarcasmo, funcionários que humilham alunos diante dos colegas, falta de espaço para atividades silenciosas.

Evidencia-se aqui, a importância das relações humanas e da qualidade da

supervisão por adultos na área escolar para se evitar a violência. “Um ambiente

escolar em que faltam afeto e aceitação para todos os alunos é mais passível de

abrigar problemas relacionados ao Bullying e a questões de disciplina” (BEANE

(2010, p. 55).

O fenômeno do Bullying, ocorre além dos muros da escola, como na família,

em outros ambientes de trabalho (mobbing). No mundo inteiro todas as escola

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estão sujeitas à esta violência. É importante que se construam intervenções

pedagógicas adequadas, sejam fortalecidas parcerias com órgãos especializados,

profissionais capacitados e famílias orientadas e engajadas na prevenção e solução

do Bullying.

3 Cyberbullying

Enquanto o fenômeno do Bullying é praticado no espaço físico (sala de aula,

banheiro, pátio da escola), o Cyberbullying é praticado por adolescentes via

internet para prejudicarem seus companheiros de escola.

O cyberbullying envolve o uso de informações e de tecnologias da comunicação como o e-mail, o telefone celular e aparelhos de envio de mensagens de texto, as mensagens instantâneas, os sites pessoais difamatórios e os sites difamatórios de votação na internet com o objetivo de apoiar o comportamento deliberado, repetido e hostil por parte de um indivíduo ou de um grupo que tem a intenção de prejudicar outros indivíduos (BELSEY, apud SHARIFF, 2011, p. 58).

MALDONADO (2011), destaca algumas diferenças entre uma e outra

violência: na prática do Bullying os ataques são constantes, a violência pode ser

diferenciada de brincadeiras infantis, o autor apresenta relação desigual de poder, é

conhecido e pode observar ao vivo as reações de sua vítima.

No Cyberbullying, os ataques são destrutivos, as mensagens percorrem o

mundo rapidamente, causando vergonha à vítima que fica sem saída a ponto de

recorrer ao suicídio. O agressor pode permanecer anônimo por muito tempo, não

estar no mesmo espaço e praticar agressões mais pesadas do que estivesse frente

a frente com a sua vítima.

Os insultos mais comuns no Cyberbullying estão relacionados com

discriminações étnicas, de gênero e orientação sexual que resultam em

xingamentos, boatos, mensagens de texto para ofender, depreciar, humilhar, divulgar

fotos, vídeos e outros.

Da mesma forma que acontece com o Bullying, as vítimas ficam perturbadas,

ansiosas , doentes, com medo de contar o que está lhe acontecendo; são vagarosas

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no realizar tarefas, decaem na aprendizagem.

Os agressores utilizam o computador de suas casas e das lan houses para

fazer suas ameaças que muitas vezes se concretizam dentro da escola. O papel da

escola em relação à esta violência é orientar os adolescentes para o bom uso dos

recursos tecnológicos e as consequências que podem ocorrer no caso de uso

irresponsável.

4 Pontuando Considerações Sobre “Conflito”

O conflito não é algo desconhecido na vida do homem, pois convivendo em

sociedade todos vivenciam fases em que os conflitos aparecem e de formas

variadas, como nos desentendimentos entre pessoas, nas brigas familiares, nas

guerras entre os povos.

CHRISPINO e CHRISPINO (2002, p. 34), define conflitos como “Situações

em que duas pessoas entram em oposição ou desacordo porque suas posições,

interesses, necessidades, desejos ou valores são incompátiveis ou são percebidos

como incompatíveis”. Para estes autores, as emoções e os sentimentos possuem

papel importante e a relação entre as partes em conflito pode sair mais fortalecida

ou deteriorada em função de como seja o processo de resolução de conflito.

Dentro de uma visão tecnocrática-conservadora o “conflito” é visto como algo

negativo, não desejável. Para esta concepção tradicionalista a má-sorte, a

desgraça, a má-vontade é algo conflituoso, negativo. As pessoas com condutas ou

críticas de diferentes valores ou comportamentos são dadas como conflituosas.

Segundo JARES (2002, p. 132-133), para a sociedade em geral e o sistema

educativo prevalece esta ideologia em relação ao conflito.

Tachar um/a aluno/a ou professor/a de conflituoso/a é sinônimo de rotulá-los negativamente, sem questionar-se se os conflitos ou as desobediências que possam ter expressado ou apresentado são realmente necessários com base em critérios de justiça (JARES 2002, p. 133).

No espaço escolar onde há divergências de ideias é comum o “conflito” não

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ser visto de uma forma positiva, como crescimento nas diversidades de opiniões.

De acordo com ESCUDEIRO (1992), o conflito e as divergências na escola devem

ser vistos como um valor e servir de base para a crítica pedagógica. GALTUNG

(1978) defende o ponto de vista de mostrar ao aluno a força positiva que há no

conflito. Para PALLARES (1982), os grupos ficam mais criativos quando as

situações de conflitos são mais intensas do que quando há baixa conflitividade

(citados por JARES, 2002 p.135).

Desta forma acredita-se que a escola deverá repensar sua postura em

relação a forma de lidar com os “conflitos”, evitando que se tornem violências

irreversíveis. É importante que os casos de comportamentos que se julga

“negativos” que ocorrem entre os alunos, sejam analisados e investigados com

maior rigor e não simplesmente atendidos rapidamente, registrados em fichas ou

atas e engavetados.

5 Mediação de Conflitos na Perspectiva do Bullying

Mediar um conflito significa resolvê-lo de uma forma pacífica fazendo com que

haja um acordo na solução do problema por ambos os envolvidos. Geralmente, um

mediador imparcial utilizando a estratégia do diálogo procura uma forma amigável de

por fim ao conflito, restaurando as relações sociais entre os envolvidos. No contexto escolar, é importante que todos que integram a escola sejam

mediadores de conflitos, praticando posturas de atenção, diálogo acolhimento para

as vítimas que estão sofrendo com o Bullying e agressores que executam um ato

tão violento e que também precisam ser tratados. Para MALDONADO (2011, p. 15),

“Há caminhos promissores de trabalho a ser feito com os agressores, as vítimas e

os espectadores dos episódios do Bullying”. É o momento em que as contribuições

se fortalecem para amenizar ou extinguir tal violência.

BEZERRA e PORTO (2011. p. 35), consideram que: “Estar atento ao processo

dinâmico da escola e das interações entre os grupos de alunos é papel de toda

equipe escolar.” Para estes autores, a compreensão dos processos disciplinares

entre professor e aluno e entre aluno-aluno é fundamental para que se possa

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perceber algumas manifestações de comportamentos que indicam a presença da

ação do Bullying na escola.

Para CHRISPINO; CHRISPINO:

A dificuldade que temos de lidar com o conflito é a nossa incapacidade de identificar as circunstâncias que derivam do conflito ou redundam nele. Em geral, nas escolas e na vida, só percebemos o conflito quando este produz suas manifestações violentas. Daí podemos tirar duas conclusões: a primeira é que se ele se manifestou de forma violenta é porque já existia antes na forma de divergência ou antagonismo, e nós não soubemos ou não fomos preparados para identificá-lo; a segunda é que toda vez que o conflito se manifesta, nós agimos para resolvê-lo, coibindo a manifestação violenta. E neste caso, esquecemos que problemas mal resolvidos se repetem!” (2002 p. 30).

Muitos casos de conflitos que ficam mal resolvidos ou não percebidos entre

os alunos, acabam gerando violência no portão da escola após a saída das

aulas. Constantemente a mídia divulga ocorrências gravíssimas dessa natureza. “È

possível aprender a prevenir o conflito destrutivo, da mesma forma como

aprendemos a prevenir boa parte das doenças e das epidemias” (MALDONADO,

204, p.108).

No caso do fenômeno do Bullying é importante saber diferenciá-lo de um

conflito normal em virtude de não deixá-lo cair numa violência maior. O professor

em sala de aula deve ficar atento para que o racismo, os problemas físicos e outros

aspectos não sejam os pilares na prática do Bullying. Retomamos a MALDONADO

(2011, p.73), que diz: “A violência dos preconceitos e da discriminação: é a raiz

principal dos episódios de Bullying e de cyberbullying”.

Para CHRISPINO (2004), a mediação escolar apresenta uma visão positiva

do conflito; constrói um sentimento mais forte de cooperação na escola; rmelhora

as relações entre alunos ; influencia nos índices de violência; desenvolve o

autoconhecimento e o pensamento crítico do aluno, além de consolidar a boa

convivência entre diferentes e divergentes. O uso do diálogo nas mediações é uma

estratégia essencial destacada por vários autores. “Um estabelecimento escolar, que

construa uma cultura de diálogo e de negociação diante da tomada de decisões

tende a ser uma comunidade em que os conflitos interpessoais não se fixam nem

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paralisam a convivência” (Ortega;Rey, 200, p.146).

MALDONADO (2004), também discorre que a mediação é uma das formas

mais comum de resolução de conflitos e tem como objetivo “Ajudar as pessoas a se

compreenderem melhor: o tema do conflito é discutido, as partes se escutam e se

respeitam”. Esta autora relata que nas escolas de vários países muitos alunos

estão sendo capacitados para atuar como mediadores de conflitos entre colegas.

Na realidade brasileira percebe-se a relevância do papel do educador na

função de mediador na prevenção do Bullying.

Quando a escola consegue ter o apoio de toda a sua equipe, à prevenção ao bullying se torna um ato possível de ser realizado. As atitudes, as posturas, processos afetivos de acolhimento, escuta e atenção da equipe que compõem a escola para com os alunos que são as vítimas e/ou agressores do bullying contribuirão para que seja amenizado e/ou extinguido da escola o fenômeno.(BEZERRA; PORTO, 2010, p.35).

Acrescenta-se a importância da escola não envolver somente aqueles que

estão integrados em seu cotidiano e sim acrescentar a parceria com outros órgãos,

instituições e profissionais que lhe permitam cuidar de seus estudantes vítimas,

agressores ou espectadores dentro do quadro das violências.

6 O Bullying e a Educação Para a Paz

FANTE (2005), MALDONADO (2011) e PEDRA (2008), abordam à

necessidade da mediação de violências relacionadas com o Bullying estar

fundamentada num programa de boas convivências e da construção da cultura da

paz. “Acreditamos que, se a violência está no espírito dos homens, é aí que se

deve semear a paz” (FANTE 2005 p.17).

Diversas partes do mundo já desenvolvem programas antibullying com vistas

à melhoria da formação e habilidades dos profissionais da educação para

interagirem nas relações interpessoais. De acordo com sua realidade, cada escola

programa e desenvolve estragégias de ações, sempre respeitando as

características culturais dos integrantes do processo educacional.

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Por várias décadas a questão da redução de violência esteve fundamentada

nos valores humanos que inclui a ética, a moral e a cidadania. Hoje, a tolerância e a

solidariedade são considerados valores essenciais na nossa sociedade. Os

documentos da ONU reafirmam frequentemente a presença desses elementos na

construção da paz (FANTE, 2005, p.93). A escola pode incentivar a prática desses

valores usando o diálogo e o respeito como valorização nas relações de cooperação

entre todos que compõem o processo de ensino.

JARES (2008, p. 31,32,33), explica que:

O respeito é uma qualidade básica e imprescindível que fundamenta a convivência democrática em um plano de igualdade e contém implícita a idéia de dignidade humana […]. Além da dignidade e da igualdade, o respeito também se associa ao desenvolvimento da autonomia e da capacidade de afirmação. Fazer-se respeitar tem a ver precisamente com não deixar-se intimidar, sofrer abusos ou outro tipo de violência. Em sentido contrário, uma relação respeitosa é oposta a relações de autoritarismo, violência, discriminação etc.(2008, p.31,32).

Sobre ao diálogo, JARES destaca como um dos conteúdos essenciais da

pedagogia da convivência. “Não há possibilidade de convivência sem diálogo. As

pessoas crescem e se humanizam graças à linguagem e ao diálogo. Conviver uns

com os outros é um contínuo exercício de diálogo” ( 2008, p.32).

E quanto a solidariedade o autor afirma que: “É uma qualidade do ser

humano que devemos aprender e desenvolver desde a primeira infância” (2008.

p.33). Na sua visão, a solidariedade leva a compartilhar não somente aspectos

materiais, mas sentimentos com aquele que sofre, o carente de determinadas

necessidades e o que padece injustiça. Por isso, considera a solidariedade como

uma qualidade de humanização na vida das pessoas e que deve estar presente

também no processo educacional.

FANTE (2005 p. 95, 96), elaborou uma proposta psicopedagógica de

intervenção e prevenção do fenômeno Bullying com a denominação de Programa

Educar Para a Paz, adaptável à realidade de cada escola.

Tem como objetivo possibilitar, aos responsáveis pelo desenvolvimento socioeducacional, a conscientização e a identificação do fenômeno por

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meio de sua caracterização específica; o diagnóstico do fenômeno por meio da realidade escolar, obtido pelos instrumentos de investigação utilizados; e as estratégias psicopedagógicas de intervenção e prevenção, de fácil aplicabilidade entre alunos, que podem ser adaptadas conforme as necessidades de cada escola (FANTE, 2005, p.94).

Os valores humanos da tolerância e da solidariedade sustentam este

programa elaborado por FANTE (2005). Como objetivos a autora propõe

conscientizar os alunos sobre o fenômeno e suas consequências a partir da análise

de suas vivências no cotidiano; perceberem as implicações e os sofrimentos

causados por esse tipo de comportamento e desenvolverem habilidades para sua

erradicação; e se comprometerem com o bem-comum se tornando agentes de

transformação da violência na construção de uma realidade de paz nas escolas

(2008, p. 94,95).

Para desenvolver o programa a autora esquematizou etapas e passos

necessários para sua implantação:

Etapa A – Conhecimento da realidade escolarNesta etapa, num primeiro passo é feita a conscientização e compromisso de

todos da escola, famílias e comunidade através de reflexões sobre as diversas

formas de violência escolar; é feita as escolhas da comissão, do coordenador do

programa e do professor-tutor, este figura indispensável no programa Educar Para a

Paz, conforme a autora, e que tem como um dos papéis auxiliar os alunos a

conviverem de forma harmoniosa e solidária, propiciando um clima escolar de

qualidade e não-violência. O segundo passo, é feita a investigação da realidade

escolar (através das observações, anotações e aplicação de instrumentos), a

divulgação (dos indicadores e confecção de material explicativo) e a jornada sobre

violência e apresentação do diagnóstico escolar.

Etapa B – Modificação da Realidade escolarComo num primeiro passo são adotadas as estratégias de intervenção e

prevenção: estratégias gerais (medidas de supervisão e observação: os alunos

solidários; serviço de denúncia e encontros semanais para avaliação); as

estratégias individuais (redação: “minha vida escolar” e “minha vida familiar”,

entrevista pessoal e em grupo com vítimas e agressores); as estratégias em sala

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de aula (estatuto contra o bullying, o desenvolvimento das estratégias, os projetos

solidários e as investigações semanais) e as estratégias familiares (encontros de

pais e tutores, orientações sobre convivência familiar e grupos de pais solidários. No

segundo passo ainda dentro desta etapa, é contemplado o novo diagnóstico da

realidade escolar, onde se trata da investigação da nova realidade escolar; da

apresentação do diagnóstico à comunidade educativa e a revisão e manutenção do

programa.

FANTE (2005), tece comentários importantíssimos no desenvolvimento das

etapas deste programa o que torna viável a compreensão de sua aplicação na

escola.

Para alcançarmos êxito na redução da violência, precisamos, primeiramente, conquistá-la na escola, por ser lá que os primeiros sinais da violência se manifestam entre os alunos. Devido ao seu poder propagador e multiplicador, a escola deve ensinar os alunos a lidarem com suas emoções para que não se envolvam em comportamentos violentos, transformando-os em agentes disseminadores de uma cultura da paz que se estenda aos seus demais contextos de vida (FANTE, 2005, p.209).

Desta forma reafirma-se o trabalho coletivo da escola em desenvolver

programas que trabalhem com a conscientização da importância de um ambiente

seguro e propício ao processo de aprendizagem.

7 INTERVENÇÂO PEDAGÓGICA DO PROJETO NA ESCOLA

METODOLOGIA

Tendo como objetivo deste estudo refletir sobre a problemática das violências

escolares com maior ênfase no Bullying, optamos por uma abordagem qualitativa

usando o diálogo em todas as reflexões e discussões desenvolvidas durante a

intervenção do projeto na escola. A abordagem qualitativa busca compreender como

as pessoas constroem as realidades sociais na qual estão inseridas, os significados

de suas ações nas relaçoes interpessoais (BEZERRA e PORTO, 2010, p.54). O

diálogo como um instrumento facilitador do vínculo entre os educadores do grupo,

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possibilitou a compreensão de toda a dinâmica do Bullying bem como sua mediação

no contexto escolar.

Conforme as ações previstas no projeto de intervenção, desenvolvemos

durante sua implementação na escola, 08 encontros, sendo presenças semanais e

assíduas de 09 professores do ensino fundamental e médio e 01 agente

educacional, os quais se inscreveram espontaneamente para participarem da

intervenção após a socialização do projeto na semana pedagógica de julho/2011.

Durante todo estudo intervimos com dinâmicas e recursos didáticos

diversificados (slides, textos, palestra, filmes, histórias, casos, bingo de

conhecimentos, atividades de recortes, montagens de quebra-cabeça, frases,

dinâmicas tecendo rede, caixa de presente, dança circular), os quais deram

suportes pedagógicos nos aspectos teóricos e na prática da reflexão sempre

enfocando o tema proposto para a realidade da Escola.

Na introdução do tema, solicitamos ao grupo construir coletivamente um

quadro síntese onde cada um com apenas uma palavra postou sua compreensão

pelo significado de Bullying, conflito, mediação escolar e com uma figura o que

significa a paz para si e para a Escola. Surgiram as expressões: agressão, covardia,

discriminação, desrespeito, maldade, (ao Bullying); discordâncias, diferenças de

opiniões, discussões, incompreensões (como conflitos); acordos, trocas, agir,

esclarecer, solução, conversas, (em relação à mediação) e figuras de corações,

homens de mãos dadas, meninas com braços abertos, cruz ( significando a paz).

Analisando essas expressões, recorremos a BEANE (2010, p.32), que

descreve o termo Bullying como uma gama de comportamentos que podem

impactar a propriedade, o corpo, os sentimentos, os relacionamnetos, a reputação e

o status social de uma pessoa.

Desta forma, foi possível retomarmos o quadro síntese elaborado pelo grupo

e abordar o Bullying em sua caracterização, consequências e vitimização bem

como os critérios estabelecidos por OLWES para difrenciá-lo de outras violências.

Abordamos também o Cyberbullying, violência virtual usada pelos adolescentes

através da internet, com intuito de difamar e causar danos psicológicos aos seus

companheiros de escola.

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Projetamos dois filmes relacionados com o Bullying. No primeiro fizemos

uma leitura de como o agressor deste fenômeno age sobre a vítima e como passa

despercebido dentro da Escola ao olhar da Direção, Professores, Equipe

Pedagógica e da Família.

Vejamos depoimentos dos participantes:

Um dos filmes apresentados nos mostrou uma situação gravissíma sobre a violência ocorrida numa escola e que infelizmente, não é apenas um caso ocorrido em filme é o que ocorre na vida real. ( C.R.M. participante da implementação).

É necessário maior atenção, controle e supervisão por parte da escola, família e sociedade para que o bullying praticado na escola e também fora dela não chegue às piores consequências como foi o caso do filme. ( G.C.K. Participante da implementação).

O segundo filme ilustrou como se dá a prática do Bullying entre as meninas.

É visível os comentários maldosos, acusações, ofensas morais, exclusão do grupo e

interrupção das amizades praticado entre as meninas.

Complementamos este momento de reflexão tentando solucionar o caso

contido no texto sobre A História da Rã e Uma Mudança de Perspectiva

(BEAUDOIN e TAYLOR, 2006, p. 21-23). O momento de reflexão destas ações foi

muito gratificante e significativo. Os diálogos, as argumentações do grupo chegaram

numa dimensão surpreendente, um momento de riqueza, pois o grupo todo

interagiu relacionando os dois filmes com a história da rã e a relação com a situação

profissional.

Impressionei-me com algumas situações que nos foram apresentadas e não imaginava a gravidade desse problema. A troca de experiências foi muito rica, através da qual pudemos interagir, buscando soluções para possíveis situações que surgirem em nossa escola. Precisamos de uma ação conjunta para dizer não à violência escolar de qualquer natureza. Só assim estaremos cumprindo nosso real papel de educadores comprometidos com uma escola democrática.” ( A.M.B. Participante da implementação).

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Bezerra e Porto (2010,p. 45), dizem que torna-se um grande desafio para o

educador exercer o seu papel social em sala de aula e no ambiente escolar. Para os

dois autores, conhecer as fragilidades do aluno, suas dificuldades, como se dão os

processos interpessoais em sala de aula e lidar com as adversidades conduzindo-as

da melhor maneira possível fará do professor um protagonista importantíssimo na

prevenção do Bullying no ambiente escolar.

Prosseguindo a intervenção, vivenciamos também no grupo a prática de

várias dinâmicas de boas convivências com a intenção de sensibilizar os

educadores para o papel de mediadores de conflitos escolares e construtores da paz

no ambiente educativo.

Desenvolvemos também o estudo de casos surgidos no cotidiano da própria

escola e casos relatados por autores consultados na revisão literária, identificando

os reais casos de Bullying. Vejamos o depoimento de uma participante em relação à

esta atividade:

Foi uma oportunidade para conhecermos mais a fundo um fenômeno tão falado. Muitas vezes não sabemos extamente distinguir o que é apenas uma simples desavença ou mesmo o bullying. Refletimos e tomamos conhecimento sobre alguns casos que ocorreram e ocorrem na própria escola. (I.P.V., participante da implementação).

Este depoimento ilustra a importância de trabalhar temas relevantes na

formação continuada dos profissionais da educação, que dizem respeito às formas

de violências manifestadas pelos estudantes no ambiente da escola.

8 GRUPO DE TRABALHO EM REDE (GTR)

Em paralelo com a implementação do Projeto de Intervenção na Escola,

desenvolveu-se as atividades do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), entre os

meses de outubro e novembro de 2011, através do ambiente MOODLE.

Inscreveram-se e concluíram todas as atividades propostas nos trabalhos em rede,

08 Professoras Pedagogas e 01 Professora da Disciplina de História, todas

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pertencentes à Rede Pública do Estado do Paraná, residentes em diferentes cidades

deste Estado.

Na primeira atividade do Fórum1 do GTR, o objetivo foi promover uma

discussão sobre o Projeto de Intervenção na Escola e o foco norteador da

discussão foi a compreensão do Bullying e uma reflexão sobre a realidade deste

fenômeno nas escolas brasileiras. Constatou-se durante as discussões entre as

professoras que essa agressão violenta está cada vez mais crescente no espaço

escolar e que precisa ser controlada com atitudes fundamentadas em valores

humanos.

Destaca-se também na fala das professoras, a sobrecarga do trabalho que as

vezes impede os profissionais da educação se aprofundarem em temas como este.

Afirmam que esta violência é realidade nas escolas e sendo esta instituição um

espaço de aprendizagem, de democracia e de convívio social deve ser uma

comunidade onde todos se respeitem mutuamente. Como sugestão é resgatar a

presença da família na escola informando os pais; orientando os alunos para

romperem com o silêncio das agressividades e buscarem ajuda junto aos

profissionais da Escola.

No Fórum 2 o objetivo foi socializar a Produção Didático-Pedagógica com as

participantes do Grupo em Rede e as questões propostas para discussão foram

sobre diferenciar conflitos de violências e o papel da escola em relação à mediação

do Bullying.

Nas interações do Grupo, viu-se a importância de saber diferenciar o que é

um conflito e o que é uma violência. Nas discussões concluiu-se que o conflito pode

ser visto de uma forma positiva e a violência como desrespeito aos direitos do

“outro”, não pode ser admitida na escola. Quanto a mediação, concluíram que todos

devem se empenhar no papel de mediadores para que esta crueldade não se torne

violência de maiores proporções dentro da escola.

No Fórum 3 fez-se a socialização dos avanços e desafios enfrentados durante

a fase de Implementação Pedagógica do Projeto na Escola. O Grupo em Rede pode

refletir e opinar sobre os resultados apresentados e também contribuir através das

discussões.

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Foi um momento muito significativo. Cada participante teve a oportunidade

de escolher uma ação proposta no projeto de intervenção, aplicá-la adapatando-a se

necessário na sua escola ou relatar uma experiência contando como aplicou ou

ainda sugerir outra atividade especificando os objetivos pretendidos na prática. Foi

satisfatória o retorno das atividades nas três situações.

De um modo geral, durante o desenvolvimento do GTR, constatou-se

interesse e dedicação das participantes na realização das atividades propostas.

Conforme seus depoimentos nas abordagens, interações e comentários, a escolha

do tema do Projeto foi interessante e necessário para uma reflexão e intervenção no

ambiente escolar. Ressalta-se a forma harmoniosa e respeitosa com que todas

conduziram suas interações com colegas nos Fóruns. As postagens nos Diários

apresentaram considerações relevantes e coerentes com o assunto em questão e

merecem atenção no aperfeiçoamento do Projeto e da Produção Didático-

Pedagógica. O Grupo enriqueceu as ações do Projeto de Intervenção, sugerindo,

criando, aplicando ações, relatando experiências e afirmando a necessidade de se

trabalhar o tema dentro da Escola. Conclui-se de forma especial que este GTR

favoreceu tanto para as participantes ampliarem seus conhecimentos, como para

trocarem ideias com outras colegas de profissão além de contribuírem

significativamente para o Professor/PDE avaliar seu Projeto de Intervenção e sua

Produção Didático-Pedagógica.

9 Conclusão

Discutir questões relacionadas sobre violências torna-se relevante cada vez

mais nas formações continuadas dos educadores. Em relação ao Bullying por ser

uma agressão complexa e ampla nas suas particularidades, merece atenção não

somente por pequeno grupo de professores, mas por todos que engajam a

comunidade escolar.

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A agressão acontece em todos os centros escolares com maior ou menor intensidade e reclama o nosso interesse por quanto pode representar grande dano psicológico, social e físico para o aluno que o sofre exerce ou a presencia.( FERNANDEZ, 2005, p.46).

Pode-se afirmar que o tema em si sensibilizou os professores para tomada de

atenção quanto as relações interpessoais negativas que fazem parte de um currículo

oculto no processo educacional. Neste sentido constatou-se que os assuntos

abordados foram bem pertinentes às suas formações fazendo com que se

transportem ao universo dos educandos, procurando entedê-los melhor e

percebendo que muitas vezes suas angústias e indecisões podem estar ligadas ao

Bullying ou outro conflito qualquer.

Um ponto importante destacado é que o assunto despertou e incentivou para

o diagnóstico de comportamentos agressivos que causam intimidação e

discriminação

Em todos os momentos, as discussões apontam a necessidade de rever as

práticas pedagógicas em sala de aula, incluindo relações de boa convivência,

porém essas mudanças precisam surgir por parte de todos. A sugestão é que as

experiências vividas pelo grupo sejam socializadas e o tema seja estendido à

outros professores, funcionários, alunos, pais, enfim para todas as pessoas que

cooperam com o bom funcionamento e organização da instituição escolar.

Concluindo ressalta-se o diálogo dos professores em afirmar a necessidade

da Escola contemplar ações voltadas para o resgate de valores imbuídos dentro de

uma educação para a paz.

A educação pela paz e pela vida deve estar acima de qualquer obstáculo, pois é esta educação que tornará a vida feliz. Combater o Bullying é meu dever como educadora e antes disso como pessoa. Promover a paz, a inclusão, o respeito é dever de todos. (K.A. Professora participante da implementação).

Acredita-se que uma educação voltada para a construção da paz é um

caminho viável na edução das violências. Como afirmam FANTE e PEDRA:

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A cultura de paz é a saída para todos os tipos de violência. As escolas possuem um grande instrumento para reduzir o bullying e seus efeitos negativos. Os profissionais que atuam junto aos alunos, especialmente os professores, devem disseminar nos corações dos educandos as sementes da paz: a solidariedade, a tolerância, o respeito, às diferenças, a justiça, a cooperação, a amizade e o amor. Com isso, as crianças aprendem a respeitar e a valorizar as diferenças individuais, resolver seus conflitos e conviver em harmonia (2008, p. 129).

Conclui-se que somente uma política integrada coletivamente por todos (pais,

profissionais da educação, autoridades), mas com a responsabilidade de cada um,

poderá transformar o ambiente escolar num local seguro, eficaz e adequado para o

desenvolvimento das aprendizagens, livre de qualquer forma de violência.

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